sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Carnaval


O carnaval está no ar e estarei fora do ar.
Vou botar meu bloco no mato, em excelente companhia: Baudelaire, Orwell e Skol. Todos essenciais para esses dias de folia.
Irei brincar com as flores do mal e me perder nos labirintos orwellianos, tendo ao lado um cachorro imenso e calmo chamado Beija-Flor e mais ninguém.
Talvez umas orquídeas, para combinar com meu biquine amarelo, caso não estejam cansadas de embelezar o jardim e se escondam nestes dias.
Quem sabe uma chuva mansinha nas árvores cor-de-rosas, ao pôr do sol, para me lembrar de arco-íris.
Tudo em paz, preparando-me para o que virá depois, que será ainda melhor, eu espero.
Estou feliz. Volto depois das cinzas e, então, serei ainda mais feliz. Fênix.

Imagem: Devereux J.

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

De novo!


Devo ter espinhos escondidos em algum canto de mim. Não percebo e ninguém percebe até que se fira. E se vá. Ou será essa ânsia com que me atiro a tudo que termina por esfacelar os frágeis laços que raramente consigo atar? Deve ser a urgência que me toma e leva por caminhos contrários ao que busco.
A pressa é a inimiga, ensinaram-me tarde demais. Nem vejo o sol nascer e já busco estrelas. Mal percebo a lua chegando e já corro aberta para as madrugadas. A madrugada e suas estrelas nunca chegam. Perco-me delas, desprevenida e tonta. Perco-as, perco-me, de novo só.

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Procura-se


Procura-se um feiticeiro para encantar meus cinco sentidos e abrir de vez as janelas do meu coração comatoso. Procura-se uma alma cuja aura seja branca e azul com alguns vermelhos furiosos passando, às vezes, para aquecer minha vidinha morna. Procura-se um vento de agosto para arrepiar meus pêlos adormecidos e me fazer dançar, borboleta viciosa. Procura-se um pote de mel para se desmanchar em minha boca e aquecer minhas entranhas com o fogo dulcíssimo. Procura-se uma fumaça de sentimento que me anuvie a mente para esquecer certas mordidas da serpente edênica. Procura-se um corpo cheiroso e pronto para minha mão nele se perder e meus olhos escorregarem em espirais de desejo e sonho.

Imagem: Sara Robert Delpemdor

domingo, fevereiro 19, 2006

Saudades


A saudade é tão sorrateira. Traz coisas esquecidas para voltar a doer dentro da gente. E essas coisas vão puxando outras, outras, num ciclo interminável.
A alma se transforma em ninho de dores e lembranças. Uma agonia.
Depois, vem um sorriso, um beijo novo, um amor novo, flores chegando com bilhetinhos docemente mentirosos e a saudade se recolhe intimidada. E vai para seu canto guardar mais essas felicidades para voltar redobrada em outros dias.


Como não tenho amor, nem flor, nem colo, estou com a alma doendo de saudades.
Mas, como sempre, meu bordão-fílosofia barata entra em ação: amanhã é outro dia. Eu nunca desisto.

Imgem: Hellen Vriesendorp

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Bolhas de sabão


Nunca brinquei com bolhas de sabão.
Brinquei com barro de fazer tijolos.
Brinquei com bonecas de plástico e coloridos comprimidos de vitamina doados por JFK (e que quase matam a mim, minha irmã e meu primo, de tão coloridos e doces).
Brinquei de macaco nos pés de manga da casa de minha avó, onde a fantasia era cotidiana.
Aquelas janelas imensas prenhes de janelinhas e trincos!
Alguém sabe o que são trincos?
O nome já é uma delicadeza que lembra a caixa de música, única da família pobre.
Nunca brinquei com bolhas de sabão.
Brinquei de escrever cartas para quem não sabia nada dessas coisas de escrever e estava com banzo.
Aos dez anos, escrever aquelas coisas de adultos, de saudades, de amor, de sonhos e decepções ou sucessos deve ter deixado rastros em mim.

Imagem: Lejeune

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Orgulho, orgulho, orgulho...


Clique na foto para ampliar


Ah! meu Deus, parece que foi ontem que essa criaturinha veio ao mundo, gorducha e chorona.

Não foi outro dia que ela se machucou feio no Zoológico, teve o queixo suturado e viveu orgulhosa por uma semana, mostrando-o para Deus e o resto do mundo?

Não foi ontem que ela chorou no batizado inteiro, com medo da Igreja (igualzinho a mãe!).

E hoje, nem acredito, olho para esse convite, leio e releio, namoro as fotos da minha família, rio do Ataulfo com a bola amarela sobre a cama e a Yuli, com seu medo de câmeras. Choro ao ver o meu pai, que não está aqui para assistir o primeiro sucesso de sua neta brigona.

O tempo se foi, correndo para outras bandas e hoje, ela é mulher e está recebendo o seu primeiro "canudo de papel" e essa mãe, boba de orgulho e felicidade, não pode deixar de, como a Kalincka minha filha, sair mostrando para o mundo todo.

P.S. do post, como diz o Sílvio: nas fotos estão todos da minha família: meus pais, minha irmã, no dia do casamento, com a formanda no colo, filhos, neto, tios, primos, genros, sogros e amigos da minha filha e os meus cachorros.

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Relatividade


Hoje, eu deveria estar feliz. Meu site está no ar, alguém me visitou inesperadamente e trouxe flores e meu nome anda por aí, em lindos lugares, acompanhado de uns pequenos elogios, à minha altura. E até li umas palavras enormes, como "fulô", ligadas a mim, tão pequena!
Mas, como sempre, estou sozinha. E essa solidão de hoje, ao contrário da de ontem, é triste porque, além de todos os presentes, uma ausência.

Foto: Genggu Liu

domingo, fevereiro 12, 2006

Outro domingo e apenas eu


Ah! domingo, que bom!
Hoje é domingo de solidão.
Só eu e Cole Porter instrumental, indefinidamente.
Ando sonhadora e a música vai fazendo uns rabiscos em meus pensamentos.
Sonho colorido com alguma chuva mole e umas vontades que só me tocam leves, de leve.
Sonho com uma voz que não ouço e que vive em meus ouvidos, estranho vocabulário.
É domingo e estou quase feliz!

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

MANIAS


Manias fazem tão bem, até que alguém perceba e nos aponte o dedo acusador: "Isso já está virando mania!"
Até então, era apenas uma coisinha boa de se fazer. Mas, depois que vira "mania", ai meu Deus...fica melhor ainda, porque faço escondido.
Sou absolutamente indisciplinada, menos com minhas manias.
Sigo todas, cumpro todas, obedeço todas. E adoro todas.
São milhares, mas como a Santa (http://blogdasanta.blogspot.com/) me pediu (pediu?? Que nada. Santa insinua docemente) apenas 5, vou contar as imprescindíveis, sem as quais eu não vivo, em ordem decrescente no maniômetro.

1. Acreditar em tudo que me dizem, desde que sejam doces as palavras.
2. Ligar a TV ao acordar, no canal de notícias 24 horas. Se não fizer isso, imagino que algo indescritível irá acontecer e eu não ficarei sabendo. Creio que fui jornalista em vidas passadas.
3. Ler. Leio na cama, na mesa e no banho. Essa nem tem graça, todo mundo faz isso, pelo menos aqui em casa.
4. Comprar sapatos. Todos são lindos. Resisto ao meu amor, mas não aos sapatos. Aliás, se ele me pedir para escolher.....
5. Pias limpas misturado com miopia. Imagine, isso é uma loucura. Praticamente, deito-me sobre a pia em busca de uma molécula sequer de algo que lembre sujeira.

Há mais, muito mais, como ficar escondida atrás da porta da cozinha para ver o beija-flor comer na vasilha do Ataulfo e da Yuli, mas essa é só quando tenho tempo.

As próximas vítimas a contarem suas manias são:
Guto (http://chutandoobardi.blogspot.com)
Jôka (http://avenidacapocabana.blogspot.com)
Vera (http://novas.blog-se.com.br)
Wilton (http://quitandadochaves.blogspot.com)
Serjão (http://serjaocomentadoceu.blogspot.com)
Desculpem, não sei fazer aqueles links chiquerésimos.

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Felicidade


Queria um amor como o de Mário de Andrade.
Sem nada, sem pejo, sem móveis, sem TV.
Só tapetes e colheres de sobremesa.
Uns olhares doces, longos, tagarelas.
E flores nas manhãs de sábado.
Serenidade e beijos em lugares impensáveis.
Estar junto e sorrir de besteiras.
Isso é felicidade.

Imagem: Dom Li Leger

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Amor



Gosto de falar de amor.
Mas, geralmente falo mais da dor de amar que do amor mesmo.
Se escrevesse bem, seria uma jornalista do amor. Só escrevo a dor.
O que é melhor em relação ao amor?
A dor que provoca ou a ausência dele?
Geralmente não sou romântica, porém prefiro sofrer de amor
a ficar sem amar, assim vazia, assim estéril.
Talvez por isso, minhas palavras sejam áridas e
minhas lágrimas sejam secas,
como alguém me disse hoje.

terça-feira, fevereiro 07, 2006

Saudades


Hoje, o primeiro email que recebi, foi do meu amigo Wilton, uma pessoa cuja sensibilidade só é menor que seu coração. Ele vive lá na Quitanda (http://quitandadochaves.blogspot.com/).

As lembranças que despertou foram como flores caindo em meu coração e sorri, sozinha e alegre.
A juventude, minha juventude, com todas as proibições e bobagens, foi uma escorrer de coisinhas felizes, de dias brilhando e esperanças acenando o tempo todo, ao som de Beatles e Roberto Carlos.
Hoje, olho para aquela menina que fui e, acredite, gosto dela.
Hoje, olho para a mulher que sou e gosto dela também.
Gosto da vida que tive e da que tenho, apesar de algumas melancolias que aparecem sem avisar.

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Criação

É fascinante observar o processo de criação do poeta.
Sobre um texto, para nós, perfeito, ele se debruça, matutando, enxergando defeitos invisíveis onde tudo é beleza. Luta com recalcitrantes palavras quase a ponto de desprezar a criação, sob a ansiedade de sua admiradora.
Por fim, genialmente, muda uma vírgula e o verbo se torna mais que perfeito.
É um privilégio para poucos assistir a criação.
Eu assisti.
Sou privilegiadíssima.

Imagem: Sondra Wampler

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Presentes


Nem só de tristezas se vive, claro. Um dia tristeza, no outro felicidade.
A felicidade sempre, sempre vem dar um bom dia, um beijinho.
Ganhei dois presentes lindos do meu amigo Edvaldo, poeta, meu confrade da Casa do Escritor.
E imaginar que eu não gostava do meu nome!


Palavras soltas: Saramar!

Sol
sAl
aReia e
mAr!
Marola,
vAgar
sonhaR!
Saara Mar
Sinto você como um saara; mistica e mistério,
Até onde a minha mente te alcança!
Roubaste a atenção de meus sentidos
Após portarem as suas doces palavras, aos meus ouvidos,...
Mar, te vejo como um mar, infinito e belo mar!
A cada vaga que se arrebenta em mim
Raivosa, como a querer adentrar-me alma adentro...
Só vejo em ti
A vida enigmática e intensa,
Rica e diversa de tantos eus...
A temer/querer ocultar-se/revelar-se, com o passar do tempo!
Minha querida porção de mar,
Aonde termina ou começa teu ser?
Rumores me falam infinito, rumores me afirmam além!

Nada

O Chico contou, cantou:
"lá vou eu de novo, como um tolo..."
De novo, como ele contou,
encontrei o desconsolo.

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Visitas


Ontem recebi visitas. Foi uma delícia, desde o início porque não as esperava. Parentes, ai parentes, como viver sem eles, não?
Umas trinta crianças de idades variando entre 12 e 2 anos. Meus dois cachorros, o Ataulfo e a Yuli, que sempre agem como irracionais quando há visitas.
Na TV, o jogo do Goiás E.C. com não sei quem do Equador (eu acho) e os torcedores aqui em casa, delirando a cada chute esquisito, como se o Ronaldinho Gaúcho fosse esmeraldino.
Minha mãe, esquerdista (ah! as voltas que o mundo dá) fazendo o relato completo do Forum Mundial de Caracas e eu olhando, com um olho comprido para o meu texto de 68 páginas me esperando para revisar.
Mais cunhados, primos e outros bichos.
Gente, eles vieram me visitar, para que eu não ficasse triste.
E conseguiram, porque eu não tive tempo de ficar triste, correndo atrás das crianças menores que insistiam em quebrar meus mini-bonecos de barro, que vieram de Recife, enquanto outros faziam de tudo para quebrar meu teclado em um jogo infernalmente barulhento; os maiores? Esses tiravam os meus CD's da ordem corretíssima em que os mantenho e, ainda, criticavam meu gosto musical: -Ah! nem um da Piti, nada do Eminen, nem um rap???
Foi tão divertido!
No domingo, eu me vingarei, quero dizer, eu retribuirei. Pena que não tenho crianças e o Ataulfo e a Yuli destestam fazer visitas.

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

1.º de fevereiro

1.º de fevereiro. Neste dia, há séculos, em outros anos, em outra vida, nasceu meu filho. Ele nasceu no sexto mês, pesando apenas 1kg. E o médico me disse: se você não comprou o enxoval, não precisa comprar porque ele não vai viver. Novela mexicana é nada diante dessa cena. E ele viveu e hoje é adulto. Ele nasceu no dia do aniversário do meu pai. Eu estava na festa, comendo aquele bolo horrível, cheio de glacês e uns morangos estranhos, tentando roubar todas as cerejas doces e mentindo que era desejo de mulher grávida, quando o apressado do menino resolver surgir. E, até hoje, ele cultiva esse hábito. Só faz entradas triunfais. Meu pai era assim: comprava todos os cd's do mundo porque havia neles uma única música que eu gostava. Fazia uma feijoada e ligava dizendo, eu fiz um feijão preto para você. Trazia uma cerveja geladinha em um copo especialmente gelado para mim. E consertava a torneira da minha casa quando dava um pingo fora do normal. E ligava para me avisar que o Paulinho da Viola estava cantando na TV Senado, no domingo às nove da manhã ou que havia um chorinho acompanhando a Elizete, naquelas únicas cenas gravadas com Ciro Monteiro. Meu pai adivinhava meus sonhos, antes que eu os sonhasse. Ele foi embora há poucos dias, cansado de ser anjo e agora, não sei como vou poder comer aquele bolo horroroso, sem ele aqui do meu lado nunca mais.