Papers by Joanna De Paoli
Autismos em Psicologia Histórico-cultural: cenários e contextos de atuação, pesquisa e formação, 2024
Constantemente em nossas experiências pessoais e profissionais, deparamo-nos com preocupações rel... more Constantemente em nossas experiências pessoais e profissionais, deparamo-nos com preocupações relacionadas aos comportamentos de crianças e jovens no espectro autista, em especial, no que concerne aqueles descritos, usualmente, como agressivos e outras variações. Esses modos de descrição de características e do diagnóstico de autismo nos conduziram ao questionamento: Quais as relações entre agressividade e autismo? Em busca de respostas, objetivamos neste texto investigar como as pesquisas nacionais dos últimos cinco anos (2018-2022), sobre pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), abordam esta problemática. Com base na perspectiva Histórico-Cultural fomentamos a elaboração do que é possível compreender por agressividade, e usamos essa compreensão em nossa análise crítica dos dados. Na investigação identificamos que as características de pessoas com autismo são associadas ao diagnóstico em déficits, reducionismos, generalizações indevidas e rótulos pejorativos, principalmente em relação aos sujeitos que necessitam de maior suporte. Assim, retiram-lhes sua humanidade e as oportunidades de desenvolvimento. A expressão agressividade apareceu tanto como uma característica inerente e determinista do TEA, ignorando a diversidade do espectro, as condições sociais que formam a unidade de desenvolvimento, quanto em associação a uma condição desencadeada, exclusivamente, pelas relações familiares, com ênfase na maternidade. Ambas as perspectivas dicotomizam os sujeitos e não dialogam com as contradições e confluências das múltiplas determinações que envolvem a formação da unidade integral do ser humano.
Autismos em Psicologia Histórico-cultural: cenários e contextos de atuação, pesquisa e formação, 2024
Este texto tem como objetivo divulgar os resultados da investigação das formas de participação e ... more Este texto tem como objetivo divulgar os resultados da investigação das formas de participação e de interação social de uma criança com autismo em atividades brincantes em uma experiência de inclusão envolvendo um coletivo de crianças com o desenvolvimento típico. A pesquisa ocorreu durante as aulas do projeto de Extensão “Brincando e Aprendendo” da Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília, entre março e dezembro de 2018. Este estudo corresponde a um recorte de ações pedagógicas desenvolvidas em uma turma de crianças de 5 a 7 anos de idade. O capítulo apresenta duas linhas de investigação, uma teórica, acerca do brincar da criança com autismo na perspectiva Histórico-Cultural e, a outra, por meio da observação participante em aulas dirigidas à atividade brincante de crianças em situações reais-concretas. A criança autista investigada ingressou no projeto em um momento em que, ainda, não participava das atividades coletivas e desconhecia algumas condutas sociais de convivência. Entretanto, com o passar do tempo, gradualmente, ampliou sua participação e comunicação para estabelecer relações sociais envolvendo abstrações mais complexas. Não é intenção deste estudo identificar mudanças qualitativas no processo de desenvolvimento da criança. Focamo-nos, pontualmente, em suas formas de relacionamentos concretos com outras crianças e com os conteúdos da atividade brincante. Concluiu-se que a intervenção no projeto, sob a base da coletividade, priorizando a brincadeira, possibilitou-nos conhecer o modo singular da criança autista de interagir com os(as) colegas e de exteriorizar ações e operações nesta atividade. E, em decorrência disso, propor formas de suporte mediado pelos signos (gestos, conceitos e significados) para ampliar sua participação na atividade. Contudo, precisamos ainda de uma formação de professores que reconheçam, atentamente, as singularidades de crianças com autismo e escolham os suportes e estratégias necessárias para a significação e ensino direcionados à superação de dificuldades.
Id on Line Revista de Psicologia, 2024
Percebemos a escassez de informações sobre a síndrome de Coffin-Siris durante o acompanhamento pe... more Percebemos a escassez de informações sobre a síndrome de Coffin-Siris durante o acompanhamento pedagógico de uma criança de 3 anos com esta condição. Na literatura biomédica, o diagnóstico é descrito como um conjunto de características de hipoplasia ou aplasia, dismorfismos faciais, interrupções intelectuais etc. Por meio da compreensão históricocultural do desenvolvimento de pessoas com deficiência, e com base no Método Dias-Presotti, organizamos recursos e estratégias para o processo de ensino. Apresentamos nosso relato de experiência de intervenção psicopedagógica ocorrido por 5 meses, e os decorrentes indícios dos processos de aprendizagem e de desenvolvimento da linguagem da criança. Com este trabalho pretendemos contribuir com a ampliação dos diálogos acerca desta condição.
Revista Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências, 2024
A partir de pesquisas nacionais e internacionais do período de 1943 a 2022, este manuscrito teve ... more A partir de pesquisas nacionais e internacionais do período de 1943 a 2022, este manuscrito teve por objetivo discutir perspectivas de inclusão de pessoas autistas em aulas de ciências. Trata-se de uma investigação bibliográfica que resultou em 19 artigos (oito nacionais e 11 internacionais) submetidos a uma análise sob orientação teórico-metodológica da Teoria Histórico-Cultural e do Materialismo Histórico-Dialético. Percebemos que, majoritariamente, as pesquisas de intervenção pedagógica ocorreram em salas de Atendimento Educacional Especializado sem a relação com os pares da sala de aula comum. Muitas delas como ações pedagógicas estanques sem uma proposta articulada e continuada em projetos escolares. Identificamos poucas justificativas acerca do ensino de conhecimentos de ciências em contribuições para a superação de interrupções explicitadas - a dificuldade de pessoas com autismo em relação a comunicação e vínculos sociais. Apontamos a necessidade de ampliação de investigações na área de ensino de ciências com estudantes no espectro autista.
Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, 2024
Alicerçados na Teoria Histórico-Cultural, objetivamos analisar as contribuições de intervenções e... more Alicerçados na Teoria Histórico-Cultural, objetivamos analisar as contribuições de intervenções em aulas de ciências no ensino de estudantes autistas em processos inclusivos. Em nossa investigação, no período de 1943 até 2022, identificamos 19 trabalhos (oito nacionais e 11 internacionais) que desenvolveram ações pedagógicas na Educação Básica em aulas de ciências com estudantes autistas em escolas comuns. A partir das contribuições dos artigos e referenciais teóricos, defendemos que a organização de atividades de estudos, em aulas de ciências, articuladas em projetos de inclusão escolar que integram o(a) estudante autista em múltiplas experiências sociais, pode se beneficiar de conhecimentos científicos como uma ferramenta importante para promover a ampliação da comunicação, com ou sem fala, e para fomentar o desenvolvimento da consciência do mundo e de si, além de aprimorar a compreensão do que significa ser autista e assumir protagonismos. Convidamos as pesquisas da área a aprofundarem e ampliarem as contribuições.
V Encontro Nacional de Jogos e Atividades Lúdicas no Ensino de Química, Física e Biologia. (V JALEQUIM). Brasília, DF – 02 a 04 de novembro de 2023., 2023
Conforme o ensino de ciências se apresenta, percebemos, mesmo em propostas lúdicas, que as dinâmi... more Conforme o ensino de ciências se apresenta, percebemos, mesmo em propostas lúdicas, que as dinâmicas enfatizam o campo mentalista. Por isso, nos motivamos em apresentar uma atividade envolvendo a ludicidade, com um relato de experiência que objetivou desenvolver os conhecimentos científicos em relação ao esquema corporal, orientado pela imagem simbólica de estruturas químicas. Obviamente, a cisão corpo-mente é um equívoco em sua essência. O desenvolvimento psíquico apenas ocorre porque há um corpo, esse corpo age no mundo em unidade e imbricado à consciência. a análise das ações lúdicas dos(as) estudantes nos conduziu à identificação e à avaliação de processos de apropriação de conteúdos de química, do afeto e da sociabilidade. Consideramos nossa práxis uma química de corpo inteiro, onde os conhecimentos não estavam associados apenas a memorizações de fórmulas e textos, mas também aos afetos. Convidamos professores e professoras a refletirem criticamente sobre o espaço do corpo no ensino de ciências.
Infâncias: práticas educacionais em diálogo com a Teoria Histórico-Cultural, 2023
O capítulo denominado Vamos Brincar de Ser Cientista?, é uma reflexão acerca de em que medida as ... more O capítulo denominado Vamos Brincar de Ser Cientista?, é uma reflexão acerca de em que medida as experiências vividas na escola das infâncias provocam nas crianças a necessidade de conhecer a função social da profissão de cientista. Também como a brincadeira, enquanto atividade principal do período, constitui-se como possibilidade de apropriação deste papel social. Desta forma, os autores problematizam as formas pelas quais o conteúdo e enredo de brincadeiras podem transitar em torno da profissão de cientista, uma vez que a criança conhece o mundo físico e natural enquanto brinca, imagina, deseja, aprende, observa, experimenta, questiona.
Revista Educação Especial, 2023
Em pesquisa na Base Nacional Comum Curricular (2018), BNCC, investigamos mediações com o públic... more Em pesquisa na Base Nacional Comum Curricular (2018), BNCC, investigamos mediações com o público da Educação Especial, as pessoas com deficiência, em uma perspectiva histórico-cultural. Os dados foram escassos e, portanto, buscamos nos descritores de inclusão e diversidade possibilidades de reflexões, instrumentos e estratégias que favorecessem a discussão das particularidades das pessoas com deficiência no documento orientador mais recente da educação básica brasileira. No processo metodológico, categorizamos esses descritores para a análise documental voltada à educação das infâncias. Identificamos que o documento não apresentou posicionamento nem orientações sobre a inclusão escolar das deficiências, ou a interseccionalidade com outras singularidades marginalizadas. A BNCC foi moldada à formação do desenvolvimento psicofisiológico típico e hegemônico. Para uma perspectiva diversa, pode-se inferir, que os(as) profissionais da educação não devem se orientar exclusivamente pelo documento em função das ausências assinaladas. Sendo assim, o trabalho pedagógico precisa colocar em tela discussões e práticas que contemplem a inclusão das pessoas com deficiência com vias à emancipação humana.
Revista GESTO-Debate, Nov 23, 2022
O objetivo desta pesquisa foi situar o autismo nas múltiplas contradições históricas e ... more O objetivo desta pesquisa foi situar o autismo nas múltiplas contradições históricas e estabelecer mediações, a fim de compreendê-lo, além de sua aparência. Para tanto, investigamos como surgiu a expressão autismo e os principais representantes dos estudos do autismo até os desdobramentos diagnósticos na contemporaneidade. Analisamos as contribuições expostas sob o prisma da perspectiva Histórico-Cultural, que nos fornece instrumentos para compreender o desenvolvimento atípico, como um modo singular de existência em suas múltiplas determinações. A história do conceito do autismo impacta a dinâmica social, em que se constitui a biografia de transformação de cada sujeito com autismo. Concluímos que uma emancipação humana somente logrará êxito, quando pessoas com deficiência e sem deficiência, autistas e não autistas estiverem envolvidas nas mobilizações amplas de expressões da diversidade, com objetivos a transformações sociais
21º Encontro Nacional de Ensino de Química - ENEQ XXI Uberlândia, 2023
Com base na teoria histórico-cultural, defendemos que a consolidação de uma sociedade inclusiva d... more Com base na teoria histórico-cultural, defendemos que a consolidação de uma sociedade inclusiva das singularidades como o autismo depende do entendimento humano em uma perspectiva integral, não fragmentada. Isso porque, comportamentos atípicos, em si, não impedem o desenvolvimento, mas podem requerer outras estratégias e ferramentas que medeiem as relações humanas, simbólicas, culturais e materiais. Para capturar concepções e estabelecer diálogos, tivemos como objetivo: investigar, em um curso de extensão universitária, quais as concepções de licenciandos(as) e licenciados(as) em química sobre a inclusão de estudantes autistas. Com o curso, identificamos que parte dos participantes apresentam alguma informação sobre o autismo. A problemática é como favorecer processos de inclusão, desenvolver ferramentas e estratégias que podem ser utilizadas para não aprofundar a exclusão. Acalentamos com este trabalho, que professores(as) em formação tenham oportunidades mais amplas de diálogo sobre a inclusão de singularidades para caminharmos em direção a uma escola verdadeiramente para todos(as).
XIII Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – XIII ENPEC, 2021
Este artigo apresenta um estudo de caso acerca de processos educacionais inclusivos em aulas de Q... more Este artigo apresenta um estudo de caso acerca de processos educacionais inclusivos em aulas de Química no 1º ano do Ensino Médio de uma escola no Distrito Federal, com uma aluna com deficiência intelectual. A professora organizou o currículo considerando estratégias e avaliações de acordo com as especificidades da aluna, mas com práxis pedagógicas que contemplassem o coletivo. A análise dos dados baseou-se na Teoria Histórico Cultural, que enfatiza a importância do ensino dos conceitos e do desenvolvimento de condutas culturais, para a formação integral de pessoas com, ou sem deficiência. Considerando que a aprendizagem de bens culturais é parte essencial da formação integral de alunos, concluímos que a educação de jovens e adultos com deficiência não deve se restringir a atividades infantilizadas e limitadas, como a pintura de tubos de ensaio. Apenas este tipo de atividade não complexifica o psiquismo e ações dos alunos, assim como não os motiva. Pelo contrário, elas somente os excluem de seus pares e restringem seu desenvolvimento.
ACTIO: docência em ciências, 2022
O objetivo deste trabalho é refletir sobre contribuições da educação científica no desenvolviment... more O objetivo deste trabalho é refletir sobre contribuições da educação científica no desenvolvimento de pessoas com deficiência em processos inclusivos a partir da teoria histórico-cultural. Para isso, partimos do entendimento fundamental que todos(as) estudantes podem e precisam aprender ciências, contribuir com a aprendizagem uns dos outros, desenvolver a consciência de seu lugar no mundo e transformar sua realidade. Situamos a inclusão, os encontros e afastamentos da ciência em seu processo histórico. Problematizamos a inclusão educacional como um fenômeno complexo, não linear e interdependente de outras consciências. Processos excludentes e segregatórios, que tolhem a possibilidade de maior potencialização nos desenvolvimentos atípicos e impedem a vivência de trocas em um coletivo inclusivo, também estão presentes nas aulas de ciências adaptadas para alunos(as) com deficiência. Discutimos neste manuscrito estratégias utilizadas em aulas de ciências, por apresentarem, em essência, a redução de conteúdos e a minimização de complexidade; a infantilização e a distorção de conceitos; o direcionamento exclusivo às funcionalidades com hábitos de cuidados pessoais, e à socialização. Em busca de possibilidades coletivas da práxis educacional, apresentamos como contribuição à área uma interlocução entre pesquisas educacionais, que problematizam os processos de inclusão em aulas de ciências, e sugestões de caminhos possíveis.
Diversidade e inclusão: o que a Teoria Histórico-Cultural tem a contribuir?, 2022
Na sociedade ocidental contemporânea, ecoam concepções sobre as dificuldades de pessoas com trans... more Na sociedade ocidental contemporânea, ecoam concepções sobre as dificuldades de pessoas com transtorno do espectro autista em estabelecerem relações sociais. Em geral, interpretam seus comportamentos como vontade de ficar só, desinteresse ou falta de necessidade de vinculação afetiva e de motivação social. Essa compreensão sobre as pessoas com autismo vem se estabelecendo desde a primeira publicação, que as caracterizou no texto clássico “Os distúrbios do contato afetivo” do psiquiatra Leo Kanner (1943 /1997). Os comportamentos considerados autísticos foram descritos pelo autor a partir de relatos de familiares, que se referiam a determinadas crianças como “se bastando a si mesma”, “em uma concha”, “mais contente sozinha”, “agindo como se os outros não estivessem lá”, “totalmente inconsciente de tudo o que a rodeia”, “fracassando em desenvolver uma sociabilidade normal”, “agindo quase como sob hipnose” (p. 156).
Desde então, pesquisadores e pesquisadoras do autismo responderam a essas enunciações interpretando-as e explicando-as sob a base de distintas causas e concepções, que se deslocam entre as dificuldades advindas de complicações de natureza biológica, e/ou de determinações socioculturais. Para alguns estudiosos e estudiosas, processos inatos conduzem a casos extremos de diminuição da motivação social – uma redução geral da atenção com orientação às relações humanas (CHEVALLIER et al., 2012). Independentemente de suas origens, ao nosso ver, as contradições nas relações sociais, quando identificadas como pressuposto de “falta” de interesse e de motivação social, impactam de forma negativa os processos de desenvolvimento e de complexificação das condutas culturais.
A interpretação, realizada por pessoas não autistas, de que pessoas no espectro do autismo são desinteressadas ou indiferentes a outras, costuma pautar-se nas formas típicas de interesse social e se funda na comparação com os sinais convencionais de atenção como: contato visual fixo, resposta imediata quando a pessoa é chamada, compartilhamento com o dedo indicador, orientação corporal a quem interpela, inicialização e manutenção de um diálogo, entre outros. Não, apenas, comportamentos tidos como ausentes caracterizam pessoas com autismo como desinteressadas socialmente, mas aqueles considerados incomuns pelos demais – como as estereotipias (movimentos repetitivos) e ecolalias (repetições de discurso) – também se refletem em crenças de diminuição social (JASWAL; AKHTAR, 2019) . Os comportamentos atípicos são mitigados, desconsiderados como tentativas de vinculação social e usados como justificativas pelos outros de seu próprio afastamento.
Leituras de mundo como estas que se concentram em déficit ou desvio de norma, infelizmente, prestam um desserviço ao ignorar as potencialidades no diverso. Elas, pelo contrário, provocam compensações negativas , tolhem ou interrompem desenvolvimentos. Em nossa concepção, inferências sobre a motivação social da pessoa autista – diminuída ou ausente – além de significar, para os outros e para a própria pessoa com autismo, que suas condutas não são percebidas como de interesse social, também as desumanizam. Afirmar uma desmotivação social de suas condutas por fatores biológicos ou sociais declara uma desumanização de sua personalidade.
À luz da Teoria Histórico-Cultural, este trabalho corresponde a uma pesquisa teórica sobre as relações entre vontade, necessidades, interesse e desenvolvimento atípico com o foco no autismo. Caso uma pessoa não se envolva com o gênero humano e com suas ferramentas (materiais e imateriais) criadas historicamente, não é possível que desenvolva sua humanidade. Mesmo os mais sutis comportamentos culturais são desenvolvidos com o outro, ou seja, formamo-nos humanos apenas nas relações.
As questões abordadas serão aprofundadas neste trabalho, nos tópicos: um breve histórico do autismo; os comportamentos atípicos de pessoas com transtorno do espectro autista; as relações entre necessidades e interesses nas interações sociais pela perspectiva da Teoria Histórico-Cultural; e, por fim, faremos uma reflexão acerca dos processos de significação e intervenção. Dentre outras questões, voltaremos nossa atenção para compreender: Em que medida diferentes olhares e ações do outro podem impactar em aprendizados e no desenvolvimento das pessoas no espectro do autismo? Partimos do entendimento que olhares carregam uma leitura de mundo, explicitados ao lerem e escreverem histórias.
Revista Com Censo, 2020
Pretendeu-se com este estudo, promover uma reflexão acerca da gênese e do desenvolvimento da aten... more Pretendeu-se com este estudo, promover uma reflexão acerca da gênese e do desenvolvimento da atenção da criança, dentro de um sistema interfuncional complexo e de algumas de suas especificidades nas condutas de pessoas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Nosso foco se direcionou, especialmente, para o estudo da atenção compartilhada (conjunta) que, segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5, 2014) e estudos da área, apresenta-se prejudicada ou com a ausência dos gestos indicativos em crianças com autismo. Essa concepção foi problematizada neste artigo com estudos de pesquisadores que discutem amplamente o tema sob o aporte da Teoria Histórico-Cultural, matriz que fundamenta nossos argumentos. Como conclusão do estudo interpretamos que não se pode admitir que crianças com autismo não desenvolvam atenção compartilhada por não se apropriarem dessa conduta de modo típico. Destacamos a existência de comportamentos compensatórios que se diferenciam de condutas habituais, dessa forma, defende-se que a atenção, em realidade, manifesta-se atipicamente nas pessoas com autismo. Por fim, enfatizamos a importância do papel crucial da práxis envolvendo ações coletivas, pois podem propiciar trocas enriquecidas entre pares com distintas experiências e provocar o desenvolvimento de diversas naturezas em cada um dos participantes do grupo.
Debates em Educação, 2021
Este trabalho objetiva analisar processos de elaborações argumentativa por alunos de Ensino Médio... more Este trabalho objetiva analisar processos de elaborações argumentativa por alunos de Ensino Médio, em um debate motivado por um estudo de caso sobre a dilemática dos usos dos suplementos alimentares. A partir do estudo da gênese e desenvolvimento da argumentação, identificamos e analisamos em que medida a intervenção pedagógica em aulas de Química, por meio do ensino de conceitos, apoia a complexificação de seus discursos relativos a processos alimentares e cuidados com a saúde na busca de um corpo socialmente idealizado. Como resultado e contribuições para a área de ensino, defendemos a essencialidade da prática argumentativa heterogênea – não como uma ação pontual ou fragmentada – mas como uma cultura fundamental a ser estabelecida no processo de ensino.
Aos meus avós que me velam. À minha mãe, referência de mulher. Ao meu filho que ressignificou a p... more Aos meus avós que me velam. À minha mãe, referência de mulher. Ao meu filho que ressignificou a palavra amor. Aos meus familiares que contribuíram em minha vivência. Ao meu marido que me ensinou que é possível uma vida harmoniosa. À minha mentora e amiga, uma pessoa que todos deveriam conhecer. Aos meus amigos, familiares de coração, que complementam a minha existência. AGRADECIMENTOS À chegada do meu filho, Pedrinho, meu momento de desconstrução e reconstrução. Fez com que eu olhasse para dentro do meu coração e para o universo que me rodeia com um olhar mais humano. Suas necessidades especiais instigam a me aperfeiçoar e zelar por um mundo que conviva e respeite as diferenças. À minha mentora, Patrícia F. L. Machado, pelos momentos que passamos juntas e me fizeram tão ávida por seus ensinamentos acadêmicos e lições de vida. Acredito que, por uma intervenção divina, contei com a pessoa que mais poderia me ajudar. Ao meu marido, companheiro e amigo, Vinícius, por ter contribuído com o meu resgate pessoal e incentivo profissional. Alguém que, além de amar, admiro profundamente. À mamãe Sílvia, minha heroína, por sua garra, ao lidar com as adversidades da vida, amor dispensado a mim e ao meu filho, abnegação, incentivo à leitura, exemplo do que é ser uma professora, entre tantas outras qualidades. Ao meu padrasto Almir, o melhor pai que eu poderia desejar e a pessoa que o Pedrinho mais demonstra adoração. Aos meus irmãos, Gabriel e Yuri, por todos os momentos que passamos juntos. Também aos meus irmãos paternos, que mesmo à distância, demonstram tanto carinho. À minha tia Joana, pelo apoio à minha mãe, quando eu ainda estava em sua barriga e como homenagem, ganhei o seu nome, pelo incansável estímulo à minha formação acadêmica e pessoal e pelo amor que transborda ao Pedrinho. Ao meu tio Fausto, pelos conselhos. A todos os familiares, especialmente, à minha vovó Ivorene, meu anjo da guarda, meu amor incondicional, quem me faz desejar que exista vida após a morte e, assim, possa reencontrá-la. Também minha prima Bibi, não há ninguém que a conheça e não a ame. A toda família Sousa, Maubia, Alderi, Iredla, Claiperon e Glaidson, por me fazerem sentir acolhida e amada. Às minhas amigas de infância e juventude, Marcele, Fani e Janaína, irmãs confidentes, sempre disponíveis para lágrimas de alegria e tristeza. Ao meu amigo Filipe Knupp por iluminar os meus dias. A minha linda companheira de trabalho e estudos, Karol Maia. E todos amigos e profissionais que convivi.
Conference Presentations by Joanna De Paoli
XIV ENEPEC - Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências, 2023
Para este trabalho, analisamos publicações sobre a educação de estudantes autistas em aulas de ci... more Para este trabalho, analisamos publicações sobre a educação de estudantes autistas em aulas de ciências, em todas as atas do Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências. O objetivo é identificar, problematizar e analisar, à luz da Teoria Histórico-Cultural (THC), particularidades acerca do autismo, e como os conhecimentos científicos das ciências podem favorecer processos compensatórios. A pesquisa orientada, teórica e metodologicamente pelo método materialista histórico e dialético, buscou elementos que nos possibilitassem capturar a essência do fenômeno e não apenas uma descrição-sua aparência. Diante da análise de oito trabalhos, identificamos algumas interessantes discussões sobre os processos essenciais do desenvolvimento, que explicam os modos atípicos de estudantes com autismo na inclusão escolar. Por fim, apontamos a necessidade de investigações sobre este tema, na busca de novos caminhos de desenvolvimento para estudantes com autismo.
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Papers by Joanna De Paoli
Desde então, pesquisadores e pesquisadoras do autismo responderam a essas enunciações interpretando-as e explicando-as sob a base de distintas causas e concepções, que se deslocam entre as dificuldades advindas de complicações de natureza biológica, e/ou de determinações socioculturais. Para alguns estudiosos e estudiosas, processos inatos conduzem a casos extremos de diminuição da motivação social – uma redução geral da atenção com orientação às relações humanas (CHEVALLIER et al., 2012). Independentemente de suas origens, ao nosso ver, as contradições nas relações sociais, quando identificadas como pressuposto de “falta” de interesse e de motivação social, impactam de forma negativa os processos de desenvolvimento e de complexificação das condutas culturais.
A interpretação, realizada por pessoas não autistas, de que pessoas no espectro do autismo são desinteressadas ou indiferentes a outras, costuma pautar-se nas formas típicas de interesse social e se funda na comparação com os sinais convencionais de atenção como: contato visual fixo, resposta imediata quando a pessoa é chamada, compartilhamento com o dedo indicador, orientação corporal a quem interpela, inicialização e manutenção de um diálogo, entre outros. Não, apenas, comportamentos tidos como ausentes caracterizam pessoas com autismo como desinteressadas socialmente, mas aqueles considerados incomuns pelos demais – como as estereotipias (movimentos repetitivos) e ecolalias (repetições de discurso) – também se refletem em crenças de diminuição social (JASWAL; AKHTAR, 2019) . Os comportamentos atípicos são mitigados, desconsiderados como tentativas de vinculação social e usados como justificativas pelos outros de seu próprio afastamento.
Leituras de mundo como estas que se concentram em déficit ou desvio de norma, infelizmente, prestam um desserviço ao ignorar as potencialidades no diverso. Elas, pelo contrário, provocam compensações negativas , tolhem ou interrompem desenvolvimentos. Em nossa concepção, inferências sobre a motivação social da pessoa autista – diminuída ou ausente – além de significar, para os outros e para a própria pessoa com autismo, que suas condutas não são percebidas como de interesse social, também as desumanizam. Afirmar uma desmotivação social de suas condutas por fatores biológicos ou sociais declara uma desumanização de sua personalidade.
À luz da Teoria Histórico-Cultural, este trabalho corresponde a uma pesquisa teórica sobre as relações entre vontade, necessidades, interesse e desenvolvimento atípico com o foco no autismo. Caso uma pessoa não se envolva com o gênero humano e com suas ferramentas (materiais e imateriais) criadas historicamente, não é possível que desenvolva sua humanidade. Mesmo os mais sutis comportamentos culturais são desenvolvidos com o outro, ou seja, formamo-nos humanos apenas nas relações.
As questões abordadas serão aprofundadas neste trabalho, nos tópicos: um breve histórico do autismo; os comportamentos atípicos de pessoas com transtorno do espectro autista; as relações entre necessidades e interesses nas interações sociais pela perspectiva da Teoria Histórico-Cultural; e, por fim, faremos uma reflexão acerca dos processos de significação e intervenção. Dentre outras questões, voltaremos nossa atenção para compreender: Em que medida diferentes olhares e ações do outro podem impactar em aprendizados e no desenvolvimento das pessoas no espectro do autismo? Partimos do entendimento que olhares carregam uma leitura de mundo, explicitados ao lerem e escreverem histórias.
Conference Presentations by Joanna De Paoli
Desde então, pesquisadores e pesquisadoras do autismo responderam a essas enunciações interpretando-as e explicando-as sob a base de distintas causas e concepções, que se deslocam entre as dificuldades advindas de complicações de natureza biológica, e/ou de determinações socioculturais. Para alguns estudiosos e estudiosas, processos inatos conduzem a casos extremos de diminuição da motivação social – uma redução geral da atenção com orientação às relações humanas (CHEVALLIER et al., 2012). Independentemente de suas origens, ao nosso ver, as contradições nas relações sociais, quando identificadas como pressuposto de “falta” de interesse e de motivação social, impactam de forma negativa os processos de desenvolvimento e de complexificação das condutas culturais.
A interpretação, realizada por pessoas não autistas, de que pessoas no espectro do autismo são desinteressadas ou indiferentes a outras, costuma pautar-se nas formas típicas de interesse social e se funda na comparação com os sinais convencionais de atenção como: contato visual fixo, resposta imediata quando a pessoa é chamada, compartilhamento com o dedo indicador, orientação corporal a quem interpela, inicialização e manutenção de um diálogo, entre outros. Não, apenas, comportamentos tidos como ausentes caracterizam pessoas com autismo como desinteressadas socialmente, mas aqueles considerados incomuns pelos demais – como as estereotipias (movimentos repetitivos) e ecolalias (repetições de discurso) – também se refletem em crenças de diminuição social (JASWAL; AKHTAR, 2019) . Os comportamentos atípicos são mitigados, desconsiderados como tentativas de vinculação social e usados como justificativas pelos outros de seu próprio afastamento.
Leituras de mundo como estas que se concentram em déficit ou desvio de norma, infelizmente, prestam um desserviço ao ignorar as potencialidades no diverso. Elas, pelo contrário, provocam compensações negativas , tolhem ou interrompem desenvolvimentos. Em nossa concepção, inferências sobre a motivação social da pessoa autista – diminuída ou ausente – além de significar, para os outros e para a própria pessoa com autismo, que suas condutas não são percebidas como de interesse social, também as desumanizam. Afirmar uma desmotivação social de suas condutas por fatores biológicos ou sociais declara uma desumanização de sua personalidade.
À luz da Teoria Histórico-Cultural, este trabalho corresponde a uma pesquisa teórica sobre as relações entre vontade, necessidades, interesse e desenvolvimento atípico com o foco no autismo. Caso uma pessoa não se envolva com o gênero humano e com suas ferramentas (materiais e imateriais) criadas historicamente, não é possível que desenvolva sua humanidade. Mesmo os mais sutis comportamentos culturais são desenvolvidos com o outro, ou seja, formamo-nos humanos apenas nas relações.
As questões abordadas serão aprofundadas neste trabalho, nos tópicos: um breve histórico do autismo; os comportamentos atípicos de pessoas com transtorno do espectro autista; as relações entre necessidades e interesses nas interações sociais pela perspectiva da Teoria Histórico-Cultural; e, por fim, faremos uma reflexão acerca dos processos de significação e intervenção. Dentre outras questões, voltaremos nossa atenção para compreender: Em que medida diferentes olhares e ações do outro podem impactar em aprendizados e no desenvolvimento das pessoas no espectro do autismo? Partimos do entendimento que olhares carregam uma leitura de mundo, explicitados ao lerem e escreverem histórias.