Para o caso que ora me ocupa, considero de particular relevância que Sartre tenha dado à estampa um livro intitulado "Nausea" ("La Nausée", 1938) porque, de facto, o pseudo-intelectualismo é... nauseante.
Já tinha lido aí pelos blogs que, com certeza, se descobriu uma obra póstuma, até agora desconhecida, do existencialista francês. Acabo de ler a "Sábado" desta semana e confirmo aquilo que já tinha lido em meio internético. Hilariante. Acho, tão-somente, hilariante. Poucos sketches humorísticos me fariam rir desta maneira tão genuinamente sentida.
Pois eu cá, ignorante doutorada, profissional do intelectualismo académico (que ainda acho a melhor profissão do mundo), neurónio com um QI compartilhado por 3% da população mundial (e não sou eu que digo) nunca li substantivamente nenhuma das obras de Jean-Paul Sartre e, já agora, nem Sartre, nem Chomsky, nem Derrida, nem Deleuze, nem nenhum dos sensaborões da Escola Francesa. E, pasme-se o leitor deste post, essa ignorância fundamental não me amesquinha ou inferioriza intelectualmente.
Claro que consigo debater lucidamente o desconstrucionismo de um Jacques Derrida, cujas proposições utilizo academicamente e que considero, mais do que uma imensa liberdade interpretativa, uma saudável libertinagem analítica. Tenho na minha biblioteca "L'Autre Cap" (1990) que avança teoricamente pelas questões da alteridade. É um livro fascinante, certo, mas não leitura de mesa-de-cabeceira que se leia de um sopro e entre na lista de "Os Meus Livros de Sempre" e que eu, depois, alardeie publicamente.
Fico-me como o Alberto Gonçalves da "Sábado". Já que querem mostrar aprumo de leituras e finura de pensamento, e cito, "será assim difícil decorar quatro ou cinco títulos e quatro ou cinco autores que batam certo?"
Pois eu, adoro, de paixão intelectual mesmo, o "Orientalism" (1978) do Said, a meu ver uma matriz conceptual fenomenal para a questão fracturante mundial do Nós e do Eles, mas não é por isso que, à semelhança de Bhabha ou Spivak, não o "desconstuí" ou desmenti e esventrei em grandes mutilações em teses e artigos. Mas lá está, é preciso saber muito e gostar ainda mais para se poder falar, nem que seja mal.