análise de disCurso CrítiCa: exerCíCios analítiCos
AVALiAÇÃO
Érica Alves do Nascimento
Francisco Djefrey Simplício Pereira
Wes Viana
iNTRODUÇÃO
As práticas sociais são constituídas pelo discurso, enquanto linguagem, e por outros elementos sociais, como crenças, histórias e mundo
material (FAiRCLOUGH, 2003). Esse momento discursivo das práticas
sociais compõe o objeto principal da Análise de Discurso Crítica (doravante, ADC). De forma geral, as ciências sociais, a partir de Foucault
(2008, p. 136), entendem o discurso como um “conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas no tempo-espaço, que definiram,
em uma dada época, e para uma área social, econômica, geográfica ou
linguística, as condições de exercício da função enunciativa”. Assim,
considerando essa característica de anonimato dos poderes que emergem
do momento discursivo, nós, pesquisadores e pesquisadoras em ADC,
utilizamos categorias de análise para desvelar relações de dominação,
ideologias e hegemonias presentes na linguagem, com o intuito de observar/investigar mudanças sociais em curso e de denunciar assimetrias
naturalizadas em sociedade (FAiRCLOUGH, 2003; THOMPSON, 2011).
A Avaliação é uma categoria textual que analisa de que maneira os
textos podem ser atravessados por juízos de valor explícitos ou implícitos, contidos em diversos discursos. Nesta pesquisa, apresentamos a
Avaliação com base nas leituras que Fairclough (2003) fez de Martin e
353
análise de disCurso CrítiCa: exerCíCios analítiCos
White (2000) e de outros autores/as e, em seguida, utilizamos essa categoria como uma lupa, para analisar a leitura do discurso policial sobre
a Chacina do Jacarezinho, lançando a hipótese de que a construção do
discurso oficial sobre o caso pode estar colaborando para a hegemonia
racista e para a criminalização da pobreza no Rio de Janeiro.
A Operação Exceptis, que provocou a chacina, administrou 21
mandados prescritos sob a justificativa de Associação para a Produção
e Tráfico e Condutas Afins (MOLiCA, 2021), mascarada, pela versão
oficial da polícia, como busca por aliciamento de crianças e adolescentes pelo tráfico local (CESAR SALES, 2021). Entretanto, apesar de no
Brasil não haver diretriz específica que detalhe em que proporção o uso
da força policial deve ser usada, havendo apenas leis que legitimam o
uso genérico dessa força1, podemos nos adiantar, em uma estratégia de
“como deveriam ser” as coisas (FAiRCLOUGH, 2003), e sustentar, como
veremos com a análise, que a operação usou de força desproporcional
e tornou-se uma verdadeira sentença de morte orquestrada pelo Estado.
Dessa forma, por ocasião da repercussão negativa da ação policial nas
redes sociais e em importantes veículos de comunicação, como El país,
UOL e G1, selecionamos a entrevista coletiva dada pela Polícia Civil
(COLETiVA, 2021), no dia 06 de maio de 2021, como corpus para
aplicação da categoria estudada, uma vez que esse material compõe a
narrativa abraçada por quem provocou o evento. Esse corpus foi ainda
expandido, de modo a agregar matérias e falas que refletem e refratam
o discurso policial sobre o caso.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRiCA
Diante de tal problema social, provocado pela violência policial,
recorremos à vertente de ADC faircloughiana, dialético-relacional,
que acolhe uma pesquisa textualmente orientada e essencialmente política. Sua/seu teoria/método busca mapear as conexões entre os usos
da linguagem e as relações de poder na sociedade, a fim de mudá-la
(RESENDE; RAMALHO, 2006). Para isso, Norman Fairclough utiliza1
354
Ver artigos 23, 24 e 25 do Código Penal.
análise de disCurso CrítiCa: exerCíCios analítiCos
se, expressivamente, da Linguística Sistêmico-Funcional (doravante,
LSF), que aborda a linguagem como um elemento social, considerando as estruturas linguísticas como modos de agir sobre e no mundo
(HALLiDAY, 1994).
Dessa forma, Fairclough (2003) reelabora as três macrofunções
da LSF – ideacional, interpessoal e textual2 – e conclui, de outra forma,
que o significado representacional corresponde à função ideacional; o
significado acional, por sua vez, corresponde à função interpessoal, com
ênfase no texto como modo de interação em eventos sociais, assim, incorporando a macrofunção textual de Halliday; e finalmente o significado
identificacional está inserido na função interpessoal (FAiRCLOUGH,
2003). Contudo, propomos, neste capítulo, uma análise que busca resolver, em especial, questões do “nível micro”, relevantes à análise de textos
reais, isto é, interrogamos como a chacina do Jacarezinho foi construída
discursivamente, através da categoria textual de Avaliação, tendo como
objeto a entrevista concedida pela polícia civil do Rio de Janeiro. Apesar
de não nos preocuparmos em delimitar fronteiras entre os significados,
na análise em si, incorporamos, nesse percurso, a dialética do discurso,
enquanto elemento da prática social, e nos concentramos nos processos,
fluxos e relações mais relevantes entre outros momentos da prática social,
para a análise da categoria textual.
Avaliação é uma categoria textual que analisa como os textos podem
ser atravessados por valores explícitos ou implícitos. Para a detecção
dos valores explícitos, existem as declarações com juízo de valor, com
modalidades deônticas e com verbos de processos mentais afetivos. Para
os implícitos, as pressuposições de valor. Ademais, estudar o objeto de
análise, usando-nos dessa ferramenta analítica, pode elucidar ainda embates na pesquisa social, de modo a desvelar relações assimétricas de poder,
que fortalecem tipos de papéis dominantes na sociedade contemporânea
(FAiRCLOUGH, 2003).
2
Ou seja, os textos, a um só tempo, representam aspectos dos mundos físico, social e mental;
interpretam relações sociais entre participantes de eventos sociais, em forma de atitudes, desejos
e valores; e fazem isso de modo coerente e coeso, conectando as partes do texto e ligando-o
ao contexto situacional (HALLiDAY, 1994).
355
análise de disCurso CrítiCa: exerCíCios analítiCos
De modo geral, qualquer interpretação de texto3 julga e avalia os
enunciados como, por exemplo, sinceros ou não, formais ou não; avalia
os propósitos e as intenções das pessoas, de maneira latente ou não, se
essas intenções são honestas ou não; julga se o que está sendo exposto
é ou não razoável, comparando experiências de mundo suas com as de
outrem, em uma rede dialógica infinita. A partir disso, a Avaliação pode
perpassar os três tipos de significados propostos por Fairclough (2003),
ou seja, pode figurar a partir de discursos, de gêneros e de estilos.
A distinção apresentada por Fairclough, embora necessária para a
compreensão analítica, não impede as categorias de fluírem umas nas
outras. Juntas, elas compõem a dialética do discurso4. A exemplo, o
corpo discente pode revisitar o modo característico de representação do
discurso de que ser avaliado, pelo corpo docente, constitui uma atividade
indispensável. Ou, por outro lado, na instância de produção do significado
acional, o gênero entrevista de emprego pode determinar avaliações e
julgamentos dos concorrentes. Contudo, apesar dos significados representacional, acional e identificacional atuarem dialeticamente, Fairclough
(2003) prefere vincular a Avaliação, especificamente, a quatro modos
de as pessoas identificarem a si mesmas e a outras, no seio dos estilos,
que são: declarações com juízo de valor, declarações com modalidade
deôntica, declarações com processos mentais afetivos e valores pressupostos, as quais detalhamos a seguir. Embora o autor faça essa distinção,
usaremos, neste trabalho, essa subcategorização da Avaliação para além
do significado identificacional, podendo a leitora ou o leitor encontrar, a
um só tempo, a categoria operando como formas de ser, agir e representar.
A primeira subcategoria é composta pelas declarações com juízo de
valor. Essas declarações exprimem o que se deseja ou não, o que é bom e
o que é ruim, a partir de uma escala de intensidade formada pela oposição
3
4
356
Texto aqui entendido como evento comunicativo/interativo, de natureza semiótica (BEAUGRANDE; DRESSLER, 1997).
Em Fairclough (2003), a dialética do discurso, enquanto elemento da prática social, funciona
a partir da relação entre três categorias: 1) significados representacionais; 2) significados
acionais; e 3) significados identificacionais. Nesse sentido, podemos dizer que os discursos
(significados representacionais) são interpretados em gêneros (significados acionais) e apontados a partir de estilos (significados identificacionais).
análise de disCurso CrítiCa: exerCíCios analítiCos
contínua de valores, desde os menos intensos aos mais intensos5. Em
Analysing Discourse, Fairclough (2003) lista algumas categorias modais
pelas quais é possível identificar avaliações em enunciados. São elas:
adjetivos, sinais de exclamação, verbos e advérbios. Fairclough acrescenta
ainda que os juízos de valor também estão relacionados à importância
que se dá a algo ou a sua utilidade no mundo. “Assim quando se fala que
um livro é importante ou que ele não tem função, conclui-se que ele é
algo desejado ou não”6 (FAiRCLOUGH, 2003, p. 172).
A segunda subcategoria refere-se a declarações com modalidade
deôntica, isto é, declarações que utilizem estratégias retóricas com base
em valores morais para promover uma obrigatoriedade/necessidade em
sociedade. Abrange, portanto, sentidos como permissão, obrigação,
proibição, obediência etc. Os modalizadores deônticos indicam tanto
uma persuasão da parte de quem enuncia quanto um comprometimento
da parte dos interlocutores para que uma oferta/demanda seja bem executada. Dessa forma, modalidades deônticas aparecem em enunciados
como “A sociedade precisa entender que a gente precisa acabar com
esse discurso quase que de pobre coitado e de vitimização do criminoso”
(grifos nossos)7.
A terceira subcategoria diz respeito a declarações com processos
mentais afetivos, ou seja, declarações que indiquem um nível de afinidade
com o outro. Conforme explicam Resende e Ramalho (2006, p. 79-80),
“as avaliações são ‘afetivas’, porque são geralmente marcadas subjetivamente, ou seja, marcam explicitamente a afirmação como sendo do
autor, em estruturas como ‘eu detesto isso’, ‘eu gosto disso’, ‘eu adoro
5
6
7
Em Manual de Semântica, Cançado (2008) aponta a existência de pelo menos três conceitos
para propor uma definição sobre antonímia, dos quais nos interessa o conceito de antonímia
gradativa. Para a pesquisadora, “duas palavras são antônimas gradativas, quando estas estão
nos terminais opostos de uma escala contínua de valores; a negação de um termo não implica
a afirmação do outro” (CANÇADO, 2008, p. 46). Dessa forma, na oposição “entre quente e
frio, certamente, teremos uma escala, como morno etc. Entre alto e baixo, teremos o médio
etc.” (CANÇADO, 2008, p. 46, grifos da autora). Podemos acrescentar outras palavras a essa
escala, tornando-a ainda maior: fervendo-quente-morno-natural-frio-gelado-congelado-etc.
No original: “So evaluative statements such as ‘this is an important book’, ‘this is a useless
book’ imply that the book is desirable or undesirable – it is generally taken as self-evident that
what is ‘important’ or ‘useful’ is desirable”.
Fala do Secretário Rodrigo Oliveira, durante uma coletiva de imprensa, para justificar a ação
violenta da polícia na comunidade do Jacarezinho, 2021, 12min38s.
357
análise de disCurso CrítiCa: exerCíCios analítiCos
isso’.”8. Embora seus enunciados também surgiram oposições gradativas,
semelhante aos juízos de valor, as declarações com processos mentais
afetivos marcam especificamente avaliações associadas a quem enuncia,
como reflexões e percepções sobre o mundo.
A quarta subcategoria refere-se a valores pressupostos, isto é, “os
casos que não possuem marcadores de avaliação claros”9 (FAiRCLOUGH, 2003, p. 173). É preciso considerar que, além dos marcadores de
avaliação explícitos, também existem valores em um nível mais profundo
do texto, isto é, num nível extralinguístico que pode ser pressuposto a
partir da linguagem em uso. “O que está ‘dito’ em um texto sempre se
baseia em presunções ‘não ditas’, então, parte do trabalho de se analisar
textos é tentar identificar o que está presumido” (RESENDE; RAMALHO, 2006, p. 80).
Essas subcategorias servem de guia para as conexões entre as avaliações e as relações de poder provenientes da construção discursiva da
chacina do Jacarezinho, pela Polícia Civil, na coletiva. Dessa maneira,
passemos à discussão conjuntural sobre a pauta racismo institucional, por
meio, especialmente, da violência policial; para, em seguida, analisarmos, do ponto de vista das subcategorias da Avaliação, como a chacina
é construída no discurso oficial; desaguando, simultaneamente, em como
os elementos operadores da Avaliação podem funcionar como mecanismos para controle e dominação de relações assimétricas, na entrevista
da Polícia Civil do Rio de Janeiro.
A violência policial não acontece por acaso – muito menos por via
de uma operação pontualmente mal executada –, mas sim como efeito
relacionado a fatores avaliativos. Como mostra Legewie (2016), as forças
policiais corporificam emocionalmente, de modos distintos, maneiras de
agir, a depender da região urbana em que ocorre a atuação. Dessa forma,
8
9
358
Nesta pesquisa não estamos prevendo os sentidos, posto que as expressões não carregam
valores positivos ou negativos em si e o desejo pode ser subvertido, interrompido, ironizado
etc. Contudo, pensamos em uma previsibilidade de intenções/motivações valorativas emergentes, dentro da cultura jornalística em que a entrevista está inserida (SiLVA; FERREiRA;
ALENCAR, 2014).
No original: “i am reserving the category of ‘assumed values’ for cases without the relatively
transparent markers of evaluation (evaluative statements, deontic modalities, affective mental
process verbs.)”.
análise de disCurso CrítiCa: exerCíCios analítiCos
o abismo entre parcelas da população se dá, entre tantos motivos, por
fatores identificacionais da polícia, como tentaremos mostrar adiante.
A Operação Exceptis regeu 21 mandados sob a justificativa de
“busca por aliciamento de crianças e adolescentes pelo tráfico” na comunidade. Segundo matéria da CNN (MOLiCA, 2021), apenas quatro indivíduos estavam incluídos na lista dos procurados e doze – neste número
inseridos adolescentes – traziam antecedentes vinculados ao tráfico de
drogas. Portanto, a princípio, os mandados não justificam o armamento
manifesto e a invasão de casas, o que causa pânico nos/as moradores/as,
conforme relatos (MOLiCA, 2021). Arquitetada por 10 meses e integrada
por 200 agentes, a operação executou as vítimas sem confronto, o que
impossibilita o argumento de que os assassinatos foram provocados por
algo que não saiu como o planejado no decorrer das atividades.
Contudo, a segunda maior chacina do Rio de Janeiro não foi apenas mais um episódio da violência histórica contra vidas precarizadas
histórico-socialmente. Para além disso, devemos lançar luz especificamente sobre a construção do fato político, que pode ser observado
na propensão latente do delegado entrevistado, ligado à operação, em
coletiva de imprensa sobre o fato, após grande repercussão negativa nas
redes sociais, quando justificou a violência policial e criticou o “ativismo
judicial”, ou seja, a atuação de ativistas e de ONGs associadas aos Direitos
Humanos e a ideias de grupos ditos ideológicos sobre a criminalidade
(COLETiVA, 2021).
Para entendermos esse complexo movimento antagônico, em que
Direitos Humanos e polícia estão em lados opostos, precisamos sistematizar, ao redor do evento, os principais fenômenos sociais do Brasil recente.
Nessa conjuntura, o conservadorismo se vê cismado frente aos resultados
do “negacionismo” científico, da CPi da Covid-19 e do ressurgimento
do líder do maior partido de esquerda da América Latina, Lula da Silva.
Consequentemente, para a direita, reativar os discursos que elegeram
359
análise de disCurso CrítiCa: exerCíCios analítiCos
Bolsonaro, como os da “autodefesa armada, do ódio de classe e, por
conseguinte, da desqualificação das pessoas e entidades que defendem
os Direitos Humanos” (SOUTO MAiOR, 2021), parece conveniente.
Para seguirmos esses retalhos de interesses, que usam um evento
local para proclamar períodos de aumento da discriminação, como reforço
da agenda conservadora política (LEGEWiE, 2016), temos que ir além
das suspeitas ligadas às estruturas do governo com a milícia do Rio de
Janeiro (OLiVEiRA, 2019). Dessa forma, podemos mapear as conexões
entre relações de poder e recursos linguísticos, aqui de forma ampla,
em que a operação surge como uma reação política inconstitucional de
dominação discursiva, que, por sua vez, articula-se a outras dominações,
especialmente, nesse caso, à físico-militar.
A exemplo disso, Bolsonaro diz que matar e destruir famílias é próprio dos chamados “traficantes”, e a Polícia Civil do Rio de Janeiro estaria
protegendo o que ele chama de “o povo”10. Ainda segundo o presidente,
este em tom de reprovação, a mídia e a esquerda, antes do veredicto,
costumam julgar esse chamado traficante como um cidadão “comum
e honesto, que respeita as leis e o próximo”. Ou seja, essa resposta se
baseia em estereótipos e preconceitos que veem, de antemão, moradores
de comunidades, como a de Jacarezinho, como criminosos violentos.
Dessa forma, chegamos à conclusão de que as notícias sobre violência policial, com um suposto criminoso negro e pobre, não apenas
aumentam atitudes negativas sobre negros e pobres (LEGEWiE, 2016),
mas também fortalecem o fechamento social pelo conservadorismo.
Há, portanto, uma relação entre as “operações policiais” e o aumento da
popularidade dos políticos de extrema direita. Não por acaso, até o dia
anterior à operação, apenas 12% das menções sobre o governador do
Rio de Janeiro eram tidas como positivas. Na data da matança, o número
aumentou para 41%, na proporção em que as menções negativas passaram
de 50% para 41%. As indecisões caíram de 38% para 18%. importante
mencionar, neste ponto, que Jair Bolsonaro e Cláudio Castro, um dia antes
do morticínio, reuniram-se presencialmente (SOUTO MAiOR, 2021).
10
360
Ver: https://noticias.r7.com/brasil/bolsonaro-parabeniza-policia-apos-operacao-no-jacarezinho-10052021. Acesso em: 21 ago. 2021.
análise de disCurso CrítiCa: exerCíCios analítiCos
A partir dessa análise conjuntural, tomamos o discurso policial,
manifestado na entrevista, para compreendermos como se concebe a categoria de Avaliação na construção discursiva da chacina do Jacarezinho.
ANÁLiSE DE DADOS
Como pesquisa transdisciplinar (FAiRCLOUGH, 2013), consideramos que o corpus indica quais categorias e subcategorias são
necessárias para sua análise. Dessa forma, o trabalho a seguir se dá a
partir das quatro subcategorias da Avaliação: declarações com juízo de
valor, declarações com modalidade deôntica, processos mentais afetivos
e valores pressupostos, já que encontramos, no levantamento prévio
dos dados, materialidade discursiva de que elas poderiam estar sendo
utilizadas como estratégias para a legitimação do discurso dos policiais
envolvidos no evento que, em vista do nosso comedimento ético-político,
temos reconhecido como chacina.
O desejo é textualmente materializado em declarações com juízo
de valor. Tais declarações marcam a importância que se dá a algo a
partir da intensidade com que é representado textualmente, o que pode
ser evidenciado a partir de adjetivos, verbos, advérbios e exclamações
selecionados para o discurso, assim, as declarações feitas na entrevista
coletiva pela Polícia Civil do Rio de Janeiro podem ser avaliadas para a
compreensão da construção discursiva da Chacina do Jacarezinho. Para
isso, tomaremos alguns trechos como exemplificação.
No primeiro trecho selecionado para análise, o delegado afirma:
“Não sei se as grandes operações dão resultado. O que eu sei é que a
falta de operação dá um péssimo resultado – disse um dos delegados
da PF entrevistado” (G1, 2021). O delegado utiliza o advérbio (não) e
o verbo (sei) – não sei – mostrando um desconhecimento sobre dados
de operações de grande porte realizadas pela polícia, além de classificar
essas operações utilizando o adjetivo grandes, o que coloca a Operação
Exceptis em lugar de antítese, logo, como operação de pequeno porte, o
que é contraditório, já que ocorreu em caráter de urgência e de exceção,
361
análise de disCurso CrítiCa: exerCíCios analítiCos
indo de encontro ao que foi determinado pelo STF (a suspensão de operações nas comunidades do RJ). Além disso, por não ser uma operação de
grande porte, o número de mortos se mostra ainda mais desproporcional.
O adjetivo péssimo foi usado para caracterizar o resultado de operações
que não chegam a ser realizadas, justificando a necessidade da realização da ação do Jacarezinho, mesmo não atingindo o resultado esperado.
Em outro trecho da entrevista, o delegado Oliveira, que é subsecretário operacional da Polícia Civil, criticou o que chamou de “ativismo
judicial” afirmando: “Pseudo entendidos de segurança pública criaram
uma lógica de que, quanto mais inteligência, menor o confronto. isso não
funciona assim” (07min01s). Há uma evidente deslegitimação dos estudiosos e dos dados de segurança pública ao utilizar o prefixo pseudo como
adjetivo, contrapondo-se ainda à ideia de que é necessário o investimento
em inteligência policial, uma vez que está em oposição ao pensamento
desses estudiosos ao utilizar o advérbio não e o verbo funciona, o que
deixa evidente que seu posicionamento é contrário e que apresenta uma
lógica com advérbios que são antônimos aos utilizados no discurso do
outro (pseudo entendidos de segurança pública) que o delegado apresenta, ou seja, ele não considera que mais inteligência é necessária para
conseguir menor confronto, ou ainda, que não foi a falta de inteligência
policial que culminou no resultado da ação, o que é confirmado em outro
trecho em que Oliveira afirma: “A operação foi muito planejada, com
todos os protocolos e em cima de 10 meses de investigação” (19min49s).
A junção do advérbio muito ao adjetivo planejada mostra a intensidade
desse planejamento, o que é ainda mais destacado com a presença da
locução adverbial em cima de 10 meses de investigação, que destaca esse
tempo como um longo período de preparação. Logo, é possível comprovar que o delegado considera que uma operação, mesmo planejada, não
evita confrontos, ou seja, a operação em questão, segundo a polícia, teria
sido bem planejada e os confrontos foram inevitáveis e não foram fruto
de falta de inteligência ou de planejamento, mas da natureza mesma da
ação. Assim, evidencia um esforço retórico de naturalização da violência
e termina por pretender justificá-la, buscando descaracterizar a ação como
sendo uma chacina e colocando-a como inevitável.
362
análise de disCurso CrítiCa: exerCíCios analítiCos
A palavra deontologia vem do grego, deon (dever, obrigação) e logos
(ciência), ou seja, deontologia é o estudo de valores normativos. Conforme
sinalizam Fuzer e Cabral (2014, p. 115), “também chamada de ‘modalidade deôntica’, a modulação ocorre em propostas (ofertas e comandos)”,
reunindo num mesmo campo semântico significados como permissão,
obrigação, proibição, necessidade, obediência etc. As declarações com modalidade deôntica expressam valores normativos desejáveis e indesejáveis,
segundo o que os interessados em administrar e regular a conduta de um
povo procuram estruturar e formalizar em sociedade. Nesse sentido, essa
conduta é tradicionalmente estudada e executada a partir de demandas, por
exemplo, quando leis são regulamentadas para impor uma conduta social11.
Durante a coletiva de imprensa sobre a chacina no Jacarezinho,
havia cinco entrevistados da Polícia Civil do Rio de Janeiro. Declarações
com modalidade deôntica foram identificadas no discurso do Secretário Rodrigo Oliveira, o homem sentado ao centro da mesa, também o
primeiro a falar. O objetivo de sua fala é explicar a ideia da Operação
Exceptis. De início, o secretário destaca que, diante da emissão de vinte
e um mandados de prisão, a Polícia dirigiu-se ao Jacarezinho:
E na data de hoje a gente deflagrou essa operação que teve
início na parte da manhã, como determina a lei, e deixando
muito claro para todos os senhores que todos os protocolos
exigidos na decisão pelo STF foram cumpridos, sem exceção,
todos os protocolos foram cumpridos (COLETiVA, 2021,
02min37s, grifos nossos).
O secretário Rodrigo Oliveira atribui um valor desejável à ação da
polícia, sinalizando que os policiais agiram de acordo com a Lei. O uso de
verbos, como em “como determina a lei”, e de sintagmas nominais, como
em “todos os protocolos exigidos”, sugerem que, dentro das formalidades
11
Para além da demanda das leis, uma conduta social também pode ser incentivada por ações
no mundo. Quando Jair Bolsonaro utilizou o Twitter para parabenizar a Polícia Civil do Rio
de Janeiro, enquanto chamava os mortos do Jacarezinho de “traficantes que roubam, matam
e destroem famílias”, seu discurso hegemônico de alcance internacional fortaleceu um compromisso com os discursos da polícia. A naturalização desses discursos, por sua vez, perpetua
práticas de violência e de genocídio contra pessoas negras e pobres no Rio de Janeiro.
363
análise de disCurso CrítiCa: exerCíCios analítiCos
protocolares, qualquer ação da polícia poderia ser justificável. O discurso
utilizado para justificar a ação da polícia é reiterado mais adiante, quando
o secretário sinaliza que a Polícia Civil do Rio de Janeiro sempre estará
presente, dentro da legalidade, para defender uma “sociedade de bem”.
Embora a ação da polícia seja legitimada pela Lei, seu abuso de poder
não o é, e a violência policial no Jacarezinho marca um dos inúmeros
abusos de poder da polícia contra pessoas negras e pobres no Brasil.
Mais adiante, o secretário Oliveira associa o fortalecimento do tráfico a
um “ativismo judicial”12. Para ele, a existência de políticas de segurança
pública em favor das comunidades é um obstáculo para a ação da polícia.
Parte desse ativismo, que de alguma forma orienta a sociedade
numa determinada direção, ele definitivamente não está do lado
da Polícia Civil e definitivamente não está do lado da sociedade
de bem. Os interesses deles são diversos. Os interesses deles
são outros (COLETiVA, 2021, 08min16s, grifos nossos).
Utilizando adjuntos modais – definitivamente –, o secretário Oliveira anuncia uma oposição entre os interesses da polícia e os interesses
do que ele chama de “ativismo”. Nesse enunciado, o secretário também
firma uma oposição entre os interesses do “ativismo” e os interesses da
“sociedade de bem”. É uma dicotomia “nós x eles”. Assim, a Polícia Civil
do Rio de Janeiro oferta uma suposta garantia de direitos de proteção,
incitando práticas sociais de violência contra as comunidades periféricas.
Essas práticas, por sua vez, geram discursos comprometidos com políticas
de morte. Nas declarações da coletiva de imprensa, o policial firma o
compromisso da Polícia Civil do Rio de Janeiro com as determinações
da Lei e das decisões do STF, fortalecendo assim o tipo de conduta da
polícia e seus excessos como desejáveis.
12
364
Mais adiante (45min14s), a jornalista Lola Ferreira, do UOL, questiona os entrevistados a quem
se refere o “ativismo judicial”, mencionado diversas vezes pelo delegado Rodrigo Oliveira. Embora o delegado continue sem nomear a quem se refere, é importante destacar que, desde 2020,
a polícia estava impedida de realizar operações com helicópteros nas favelas do Rio de Janeiro,
devido à decisão do ministro Edson Fachin, do STF, em favor de um documento emitido pelo
PSB, contra as políticas de segurança pública do governador Wilson Witzel. De acordo com o
documento, o uso de aeronaves voando muito baixo é um dos maiores medos das pessoas que
vivem em bairros e comunidades desfavorecidas, pois os policiais utilizam essas aeronaves como
“plataformas de tiro” (Poder 360, 2021), colocando em risco a vida dessas pessoas.
análise de disCurso CrítiCa: exerCíCios analítiCos
Em contrapartida, o secretário associa a criação de políticas de segurança pública em favor das comunidades a uma conduta indesejável,
pois segundo ele essas políticas de proteção à vida fortalecem o tráfico.
Nessa dicotomia, há uma imposição de valores morais à vida das pessoas
no Jacarezinho, isto é, estar do lado “indesejável” impõe aos moradores a
condição de estarem contra a polícia, contra a sociedade e contra a lei. Nas
palavras do secretário, “É preciso dar um basta nisso tudo. A sociedade
precisa entender que a gente tem que acabar com esse discurso quase
que de pobre coitado e de vitimização do criminoso” (Secretário Rodrigo
Oliveira, aos 12min36s, grifos nossos). Se, por um lado, a chacina no
Jacarezinho é uma maneira de a polícia impor políticas de morte aos
moradores da comunidade, por outro ela evidencia qual tipo de proteção
oferece, para quem e contra quem.
O discurso da Polícia Civil do Rio de Janeiro determina a repressão
violenta como único acordo de proteção viável. A utilização de verbos
modais como “é preciso dar um basta nisso tudo”, “a sociedade precisa
entender que…”, “a gente tem que acabar com…” evidencia um alto
grau de desejo de violência por parte da polícia. Para que desejos dessa
natureza sejam executados, o secretário demanda a produção de discursos
hegemônicos que favoreçam práticas de violência contra pessoas negras e
pobres, perpetuando assim estereótipos racistas que ainda hoje promovem
a manutenção das relações de poder étnico-raciais em sociedade. A ação
da polícia no Jacarezinho é apenas uma amostra das políticas de morte
que viabilizam condutas morais na sociedade.
Avaliação é desenvolvida por Fairclough (2003) como um sistema
semântico que produz efeitos nos discursos e que, em sua realização,
diversifica-se em uma gama de estruturas. Uma terceira estrutura, depois
das declarações com juízo de valor e das declarações com modalidade
deôntica, diz respeito aos afetos. Para o autor, com base em Halliday
(1994) e Martin e White (2000), esses afetos podem ser analisados a partir
de como participantes, processos, circunstâncias e fenômenos figuram
nas experiências interpessoais. Contudo, observamos, notadamente,
neste ponto da análise, como processos mentais de apreço, que podem
se apresentar, por ocasião, como processos relacionais com atributo
365
análise de disCurso CrítiCa: exerCíCios analítiCos
afetivo (FAiRCLOUGH, 2003), contribuem para a construção discursiva
das identidades dos policiais diante da chacina no Jacarezinho. Vejamos:
Afeto como processo mental: “Pseudo entendidos de segurança
pública criaram uma lógica de que, quanto mais inteligência,
menor o confronto. isso não funciona assim”.
Afeto como processo relacional: “Quanto mais precisa [é] a
informação, maior é a resistência do tráfico”.
Para classificar as emoções das falas dos entrevistados, adotamos a
estratégia de mapear o terreno como um sistema de oposição. Assim, no
primeiro exemplo, o que o processo mental produz é uma recusa de se
criar/inventar/fantasiar estratégias teóricas, em favor de um olhar mais
funcional, contra qualquer inteligência fantasiosa. Em outras palavras,
na prática: “menos inteligência disfuncional, menor o confronto real”.
O segundo exemplo, a propósito do processo relacional (transformado
em mental afetivo, o tráfic[ante] resiste/repele/teima), reforça que, se a
informação é precisa/garantida/certeira, o tráfico resistirá mais, ou seja,
a única forma de não haver chacinas é com obtenção de informações sem
planejamento, do ponto de vista da inteligência fantasiada.
Ambos os exemplos têm em comum uma lógica pessoal “mais
esclarecida” dos acontecimentos nas comunidades. O primeiro usa
uma justificativa pessoal contra uma alternativa – encarnada como do
senso comum – que supostamente eleva a função de especialistas sobre
o aqui-agora funcional dos agentes. Reescrevendo a sua fala, ficaria:
“Eu acho que se criou uma lógica em torno dos especialistas […]”.
Contudo, este trabalho não concebe a ligação naturalizada de especialistas como antirracistas, evitando, assim, a interpretação dualista de, ao
achar problemática a negação do policial da necessidade de uma postura
especializada, ignorar toda a postura ideológica e política contingencial
desses especialistas. Por sua vez, o segundo exemplo vê a precisão da
informação por um viés pessoal, visto que, em um plano contrário, podemos asseverar: se houve confronto na comunidade, a informação não
foi tão precisa quanto deveria.
366
análise de disCurso CrítiCa: exerCíCios analítiCos
Além dos casos explícitos supracitados, existe ainda a subcategoria
de valores pressupostos, para quando não se tem marcadores muito nítidos de Avaliação. Por exemplo, certas avaliações de apreço passivas – do
tipo A operação foi muito planejada, com todos os protocolos e em cima
de 10 meses de investigação – situam-se entre polos (a polícia planejou/
pretendeu/quis a operação), mas muito do fenômeno é deixado implícito
(a polícia se recusa a dizer que está insatisfeita com a chacina). Esses casos
são normalmente difíceis de categorizar (MARTiN; WHiTE, 2000). Sobre
isso, Fairclough (2003) nos aconselha a pensar no significado como em
uma escala de intensidade, em um jogo de preenchimento das faltas, como
se mostra a seguir: A polícia obedeceu à protocolos na Operação Exceptis
(baixo comprometimento); A polícia está confiante [ao não se mostrar
envergonhada] com os resultados da operação/chacina (médio); A polícia
defende [ao dizer que foi planejada por 10 meses] o sucesso da operação/
chacina (alto). Essa linha de raciocínio propositiva implícita se constrói, por
exemplo, pelo desvio temático que a seguinte fala expõe e deixa de expor:
“a falta de operação [é que] dá um péssimo resultado” [não a chacina].
Dessa forma, os sentimentos dos policiais podem ser classificados de
um menor valor, em uma escala de intensidade, em direção a um maior
valor. Não queremos sugerir que a escala de valores é sempre indiscreta,
mas uma possibilidade para as análises desses pressupostos emocionais
é oferecer uma lexicalização que se classifique ao longo de uma escala
organizada. Em um momento, na coletiva, podemos ver:
O tráfico vai cooptando […]
Baixa: crianças, principalmente adolescentes.
Baixa (eufemizada): Aviãozinho.
Média-baixa: Responsável por uma determinada carga de
drogas.
Média-baixa: Recebe uma arma.
Mediana: “Executor”.
Mediana: Segurança do traficante.
Mediana: Responsável pela contenção.
Alta: Maioridade – gerente do tráfico de drogas.
Alta: Chefe do tráfico.
367
análise de disCurso CrítiCa: exerCíCios analítiCos
Nesse caso, os sentimentos que envolvem o pretendido da operação
não cumprem com o objetivo de reação ao aliciamento de menores, na
medida em que a criança é entendida, no final da escala, como futura
chefe do tráfico. O primeiro estímulo da operação, que seria de proteção da infância, é ignorado com base em uma predestinação onisciente,
absoluta e soberana da coesão social racista. O fio condutor pressuposto
leva as crianças das comunidades a serem vistas como ameaças, uma vez
que a cooptação do tráfico seria impossível de se prevenir.
Os exemplos que fornecemos não são de forma alguma exaustivos,
mas incluídos simplesmente para dar a essência da gama de significados
envolvidos e enfatizar o fato de que a escolha de um item lexical ou outro
sempre envolve avaliar a profundidade do sentimento. A fim de fazer
justiça a esse tipo de elaboração lexical, precisaríamos desenvolver topologias semântico-pragmáticas, por meio de uma gama maior de exemplos
e fontes. Um projeto muito além do escopo deste trabalho.
CONCLUSÃO
O objetivo principal de investigar a construção discursiva policial
sobre a chacina do Jacarezinho – projetada na entrevista coletiva cedida
pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, por meio da categoria Avaliação –
permitiu-nos arrematar que a construção do discurso oficial sobre o caso
colabora para a hegemonia racista e para a criminalização da pobreza.
Para chegarmos a essa conclusão, primeiramente, examinamos a
conjuntura sócio-histórica da construção discursiva da chacina do Jacarezinho na entrevista da Polícia Civil, identificando quais fenômenos
sociais eram mais relevantes, no momento circunvizinho à produção da
coletiva. Nesse momento, o conservadorismo em crise se mostrou mais
radical, depois da CPi da Covid-19 e do “ressurgimento de Lula”, o que
fez reacender discursos sobre armamento civil, ódio de classe e desqualificação de pessoas e entidades que defendem os Direitos Humanos. Desse
modo, o evento local da chacina foi usado para proclamar períodos de
aumento da discriminação, como reforço da agenda conservadora política.
368
análise de disCurso CrítiCa: exerCíCios analítiCos
Depois disso, analisamos, do ponto de vista do interstício entre os
três significados – identificacional, acional e representacional – como a
chacina do Jacarezinho foi construída, através do discurso oficial, a partir
das subcategorias da Avaliação, a saber: das declarações com juízo de
valor, das declarações com modalidade deôntica, das declarações com
processos mentais e dos valores pressupostos. Nesse ponto, os policiais:
justificaram a necessidade de ações como a de Jacarezinho, afirmando
que os confrontos são inevitáveis; deslegitimaram os estudiosos e os
dados oficiais de segurança pública, acarretando sobre si mesmos uma
lógica pessoal “mais esclarecida” dos acontecimentos nas comunidades;
sinalizaram que agiram de acordo com a Lei; criaram um inimigo comum,
o “ativismo judicial”; e montaram um cronograma de vida, para a criança
moradora do Jacarezinho, que a viu, ao final, como futura chefe do tráfico.
Sobre a nossa posição, a partir da qual o trabalho foi realizado,
percebemos os limites de uma análise feita para um exercício de prática
teórica. Para uma compreensão mais global, precisaríamos ter contato
com as pessoas envolvidas na tragédia e usarmos suas perspectivas para
nos ajudar a determinar o que realmente seria mais problemático. Além
disso, reconhecemos vir de uma posição particular dentro de um campo
teórico específico, que, sobretudo, implica uma perspectiva sobre a
categoria analítica estudada, ou seja, outros trabalhos sobre a mesma
coletiva poderiam, por exemplo, ser orientados para os problemas dentro
da Gramática do Design Visual. Há, é claro, outras reflexões a propor
sobre a análise, por isso, mantemo-nos inclinados a contribuições que
visem à emancipação de vidas precarizadas, à denúncia de assimetrias
e, por fim, à mudança social.
REFERÊNCiAS
BEAUGRANDE, R.-A. de; DRESSLER, W. U. Introducción a la lingüística del
texto. Barcelona: Ariel Linguística, 1997.
CANÇADO, M. Manual de semântica: noções básicas e exercícios. 2. ed. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2008.
369
análise de disCurso CrítiCa: exerCíCios analítiCos
COLETiVA de imprensa operação Comunidade Jacarezinho. 2021. Rio de Janeiro:
[s. n.], 1 vídeo (1h04min53s). Publicado pelo canal Cesar Sales. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=UzA5sEQbxeQ&t=5s. Acesso em: 8 jun. 2021.
FAiRCLOUGH, N. L. Analysing discourse: Textual analysis for social research.
London; New York: Routledge, 2003.
FAiRCLOUGH, N. L. Critical discourse analysis: The critical study of language.
2th ed. London: Routledge, 2013.
FAiRCLOUGH, N. L. Discurso e mudança social. 2. ed. Tradução de isabel
Magalhães. Brasília: Universidade de Brasília, 2016.
FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008.
FUZER, C.; CABRAL, S. R. S. Introdução à gramática sistêmico-funcional em
língua portuguesa. Campinas: Mercado de Letras, 2014.
HALLiDAY, M. A. K. Introduction to functional grammar. 4. ed. London; New
York: Routledge, 1994.
LEGEWiE, J. Racial profiling and use of force in police stops: How local events
trigger periods of increased discrimination. American journal of sociology, v. 122,
n. 2, p. 379-424, 2016.
MARTiN, J. R.; WHiTE, P. R. The Language of Evaluation: appraisal in English.
London: Palgrave; Macmillan, 2000.
MOLiCA, F. Jacarezinho: denúncia não fala em aliciamento de menores e sequestro
de trens. CNN, 08 maio 2021. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/amp/
nacional/2021/05/08/jacarezinho-denuncia-nao-fala-em-aliciamento-de-menores-esequestro-de-trens. Acesso em: 8 jun. 2021.
OLLiVEiRA, C. As ligações dos Bolsonaro com as milícias. The intercept Brasil, 22
jan. 2019. Disponível em: https://theintercept.com/2019/01/22/bolsonaros-milicias/.
Acesso em: 18 nov. 2021.
RESENDE, V. de M.; RAMALHO, V. Análise de Discurso Crítica. São Paulo:
Contexto, 2006.
SiLVA, D. do N.; FERREiRA, D. M. M.; ALENCAR, C. de N. (org.). Nova
pragmática: modos de fazer. São Paulo: Cortez Editora, 2014.
SOUTO MAiOR, J. L. A tragédia no Jacarezinho: mais um massacre policial ou
uma articulação política reacionária? Blog da Boitempo, 11 maio 2021. Disponível
em: https://blogdaboitempo.com.br/2021/05/11/a-tragedia-no-jacarezinho-mais-ummassacre-policial-ou-uma-articulacao-politica-reacionaria/. Acesso em: 8 jun. 2021.
THOMPSON, J. B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. Petrópolis:
Editora Vozes, 2011.
370
Todos os direitos desta edição reservados a Pontes Editores Ltda.
Proibida a reprodução total ou parcial em qualquer mídia
sem a autorização escrita da Editora ou dos autores.
Os infratores estão sujeitos às penas da lei.
A Editora não se responsabiliza pelas opiniões emitidas nesta publicação.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Tuxped Serviços Editoriais (São Paulo - SP)
I68a Irineu, Lucineudo (org.).
Análise de discurso crítica: exercícios analíticos
Organizador: Lucineudo Irineu. – 1. ed. – Campinas, SP : Pontes Editores, 2022.
figs.; quadros. (Coleção Adc: Teoria e Método, v. 2).
Inclui bibliografia.
ISBN: 978-65-5637-544-1
1. Análise do Discurso. 2. Linguística. 3. COVID-19. I. Título. II. Assunto. III. Organizador.
Bibliotecário Pedro Anizio Gomes CRB-8/8846
Índices para catálogo sistemático:
1. Análise do discurso. 401.41
2. Linguística. 410
3. Saúde pública / Medicina preventiva / Prevenção contra epidemias e pandemias. 614
9 786556 375441