Avancos Na Fruticultura Tropical No Brasil
Avancos Na Fruticultura Tropical No Brasil
Avancos Na Fruticultura Tropical No Brasil
RESUMO - Os principais aspectos que marcaram a evolução técnica das culturas do abacaxizeiro, ma-
moeiro e maracujazeiro no Brasil foram discutidos. Em abacaxizeiro, tem-se constatado uma inovação no
sistema de comercialização da cv. Smooth Cayenne, que consiste no uso de caixas de papelão ondulado
para o mercado interno, cujo objetivo é propiciar uma garantia de sabor inserida em uma marca. O recente
lançamento de cultivares resistentes à fusariose, pela Embrapa (Imperial e Vitória) e IAC (Fantástico), traz
novas perspectivas de produtividade. Em maracujazeiro, a maior contribuição aos pomares foi dada pelo
melhoramento genético, inicialmente voltado apenas para ampliação da produtividade da cultura. No início
dos anos 2000, o lançamento das primeiras cultivares de maracujá - mais produtivas e com qualidade de
fruta diferenciada para os dois segmentos de mercado (frutas frescas e agroindústria), transformou o cenário
produtivo brasileiro. Com a criação de um sistema organizado de produção e comercialização de sementes e
mudas selecionadas, ampliou-se significativamente a qualidade dos pomares. Atualmente, a disponibilidade
de novas cultivares tolerantes à virose (VEFM) e cultivares regionais passou a representar um diferencial
para a cultura. Em mamoeiro, destaca-se a ocorrência do Mosaico do Mamoeiro (Monte Alto-SP, 1967),
que determinou a migração da cultura pelo Estado e sua expulsão para outros estados, até sua fixação na
Bahia e no Espírito Santo, os maiores produtores nacionais. Comparam-se as técnicas utilizadas nos dife-
rentes períodos de produção, antes e depois do surgimento do mosaico, que permitiram ao Brasil lançar-se
no mercado externo, tornando-se o maior exportador mundial de mamão, com lavouras produtivas e frutos
de ótima qualidade. Nesta evolução, soma-se a contribuição do melhoramento genético, que disponibilizou
sementes de alta qualidade, com reflexos nas práticas culturais e de propagação. São apresentadas de colheita
e de pós-colheita diferenciadas que resultaram em melhorias no padrão de qualidade das frutas exportadas
para o mercado europeu e norte-americano.
Termos de indexação: avanços na fruticultura, abacaxi, mamão, maracujá, tecnologia de produção.
ABSTRACT - The main aspects that defined the evolution of technical crops of pineapple, papaya and pas-
sion fruit in Brazil have been discussed. In pineapple, it has been observed an innovative commercialization
system of the Smooth Cayenne cultivar, which is the use of corrugated cardboard boxes for the domestic
market, whose aim is to provide a flavor guarantee introduced into a brand. The recent release of cultivars
resistant to fusariosis, by Embrapa (Imperial and Victoria) and IAC (Fantastico) brings new perspectives
for productivity. In passion fruit, the greatest contribution to the orchards was given by genetic breeding,
initially focused only to increase crop productivity. In the early 2000, the launch of the first cultivars of
passion fruit - more productive and with fruit quality distinguished for two different market segments (fresh
fruits and agribusiness), transformed the Brazilian productive scenario. By creating an organized system
of production and commercialization of selected seeds and seedlings, increased significantly the quality of
the orchards. Nowadays, the availability of new cultivars tolerant to virus (VEFM) and regional varieties
started to represent a difference for the culture. In papaya, stands out the occurrence of the Papaya Tree
Mosaic (Monte Alto, SP, 1967), which determined the migration of culture by the state and their expulsion
to other states, until its settling in Bahia and Espirito Santo, the largest national producers. It was compared
the techniques used in different production periods, before and after the emergence of the mosaic, which
allowed Brazil to set out on the international market, becoming the largest exporter of papaya, with produc-
1
Palestra Sinfruit 215 - Simpósio Internacional de Fruticultura - Avanços na Fruticultura (17 a 21 Outubro)
2
Dra., Pesquisadora Científica, INSTITUTO AGRONÔMICO, Caixa Postal 28, CEP 13.012-970, Campinas- SP.
E-mail: [email protected]
3
Dr., Professor Adjunto do Departamento de Ciências Biológicas/FC/UNESP, Caixa Postal 473, CEP 17033-360, Bauru-SP.
E-mail: [email protected]
4
Dr., Professor Emérito FCAV-UNESP, Via de Acesso Prof. Paulo D. Castellane, s/n. CEP 14.884-900, Jaboticabal-SP. Editor RBF.
E-mail: [email protected]
Rev. Bras. Frutic., Jaboticabal - SP, Volume Especial, e. 073-091, Outubro 2011
74 L. M. M. MELETTI et al.
tive crops and fruits of excellent quality. In this evolution, sum up the contribution of genetic improvement,
which provided high-quality seed with reflects on cultural practices and propagation. Different harvesting
and post-harvest techniques that result in improvements in the standard of quality of fruit exported to the
European market and the U.S. are presented.
Index terms: Fruitculture advances, pineapple, papaya, passion fruit, production technology.
Rev. Bras. Frutic., Jaboticabal - SP, Volume Especial, e. 073-091, Outubro 2011
AVANÇOS NA FRUTICULTURA TROPICAL NO BRASIL 75
da bromelina, enzima proteolítica empregada nas com etanol, porém há necessidade de se desenvolver
áreas alimentícia e farmacêutica, e importada pelo tecnologia para a purificação da enzima. Além do
Brasil da Alemanha e Suíça. Esta enzima poderia aspecto tecnológico, há necessidade de se obter infor-
ser extraída do subproduto da indústria de proces- mações mercadológicas, tais como: quanto o Brasil
samento de sucos ou do talo das culturas em campo importa de bromelina; qual o valor e a qualidade do
após a colheita das mudas. De acordo com Bertevello produto importado; em quais setores da economia o
(2011), o Brasil possui alguns trabalhos de pesquisa produto é empregado?
para a extração da bromelina pelo processo de reação
Foto: Sampaio (2009)
FIGURA 1- Cultivar IAC Gomo de Mel sob filme plástico preto em Rio Claro (SP).
Rev. Bras. Frutic., Jaboticabal - SP, Volume Especial, e. 073-091, Outubro 2011
76
1
Palestra Sinfruit 215 - Simpósio Internacional de Fruticultura - Avanços na Fruticultura (17 a 21 Outubro)
2
Prof. Emérito, FCAV/Unesp. [email protected]
3
Rubisco Sementes – genética em papaya. [email protected]
4
Prof. Titular, FCAV/Unesp, departamento de Tecnologia. [email protected]
Rev. Bras. Frutic., Jaboticabal - SP, Volume Especial, e. 073-091, Outubro 2011
MAMÃO, UMA HISTÓRIA DE SUCESSO 77
mento e feiras livres de todo o País. Apesar de, nesse da década de 70, continua, até o presente momento,
período, já não mais existir pomares de mamão no predominando no mercado nacional dos mamoeiros
Estado de São Paulo, ainda assim prevaleceu durante do grupo ‘Formosa’.
quase toda uma década o slogan da famosa marca: A despeito de os primeiros trabalhos com
“comprem o famoso mamão de Monte Alto”. hibridação no Brasil terem sido iniciados na década
de 70, através das pesquisas conjuntas do Dr. Dalmo
3. PRIMEIRAS INTRODUÇÕES DE SE- Giacometti e Dr. Luna Uzeda, contudo, somente em
MENTES MELHORADAS E AVANÇOS NO 2001 foram lançadas e disponibilizadas no mercado
MELHORAMENTO GENÉTICO sementes do primeiro híbrido nacional do grupo
‘Formosa’, fruto de parceria público-privada, deno-
Outro ponto catalisador destas mudanças minado “Calimosa’ e, mais recentemente, em 2011,
ocorreu entre 1972/1973, quando se verificou no Bra- foi lançada a público a primeira variedade do grupo
sil a importação das primeiras sementes da variedade ‘Formosa’, denominada ‘Rubi Incaper 511’.
‘Sunrise Solo’ oriundas do Havai-EUA. Esta culti-
var do grupo ‘Solo’, quando introduzida na região 4. PESQUISAS REALIZADAS E AÇÕES DE-
nordeste do Pará, apresentou elevada estabilidade e SENVOLVIDAS PELA PARCERIA PÚBLICO-
grande adaptabilidade às condições quentes e úmidas -PRIVADA
da região. Ressalta-se que a simples introdução da
cultivar ‘Sunrise Solo’ provocou uma significativa As grandes âncoras estimuladoras do notável
expansão da comercialização do fruto, devido à sua desenvolvimento da cultura do mamoeiro no Brasil,
grande aceitação, tanto no mercado nacional quanto e em especial do melhoramento genético da cultura,
no internacional (MARIN, informação pessoal, devem ser creditadas à necessidade da constante luta
2011). em obter respostas aos seguintes pontos:
Neste mesmo período, iniciaram-se, também, a) como lutar contra a doença do vírus do mosaico
as importações de sementes híbridas dos mamoeiros do mamoeiro?
do grupo ‘Formosa’, oriundas de Taiwan, de onde b) como proporcionar aos produtores brasileiros se-
ainda são até hoje importadas (SERRANO; CAT- mentes de ótima qualidade, com o ajuste nas técnicas
TANEO, 2010). de produção para altas produtividades?
A partir de 1982, verificou-se, no Brasil, uma c) como produzir frutas com qualidade para os mer-
grande evolução no melhoramento genético do ma- cados nacional e internacional?
moeiro no tocante ao desenvolvimento de variedades Inegavelmente, essas conquistas foram frutos
do grupo ‘Solo’, que atendessem tanto à demanda das condições básicas para os trabalhos de pesquisa
do mercado nacional quanto internacional. Nesse que se desenvolveram no Brasil a partir da metade do
sentido, foram introduzidas no mercado as seguintes século XX, por grupos que se formaram neste período.
variedades comerciais, com suas respectivas épocas Neste contexto, foi decisiva a participação da
de lançamento, fruto do contínuo trabalho das ini- Universidade Estadual Paulista, UNESP, Câmpus
ciativas públicas e privadas envolvidas no segmento de Jaboticabal-SP, que além do inúmero acervo de
do agronegócio do mamoeiro: publicações técnico-científicas, realizou, em 1980 e
1988, os dois primeiros Simpósios Brasileiros sobre
1.1.1. ‘Sunrise Solo 72/12’ (1982) a cultura do mamoeiro. Ressalta-se que esses dois
1.1.2. ‘Baixinho de Santa Amália’ (1986) eventos, que contaram com a participação dos mais
1.1.3. ‘Grampola’ (1988) renomados pesquisadores nacionais e internacionais
1.1.4. ‘Golden (1996) desta cultura, podem ser considerados como o marco
1.1.5. ‘Gran Golden’ (1997) introdutório do sucesso da implantação da cultura do
1.1.6. ‘Sunrise Solo BSA’ (1998) mamoeiro ‘Solo’ no Brasil.
1.1.7. ‘Golden MD 2’ (2001) A produção científica na área do mamão, das
1.1.8. ‘Golden THB’ (2004) Instituições brasileiras que trabalham com pesquisa
em fruticultura tropical, pode ser equiparada às das
Há que se ressaltar, contudo, que o mesmo Universidades internacionais, algumas com mais
avanço não se verificou no programa de melhora- de 400 anos. Devem ser considerados os trabalhos
mento genético no Brasil, visando à produção de desenvolvidos pela Universidade do Hawaii, cujas
híbridos nacionais como alternativa à importação publicações na década de 60 irradiaram a tecnologia
de sementes oriundas de Taiwan. Assim, o híbrido para a cultura do mamoeiro pelo mundo (RUGGIE-
‘Tainung 01’, que foi introduzido no Brasil, no início RO, 2009).
Rev. Bras. Frutic., Jaboticabal - SP, Volume Especial, e. 073-091, Outubro 2011
78 C. RUGGIERO et al.
Rev. Bras. Frutic., Jaboticabal - SP, Volume Especial, e. 073-091, Outubro 2011
MAMÃO, UMA HISTÓRIA DE SUCESSO 79
mas empresas deixam o fruto amadurecer na planta, mancha poderia estar relacionada aos baixos teores
o que exige cuidados no manuseio e uma cadeia de de cálcio nos frutos, enquanto Oliveira et al. (2002),
frio muito bem sincronizada, o que é divulgado nas aos fatores nutricionais que antecedem a colheita.
caixas como “fruto amadurecido na planta” e é mais Gomes Filho et al. (2008) apontaram seu aspecto
valorizado pelos consumidores, pois tem sabor mais sazonal e relacionaram-na com as épocas de maior
doce. amplitude térmica.
Este problema é muito pouco conhecido e
5.2 MOLÉSTIAS PÓS-COLHEITA está a merecer pesquisas e trabalhos integrados para
viabilizar seu controle a nível cientifico (GALLON,
Elas são responsáveis por grande parte das 2010).
perdas que ocorrem na pós-colheita, principalmente
como consequência do manuseio inadequado durante 5.4 CONSERVAÇÃO PÓS-COLHEITA
as operações de colheita, transporte, armazenamento
e comercialização (VIDIGAL et al., 1979). A temperatura do ambiente de conservação de
Entre as mais importantes, destaca-se a antrac- mamões tem sido utilizadao para controlar o ama-
nose, causada pelo fungo Colletotrichum gloeospo- durecimento desta fruta. Vidolin (1984) armazenou
rioides Pez (BERGAMIN; KIMATI, 1980). O uso de frutos de mamão ‘Sunrise-Solo’, colhidos maturos
fungicidas não tem possibilitado o controle eficiente ou com máximo desenvolvimento e coloração da
desta podridão, o que tem levado ao uso de outros casca verde-clara. Os armazenados a 30º C (94% UR)
tratamentos, tais como o térmico (BLEINROTH, conservaram-se por até 10 dias, mesmo tendo sido
1988b). tratados termicamente (49º C por 20 minutos) e com
A possibilidade do uso do tratamento com a aplicação de fungicida, dado o desenvolvimento
água quente para controlar a antracnose foi desco- intenso de podridões. Frutos tratados, quando arma-
berta em 1949, quando o Departamento de Fisiologia zenados a 22,4º C (74% UR), tiveram vida útil de 15
de Plantas da Universidade do Havaí, em cooperação dias, com baixa ocorrência de antracnose, enquanto
com o Departamento de Agricultura dos Estados os mantidos a 8,5º C (95-100%UR) apresentaram
Unidos (USDA), estudava um processo para a desin- problemas com injúria pelo frio ou “chilling” em 17
festação dos frutos que se destinavam a exportação. dias.
Tem-se recomendado a imersão dos frutos em água Aumento no tempo de conservação desta fruta
quente à 48º C por 20 minutos, à qual se adiciona a 10º C, que evita problemas com injúrias, mas per-
fungicida, ou ainda a 54º C por 3 minutos. A casa mite a continuidade do seu amadurecimento, tem sido
de embalagem também deve ser constantemente conseguido com o emprego de atmosfera controlada,
desinfestada com cloro a 70-100 ppm, pH 6,0-7,5 com baixos níveis de O2 (1-5%). O mamão não tolera
(RIVETTI, 1992; GAYET et al.,1995). níveis de CO2 acima de 1-2% (DELLA TOGNA,
O tratamento térmico do mamão, dentro da 1987; RIVETTI, 1992; MOSCA, 1992; GAYET et
tecnologia utilizada para poder exportá-lo, é um al., 1995; JACOMINO et al., 2002; CERQUEIRA-
procedimento utilizado pelas casas de embalagens -PEREIRA, 2009).
no Brasil, pois é o fator que assegura a garantia de A pequena resistência do mamão ao arma-
sanidade do mamão brasileiro no mercado exterior. zenamento pós-colheita e sua suscetibilidade a
temperaturas abaixo de 10º C e a ambiente com
5.3 DISTURBIOS FISIOLÓGICOS concentrações de CO2 acima de 1%, têm feito com
que se tenha procurado reduzir o tempo de viagem
O mamão apresenta uma série de distúrbios por navios no percurso entre o Brasil e a Europa ou
fisiológicos que podem afetar sua qualidade pós- América do Norte, plantando mamão no Estado do
-colheita, muitos dos quais determinados por fatores Rio Grande do Norte, o que reduz o tempo de viagem
pré-colheita como tratos culturais e condições eda- de 21-23 dias para 16-18 dias.
foclimaticas, ou fatores pós-colheita, como aqueci- O mamão papaia é uma fruta apreciada pela
mentos e frio usados inadequadamente. cor vermelha da polpa e sabor adocicado (GOMEZ et
Dentre estas, tem-se a mancha fisiológica do al., 1999; 2002). Este mamão é uma fruta climatérica,
mamão, que foi mencionada pela primeira vez por com picos de produção do etileno e de CO2 durante
Ishii e Holzmann (1963) em mamões cultivados no o amadurecimento (FABI et al., 2007). Contudo,
Havaí, as quais foram reconhecidas como desordem sua produção é afetada pelas perdas pós-colheita
fisiológica, a partir dos trabalhos de Chan e Toh decorrentes do excessivo amolecimento da polpa, que
(1988). Campostrini et al. (2005) sugeriram que esta favorece o ataque microbiano e os danos mecânicos.
Rev. Bras. Frutic., Jaboticabal - SP, Volume Especial, e. 073-091, Outubro 2011
80 C. RUGGIERO et al.
Vários estudos concentram-se nas modifi- familiares e possibilita a fixação da mão de obra nas
cações químicas das paredes celulares do mamão regiões produtoras (DURIGAN, 2000).
durante seu amadurecimento (MANRIQUE; LA- Este setor cresceu significativamente, abrindo
JOLO, 2002; 2004; SHIGA et al., 2009). Fabi et al. espaço para se ampliar as possibilidades de comercia-
(2009a; 2009b) isolaram uma sequência de cDNA lização do mamão e outras frutas, com valor agregado
de uma endopoligalacturonase (endoPG) de ma- relativamente alto (TEIXEIRA et al., 2001; SARZI,
mão papaia. Os estudos da expressão gênica e da 2002).
atividade enzimática sugeriram uma relação direta
entre o aumento de transcritos e atividade da enzima REFERÊNCIAS
endoPG e a diminuição da firmeza da polpa durante
o amadurecimento. BERGAMIN, F. A.; KIMATI, H. Doenças do ma-
O tratamento do mamão com 1-metilciclopro- moeiro – Carica papaya. In: Galli, F. et al. Manual
peno (1-MCP) pareceu ter inibido a enzima endoPG, de fitopatologia: doenças de plantas cultivadas. São
e, consequentemente, a polpa não amoleceu (FABI Paulo: Ceres, 1980. p.338-346.
et al., 2007, 2009b). A redução na despolimerização
da parede celular em frutos tratados com 1-MCP BLEINROTH, E.W. Determinação do ponto de co-
corroborou os resultados observados (SHIGA et al., lheita dos frutos. In BLEINROTH, E.W. Tecnologia
2009). de pós-colheita de frutas tropicais. Campinas:
Os estudos atuais abrangem a comparação do ITAL, 1988a. p. 1-19.
perfil de transcritos (transcriptoma) e de proteínas
(proteômica) de frutos verdes com frutos maduros. BLEINROTH, E.W. Preparo das frutas para comer-
Para tanto, algumas técnicas como cDNA-AFLP, cialização e frigo-conservação. In BLEINROTH,
Microarray, eletroforese bidimensional de proteínas, E.W. Tecnologia de pós-colheita de frutas tropi-
clonagem e expressão de proteínas e western blotting cais. Campinas: ITAL, 1988b. p. 51-64.
estão sendo utilizadas (NASCIMENTO et al., 2008).
Estudos de interação planta-patógeno também BRON, I. U. Amadurecimento do mamão ‘Gol-
estão sendo investigados, através da interação de den’: ponto de colheita, bloqueio da ação do etile-
proteínas endógenas do mamão papaia que inibem a no e armazenamento refrigerado. 2006. 66f. Tese
ação de poligalacturonases de fungos. Dessa manei- (Doutorado em Fitotecnia)- Escola Superior de
ra, através dos estudos já finalizados e dos estudos Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São
em andamento, busca-se relacionar a expressão de Paulo, Piracicaba, 2006.
alguns genes de enzimas-chave com as propriedades
adquiridas durante o amadurecimento do mamão BRON, I. U.; JACOMINO, A. P. Ripening and
papaia e que possam afetar, principalmente, a vida quality of ‘Golden’ papaya fruit harvested at dif-
de prateleira e a qualidade final do fruto. ferent maturity stages. Brazilian Journal of Plant
Physiology, Londrina, v.18, n.3, p.389-396, 2006.
5.5 PROCESSAMENTO MÍNIMO
CAMPOSTRINI, E.; LIMA, H. C.; OLIVEIRA, J.
A Associação Internacional de Produtos Mi- G. de; MONNERAT, P. H.; MARINHO, C. S. Teo-
nimamente Processados (IFPA) define os Produtos res de Ca e variáveis meteorológicas: relações com
Minimamente Processados como frutas ou hortaliças a incidência da mancha fisiológica do mamão no
que são modificadas fisicamente, mas que mantêm o norte fluminense. Bragantia, Campinas, v.64, n.4,
seu estado fresco (CANTWELL, 2000). Assim, é um p.601-613, 2005.
produto fresco, tornado conveniente, com qualidade
e garantia de sanidade (DURIGAN, 2000). CANTWELL, M. The dynamic fresh-cut sector of the
A possibilidade de processamento deste pro- horticultural industry. In: ENCONTRO NACIONAL
duto nas regiões produtoras tem contribuído para a SOBRE PROCESSAMENTO MÍNIMO DE FRU-
diversificação das indústrias regionais, reduzindo TAS E HORTALIÇAS, 2., 2000. Viçosa. Palestras...
as perdas pós-colheita, melhorando o manejo dos Viçosa: UFV, 2000. p.147-155.
resíduos, facilitando o transporte e eliminando pro-
blemas de ordem fitossanitária. Além disso, esta nova
opção aos produtores agrícolas permite maior apro-
veitamento da produção, agrega valor aos produtos,
é bastante adequada às micro e pequenas empresas
Rev. Bras. Frutic., Jaboticabal - SP, Volume Especial, e. 073-091, Outubro 2011
MAMÃO, UMA HISTÓRIA DE SUCESSO 81
CHAN, Y. K.; TOH, W. K. Resistance to papaya GARCIA, L.L. Fisiologia de pós-colheita, maturação
fruit freckles among three breeding lines and their controlada, armazenamento e transporte de mamão.
hybrids. Mardi Research Journal, Malasia, v.16, SIMPÓSIO BRASILEIRO SOBRE A CULTURA
p.103-107, 1988. DO MAMOEIRO, 1. Jaboticabal, 1980. Anais...
Piracicaba: Livroceres, 1980. p.253-260.
CHITARRA, M. I. F.; CHITARRA, A. B. Pós-co-
lheita de frutos e hortaliças: fisiologia e manuseio. GAYET, J. P.; BLEINROTH, E. W.; MATALLO, M.;
2. ed. Lavras: Ed. UFLA, 2005. 785p. GARCIA, E. E. C.; GARCIA, A. E.; ARDITO, E.
F. G.; BORDIN, M. R. Mamão para exportação:
DELLA TOGNA, C. dos R. Conservação pós-co- procedimentos de colheita e pós-colheita. Brasília:
lheita de mamões (Carica papaya L.), da cultivar FRUPEX, Embrapa-SPI, 1995. 38p.
Sunrise-Solo. 1987. 55f. Monografia (Graduação
em Agronomia) – Faculdade de Ciências Agrárias GOMEZ, M.L.P.A.; LAJOLO, F.M.; CORDENUN-
e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Ja- SI, B.R. Evolution of soluble sugars during ripening
boticabal, 1987. of papaya fruit and its relation to sweet taste. Journal
of Food Science, Chicago, v. 67, p. 442-447, 2002.
DURIGAN, J.F. O processamento mínimo de frutas.
In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICUL- GOMEZ, M.L.P.A.; LAJOLO, F.M.; CORDENUN-
TURA, 16., 2000, Fortaleza. Palestra... Fortaleza: SI, B.R. Metabolismo de carboidratos durante o ama-
Sociedade Brasileira de Fruticultura, 2000. 12p. durecimento do mamão (Carica papaya L. cv. Solo):
influência da radiação gama. Ciência e Tecnologia
FABI, J.P.; PERONI, F.H.G.; GOMEZ, M.L.P.A. de Alimentos, Campinas, v. 19, p. 246-252, 1999.
Papaya, mango and guava fruit metabolism during
ripening: postharvest changes affecting tropical fruit GOMES FILHO, A.; OLIVEIRA, J. G. de; VIANA,
nutritional content and quality. Fresh Produce, v. 1, A. P.; PEREIRA, M. G. Mancha fisiológica e produ-
p. 56-66, 2010. tividade do mamão ‘Tainung 01’: efeito da lâmina de
irrigação e cobertura do solo. Ciência e Agrotecno-
FABI, J.P.; LAJOLO, F.M.; NASCIMENTO, J.R.O. logia, Lavras, v.32, n.4, p.1161-1167, 2008.
Cloning and characterization of transcripts differ-
entially expressed in the pulp of ripening papaya. HINOJOSA, R. L.; MONTGOMERY, M. W. In-
Scientia Horticulturae, Amsterdam, v. 121, p. dustrialização do mamão. Aspectos bioquímicos
159-165, 2009a. e tecnológicos da produção de purê asséptico. In:
RUGGIERO, C. (Ed.). Mamão. Jaboticabal: FCAV-
FABI, J.P.; CORDENUNSI, B.R.; SEYMOUR, G.B.; UNESP, 1988. p.89-110.
LAJOLO, F.M.; NASCIMENTO, J.R.O. Molecular
cloning and characterization of a ripening-induced ISHII, M.; HOLTZMANN, O. V. Papaya mosaic
polygalacturonase related to papaya fruit softening. disease in Hawaii. Plant Disease Report, St. Paul,
Plant Physiology and Biochemistry, Paris, v. 47, v.47, p.947-951, 1963.
p. 1075-1081, 2009b.
JACOMINO, A. P.; KLUGE, R A.; BRACKMAN,
FABI, J. P.; CORDENUNSI, B. R.; BARRETO, G. P. A.; CAMARGO e CASTRO, P.R. Amadurecimento
M.; MERCADANTE, A. Z.; LAJOLO, F. M.; NAS- e senescência de mamão com 1-metilciclopropeno.
CIMENTO, J. R. do. Papaya fruit ripening: response Scientia Agricola, Piracicaba, v.59, n.2, p.303-308,
to ethylene and 1-methylciclopropene. Journal of 2002.
Agricultural and Food Chemistry, Washington,
v.55, p.6118-6123, 2007.
Rev. Bras. Frutic., Jaboticabal - SP, Volume Especial, e. 073-091, Outubro 2011
82 C. RUGGIERO et al.
MANRINQUE, G.D.; LAJOLO, F.M. Cell-wall RUGGIERO, C.; DURIGAN, J. F.; NATALE, W.;
polysaccharide modifications during postharvest OLIVEIRA, C. A. L. de; BENASSI, A. C. Mamão.
ripening of papaya fruit (Carica papaya). Posthar- In: DONADIO, L.C. (Org.). História da fruticul-
vest Biology and Technology, Amsterdan, v. 33, p. tura paulista. Jaboticabal: Sociedade Brasileira de
11-26, 2004. Fruticultura, 2010. p. 210-234.
MANRINQUE, G.D.; LAJOLO, F.M. FT-IR spec- SARZI, B. Conservação de abacaxi e mamão mini-
troscopy as a tool for measuring degree of methyl mamente processados: associação entre o preparo,
esterification in pectins isolated from ripening pa- a embalagem e a temperatura de armazenamento.
paya fruit. Postharvest Biology and Technology, 2002. 100f. Dissertação (Mestrado em Agronomia)
Amsterdan, v. 25, p. 99-107, 2002. – Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias –
Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, 2001.
MEDINA, J.C.; SALOMON, E.A.G.; VIEIRA, L.F.;
RENESTO, O.V.; FIGUEIREDO, N.M.S.; CANTO, SERRANO, L.A.L.; CATTANEO, L.F.O cultivo do
W.L. Mamão: da cultura ao processamento e co- mamoeiro no Brasil. Revista Brasileira de Fruti-
mercialização. Campinas: ITAL, 1980. 244p. (Série cultura, Jaboticabal, v.32, n.3, 2010. Texto de capa.
Frutas Tropicais, 7)
SHIGA, T.M.; FABI, J.P.; NASCIMENTO, J.R.O.;
NASCIMENTO, J. R. O.; FABI, J. P.; CORDENUN- PETKOWICZ, C.L.O.; VRIESMANN, L.C.; LA-
SI, B. R.; LAJOLO, F. M. Aplicação de Differential JOLO, F.M.; CORDENUNSI, B.R. Changes in cell
Display e cDNA-AFLP na análise da expressão gêni- wall composition associated to the softening of ripen-
ca durante o amadurecimento do mamão papaia (Ca- ing papaya: evidence of extensive solubilization of
rica papaya). In: NASCIMENTO, L.M.; NEGRI, large molecular mass galactouronides. Journal of
J.D.; MATTOS JUNIOR, D. (Org.). Pós-colheita de Agricultural and Food Chemistry, Easton, v. 57,
frutas. Campinas: Instituto Agronômico e Fundag, p. 7064-7071, 2009.
2008. p. 34-47.
TEIXEIRA, G.H.A.; DURIGAN, J.F.; MATTIUZ,
OLIVEIRA, J. G.; CAMPOSTRINI, E.; BRESSAN- B.; ROSSI JUNIOR, O.D. Processamento mínimo
-SMITH, R.; CUNHA, M. da; TORRES NETTO, A.; de mamão ‘Formosa’. Ciência e Tecnologia de Ali-
COSTA, E. S.; COUTINHO, K. S.; GOMES, M. M. mentos, Campinas, v.21, n.1, p.47-50, 2001.
A.; Conservação pós-colheita do mamão (Carica
papaya L.): aplicação de filmes plásticos associados VIDIGAL, J. C.; SIGRIST, J. M. M.; SHIROSE, I.;
à refrigeração. 1992. 41f. . Monografia (Graduação YOKOMIZO, N.; MEDINA, J. C. Controle fitossa-
em Agronomia) – Faculdade de Ciências Agrárias e nitário do mamão após a colheita. Boletim do ITAL,
Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Jabo- Campinas, v.16, n.4, p. 443-458, 1979.
ticabal, 1992.
VIDOLIN, F. C. O. Conservação pós-colheita
RIVETTI, A. Conservação pós-colheita do mamão de frutos do mamoeiro Carica papaya L, cv
(Carica papaya L.): aplicação de filmes plásticos Sunrise-Solo. 1984. 59f. Monografia (Graduação
associados à refrigeração. 1992. 41f. . Monografia em Agronomia) - Faculdade de Ciências Agrárias e
(Graduação em Agronomia) – Faculdade de Ciências Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Jabo-
Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Pau- ticabal, 1984.
lista, Jaboticabal, 1992.
WARDLAW, C.W.; LEONARD, E.R. The storage
RUGGIERO, C. O potencial da fruticultura para and physiology of tropical fruits. Tropical Agricul-
o século XXI: cultura da goiaba do plantio à co- ture, Surrey, v.12, n.12, p.313-319, 1935.
mercialização. Jaboticabal: Sociedade Brasileira de
Fruticultura, 2009. v.1, p.13-26.
Rev. Bras. Frutic., Jaboticabal - SP, Volume Especial, e. 073-091, Outubro 2011
83
Palestra Sinfruit 215 - Simpósio Internacional de Fruticultura - Avanços na Fruticultura (17 a 21 Outubro)
1
Dra., Pesquisadora Científica, INSTITUTO AGRONÔMICO, Caixa Postal 28, CEP 13.012-970, Campinas-SP.
2
E-mail: [email protected]
Rev. Bras. Frutic., Jaboticabal - SP, Volume Especial, e. 073-091, Outubro 2011
84 L. M. M. MELETTI
Rev. Bras. Frutic., Jaboticabal - SP, Volume Especial, e. 073-091, Outubro 2011
AVANÇOS NA CULTURA DO MARACUJÁ NO BRASIL 85
maracujá – híbridos mais produtivos e com qualida- aqueles que causam moléstias de ocorrência gene-
de de fruta diferenciada para os dois segmentos de ralizada, algumas de âmbito nacional. Em algumas
mercado (frutas frescas e agroindústria)-transformou regiões com histórico de incidência, há moléstias
o cenário produtivo brasileiro. Com a criação de um limitantes para a cultura, nos casos em que não se
sistema organizado de produção e comercialização de conhece controle químico eficiente e/ou econômico
sementes das cultivares IAC e mudas selecionadas, para elas, até o momento. Destacam-se: virose do
ampliaram-se significativamente a qualidade e a endurecimento dos frutos (woodness), bacteriose
produtividade dos pomares. (Xanthomonas axonopodis pv. passiflorae) e fusa-
Esses híbridos foram lançadas em 1999 pelo riose (Fusarium oxysporum).
Instituto Agronômico (IAC), para atender à espe- Três novos maracujás híbridos foram obtidos
cialização do mercado. Frutas para o mercado in por meio das pesquisas da EMBRAPA - Cerrados
natura precisam ser maiores e mais pesadas, com (Planaltina-DF), sendo plantados em fase experimen-
homogeneidade, para facilitar a classificação dos tal desde o lançamento, ocorrido em 2008 durante
frutos. A cultivar de agroindústria deve ter maior o XX Congresso Brasileiro de Fruticultura (Vitória-
rendimento em polpa, maior teor de sólidos solúveis -ES). Com os primeiros resultados, os pesquisadores
totais (SST), polpa de coloração mais intensa e casca consideraram que as frutas geneticamente modifica-
mais fina. Surgiram, então, cultivares direcionadas das, BRS Gigante Amarelo, BRS Sol do Cerrado e
a cada segmento, cv. IAC 273 (Monte Alegre) e cv. BRS Ouro Vermelho apresentam diversas vantagens
IAC 277 (Joia) - Figuras 2 e 3, para frutas frescas, e quando comparadas às tradicionais (EMBRAPA,
cv. IAC 275 (Maravilha), para agroindústria (Figura 2008). Pôde ser observada alta produtividade,
4), com características distintas (MELETTI, 2000; com colheitas superiores a 50 toneladas anuais por
MELETTI et al., 2005). Os produtores puderam, as- hectare-a média das convencionais não híbridas é
sim, direcionar sua produção em função do mercado de 14 toneladas-resistência a diversas espécies de
que desejavam atingir. fungos, bactérias e vírus, e ausência de alteração
No início da década de 2000, a cv. Casca Fina nos valores nutricionais das frutas. O peso médio
– CCF também foi registrada para cultivo (NASCI- da versão melhorada geneticamente fica entre 120
MENTO et al., 2003), mas a indisponibilidade de e 350 gramas-o tradicional tem média de 100 a 160
sementes e de um sistema organizado de produção gramas. Além disso, o novo maracujá tem cerca de
fez com que a mesma fosse cultivada apenas regio- 15% a mais de vitamina C e mais polpa.
nalmente, no PA, onde foi desenvolvida. Segundo informações oriundas da EMBRA-
Sementes das cultivares IAC tornaram-se PA-Cerrados, os impactos ambientais também foram
disponíveis em larga escala para os produtores, sendo reduzidos no processo produtivo desses maracujás.
comercializadas ininterruptamente de 2000 até os A diminuição do uso de defensivos agrícolas, pela
dias de hoje. A demanda tem sido crescente ano a incorporação de resistência múltipla a doenças,
ano, em função da qualidade e da produtividade que além de diminuir os resíduos, resultará na melhoria
atingem. Com garantia de origem, certificado de sa- e otimização do uso de recursos naturais pela maior
nidade e registradas no Ministério da Agricultura, as produção por unidade de área.
sementes têm sido adquiridas por produtores de todos Informações no site da EMBRAPA-Cerrados
os estados, o que resultou na ampliação significativa indicam que o híbrido de maracujazeiro-azedo
da produtividade. Em pomares que utilizam sementes BRS Gigante Amarelo é de alta produtividade. Nas
melhoradas, associadas à tecnologia de produção condições do Distrito Federal, por exemplo, a pro-
recomendada para a cultura, a produtividade passou dutividade tem alcançado 42 t/ha no primeiro ano,
da média nacional de 10 a 15 t/ha para os atuais 45- mesmo com ataque de virose. No segundo ano de
50 t/ha. produção, a produtividade fica em torno de 20 a 25
t/ha, dependendo do manejo. A coloração externa
3.2. NOVAS CULTIVARES – FOCO NA TOLE- dessa variedade é amarelo brilhante, e a polpa é de
RÂNCIA A DOENÇAS cor amarelo forte (maior quantidade de vitamina C).
Tem boa tolerância à antracnose e bacteriose, mas é
Com o passar dos anos, os pomares foram sen- suscetível à virose, verrugose e às doenças causadas
do afetados por muitas doenças. Por isso, tornou-se por patógenos de solo. Não há informação sobre
necessária a obtenção de cultivares com resistência maiores danos causados por pragas.
a moléstias, seja incorporando genes de resistência A BRS Ouro Vermelho é o híbrido de mara-
nas atuais cultivares-elite, seja no desenvolvimento cujazeiro-azedo com maior quantidade de vitamina
de novas cultivares. Os patógenos mais visados são C, com a polpa de cor amarelo forte (Figura 6). A
Rev. Bras. Frutic., Jaboticabal - SP, Volume Especial, e. 073-091, Outubro 2011
86 L. M. M. MELETTI
produtividade, nas condições do Distrito Federal, tem mercializam as sementes de suas cultivares direta-
ficado em torno de 40 t/ha no primeiro ano, sem a mente, não havendo por isso em casas de produtos
polinização manual. É tolerante a doenças foliares, agropecuários. O objetivo é garantir a origem e a
incluindo a virose. Em diferentes locais, tem-se com- identidade do material, por serem híbridos cruzados
portado como tolerante, embora estirpes mais severas manualmente, em condições de telado, protegidos
tragam alterações no comportamento esperado. de contaminação por pólen estranho.
O híbrido BRS Sol do Cerrado também tem
coloração externa amarelo- brilhante e coloração de 3.3. OUTROS AVANÇOS
polpa amarelo forte (Figura 7), apresentando frutos
de grande tamanho. A produtividade nas condições do A enxertia do maracujá-amarelo sobre outras
Distrito Federal, assim como o BRS Ouro Vermelho, espécies não cultivadas, visando ao controle da
chega a 40 t/ha no primeiro ano, sem o uso de polini- morte prematura de plantas ou da fusariose é uma
zação manual. No segundo ano, a produtividade fica realidade. Uma tecnologia desenvolvida na UNESP-
em torno de 20 a 25 t/ha. Apresenta tolerância a do- -Jaboticabal, totalmente viável, sendo a enxertia
enças foliares, como bacteriose, antracnose e virose, hipocotiledonar a mais indicada. Para as regiões
mas é suscetível a doenças causadas por patógenos afetadas por patógenos de solo, plantas enxertadas
de solo (EMBRAPA, 2008). tornam o cultivo possível. Mas a aplicação do pro-
Esses híbridos não se adaptam a regiões cesso em escala comercial ainda tem-se mostrado
sujeitas a geada. Os três híbridos são resistentes ao antieconômica, devido à pequena disponibilidade das
transporte e permitem maior tempo de prateleira, por sementes das espécies porta-enxerto, além da dificul-
terem casca mais grossa que os outros híbridos do dade e irregularidade de germinação da maioria.
mercado, com bom rendimento da polpa. Seus frutos A biotecnologia tem apresentado diversas técnicas
são para a indústria e mesa. passíveis de utilização como ferramenta ao me-
O pesquisador Fábio Faleiro, integrante da lhoramento, sendo as transformações genéticas as
equipe que desenvolveu essas cultivares, considera mais bem-sucedidas. Plantas de maracujá-amarelo
que os híbridos da Embrapa Cerrados são bem adap- já foram transformadas geneticamente, visando à
tados à região do DF e entorno. “Essas cultivares são obtenção de cultivares resistentes ao endurecimento
importantes para a competitividade do maracujá bra- do fruto (VEFM). Para que estas plantas causem o
sileiro no cenário internacional”, afirmou, lembrando impacto esperado na produção como uma forma
que, apesar de o Brasil ser responsável por 80% da de controle eficiente para o VEFM e para o qual
produção mundial do fruto, não é o principal expor- não existem medidas de controle satisfatórias no
tador. Uma das vantagens da variedade BRS Ouro momento, é preciso a confirmação da resistência de
Vermelho destacadas por Faleiro é a maior tolerância amplo espectro de ação, com a inoculação de vários
à virose. Já a BRS Sol do Cerrado tem menor depen- isolados do vírus, ainda em curso (FALEIRO et al.,
dência da polinização manual (EMBRAPA, 2008). 2005; MONTEIRO-HARA et al., 2011).
O Instituto Agronômico (IAC) e a EMBRAPA co-
TABELA 1 - Evolução da área colhida (x 1.000 ha) com maracujá-amarelo no Brasil, e da produção brasileira
(x 1.000 t), no período de 1989 a 2009.
Brasil Área colhida Produção brasileira
(x 1.000 ha) (x 1.000 t)
1989 28.259 259
1990 25.329 317
1991 30.808 380
1992 32.617 418
1993 32.539 360
1995 38.522 405
1996 44.462 409
1998 33.012 298
1999 35.637 317
2000 33.428 331
2001 33.039 467
Rev. Bras. Frutic., Jaboticabal - SP, Volume Especial, e. 073-091, Outubro 2011
AVANÇOS NA CULTURA DO MARACUJÁ NO BRASIL 87
60.000
50.000
40.000
30.000 Série1
20.000
10.000
0
1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010
FIGURA 1- Oscilação da área colhida com maracujá no Brasil (ha), no período de 1989 a 2009.
Fonte: IBGE (2009).
FIGURA 2 – Frutos da cv. IAC 273 (Monte Alegre), desenvolvidos para o mercado de frutas frescas. Frutos
maiores e mais pesados, com homogeneidade.
Foto: L.M.M.MELETTI (2001).
Rev. Bras. Frutic., Jaboticabal - SP, Volume Especial, e. 073-091, Outubro 2011
88 L. M. M. MELETTI
FIGURA 3 – Frutos da cv. IAC 277 (Jóia), desenvolvidos para o mercado de frutas frescas. Frutos homo-
gêneos, alta produtividade (45 a 50 t/ha).
Foto: L.M.M.MELETTI (2000).
FIGURA 4 – Frutos da cv. IAC 275 (Maravilha), desenvolvidos para a agroindústria. Frutos com casca fina,
cavidade interna completamente preenchida, alto teor de SST e maior rendimento em polpa.
Foto: L.M.M. MELETTI (2004)
Rev. Bras. Frutic., Jaboticabal - SP, Volume Especial, e. 073-091, Outubro 2011
AVANÇOS NA CULTURA DO MARACUJÁ NO BRASIL 89
FIGURA 5 – Frutos da cv. IAC Paulista, maracujá-roxo. Frutos menos ácidos, desenvolvidos para exportação.
Foto: L.M.M.MELETTI (2007)
FIGURA 6 - BRS Ouro Vermelho é o híbrido de maracujá-azedo com maior quantidade de vitamina C.
Foto: Divulgação Embrapa
Rev. Bras. Frutic., Jaboticabal - SP, Volume Especial, e. 073-091, Outubro 2011
90 L. M. M. MELETTI
BERNACCI, L.C. Passifloraceae. In: WANDER- MELETTI, L.M.M. Maracujá ‘Joia’ (IAC-277),
LEY, M.G.L.; SHEPHERD, G.J.; GIULIETTI, A.M.; ‘Maracujá-Maçã’, ‘Maracujá-Maravilha’ (IAC-275),
MELHEM, T.S. (Ed.). Flora fanerogâmica do ‘Maracujá-Monte-Alegre’ (IAC-273). In: DONA-
Estado de São Paulo. São Paulo: RiMa, FAPESP, DIO, L.C. (Ed.). Novas variedades brasileiras de
2003. v.3, p. 247-248. frutas. Jaboticabal: Sociedade Brasileira de Fruti-
cultura, 2000. p. 152-159.
EMBRAPA. Notícias. 2008. Disponível em: < www.
embrapa.br/notícias>. Acesso em : 30 jun. 2011. MELETTI, L.M.M.; BRÜCKNER, C.H. Melhora-
mento Genético. In: BRÜCKNER, C.H.; PICANÇO,
FALEIRO, F.G; JUNQUEIRA, N.T.V.; BRAGA, M.C. Maracujá: tecnologia de produção, pós-co-
M.F. Maracujá: germoplasma e melhoramento lheita, agroindústria, mercado. Porto Alegre: Cinco
genético. Planaltina: EMBRAPA Cerrados, 2005.v. Continentes, 2001. p. 345-385.
1, 677 p.
MELETTI, L.M.M.; OLIVEIRA, J.C.; RUGGIERO,
FERRAZ, J.V.; LOT, L. Fruta para consumo in natu- C. Maracujá. Jaboticabal: FUNEP, 2010. (Série
ra tem boa perspectiva de renda. In: AGRIANUAL Frutas Nativas, 6.)
2007: anuário da agricultura brasileira. Maracujá.
São Paulo: FNP Consultoria e Comércio, 2006. p. MELETTI, L.M.M ; SOARES-SCOTT, M. D.; BER-
387-388. NACCI, L.C.; PASSOS, I. R. da S. . Melhoramento
genético do maracujá: passado e futuro. In: FALEI-
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. RO, F.G.; JUNQUEIRA, N. T. V.; BRAGA, M.F.
Maracujá: área plantada e quantidade produzida. (Org.). Maracujá: germoplasma e melhoramento
Brasília, 2009. (Produção Agrícola Municipal, 2009). genético. Planaltina: EMBRAPA CERRADOS,
Disponível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br>. 2005. v. 1, p. 55-78.
Acesso em: 20 jun. 2011.
Rev. Bras. Frutic., Jaboticabal - SP, Volume Especial, e. 073-091, Outubro 2011
AVANÇOS NA CULTURA DO MARACUJÁ NO BRASIL 91
MONTEIRO-HARA, A.; JADÃO, A.S.; MEN- RIZZI, L.C.; RABELLO, L. A.; MOROZINI FI-
DES, B .M.J.; TREVISAN, F.; REZENDE, J.A.M.; LHO, W.; SAVASAKI, E.T.; KAVATI, R. Cultura
VIEIRA, M.L.C.; MELETTI, L.M.M.; PIEDADE, do maracujá-azedo. Campinas: Coordenadoria
S.M.S. Genetic Transformation of Passionflower and de Assistência Técnica Integral, SAA, 1998. 23 p.
Evaluation of R1 and R2 Generations for Resistance (Boletim Técnico, 235).
to Cowpea aphid borne mosaic virus. Plant Disease,
St Paul, v. 95, n.8, p. 1021-1025, 2011. RUGGIERO, C. (Ed.). Cultura do maracujazeiro.
Ribeirão Preto: Legis Summa, 1987. p.218-246.
NASCIMENTO, W.M.O.; TOMÉ, A.T.; OLIVEIRA,
M.S.P. de; MULLER, C.H.; CARVALHO, J.E.U
. Seleção de progênies de maracujazeiro-amarelo
(Passiflora edulis f. flavicarpa) quanto à qualidade
de frutos. Revista Brasileira de Fruticultura,
Jaboticabal, v. 25, n.1, p.186-188, 2003.
Rev. Bras. Frutic., Jaboticabal - SP, Volume Especial, e. 073-091, Outubro 2011