Modelo importado da Inglaterra em 1854
Malaposta

Em 1859, a ligação entre Lisboa e Porto através das carreiras da Malaposta fazia-se em 34 horas e passava por 23 estações de muda. Apesar do bom serviço que as diligências prestavam nessa altura, a sua extinção foi irreversível com o aparecimento do comboio, embora se mantivessem em actividade durante mais algum tempo, como atestam os «manuais do viajante» da época.

01 abril 2010

Contrato do Malaposta

1. Partidos políticos
Classifico assim os actuais partidos políticos com representação parlamentar:
Partidos de esquerda: Partido Socialista, Partido Comunista/Os Verdes e Bloco de Esquerda.
Partidos de direita: PSD e CDS.
Se tiver que “desdobrar” tais partidos, o meu entendimento é este:
Partido Socialista: esquerda e centro-esquerda;
Partido Comunista/Os Verdes: esquerda;
Bloco de Esquerda: extrema-esquerda;
PSD: direita
CDS: extrema-direita.
2. Eleitores ou votantes:
Todos os partidos contabilizam votos de cidadãos operários, intelectuais, seja o que for. Acontecem até, muitas vezes senão sempre, coisas que aparentemente não fazem sentido, como, por exemplo, operários votarem no CDS. Quando os operários construiram a minha casa, tive oportunidade de saber (sem perguntar) que havia “gostos” que abrangiam todo o leque partidário. Aqui “nada há a fazer”. Existem motivações objectivas e subjectivas. Não se deve, pois, “apontar o dedo” aos eleitores. Cada um sabe de si. Um exemplo: eu e todos os meus vizinhos de rua esperamos, desde 1998, por uma intervenção camarária ao nível do saneamento básico e do “tapete” da rua, que desapareceu, dando lugar a pedras soltas e buracos. Todos se queixam e, na semana que antecedeu as autárquicas, o acordo era unânime: “estes gajos tratam-nos como gente do 3º mundo”. No dia seguinte ao das eleições, passei por um deles (com quem falo mais frequentemente) e “atirei”: “ganharam os mesmos, continuamos com os buracos”. A reacção, sorridente, foi esta: “Olhe, e eu também ajudei, que se lixe, a gente deve votar sempre nos mesmos, eu sou do mais direita possível”. Eu já há muito presumira, ele nesse dia foi explícito. Eu mudei rapidamente de assunto, ele ficou, talvez, a saber o “implícito”. Não gosto de confrontos. Nem de discussões. Não levam a lado nenhum. E se eu pensasse, ou melhor, se dissesse a alguém, por exemplo, que, como não gosto do CDS, admitia a probabilidade, histórica ou não, desse partido vir a definhar rapidamente, estaria a exceder os limites da decência. Muito, muito pior, seria dizer, por exemplo, que o definhamento do CDS seria inevitável com a morte dos eleitores sua base de apoio, tradicional ou não. Uma coisa é o direito a criticar os partidos, quando alguém entender que o deve fazer (ou elogiar, o que parece vir sendo cada vez mais raro…), outra, bem diferente, é, por exemplo, fazer abusivos juízos de valor sobre os eleitores. Não há necessidade, não é bonito, é, até, deselegante exercer retórica sobre o que os cidadãos são ou deixam de ser. Os cidadãos eleitores (venho-me referindo particularmente aos não militantes) não têm que se meter no eventual definhamento dos partidos. Os partidos são como empresas. Há muitas empresas que encerram. Outras juntam-se. Outras ainda mudam-se. Não sou eu ou qualquer cliente que vai evitar isso. O PRD do General Eanes quanto tempo durou? Dois, três anos. E conseguiu, no 1º ano, um grande grupo parlamentar. O CDS pode, porventura, fundir-se com o PSD. Ou encerrar actividade. O mesmo pode suceder com o BE e com o PCP. Nessa eventualidade logo se veria. Os eleitores limitar-se-iam a reagir como se, dirigindo-se a uma determinada casa comercial que conheciam bem, deparassem com um aviso do género: “encerrado definitivamente”.
Tenho feito comentários em alguns blogs. Só quando o assunto nada tem a ver com política, a menos que concorde, como acontece muitas vezes, com determinados textos, não obstante saber que o autor do blog não é da minha “cor partidária”. Há já alguns meses, um determinado blog, que tinha o link do Malaposta, e que era por mim visitado diariamente (o controlador de referências registava cerca de 130 visitas), publicou um post de “lançamento da candidatura de Mário Soares” (“Mário Soares à Presidência”). Nesse blog lia coisas de que gostava, outras “passava à frente”. Entretanto, eu publiquei dois posts com a foto de Manuel Alegre, expressando a minha opinião, sem me referir a ninguém. Um certo dia reparei que desse blog não constava o link do Malaposta. Enviei um email, pequenino, a perguntar se o link desaparecera acidentalmente ou se “algo terá corrido mal?”. Não recebi resposta. Até hoje e até nunca. Mantive o link desse blog durante 15 dias, abria o blog diariamente, não para ler mas apenas para confirmar o desaparecimento do link. Então eliminei o link do tal blog e pensei: “as coisas são como são, as pessoas são livres de fazer o que acharem por bem, sigamos em frente que a vida não acaba aqui”. Refiro “Mário Soares à Presidência” apenas como hipótese provável. Certeza só a obteria se me tivesse sido fornecida a explicação, por email, como julgava poder esperar. Bastaria um email de 4Kb. A Microsoft aconselha a eliminar, sem abrir, qualquer mensagem de tamanho superior a 80 Kb, “ mesmo que tenha a certeza de que se trata dum amigo”. Ora, uma mensagem de 30 a 40 Kb dá para encher “um lençol”!
Não somos, pois, todos iguais. E é bom que assim seja. Todos os partidos que têm assento na Assembleia da República, por mandato popular, devem ser colocados num plano de igualdade. O que eles fizerem só a eles próprios e aos partidos a que pertencem dirá respeito. Penso até que seria melhor não haver maiorias absolutas. O contraditório fica penalizado. Mas isso é o que eu penso. A realidade é que conta. E a realidade actual é uma maioria absoluta, ou seja, foi assim o resultado apurado nas urnas. Mas acho, sinceramente, que uma maioria absoluta me faz lembrar a antiga Assembleia Nacional, não tão esquecida como poderia parecer… Acho, por isso, que seria preferível existir uma oposição forte. Só assim é que a sua função de fiscalização do governo e de moderação de algumas iniciativas poderia ser conseguida.
3. Presidenciais
Assisti pela Sic Notícias, em directo e na íntegra, à leitura do "Contrato Presidencial" de Manuel Alegre. Antes de mais vou “despachar” os dois candidatos à esquerda de Manuel Alegre. Essas candidaturas não são de estranhar. Sempre foi assim. É uma questão de princípio dos partidos. Não discrimino. Aplica-se também aos partidos da direita e da extrema-direita. Eles é que sabem. Mas, quanto aos dois da esquerda e extrema-esquerda, o normal é a desistência , que até pode surgir logo por “falta de comparência”. Mas uma coisa é certa: os votos dos cidadãos eleitores desses dois partidos vão servir a alguém. Como sempre. Lembro-me perfeitamente que o “duro e teimoso e mais não sei quê” Álvaro Cunhal era suficientemente inteligente para adoptar a estratégia do mal menor. E Jerónimo de Sousa, que tem a escola do partido, seguirá o mesmo caminho. E então, na 2ª volta, se chegarmos lá, os votos dos cidadãos eleitores comunistas e bloquistas irão ser agradecidos por alguém. Nessas ocasiões os votos são bons, iguais aos dos outros.
Regresso a Manuel Alegre. A diferença entre ele e os outros dois, Mário Soares e Cavaco Silva, é como a água do vinho. Pessoal, intelectual e politicamente, ele sim, com uma visão correcta de Estado. É evidente a sua elegância de formação, muito afastado dos chavões estereotipados e comprometidos dos outros dois candidatos. Pessoalmente, não tenho dúvidas de que Manuel Alegre deveria ser o próximo Presidente da República. Com um Contrato Presidencial bem estruturado, é o único que, sem sequer precisar de fazer “trabalho de casa” ou de “outros”, faz referência a valores importantes como as preocupações sociais (que se têm vindo a degradar progressivamente), para além do correcto (e não demagógico) enquadramento das competências do Presidente da República com a Constituição e com a lógica mas inovadora ideia de as pôr em prática. Surpreendo-me com o anúncio de José Saramago em votar Mário Soares na 2ª volta, mas surpreendo-me ainda mais, não com o anúncio mas com o facto de Ramalho Eanes estar ao lado de Cavaco Silva. Ramalho Eanes que, recorde-se, fundou o agora extinto PRD (continuado por Ermínio Martinho) de ideologia não compaginável com a de Cavaco Silva.
4. Cultura
José Saramago é o único prémio Nobel da literatura português. Já fora nomeado pata tal distinção aquando do “Evangelho Segundo Jesus Cristo”. Com a censura exercida pelo governo da altura (já não me lembro qual), logo anti-democrático, Saramago não arrecadou o prémio. Está a sair uma nova obra dele, que não deixarei de adquirir. Saramago é, para mim (política à parte), o melhor escritor português da actualidade. As suas obras agarram o leitor à cadeira. Dá vontade de ler os livros dele dum fôlego só! Quando ele mudou o estilo da sintaxe fiquei um pouco perplexo. Mas foi só no primeiro romance. Logo me habituei e, além de único, julgo, tal estilo “obriga” a uma leitura mais rápida – de que gosto, para satisfazer mais depressa a curiosidade e o “suspense” seguintes. Só não tenho dois ou três livros, por “culpa do blog” (que também me tem roubado tempo para ouvir música!). Uma curiosidade: cada livro de Saramago lido deixa-me associada uma “imagem” que nunca esqueço. Quatro exemplos: a) Ensaio Sobre a Cegueira começa num cruzamento semaforizado, Av. da RepúblicaXRua de Angola, Gaia; b) Jangada de Pedra e o cão perdido que passou a Achado levam-me até ao monte de Stª Tecla, entre Vigo e Tui; c) Todos os Nomes conduzem-me à Escola Secundária António Sérgio, Gaia, cujos arquivos são revistados à sucapa pelo “conservador”; A Caverna imigino-a num grande edifício em forma de “U” na zona oriental de Lisboa.
5. Futebol
A quantidade de clubes de futebol é muitíssimo maior do que a dos “clubes” políticos. Todos têm adeptos, até os mais pequenos. E pagam para ver. No entanto não podem interferir. Limitam-se a reagir alegre ou tristemente, conforme os resultados.
Também aqui há razões objectivas e subjectivas para os cidadãos preferirem um determinado clube. O meu clube, por exemplo, é o FCPorto. Porquê? Porque, a partir de minha casa, eu e outros miudos de 8/9 anos íamos para o Estádio das Antas e entravamos agarrados às abas dos casacos dos homens. E há 26 anos atrás? O meu filho, com 4 anos de idade, passou a ser portista como aprendeu com o pai. Agora é ele que sabe mais do assunto. E estas coisas “pegam-se” nas famílias, com algumas excepções. Igualmente nisto, não entendo que os adeptos de X são os bons e os de Y os maus. Há que respeitar a opção que, por motivos que saberão explicar, cada pessoa elegeu ou elege.

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