Avancos Na Fruticultura Tropical No Brasil

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AVANÇOS NA FRUTICULTURA TROPICAL NO BRASIL1


LAURA MARIA MOLINA MELETTI2, ALOÍSIO COSTA SAMPAIO3,
CARLOS RUGGIERO4

RESUMO - Os principais aspectos que marcaram a evolução técnica das culturas do abacaxizeiro, ma-
moeiro e maracujazeiro no Brasil foram discutidos. Em abacaxizeiro, tem-se constatado uma inovação no
sistema de comercialização da cv. Smooth Cayenne, que consiste no uso de caixas de papelão ondulado
para o mercado interno, cujo objetivo é propiciar uma garantia de sabor inserida em uma marca. O recente
lançamento de cultivares resistentes à fusariose, pela Embrapa (Imperial e Vitória) e IAC (Fantástico), traz
novas perspectivas de produtividade. Em maracujazeiro, a maior contribuição aos pomares foi dada pelo
melhoramento genético, inicialmente voltado apenas para ampliação da produtividade da cultura. No início
dos anos 2000, o lançamento das primeiras cultivares de maracujá - mais produtivas e com qualidade de
fruta diferenciada para os dois segmentos de mercado (frutas frescas e agroindústria), transformou o cenário
produtivo brasileiro. Com a criação de um sistema organizado de produção e comercialização de sementes e
mudas selecionadas, ampliou-se significativamente a qualidade dos pomares. Atualmente, a disponibilidade
de novas cultivares tolerantes à virose (VEFM) e cultivares regionais passou a representar um diferencial
para a cultura. Em mamoeiro, destaca-se a ocorrência do Mosaico do Mamoeiro (Monte Alto-SP, 1967),
que determinou a migração da cultura pelo Estado e sua expulsão para outros estados, até sua fixação na
Bahia e no Espírito Santo, os maiores produtores nacionais. Comparam-se as técnicas utilizadas nos dife-
rentes períodos de produção, antes e depois do surgimento do mosaico, que permitiram ao Brasil lançar-se
no mercado externo, tornando-se o maior exportador mundial de mamão, com lavouras produtivas e frutos
de ótima qualidade. Nesta evolução, soma-se a contribuição do melhoramento genético, que disponibilizou
sementes de alta qualidade, com reflexos nas práticas culturais e de propagação. São apresentadas de colheita
e de pós-colheita diferenciadas que resultaram em melhorias no padrão de qualidade das frutas exportadas
para o mercado europeu e norte-americano.
Termos de indexação: avanços na fruticultura, abacaxi, mamão, maracujá, tecnologia de produção.

PROGRESS IN THE BRAZILIAN TROPICAL FRUITCULTURE

ABSTRACT - The main aspects that defined the evolution of technical crops of pineapple, papaya and pas-
sion fruit in Brazil have been discussed. In pineapple, it has been observed an innovative commercialization
system of the Smooth Cayenne cultivar, which is the use of corrugated cardboard boxes for the domestic
market, whose aim is to provide a flavor guarantee introduced into a brand. The recent release of cultivars
resistant to fusariosis, by Embrapa (Imperial and Victoria) and IAC (Fantastico) brings new perspectives
for productivity. In passion fruit, the greatest contribution to the orchards was given by genetic breeding,
initially focused only to increase crop productivity. In the early 2000, the launch of the first cultivars of
passion fruit - more productive and with fruit quality distinguished for two different market segments (fresh
fruits and agribusiness), transformed the Brazilian productive scenario. By creating an organized system
of production and commercialization of selected seeds and seedlings, increased significantly the quality of
the orchards. Nowadays, the availability of new cultivars tolerant to virus (VEFM) and regional varieties
started to represent a difference for the culture. In papaya, stands out the occurrence of the Papaya Tree
Mosaic (Monte Alto, SP, 1967), which determined the migration of culture by the state and their expulsion
to other states, until its settling in Bahia and Espirito Santo, the largest national producers. It was compared
the techniques used in different production periods, before and after the emergence of the mosaic, which
allowed Brazil to set out on the international market, becoming the largest exporter of papaya, with produc-

1
Palestra Sinfruit 215 - Simpósio Internacional de Fruticultura - Avanços na Fruticultura (17 a 21 Outubro)
2
Dra., Pesquisadora Científica, INSTITUTO AGRONÔMICO, Caixa Postal 28, CEP 13.012-970, Campinas- SP.
E-mail: [email protected]
3
Dr., Professor Adjunto do Departamento de Ciências Biológicas/FC/UNESP, Caixa Postal 473, CEP 17033-360, Bauru-SP.
E-mail: [email protected]
4
Dr., Professor Emérito FCAV-UNESP, Via de Acesso Prof. Paulo D. Castellane, s/n. CEP 14.884-900, Jaboticabal-SP. Editor RBF.
E-mail: [email protected]

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tive crops and fruits of excellent quality. In this evolution, sum up the contribution of genetic improvement,
which provided high-quality seed with reflects on cultural practices and propagation. Different harvesting
and post-harvest techniques that result in improvements in the standard of quality of fruit exported to the
European market and the U.S. are presented.
Index terms: Fruitculture advances, pineapple, papaya, passion fruit, production technology.

AVANÇOS NA CULTURA DO ABACA- de defensivos registrados; uso de Equipamentos de


XIZEIRO NO BRASIL Produção Individual (EPI); proteção das matas cilia-
res e nascentes. Este modelo deve avançar em todas
O Brasil é um dos grandes e tradicionais as regiões produtoras e, para tanto, três dificuldades
produtores de abacaxi (Ananas comosus (L.) Merril) devem ser discutidas e sanadas, sendo duas de caráter
no mundo, sendo que maior parte dos frutos é comer- técnico e uma política. As técnicas estão no uso proi-
cializada no mercado interno, na forma de fruta in bitivo de herbicidas pré-emergentes em pós-plantio,
natura. A produção está distribuída principalmente ou seja, uma mudança na norma para o patamar de
nos Estados do Norte e Nordeste, onde se cultiva a não recomendado, poderia facilitar a implantação do
cultivar nacional Pérola ou Branco de Pernambuco, programa em áreas maiores de cultivo. Outra dificul-
que por possuir uma acidez menos pronunciada e dade reside no estudo de desempenho agronômico
ser colhida em regiões quentes durante o ano inteiro, de alguns defensivos não registrados para a cultura e
tem apresentado melhor aceitação pelo consumidor atualmente enquadrados no ‘minor crops’, mas com
brasileiro. A cultivar Smooth Cayenne ou Hawai é término de enquadramento legal para o 1o semestre
produzida principalmente pelos Estados de Minas de 2012. O ponto de caráter político envolve todas as
Gerais e São Paulo. Em função do aspecto de merca- frutíferas e não apenas o abacaxizeiro, ou seja, está
do mencionado, uma inovação resultante da parceria ligado à equivalência deste sistema de certificação
entre produtores e atacadistas tem sido observada, e nacional ao Globalgap e outros, a fim de termos um
consiste na comercialização dos frutos com melhor real estímulo ao aumento de adesões voluntárias no
relação entre o teor de sólidos solúveis (oBrix) e protocolo da Produção Integrada.
acidez, em caixas de papelão ondulado na origem Outros avanços importantes no tradicional
e com marca própria. Segundo Gutierrez (2011), a sistema de plantio em linhas duplas referem-se ao
demanda do consumidor mais exigente por produ- manejo do ciclo vegetativo da cultura, através do
tos saborosos está trazendo uma grande mudança emprego de tecnologias que possam reduzir o ciclo
na comercialização de abacaxis: a embalagem na cultural com o uso da indução floral artificial, porém
origem. São inúmeras as vantagens, pois os frutos sem redução do peso comercial dos frutos, que deve
podem ser colhidos mais maduros e mais saborosos, ser por volta de 1,8 kg. Entre estas tecnologias, pode-
porque não precisam resistir ao transporte a granel, a mos citar: aumento da densidade de plantio através de
carga e a descarga são muito mais rápidas, ajudando redução do espaçamento nas linhas de plantio; uso de
a desafogar o tumultuado entreposto de São Paulo, pulverizações foliares em intervalos quinzenais, em
e o produtor pode fixar sua marca na cabeça dos alto volume, nas épocas quentes e chuvosas; plantio
varejistas e consumidores finais. sobre filme plástico preto fixado mecanicamente
Outro marco no sistema de produção do no solo (Figura 1) e uso de cultivares resistentes à
abacaxi no Brasil está na implantação da Produção fusariose, ‘Imperial’ e ‘Vitória’ (CABRAL et al.,
Integrada do Abacaxizeiro no Estado do Tocantins 2009), lançadas recentemente pela Embrapa e da
(MATOS et al., 2006; MATOS et al., 2009), pois nas cultivar IAC Fantástico do Instituto Agronômico
normas estão presentes alguns conceitos fundamen- (SPIRONELLO, 2010; SPIRONELLO et al., 2011).
tais para a sustentabilidade da cultura, principalmente O crescimento das áreas de plantio dessas cultivares
para a pequena propriedade, ou seja, estímulo ao depende da disponibilidade de mudas convencionais,
associativismo na comercialização; rastreabilidade que devem ser obtidas após um primeiro ciclo de
do produto; monitoramento de pragas-chave, como a mudas provenientes de cultura de tecidos, ou seja, o
cochonilha de raiz, Dysmicoccus brevipes; produção plantio inicial deve ser direcionado exclusivamente
das mudas por seccionamento do talo no controle para produção de mudas. Nesta área, testes de campo
preventivo da fusariose (Fusarium gutiforme); com uso de fitorreguladores do grupo das morfactinas
manejo cultural do mato com plantio de milheto podem ser objeto interessante de pesquisas. Outra
(Pennisetum glaucum) e posterior uso de roçadeira pesquisa muito importante para a cultura seria o
manual nas entrelinhas da cultura; respeito à grade projeto multidisciplinar de extração e purificação

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AVANÇOS NA FRUTICULTURA TROPICAL NO BRASIL 75

da bromelina, enzima proteolítica empregada nas com etanol, porém há necessidade de se desenvolver
áreas alimentícia e farmacêutica, e importada pelo tecnologia para a purificação da enzima. Além do
Brasil da Alemanha e Suíça. Esta enzima poderia aspecto tecnológico, há necessidade de se obter infor-
ser extraída do subproduto da indústria de proces- mações mercadológicas, tais como: quanto o Brasil
samento de sucos ou do talo das culturas em campo importa de bromelina; qual o valor e a qualidade do
após a colheita das mudas. De acordo com Bertevello produto importado; em quais setores da economia o
(2011), o Brasil possui alguns trabalhos de pesquisa produto é empregado?
para a extração da bromelina pelo processo de reação
Foto: Sampaio (2009)

FIGURA 1- Cultivar IAC Gomo de Mel sob filme plástico preto em Rio Claro (SP).

REFERÊNCIAS MATOS. A. P. de; SANCHES, N. F.; SOU-


ZA, L. F. da S.; TEIXEIRA, F. A.; ELIAS JR.,
BERTEVELLO, L.C. Mercado, usos e extração da J.;SIEBENEICHLER, S. C. Cover crops on weed
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DO ABACAXIZEIRO, 4., 2011, Bauru. Anais ... plantings. Acta Horticulturae, The Hague, n. 822,
CABRAL, J. R. S.; MATOS, A. P.; JUNGHANS, D. p. 155-160, 2009.
T.; SOUZA, F. V. D. Pineapple Genetic Improvement
in Brazil. Acta Horticulturae, The Hague, v.822, SPIRONELLO, A. Abacaxi. In: DONADIO. L.C.
p. 39-46, 2009. (Org.). História da fruticultura paulista. Jaboticabal:
Sociedade Brasileira de Fruticultura, 2010. 400p.
GUTIERREZ, A. S. D. Mudanças rápidas na
comercialização do abacaxi: do granel para o em- SPIRONELLO, A.; SIQUEIRA, W.J.; MARTINS,
balado. São Paulo: CEAGESP, 2011. A.L.M.; USBERTI FILHO, J.A.; CARVALHO,
C.R.L.; BETTIOL NETO, J.E.; SIGRIST, J.M.M.;
MATOS, A. P. de; SOUZA, L. F. da S.; SANCHES, FERRARI, J.T.; LOUZEIRO, I.M. Avaliação do
N. F.; ELIAS JR., J.; TEIXEIRA, F. A. Integrated Híbrido de abacaxizeiro IAC Fantástico visando à
pineapple production in Brazil: an R&D project. indicação de cultivo. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO
Pineapple News, n.13, p. 16-17, 2006. DE ABACAXIZEIRO, 4., Bauru, 2011. Anais...

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MAMÃO, UMA HISTÓRIA DE SUCESSO1


CARLOS RUGGIERO2, SERGIO LÚCIO DAVID MARIN3, JOSÉ FERNANDO DURIGAN4

1. HISTÓRICO 2. INÍCIO DA MIGRAÇÃO DA CULTURA


NO BRASIL
A literatura mundial, em várias ocasiões, en-
fatiza que “a necessidade é mãe de todas as grandes O primeiro ponto a estimular esta significa-
mudanças”. O que procuraremos mostrar é que este tiva mudança ocorreu em 1967, na região de Monte
fato também ocorreu na cultura do mamoeiro no Alto-SP, quando foi relatada pela primeira vez no
Brasil, que, atualmente, ocupa uma área de cerca de Brasil a ocorrência endêmica de uma doença virótica,
36,5 mil hectares, sendo considerado o maior produ- denominada “mosaico do mamoeiro”. A cidade era,
tor mundial. Assim, abordaremos, neste capítulo, a na ocasião, considerada a capital brasileira do mamão
evolução da cultura desde sua introdução na região e chegou, no auge da sua exploração, a enviar para
de Monte Alto-SP, que já foi considerada a capital o mercado cerca de 110 caminhões/dia, podendo-se
brasileira do mamão, até a sua consolidação nos Es- avaliar o que representava a cultura para a economia
tados da Bahia, Espírito Santo, Rio Grande do Norte da região naquela época (RUGGIERO et al., 2010).
e Ceará, atualmente considerados como os maiores No desespero de lutar contra o vírus do mosai-
produtores nacionais (SERRANO; CATTANEO, co, verificou-se um processo migratório do mamoeiro
2010). para outras regiões agrícolas de São Paulo até o seu
Fazendo uma análise retrospectiva da cultura completo desaparecimento do Estado, em meados da
do mamoeiro no País, desde meados do século XX década de 70.
até hoje, verificaremos que mudanças altamente sig- A partir de 1975/1976 a cultura migrou para
nificativas ocorreram, indiscutivelmente alicerçadas outras regiões do País como o nordeste do Pará,
pela pesquisa, as quais fizeram com que deixássemos extremo sul da Bahia e norte do Espírito Santo.
de produzir frutas somente para atender ao mercado Nessas regiões, graças ao aprendizado com os erros
nacional para se transformar, além do maior produ- do passado, os técnicos e produtores passaram a exe-
tor, também no segundo maior exportador mundial. cutar rigorosos sistemas de prevenção, consistindo
Assim, verificou-se, a partir do início da década de no corte e erradicação de plantas enfermas logo após
90, um crescente aumento nas exportações brasileiras os primeiros sintomas da doença. Essas medidas
de papaya, culminando, em 2008, com um volume possibilitaram a estabilidade da cultura nestes estados
de cerca de 30 mil toneladas, gerando uma receita de por mais de 25 anos.
US$38,6 milhões (SERRANO; CATTANEO, 2010). A partir da década de 80, a migração da cultura
Vale ressaltar que passamos a produzir frutos de alta ocorreu devido a razões muito mais comerciais do
qualidade tanto para as variedades de mamão perten- que fitossanitárias. Assim, a maior proximidade do
centes ao grupo ‘Solo’ (frutas pequenas) quanto para mercado consumidor nacional determinou a difusão
as cultivares do grupo ‘Formosa’ (frutas maiores), em para a região de Inhumas- GO (1980), Petrolina- PE
que pese estes últimos serem oriundos de sementes (1995), Ceará (1998) e Janaúba-MG (2001). Da
híbridas importadas (SERRANO; CATTANEO, mesma forma, a maior proximidade do mercado ame-
2010). ricano foi determinante para a expansão da cultura
Na cultura do mamoeiro, em nossa opinião, no Estado do Rio Grande do Norte, possibilitando o
alguns dos seguintes pontos foram fundamentais por grande aumento das exportações marítimas de papaya
proporcionarem condições para a busca de soluções, para os Estados Unidos, verificado em fins da década
estimulando a pesquisa na área, fator que determinou de 90.
uma mudança altamente significativa, obtendo, em A despeito da forte migração da cultura, um
razão destas conquistas, pomares com produtividade fato comercial marcante e curioso ocorreu nos anos
superior a 100 t/ha. 70, notadamente nas principais centrais de abasteci-

1
Palestra Sinfruit 215 - Simpósio Internacional de Fruticultura - Avanços na Fruticultura (17 a 21 Outubro)
2
Prof. Emérito, FCAV/Unesp. [email protected]
3
Rubisco Sementes – genética em papaya. [email protected]
4
Prof. Titular, FCAV/Unesp, departamento de Tecnologia. [email protected]

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MAMÃO, UMA HISTÓRIA DE SUCESSO 77

mento e feiras livres de todo o País. Apesar de, nesse da década de 70, continua, até o presente momento,
período, já não mais existir pomares de mamão no predominando no mercado nacional dos mamoeiros
Estado de São Paulo, ainda assim prevaleceu durante do grupo ‘Formosa’.
quase toda uma década o slogan da famosa marca: A despeito de os primeiros trabalhos com
“comprem o famoso mamão de Monte Alto”. hibridação no Brasil terem sido iniciados na década
de 70, através das pesquisas conjuntas do Dr. Dalmo
3. PRIMEIRAS INTRODUÇÕES DE SE- Giacometti e Dr. Luna Uzeda, contudo, somente em
MENTES MELHORADAS E AVANÇOS NO 2001 foram lançadas e disponibilizadas no mercado
MELHORAMENTO GENÉTICO sementes do primeiro híbrido nacional do grupo
‘Formosa’, fruto de parceria público-privada, deno-
Outro ponto catalisador destas mudanças minado “Calimosa’ e, mais recentemente, em 2011,
ocorreu entre 1972/1973, quando se verificou no Bra- foi lançada a público a primeira variedade do grupo
sil a importação das primeiras sementes da variedade ‘Formosa’, denominada ‘Rubi Incaper 511’.
‘Sunrise Solo’ oriundas do Havai-EUA. Esta culti-
var do grupo ‘Solo’, quando introduzida na região 4. PESQUISAS REALIZADAS E AÇÕES DE-
nordeste do Pará, apresentou elevada estabilidade e SENVOLVIDAS PELA PARCERIA PÚBLICO-
grande adaptabilidade às condições quentes e úmidas -PRIVADA
da região. Ressalta-se que a simples introdução da
cultivar ‘Sunrise Solo’ provocou uma significativa As grandes âncoras estimuladoras do notável
expansão da comercialização do fruto, devido à sua desenvolvimento da cultura do mamoeiro no Brasil,
grande aceitação, tanto no mercado nacional quanto e em especial do melhoramento genético da cultura,
no internacional (MARIN, informação pessoal, devem ser creditadas à necessidade da constante luta
2011). em obter respostas aos seguintes pontos:
Neste mesmo período, iniciaram-se, também, a) como lutar contra a doença do vírus do mosaico
as importações de sementes híbridas dos mamoeiros do mamoeiro?
do grupo ‘Formosa’, oriundas de Taiwan, de onde b) como proporcionar aos produtores brasileiros se-
ainda são até hoje importadas (SERRANO; CAT- mentes de ótima qualidade, com o ajuste nas técnicas
TANEO, 2010). de produção para altas produtividades?
A partir de 1982, verificou-se, no Brasil, uma c) como produzir frutas com qualidade para os mer-
grande evolução no melhoramento genético do ma- cados nacional e internacional?
moeiro no tocante ao desenvolvimento de variedades Inegavelmente, essas conquistas foram frutos
do grupo ‘Solo’, que atendessem tanto à demanda das condições básicas para os trabalhos de pesquisa
do mercado nacional quanto internacional. Nesse que se desenvolveram no Brasil a partir da metade do
sentido, foram introduzidas no mercado as seguintes século XX, por grupos que se formaram neste período.
variedades comerciais, com suas respectivas épocas Neste contexto, foi decisiva a participação da
de lançamento, fruto do contínuo trabalho das ini- Universidade Estadual Paulista, UNESP, Câmpus
ciativas públicas e privadas envolvidas no segmento de Jaboticabal-SP, que além do inúmero acervo de
do agronegócio do mamoeiro: publicações técnico-científicas, realizou, em 1980 e
1988, os dois primeiros Simpósios Brasileiros sobre
1.1.1. ‘Sunrise Solo 72/12’ (1982) a cultura do mamoeiro. Ressalta-se que esses dois
1.1.2. ‘Baixinho de Santa Amália’ (1986) eventos, que contaram com a participação dos mais
1.1.3. ‘Grampola’ (1988) renomados pesquisadores nacionais e internacionais
1.1.4. ‘Golden (1996) desta cultura, podem ser considerados como o marco
1.1.5. ‘Gran Golden’ (1997) introdutório do sucesso da implantação da cultura do
1.1.6. ‘Sunrise Solo BSA’ (1998) mamoeiro ‘Solo’ no Brasil.
1.1.7. ‘Golden MD 2’ (2001) A produção científica na área do mamão, das
1.1.8. ‘Golden THB’ (2004) Instituições brasileiras que trabalham com pesquisa
em fruticultura tropical, pode ser equiparada às das
Há que se ressaltar, contudo, que o mesmo Universidades internacionais, algumas com mais
avanço não se verificou no programa de melhora- de 400 anos. Devem ser considerados os trabalhos
mento genético no Brasil, visando à produção de desenvolvidos pela Universidade do Hawaii, cujas
híbridos nacionais como alternativa à importação publicações na década de 60 irradiaram a tecnologia
de sementes oriundas de Taiwan. Assim, o híbrido para a cultura do mamoeiro pelo mundo (RUGGIE-
‘Tainung 01’, que foi introduzido no Brasil, no início RO, 2009).

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78 C. RUGGIERO et al.

Inquestionavelmente, tem contado com o conservação da qualidade na comercialização do


apoio dos estudantes, notadamente os da pós-gradu- mamão, pois a maior parte desta fruta é consumida
ação, que são um grande suporte, pois proporcionam ao natural. Assim, a diminuição de suas perdas, que
mão de obra altamente qualificada e criativa. Vale são bastante altas, e racionalizar sua distribuição e
destacar a opinião do Professor Dr. Henry Nakasone, comercialização, tornam-se necessários ao conheci-
da Hawaii University, cuja contribuição à cultura mento do comportamento pós-colheita desta fruta.
do mamoeiro é muito reconhecida e que esteve no Os frutos do mamoeiro têm sido classifica-
Brasil participando dos dois primeiros simpósios dos quanto ao padrão respiratório como climatérios
sobre a cultura do mamoeiro, realizados na UNESP/ (WARDLAW; LEONARD, 1935; GARCIA, 1980),
Jaboticabal. Nessas oportunidades, ele deixou dito ou seja, podem amadurecer depois de colhidos. Nesta
uma grande verdade: “o estudante de pós-graduação fruta, o índice respiratório é influenciado por fatores,
se escraviza pelo sistema”, justificando a valiosa tais como, temperatura e composição da atmosfera.
contribuição destes colaboradores. Esta fruta apresenta polpa delicada e saborosa,
Outro ponto importante é a alocação de cujas características sensoriais (textura, cor e aroma),
recursos para o desenvolvimento de pesquisas e químicas (baixa acidez e bom equilíbrio entre açú-
tem sido basicamente financiada por instituições cares e ácidos orgânicos) e digestivas, tornam esta
governamentais, com ênfase nas Universidades, nos fruta um alimento ideal e saudável para pessoas de
Institutos e Empresas de Pesquisa, e nas Instituições todas as idades (MEDINA et al., 1980; FABI et al.,
financiadoras, com destaque para o CNPq, o FINE- 2010). De maneira geral, ela é consumida in natura,
PE e as Fundações Estaduais, como a FAPESP, que mas sua industrialização permite o aproveitamento
alicerçou a criação de outras como a FAPERJ, a integral do fruto e a oferta de extensa gama de pro-
FAPEMIG (1985) e a FAPESB (2001), dentre outras. dutos e subprodutos, que podem ser utilizados pelas
A criação de fundos para o desenvolvimento indústrias de alimentos, farmacêuticas e de ração para
é outra possibilidade que tem suportado a pesquisa animais (HINOJOSA; MONTGOMERY, 1988).
em algumas culturas, como o FUNDECITRUS No seu amadurecimento, a temperatura exerce
(1977), que proporciona um bom suporte à citricul- efeito direto, pois regula a velocidade com que as
tura brasileira. O Fundo PASSIFLORA também vem reações se processam a nível celular, e segundo a
servindo de suporte ao desenvolvimento da cultura Lei de Van’t Hoof pode aumentá-las na razão de 2,0-
do maracujazeiro, a despeito das dificuldades que 2,5 vezes, a cada 10º C de aumento. Teoricamente,
encontra para seu melhor desempenho. Vale destacar, o abaixamento na temperatura pode aumentar cada
também, o trabalho de algumas associações, como a vez mais a vida pós-colheita dos frutos, não fosse o
AGAPOMI (1979) e a ABPM (1978), que, embora distúrbio fisiológico conhecido por “chilling”, que se
com conotações diferentes dos fundos, exercem um caracteriza por depressões na casca, amadurecimen-
papel importante para culturas específicas como a da to comprometido, áreas aquosas na polpa e rápido
maçã, bem como a criação da BRAPEX-ES (2001), desenvolvimento de microrganismos (CHITARRA;
que atua auxiliando na exportação de mamão. CHITARRA, 2005).
A criação destes fundos, que ainda são poucos, O ponto de colheita desta fruta depende,
precisa ser estimulada, pois além de darem um aval principalmente, do tempo necessário ao transporte
qualitativo às pesquisas prioritárias, pois contam desde o campo até o local de consumo, da estação
com a participação de indústrias e produtores, seriam do ano e da finalidade da produção (mercado exter-
ferramentas importantes para o desenvolvimento de no, interno ou indústria). Basicamente, a colheita é
uma determinada frutífera. A cultura do mamoeiro realizada quando ele começa a formar listras ama-
ressente-se da falta de um fundo específico, pois reladas (GAYET et al., 1995), que podem não estar
além do suporte econômico estabelecerá prioridades correlacionadas com a constituição química da polpa
para a pesquisa e ações que busquem soluções para a e seu sabor.
cultura, como os problemas de ordem fitossanitária Sua vida útil pode variar, principalmente com
(RUGGIERO, 2009). seu estádio de maturação e com a cultivar (BLEIN-
ROTH, 1988a), no entanto se observa que mamões
5. CONSERVAÇÃO PÓS-COLHEITA colhidos no estádio indicado atingem as condições
DO MAMÃO de consumo em uma semana, quando armazenados
em condições ambientais (BRON, 2006; BRON;
5.1 INTRODUÇÃO JACOMINO, 2006; FABI et al., 2007).
Como o mamão é uma fruta cujo teor de açú-
Vários trabalhos destacam a importância da cares aumenta enquanto ligado à planta-mãe, algu-

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mas empresas deixam o fruto amadurecer na planta, mancha poderia estar relacionada aos baixos teores
o que exige cuidados no manuseio e uma cadeia de de cálcio nos frutos, enquanto Oliveira et al. (2002),
frio muito bem sincronizada, o que é divulgado nas aos fatores nutricionais que antecedem a colheita.
caixas como “fruto amadurecido na planta” e é mais Gomes Filho et al. (2008) apontaram seu aspecto
valorizado pelos consumidores, pois tem sabor mais sazonal e relacionaram-na com as épocas de maior
doce. amplitude térmica.
Este problema é muito pouco conhecido e
5.2 MOLÉSTIAS PÓS-COLHEITA está a merecer pesquisas e trabalhos integrados para
viabilizar seu controle a nível cientifico (GALLON,
Elas são responsáveis por grande parte das 2010).
perdas que ocorrem na pós-colheita, principalmente
como consequência do manuseio inadequado durante 5.4 CONSERVAÇÃO PÓS-COLHEITA
as operações de colheita, transporte, armazenamento
e comercialização (VIDIGAL et al., 1979). A temperatura do ambiente de conservação de
Entre as mais importantes, destaca-se a antrac- mamões tem sido utilizadao para controlar o ama-
nose, causada pelo fungo Colletotrichum gloeospo- durecimento desta fruta. Vidolin (1984) armazenou
rioides Pez (BERGAMIN; KIMATI, 1980). O uso de frutos de mamão ‘Sunrise-Solo’, colhidos maturos
fungicidas não tem possibilitado o controle eficiente ou com máximo desenvolvimento e coloração da
desta podridão, o que tem levado ao uso de outros casca verde-clara. Os armazenados a 30º C (94% UR)
tratamentos, tais como o térmico (BLEINROTH, conservaram-se por até 10 dias, mesmo tendo sido
1988b). tratados termicamente (49º C por 20 minutos) e com
A possibilidade do uso do tratamento com a aplicação de fungicida, dado o desenvolvimento
água quente para controlar a antracnose foi desco- intenso de podridões. Frutos tratados, quando arma-
berta em 1949, quando o Departamento de Fisiologia zenados a 22,4º C (74% UR), tiveram vida útil de 15
de Plantas da Universidade do Havaí, em cooperação dias, com baixa ocorrência de antracnose, enquanto
com o Departamento de Agricultura dos Estados os mantidos a 8,5º C (95-100%UR) apresentaram
Unidos (USDA), estudava um processo para a desin- problemas com injúria pelo frio ou “chilling” em 17
festação dos frutos que se destinavam a exportação. dias.
Tem-se recomendado a imersão dos frutos em água Aumento no tempo de conservação desta fruta
quente à 48º C por 20 minutos, à qual se adiciona a 10º C, que evita problemas com injúrias, mas per-
fungicida, ou ainda a 54º C por 3 minutos. A casa mite a continuidade do seu amadurecimento, tem sido
de embalagem também deve ser constantemente conseguido com o emprego de atmosfera controlada,
desinfestada com cloro a 70-100 ppm, pH 6,0-7,5 com baixos níveis de O2 (1-5%). O mamão não tolera
(RIVETTI, 1992; GAYET et al.,1995). níveis de CO2 acima de 1-2% (DELLA TOGNA,
O tratamento térmico do mamão, dentro da 1987; RIVETTI, 1992; MOSCA, 1992; GAYET et
tecnologia utilizada para poder exportá-lo, é um al., 1995; JACOMINO et al., 2002; CERQUEIRA-
procedimento utilizado pelas casas de embalagens -PEREIRA, 2009).
no Brasil, pois é o fator que assegura a garantia de A pequena resistência do mamão ao arma-
sanidade do mamão brasileiro no mercado exterior. zenamento pós-colheita e sua suscetibilidade a
temperaturas abaixo de 10º C e a ambiente com
5.3 DISTURBIOS FISIOLÓGICOS concentrações de CO2 acima de 1%, têm feito com
que se tenha procurado reduzir o tempo de viagem
O mamão apresenta uma série de distúrbios por navios no percurso entre o Brasil e a Europa ou
fisiológicos que podem afetar sua qualidade pós- América do Norte, plantando mamão no Estado do
-colheita, muitos dos quais determinados por fatores Rio Grande do Norte, o que reduz o tempo de viagem
pré-colheita como tratos culturais e condições eda- de 21-23 dias para 16-18 dias.
foclimaticas, ou fatores pós-colheita, como aqueci- O mamão papaia é uma fruta apreciada pela
mentos e frio usados inadequadamente. cor vermelha da polpa e sabor adocicado (GOMEZ et
Dentre estas, tem-se a mancha fisiológica do al., 1999; 2002). Este mamão é uma fruta climatérica,
mamão, que foi mencionada pela primeira vez por com picos de produção do etileno e de CO2 durante
Ishii e Holzmann (1963) em mamões cultivados no o amadurecimento (FABI et al., 2007). Contudo,
Havaí, as quais foram reconhecidas como desordem sua produção é afetada pelas perdas pós-colheita
fisiológica, a partir dos trabalhos de Chan e Toh decorrentes do excessivo amolecimento da polpa, que
(1988). Campostrini et al. (2005) sugeriram que esta favorece o ataque microbiano e os danos mecânicos.

Rev. Bras. Frutic., Jaboticabal - SP, Volume Especial, e. 073-091, Outubro 2011
80 C. RUGGIERO et al.

Vários estudos concentram-se nas modifi- familiares e possibilita a fixação da mão de obra nas
cações químicas das paredes celulares do mamão regiões produtoras (DURIGAN, 2000).
durante seu amadurecimento (MANRIQUE; LA- Este setor cresceu significativamente, abrindo
JOLO, 2002; 2004; SHIGA et al., 2009). Fabi et al. espaço para se ampliar as possibilidades de comercia-
(2009a; 2009b) isolaram uma sequência de cDNA lização do mamão e outras frutas, com valor agregado
de uma endopoligalacturonase (endoPG) de ma- relativamente alto (TEIXEIRA et al., 2001; SARZI,
mão papaia. Os estudos da expressão gênica e da 2002).
atividade enzimática sugeriram uma relação direta
entre o aumento de transcritos e atividade da enzima REFERÊNCIAS
endoPG e a diminuição da firmeza da polpa durante
o amadurecimento. BERGAMIN, F. A.; KIMATI, H. Doenças do ma-
O tratamento do mamão com 1-metilciclopro- moeiro – Carica papaya. In: Galli, F. et al. Manual
peno (1-MCP) pareceu ter inibido a enzima endoPG, de fitopatologia: doenças de plantas cultivadas. São
e, consequentemente, a polpa não amoleceu (FABI Paulo: Ceres, 1980. p.338-346.
et al., 2007, 2009b). A redução na despolimerização
da parede celular em frutos tratados com 1-MCP BLEINROTH, E.W. Determinação do ponto de co-
corroborou os resultados observados (SHIGA et al., lheita dos frutos. In BLEINROTH, E.W. Tecnologia
2009). de pós-colheita de frutas tropicais. Campinas:
Os estudos atuais abrangem a comparação do ITAL, 1988a. p. 1-19.
perfil de transcritos (transcriptoma) e de proteínas
(proteômica) de frutos verdes com frutos maduros. BLEINROTH, E.W. Preparo das frutas para comer-
Para tanto, algumas técnicas como cDNA-AFLP, cialização e frigo-conservação. In BLEINROTH,
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clonagem e expressão de proteínas e western blotting cais. Campinas: ITAL, 1988b. p. 51-64.
estão sendo utilizadas (NASCIMENTO et al., 2008).
Estudos de interação planta-patógeno também BRON, I. U. Amadurecimento do mamão ‘Gol-
estão sendo investigados, através da interação de den’: ponto de colheita, bloqueio da ação do etile-
proteínas endógenas do mamão papaia que inibem a no e armazenamento refrigerado. 2006. 66f. Tese
ação de poligalacturonases de fungos. Dessa manei- (Doutorado em Fitotecnia)- Escola Superior de
ra, através dos estudos já finalizados e dos estudos Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São
em andamento, busca-se relacionar a expressão de Paulo, Piracicaba, 2006.
alguns genes de enzimas-chave com as propriedades
adquiridas durante o amadurecimento do mamão BRON, I. U.; JACOMINO, A. P. Ripening and
papaia e que possam afetar, principalmente, a vida quality of ‘Golden’ papaya fruit harvested at dif-
de prateleira e a qualidade final do fruto. ferent maturity stages. Brazilian Journal of Plant
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5.5 PROCESSAMENTO MÍNIMO
CAMPOSTRINI, E.; LIMA, H. C.; OLIVEIRA, J.
A Associação Internacional de Produtos Mi- G. de; MONNERAT, P. H.; MARINHO, C. S. Teo-
nimamente Processados (IFPA) define os Produtos res de Ca e variáveis meteorológicas: relações com
Minimamente Processados como frutas ou hortaliças a incidência da mancha fisiológica do mamão no
que são modificadas fisicamente, mas que mantêm o norte fluminense. Bragantia, Campinas, v.64, n.4,
seu estado fresco (CANTWELL, 2000). Assim, é um p.601-613, 2005.
produto fresco, tornado conveniente, com qualidade
e garantia de sanidade (DURIGAN, 2000). CANTWELL, M. The dynamic fresh-cut sector of the
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resíduos, facilitando o transporte e eliminando pro-
blemas de ordem fitossanitária. Além disso, esta nova
opção aos produtores agrícolas permite maior apro-
veitamento da produção, agrega valor aos produtos,
é bastante adequada às micro e pequenas empresas

Rev. Bras. Frutic., Jaboticabal - SP, Volume Especial, e. 073-091, Outubro 2011
MAMÃO, UMA HISTÓRIA DE SUCESSO 81

CERQUEIRA-PEREIRA, E. C. Caracterização e GALLON, C. Z. Amolecimento precoce da polpa e


comparação de sistemas de embalagem e trans- sua relação com as modificações da parede celular
porte de mamão ‘Solo’ destinado ao mercado na- em mamões ‘Golden’. 2010. 111f. Tese (Doutorado
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83

AVANÇOS NA CULTURA DO MARACUJÁ NO BRASIL1


LAURA MARIA MOLINA MELETTI2

1. INTRODUÇÃO com os prejuízos resultantes de outras atividades


agrícolas (MELETTI et al., 2010).
O gênero Passiflora possui um grande Durante os primeiros anos de produção, con-
número de espécies, mais de 400, sendo cerca de duzidos com quase total amadorismo, a maioria dos
120 nativas do Brasil (BERNACCI, 2003). Apesar produtores nem era fruticultor (RUGGIERO, 1987).
disso, os cultivos comerciais do País baseiam-se Eram cafeicultores entrando na atividade, animados
numa única espécie, o maracujá-amarelo ou azedo com a possibilidade de elevado retorno financeiro
(Passiflora edulis), que representa mais de 95% dos oferecidos pelo maracujá. A cultura não apresentava
pomares, devido à qualidade dos seus frutos, vigor, ainda expressão econômica, mas, num dos períodos
produtividade e rendimento em suco (MELETTI; de baixa na cafeicultura, esses produtores migraram
BRÜCKNER, 2001). para a fruticultura. O pequeno proprietário de agri-
Esse maracujá, o mais consumido na forma de cultura familiar encontrou no maracujá uma opção
sucos, foi considerado uma fruta de pomar doméstico técnica e economicamente viável. Foi assim que a
durante muitos anos, em razão de suas propriedades cultura se desenvolveu. Até hoje, a agricultura fami-
medicinais. Seu valor comercial foi descoberto liar tem sido responsável pela expansão dos pomares
bem mais tarde, no final da década de 60, quando comerciais.
os primeiros pomares paulistas foram instalados. No período de 1990 a 1996, observou-se
Historicamente, trata-se de um curto período de uma ampliação significativa da área cultivada com
produção, representado por apenas 40 anos, bastante maracujá no País inteiro. Em 1990, foram colhidos
significativo ao se considerar que o País é o maior cerca de 25 mil hectares, que se ampliou para 32 mil
produtor mundial de maracujá-amarelo, há mais de hectares em 1992 e chegou a 44 mil hectares, em
duas décadas. 1996. Isso corresponde a um acréscimo de área em
O maracujá-amarelo é uma fruteira tropical torno de 75%, em apenas seis anos.
nativa, cujo cultivo tem evoluído muito rapidamente Depois disso, muitos outros ciclos de retração
no País. Até o início da década de 70, o Brasil nem e expansão da cultura foram observados (Figura 1),
constava entre os principais países produtores. Por definidos por dificuldades cíclicas de comercializa-
falta de demanda constante do produto, ciclos de ção e/ou concentração de problemas fitopatológicos.
retração e expansão da área cultivada alternavam-se. A evolução da área colhida com maracujá no Brasil,
A cultura adquiriu expressão econômica a partir de assim como a produção brasileira entre 1996 e 2009,
1986, quando a ampliação significativa na área cul- pode ser observada na Tabela 1.
tivada e na produção conduziu à profissionalização A década de 90 foi marcada pela valorização
da atividade (RIZZI et al., 1998). do preço da fruta fresca. Isto mudou o hábito de
A cultura do maracujá vem ocupando um lu- consumo do maracujá: por um longo período, cerca
gar de destaque na fruticultura tropical, um segmento de 30% da produção eram reservadas ao mercado in
que se expandiu como um todo nos últimos 30 anos. natura e 70% seguiam para a indústria de sucos. Por
Considerada como uma alternativa agrícola interes- volta de 1998, essa situação inverteu-se. Na década
sante para a pequena propriedade cafeeira, é a fruteira seguinte, cerca de 50% da produção foram destinadas
que mais tem atraído os produtores. Representa uma a cada um desses segmentos. Mais recentemente,
boa opção entre as frutas por oferecer o mais rápido 60% da produção são destinadas ao consumo de
retorno econômico,bem como a oportunidade de uma frutas frescas, sendo o restante destinado às agroin-
receita distribuída pela maior parte do ano. A maioria dústrias de processamento. O suco é o principal
das outras frutas leva alguns anos para entrar em produto derivado (FERRAZ ; LOT, 2006).
produção, o que é incompatível com a necessidade Assim, o maracujá-amarelo tem ocupado
imediata de renda dos produtores, descapitalizados um lugar de destaque na fruticultura, mesmo quan-

Palestra Sinfruit 215 - Simpósio Internacional de Fruticultura - Avanços na Fruticultura (17 a 21 Outubro)
1

Dra., Pesquisadora Científica, INSTITUTO AGRONÔMICO, Caixa Postal 28, CEP 13.012-970, Campinas-SP.
2

E-mail: [email protected]

Rev. Bras. Frutic., Jaboticabal - SP, Volume Especial, e. 073-091, Outubro 2011
84 L. M. M. MELETTI

do comparado a outras frutas tropicais com maior 2. CARACTERÍSTICAS DA PRODU-


tradição de consumo. Sua participação no mercado ÇÃO DO MARACUJÁ
de hortifrutigranjeiros é garantida, adequando-se
perfeitamente a este segmento que valoriza produtos O maracujazeiro é cultivado em pequenas
de alto valor agregado (MELETTI et al., 2010). propriedades, a maioria com pomares de 3 a 5 hec-
A região Nordeste tem liderado a produção bra- tares. Embora seja uma cultura de alto risco, devido
sileira nos últimos anos, sendo responsável por metade à grande suscetibilidade a doenças, por utilizar in-
da produção nacional, em 1996, seguida pelas regiões sumos de alto valor aquisitivo e de ser necessário
Sudeste, Norte, Centro-Oeste e Sul. Uma alteração atender à exigência de qualidade dos mercados a que
significativa na distribuição geográfica dos pomares se destina, tem sido uma atividade bastante atrativa,
tem sido apontada por Gonçalves e Souza (2006): o pelo alto valor agregado da produção.
Pará, que se destacou como principal produtor por Os pomares tornaram-se importantes também
alguns anos, cedeu espaço para os pomares da Bahia, na fixação da mão de obra rural. O nível de emprega-
Ceará e Espírito Santo, os 3 maiores produtores em bilidade é elevado, o que confere forte caráter social
2006. O mesmo ocorre em São Paulo, grande produ- à cultura. Especialistas apontam que cada hectare de
tor do início da década de 90, com área de produção maracujá gera 3 a 4 empregos diretos e ocupa 7 a 8
reduzida significativamente, em função da elevada pessoas, nos diversos elos da cadeia produtiva.
incidência de viroses (MELETTI et al., 2010). Apesar disso, a constante alteração de área
Várias agroindústrias de sucos foram surgindo cultivada (Tabela 1) reforça a característica itinerante
em diversos estados, estimulando ainda mais a ex- do maracujá. Em parte, isso se deve ao elevado nú-
pansão da atividade. Na última década, o maracujá mero de doenças que vão se acumulando nas regiões
transformou-se numa oportunidade de capitalização, tradicionais de cultivo e a intensidade dos danos
em curto prazo. resultantes, por falta de variedades resistentes.
Neste contexto, a produção brasileira de mara-
cujá cresceu, avançando de 409 mil a 713 mil tonela- 3. PRINCIPAIS AVANÇOS NA CUL-
das entre 1996 e 2009, mesmo com o decréscimo da TURA
área cultivada entre 1996 e 2006, que se recuperou
posteriormente (Tabela 1). O avanço da produção Em maracujazeiro, a maior contribuição aos
resulta de um progresso tecnológico, que elevou a pomares foi dada pelo melhoramento genético. Na
produtividade em todas as regiões geográficas. década de 90, observou-se a consolidação de equipes
Este aumento na produtividade pode ser expli- multidisciplinares de pesquisa, em diferentes cen-
cado, de um lado, pela integração de bons produtores tros nacionais, cujo resultado foi o lançamento das
à cultura, mais a adoção da tecnologia de produção primeiras cultivares de maracujá, inicialmente dire-
recomendada para a cultura, a utilização de semen- cionadas apenas para a ampliação da produtividade
tes selecionadas e cultivares híbridas lançadas pelo da cultura, para bancar os altos custos de produção.
Instituto Agronômico em 1999, de alta produtividade Até o ano 2000, a maioria dos novos pomares era
(MELETTI, 1999), e pela EMBRAPA, em 2008 implantada a partir de sementes de frutos seleciona-
(EMBRAPA, 2008), somadas a qualidade das mudas dos pelos próprios produtores, obtidos de plantios
na instalação dos pomares. Outro incentivo foi dado anteriores ou de frutos do mercado atacadista. Isso
pelo preço do produto, sempre atrativo, apesar das ocorria por falta de opção, uma vez que o comércio
flutuações. de sementes selecionadas, de boa qualidade, não
A exportação de maracujá ainda é incipiente. estava ainda estabelecido, nem existiam cultivares
Tem ocorrido em pequena escala, sob as formas de fru- de maracujá.
ta fresca, e, principalmente, suco concentrado. Os prin- A partir de 2000, estas equipes desenvolvem
cipais destinos são os países europeus. A participação pesquisas bastante sedimentadas em novas tecno-
da fruta fresca no total das exportações de maracujá do logias, com objetivos definidos, multiplicidade de
Brasil tem-se restringido a 1,5%, porque o mercado métodos e, mais recentemente, com a adoção de fer-
interno absorve quase a totalidade da produção. Os ramentas importantes para o melhoramento genético,
sucos concentrados representam a maior parcela da como a biotecnologia.
exportação, alcançam as melhores cotações e ganhos
em divisas, sendo atualmente comercializado mais 3.1. AS PRIMEIRAS CULTIVARES – INÍCIO
intensamente com Holanda, Estados Unidos, Porto DOS ANOS 2000
Rico, Japão e Alemanha, os quais importam 76% do
suco concentrado produzido no Brasil. O lançamento das primeiras cultivares de

Rev. Bras. Frutic., Jaboticabal - SP, Volume Especial, e. 073-091, Outubro 2011
AVANÇOS NA CULTURA DO MARACUJÁ NO BRASIL 85

maracujá – híbridos mais produtivos e com qualida- aqueles que causam moléstias de ocorrência gene-
de de fruta diferenciada para os dois segmentos de ralizada, algumas de âmbito nacional. Em algumas
mercado (frutas frescas e agroindústria)-transformou regiões com histórico de incidência, há moléstias
o cenário produtivo brasileiro. Com a criação de um limitantes para a cultura, nos casos em que não se
sistema organizado de produção e comercialização de conhece controle químico eficiente e/ou econômico
sementes das cultivares IAC e mudas selecionadas, para elas, até o momento. Destacam-se: virose do
ampliaram-se significativamente a qualidade e a endurecimento dos frutos (woodness), bacteriose
produtividade dos pomares. (Xanthomonas axonopodis pv. passiflorae) e fusa-
Esses híbridos foram lançadas em 1999 pelo riose (Fusarium oxysporum).
Instituto Agronômico (IAC), para atender à espe- Três novos maracujás híbridos foram obtidos
cialização do mercado. Frutas para o mercado in por meio das pesquisas da EMBRAPA - Cerrados
natura precisam ser maiores e mais pesadas, com (Planaltina-DF), sendo plantados em fase experimen-
homogeneidade, para facilitar a classificação dos tal desde o lançamento, ocorrido em 2008 durante
frutos. A cultivar de agroindústria deve ter maior o XX Congresso Brasileiro de Fruticultura (Vitória-
rendimento em polpa, maior teor de sólidos solúveis -ES). Com os primeiros resultados, os pesquisadores
totais (SST), polpa de coloração mais intensa e casca consideraram que as frutas geneticamente modifica-
mais fina. Surgiram, então, cultivares direcionadas das, BRS Gigante Amarelo, BRS Sol do Cerrado e
a cada segmento, cv. IAC 273 (Monte Alegre) e cv. BRS Ouro Vermelho apresentam diversas vantagens
IAC 277 (Joia) - Figuras 2 e 3, para frutas frescas, e quando comparadas às tradicionais (EMBRAPA,
cv. IAC 275 (Maravilha), para agroindústria (Figura 2008). Pôde ser observada alta produtividade,
4), com características distintas (MELETTI, 2000; com colheitas superiores a 50 toneladas anuais por
MELETTI et al., 2005). Os produtores puderam, as- hectare-a média das convencionais não híbridas é
sim, direcionar sua produção em função do mercado de 14 toneladas-resistência a diversas espécies de
que desejavam atingir. fungos, bactérias e vírus, e ausência de alteração
No início da década de 2000, a cv. Casca Fina nos valores nutricionais das frutas. O peso médio
– CCF também foi registrada para cultivo (NASCI- da versão melhorada geneticamente fica entre 120
MENTO et al., 2003), mas a indisponibilidade de e 350 gramas-o tradicional tem média de 100 a 160
sementes e de um sistema organizado de produção gramas. Além disso, o novo maracujá tem cerca de
fez com que a mesma fosse cultivada apenas regio- 15% a mais de vitamina C e mais polpa.
nalmente, no PA, onde foi desenvolvida. Segundo informações oriundas da EMBRA-
Sementes das cultivares IAC tornaram-se PA-Cerrados, os impactos ambientais também foram
disponíveis em larga escala para os produtores, sendo reduzidos no processo produtivo desses maracujás.
comercializadas ininterruptamente de 2000 até os A diminuição do uso de defensivos agrícolas, pela
dias de hoje. A demanda tem sido crescente ano a incorporação de resistência múltipla a doenças,
ano, em função da qualidade e da produtividade que além de diminuir os resíduos, resultará na melhoria
atingem. Com garantia de origem, certificado de sa- e otimização do uso de recursos naturais pela maior
nidade e registradas no Ministério da Agricultura, as produção por unidade de área.
sementes têm sido adquiridas por produtores de todos Informações no site da EMBRAPA-Cerrados
os estados, o que resultou na ampliação significativa indicam que o híbrido de maracujazeiro-azedo
da produtividade. Em pomares que utilizam sementes BRS Gigante Amarelo é de alta produtividade. Nas
melhoradas, associadas à tecnologia de produção condições do Distrito Federal, por exemplo, a pro-
recomendada para a cultura, a produtividade passou dutividade tem alcançado 42 t/ha no primeiro ano,
da média nacional de 10 a 15 t/ha para os atuais 45- mesmo com ataque de virose. No segundo ano de
50 t/ha. produção, a produtividade fica em torno de 20 a 25
t/ha, dependendo do manejo. A coloração externa
3.2. NOVAS CULTIVARES – FOCO NA TOLE- dessa variedade é amarelo brilhante, e a polpa é de
RÂNCIA A DOENÇAS cor amarelo forte (maior quantidade de vitamina C).
Tem boa tolerância à antracnose e bacteriose, mas é
Com o passar dos anos, os pomares foram sen- suscetível à virose, verrugose e às doenças causadas
do afetados por muitas doenças. Por isso, tornou-se por patógenos de solo. Não há informação sobre
necessária a obtenção de cultivares com resistência maiores danos causados por pragas.
a moléstias, seja incorporando genes de resistência A BRS Ouro Vermelho é o híbrido de mara-
nas atuais cultivares-elite, seja no desenvolvimento cujazeiro-azedo com maior quantidade de vitamina
de novas cultivares. Os patógenos mais visados são C, com a polpa de cor amarelo forte (Figura 6). A

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produtividade, nas condições do Distrito Federal, tem mercializam as sementes de suas cultivares direta-
ficado em torno de 40 t/ha no primeiro ano, sem a mente, não havendo por isso em casas de produtos
polinização manual. É tolerante a doenças foliares, agropecuários. O objetivo é garantir a origem e a
incluindo a virose. Em diferentes locais, tem-se com- identidade do material, por serem híbridos cruzados
portado como tolerante, embora estirpes mais severas manualmente, em condições de telado, protegidos
tragam alterações no comportamento esperado. de contaminação por pólen estranho.
O híbrido BRS Sol do Cerrado também tem
coloração externa amarelo- brilhante e coloração de 3.3. OUTROS AVANÇOS
polpa amarelo forte (Figura 7), apresentando frutos
de grande tamanho. A produtividade nas condições do A enxertia do maracujá-amarelo sobre outras
Distrito Federal, assim como o BRS Ouro Vermelho, espécies não cultivadas, visando ao controle da
chega a 40 t/ha no primeiro ano, sem o uso de polini- morte prematura de plantas ou da fusariose é uma
zação manual. No segundo ano, a produtividade fica realidade. Uma tecnologia desenvolvida na UNESP-
em torno de 20 a 25 t/ha. Apresenta tolerância a do- -Jaboticabal, totalmente viável, sendo a enxertia
enças foliares, como bacteriose, antracnose e virose, hipocotiledonar a mais indicada. Para as regiões
mas é suscetível a doenças causadas por patógenos afetadas por patógenos de solo, plantas enxertadas
de solo (EMBRAPA, 2008). tornam o cultivo possível. Mas a aplicação do pro-
Esses híbridos não se adaptam a regiões cesso em escala comercial ainda tem-se mostrado
sujeitas a geada. Os três híbridos são resistentes ao antieconômica, devido à pequena disponibilidade das
transporte e permitem maior tempo de prateleira, por sementes das espécies porta-enxerto, além da dificul-
terem casca mais grossa que os outros híbridos do dade e irregularidade de germinação da maioria.
mercado, com bom rendimento da polpa. Seus frutos A biotecnologia tem apresentado diversas técnicas
são para a indústria e mesa. passíveis de utilização como ferramenta ao me-
O pesquisador Fábio Faleiro, integrante da lhoramento, sendo as transformações genéticas as
equipe que desenvolveu essas cultivares, considera mais bem-sucedidas. Plantas de maracujá-amarelo
que os híbridos da Embrapa Cerrados são bem adap- já foram transformadas geneticamente, visando à
tados à região do DF e entorno. “Essas cultivares são obtenção de cultivares resistentes ao endurecimento
importantes para a competitividade do maracujá bra- do fruto (VEFM). Para que estas plantas causem o
sileiro no cenário internacional”, afirmou, lembrando impacto esperado na produção como uma forma
que, apesar de o Brasil ser responsável por 80% da de controle eficiente para o VEFM e para o qual
produção mundial do fruto, não é o principal expor- não existem medidas de controle satisfatórias no
tador. Uma das vantagens da variedade BRS Ouro momento, é preciso a confirmação da resistência de
Vermelho destacadas por Faleiro é a maior tolerância amplo espectro de ação, com a inoculação de vários
à virose. Já a BRS Sol do Cerrado tem menor depen- isolados do vírus, ainda em curso (FALEIRO et al.,
dência da polinização manual (EMBRAPA, 2008). 2005; MONTEIRO-HARA et al., 2011).
O Instituto Agronômico (IAC) e a EMBRAPA co-
TABELA 1 - Evolução da área colhida (x 1.000 ha) com maracujá-amarelo no Brasil, e da produção brasileira
(x 1.000 t), no período de 1989 a 2009.
Brasil Área colhida Produção brasileira
(x 1.000 ha) (x 1.000 t)
1989 28.259 259
1990 25.329 317
1991 30.808 380
1992 32.617 418
1993 32.539 360
1995 38.522 405
1996 44.462 409
1998 33.012 298
1999 35.637 317
2000 33.428 331
2001 33.039 467

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AVANÇOS NA CULTURA DO MARACUJÁ NO BRASIL 87

2002 34.778 479


2003 34.994 485
2004 36.576 492
2005 35.820 480
2006 44.363 615
2007 46.866 664
2008 48.752 684
2009 50.795 713
Fonte: IBGE (AGRIANUAL, 2001); IBGE – Produção Agrícola Municipal (2009).

60.000

50.000

40.000

30.000 Série1

20.000

10.000

0
1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010

FIGURA 1- Oscilação da área colhida com maracujá no Brasil (ha), no período de 1989 a 2009.
Fonte: IBGE (2009).

FIGURA 2 – Frutos da cv. IAC 273 (Monte Alegre), desenvolvidos para o mercado de frutas frescas. Frutos
maiores e mais pesados, com homogeneidade.
Foto: L.M.M.MELETTI (2001).

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FIGURA 3 – Frutos da cv. IAC 277 (Jóia), desenvolvidos para o mercado de frutas frescas. Frutos homo-
gêneos, alta produtividade (45 a 50 t/ha).
Foto: L.M.M.MELETTI (2000).

FIGURA 4 – Frutos da cv. IAC 275 (Maravilha), desenvolvidos para a agroindústria. Frutos com casca fina,
cavidade interna completamente preenchida, alto teor de SST e maior rendimento em polpa.
Foto: L.M.M. MELETTI (2004)

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AVANÇOS NA CULTURA DO MARACUJÁ NO BRASIL 89

FIGURA 5 – Frutos da cv. IAC Paulista, maracujá-roxo. Frutos menos ácidos, desenvolvidos para exportação.
Foto: L.M.M.MELETTI (2007)

FIGURA 6 - BRS Ouro Vermelho é o híbrido de maracujá-azedo com maior quantidade de vitamina C.
Foto: Divulgação Embrapa

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FIGURA 7 - BRS Sol de Cerrado.


Foto: Divulgação EMBRAPA.

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