Acontece-me, por vezes, virem-me à memória imagens distantes de situações vividas há já bastante tempo. Depois, a partir dessas primeiras, outras segundas se lhe seguem e depois terceiras e quartas, e assim sucessivamente até que alguma coisa à minha volta me faz acordar desse sonhar acordado e me traz de volta à realidade. É como se as memórias estivessem ligadas por um fio invisível que ao ser puxado trouxesse agarradas, umas após as outras, aquelas imagens de outros tempos.
Por vezes o fio de memória tem uma base comum que me faz saltar de uma recordação para a outra. Uma situação, um local, uma pessoa, ou simplesmente um sentir, são o suficiente para trazer à superfície imagens, directa ou indirectamente, associadas a essa mesma situação, pessoa ou sentir.
Outras vezes as imagens sucedem-se sem que exista essa tal base comum, ou talvez seja mais correcto dizer que ela existe e que apenas não me é aparente.
Há ainda os casos em que, como referia a amiga lélé num texto recente, o fio de memória me conduz por recordações adulteradas, ou mesmo completamente forjadas, como se as imagens de um sonho tivessem conseguido atravessar a fronteira entre esse mundo, supostamente imaginário, e este outro, supostamente real.
E no meio de todas essas recordações, puxadas por esse fio invisível, surgem-me por vezes imagens que estavam esquecidas nas profundezas da memória há tanto tempo que é inevitável ficar maravilhado...
Daqui em diante, sempre que um destes fios de memória não me parecer demasiado desinteressante ou impróprio, aqui o partilharei com quem vier espreitar neste cantinho. O primeiro desses fios já foi puxado, falta agora transcrever em palavras as imagens que ele me trouxe.
5 comentários:
Publiquei ontem um arame e este teu texto fez-me lembrar uma coisa que publiquei em Outubro de 2005, e que se chama A Linha. Acho que tem tudo a ver com os fios de que falas, não sendo exactamente a mesma coisa.
Também me acontece o que narras. E vejo-me aflito para evitar emaranhados.
O fio das memórias funciona como o dos diccionários e/ou enciclopédias, não é? Vamos à procura de uma palavra, um assunto e, a certa altura, já visitámos tantos outros, que até esquecemos aquele que lá nos levou!... É nessas alturas (também) que eu tenho a nítida percepção de que a disciplina é uma imposição, isto é, não nasce connosco!
E então para quando, o desenrolar desses fios??
Vamos ter de esperar muito, ainda??
Vamos lá a arregaçar os manguitos, a afiar o lápis, descontrair os dedos e começar a empreitada!
O que seriamos nós, como pessoas a viver o presente, sem as memórias de um passado? Seriamos pessoas diferentes? ...Penso que sim :)
Adorei este (e outros) texto(s) do teu blog.
beijinho
P.s. já agora, nada melhor que devaneios :)
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