"A linguagem oral é, desde muito tempo, uma das principais formas de comunicação utilizadas pelo homem. Para transmitir a linguagem oral e os sons da voz à distância foram desenvolvidos dois aparelhos: os alto-falantes e os microfones.” (“Alto-Falantes, Microfones e Telefones” – Biblioteca Virtual)
Humildade veio de berço. A vida do subúrbio carioca nunca foi fácil, desde seu nascimento lá pelos idos dos anos 40. Ser preto e pobre não bastava-lhe de açoite: resolveu o destino dar-lhe o dom de ser mulher!
O que “essa tal criatura” ¹ podia esperar desse mundo? Como a resposta é óbvia, pôs-se então a lutar! Trabalhar de dia, estudar de noite, noite e dia , dia e noite. Mas o samba pulsava nas veias; também pudera, quem nasce em Madureira e se cria em Vila Isabel justamente num tempo em que o ritmo dominante entre as minorias era esse, impossível não despertar o interesse. Só que o destino apronta das suas, e não é de todo cruel. Apresentou-lhe um certo Darcy da Mangueira, e ela, que não é boba nem nada, não desperdiçou “a grande chance”².
“-Queres ser bamba?” , perguntou-lhe o menestrel, e um “quero sim”³ deu novo rumo à sua vida.
Soube fazer direito! Formou-se advogada, e sem se fazer de rogada, pôs-se a rodar pelas rodas de samba, e fazer de sua pouca voz, aquela que se ouvia mais alto. E o grito que vinha do morro, podia ser ouvido no asfalto. Era um alto-falante, destemido e irritante aos que fingiam que não tinham ouvidos. Com “cara e coragem”⁴ foi juntando farrapos, e deles fazendo a sua bandeira.
Oh nêga abusada! Não tem outro jeito, amordacem a Anastácia!
Antes não a tivessem calado! Tirar-lhe a voz não adiantou de nada, porque seu brado veio mais forte, no abraço a tudo que era ralé. Foi além da fronteira que separa sul e norte e quando foram dar conta, já era LECI BRANDÃO, mulher de “dignidade”⁵, que com seu canto mostrou o que é de verdade, ser uma “cidadã brasileira”⁶.
“No serviço de auto-falante
Do morro do Pau da Bandeira
Quem avisa é o Zé do Caroço
Que amanhã vai fazer alvoroço
Alertando a favela inteira
Aí como eu queria que fosse em mangueira
Que existisse outro Zé do Caroço
Pra falar de uma vez pra esse moço
Carnaval não é esse colosso
Nossa escola é raiz, é madeira”
Leci Brandão, cantora, compositora, sambista, MANGUEIRENSE, nasceu em 12/09/1944, no Rio de Janeiro. Primeira mulher a integrar a ala de compositores da Estação Primeira de Mangueira, destacou-se ao longo de sua carreira por sambas carregados de emoção e verdades, sendo comum em suas composições, citar em tom crítico, as ditas “minorias”, principalmente ao falar da realidade das favelas. A força de suas canções a fez ter várias delas censuradas, dentre as quais, o sucesso “Zé do Caroço” o que a levou a ficar 5 anos sem gravar. Mas já era fadada ao sucesso, e hoje contabiliza 23 discos, vários prêmios, e acima de tudo, respeito e prestígio no mundo do samba e da cultura brasileira . Em 2010 foi eleita Deputada Estadual em São Paulo, onde aliás, teve participação efetiva na popularização das escolas de samba.
Referências:
1 – Título do 5º LP da carreira (1980)
2 – Programa de Flávio Cavalcanti onde Leci Brandão participou e venceu em 1968 na categoria compositora
3 – Samba em parceria com Darcy da Mangueira (1973)
4 – Título do show do “Movimento Aberto de Arte” do qual fez parte junto com vários compositores e intérpretes, apresentado em 1977
5 – Título do 7º disco da carreira (1987)
6 – LP lançado em 1990, como qual obteve vários prêmios
Fonte de Pesquisa:
Leci Brandão – Site Oficial
Cantoras do Brasil – Site