Autografo e dedicatória do autor Valério Romão.
"Ao Francisco
Uma família caótica"
Na capa, um pequeno espelho, que o tempo e o uso riscarão, lembra que ninguém, nenhum dos incautos leitores, consegue escapar do retrato de família, uma qualquer família.
Valério Romão, um dos mais desafiantes escritores da actualidade, regressa com um conjunto de 11 contos, alguns deles anteriormente publicados em revistas como a Granta ou Egoísta. Com estilo de grande crueza lírica, expande aqui o seu universo para o tema omnipresente da família, desenhando com nitidez extraordinárias personagens. Ninguém fica indiferente a estas páginas.
«O nascimento do Rogério foi a coisa mais bonita a acontecer-nos enquanto casal, diria mesmo que o foi o momento pelo qual ambos esperávamos como se de um crisma se tratasse e ele viesse de frança, do céu, do bico de uma cegonha, cansada daqueles três quilos e oitocentos confirmar finalmente a nossa união, por não podermos nunca mais, desde o advento do cristianismo, sermos só e apenas dois: a unidade é a trindade, repetia-me a Marta, no lusco-fusco, quando esgotados e satisfeitos de muitas formas distintas caíamos, um em cima do outro, fruta madura num alguidar de linho à espera do consolo da noite e do silêncio.»
Valério Romão na apresentação do livro na Livraria A das Artes em Sines, numa agradável conversa em fim de tarde.
VALÉRIO ROMÃO nasce em França, nos idos de 1974. Aos dez anos muda-se para Portugal, onde continua os estudos que desembocarão em Filosofia, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas de Lisboa. Para além de tech geeke de eterno aprendiz de dançarino, tem publicado contos (revistas Granta, Magma, Construções Portuárias), escrito peças de teatro (Posse, Teatro da Trindade ou A Mala, CCB/Box Nova, por exemplo) e assinado traduções de Samuel Beckett ou Virginia Woolf (para a editora Aguasfurtadas), cujo universo revisitou também em instalações.
Eu com o Valério Romão.
Sines, 17.05.2018