Suponho que esta é a origem da expressão "Amigo da Onça". Será que foi memo assim? Podia ter sido... Aqui fica a visão Drfunkensteiniana.
Há muito, muuuuuuuito tempo...(sim, porque o "amigo da onça" já é velhinho, quiçá sempre existiu desde que o Homem é um ser gregário e social); atravessavam a floresta Amazónica, dois caçadores furtivos brasileiros, assim como furtiva era a visão que tinham de amizade um pelo outro. Por entre riachos e vegetação densa e húmida conversavam. Trocaram opiniões, experiências e aventuras de caça, sempre ao despique, tentando constantemente impressionar-se um ao outro. Um chamava-se Mateus, o outro Tadeu. Já tinham percorrido dezenas de hectares de selva e continuavam caminhando em busca do local onde começara a caçada. Tinham apanhado algumas aves e uma pequena capivara, mas seguiam com a desconfiança de algum perigo eminente e sempre presente naquele habitat selvagem.
Começou a escurecer e os ruídos da floresta transformaram-se. O som era menos intenso mas o efeito cada vez mais desconcertante. Ao mínimo ruído Mateus parava. Tadeu estremecia e suspirava de seguida, dando graças a Deus por cada minuto sem história e sem memória. Conclusão: estavam perdidos. A única solução era esperar pelo raiar do Sol da manhã, abrigando-se o melhor possível de tudo e qualquer precalço.
Pararam numa clareira e aí decidiram pernoitar. Encostados a um tronco largo, coberto de musgo, olhavam o escuro à sua volta. Constantemente as orbitas oculares percorriam o espaço da esquerda para a direita e vice versa. Pareciam assistir a um jogo de ténis mas não era a bola que seguiam mas sim os sons. Com as pálpebras e a íris dilatadas, a sua fisiologia preparava-lhes a visão nocturna. Podiam ouvir a respiração intensa e ofegante provocada pela humidade, mas sobretudo pelo medo e a necessidade de permanecerem despertos. Disso dependiam.
-Mateus, tá acordado?
-O que é que cê acha?! - responde irritado pelo tom irónico do companheiro.
-Ué! Tá bom meu irmão, num tava zombando não. Olha, se agora aparecesse um ONÇA aí à sua frente o que é que você fazia??
-Uma ONÇA?! Pegava logo na espingarda e atirava no bicho.
-Então e se você esquecesse a espingarda em casa?
-Bem, nesse caso sacava da minha catana, e cortava-lhe o pescoço de um só golpe.
-Muito bem. Mas, e se você não tivesse consigo a sua catana?
-Nesse caso, pegava aqui neste punhal. Tá vendo? E espetava no pescoço do animal.
-Tá certo! Mas escuta aqui uma coisa. E se você também não tivesse esse punhalzinho??
Já irritado com as suposições de pirraça do Tadeu, Mateus responde:
-Dasssssssssse, chega pra lá moço agoirento. Mas você é meu amigo ou é "Amigo da Onça"??!!
Num mundo de amigos da onça, aquele que é mais feliz, tenho a certeza que é a Onça.
E já que estamos numa de caçadores, deixo aqui uma sugestão musical pra quem gosta de boa onda: Herbie Hancock - "Head Hunters".
Abraço do DrFunkenstein