Cultura

Germinar é uma força sagital, uma orientação, primeiro em direção ao espaço obscuro da terra e depois, simultaneamente, em direção à luz e ao espaço aéreo. Uma árvore, é para Bruno Munari, uma explosão lenta de uma semente. Quando atendemos a esta imagem de Munari tendemos a valorizar a parte aérea da árvore e a subestimar a explosão em espelho, que ocorre dentro da terra, desde a germinação, o trabalho das raízes pesquisadoras é essencial para impelir os caules e as folhas para cima e o trabalho destas é essencial para incitar as raízes no seu trabalho duro de dar um sentido à terra.

A noção de cultura nasce exatamente desse trabalho duro de dar sentido à terra. A espécie Humana no exato momento em que se torna sedentária habita a terra e cultiva-a, densificando assim as suas capacidades de pensamento, abstração e ação, capacidades técnicas, de devir, instituto de conservação, ou de vida social em comunidade em entre comunidades. A cultura moderna iniciou um enorme fluxo de divisões e subdivisões, a mais obvia é a divisão dilacerante entre as artes, humanidades e as ciências. As várias áreas do saber desde a Renascença até ao nosso tempo fizeram o seu caminho dispensando cada vez mais a companhia de todas as outras, o resultado é um enorme desafio de ligação e mediação de saberes que é preciso fazer, para pensar e agir convenientemente sobre o nosso mundo dominado por várias crises.

Em 1930 José Ortega y Gasset, no seu texto intitulado “Missão da Universidade e Outros Textos” diz-nos que não há remédio: para andar com acerto na selva da vida, há que ser culto, há que conhecer a sua topografia, as suas rodas ou “métodos”; isto é, há que se ter uma ideia do espaço e do tempo em que se vive, uma cultura atual. José Ortega y Gasset. Nesta obra evidencia-se bem o risco de trocarmos a cultura por uma visão apressada da eficácia, e de especialização. E esse é o principal desafio do ensino superior, que não se pode esgotar nas competências técnicas, mas fornecer uma ideia do espaço e do tempo em que se vive numa cultura atual.

Desde 2018 que o politécnico de Leiria iniciou a conceção, programação e produção de inúmeras ações e acontecimentos, estruturados de forma a agregar a programação cultural de todas as escolas, e simultaneamente incrementar propostas emanadas pelos serviços de documentação e presidência alinhadas com os dois grandes planos estatais, o Plano Nacional das Artes e o Plano Nacional da Leitura. Esta programação detêm uma escala crescente de complexidade e o fito primeiro na literacia e mediação para as artes, as ciências e a cultura em geral.

O Portal Germinar que agora se expõe, agrega um conjunto de exposições, concertos conferência, leituras encenadas e de ações focadas no robustecimento da consciência crítica da sua comunidade em relação aos grandes problemas do nosso tempo.

Neste momento em todo o Politécnico de Leiria, nas suas escolas, na sua sede, e através dos Serviços de Documentação e suas bibliotecas, oferece uma programação cultural regular e constante. Essa mesma programação irradia já para o território da REDE CULTURA 2027.

Noutras propostas, as exposições são primeiramente apresentadas em instituições da REDE CULTURA 2027 e só depois entram no reduto do espaço académico do Politécnico de Leiria, é o caso da exposição intitulada “Vitória” que esteve patente no claustro D. João V, no Mosteiro da Batalha no Museu da Comunidade Concelhia da Batalha e nas nossas escolas. Outro exemplo é a exposição “Cintilações e Reflexos – Água” que esteve patente no Centro de Ciência Viva do Alviela e que em breve será apresentada no Pavilhão do Conhecimento em Lisboa. É esta permeabilidade na colaboração com outras instituições que nos interessa enquanto instituição de ensino superior, fortemente comprometida com a disseminação do conhecimento científico e cultural de crescente qualidade e envolvimento.

Até agora foram produzidas 16 exposições individuais e coletivas que integram mais de 510 trabalhos originais. Exposições com uma escala de complexidade crescente, que vão da ilustração científica, passando pelo desenho de viagem, o vídeo, a fotografia de ciência, a pintura, a escultura, e a instalação. A programação oferece desde o despretensioso desenho do quotidiano ou ilustração, às artes modernas e contemporâneas, passando pela divulgação de ciência, envolvendo no total 53 artistas plásticos.

Os concertos conferência são outra dimensão da programação cultural do Politécnico de Leiria. Neles está incluída a necessidade de disseminar a literacia para a música, desde a mais popular à erudita passando pela música antiga. Até agora os concertos conferência envolveram cerca de oitenta instrumentistas e cinco maestros. Com uma assistência acumulada de cerca de 1280 espetadores.  

Na dimensão da literatura e do pensamento crítico, devem salientar-se os projetos “Mosaico Poético” e “Desafios da Contemporaneidade e do Futuro.” Ambos alinhados com o plano Nacional da Leitura e das Artes, estes dois projetos procuram respetivamente trabalhar o gosto pela leitura e o caráter não finalístico da poesia, dotando toda a comunidade académica de ferramentas críticas para pensar e agir num mundo cheio de contradições e problemas.

O projeto “Mosaico Poético” consiste na disponibilização de leituras encenadas por meio digital na plataforma web intitulada GERMINAR. As leituras resultam da escolha curatorial do Poeta Luís Castro Mendes e do encenador Jorge Silva Melo. Este trabalho envolveu 12 atores conhecidos do grande público como, Lia Gama, Catarina Wallenstein, Maria João Luís ou Manuel Wiborg. De forma a garantir a qualidade técnica da captação sonora e vídeo estiveram envolvidas duas equipas de filmagem do curso de Som e Imagem da ESAD.CR e do Gabinete de Imagem e Comunicação do Politécnico de Leiria. Trata-se de um projeto em progresso que também envolveu o ator Diogo Dória os estudantes de teatro da ESAD.CR e pretende envolver a comunidade académica. 

O projeto “Desafios da Contemporaneidade e do Futuro” disponibiliza em todas as bibliotecas do Politécnico de Leiria mais de 130 títulos atuais dedicados aos grandes desafios societais que marcam a nossa atualidade e que vão desde a ética ambiental, alterações climáticas, ecologia, os problemas nos mares, a economia circular, o desenvolvimento sustentável, a saúde pública e a estética, ética e política nas artes e na literatura.  Paralelamente à disponibilização bibliográfica e filmográfica, com o fito de promover ações de mediação para a leitura, estão a ocorrer diversas oficinas do conhecimento dedicadas às obras do acervo e privilegiando a mediação para a Leitura.

Todas estas ações culturais do Politécnico de Leiria envolveram já 45 instituições de referência nacionais e regionais. De entre as nacionais destacamos a Caixa Geral de Depósitos, a Culturgest, Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação José Saramago, a ArtWorks, o Hangar – Centro de Investigação Artística, a Galeria Filomena Soares, Artista Unidos e a Fundação Júlio Pomar. Das instituições regionais destacamos o Mosteiro da Batalha, o Orfeão de Leiria e o Centro de Ciência Viva do Alviela. Salienta-se também a colaboração com os Municípios da Batalha, Leiria, Alvaiázere, Alcobaça, Caldas da Rainha e Óbidos.

Samuel Rama