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Irina Bacci: "Da Escravidão à ditadura dos corpos"

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Da Escravidão à ditadura dos corpos
(Por Irina Bacci)

Extraido de: http://flordoasfalto.blog.uol.com.br/





O passado, presente e quiçá, o futuro no Brasil parece ser permeado pelas mesmas vivências e infelizmente, comuns, violações dos direitos humanos. Da escravidão aos dias da atual democracia brasileira, observamos que nossa história está repleta de episódios onde somente os atores são trocados. Desde a chegada dos colonizadores no país, a violação dos direitos humanos, ainda que não entendida naquele contexto desta forma, pois o conceito de direitos humanos surgiu com a revolução francesa, é fato na sociedade, como parte integrante da herança colonial, escravocrata, machista, racista e discriminatória. Podemos comparar diversos episódios históricos do país com os dias de hoje e quem há de dizer que não há similaridade? Ou ainda, quem há de ter coragem em assumir que realmente a escravidão e a ditadura acabaram?

Podemos começar com recentes episódios como a ditadura e ainda que ela tenha acabado, será mesmo que estamos livres de direito e de fato? Será que vivemos realmente em uma democracia? Será que vivemos em uma sociedade realmente segura e justa? Numa sociedade tão desigual, onde viver a cidadania plena é privilégio de tão poucos, com certeza nos aponta uma sociedade onde o conceito de democracia é equivocado e nos enganamos em pensar que realmente temos a liberdade de ir e vir. Hoje a ditadura, obviamente, não é prática e tão pouco é o regime político brasileiro, mas subjetivamente, as práticas e conseqüências da ditadura ainda permeiam as cabeças e ações da nossa sociedade excludente, machista, racista e homofóbica.

O genocídio da juventude, sobretudo a negra, o assassinato impune das mulheres e a homofobia sanguinária são exemplos de que as conseqüências e marcas da ditadura, ainda exterminam seus filhos e filhas. A cidadania plena de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais continua sendo roubada caracterizando um processo de tortura a essas cidadãs e cidadãos de direito que não podem viver plenamente numa sociedade que não aceita e tão pouco respeita o livre direito ao amor, ao corpo e a felicidade. A esses filhos e filhas, o Estado Brasileiro prefere, ainda que com algumas ações, mantê-los na condição de cidadãs e cidadãos de segunda categoria e isto, não seria tortura? Negar-lhes o direito pleno e incondicional de serem livres, não é remontar as bases da ditadura?

Talvez nos dias hoje, não possamos afirmar que vivemos em uma sociedade escravista, mas será que a vivência da singularidade de nossos corpos não nos leva a uma forma de escravidão? Será que a sensação do escravo negro ao receber a liberdade pela Lei dos Sexagenários não é a mesma sensação da transexual ao conseguir adequar seu corpo na adultez? Fico imaginando o que se passou pela cabeça desses escravos ao saber que estavam livres com 60 anos de idade e o que fariam com a sua liberdade quando velhos?
Não será igual ao que passa na cabeça de uma transexual que consegue (quando consegue) sua cirurgia de readequação após perder sua adolescência, juventude e boa parte da fase adulta? O que essas pessoas farão com suas novas identidades sem tê-las vividos quando jovens? Será que o Estado Brasileiro não as está aprisionando-as, escravizando-as em seus corpos não desejados? E ainda pensando na história, mesmo que consideremos avanço, será que o processo transexualizador do SUS, não seja tão somente uma alforria para poucos? As que têm dinheiro para comprar sua liberdade? E ou as que têm sorte de serem laudadas como transexuais pelo saber médico? Não será tal como se submeter à vontade do senhor branco em alforriar seu escravo? Será mesmo que é o saber médico que nomeia a transexualidade?

E indo mais além, se considerarmos as travestis, talvez possamos compará-las com aqueles escravos considerados rebeldes e indisciplinados pelos senhores brancos, afinal como eles, elas também não se submetem à ordem social, pelo simples fato de não seguirem a normativa dos corpos e são, por natureza, subversivas, pois rompem os padrões de gênero e a lógica dos corpos binários, masculinos ou femininos e a elas, só restam a lei Áurea. Por fim, só espero que este dia não chegue tão tarde como chegou aos negros, pois senão os senhores brancos, irão se queixar das políticas afirmativas dizendo que suas gerações não tem culpa da escravidão e da ditadura dos corpos!

Irina Bacci , formada em fisioterapia e especialista em administração de sistemas de saúde, é feminista, integra o Coletivo de Feministas Lébicas e é coordenadora do Centro de Referência da Diversidade

ANEL: Moçoes de repúdio

quinta-feira, 17 de setembro de 2009


O Coletivo Stonewall esteve presente a reunião da ANEL (Assembleia Nacional dos Estudantes Livres) que ocorreu em São Paulo nos ultimos dias 12 e 13 e onde foram apresentadas as seguintes moções, sendo as 2 ultimas encaminhadas pelo nosso Coletivo:
(...)
8) Moção de repúdio à Psicóloga que dizia curar a homossexualidade

A Assembleia Nacional dos Estudantes – Livre repudia a psicóloga que ofereceu seu trabalho para “curar” a homossexualidade de possíveis pacientes. Entendemos essa postura extremamente homofóbica, que entende a homossexualidade como doença.

Essa postura é uma expressão muito agressiva das recorrentes relações homofóbicas que ocorrem nossa sociedade. Apesar de a mídia absorver essa discussão através de personagens em novelas, sabemos que isso só serve para criação e manutenção de estereótipos que refletem o preconceito, assim como acontece na opinião distorcida que a mídia impõe sobre a atuação dos movimentos sociais.

(...)

13) Moção de repúdio à postura homofóbica dos hemocentros
Os homocentros não aceitam a doação de sangue de homossexuais que são considerados grupos de risco na transmissão de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DTS’s e AIDS). Repudiamos essa postura e exigimos a imediata liberação da doação de sangue por homossexuais (GLBT).
(...)
16) Moção de repúdio ao preconceito do SEDUC de Rondônia

Nós, estudantes reunidos em Assembleia da ANEL (Assembleia Nacional dos Estudantes – Livre) repudiamos e denunciamos a mobilidade e a conivência por parte do SEDUC de Rondônia ao impedir, por motivação assumidamente transfóbica, o acesso da Professora Victória Bacon, profissional altamente qualificada e concursada ao cargo de professora.

(...)

18) Moção de repúdio à postura homofóbica do Estado do Paraná

Nós estudantes reunidos na Assembleia da ANEL repudiamos a morosidade e o desinteresse por parte da segurança pública do Estado do Paraná e por parte do Secretário Sr. Luis Fernando Dalazari, em averiguar denuncias de crimes homofóbicos, incluindo a agressão a um estudante da UFPR e o assassinato de pelo menos 8 travestis nos últimos 5 meses.


NOTA: Quem desejar ter acesso ao texto completo dos encaminhamento, favor enviar e-mail para: http://www.blogger.com/[email protected]

Artigo: Uma escola sem homofobia

sexta-feira, 4 de setembro de 2009


Um artigo recentemente publicado no site Pagina 20, por um estudante de ciência sociais e que demonstra a importância de uma educação inclusiva:


Uma escola sem homofobia
Germano Marino * (04-Set-2009)



Em 10 de dezembro de 1948 foi assinada a Declaração Universal dos Direitos
Humanos, estabelecendo, fundamentalmente, o direito à igualdade entre os seres
humanos. Ela foi uma resposta às atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra
(1938-1945). Transformou-se no documento mais traduzido do mundo e seu conteúdo
serviu como base para constituições e leis de mais de 90 países – ainda que
esteja disponível em apenas 350 idiomas.

No Brasil, a Carta embasou a Constituição de 1988 e passou a ser
internalizada de alguma forma pelos brasileiros, tornando-se o país num Estado
Laico. Uma parcela significativa da população brasileira enxerga os princípios
dos direitos humanos, apenas como uma política para proteger bandidos,
assassinos, estupradores, terroristas, enfim, causando uma grande repulsa da
população aos princípios da declaração, que preza tão somente pela igualdade
entre os seres. Para provar, podemos chegar a qualquer esquina de qualquer
cidade, é perguntar o que aquela pessoa entende por direitos humanos, logo
teremos uma clareza dos fatos, que por falta de conhecimento, a ignorância causa
um enorme buraco negro na luta de milhares de pessoas na conquista de cidadania
a índios, negros, deficientes, homossexuais, religiosos, crianças, idosos,
mulheres, direitos a qualquer ser humano que precisa ser respeitado na sua
diferença. As pessoas não querem enxergar que ninguém pede para nascer
assassino, delinqüente, usuário de drogas, mas que tudo isso pode ser fruto do
meio social, ocasionado como diz Durkheim, pelo fato social, que expressa à
coerção que o meio exerce sobre os “indivíduos perfeitamente inofensivos na
maior parte do tempo”.

Ao contrário de Émile Durkheim, o homem está inserido em relações
contraditórias presentes na conflituosa sociedade – segundo Karl Marx. Os
conflitos que permeiam a sociedade resultam do processo de produção onde aqueles
que detêm os meios de produção se impõem através da ideologia. Não esqueçamos
que as ideologias são pertinentes a qualquer sociedade, a qualquer espaço de
tempo é história. Umas mais avançadas outras mais rústicas, assim caminhamos
desde a existência da humanidade, em que convivemos sempre com as contradições;
mas não podemos fazer dessas contradições novos campos de guerra.Um dia na
campanha, andando distribuindo santinhos da minha candidatura a vereador pela
cidade de Rio Branco, entrei num ateliê de costura no bairro Santa Inês pedindo
voto para as pessoas que estavam dentro do estabelecimento, quando de repente
uma senhora grita alto: “eu não voto em gay!”, nossa! Tomei um grande susto, se
eu fosse uma pessoa esquentada, teria brigado com aquela senhora, me senti
profundamente agredido naquele momento, parei, respirei, disse que ela estava no
seu direito de votar ou não em um candidato gay, como também eu estava no meu
direito de ser candidato. Sai do recinto como se eu não estivesse pisando no
chão, gelado, nervoso. Depois de muitos anos lutando pela conquista de direitos
civis a população de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais do Acre
e Brasil, ainda me deparava com situações como aquela. Ela disse que não votava
em gay, se ela parasse para pensar que nos hospitais, existe uma parcela
expressiva de profissionais de saúde que são homossexuais, que atendem, cuidam,
salvam vidas de muitas pessoas sem fazerem qualquer tipo de assepsia, é um dia
ela que não vota em gay poderia precisar de cuidados destes mesmos
profissionais, ou a sua própria vida poderia ser valva por um desses sujeitos.
Sem falar que existem profissionais, educadores homossexuais, que estão todos os
dias ensinando aos mais diversos alunos, inclusive quem sabe algum de seus
filhos, afilhados, parentes ou vizinhos.

Se há pessoas, milhares delas que não votaram em mim por eu ser gay,
imagina se elas aceitam que seus filhos possam assistir a uma aula de um
professor gay ou uma professora lésbica? Existem milhares de pessoas que não
querem o contato de seus filhos com professores homossexuais, muito menos que
seus próprios filhos tenham colegas de sala gays. Os alunos por ventura chegam à
sala de aula, instruídos inconscientemente com os preconceitos de seus pais, ou
do meio em que vivem. A pesquisa divulgada pela Unesco, em 2004, identifica que
40% dos adolescentes não gostaria de estudar com homossexuais, é um dado em que
não podemos deixar de enxergar. Além da problemática enfrentada do preconceito
existente entre aluno contra outro aluno por ser homossexual, temos que tratar
também de falar do preconceito que determinados professores tem com alunos que
são homossexuais, problema este também identificado na pesquisa da UNESCO,
retratando que, 60% dos professores não sabem lidar com a situação de ter um
aluno homossexual.

Não existe uma faculdade especifica para formação de docentes na área da
sexualidade, as pós, as especializações, os doutorados, são outros cenários, mas
o que existe de fato são as matérias transversais, dos parâmetros curriculares,
que não deram conta de transmitir até agora o que em 10 de dezembro de 1948, foi
assinado na Declaração Universal dos Direitos Humanos, no artigo II “Que toda
pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades, sem distinção de
qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião
política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento,
ou qualquer outra condição”. Uma pessoa que tem o seu direito privado de
sobrevivência em ser respeitado na sua diferença conhece a dor de ser
discriminado.

O movimento nacional LGBT (lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais),
reconhece através de seus estudos é esforços a grande discriminação que jovens
estudantes sentem nas escolas por serem homossexuais. Entendem que tanto
professores é alunos precisam de informação, necessitando de capacitação, para
desmistificar o preconceito existente a alunos LGBTs. As capacitações são
necessárias para que o aparelho escolar possa conviver pacificamente com uma
nova realidade em sala de aula, onde existem adolescentes travestis, meninas
lésbicas, rapazes gays e filhos de pais homossexuais. A Associação Brasileira de
Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais - ABGLT lançou neste ano de
2009, um desafio para as suas afiliadas nos estados, a estarem discutindo dentro
das suas programações anuais da diversidade, com a sociedade Por Uma Escola Sem
Homofobia. Uma campanha voltada no enfrentamento ao preconceito, arrolado nas
mais diversas proporções no ambiente escolar.

A ANTRA – Associação Nacional das Travestis, portadora de diversas
pesquisas realizadas nas Paradas do Orgulho LGBTs no Brasil, identificou que o
aluno que mais sofre com o preconceito na escola, é o estudante travesti ou a
transexual, pois é muito complicado para um professor saber lidar com um aluno
que num ano letivo se veste como Francisco, é no outro ano está vestido como
Fernanda. Para o professor é os outros estudantes isso causa sérios problemas,
desde qual será o banheiro que este aluno travesti poderá usar, ou o nome pelo
qual será chamado, se Francisco ou Fernanda?Uma escola sem homofobia é uma
escola onde verdadeiramente se preza pela igualdade de direitos.



* Estudante de Ciências Sociais, pai-de-santo, ex-candidato a vereador e militante em direitos humanos

FONTE:http://www.pagina20.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=8830&Itemid=35