Ela chega de todas as formas. Atravessando tecidos, rasgando pele e alma.
Como resistir a tamanha transparência?
Ela. Paradoxalmente cheia e leve.
Revela um universo inundado de si, e de mim.
Nesse instante nascem de quimeras e esperas.
De desejos ardentes pelo novo.
Como não provar do seu forte sabor?
Inspirada pelos poetas e corações partidos. Não possui reservas e fala além das palavras.
Lá fora, o frio do inverno apresenta-me sombras que impedem-me de ver seus contornos.
E aqui, sinto nos lábios o contraste desse sal que transporta o doce do sangue latente em mim. A transparência do novo. O vermelho da vida.
Com ela, chega a dor até então desconhecida.
Como ignorar a ambos, se o sentir me fascina?
Em seu toque, sinto-me viva. Quente. Límpida.
Hoje, ela vem do contraste entre o silêncio e a escuridão que reside lá fora, e os gritos e cores aqui dentro.
Enfim o novo. A vida.
E ela, a lágrima.
Atitude do Pensar
quinta-feira, 30 de junho de 2011
Carpinejar e minha dúvida
LEI SECA
Por Fabrício Carpinejar
O inimigo público do homem é o barman gostosão.
Foi ele que nos conduziu a uma crise de identidade sem precedentes, ao término do maniqueísmo e da Guerra Fria.
Do barman, veio o metrossexual, o pansexual e Patrick Swayze. Não duvido que os emos não sejam ramificações de sua índole.
O barman destruiu a luta entre o bem e o mal, tirou o homem do mundo e o colocou em casa para defender seu território doméstico. Ou ele voltava rápido ao lar, cozinhava, passava aspirador e cuidava dos filhos, ou perdia sua mulher para sempre.
O barman é o monstro pornográfico, o vilão erótico, destruiu nosso conforto maternal de comida e roupa lavada. Não tem como concorrer com ele: atende ao mínimo sinal, dança, rebola, canta e prepara poções melosas batizadas de filmes românticos. Uma mistura demoníaca de stripper, personal trainer, karaokê e liquidificador, tudo o que uma mulher sente falta em seu marido.
Quando ele surgiu, seminu e sarado, atrás dos balcões nos bares e boates, morreu o heterossexual como meu pai e meu avô conheciam.
O escandaloso e convencido barman suplantou o discreto e humilde garçom.
Morreu a gravata-borboleta para ceder espaço à bandana. Morreu o dente de ouro do maître para abrir lugar a aparelhos e piercings. Morreram os pelos dos ouvidos dos cinquentões para o reinado dos peitos depilados dos rapazes. Morreu o destilado caubói para um edifício de drinques coloridos e duvidosos. Morreu a simplicidade da bandeja pela agitação da coquetelaria. Morreu a imobilidade generosa do funcionário pelo show de malabarismo, acrobacia, e mágica. Morreu a elegância do dedo levantado em nome do assobio histérico.
O garçom exemplificava lealdade: padre que guardava nossos pecados e limpava a mesa. Fácil de acreditar, chorar dor-de-corno, pedir emprestado o ossinho do ombro. Nossa felicidade terapêutica consistia em oferecer gorjeta e derramar um pouco de bebida ao santo.
Já não conheço nenhum amigo que confie no barman. Sofre-se o medo de que ele se aproveite da fragilidade das confissões e seduza a esposa.
O barman é um infiltrado na barbearia; deveria aparecer longe de nossos olhos, somente no chá-de-panela.
Em sua companhia, não há como vacilar um minuto, somos obrigados a buscar bebida porque as mulheres criam motivos para se aproximar dele. É um risco, uma temeridade: jovens lindos, cheirosos, disponíveis, e traficando secretamente o número de seus celulares nas comandas.
O barman é o fim do faroeste, da porta-balcão, do cavalo amarrado no obelisco.
Não consigo imaginar John Wayne sendo servido por um barman.
Sentimos saudades do velho garçom.
Todo garçom tinha a obrigação de ser mais feio do que a gente. Uma tranquilidade que não volta mais.
O que nos resta é beber para esquecer. Dentro de casa.
DÚVIDA CRUEL
Preciso escolher.
Alguém me ajuda a decidir?
Por Fabrício Carpinejar
O inimigo público do homem é o barman gostosão.
Foi ele que nos conduziu a uma crise de identidade sem precedentes, ao término do maniqueísmo e da Guerra Fria.
Do barman, veio o metrossexual, o pansexual e Patrick Swayze. Não duvido que os emos não sejam ramificações de sua índole.
O barman destruiu a luta entre o bem e o mal, tirou o homem do mundo e o colocou em casa para defender seu território doméstico. Ou ele voltava rápido ao lar, cozinhava, passava aspirador e cuidava dos filhos, ou perdia sua mulher para sempre.
O barman é o monstro pornográfico, o vilão erótico, destruiu nosso conforto maternal de comida e roupa lavada. Não tem como concorrer com ele: atende ao mínimo sinal, dança, rebola, canta e prepara poções melosas batizadas de filmes românticos. Uma mistura demoníaca de stripper, personal trainer, karaokê e liquidificador, tudo o que uma mulher sente falta em seu marido.
Quando ele surgiu, seminu e sarado, atrás dos balcões nos bares e boates, morreu o heterossexual como meu pai e meu avô conheciam.
O escandaloso e convencido barman suplantou o discreto e humilde garçom.
Morreu a gravata-borboleta para ceder espaço à bandana. Morreu o dente de ouro do maître para abrir lugar a aparelhos e piercings. Morreram os pelos dos ouvidos dos cinquentões para o reinado dos peitos depilados dos rapazes. Morreu o destilado caubói para um edifício de drinques coloridos e duvidosos. Morreu a simplicidade da bandeja pela agitação da coquetelaria. Morreu a imobilidade generosa do funcionário pelo show de malabarismo, acrobacia, e mágica. Morreu a elegância do dedo levantado em nome do assobio histérico.
O garçom exemplificava lealdade: padre que guardava nossos pecados e limpava a mesa. Fácil de acreditar, chorar dor-de-corno, pedir emprestado o ossinho do ombro. Nossa felicidade terapêutica consistia em oferecer gorjeta e derramar um pouco de bebida ao santo.
Já não conheço nenhum amigo que confie no barman. Sofre-se o medo de que ele se aproveite da fragilidade das confissões e seduza a esposa.
O barman é um infiltrado na barbearia; deveria aparecer longe de nossos olhos, somente no chá-de-panela.
Em sua companhia, não há como vacilar um minuto, somos obrigados a buscar bebida porque as mulheres criam motivos para se aproximar dele. É um risco, uma temeridade: jovens lindos, cheirosos, disponíveis, e traficando secretamente o número de seus celulares nas comandas.
O barman é o fim do faroeste, da porta-balcão, do cavalo amarrado no obelisco.
Não consigo imaginar John Wayne sendo servido por um barman.
Sentimos saudades do velho garçom.
Todo garçom tinha a obrigação de ser mais feio do que a gente. Uma tranquilidade que não volta mais.
O que nos resta é beber para esquecer. Dentro de casa.
DÚVIDA CRUEL
Preciso escolher.
Alguém me ajuda a decidir?
Que tal a Paulinha, após confissões de buteco ontem...
[Me desculpem, mas deve ser o efeito do álcool que ainda encontra-se em mim]
terça-feira, 28 de junho de 2011
O Nunca Mais
O Nunca Mais não é verdade.
Há ilusões e assomos, há repentes
De perpetuar a Duração.
O Nunca Mais é só meia-verdade:
Como se visses a ave entre a folhagem
E ao mesmo tampo não
(E antevisses
Contentamento e morte na paisagem).
O Nunca Mais é de planícies e fendas.
É de abismos e arroios.
É de perpetuidade no que pensas efêmero
E breve e pequenino
No que sentes eterno.
Nem é corvo ou poema o Nunca Mais.
Tem nome veemente. O Nunca Mais tem fome.
De formosura, desgosto, ri
E chora. Um tigre passeia o Nunca Mais
Sobre as paredes do gozo. Um tigre te persegue.
E perseguido és novo, devastado e outro.
Pensas comicidade no que é breve: paixão?
Há de se diluir. Molhaduras, lençóis
E de fartar-se,
O nojo. Mas não. Atado à tua própria envoltura
Manchado de quimeras, passeias teu costado.
O Nunca Mais é a fera.
[Hilda Hilst - Fragmentos do livro Cantares do sem nome e de partidas - 1995]
Há ilusões e assomos, há repentes
De perpetuar a Duração.
O Nunca Mais é só meia-verdade:
Como se visses a ave entre a folhagem
E ao mesmo tampo não
(E antevisses
Contentamento e morte na paisagem).
O Nunca Mais é de planícies e fendas.
É de abismos e arroios.
É de perpetuidade no que pensas efêmero
E breve e pequenino
No que sentes eterno.
Nem é corvo ou poema o Nunca Mais.
Tem nome veemente. O Nunca Mais tem fome.
De formosura, desgosto, ri
E chora. Um tigre passeia o Nunca Mais
Sobre as paredes do gozo. Um tigre te persegue.
E perseguido és novo, devastado e outro.
Pensas comicidade no que é breve: paixão?
Há de se diluir. Molhaduras, lençóis
E de fartar-se,
O nojo. Mas não. Atado à tua própria envoltura
Manchado de quimeras, passeias teu costado.
O Nunca Mais é a fera.
[Hilda Hilst - Fragmentos do livro Cantares do sem nome e de partidas - 1995]
segunda-feira, 27 de junho de 2011
Being Erica
Being Erica foi uma das mais deliciosas surpresas nesse universo de seriado. E que, infelizmente, teve seu final por falta de ibope e logo, verba, saindo então das telas muito rapidamente.
O seriado é uma produção canadense e conta a história de Érica, uma mulher inteligente, engraçada, mas frustrada. Érica está desempregada e solteira, tendo 32 anos. E ainda possui uma série de fracassos e arrependimentos do passado que influenciam em sua vida atual. Acreditando que sua esperança chegou ao fim, a personagem conhece Dr. Tom, que irá levá-la a uma viagem pelo tempo, onde a mesma retornará ao passado, revivendo-o e modificando-o.
Até esta data o seriado possui apenas 3 temporadas, mas há uma possível chance de retornar nesse ano. O que espero ser verdadeiro, visto que na madrugada de sábado encerrei todos os episódios e já sinto saudades do terapeuta, de Érica e suas viagens pelo tempo.
[Sebastian (Kai) - Alien like you]
sexta-feira, 24 de junho de 2011
Devaneios acerca dessa caminhada
Quando trabalhei com crianças em situação de risco, havia uma senhora que não gostava de mim, e acabava me enxergando segundo o seu sentimento. Troquei de Casa Lar e acabamos nos encontrando em determinado momento, e por algum motivo que me é desconhecido, ela passou a ter grande empatia por mim. Comentava que quando me conheceu eu era outra pessoa, e que eu havia mudado muito. Se eu não me conhecesse tão bem, poderia ter concordado com ela e, por mais que eu tivesse mudado - o que não era muito -, decidi não render conversa e curtir o momento de aproximação.
Contudo, aquela senhora marcou minha vida, não apenas pela amizade que surgiu, mas pela pessoa que era. Bem, eu tenho um grande anseio e quase que um medo em chegar na velhice sem maturidade. Não possuo medo das rugas, da pele flácida, mas sim, de não absorver o que a vida me proporciona ao longo dos anos. De ficar amargurada, rancorosa, preconceituosa...
Dentro disso, quando as pessoas me dizem quem eu sou para elas, sempre fico desconfiada. Afinal, sei quem eu sou aos meus olhos; meus defeitos e minhas qualidades. Assim como minha busca por uma humanidade melhor e, portanto, analiso as colocações bem detalhadamente, relacionando com o que entendo a respeito de como me enxergo.
Ainda sobre isso, ontem lembrei de uma pessoa que sempre me dizia que eu exagerava quando este fazia algo que me magoava. Exagerar aqui, não é fazer escândalos, ficar sem conversar, e sim, sentir dor por este motivo. Olha, não acredito ser exagero e, sinceramente, penso que jamais acreditarei, pois algo que aprendi sozinha, é que cada um tem a sua dor e a forma de lidar com ela, ou como já bem disse Caetano: Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é.
Desde março desse ano, essa mesma pessoa está chateada comigo e mal me cumprimenta, disse que é o seu momento de sentir a dor e me esquecer (tá, já perceberam que tô falando do ex). Diante disso, o que me resta fazer é respeitar seu momento, mesmo não compreendendo e não concordando com a ideia de que fiz algo terrível (sabe aquele tipo de pessoa que te ferra, mas faz de tudo para reverter o jogo contra você). Sendo assim, cabe a mim, o esforço em dar espaço, deixando-o com suas dores e mágoas, até porque cada um possui a sua. No entanto, quando refleti sobre isso ontem, descobri algo incrível, aquelas revelações que são inesquecíveis. Descobri que, apesar de ter passado (fica no trocadilho) por tantos momentos de dores com ele, ter ficado com trauma de dia dos namorados por causa dele, ter perdido o show do Damien Rice por ele, e tantas outras coisas, a dor ficou registrada, mas não me limito a ela. Afinal, é da minha natureza sempre ver o lado A, B, C e afins das coisas. E isso, é uma das coisas que mais gosto em mim: Ser capaz de amar, ser magoada, machucada, mas superar tudo isso com uma rapidez fora do comum. Conseguir olhar para a pessoa e enxergá-la como eu sou; contraditória.
Enfim, é bom lembrar que não sou apenas um ser que possui características ruins, mas que em minha contraditoriedade também possuo qualidades. Espero chegar no amanhã um pouco melhor do que sou hoje. Não uma pessoa reconhecida por ser boazinha, apenas melhor...
quarta-feira, 22 de junho de 2011
Democracia elitizada
As aulas de teoria política ficaram registradas em minha memória pelos pensadores, pela professora, pelo momento, pelas discussões. E as fotografias mentais, lembram-me de um tempo onde eu era capaz de ler os textos propostos, além de vários outros (hoje eu tenho que escolher entre um ou outro), levando para sala de aula discussões e construções acerca dos direitos, do acesso e da democracia. Sobre esses dois últimos, reflito constantemente, mas nesse instante tenho pensado principalmente a respeito da democracia.
Perspassando desde sua gênese, com os gregos e o governo do povo (onde mesmo existindo a discussão da democracia, havia exclusão de negros, mulheres, crianças e escravos em geral); o Estado Liberal de Direito do século XVIII e a Revolução Industrial (que apresenta o palco de lutas de interesses burgueses e proletários); a Constituição Moderna (marcando os direitos econômicos e sociais) e a Constituição Brasileira de 1824 (sendo substituida até chegarmos a histórica de 1988).
No entanto, compreendo que democracia não se limita somente ao governo, refere-se a tudo que representa o homem político, isto é, ao ser sócio-político. Portanto, entendo que a democracia envolve a participação do povo em todas as esferas e não apenas ao voto. Engloba o gênero, a etnia, às classes sociais, ao individualismo positivo, a identidade, a coletividade e afins. Sendo assim, democracia possui uma relação com a exclusão e o acesso. Com o indivual e o coletivo.
Mas afinal, estamos realmente dispostos a efetivar a democracia em todas as esferas?
Não falo sobre a relação Estado x Sociedade Civil, mas sim, a democracia estabelecida em nosso cotidiano. Os conceitos existentes em nós. Nossas verdades e o resultado delas por meio de nossas ações. Verdades estas, que refletem em outro indivíduo.
E como fica a democracia que representa o direito de todos possuirem seu gosto musical e terem acesso ao meu (que nem é meu, mas pertence a um grupo)?
Do direito de todos possuirem seus próprios sabores e terem acesso ao meu?
Ou será que estamos elitizando nosso conhecimento, nossa cultura, nossos gostos, nossas descobertas?
Não acredito que vivemos a democracia real, mas defendo que ela inicia-se em uma esfera menos abrangente, quase que individualmente, ou seja, em pequenos grupos, pares e internamente.
Reconheço a existência de uma linha tênue entre o individualismo e a democracia. E a dificuldade em saber se possuo ou não o direito de não ser democrática em alguns dos meus contornos. Porém, alguns diriam que reconhecer já é um começo...
segunda-feira, 13 de junho de 2011
Perdas e Ganhos
Sei que já postei essa música aqui e peço desculpas por ser redundante, mas eu a tenho cantarolado diariamente, desde o fim de semana que iniciou o mês de junho.
PERDER SEM SE PERDER
"Foram-se os amores que tive ou me tiveram: partiram num cortejo silencioso e iluminado. O tempo me ensinou a não acreditar demais na morte nem desistir da vida: cultivo alegrias num jardim onde estamos eu, os sonhos idos, os velhos amores e seus segredos. E a esperança - que rebrilha como pedrinhas de cor entre as raízes"
[Lya Luft - Secreta Mirada - 1997]
DA CARTA QUE EU NÃO TE ENVIEI
Querido, esperei que essa data comercial conhecida como 'O dia dos namorados' se encerrasse, para que assim eu pudesse retornar por meio dessas linhas. Você sabe do meu desprazer pelas datas comerciais. Se bem que essa data em especial, causa-me desprazer ao quadrado, visto que só me traz recordações dolorosas. Fotografias de um momento frustrado por sua falta de palavra, quando se trata de colocar em prática promessas e combinados. Mas enfim, essas linhas que outrora declararam o meu amor e o meu desamor por você, surgem dessa vez, para que saiba que sua presença ainda é sentida. Que apesar de não te procurar, tudo não passa de uma forma de respeitar o seu espaço e o meu. No entanto, ontem descobri que essa presença tem sido como um corpo estranho alojado em mim. Não se apresenta mais de forma natural. Não é mais desejada. Não é mais procurada. Porém, também descobri que graças as marcas do nosso desamor, ainda ando cambaleando, com reservas e temores. Logo eu, que pensava ser aberta ao amor, me peguei fazendo caras e bocas quando se aproximaram de mim, desejando adentrar meu universo. Após essa descoberta, passei a trilhar um caminho de dúvidas: Será que ainda te amo? Sinceramente, não sei responder. Não sei nem o que sinto em relação a você. E nesse instante, questiono até o porque de ter te amado tanto. Meu olhar limita-se somente aos males advindos de nós. É claro que tivemos bons momentos, mas não consigo lembrar-me deles. Estou estática nas brigas, nas perdas, nas dores. Olha, querido, não é que eu me arrepende de ter sido nós, e nem que eu esteja vivendo o melhor momento da minha vida, mas apesar dos percalsos, da solidão, do silêncio, reconheço-me no espelho. E apesar de ainda não conseguir abrir meu coração para um outro mundo, ele está aberto para o meu eu. E algo que decidi, é nunca mais deixá-lo de lado, mesmo quando eu vier a ser um outro nós. Ah, aproveitando que estou aqui discorrendo alguns sentimentos, informo-lhe que quando recebi seu e-mail no inicio da semana passada, fiquei relutante em responder-lhe, mas quero muito que saibas que em meu coração, habita somente desejos bons em relação à você. Portanto, fico feliz com a notícia e espero que suas expectativas em relação a esse sonho tão antigo cumpra-se. Que seja suprido e respondido à altura dele. Aproveito para agradecer-lhe pela indiferença, pelo distanciamento, por atuar como um estranho nos momentos em que nos encontramos ao acaso. Isso tudo só contribue para que eu me afaste do que já senti, para que o amor - se ainda reside por aqui -, se vá.
Como disse-lhe certa vez, espero que um dia, nossas dores sejam menores do que o amor que já sentimos pelo outro. E lembro-lhe que cada um de nós, temos nossa própria dor, decepção, desamor e a medida para tudo isso.
Encerro por aqui, deixando beijos saudosos.
Afetuosamente,
K.
quinta-feira, 9 de junho de 2011
Meme Literário (Desafios meus e seus)
Desde o convite da Lu, Borboleta, tenho me encontrado em ensaios quanto a um certo desafio. No entanto, após receber o mesmo desafio da Lu que vive ali no sotão, esforcei-me mais ainda por cumpri-lo. Visto que, além deste chegar ao quadrado, recusá-lo seria uma afronta à dimensão do querer bem essas duas. Nesse sentido, agradeço à elas por me render viagens pelas palavras que já adentraram em meu ser, e apresento-lhes o resultado desta, nas linhas que se seguem...
Tinhas o hábito de ler quando crianças?
Essa não era a ordem, então não me aterei a sequência das perguntas, uma vez que acredito que tudo inicia-se quando ainda somos pequenos, e nessa época, eu era uma leitora compulsiva, imaginativa, solitária e fã da biblioteca. Entre os que mais me marcaram quando iniciei minhas leituras, encontram-se alguns da coleção vagalume. O meu predileto é o livro Eramos seis de Mária José Dupre, porque acompanhar o crescimento das crianças, era me preparar para o meu próprio crescimento. Naquela época, visitar a estante de livross da minha mãe era algo mágico, e lá, eu descobri dois livros que marcaram minha vida Ninguém é uma ilha do escritor Johannes Mario Simmel, por sua história comovente, onde mostra a superação de barreiras e novas possibilidades (eu o li em um momento de muitas mudanças e dores, e por isso é um dos livros que mais desejo ter em minhas mãos novamente). De lá também me deliciei com a obra Eu sei que vou te amar de Arnaldo Jabor, pela história de desamor, reencontros e pela linguagem erótica; um mundo novo que descobri naquele instante (é outro que não encontro há uns 18 anos, seria bom reler). Também tem O Diário de Anne Frank, pelo medo que já residia em mim (medo da maldade que habita em humanos).
Tinhas o hábito de ler quando crianças?
Essa não era a ordem, então não me aterei a sequência das perguntas, uma vez que acredito que tudo inicia-se quando ainda somos pequenos, e nessa época, eu era uma leitora compulsiva, imaginativa, solitária e fã da biblioteca. Entre os que mais me marcaram quando iniciei minhas leituras, encontram-se alguns da coleção vagalume. O meu predileto é o livro Eramos seis de Mária José Dupre, porque acompanhar o crescimento das crianças, era me preparar para o meu próprio crescimento. Naquela época, visitar a estante de livross da minha mãe era algo mágico, e lá, eu descobri dois livros que marcaram minha vida Ninguém é uma ilha do escritor Johannes Mario Simmel, por sua história comovente, onde mostra a superação de barreiras e novas possibilidades (eu o li em um momento de muitas mudanças e dores, e por isso é um dos livros que mais desejo ter em minhas mãos novamente). De lá também me deliciei com a obra Eu sei que vou te amar de Arnaldo Jabor, pela história de desamor, reencontros e pela linguagem erótica; um mundo novo que descobri naquele instante (é outro que não encontro há uns 18 anos, seria bom reler). Também tem O Diário de Anne Frank, pelo medo que já residia em mim (medo da maldade que habita em humanos).
Existe um livro que lerias e relerias várias vezes?
Não sou muito de reler livros, mas há alguns que faço questão de visitar novamente, pois sempre possuem algo novo a me dizer, são inclusive, livros que li no inicio da juventude, como O pequeno Príncipe de Saint Exupery, que me revela coisas intrisicas ao observar cada um dos personagens. O Jardim Secreto de Frances Hodgson, pela amizade ali vislumbrada e a cura que foi transportada das linhas para meu ser. 1984 de George Orwel, pela identificação quanto a postura humana e política. A insustentavel Leveza do Ser e Rísiveis Amores de Kundera, porque lê-lo, é sempre uma viagem de ir e vir. Inventário do ir-remediável de Caio Fernando Abreu, pois nosso primeiro encontro foi singular e adentrou atmosferas desconhecidas. O Alienista de Machado de Assis, por me interessar muito pelo tema da loucura e lê-lo em Machado ter sido algo prazeroso.
Não sou muito de reler livros, mas há alguns que faço questão de visitar novamente, pois sempre possuem algo novo a me dizer, são inclusive, livros que li no inicio da juventude, como O pequeno Príncipe de Saint Exupery, que me revela coisas intrisicas ao observar cada um dos personagens. O Jardim Secreto de Frances Hodgson, pela amizade ali vislumbrada e a cura que foi transportada das linhas para meu ser. 1984 de George Orwel, pela identificação quanto a postura humana e política. A insustentavel Leveza do Ser e Rísiveis Amores de Kundera, porque lê-lo, é sempre uma viagem de ir e vir. Inventário do ir-remediável de Caio Fernando Abreu, pois nosso primeiro encontro foi singular e adentrou atmosferas desconhecidas. O Alienista de Machado de Assis, por me interessar muito pelo tema da loucura e lê-lo em Machado ter sido algo prazeroso.
Existe algum livro que começaste a ler, paraste, recomeçaste, tentaste e nunca conseguiste ler até o fim?
Detesto não dar continuidade em qualquer coisa que faço, mas não adianta, sempre acabo deixando algo de lado. Isso também reflete em dois livros que tentei ler várias vezes sem conseguir findá-los. Pra piorar, ambos são de escritores que moram em meu coração: Dostoiévisk e Os Irmãos Karamazov, talvez pela dor que me causa ao lê-lo e Cristianismo Puro e Simples de C.S. Lewis, que já não sei bem o motivo de não terminá-lo.
Se escolhesses um livro para ler para o resto da tua vida, qual seria ele?
Não sei se conseguiria escolher somente um livro para ler para o resto da vida, se pudesse negociar, pediria Noites Brancas e Memórias do subsolo de Dostoiévski, estes livros chegaram sem pedir nada e revelaram um mundo muito meu. Os Demônio de Loudon de Aldous Huxley, pelo impacto que causou em meu ser quando lido, além de ser uma escrita diferente da que estava acostumada a encontrar quando o lia. E a Biblia, pois me acompanha desde que sei ler e revela uma humanidade contraditória (que nem a minha), além de um Deus humano por meio de Cristo. Mas se não fosse possível levá-los, ficaria com qualquer um de Clarice Lispector, nela posso encontrar-me sempre.
Não sei se conseguiria escolher somente um livro para ler para o resto da vida, se pudesse negociar, pediria Noites Brancas e Memórias do subsolo de Dostoiévski, estes livros chegaram sem pedir nada e revelaram um mundo muito meu. Os Demônio de Loudon de Aldous Huxley, pelo impacto que causou em meu ser quando lido, além de ser uma escrita diferente da que estava acostumada a encontrar quando o lia. E a Biblia, pois me acompanha desde que sei ler e revela uma humanidade contraditória (que nem a minha), além de um Deus humano por meio de Cristo. Mas se não fosse possível levá-los, ficaria com qualquer um de Clarice Lispector, nela posso encontrar-me sempre.
Que livro gostarias de ter lido mas que, por algum motivo nunca leste?
Não li Cartas de um sedutor de Hilda Hilst, na realidade ela me chegou tardiamente, mas gostaria muito de tê-la lido na juventude. Recentemente baixei uma coletânia dela, onde reune suas obras entre 1950-1996, com isso poderei ser envolvida por várias de suas palavras, entre elas o livro em questão.
Que livro leste cuja 'cena final' jamais conseguiste esquecer?
Nossa, lembrar da cena final de qualquer coisa me é muito difícil, mas, no entanto, guardo o final de A menina que roubava livros de Marcus Zusak, pela forma como o poder das palavras foi trabalhado, pela empatia que senti em relação a morte e claro, pela menina que roubava livros. A insustentável leveza do ser pelo desejo em que terminassem juntos e pelos arrepios que o desefecho me causou. Outro que lembro-me muito bem é 1984, pela crítica contínua utilizada pelo autor, não fugindo ao finalizar a história.
Qual o livro que achaste chato e mesmo assim leste até o fim? Por quê?
Amo Virginia Wolf, mas achei Flush, Memórias de um cão um pouco chato, no entanto, a curiosidade de vê-la ali era tamanha, que consegui dar continuidade.
Indica alguns dos teus livros prediletos:
Meus livros prediletos vão desde os já citados: Demônios de Loundon, por gostar de literatura histórica e com temas sobre a inquisição. Inventário do ir-remediável, pela surpresa de um encontro tão intimista. Amores risíveis, porque gosto de rir de mim mesma. 1984, por tratar de questões que também me incomodam. Memórias de um subsolo, pela consolidação do meu amor por Dostoiévski. Os não citados: Emma de Jane Austen, por ter chegado em um momento certeiro. O vestido, de Carlos Herculano Lopes, por ter um enredo e uma escrita encantadora. Perdas e Ganhos de Lya Luft, porque lê-lo representará sempre um recomeço, um renovo de amor pela vida.
Que livro estás a ler nesse momento?
Nesse exato instante, tenho me empenhado em ler a Obra poética reunida de Hilda Hilst, entre elas Trajetória poética do ser (1963-1966), Roteiro do silêncio (1959), Do desejo (1992) e outros. Ah, também tem os livros para o Mestrado: Orientalismo de Edward Said, por se tratar de uma questão complexa sobre Oriente e Ocidente, o que irá auxiliar na construção da minha defesa quanto a postura ocidental em impor os Direitos Humanos (criado por este) sobre as culturas não ocidentais. O papel do indivíduo na história de Plekhanov, que apresenta várias visões sobre a construção da ideia de qual papel desenvolve o indivíduo na sociedade. Além de inúmeros artigos sobre o continente africano.
Indica dez amigos para o Meme Literário.
Alguns dos que iria indicar já foram indicados, portanto deixo o convite para os descritos abaixo e à todos que desejarem participar.Roderick do blog Delírios e surtos de Roderick Verden, pois acho-o uma pessoa ímpar e tenho curiosidade de saber por onde sua mente já passou.
Nicolau (Ailton) do blog Produção Marginal, por partilhar de algumas posições políticas e sociais deste.
Débora do blog eu, borboleta, pra saber se está conseguindo conciliar as provas finais de semestre e a leitura feita por prazer.
Diego do blog Câmera de vigilância, pela empatia que sinto em relação a postura dele e por ter sido uma surpresa muito boa desse universo blogueiro.
Heat do blog Fullutilidade, recém chegada por aqui, mas gostei da garota. Estou curiosa em conhecê-la melhor. terça-feira, 7 de junho de 2011
Dos meus medos - Parte II
Tenho consciência dos meus medos e sabê-los, torna-me forte. Afinal, enquanto contradições também sou coragem, e enfrentá-los pode ser tanto um dilema, onde a dor se faz presente, quanto sabores inefáveis.
Nesse sentido, compreendo que sou assim, uma coragem arrebatadora ou um medo do singelo (são daquelas coisas mínimas que possuo medo em meu cotidiano). Mas há aqueles medos sociais que fazem parte do indivíduo que sou.
São medos maiores de quem eu sou.
São medos que permeiam o todo.
Medo das banalizações, dos extremos.
Medo da liquidez. Do individualismo negativo.
Medo de permitir que o sistema de consumo me envolva completamente.
Medo de duas palavras: Relativização e desnaturalização. Medo do mau uso delas para caracterizar algo, para legitimar posições. Medo de não saber até que ponto devemos relativizar. E até onde podemos desnaturalizar.
Tenho medo do pós tudo.
Medo de que seja necessário ordem.
Medo de sermos indignos da liberdade. Medo de jamais conquistá-la.
Medo de que a ideologia jamais ressuscite.
Medo de apenas existir, não sendo possível ser.
Medo de continuar sendo. Medo de impedir a metanóia. E como já disse por aqui, medo do medo.
sexta-feira, 3 de junho de 2011
Apenas uma vez ou mais uma vez
ONCE
Enquanto corria pela praça da Liberdade ontem à noite, fui refletindo em como nós; humanos, somos incríveis em nosso forma de juntar todos os cacos e transformá-los em uma linda obra de arte, reconstruindo assim nossas vidas. Bem, segundo Lya Luft, viver é transformar-se, ou ao menos deveria ser "até o último pensamento e o derradeiro olhar - transformar-se". Mas não foi apenas enquanto corria que ia adentrando nesse universo. Em cada leitura do livro Perdas e ganhos da autoria de Lya, entre lágrimas, arrepios e cura tenho me empenhado em abrir e fechar portas. O livro tem me surpreendido, e o impacto que tem causado, é daqueles que podem render uma nova página da minha vida.
Mas enquanto corria, lembrei-me do filme Once. E ao lembra-me iniciei um processo de pensar nos meus desamores, temores, perdas e novas caminhadas. Em onde exatamente me encontro nesse caminho. Em quem sou a essa altura do tempo. Enfim, esse pensamento permaneceu ao longo da noite e hoje, quando sentei em frente ao computador, fui consumida por uma vontade de ouvir a trilha sonora do filme. Once é uma produção independente, sem a presença de grandes atores (inclusive, os principais nem atores são, e sim, músicos) e narra a história de duas pessoas desconhecidas que são unidas pela música e pelo desejo de recomeçar. Podemos ver uma belíssima fotografia da cidade de Dublin, na Irlanda e ouvir uma das trilhas sonoras mais bonitas que já tive o prazer de vislumbrar. Tudo começa no encontro entre o personagem vivido pelo músico Glen Hansard e a musicista Markéta. Glen trabalha na loja do pai e em horas vagas toca nas ruas. Em um desses momentos, conhece Markéta, que vende rosas pela rua como forma de sustentar sua família tcheca. Envolvendo amizade, amor, paisagens fantásticas e boa música, o filme me lembra exatamente dessa nossa força em superar dores e lutar pelo o que acreditamos. Daqui, ao som de muito folk e melancolia, fica mais uma dica. De livro, filme e música.
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