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Cântico dos Cânticos

"Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço; porque o amor é forte como a morte; e duro como a sepultura, o ciúme; as suas brasas são brasas de fogo, são veementes labaredas.
As muitas águas não poderiam apagar o amor, nem os rios, afogá-lo; ainda que alguém desse todos os bens da sua casa pelo amor, seria de todo desprezado."
8:6,7

O livro, o corpo e a alma

Se fosse para viver uma vida medíocre, era você que eu queria. Mas não quero uma vida medíocre. Minha vida é sem ordem. Sempre achei que o mundo deveria ser anárquico, caótico e desconexo. Livre! Só que o amor me domou, dominou, regurgitou... Então, sou assim: patética, dialética e pouco hermética. Coração de mãe!
Adoro todas estas tolices, adoro ainda mais o seu jeito de ganhar o mundo de dentro do seu retrato. No exercício, capturou a alma! Mas lembre-se bem... não cuidamos bem da alma.
Por isso te troquei pela escrita, pela incerteza das palavras, pela imagem no espelho e a marca no corpo.
Descobri: a escrita no antebraço, é só a escrita no antebraço. Não é poesia de barriga. Não atinge a garganta, nem o cóccix.

Ai se sêsse

Se um dia nois se gostasse
Se um dia nois se queresse
Se nois dois se empareasse
Se juntim nois dois vivesse
Se juntim nois dois morasse
Se juntim nois dois drumisse
Se juntim nois dois morresse
Se pro céu nois assubisse
Mas porém acontecesse de São Pedro não abrisse
a porta do céu e fosse te dizer qualquer tulice
E se eu me arriminasse
E tu cum eu insistisse pra que eu me arresolvesse
E a minha faca puxasse
E o bucho do céu furasse
Tarvês que nois dois ficasse
Tarvês que nois dois caisse
E o céu furado arriasse e as virgi toda fugisse

Zé da Luz

A mulher na janela

Todas as noites ela era feliz. Horas seguidas em frente à janela, sentindo a escuridão. Era o momento que mais esperava, pois, sabia que era único e seu. Criava histórias com o vento, com as sombras e o silêncio. Vez ou outra percebia uma dança, um farfalhar de sorrisos, respostas ao movimento... Observava como se também pudesse dançar. Sim, dançava! Confundia-se entre as sombras, perdia-se, encontrava-se... Fluía!

Estava ali, à espera, afoita, e tola. Tinha medo das coisas reais depois da janela. Mesmo exausta, cansada pela espera. Esperava! Poderia - dançar, ouvir e observar. Do outro lado, seria observada! Não era a sua prisão, era a sua libertação. Somente na janela poderia ser... Divina ou profana, não importa... Poderia a cada noite ser... Dentro dos pensamentos.

Hoje quis ser a pucelle heroína, mas conseguiu apenas a louca, perdida em espaços. Ouvia o sino, não ouvia as vozes. Ouvia as dores de alguém que queria partir, mas não ouvia falar sobre o amor... Sentia. Ouvia o choro abafado da criança obrigada a crescer. Ouvia o silêncio! Estava feliz... Em meio a tanto ouvir, pôde escutar as gargalhadas daqueles que estavam à sua espera. Todos muito além daquela janela.

As pequenas coisas

Ele ainda parecia crescer. Formas definidas, alguns fios brancos pelo corpo, dores escondidas, dentro de sua redoma. Ainda assim era um menino. Talvez crescido pela força e circunstâncias. Vivido por um amor intenso e pela ausência que diziam ser do enlouquecer.
Guardava para si todos os desejos. O carinho só aparecia se junto dele houvesse um drink qualquer. Desarmava-se e transgredia da rotina. Transformava-se em essência.
Nascido na cidade dos amores de verão, ele vivia os seus. Dizia que depois de um grande amor sofrido - só resta viver e não amar.
– Agora não! Agora não!
– Ainda não quero amar!
Sentia a solidão das cidades; do cinza que se vê além do colorido. Sentia que mesmo estando no paraíso, aquele não era o seu lugar. Estava fora de si, distante de tudo o que queria. Mas temia. Não só o amor, como a vida. Temia o fato de não saber o que ela tinha para lhe dar.
Tinha um olhar atento. Racionalmente sabia dos seus passos e mesmo assim eram as ilusões que o perseguiam. Via através de suas lentes o mundo que queria. Era um desejo em meio a tantos perdidos. Sentia-se um canalha por não saber ainda as definições de seus caminhos. Sua racionalidade não permitia ser.
Naquela noite descobriu que era hora de mudar. Havia recebido uma mensagem que o fizera pensar. Os risos eram de festa, de máscaras e despreocupações. Desejos e paixões de uma noite. Ele estava lá, sem estar. Escondido. Letárgico e imaginativo, buscando compreender que diferença era aquela. O que havia naquilo tudo, que o fazia falar e ser ele mesmo.