O mais antigo tratado de aliança
diplomática do mundo, o Tratado de Windsor entre Portugal e a Inglaterra
continua a ter significado para a política portuguesa, mas não tem a mesma
reciprocidade por parte do governo inglês, e isso tem-se manifestado claramente
nos últimos tempos, apesar da impassibilidade das autoridades nacionais.
Nós estamos inseridos na União
Europeia, para o bem e para o mal, e3 a Inglaterra por vontade própria acabou
por sair da mesma ao aprovar o Brexit.
No caso da escassez de vacinas na
UE, a Inglaterra tem bloqueado o envio de vacinas para a Europa para satisfazer
as suas necessidades de vacinação, estando por isso muito mais avançada
relativamente à União Europeia. De Inglaterra não sai uma única vacina para a
Europa.
A Europa que financiou a
AstraZeneca e firmou encomendas da vacina contra a COVID-19 em quantidade muito
apreciáveis, além de não receber a totalidade do que tinha sido estabelecido,
ainda está a exportar vacinas da AstraZeneca fabricadas em território europeu,
pelo que exigiu que a farmacêutica cumprisse as encomendas combinadas, ou então
ver-se-ia obrigada a proibir a exportação das vacinas produzidas no espaço
europeu.
É curiosa a resposta inglesa, que
diz que seria “contraprodutivo” bloquear a exportação da vacina da AstraZeneca,
mas nada diz sobre a sua própria proibição de exportação da vacina, o que diz muito
sobre o cinismo com que encara a situação.
O proteccionismo britânico que devíamos
conhecer bem desde o ultimato inglês (1890), não é só notório quanto à
vacinação, mas também quanto à economia, já para não falar nas premissas do
Brexit, e veja-se agora que o ministro da defesa pede aos britânicos que não
marquem férias e aguardem recomendações por parte do governo, acrescentando “não
podemos pôr em perigo os ganhos da nossa campanha de vacinação” referindo-se à
possibilidade de os turistas regressados a casa virem infectados com mais
perigosas e mais transmissíveis do vírus. “Se fôssemos imprudentes e
importássemos novas variantes que comportam riscos, como reagiriam as pessoas”.
O cinismo britânico é conhecido,
como conhecido é o lambebotismo tuga, mas custa ouvir responsáveis dum país que
exportou uma variante altamente contagiante para a Europa, vir agora ter um
discurso destes, e custa ainda muito mais ouvir o discurso dos nossos
governantes que estão sempre de pernas abertas para com uns parceiros que são
tudo menos confiáveis. Reciprocidade é algo que a diplomacia devia saber fazer
respeitar, se queremos ser também respeitados.