O Alentejo é aquela região de Portugal que despertou para o estudo da biodiversidade apenas muito recentemente. É que por um lado a riqueza, a aristocracia (as pessoas que têm tempo) e efectivamente a maior parte da população sempre viveu ou na franja litoral entre Lisboa e o Porto ou então no norte do país. A proximidade a esses locais mais húmidos e ou montanhosos e luxuriantes e a distância enorme para uma região deprimida economicamente e pouco acidentada em tudo dificultaram o estudo da rica fauna e flora que existe no Alentejo.
Foi apenas com o despertar do Algarve em meados do século XX como destino turístico que as vias começaram a ser melhoradas e tornou-se mais fácil aí chegar. Apesar de ser "apenas uma vasta zona plana" no caminho das praias algarvias, devagarinho se começou a olhar mais para os tesouros escondidos do Alentejo.
Longe de ser apenas a vasta planície de erva doirada onde o pôr-do-sol de final de Verão não deve nada ao tipicamente africano, pautada pela ocasional azinheira ou o altivo "Monte", o Alentejo possui uma variedade de habitats e ecossistemas notável fruto da sua extensão e micro-climas, das diferentes práticas agrícolas e da imensamente variada geologia.
No que diz respeito às borboletas, que como me canso de dizer, são um dos melhores grupos que podemos estudar para avaliar o estado de saúde dos ecossistemas apenas muito recentemente se tem prestado alguma atenção ao Alentejo: é uma região enorme, fracamente povoada, há poucos borboletólogos e é preciso algum engenho e arte para encontrar borboletas que pela secura que pauta esta região têm períodos de voo algo ajustados aos fugazes períodos mais favoráveis, entre o final do Inverno e Junho e no final do Outono: o Verão é geralmente tórrido e o Inverno húmido e frio.
Nos últimos anos eu, o Dinis Cortes e o Ivo Rodrigues temo-nos dedicado a tentar saber que espécies de borboletas nocturnas existem no Alentejo profundo e sempre que possível têm se feito sessões de armadilhamento para assim podermos estudar uma interessante fauna tipicamente mediterrânica e ainda desconhecida. Temos tido também a ajuda / companhia frequente de inúmeros colegas e amigos que tornam tudo mais especial.
No passado inicio de Abril lá fui eu, o habitual Dinis Cortes e o Fernando Romão tentar armadilhar numa zona a sul de Serpa, perto do Pulo do Lobo onde nunca antes se havia armadilhado por borboletas nocturnas. Trata-se de uma zona de meia encosta perto da Ribeira de Limas. Estávamos rodeados de matagal mediterrânico de estevas e azinheiras sobre substrato de xistos, habitat que não sendo demasiado rico é típico de uma vasta área no sul de Portugal.
Dinis Cortes e Fernando Romão... em acção.
Foi visto um total de 56 espécies diferentes, a maioria componentes de uma característica fauna primaveril mediterrânica que em Portugal podemos encontrar no Algarve, no Alentejo e algumas espécies no vale encaixado do Douro.
Ora aqui alguns exemplos, que mostram a diversidade de formas, cores e padrões nas borboletas nocturnas.
Gnopharmia stevenaria (Geometridae)
Dyscia penulataria e
Dyscia distinctaria (Geometridae), duas espécies semelhantes morfologicamente, distintas ecologicamente.
Omphalophana serrata (Noctuidae) - incomum espécie mediterrânica.
Synthimia fixa (Noctuidae) - na Primavera, esta espécie é típica nestes habitats, voando de dia e de noite.
Zethes insularis - Espécie subtropical, rara em Portugal e agora nova para o Alentejo.
Lymantria atlantica (Lymantridae)