O Coletivo Stonewall, grupo de militãncia LGBT formado por estudantes, professores da rede pública do Estado do Paraná e membros da sociedade civil, viemos a publico denunciar a execravel atitude do SEDUC de Roraima, ao permitir a exoneração da Profª Drª Victória Bacon. Entendemos o evento lastimável do afastamento da profissional, para razão assumidamente transfóbica, uma perigosíssima afronta aos direitos mais elementares do cidadão brasileiro, segundo consta na CF. Alémdisto, consideramos o ocorrido uma prova cabal da falência do discurso meritocrático, que infelizmente grassa em nossa sociedade e tem influenciado na política das ONGs. O fato de uma professora altamente qualificada, com mestrado e doutorado não ter acesso a uma vaga no mercado de trabalho põe em cheque a teoria de que "a especialização profissional é garantia de emprego", uma vez que a mesma fora afastada descaradamente unica e exclusivamente por ser transexual e desta forma "dar um mal exemplo aos alunos".
O infeliz episódio põe em risco um enorme contingente de profissionais da área da educação que, por pertencerem ao segmento LGBT sentem seu direito de acesso ao trabalho ameaçado.
Encaminhamos ao Governo Federal, assim como o MEC que tome providências no sentido de salvaguardar os direitos de todos estes profissionais, assim como exigimos medidas duras por parte da ABGLT e das ONGs em relação a este caso específico.
Coletivo Stonewall
blog: http://coletivostonewall.blogspot.com
Contato: [email protected]
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Segue a noticia para aqueles que ainda não estão devidamente informados:
Professora transexual que sofreu discriminação, é exonerada pelo Governo
Processo administrativo que apurou denúncias feitas por mim, como sempre ocorrem nestes Brasis, (manda quem tem poder, caneta e dinheiro), acabou levando a minha exoneração. Sem qualquer tipo de prova material a meu desfavor, a Corregedora
Geral de Administração Alzira dos Santos Bezerra acolheu as denúncias feitas contra mim e “apuradas” pela equipe da CGA e o secretário de administração recém chegado aquela pasta senhor Moacir Caetano de Sant´ana deu a palavra final confirmando a perseguição e e intolerância pela opção sexual. O que me estranhou neste processo foi sua rapidez e voracidade. Em menos de quatro (4) meses o que é normal com outros servidores apurados pela CGA (entre 1 a 3 anos) fui condenada a perder meu emprego conquistado por prova de seleção pública e títulos. Neste processo as pessoas ouvidas são as que eu tinha denunciado direta ou indiretamente. Como autora das denúncias não tive nenhuma pessoa envolvida como testemunha a meu favor e sequer no dia que fui ouvida pela equipe da CGA/SEAD tive o direito de me apresentar com advogado, pois fora me avisado quando lá estava. Levei pen drive com e-mails, mensagens e testemunhos de meu trabalho desenvolvido nestes cinco (5) anos de educação rondoniense e nada foi anexado ao mesmo. Os alunos envolvidos no processo foram os mesmos que tentaram me prejudicar quando lecionava nas escolas (Castelo Branco, Risoleta Neves e Carmela Dutra) os mesmos que faziam chacotas de mim ou não me aceitavam pela minha orientação sexual. As denúncias que fiz contra estes alunos e contra a postura da equipe gestora destas escolas teriam de estar nas atas das mesmas pois foram registradas mas sequer foram anexadas ao processo, estranho né?
Uma servidora da escola Risoleta Neves chamada Sheyla que desenvolve atividade como orientadora educacional chegou a dizer que lá trabalhei como educadora durante 2 anos. Uma afirmação tão errada que nesta escola permaneci 10 meses e a mesma que trabalha em 3 empregos na Prefeitura de Porto Velho, de Candeias do Jamari e no Governo de Rondônia não teria a moral ética para servir de testemunha contra mim. E quanto a esta servidora como consegue trabalhar em 3 empregos durante um único dia? E a legislação permite? E a sindicância da SEAD onde está nestes momentos?
Quando a SEDUC resolveu lotar-me na escola Carmela Dutra fui veemente humilhada pela diretora Iná de Aquino que resistiu a me receber na escola (a conversa está toda gravada em áudio de celular em 02/07) e mostra a reação da diretora que só me aceitou após a interferência da secretária de educação. Durante estes 5 meses na escola foi muito difícil para mim, tentar livrar-me de um trauma de uma outra escola que sofri fortemente preconceito da equipe gestora, mas tive nos alunos a grande parceria para fortalecer meus desejos e vontade de vencer esta batalha. Infelizmente não somos amados por todos, pois nem DEUS nosso Pai Criador conseguiu esta proeza.Sinto-me feliz e realizada nestes meses de trabalho na instituição onde ganhei muitos amigos, realizei novas descobertas e passei a ver este mundo tão cruel com quem é diferente de outra maneira e forma.
Todas as situações de humilhação eu passei nas escolas das quais denunciei e na atual escola Carmela Dutra. Mas por orientação de um amigo passei a gravar as conversas que tinha com a diretora e a supervisora no celular. Entre essas conversas encontram-se nitidamente o desejo das mesmas em me ridicularizar, colocar os alunos contra mim e até mesmo criar situações constrangedoras que prefiro não relatar nesta Carta Aberta por ser incômoda e perplexa. Infelizmente a educação encontra-se padecendo por tipos de gestores sem sensibilidade e sem conhecimento de mundo e principalmente arcaicos no modo de pensar, agir e viver. E quanto à vice-diretora da escola Risoleta Neves que denunciei o que aconteceu com ela? Nada.E com o diretor Jéferson Sales da escola Castelo Branco? Nada e o que acontecerá com Iná Aquino da escola Carmela Dutra? Nada. São indicados pelo sistema podre de apadrinhamento político, este câncer que contamina o crescimento social e moral deste país. A velha e arcaica forma de comandar o poder e o Estado interfere no pilar mais importante da vida humana: a educação.Onde esteve a SEDUC quando me lotou naquela escola? O julgamento foi feito, mas, e o acompanhamento para se saber onde está o problema? Eu sim posso ser o problema, mas a orientação e o bom relacionamento são necessários para que um
profissional da educação possa enxergar melhor a forma com que trabalha como precisa melhorar e de que forma melhorou. Tudo isto nunca fora feito pela SEDUC. E quanto ao preconceito por eu ser transexual todos afirmaram no processo que não existiu. Claro que existe e sempre existirá. Ninguém afirmará que não aceita alguém por sua orientação sexual, pois estará assinando seu atestado de culpa. Por acaso algum ser humano vai declarar num processo que não aceita uma pessoa por que ele é negro ou muçulmano? Evidente que não. Obviamente da mesma forma que nenhuma pessoa em pleno uso de suas faculdades mentais irá declarar que não aceita uma pessoa por sua orientação sexual. A hipocrisia da sociedade brasileira é tão grande ao ponto de hostilizarem uma heterossexual de ir vestida de uma forma que ela se sente bem na universidade (caso da Geysa da UNIBAN). Agora imaginem com uma transexual e ainda na função de professora?
Encaminhei ao senhor Governador do Estado, Ivo Cassol, relatório para que observe como chefe do executivo as barbaridades cometidas neste processo. Não vou calar-me irei a todos meios possíveis e impossíveis para valer meu direito de cidadã, de educadora e de ser humano.
Estas pessoas envolvidas no universo educacional sejam alunos, pais, professores e equipe gestora precisam mudar seus conceitos e passar a conhecer a identidade de gênero, a opção sexual e dar valor ao mérito e não as formas como se veste, se pensa, se fala ou qual opção sexual prefere seguir. Várias matérias jornalísticas colhidas por mim apresentam nitidamente pessoas transexuais que sofrem preconceito no trabalho e até mesmo professores transexuais que lutam pra garantir sua função. Os links estão no final desta Carta Aberta e gostaria que vocês lessem as reportagens, analisassem e refletissem melhor sobre tudo o que está acontecendo comigo. Eu continuarei em Rondônia, pois aqui escolhi para viver, para colher meus frutos e tentar ajudar no crescimento intelectual de uma Rondônia tão massacrada por índices negativos e tão amada pelos filhos que acolhe. Aqui, nesta cidade de Porto Velho conheci a felicidade e também a desgraça. A desgraça de encontrar pessoas hipócritas como estes diretores de escola, estes alunos preconceituosos guiados por seus pais intolerantes e que de má fé, permeiam a inveja por não aceitarem o que é diferente e se julgam donos do mundo e da razão. Agradeço a todos que compartilharam comigo este desabafo.
Não perdi esta batalha, venci mais um desafio nesta vida cruel.Professora Victória Bacon
Transexual pode ser tudo aquilo que um heterossexual é.