A genialidade do jumento conjugada com a sua triste ignorância pesa na albarda quente e desconfortável. O vício maduro de uma tarde mal dormida contrasta com os kilos que arrasta pelos carreiros de pedra. Os cascos empoeirados, às vezes ensanguentados movem-se pesarosamente, há espera de um fim que tarda em chegar. O tormento sufocante envenena, e o sinuoso destino desagua no abismo. Ele move se contudo, ao som mórbido das chicotadas, a teimosia impele-o a continuar, magro, sozinho, triste.
O que sente quando a esperança falta? Saberá concerteza que esta prolonga o tormento, e segue voraz em busca do descanso, do fim, e esta procura parece-lhe tão eterna como o seu destino, e tão efémera como o cheiro nauseabundo que servirá de alimento à morte. Tudo se resumirá a esse momento, o momento de deixar de ouvir o chicote, de deixar de sentir as esporas, e se deixar cair na terra que apesar de seca sempre foi o seu sustento. Voltar para ela é tudo o que quer, nunca de lá devia ter saído.
A sua genialidade ficou perdia algures por aí, no dia em que nasceu!
terça-feira, 25 de novembro de 2008
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