1º. ASKARJ: Armando, fale-nos sobre o que motivou sua candidatura e o que nós Produtores Agroflorestais/Seringueiros podemos esperar de sua parte caso seja eleito?
ARMANDO KAXINAWÁ: Na verdade eu fui convocado por lideranças indígenas para assumir essa missão de concorrer no pleito de 2010. A motivação veio em saber que fui escolhido entre o meu próprio povo – de forma democrática e concorrendo com outros jovens Huni Kui em igualdade de condições.
Todos os povos indígenas do nosso Acre, como também os caboclos, ribeirinhos, seringueiros, pescadores, caçadores e demais trabalhadores livres do nosso Estado – podem contar com a minha fidelidade plena e adesão incondicional à causa do homem da floresta.
2ª ASKARJ: Saberia dizer quantos candidatos indígenas estão concorrendo às eleições no Acre?
ARMANDO KAXINAWÁ: Sinceramente não pude pesquisar com rigor, mas confirmados somos dois: - eu e mais um. Se os povos indígenas realmente quiserem consolidar sua representação política, podem eleger os dois candidatos tranquilamente.
Soubemos de casos de alguns candidatos “nawás” que recentemente foram visitar as aldeias negando nossa candidatura e oferecendo apoio material aos nossos parentes, mas nós acreditamos na honra e lealdade do povo, que não vende a própria consciência.
3º. ASKARJ: Todos sabem que nasceu e foi criado às margens do Rio Purus, passou a maior parte da vida na floresta como um índio de Aldeia. Como pode estar preparado para assumir uma cadeira na Assembléia Legislativa do Estado?
ARMANDO KAXINAWÁ: Certo de que estou muito bem preparado, me atrevo a dizer que sou um dos candidatos com melhor perfil parlamentar – conheço a vida na cidade e na floresta, sou professor bilíngüe e a minha vivência com o povo é real e objetiva. Conheço muito bem o contexto político-social dos povos da floresta – não como mero expectador, mas como protagonista de uma história de resistência cultural.
O fato de ser criado na aldeia me preservou de muitos vícios, me fez compreender as relações humanas noutra perspectiva, sedimentando na estrutura do meu ser o conjunto de valores morais que nos é transmitido pela sabedoria ancestral.
4º. ASKARJ: O que a candidata à Presidência da República, MARINA SILVA, representa para Armando Kaxinawá?
ARMANDO KAXINAWÁ: Marina é a figura mais notável no cenário político brasileiro, uma mulher de expressões fortes – inteligente, intrépida, idealista. A candidatura de Marina tornou-se um movimento popular (ao contrario das outras que não passam de conchavos políticos e pirotecnia de marketing). No movimento Marina Silva, encontramos a seiva do patriotismo: daquele amor pela terra, trabalho e tradições ensinado pelos nossos maiores.
5º. ASKARJ: Nas aldeias e colônias do interior corre informações de que a CASA do ÍNDIO, em Rio Branco, está passando por sérias dificuldades e muitos reclamam da morosidade e baixa qualidade no atendimento aos indígenas. O que pensa em fazer para reverter essa situação?
ARMANDO KAXINAWÁ: Confesso que não conheço todos os problemas estruturais, mas sei que falta vontade política para resolver as dificuldades maiores. A CASA do ÍNDIO pode e deve ser completamente reestruturada, melhores acomodações, transporte e logística. Fazem-se necessárias novas contratações de técnicos e enfermeiros, ampliação do quadro de médicos e especialidades. Eleito, serei o mais aguerrido defensor dos direitos indígenas assegurados em lei, seremos os anunciadores de um novo tempo!
6º. ASKARJ: Em sua opinião, quais são as maiores dificuldades enfrentadas pelos nossos parentes nas aldeias do Acre?
ARMANDO KAXINAWÁ: No momento, penso que a maior dificuldade é de interlocução com o Governo, pois não há um representante legítimo dos povos da floresta na composição política de governo. Somos nós que sabemos quem somos e o que queremos, mas eles ainda acreditam que “os índios” devem estar sob a tutela do Estado, que os sociólogos, antropólogos e assistentes sociais são os sabem o que é melhor para todos nós. Por essas e por outras é que precisamos eleger nossos deputados.
7º. ASKARJ: Por que adotou como seu slogan de campanha a frase: “Unidade na Diversidade”?
ARMANDO KAXINAWÁ: Essa pergunta foi realmente muito oportuna, pois é de fundamental importância que todos saibam que a candidatura de um indígena não limita as ações parlamentares apenas ao âmbito das aldeias. Nossa candidatura, embora priorize os interesses e necessidades dos povos indígenas, não exclui os não-índios, muito pelo contrario!
A unidade na diversidade é realmente a proposta de uma democracia orgânica onde se permita a expansão harmônica da singularidade humana. Estamos irmanados com os ribeirinhos, caboclos e seringueiros na luta por melhores condições de vida para nossas famílias.
8º. ASKARJ: Pelas aldeias corre os rumores que Armando Kaxinawá (Isaká) é o principal representante da juventude indígena do Acre. Como pensa em trabalhar por essa juventude e quais seus projetos prioritários?
ARMANDO KAXINAWÁ: Sinto-me honrado em receber essa missão – missão árdua e desafiadora de representar politicamente a juventude da floresta. Nosso trabalho na Assembléia Legislativa será calcado na garantia dos direitos constitucionais e na ampla divulgação da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas.
Nos diversos projetos que temos no prelo, penso que o mais animador (a menina dos meus olhos) é a CASA do ESTUDANTE, onde implantaremos uma grande comunidade de acolhida e suporte de jovens dos ramais, colônias e aldeias, que precisam permanecer em Rio Branco enquanto concluem cursos técnico/profissionalizante e faculdade.
ASKARJ: Considerações finais:
ARMANDO KAXINAWÁ: Agradeço demais aos editores desse blog pela oportunidade de falar aos seus leitores e amigos. Aos que interessar em nos ajudar, procurem levar nosso nome como uma bandeira de luta a todas as comunidades, sindicatos, igrejas, associações e rede social.
Forte e fraterno abraço do Armando Kaxinawá!