Eis uma questão tão delicada quanto controversa: você tem uma doença infecciosa e está começando um relacionamento com alguém.
Pode ser uma relação casual, de uma noite; pode ser um relacionamento duradouro, de uma vida. O fato é que, nesse momento inicial, nem sempre se distingue uma coisa da outra.
Pode ser uma relação casual, de uma noite; pode ser um relacionamento duradouro, de uma vida. O fato é que, nesse momento inicial, nem sempre se distingue uma coisa da outra.
Jogo de sedução: olhares, gestos.
Beijos ardentes, mãos percorrendo corpos, corpos invadindo mentes.
Sede, desejo incontrolável. Brincando de tatear limites, de avançar limites, de derrubar limites. Limites? Vão ficando pelo caminho, junto com cada peça de roupa jogada ao chão. Respiração, cheiros, gostos. Desejo.
Definitivamente, este não é o melhor momento de contar.
Francesco Hayez - Domínio Público |
Nada mais óbvio do que começarmos do princípio: você tem mesmo a obrigação de contar? Não, não tem.
Imagino que alguns leitores, provavelmente aqueles com sorologia negativa, devam estar questinando essa afirmação. Como não tem a obrigação de contar? O outro tem o direito de saber e decidir se quer correr o risco!
Aí está o cerne da questão: risco. Ninguém tem a obrigação de contar que tem essas doenças, mas TEM A OBRIGAÇÃO de tomar TODOS os cuidados necessários para que não haja riscos. E, não os havendo, a questão do direito de decisão de corrê-los perde o sentido.
Pausa para lembrar que a hepatite C não é considerada uma doença sexualmente transmissível mas que, em alguns casos raros, a infecção pode dar-se por essa via. Saiba mais em:
- Hepatite C é uma doença sexualmente transmissível?
- Tudo sobre hepatite C
- ¿Es posible contraer hepatitis C por contacto sexual?
Ouvi alguém aí falar sobre obrigação moral? Sim, chegamos então a outro ponto chave. Revelar ou não é uma decisão de foro íntimo.
Se a relação evoluir, tornar-se mais séria, uma hora ou outra você precisará contar. Porque não dá pra construir uma relação sólida sem honestidade e cumplicidade, não é mesmo? E aí, se você não contou no início, terá um problema agora: como contar?
Como contar para aquela pessoa que você ama que você omitiu dela algo tão sério? Coragem, cadê você? E o medo da pessoa sentir-se traída? E o medo de ser abandonado? Existem casos de casamentos marcados, data aproximando-se, e a pessoa simplesmente não consegue contar. Mas precisa. Nesse caso, precisa.
Talvez a melhor forma de evitar essa situação seja contar desde o início.
Mas atenção: "desde o início" não quer dizer "Oi, muito prazer, eu tenho hepatite C". Oi? Dá uma chance pra pessoa te conhecer antes, né? E saber o quanto você é encantador ou encantadora (rs).
Acredite em mim: tem gente que não vai se importar.
Mas existirá também gente que se importará. Posso dizer sinceramente o que acho? Que isso sirva também como triagem pra você: pense se gostaria de ter um relacionamento com alguém assim. Eu não…
A minha dica é a seguinte: não saia contando pra todo mundo por aí. Conte para as pessoas que realmente merecem. Falo bastante sobre isso no post:
Quando for contar, cheque se a pessoa tem conhecimento a respeito, dê informações, ofereça folhetos, indique sites (este blog, por exemplo), convide para uma visita a um infectologista.
O post Namoro e HIV: contar ou não contar do blog Diante da Vida traz algumas dicas. Já aviso que é um blog gay, se tiver preconceito, nem entre.
Minha experiência
Nos últimos tempos, tenho falado abertamente sobre a hepatite C, mas só o faço depois que a pessoa me conhece e tem um conceito já formado a meu respeito*. Explico sobre a doença, sobre as formas de contágio, sobre o grave [e silencioso] problema social que ela representa, e divulgo o blog.
*Refiro-me a relacionamentos sociais de modo geral, já que não tenho assim
muita experiência em relacionamentos amorosos após a descoberta do vírus.
muita experiência em relacionamentos amorosos após a descoberta do vírus.
É uma escolha minha, que tem a ver com os meus princípios e crenças. Me exponho, é verdade, e arco com as consequências disso.
Se eu acho que você deve se expor? Já falei sobre isso lá em cima: conte apenas para quem merece.
De certo modo, é o que faço, mas digamos que o meu conceito anda bem ampliado… rs.
Recomendo a leitura: