26 de fevereiro de 2009

Post Intelectual



Para o caso que ora me ocupa, considero de particular relevância que Sartre tenha dado à estampa um livro intitulado "Nausea" ("La Nausée", 1938) porque, de facto, o pseudo-intelectualismo é... nauseante.

Já tinha lido aí pelos blogs que, com certeza, se descobriu uma obra póstuma, até agora desconhecida, do existencialista francês. Acabo de ler a "Sábado" desta semana e confirmo aquilo que já tinha lido em meio internético. Hilariante. Acho, tão-somente, hilariante. Poucos sketches humorísticos me fariam rir desta maneira tão genuinamente sentida.

Pois eu cá, ignorante doutorada, profissional do intelectualismo académico (que ainda acho a melhor profissão do mundo), neurónio com um QI compartilhado por 3% da população mundial (e não sou eu que digo) nunca li substantivamente nenhuma das obras de Jean-Paul Sartre e, já agora, nem Sartre, nem Chomsky, nem Derrida, nem Deleuze, nem nenhum dos sensaborões da Escola Francesa. E, pasme-se o leitor deste post, essa ignorância fundamental não me amesquinha ou inferioriza intelectualmente.

Claro que consigo debater lucidamente o desconstrucionismo de um Jacques Derrida, cujas proposições utilizo academicamente e que considero, mais do que uma imensa liberdade interpretativa, uma saudável libertinagem analítica. Tenho na minha biblioteca "L'Autre Cap" (1990) que avança teoricamente pelas questões da alteridade. É um livro fascinante, certo, mas não leitura de mesa-de-cabeceira que se leia de um sopro e entre na lista de "Os Meus Livros de Sempre" e que eu, depois, alardeie publicamente.

Fico-me como o Alberto Gonçalves da "Sábado". Já que querem mostrar aprumo de leituras e finura de pensamento, e cito, "será assim difícil decorar quatro ou cinco títulos e quatro ou cinco autores que batam certo?"

Pois eu, adoro, de paixão intelectual mesmo, o "Orientalism" (1978) do Said, a meu ver uma matriz conceptual fenomenal para a questão fracturante mundial do Nós e do Eles, mas não é por isso que, à semelhança de Bhabha ou Spivak, não o "desconstuí" ou desmenti e esventrei em grandes mutilações em teses e artigos. Mas lá está, é preciso saber muito e gostar ainda mais para se poder falar, nem que seja mal.

22 de fevereiro de 2009

Nem cá, nem lá



Vivo entre malas por desfazer e hotéis diferentes. Transito entre a pronúncia do Norte e o arrastar das palavras do Sul. Na solidão das viagens vejo a Vida como uma infinita sucessão de possibilidades. Pacifico-me. Dou-me o tempo necessário a deter-me no percurso. Faço desvios e evito as linhas rectas. Saboreio esta imensa liberdade e agradeço baixinho: não sei a quem, não sei a quê.

Por entre a claridade ofuscante dos raios de sol reflectidos no mar, vejo alguém que traz, suspensa no braço, uma cadeirinha de bebé. Não tenho filhos, mas se os tivesse acho que os carregaria assim, a tiracolo, parcelas pequenas numa alcofinha suspensa como uma carteira no meu braço. Gosto da imagem que me fica a pairar na retina. Olho o mar, o horizonte longínquo que se esbate nas ondas revoltas e brancas que fustigam o areal. O brilho intenso do espelho marinho fere-me os olhos pouco dados a grandes claridades. Mas gosto do calor plácido que me aquece a face e que sinto passar por entre a roupa até me tocar a pele. Aproveito os instantes.

A viagem segue. Tenho metas meridionais nas grandes planícies. Alguém me telefona e desvio-me do percurso. Páro na capital da República. Preciso encontrar ovos Kinder. Prossigo. Detenho-me para dar beijos e ovos de chocolate aos meus afilhados. Sou a super-madrinha! Sigo novamente. Na noite escura a planície é apenas uma infinita mancha plana e negra. Não sei onde estou, mas estou algures. Aprecio a sensação da falta de familiaridade. Estou longe de tudo. Levo-me a mim própria e noto que gosto da companhia. Sigo na estrada sem fim, pressinto a presença da paisagem que me envolve. Abro caminho, o meu caminho...

18 de fevereiro de 2009

Interlúdio

Porque nem só de ABBA e George Michael vive uma Blonde...
E digam lá se não é bem melhor do que a irmã?

To listen while Blonde is away. Cheerio guys!
Of course: Anoushka Shankar's "Naked".

17 de fevereiro de 2009

A Blonde e a Crise



Estou farta da crise!

Estou farta de pagar a crise!

Começo a crer que, além de ser uma rica pessoa, devo ser, igualmente, uma pessoa rica. Se não fosse, os sucessivos governos, à direita e à esquerda, não galopariam sobre mim como infame capitalista, money-maker de um raio de um raio de classe-média que, tal como os carros, se segmenta em gama alta. É isso, devo ser um Mercedes SLK Kompressor! Um Bentley é outra liga. E se eu fosse um Bentley certamente não pagaria a crise mas a crise pagar-me-ia. Gostava, sinceramente, que a crise me pagasse pelos anos de crise. Acho que tenho juros a haver numa factura com diversas parcelas. Fazendo bem as contas, a crise deve-me um Bentley para eu me deixar, de vez, de Mercedes. Não que eu tenha algo contra os Mercedes que até são deutsche Technologie e o meu BI ainda lá diz que eu tenho naturalidade alemã. Mas um Bentley... com motorista, já agora, que era para eu, refastelada e de flûte de champagne na mão, olhar a paisagem e ver a crise passar a grande velocidade para lá da janela fumada do meu Bentley.

- Ambrósio, que crise tão cinzenta acabou de passar agora, reparou?

- Sim, Milady, era uma crise e tanto.

Pois quando o PSD foi (des)governo lembraram-se de impor tectos de 1.000 euros e congelar progressões nas carreiras. Nem me aumentaram, nem progredi. Ali, queda e muda que era pelo bem do país!

Agora que o PS é (des)governo vêm-me com a história dos 1.900 euros e lá me vão aos bolsos. Aqui, queda e muda que é pelo bem do país! E o Louçã nem me venha dizer que a talhada corresponde a 50 cêntimos por dia que até podiam ser 5 cêntimos e a discriminação contributiva seria, a meu ver, a mesma.

Ah, e também não me venham com a história ridícula de que quem aufere maiores rendimentos tem de contribuir para a justeza social! Justeza social?! E quem me dá a mim justeza social? Não tenha eu seguros de saúde e PPRs e eu queria ver da justeza social! O que é que os meus impostos generosos me beneficiam? Que retribuição me confere o Estado Português se até para dizer que sou portuguesa pago 80 euros de emolumentos e carimbos de cada vez que me vejo numa situação qualquer que envolva registos civis e/ou prediais? E o mais ridículo é que cada papelucho que diz que eu sou legítima cidadã deste país me tem um prazo de validade de seis meses! Sim, como se eu um dia fosse portuguesa, no outro alemã e nos restantes logo se via.

Enfim, o que me vale é que os Mercedes têm chapa boa e muitos airbags que amortecem as colisões frontais com os (des)governos deste país. Eu é que, honestamente, não tenho feitio para crash-test dummy e aborrece-me solenemente que sejam sempre os mesmos a pagar crises crónicas e tão endémicas como a malária em África. E não, não sou minimamente elitista. Aflige-me que haja uma coisa chamada salário mínimo. Aflige-me que haja novos pobres. Aflige-me que haja espirais de dívidas nas quais as pessoas se enredam. Aflige-me a falta de liquidez nas famílias. Aflige-me a praga do trabalho mal-remunerado. Mas irrita-me pagar bairros sociais e rendimentos mínimos de inserção. E irrita-me ainda mais a discriminação económica de que sou vítima. E discriminação, que eu saiba, é sempre, e sempre, uma forma de marginalização.

Portanto, e em resumo, eu sou uma vítima económica.

14 de fevereiro de 2009

Amar apesar?


Há um ano atrás eu chegava aqui e escrevia, com toda a autoridade de loura burra convencida de que é esperta, que o amor não é uma coisa fácil e que só é realmente amor quando se conta o "apesar". Olhando para trás, não me revejo minimamente nas coisas que escrevi. Aliás, entre aquela pessoa que ali estava a escrever e esta que hoje aqui escreve há todo um abismo. Aquela pessoa lutava contra muros, achando estupidamente que o amor não tem de ser fácil porque quando é pode ser destruído com a facilidade proporcional. E mais estupidamente achava que um compromisso se pode e tem de manter no "apesar" do sofrimento, "apesar" do distanciamento, "apesar" do vazio, "apesar" do silêncio.
Hoje acho que "amar apesar" é uma estupidez, uma perda de tempo, um desinvestimento em Vida... um pecado, por muito que isso choque com a Igreja dos Homens. Amar apesar de nos tornarmos estranhos numa relação? Amar apesar da incomunicabilidade? Amar apesar do infindo peso com que esse pseudo-amor nos esmaga? Não. Amar não tem de ter apesar nenhum. Amar tem de ser uma coisa redonda, sem arestas, apêndices, grumos.
Fiquei egoísta? Talvez. Só sinto, neste momento, nesta fase, que o "apesar" não vale a pena. O amor acontece e ponto final. O amor é fluído e ponto final. O amor é "clean" e ponto final. Eu não tenho de amar apesar dos apesares todos. Eu não tenho de violentar sentimentos e forçar o amor. Eu só tenho de me encaixar no amor. Melhor, eu só tenho de esperar que o amor se encaixe em mim.
Fiquei desencantada? Não, nunca. O amor não desencanta ninguém. O que fazemos dele e com ele é que nos pode desencantar. O sentimento em si não. Há lá coisa melhor do que amar? Não é verdade que sem amor somos umas criaturas tristes e incompletas, cinzentas, vazias, anímicas?
Pergunto-me, com curiosidade, o que é que eu virei escrever aqui de hoje a um ano...

12 de fevereiro de 2009

FINALMENTE!!!!!!! 2


Nem acredito que chegou o SOL!!!!!!
Uma pessoa sente-se logo outra: menos sorumbática e amorfa. A Vida arrasta-se menos quando este sol, pouco quente e brilhante num céu limpo e lavado pela chuva, irrompe ao cabo de dias e dias de humidade e cinzento.
Só é pena eu estar aqui em prisão domiciliária, perdida entre livros e ideias para uma comunicação que tem de ser escrita e que não me apetece minimamente. Apetecia-me antes desatar a escrever um romance de cordel, algo que não me puxasse pelo cérebro louro e que eu pudesse ir fazer lá para fora, sentada no jardim com o pc ao colo (e o Spotty a chatear-me o juízo). Apetecia-me ler insanidades, fazer um capuccino e ficar a olhar para o céu.
Como alguém me disse aqui há dias:
"Hoje apetecia-me ser loura..."

10 de fevereiro de 2009

FINALMENTE!!!!!!!

Acabei! Acabei! Acabei!
Acabei a proof reading de um artigo para uma revista internacional que, das duas uma: ou me vai fazer levar uma carga de pancada, ou, meus amigos... (acho que aposto mais na pancada, não sei porquê).

Gaita que já nem posso ver o pc à frente! Tenho uma dor de costas que só visto! Ainda não pus os pés no ginásio esta semana (que é o que mais me lixa no meio disto tudo)! Se alguém me falar em Chicago Manual of Style nos próximos dias é favor fazer o testamento primeiro! E ainda tenho de ir escrever o artigo para uma conferência para a semana (que já nem sei sobre que tema é) e seleccionar as pilhas de abstracts para outra. HELP!

Bem-aventuradas as donas-de-casa (louras e bimbas) porque delas é o Reino dos Céus...

P.S. - Hmm, esta coisa de blog até nem é má para destilar venenos blondícos!

8 de fevereiro de 2009

Au Ballet



Aos anos que eu não ia ao ballet...

Gostei, mas deu-me pena que o Coliseu não enchesse como quando foi da Mafalda Veiga aqui há uns dias. E dá-me pena que as pessoas vão ao ballet como quem vai a um concerto rock. Isto, se calhar, é uma visão elitista das coisas, mas não é tão bom uma pessoa arranjar-se e aprumar-se para um serão de ballet, de ópera...? Não será tão agradável tirarmos a máscara desenxabida (?) do dia-a-dia e trocá-la por outra mais glamourosa? Não sei, digo eu que sou uma Blonde bimbo que, talvez retrogradamente, ainda crê que diferentes circunstâncias e estados de espírito vão melhor com umas máscaras do que com outras.

Merci, c'était, tout à fait, une très agréable soirée.

5 de fevereiro de 2009

Um dia Blonde

Dou comigo imóvel entre a ombreira da porta da despensa. Olho fixamente para as prateleiras cheias de tudo e mais alguma coisa: uma lata de azeite de Creta, embalagens de diversas espécies de cogumelos desidratados, um pote de chutney de manga, latas de leite de côco, chás de todas as proveniências, latinhas de moluscos que comprei em Espanha, massas de todas as qualidades e feitios, um frasco de molho de soja japonês e outro indonésio, sacos de ervas para queijo feta, ervas para moussaka, condimentos para tzatziki, as caixas todas de bombons que me deram pelo Natal e que se vão estragar, frutas em calda, puré de maçã, goiabada, um cesto com nozes que já devem estar ocas, eu sei lá. Acho que herdei da Mãe a síndrome alemã do bunker. Na nossa casa em Bremen tínhamos um que estava sempre atulhado de víveres para o caso de deflagrar uma guerra e eu achava aquele espaço o máximo. Como nós, os vizinhos todos. Lembro-me que um dia eu tinha uma bola encarnada com estrelas amarelas que me fugiu para o bunker da casa ao lado e eu tive vergonha de lá ir pedi-la. Se calhar ainda lá está perdida entre latas de Sauerkraut e Bockwurst à espera da guerra. E também me lembro de um dia a Mãe andar à vassourada a uma aranha preta, peluda e enorme que entrou sem convite no tal do bunker. Foi uma luta digna de se ver, mas a Mãe, linda com o seu cabelo louro impecavelmente apanhado e um mini aventalinho às flores encarnadinhas e umas socas com sola de madeira, venceu. Fiquei muito orgulhosa.

E agora aqui estou eu frente à despensa, olhando estupidamente para as prateleiras e a pensar que, se calhar, era boa ideia fazer qualquer coisa para jantar. Mas o quê? Não me apetece cozinhar. Por mim, comia uma rodela do ananás que sei está no frigorífico e despachava o assunto. Que tal uma pasta? Não, não me apetece ir fazer molho de tomate. E um risotto? Não, que deito sempre água a mais. Salada? Hoje não. Hmm... inventar uma coisa qualquer? Também não, passei um dia estúpido entre exames para corrigir, mails de Chicago, uma proof reading que já me farta o neurónio e a empregada esteve cá o dia todo. Não estou com pachorra para invenções. Estou tão apática que nem fui ao ginásio e este tempo húmido e frio já enjoa.

Oiço na televisão da cozinha o genérico do telejornal. Há que tempos não estou em casa a esta hora. Há que séculos não faço jantar. E eu ali em frente às prateleiras da despensa sem uma ideia, sem um apetite mais especial que me dê uma luz para o jantar. Sei que tenho ovos no frigorífico, mas devem estar estragados e depois o que é que se faz com ovos? O congelador também está cheio, mas já não me lembro de quê. De certeza que de peixe em todas as espécies e não me apetece grelhados. Penso numa salada de frutas. Afinal tenho a fruteira cheia. Mas só o trabalho de ir preparar os frutos e depois pensar no que vai sobrar, oxidar e acabar no lixo demove-me da ideia.

Arrasto-me para a cozinha. Ainda peguei num pacote de noodles chinesas mas o prazo expirara em Outubro. Na televisão a notícia de alguém que se matou e matou mais alguém lá para os lados do Portugal profundo e ostracizado. Não ligo, não me interessa. Decidi que vou fazer Abendbrot, que é tudo e nada, que não é uma receita, é só jantar em alemão. E na Alemanha o jantar é mesmo isso: Abend e Brot, o pão que se come ao serão.

No centro de um prato disponho umas rodelas de tomate e um punhado de salada de pacote. À volta umas amostras de queijo, uma fatia de presunto, que muito me admira ter em casa, e um pouquinho de um paté com frutos secos. Tosto pão. Faço um chá. Já está o dilema resolvido. Parece que os juros se vão manter nos 2%. Também não me interessa. Ainda me estou a lembrar da Mãe às voltas com a super-aranha. Acho que vou cedo para a cama. Talvez comece um livro novo...

4 de fevereiro de 2009

And the Oscar goes to...

... Sean Penn for his outstanding performance as Harvey Milk in "Milk".

Desde "Dead Man Walking" que eu pensava que era impossível o Sean Penn me surpreender porque o Sean Penn é absolutamente fantástico (e tenho pena de não conseguir verbalizar um adjectivo menos banal do que um insignificante "fantástico"). Genial, inigualável, brilhante... não, também são insuficientes e já muito gastos e vagos de sentido.

"Milk" é uma cine-biografia (hmm, I wonder if this exists) como tantas outras. Há muitas e boas biografias, esta é só mais uma. Não se acrescenta nada de novo ao género. Agora, este Harvey Milk, este Sean Penn, este demiurgo actor... Desculpem, não pode haver melhor. Estou na presença de um génio contemporâneo e tudo o que eu disser não diz rigorosamente... nada.

Acho que nunca na vida me apeteceu dizer "obrigada" a um actor, mas neste caso desconfio que era o mínimo:

Thanks Sean, I'm still in awe... (And trust my words, "awe" is an understatement).

3 de fevereiro de 2009

Ao Trio!





Éramos três. Três amigas. Veio a Vida e... uma foi para longe, outra para mais longe ainda, a outra ficou por aqui. Uma tomou um rumo, outra outro, a outra outro ainda. A nenhuma a Vida assentou de modo igual porque a Vida é irónica, porque as experiências, percursos e desvios no caminho são infinitos. Duas ficaram com a mesma profissão mas levam-na de modo diferente, a outra virou num cruzamento da estrada para outro lado ou, se calhar, as outras é que viraram e a terceira continuou em frente. Amizades e pessoas vieram e foram, algumas foram ficando e as três, lá naquelas distâncias da Vida e da geografia, mantiveram contacto nos interregnos do quotidiano: duas mais assiduamente, uma outra mais esporadicamente. Os anos passaram. A Vida aconteceu cheia de episódios, rotinas, quebras, procuras, frustrações, lutas, encontros e desencontros, felicidades e enganos e algumas tragédias. Uma soube o que era a Perda irremediável, as outras não. Uma soube da Maternidade, as outras não. Uma soube procurar as raízes junto da Natureza, as outras não. Uma casou e ficou, outra casou, separou e casou, a outra casou e separou. Uma é Loura, as outras não. Uma é casual chic, outra é clássica, a outra é mais neohippie. Uma é académica, as outras não. Uma é um ás da cozinha, outra mais ou menos, a outra evita lá entrar. Uma sabe podar, outra tem jardineiro, a outra tem filhos. Uma não vive sem ginásio, outra passeia os cães, a outra corre atrás dos filhos. Uma faz ponto de cruz, outra faz cachecóis de tricot, a outra tem um blog.


E agora? Agora que a do blog entrou numa fase nova, as outras fecham-se em torno dela. As distâncias geográficas vencem-se com a maior das facilidades. Os encontros são os reencontros de Amigas que nunca se distanciaram. Tudo permaneceu igual entre elas apesar da diversidade de Vidas. É como se o Tempo nunca se tivesse intrometido. Continuam naquele calor agradável das confidências feitas madrugadas dentro com pijamas vestidos tal como quando eram As Três. As outras preocupam-se com a do blog, telefonam entre elas e concertam estratégias. A do blog sabe e inunda-a a felicidade da certeza de viver dentro daquela irmandade. Sente-se tão privilegiada e tão segura.



São tão bons estes fins-de-semana que vocês me dão. Vocês falam de mim com um orgulho que me deixa tão sem jeito, vivem os meus triunfos, as minhas viagens como se fossem grandes coisas, que não são, mas é de vocês que eu me orgulho: dos vossos percursos, das vossas lutas do dia-a-dia, da vossa heroicidade. No fundo, acho que somos grandes Mulheres e gosto de ver aquilo em que nos tornámos.


Obrigada!