Em 2006, uma amiga querida, Camila
Holanda, me presenteou um livro de Adriana Falcão chamado Mania de Explicação.
Logo na primeira página a autora diz: “dedicatória é quando todo o amor do
mundo resolve se exibir numa frase - esse livro é para Isabel e sua mania de
transformar resposta em poesia”. Em seguida, a amiga anotou “para Glória, pessoa querida que tem (aponta
uma seta para o título) Mania de Explicação”. Achei
isso e todo o livro de grande beleza. Porém, aquele título, aquela dedicatória,
acabou me provocando perguntas de desassossego.
Senti-me habitualmente interpelada por
identificar, ou identificarem, em meus escritos acenos de uma linguagem
literária e assim, por vezes, percorrer vias não contumazes à lógica científica.
De outro modo, gostava nas horas vagas de escrever contos, poemas e crônicas e retomava o desconforto por me sentir assolada pela tal mania de explicação. Cheguei a pensar que esse
pêndulo experimental, costumeiro, entre criar um texto mais livre e outro mais
atento a normas e rituais do mundo intelectual me arrastaria para um tipo de
escrita sempre lacunar, ponte suspensa entre planos.
Há uma página do referido livro que diz “Indecisão é quando você sabe muito bem
o que quer, mas acha que devia querer outra coisa”. Seria isso? De onde vem essa impressão de
estar em constante deslocamento, de um tipo de nomadismo interno, mesmo em condição de suposta fixidez?
Recordo a primeira vez em que consultei um
astrólogo e de sua reação diante do meu mapa. A frase inicial foi: “gêmeos
ascendente gêmeos, difícil ser você. O mundo anda de bicicleta e você de moto”.
E eu quase sempre me dizia, antes mesmo de escutar os astros: preciso correr atrás de mim e me
alcançar.Intensidade, vontade de movimento, ou como o
povo do interior do Ceará costuma dizer – essa criatura tem um firvião. Esse entre
lugares talvez seja o meu, o seu? O ponto onde o eu não se decide.