E contou como o próprio ex-reitor, Luís Arouca, lhe confessou que todo esse processo passou-se nas suas costas.
As declarações são de Eurico Calado, professor fundador da UnI e durante vários anos director da respectiva Faculdade de Ciências e Tecnologia, sendo o responsável pela estruturação dos respectivos cursos e currículos. Foi também o último reitor da universidade, na sua fase final, antes de encerrar por ordem do Ministério do Ensino Superior, em Outubro de 2007.
No passado dia 20, Eurico Calado esteve a depor como testemunha no julgamento de um dos processos da UnI: o que tem como arguida a juíza Isabel Magalhães, ex-mulher de Rui Verde (antigo vice-reitor da universidade), acusada de falsificação e de branqueamento de capitais por, alegadamente, ter pactuado e beneficiado de parte dos 6,7 milhões de euros desviados pelo ex-marido.
As declarações de Eurico Calado sobre José Sócrates surgiram quando explicava ao Tribunal como, em meados dos anos 90, Arouca e Rui Verde começaram a disputar o poder e a afrouxar as regras, fazendo a UnI entrar num caminho «de descrédito», em termos académicos, que lhe desagradou e o levou a sair, em 2000.
«Se soubesses, nunca se tinha feito»
«Isto é importante por causa do Sócrates – ou melhor, ‘candidato’ Sócrates, como o Paulo Portas lhe chamou sempre nos debates na TV. E muito bem porque ele não é engenheiro». O professor universitário contou mesmo que chegou a confrontar Luiz Arouca: «Perguntei-lhe: ‘Ouve lá, Luís. Então o Sócrates licenciou-se na minha universidade, na faculdade de que eu sou director, e que até fez a minha cadeira (Inglês Técnico) e eu nunca soube de nada?’. Ele respondeu-me: ‘Se soubesses, isto nunca se tinha feito’. ‘Pois não’, respondi eu. Pelo menos nunca daquela maneira».
A testemunha explicou ainda aos juízes: «Eu percebo que as universidades precisam de visibilidade política. Ele era secretário de Estado e há umas manobras que é sempre possível fazer, mas dentro da legalidade, como apresentar uns trabalhos. E houve outros casos destes, de descrédito».
Mais à frente, o professor descreveu o ambiente conturbado nos dias que antecederam a prisão de RuiVerde e de Luís Arouca, na Primavera de 2007, com a invasão das instalações por skinheads e alunos, e a suspensão das aulas – levando a Inspecção-geral do Ensino Superior a entrar na UnI. Ao mesmo tempo, a Imprensa noticiava as dúvidas que a licenciatura do primeiro-ministro suscitava: «Atenção, o Sócrates tinha sido, supostamente, licenciado pela UnI. Talvez isto responda à pergunta de porque é que aquilo demorou tanto tempo a fechar. E também responde à pergunta de por que é que fechou. Porque, se não fecha, o processo acaba...».
No mesmo dia e perante o mesmo tribunal, depôs outra testemunha: Christian de Freitas, que foi contratado pela UnI para analisar a situação financeira e fazer um plano de recuperação. E afirmou que ia tratar destes assuntos à CGD, com Armando Vara, por indicação do vice-reitor, Rui Verde.
Recorde-se que a gestão da UnI – de onde foram desviados milhões de euros – está a ser julgada em dois tribunais. O julgamento do processo principal, contra antigos accionistas e dirigentes, entre outros arguidos, acusados de associação criminosa, abuso de confiança e burla, corre nas Varas Criminais de Lisboa, presidido pela juíza Ana Peres. E o segundo, por ter como arguida uma juíza, que tem de ser julgada por um tribunal superior, está a cargo do Tribunal da Relação de Lisboa, sendo presidido pelo desembargador Ricardo Cardoso. As testemunhas que ambos têm de ouvir são as mesmas e os julgamentos, dada a extensão dos processos, decorrem nas salas do Tribunal de Monsanto.
Outros professores e antigos funcionários têm testemunhado as irregularidades verificadas ao longo de uma década na UnI, sem que as autoridades do sector alguma vez a fiscalizassem.
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