TUDO DE NOVO OUTRA VEZ
Estava deitada pensando em uma boa história para quando seu Érico ligasse em busca de notícias sobre o cursinho. E Tom apareceu na porta com uma margarida na mão. Fiquei feliz, simplesmente.
- Posso deitar do seu lado?
- Tá convidado.
- Cê não vai ensaiar mais com a gente, Nininha?
- Ah, eu tava com vergonha, Tom. Essa história toda me deixou mal. Você me perdoa? - entrelacei minha perna na dele.
- Só se cê sair comigo hoje à noite. Lembra que aquele meu camarada convidou a gente?
Ele agia como se não tivéssemos rompido e me desarmou, não estava esperando isso. Acabei cedendo, embora tivesse preferido ficar dedilhando o violão na cama. Tom me beijou a ponta do nariz. Relaxei.
- Então tá, mais tarde vamos dar um alô pro teu amigo, mas nada de ficar até a bebida acabar, OK?
Essas exposições eram todas iguais: bebia-se à vontade, mesmo sendo o vinho mais barato, havia sempre um para discursar sobre os quadros sem conhecimento de arte, as mulheres passavam a maior parte do tempo reparando na roupa umas das outras. Me faltava paciência para tudo isso.
Não havia nada premeditado, mas entrei na galeria de braço dado com Tom e peguei a primeira taça e todas as outras. Aceitei o braço dele ao redor da cintura. Depois veio a mão nos cabelos, a cabeça no ombro, o beijo no nariz, e eu procurei o contato dos lábios de Tom, que cederam facilmente à pressão dos meus. Desse jeito ia voltar com ele para casa. Eu quis, mas parei no mesmo instante. Não, só podia ser alucinação, efeito da bebida. Não era possível que fosse ele. Olhei bem. Era Bernardo do outro lado do salão com sua companhia usual no meio de um grupo. Não podia ser... Outra vez?! Que bela hora pra aparecer... Bernardo não me viu. E agora? Vou até lá e me apresento? Dois beijinhos no rosto ou um só? Finjo que não é comigo e me meto entre os dois?
- Tô vendo um amigo logo ali. Pede um uísque pra mim? Já volto – dei as costas antes que Tom tentasse vir junto. Caminhei devagar, para demonstrar uma calma que não existia, parei para que ele me notasse. Dessa vez você não escapa. Ele cochichou no ouvido da mulher e me seguiu. O que será que ele tá dizendo? Se ela me visse teria mostrado as garras para defender sua presa, mas sorriu como uma mulher civilizada. Então não me viu. Parei no outro salão, no meio de estranhos.
Bernardo se adiantou:
- Você por aqui...
- Era o que eu ia dizer – tentei demonstrar frieza. – Vocês ainda estão juntos?
Como resistir?
- Viemos com uns amigos. E ele? – apontou Tom, que não desgrudava os olhos de mim. De nós. Segurava o copo de uísque, aquele que pedi.
- Um amigo... – sussurrei. Era verdade, ou mais ou menos verdade, mas e daí? – Preciso voltar.
- Vem comigo? Não aguento mais isso aqui.
- E ela? Se me vê aqui ela vai ter escândalo.
- Eu dou um jeito.
- Hoje não. – beijei-o no rosto, bem no canto dos lábios. Senti gosto de uísque e cigarro, tive vontade de lamber aquela boca, mas me segurei. Bernardo correspondeu passando a mão nos meus cabelos, um gesto de intimidade que me desconcertou. Tom devia estar pensando mil coisas... A essas alturas eu ainda seria obrigada a inventar uma desculpa?
- Quem é ele, Nininha?
- Bernardo.
- Aquele...?
- Aquele.
- Me ouve, Nininha, o cara não tá a fim de nada sério.
- Me deixa, Tom.
- Nininha...
Eu disfarçava, nem tinha mais condições de ouvir o que Tom dizia. A cada gole um olhar. Era alguma espécie de jogo? Eu sorria e passava a língua pela borda do copo e começava a sentir a boca latejar de tanta vontade de beijá-lo. Bernardo fez um brinde do outro lado. Que idiota! Dessa vez usava camisa branca. Não era lindo, nem um pouco, não era meu tipo de homem, mas o jeito de olhar – sexy! – mudava tudo. Me encarava, grandes olhos azuis afogueados. Os olhares eram breves e intensos e qualquer um podia perceber. Não dá mais pra segurar, que merda, lá vou eu me ferrar de novo.
- Desculpa, Tom, eu tenho que ir. Fui, sem enxergar mais nada, num impulso, sem pensar nas consequências, tudo nublado e desconexo. Não parei. Tive medo de que ele não tomasse uma atitude como no dia do cinema... Uma olhada antes de descer as escadas. Ele não pode fazer isso comigo agora... Hoje não, por favor... Bernardo me alcançou no corredor, tão alterado quanto eu. Segurou meu rosto entre as mãos e o que havia naquele salão ficou para trás de uma vez. Me perdoa, Tom!
Fomos somente até o carro, onde abri a blusa sem esperar por ele, nada de explicações. Bernardo aproveitou para abocanhar os mamilos, um de cada vez. São teus... A caminhonete era espaçosa e me senti em casa. Afoitos, nos livramos da roupa sem pensar que as vestiríamos de novo e quase nos rasgamos e avançamos com fúria em busca do que fora prometido pelos olhares de antes. Quando os vapores inundaram as janelas abri mais as pernas e me encaixei, sentei no colo dele e logo o percebi em mim. Em pouco tempo não dava mais para ver nada, apenas sentir. A caminhonete chacoalhava, Bernardo não me deixava escapar de seu ritmo, eu nem pensava em Tom, na outra ou na desculpa que daria a meu pai. Só escorregava... para cima, para baixo.... Aconteceu. Na escuridão do estacionamento, com um pouco de contorcionismo e alto teor alcoólico nas veias.
Manhã. Manhã?! Acordei na cama estranha sem saber exatamente como tinha ido parar ali... A última lembrança era de estar no carro batendo o joelho no câmbio, jogando os cabelos na cara dele, sentindo-me tonta e totalmente preenchida... Bernardo! Era na cama dele que eu estava! Ele dormia de barriga para baixo, os braços estendidos, tranquilo e indefeso. Não foi o que eu procurei desde o início? Dormir com o cara da vizinha, aquele que a fazia gemer do outro lado? Mas a dor de cabeça, a ressaca e a maldita culpa não me deixavam aproveitar o momento, apesar de me considerar livre. Ou nem tanto. Tom... Tom... martelava dentro de mim.
Juntei a roupa do chão, me vesti e procurei a porta, achei que ia sufocar se ficasse mais um minuto. Sem querer fiz o mesmo que ele. Saí sem me despedir.
- Posso deitar do seu lado?
- Tá convidado.
- Cê não vai ensaiar mais com a gente, Nininha?
- Ah, eu tava com vergonha, Tom. Essa história toda me deixou mal. Você me perdoa? - entrelacei minha perna na dele.
- Só se cê sair comigo hoje à noite. Lembra que aquele meu camarada convidou a gente?
Ele agia como se não tivéssemos rompido e me desarmou, não estava esperando isso. Acabei cedendo, embora tivesse preferido ficar dedilhando o violão na cama. Tom me beijou a ponta do nariz. Relaxei.
- Então tá, mais tarde vamos dar um alô pro teu amigo, mas nada de ficar até a bebida acabar, OK?
Essas exposições eram todas iguais: bebia-se à vontade, mesmo sendo o vinho mais barato, havia sempre um para discursar sobre os quadros sem conhecimento de arte, as mulheres passavam a maior parte do tempo reparando na roupa umas das outras. Me faltava paciência para tudo isso.
Não havia nada premeditado, mas entrei na galeria de braço dado com Tom e peguei a primeira taça e todas as outras. Aceitei o braço dele ao redor da cintura. Depois veio a mão nos cabelos, a cabeça no ombro, o beijo no nariz, e eu procurei o contato dos lábios de Tom, que cederam facilmente à pressão dos meus. Desse jeito ia voltar com ele para casa. Eu quis, mas parei no mesmo instante. Não, só podia ser alucinação, efeito da bebida. Não era possível que fosse ele. Olhei bem. Era Bernardo do outro lado do salão com sua companhia usual no meio de um grupo. Não podia ser... Outra vez?! Que bela hora pra aparecer... Bernardo não me viu. E agora? Vou até lá e me apresento? Dois beijinhos no rosto ou um só? Finjo que não é comigo e me meto entre os dois?
- Tô vendo um amigo logo ali. Pede um uísque pra mim? Já volto – dei as costas antes que Tom tentasse vir junto. Caminhei devagar, para demonstrar uma calma que não existia, parei para que ele me notasse. Dessa vez você não escapa. Ele cochichou no ouvido da mulher e me seguiu. O que será que ele tá dizendo? Se ela me visse teria mostrado as garras para defender sua presa, mas sorriu como uma mulher civilizada. Então não me viu. Parei no outro salão, no meio de estranhos.
Bernardo se adiantou:
- Você por aqui...
- Era o que eu ia dizer – tentei demonstrar frieza. – Vocês ainda estão juntos?
Como resistir?
- Viemos com uns amigos. E ele? – apontou Tom, que não desgrudava os olhos de mim. De nós. Segurava o copo de uísque, aquele que pedi.
- Um amigo... – sussurrei. Era verdade, ou mais ou menos verdade, mas e daí? – Preciso voltar.
- Vem comigo? Não aguento mais isso aqui.
- E ela? Se me vê aqui ela vai ter escândalo.
- Eu dou um jeito.
- Hoje não. – beijei-o no rosto, bem no canto dos lábios. Senti gosto de uísque e cigarro, tive vontade de lamber aquela boca, mas me segurei. Bernardo correspondeu passando a mão nos meus cabelos, um gesto de intimidade que me desconcertou. Tom devia estar pensando mil coisas... A essas alturas eu ainda seria obrigada a inventar uma desculpa?
- Quem é ele, Nininha?
- Bernardo.
- Aquele...?
- Aquele.
- Me ouve, Nininha, o cara não tá a fim de nada sério.
- Me deixa, Tom.
- Nininha...
Eu disfarçava, nem tinha mais condições de ouvir o que Tom dizia. A cada gole um olhar. Era alguma espécie de jogo? Eu sorria e passava a língua pela borda do copo e começava a sentir a boca latejar de tanta vontade de beijá-lo. Bernardo fez um brinde do outro lado. Que idiota! Dessa vez usava camisa branca. Não era lindo, nem um pouco, não era meu tipo de homem, mas o jeito de olhar – sexy! – mudava tudo. Me encarava, grandes olhos azuis afogueados. Os olhares eram breves e intensos e qualquer um podia perceber. Não dá mais pra segurar, que merda, lá vou eu me ferrar de novo.
- Desculpa, Tom, eu tenho que ir. Fui, sem enxergar mais nada, num impulso, sem pensar nas consequências, tudo nublado e desconexo. Não parei. Tive medo de que ele não tomasse uma atitude como no dia do cinema... Uma olhada antes de descer as escadas. Ele não pode fazer isso comigo agora... Hoje não, por favor... Bernardo me alcançou no corredor, tão alterado quanto eu. Segurou meu rosto entre as mãos e o que havia naquele salão ficou para trás de uma vez. Me perdoa, Tom!
Fomos somente até o carro, onde abri a blusa sem esperar por ele, nada de explicações. Bernardo aproveitou para abocanhar os mamilos, um de cada vez. São teus... A caminhonete era espaçosa e me senti em casa. Afoitos, nos livramos da roupa sem pensar que as vestiríamos de novo e quase nos rasgamos e avançamos com fúria em busca do que fora prometido pelos olhares de antes. Quando os vapores inundaram as janelas abri mais as pernas e me encaixei, sentei no colo dele e logo o percebi em mim. Em pouco tempo não dava mais para ver nada, apenas sentir. A caminhonete chacoalhava, Bernardo não me deixava escapar de seu ritmo, eu nem pensava em Tom, na outra ou na desculpa que daria a meu pai. Só escorregava... para cima, para baixo.... Aconteceu. Na escuridão do estacionamento, com um pouco de contorcionismo e alto teor alcoólico nas veias.
Manhã. Manhã?! Acordei na cama estranha sem saber exatamente como tinha ido parar ali... A última lembrança era de estar no carro batendo o joelho no câmbio, jogando os cabelos na cara dele, sentindo-me tonta e totalmente preenchida... Bernardo! Era na cama dele que eu estava! Ele dormia de barriga para baixo, os braços estendidos, tranquilo e indefeso. Não foi o que eu procurei desde o início? Dormir com o cara da vizinha, aquele que a fazia gemer do outro lado? Mas a dor de cabeça, a ressaca e a maldita culpa não me deixavam aproveitar o momento, apesar de me considerar livre. Ou nem tanto. Tom... Tom... martelava dentro de mim.
Juntei a roupa do chão, me vesti e procurei a porta, achei que ia sufocar se ficasse mais um minuto. Sem querer fiz o mesmo que ele. Saí sem me despedir.