Góndola, Enseñanza y
Aprendizaje de las Ciencias
DOI: https://doi.org/10.14483/23464712.14336
Resultado de investigación
ADOLESCÊNCIA EM DOIS LIVROS DIDÁTICOS DE CIÊNCIAS
ADOLESCENCE IN TWO SCIENCE TEXTBOOKS
ADOLESCENCIA EN DOS LIBROS DE TEXTO DE CIENCIAS
Mateus Souza da Luz* , Solange de Fátima Reis Conterno** , Gicelle Galvan Machineski*** ,
Letícia Katiane Martins**** , Alessandra Crystian Engles dos Reis***** y
Fernanda Aparecida Meglhioratti******
Cómo citar este artículo: Luz, M.S., Conterno, S.F.R., Machineski, G.G., Martins, L.K., Reis, A.C.E. y Meglhioratti, F.A.
(2020). Adolescência em dois livros didáticos de ciências. Góndola, enseñanza y aprendizaje de las ciencias, 15(2),
268-283. DOI: https://doi.org/10.14483/23464712.14336
Resumo
Este estudo teve como objetivo analisar dois livros didáticos de Ciências do oitavo
ano do Ensino Fundamental, fornecidos pelo Programa Nacional do Livro Didático
do Brasil, utilizados em um munícipio da região Oeste do Paraná, em relação aos
temas e aos conceitos pertinentes à adolescência. Trata-se de um estudo exploratório-descritivo, do tipo qualitativo fundamentado na análise de conteúdo. Foi possível
constatar que os dois livros abordam assuntos relacionados ao adolescente, porém de
maneira restrita. Mediante a importância dos conceitos e a carência de informação,
evidencia-se que as inclusões dos assuntos relacionados à essa faixa etária são vitais
para a abordagem pedagógica. Pode-se afirmar, que o livro didático nem sempre
contempla os assuntos pertinentes a essa fase, devendo o professor enriquece-lo,
pois, temas importantes podem estar negligenciados nas obras.
Palavras-chave: adolescente; educação sexual; livro didático.
Recebido: 15 de janeiro de 2019; aprovado: 13 de junho de 2019
*
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***
Enfermeiro especialista em Gerenciamento de Enfermagem em Clínica Médica e Cirúrgica, Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste),
Campus Cascavel, Paraná, Brasil. Correio eletrônico:
[email protected]
Doutora em Educação. Docente do curso de Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Biociências e Saúde, Universidade
Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Campus Cascavel, Paraná, Brasil. Correio eletrônico:
[email protected]
Doutora em Enfermagem. Docente do curso de Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Biociências e Saúde, Universidade
Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Campus Cascavel, Paraná, Brasil. Correio eletrônico:
[email protected]
Enfermeira especialista em Gerenciamento de Enfermagem em Clínica Médica e Cirúrgica, Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste),
Campus Cascavel, Paraná, Brasil. Correio eletrônico:
[email protected]
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Educação Matemática (PPGECEM), Universidade Estadual do
Oeste do Paraná (Unioeste), Campus Cascavel, Paraná, Brasil. Docente do Curso de Enfermagem da Unioeste. Correio eletrônico: alessandra.
[email protected]
Doutora em Educação. Docente do curso de Ciências Biológicas e dos Programas de Pós-Graduação em Educação e em Educação em Ciências
e Educação Matemática (PPGECEM), Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Campus Cascavel, Paraná, Brasil. Correio eletrônico:
[email protected]
Góndola, Enseñanza y Aprendizaje de las Ciencias
e-ISSN: 2346-4712 • Vol. 15, No. 2 (may-ago, 2020), pp. 268-283
Adolescência em dois livros didáticos de ciências
LUZ, M.S., CONTERNO, S.F.R., MACHINESKI, G.G., MARTINS, L.K., REIS, A.C.E. Y MEGLHIORATTI, F.A.
Abstract
The objective of this study was to analyze two eighth grade science textbooks, which are provided by the National Textbook Program and used in a municipality in
the Western region of Paraná Brazil, in relation to themes and concepts pertinent to
adolescence. This is an exploratory-descriptive study that employs qualitative content analysis. The results reveal that the two books deal with subjects related to the
adolescence, but in a restricted way. Due to the importance of the concepts and lack
of information, it is evident that the inclusion of subjects related to this age group is
vital for the pedagogical approach. It was affirmed that textbooks do not always contemplate subjects pertinent to this phase, and teachers must, therefore, cover some
themes that may be left out in these textbooks.
Keywords: teenage education; sexual education; elementary school textbooks.
Resumen
Este estudio tuvo como objetivo analizar dos libros didácticos de ciencias de octavo
grado en secundaria, suministrados por el Programa Nacional del Libro Didáctico
del Brasil, utilizados en un municipio de la región Oeste de Paraná, respecto a los
temas y conceptos que tienen que ver con la adolescencia. Se trata de un estudio
exploratorio-descriptivo, de tipo cualitativo, fundamentado en el análisis de contenido. Es posible constatar que los dos textos abordan asuntos relacionados con el
adolescente, pero de manera restringida. Dada la importancia de los conceptos y
la carencia de información, se evidencia que la inclusión de asuntos relacionados
con esa edad es vital para el abordaje pedagógico. Sin embargo, podemos afirmar
que los libros no suelen contemplar asuntos pertinentes para el estudio de esta edad,
dejando al profesor la responsabilidad de enriquecerlos, pues temas importantes son
descuidados en estas obras.
Palabras clave: adolescente; educación sexual; libro de texto.
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e-ISSN: 2346-4712 • Vol. 15, No. 2 (may-ago, 2020), pp. 268-283
Adolescência em dois livros didáticos de ciências
LUZ, M.S., CONTERNO, S.F.R., MACHINESKI, G.G., MARTINS, L.K., REIS, A.C.E. Y MEGLHIORATTI, F.A.
Introdução
O adolescente se encontra em uma fase de transição importante para o desenvolvimento humano,
quando se observa o início da mudança do corpo
infantil para adulto. Várias alterações hormonais,
morfológicas e comportamentais estão acontecendo, as quais são consideradas para que estudiosos
e organizações conceituem a adolescência.
Para tanto, toma-se como importante, de imediato introduzir a origem do termo problematizado
neste estudo, para que o leitor melhor contextualize o sujeito adolescente. “A etiologia da palavra
adolescência vem de duas raízes inter-relacionadas:
do latim ad (a, para) e olescer (crescer) e, também,
de adolesce, origem da palavra adoecer” (Ribeiro,
2011 p. 2). Para Shaffer (2005) a adolescência é um
período compreendido entre 10 e 19 anos de idade,
marcado não só por mudanças físicas, mas também
no campo social e cognitivo.
No Brasil a Lei 8069 de 13 de julho de 1990,
que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, no Artigo 2º, considera criança a pessoa
com até 12 anos de idade incompletos e, adolescente entre 13 e 18 anos de vida (Brasil, 1990). Para
a vertente psicológica a adolescência não é mera
etapa cronológica/temporal, deve ser uma época de
perturbações advindas do aumento na produção de
hormônios sexuais, os quais provocam manifestações que marcam o despontar da sexualidade (Bock,
2007). Com base nessa vertente, a sexualidade deve
ser compreendida no âmbito biopsicossocial, já
que o adolescente está inserido em determinado
contexto sócio histórico.
Considerar o sujeito adolescente protagonista
na construção do viver em sociedade confere, ao
mesmo, compromisso social e pessoal. Questões do
desenvolvimento psicossexual, ainda são tratadas
como um tabu (Ramos, 2001). O tema sexualidade
na unidade familiar é passível de ser oculto, uma
vez que, os pais nem sempre possuem propriedade
quanto às informações pertinentes ou se sentem à
vontade para falar desse assunto. No entanto, é nessa
fase que o sujeito embebido pela condição hormonal
se encontra potencialmente fragilizado, exposto a
situações de risco, de forma mais evidente e abrupta
(Nery et al. 2015), como no caso de envolvimento
com álcool e outras substâncias lícitas ou ilícitas,
além de infecções sexualmente transmissíveis e a
gravidez na adolescência.
Acredita-se que a precária abordagem da sexualidade e demais problemáticas inerentes à adolescência pela família, por vezes, torna-se preocupante,
tendo em vista, as possíveis lacunas próprias da
inexperiência adolescente e a busca instintiva por
sua identidade social.
Diante dos apontamentos que contextualizam a
problemática estudada, faz-se pertinente a pesquisa de
temas próprios da adolescência e de como são tratados
nos livros didáticos de Ciências visto que, no Brasil,
são amplamente operados pelos professores e alunos
para a condução didático pedagógica. Para tanto, faz-se necessário a preocupação com a qualidade dos
conteúdos dispostos nos livros utilizados (Altmann,
2005). Como no caso de Dias, Oliveira (2015), que
estudaram o corpo, gênero e sexualidade no Projeto
Político Pedagógico em determinada escola estadual
em Sergipe e identificaram que essas temáticas estão
inseridas superficialmente no currículo escolar.
No Brasil, os livros didáticos utilizados pela rede
pública de ensino são gerenciados pelo Programa
Nacional do Livro Didático (PNLD). Esses livros
passam por um processo de seleção, com o intuito
de verificação da qualidade do material, sendo essa
logística de responsabilidade do PNLD, antes de
estarem sob posse dos estudantes brasileiros (Brasil,
2017). Neste contexto, esta pesquisa se ocupa em
analisar dois livros didáticos de Ciências utilizados
nos anos finais do Ensino Fundamental da rede pública do estado do Paraná, distribuídos pelo PNLD
2017, afim de identificar os temas e conceitos relacionados a adolescência.
1. Metodologia
Trata-se de um estudo exploratório e descritivo, do
tipo qualitativo fundamentado na Análise de Conteúdo (AC) de Bardin (2012).
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LUZ, M.S., CONTERNO, S.F.R., MACHINESKI, G.G., MARTINS, L.K., REIS, A.C.E. Y MEGLHIORATTI, F.A.
O estudo em questão analisou a abordagem do
ser adolescente, em dois livros didáticos de Ciências
do oitavo ano do Ensino Fundamental. Destaca-se
nesta pesquisa a escolha dessas obras, tendo em
vista que a Base Nacional Curricular Comum para
o Ensino de Ciências no eixo de Vida e Evolução,
especificamente no ano selecionado do Ensino Fundamental, considera a abordagem dos mecanismos
reprodutivos e da sexualidade (Brasil, 2016). É importante salientar que os livros escolhidos fazem
parte do PNLD 2017 e foram adotados para o triênio 2017/2018/2019 pela maioria das escolas da
rede estadual de ensino de um município da região
Oeste do Paraná (Brasil, 2017).
Para escolha das obras foi solicitado a superintendência do Núcleo Regional de Educação da região,
via Secretaria de Educação do Estado do Paraná, a
relação de escolas e as respectivas obras da disciplina de Ciências que foram escolhidas para o triênio
do município estudado. Foi observado que dos 38
colégios estaduais, 12 adotaram a obra Investigar e
Conhecer, 7 o Projeto Teláris, 6 Projeto Araribá, 4
Projeto Apoema, 4 Ciências Novo Pensar, 3 Ciências
Naturais, 1 Ciências: O Corpo Humano e 1 Ciências. Assim, foram objeto de estudo desta pesquisa
as obras: Investigar e Conhecer da autora Sônia
Lopes (2015) e Projeto Teláris do autor Fernando
Gewandsznajder (2015) que para fins teóricos serão
identificados ao longo da pesquisa como L1 e L2,
respectivamente.
Para o desenvolvimento deste estudo foram identificadas categorias, correspondentes ao conjunto
de palavras que expressam determinado sentido,
após a primeira leitura e pré análise das obras (Bardin, 2012). Segundo Meireles, Cendón (2010 p.
78), “As deduções lógicas ou inferências que serão
obtidas a partir das categorias serão responsáveis
pela identificação das questões relevantes contidas no conteúdo das mensagens”. Em um segundo momento, a partir da definição das categorias/
questões relevantes, os dados foram novamente
analisados conforme o objetivo proposto para a
pesquisa, os quais são apresentados nos resultados
e discussão a seguir.
2. Resultados e discussão
Na ausência ou frágil amparo familiar e desinformação, os adolescentes podem recorrer a fontes e
acepções não confiáveis. Cabe salientar, o ambiente
escolar como espaço de socialização de conteúdos
sistematizados, de discussão e fomento do tema,
visando uma abordagem que vai além do biológico, abarcando o contexto biopsicossocial e, o
livro didático, recurso importante para o ensino e
a aprendizagem, utilizado com destaque, para o
planejamento da abordagem pedagógica (Vargas,
2014). Lima Soares et al. (2018) compreendendo
essa importância, estudaram as representações do
corpo humano nos livros didáticos de Ciências,
assim também descreveram que o livro didático,
por vezes, é fonte exclusiva para planejamento e
trabalho do professor.
Nesta perspectiva e conforme a metodologia
utilizada neste estudo foram identificadas seis categorias: puberdade; drogas; alimentação saudável;
sexualidade; infecções sexualmente transmissíveis
(IST’s) e; higiene. Destaca-se que a sexualidade é
implícita e explicita ao ser, o qual é composto por
um organismo que se relaciona com distintos contextos: social, emocional, histórico, com grupos e
ambientes culturalmente diversos; e que não apresenta conotação patológica, para tanto, justifica-se
uma categoria exclusiva para IST.
Na categoria puberdade, os livros didáticos salientaram a ocorrência da puberdade fisiológica
e os principais eventos resultantes das mudanças
hormonais no menino e na menina.
[ 271 ]
Na puberdade, há um aumento na produção de
hormônios sexuais, os quais, entre outras coisas, estimulam o funcionamento das glândulas sebáceas.
Consequentemente, a pele fica mais oleosa. Em alguns
casos, a gordura produzida (sebo) entope a saída da
glândula e forma o cravo. A cor escura dos cravos se
deve a melanina e ao sebo oxidado. Além disso, bactérias podem se reproduzir no canal da glândula e provocar uma inflamação no local. Surgem as conhecidas
espinhas: é a acne (Gewandsznajder, 2015 p. 125).
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“A adolescência é uma fase de muitas mudanças
e transformações no corpo. O sistema endócrino
influi diretamente nesses fenômenos” (Lopes, 2015
p. 228).
Tanto a autora do L1 quanto o autor do L2, trouxeram o conceito de puberdade fisiológica, ao passo
que destacaram as principais ocorrências de eventos
durante esse período. Em relação ao desenvolvimento corporal, trazem uma representação importante
a ser trabalhada com os adolescentes, na qual cada
indivíduo irá desenvolver-se dentro de um padrão
esperado, porém com situações distintas e essa variedade é uma característica importante na espécie
humana, exemplo: na puberdade alguns adolescentes possuem espinhas. A explicação fisiológica
também possibilita a compreensão de que os hormônios responsáveis por todas essas mudanças são
produzidos desde a vida intrauterina, sendo que o
ápice dessa produção ocorre na adolescência.
É nessa fase do ciclo vital que um corpo diferente,
do que havia até então, emerge. Na puberdade há
o aumento da produção hormonal, propiciando o
crescimento físico e o aparecimento de caracteres
sexuais secundários. A velocidade de crescimento
possibilita, por vezes, que o adolescente não reconheça seu próprio corpo, em razão de que algumas partes específicas crescem mais que outras e
de maneira desigual. Os reflexos dessas alterações
podem ser visualizados em atividades do cotidiano,
é comum que os adolescentes derrubem objetos facilmente e tornem-se desajeitados ao desempenhar
micro e macro atividades. Essa desorganização é devido ao não redimensionamento das percepções de
tempo, espaço e tônus que passaram a fazer parte do
corpo adolescente (Brêtas, Muroya, Goellner, 2009).
Dentre as diversas mudanças no corpo adolescente, uma das que mais o deixa aborrecido devido
a distúrbios de imagem e percepção diz respeito
as espinhas. Os autores de L1 e L2 deram enfoque
para essa situação, pois é um evento compartilhado
por ambos os sexos e, por vezes, os adolescentes
recorrem a indústria farmacêutica para aquisição
de produtos com intuito de cessar a ocorrência das
mesmas. L1 traz uma figura e texto (2015 p. 227) nos
quais destaca a acne e o cuidado com a utilização
de produtos farmacêuticos sem a devida orientação
de um profissional da saúde. Portanto, visando as
alterações próprias da adolescência é necessário
instrumentalizá-los sobre as principais modificações
que ocorrem na puberdade, atentando-se também
para as características sexuais secundárias, como é o
caso da acne, a fim de esclarecer quaisquer dúvidas
que possam surgir. Além de orienta-los, bem como
seus familiares, a buscar auxílio de um profissional
mediante alterações patológicas.
Na categoria drogas, notou-se nas obras a contextualização a respeito do atual cenário de inserção dos jovens e adolescentes no uso de agentes
químicos lícitos e ilícitos. O L1 destaca o risco de
desenvolvimento de câncer e compara os efeitos
do álcool com o uso do craque e da cocaína, os
quais provocam danos importantes sobre o organismo. Finaliza o texto mencionando que álcool para
adolescentes é proibido. Já o L2 traz, no início da
sua redação, que o álcool não deve ser ingerido
por crianças e adolescentes e destaca alguns fatos
curiosos sobre o efeito dessas drogas em relação a
memória e a redução da capacidade para o desenvolvimento de raciocínios complexos e tomadas de
decisões imediatas.
“O álcool é a droga que mais detona o corpo
(tanto quanto a cocaína e o craque); a que mais faz
vítimas; e é a mais consumida entre os jovens no
Brasil” (Lopes, 2015 p. 112).
Crianças e adolescentes não devem tomar bebida
alcoólica. A bebida na juventude aumenta o risco de
dano cerebral. Estudos mostram que os jovens consumidores de álcool têm a parte do cérebro relacionada
à memória 10% menor. Além disso, há uma redução
das capacidades de raciocínio complexo e tomada
de decisões rápidas (Gewandsznajder, 2015 p. 63).
O álcool é a substância psicoativa que os adolescentes tem contato mais precoce. Estudo retrata que
as primeiras ingestões de álcool de um indivíduo
ocorreram com idade entre 10 e 12 anos. Embora a
Lei nº 13.106 de 2015 proíba o consumo, a venda
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e a oferta de bebidas alcoólicas para menores de
18 anos, o uso de tal substância é comum. E, por
vezes, tem caráter abusivo seja em reuniões de amigos, nas festas e até mesmo no convívio familiar
(Bonito, Boné, 2014). Assim, aponta-se o álcool
como um artifício de socialização, autoafirmação
e até mesmo de inclusão em determinado grupo
(CARLINI et al. 2010).
É interessante que a obra L1 associa o envolvimento químico com o possível isolamento social,
conforme a autora ilustra em uma figura (2015 p.
223) um adolescente em lugar escuro, com uma
das mãos na cabeça, podendo estar disperso ou
pensativo e texto em anexo enfatizando que o jovem envolvido nessa situação desafiadora não está
sozinho e deve procurar ajuda.
Estudo realizado na cidade do Rio de Janeiro com
21 adolescentes de ambos os sexos, entre 12 e 18
anos, identificou que 18 desses participantes tinham
consumido bebidas alcoólicas. Dentre os motivos
para não experimentar tais bebidas três participantes relataram a falta de interesse em experimentar,
e um dos participantes acha totalmente errado fazer
uso de bebidas alcoólicas. Em relação ao primeiro
contato com tal substância o mesmo ocorreu entre
9 e 17 anos no grupo estudado (Neves, Teixeira,
Ferreira, 2015).
Em pesquisa realizada em Porto Velho - RO, Ji-Paraná – RO e Santarém - PA, com 996 alunos, os
resultados chamam atenção devido ao fato de 39,2%
dos participantes terem experimentado álcool no
ambiente familiar, muitos na idade entre 12 e 13
anos. Além disso, o mesmo estudo constatou que,
tanto em relação ao álcool quanto ao tabaco e a
outras drogas, a idade de experimentação foi de 12
a 13 anos para o álcool e tabaco e; 13 a 15 anos
para outras drogas (Elicker et al. 2015).
O uso de álcool pode causar intoxicação quando
usado regularmente. Os estudos confirmam que a
ingestão está associada: à morte, predisposição a
violência sexual, relações sexuais desprotegidas, ao
déficit de memória e a diminuição da percepção
frente aos problemas. Além desses efeitos imediatos, tem-se ainda os efeitos a longo prazo como é
o caso do aumento significativo da probabilidade
de uso de álcool na vida adulta, degeneração dos
centros responsáveis pela memória, sistema límbico,
vias dopaminérgicas, dificuldade no aprendizado e
concentração, além da dependência do álcool para
criar coragem no desempenho dos papéis sexuais
e de relacionamento afetivo (Pechansky, Szobot,
Scivoletto, 2004).
O tabaco é outra droga utilizada como forma de
socialização dos adolescentes. Carlini et al. (2010)
indicam que, no Brasil, o cigarro juntamente com
o álcool é a droga de uso mais frequente entre os
adolescentes, essa conclusão foi possível após o
estudo temporal realizado desde a década de 80
pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID). Iglesias et al. (2007)
destacam que o tabaco é a segunda droga de maior
consumo entre os jovens no mundo e no Brasil, e
a possível explicação para os inúmeros adeptos ao
cigarro deve-se em parte pela facilidade e estímulos
para aquisição do produto, o baixo custo, a curiosidade estimulada pela imitação do comportamento
adulto, bem como a falta de informações acerca dos
problemas multifatoriais que estão envolvidos em
seu consumo. Sendo o câncer de pulmão um dos
melhores exemplos relacionado aos efeitos adversos
do uso do tabaco e seus subprodutos.
O uso do tabaco pode predispor a experimentação de outras drogas como por exemplo o álcool
e a maconha, consequentemente expõe a saúde
do indivíduo a complicações de curto, médio e
longo prazo que refletirão na vida adulta (Iglesias
et al. 2007; Carlini et al. 2010). L1 ilustra esse contexto com um cartaz elaborado pela Organização
Mundial da Saúde que destaca o combate ao uso
do tabaco, com a imagem (p. 125) de uma garota
irritada, negando o cigarro oferecido enquanto que
atrás dela um garoto posicionado seriamente observa
atentamente a cena.
Os livros didáticos analisados problematizam
também o uso de drogas ilícitas e seus efeitos no
sistema nervoso central. Discorrem ainda a respeito dos danos causados a saúde e a vida social do
indivíduo que as consome. A primeira figura de
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L1comentada nesta seção (2015 p. 223), a qual
insere o adolescente em um espaço de penumbra,
permite ao leitor refletir e repensar sobre seus atos
no que tange ao uso ou experimentação de drogas.
As abordagens sobre o uso de substâncias psicoativas, apresentadas pelas duas obras, evidenciam dados
relevantes do consumo de álcool e tabaco, contextualizando ainda os efeitos adversos das drogas lícitas
e ilícitas no organismo. Nota-se uma visão integral
e valorosa para ser abordada com os alunos, pois a
desinformação pode levar o jovem a experimentar o
novo, nesse caso as drogas, sem que saiba os contratempos e impactos biopsicossociais do uso e abuso.
Na categoria alimentação saudável ambos os
livros destacam a importância dessa temática e as
consequências trazidas pela ingestão inadequada de
alimentos. Associam-se os hábitos alimentares com
o sedentarismo e o resultado desses para a saúde
atual do adolescente, além dos futuros problemas
trazidos pela má qualidade de vida.
Na adolescência ocorre um rápido desenvolvimento físico. Consequentemente, há também um
aumento da necessidade de nutrientes. No entanto,
diversos estudos indicam que muitos adolescentes,
apesar de saberem o que é alimentação saudável,
não consideram que sua alimentação seja saudável.
Muitos não querem pensar nas consequências de uma
má alimentação no futuro. Preferem pensar apenas
no prazer imediato dado por certos alimentos (Gewandsznajder, 2015 p. 71).
“[...] A forma mais eficaz de manter-se longe da
hipertensão na juventude é mantendo hábitos saudáveis. Não fume, tenha uma alimentação baseada
em muita fruta e pouca gordura, além de consumir
pouco sal” (Lopes, 2015 p. 152).
Conforme destacado pelos autores, os adolescentes têm adotado hábitos de vida não saudáveis,
optando por alimentos simples e rápidos e redução
na prática de atividades físicas,
Nota-se, que com o aumento dos serviços tipo
fast-foods pode haver, por sua praticidade, o favorecimento do consumo de carboidratos simples,
altamente energéticos e a redução da ingestão de
fibras, que são provenientes de frutas, hortaliças,
verduras e legumes.
Estudo realizado por Souza et al. (2016) buscou
descrever o perfil de consumo alimentar dos adolescentes brasileiros, além de estimar a prevalência
de inadequação na ingestão de micronutrientes.
Após a conclusão da pesquisa obteve-se como resultado, que os adolescentes brasileiros ingerem
os alimentos tidos como tradicionais, incluindo o
arroz e feijão, porém ao serem questionados sobre
as bebidas obteve-se um alto índice no consumo de
refrigerantes e sucos ultra processados. Esse perfil
dietético veio acompanhado de excessiva ingestão de ácidos graxos saturados, açúcares e baixo
consumo dos micronutrientes como o cálcio e as
vitaminas. Para finalizar e não menos importante, a
pesquisa conclui que 80% dos 71.791 adolescentes
entre 12 e 17 anos, consomem o sódio acima dos
limites toleráveis.
É necessário levar em consideração, não apenas
os aspectos inerentes ao indivíduo, mas sim os determinantes sociais, políticos e econômicos. Nesse
sentido, ao abordar a alimentação saudável é interessante que se saiba o conceito de alimentação, os
valores depositados nos hábitos alimentares, bem
como a cultura de um povo e o acesso aos alimentos
(Silva, Teixeira, Ferreira, 2014).
Tendo em vista a importância da educação em
saúde para instrumentalizar os adolescentes a respeito de uma prática de alimentação saudável, é
necessário considerar que o alimento é o responsável
pelo fornecimento dos nutrientes necessários para
manutenção da saúde e prevenção de agravos. Nesse
sentido, cabe destacar que tanto os macronutrientes
quanto os micronutrientes devem estar associados
em nossa alimentação. E que a alimentação saudável
não se refere a privação de um ou de outro nutriente
específico, pois o exagero causa danos e a falta traz
consequências, como por exemplo a fraqueza e o
cansaço excessivo.
Neste contexto, destaca-se no L1 que, “A criança
e o adolescente devem ser incentivados à prática regular de atividade física, ao cuidado na alimentação
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e à recusa de comidas ricas em gordura” (Lopes,
2015 p. 152).
É necessário um olhar holístico para o adolescente, pois nessa fase a formação de conceitos e
opiniões leva o adolescente a tentar se adequar aos
padrões impostos pela sociedade. Nesse sentido,
podem praticar atos como privar-se de alimentos,
uso de laxantes dentre outras práticas, na busca incessante para identificar-se com um grupo. Podemos
citar ainda, que os distúrbios alimentares tem sido
uma recorrência e uma emergência na atualidade.
O conhecimento e o reconhecimento de sinais e
sintomas por parte dos docentes são de fundamental
importância (Brasil, 2008).
Os transtornos alimentares podem ser definidos como mudanças comportamentais no hábito
alimentar que levam a alterações significativas no
peso corporal do indivíduo. Assim como destacado
pela autora do L1, estudos mostram a incidência
de adolescentes acometidos pela anorexia, bulimia
nervosa e pelo transtorno compulsivo alimentar
periódico (Albino, Macedo, 2014). São grandes as
possibilidades de um adolescente ter alterações do
seu apetite e perturbações da sua imagem corporal.
Sobre isso, pesquisas mostram que 45% de adolescentes em idade escolar querem ser mais magros
(as) e outros (as) 37% tentam perder peso (Albino,
Macedo, 2014; Gonçalves, Faleiro, Malafaia, 2013).
Pode-se concluir que a nutrição é um dos principais elementos que promovem a saúde e proporcionam bem-estar aos indivíduos e que a formação de
hábitos alimentares saudáveis é iniciada na infância,
definida na adolescência e irá perdurar por toda a
vida (Brasil, 2008).
É importante que os professores estejam atentos
para possíveis alterações no comportamento dos
escolares, principalmente aqueles relacionados aos
transtornos alimentares, expressos pelo emagrecimento abrupto, ganho de peso inesperado, a fim
de comunicar aos responsáveis para que procurem
ajuda especializada. E contribuam para melhorar e
até mesmo proporcionar saúde mental ao adolescente acometido pelas patologias nutricionais, quer
seja pelo abuso de nutrientes ou pela falta deles.
Na categoria sexualidade foi contextualizado
pelo L2 a masturbação, sendo essa caracterizada
pelo ato de manipulação genital a fim de obter a
satisfação sexual.
A masturbação, isto é, o ato de manipular os órgãos genitais para obter prazer, é muito comum na
adolescência (tanto em garotos quanto em garotas).
Ela não prejudica a saúde e nem é doença. É um
modo de satisfazer o desejo sexual e aliviar tensões.
A masturbação tampouco esgota os espermatozoides, que são produzidos aos milhões todos os dias.
A eliminação de esperma durante o sono, chamada
de “sono molhado” ou polução noturna, também é
normal (Gewandsznajder, 2015 p. 230).
Falar a respeito da masturbação na adolescência é fundamental, pois muitas são as dúvidas e
os tabus que cercam essa prática. A masturbação
conforme Brêtas, Muroya, Goellner (2009 p. 103)
retrata a “[...] primazia genital na adolescência”,
ou seja, identifica a genitália como área prioritária
de prazer e satisfação quando da manipulação do
próprio corpo.
O ato de masturbar, ainda nos dias atuais, é reconhecido como sinônimo de perversão sexual. Na
cultura popular existem mitos em torno dessa prática, como por exemplo o crescimento de pelos nas
mãos, aumento dos seios masculinos e hipertrofia de
pequenos lábios nas mulheres (Aberastury, Knobel,
1981). Estudos abordados por Brêtas, Muroya, Goellner (2009) revelam que a sexualidade não é um
problema em si, mas a sociedade assim a percebe.
Sendo a masturbação reconhecida como perversão sexual, e a sexualidade percebida como um
problema, é fato que a conotação negativa para com
o fenômeno da masturbação é acentuada. Então,
quando o autor de L2 contempla a discussão desse
fenômeno, com enfoque para a saúde do adolescente, percebe-se um avanço em relação aos cuidados
com o comportamento adolescente/humano, com
ênfase para o comportamento da menina, a qual
tende raramente ser reconhecida como portadora
de desejo sexual.
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Nessa categoria os autores de L1 e L2 destacam ainda o uso dos métodos contraceptivos como
forma de planejamento e salientam a importância
do uso do preservativo, “camisinha”, em razão de
ser o único método que oferece proteção tanto na
prevenção da gravidez indesejada quanto a contaminação pelas IST’s.
Ambos os livros analisados trabalham a gravidez
na adolescência em forma de textos e figuras. Esse
fenômeno é tratado de forma abrangente levando
o adolescente a refletir. O L1 ao trabalhar com os
métodos contraceptivos no capítulo 12, que aborda
sobre a reprodução humana, traz em sua introdução
que o planejamento de uma gravidez é necessário
para que ocorra em momento oportuno ao casal,
visando os benefícios da maternidade e garantia de
bem-estar ao filho (Lopes, 2015). No mesmo capítulo
a autora trabalha com um texto que revela dados
estatísticos da gravidez na adolescência, além de
se ocupar brevemente com a questão do aborto,
conforme segue,
Desde a puberdade, começa a se intensificar o
desejo sexual nos adolescentes, que pode acabar
levando-os a iniciarem a vida sexual muito antes
de estarem preparados emocionalmente para isso e
muito antes de estarem cientes das consequências do
ato sexual sem proteção. Entre elas está uma possível
gravidez em uma etapa da vida em que pode não ser
aconselhável nem desejável que aconteça.
A incidência da gravidez na adolescência tem
apresentado índices preocupantes no Brasil. De acordo com dados do Fundo de População das Nações
Unidas (UNFPA), órgão das Nações Unidas (ONU),
em 2010, 19,3% dos bebês nascidos no Brasil foram
filhos e filhas de mulheres com menos de 19 anos.
Outro dado alarmante é que muitas jovens que engravidam tentam aborto, que é a interrupção da gravidez.
O aborto é proibido legalmente no Brasil, exceto
em certos casos muito específicos, como aqueles em
que a gravidez oferece risco de morte para a mãe.
Por isso, muitas jovens acabam procurando clínicas
clandestinas, em condições precárias, que muitas vezes causam danos à saúde da mulher, entre as quais
a esterilidade (impossibilidade de ter filhos) e a morte
(Lopes, 2015 p. 254).
Salienta-se que ambos os autores trazem a problemática do aborto somente com a conotação criminosa, não trabalham exatamente o que é e os
tipos de abortamento que podem acontecer, como
por exemplo o aborto natural.
O L2 trabalha no capítulo 16 especificamente
com os métodos contraceptivos e descreve que,
O nascimento de um filho traz muitas responsabilidades, para as quais o casal nem sempre está
preparado. Isso é comum principalmente entre os
adolescentes, que devem se lembrar que a gravidez e
os cuidados com o bebê vão ocupar parte do tempo
que eles poderiam dedicar aos estudos ou ao início da
carreira profissional (Gewandsznajder, 2015 p. 213)
.
Estudos mostram que desde a década de 1970
a gravidez na adolescência apresenta-se como um
problema de saúde pública devido às complicações
obstétricas que repercutem na vida da adolescente
e do recém nato, que são de ordem psicológica,
social e econômica (Pariz, Mengrada, Frizo, 2012).
A maternidade na adolescência traz consigo repercussões no campo social, psíquico e econômico. O
social tem relação com o abandono dos estudos,
as consequências psíquicas têm ligação com o não
preparo emocional para assumir uma gestação e,
no campo econômico reflete-se no aumento das
despesas mensais da família que por vezes assume
a criança e a adolescente (Santos, Nogueira, 2009).
Ao contextualizar a história da gravidez na adolescência, tem-se que a mesma é retratada desde o
início das civilizações. As meninas iniciavam a vida
sexual concomitante a puberdade e pouquíssimas
atravessavam a segunda década de vida em razão
das complicações do ciclo gravídico puerperal. Na
idade média esse hábito persistiu, tendo em vista
que aos primeiros sinais da menarca as meninas
eram obrigadas a casar com homens com idade em
torno de 30 anos (Santos, Nogueira, 2009).
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Devido a industrialização, as mulheres passaram
a ser inseridas no mercado de trabalho e começaram
a exercer funções que antes eram desempenhadas apenas pelos homens, porém as políticas de
emprego não asseguravam condições para dividir
reponsabilidades profissionais e pessoais, como no
caso da maternidade. Um marco importante para
a mudança de cenário foi o surgimento da pílula
anticoncepcional após a segunda guerra mundial
(Santos, Nogueira, 2009).
Atualmente os adolescentes dispõe de métodos
anticoncepcionais pelo Sistema Único de Saúde
(SUS) e de informações, mas a cultura, a busca pela
independência, dentre outros fatores tem contribuído para que os índices de gravidez na adolescência
permaneçam em evidência (Brasil, 2008). Fonseca,
Melchiori (2010) buscaram identificar os motivos
para a ocorrência da gravidez na adolescência. Identificaram as seguintes categorias,
1) Queria ter filho; 2) Não se preveniu, que abrange
seis subcategorias explicativas: 2a) Porque o companheiro não quis usar camisinha; 2b) Porque pensava
que não ia ocorrer a gravidez; 2c) Porque o parceiro
desejava a gravidez; 2d) Por falta de preservativo na
hora; 2e) Por falta de orientação materna; 2f) Para
manter o relacionamento com o namorado; e 3) Erro
na utilização do método contraceptivo (Fonseca, Melchiori, 2010 pp. 138-139).
Em um outro estudo, realizado em Ribeirão Preto, de caráter transversal, foram entrevistadas 200
adolescentes grávidas com idade gestacional a partir de 36ª semanas e puérperas. Os dados identificaram que a gestação foi planejada por 25% das
entrevistadas. Aproximadamente 1/3 usava algum
método contraceptivo quando engravidou, apesar de algumas referirem não fazer o uso regular/
adequado. Dentre essas, 70,3% usavam métodos
anticoncepcionais hormonais; 28,4%, utilizavam o
preservativo masculino; e 1,4%, faziam uso desses
dois métodos combinados. A pílula do dia seguinte
era conhecida por 67,5% das jovens e foi utilizada
por 33,5% destas (Vieira et al. 2017).
Pode-se assim concluir que a gravidez na adolescência é resultante de multifatores, tendo em
vista que a iniciação sexual, por vezes, acontece
sem prevenção contra a gravidez ou IST. Ambas as
obras, L1 e L2 relacionam o uso de contraceptivo
para a prevenção da gravidez, no entanto, enfatizam
ao abordar as IST’s. É importante salientar que nas
duas obras não é comentado sobre a possibilidade
de gravidez anterior a menstruação. É sabido que a
ovulação acontece anterior a menstruação, sendo
assim a estudante corre o risco de engravidar por
não ter menstruado, porém ovulado (Montenegro,
Rezende Filho, 2017). Diante disso, existe a necessidade de oferecer educação em saúde considerando
as crenças sobre maternidade, a compreensão dos
projetos e dos valores de vida dos jovens e suas
condições emocionais e sociais.
Em consonância com essa ideia a pesquisa realizada por Lima Soares et al. (2018), a qual analisou livros de Ciências Naturais de uma escola da
periferia de um município gaúcho, aponta que os
livros “[...] trazem em seus capítulos espaços para
discussões sobre o corpo biossocial, de maneira bem
elaborada, contemplando diferentes visões, como a
sexualidade além da reprodução humana” (p. 56),
como é o caso da diversidade sexual. Salienta-se
que L1 aborda essa temática em ilustração e texto
(2015 p. 247), quando descreve ser rotina aprender
sobre heteronormalidade, e que nesse cenário não
é considerada a atração homossexual e bissexual,
e que a homofobia é considerada crime.
É fato que, “[...] o grande desafio da educação
sexual é contribuir para que os jovens exponham
suas dúvidas e as esclareçam, superem preconceitos e estereótipos e desenvolvam atitudes saudáveis
relacionadas à sexualidade” (Gonçalves, Faleiro,
Malafaia, 2013 p. 252). Assim, tanto L1 quanto L2
abordam o tema sexualidade na adolescência, cada
qual com sua especificidade como apontado nesta
seção. É importante que o professor além do uso do
livro problematize essa temática em sala de aula,
considerando os distintos públicos de cada escola,
para que a sexualidade não seja percebida pelo escolar apenas centrada no órgão genital, mas como
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toda forma de manifestação comportamental sob o
enfoque sociocultural.
Na categoria infecções sexualmente transmissíveis, vale lembrar que nesta pesquisa a IST é distinta de sexualidade por sua conotação patológica,
ambos os livros trabalham com a nomenclatura,
Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), porém
essa nomenclatura está superada tendo em vista que
a Organização Mundial da Saúde já não a utiliza
e no Brasil passou a ser adotada após publicação
de Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para
Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis (Brasil, 2015). Ressalta-se
que, devido a aquisição das obras ser para o triênio
2017/2018/2019, os alunos que tiverem contato
com as mesmas farão a leitura da nomenclatura
antiga, cabendo ao professor de Ciências repassar
a atualização.
O assunto IST é trabalhado ao final do capítulo
de reprodução humana de L1, no qual a autora
explana brevemente sobre: Aids, Herpes genital e
Condiloma acuminado – causadas por vírus; Sífilis,
Gonorreia, Cancro mole e Linfogranuloma venéreo
– veiculadas por bactérias; Tricomoníase – transmitida por protozoário; Candidíase – causada por
fungo; e Pediculose ou “chato” – por inseto (piolho pubiano) (Lopes, 2015). De maneira geral, são
abordados os principais sinais e sintomas de cada
infecção e o agente causador. A autora enfatiza a
importância de procurar um médico diante de alterações no sistema genital e destaca que o uso do
preservativo/ “camisinha”, tanto o masculino quanto
o feminino, é o método mais eficaz para prevenção
de tais patologias.
O L2 reserva o capítulo 17 para o referir-se às
IST’s. O autor discorre sobre a Gonorreia, a Sífilis,
a Herpes genital, infecção por Clamídia, Condiloma acuminado, Candidíase, Hepatite B, Aids e
Tricomoníase. Da mesma forma que a autora do
L1, o mesmo discorre sobre os principais sinais
e sintomas e o agente causador. O autor de L2
destaca ainda que a prevenção é chave para uma
relação sexual prazerosa e sem o risco de contaminação pelas IST’s.
Beserra et al. (2008) destacam que a estratégia básica para prevenção das IST’s diz respeito
ao acesso a informação. Dessa forma, a mudança
de hábitos de risco, como por exemplo a adesão
correta ao uso do preservativo, consolida-se como
estratégia eficaz para prevenção da disseminação
das IST’s. O contágio destas infecções é um grave
problema de saúde pública e atualmente atinge
cada vez mais a população jovem entre 15 e 21
anos de idade.
O adolescente deve ser orientado desde cedo
sobre a sexualidade e suas repercussões, como a
prevenção das IST’s. (Holanda et al. 2006; Beserra
et al. 2008). “Muitas vezes, esses adolescentes não
têm nenhum diálogo em casa sobre sexualidade,
nem mesmo na escola, tornando-se um repasse,
ou seja, a família joga para a escola a responsabilidade” (Beserra et al. 2008 p. 32) e a escola joga
para a família, ficando o adolescente à mercê de
informações de fontes não confiáveis para sanar
seus questionamentos. Por isso, tornar-se essencial
o conteúdo referente a IST trazido por ambos autores nas duas obras. Talvez as aulas da disciplina de
Ciências seja o único momento que o adolescente
terá informações adequadas sobre essa temática,
a qual pode preservá-lo para um futuro saudável.
Nota-se que a adolescência é um período da vida
crítico, no qual a escola é um espaço privilegiado
para o fornecimento de informações, a fim de que
o indivíduo possa ter uma prática sexual segura.
Quanto a categoria higiene, apenas o L2 trabalha
especificamente com tal temática. Contextualizando
a puberdade masculina e feminina e o aumento da
produção e liberação hormonal, abordando alguns
cuidados importantes sobre a higiene corporal para
prevenção de agravos relacionados à saúde, bem
como para manutenção do autocuidado. Conforme
segue,
“Durante a menstruação, é importante cuidar
bem da higiene pessoal, usando absorventes higiênicos e trocando-os várias vezes ao dia, conforme
intensidade do ciclo menstrual. Todas as atividades
habituais do dia a dia podem prosseguir normalmente” (Gewandsznajder, 2015 p. 228).
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Todo homem nasce com uma pele que cobre a
ponta do pênis: é o prepúcio. Ao se lavar, o garoto
deve puxar para trás a pele que cobre a ponta do pênis,
do prepúcio, para evitar acumulo de secreções e bactérias, que podem causar inflamação. Se o prepúcio
for muito apertado e não for possível puxa-lo, deve-se
conversar com o médico. Às vezes é necessário fazer
uma circuncisão – uma cirurgia simples que retira o
prepúcio. Em algumas culturas, essa cirurgia faz parte
da tradição religiosa e é feita, em geral, alguns dias
após o nascimento.
A maior atividade das glândulas sebáceas pode
provocar o aparecimento de espinhas. Nesse caso,
deve-se manter a pele limpa para evitar infecções e
lembrar-se também de manter uma boa higienização
pessoal, já que o suor tende a aumentar. Não se deve
espremer espinhas e cravos para não espalhar a infecção pela pele. Com o tempo, as espinhas desaparecem. Mas, se piorarem muito, pode ser necessário
consultar um dermatologista.
A grande produção de hormônios estimula as glândulas sebáceas, tornando a pele e os cabelos mais
oleosos. As glândulas sudoríparas também passam a
produzir mais suor, que muda de cheiro (Gewandsznajder, 2015 p. 229).
No dia a dia alguns hábitos são realizados mecanicamente, sem a atenção a sua execução. “Práticas como lavar o rosto, escovar os dentes, tomar
banho, usar o vaso sanitário, dar descarga e olhar-se
no espelho” (Silva, Justus, 2013 p. 4). O cuidado
com a higiene corporal é ensinado desde a infância e na adolescência a ajuda e supervisão de um
adulto é interessante, pois essa fase é caraterizada
por novos odores provindos da produção hormonal
relacionada a maturidade sexual. No entanto, no
adolescer, marcado por traços de independência
e responsabilidades, a higiene corporal é relegada
ao próprio indivíduo (Brasil, 2008). O adolescente
tende a ficar perdido devido às mudanças corporais
por vezes bruscas e tem dificuldades em adquirir
competências e habilidades para cuidar de si, esse
é um dos motivos que corrobora para a ocorrência
de alguns hábitos de higiene não adequados.
Uma característica comum a ambos os sexos diz
respeito à produção excessiva das glândulas sebáceas que produzem acúmulo de sebo, desencadeando
um processo inflamatório denominado de acne,
que popularmente conhecemos como espinhas.
Essa ativação hormonal também estimula a produção e ativação de glândulas sudoríparas produzirão
grande quantidade de suor levando a transpiração
corporal principalmente nas axilas e pés que, se
não cuidados e tratados adequadamente, exalarão
odores desagradáveis característicos, popularmente
conhecidos como cheiro de “sovaco” e o “chulé”.
Algumas práticas religiosas da antiguidade possuem relação com os hábitos higiênicos e de saúde.
A circuncisão seria um desses exemplos, surgida
na África há mais de 5 mil anos e que até hoje é
praticada pelos Judeus e Mulçumanos. Nota-se, porém, que “Hoje em dia, povos que não praticam a
circuncisão não são julgados menos higiênicos por
isso. Assim, o conceito de higiene vem mudando
ao longo da história da humanidade” (Faria, Monlevade, 2008 p. 14).
Falar de higiene é complexo, pois cada sociedade e cada povo tem seus costumes, porém trata-se
de um dos hábitos fundamentais para prevenção de
muitas doenças. O autor do L2, ao trabalhar tal temática, considerou que o adolescente com todo seu
arcabouço de mudanças psicobiológicas necessita
entender, que os hormônios desencadeiam alterações
fisiológicas a ponto de produzir odores desagradáveis
no corpo, que podem ser prevenidos e amenizados
quando utilizados hábitos de higiene adequados.
Cabe aqui destacar a dificuldade para escrever sobre
tal temática, tendo em vista as poucas publicações
que discutem sobre a higiene na adolescência.
3. Conclusão
A adolescência tem sido um período de vida secundarizado pela sociedade, e a família tem encontrado
dificuldade para lidar com esse momento. Nesse
sentido, entende-se que a escola é um espaço privilegiado para inserir práticas educativas que considerem o adolescente.
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Assim, um livro que contemple situações vivenciadas na adolescência torna-se recurso de apoio
para a condução das aulas e consequentemente para
o processo ensino aprendizagem. Neste contexto,
ambas as obras trouxeram elementos importantes
sobre a adolescência e sexualidade, os quais devem
ser oportunizados nas aulas de Ciências.
Pode-se constatar que ora os conceitos são explorados a partir de uma contextualização ampla,
inserindo sensivelmente o adolescente em uma determinada comunidade, grupo, momento, localização, ou seja, proporcionando uma tentativa de
aproximação do leitor com a obra. Enquanto que
em outros momentos os autores, apesar de explorarem o tema adolescência, trabalham de forma
restrita/unilateral sem a preocupação de inserirem
o adolescente em um cotidiano real.
A adolescência, por apresentar caráter fisiológico
único para o despontar da sexualidade, configura-se
como uma temática de grande urgência e relevância
em ser trabalhada nas escolas. Tendo em vista que
a literatura especializada da área destaca que os
adolescentes por vezes não tem diálogo com sua
família sobre sexualidade e, na escola tal temática
pode também estar ausente possibilitando ao jovem
buscar em fontes não confiáveis sanar dúvidas.
Nesta perspectiva, ambas as obras tem suas fragilidades demonstrando que um livro didático não
pode ser o único recurso de ensino e o professor,
neste caso de Ciências, deve complementá-lo. No
entanto, a abordagem não deve ser somente técnica, mas essencialmente dialógica para que as situações social, histórica, cultural e econômica sejam
contempladas a fim de aproximar o estudante do
tema. Todavia, cabe aqui destacar que não é apenas
função do professor de Ciências abordar os temas
inerentes a educação sexual, todos os docentes independentemente da disciplina devem incorporar
e explorar tal temática.
Espera-se que esta pesquisa proporcione a reflexão do professor, especialmente na disciplina
de Ciências, o qual assume a responsabilidade de
trabalhar conteúdos pertinentes ao viver saudável.
E neste caso a adolescência e suas repercussões,
temática delicada e essencial para a constituição
do jovem adulto, ou seja, o conhecimento adquirido nesta temática ultrapassa a constituição de
conteúdos que formam o cidadão, essa temática é
intrínseca a formação do ser.
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