A tecnologia óptica avança em ritmo louco. Ainda me lembro de quanto surgiu a lente de contato. Coisa melhor não havia... Uma bela oportunidade para aqueles que se sentiam escravos dos aros e lentes, e que dos benditos óculos dependiam no dia-a-dia. Lentes de contato! Maravilha do século (pode parecer exagero, mas quem tem que usar óculos sabe o aborrecimento que é pra executar certas tarefas). Até para tomar um café com essas lentes externas é complicado, pois embaça tudo; o uso constante trazem olheiras , afundam as órbitas e escondem uma verdadeira mirada...Bem há inconvenientes diversos, isso é fato!
Artur era uma dessas pessoas que sabia dos inconvenientes que os pesados óculos traziam e resolveu que ia incorporar essa fabulosa tecnologia à vida dele. Afinal, por 23 anos ele escondeu o verde esmeralda dos olhos e era tempo de mostrar ao mundo o que a natureza tinha proporcionado de melhor pra ele.
Marcou consulta, fez exames, e foi constatado que ele tinha rejeição ao tipo de lente oferecida pelo mercado brasileiro. Tinha que ser importada! Mais uma vez ele foi ao fundo do saco, e buscou todas as economias pra encomendar as lentes. Esperou “séculos de ansiedade” por essas lentes. Parecia que vinham amarradas no casco de uma tartaruga.
Finalmente chegaram as lentes de contato! Foram feitos os ajustes, e os óculos foram para o fundo da gaveta. Artur agora era outro homem, parecia que tinha emagrecido uns cinco quilos depois que colocou as lentes. Agora não era mais “aquele rapaz de óculos” e sim “aquele moreno dos olhos verdes!”
Até a ex-esposa do Artur, gamou por ele de novo. Estava sempre “esbarrando” com ele sem querer. E ele sempre fora apaixonado por ela. Separaram sem quê e nem pra quê. Agora ele achava que eram culpa dos óculos. E porque não tentar de novo? Afinal, ele agora era outro homem, todavia com os mesmo sentimentos por ela. Resolveram tentar.
Combinaram de saírem para jantar. O jantar foi fabuloso por sinal! Olhos nos olhos... Acabaram num motel. E Artur viu que as lentes de contato foram de todos, o melhor investimento da sua vida! Debaixo do chuveiro, podia ver as gotículas de água escorrendo pelas costas da mulher amada; na hora do amor pode ver o prazer dentro dos olhos dela (antes era tudo embaçado, já que tinha que tirar os óculos). Via tudo... Os pelinhos finos e dourados das pernas! Demais... Tudo era visto nos detalhes!
Estava tão bom que resolveram pernoitar ali mesmo. A mulher cansada dormiu logo, e ele despreparado, não sabia que iria ficar ali, resolveu colocar as lentes em um copo com água (não se podia dormir com as lentes, pois irritava os olhos). Não era o correto colocar as lentes na água [deveria se no soro fisiológico], mas era o que podia fazer no momento. Satisfeito com a vida, virou pra um lado e dormiu profundamente.
Acordou bem disposto, com um sorriso nos lábios e sentiu a presença quente e amada da ex. Tudo embaçado... Mas isso se resolvia facilmente e poderia novamente ver toda beleza que a mulher tinha. Pegou o copo e foi pro banheiro... Ficou estarrecido!
O copo estava vazioooooooooooo! O coração parou! Tudo girou! Cadê as lentes de contato??? Cadê meus olhossss?????
Volta trêmulo para o quarto e pergunta: -O que houve com a água que estava no copo em cima da cômoda???
Ela com voz amorosa e lânguida responde: -Bebi amor, acordei com sede e achei que tivesse deixado a água ali pra mim. Obrigada!
O sangue faltou... Depois, uma erupção de ódio, revolta e descrença. Não queria mais vê-la! Odiava agora aquela mulher! Havia levado dele a boa visão, aquela noite custou-lhe realmente os olhos da cara!
O mundo estava agora embaçado outra vez. Com custo chegou em casa depois de deixar a EX NA CASA DELA. Buscou no fundo da gaveta os velhos aros, que pareciam pesar uns cinco quilos no mínimo. Amargamente pensava: ex é ex... E ele agora era o ex “moreno dos olhos verdes” e passava novamente para o “rapaz de óculos”.
Marly Bastos