Será que você sabe o que é hemoglobina glicada (ou
glicosilada)? Existe a possibilidade de seu médico já ter solicitado este
exame, mas pode ter se esquecido de te explicar o que é.
O diabetes é uma doença bandida! Ela pode entrar em nossa
vida de uma forma insidiosa, escondida, silenciosamente e, de repente somos
surpreendidos. Aqui no Vale do Capão (na zona rural de Palmeiras-BA), onde
resido, havia um senhor que jamais ia no posto de saúde. Ele tinha uma saúde de
ferro, como dizia. Um dia passou mal e quando o examinei encontrei a glicemia
(índice de glucose – um açúcar – no sangue) elevadíssimo. Estava a ponto de
entrar em coma. O quadro era tão sério que fui obrigado a manda-lo ao hospital.
Foi assim que ele conheceu o diabetes.
Mas muita gente vai no posto para verificar a
glicemia e fica satisfeita porque o exame dá entre 95 e 105 mg/dL. Considera-se
normal até 99. Até 129 é pré diabético, ou seja, ainda não está com a doença.
No entanto, quando qualquer pessoa sabe que irá fazer o exame,
inconscientemente tende a reduzir o consumo de açúcar no período anterior e
assim “enganar” o médico e, mais ainda, a si mesmo. Esse engano não é
intencional, mas pode ser problemático.
É por isso que costumamos solicitar a hemoglobina
glicada. Ocorre que o excedente de açúcar no sangue se combina com a
hemoglobina, uma molécula presente em certas células do sangue, as hemácias ou
glóbulos vermelhos – ou seja, glicosila a hemoglobina. A hemoglobina tem o
papel essencial de levar oxigênio para todas as células do corpo. Mas quando
ocorre isso, a molécula perde a função. Aí você fica sem oxigênio em suas
células. Por sorte isso não acontece com toda a hemoglobina, se isso
acontecesse ia ser horrível. Ocorre que além disso este exame não depende do
que você comeu nos últimos dias e sim pode lhe dar o valor aproximado médio da
glicemia nos últimos 3 meses – não dá pra enganar, hehehe!
Considera-se que quem apresenta um índice de
hemoglobina glicada acima de 7% é diabético e carece de cuidados imediatos. Entre
5 e 7% há que cuidar-se.
Alguém pode pensar que trata-se de um percentual
baixo. Porém fique ligado, pois não é só 7% da hemoglobina que está
glicosilada, mas também o mesmo percentual das proteínas presentes no cérebro,
nos nervos periféricos, nos rins e assim estas estruturas começam a falir. Pode
ver entre aqueles que padecem de diabetes como se queixam de dores nas pernas
(por causa da glicosilação das proteínas dos nervos), e aumenta a possibilidade
de ter problemas renais. Isso sem falar que pessoas diabéticas têm 50% mais
possibilidade de desenvolver doença de Alzheimer. Percebem o perigo?
E sabe o que é pior? A maior parte das pessoas com
diabetes apresentam o tipo II, que está intimamente relacionado à alimentação.
Isso é algo terrível, pois nós não dos damos conta de que o diabetes, via de
regra, não é uma condenação divina, mas isso sim, é resultado de nossos
hábitos.
A Organização Mundial de Saúde divulgou há 2 anos
que a maior causa de diabetes II no mundo são os refrigerantes. Isso me assusta.
Hoje os pais compram refrigerantes a rodo. Vejo os carrinhos de supermercado
até aqui mesmo no Vale do Capão, em que pesem as campanhas que fazemos no posto.
Em outros povoados que visito a situação é muito mais grave. Mas o que fazer?
Não é muito... basta parar de tomar refrigerantes e
preferir comer frutas. Ocorre que a fibra presente nas frutas (e nos cereais
integrais – como o arroz vermelho que encontramos nas feiras aqui da Chapada –
e nas hortaliças, feijões) impede que o açúcar nelas presente “invada”
bruscamente o sangue, apresentando índice glicêmico elevado.
Hoje temos achocolatados (que tem mais açúcar do que
cacau), refrigerantes, bolachas, biscoites, bolos industrializados repletos de
açúcar a preços baixos. Mas depois fica caro a perda da saúde, e os custos
sociais e econômicos da doença.
Então, meu amigo ou amiga, ponha atenção na sua
glicemia, mas o melhor mesmo é basear sua alimentação em frutas, hortaliças
(legumes e verduras), cereais integras, leguminosas (feijões), deixando de lado,
ou comendo o mínimo possível, arroz branco, pão branco, quindins, doces, balas,
achocolatados etc. Não compre refrigerante para seus filhos (e também pra você,
claro!).
Sonho com uma campanha a se chamar: REFRIGERANTES
ZERO! Mas quem vai pagar? A indústria? Não, pois cabe a nós, leitor e leitora,
tomar a saúde em nossas mãos.
Recebam o meu abraço,
Aureo Augusto
Médico da USF de Caeté-Açu
Cidadão benemérito de Palmeiras-BA
Comendador da Ordem do Mérito Médico Nacional