domingo, 31 de dezembro de 2023

Tu isto, eu aquilo

 Apareceu-me a lembrança de estares sentado no teu lugar a dar-nos as indicações necessárias e nós na galhofa . E tu já a olhar de cima … E estavas com a razão, ficou a consoada a saber muito a cebola , porque exagerámos.  Cortámos muito miudinho e às tantas tudo só sabia a cebola . 

Penso muitas vezes nessas diferenças: eu alheada, tu presente . eu sem perceber a importância, tu com visão . Eu a delegar , tu a  assumir . Tu a seguir a receita , eu a desviar-me.  Eu a retirar-te essa carga e tu, por vezes, a ficar bem com isso, a veres  outro caminho.  Tu a fazeres-me rir até não conseguir falar nem comer.  Coisas muito parvas , mesmo tão parvas… tu deliciado com isso . Coisas do nosso mundo , como se fosse um código fechado . Mas não , eram as maiores banalidades e normalidades , por vezes mesmo uma estupidez qualquer . Eu é que achava muita graça à maneira como dizias! 


terça-feira, 26 de setembro de 2023

Parede pronta (quase)

 Terminei ,finalmente a parede dos quadros. A ver se me habituo a esta. E se todos gostamos.

Acrescentei uma vista de praia e uma natureza morta com pêra verde ( adoro!). Ambos teus. Fiquei de olho num pequeno esboço de perfil a grafite ( acho que teu) e uma aguarela de uma cama desfeita ( teu) , que entretanto encontrei no meio de banalidades.

Voltei a esburacar a parede, amanhã dou nova pincelada de Linen. Pintei a casa de Linen e branco . Um pedaço de verde Bernini por baixo da janela . 

Quero justificar que retirei alguns italianos . Eram muitos e pesavam , prefiro uma pêra verde em toalha branca . Bem sei que tu não! Privilegiei também os do João . Todos estupendos.

  O João está destroçado e esta é uma maneira também de homenagear o sentimento que te tem. 

Com amor, 

 



sexta-feira, 16 de junho de 2023

Peças em posiçao

 marquei sessão de Yoga para amanhã bem cedo e foi nisso que pensei no dia de hoje. Yoga e terapia com taças  tibetanas. 

O Guilherme conseguiu qualificar-se para o torneio e está felicíssimo. Voltou ao estudo e prática diária de xadrez  , como lhe ensinaste ,tantas e tantas vezes… Lembro-me tanto disso quando chego a casa e encontro o tabuleiro por todo o lado. As peças , ou estão no tabuleiro,  em posição , ou estão na caixa.Nunca perdidas. 

 Nada é em vão!

quarta-feira, 14 de junho de 2023

Reguei a Ficus

Aproveitei a praia para avançar no “Quarto…”.   Não chegaste a ler o Manuel Villas , mas  lembra-me muito. Adorei o M. Villas! 
Não fui à nossa praia porque estava com preguiça de andar  e em Junho ainda se tolera bem esta paragem . Escutei: “ eh pah que orgulho , a sério mesmo , vistes a tua filha , ela ligou-te ? Tava mesmo a desconfiar ,logo de manhã saiu tão cedo… que fixe … não , isso ainda falta … falta a condução ! Não digas à tua mãe ainda… tá bem , eh pah que orgulho!” . Rio-me muito a ouvir os outros à socapa , rio-me , refilo, respondo, resmungo , critíco … o que for .  Nada de que te orgulhasses , pelo contrário , acharias uma tolice pegada e eu teria embaraço de te contar. 
Não estive muito tempo , dei uns mergulhos frescos  de nariz tapado . Já não aguento o sol da tarde . A inclemência do sol da tarde, como deveria dizer. 
Falei com o filho sobre a conversa com a Campilho , mas enganei-me no dia  . Quando der, vou ouvir o podcast .  
 






sábado, 4 de junho de 2022

lilases, verdes e azul gigante

Do nada , reparei que a rua que sobe já estava todinha salpicada de lilases e de verdes. 

Vinha dos correios e parei um pouco na esquina a olhar o imenso azul céu e todas aquelas florinhas a enfeitar as árvores e a rua. Foi mais ou menos no fim da primeira semana de Maio.  Parece tudo tão repentino, este ano!   

Fiz logo uma fotos, porque queria contar-te e é sempre bom ter provas , mas não se aproveitou nada: uma em contra-luz, outra cheia de ruído e desenquadrada ... 

domingo, 9 de outubro de 2016

apenas pontos

Reconheci-a logo por causa do chapéu verde folha com fita de cetim. Despedimo-nos na estação e eu fiquei a vê-la desaparecer à medida que o comboio se afastava mais e mais. Era apenas um ponto lá ao fundo, do tamanho das maiores casas e até da torre da igreja de Burgess Hill.  Um ponto igual a tantos pontos, que também desapareceram.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Figos no final do Verão

Comemos um figo. É doce como mel. Um figo de cor verde, redondo e pequenino e queremos logo outro, para prolongar o sabor doce que ainda está do primeiro. Um só nunca chega. Do segundo figo não se pode dizer que seja azedo, é apenas sensaborão e deixa-nos desapontados. Estávamos à espera de outra coisa.
Mas a "A Nossa Necessidade de Consolo é Impossível de Satisfazer" e vamos ao terceiro, que se revela outra vez doce. Não tão doce quanto o primeiro! É meio-meio! O suficiente para  conseguir relançar as expectativas e devolver a esperança à humanidade: a doçura, afinal, ainda não acabou! Quem sabe o próximo é o mais doce?

terça-feira, 5 de julho de 2016

Verão

Gosto do Verão.
Foi no Verão que descobri a imensa facilidade que tenho para encher a garrafa com água. Sem ajuda de funil, quero dizer. Do garrafão de 5Lts para a garrafa, em fio, direto, a olho! Não é para todos. Os filhos herdaram-me a especialidade e fazem igual. Gosto tanto! 

quinta-feira, 2 de junho de 2016

contar coisas

Cruzei-me com R. num evento de trabalho um pouco diferente. Não perguntei e fiquei a saber uma data de coisas: que tem uma maneira própria de trabalhar-; faz assim, assim é que é e orgulha-se disso. Contou coisas passadas e que lhe ficaram, por exemplo, esta cliente: -"R. acha que dá tempo para ir ao cabeleireiro, antes de ser atendida?  R. compreende estas pessoas muito bem, pois que vão arranjar.-se,  -  "sim, dá perfeitamente tempo", respondeu-lhe,  com uma certa afectação na voz, a denunciar uma familiaridade snob. Soa estranho tratarem-no assim, porque  no trabalho é tudo muito higiénico com os clientes.

Algumas colegas irritam-no muito, a Minnesota é uma delas, porque insiste com os clientes, "até ao vómito"!, como ele diz. Conheço-a, é uma de cabelos longos, como a Maria Magdalena.  R. deve odiá-la e digo isto porque ele estava a soletrar e reforçar as silabas, enquanto desfiava sobre ela.
R. fala sempre no mesmo tom, quase sussurra e mantém o mesmo semblante e costas direitas, diga o que disser. Surpreende-nos com um soufflé aveludado, mas antes de o servir, cuspiu-lhe.
Tenho de me esforçar para ler-lhe os lábios, porque está a contar estas coisas enquanto a apresentadora fala e eu não consigo dar atenção aos dois ao mesmo tempo. Evito mandá-lo calar.  Tenho sempre esta ideia que não devemos ser rudes com as pessoas que nos escolhem para contar as suas coisas.

o lodo da indecisão, com folha de Palmeira