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quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

"Tout est bien" ?

Está demonstrado, dizia ele, que as coisas não podem ser de outra maneira: pois, como tudo foi feito para um fim, tudo está necessariamente destinado ao melhor fim. Queiram notar que os narizes foram feitos para usar óculos, e por isso nós temos óculos. As pernas foram visivelmente instituídas para as calças, e por isso temos calças. As pedras foram feitas para serem talhadas e edificar castelos, e por isso Monsenhor tem um lindo castelo; o mais considerável barão da província deve ser o mais bem alojado; e, como os porcos foram feitos para serem comidos, nós comemos porco o ano inteiro: por conseguinte, aqueles que asseveravam que tudo está bem disseram uma tolice; deviam era dizer que tudo está o melhor possível.

Assim falava Mestre Pangloss, o maior filósofo da província, e por conseguinte de toda a terra, na sua demonstração de que não há causa sem efeito e que tudo está encadeado e que há uma razão suficiente para todos os acontecimentos.

Mas polémicas filosóficas à parte, hoje o Xaile de Seda quer rosas, meus amigos. Rosas e lírios, mais exactamente, ou mesmo quaisquer flores. E verão o porquê deste desejo, mais abaixo.



Para já, apresento-vos o outro Poema, versando o tema Rosas e Lírios, também atribuído a Álvaro de Campos, de que vos falei num post de há dias:
Dai-
Dai-me Rosas e Lírios

Dai-me flores, muitas flores
Quaisquer flores, logo que sejam muitas...
Não, nem sequer muitas flores, falai-me apenas

Em me dardes muitas flores,
Nem isso... Escutai-me apenas pacientemente quando vos peço
Que me deis flores...
Sejam essas as flores que me deis...

Ah, a minha tristeza dos barcos que passam no rio,
Sob o céu cheio de sol!
A minha agonia da realidade lúcida!
Desejo de chorar absolutamente como uma criança

Com a cabeça encostada aos braços cruzados em cima da mesa,
E a vida sentida como uma brisa que me roçasse o pescoço,
Estando eu a chorar naquela posição.

O homem que apara o lápis à janela do escritório
Chama pela minha atenção com as mãos do seu gesto banal.
Haver lápis e aparar lápis e gente que os apara à janela, é tão estranho!
É tão fantástico que estas coisas sejam reais!
Olho para ele até esquecer o sol e o céu.
E a realidade do mundo faz-me dor de cabeça.

A flor caída no chão.
A flor murcha (rosa branca amarelecendo)
Caída no chão...
Qual é o sentido da vida?





E tudo isto porque o dito Xaile completa nove aninhos. Não é razão para festejos mas, pronto, gosto de assinalar a data. Quanto mais não seja para eu própria proceder a uma reflexão sobre a utilidade ou não da sua existência.




Grande abraço a todos os que me visitam.

Boa quarta-feira.


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-O título do post retirado de: aqui
  Texto de Rousseau
-Excerto - Candide ou l'optimisme
                   Voltaire
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Poema - daqui
s. d.
Novas Poesias Inéditas. Fernando Pessoa. (Direcção, recolha e notas de Maria do Rosário Marques Sabino e Adelaide Maria Monteiro Sereno.) Lisboa: Ática, 1973 (4ª ed. 1993).
  - 150.Álvaro de Campos?

Imagem: pixabay

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Il faut cultiver notre jardin

Há cinco anos arranquei da boca de Candide, logo, do seu contexto, esta expressão, Il faut cultiver notre jardim, para me servir de lema, com o sentido de que o nosso jardim é o vasto mundo mas também o nosso pequeno-grande mundo, a nossa aldeia, o nosso bairro, a nossa rua, a nossa casa, aqueles que nos rodeiam.



Sem me preocupar com as polémicas filosóficas que tal expressão implica, no que ao tempo de Voltaire diz respeito, inseri a citação neste blog para me orientar num caminho escolhido logo de início: o de cuidarmos uns dos outros. Não sei se terei alcançado tal objectivo. Devo dizer que senti sempre o vosso apoio, chegando-me aqui, ao longo do tempo, as vossas palavras calorosas e a vossa amizade, com uma constância benfazeja.

Houve muitos e bons momentos de franca camaradagem em que as palavras se soltaram loucas e, também, com algumas gralhas da minha parte, em "Poesia louca", um fim-de-semana mesmo de loucos, em que procurei corresponder às vossas talentosas provocações, quando responderam gostosamente ao meu apelo brincalhão. 




Da mesma forma, foi um belo corrupio, um escorrer de leite e de mel aqui pelas franjas do Xaile quando pedi contributos da vossa produção literária ou de autores de que gostassem para assinalar o primeiro aniversário. E eu, numa maratona em que quase ficava sem fôlego, publiquei tudo, tudinho. 

Mas houve outras maratonas com publicações megalómanas como as quinzenas de amor e de afectos, ciclos dedicados a alguns autores, O ano do Brasil em Portugal e outras, e ainda instantes com algumas reflexões minhas. Foram, deveras, ocasiões deliciosas aquelas com que marcaram a vossa presença neste espaço, enriquecendo-o com as vossas prestações.

Para assinalar este fim de ciclo, transcrevo o meu primeiro post, datado de 22 de Janeiro 2011:


DESASSOSSEGO

Inquietude é o que eu sinto quando a palavra desassossego me vem ao espírito. Também me atrai. Dá-me vontade de fazer coisas, saltar do sofá, ir à janela e espreitar o mundo, decidir coisas, isso, tomar decisões, fazer escolhas… O tempo é de decisões, qual delas a mais difícil. Por isso mesmo já decidi. Está na hora de ler “O Livro do Desassossego” e não confiar apenas em citações e passagens fora de contexto. Ver in loco o que Bernardo Soares teria querido dizer com:
 “Ah! Como eu desejaria lançar ao menos numa alma alguma coisa de veneno, de desassossego e de inquietação. Isso consolar-me-ia um pouco da nulidade de acção em que vivo. Perverter seria o fim da minha vida. Mas vibra alguma alma com as minhas palavras? Ouve-as alguém que não sou só eu?” 




Os meus agradecimentos por tudo o que aprendi convosco.

E aproveito para vos comunicar que, por motivos de força maior, vou dobrar o XailedeSeda por algum tempo. Entretanto, estarei atenta aos vossos blogs.


Um grande, grande abraço.


Olinda




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1ª imagem - aqui
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