Título do Projeto de Pesquisa: As linguagens imagéticas e emblemáticas da religião do coração nas igrejas no Brasil em sua articulação da relação entre sujeito religioso, igreja e sociedade (2013/2014) 1. Resumo: Finalizar uma...
moreTítulo do Projeto de Pesquisa: As linguagens imagéticas e emblemáticas da religião do coração nas igrejas no Brasil em sua articulação da relação entre sujeito religioso, igreja e sociedade (2013/2014)
1. Resumo:
Finalizar uma investigação que se iniciou em março de 2009 e que ganhou destaque maior como um projeto de pós-doutorado na UFJF ( março de 2010 até dez. de 2011) (cf.. item 6). Para os anos de 2013 a 2015 planejo o encerramento do projeto com foco na religio cordis brasiliensis protestante, pentecostal e neo-pentecostal nos séculos 20 e 21, na base das suas representações imagéticas e suas respectivas celebrações ou rituais, em comparação entre si e em relação à expressão majoritária, o catolicismo, com o olhar na sua força formadora quanto à relação sujeito religioso, igreja e sociedade.
Palavras-chave: matriz religiosa brasileira; Catolicismo; Protestantismo; Pentecostalismo; igreja e sociedade; religio cordis; religião do coração.
2. Objetivo(s):
Investigar a linguagem emblemática e metafórica do coração como linguagem simbólica religiosa oriunda do cristianismo em geral, e do metodismo inglês e estadunidense, em especial, e como se articula nas igrejas evangélicas (protestantes, pentecostais e neo-pentecostais) com a relação entre o sujeito religioso / instituição religiosa e a sociedade.
• Investigar a religião do coração enquanto fenômeno e expressão cultural brasileira nos século 20 e 21, que, por um lado, transcende fronteiras confessionais e doutrinárias, e, por outro lado, representa a sua própria hibricidade, potencialmente aberta e em constante modificação.
• Explorar as linguagens da religião do coração, tanto como articulações de experiências religiosas pessoais e de projetos institucionais, com foco na relação sujeito / igreja – sociedade.
• Relacionar estas linguagens de religião como expressão cultural em suas articulações distintas da relação sujeito / igreja – sociedade com o projeto da democratização e da construção da vida cívica e da cidadania na modernidade tardia, em seu potencial da superação dos impasses da tanto da época colonial como do período da modernidade.
3. Justificativa:
O estudo do cristianismo brasileiro com ênfase na religião do coração como linguagem metafórica e pictoral, ou imagética e ritualística, característica deste espaço cultural e religioso, permite investigar o processo e o grau de inculturação do protestantismo, pentecostalismo e neo-pentecostalismo alem das suas afirmações doutrinárias que, muitas vezes, aparentemente, articulam a sua diferença em relação a este espaço cultural.
Segundo parece-nos ser a religião do coração, ao longo dos séculos, migrar de uma expressão de uma espiritualidade das elites para uma espiritualidade popular, e assim atingindo o nível cultural.
Além disso, parece-nos interessante revisitar a linguagem da religião no início da pós-modernidade por ela ter em suas ramificações o interessante potencial de por um lado, articular – especialmente em suas vertentes católicas – críticas religiosas à modernidade, e, por outro lado, – especialmente em suas expressões protestantes – críticar os imaginários medievais.
Com isso ela se torna uma interlocutora interessante para compreender e projetar a relação entre sujeito religioso e instituições religiosas e a sociedade no início do século 21.
A nossa investigação interpretará, predominantemente, pinturas, gravuras, impressões e logotipos relacionados à religião do coração, desde o início do século 14 até o Brasil contemporâneo. Eventualmente, mostraremos a intertextualidade desses discursos imagéticos com discursos metafóricos encontrados em poesias e letras de canções, partindo do princípio que uma distinção radical e qualitativa entre metáfora e imagem seja artificial (CATTIN, 1994; FREEDBERG, 1998; TIMM, 1990; PLATE, 2002) e buscando esclarecer as intenções artísticas com a maior clareza possível.
Escolhemos estes discursos e projetos imagéticos e metafóricos para representar a religião do coração. Entretanto, o “coração” é em si uma metáfora que agregou ao decorrer dos séculos, no seu uso pelas religiões judaica e cristã, diversos sentidos ou ênfases de sentido. A abrangência de significados aplicada a ele pode ser comparada com os significados atribuídos no Brasil. Nosso interesse está tanto na diferença entre esta riqueza de significados e o seu excedente (surplus) de sentido (RICOEUR, 1976); nas leituras majoritária e minoritariamente encontradas no Brasil, como na diferença ou proximidade entre estes discursos influentes no Brasil. Há uma mensagem especificamente condicionada para os trópicos ou, eventualmente, mais do que uma? Encontram-se uma ou mais formas do discurso imagético e metafórico no Brasil que sejam visivelmente tropicais? Existe uma leitura tropical que poderia ser chamada dominante, ou encontraremos múltiplas leituras, relativamente independentes uma da outra?
Acreditamos que a investigação dos discursos imagéticos e metafóricos seria um caminho mais promissor para tentar entender a dinâmica religiosa do país do que, por exemplo, um estudo dos artigos da fé ou dos catequismos oficiais ou dos artigos da religião das igrejas. Isso é porque em grande parte a cultura religiosa do Brasil era e é festiva, simbólica, litúrgica e oral. A religião passou e passa pela imagem e pelo som, pelo rito e pela fala, não pela escrita e pela racionalização da fé. E isso não por acaso. Enquanto o protestantismo era diretamente ligado à leitura, no sentido de uma técnica e do dever e direito de interpretação, a produção de livros no Brasil colonial era proibida. Como a primeira gráfica oficial chegou ao país somente em 1808, as reproduções imagéticas acabam sendo importantes expressões autênticas de uma releitura local da religião oficial dominante durante 300 anos. Especialmente depois da saída dos Jesuítas, promovia-se ainda menos o conhecimento da escrita e da leitura, e os índices de um analfabetismo completo ou estrutural somente mudaram a partir da década de 50 do século 20. Gravuras, símbolos, imagens, logotipos, metáforas e canções que usam estas metáforas são, então, por necessidade, meios de divulgação importantes na cultura religiosa brasileira.
A religião do coração não pretendia a elitização de si. Mesmo que não seja o foco principal da nossa investigação, gostaríamos de entender também como esta aculturação dos projetos da religião do coração ou da religião cordial brasileira alcançou a alma do povo e popularizou as suas convicções religiosas em todas as camadas sociais. Quanto à religião cordial brasileira, será interessante perceber até que ponto se encontram cópias fiéis de originais europeus ou releituras imagéticas, tímidas talvez, um tipo de tropicalização do discurso europeu, especialmente quando se pretende captar as suas expressões mais populares.