Não se enganem, o golpe da mídia não está só relacionada a conjuntura política atual. Os principais golpes da mídia passam desapercebidos e acontecem no dia-a-dia. Quando essa mídia usa suas notícias para manipular a opinião pública criminalizando a juventude negra, indígena e periférica a favor da diminuição da maioridade penal reforçando o racismo e sua violência. Quando sabemos bem, quem pagou, paga e vai pagar essa conta. Essa mídia dá golpe, quando criminaliza movimentos sociais, o direito de manifestação e greve de trabalhadores de diversas categorias. A mídia corporativa dá golpe, quando apoia a violência policial contra trabalhadores, professores e estudantes. Dá Golpe, quando se silencia diante de inúmeras chacinas nas diversas periferias do Brasil tomando como normalidade essas execuções genocidas, e ainda, criminalizando as vítimas.
Óbvio que devemos nos colocar contra as arbitrariedades juristas/midiáticas seletivas e essa ondinha fascista branca, verde e amarela.
Mas não temos um grande dilema em mãos? O estado de direito garante direitos a quem?
Nunca garantiu plenos direitos a indígenas, negros e pobres. Pelo contrário, o estado de 'direito' continua sendo instrumento de extermínio desses povos, como foram regimes anteriores.
Eis o dilema: nos manifestamos contra golpes, arbitrariedades, ditaduras, fascistas... Mas porque, e como, defender um estado de ´direito' feito de instrumento de extermínio de povos indígenas, negros e pobre?
É esse estado que chacina e vai continuar chacinando jovens negros nos morros, indígenas por suas terras e pobre nas quebradas. É esse estado que vai continuar expondo à violência mulheres no parto em hospitais. Os mesmos hospitais que negam socorro e atendimento apropriado aos nossos velhos e aos jovens baleados e rotulados como bandidos pelo racismo. Um estado que tem o judiciário que condena arbitrariamente todos os dias nossos jovens por portar um pinho sol. Um estado que tem a polícia (e exército) que executam e arrastam uma mulher, mãe de família, pela via pública impunemente, que sequestra, tortura, mata e oculta o cadáver de um homem, pai de família. O mesmo estado que executa numa noite 13 jovens na Bahia, 30 pessoas em Osasco e dá medalha aos vermes que fizeram isso.
Me diz como e porque defender isso? Estado de direito? Direito de quem? E pra quem?
Precisamos URGENTEMENTE de outro modelo de sociedade. Uma sociedade onde preconceitos não cabem, sem justiça com a balança pendendo para um lado em detrimento de outros, sem estado como instrumento de extermínio de povos historicamente injustiçados.
A dicotomia e complexidades estão postas a mesa, sirva-se.
Continuemos a marcha contra um golpe. Mas e os outros golpes diários? Estamos lutando exatamente contra que e a favor de que (ou quem)?
Esse estado de 'direito' serve a quem?