"-... esse sujeito de quem estou falando trabalhava como domador de cavalos (...) parecia ter sido feito por encomenda para domar os potros; mas a verdade é que ele tinha outro ofício: o de 'provocador'. Era provocador de sonhos. Isso é que ele era realmente." Pedro Páramo, Juan Rulfo.

sábado, 23 de abril de 2011

Desenvolvendo o lado direito do cérebro

Os dois hemisférios do cérebro humano.Após apresentar o vídeo (Derrame de Percepção) do post anterior alguns alunos me perguntaram como desenvolver o lado direito do cérebro. A minha resposta de início foi "começar a almoçar ou jantar com a televisão desligada". Logo depois desta resposta foi possível escutar um "ahhh..." que queria dizer "Ah! Assim é difícil!". A minha intenção foi deixá-los cientes de como passamos a maior parte do nosso dia desligados do presente, ou seja, ficamos no lado esquerdo do cérebro. Deixamos de prestar atenção no que fazemos. Ou, então, nos preocupamos demais com o amanhã e perdemos energia demais com o ontem e deixamos o agora passar. Mas há, obviamente, outras maneiras de desenvolvermos as capacidades do lado direito do cérebro. Talvez não sejam as mais fáceis para alguns, mas vão aí algumas dicas:

1. Desenvolva alguma atividade artística: aprenda algum instrumento musical, teatro, pintura, desenho, canto, dança, fotografia, poesia etc.

2. Participe de atividades cooperativas: trabalhos em grupo, esportes de equipe (de preferência não-competitivas), mutirões etc.

3. Faça alguma doação. Pode ser aquele brinquedo esquecido e que você nem lembra mais que existe. De repente ele pode ser o motivo do sorriso de uma criança.

4. Procure passar algum tempo em contato com a natureza: parques, praia, campo etc. Contemple paisagens e seus elementos naturais.

5. Conhecimentos sobre história natural, astronomia etc. nos fazem também pensar sobre nossa relação com a natureza, com o cosmos etc.

6. Desenvolvimento da espiritualidade. Isto não significa ter uma religião. As nossas capacidades espirituais nos ajuda na percepção da nossa conexão com algo maior que nossa individualidade.

7. Faça algum trabalho voluntário em creches, asilos, escolas, instituições sociais, igrejas etc. Pode ser uma hora por semana ou algum tempo nas férias.

8. Valorize o tempo com sua família. Descubra mais sobre seus pais, avós etc. Já procurou escrever sua árvore genealógica?

9. Medite. A meditação pode ser um momento de profundo silêncio e concentração num foco só (respiração, uma imagem, um objeto etc.), mas também pode ser a concentração total em algo que se está fazendo. Exemplo: quando almoçar e jantar preste atenção no sabor do que está ingerindo. Hehe... isto significa desligar a televisão. Umas das melhores definições de meditação que conheço diz que "meditação é colocar a mente onde o corpo está."

10. Valorize as atividades culturais, históricas, folclóricas etc. Isto nos faz desenvolver nossa noção de pertencer a uma família, a um grupo, sociedade, nação etc.

Estas são apenas algumas dicas. O importante é começar. Devemos lembrar que o fundamental é o desenvolvimento equilibrado dos dois hemisférios do cérebro. No vídeo fica claro que a neurocientista só sobreviveu por causa do lado esquerdo que a alertou sobre o derrame. Portanto, ambos são importantes. Tomando isto em conta podemos exercitar nossa massa cinzenta fazendo um uso mais efetivo das capacidades deste órgão.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Um derrame de percepção - Jill Taylor





Em 9 de dezembro de 1996, a neuroanatomista norte-americana Jill Bolte Taylor tinha 37 anos e foi para a cama com uma preocupação: como abastecer o banco de cérebros da Universidade Harvard, onde trabalhava, com órgãos recém-retirados de vítimas de doenças mentais. Na manhã seguinte, seu mundo racional começou a se desintegrar.
Um coágulo no hemisfério esquerdo (ligado à razão) do seu cérebro provocou um derrame. Assim, ela teve de contar apenas com o hemisfério direito (associado ao pensamento simbólico e à criatividade) em um processo de recuperação que partiu da estaca zero. Quando a mãe da cientista — uma ex-professora de matemática — tentou ensinar o que era 1 + 1, ouviu como resposta: “O que é 1?”.







Pergunta - A sua experiência pessoal mudou o modo como você vê e sente os papéis desempenhados pelos dois hemisférios do cérebro?

Taylor - Completamente. Antes do derrame, eu tinha uma visão geral do papel de cada hemisfério, mas eu não tinha a menor idéia de como dizer qual parte do meu cérebro estava contribuindo com qual informação para formar a minha percepção da realidade.

Pergunta - O que você mudaria na maneira como os derrames são tratados?

Taylor - Eu deixaria as pessoas dormirem quando se sentissem cansadas e iria tratá-las com compaixão quando estivessem acordadas. Assumiria que o cérebro é capaz de se recuperar e o trataria com respeito. Em vez de me referir aos pacientes como “vítimas”, passaria a chamá-los de “sobreviventes”! Falaria que as pessoas “tiveram” um derrame em vez de “sofreram”.

Pergunta - Depois de reconstituir seu hemisfério esquerdo, em que você se assemelha e difere da Jill pré-derrame?

Taylor - Eu continuo tão esperta quanto antes, além de ter as mesmas capacidades cognitivas e intelectuais. Mas agora eu decidi gastar meu tempo fazendo coisas que vão ajudar outras pessoas, em vez de focar toda a minha energia na carreira. Estou mais interessada em ajudar a humanidade, e antes meu principal objetivo era escalar os degraus do mundo acadêmico.

Pergunta - O fato de ter utilizado com mais freqüência o seu hemisfério direito alterou o seu pensamento? Você se lembra de como ele era antes do derrame?

Taylor - Agora ele está excepcional porque eu dediquei um tempo trabalhando essa parte do meu cérebro. Imediatamente depois do derrame, a sensação de que eu estava criativa era ainda mais clara e excitante. E essa sensação acabou se traduzindo na minha arte com vitrais.

Pergunta - Por falar em arte, além de confeccionar vitrais, você toca violão. Foi especialmente complicado recuperar esses seus talentos?

Taylor - Foi bem mais fácil que os cálculos matemáticos, mesmo aqueles mais elementares. Isso porque os talentos artísticos estão associados ao hemisfério direito do cérebro. Com a ausência temporária do meu hemisfério esquerdo, esses talentos até melhoraram.
fonte: http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia

PS : Jill Taylor escreveu um livro intitulado "A cientista que curou seu próprio cérebro" (foto no início do post) onde ela narra detalhadamente sua experiência.

sábado, 16 de abril de 2011

Luiz Molion: resfriamento global, mídia e lavagem cerebral nas escolas


Mesa redonda "Mudanças Climáticas - contra incertezas: pelo debate científico." Departamento de Geografia - USP - Novembro/2010

"A nossa ignorância do que se refere ao calor que sai do interior da Terra e aquece as águas profundas é muito grande. Acho que não existe ninguém no mundo que é capaz de dizer isto: quanto calor sai do interior da Terra que é transferido para os oceanos e depois chega à superfície. Assim como também ninguém tem condição de dizer o quanto de CO2 sai do interior da Terra e entra pelos oceanos alimentando os oceanos(...) os oceanos se aquecem (...) liberando mais CO2."

(...)
"Nos próximos vinte anos nós vamos ver o resfriamento." (...)
"É curioso que quando se fala de fonte de CO2 ninguém fala, por exemplo, da dissolução das rochas carbonatárias. Que é a desmineralização das rochas de carbonato."
(...)
"Nos próximos vinte anos o sol vai estar neste mínimo que ocorre a cada cem anos."
"Espera-se que o campo magnético solar se enfraqueça, pelo menos, 50%... (...) se isto ocorrer isto poderia mudar a circulação do magma sob as placas tectônicas e produzir uma maior atividade sísmica nos próximos vinte anos."
(...)
"A Globo, a Record não tem interesse. A agenda está fechada para este tipo de assunto. Você vai na redação das revistas, dos jornais o pessoal não quer nem saber." Mario Fontes
"Eu vejo que muita gente que é da academia desconhece estas coisas."
"O que a gente vê nos livros (escolares) das crianças é que o homem destrói a camada de ozônio, que o homem está aquecendo o planeta que são hipóteses que nunca foram comprovadas. (...) pra mim isto não é educação, isto é lavagem cerebral. E o pior: os professores não tem condições de contestar isto."
(...)
"Até as (tvs) educativas, ou pretensa educativas, como a Futura, NatGeo, History Channel elas não abordam (o resfriamento global). Elas são instrumentos do pessoal de fora."
"...aos poucos estes eventos (invernos rigorosos por conta do resfriamento) vão destruir esta idéia do aquecimento global. Vocês vêem a urgência deles fazerem estas COPs (Conferência das Partes - convenções sobre alterações, biológicas, climáticas etc.), a urgência que eles tem é que o tempo está acabando (Mario Fontes faz gesto, esfrengando dedos, que significa dinheiro). Eles sabem que o clima está esfriando e que este discurso não vai chegar a lugar nenhum."

"É uma corrida, eles estão correndo para implementar tudo. Todas as leis no Brasil estão sendo mudadas com o princípio da precaução... (...) estão fazendo a toque de caixa, correndo... o que vai acontecer daqui a pouco, vai mudar e eles vão falar: 'Viu? Consertamos.' " Ricardo Felício.

Luiz Molion - PhD, Profo. do Instituto de Ciências Atmosféricas, Universidade Federal de Alagoas. Membro da Comissão de Climatologia da OMM.
Ricardo Augusto Felício - Profo. Dr. em Climatologia, Depto. Geografia USP, pesquisador da área de climatologia Antártida e Variabilidade Climática.
Mario Fontes - Engo. Agrônomo, responsável pelo blog "A grande farsa do aquecimento global.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Realengo e a Escola em luto



Até a semana passada as únicas referências que eu tinha do bairro de Realengo no Rio de Janeiro eram da canção "Engenho de Dentro" de Jorge Ben Jor: "Engenho de Dentro, quem não saltar agora só em Realengo. Cuidado para não cair da bicicleta, cuidado para não esquecer o guarda-chuva" e de Gilberto Gil "Aquele abraço": "Alô, alô Realengo, aquele abraço." Eram referências poéticas e alegres para um bairro periférico da metrópole carioca. Um bairro castigado, como tantos outros espalhados pelo Brasil, por ser uma espécie de bairro-dormitório mas cujo histórico está ligado ao Exército (fábrica de armas) e à industrialização no final do século XIX.

Entretanto, todos sabem que Realengo entra agora para o conhecimento público por motivos nada poéticos, econômicos e, muito menos, alegres. O massacre dos estudantes da Escola Municipal Tasso da Silveira chocou a todos e colocou o bairro no mapa da violência brasileira. O pior é que o episódio se deu num lugar em que a violência não deveria existir: a escola.

De tudo que li e vi, uma imagem que me chamou a atenção foi uma ilustração da Folha de São Paulo de 9 de abril, página A2. Nela aparece um desenho infantil, de traços singelos e inocentes em aquarela, onde vemos uma escola com flores e crianças criando um ar lúdico e familiar. Mas quebrando a harmonia do desenho há respingos de sangue manchando o papel. Triste!

Ouvi, hoje pela manhã, pelo rádio, entrevista com a professora que atendeu o ex-aluno assassino antes dele entrar nas salas. Ela comentava a respeito do ambiente desolador que ficaram as salas por onde ele passou: materiais escolares - cadernos, livros, lápis etc - espalhados pelo chão e ensanguentados. Paredes sujas. Carteiras caídas. É difícil imaginar.

Aos meus alunos comentei que a melhor coisa que podemos fazer era mandarmos, mentalmente, os desejos de paz e amor para aqueles que vivenciaram de perto a tragédia. Mas, que, além disso, a melhor homenagem aos que morreram é que valorizássemos o que temos na escola: amigos, aprendizado, socialização, diversão, namoros, esportes etc. Era, possivelmente, o que aqueles jovens que morreram buscavam e foram, definitivamente, impedidos.


segunda-feira, 4 de abril de 2011

Qual o preço do abacaxi?





Ontem no programa Globo Rural da TV Globo (devo confessar: uma das primeiras coisas que faço nas manhãs de domingo é ligar a TV para ver este programa) foi apresentada uma reportagem sobre a produção de abacaxis pérola no Tocantins.

Após a apresentação do processo de cultivo da fruta a discussão girou em torno do preço do produto. O produtor agrícola vende a R$ 2,70 cada unidade do abacaxi. Perguntaram a um trabalhador desta lavoura se ele sabia a quanto era vendido na cidade. Ele respondeu que não tinha nenhuma idéia. A reportagem acompanha o carregamento e descobre que o abacaxi produzido no Tocantins é vendido em supermercados de São Paulo a R$ 8,00. Se comprá-lo descascado e fatiado o preço chega a R$ 18,00!!!

A reportagem otimista diz algo como "o abacaxi depois que sai de Tocantins continua gerando riqueza: para o motorista que transporta a carga, para os postos de gasolina ao longo da estrada, para o supermercado que vendo o produto ao consumidor final etc."

Ok. Realmente pode continuar gerando riqueza. Só que não há em nenhum momento um questionamento a respeito de como esta riqueza é distribuída. E não é pouca. Um abacaxi que nasce valendo R$ 2,70 e passa a valer no fim R$ 8 passou por um aumento de aproximadamente 300%. O agricultor que arou a terra, depois plantou, aguardou o tempo de crescimento, cuidou da plantação, correu o risco de perder a produção por causa das intempéries, colheu, correu o risco de supersafra e consequente queda do preço do produto etc. acaba ficando com uma parte pequena desta riqueza. O trabalho na terra é desvalorizado.


Não foi questionado o quanto se aumenta o preço do abacaxi por causa do custo embutido por causa dos buracos nas estradas e da ineficiência da infraestrutura de transportes. Não se discute o número de atravessadores (estes ganham muito só por repassar e circular o produto) entre o produtor e o consumidor final. Não se questiona a relação entre produção e consumo deste produto tropical, originalmente brasileiro, que vai para as regiões mais frias do Brasil e, por exportação, do mundo.


Como eu deixei entender, eu gosto do Globo Rural porque traz muitas matérias interessantes e algumas idílicas (é o meu lado roça!). E também é bastante didático em questões geográficas que eu já usei e uso em sala de aula. Agora... daria pra ser um pouco crítico! Nem falo de aprofundar a questão, apenas observassem os vários desdobramentos sócioeconômicos deste ciclo reprodutor de contradições e desigualdades.

Aliás, vocês já viram um pé de abacaxi?

Um amigo foi comigo visitar o sítio de meu avô. Então sugeri que ele conhecesse a plantação de abacaxis já na época de colheira e que ficava ao lado de um pomar. Ao chegar no local ele ficou olhando... olhando... sem abaixar o olhar me falou: Fernando, eu não estou vendo abacaxi nenhum nas árvores!!! hehe... espero que eu não precise te explicar.


Dados:


O Brasil é o terceiro maior exportador de abacaxi, atrás da Tailândia e Filipinas

O maior cliente do Brasil é a Holanda.

O brasileiro consome apenas 50 kg de abacaxi por ano. Na Alemanha é de 112 kg.

Rondônia é o principal produtor do Brasil.


Abacaxi é ótima fonte de cálcio, vitaminas A, B e C.