Sem subestimar os demais, os primeiros anos de vida são os mais importantes do ser humano.
Nesse período ele recebe e arquiva a maior parte de seu modus vivendi, aquilo que na Índia é entendido como “dharma’. Quer dizer: a natureza interna caracterizada em cada homem pelo grau de desenvolvimento adquirido, sucessivamente colocado à disposição da evolução futura. O dharma é uma acumulação de potencial individual constituindo-se no interior do ser humano. Inicialmente, a cada vida, o dharma é imposto, mais ou menos favorável, pela bagagem genética (e cármica) individual e grupal, mas em seguida o livre-arbítrio determina a ampliação da capacidade herdada e daquela que se desenvolve e se acumula.
Se na mentalidade ocidental fica estranho o dharma, algo invisível e abstrato, para entendê-lo, pode-se oferecer o caso de uma muda de árvore que, partindo de uma semente (espécie), precisa de um solo bem adubado, da proteção inicial contra os excessos do sol e do vento, assim como uma frágil criança para sobreviver necessita ser conduzida gradativamente ao fortalecimento, seja pela nutrição correta ou por um “viveiro” propício.
Os cuidados permitem que a massa radicular se forme rapidamente, gere sustentação e ainda alimente o conjunto servindo-se dos nutrientes do solo e da fotossíntese. Depois, produzirá folhas, flores, frutos e sementes.
Tanto a planta como o ser humano nascem, brotam para o mundo e se fortalecem sob os cuidados de quem os gerou.
Bem mais complexo, este é dotado de mente, caráter e personalidade. O recém-nascido é delicado, sensível, indefeso. Gradativamente se imprimem em seus circuitos de memória, ainda virgens, as lições recebidas, e as primeiras em parcela preponderante determinarão o rumo e o êxito da vida toda.
Se for criado entre grosserias, imundícies, maus-tratos e, ainda, se lhe faltarem alimentação e proteção, se imprimirão traumas, barreiras, distorções; carregará para o resto da vida as formações e malformações, físicas e psíquicas. Disso deriva uma árvore fecunda ou uma que pouco gerará frutos.
Os fatores genéticos e cármicos (merecimentos de outras vidas pessoais e familiares, segundo os princípios budistas) são o ponto de partida, importante e diferenciado, entretanto têm em si mesmos a possibilidade de ultrapassar obstáculos, e nisso pesa a “condução” inicial para que o corpo, o cérebro e a personalidade individual sejam adequadamente tratados.
Inicia-se de um “material único e diferenciado” e, como numa cadeia de montagem, se agregam peças. Partindo de um chassi e motor de BMW, se as rodas que se montam forem de Fusquinha, o conjunto fracassará.
Uma boa educação pode transformar a vida de um indivíduo e dar frutos em benefício de multidões.
Disso a imprescindibilidade de uma especialíssima atenção com as crianças e com os cuidados que merecem.
Uma civilização evoluirá rapidamente melhorando a capacidade cognitiva de seus membros, expandindo a consciência e capacidade de enfrentamento dos desafios. Quer dizer, exatamente fortalecendo o dharma dos indivíduos para que o livre-arbítrio se fortaleça. “Livre” deriva de “liberdade”, e esta nada mais é que a multiplicidade das escolhas à disposição do indivíduo. É evidente que, se alguém conhece como fruta apenas banana e goiaba, não saberá aproveitar a ameixa, a uva, a manga ou a groselha. Oferece para si e para seus dependentes apenas o que sabe reconhecer.
A liberdade, a amplitude do livre-arbítrio, será definida pelo tamanho e adequação do potencial de escolha. Isso vem diretamente da educação e dos conhecimentos.