Está na hora da pausa kit-kat

O corpo de Cristo

Assim muito grosso modo, entendo a indemnização de um corpo lesado e fodido como uma combinação única de economia corporal, material e moral*. Avalia-se a utilidade de um corpo e determina-se o seu grau de incapacidade, que por sua vez é traduzido em dinheiro através de um código semi-convencionado que articula dignidade humana com curriculum salarial. Se há pouco mais de uma década uma vida valia o preço de um carro médio, hoje ronda os 50 mil euros, isto é, um carrão - o que me deixa francamente mais descansado. Chassis à parte, parece que ainda assim, tal como há merdas e merdas, também há vidas e vidas. Velhos, pobres e desempregados não são propriamente gente valiosa e eu até adivinho porquê: não se lhes pode dar uma mão que querem logo um braço (que só não perderam nas obras - extravagância estética de pedreiro - precisamente porque são velhos, pobres e desempregados).

Ora vem isto a propósito das indemnizações atribuídas aos doentes cegados no Hospital de Santa Maria. É evidente que negligência e responsabilidade médicas são matéria jurídico-fininha que não sou propriamente competente para insultar (excepto no dossier corporativismos periciais, que ainda ontem recenseei na padaria do Pingo Doce). Fora dos tribunais, consensualizou-se uma indemnização política de 246 mil euros para o caso - presumo - mais grave. É sempre pouco, mas parece justo. E digo indemnização política porque é episódio particularmente vigiado pela imprensa, pelo que ganha os respectivos contornos e cuidados mil. Queira Deus que a coisa - no hospital, no trabalho ou na estrada - se exporte para as dezenas de corpos fodidos que chegam diariamente aos tribunais sem porra de culpa nenhuma. Ainda ontem rezei um Pai-Nosso e uma Salve-Rainha à Axa, Liberty, Fidelidade-Mundial, Império-Bonança, Zurich, Allianz e Tranquilidade. A ver que tal.

A visita de Bush e Clinton ao Haiti

As más linguas dizem que Bush Jr limpa a mão na camisa do Bill Clinton após ter cumprimentado um autóctone. Deixo as interpretações à vossa consideração. A partir do minuto 00:45.

A China chega a Kalmar (1)

A recente aquisição da Volvo por parte de uma quase desconhecida empresa automóvel chinesa - a Geely International - poderia suscitar diversos tipos de abordagem. A primeira é feita pelo Editorial de hoje do Público. A imagem da Volvo tinha subjacente uma preocupação com a inovação tecnológica e com a segurança. Assim o que se intui nesse editorial é a preocupação (legítima) de que a associação da Volvo a uma empresa que é conhecida pela produção de automóveis baratos e poluentes, que teve que adiar a sua entrada no mercado europeu e norte-americano por causa do incumprimento de standards mínimos, possa toldar definitivamente a cultura organizacional da organização Sueca. A questão final colocada é esta «Ficam em todo este processo, no entanto, uma dúvida e uma nostalgia: serão os Volvo do futuro automóveis requintados e "amigos" dos condutores como o foram na era dos suecos?»

Um outro enfoque, que me é simpático, seria um (certo) saudosismo em relação às experiências de «Democracia Industrial» levadas a cabo nas fábricas de Kalmar e Uddevalla. Aparentemente esta imagem de marca não ficou na retina daqueles que se preocupam com o futuro da Volvo, mas para mim é sem dúvida o aspecto mais interessante. Como proceder a uma organização da actividade produtiva, num sector altamente exposto à competição no mercado internacional, que mantivesse uma elevada produtividade, mas que criasse uma cultural real de participação e de envolvimento dos trabalhadores? Kalmar era um exemplo de «Democracia Industrial» mas a opção da maioria das empresas norte-americanas e europeias foi a da transplantação dos modelos Toyotistas. Em termos tecnológicos ficamos com um neo-taylorismo em que a intensidade do trabalho é dramaticamente intensificada. A nível da democracia organizacional, implanta-se um simulacro de participação, que captura o saber tácito dos trabalhadores mas aos quais não confere qualquer poder relevante nas principais tomadas de decisão.

Essas experiências têm sido paulatinamente abandonadas. Convém lembrar que os anos 70 foram o período de maior força da classe trabalhadora organizada, que não reivindicava apenas mais salário, mas que procurava interferir nas modalidades de organização produtiva, nas competências e qualificações dos postos de trabalho, na crítica ideológica do modelo produtivo taylorista-fordista e das suas consequências nos corpos e nas mentes dos trabalhadores. Desde então o clima ideológico mudou e essa «crítica social» recuou dramaticamente.

Dedicarei um outro post à Geely e à China, ao significado desta compra e à emergência desta potência económica mundial, que está no centro do actual processo de acumulação capitalista.

Por uma nova epistemologia


Pequena homenagem a Pierre Bourdieu

Abrir a boca para falar:

«Entendo a atitude pós-moderna como a de um homem que deseja uma mulher muito culta e sabe que não lhe pode dizer "Amo-te loucamente" porque sabe que ela sabe (e que ela sabe que ele sabe) que essas palavras já foram escritas por Barbara Cartland. Mas há uma solução. Pode dizer: "Como dizia Barbara Cartland, amo-te loucamente". Nesse momento, tendo evitado uma falsa inocência, tendo dito com clareza que já não é possível falar inocentemente, terá dito no entanto o que queria dizer à mulher: que a ama, mas que a ama numa época que perdeu a inocência. Se a mulher aceita esta táctica, terá recebido de qualquer forma uma declaração de amor. Ninguém se sentirá inocente, os dois terão aceite o desafio do passado, do que já se disse, que não pode ser eliminado, os dois participarão com prazer no jogo da ironia consciente... Mas os dois terão mais uma vez conseguido falar de amor.»

Umberto Eco apud Charles Jenks, «Que és el posmodernismo?» in Los Cuadernos del Norte. Oviedo, ano VIII, n.º43, p.36 apud Francisco Louçã (1994), A Maldição de Midas. A cultura do capitalismo tardio. p.164-165. Lisboa: Edições Cotovia.

Abrir a boca para comer:

Who let the dogs out?


Francisco Oneto indignou-se aqui com as claques de futebol e, muito particularmente, os seus comportamentos porque "se arrogam o direito de fazer da agressão generalizada e da violência a marca da sua reles submissão a ideais de estupidez agonística exacerbada". Certo.

Zé Neves irritou-se aqui contra Fancisco Oneto, ou melhor, contra o seu tom paternalista e contra o subtexto do seu post que, no entender de Zé Neves revela uma posição sobranceira de uma certa intelectualidade que só sabe lidar com a ordem e que apenas dentro dela reconhece a civilidade e a humanidade. Certo também.

Aceito que, logo à partida, a antipatia nutrida pelo desporto pode inquinar a discussão e amplificar sentimentos de indignação. Ainda assim, compreendendo os dois pontos de vista e, acima de tudo, chamando a atenção para os perigos de qualquer um dos dois (por um lado de desumanizar e, portanto, não compreender os comportamentos desta gente e, por outro, de relativizar e, portanto, desculpar os comportamentos desta gente). É claro que, nem Francisco Oneto admitiria que não os considera humanos nem Zé Neves admitiria que desculpabiliza os comportamentos mas serão essas as consequências se levarmos tudo a eito chamando selvagem a tudo o que mexe ou se equipararmos o post de Oneto aos comportamentos das claques.

Ora, neste, como noutros casos, o segredo está na massa E no molho. O perigo de tratar esta gente como se fossem cães de caça não pode ser mais determinante que o perigo que os tratar como vítimas da sociedade. E vice-versa. Mas, a esse respeito, diga-se que o mesmo princípio pode ser aplicável a qualquer crime.

Isto é, portanto, gente que merece "regime de reclusão [com] trabalho compulsivo em prol da comunidade"? Não. Quando o nervosismo e a indignação resvalam para as ideias anti-democráticas, estamos mal. É gente que merece ser presa? Alguns certamente que sim e a impunidade com que destroem, agridem e ameaçam é absolutamente incompreensível. Tendo isto em mente, em relação aos restantes, não é nada que uns bons tabefes em casa não resolvesse.

(D)evolution Summit 2010: Os Benefícios da Cultura



Na próxima semana, os Ministros da Cultura da UE vão a Barcelona participar no encerramento do Fórum Europeu de Indústrias Culturais, intitulado "A economia da cultura".

"Visto o enfoque inequívoco que este título sugere, a comunidade criativa e a sociedade civil, apesar de não terem sido convidadas para o evento, organizam três dias de actividades para mostrar a cultura que propõem para a era digital: um modelo de cultura que beneficie todos, cidadãos e criadores, um modelo de cultura que incentive a criatividade e não apenas as receitas, e sobretudo que não ataque a internet nem as novas possibilidades que a Rede oferece para os criadores e a sociedade em geral. A cultura não é só indústria do entretenimento audiovisual, é muito mais: é a nossa herança cultural, são os criadores e é a cidadania".

Mais info no site da (D)Evolution Summit 2010, a "cimeira cidadã para abrir as mentes dos ministros", de 29 a 31 de Março em Barcelona.

Old news, new news

Chamo a atenção para o debate a propósito do Orfeão de Leiria e do Grupo de Teatro o Nariz que continuo aqui mesmo depois de o post ter sido engolido.

Qual Stout, qual quê...

Formação Gerir com 6º Sentido (Curso Financiado)

A APEE apoia mulheres empreendedoras com 6º sentido na concretização do seu projecto ou ideia de negócio, através de:

- 192h Formação pós-laboral
- 80h Consultoria

Inicio- 26 de Março (Lisboa)
28 de Março( Loulé e Olhão)

Horário- 9:30 – 17:30

condições de acesso:

Mulheres desempregadas

Sôdade... Sôdaaade...

Ai minha querida China, que saudades de quando eras o farol que guiava este mundo. Que saudades de quando só massacravas teocratas. Que saudades dos tempos em que eras pura e imaculada, antes de te deixares corromper pelo capitalismo.

A tribo do Professor Galamba


«Na verdade, todos estes direitos estão imanentemente limitados pela reserva do possível, ou pela reserva do financeiramente possível.»

Eu quer-me parecer que Isabel Moreira não percebeu puto da conversa. Ou se percebeu serão com certeza demasiados cafés com o Professor Galamba. Será que é preciso tanto espalhafato pseudojurídico (pseudo, repito) para demonstrar por A+B que esta coisa dos direitos não é providência divina nem está escrita nas estrelas? E agora? Não sendo reclamáveis em sede judicial (discutível) deixam de ser disputáveis em sede política? Alegar a «reserva do possível» para cortar no subsídio de desemprego é manobra manhosa e cobarde. E para já contenho-me nos adjectivos. Por mim, Isabel Moreira acaba de merecer uma taça (a mais feia que arranjei). Sobretudo pela fidelidade ao Professor Galamba: só mesmo isso justifica o que escreveu.

PS: Entretanto o Zé Neves já lhe tratou da saúde. Nuno Ramos de Almeida também.

Adenda: Segundo a Tribo do Professor Galamba este gajo é um zizeko - wait for it - guevarista. Podeis pasmar.

Poesia

"Governo alemão não descarta intervenção do FMI na resolução da crise grega"

Um colega de trabalho chamou-me a atenção para este título e, de facto, sinto-me de novo no ensino básico inundado por uma infantil felicidade de descobrir vários sentidos de uma única frase poética.

Is this what change looks like?

Parece que a América está a mudar. O que não muda é o modo enfatuado com que as mudanças são recebidas. Assim como quem "responde ao chamamento da história" (Obama) e "completa o grande assunto inacabado da sociedade americana" (Nancy Pelosi), a Câmara dos Representantes lá passou a reforma do sistema de saúde. É o próprio Obama que avisa que está longe de ser uma reforma radical. Mas é inegável que é um primeiro passo. É indiscutível que contribui para repor o enxovalhado sentido de justiça que inaugura o liberalismo americano. E a direita espuma que nem um cão raivoso. E como já se sabe, um cão raivoso tem o pelo eriçado, o dente guloso e o faro ajustado. Cuidado!

França: O início de uma viragem consolidada à esquerda?

Líderes do PSF, do PCF e de Europe Ecologie

As eleições regionais em França sancionaram Sarkosy e o seu Governo. Ainda que a(s) leitura(s) do(s) resultado(s) destas eleições não possa(m) ser de forma tão linear transpostas para uma dimensão nacional, parece contudo inegável que o sentido maioritário dos votos não deixou de ser de censura para um Presidente e um Governo cada vez mais desgastados. 21 das 22 regiões da França metropolitana foram ganhas pela esquerda! Aliás, amanhã, Sarkosy e Fillon -que entretanto vão encenar mais uma remodelação governamental - enfrentam mais uma greve de 5 centrais sindicais (com CFDT e CGT) juntando trabalhadores/as do privado e do público.
A tensão nas universidades ainda está longe de ter acabado e a qualquer momento pode voltar a surgir; o "conflito" nas banlieues - e a tensão social de modo geral - está sempre latente; a política de expulsão dos/as imigrantes ilegais tem sido vergonhosa e tende a ser cada vez mais contestada; com o pseudodebate sobre a identidade nacional saiu - a Sarkosy - o tiro pela culatra; os gastos elevadíssimos da Presidência Francesa da UE e da própria presidência de Sarkosy não caíram bem; os resultados económicos estão longe de ser satisfatórios e a promessa de centrar o seu mandato no aumento do poder de compra dos/as franceses/as tem lhe sido cobrada diariamente; as desigualdades em França acentuaram-se; a persona de Sarkosy - o seu estilo, a sua arrogância, a sua incapacidade em admitir os seus erros; as polémicas em volta dos/as seus/suas ministros/as que ele domina ou quer dominar por completo; as suas recorrentes aparições nas revistas cores de rosa, etc, etc. - estão, aleluia, a começar a, finalmente, jogar a seu desfavor.
Não convém, contudo, deitar já foguetes, pois tirar este senhor de lá não será assim tão fácil. Se há coisa que ele tem é esperteza , astúcia e "inteligência política" digamos assim, para além de que ele só chegou onde chegou também por causa das fragilidades da esquerda, nomeadamente de PSF.
Martine Aubry que começou mal e com sérias dificuldades em pacificar o partido tem vindo a afirmar-se na liderança de PSF e em colocá-lo como alternativa (ainda frágil, diga-se). No entanto, esta não vai deixar de contar tão depressa com as ambições de Segolène Royal ou com os/as seus/suas inimigos/as internos/as que não lhe vão facilitar a tarefa, e vai ter de chegar a acordo com Bertrand Delanoë - de que pessoalmente gosto muito e espero que este venha a assumir um papel de relevo no PSF e no País. A sombra de Strauss Kahn continua igualmente a pairar e desconfio que continuará. As pontes à esquerda que M.A tem conseguido estabelecer não estão asseguradas e dependerão muito da conjuntura política e da própria dinâmica e orientação do PSF. O MODEM - "centristas" liderados/as por Bayrou - apesar de fragilizado arrisca-se a continuar a ser uma pedra no sapato de muitos/as dado continuar a conseguir cativar algum eleitorado que no confronto Esquerda/Direita pode fazer a diferença.
A porra do FN é que teima em "resistir": pouco menos de 10% dos votos. Apesar de Jean Marie Le Pen estar mais para lá do que para cá, continua a não largar o osso e a sua "descendência" - leia-se a filha Marine Le Pen - tem conseguido segurar boa parte do "eleitorado" do FN...
A Europe Ecologie tem conseguido afirmar-se no panorama político francês, ainda que o seu futuro e o caminho a seguir continue a provocar discordâncias internas que podem agudizar-se e comprometer o seu crescimento se não forem bem geridas. A ver vamos...
Ainda assim, é de assinalar a convergência de grande parte da Esquerda, em boa medida responsável por estes resultados. PSF, Front de Gauche (juntando Partido Comunista Francês, que não tem outro remédio senão aliar-se pois está reduzido a nada ou quase, alguns/mas altermundialistas, comunistas renovadores/as, descontentes com o PSF, etc.) e Europe Ecologie juntaram-se na segunda volta e espero que o caminho seguido pelo PSF continue a ser esse: o de virar à esquerda e de virar-se para a esquerda .
Pode ser que isso inspire outros líderes de partidos socialistas... Mmmhhh.....pois, também não me parece.

Professor Galamba 2.0

"é preciso não esquecer que, primeiro, as políticas anti-crise têm de ser temporárias"

Eu diria que é preciso não esquecer que só com muito má (ou boa) vontade é que se ignora por completo que é infinitamente mais fácil destruir políticas sociais do que construí-las. O retrocesso nesta área implica ficarmos atrasados num caminho que temos vindo a construir desde o 25 de Abril. Aliás, esses retrocessos quase nunca são um passo atrás para dar dois em frente como o prova o Código do Trabalho.

Diria também que no contexto em que nos encontramos ninguém acredita que as privatizações são temporárias. Sendo o processo de privatização aplaudido pelas instituições internacionais, o processo contrário (ou resistências a esse processo como as golden shares) afiguram-se como uma impossibilidade.

Diria, por fim, semi-concordando com João Galamba que as políticas anti-crise têm, realmente, de ser temporárias mas elas devem constituir um reforço extraordinário das políticas sociais e do papel do Estado como rede de segurança dos seus cidadão e nunca o contrário. E porquê? Porque aqui sim, falamos de um perigo sistémico que exige a mobilização de recursos extra.


P.S. - Depois de um título tão bom, seria difícil encontrar um melhor.

A bota e a perdigota

Seria bom que se entendessem. Para que uma batesse com a outra.

Professor Galamba

Diz ele assim:


Para além de usar brinco (palavra de honra) e de não saber escrever decentemente a palavra «possibilidade», João Galamba consegue condensar numa só frase toda a sua imbecilidade. Se lhe acrescentasse que os recursos são escassos e as necessidades ilimitadas (coisa que ele insinua, mas isto tem de ser dito em modo lenga-lenga), então poderia dedicar-se à astrologia ou, como é mais ambicioso, teria argumento bastante para uma tese de mestrado em economia doméstica e seria um qualificado profissional liberal. Eu, que sou de esquerda, nunca lhe chamaria mulher-a-dias, antes aquela senhora que vai lá a casa de vez em quando. Mas adiante.

Para o que aqui nos interessa, devo dizer que não me parece necessário chumbar a matemática ou partilhar todas estas visões da ciência económica para compreender coisinhas simples do quotidiano, como dormir, comer, beber e, por exemplo, que a economia política não é outra coisa que não a definição das condições de possibilidade. Tal como não é preciso ler Foucault para chegar à ideia conexa de regime de verdade. Se o truísmo lhe escapa convém voltar aos banquinhos da escola, até porque prefiro pagar-lhe a educação ao ordenado.

Vem esta história a propósito do PEC e da alegada insustentabilidade financeira do subsídio de desemprego, ideia comercializada com a conhecida semântica da crise. O objectivo é reduzir-lhe - ao subsídio - a consistência, a abrangência e a acessibilidade. Preguiçoso da cabeça como sou, por agora só me lembro de uns problemas financeiros que houve há tempos e que, salvo erro, redundaram em política social para a banca. João Galamba chama a tudo isto uma tragédia. Eu, que sou de esquerda, chamo-lhe autoritarismo social.

PS: Não sabia que o slogan «sejamos realistas, exijamos o impossível» era do Zizek. Muito me conta, João Galamba.

Responsabilidade Social das Tunas

Brinde, algures na Universidade de Coimbra:
«Vai acima,
Vai abaixo,
Vai pra dentro,
Com moderaçãoooo.»

Clareza



A culpa é, claramente, do embargo.

Carácter

Numa esplanada: "Eu alinho em todas as vigarices. Desde que sejam legais"

Suspeitos

Este exercício é lamentável. Do mais baixo que tenho visto. Mais um suspeito do costume? Mais um? A somar a quem? Do costume? Quem são e que características têm esses suspeitos do costume? E foi por preencher esses critérios que se tornou suspeito? Num qualquer jovem revolucionário de algibeira, percebia-se, mas em alguém que costuma somar pontos por não ceder a essas criancices, faz pena.

Este blog é jovem e tem futuro

Ufa!

O "professor do ano" é uma pessoa normal. Ainda bem. E que conselhos poderá ele dar aos anormais que não são professores do ano? Estar "sempre pronto a ajudar os alunos", esforçar-se "para ajudá-los na aprendizagem", "funcionar um pouco como vendedor". Cita Kennedy. Envolve os alunos no seu dia-a-dia. Porreiro, pá! Talvez consiga, um dia, ter também o bebé do ano. Isso é que era ambição.

Uma espécie de petição

Em Junho de 1999, num colóquio organizado pelo Centro de Estudos Sociais e dedicado à Reinvenção da Teoria Crítica, Pedro Adão e Silva (PAS) apresentou uma comunicação cujo título sempre me pareceu altamente conseguido: «A crítica ao serviço dos surfistas». Como não lhe conhecia o hobby, achei os surfistas um bom recurso poético de contraponto à ética do trabalho, ilustrando a ideia do não fazer nenhum. PAS era então um jovem sociólogo a caminho (ou em exercício) de funções governamentais junto de Ferro Rodrigues e Paulo Pedroso. Como é amplamente reconhecido, a pasta social do guterrismo legou-nos uma das mais progressistas e inclusivas políticas públicas da contemporaneidade: a implementação do Rendimento Mínimo Garantido. Não era apenas mais uma prestação social típica de ciclos económicos abastados: era sobretudo uma nova concepção da cidadania, uma nova linguagem sobre a dignidade e uma nova relação contratual dos cidadãos com o Estado. Até por causa da pobreza extrema e essas coisas.

Mas mais do que isso, n'A crítica ao serviço dos surfistas PAS abria espaço para pensar a desejabilidade e a viabilidade da atribuição de um rendimento incondicionado (basic income), uma espécie de reforma revolucionária (tipo André Gorz) que inaugurava uma nova forma de organizar a obrigação, a contribuição e a redistribuição a partir da garantia pública de um mínimo civilizatório inteiramente destituído de contrapartidas. Rico ou pobre, todos recebem x. Ponto final. Poupa-se em burocracia e juízos morais e ganha-se em liberdade, autonomia e capacitação económica dos cidadãos.

Não vou aqui fazer o debate dos seus fundamentos, condições, sustentabilidade, implicações e perversões. É dar, por exemplo, uma vista de olhos aqui. Mas sem querer cair em anticapitalismos grosseiros, serve esta pequena seca para sublinhar os quilómetros recuados na última década, não apenas na política social pura e dura como nos dilemas ideológicos que atravessam, nos dias que correm, a douta cabeça da fauna socialista. A oposição frontal de PAS ao plafonamento da despesa com o Rendimento Social de Inserção é disso testemunha e comporta a trágica vantagem de o fazer reclamar a tributação das mais valias bolsistas e a limitação da obscenidade salarial no sector empresarial do Estado.

Não querendo ser ofensivo, gostaria de sugerir-lhe que uma boa maneira de evitar estas coisas poderia passar por levantar-se - politicamente - do sofá.

Sobre os tiros, quem os dispara e quem leva com eles

quem já tenha feito o julgamento, quem já saiba as razões do que aconteceu e quem já tenha feito o ponto da situação. Tudo muito resumidinho, vago, artístico e organizadinho para servir a mensagem política que se quer passar. Portanto, tudo muito obscuro e redundante.

Por enquanto, isto é tudo o que se me apraz dizer:


Finalmente

O documento 15 medidas imediatas para uma economia decente apresentado pelo Bloco como alternativa ao PEC PS/PSD/CDS é talvez a primeira coisa que aplaudo convictamente desde que cessei a minha militância. Se ao menos houvesse mais disto e menos policiamento moral...

Democracia interna e palermice

Este lamento pífio de Zé Neves a propósito de mais uma rasteira imbecil do sempre elegante Ruptura/FER (e alguns novos amigos) ao BE é sobremaneira comovente. Deus queira que não seja motivo de cisão no mais promissor blog de esquerda, ó Miguel Cardina. Nos entretantos, penso que:

1. o Bloco de Esquerda tem estruturas representativas próprias - e responsabilizáveis - que deverão decidir do seu posicionamento em matéria presidencial, em consonância com as linhas programáticas aprovadas na última Convenção. Algo de errado se passou? Não. O apoio a Manuel Alegre não foi decisão desgarrada e indiscutida - embora eu até tenda a discordar dela (mas isso é com eles, não meto o bedelho). Talvez o Ruptura/FER estivesse em sessões de treino terrorista com os seus camaradas Taliban e tenha faltado ao debate interno. Tanta, mas tanta pena;

2. usar a inenarrável candidatura de Fernando Nobre como pretexto para o estardalhaço habitual - infundado e mal-intencionado - é estratégia verdadeiramente anedótica. Se o Ruptura/FER, lá no fundo da sua clandestinidade, pondera um apoio a Fernando Nobre é porque perdeu definitivamente o juízo (ok, não é de agora) e a vergonha. Se quer atacar a metodologia das coisas que o faça sem rodriguinhos que apenas servem para enganar meia dúzia de militantes desorientados e alguns jornalistas licenciados pela Universidade Moderna;

3. não existe o mínimo de confiança política entre as três correntes fundadoras do BE e o Ruptura/FER: para além de ideologias, programa e procedimentos diversos - se não mesmo divergentes -, a única preocupação do Ruptura/FER é o desgaste político, social e eleitoral do BE para provar ao mundo que tinha razão. Ao mesmo tempo, o Ruptura/FER cumpre uma função importante lá dentro: de tão mau que é acaba por fazer-nos crer que tudo o resto é bestial. É exactamente por isso que vão viver felizes para sempre. Por mim o grupelho já tinha sido corrido. Não há coragem? Então aturem-se.

Adenda: Nota da Comissão Política do BE sobre a Petição por uma Convenção Extraordinária

A LeYa não queima, recicla

Se tiveres de atravessar a água, estarei contigo. E os rios não te submergirão; se caminhares pelo fogo, não te queimarás, e a chama não te consumirá.

(Isaías 43,2)

Direito por linhas tortas

O diploma que legaliza o casamento entre pessoas do mesmo sexo foi enviado para o Tribunal Constitucional. Fico contente. O diploma representa um retrocesso, afirma um escalonamento de cidadania ao impedir a adopção. Mesmo que ele seja vetado pelas razões erradas, o resultado é positivo. Só tenho pena que muita Esquerda tenha ficado eufórico com umas migalhinhas envenenadas que lhes foram atiradas aos olhos.

PSL atira-se a Cavaco. Tem palmas. Atira-se a Constâncio. Tem palmas.

O útil e o agradável

Marcelo Rebelo de Sousa foi comprar pão a Mafra e, já que lá estava, deu uma perninha ao congresso. O discurso, esse foi escrito entre a padaria e o pavilhão.

celibato = repressão = pedofilia*

Comentava comigo uma psiquiatra-em-construção (que não é pateta) que nem Freud chegou a tanto. Pensando bem, Bruno Sena Martins, conhecedor reputado da História da Sexualidade, jamais diria esta enormidade:

A importância de ser Zie

O governo australiano acrescentou esta semana mais uma interessante página à história dos direitos sexuais, ao fazer aprovar uma nova lei que permite o registo individual sob a designação "género não definido".
A ideia é combater a estrita dualidade dos géneros tal como é entendida nas sociedades ocidentais, permitindo acomodar indivíduos que não são estritamente transexuais (com historial de efectiva intervenção hormonal / cirúrgica para alteração do género com que nasceram), legitimando por fim o conceito de "intersexual". Da terminologia em inglês, ao lado de "She" e "He", passa agora a constar o pronome (de género) não especificado "Zie". Como seria em português?
Polémico, mas polémico é delicioso...
Agradeço à Rita Alcaire o envio do link para a notícia, da qual se pode ler mais aqui.

Ontem, o Vernissage de Bolseiros foi assim




Via Precários Inflexíveis

Dedicado a Fernando Teixeira dos Santos, sem complexos no que diz respeito às questões de género

Os momentos de ternura vão-se tornando imagem de marca daqui do MR. Depois do Hugo (aqui e aqui), é a minha vez de dedicar uma música. Desta vez a Teixeira dos Santos que não deve estar a par das recentes discussões da blogosfera em torno das questões do género e esqueceu-se das "girls".

Pit Bullying: Chafurdar na merda


Em relação a situações como esta em que as pessoas se encontram a chafurdar na merda e quanto mais bracejam, mais se afundam, não me parece nada razoável que se aborde a questão dizendo que a pessoa era demasiado sensível ao cheiro. É precisamente isso que se faz quando se diz que a o visado era "uma pessoa complicada, frágil e reservada". É precisamente isso que se faz quando se propõem "assistir a aulas de colegas para aprender a lidar com as provocações". Como se uma mola no nariz resolvesse o assunto.

O que se deve fazer é limpar a merda. Refiro-me aos imbecis agressores, intocáveis porque "é da idade". Lamento, mas não é da idade. Vários factores conduzirão a um comportamento agressivo mas não é normal, nem natural, nem aceitável, nem inelutável que as crianças sejam umas bestas. Até porque a maioria não o serão. Limpar a merda é intervir de forma eficaz de forma a interromper as agressões presentes e prevenir futuras quer isso implique castigos, quer implique acompanhamento psicológico, quer implique acompanhamento do contexto social. E, nesse sentido, subscrevo o que o Tiago escreveu aqui. A bem das vítimas e dos agressores.

Presidenciais - Nobre, exames médicos e tiros no pé.

Escreverei um post mais detalhado sobre este assunto (presidenciais) mas ao ver esta notícia (com declarações de Fernando Nobre) não resisto a mandar já o meu "bitaite". Fui daquelas que quando se começou a ouvir falar da possibilidade de Fernando Nobre se candidatar à Presidência da República não deu grande atenção porque pensava que era mero boato e quando se confirmou fui daquelas que não gostou nada e isto, confesso , por motivos pragmáticos (mas não só): sou de esquerda, situo-me à esquerda do PS, num partido que ainda está por inventar como me costumam dizer "O partido entre PS e Bloco" :) e que desconfio que teria bastante militantes :). Votei PS em 2005 (é o que dá ter Durão e Santana de seguida:), Autárquicas (Coimbra) - CDU (Gouveia Monteiro), Europeias: Cdu , Presidenciais: Manuel Alegre, Autárquicas (Coimbra) 2009 - Bloco; Europeias: Bloco, e votei Bloco de Esquerda nas últimas legislativas e foi, porventura, a vez em que o meu voto foi mais pensado, ponderado e convicto em eleições outras que presidenciais desde que voto em Portugal (2002).
Não gosto de Cavaco Silva, por motivos ideológicos (demasiado liberal na economia, demasiado conservador nos costumes e em questões relacionadas com liberdade individual, entre outros) e por achar que o Senhor não tem, de facto, nem a postura, nem a eloquência, nem a destreza intelectual, nem muita coisa :) que considero importante para um cargo dessa natureza (para ser sincera: nem para outros). A sua postura e reacção à "inventona" das escutas foi pura e simplesmente inacreditável, mas isso foi apenas mais um episódio. Perante isto, quero acima de tudo que este senhor saia de lá e quero ter um presidente de esquerda, uma esquerda na qual me reveja suficientemente.
É aí que entra Manuel Alegre. Não é perfeito , chegou em determinadas alturas a irritar-me solenemente com a sua postura precisamente muito "solene"; com as suas abstenções em votações nas quais teria votado contra; com, por vezes, o seu patriotismo um tanto ao quanto bacoco, mas o essencial para eu votar nele tem: foi contra e muito crítico do Código de trabalho; tem uma perspectiva social e humana bastante ancorada; nas áreas da saúde e da segurança social assumiu uma postura crítica dentro do partido; tem uma visão da educação pública na qual me revejo; tem um passado de intervenção importante; é "pela paz"; consegue mobilizar muito boa parte da esquerda e estabelecer pontes que acho essenciais e tem (ou tinha?) condições para ganhar.
Ora, a candidatura de Fernando Nobre veio , a meu ver - espero estar enganada - prejudicar a sua hipótese - de Manuel Alegre e de uma esquerda na qual me revejo - de ganhar e facilita a vida a Cavaco. Conheço várias pessoas que ficaram balançadas e outras que aderiram logo à "candidatura cidadã" de Nobre. Não estava minimamente à espera desta candidatura de Fernando Nobre. Apesar - do que conheço dele - de ter muita simpatia e até admiração pelo trabalho que desenvolveu , e de não me agradar a ideia de ele e Alegre serem "concorrentes", nunca pûs em causa o meu voto no Alegre nas presidenciais pelos motivos indicados anteriormente, mas fiquei bastante receosa com as consequências da candidatura de Nobre nos resultados das presidenciais.
Contudo , verdade seja dita, sempre que o homem dá uma entrevista ou tem um discurso mais "demorado", para além de não ser grande orador e de assumir uma pose entediante, tem cumulado várias "pérolas": um discurso anti partidos no qual não me revejo; diz que a distinção entre a Esquerda e Direita já não faz sentido e que não se situa em nenhum dos lados (surpreendeu-me, pensei que se situaria à esquerda e, para mim, lamento, não só há divisão como gosto de saber em quem voto); fala em ovnis; os seus discursos tendem não raras vezes para o vazio , generalidades ou populismo; ficou-se a saber que teve militância monárquica e que se orgulha disso - e tem, de facto, todo o direito de - mas a monarquia não é bem a minha "tasse de thé" :), e agora perante tanta coisa sobre a qual poderia falar e sobre s aqual ainda não se lhe ouviu nem uma palavra (sei lá, a situação económica, os inúmeros casos que tem havido; a UE e os seus desafios, a imprensa, só naquela) passa-me um bom bocado da sua entrevista a falar dos exames médicos e da sua importância para titulares de cargos e diz sobre a possibilidade de desistência de candidatura que "está nesta corrida até ao fim a não ser que morra num acidente de automóvel, leve um tiro na cabeça ou lhe seja diagnosticado um cancro" ... Tem sido, pelo menos até agora, uma desilusão. Espero que para outros/as também :)

France Telecom: desde 2008, 40 "acidentes de serviço"..

Esta notícia do Le Monde de hoje é assustadora: mais 9 suicídios de trabalhadores/as na France Telecom em 2010 por motivo de stress no trabalho (a somar ao 32 que ja tinham ocorrido entre janeiro 2008 e dezembro 2009). Fui acompanhando os outros casos e toda a polémica pública em volta de France Telecom mas pensava que - mesmo sabendo que não há milagres e que não se muda a organização do trabalho, os métodos, a "filosofia" de uma empresa (pressão pelos objectivos, etc) do pé para a mão - já não tinha havido mais casos em 2010, pois não, foram 9! O único "ponto positivo" da noticia é que o relatório entregue pela Inspecção Geral dos Assuntos Sociais apela a que 4 desses suicidios sejam reconhecidos como "Acidentes de serviço", ou seja responsabiliza, e muito bem, pela primeira vez, a entidade empregadora pelo suicidio de alguns/mas dos seus funcionários/as.

Às vezes também sou da Esquerda das petições...

Com “O Nariz”, pelo Teatro em Leiria

O Nariz - Teatro de Grupo é uma associação cultural que se dedica, há 15 anos, à produção profissional de espectáculos de teatro.

A formação e o apoio a grupos de teatro de amadores dos concelhos da Região, tem sido um investimento central do seu trabalho.

O Nariz - Teatro de Grupo promove e assegura, há 15 anos a realização do ACASO – Festival de Teatro, único festival de teatro profissional do Distrito de Leiria e um dos mais importantes da Região Centro.

O Nariz - Teatro de Grupo tem Casa, desde 1994 no coração do Centro Histórico de Leiria, num espaço cedido pelo Orfeão de Leiria/CA, conhecido por “Orfeão Velho”.

Neste espaço, desde sempre, o Nariz preparou, ensaiou e apresentou as suas produções teatrais.

Neste espaço funciona, desde 2007 o “Recreio dos Artistas” – programação cultural que acolhe projectos das várias expressões artísticas, amadoras ou profissionais, emergentes ou reconhecidas.

Neste espaço existe, desde 2008 uma livraria com representação de várias editoras independentes.

O Nariz – Teatro de Grupo vai ficar sem espaço para trabalhar, por decisão unilateral do Orfeão de Leiria/CA, ficando assim comprometidas todas as actividades desenvolvidas desde a sua fundação!

O prazo para a saída do edifício é 11 de Abril do corrente ano.

Tão precipitada decisão põe em causa o plano de actividades da Associação, os espectáculos em carteira e as novas produções.

Por tudo isto, pelo respeito pelo teatro e pelo seu público, pelo direito à produção e fruição culturais, é urgente encontrar uma solução que garanta um espaço digno onde O Nariz - Teatro de Grupo continue a desenvolver este trabalho, na cidade de Leiria.

Apela-se, entretanto, à entidade competente, que faculte a permanência do Nariz, no espaço actual, até a solução definitiva se concretizar.

Dois Vernissages


Miguel, hoje haverá dois importantes Vernissages em Lisboa. A primeira é dos profissionais liberais como nós. A segunda é a dos professores das AEC´s (Áreas de Enriquecimento Curricular). A receita é simples. O Estado transfere dinheiro para as Autarquias, às quais compete a gestão das Escolas do Primeiro Ciclo. As edilidades contratam instituições intermediárias que colocam os professores nos estabelecimentos de ensino. Pelo caminho, as empresas papam metade da verba e mantêm a recibos verdes estes profissionais que asseguram a «Escola a tempo inteiro».

Hoje, pela primeira vez, estes professores, numa situação de incrível fragilidade e instabilidade laboral, saem à rua em protesto. Defendem a Escola Pública e exigem respeito.

Dedicado ao Fernando Pinto

Hoje estou numa de dedicatórias. A propósito disto, aqui fica um video. Para ver os outros, candidatos no mesmo concurso, basta ir ao site do Labourstart.

A Oeste, nada de novo

Cavaco continua a adoptar a táctica do "tenho-um-segredo-bestial-mas-não-digo-qual-é".

feios, porcos e maus

M'espanto às vezes, outras m'avergonho da indiferença blogosférica relativamente ao suicídio do miúdo de 12 anos, na sequência de episódios repetidos e focalizados de perseguição e humilhação pelos colegas. Se a violência na escola ganhou proporções mediáticas extravagantes por causa de problemas disciplinares essencialmente anedóticos (mas não por isso menos merecedores de censura social), tal como alimentou um debate metafísico e não raras vezes oportunista sobre o assunto (peço desculpa à esquerda que não gosta de traidores mas não incluo aqui Helenas Matos, que às vezes até sabem o que dizem e dizem-no bem), o conhecido fenómeno do bullying tem entrado na agenda pública bem mais de mansinho. Arrisco pensar que o facto de não baralhar o (importante) esquema de autoridades formais no contexto escolar e de beneficiar do mito rousseauniano aplicado aos catraios o tem feito gozar de uma tolerância generalizada verdadeiramente bárbara. Embora acredite que a vigilância e a atenção prestada ao fenómeno sejam progressivamente maiores, gostaria de ver Pinto Monteiro tão empenhado na resolução deste problema tal como o vimos há uns anos alertar os parlamentares para o défice de autoridade dos professores, motivo pelo qual conferiu (contra a vontadinha de Lurdes Rodrigues) prioridade de investigação criminal à violência escolar (cf. art. 3º, alínea a).
Caso o Ministério Público ainda não tenha reparado, bullying é violência escolar e o suicídio não teve com certeza causa natural. Mas pelos vistos dá-lhe tanta importância quanto à fuga de informações em segredo de justiça.

Dedicado ao Pedro Passos Coelho

Free to choose: ainda da Califórnia

Porque hegemonias não se constroem num dia (e as crises não as destroem em dois), aqui fica mais uma achega ao caso da Califórnia. Uma pequena pérola que demonstra o professo amor do actual governador ao grande Milton (e a sua mulher Rose). Imperdível.

A base de apoio de Sócrates

Este trocadilho dos «milhões» funciona melhor em lingua inglesa. Milhões = pessoas/dinheiro. Vocês sabem do que eu estou a falar, não é?

Esta imagem faz parte uma campanha anti David Cameron, o candidato do Partido Conservador Britânico na disputa com o New Labour de Gordon Brown, e do afamado Tony Blair.

Mas é sempre um bom pretexto para a laracha doméstica. As opções do Governo Sócrates também têm tido normalmente uns «milhões» por detrás delas. No caso do BPN foram mesmo uns «biliões». É uma base de apoio imensa.

Mais «difamação» aqui. Obrigado ao ZM pela dica.

O grande prémio

Por 170 milhões de euros por ano, diga outros contextos em que a palavra "privatização" ou outra com o mesmo radical é utilizada no programa eleitoral do PS como, por exemplo, "o acautelamento das condições especiais das Regiões Autónomas no processo de privatização da ANA,S.A. e da ANAM, S.A.;". Um, dois, três, diga lá outra vez!

Aditamento: Para não dizerem que eu não sou amigo, podem ir aqui, clicar nos binóculos para fazer pesquisa e procurar por "privatiza" para apanhar "privatizar" e "privatização".

A bota botilde descalça-se facilmente (e foi feita com trabalho infantil)

Por 0,50€ diga coisas que são do século passado como, por exemplo, greves. Um, dois, três, diga lá outra vez!

Privatização dos CTT: Teremos sindicatos à la française?

Sobre a possível (provável?) privatização dos CTT, ao percorrer as notícias francesas lembrei-me do processo muito conturbado que o caminho para a privatização dos correios franceses (La Poste) originou. Foi, julgo, em meados de Outubro de 2008 que o Governo de Sarkosy começou a falar nessa possibilidade.
A partir daí, sindicatos, partidos de esquerda, uns mais que outros :) , outras organizações e cidadãos/ãs - num processo liderado por sindicatos , PCF e o NPA - Novo Partido Anticapitalista (o Partido Socialista Francês também esteve, mas muito menos) conseguiram, mediante uma "cerrada" e ampla contestação organizada, lançar um debate público nacional que marcou a agenda pública e política durante vários meses e protelou a mudança de estatuto da Poste durante quase ano e meio.
Contudo, há poucos dias (27 de Fevereiro), foi publicado um decreto-lei que transforma a Poste numa sociedade anónima com capitais públicos, o que não é, diga-se (não sou nenhuma especialista mas enfim...), a mesma coisa que uma privatização. Aliás o tal decreto-lei define que:
"cette transformation ne peut avoir pour conséquence de remettre en cause le caractère de service public national de La Poste (...) L'Etat gardera une part majoritaire et autorise l'actionnariat salarié. (...) Le nouveau statut de La Poste ne change rien à ses missions, dont la distribution du courrier sur tout le territoire. Ses salariés actuellement fonctionnaires gardent leur statut et elle maintient ses dix-sept mille points de contact en France."

Se isto pode, de facto, aparecer como um primeiro passo firme rumo à privatização (até porque tinham dito o mesmo em relação à France Telecom e ao Gaz de France em 2004 - entretanto privatizadas - e que a sua entrada no mercado concorrencial europeu far-se-á em Janeiro 2011), não é ainda assim menos certo que ficou bastante aquém - e que foi bem mais moroso e menos "pacífico" - do que Sarkosy e a sua ministra da economia (se bem que com Sarkosy os/as ministros/as não mandam nada ou quase, mas isso é outro pormenor) tinham inicialmente em mente. A isto não foi alheia, claro, toda a contestação que este tema gerou por parte da sociedade civil e da oposição. Vale aliás a pena referir que mais de 60 sindicatos, associações e partidos de esquerda uniram-se num "comité nacional contra a privatização da Poste" (ver aqui) com a criação de comités regionais pelo país, inúmeras iniciativas descentralizadas, manifestações e a realização de uma Consulta Nacional em Outubro 2009 (sem valor jurídico, a que chamaram "consulta cidadã") realizada em 18 000 locais de voto improvisados (câmaras, mercados, estações de comboio, etc.) e na qual à pergunta O governo quer mudar o estatuto da Poste para a privatizar: concorda? 98% dos cerca de 2 milhões e 300 mil votantes responderam Não.
Aconselho aliás a verem este pequeno vídeo da União Sindical Solidaires com uma das campanhas lançadas na internet e nas televisões, excertos de manifestações e alguns dos principais argumentos para a contestação (deve ser um serviço público assegurado pelo Estado e por isso para todos/as; vão fechar serviços e prejudicar populações nomeadamente as vivendo em meios mais rurais/interiores; põe em causa a coesão territorial; acentua desigualdades; vai prejudicar os/as seus/suas trabalhadores/as). Por azelhice minha por certo não consigo aqui carregar o vídeo mas fica o link http://www.dailymotion.com/video/xa7nws_solidaires-contre-la-privatisation_news.
Ao relembrar-me de todo este processo dei por mim a pensar na "realidade" portuguesa e fiquei "curiosa" para ver qual a reacção e acção quer dos sindicatos, dos partidos de oposição (refiro-me aos de esquerda, claro) e da sociedade civil caso o governo avance com esta "ideia" de privatização dos CTT. Vamos ter unidade sindical? BE e PCP a juntar-se a sindicatos e associações numa plataforma nacional? Vamos ter a nossa consulta cidadã? Euuhh... não me parece, pois. Mas ainda assim Affaire à suivre!

Isto das classes de facto deve ter muito que se lhe diga

Ao ler o artigo "Classe média continuará a pagar mais IRS após o PEC" no DN Economia de hoje ficamos a saber que as novas medidas anunciadas por Teixeira dos Santos, aquelas que "não aumentam impostos" mas "limitam as deduções e os benefícios fiscais" [ya! :)] vão implicar isto:

"Quando se apresentar a declaração de impostos, o contribuinte reclama as mesmas deduções mas ficará sujeito ao limite que as finanças vão estipular. Na prática, todas os agregados familiares com rendimentos anuais acima dos 7250 euros (518 euros mensais) pagarão mais IRS, segundo as contas efectuadas pelo DN" (ver aqui).

E perguntam vocês: 518 euros mensais? Classe média? Hum?
Estou enganada ou o salário mínimo está a menos de 500 euros? O salário médio dos/as portugueses não é cerca de 680 euros? Classe quê?
Será que isto tem alguma coisa a ver com a tal de "ilusão de afluência" do Elísio Estanque quando se refere "ao efeito classe média" (mais infos aqui)? Nã! Deve ser mesmo só brincadeira! :)

O feminismo está a passar por aqui (get used to it)

O Eduardo Nogueira Pinto explica-nos aqui porque é que não percebemos nada de nada. Diz ele, e passo a citar "Fazer do Óscar a Kathryn Bigelow um marco na luta feminista – como certa esquerda do tipo gaiola aberta está fazer – é mais ou menos o mesmo que eu e as minhas barbas sairmos à rua a festejar uma vitória do velho Fidel". Passando ao lado do humor não conseguido, a verdade é que destacar-se Kathryn Bigelow como a primeira mulher a ser galardoada com o Oscar de melhor realizadora não faz parte de uma estratégia de um qualquer feminismo torpe tampouco de uma esquerda com síndrome de Piu Piu e silvestre. Para além de ser uma evidência - até prova em contrário a Kathryn Bigelow é uma mulher, é realizadora e foi a primeira mulher realizadora a receber uma estatueta dourada -, a verdade é que o que alguns sectores enaltecem é a capacidade da academia em, finalmente, premiar uma mulher com este galardão. Kathryn Bigelow não ganhou o óscar por ser mulher; Kathryn Bigelow ganhou o óscar apesar de ser mulher.


p.s. Quanto à barba de Eduardo Nogueira Pinto e a sua exaltação pelas vitórias de Fidel Castro, não estou cá para contrariar ninguém.

Eurolândia: Leões Albinos e o Palhaço Rico


Quando a EU ameaça transformar-se num circo, os leões entram na arena. Neste espectáculo, quem bate palmas é o menino Constâncio.

"Piramiza, filho, piramiza, antes que os chatos fujam todos para o Egipto..."

Dia da Mulher

Normalmente as efemérides passam-me ao lado. Simplesmente não me lembro que aquele dia específico é importante por qualquer motivo. Ontem foi um desse casos. Só quando ouvi uma mulher a dizer que tem uma amiga que leva sovas do marido e que, como continua com ele, decerto que gosta de levar, é que me ocorreu que aquele só poderia ser um dia muito especial.

Ersatz

Para além de águas mil e da independência ou república ou democracia (nunca sei), os Sonic Youth já entraram nas especulações e projecções oficiais para o próximo mês de Abril. Por estes lados tresanda a nervoso miudinho. E com razão. Mas como já escrevi Sonic Youth (duas vezes) para atrair mais visitas ao blog via google, posso agora descansadamente colocar um vídeo dos Pinhead Society sem pesos na consciência:


Hegemonia Partilhada

O Blogue Vias de Facto estreou-se hoje naquele horário nocturno, pós repasto, de preguiça, enquanto fazemos a digestão e aproveitamos para ver o Malato apresentar o «Jogo Duplo». Conta com o «nosso saudoso» Miguel Cardina e com mais uns/umas escribas de peso. Um conselho ao Arrastão e 5 Dias: Ponham-se a pau!

Uma perspectiva feminista do Direito

A comemoração do centenário Dia Internacional das Mulheres é um óptimo pretexto para, perante amigas e amigos com quem tenho travado acesas discussões acerca da pertinência das teorias feministas, dar mais umas achegas ao debate e ajudar a desmitificar algumas considerações e assombros que ainda subsistem em relação ao tema.
Certas abordagens à questão dos direitos das mulheres, se circulam placidamente entre o meio académico e/ou literato, encontram no seu exterior enorme tracção.
Começo pelos “ismos”: o pensamento tecnocrata – e outros esforços porventura insuspeitos – instituiram um certo “fim da História” que se materializou na ideia corrente de desvalorização da Razão em prol do racionalismo mercantilista e que, por atacado, desvirtuou, aos olhos das sociedades sob o seu comando, qualquer forma de pensamento crítico. Consagrada a liberdade de consumir e o “direito” à esfera privada, vive-se hoje em sociedades militantemente anti-literárias e anti-culturais em que, de uma penada, qualquer teoria de ruptura é equiparada – os “ismos”– e activamente anulada, com o epíteto de fútil (em face de preocupações transversais a toda a sociedade) ou radical (no sentido de fraturante). O feminismo enquanto teoria e prática acaba, pois, por ser interpretado desta forma e acusado de constituir um entrave à liberdade pessoal.
Aceite isto, proponho uma forma de abordagem às particularidades do pensamento feminista que permita, simultaneamente, comunicar as suas intenções numa linguagem passível de ganhar maior base de aceitação: o Direito.
Admitindo que pensar as questões de género à luz do Direito implica uma deriva metodológica que obriga a uma análise transversal das diversas áreas do Direito – Penal, do Trabalho, Civil, Constitucional, etc, assumamos uma linha de estudo denominada Direito das Mulheres que, partindo da constatação de que as mulheres são social e politicamente desfavorecidas, tem por intenção a análise da situação jurídica das mulheres, com vista à promoção da igualdade. E esta transgressão metodológica tem por única razão de ser o facto de o Direito a) ter um papel constitutivo das práticas e representações de género e b) codificar representações de género que existem de forma endémica e maioritária no discurso das sociedades. Com isto, pretendo afastar acusações de “excesso legalista” que possam pretender ler aqui um secreto desejo de codificar tudo em leis e regulamentos quando o objectivo é precisamente o inverso.
Convidando à leitura de “Direito das Mulheres - Uma introdução à teoria feminista do Direito” (Tove Stang Dahl, Fundação Gulbenkian, 1993), avanço com algumas questões que me parecem centrais à discussão do(s) direito(s) das mulheres: a necessidade de, salvaguardando a diferença entre indivíduos, eliminar a desigualdade entre os géneros e a tendência, não isenta de preceitos ideológicos (também do discurso igualitário), para naturalizar os sentidos normativos dos diversos discursos sobre o género.

Este blog respira cultura que até dói

Foi hoje noticiada a atribuição do Prémio Vida Literária da APE a Maria Helena da Rocha Pereira. Para além da sua irrebatível justiça, é ainda um bom pretexto para publicitar o ciclo de Tertúlias Pré-Socráticas organizado pela associação Origem da Comédia no foyer (esta palavra mata-me) do Teatro Académico Gil Vicente (Coimbra), e já iniciado na passada sexta-feira, com a presença da supracitada. Fica o restante programa das festas (e podem vir à confiança que, como podem ver, isto é só doutores):

10/03 - Os Iónicos: Tales, Anaximandro & Anaxímenes

Doutor David Santos


17/03 – Heraclito

Doutor Alexandre Sá


24/03 - Parménides & Zenão de Eleia

Doutor António Martins


14/04 - Empédocles, Anaxágoras & Os Atomistas

Doutor António Mesquita


21/04 - Os Sofistas

Doutora Teresa Schiappa


28/04 - Pitágoras & Os Pitagóricos

Doutor José Pedro Serra

8 de Março - Dia Internacional das Mulheres: Tod@s ao Rossio a partir das 17h30!


2010: 100 anos do Dia Internacional das Mulheres! Celebro e assinalo este dia porque:
- Porque importa ter memória histórica e nunca esquecer as inúmeras batalhas travadas em todo o mundo ao longo dos tempos por milhares de mulheres (e homens);
- Porque apesar da igualdade na lei que caracteriza muitas sociedades (ocidentais), a igualdade na prática ainda está longe de ter sido plenamente alcançada (desigualdades salariais, maiores taxas de desemprego, de precariedade laboral, de pobreza; tráfico sexual, violência doméstica, violência de género, persistentes dificuldades de acesso e subrepresentação nos lugares de chefia e nos lugares de representação política; visão heterronormativa e discriminação/estereótipos de quem não se "enquadra" neste suposto modelo, entre muitos outros exemplos/factos que poderiam ser dados)
- Porque importa não olharmos só à nossa volta e denunciar as opressões e desigualdades existentes sobres mulheres em todo mundo com consequências dramáticas nomeadamente noutros continentes (uso dos corpos das mulheres como armas de guerra; exploração, tráfico, violações e abusos sexuais, mutilação genital feminina, saúde sexual e reprodutiva inexistente ou muito deficitária, exploração económica, etc)
- Porque o(s) feminismo(s) assentam numa visão emancipatória para mulheres e homens, para tod@s, e na livre construção das identidades.
- Porque denunciar, reivendicar, participar, propôr enriquece e contribui decisivamente para o crescimento, desenvolvimento e aprofundamento da nossa democracia.
- Porque ....
Aparece!
Mais informações sobre a Marcha Mundial das Mulheres e as organizações que a integram ou apoiam ver: http://www.marchamundialdasmulheres.blogspot.com/

Chupa Teresa

Eu não queria insistir nesta cruzada, mas isto testemunha como ninguém o estado do feminismo português. Estamos tod@s de parabéns.

Da Califórnia

O sonho americano adquiriu um significado particular na Califórnia do pós-guerra. Por um lado, a duas décadas de grande expansão económica que se seguiram ao final da segunda guerra mundial confirmaram a profunda suburbanidade da sua promessa de prosperidade. O sonho que durante décadas alimentou o imaginário da classe média Californiana vivia na em casa própria, com jardim e garagem para dois ou três carros. Por outro, o investimento público adquiriu um papel de destaque como mecanismo para fazer face ao alto nível de crescimento populacional. O grande desenvolvimento de infra-estruturas seguiu a tendência nacional, mas o que realmente distinguiu a Califórnia no contexto americano foi a instauração de um dos melhor reconhecidos sistemas de educação superior pública a nível mundial. Refiro-me não exclusivamente à Universidade da Califórnia, mas ao sistema tripartido de instituições de ensino superior cujo acesso é baseado em padrões exclusivamente meritocráticos (terá que ficar para outra altura a discussão dos limites da meritocracia...). É este sonho educacional que se agora se ameaça desfazer (já que o sistema de ensino básico começou a degradar-se logo nos anos 70). O que o explica?

Paradoxalmente (ou talvez não), tudo começou nos subúrbios. Por alturas dos anos 60, um autêntico movimento contra-hegemónico de "guerreiros suburbanos" começou-se a formar na direita conservadora. Tal como a Lisa McGirr mostra de forma brilhante, foi a classe média suburbana da Califórnia que organizou o poderoso movimento conservador que viria a pôr o Ronald Reagan na Casa Branca e contribuir de forma determinante para o deboche neoliberal dos anos 80 e 90. Foi também deste movimento de detentores de casa própria que surgiu a Prop 13; a proposta de lei que viria a ser votada e aprovada em referendo nos final dos anos 70 e que estabelece limites severos no aumento anual do imposto imobiliário. Ao reduzir de forma drástica o montante da colecta estadual, ficaram criadas as condições para a actual crise financeira e o subsequente desinvestimento na educação contra o qual muitos de nós saíram para as ruas na passada quinta-feira.

desespero

Pedro Adão e Silva indignou-se. Que medo. Parece que o apuramento da verdade e da mentira no discurso público do Primeiro Ministro sobre a aquisição da Media Capital pela PT é psicose da oposição. É perversa de cabeça, como diria a falecida Ferreira Leite. Ora por muito que lhe pareça escabroso, eu queria aqui dizer faxabor que os negócios do Estado (bom-dia centenário da República) não são exactamente o mesmo que uma felação de Monia Lewinsky a Bill Clinton. Quer-me parecer, vá.
Pior do que tratar-se de uma eventual instrução daquelas, esta feliz equiparação sinaliza o zelo viscoso dos serventes. Nem ele acredita no que escreve. Enfim, repugnante.

Défice? falou em défice? Então e a dívida?

Vale a pena ler esta "postagem" - de que só agora tomei conhecimento - de Rui Tavares sobre a retórica da (imperiosa, claro está) necessidade de cortar nos salários para combater o défice e a dívida.

É para comprares um gelado

À excepção do generalismo, da lapalissada e do lugar-comum, não percebo patavina da vida interna do PSD. Como na grande maioria das coisas, caladinho é que estou bem. Mas não podia deixar de alertar os mais esquecidos ou distraídos para um momento imperativo dos tempos que se avizinham: «à porta da secção H e Oriental há umas caixinhas com dinheiro e pagam ali às pessoas. As pessoas [acabam] de votar, [dizem] ‘já votei' e [dão-lhes] umas notinhas». Entre 25 e 30 euros. Como diria Ana Drago na saudosa Conversa Privada, parece pouco mas faz bem a diferença ;)

How to change your mind in one day

No início do dia hoje, li este post do Pedro Adão e Silva e fiquei incomodado. Depois, li esta notícia no Público Online e deixei de ficar incomodado.

Serviço Público

"Poder judicial está empenhado em derrubar o primeiro-ministro", diz Marinho Pinto

Marinho Pinto, sempre atento aos desequilíbrios pouco democráticos, consciente do enorme clima de suspeição que paira sobre o poder político, lá pensou que a Justiça estava a ficar para trás. É pena.

Confusão de pronomes

"Nós somos pobres" - Belmiro de Azevedo nos Açores, à margem do seu doutoramento honoris causa.

foda emancipatória

Muito embora bastante apreciado aqui, este contributo de Raquel Freire para o debate em torno do sexismo e publicidade é simplesmente o pior serviço que poderia ser prestado à luta feminista. Não desconstrói porra nenhuma, excepto o que a fulana traz na cabeça e que aplica tanto às cuecas da prima como às finanças públicas ou à teoria das cordas. O que menos lhe interessa é o anúncio da Stout: está ali para debitar agenda. Corpos inteiros? Cérebro? Nunca duvidei da inteligência daquele corpo nem de que estaria seguramente comandado por uma cabeça pensante. Pelo que lamento estragar o argumento à cineasta especialista em Pavlov (básicos são os outros, né?), mas é puro preconceito pensar - ou pensar que os outros pensam - que as mamas são sinónimo automático de descerebralização. Não são - às vezes. Ou seja, tem dias. Vareia. So what? Complexidade, ambiguidade e reificação fazem parte do governo e do cuidado de si e dos outros, tanto em relações de poder desiguais e patriarcais como na partilha equitativa da autoridade. E com muita pena minha as coisas não podem começar do zero. De resto, por mais que sejam conhecidos enquanto estratégias rasteiras de descredibilização argumentativa, mimos sociológicos como justicialismo ou engenharia social ganham assim um sentido de oportunidade flagrante (e posso ser poupado à lenga-lenga chantagista de que estar quieto é reproduzir a ordem dominante: comigo não cola).

Perita em como se deve desejar os corpos (e por sua vez marcas e produtos, porque com toda a psicanálise do mundo os nexos operam assim e pelo que tenho lido ultimamente arrisco afirmar que vivemos entre o socialismo e a publicidade e eu sei que não estou daquele lado), fornece um manual do bom desejo ergo da boa publicidade que, por mais feminista e radical que Raquel Freire se julgue, rendunda em qualquer coisa entre a decência beata à Modas e Bordados e um és tão boa que até militava contigo no BE. Redige assim o código moral do aceitável e do censurável no sentido de proteger bem protegida uma mulher-álibi que, em bom rigor, não existe senão para o seu discurso autorreferencial. Comentários como o de Raquel Freire só podem ser combatidos com camiões de feminismo. Mesmo para os mais cépticos, está visto que faz afinal muita falta.