Books by Luciano von der Goltz Vianna
A presente tese foi elaborada a partir de um projeto de reflexão epistemológica, a qual originou ... more A presente tese foi elaborada a partir de um projeto de reflexão epistemológica, a qual originou e estruturou uma pesquisa de campo etnográfica no Hotel da Loucura. A investigação empírica consistiu na divisão daquilo que o pesquisador entendia por “etnografia”, a fim de pôr à prova suas “partes”. Observação, entrevista e participação foram “separadas” para dar lugar tanto a uma meta-investigação sobre as condições de possibilidade de uma etnografia ser produzida quanto a construção de uma etnografia sobre o Hotel da Loucura. A tese apresenta duas linhas argumentativas centrais, costuradas por meio de uma performance textual que visa montar e desmontar seus enunciados, trazendo à tona seus possíveis pressupostos, condicionamentos e matrizes disciplinares. Uma das linhas argumentativas reitera a centralidade da figura de um “eu-antropólogo” como condição de possibilidade para uma etnografia existir. Já a segunda linha especula sobre a existência de um único paradigma na Antropologia, consolidado atualmente sob o registro de tudo aquilo que pode ser adjetivado de etnográfico ou de natureza etnográfica. Nesse sentido, existiram dois espaços onde o trabalho de campo foi realizado. O primeiro foi o Hotel da Loucura, o qual parecia oferecer correspondências e semelhanças de interesses, dilemas, paradoxos e problemas com os de natureza metodológica e epistemológica da Antropologia; o segundo foi o espaço acadêmico, o qual parece ser aquele local onde o pesquisador condiciona sua visão sobre o primeiro, por meio de treinamento e formação, processos que por sua vez parecem incorrer em uma “transformação interior” desse “eu-antropólogo”. Em suma, a presente tese objetiva instabilizar e problematizar a etnografia enquanto um jogo de (des)montagem, que parece mover-se à deriva, mas “ancora-se” constantemente em categorias de análise e pressupostos epistemológicos, que seriam como seus “atracadouros”. Tais paradoxos e ambiguidades tiveram, nessa tese, espaço privilegiado enquanto pontes de interlocução com o método do teatro ritual do Hotel da Loucura.
Papers by Luciano von der Goltz Vianna
Este artigo visa apresentar algumas experiências etnográficas a partir do meu trabalho
de campo n... more Este artigo visa apresentar algumas experiências etnográficas a partir do meu trabalho
de campo no Hotel da Loucura, localizado no Rio de Janeiro, organizadas em torno
de algumas crises epistêmicas na Antropologia sobre o método etnográfico. A partir
dessas experiências, esboço reflexões sobre os protocolos e os treinamentos existentes
para um(a) antropólogo(a) realizar seu trabalho de campo e sua etnografia, pensando-os
como montagens e desmontagens de cenas, experiências, conhecimentos e sentimentos
que parecem nunca compor um quebra-cabeça com um conjunto finito de peças. Argumento
que as montagens são parte de um processo de aprendizagem que compõe um
percurso à deriva, e a desmontagem é um evento de ruptura com o estabelecido e com o
conhecido. A fim de dar corpo a esse argumento, exemplifico com algumas passagens do
trabalho de campo como tais (des)montagens podem ser produzidas no texto. Por fim,
discuto as relações entre jogos de montagem e um regime epistêmico moderno, do qual
o projeto disciplinar antropológico, centrado na etnografia, é herdeiro.
A partir de algumas questões e problemas originados em meu trabalho de campo com o coletivo do Ho... more A partir de algumas questões e problemas originados em meu trabalho de campo com o coletivo do Hotel da Loucura, pretendo ecoar aqui alguns debates epistemológicos atuais e históricos da Antropologia em torno do caráter, natureza, limites e horizontes da etnografia. A questão central levantada aqui é aquela que se pergunta pela possibilidade ou não de grafar, narrar ou interpretar, de alguma forma, a experiência da loucura ao articular duas ciências que se encontram no campo: a Antropologia e a Psiquiatria Transcultural praticada nos Teatros Rituais do Hotel da Loucura. Ao narrar sobre as negociações, impasses e alianças entres essas duas ciências, abre-se a possibilidade de coproduzir uma outra ciência que habita/inventa/cria outros mundos, realidades ou perspectivas (Roy Wagner). O “método da loucura”, em prática no Teatro Ritual, ao encontrar a etnografia, a interpela, questionando sua plausibilidade, seus limites e potencialidades. Uma Antropologia reversa (Roy Wagner) torna-se possível a partir daí, quando o coletivo do Hotel da Loucura se sente implicado em um fazer antropológico que rompe com os limites daquilo que chamamos disciplinarmente de “trabalho de campo”. No lugar de tomar os conteúdos gerados e acionados pelos participantes desse coletivo de pacientes, internos, cientistas e artistas, como metáforas ou mensagens codificadas de sujeitos conectados conosco por algum chão comum universal, proponho submeter a exame a prática de pesquisa etnográfica concomitantemente com sua prática (Paul Feyerabend), montando-a e desmontando-a. Mais detidamente, viso aqui questionar sobre o que fazer com a incomensurabilidade de mundos existente entre a Antropologia e essas outras realidades, ontologias e epistemologias que habitam o território vasto da loucura, principalmente quando falar em “etnografia” pressupõem um texto plausível, com estatuto de verdade e escrito por alguém treinado a centrar-se e descentrar-se no giro eterno em torno de sua prática narcísica. Portanto, pergunto sobre esse “basta a etnografia” (Tim Ingold), que ressoa ainda na disciplina, e sobre a possibilidade de fazer Antropologia a partir da proposta de promover uma saúde mental coletiva entres todos os seres, defendida e aplicada pelo coletivo do Hotel da Loucura.
Esta dissertação visa lançar uma perspectiva antropológica sobre a Doença de Alzheimer (DA). Ela ... more Esta dissertação visa lançar uma perspectiva antropológica sobre a Doença de Alzheimer (DA). Ela está baseada na simetrização de processos sociais e orgânicos que ocorrem em pessoas com e sem DA. Alguns impasses são criados a partir desse posicionamento diante de uma doença. Dentre eles, as definições da doença dadas por diversos interlocutores, as formas de cuidado e tratamento da DA atualmente praticados e as relações do doente com outros seres não-humanos existentes no processo de adoecimento são pontos de vista reversos que impulsionam as questões centrais dessa etnografia. Uma delas trata sobre a possível inclusão do doente de DA no círculo de interlocutores de uma etnografia. Essas perguntas de pesquisa inventam um circuito de produção de incertezas e controvérsias sobre a prática etnográfica. Os efeitos desses problemas mostram um rearranjo das formas de cuidado, da organização do cotidiano e da vida do doente. A hipótese levantada por essa dissertação sugestiona que as produções de saberes sobre a DA estejam recriando conceitos de “pessoa” em sociedades ocidentais. Sobre o termo “processo demencial” será traçada essa perspectiva que se inicia em um grupo de apoio a cuidadores (Associação Brasileira de Alzheimer) e fragmenta-se, por exemplo, no problema da diferença e nos processos de “molecularização da vida”, como diria Nikolas Rose. Baseando-se no pensamento de Gilles Deleuze e Félix Guattari, esse trabalho irá propor uma perspectiva “nômade” sobre uma demência ao seguir as linhas que socializam uma multiplicidade de elementos e fatores que a compõem. Para produzir essa “nomadologia” foi preciso interelacionar conceitos de antropólogos como Bruno Latour, Tim Ingold e Roy Wagner. Tendo em vista a amplitude dos problemas de pesquisa lançados, essa dissertação não tem a pretensão de encontrar “soluções” para as problematizações que lança mas sim de pensar seus efeitos.
Apresentação do Dossiê, 2020
Dossiê: Revista Tempo da Ciência (UNIOESTE)
Resumo: Exponho aqui um relato sobre um experimento de "escritura" (Derrida) onde há a proposta d... more Resumo: Exponho aqui um relato sobre um experimento de "escritura" (Derrida) onde há a proposta de uma leitura que constantemente submeta à crítica suas próprias "matrizes disciplinares" (Kuhn). Para isso foram compostas performances textuais onde são apresentados enigmas oriundos de algumas "epistèmês" (Foucault) antropológicas, as quais (des)montam quebra-cabeças etnográficos criados a partir de trabalho de campo realizado no (informação omitida para efetiva avaliação duplo-cego). O fio condutor de tal experimento é a hipótese de que a etnografia seria um "paradigma" (Kuhn) para a Antropologia. À medida que as "anomalias" (Kuhn) dessa etnografia vão sendo apresentadas, torna-se disponível ao leitor uma série de percursos para solucioná-las. Os sucessivos labirintos epistêmicos e o caráter não prescritivo da escritura parecem produzir uma espécie de "sensação de deriva" na leitura, no momento em que o experimento torna-se uma reescritura de um texto que está alhures de sua autocrítica. Palavras-chave: Crise Epistêmica; Etnografia; Suplementariedade; Paradigma.
"Scripture" as a game of (dis) montage: an account of the construction of an "open work" Abstract: I present here an account of an "writing" experiment (Derrida) where there is a proposal for a reading that constantly submits its own "disciplinary matrices" (Kuhn) to criticism. For this, textual performances were composed in which enigmas from some anthropological "epistemes" (Foucault) are presented, which (un) assemble ethnographic puzzles created from fieldwork carried out in (information omitted for effective double-blind evaluation). The guiding thread of such an experiment is the hypothesis that ethnography would be a "paradigm" (Kuhn) for Anthropology. As the "anomalies" (Kuhn) of this ethnography are presented, a series of paths becomes available to the reader to solve them. The successive epistemic labyrinths and the non-prescriptive character of writing seem to produce a kind of "drifting sensation" in reading, at the moment when the experiment becomes a rewriting of a text that is elsewhere from its self-criticism.
Propor um dossiê cuja temática situa-se "no fio da navalha" constitui o tipo de "perigo epistemol... more Propor um dossiê cuja temática situa-se "no fio da navalha" constitui o tipo de "perigo epistemológico" originário de diálogos crísicos: pensar criticamente. Movimento cognitivo que é próprio à práxis científica, isto é, a dúvida como princípio do conhecimento, implicando que todo e qualquer conhecimento pode ser colocado sob suspeição perante o surgimento de novas evidências ou interpretações. Assim, a crítica abre precedente para a crise e vice-versa. A etimologia do termo crise indica uma dupla origem: latina (crisis) e grega (krísis) e seu modo derivado forma, com seu radical, palavras como crítica, critério e crime. Seu significado é variado, podendo ser traduzido como decisão ou mudança súbita (em sua origem latina) ou derivando do verbo grego krino, pode significar separação, depuração ou julgamento. Na acepção mais corrente remete-se a esgotamento, depressão ou declínio de um sistema, estrutura ou processo que passa por transformação ou chega ao fim. Podemos compreendê-la como parte de um entendimento do tempo histórico orientado por movimentos e processos cíclicos, que se repetem, ou alimentam a ideia de um tempo ascendente e espiralado, onde há tendência à continuidade; ou como tempo histórico linear, paradigmático na modernidade, onde a ideia de crise marca e classifica temporalmente momentos da história a fim de atribuir-lhe inteligibilidade e organização. Assim, cada período histórico indica uma crise subjacente: Renascimento, crise da Idade Média; Iluminismo, crise da teologia; Revoluções burguesas, crise do feudalismo; Revolução Industrial, crise da manufatura e do imperialismo ibérico e assim por diante. Não vem ao caso a ordem causal crise/mudança ou mudança/crise, mas a noção de "crise" como indicativo de transição. Nas últimas décadas, com a aceleração do tempo, causada, em especial, pelo desenvolvimento sem precedentes de tecnologias e seus variados impactos sociais, a crise parece ocupar o lugar da regra em vez da exceção. Essa normalização da crise possui facetas distintas e indica a visibilização e/ou emergência de novas relações sociais, bem como perspectivas divergentes com relação à abordagem cognitiva da realidade (em sentido lato). Assim, o paradigma epistêmico ou as verdades estabelecidas em um determinado tempo-espaço passam também a ser questionadas perante novas evidências e análises situadas desde lugares sócio-históricos distintos. As epistemes, modelos de pensamento ou perspectivas de conhecimento identificados como "em crise", onde há tensão e ruptura de um certo estado de fatos e relações observadas, tendem a ser acompanhados de pensamentos críticos, aproximando a ideia de crise epistêmica à emergência de pensamento(s) divergente(s), isto é, não consensual, divergente do modelo de pensamento paradigmático. O estado de crise epistêmica, então, seria aquele onde parte dos sujeitos pensam e agem de modo crítico, separando e organizando as partes que compõem o momento de desordem e desestruturação (que tendemos a identificar com o estado crísico de um sistema, mas que pode ser traduzido também como um momento de reorganização ou passagem entre estados distintos). Eles operam essa crítica por meio de um julgamento para determinar a nova forma daquela estrutura que passou por um momento transitório marcado por incertezas e instabilidades.
Resumo: O presente artigo tem como objetivo desenvolver algumas reflexões sobre uma possível Ant... more Resumo: O presente artigo tem como objetivo desenvolver algumas reflexões sobre uma possível Antropologia produzida à deriva. Para isso parto de alguns questionamentos: existem caminhos que pesquisadores(as) percorrem em comum ao desenvolver suas pesquisas etnográficas? Existem convenções sobre como proceder no trabalho de campo? Poderíamos dizer, ainda hoje, depois da imensa quantidade de experiências de pesquisa e de trabalho de campo com 'inspiração etnográfica' (portanto, produzidas por antropólogos(as) ou não), que exista um protocolo, ou conjunto deles, a ser seguido no momento da construção da pesquisa? A partir de perguntas como essas viso, desenvolver uma reflexão teórica sobre uma suposta 'natureza aleatória' dos percursos e itinerários de uma pesquisa etnográfica. Por fim, faço apontamentos para possíveis desdobramentos da proposta de discussão na direção de uma formação em antropologia que não dependa dos protocolos de pesquisa da etnografia.
Abstract: This article aims to develop some reflections on a possible anthropology produced by drift. To this end I start from some questions: are there ways that researchers follow in common when developing their ethnographic research? Are there any conventions on how to proceed in the fieldwork? We could say even today, after the immense amount of 'ethnographic-inspired' research and fieldwork experiences (thus produced by anthropologists or not), that there is a protocol, or set of them, to be followed in moment of research construction? From questions such as these I aim to develop a theoretical reflection on a supposed 'random nature' of the paths and itineraries of an ethnographic research. Finally, I make notes on the possible consequences of the discussion proposal towards an anthropology background that does not depend on the research protocols of ethnography.
"A partir do problema que se configura em virtude de estados ou condições como a doença de Alzhei... more "A partir do problema que se configura em virtude de estados ou condições como a doença de Alzheimer, o autor discute os próprios limites da etnografia e da antropologia. A doença de Alzheimer tem o efeito fenomenológico de debilitar e progressivamente apagar a existência mental dos sujeitos, transformando-os em seres dotados de perspectivas distintas, que podem aparecer como sinais de outras ontologias. Nesse sentido, problematiza a própria natureza do conceito de “humano” que temos construído e pergunta-se: “se este conceito ancora-se na noção de consciência (ou um estado de autopercepção de suas relações consigo e com o mundo), uma pessoa que não estabelece mais relações facilmente cognoscíveis entre humanos (homologando aqui a suposição de que existiria uma suposta divisão ontológica “nós” lúcidos, ou conscientes, e os “outros” inconscientes ou dementes) estaria participando de quais outras relações ou relacionalidades?” Tomando isso em consideração, discute as possibilidades da antropologia poder lidar com uma alteridade que parece tão radical." (Corpo e Saúde na mira da
Antropologia: ontologias,
práticas, traduções; Cecilia Anne Mccallum e Fabíola Rohden org. p. 20 e 21)
A recente exoneração de Vitor Pordes, ex-coordenador do projeto Hotel da Loucura, é a motivação p... more A recente exoneração de Vitor Pordes, ex-coordenador do projeto Hotel da Loucura, é a motivação principal para a escrita desse texto, já que pretende apresentar a importância de seu trabalho no coletivo aqui descrito. Além disso, viso apresentar sumariamente um primeiro material de pesquisa que irá compor minha tese de doutorado sobre esse mesmo coletivo.
O presente trabalho objetiva produzir uma reflexão sobre os limites da etnografia através das inj... more O presente trabalho objetiva produzir uma reflexão sobre os limites da etnografia através das injunções e disjunções entre teorias do conhecimento “nativas” e “antropológicas”. Um dos caminhos para alcançar esse objetivo é sugerir a possibilidade de aliar uma não delimitação de um locus de pesquisa com a não “utilização” do método etnográfico. Enquanto uma hesitação metodológica, e no “lugar” dessa dupla recusa, proponho alguns descaminhos que poderiam conduzir “à deriva” essa investigação antropológica; ou seja, a especular e deslocar-se por diferentes tempos|espaços sem constituir um objeto de pesquisa. Para isso proponho algumas junções teórico-metodológicas que viabilizem “múltiplas realidades” (Law) na produção de saberes em Antropologia. Mais precisamente, essa será uma investigação na qual se perguntará: como se pode saber-menos sobre um outro? Esse seria um “saber” que atingiria a consistência de sua suficiência ao ser produzido pelos meios (como “equivocação” e “deslumbramento”) com que uma alteridade se “estabelece” em uma dada relação parcial e “imprevisível”. Portanto, essa pesquisa trata de questões “metodológicas” sobre os modos de produzir conhecimento em Antropologia ao realizar pesquisa empírica especulativa com/através dos meios|caminhos que os sujeitos e objetos dessa mesma pesquisa se utilizam para “saber” sobre algo e sobre a própria Antropologia. Por isso, a ideia é que não haja “sujeitos-objetos” (Latour) centrais ou definidos previamente pelo pesquisador, mas sim co-definidos com os primeiros ao longo do processo de criação e operacionalização do modo de investigação aqui construído. O dispositivo de “controle” da aleatoriedade dessa especulação metodológica será uma forma de autoanálise crítica dos pressupostos|convicções (retropredação) pelos quais essa pesquisa se tornou viável, o qual teria como objetivo tornar menos “intensa” a “vontade de saber” sobre um outro. Ao longo da pesquisa será buscada também uma postura politico-filosófica em relação ao empreendimento disciplinar antropológico de pensar a diferença, ou uma zoepolítica.
Esta dissertação visa lançar uma perspectiva antropológica sobre a Doença de Alzheimer (DA). Ela ... more Esta dissertação visa lançar uma perspectiva antropológica sobre a Doença de Alzheimer (DA). Ela está baseada na simetrização de processos sociais e orgânicos que ocorrem em pessoas com e sem DA. Alguns impasses são criados a partir desse posicionamento diante de uma doença. Dentre eles, as definições da doença dadas por diversos interlocutores, as formas de cuidado e tratamento da DA atualmente praticados e as relações do doente com outros seres não-humanos existentes no processo de adoecimento são pontos de vista reversos que impulsionam as questões centrais dessa etnografia. Uma delas trata sobre a possível inclusão do doente de DA no círculo de interlocutores de uma etnografia. Essas perguntas de pesquisa inventam um circuito de produção de incertezas e controvérsias sobre a prática etnográfica. Os efeitos desses problemas mostram um rearranjo das formas de cuidado, da organização do cotidiano e da vida do doente. A hipótese levantada por essa dissertação sugestiona que as produções de saberes sobre a DA estejam recriando conceitos de “pessoa” em sociedades ocidentais. Sobre o termo “processo demencial” será traçada essa perspectiva que se inicia em um grupo de apoio a cuidadores (Associação Brasileira de Alzheimer) e fragmenta-se, por exemplo, no problema da diferença e nos processos de “molecularização da vida”, como diria Nikolas Rose. Baseando-se no pensamento de Gilles Deleuze e Félix Guattari, esse trabalho irá propor uma perspectiva “nômade” sobre uma demência ao seguir as linhas que socializam uma multiplicidade de elementos e fatores que a compõem. Para produzir essa “nomadologia” foi preciso interelacionar conceitos de antropólogos como Bruno Latour, Tim Ingold e Roy Wagner. Tendo em vista a amplitude dos problemas de pesquisa lançados, essa dissertação não tem a pretensão de encontrar “soluções” para as problematizações que lança mas sim de pensar seus efeitos.
Essa pesquisa busca descrever quais as estratégias de cuidado presente na “biosocialidade”(RABINO... more Essa pesquisa busca descrever quais as estratégias de cuidado presente na “biosocialidade”(RABINOW, 1999) entre profissionais e cuidadores e compreender como ela pode estar reelaborando as concepções morais/afetivas sobre o processo do envelhecimento utilizadas no tratamento da DA. Partindo da “biomedicalização” e da interdição jurídica do doente observa-se um novo arranjo da “noção de pessoa” e de cuidado a partir da sensibilidade moral existente no ato de cuidar. É a partir da etnografia da experiência desse ato, da observação das reuniões da Abraz e das práticas de terapias alternativas que estão sendo investigadas as formas de “biosocialidade”. A noção de “sofrimento social” de Veena Das auxilia a pensar esses contextos imbricados em uma dimensão política.
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de campo no Hotel da Loucura, localizado no Rio de Janeiro, organizadas em torno
de algumas crises epistêmicas na Antropologia sobre o método etnográfico. A partir
dessas experiências, esboço reflexões sobre os protocolos e os treinamentos existentes
para um(a) antropólogo(a) realizar seu trabalho de campo e sua etnografia, pensando-os
como montagens e desmontagens de cenas, experiências, conhecimentos e sentimentos
que parecem nunca compor um quebra-cabeça com um conjunto finito de peças. Argumento
que as montagens são parte de um processo de aprendizagem que compõe um
percurso à deriva, e a desmontagem é um evento de ruptura com o estabelecido e com o
conhecido. A fim de dar corpo a esse argumento, exemplifico com algumas passagens do
trabalho de campo como tais (des)montagens podem ser produzidas no texto. Por fim,
discuto as relações entre jogos de montagem e um regime epistêmico moderno, do qual
o projeto disciplinar antropológico, centrado na etnografia, é herdeiro.
"Scripture" as a game of (dis) montage: an account of the construction of an "open work" Abstract: I present here an account of an "writing" experiment (Derrida) where there is a proposal for a reading that constantly submits its own "disciplinary matrices" (Kuhn) to criticism. For this, textual performances were composed in which enigmas from some anthropological "epistemes" (Foucault) are presented, which (un) assemble ethnographic puzzles created from fieldwork carried out in (information omitted for effective double-blind evaluation). The guiding thread of such an experiment is the hypothesis that ethnography would be a "paradigm" (Kuhn) for Anthropology. As the "anomalies" (Kuhn) of this ethnography are presented, a series of paths becomes available to the reader to solve them. The successive epistemic labyrinths and the non-prescriptive character of writing seem to produce a kind of "drifting sensation" in reading, at the moment when the experiment becomes a rewriting of a text that is elsewhere from its self-criticism.
Abstract: This article aims to develop some reflections on a possible anthropology produced by drift. To this end I start from some questions: are there ways that researchers follow in common when developing their ethnographic research? Are there any conventions on how to proceed in the fieldwork? We could say even today, after the immense amount of 'ethnographic-inspired' research and fieldwork experiences (thus produced by anthropologists or not), that there is a protocol, or set of them, to be followed in moment of research construction? From questions such as these I aim to develop a theoretical reflection on a supposed 'random nature' of the paths and itineraries of an ethnographic research. Finally, I make notes on the possible consequences of the discussion proposal towards an anthropology background that does not depend on the research protocols of ethnography.
Antropologia: ontologias,
práticas, traduções; Cecilia Anne Mccallum e Fabíola Rohden org. p. 20 e 21)
de campo no Hotel da Loucura, localizado no Rio de Janeiro, organizadas em torno
de algumas crises epistêmicas na Antropologia sobre o método etnográfico. A partir
dessas experiências, esboço reflexões sobre os protocolos e os treinamentos existentes
para um(a) antropólogo(a) realizar seu trabalho de campo e sua etnografia, pensando-os
como montagens e desmontagens de cenas, experiências, conhecimentos e sentimentos
que parecem nunca compor um quebra-cabeça com um conjunto finito de peças. Argumento
que as montagens são parte de um processo de aprendizagem que compõe um
percurso à deriva, e a desmontagem é um evento de ruptura com o estabelecido e com o
conhecido. A fim de dar corpo a esse argumento, exemplifico com algumas passagens do
trabalho de campo como tais (des)montagens podem ser produzidas no texto. Por fim,
discuto as relações entre jogos de montagem e um regime epistêmico moderno, do qual
o projeto disciplinar antropológico, centrado na etnografia, é herdeiro.
"Scripture" as a game of (dis) montage: an account of the construction of an "open work" Abstract: I present here an account of an "writing" experiment (Derrida) where there is a proposal for a reading that constantly submits its own "disciplinary matrices" (Kuhn) to criticism. For this, textual performances were composed in which enigmas from some anthropological "epistemes" (Foucault) are presented, which (un) assemble ethnographic puzzles created from fieldwork carried out in (information omitted for effective double-blind evaluation). The guiding thread of such an experiment is the hypothesis that ethnography would be a "paradigm" (Kuhn) for Anthropology. As the "anomalies" (Kuhn) of this ethnography are presented, a series of paths becomes available to the reader to solve them. The successive epistemic labyrinths and the non-prescriptive character of writing seem to produce a kind of "drifting sensation" in reading, at the moment when the experiment becomes a rewriting of a text that is elsewhere from its self-criticism.
Abstract: This article aims to develop some reflections on a possible anthropology produced by drift. To this end I start from some questions: are there ways that researchers follow in common when developing their ethnographic research? Are there any conventions on how to proceed in the fieldwork? We could say even today, after the immense amount of 'ethnographic-inspired' research and fieldwork experiences (thus produced by anthropologists or not), that there is a protocol, or set of them, to be followed in moment of research construction? From questions such as these I aim to develop a theoretical reflection on a supposed 'random nature' of the paths and itineraries of an ethnographic research. Finally, I make notes on the possible consequences of the discussion proposal towards an anthropology background that does not depend on the research protocols of ethnography.
Antropologia: ontologias,
práticas, traduções; Cecilia Anne Mccallum e Fabíola Rohden org. p. 20 e 21)