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quinta-feira, setembro 11, 2014

Livros escolares? O que é isso?




Em Inglaterra, nas escolas primárias, não há livros escolares. As salas de aula estão cheias de livros: contos e rimas infantis, estórias com e sem ilustrações. Há-os em toda a parte, desde a creche ao sexto ano, devidamente adaptados à idade das crianças. Depois cada escola tem a sua biblioteca. Só encontramos livros escolares na escola secundária. Estes, no entanto, são propriedade da escola, e transitam de ano para ano, passando de mão em mão, entre os alunos.

Deste modo, é possível um percurso escolar sem gastos em livros. Com o material passa-se a mesma coisa: as salas estão repletas de gavetas cheias de tudo o que é necessário. Tesoura, cola, tintas, pincéis, papel, canetas, lápis, borrachas, afias, réguas, esquadros, compassos, transferidores, sólidos geométricos, papéis de fantasia para corte e colagem, jogos variados destinados a auxiliar a aprendizagem, tudo o que possam imaginar, está na escola. Os livros auxiliares são disponibilizados em fotocópias, e cada criança tem um caderninho de merceeiro, chamado «homework book», onde o trabalho de casa é anotado e feito.


Também não se fazem ditados para contar os erros. Fazem-se livros: primeiro escreve-se a estória, depois monta-se a estrutura: páginas, desenhos, lombada, capa, tudo cuidadosamente colado e cosido. Os mais novos controem livros em 3d, cujas páginas se transformam nas paredes de uma casa ou de um castelo; paredes cheias de desenhos de todas as cores e palavras ainda incertas, letras em espelho e muitos erros. Mas esses não se assinalam a vermelho, porque fazem parte do caminho da aprendizagem, e o mais importante é que a casa tenha bons alicerces. As crianças aprendem quando a sua capacidade de criar é valorizada. Quando vêem os seus trabalhos expostos e apreciados, ao lado do orgulho que a escola lhes alimenta nesse gesto. Quando os agentes educativos não têm medo de elogiar, não vão os miúdos ficar convencidos de que a vida é um mar de rosas. A vida é um mar que se conquista navegando.

quarta-feira, dezembro 03, 2008

Afinal

existe uma explicação científica para o fenómeno (têm de descer até encontrar "Flashlight and ghosts").

Não sei, acho que, mesmo assim, prefiro as fadas ;-)

sábado, abril 05, 2008

Dúvida

Os cabelos deitam-se no recycle bin* ou no green top bin**?

*lixo reciclável
**lixo doméstico (restos de comida e de jardinagem)

segunda-feira, março 24, 2008

Olhem, gostei desta

Rui Tavares, Newsletter Opinião, 24 de Março de 2008 do Público:

"Tenho uma ideia. Pegamos naquela aluna indisciplinada da escola do Porto que brigou com a professora por causa de um telemóvel, fazemos um círculo em torno dela com todos os comentadores, políticos, espectadores e treinadores de bancada, e apedrejamo-la. Assim uma coisa de Antigo Testamento, mas com um toque moderno: em vez de pedras, usamos os nossos telemóveis. Depois, filmamos tudo e pomos no Youtube. Que tal vos parece? Um pouco exagerado, talvez?

Se não resultar, fazemos o mesmo à professora, depois aos pais e finalmente à ministra. Estou apenas a tentar acompanhar a tendência do debate. Como sabemos, este caso de indisciplina é um sinal do fim dos tempos. Mas se arranjarmos uns bodes expiatórios, talvez a coisa se arranje.

Antigamente, claro que não era assim. Pelo menos antes do século IV d.C., quando São Cassiano de Ímola, mártir dos professores, foi apunhalado pelos seus próprios alunos com os estiletes de metal que eram usados para tirar notas (em tabuletas de madeira cobertas com uma película de cera, porque o pergaminho era caro e o papiro raro).

Dos estiletes de metal aos telemóveis, os novos media têm sido inimigos dos professores, pelo menos até estes aprenderem a usá-los a seu favor. E porquê? Porque o professor precisa da atenção dos alunos, una e indivisa, na sala de aula. Essa é a melhor maneira de dar aulas e mesmo a única: ainda não inventaram outra. O pesadelo de um professor é "perder" uma turma, aluno a aluno, fila a fila, quando todos se distraem e não há maneira de estancar aquela vaga. Hoje há mais motivos de distracção, e amanhã haverá mais ainda, valha-nos São Cassiano.

A mente autoritária, essa, só precisa de uma coisa e sempre a mesma: gritar por mais autoridade, mesmo que isto não lhe garanta mais autoridade. Gritar por mais autoridade apaga todas as contradições, sossega todas as inseguranças.

O problema é o seguinte: a autoridade é, em si, uma coisa contraditória. Há duas autoridades: a do medo (medo da violência, nomeadamente) e a do reconhecimento. Ambas estão mais difíceis, por boas razões. A autoridade pelo medo, "responder bofetada a bofetada", como sugere Vasco Pulido Valente, é precisamente o que falhou no episódio do Porto: a professora tentou puxar mais do que a aluna, que tinha o dobro do seu tamanho. O programa pulido-valentiano não aguenta hoje dois minutos numa sala de aula, e no passado só funcionava integrado numa cadeia com vários elos: tinha-se medo do professor, do pai, do marido, da tropa e da PIDE.

A autoridade pelo reconhecimento está também em maus lençóis. O mundo exige-nos atenção de demasiados lados e o professor está no lado mais fraco. Mas isto não é o fim dos tempos. É apenas o princípio de tempos novos.

Esses tempos novos exigem turmas menores, não ultrapassando 20 alunos. Cacifos para deixar os telemóveis à entrada. Mais professores e funcionários. Intercomunicadores nas salas. E para os alunos indisciplinados? Puni-los com a única coisa que hoje em dia mete medo: o aborrecimento. Proponho aborrecê-los em turmas ainda menores, orientadas por dois professores, até que prestar atenção seja a única coisa interessante a fazer naquela sala.

Voltar à escola de elite não é opção, quando precisamos de toda a gente qualificada que pudermos formar. A opção que resta é dar às massas uma escola de elite. Custa mais dinheiro. Sim, ainda mais dinheiro, e dos seus impostos. Não foi você que pediu medidas impopulares? Historiador"

sexta-feira, janeiro 25, 2008

Alguma coisa tem de ser feita

Já não é a primeira vez que me chegam aos ouvidos coisas deste tipo. Pediatras que dizem aos pais para não pegar nos bebés ao colo, porque lhes cria maus hábitos. "É mamar e cama!", dizem eles. Ora, isto é grave. É mesmo muito, muito grave. Se tivéssemos por aí pediatras que dissessem aos pais para não alimentar o bebé ou para não o deixar respirar, de certeza que, das duas uma, ou estavam internados no Júlio de Matos ou atrás das grades. Mas, o que é irónico, é que, se fosse o caso, nenhum pai ou mãe lhes daria ouvidos.

De uma vez por todas: o toque, o contacto humano, é tão vital como o alimento ou o oxigénio. Privados de contacto humano os bebés também morrem, sim. Ainda que sejam bem alimentados e mantidos limpos. No século passado, houve um grupo de pessoas suficientemente louco para levar a cabo uma experiência desse tipo, e os bebés morreram. É claro que, neste caso, a privação de contacto era extrema.

Ser tocado, abraçado, pegado, aconchegado, beijado, olhado, agarrado no colo, deitado sobre o peito, são tudo nutrientes essenciais para a saúde do bebé. E dentro deste catálogo de afectos físicos, o contacto pele-a-pele é o mais importante de todos. Aliás, os pediatras deviam era prescrever colo e mimos sem limite nem hora marcada, logo na primeira consulta.

Sindicato das Crianças, entidades oficiais responsáveis pelo bem estar das crianças: isto é muito grave. Profissionais da área infantil não podem estar desta maneira alheados da realidade emocional das crianças. Todos os anos centenas (milhares?) de recém-papás e recém-mamãs contactam com estas palavras infecciosas, vindas da boca de um médico, o médico que escolheram para ser o médico dos seus filhos. É muito difícil, nós sabemos, alguém ser capaz de por em causa uma sentença, ou um juízo, desta natureza, emitido por um médico. Infelizmente, digo eu, na nossa sociedade a palavra do médico é muitas vezes confundida com a palavra de Deus (e, o que é pior, mesmo por aqueles que não acreditam em Deus).

Quando nasce o primeiro filho, os pais estão cheios de dúvidas, à procura do melhor para eles. Não podem, de modo nenhum, ouvir coisas destas, ainda para mais ditas pelo pediatra. É urgente que a formação em qualquer área relacionada com a saúde das crianças seja multidisciplinar e que abranja as áreas da saúde mental inter-ligadas com as áreas da saúde em geral (isto é um disparate, porque não há dois tipos de saúde, não faz sentido: há a saúde e ponto final).

O que não pode acontecer, é haver pediatras que dizem este tipo de coisas aos pais. Não pode. Essas pessoas não podem pura e simplesmente exercer. E os casos são inúmeros. Não sei o que se pode fazer, mas alguma coisa tem de ser feita.

sábado, junho 09, 2007

Origens


Há uma teoria sobre as origens da espécie humana que me fascina particularmente, que é conhecida como a teoria do macaco aquático. Segundo ela, os nossos antepassados teriam tido de se adaptar ao meio aquático, e teria sido dessa adaptação que surgiram as características que nos distinguem como espécie.

A questão que ainda permanece sem resposta para os investigadores é a seguinte: a que espécie de meio estaria o Homo originariamente adaptado? Ou, pondo a questão ao contrário, que espécie de meio envolvente fez com que emergissem as características da nossa espécie?

No caso dos nossos parentes mamíferos terrestres, e dos nossos primos primatas, é fácil encontrar a resposta. O chimpanzé, por exemplo, estaria originalmente adaptado às florestas tropicais Africanas, e passaria a maior parte do tempo nas árvores, enquanto os babuínos estariam adaptados às áreas desérticas da Arábia e África, e viveriam principalmente no solo. Mas, no caso do Homo, os cientistas apenas podem apontar hipóteses.

À luz do conhecimento científico actual, é aceite que a espécie humana ter-se-à separado dos outros chimpanzés há cerca de seis milhões de anos. Até há pouco tempo, a hipótese mais plausível era a de que os nossos ancestrais teriam abandonado a vida na floresta para colonizar as planícies abertas, as savanas. De acordo com esta teoria, designada de teoria da savana, esta mudança de ambiente teria sido a principal causa do aparecimento das características que conduziram à espécie humana.

Hoje em dia há vários motivos para contestar esta teoria - principalmente novas descobertas que põem em causa a era do aparecimento das condições físicas terrestres que teriam dado origem à savana. Este periodo, de acordo com as novas descobertas, teria ocorrido depois da origem da família humana.

Por outro lado, os ossos de Lucy, a nossa famosa antepassada, foram encontrados no meio de areia, misturados com ovos de tartaruga e crocodilos e pinças de caranguejo. E também os ossos de um velho Australopithecus, encontrados próximo do Lago Rudolph no Kénia em 1995, estavam rodeados por fósseis de animais vertebrados, entre os quais peixes e répteis marinhos.

Devemos também ter em conta que, apesar da família humana ter aparecido há muitos milhões de anos atrás, o Homo Sapiens, o ser humano moderno, é uma espécie jovem. É também sabido que as pegadas mais antigas conhecidas de um ser humano moderno (com a idade de 117 000 anos!) foram encontradas nas margens de uma lagoa sul africana.

Foi na altura em que a teoria da savana começou a ser posta em causa que surgiu a teoria do macaco aquático. Esta teoria tem vindo a conquistar terreno, pois consegue preencher as lacunas existentes no conhecimento desta matéria. Alguns investigadores têm vindo a demonstrar que as diferenças entre os hominídeos e os outros macacos sugerem uma adaptação ao meio aquático (Max Westenhofer em Berlim, 1942; Alister Hardy em Oxford, 1960, e Elaine Morgan, que tem vindo a investigar nesta área de forma constante e entusiástica).

Apesar de, em termos genéticos, pertencermos à mesma família que os chimpanzés (partilhando 98,5 % dos genes), dezenas de características diferenciam-nos de forma radical destes nossos parentes, todas elas compatíveis com uma adaptação ao meio aquático.

O bipedismo é uma delas (ficar, correr e andar de pé). Os investigadores têm sugerido que o bipedismo terá sido primeiramente adoptado por força das circunstâncias, quando os nossos ancestrais foram confrontados com a necessidade de se deslocarem na água. É bem conhecido o facto de os bebés humanos conseguirem andar em cima de uma superfície de água pouco profunda, antes de o conseguirem em terra seca. Também é sabido que o único primata, para além de nós, que regularmente caminha sobre duas patas é um macaco (proboscis monkey of Borneo) uma espécie de macaco nadador que muitas vezes necessita de andar na água, em sítios pouco profundos.

Quando o bipedismo se tornou um modo usual de locomoção para os nossos antepassados, estavam estabelecidas as condições para o extraordinário desenvolvimento do cérebro que se seguiu. Neste cenário, a alimentação costeira (à base de animais marinhos) seria a única que proporcionaria uma infinidade de nutrientes necessários e essenciais a este desenvolvimento cerebral. Entre eles encontram-se as cadeias longas de ácidos gordos ricos em omega-3 que são abundantes nos alimentos de origem marinha.

Nos anos 90, novos conhecimentos nesta área das necessidades nutricionais do desenvolvimento cerebral vieram corroborar ainda mais esta teoria. Até esta altura era impossível explicar porque é que o cérebro humano é quatro vezes maior que o do chimpanzé, e a razão para o facto de a proporção de matéria cinzenta em relação à massa total do cérebro ser exactamente a mesma no caso do homem e de outros mamíferos como o golfinho permanecia um mistério. Um dos aspectos mais enigmáticos da natureza humana é o facto de termos de alimentar um cérebro enorme, ainda que o nosso corpo não esteja apto a fabricar uma das principais moléculas essenciais ao seu desenvolvimento ('DHA').

A nudez (ausência de pelagem) é uma característica humana apontada e registada desde o livro do Génesis. Foi considerada um mistério científico no tempo de Darwin, que terá rejeitado a explicação de que teria sido um meio de nos protegermos contra as inúmeras espécies de parasitas existentes nas regiões tropicais. Se fosse o caso, outros animais nas mesmas condições teriam desenvolvido a mesma característica, livrando-se assim das suas pelagens, o que não se verificou. De facto, qualquer interpretação possível para esta característica deve começar, primeiro, por procurar entender a principal função dos pêlos, que é a de proteger o corpo das variações exteriores de temperatura, através da criação de uma camada de ar à volta do corpo. Dentro de água não há necessidade de pelagem. A ausência de pêlos é uma das características dos mamíferos marinhos. Os únicos que mantiveram os seus pêlos são os que vivem em climas muito frios e que passam algum tempo fora de água, como as focas e as otárias.

A nossa camada de gordura sub-cutânea é outro mistério. Não é uma característica partilhada com outros macacos, e sim mais uma que temos em comum com outros mamíferos aquáticos. Além disso, nós suamos para controlar a temperatura corporal, e temos a maior produção de suor entre todos os mamíferos. Este facto tem sido considerado outro mistério, ou antes, um erro da natureza, pois, através dele, são eliminadas grandes quantidades de sais e de água corporais. Novas interpretações deste facto tornam-se possíveis se pensarmos que os humanos eram originalmente primatas adaptados a um meio ambiente rico em sais minerias e em água.

Podemos ainda considerar outras características intrigantes, como os triângulos de pele existentes entre os nossos dedos das mãos e dos pés, que fazem lembrar as membranas existentes nas patas dos patos. Há ainda a anatomia do nosso tracto respiratório, o número de células sanguíneas por centímetro cúbico, entre outras.

As lágrimas também nos ligam à água. Muitos animais marinhos também choram: iguanas marinhas, tartarugas, crocodilos, cobras de água, focas e otárias. Nenhum outro mamífero terrestre possui glândulas lacrimais. Estas glândulas, na nossa espécie, podem ser um vestígio de um mecanismo primitivo de eliminação de sais corporais.

Uma das diferenças mais óbvias quando comparamos um rosto humano com o de um chimpanzé é o nosso nariz. O nariz é uma característica que partilhamos com outro macaco (o tal probiscis monkey de há pouco), que é um macaco nadador.

Enfim, depois desta longa e exaustiva explanação, só me resta dizer que tudo isto me fascina. Faz todo o sentido. Será esta a explicação para a estranha e misteriosa empatia existente entre os humanos e os golfinhos? E as baleias? Já se imaginaram (ou melhor, já imaginaram os nossos antepassados) a nadar ao lado de baleias e golfinhos, e, quem sabe, a comunicar com eles/elas?



(informação extraída do livro Scientification of Love, de Michel Odent)

Não é espantoso?

"Hoje, não exito em afirmar que a 'a Hormona do Amor induz a libertação da Hormona do Coração'. Se o tivesse feito nos anos 80 - a idade média para a Scientification of Love - ninguém hesitaria em chamar-me doido. Hoje, apelidar a occitocina de Hormona do Amor é algo baseado em evidências científicas: foi demonstrado que esta hormona estimula a libertação de uma substância química designada por 'atrial natriuretic peptide', por algumas células do coração.

(Gutkowska, J., Antunes-Rodrigues, J. and McCann, S. M. 'Atrial natriuretic peptide in brain and pituitary gland.' Physiological Review 1997; 77; 2: 465 - 515)"

Michel Odent, The Scientification of Love, 1999

domingo, maio 06, 2007

The Independent Fiction Foreign Prize


O Vendedor de Passados, de José Eduardo Agualusa, conquistou, entre outros nomes da literatura mundial, o prémio de ficção estrangeira do jornal The Independent, no passado dia 1 de Maio. É a primeira vez que este prémio distingue um autor e uma estória africanos. Mais que merecido, quanto a mim. Parabéns, José Eduardo!

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

PARAMANADOULA COURSE; by Michel Odent and Liliana Lammers


"Durante o trabalho de parto, a melhor maneira de tornar a sua progressão mais rápida, fácil e segura é deixar a mulher sozinha e ir para o quarto ao lado. Não ir embora, claro; permanecer no quarto ao lado faz com que fiquemos atentos e prontos para intervir, caso seja necessário."

"O que uma mulher em trabalho de parto precisa é, acima de tudo, de privacidade e de se sentir segura. Uma figura maternal, silenciosa, que permaneça num dos cantos do quarto; uma figura, acima de tudo, securizante, que lhe diga com a atitude, mas sem palavras, que está tudo a correr bem."

"O pior que pode acontecer a uma mulher em trabalho de parto é ter alguém assustado ou intimidado ao seu lado. O medo contagia-se, e provoca a libertação de adrenalina."

"A occitocina é a hormona maioritariamente responsável pela progressão do trabalho de parto. Mas esta hormona é tímida. Imagine que está prestes a beijar o grande amor da sua vida, num ambiente privado, calmo e acolhedor, e de repente abre-se uma porta e aparece alguém desconhecido. A magia quebra-se completamente. E mesmo que a pessoa saia e vos deixe de novo em intimidade, alguma coisa já não volta a ser igual ao que estava antes."

"Em todo o trabalho de parto existe uma oposição occitocina-adrenalina. Para que a occitocina seja libertada, é essencial baixar drasticamente os níveis de adrenalina. Altos níveis de adrenalina não permitem a libertação de occitocina."

"O neo-cortex, a parte racional do cérebro, precisa de ficar como que adormecido durante o trabalho de parto, para que aquela parte do cérebro mais primitiva, aquela que temos em comum com os outros mamíferos, tome o comando e faça o que tem a fazer."

"A melhor maneira de estimular o neo-cortex de alguém é falar para essa pessoa. A palavra é o estímulo racional mais poderoso. A presença de luz faz o mesmo. Sentir-se observada, julgada, aumenta a produção de adrenalina, e dificulta o trabalho de parto."

"Uma das formas de qualquer mulher se sentir observada, quando em trabalho de parto, é através do registo do ritmo cardíaco do bebé, e da intensidade das contracções (através do conhecido CTG). Há estudos que demonstram que o único efeito significativo que a monitorização do feto durante o trabalho de parto produz é o aumento do número de cesarianas. Curiosamente, a maioria das pessoas não entende isto. Mas se fizermos um pararelismo em relação ao que se passa durante o acto sexual, imaginando que enquanto faziam amor as pessoas estivessem ligadas a uma máquina que lhes medisse o batimento cardíaco, aí já toda a gente entende que tal situação inibiria sem dúvida o comportamento sexual."

Foram três dias intensos de troca, de partilha, de aprendizagem, de oportunidade para conhecer outras verdades que já há um tempo faziam sentido. Para entendermos estas verdades precisamos de entrar em trabalho de parto mental: precisamos de ler, de ouvir, de entender com o cérebro primitivo, não com a racionalidade. Michel Odent é uma pessoa simples que lança questões fundamentais acerca do futuro da humanidade e que nos chama a atenção para factos que sempre estiveram presentes mas que nunca foram encarados com a devida seriedade. Como é que a forma de nascer influencia o nosso futuro? Qual será o futuro de uma humanidade nascida através de cesarianas? E outras tantas questões que podem ser encontradas nos seus livros.

Liliana Lammers é igualmente uma pessoa simples que nos ensina com a sua postura serena e o seu sorriso envolvente que o silêncio é de ouro, principalmente quando se dá à luz. Nas histórias que nos conta ela mostra-nos o que é isso de ajudar a parir: mais não é do que não fazer nada, estar ali, estar atenta, dar segurança, dar a mão se for preciso, e deixar que seja a mulher a conduzir o parto, pois é ela quem sabe o que é melhor para si; deve dar-se sempre ouvidos a uma mulher em trabalho de parto, ela sabe o que diz.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

PORQUE ACHO IMPORTANTE

Esta entrevista já tem quase dois anos, mas acho que continua bem actual. E como acho muito importante tudo o que ele diz, resolvi transcrevê-la.


Para Chico Buarque, um sentimento difuso a favor do apartheid social está hoje tomando conta da sociedade brasileira

"Querem exterminar os pobres do Rio"

DO ENVIADO A ROMA E A PARIS

Há um sentimento difuso quase a favor do apartheid social no Brasil e existe, por parte das elites, um ódio visceral não vocalizado em argumentos contra o presidente da República operário, que tem um dedo a menos e fala errado.

São sintomas da regressão social que Chico Buarque enxerga no Brasil de hoje, um país "cada vez mais irracional". O governo, porém, também não sai ileso na avaliação de Chico. Vem desperdiçando oportunidades históricas de intervenção social porque assumiu compromissos errados e cedeu demais.

Um exemplo bem concreto: o engavetamento da discussão sobre a descriminalização das drogas, segundo Chico a única maneira de enfrentar a questão da violência ligada ao tráfico no Rio.

"Se o governo Lula não enfrentar isso, não sei quem vai fazer", diz Chico -e completa: "O Lula sabe o que o cara do rap está cantando. Ele conhece aquela voz. Não tem o direito de ignorar".

Neste trecho da entrevista concedida em Paris, o compositor fala ainda sobre o assédio da mídia, da demanda crescente pelos assuntos fúteis e do fato de se sentir cada vez mais como se estivesse permanentemente submetido ao olhar de um Big Brother.

(FERNANDO DE BARROS E SILVA)

Folha - Você faz parte de uma geração de artistas que foi porta-voz de ambições grandes em relação às possibilidades do país. Hoje essas ambições encolheram muito, não se vê mais a perspectiva de mudanças sociais como antes. As aspirações foram redimensionadas para baixo. Como você analisa isso?

Chico Buarque - Hoje em dia a gente vê pouquíssima margem de uma mudança social. Ao mesmo tempo, em países pobres, como o Brasil é, deveria ser mais do que nunca premente a necessidade de uma transformação social. A situação se deteriora e não se enxerga uma alternativa razoável.

Me preocupa que estamos nos encaminhando cada vez mais para uma situação irracional. Tudo passa pela economia. É difícil. Eu tendo a acreditar nos economistas quando dizem ser impossível gerenciar países como o nosso de outra forma. Quem sou eu para opinar? Eu me sinto muito diminuído, tenho pouco interesse em me manifestar, da mesma forma que tenho pouco interesse em ler opiniões de leigos, de gente desavisada a esse respeito. Às vezes podem dizer coisas interessantes, ou até brilhantes, mas quando chega a hora de uma discussão mais séria essas opiniões soam quase como um escárnio, coisa de poeta.

Folha - Você se vê pressionado a falar sobre esses assuntos?

Chico - Eu cada vez mais me abstenho por reconhecimento da minha limitação, da minha ignorância. Aí eu sou realmente modesto. Não sou modesto em relação ao que eu faço como artista. Mas, sobre os rumos ou possibilidades do país, não vejo honestamente que contribuição eu possa dar.

O que eu posso fazer é só constatar minhas perplexidades, meus receios diante desse quadro cada vez mais assustador. Como não se vê perspectiva de mudança a curto ou mesmo a médio prazo, a sociedade toda é levada a um certo conformismo, ou mesmo a um cinismo. Na alta classe média, assim como já houve um certo esquerdismo de salão, há hoje um pensamento cada vez mais reacionário, com tintas de racismo e de intolerâncias impressionantes.O medo da violência na classe média se transforma também em repúdio não só ao chamado marginal, mas aos pobres em geral, ao sujeito que tem um carro velho, ao sujeito que é mulato, ao sujeito que está mal vestido. Toda essa indústria da glamourização, de quem pode, de quem ostenta, de quem torra dinheiro -enfim, ser reacionário se tornou de bom tom. As moças bonitas no meu tempo eram de esquerda. Hoje são todas de direita (risos).Boutades às vezes racistas, preconceitos de classe, manifestações de desprezo mesmo pelos mais pobres se tornaram algo muito comum e socialmente valorizado.

Folha - Estamos diante de uma grande restauração, uma grande maré conservadora?

Chico - Exatamente. E diante da negação de conquistas não só sociais mas também comportamentais. Vejo um pensamento cada vez mais conservador, até mesmo na aparência das pessoas, todo mundo arrumadinho...

Folha - Mas isso convive, no caso brasileiro, com um governo de um líder operário, o que poderia ser visto como uma conquista histórica na contramão desse quadro. Como explicar esse curto-circuito?

Chico - Em primeiro lugar, acho que a eleição do Lula foi uma vitória. Ter conseguido eleger o Lula talvez tenha sido um último sinal de que algo ainda possa mudar para melhor. O outro lado da moeda é esse de que falei.O Lula sabe o que o cara do rap está cantando. Ele conhece aquela voz. Outros podiam não conhecer, mas o Lula sabe exatamente o que é aquilo, não há de esquecer. O Lula não tem o direito de ignorar isso. Nessa altura, fico depositando minha confiança pessoal no Lula, minha esperança de que ele encontre uma maneira de pelo menos suavizar esse quadro. Mas esse é um fardo muito pesado. É uma esperança talvez demasiada.De certa forma, o Lula trouxe o acúmulo de esperanças de muito tempo para um tempo em que elas não podem mais se realizar. E aí não é culpa dele. É por isso que tendo a reagir às críticas que são feitas exageradamente ao Lula.

Folha - Parece que você quer evitar jogar água no moinho dos que dizem que as coisas no governo não funcionam ou que o Lula é igual ao Fernando Henrique.

Chico - Não quero jogar, porque já tem muita água nesse moinho. Vejo muita gente com ódio pessoal do Lula. E não vejo essa gente verbalizar com argumentos essa oposição tão visceral ao Lula. Parece que há uma certa vergonha de ter um presidente como o Lula, um operário, um sujeito com um dedo a menos e que fala errado. Uma vergonha de ver o Lula representando o país lá fora. Percebo isso em gente próxima. E vejo isso na mídia também. Na verdade, isso deveria orgulhar um brasileiro -ter um homem com as origens sociais do Lula na Presidência da República.

Folha - Isso é um avanço em relação à era tucana?

Chico - Deveria ser também motivo de satisfação ter tido um professor, um sociólogo como o Fernando Henrique na Presidência. Foi um progresso. Nós vínhamos de anos e anos de generais, que não eram eleitos, depois tivemos o Sarney, acidentalmente, o Collor e o Itamar. A eleição do Fernando Henrique foi um salto qualitativo. É um intelectual, um homem com estofo. Agora, também não concordo com aquela satisfação que se viu no nosso meio -"é um de nós, finalmente". Não quero um de nós na Presidência (risos). Não quero ser presidente. Não gostaria que meu pai fosse presidente da República. Não é por aí. Também não acho que o fato de o Lula não ter curso secundário completo seja em si uma virtude. Virtude é ele poder ter sido eleito. Ele pode ser um bom ou um mau presidente. O Brasil ter eleito Lula contradiz tudo o que eu disse há pouco a respeito de um país que parece cada vez mais estar contra gente como o Lula. E volto a repetir: não vejo apenas um sentimento contra o marginal, o traficante, o ladrão. Mas contra o motoboy, contra o desempregado, contra o sujeito que não fala direito, isso apesar de a elite brasileira falar muito mal o português. Constato um sentimento difuso quase a favor do apartheid social.

Folha - Você não quis incluir os seus jogos de futebol e a sua paixão pelo futebol como tema dos programas que está gravando. Qual a razão?

Chico - Todo mundo sabe que eu adoro jogar bola, que eu gosto de futebol. Já sabem até onde jogo bola. Então, vira e mexe, aparece alguém lá para tirar foto, essas coisas. Aí o futebol vira um acontecimento. Talvez até mais porque eu não esteja fazendo show, não esteja me exibindo em público, o futebol vira uma ocasião de exibição, como se eu quisesse me exibir jogando bola. Não é o caso. Aquilo não é uma exibição. Por isso achei melhor deixar de lado.

Folha - Ou é uma exibição para consumo interno, pessoal...

Chico - Pois é (risos). Mas há uma demanda cada vez maior para assuntos fúteis. Nos sites da internet isso é muito evidente. Qualquer coisa parece ser assunto. Fulano desceu em Congonhas (risos). Isso não é notícia, evidentemente. Mas tem que preencher os espaços, tem que botar foto de artista descendo do avião... Estréia, então. Eu em geral não vou mais a estréias, porque muitas vezes a platéia trabalha mais que o artista. Tem que estar bem vestido, a sua roupa vai ser comentada, essas bobagens todas. Minha empregada outro dia ficou com vergonha porque apareci com a mesma camisa em dois acontecimentos sociais (risos). Isso deve ter ocorrido mesmo. Acho que não estava atento ao meu figurino (risos). Além disso, você é quase sempre solicitado a fazer resenhas críticas no corredor do teatro, tem que sair de casa preparado para estar inteligente, dizer se gostou, por que gostou. Isso quando não enfiam o gravador na sua cara na saída do cinema para saber o que você achou da reunião do Copom, se você acha que a taxa de juros vai cair meio ponto, se o viés é de baixa ou de alta.

Folha - Você convive com assédios variados há muito tempo. Isso mudou de uns tempos para cá?

Chico - Piorou muito. Isso não era assim. No tempo em que nós andávamos expostos, raramente acontecia de sair uma nota dizendo "fulano foi visto bebendo em tal bar". Todos os dias nós estávamos no Antonio's -o Vinícius de Moraes, o Tom, o Rubem Braga, eu. Falavam-se barbaridades, brincava-se muito, bebia-se à beça. Se alguém estivesse por perto anotando, acabava, o Antonio's fechava. Nós andávamos por aí. Ninguém fotografava. Hoje parece que vivemos numa espécie de Big Brother permanente.

Folha - O Rio, onde você mora há muito anos, também mudou muito de cara, em termos sociais. Na sua música, quando a gente pega, por exemplo, dois sambas como "Estação Derradeira", de 1987, e "Carioca", de 1998, percebe-se com clareza essa mudança. Os personagens são outros, a atmosfera é outra, a barra é muito mais pesada, apesar dos muitos encantos da cidade. Como você sente isso no dia a dia?

Chico - O clima hoje na cidade é muito mais pesado. Para não falar lá de cima, na própria zona sul já há territórios demarcados. Eu conheci a praia como um espaço democrático. Hoje em dia já se sente no ar a idéia de que vai existir logo uma fronteira entre Ipanema e o Leblon. Tem um pessoal na altura do Jardim de Alá [moradores de um cortiço na rua do canal que divide Ipanema e Leblon] que desce ali e ocupa a praia. Vira uma paranóia, vira uma hostilidade com esses garotos que ficam circulando ali. Assaltar na praia é o pior negócio que existe. De vez em quando acontece. No dia seguinte, vem a polícia e enfia os meninos no camburão, quando não faz coisa pior. Eles querem tirar da praia, sumir com eles dali. Não vai ter onde botar esses meninos.As soluções sugeridas para isso, as coisas que eu leio nas cartas dos leitores dos jornais, em geral são fascistas. Virou moda responder a quem defende os direitos humanos com o trocadilho infame dos "humanos direitos" contra os vagabundos que nos retiram o direito de andar livremente pelo calçadão. Isso quando não se defende abertamente a pena de morte, a reclusão dos garotos de rua, a diminuição da maioridade penal, a prisão perpétua. Eles querem exterminar com os pobres do Rio. Se puderem sumir com aquilo tudo -ótimo. Os meninos são os inimigos, são os nossos árabes, são os nossos muçulmanos.

Folha - E o problema cada vez mais grave do tráfico, como fica? Porque o tráfico virou talvez a única perspectiva de ascensão social, ou de possibilidade de um enredo vitorioso na cabeça de um menino morador da favela.

Chico - É. Assim como o futebol ou o pagode, o tráfico virou um veículo de ascensão, de chance de ter dinheiro, poder, mulheres e fama, mesmo ao preço de uma vida muito curta. É o que se reserva para um menino sem estrutura familiar, sem emprego, sem quase nada. Eu não vejo outra saída para a violência ligada ao tráfico senão a descriminalização de alguma forma, não sei se total ou parcial, das drogas.Lembro de ter lido nos jornais que o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, era favorável a essa idéia quando tomou posse. Não sei porque o governo não levou e não leva essa discussão adiante. Isso pode ser desgastante para os índices de popularidade do governo, talvez por isso ninguém toque no assunto.Talvez pensem que não é o momento de enfrentar o problema em razão de alianças e de compromissos com os evangélicos do PL, essas coisas. Mas se não enfrentarem o problema agora, quando é que vão enfrentar? Se o Lula não enfrentar... Isso tem a ver com tudo o que a gente estava falando antes, com o rap, com o que os garotos da periferia estão falando, com a falta de perspectivas, com a violência toda que está ali, manifesta nas canções.O Lula sabe muito bem o que é isso. Se não encarar isso, não sei quem vai fazer. Não entendo por que não se discute isso a sério.

Folha - Você acha que o governo, para além dos constrangimentos econômicos, está deixando escapar entre os dedos oportunidades históricas de intervenção social?

Chico - Acho. Acho. Entendo os compromissos, o FMI, a dívida etc. Tudo bem. Mas isso não tem nada a ver com essas outras omissões. Ou é isso ou é a Bíblia.


Folha de São Paulo - 26/12/04

terça-feira, setembro 19, 2006

WELCOME TO THE REAL WORLD


Apresento-vos Jamie Oliver, o mentor da campanha Feed Me Better, desenvolvida ao longo do ano de 2005 em grande parte das Primary Schools em algumas áreas da Grande Londres e outras zonas do País. Este Chefe de Cozinha tornou-se popular quando fez alguns shows televisivos e publicou alguns livros de culinária. O propósito da campanha é banir o junk food das escolas, e tem tido sucesso.

Com 31 anos de idade, tem ar de puto reguila e rapidamente conquista a adesão das crianças. Organizou encontros com os pais e os miúdos nas escolas, onde procurou chamar a atenção de ambos para as graves consequências para a saúde do tipo de alimentação correntemente praticado por aquelas faxas etárias. Em alguns desses encontros, despejou para cima de um pano enorme, do tamanho de um lençol, dois caixotes de batatas fritas, regou tudo com molho à base de gordura e juntou coca-cola por cima. Enquanto fazia esta mistura, perante o assombro da assistência, ia falando das consequências para a saúde de um tal excesso de gorduras saturadas na alimentação diária. O objectivo era enojar as pessoas, o que foi conseguido!

De outras vezes foi para as escolas e pediu aos miúdos que despejassem os snacks de junk food que tinham nas mochilas para um saco, a troco de alguns pence suficientes para uma refeição equilibrada. Alguns miúdos não queriam alinhar, mas ele insistia e persuadia. Começavam então a chover pacotes de batatas fritas, chocolat bars, fizzy drinks e todo o género de snacks hiper-calóricos para dentro do saco. E, acreditem ou não, aquilo era o almoço daqueles miúdos.

Com uma roulote dessas de vender comida, montou um bar de snacks saudáveis num recreio de uma escola. Os snacks eram feitos à base de ingredientes frescos, na sua maioria vegetais e fruta. Os preços eram acessíveis. Os miúdos aderiram em massa.

Desde 2005 que a maioria das escolas do Borough de Greenwich confecciona as refeições com as receitas implementadas por esta campanha. Antes disso, as refeições escolares eram compostas por junk food. Isto nas escolas onde se faziam refeições.

Quando se pergunta aos miúdos se eles gostam mais da comida agora, a resposta é unânime: sim! As crianças reagiram muito bem à alteração das ementas. Estas crianças também foram educadas no sentido de reconhecerem a importância de uma alimentação nutricionalmente equilibrada, por isso muitas delas respondem que agora comem mais vegetais, e falam da importância que isso tem para a sua saúde.

Mas não foi só em Londres que esta campanha se desenrolou, também outras zonas do país fizeram parte da acção. Em algumas zonas rurais as dificuldades foram bem maiores, como por exemplo Lincolnshire. É considerada uma zona precária em termos de recursos, e a realidade da maioria das escolas era esta: não havia cozinha! O que quer dizer que as crianças não tinham uma refeição quente. O almoço delas consistia em pack lunches trazidos de casa, e não é preciso dizer no que consistiam, vocês adivinham... junk food.

Eram as próprias crianças a dizer que sentiam a falta de uma refeição quente: devido ao frio que no inverno se faz sentir naquela zona, sentiam falta de comer algo mais substancial. Como as escolas não tinham cozinha, a solução passou por procurar um local nas redondezas onde as refeições pudessem ser confeccionadas. Foi escolhido um Pub local. Esta iniciativa tinha de ter o apoio monetário dos pais, para começar. Foram feitas muitas reuniões com os pais, muitas acções de sensibilização, pois sem este apoio nada iria para a frente.

A primeira escola da zona começou então a dar uma refeição quente aos alunos, que era confeccionada no Pub local. Vimos então crianças que não sabiam comer com faca e garfo! Não estavam habituados a tal! De onde se depreende que, em casa, também não tinham esse hábito. Vimos muitos pais e mães torcer o nariz a estas inovações. E uma mãe a dizer, enquanto olhava para o novo menu, que as crianças não precisam de arroz ou massa todos os dias!

Entretanto, surgem problemas com esta primeira escola de Lincolnshire a aderir à campanha. O dinheiro escasseia, e, pior, a confecção da comida não está a seguir as normas regulamentares de higiene. É feita uma inspecção ao Pub. Vimos panelas a serem manejadas no chão, superfícies sujas, frigoríficos em estado lastimável, comida armazenada há muito tempo, já em estado pouco recomendável, até uma embalagem com comida estragada! As receitas estavam a ser alteradas, no sentido de darem menos trabalho e de ficarem mais baratas. O fulano que estava encarregue de cozinhar não tinha a mínima formação para esta actividade. Na verdade, nunca tinha feito este trabalho. Não era cozinheiro, era apenas o dono de um Pub a procurar desesperadamente não ter prejuízo.

Tenta-se o apoio dos pais, o que se mostra difícil. E então, surge a solução: entrar em contacto com produtores agrícolas da região, para que disponibilizem os ingredientes frescos necessários, estabelecer uma aliança com os restaurantes e hotéis da zona que estejam dispostos a colaborar na confecção das refeições, e fazer uma parceria entre escolas, produtores e restauração. Tudo isto com o apoio monetário dos pais, ainda fundamental. Nesta altura já se tinham conseguido ajudas financeiras governamentais, por isso havia a certeza de que se as pessoas se empenhassem em levar esta acção para a frente, o governo disponibilizaria mais ajudas. E foi o que aconteceu.

E está a acontecer, ainda. Neste momento, o governo disponibilizou novas verbas para obras de reformulação nas cozinhas, formação para pessoal, implementação da campanha em novas escolas, e foram criadas novas regulamentações a nível da alimentação escolar. Tudo isto aconteceu agora, não é fantasia, é realidade. Neste país, foi preciso um indivíduo comum, que por acaso era cozinheiro e tinha alguma popularidade, para que o panorama alimentar escolar, que era uma vergonha nacional, mudasse. Não houveram pais, nem mães, nem médicos, nem entidades de saúde, nem entidades responsáveis pela infância a mexer uma palha até ao início do século XXI em relação a esta matéria. E garanto-vos que se não fosse a vontade férrea deste rapazola hoje estava tudo na mesma.

Não estou a dizer mal dele, acho louvável o que ele fez. Só me confrange que mais ninguém tenha feito nada durante tanto tempo. E que, mesmo assim, ainda haja muitas crianças a comer diariamente snacks de junk food. É uma realidade alarmante: há muitos miúdos que, apesar de as escolas darem a refeição quente, continuam a comer pack lunch de comida fria: barras de chocolate e outras porcarias, batatas fritas, sumos, bolos, sandes... é este o almoço de muitas crianças!

Isto só tem um nome: ATRASO. O que se passa em algumas zonas rurais deste país, e não só, revela um atraso incomensurável e gritante. O nosso país, que viveu debaixo de uma ditadura de cinquenta e tal anos, e que, consequentemente, sofreu um atraso de desenvolvimento brutal, como todos sabemos, atraso esse que atingiu mais profundamente as zonas rurais e do interior, está muito menos atrasado, em relação a esta questão da alimentação, do que estas regiões do Reino Unido! Durante a ditadura em Portugal passou-se fome, muita fome, porque as pessoas não tinham o que comer. Mas hoje não há nenhuma escola primária no país, desde a Santa Terrinha no Sul até aos confins de Trás-os-Montes, que não sirva uma refeição de sopa, segundo prato e fruta, feita à base de ingredientes frescos! Não acredito que assim não seja! E sei que ainda há situações de miséria e de gente a passar fome (ai há, há!), mas aqui passa-se fome de uma maneira muito pior: não por falta de alimento, mas por se comer merda! Isto é incrível, mas é verdade: há aqui crianças a passar fome por terem uma alimentação completamente desequilibrada. Aqui não faz sentido falar em pobreza nem em miséria: as ajudas são uma realidade e ninguém morre à fome! Se a família tem um rendimento baixo, há ajudas, se está no desemprego, também, há subsídios para as crianças, não há desculpa para as pessoas não fazerem uma alimentação digna, mesmo nas zonas mais pobres!

Neste momento, o governo comprometeu-se a dar apoio a esta campanha até 2011. Penso que todas as escolas de Greenwich estão neste momento com as novas refeições. Na zona de Lincolnshire o balanço também acabou por ser positivo. Não sei como são as coisas noutras zonas em Londres. Mas sei que há muitas crianças que continuam a comer mal e porcamente. Sei que esta iniciativa corre alguns riscos se não houver o apoio dos pais e das escolas, no sentido de continuarem a reivindicar apoios e ajudas governamentais. Muitas das escolas aderiram e estão mentalizadas da importância desta iniciativa, outras há que ainda dão diariamente aos miúdos refeições à base de junk food... ainda... em pleno século XXI.


Se quiserem saber mais sobre este assunto, podem ir aqui.

domingo, julho 09, 2006

SE DESPIDE UN GENIO

Gabriel García Márquez se ha retirado de la vida pública por razones de salud: cáncer linfático. Ahora, parece, que es cada vez más grave. Ha enviado una carta de despedida a sus amigos, y gracias a Internet está siendo difundida.

Les recomiendo su lectura porque es verdaderamente conmovedor este corto texto escrito por uno de los Latinoamericanos más brillantes de los últimos tiempos.



"Si por un instante Dios se olvidara de que soy una marioneta de trapo y me regalara un trozo de vida, aprovecharía ese tiempo lo más que pudiera".

Posiblemente no diría todo lo que pienso, pero en definitiva pensaría todo lo que digo.

Daría valor a las cosas, no por lo que valen, sino por lo que significan.

Dormiría poco, soñaría más, entiendo que por cada minuto que cerramos los ojos, perdemos sesenta segundos de luz. Andaría cuando los demás se detienen, despertaría cuando los demás duermen.

Si Dios me obsequiara un trozo de vida, vestiría sencillo, me tiraría de bruces al sol, dejando descubierto, no solamente mi cuerpo, sino mi alma.

A los hombres les probaría cuán equivocados están al pensar que dejan de enamorarse cuando envejecen, sin saber que envejecen cuando dejan de enamorarse!

A un niño le daría alas, pero le dejaría que él solo aprendiese a volar.

A los viejos les enseñaría que la muerte no llega con la vejez, sino con el olvido.

Tantas cosas he aprendido de ustedes, los hombres... He aprendido que todo el mundo quiere vivir en la cima de la montaña, sin saber que la verdadera felicidad está en la forma de subir la escarpada.

He aprendido que cuando un recién nacido aprieta con su pequeño puño, por primera vez, el dedo de su padre, lo tiene atrapado por siempre.

He aprendido que un hombre sólo tiene derecho a mirar a otro hacia abajo, cuando ha de ayudarle a levantarse.

Son tantas cosas las que he podido aprender de ustedes, pero realmente de mucho no habrán de servir, porque cuando me guarden dentro de esa maleta, infelizmente me estaré muriendo.

Siempre di lo que sientes y haz lo que piensas.

Si supiera que hoy fuera la última vez que te voy a ver dormir, te abrazaría fuertemente y rezaría al Señor para poder ser el guardián de tu alma.

Si supiera que estos son los últimos minutos que te veo diría "te quiero" y no asumiría, tontamente, que ya lo sabes.

Siempre hay un mañana y la vida nos da otra oportunidad para hacer las cosas bien, pero por si me equivoco y hoy es todo lo que nos queda, me gustaría decirte cuanto te quiero, que nunca te olvidaré.

El mañana no le está asegurado a nadie, joven o viejo. Hoy puede ser la última vez que veas a los que amas. Por eso no esperes más, hazlo hoy, ya que si el mañana nunca llega, seguramente lamentarás el día que no tomaste tiempo para una sonrisa, un abrazo, un beso y que estuviste muy ocupado para concederles un último deseo.

Mantén a los que amas cerca de ti, diles al oído lo mucho que los necesitas, quiérelos y trátalos bien, toma tiempo para decirles "lo siento", "perdóname", "por favor", "gracias" y todas las palabras de amor que conoces.

Nadie te recordará por tus pensamientos secretos. Pide al Señor la fuerza y sabiduría para expresarlos. Demuestra a tus amigos y seres queridos cuanto te importan."

(recebido por mail)

domingo, maio 14, 2006

ESTADO DE CHOQUE

"A ditadura so não era bom para a maioria dos politicos e jornalista e imprensa em geral,mas para a população foi muito bom, pois na epoca da ditadura esse bandidos não teriam coragem de fazer o que estão fazendo e nem os politicos o que estão fazendo com o Brasil."

"Se já tivesse ocorrido uns 3 atos como a invasão da polícia no Carandiru, duvido que esses absurdos de rebeliões orquestrasdas e ataques à polícia ainda acontecesse.Viva o Cel. Ubiratan (aquele que comandou a invasão do Carandiru)! Que falta faz ter mais uns 30 como ele na coorporação (um para comandar a invasão de cada presídio em greve)."

"PENA DE MORTE JÁ"

"CADE O PADRE JULIO LANCELOTTI PARA CRITICAR A POLÍCIA E A CLASSE MÉDIA ?CADE O PADRE QUE DEFENDE BANDIDO E MENOR INFRATOR ?
CADE O SUPLICY QUE JÁ DORMIU NA CADEIA EM APOIO AOS SEQUESTRADORES DO ABILIO DINIZ ?
CADE O LULA QUE AGORA POUCO DISSE NA TELEVISÃO QUE A VIOLÊNCIA É CAUSADA PORQUE EM 50 ANOS NÃO HOUVE INVESTIMENTO EM EDUCAÇÃO ?
SE POBREZA E FALTA DE EDUCAÇÃO FOSSE O MOTIVO DA VIOLÊNCIA, HAVERIA MAIS BANDIDOS.
O QUE MOTIVA A VIOLÊNCIA É A NOSSA JUSTIÇA QUE AFROUXA PENA DE BANDIDO, SÃO OS POLÍTICOS CORRUPTOS QUE NÃO SÃO PUNIDOS E AINDA POR CIMA ESSES INTELECTUAIS QUE SÓ SABEM CRITICAR A POLÍCIA E FICAR COM PENA DE BANDIDO.
SABE COMO SE RESOLVE ISSO ?
MATE O MARCOLA PRIMEIRO;
SEGUNDO: A POLICIA DIVULGA UM COMUNICADO NA TELEVISÃO DIZENDO: SE MAIS UM POLICIAL FOR MORTO, A POLÍCIA INVADIRÁ TODAS AS CADEIAS E METRALHARÁ TODOS OS BANDIDOS. SEM EXCEÇÃO. O CARANDIRU 92 SERÁ FICHINHA.
SE ALGUM POLÍTICO SE MANIFESTAR CONTRA A POLÍCIA, SERÁ MORTO TAMBEM.
É HORA DE CRIAR O CRCC -> COMANDO REVOLUCIONÁRIO DE COMBATE AO CRIME.
MORTE A TODOS QUE FOREM CONTRA A POLICIA E DEIXO AVISADO:
SE ALGUM MEMBRO DOS DIREITOS HUMANOS NÃO AJUDAR NENHUM FAMILIAR DOS POLICIAIS MORTOS, SERÁ CAÇADO UM POR UM E SERÁ MORTO TAMBEM."

"(...) Já deveriam ter tomado providencias, é uma vergonha ainda ambulâncias saindo dos presidios para socorrer presos feridos na rebeliões.(...)"

"FORA DIREITOS HUMANOS, FORA POLÍTICOS DE QUALQUER PARTIDO,O BRASIL É NOSSO!!!!!! PRECISAMOS FAZER ALGO!!!!! SANGUE NOS OLHOS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!"

"Vc se lembra que no tempo da ditadura militar, os "humanos direitos" e familiares podiam trabalhar e passear tranquilamente em todo o Brasil? Ou vc ainda não tinha nascido? Nem haviam muitas cadeias, os bandidos eram sumariamente liquidados, mas, agora, os "direitos humanos" protegem MAIS os bandidos, enquanto a polícia e os "humanos direitos" ficam a mercê dos bandidos. Nestas condições, vc acha que pode haver PM cumprindo o dever de nos defender? Do geito que os "direitos humanos", a imprensa, o Datena, etc., vão protegendo bandidos punidos sumariamente, a PM vai ficando cada vez mais corrupta, até que se agrave mais, a "guerra civil" que já existe entre "humanos direitos" e bandidos. Só então, voltará a gloriosa ditadura militar, com tanques, canhões, etc., para dizimar a bandidagem, e voltar a paz saudosa, que existia naquela época, em que pudemos trabalhar e construir muito, com tranquilidade e garantias. REGIME MILITAR JÁ, ANTES QUE SEJA TARDE DEMAIS. ABAIXO A DEMOCRACIA FALSA E CORRUPTA. O POVO AINDA NÃO ESTÁ PREPARADO PARA DEMOCRACIA."

"Acho que estes vagabundos mereciam uma bela dúzia de bombas de Napalm nos presídios na hora do banho de sol e outra NAS FAVELAS DE onde sairam. Para o Inferno com os Direitos Humanos!!! Antes eles que eu."

"PENA DE MORTE JÁ!

REGIME MILITAR JÁ!

CENSURA JÁ!

PARA SE VIVER MAIS TRANQUILO E SER FELIZ! "



Tirado daqui, a propósito da revolta e motins em várias prisões de São Paulo e ataques a forças policiais na mesma região.

terça-feira, março 21, 2006

ALERTA MÁXIMO

EL TAMIFLU, DONALD RUMSFELD Y EL NEGOCIO DEL MIEDO

Extracto de la Editorial del número 81(abril-2006) la revista DSALUD(http://www.dsalud.com/)
por José Antonio Campoy

¿Sabes que el virus de la gripe aviar fue descubierto hace 9 años en Vietnam?
¿Sabes que desde entonces han muerto apenas 100 personas EN TODO EL MUNDO TODOS ESTOS AÑOS?
¿Sabes que los norte americanos fueron los que alertaron de la eficacia del TAMIFLU (antiviral humano) como preventivo?
¿Sabes que el TAMIFLU apenas alivia algunos síntomas de la gripe común?
¿Sabes que su eficacia ante la gripe común está cuestionada por gran parte de la comunidad científica?
¿Sabes que ante un SUPUESTO virus mutante como el H5N1 el TAMIFLU apenas aliviara la enfermedad?
¿Sabes que la gripe aviar hasta la fecha solo afecta a las aves?
¿Sabes quien comercializa el TAMIFLU? LABORATORIOS ROCHE
¿Sabes a quien compró ROCHE la patente del TAMIFLU en 1996? a GILEAD SCIENCES INC.
¿Sabes quien era el Presidente de GILEAD SCIENCES INC y aun hoy principal accionista? DONALD RUMSFELD, actual Secretario de Defensa de USA
¿Sabes que la base del TAMIFLU es el anís estrellado?
¿Sabes quien se ha quedado con el 90% de la producción mundial de este árbol? ROCHE
¿Sabes que las ventas del TAMIFLU pasaron de 254 millones en el 2004 a mas de 1000 millones en el 2005?
¿Sabes cuantos millones más puede ganar ROCHE en los próximos meses si sigue este negocio del miedo?
O sea que el resumen del cuento es el siguiente:
Los amigos de Bush deciden que un fármaco como el TAMIFLU es la solución para una pandemia que aún no se ha producido y que ha causado en todo el mundo 100 muertos en 9 años. Este fármaco no cura ni la gripe común. El virus no afecta al hombre en condiciones normales. Rumsfeld vende la patente del TAMIFLU a ROCHE y este le paga una fortuna. Roche adquiere el 90% de la producción del anís estrellado, base del antivírico. Los Gobiernos de todo el Mundo amenazan con una pandemia y compran a ROCHE cantidades industriales del producto. Nosotros acabamos pagando el medicamento y Rumsfeld, Cheney y Bush hacen el negocio....

¿ESTAMOS LOCOS, O SOMOS IDIOTAS? AL MENOS PASALO PARA QUE SE SEPA.

(enviado por e-mail)

É evidente que a possibilidade de previsão de fenómenos desta escala traz benefícios para a saúde humana a longo prazo, entre os quais a possibilidade de evitar altos níveis de mortalidade, como no passado aconteceu com fenómenos pandémicos semelhantes. É importante as pessoas estarem informadas, é importante cumprirem as normas de prevenção, principalmente as pessoas ligadas à criação de aves de capoeira. A prevenção pode (e ainda bem) salvar muitas vidas humanas. Toda esta realidade não deve ser desprezada, quanto a mim, e muito menos os esforços que todos os países estão a fazer no sentido de levar a bom porto esta campanha preventiva.

Mas também não podemos ficar indiferentes a este outro lado da questão. Não podemos esquecer que o pânico não é bom conselheiro, mas é um óptimo instrumento para levar as pessoas a atingir determinados comportamentos. Ainda me recordo do medo em relação a um hipotético surto de meningite que levou, aqui há poucos anos, as pessoas a comprarem em massa a vacina contra a meningite C, esgotando rapidamente os stocks nacionais existentes. E nesse ano não houve mais casos de meningite do que nos anos anteriores, simplesmente foram todos cuidadosamente noticiados nos telejornais, o que deu a ideia de que realmente haveria naquele ano mais casos que o normal. Não nos podemos esquecer do poder que a indústria farmacêutica tem no mundo inteiro. Não nos podemos esquecer nos biliões de dólares que todo este "estado de sítio" implica e movimenta. Sim, é triste, e é uma hipótese aterradora, mas não é de descartar de todo.

Na minha opinião, devemos estar em alerta máximo para ambas as possibilidades: tanto para a ameaça de uma provável pandemia, como para a ameaça de estarmos a ser vítimas de manipulação terrorista. É claro que, na dúvida, devemos prevenirmos, e não quero por em causa os esforços que a comunidade mundial está a fazer nesse sentido. Mas é bom mantermos os olhos abertos para possibilidades como esta.

domingo, novembro 06, 2005

XAROPE DE CENOURA

para a tosse. Receita caseira: corta-se a cenoura em rodelas fininhas e vai-se pondo numa tijela às camadas com açúcar, cada uma alternadamente. O açúcar deve ser ou amarelo ou escuro. Deixa-se repousar uns minutos e obtém-se uma calda. Tomar uma colher para acalmar a tosse (ir repetindo ao longo do dia conforme necessário, mas não abusar porque é muito doce!)

Lembro-me do sabor adocicado da cenoura misturado com o açúcar na boca, lembro-me de tomar colheres deste xarope em pequena, dadas pela minha avó e pela minha mãe.

Não resisti e tentei a receita. Não é que resulta mesmo?

sexta-feira, setembro 02, 2005

A PROPÓSITO DE HISTÓRIAS MAL CONTADAS

Só ontem, já altas horas da noite, vi o filme da Diana Andringa que linkei no post aterior. Fiquei chocada. Eu, que aquando do acontecimento nem lhe dei aqui destaque, não deixei de andar em blogues alheios a ler versões do acontecido, cada uma diferente da outra, mas o tom era mais ou menos geral: não somos racistas, até nem temos nada contra a imigração de africanos para Portugal, os pretos podem perfeitamente vir para cá, até são pessoas trabalhadoras que descontam como nós e por isso devem ter os mesmos direitos, agora estes gangs, estes marginais, estes sim, devem ir para a terra deles, sé é para assaltarem e roubarem e perturbarem a ordem pública do nosso país, então aí sim, que vão para a terra deles, não fazem cá falta nenhuma. E nem se podem queixar muito da maneira como nós os tratamos, sim, hoje em dia até é bom ser preto em Portugal, podes roubar e assaltar pessoas à vontade, a polícia não te toca, vives em bairros onde ninguém se atreve a entrar (nem mesmo a polícia) e aparecem sempre esses gajos do SOS racismo e do bloco de esquerda a defender-te, e se alguém se atreve a tocar-te com um dedo é logo apelidado de racista e xenófobo.

Ora bem, vamos lá por partes. O crime é uma realidade em qualquer sociedade, e claro que deve ser punido, independentemente da cor da pele dos criminosos. Mas para haver crime é preciso haver factos. Os criminosos devem ser tratados todos da mesma maneira, claro, disso ninguém discorda. Já as mães, os pais, os irmãos, os filhos, os tios, os primos dos criminosos, a não ser que sejam indiciados de cúmplices do crime, não têm nada a ver com o assunto. Muito menos os vizinhos e as pessoas que vivem no mesmo bairro, muito menos as pessoas da mesma nacionalidade ou com a pele da mesma cor.

O que as pessoas não entendem é que não é preciso andar a bater em ou a matar pretos para se ser racista. O racismo pode até nem ter a ver com a cor da pele. O racismo é antes de mais uma atitude de discriminação, baseada em pressupostos como a diferença da cor da pele, mas pode ser também a diferença de religiões, se sexos, de exclusão social, a lista é interminável.

Quando tomei conhecimento das notícias sobre o arrastão, em Junho, a história logo aí me cheirou a mal contada. 500 pessoas a assaltarem outras na praia parecia um pouco inverosímil. Mas não estive lá, e a gente por princípio acredita naquilo que nos dizem. Que a televisão diz. Mas haviam coisas que não batiam certo. A notícia era de violência, assalto em grupo, terror na praia, e depois só haviam 3 ou 5 feridos? E as queixas? Afinal só tinham havido três assaltos? Ou um? Mas que diabo de história!

E onde estavam as testemunhas? Pois num acontecimento tão aparatoso, com a praia cheia de gente, devia haver pelo menos umas 50 pessoas (muito mais, até) a assistirem ou a serem vítimas do sucedido. Onde estavam elas, que não apreciam a dar o seu testemunho?

Agora, que tenho acesso à outra versão dos acontecimentos (há sempre uma outra versão, e ainda bem), vejo diante dos meus olhos a realidade: afinal um grupo de pessoas de cor de pele diferente juntou-se na praia, por acaso, e eram tantos (mas não 500, muito longe disso!) que as pessoas assustaram-se. O que é que fazem ali tantos pretos juntos? Boa coisa não deve ser. E daqui a pouco se calhar há sarilho. E se calhar até estão armados. sabe-se lá. Na dúvida, é melhor chamar a polícia. Nunca se sabe. Com tantos assim, todos juntos, o que poderá acontecer?

Mas não percebem que é isto o racismo? RACISMO!!! Sim, não tenham medo das palavras! Medo da diferença. Intolerância à diferença. Eles não são como nós, são marginais, são criminosos, são pretos, são o raio! Eles! É melhor chamar a polícia, porque com eles é preciso cuidado! O que é que eles vêm para aqui fazer? Não deviam ficar lá no ghetto onde vivem, e não virem para aqui, para esta praia, a nossa praia? Se eles estão aqui é porque estão a tramar alguma! Claro! É este o pensamento racista! Não percebem?

Nós não queremos que os criminosos deixem de ser punidos. Há criminosos entre os pretos, assim como os há entre os brancos. Há-os nos bairros degradados, assim como os há nos bairros da classe média e alta. Há-os sujos e mal vestidos, assim como os há de fato e gravata. Há-os nas esquinas das ruas, assim como os há sentados em secretárias, nos seus escritórios, e até em postos governamentais. Há criminosos de todas as classes sociais e de todas as cores. E todos devem ser punidos. Mas o que é urgente é que pessoas que não são criminosas deixem de ser discriminadas, apenas por terem a mesma cor da pele dos criminosos, ou de um grupo deles, ou por viverem no mesmo bairro e pertencerem à mesma classe social. O que é preciso acabar é com a exclusão social de que a maioria dos imigrantes são vítimas. Eu também sou imigrante, caramba! Estou neste país há 8 meses porque quis mudar de vida e porque infelizmente o meu país não me oferece perspectivas de futuro. Isso sempre aconteceu e sempre acontecerá em todos os cantos do mundo. As pessoas emigram porque não estão satisfeitas com a vida que têm, porque querem ter uma vida melhor, e têm esse direito. E se agora um grupo de portugueses começasse a assaltar em bando por aí, e as pessoas começassem a dizer, portugueses, voltem para o vosso país? Isso até aconteceu, mais ou menos, num passado recente: quando um português matou a mulher inglesa, e algumas famílias portuguesas foram agredidas depois dos acontecimentos. E em comum com o criminoso só tinham mesmo a nacionalidade. Que é quanto basta para atiçar a chama do racismo.

Mesmo que tivesse havido arrastão, com um grupo a assaltar pessoas na praia, apenas esse grupo de indivíduos é que poderia ser responsabilizado e punido. Não os outros grupos de jovens da mesma cor da pele que se encontrassem no local, mesmo que amigos ou conhecidos ou vizinhos destes.

E isto lembra-me outro assunto, o dos atentados em Londres e a morte do cidadão brasileiro no metro, supostamente abatido a tiro enquanto fugia à ordem de parar dada segundos antes pela polícia britânica. O dito indivíduo residiria num prédio que estava a ser vigiado e teria sido considerado suspeito por envergar um casaco com um certo volume. Foi seguido desde sua casa, entrou num autocarro, saiu, dirigiu-se ao metro e terá sido por essa altura que os agentes o mandaram parar. Começou então a correr, e foi abatido nesse momento. Mas depois surgem outros factos: afinal os agentes estavam à paisana e não se identificaram como polícias, e o homem fugiu porque pensou tratar-se de um assalto. Entretanto surgem novos factos á boca fechada, nunca passados nas televisões: o sujeito foi morto com 7 ou 8 tiros à queima roupa, sentado num banco no metro. Há testemunhas do facto. Os vídeos que supostamente exporiam a nú toda esta confusão nunca apareceram, sumiram-se. A polícia assumiu o erro, mas sempre com a versão de que atirou por todos os indícios os levarem a crer que se tratava de um homem-bomba. A versão da morte com tiros à queima roupa, estando o indivíduo sentado, não é a oficial, por assim dizer.

É claro que se o sujeito fosse mesmo um suicida e se accionasse a bomba antes da polícia fazer qualquer coisa, cairiamos todos em cima da polícia. Sei que isto é uma questão difícil e complexa para a polícia, e não estou a querer aligeirá-la. Acho que o dever da polícia é proteger os cidadãos e estou de acordo que situações como esta exigem medidas excepcionais em relação à segurança. Mas o que a polícia não pode (precisamente por ter este papel tão importante) é fazer de um simples suspeito um alvo a abater. A polícia tem de dar o exemplo, e tem de haver um extremo cuidado nesta situação. Não podem haver erros destes.

E não me venham com a história de que estamos em guerra, e que o inimigo é o terrorismo contra a democracia. O inimigo é (sempre foi) uns grupos de indivíduos que só têm em comum o prazer em matar, o atentado contra a vida, contra a humanidade. O imimigo são todos aqueles que atacam outros pelo prazer de matar, de fazer sofrer, de torturar. Há-os, sempre os houve, espalhados pelo mundo. Mas não são apenas essas caras que vemos nesses vídeos que a televisão divulga, a maioria deles muçulmanos, fanáticos de uma religião, outros com turbantes na cabeça, muitos ao lado de metralhadoras, e em campos de treino situados algures no Paquistão. Também os houve na Gestapo, nas SS de Hitler, em todos os campos de concentração, na PIDE e na tortura aos presos políticos, em todas as ditaduras e em todas as políticas em que matar se torna mão de obra para a indústria do armamento. E naqueles governantes de países poderosos que começam guerras com a desculpa de que é preciso erradicar o mal da face da terra, guerras que matam mais inocentes do que todos os atentados sofridos pelos países ocidentais nos últimos anos.

Não, não me venham com essa dos bons e dos maus. Os bons e os maus existem nas estórias para crianças. Só.

"ERA UMA VEZ UM ARRASTÃO"

Já vem um pouco fora do timming dos acontecimentos, mas acho que para assuntos como este, nunca é tarde para trazer à luz mais uma faceta da verdade, aquela que a tanto custo os media e os poderosos do nosso País teimam em ocultar e esconder. Neste site há um filme para ver que nenhuma televisão se atreveu a pôr no ar. É pena. E penso que temos o dever de o divulgar. Para que as vistas curtas não se apoderem de vez da nossa capacidade de percepcionar a realidade.