03 - Perpetuação Da Torá

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Série Especial

ENTRE SEMANAS – Fé em meio ao Caos 1


A Importância da Perpetuação do Ensino da
Torá
ENTRE SEMANAS – Fé em meio ao Caos
Morá Deborah Leal & Morá Kimberly Schäfer

As Três Semanas de Aperto, que vão do 17 de Tamuz ao 9 de Av, são um


período de luto e introspecção no calendário judaico. Este tempo nos lembra das
tragédias que acometeram nosso povo, como os cercos em volta de Jerusalém e a
destruição dos Templos, e nos convida a renovar nosso compromisso com a Torá
e a vida espiritual.

Após a destruição do Primeiro Templo, os judeus foram levados ao exílio na


Babilônia. Conforme profetizado, 70 depois, o rei persa Ciro, o Grande, conquistou
a Babilônia e permitiu que os judeus retornassem a Jerusalém para reconstruir o
Templo. Ezra (Edras) um escriba e profundo conhecedor da Torá, ao chegar em
Jerusalém (cerca de 80 anos depois do primeiro grupo de exilados, durante o reinado
de Artaxerxes I da Pérsia), percebeu que muitos judeus haviam se afastado dos
mandamentos do Eterno e haviam se casado com mulheres estrangeiras.

Ele liderou uma série de reformas para trazer o povo de volta à observância
da Torá, incluindo a separação desses casamentos para preservar a identidade e
a santidade do povo judeu. Suas ações demonstram que após o retorno do cativeiro
babilônico, o povo de Israel enfrentou o desafio de reconstruir não apenas suas
casas, mas também sua vida espiritual.

Ezra organizou a leitura pública da Torá, explicando-a para que todos


pudessem compreender. Desde a sua época, a Torá é lida em público três vezes por
semana (nas segundas, quintas e sábados), nos dias de festa ou feriados religiosos,
em Rosh Chodesh (1º dia de cada mês bíblico) e nos dias de jejum. Ele estabeleceu
uma série de reformas para garantir que a observância da Torá fosse respeitada e
integrada na vida cotidiana. Seu trabalho foi fundamental para a reconstituição
espiritual do povo, ajudando-os a recuperar sua identidade e fortalecer sua conexão
com o Eterno.

A Importância da Perpetuação do Ensino da Torá


A Torá é a essência da vida de todo aquele que crê que a Bíblia é verdadeira,
irrevogável, eterna e não se contradiz. Ela não apenas fornece as leis e a explanação
da vontade do Eterno para o homem, mas também guia a ética e a moralidade das
nossas vidas. Durante as Três Semanas, a Torá se torna ainda mais vital, pois nos

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lembra de nossa conexão contínua com o Eterno. O estudo da Torá nos proporciona
a sabedoria necessária para enfrentar os desafios e nos mantém firmes na fé.

Assim como na época de Ezra, o estudo e a prática da Torá são essenciais


para nossa resiliência e a continuidade de nossa vida espiritual, assim como de todo
povo de Israel. A Torá oferece a orientação necessária para viver de maneira íntegra
e justa, promovendo a unidade e a paz na comunidade.

‘Lembra-te dos primeiros dias; agarra os anos das gerações que foram.
Pergunta ao teu pai – ele te contará tudo; pergunta aos anciãos dos teus parentes
e eles te dirão.” (Dt.32:7)

O judaísmo é um estilo de vida na prática com seu foco na perpetuação dos


princípios de geração a geração. Podemos comprovar através de vários versículos
como este acima citado como um mandamento. O próprio Moshe (Moisés) teve
diversas atribuições em sua história, entretanto, ele é chamado pelo seu papel
principal de mestre: Moshe rabeinu (Moisés, nosso mestre).

Na parashá Bô, por exemplo, na parte que é chamada Kadesh-li, lemos por
três vezes a ordenança sobre transmitir aos seus filhos o acontecido. Trata-se
do primeiro discurso de Moisés, e o que ele diz ao povo é “contarás para teus
filhos”. Não foca em uma espiritualidade acima da razão, nem em questões militares
ou outras, mas no que devem fazer de ali para sempre: educar.

Podemos citar aqui o Rabino Jonathan Sacks “O Judaísmo é um fenômeno


raro: uma fé baseada em fazer perguntas – algumas vezes profundas e difíceis -
que parecem abalar a verdadeira base da própria fé”.

Em Êxodo 13:8 “E anunciarás a teu filho naquele dia, dizendo: ‘Por isto o Eterno
me fez sair do Egito’”. Destacamos a palavra Vehigadta (anunciarás) que vem da
mesma raiz que Hagadá, o livro que utilizamos na comemoração de Pessach
(Páscoa Bíblica). A ênfase dada a leitura de hagadot (plural de hagadá) no judaísmo
é para não se perder a essência dos princípios extraídos em cada testemunho
vivenciado pelo povo, irradiando assim cada época.

Na famosa declaração/oração do Shemá em Deut.6:6-7 encontramos a palavra


inculcar (shanan) que possui uma interessante rede de palavras em sua tradução:

1. (Qal) aguçar, afiar


2. (Piel) aguçar, ensinar (incisivamente)
3. (Hitpolel) ser perfurado

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Desafios Ontem e Hoje
Os desafios enfrentados por Ezra e pelo povo de Israel ao retornarem do exílio
são, em muitos aspectos, semelhantes aos desafios que enfrentamos hoje. O
sofrimento causa um embotamento comprovado psicologicamente, como um
encurtamento na amplitude do comportamento, levando as pessoas a agirem em um
padrão repetitivo como uma escravidão, sem forças para libertar-se dos traumas e
jugos impostos.

O objetivo de Ezra, assim como o de Moshe foi trazer uma mudança de


mentalidade através do chinuch (educação, treinamento) haja visto que todo
período de exílio traz consigo marcas desse sofrimento, bem como resquícios e
assimilações, provocado até mesmo pelo esquecimento das suas origens.

Vivemos em um mundo onde a assimilação e a secularização podem


ameaçar nossa identidade e nossos valores.

Observarmos o livro de Lamentações durante esses dias, e se prestarmos


atenção na palavra inicial do verso 1: Echá (como/onde), podemos ter a direção do
nosso olhar voltado às causas da queda. É preciso saber o que aconteceu para se
chegar até esse fim, seja em um nível macro ou micro. Essa foi a mesma palavra
utilizada pelo Eterno em sua interrogação para Adam e Chava (Adão e Eva) após
pecarem.

Lembramos o motivo de algumas das catástrofes das Três Semanas através


de uma Fórmula do Talmud: o Primeiro Templo tinha sido destruído por causa de
“três pecados principais” do judaísmo: a depravação, o assassinato e a
idolatria, e que o Segundo Templo fora destruído por causa do ódio gratuito. Nas
duas situações, o que faltou, ou o necessário para reconstrução, é a reconexão,
seja com D’us ou com o próximo.

Voltando ao nosso foco sobre perpetuar os mandamentos: toda reconstrução


ou retorno precisa da mitzvah (mandamento, conexão) para se alinhar com o
propósito inicial. Toda vez que acontece o rompimento de limites, ou muros de
proteção que nos definem, como aconteceu em 17 de Tamuz com a quebra das
muralhas de Jerusalém, a destruição é certa. Essa é a causa da diáspora, ou melhor,
da dispersão. Contudo, cada vez que nos reconectamos, estamos reconstruindo o
Templo.

A pureza e a santidade são fundamentais para manter a identidade espiritual


do povo e a conexão com o Eterno. A Torá enfatiza repetidamente a necessidade
de evitar a assimilação e o sincretismo, que podem diluir a fé e comprometer os
valores essenciais do povo de D’us. É por isso que a Torá fornece um caminho
claro e definido para a vida espiritual, moral e ética.

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Quando se mistura com práticas e crenças de outras culturas, há um risco de
perder essa clareza e a singularidade que definem a fé pura e genuína no Eterno,
não apenas uma fé com a emoção, mas principalmente de forma racional, com
entendimento. Manter a pureza espiritual assegura que os ensinamentos e valores
da Bíblia permaneçam intactos e influenciem positivamente a nossa vida.

O Eterno chama seu povo para ser santo, separado para servir a Ele de
maneira única. A mistura com práticas religiosas de outras culturas são uma forma
de infidelidade, desviando nossa alma da sua missão e vocação espiritual. Ao
mantermos a pureza, demonstramos nosso compromisso e devoção exclusiva a Ele,
por isso o versículo: “Sem fé (fidelidade), é impossível agradar a D’us” (Heb.11).

O sincretismo pode levar à idolatria, que é uma das transgressões mais


graves na Torá. A história de Israel está cheia de exemplos de como a adoção de
práticas e deuses estrangeiros levou à corrupção espiritual e ao afastamento do
Eterno. Manter a pureza e a santidade ajuda a proteger contra essas influências
corruptoras, assegurando que a adoração e os rituais permaneçam focados no
Eterno, somente no Eterno, e em ninguém mais – NINGUÉM!

Não apenas nossa vida em particular, a pureza espiritual também protege a


comunidade como um todo. Práticas sincréticas podem introduzir divisões e
conflitos dentro da congregação, enfraquecendo a coesão e unidade. Ao aderir aos
princípios e práticas da Torá, a igreja se fortalece, promovendo a paz, a harmonia e
um senso de propósito comum.

Manter a pureza é crucial para preservar a Presença Divina (Shechiná). Na


Torá, a santidade é um estado necessário para a presença de D’us entre o povo. Ao
manter a pureza e a santidade, criamos um ambiente onde a presença divina pode
habitar, trazendo bênçãos e orientação. Práticas sincréticas poluem esse
ambiente espiritual, afastando a manifestação da Presença de D’us.

Apesar dos desafios, como Ezra, podemos encontrar na Torá a força e a


inspiração necessárias para superar esses desafios.

Perpetuando os Mandamentos Divinos


A responsabilidade de ensinar e perpetuar as leis de D’us não é apenas dos
líderes espirituais, mas de cada um de nós. Todos temos um papel a desempenhar
na transmissão dessa sabedoria divina para as futuras gerações. Promover a Torá
em nossas vidas diárias e na comunidade nos ajuda a fortalecer nossa identidade e
a garantir que os valores e princípios da Bíblia continuem a guiar nossas ações e
decisões.

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Zacarias, no capítulo oito, após falar dos jejuns, destaca sobre a transformação
em dias de alegria e cita que “dez homens pegarão no manto de um judeu dizendo:
Iremos convosco, porque temos ouvido que D’us está convosco” – Isso é o
símbolo que aponta para a perpetuação da Torá, agora em outro nível, não
apenas aos filhos, mas aos povos. As vestes do judeu, nas suas orlas está o tsitsit
que representa os mandamentos. É chegado esse tempo, em que através de
Yeshua essa expansão foi possível. Os povos tem desejado a Torá e somos
agentes para essa propagação!

Porém, nos dias atuais, não deixamos de enfrentar inúmeros desafios que
ameaçam a continuidade e a integridade da prática e desse ensino da Torá. A
assimilação cultural, o secularismo crescente, a diversidade religiosa e o impacto
das tecnologias modernas são alguns dos obstáculos que podem dificultar a
transmissão fiel da Torá para as futuras gerações. No entanto, é possível enfrentar
esses desafios e garantir que a Torá continue a ser uma fonte de orientação
espiritual e moral.

A assimilação cultural é um desafio significativo, especialmente em sociedades


onde os que guardam os mandamentos do Eterno com testemunho de Yeshua são
a minoria. A pressão para se integrar e adotar práticas e valores da cultura
dominante pode levar ao enfraquecimento da identidade original da Bíblia e à
negligência das tradições da Torá.

O aumento do secularismo e do materialismo também pode desviar as pessoas


da busca espiritual e da prática religiosa. A visão de mundo secular frequentemente
valoriza o sucesso material e a gratificação imediata, contrastando com os valores
espirituais e éticos da Torá. Além disso, a exposição a uma vasta gama de crenças
e práticas religiosas pode criar confusão e diluição dos princípios bíblicos. O
sincretismo religioso, onde elementos de diferentes religiões são combinados,
enfraquecem a pureza e a santidade da prática da Torá.

As tecnologias modernas, como as mídias sociais e a internet, também acabam


por ter um impacto profundo na forma como as pessoas se comunicam e se
relacionam, por isso, embora essas ferramentas possam ser usadas para promover
o ensino da Torá, elas também podem ser uma distração significativa e uma fonte
de desinformações.

Houve um rabino, o Rabbenu Hakadosh que fez uma inovação, em vez de


perpetuar o status quo que se seguia a tradição em que as explicações da Torá eram
passadas oralmente e acabava não alcançando todo o povo, ele resolveu ampliar o
acesso, porque ele viu os estudantes se tornando menos numerosos, novas
dificuldades surgindo constantemente, o Império Romano se espalhando pelo
mundo e se tornando mais poderoso, e o povo judeu vagando e se dispersando para
os confins do mundo. Portanto, ele compôs um único texto que estaria disponível

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para todos, para que pudesse ser estudado rapidamente e não fosse
esquecido. Ao longo de toda a sua vida, ele e sua corte ensinaram a Mishná às
massas. "Mishná" (cujo significado é “aprender pela repetição”).

Isso nos leva a repensar as formas de estudo e transmissão da Torá. Pois o


Eterno nos mostrou a capacidade de criar em cima do caos. As dificuldades
encontradas, e a escuridão que se alastra, são nada mais do que iminência de uma
luz que está contraída, mas que, de alguma forma, pode surgir em algum lugar. Esse
lugar pode ser dentro de você!

Estratégias para Perpetuar a Torá


Uma educação bíblica e judaica sólida é fundamental para a perpetuação da
Torá. Isso inclui:

• Estudos Regulares da Torá: Participar e promover estudos regulares da


Torá e dos textos sagrados em comunidades e lares;
• Escolas Judaicas e Yeshivot: Incentivar a frequência à escolas judaicas e
yeshivot que proporcionem uma educação centrada no estudo original das
Escrituras;
• Aulas Online e Programas de Estudo: Utilizar tecnologias modernas para
acessar aulas online, webinários e programas de estudo que tornem a Torá acessível
a todos, independentemente da localização.
• Grupos de Estudo: Formar grupos de estudo comunitários em sua casa,
bairro ou cidade, com pessoas que se reúnem regularmente para aprender e discutir
a Tor;
• Ensino Familiar: Os pais são fundamentais no contexto judaico de ensino,
pois são eles que precisam ensinar a Torá a seus filhos desde cedo, fazendo da
educação religiosa uma parte central da vida familiar;
• Shabat e Festas Judaicas: Celebrar o Shabat e as festas bíblicas com
significado e profundidade, integrando os ensinamentos da Torá nas celebrações é
fundamental. Cada celebração bíblica é um aspecto de manifestação messiânica,
celebrá-las é manter vivo na prática os ensinos de Yeshua e a esperança de sua
vinda para Redenção Final de Israel e do mundo;
• Plataformas Online: Utilizar plataformas online para estudar e compartilhar
o ensino da Torá, como podcasts, vídeos educativos e blogs;
• Redes Sociais: Compartilhar conteúdo relevante e inspirador nas redes
sociais que destaque os valores e ensinamentos da Bíblia;
• Materiais diversos: criatividade em relacionar diversos assuntos da Torá
com a ludicidade para alcançar a geração.

Por último, mas não menos importante:

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• Rabinato Ativo: Apoiar rabinos e líderes espirituais que estejam ativamente
envolvidos na educação e no fortalecimento das comunidades messiânicas;
• Mentoria e Aconselhamento: Participar, sempre que possível, de
mentorias e aconselhamentos que buscam aprofundar seu entendimento e prática
dos mandamentos do Eterno.

Cada um de nós deve se comprometer com o estudo regular da Torá, seja de


forma individual ou em grupo. Participar de shiurim (aulas) e sessões de estudo irá
fortalecer o conhecimento e a prática dos mandamentos. Não apenas estudar,
mas integrar os valores e ensinamentos da Torá na vida diária é crucial. Isso
inclui agir com justiça, compaixão, honestidade e integridade em todas as interações.
Portanto, participar de atividades que visam a reparação do mundo (Tikun Olam)
conforme os ensinamentos da Torá, como ações sociais, projetos de justiça e
iniciativas de caridade que refletem os valores judaicos, também é muito importante.

Os desafios contemporâneos realmente são significativos, mas a perpetuação


da Torá é possível através de uma combinação de educação sólida, engajamento
comunitário, ensino familiar, uso construtivo da tecnologia e liderança espiritual. Ao
enfrentar esses desafios com determinação e sabedoria, podemos garantir que a
Torá continue a ser uma fonte vital de orientação espiritual e moral, guiando as
futuras gerações em sua caminhada com o Eterno.

Durante este período de Luto teremos LIVE. Sempre às 20h00 de BR e 19h00


de MT, no Instagram. Esse é nosso cronograma, esperamos você!

• Segunda 22/07 - Origem e Significado das Três Semanas (Morá


Kimberly Schafer)
• Terça 23/07 - O Jejum de Daniel (Daniela D’Mor)
• Domingo 28/07 - A Perpetuação do Ensino da Torá (Morá Deborah Leal)
• Segunda 29/07 - Resistência e Esperança na Torá (Morá Talita Melo)
• Domingo 04/08 - Preservando as Raízes em Tempos de Perseguição
(Morá Arla Miguel)
• Segunda 05/08 - Maternidade na Perpetuação dos Valores Judaicos
(Morá Leah)
• Terça 06/08 - Teshuvá Ontem e Hoje (Patricia Alves)
• Domingo 11/08 - Por que somos testados? (Morá Letícia Elissa)
• Segunda 12/08 - Reflexões de Echá e Encerramento (Morá Kimberly
Schäfer)

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