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Não é Amor, é a Vida!

Chegaste até mim na madrugada da maturidade
Naquela idade em que já tudo foi 
E em que tudo está ainda por acontecer
Os primeiros traços da idade estavam aí
Os cabelos começavam a rarear e as rugas faziam fios em torno dos teus olhos
Mas o teu sorriso era de menino!

Chegaste quando já não eras esperado
Mas a mesa estava posta para ti
Havia flores nos canteiros da memória e música a tocar
E eu abri as minhas portas para acolher a tua solidão
Coloquei um vestido curto para te mostrar que havia esperança
Que, também eu, era ainda uma criança.

Não te falei de amor, falei-te da vida!
Trouxe-te para minha casa, deitei-te na minha cama
Entreguei-te o meu corpo quente, maduro, sábio de outros toques
Entreguei-me inteira, sem vergonha, sem culpa e sem mistérios

Tomei-te para mim e decifrei os teus segredos, que calei
Sabia-te frágil, incerto, esfomeado de amor que procuravas pelas ruas
Sabia-te poeta, músico e ilusão
Sabia-me em ti, em cada ausência tua! 


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