Infelizmente os cavaleiros do Funk, têm que combater as aberrações do "mundo das trevas" vezes sem conta, numa conta de vezes até as subtrair a uma mera réstia de existência. Algumas maldades do mundo estiveram diante de nós tanto tempo que acabámos por aceitá-las resignadamente. Uma espécie de «síndrome de estocolmo» social... que ora vai e vem. Sem remédio. A bipolaridade é aquilo que vimos todos os dias em tantos que se cruzam connosco e não conseguimos explicar o porquê de tanta loucura, ódio, descompensação, incoerência, raiva, mentira e outras "merdas" que nos vão torrando a paciência...que tem limites.
BIPOLARIDADE
(CAUSAS E TRAT... se é que existe)
Desvendando a
bipolaridade
É interessante a invenção de novos nomes ou diagnósticos para
descrever velhas patologias conhecidas. Assim como a síndrome de pânico foi uma
mera derivativa das chamadas fobias, a bipolaridade é o nome moderno para o
chamado transtorno maníaco-depressivo. A renomeação de moléstias segue o
princípio da maquilhagem moderna farmacológica, dando certa ilusão de um
instrumento mais efetivo e poderoso no combate à doença. Como todos sabem, a bipolaridade é definida principalmente
pela constante e repetitiva oscilação do humor e comportamento do sujeito; ora
um estado depressivo, melancólico, ou a euforia, alegria e uma energização que
deixa perplexo todos que convivem com a pessoa. A primeira coisa
interessante para se notar é que ao contrário do que muitos pensam, o fenómeno
da agressividade não se encontra no pólo maníaco, mas justamente na fase
depressiva. A explicação é
simples, a agressividade permeia dito pólo como uma reação à frustração da
pouca durabilidade da fase maníaca e também como uma forma de contaminar
completamente o ambiente ao seu redor, “como
nunca irei superar tal situação, desejo que sintam a mesma angústia”.
Claro que neste ponto entram elementos poderosos de inveja e vingança contra o
meio. Infelizmente o bipolar sempre irá comemorar o insucesso ou infortúnio do
outro, a projeção é seu mais puro e doce alimento. (claro que não estou
emitindo um juízo de valor sobre o caráter de ninguém, apenas relatando uma manifestação
comportamental frente ao transtorno)
O que mais chama atenção em tal enfermidade é quando da passagem depressiva para a maníaca, como disse
anteriormente, há um vigor ou paz de espírito quase que sobrenaturais, causando uma total frustração no acompanhante
ou familiar da pessoa, que não se conforma que o indivíduo não consiga se
estabilizar em tal estágio, pois teria amplos recursos para tal empreitada.
Mas neste ponto, o leitor irá indagar que é justamente a bipolaridade que não
permite tal fato. O que desejo concluir é que a lamúria, tendência ao
auto-sofrimento, autocomiseração é incrivelmente mais potente do que qualquer
princípio da realidade que traga satisfação ou estabilidade. A mensagem máxima
de todo esse processo mórbido, é a insistência numa ingenuidade ou
infantilidade, achando que o meio ao seu redor deve ter eterna paciência e
compreensão perante todos os mecanismos confusos e difusos apresentados. O bipolar reclama um amor incondicional,
ao mesmo tempo em que tenta condicionar os outros para a aceitação de sua
estrutura neurótica de personalidade. A bipolaridade não deixa de ser
um fenómeno psicológico que denuncia com exatidão o espírito sociológico de
nosso tempo: “tenho pleno potencial para
o amor, afeto e harmonia, mas, repentinamente me lembro de meu contrato quase
que vitalício assinado com o caos ou perturbação nos relacionamentos, tudo isso
oriundo de um mimo não resolvido perante uma suposta rejeição das figuras
parentais. O bipolar apela o tempo todo, forçando seu direito ao amor que
não obteve, sendo que não resgata em hipótese alguma suas falhas pessoais nesse
histórico de convívio.
A instabilidade histórica do bipolar
se origina em sua angústia pessoal de identificar quem é o modelo afetivo que irá
lhe proporcionar segurança; ora é o pai, a mãe, ou o ódio contra ambos, nunca
havendo uma linha linear. Parece não existir uma vontade interna para a
superação do problema. A medicação é vista como uma espécie de império
absoluto, sendo que na maioria dos casos a psicoterapia é encarada com total
desconfiança. O fato é que a manifestação mórbida possui um caráter muito forte
de sedução, seja pela pena ou compaixão, exigindo uma resposta constante de
pleno cuidado por parte do meio ao redor da pessoa. A insistência da
psicoterapia passa a ser fundamental, pois acima de tudo, o bipolar deve a si
mesmo uma explicação para todo o seu excesso. Gostaria neste ponto de colocar
uma tese talvez estranha, mas que na minha concepção é bastante inovadora. E se determinado transtorno mental for
um derivado de um protesto familiar ou social reprimido? Antes que
alguém ache tal tese absurda, pensem que o maior medo em nossos dias é em
relação à opinião alheia, coisa que o bipolar dribla com a máxima maestria, se
utilizando da descompensação como escusa de suas atitudes. Este é exatamente o
ponto chave, sendo que a doença é o que sobrou de certa forma de uma mitigação
política e ideológica; a rebeldia ou protesto social é totalmente convertido
para o pólo psicológico. Obviamente não estou querendo inferir que determinada
pessoa avessa à política irá desenvolver a bipolaridade, mas, apenas ressalto o
transporte de um fenómeno social para uma área privada da personalidade. A
mente parece que capta qualquer aspecto importante de algum derivativo social,
sendo que o mesmo jamais se apaga, apenas adquire novo molde ou formato. O
bipolar encena num microcosmo toda uma esfera política e histórica da
humanidade, de luta pela atenção, poder, compaixão, sedução e diversos outros fenómenos
sociais. Nunca podemos pensar num modelo individualizado de tratamento sem a
compreensão paralela que a doença é criativa ao adquirir determinados formatos
dos moldes económicos e sociais de nossa era.
A grande questão que se coloca é quando realmente estaremos plenamente
motivados a atacar de frente determinado problema, pois parece que sempre o
estamos mascarando ou rodeando. O
desequilíbrio psicológico nunca é por acaso, é principalmente uma sequência
histórica de frustração e desilusão. Uma reflexão vital que todos devem
fazer é sobre o tipo de poder que tentam adquirir durante a vida: criatividade,
poder económico, político, sedução e beleza ou através da doença. A necessidade
de ser notado é praticamente um correlato das necessidades fisiológicas do ser
humano, seja de uma forma saudável ou em tons bizarros. Nomeando de
bipolaridade ou psicose maníaco-depressiva, como devemos interpretar a fundo
tal fenómeno? Tanto a ascensão ou o
famoso pico, quanto à queda ou depressão, remetem ao famoso conceito do
psicólogo ALFRED ADLER acerca do complexo de superioridade e inferioridade.
A bipolaridade nada mais é do que este intercâmbio psicológico. Na mania, a
euforia, certeza da vitória, auto-estima em elevação e sensação de
auto-suficiência, e ainda tentativa de destaque tendo ou não os recursos para
tal empreitada; na fase depressiva o choro, culpa, lamúria, necessidade de
projeção do caos pessoal para outras pessoas, e insistência no mecanismo da
sedução, através da pena ou solidariedade do meio enquanto a pessoa permanecer
recaída.
Será que vale a pena, digamos assim, chamar a atenção ou atuar
algo psicossomático constantemente? A resposta novamente nos remete ao complexo
de poder. Se não temos uma vaga cativa na cena política, social ou económica,
resta o uso do corpo ou enfermidade da alma para sermos lembrados. É
interessante como sempre notei o aspecto mais do que ambicioso do bipolar.
Assim como no começo do estudo, faço um alerta quanto a qualquer concepção
reducionista; sem sombra de dúvida, pessoas abastadas e com poder também podem
descarregar suas frustrações nas enfermidades mentais, apenas estou salientando
a existência do fenómeno em determinadas pessoas onde impera um vazio de poder
pessoal. Quando determinado sujeito começa a notar que seu espírito talvez seja
estéril, começa a manipular ou até brincar com os conteúdos psicossomáticos
citados, visando uma diversificação deformada ou amplificação corrupta do seu (eu) ou sentido de existência. Ao contrário do obsessivo, o
bipolar rejeita qualquer tipo de ordem ou organização de sua conduta diária de
vida. Tudo é sempre através do
improviso ou impulsividade, sendo que o resultado é bastante óbvio; uma perda
em todas as esferas: econômica, pessoal e afetiva. Pensemos neste ponto
na questão do dinheiro; igualmente ao maníaco-depressivo de antigamente que
perdia sua casa em jogo de azar, o bipolar traça o mesmo caminho de forma
talvez resumida ou dissimulada; dívidas bancárias, protestos contra seu nome,
perda de objetos comuns, esquecimento ou falta de cuidado com seus bens, enfim,
jamais consegue cuidar efetivamente de seu património, pois se sente
eternamente miserável ou dependente, atuando como uma criança que não tardará a
estragar algo valioso que lhe foi fornecido ou conquistado, o consumismo é apenas uma fachada contra
a terrível ansiedade que se abate sobre a pessoa.
Outra característica notável no bipolar é que o mesmo se dá plena autorização para vivenciar o egoísmo sem nenhum remorso ou
culpa; faz uma matemática singular; todo o sofrimento de seu passado
terá de ser pago e aceito sem reclamações acerca de sua conduta narcisista,
egoísta e individualista. Seus disparates são vistos pelo próprio indivíduo
como uma excentricidade criativa e louvável; dando a entender que o sinal de
estar vivo é sempre o comportamento de risco ou tensão. O bipolar manipula um palco para a apresentação quase eterna de uma
personalidade neurótica que não dá quase nenhum sinal ou vontade de mudança.
O que temos de perceber é que o desafio extremo contra a civilização ou
moralidade saudável não é apenas a conduta agressiva ou marginal, mas, como
FREUD pontuou com maestria, a neurose se incumbe de dita tarefa de uma forma
onde não será achada ou combatida. Recalque não é apenas energia sexual ou
afetiva parada, é antes de tudo um combate
violento e quase que invisível às regras e normas instituídas, principalmente
às que dizem da normalidade e saúde psicológica. Como estou dizendo
neste estudo, a tarefa básica é colocar seu mundo de caos e lamúria pessoal
acima de qualquer conceito racional de prazer ou satisfação. Novamente falando
do passado o maníaco-depressivo usava sua doença ou regressão como uma fuga de
sua realidade insuportável; o bipolar insiste em obter mais alguma dose de mimo
ou proteção, mesmo que há muito já tenha passado de tal fase, o saudosismo será
sua marca no transcorrer da vida. Sobre a questão comportamental é interessante
notar alguns sintomas adjacentes em tal moléstia, um deles é a neurose
obsessivo-compulsiva ou o moderno “toc”
(transtorno-obsessivo compulsivo), mais uma vez um novo nome para um velho
problema conhecido. Mas o curioso é que sua obsessividade é totalmente restrita
a certa área, ou círculo de atuação bem reduzido: mania de limpeza apenas em um
cómodo da casa, em seu corpo também, citando dois exemplos. A análise deste
círculo diminuto de poder ou preocupação é simples; é uma denúncia ou
reprodução de sua carência ou sensação de ter obtido pouca atenção afetiva de
seu meio, ou seja, reproduz sua miserabilidade emocional em determinadas manias.
Fato é que determinadas pessoas famosas ou célebres como observei, também
desenvolvem os sintomas citados, o que refutaria todas as colocações
anteriores, porém, em defesa de meio argumento deixo claro que o bipolar utiliza determinado
estratagema em virtude de sua imensa carência ou baixa estima, já
determinadas pessoas notórias desenvolvem todo o comportamental descrito pela
culpa ou a famosa neurose de êxito, tão bem descrita por ALFRED ADLER, como
sendo uma solidariedade neurótica para os não afortunados, destruindo seu
próprio potencial pessoal para tal finalidade. Mas tal fenômeno não entraria em
choque com o egoísmo de nosso modelo social? A resposta é não, porque o
destaque também irá cobrar um preço, e o mesmo pode vir a ser a vulnerabilidade
para todo o tipo de crítica do meio. A diferença entre a descrição dessas
pessoas notórias e o bipolar, é que este último lida, desvia ou contém muito bem o sentimento de culpa, pela
obrigação da dívida do meio para seu afeto reduzido. Três coisas o ser humano
jamais conseguirá, pelo menos até o presente; imortalidade, sentimento de
segurança, e blindagem contra a vergonha ou crítica da sociedade, mesmo que
tenha obtido sucesso ou poderio económico. O bipolar segue o mesmo traçado da
problemática das drogas, ou melhor dizendo, uma total insensibilidade perante
as pessoas que o acompanham, principalmente na esfera económica, obrigando
gastos excessivos para o tratamento sem nenhum remorso ou senso do sacrifício
para cobrir tal necessidade. É valioso dizer que esta questão que estou
discutindo se assemelha novamente à questão da medicação psiquiátrica em nossos
dias, num primeiro momento há uma melhora, para depois, o remédio se tornar um
ícone por si só, independentemente se produz ainda ou não resultados. É como se
uma determinada substância química cobrasse o preço de seu efeito muito além do
que o indivíduo está habilitado a pagar, não é esse o problema central do
drogadicto? Se pensarmos em termos estruturais a coisa se torna até um pouco
mística ou paranormal, como se algumas pessoas tivessem um convite especial
para usufruírem de todo sofrimento sem nenhum limite ou prazo de validade. Um
passe livre permanente ao caos desenfreado ou até sem propósito se fizermos uma
análise profunda pelo lado racional.
Retomando o aspecto da infantilização do bipolar, tal fenómeno é uma reação
pretérita, presente e futura contra a terrível angústia da morte, pois a partir
do momento que jamais aceito o crescimento ou evolução, simbolicamente estarei
adiando o triste fim de todo ser humano. O
problema é que tal conduta tem sérios efeitos colaterais, pois mescla fases de
desenvolvimento que geram conflitos internos poderosos, e o resultado é a
insatisfação crônica acerca de si própria, nada o satisfaz, sendo que até o
lado positivo ou determinado ganho é encarado com queixas ou desconfiança. Mas
se o bipolar lida muito bem com a culpa, já não o consegue com a questão do
arrependimento. E qual seria a diferença entre os dois? A culpa é um
processo rígido, crónico, estabelecido ou extremamente embasado na
personalidade do sujeito, é uma espécie de estilo de vida ou traço marcante do
seu ego. O arrependimento se assemelha mais a um estratagema infantil para a
comoção ou evitar a agressividade ou vingança do outro por alguma falta
cometida. A prova disso tudo é que se pensarmos na culpa, a mesma tem raízes
históricas, pois na maioria das vezes imputa no semelhante uma fragilidade
inexistente, sendo que a pessoa acha que o outro será destruído por determinado
comentário ou ação, a culpa reduz plenamente a capacidade de absorção do outro,
sendo que o arrependimento quer motivar a compaixão. Um fenómeno curioso que
noto há algum tempo é que parece que determinadas pessoas vivenciam ou atuam
problemáticas que não são verdadeiramente de seu íntimo, mas que são
emprestadas de seu meio circundante, como se fosse uma terceirização do
sofrimento como brincou um de meus colaboradores dos meus textos. Tal situação
novamente se remete à culpa ou solidariedade com o caos alheio, um acordo mais
do que mórbido para a pessoa adiar a resolução de seu problema íntimo, sentindo
que o mesmo é quase que insuperável; obviamente fica mais fácil depositar as
energias na consecução da resolução do problema do outro.
Voltando a questão da medicação, novamente faço um alerta para o
extremo cuidado ao ser ministrada, pois a química tem o simbolismo da
emergência, sendo tudo que o espírito do bipolar está acostumado e não consegue
afastar. Acho que está claro até o presente ponto que fica quase que impossível
o estabelecimento de limites comportamentais em tal enfermidade, o que seria a
cura se tal ato fosse possível. O problema é que qualquer tentativa externa é
sempre inócua e só produz mais rebelião e protesto, dado que o bipolar ama com
paixão a extravagância, rebeldia infundada ou o protesto inútil. A essência do
desvio comportamental é exatamente se alimentar da preocupação ou esforço para
sua extinção ou cura, esta é sem dúvida alguma a contradição máxima jamais
resolvida pela psicologia ou psiquiatria. A coisa é tão clara que na
experiência clínica noto que o bipolar apenas faz uma reflexão de suas atitudes
na extrema perda ou rompimento, quando não consegue mais ser o centro do palco
através de sua neurose, sentindo que a pessoa ao lado desistiu literalmente de
todo o esforço para uma melhoria da condição em que o sujeito se encontra.
Nesse momento respinga no mesmo um ar adulto ou consciência de sua
responsabilidade seja afetiva, profissional ou social, porém, não tardará a se
utilizar novamente de sua arma preferida para que as coisas permaneçam do mesmo
jeito que outrora, apelando incessantemente para a compaixão ou piedade de seu
infortúnio. Notem que todos detestam
o termo piedade, pois se refere a uma pessoa totalmente despotencializada ou
desprovida de capacidade de gerir sua existência. Porém, o bipolar
sempre arruma uma forma genuína de transformar aquela piedade vergonhosa num
triunfo de suas expectativas ou atos desajustados a fim de perpetuar os mesmos.
Tal tese coloca na encruzilhada talvez quase que toda a história da psicologia,
acerca do fenómeno da escuta. Este muitas vezes passa a ser uma espécie de
sonífero contra a percepção da dificuldade de mudança ou transformação
verdadeira. Não estou tampouco defendendo nenhuma abordagem comportamental ou
imposição de regras, o que seria totalmente infrutífero, ressalto apenas o lado
pouco prático da psicoterapia, pois a
resistência se acha na própria queixa do paciente ou na escuta passiva do
terapeuta, sendo a missão máxima do mesmo desvendar todo o rol de
mentiras que o sujeito interpreta acerca de seu problema. Nunca uma queixa é
isolada, nem mesmo os chamados fenómenos psicossomáticos, ou orgânicos, tudo
forma um palco nebuloso de continuar na mesma, mesmo com todas as perdas de tal
escolha. Mas então se trataria de uma espécie de masoquismo e a psicoterapia
apenas seria uma desculpa para dizer que se tentou algo novo? FREUD, ADLER,
JUNG, todos tocaram no chamado mecanismo da compensação que a doença produz,
desde a atenção até evitar a humilhação de um teste real caso a pessoa não se
escondesse atrás de determinado infortúnio. Retomando minha velha ideia, o
distúrbio neurótico se torna uma espécie de vírus ou entidade com inteligência
própria e sentido de sobrevivência, não é a toa que os antigos confundiam
doença mental com possessão, e ao invés da psicanálise ir a fundo
nisso, se escondeu atrás de preconceito ou um falso senso científico dos fatos.
Uma prova dessa tese toda é a característica do neurótico se cercar de pessoas
tão ou mais problemáticas, mascarando por completo todo o seu dever de evolução
psíquica ou melhor dizendo, zerando sua dívida para com a saúde. Tudo o que
estou falando serviria para diversas moléstias; depressão, compulsão, paranóia
de entre outras e obviamente, bipolaridade. A neurose nunca foi criativa por natureza ao contrário do que
podemos pensar, mas tal fato nunca serviu de atenuante para seu alto poder
destrutivo na pessoalidade do ser humano. O bipolar é apenas uma
variação um pouco mais moderna, tomando todas as características de chantagem
emocional num patamar extremamente potencializado, onde a diferença de outrora
é o perigo real, pois nunca mede consequência.
Não chega a ser um suicida, mas sabe como ninguém matar todo um
equilíbrio emocional, familiar e afetivo.
Se todos os filósofos e grandes pensadores destacaram a necessidade da
descoberta do sentido da vida, cabe a psicologia descobrir a causa do real e
verdadeiro sofrimento que abala a estrutura psíquica. Antigamente a doença
mental levava certamente ao óbito; hoje em dia, seguindo a tendência da
medicina no tocante ao prolongamento da expectativa de vida, notamos que o
abalo psicológico tenta se eternizar sem destruir a vida biológica da pessoa.
Retomando as diferenças ou semelhanças entre bipolaridade e transtorno
obsessivo-compulsivo, é interessante a falha na recomendação da conduta sobre o
tratamento. Muitos avaliam que a terapia comportamental é a melhor solução para
ambos os casos, se esquecendo que o esforço para eliminar tais moléstias, já é
sem sombra de dúvida o combustível para a perpetuação das mesmas, pois ambas se
alimentam de uma atenção consciente e inconsciente sem precedentes no âmbito
psicológico. Na verdade o transtorno obsessivo compulsivo não deixa de ser a
loucura da segurança ilimitada transportada para todo o tipo de mania (“não
admito em hipótese alguma perder as coisas conquistadas em meu suposto reino
pessoal”), já a bipolaridade
tocando novamente na diferença é justamente o inverso, uma espécie de desporto
radical da mente, levando a mesma a todo tipo de excesso ou desajuste pessoal e
social. Se pensarmos no próprio complexo de Édipo ou a clássica noção
do trauma em termos da psicologia, veremos que ambos remetem sempre à
canonização do passado, seja revivendo o sofrimento ou o saudosismo de um prazer que foi real ou imaginado
pelo sujeito, o fato é que no distúrbio da bipolaridade as coisas são
semelhantes: regredir, necessidade constante de ser cuidado e amparado.
O bipolar assim como a
maioria dos drogadictos não vislumbra nem de longe a hipótese de uma tomada de
decisão para a resolução de seu caos pessoal; as consequências são mais do que
conhecidas, perda de oportunidades em todas as esferas: profissional, social e
afetiva. No decorrer deste estudo, venho salientando um paralelo pouco
notado pela medicina e psicologia entre bipolaridade e infantilismo. Todas as
armas serão usadas para a manutenção deste último, e é neste ponto que a
bipolaridade irá se confundir quase que totalmente com o fenómeno da loucura ou
esquizofrenia, pois não medirá nenhum esforço em qualquer manifestação mórbida
para a consecução de tal objetivo, seja através da histeria, compulsão ou
toxicomania. Todo profissional experiente já notou há muito tempo que tal
transtorno talvez seja o maior desafio da saúde mental das últimas décadas,
pois assim como a drogadicção, parece que qualquer esforço sempre acaba em
desilusão ou fracasso. Por acaso alguém tinha a ilusão de que numa sociedade
que potencializa toda esfera negativa o tempo todo, o distúrbio mental não iria
mimetizar da mesma forma? O fato é que
estamos nos deparando com desafios mentais extremamente amplificados, e parece
que só estamos narcotizando ou mascarando os nefastos efeitos de nossa vida quotidiana
permeada pela competição, disputa de poder e inveja. Infelizmente em tais
pecados capitais ninguém ousa adentrar, consequência de um puritanismo maléfico
para qualquer espírito que deseje alguma evolução na alma humana.
Enfim, cabe uma reflexão científica acerca do que é realmente constituída a
doença mental ou distúrbio psicológico? Desequilíbrio hormonal, variações do
sistema límbico ou do hipotálamo, instabilidade nos níveis da serotonina; creio
que tudo isso é mais do que verdadeiro se analisado por equipamentos electrónicos
ou de última geração da medicina contemporânea, mas se desejarmos uma análise
meramente humana veremos que seu início sempre ocorre na recusa do avanço ou
desenvolvimento interpessoal; sabotagem da criatividade visando reviver uma
etapa de vida totalmente ultrapassada e não condizente com a atualidade do
indivíduo. Que imensa mentira aquele provérbio que todos almejam a felicidade
ou satisfação; FREUD provou as barreiras morais para a consecução do prazer
genital genuíno, e hoje em dia vemos barreiras totalmente dissimuladas que
limitam um sentido de vida saudável ou frutífero para a pessoa. A diferença é
que no começo do século vinte a fala era praticamente proibida, daí o advento
da psicanálise como socorro de uma alma torturada pela tirania moral, e hoje o
discurso do sujeito é totalmente alienante e sem sentido, pois a maioria
procura um prazer que jamais foi seu, apenas imitação de símbolos impostos pela
sociedade de consumo que está pouco se importando com a saúde mental das
pessoas, e sim, o quanto as mesmas estão dispostas a gastar ou se endividarem;
sofrimento é uma solidão incurável por se buscar algo totalmente imaginário ou
irreal, e é isto que se faz neste mundo há muitos séculos, embora com mais
virulência nas últimas décadas. Todos se esqueceram que há nítida diferença
entre satisfação, prazer e felicidade; o primeiro fenómeno é quase que
totalmente corrompido pela inveja e competição, levando o indivíduo para
caminhos distantes de se verdadeiro eu; o segundo tão estudado por FREUD é plenamente contaminado pela estrutura e
histórico familiar do sujeito, fazendo com que o mesmo seja solidário ou repita
o sofrimento dos pais em todos os contextos dos relacionamentos; o
terceiro não diz de ausência de sofrimento, nem de se viver numa ilha ou
paraíso artificial, mas de uma mente capaz sempre de fazer leituras profundas e
verdadeiras e é isto que está em total escassez em nossa sociedade, uma
capacidade verdadeira de análise pessoal e social, e como o indivíduo se
enquadra nesse processo e quais serão suas reais escolhas, sem o vício ridículo
de culpar alguém por determinado infortúnio ou insucesso. Felicidade é a
capacidade eterna de reação, mesclando elementos de ódio e amor, mas nunca
caindo na armadilha da destrutividade ou vingança, apenas exigir para si
próprio a retomada da energia exaurida ou perdida. Quando digo ódio, não é aquele
fomentado diariamente pelos média ou a sociedade insensível em que vivemos, mas
o apelo para a reação do sujeito, que o mesmo fique com rancor de seu vício de
sofrer e tente algo criativo, que possa lhe abrir o horizonte para uma
conquista verdadeira, esse é sem dúvida o paraíso do prazer e preenchimento da
alma.
A.C.A.A. - psicólogo
Thanks Doc!!
DrFunkenstein