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segunda-feira, 22 de março de 2010

Não confio mais no sedex


Há dias tento escrever este texto, mas não consigo. Não sei se devido à minha frustração com o assunto, ao fato de eu chorar toda a vez em que penso nele, à minha profunda sensação de impotência... Vou tentar mais uma vez vencer o bloqueio, e escrever.

Aconteceu comigo: enviei por sedex, de Maceió para Salvador, quatro livros originais escritos nas décadas de 1940 e 1950 pela poeta Jacinta Passos, minha mãe: Nossos poemas, Canção da partida, Poemas políticos e A Coluna. Os leitores deste blog sabem que preparo a edição completa da obra dela, acompanhada de biografia e fortuna crítica, a ser publicada em breve pelas editoras da EDUFBA e Corrupio. A certo momento dos trabalhos, foi necessário comparar os poemas originais dos livros com o texto em page maker, pois nessa transposição costumam acontecer mudanças nos espaços entre as estrofes.

Enviei então os livros de minha mãe para a editor Bete Capinan, em Salvador. Havia pressa, e eu não tinha por que me preocupar, pois sempre confiei nos Correios, principalmente no sedex, serviço que cobra caro justamente para entregar as encomendas rápido e em segurança.

Então começou meu pesadelo. Alertada por Bete de que o pacote não chegara, rastreei-o no site dos Correios, encontrando a informação de que havia sido encaminhado para refugo. Por telefone, fui informada de que, para os Correios, “refugo” quer dizer encomenda encaminhada para… destruição! Sem entender nada e apavorada, liguei imediatamente para Bete, pedindo a ela que fosse rápido à agência dos Correios em Salvador, pois os livros poderiam ser destruídos a qualquer momento, sem que nem soubéssemos por quê. Ela não pôde fazer muito: os Correios consideram que, até ser entregue, a correspondência pertence ao remetente, não ao destinatário, e portanto apenas eu, não ela, tinha direito a saber algo. O argumento lógico de que eu me encontrava em outra cidade, e ela, destinatária, igualmente interessada na encomenda, é que estava ali em Salvador, não sensibilizou ninguém. Graças apenas a uma boa conversa pessoal, Bete conseguiu que uma funcionária procurasse e lhe mostrasse a caixa onde eu havia enviado os livros: estava despedaçada e, dentro dela, havia um… relógio!

Nesse meio tempo, eu preenchia no site dos Correios um “pedido de informação”, a única providência que um usuário que se sente lesado pode tomar, acreditem. E deveria aguardar 5 dias úteis pela resposta dos Correios. Essa resposta só chegou muito depois do tempo previsto (os Correios alegaram que mandaram a resposta por e-mail, mas o fato é que não a recebi). Acionar a Ouvidoria do órgão também de nada ajudou, pois não obtive resposta ao meu pleito.

Para encurtar a história, os Correios me informaram que meus preciosos livros – publicados há mais de 50 anos, em edições esgotadíssimas, e que para mim têm um valor sentimental incalculável, pois foram escritos por minha mãe, já morta – foram roubados do caminhão (isto mesmo, caminhão, embora haja voos diários entre as cidades) que os transportava pelos 600 km que separam Maceió de Salvador. Esse serviço de entrega por caminhão – que, fiquei sabendo, é usado em várias partes do Brasil – é terceirizado. O grande argumento dos funcionários dos Correios que comigo conversavam por telefone era: “Mas o roubo não aconteceu nas dependências dos Correios!”, como se a instituição não fosse a responsável pela entrega final do pacote. E ainda comentavam: “Pois é, minha senhora, este país está uma coisa horrível mesmo, cheio de assaltos...”

Enquanto eu estava na agência daqui me informando sobre o assunto (quantas horas, quantos dias perdidos de pura tensão, para nada!), vi um funcionário dos Correios – ou de empresa terceirizada, não sei – recolher o sedex daquele dia da agência: ele, que dirigia uma perua como a da imagem deste texto, estacionou em frente á agência, abriu as portas da perua – deixando à mostra os outros pacotes que lá estavam – e entrou na agência, passando a carregar para a perua, um a um, os pesados sacos contendo as encomendas sedex. Ao terminar, fechou as portas do veículo, retomou o volante e partiu para repetir a mesma tarefa em outra agência. Nem ele nem a carga (muitas com objetos de valor, todo mundo sabe disso) recebiam qualquer proteção.

O que eu posso fazer? Segundo os Correios, levar cópias de vários documentos meus até a agência onde postei o pacote, preencher lá minucioso formulário, e aguardar até que me devolvam o dinheiro que gastei na postagem, acompanhado de cinquenta reais. É, cinquenta reais.

Decidi acionar judicialmente os Correios. Meu interesse não é tanto o valor pecuniário que acho que me devem por não terem cumprido seus serviços (minha perda é incalculável), mas o fato de – descobri ao conversar com diversas pessoas sobre o assunto – os desvios de encomendas sedex serem hoje frequentes. Muita gente, de vários estados, me contou ter passado pelo mesmo problema. Suas perdas foram enormes – desde objetos de valor, como laptops, que por isso mesmo foram enviados por sedex, até perda de inscrição em concurso público, passando pelo extravio de um remédio urgente, destinado a alguém que muito precisava dele.

Pelo que me foi dito, os desvios de cargas do sedex têm sido constantes. Acho que os Correios devem ser responsabilizados por isso, para tomarem uma providência. Acho que todos os prejudicados devem entrar na Justiça, por mais aborrecido e tenso e trabalhoso que isso seja. Pois pode ser a única brecha que nos deixaram para chamar à consciência uma instituição que já foi sinônimo de qualidade no Brasil, e hoje pode deixar de cumprir obrigações, lesando seus usuários, como aconteceu comigo.

Eu não confio mais no sedex.

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