Todas as noites ela era feliz. Horas seguidas em frente à janela, sentindo a escuridão. Era o momento que mais esperava, pois, sabia que era único e seu. Criava histórias com o vento, com as sombras e o silêncio. Vez ou outra percebia uma dança, um farfalhar de sorrisos, respostas ao movimento... Observava como se também pudesse dançar. Sim, dançava! Confundia-se entre as sombras, perdia-se, encontrava-se... Fluía!
Estava ali, à espera, afoita, e tola. Tinha medo das coisas reais depois da janela. Mesmo exausta, cansada pela espera. Esperava! Poderia - dançar, ouvir e observar. Do outro lado, seria observada! Não era a sua prisão, era a sua libertação. Somente na janela poderia ser... Divina ou profana, não importa... Poderia a cada noite ser... Dentro dos pensamentos.
Hoje quis ser a pucelle heroína, mas conseguiu apenas a louca, perdida em espaços. Ouvia o sino, não ouvia as vozes. Ouvia as dores de alguém que queria partir, mas não ouvia falar sobre o amor... Sentia. Ouvia o choro abafado da criança obrigada a crescer. Ouvia o silêncio! Estava feliz... Em meio a tanto ouvir, pôde escutar as gargalhadas daqueles que estavam à sua espera. Todos muito além daquela janela.