CURSO MUNICIPAL
DE RECURSOS PAISAGÍSTICOS
créditos
curso municipal de recursos paisagísticos
coordenação geral
Marco Antônio Braga
equipe técnica executora
Biólogos
Assucena Tupiassú
Maria de Lourdes da Costa
Agrônomos
Oswaldo Barreto de Carvalho
Mário do Nascimento Júnior
Arquitetos
Patrícia Morales Bertucci
Flávia Pimenta
Artista Plástico
Marco Antonio Braga
coordenação de arte
SIlvia C. Glueck
projeto gráfico
Luiz Lula
Fábio Lopes
prefácio
O Curso Municipal de Recursos Paisagísticos nasceu em 1994 quase que
naturalmente, fruto do trabalho já desenvolvido e com esmero, pelos nossos
técnicos durante as aulas do Curso de Jardinagem.
Desenvolvido em onze capítulos a apostila busca consubstanciar o trabalho
desenvolvido em aula. O curso possui uma carga horária de 51 horas,
distribuídas em dezessete aulas. A introdução ao curso é feita no primeiro
capítulo, denominado “A História do Paisagismo no Brasil”, onde a bióloga
Assucena Tupiassu faz um didático percurso sinalizando as pessoas que
contribuíram para o desenvolvimento do tema.
O capítulo 2, denominado “Levantamento de Dados”, desenvolvido pelo
engenheiro agrônomo Oswaldo Barreto de Carvalho, trata dos fatores a
serem levados em consideração para o planejamento de um jardim, que vão
desde a entrevista com o cliente e croquis inicial até a escolha das espécies,
inalizando com modelos de contrato e memorial descritivo do projeto.
Na sequência, o capítulo “Recursos Gráicos” elaborado pela arquiteta Patrícia
Bertucci traz uma iniciação à linguagem da arquitetura, que envolve desde
a apresentação dos materiais e instrumentos de desenho ao entendimento
das escalas de representação gráica e métodos de representação do projeto:
planta, cortes, elevações e perspectiva.
“Recursos Vegetais” é o título do capítulo 4, em que a bióloga Assucena Tupiassu
estabelece uma relação entre os anseios do cliente, as condições ambientais,
o jardim almejado e a relação de plantas disponíveis que atenderiam tal
composição. Já o capítulo “Recursos Arquitetônicos”, escrito pela arquiteta
Flávia Pimenta e colaboração da bióloga Maria de Lourdes da Costa, discorre
sobre os elementos arquitetônicos que compõem o projeto paisagístico, tais
como pisos, decks, cercas, pérgulas, pontes e espelhos d’água.
O capítulo 6, denominado “Percepção e Composição de Espaços”, de
autoria do artista plástico Marco Antonio Braga, traz a estética como
importante elemento de composição do jardim e para tanto, discute questões
relacionadas à organização do espaço visual, tais como igura e fundo,
contrastes e semelhanças, além do estudo de cores e texturas. “Jardim Sobre
Laje” é o título do capítulo 7, onde a bióloga Maria de Lourdes da Costa trata
das questões técnicas para sua implantação.
Em “A Questão Estética e o Paisagismo Contemporâneo”, também de autoria
do artista plástico Marco Antonio Braga, a estética é vista sob uma perspectiva
histórica na formação dos jardins desde o século XVIII até a atualidade, a que
o autor denomina de estilo contemporâneo, abarcando diversas tipologias de
desenho de jardins.
No capítulo 9, são apresentadas as questões relacionadas a “Orçamento”,
pela bióloga Assucena Tupiassu, que trata dos elementos que deverão ser
considerados para a composição do preço inal. A mesma autora discorre
sobre “Análise e Implantação de Projeto” no capítulo 10, onde atenta para
a necessidade de uma leitura completa do projeto que consubstancie sua
implantação na prática. Finalmente, o capítulo 11 “Legislação”, escrito pelo
engenheiro agrônomo e advogado Mário do Nascimento Júnior, pontua as
principais leis que envolvem o tema arborização urbana.
Por im, cabe aqui uma menção especial ao idealizador e organizador desta
obra, o artista plástico Marco Antonio Braga que prontamente aceitou o
desaio de reeditar uma apostila manuscrita, que servia de referencial às
aulas dadas, no material que ora temos o prazer de disponibilizar a você leitor.
Boa leitura a todos!
cristina pereira de araujo
arquiteta
diretora da escola municipal de jardinagem/umapaZ-1
apresentação
O Curso de Recursos Paisagísticos foi criado em 1994 para atender a
solicitação dos alunos do Curso Municipal de Jardinagem. Todos queriam
aprender a compor um jardim. Teve a colaboração dos técnicos da escola e
grande incentivo do Arquiteto Márcio Valadão (em memória) e do biólogo Vitor
Lucato.
Para que o aluno tenha uma visão geral do assunto, consideramos desenvolver
os seguintes temas:
•
•
•
•
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•
História do Paisagismo;
Levantamento de dados (pesquisa);
Paisagismo contemporâneo;
Estética;
Composição;
Recursos Gráicos;
Recursos Vegetais;
Recursos Arquitetônicos;
Jardim sobre laje;
Orçamento;
Legislação;
Iluminação de jardins;
Analise e Implantação de Projetos;
Exercício e Apresentação dos Projetos.
Ao longo dos anos, o curso foi adaptado para responder aos anseios dos
alunos e uma a uma as aulas foram sendo acrescentadas.
Apesar de todos chamarem de Curso de Paisagismo, optamos por não
chamá-lo assim para que os alunos não tivessem a falsa impressão de que
após o término do curso, se tornariam paisagistas. Nossa intenção é colocar
os alunos em contato com os meios utilizados na criação do jardim. O curso
é uma introdução, e o aluno, ao seu término, certamente sairá com muitas
dúvidas, mas terá certeza que fazer um jardim é uma coisa muito séria, e se
quiser mesmo adentrar na área terá que estudar, se dedicar e experimentar
a delicia de fazer um jardim.
Apesar de algumas tentativas de criação de cursos de paisagismo, até 2012
no Brasil não existe a graduação com emissão de diploma em paisagismo
recomendado pelo MEC, nem tão pouco a regulamentação da carreira e
a formação de um Conselho Regional de Paisagismo, o que provoca uma
grande discussão sobre quem pode assinar os projetos. Não existe um
consenso quanto a este assunto e por isso optamos pelo nome Recursos
Paisagísticos, que pode ser traduzido com ferramentas utilizadas para
criação de paisagens ou jardins.
É pré-requisito para fazer o curso de recursos paisagísticos ter feito o de
jardinagem, pois acreditamos que é impossível criar um jardim sem conhecer
as espécies e como plantá-las, sem saber tratar o solo e controlar as pragas
e doenças que acometem as plantas, sem fazer multiplicação vegetativa e
por sementes etc.
Entendemos que paisagismo é a composição com sentido. Como se na
jardinagem conhecêssemos as letras e as palavras (plantas e canteiros) e no
Curso de Recursos Paisagísticos, formássemos as frases. Uma frase que tem um
sentido, uma explicação, que emociona. Assim, paisagismo é este agrupamento
de letras e palavras que forma uma frase, uma poesia, um livro.
Entendo um jardim como uma co-criação do homem, que cabe muito bem as
palavras abaixo:
“O que é que se encontra no início? O jardim ou o jardineiro? É o jardineiro.
Havendo um jardineiro, mais cedo ou mais tarde um jardim aparecerá. Mas,
havendo um jardim sem jardineiro, mais cedo ou mais tarde ele desaparecerá.
O que é um jardineiro? Uma pessoa cujo pensamento está cheio de jardins. O
que faz um jardim são os pensamentos do jardineiro. O que faz um povo são
os pensamentos daqueles que o compõe.”
Rubem Alves, 2002
assucena tupiassú
índice
1. A HISTÓRIA DO PAISAGISMO NO BRASIL........................................................11
2. LEVANTAMENTO DE DADOS...........................................................................25
3. RECURSOS GRÁFICOS...................................................................................41
4. RECURSOS VEGETAIS.....................................................................................59
5. RECURSOS ARQUITETÔNICOS.......................................................................67
6. PERCEPÇÃO E COMPOSIÇÃO DE ESPAÇOS..................................................89
7. JARDIM SOBRE LAJE.....................................................................................103
8. A QUESTÃO ESTÉTICA E O PAISAGISMO CONTEMPORÂNEO......................113
9. ORÇAMENTO.................................................................................................123
10. ANÁLISE E IMPLANTAÇÃO DE PROJETO....................................................129
11. LEGISLAÇÃO...............................................................................................137
c ap ítulo 1 - a h istór ia do paisagismo n o br asil
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Apesar do nome de nosso país ser homenagem a uma árvore, o pau-brasil
(Caesalpinia echinata), não podemos dizer que temos uma boa história com a
vegetação e paisagismo no Brasil. Nos grandes ciclos, a riqueza começou a ser
retirada através das plantas: pau-brasil, seringueira/borracha, cana-de-açúcar,
cacau, café, o mogno etc, mas, infelizmente a nossa maior aproximação é
justamente para extração e principalmente quando trata-se de plantas nativas,
sem a reposição necessária.
Não existe um estilo predominante de paisagismo no Brasil, nem a valorização
devida. Há grande mistura de plantas nativas com exóticas que muitas vezes
chegavam quase por acaso vindas nos navios pelas sementes descartadas ou
misturadas na areia do lastro, algumas nas madeiras podres dos cascos que,
ao serem trocadas por madeira nova, icavam no continente. Ou mesmo pela
introdução com os povos que vieram para ixar moradia no Brasil.
A história do paisagismo no Brasil é marcada por uma série de fatos históricos
e com função determinada naquela época.
A primeira manifestação paisagística ocorreu na primeira metade do século
XVII, em Pernambuco, quando Maurício de Nassau, príncipe da Holanda, veio
governar as terras que havia conquistado e formar uma colônia holandesa.
Iniciava-se, então, um trabalho de transformação das terras alagadiças em
belos parques com coqueiros, palmeiras, diversas árvores nativas e variedades
trazidas da Europa. O príncipe, além de introduzir no país uma série de espécies
vegetais muito signiicativas - como as laranjeiras, limoeiros e tangerinas que,
de tão bem adaptadas, muitos chegam a pensar serem nativas – trouxe uma
preocupação maior com o traçado das cidades. Maurício de Nassau trouxe o
pintor paisagista Franz Post para o Brasil, um dos primeiros a retratar nossas
paisagens. Quando os portugueses perceberam que os holandeses estavam
ocupando um bom espaço em terras brasileiras, eles trataram de expulsá-los e
pouco restou dessas intervenções paisagísticas holandesas.
Após quase meio século sem termos o paisagismo mencionado oicialmente em
qualquer manifestação, no inal do século XVIII a cidade do Rio de Janeiro tornouse a capital do Brasil. O artista mestre Valentim (Valentim da Fonseca e Silva,
mais conhecido como Mestre Valentim - 1745-1813) fez o primeiro projeto de
paisagismo reconhecido no Brasil, o Passeio Público, com traçado de linhas
retas, formando desenhos geométricos, tendo como inluência o estilo francês,
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c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
numa área de 20 hectares, além de diversas obras paisagísticas nos principais
logradouros da cidade. A contratação foi do vice-rei D. Luiz de Vasconcellos.
Com a chegada de D. João VI com a família real portuguesa (século XIX), começou
um novo capítulo à urbanização da cidade. Foram construídas diversas praças e
parques e criou-se o Horto Real “jardim de aclimatação”, para acolher todas as
especiarias, sementes e plantas trazidas pelos navegantes e fornecer matéria
prima para a fábrica de pólvora instalada na região, hoje em dia com o nome de
Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Das plantas doadas a D. João VI, a palmeiraimperial (Roystonea oleracea) foi a que mais o encantou, transformando-se em
símbolo desse jardim. Nessa época foram introduzidos os abacates, jacas,
fruta-pão, noz-moscada, tamarindos, carambolas, jambeiros; posteriormente
foram introduzidas mudas de acalifas, cássias, crótons, daturas etc.
Para o casamento de D. Pedro I com a arquiduquesa da Áustria, uma grande
comissão de botânicos, como o célebre Von Martius, Langsdorff, Frederico
Sellow, dentre outros, foi contratada. Além do célebre Ludwig Riedel, primeiro
paisagista atuante no Brasil, que teve como incumbência “esverdear a cidade
do Rio de Janeiro”, pois temia-se que a noiva icasse mal impressionada com a
cidade. Ele trabalhou na arborização entre 1836 e 1860.
Uma das grandes diiculdades que Reidel enfrentou foi o preconceito referente
à maleita que, acreditavam, seria provocada pela sombra das árvores. Além
do trabalho de arborização, Reidel também treinou escravos em jardineiros,
coletou sementes em excursões e implantou um grande viveiro. Ao deixar o
serviço por motivos de doença, não só deixou montado todo um projeto de
paisagismo urbano – inclusive com know-how técnico de produção de mudas
– como, também, milhares de mudas nos viveiros e mais de 7.000 espécies de
plantas brasileiras catalogadas em vários herbários de outros países.
Reidel foi sucedido por Auguste François Marie Glaziou. Este último seria,
então, nomeado diretor dos Parques e Jardins da Casa Imperial, realizando os
projetos de reforma do Passeio Público, jardim da residência imperial da Quinta
da Boa Vista, Campo de Santana, Parque Imperial de Petrópolis, Largo de São
Francisco e Largo do Machado. Trabalhou com pau-ferro, vários tipos de cássias,
paineiras, eritrinas, jacarandás, ipês, bauhinias, quaresmeiras, manacás, etc,
fazendo uma sucessão colorida em várias épocas do ano. Além disso, classiicou
diversas espécies, algumas com seu nome. Pediu demissão em 1897.
c ap ítulo 1 - a h istór ia do paisagismo n o br asil
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Dois pontos marcam a história do paisagismo dessa época: predominância
de espécies exóticas e escassez de mudas e sementes para o plantio (que
só eram produzidas nos Hortos Reais de Belém, Rio de Janeiro, Pernambuco
e São Paulo). Nos jardins residenciais eram plantadas margaridas, rosas,
angélicas, jasmins, hibiscos, copos de leite, dálias, dracenas, agapantus etc - a
rica lora brasileira continuava desconhecida e sem uso. Os portugueses da
Ilha da Madeira trouxeram amarylis, begônias, beris, primaveras, caladiuns,
petúnias, onze-horas e sálvias.
Outros dois nomes importantes para o paisagismo foram Pierre-Marie Binot
e Adolfo Lietze.
Pierre-Marie Binot foi contratado por Dom Pedro I para implantar o jardim do
Palácio de Verão em Petrópolis e criou um dos mais importantes viveiros de
mudas dessa região.
Adolfo Lietze teve importante papel no estudo das Aráceas, sobretudo na
formação de sementes híbridas.
Os modelos de arborização do Rio de Janeiro foram levados para os outros
Estados, porém muitas vezes sem acompanhamento técnico e perdendo um
pouco da organização estética.
Os jardins do tempo do Império pertenciam às pessoas de posses e eram
representativos de suas fortunas, chegando até a uma disputa pela
suntuosidade e luxo. Quase sempre era utilizado o jardim de desenho ‘francês’,
com espécies exóticas e raras e com alguns animais como pavões, araras,
arapongas e macacos.
No decorrer do tempo, principalmente após a libertação dos escravos e a crise
inanceira, ocorreu um declínio nos jardins residenciais, pois a mão de obra
icou cada vez mais difícil. As plantas não mais demonstravam a riqueza do
proprietário, mas o conforto, com o uso mais de rosas, cravos, orquídeas e
samambaias de metro – estas usadas para enfeitar a parte interna da casa.
Com o crescimento das cidades, as estruturas de urbanização (telégrafo,
bondes, telefone, rede elétrica, redes de água, esgoto, alargamento do leito das
ruas para os automóveis, asfalto etc) tomaram lugar dos espaços reservados à
arborização, muitas vezes causando danos irreparáveis.
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c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
Até hoje observamos diferentes tipos de arborização nas diversas regiões do
Brasil. Essa heterogeneidade pode ser justiicada pelo tipo de colonização.
Outros dois nomes que não podemos deixar de citar são: Roberto Burle Marx
e Roberto Coelho Cardoso.
Roberto Burle Marx a partir da década de trinta demonstrou em seus projetos
uma linguagem paisagística moderna, com um conceito de jardim como obra
de arte, somado a uma dimensão ecológica e ambiental, sendo reconhecido,
mundialmente e possivelmente, como o maior paisagista do século XX. Ele
identiicou muitas espécies brasileiras e, principalmente, fez uso delas em
seus projetos, modiicando um pouco a preferência absoluta pela escolha de
espécies exóticas. Inspirado na natureza tropical, e embora desde criança
apaixonado por plantas, só tomou conhecimento da riqueza da nossa lora
com potencial para uso no paisagismo, após uma viagem a Alemanha no
inal da década de 20, retornando com o irme propósito de valorização das
plantas brasileiras através de propostas plásticas imprevisíveis e de inegável
originalidade.
Roberto Coelho Cardoso na década de 50, introduziu a disciplina de Paisagismo
na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.
É evidente o crescimento do paisagismo no Brasil, com a introdução dos novos
conceitos ecológicos, com o grande uso da jardinagem no exterior, utilização
da vegetação nos restaurantes, escritórios etc. Há uma valorização dos jardins.
Em São Paulo, este crescimento se acentuou na década de 90. Isso pode ser
sinalizado pelos empreendimentos imobiliários que sugerem que o jardim será
parte importante no empreendimento. Podemos comprovar isso de algumas
maneiras: uso de nomes de plantas ou jardins nos novos condomínios (jardim
das azaléias, pássaros e lores, jardim dos franceses, jardins ingleses, bosque
dos eucaliptos, “Les jardin des jardin” etc.); os muitos comerciais gravados
em parques; a construção de sacadas, que se transformaram em varandas; a
citação de que está próximo a algum parque ou área verde (próximo ao Parque
Ibirapuera ou ao lado do Parque Aclimação). Atualmente em todos os folhetos
de venda o projeto de paisagismo já existe, em volta do plantão de vendas há
sempre um jardim e a presença do paisagista muitas vezes vem em primeiro
plano, o que raramente acontecia há alguns anos atrás.
c ap ítulo 1 - a h istór ia do paisagismo n o br asil
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Percebemos uma grande contradição, pois o Brasil é um dos países com
maior território e diversidade biológica do planeta; sendo Burle Marx um dos
maiores paisagistas do mundo moderno; ainda não temos o reconhecimento e
regulação legal dessa atividade proissional.
Atualmente podemos deinir o paisagismo brasileiro como bastante eclético,
pois é uma grande mistura de climas, estilos de jardim, origem da população
que o habita. Para facilitar a compreensão dividiremos os jardins em três blocos:
Eclético: São os primeiros jardins, praças, parques, sobretudo no Rio de janeiro
e em São Paulo. Grande inluencia dos estilos franceses e ingleses com visão
romântica, bucólica, com uso de fontes, lagos, coretos,esculturas, gramados,
pontes e inclusive animais soltos.
Moderno: Surge Burle Marx que rompe com as escolas clássicas, usando
desenhos modernos e além das exóticas, também as plantas nativas. Tem como
característica a vegetação integrada no ambiente, lazer ativo, incorporação e
transformação de lagos, fontes, esculturas e pontes.
Contemporâneo: Recebe forte inluencia dos paisagistas japoneses, americanos
e franceses, trás a inluencia pós moderna com visão ecológica, colunas,
pórticos e cores. Relete uma inquietação que ainda está em andamento.
paisagismo em são paulo
Em São Paulo há falta de vegetação, temos aproximadamente de 4 m² de
áreas verdes por habitante, sendo o sugerido pela ONU 12 m²/habitante. Um
dos principais motivos é a falta de planejamento.
Tendo a cidade de São Paulo um tipo de ocupação atípico, era muito
presumível que a falta de áreas verdes ocorresse. Para tentar explicar como
isto aconteceu, vale lembrar alguns fatos:
Desde a fundação da cidade, em 1554, até inal do século XIX São Paulo
não ultrapassava o limite de 3 Km ao redor dos três pontos que marcavam
a barreira da colina histórica formada pelos mosteiros de São Francisco, São
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c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
Bento e do Carmo. Assim icou durante três séculos, com seu ar provinciano de
ruas estreitas, casas baixas e pequenas, pois não possuía grandes atrativos,
ou seja, solo rico para cultivo, ou riquezas minerais.
Somente na segunda metade do século XIX é que São Paulo começou a
delinear-se como a grande metrópole de nossos dias, em função de sua
posição de centro de convergência de grandes vias de articulação.
O crescimento foi decorrente de três fatores principais:
• Expansão do café;
• Multiplicação das estradas de ferro;
• Imigração européia, favorecida em decorrência da adaptação devido
à temperatura.
Na década de 1870 o café começou a ser plantado na região de Campinas,
surgiram os grandes fazendeiros, “os barões do café”.
O café produzido em Campinas era exportado pelo Porto de Santos e tinha
passagem obrigatória pela cidade de São Paulo. A transação comercial
decorrente dessa exportação exigia que os fazendeiros icassem boa parte
do tempo na cidade para acompanhar os negócios de perto.
Apartir daí ocorreram grandes mudanças na isionomia urbana. Os fazendeiros
tornaram a casa da cidade sua residência ixa, confortável e elegante,
símbolo de riqueza do seu proprietário, concomitante ocorreram melhorias
nos prédios públicos e pavimentações.
Ampliou-se a área urbana através do retalhamento das ‘chácaras’ sem um
planejamento e, dessa forma, a cidade foi crescendo e novos bairros se
integraram à vida urbana.
A Chácara Palmeiras, por exemplo, que em 1882 possuía características
rurais, com casa grande, senzala, cachoeira, plantação de chá, transformouse no bairro de Santa Cecília.
Podemos dizer que, por muito tempo, a cidade de São Paulo era uma grande
área verde que de repente, em menos de 100 anos, virou uma grande metrópole
e, por mais que se tentasse fazer um planejamento, ninguém esperava que
c ap ítulo 1 - a h istór ia do paisagismo n o br asil
17
aquela pequena província se transformasse em uma das maiores cidades do
mundo.
A capital paulista, em 1872, contava com cerca de 31.000 habitantes, em
1900, com aproximadamente 240.000 e chega ao inal do século XX com
mais de 15 milhões de habitantes na região metropolitana.
crescimento populacional
em são paulo segundo a fundação
sistema estadual de análise
de dados - seade
ano
população
1870
31.000
1900
239.820
1920
579.033
1940
1.326.261
1950
2.198.096
1960
3.781.446
1970
5.885.475
1980
8.475.380
1990
9.512.545
2000
10.398.576
2001
10.489.159
2002
10.552.311
2003
10.615.844
2011
11.000.000 a
20.000.000*
*região metropolitana
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c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
O crescimento demográico é inversamente proporcional ao índice de áreas
verdes, portanto, quanto maior a população, menos vegetação a cidade tem,
principalmente quando a ocupação foi muito rápida e sem o planejamento devido.
O processo de organização e reorganização da sociedade deu-se pela
transformação da natureza primitiva em campos, cidades, estradas de ferro,
parques nacionais, shopping centers, etc. Desde os homens primitivos é padrão
de cada sociedade deixar suas marcas e obras e estas são as dos homens.
Infelizmente a expansão urbana das cidades nos últimos anos se deu às
custas da ocupação de áreas verdes. Podemos observar que quanto maior
o crescimento demográico, menor o índice de áreas verdes. Há pouco
tempo não era raro vermos jardins em frente das casas. Porém a aquisição
de automóveis e a criação de espaços para estacionamento ou abrigo vêm
diminuindo ou eliminando as áreas plantadas.
A vegetação em São Paulo varia de acordo com a região da cidade e com
a época em que foram urbanizadas. É nítida a diferença das áreas verdes
dependendo do grupo de pessoas que ixou lá sua residência.
A ocorrência e o adensamento de determinadas espécies botânicas se
explicam pelas particularidades dos habitantes, por seus usos, costumes e,
principalmente, pela maneira de pensar e agir diante da natureza.
A presença tão forte do imigrante na cidade é denunciada pela grande
variedade de jardins existentes e pela ocorrência de diferentes árvores que
aqui chegaram pelas mãos de portugueses, italianos, alemães, holandeses,
japoneses, etc.
O próprio nome de alguns locais evoca espécies vegetais frequentes e típicas
de décadas atrás, é o caso de Pinheiros, Cambuci ou o Cemitério do Araçá.
A idéia de ‘aridez’ de São Paulo não se estende a todas as situações da
urbanização existente. Formações excepcionais de vegetação têm grande
signiicado não só para pessoas que dela tiram proveito diretamente, mas
também, para o ambiente circunvizinho.
Ao percorrer a cidade encontramos várias ruas sem uma única árvore, mas
também observamos ruas tão arborizadas que, por vezes, chegam a entrar
19
c ap ítulo 1 - a h istór ia do paisagismo n o br asil
em conlito com estruturas de urbanização. Enquanto São Paulo possui
aproximadamente 4 m² de áreas verdes por habitante, Washington possui
170 m²; Brasília, 40 m²; Paris, 30 m²; Londres, 25 m² e Buenos Aires, 20m².
Existe também uma grande diferença nos índice de áreas verdes entre os
bairros da cidade. Optamos por usar a década de 80, pois foi nesta época
que São Paulo teve seu maior crescimento demográico (entre 60 e 80),
quando era chamada de “a cidade que mais cresce no mundo”. O índice de
arborização, segundo padrões de ocupação do município de São Paulo em
1988, conforme imagens do Satélite Landsat, é:
ano
índice de
arborização
Centro Histórico
0,4%
Brás
0,5%
Brasilândia
2,1%
Campo Limpo
0,6%
Ermelino Matarazzo
0,2%
Parque Edu Chaves
0,0%
São Mateus
0,2%
São Miguel Paulista
1,0%
Vila Clementino
1,7%
Av. Paulista
12,8%
Moema
5,3%
Indianápolis
8,7%
Alto de Pinheiros
27,1%
Chácara Flora
52,7%
Jardins
33,6%
Jardim São Bento
16,4%
Morumbi
46,8%
20
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
Desde a década de 40, o crescimento da cidade tem se dado, principalmente,
com base num padrão periférico de ocupação horizontal, em grande parte
pelos loteamentos clandestinos ou irregulares e ocupação inadequada devido
à ineiciência das políticas urbanas públicas dirigidas à população de baixa
renda. Em alguns casos a construção de conjuntos habitacionais acarreta
o desmatamento de áreas em tais proporções que causa graves problemas
relacionados com a estabilidade do solo e as condições ambientais.
Muitos bairros, sobretudo os urbanizados pela Cia City , os chamados ‘Bairros
Jardins’ as áreas arborizadas se encontram razoavelmente protegidas, na
medida em que isto constitui elemento de valorização imobiliária para o
segmento de mercado de alta renda.
Recentemente a vegetação é vista com outro olhar. Quase todos os novos
empreendimentos, isso inclui restaurantes, lojas, etc. tem as plantas
como uma das atrações principais. Árvores centenárias são preservadas
e valorizadas quando da substituição do antigo uso por novos edifícios.
Infelizmente tais cuidados estão restritos a uma faixa de renda privilegiada.
Problemas de custo de terrenos, facilidades de construção e ausência de
uma legislação efetiva de preservação relegaram a um segundo plano
preocupações com a manutenção da vegetação do entorno de edifícios,
porém, isso está mudando, novas leis e o conhecimento da necessidade da
vegetação para uma melhor qualidade de vida têm trazido os cuidados com
a vegetação para o primeiro plano.
O jardim, em todas as suas variações de uso, insere-se no contexto cultural
de uma civilização – ou de uma cidade – e amplia o reconhecimento e o
entendimento de sua tradição paisagística – excepcionalmente complexa no
caso de São Paulo, dadas as várias inluências recebidas de sua população
heterogênea, pode-se dizer que houve uma hibridização das áreas verdes.
O sucesso inal do paisagismo é determinado pela qualidade das técnicas
utilizadas para o plantio e a manutenção do jardim (jardinagem) e também
pelo planejamento deste espaço, pois como vimos anteriormente, muitos dos
problemas presentes na cidade de São Paulo são decorrentes da falta de
planejamento. Precisamos transportar a idéia para o papel e deste para o
solo, assim teremos a realização de um projeto.
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c ap ítulo 1 - a h istór ia do paisagismo n o br asil
Um projeto de paisagismo é uma obra de arte e talvez a mais complexa,
pois inclui seres vivos, que nascem, crescem, icam doentes, se multiplicam
e morrem. Ao pensar na escolha de uma planta para um jardim deve-se
considerar que tamanho tal planta terá daqui a 10, 20, 50 anos. Para isso é
fundamental o planejamento, que nada mais é do que um modelo teórico para
ação, e dele depende o dinamismo, a funcionalidade e a qualidade do projeto.
Ao contrário da maioria das obras de arte, ao inal da execução, a obra não
está concluída, pois é mutável e no dia seguinte algumas folhas caíram,
depois de alguns meses lores se abriram, frutos foram cresceram e para que
ele continue com o mesmo sentido é necessário um novo planejamento e
desta vez para a manutenção.
fluxograma da maioria das obras de arte
projeto
planejamento
execução
fluxograma de um jardim
planejamento
execução
projeto
Acreditamos que não existe regra básica para o paisagismo, porque entre cores,
formas, tamanhos que combinam ou não, tudo depende do gosto pessoal,
muito diferenciado de indivíduo para indivíduo. Porém, devemos respeitar
as necessidade e exigências de cada espécie a ser usada, as condições
ambientais, e visar maximizar os benefícios e minimizar os riscos (prejuízos e
impactos ambientais).
Temos sempre que harmonizar as atividades diversas e não estar sobre a
natureza, controlando-a, mas estar com a natureza, formando a totalidade,
respeitando-a.
22
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
referÊncias bibliográficas
CULLEN, Gordon. Paisagem urbana. São Paulo: Martins Fontes, 1983.
FRANCO, Maria De Assunção Ribeiro. Desenho ambiental: uma introdução
a arquitetura da paisagem com o paradigma ecológico. 1.ed. São Paulo :
Annablume, 1997.
GRIEG, MARIA DILECTA. Café – Histórico, Negócios e Elite. São Paulo: Ed.Olho
d’Água, 2000.
JELLICOE, Geoffrey, JELLICOE, Susan.El paisaje del hombre: la conformacion del
entorno desde la prehistoria hasta nuestros dias.1.ed. Barcelona : Gustavo Gili,
1995.
KLIASS, Rosa Grena, ZEIN, Ruth Verde.Rosa Kliass: desenhando paisagens,
moldando uma proissao.1.ed. Sao Paulo : Senac, 2006.
SCALISE, Walnyce de Oliveira. Apostila de Paisagismo da Universidade de Marília.
São Paulo, 2010.
SERRA, Geraldo. O espaço natural e a forma urbana. São Paulo: Nobel, 1987.
SPIRN, Anne Whiston.O jardim de granito: a natureza no desenho da cidade.1.ed.
Sao Paulo : EDUSP, 1995.
TUPIASSÚ, Assucena. Da planta ao Jardim. 1ª. Ed. São Paulo: Nobel, 2008
______. São Paulo: desenvolvimento urbano e arquitetura sob o Império. In:
PORTA, Paula (org.) A história da cidade de São Paulo. São Paulo: Paz e Terra,
2004.3v. v.2.
______. A vila de São Paulo do Campo e seus caminhos. Revista do Arquivo
Histórico. São Paulo, DPH, v.204, p.11- 34, 2006.
A história do paisagismo no Brasil (Texto do Dr. Harry Blossfeld, publicado nos
Anais da Sociedade Brasileira de Floricultura e Plantas Ornamentais, Rio de
Janeiro, 1983 )
c ap ítulo 2 - le van tame n to de dados
25
“Jardinagem não é mero divertimento, embora componha recreação com
suas alegrias, expectativas e, de vez em quando, uma pitada de frustração.
Não é esporte, mas movimenta vigorosamente o corpo e envolve saudáveis
exercícios ao ar livre. Não é religião, mas com certeza eleva e aprofunda
o espírito. Não é normalmente classiicada entre as artes, mas produz
dramáticos efeitos decorativos e intensa emoção estética. Não é um
processo didático formal, mas, na transmissão intuitiva dos princípios que
regem a natureza, ensina mais do que muita escola. Não é uma ciência
em si, mas tem conteúdo cientíico suiciente para ocupar a vida toda de
uma pessoa. Não é um código moral, mas estimula sentimentos altruístas
pelo cuidado com outros seres vivos.”
Aldo Pereira
(Jardinagem Prática – Ed. Melhoramentos, 1978)
fatores a serem levados em consideração para o planejamento de um jardim
entrevista com o cliente
•
•
•
•
•
•
•
As necessidades e anseios do cliente;
Números de pessoas e idade das mesmas;
Presença de animais, número e porte;
Grau de sociabilidade;
Gosto ou aversão por determinadas espécies;
Disponibilidade de recursos;
Tipo de manutenção.
tipos de jardins
• Residenciais;
• Comerciais;
• Públicos (largos, praças, parques, botânicos, hortos, avenidas,
rodovias, etc.).
quanto ao acesso
• Particular;
• Restrito (escolas, clubes, hospitais, etc.);
• Livre.
26
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
quanto ao tipo de laZer
• Ativo (piscinas, quadras esportivas, playgrounds, churrasqueiras, etc.).
• Contemplativo (terraços, pérgolas, caramanchões, gazebos, jardins
de inverno, espelhos d’água, fontes, obras de arte, etc.)
outros dados
•
•
•
•
•
•
Estilo da construção;
Tipo de manutenção;
Planta do imóvel;
Levantamento planialtimétrico;
Planta das construções;
Etc.
visita ao local
Material: lápis, borracha, prancheta, papel, trena, máquina fotográica, etc...
croquis
• Construções e equipamentos e seus posicionamentos em relação ao
sol, para determinação do conforto térmico e luminoso;
• Circulação social;
• Circulação de serviço;
• Redes de água, esgoto, luz, gás;
• Pontos de irradiação e convergência;
• Valorização de detalhes;
• Disfarçar falhas;
• Projetos de iluminação;
• Projetos de Irrigação e/ou drenagem;
• Pontos de energia e água necessários à instalação e manutenção.
situação
Insolação: Com a determinação da direção norte – localização do sol nas
várias estações e o seu caminhamento – deinindo as de sombra/sol,
importante quanto às necessidades das espécies vegetais a serem escolhidas.
c ap ítulo 2 - le van tame n to de dados
27
Escolha e localização das espécies
Árvores x Temperatura:
Temperatura do solo: - 5º C
Temperatura do ar: - 2º C
Temperatura e Umidade: Relacionadas diretamente com o nível de
conforto do homem.
Justiicável uma intervenção – situação de desconforto
luminosidade:
Altos índices de luminosidade – desconforto
28
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
Água relete luz – interessante em locais mal iluminados
escolha das espécies
Deve-se conhecer bem as espécies quanto a:
• modo de crescimento
• porte adulto
• forma da copa
• tipo e época de loração
• tipo de folhagem (perene ou caduca)
• necessidades isiológicas (água, luminosidade, temperatura, solo)
• ainidade com as espécies existentes
• etc.
visão global do conjunto
clima
É o conjunto de condições meteorológicas típicas do estado médio da
atmosfera num ponto da superfície terrestre.
29
c ap ítulo 2 - le van tame n to de dados
Macro-clima: Envolve os aspectos gerais da região em função da temperatura,
da umidade relativa, do regime dos ventos, das chuvas, etc., elementos difíceis
de serem mudados e que possuem pequenas variações ao longo dos tempos.
20º a 30º
o
ventos continentais
n
10º a 20º
para incidÊncia de ventos
s
l
5º a 15º
ventos oceÂnicos
d = 2x
(altura do edifício)
redução de 40%
redução de 70% a 90%
30
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
brisa de verão
brisa de inverno
Micro-clima: Diz respeito ou particulariza uma pequena área. Há condições
de alterações com vegetação, irrigação, drenagem, etc..
31
c ap ítulo 2 - le van tame n to de dados
relevo
Trata das diferenças de níveis na superfície terrestre. Aconselha-se a mínima
intervenção possível visando a diminuição de custos, a estabilidade de
taludes (em relação às superfícies planas, estas possuem menor fertilidade,
baixa taxa de iniltração de água – run-off – e alta de erosão).
modelagem do terreno
o sítio de implantação
60% do total
30%
30%
60%
60%
área edificável
70% do total
10%
20%
20%
10%
100%
1
1
•
•
•
•
•
Vales
Picos
Espigões
Encostas
Grotões
solo
O tipo e as propriedades físicas e químicas. A análise deve ser realizada para
as devidas correções.
32
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
perfil do solo
serrapilheira
o
posiçã
m
e deco
faixa d
ão
mentaç
g
a
r
f
e
faixa d
camada
fértil
subsolo
rígido
rocha
fragmentada
gema ou
rocha-mãe
camada
fértil
No processo natural de formação do solo desenvolvem-se camadas diferenciadas
(coloração, textura, estrutura e consistência) que recebem o nome de horizontes
e ao conjunto de horizontes de um solo dá-se o nome PERFIL.
33
c ap ítulo 2 - le van tame n to de dados
o
a
b
c
r
HORIZONTE O – é formado de detritos vegetais e
animais, frescos ou parcialmente decompostos.
Mais de 20 a 30% de matéria orgânica. Solos
cultivados não o apresentam, sendo comuns em
solos de mata, sua cor é escura.
HORIZONTE A – é onde se encontra a maior
parte das raízes. Possui boa quantidade de
matéria orgânica, é a camada mais fértil do peril,
geralmente é de cor marrom escura.
HORIZONTE B – é o que se denomina subsolo, possui maior quantidade de argila, cor
avermelhada e fertilidade menor.
HORIZONTE C – é o horizonte mineral, material
pouco afetado pela imtemperização, apresenta
fragmentos de rochas.
ROCHA MÃE – é a rocha que deu origem ao solo.
constitutintes do solo
Solo é um sistema constituído por três fases, a saber:
Fase Sólida: Representada pela matéria inorgânica ou fração mineral (45%)
e pela matéria orgânica (5%)
Fase Líquida: Representada pela água, sais dissolvidos e material em
suspensão (33%)
Fase Gasosa: Represetada pela mistura de gases existentes no solo (17%)
microporos - água
do solo (33%)
constituintes
minerais (45%)
constituintes
orgÂnicos (5%)
macroporos - ar do solo (17%)
34
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
água
Observar a quantidade, qualidade e disponibilidade. Pesquisar a legislação de
proteção aos mananciais, evitar modiicar cursos d’água. Valorizar os recursos
existentes, tais como: nascentes, cursos d’água, lagos, cascatas, etc..
Lembrar que a água, como elemento decorativo, exerce forte atração, funciona
como elemento auxiliar de iluminação pois relete a luz.
Água é elemento indispensável à vida e à manutenção do jardim.
Irrigação
Irrigação por gravidade: Quando o depósito de água se encontra em cota
superior à do local a ser irrigado.
Irrigação por moto-bombas: Quando o depósito de água se encontra em cota
inferior à do local a ser irrigado.
Sistemas de irrigação
Por sulcos: sistema de canais intercomunicantes;
Por inundação: comportas;
Por gotejamento: é o sistema que trabalha com vazões constantes e pressão
variando ente 3.5 e 28.0 m de coluna de água. É utilizado onde não há
muita disponibilidade de água. Pode ser utilizado em canteiros estreitos e
jardineiras (sistema ixo);
Por aspersão: pode ser ixo ou móvel. Existem diversos tipo de aspersores,
para diferentes vazões e com diferentes raios e ângulos de aplicação,
trabalham com diferentes pressões de serviço e podem ser de pequeno,
médio ou longo alcance.
Um projeto de irrigação deve contemplar:
• O correto dimensionamento da vazão, duração e freqüência das regas
• A distribuição das redes primárias, secundárias, terciárias, etc., a determinação da vazão, duração e freqüência das regas
• A distribuição deve ser homogênea
• O sistema pode ainda contar com iltros, adubações líquidas e timer
vegetação
O aproveitamento máximo dos recursos naturais existentes sempre implica
em diminuição de custos e operações; além da certeza de que as plantas são
adequadas ao local.
c ap ítulo 2 - le van tame n to de dados
35
Procurar integrar as plantas a serem introduzidas com a vegetação existente
nas vizinhanças proporciona uma sensação de maior amplitude do jardim.
Veriicar sempre a Legislação preservacionista para evitar dissabores; Lei
10.365; Código Florestal.
Lembrar que as matas ciliares protegem as nascentes e margens contra
a erosão e, portanto, evitam o assoreamento dos cursos d’água e lagos,
melhoram a qualidade da água pois iltram e absorvem impurezas; regulam
a altura do lençol freático; evitam enchentes; fornecem abrigo e alimento à
fauna – inclusive a aquática.
A vegetação das matas ciliares pode ser dividida em três grupos, a saber:
Grupo I: Composto por espécies que se desenvolvem em solos
permanentemente úmidos ou encharcados e sujeitos a inundações periódicas.
Grupo II: Composto por espécies que se desenvolvem em solos
temporariamente úmidos.
Grupo III: Composto por espécies que se desenvolvem em solos de boas
condições hídricas.
A vegetação nos taludes confere estabilidade aos mesmos. A trama radicular
‘segura’ o solo. Os diversos estratos (árvores, lianas, arbustos, herbáceas)
diminuem a velocidade das águas das chuvas, retém parte dela e proporcionam
melhor e maior iniltração no solo, diminuindo o escoamento supericial (“run
off”), além de adicionar matéria orgânica, fator de vital importância à melhoria
das propriedades físicas e químicas do solo.
Às margens das rodovias, a vegetação funciona ainda como barreira de
proteção aos veículos. Ao longo das rodovias os taludes são protegidos por
hidrossemeadura - que consiste numa mistura de sementes de diversas
espécies rústicas de plantas das famílias das leguminosas e das gramíneas,
adubos, adesivos, protetores e água. O local a ser tratado é escariicado e a
mistura é aplicada através do jateamento a alta pressão.
A vegetação funciona ainda como agente umidiicador do ar, pela
transpiração das folhas e, por este fato, também proporciona conforto
térmico. É agente produtor de oxigênio, atua como barreira de sons, poeira
e ventos. Nos centros urbanos ameniza a poluição visual pois esconde
36
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
parte das ediicações e anúncios. Diminue o “STRESS” dos grandes centros
porque a cor verde é calmante.
Nas estradas podem facilitar a leitura visual e atuar como marcas ou
referenciais. Em canteiros centrais evitam o ofuscamento. Em alças de acesso
deve ser utilizada com critério para não comprometer a visibilidade.
acessos
vegetação arbustiva (alt. < 1m)
faixa de visibilidade desimpedida
vegetação arbÓrea
não deve ter copa
abaixo de 2,5m
15º
160 m
Todo acesso deve ter uma faixa de visibilidade desimpedida.
Tráfego
• Intensidade, velocidade, sentido
Rodovias
• Cercas vivas nos canteiros centrais que dividem as pistas, para evitar
ofuscamento de quem trafega em sentido contrário no período noturna
• Homogeneidade – tédio – aumento de velocidade
• Diversidade grande – chama atenção de motorista - acidente.
• Podem facilitar leitura visual da rodovia
• Árvores: distância mínima da pista = 7m
Estabelecimentos comerciais
• Criar faixas de visibilidade desimpedidas nas fachadas de interesse
visual e placas de publicidade
c ap ítulo 2 - le van tame n to de dados
37
poluição
• Sonora
• Do ar
• Visual
• Vegetação funciona como barreira de sons e poeira
harmonia estética com arredores
• Harmonia plástica: proporção e volume
• Realçar valores arquitetônicos e ocultar deiciências
planejamento
Estabelecimento e caracterização das entradas de jardins.
Determinação do sistema de circulação (evitar curvas desnecessárias para
que não haja quebra da continuidade nos jardins de tamanho pequeno).
• Social: lazer ativo, lazer passivo
• Serviço: dependências de empregados, lavanderia, garagem, canil, etc.
Escolha das áreas destinadas a:
• massas de vegetação
• obras de arte
• futuras construções
• áreas irrigáveis
projeto definitivo
Exame e classiicação deinitiva:
• Das entradas em função das ligações internas e externas do jardim;
• Da forma deinitiva das peças que compõem o jardim e das vias de
acesso;
• Dos indivíduos que compõem as unidades de vegetação, bem como
sua quantiicação;
• Locação de pontos (registro, torneiras) para irrigação;
• Das obras de arte;
• Dos pontos de luz e projeto de iluminação;
• Conirmação das linhas de vista (convergência).
Cronograma de implantação: se realizado em planilhas, facilita a elaboração
do orçamento.
38
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
fase
operações
recursos
Limpeza do
terreno
Retro
Escavadeira
05
Hora
X
5
5X
Caminhão
basculante
07
Hora
Y
7
7Y
Encarregado
jardineiro
24
H/h
α
24
24 α
Auxiliar de
jardineiro
48
H/h
β
48
48 β
Calagem
Calcário
dolomítico
60
Kg
γ
60
60 γ
Adubagem
mineral
N-P-K
(4-14-8)
50
Kg
λ
50
50λ
Preparo do
solo
quantidade
quantidade
unidade custo
sub-total
prevista
utilizada
O orçamento é realizado computando todos os gastos e lembrando que devese sempre adotar uma margem de segurança, ao redor de 10%, tanto nos
materiais a serem utilizados quanto na mão-de-obra a ser empregada.
memorial descritivo
Deve conter a descrição das diversas fases, as técnicas e equipamentos
que serão empregados, os materiais a serem utilizados e as respectivas
quantidades.
contrato
Deve especiicar as condições de:
• Pagamento
• Prazos
• Cronograma
• Validade
referÊncias bibliográficas
Apostila do 1º Curso de Recursos Paisagísticos (Art. Márcio Valadão)
c ap ítulo 3 - R E C UR SOS GR ÁF IC OS
41
introdução
O desenho é a forma de expressão utilizada para desenvolver o projeto de
paisagismo. Por isso, é imprescindível para o paisagista ter noções básicas
de desenho, chamado aqui de recursos gráicos. O que implica em conseguir
ler e aplicar os recursos gráicos com o intuito de entender um projeto e
também projetar.
No decorrer deste capítulo, iremos introduzir esta linguagem de forma
simples, para iniciantes, seguindo as normas técnicas internacionais que
deinem a representação gráica para projetos. Como a NBR-6492, que trata
da representação de projetos de arquitetura, e a NBR-10067, que mostra os
princípios gerais de representação em desenho técnico.
materiais e instrumentos de desenho
Os projetos podem ser feitos a mão ou com auxilio do computador. A linguagem
utilizada vai depender do objetivo do projetista, que pode ser apresentar o
projeto ao cliente ou executá-lo na obra.
Nos desenhos a mão, podemos utilizar alguns instrumentos: a prancheta
ou mesa; régua T; escalímetro; esquadro; compasso; bolômetro; lapiseira;
borracha; canetas de várias espessuras e cores; etc.
Para o desenho no computador existem diversos programas, entre eles o mais
utilizado na arquitetura e engenharia é o software AutoCAD. O AutoLANDSCAPE
é especíico para o paisagismo, e funciona junto com o AutoCAD para a
apresentação de projetos de paisagismo, quantiicação e orçamentos.
Além disso, para apresentar um projeto à mão ou no computador existem tipos
e formatos especíicos de papéis. Para o primeiro caso, o papel “manteiga”
e o papel vegetal são os de uso mais frequente e no segundo, que precisam
ser plotados ou impressos, é o papel sulite de gramatura geralmente mais
grossa. Veja na tabela abaixo os formatos mais utilizados:
42
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
formato - classe
série a - mm
A0
841 x 1189
A1
594 x 841
A2
420 x 594
A3
297 x 420
A4
210 x 297
escala
O desenho de um projeto no papel nada mais é do que a representação
da realidade. As medidas desse desenho mantêm uma proporção com as
dimensões reais e seu tamanho na folha de papel vai depender da escala
escolhida, que vai variar com o objetivo. Podemos usar as seguintes escalas:
escala real
É utilizada quando o tamanho do desenho do objeto é igual ao tamanho
real do mesmo.
Escala 1: 1
1 cm = 1 cm
Escala real
escala para redução
Quando o tamanho do desenho do objeto é menor que o tamanho real do
mesmo, utilizamos nos projetos de paisagismo para fazer plantas, cortes
e elevações.
Escala 1: 200
1 cm = 200 cm
1 cm = 2 m
Escala para redução
Escala 1: 100
1 cm = 100 cm
1 cm = 1 m
Escala para redução
Escala 1: 50
1 cm = 50 cm
1 cm = 0,5 m
Escala para redução
43
c ap ítulo 3 - R E C UR SOS GR ÁF IC OS
escala para ampliação
Quando o tamanho do desenho do objeto é maior que o tamanho real do
mesmo, utilizada nos projetos de paisagismo para fazer detalhes. Devemos
lembrar também que quanto maior for a escala mais detalhado será o
desenho.
Escala 2: 1
2 cm = 1 cm
Escala para ampliação
Foto: Acervo Escola de Jardinagem
Foto: Acervo Escola de Jardinagem
O escalímetro é um instrumento na forma de triangulo, ele tem 6 réguas com
diferentes escalas, é o que utilizamos para medir e desenvolver desenhos
em escala real, reduzida e ampliada.
o que é um projeto?
O projeto é um instrumento onde através dele organizamos todas as idéias
e soluções para um determinado espaço, através da linguagem do desenho.
Para realizá-lo precisamos levar em consideração diversos elementos que
serão levantados na entrevista com o cliente e no local onde este será
implantado. Além disso, o projeto também mostra quanto será o custo desta
obra, pois nele consta todos os elementos e informações que estão na
planilha de custos. Observe o organograma abaixo:
44
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
conhecer o cliente
entrevista com o cliente
levantamento do local
proposta de trabalho
projeto
apresentação
custos profissionais
estudo preliminar
anteprojeto
executivo
elementos construídos
plantio
obra
Geralmente o projeto é desenvolvido por etapas, para evitar retrabalho. A
primeira é o estudo preliminar, momento onde todas as informações do
levantamento de dados no local e da entrevista com o cliente são compiladas
em um croqui.
Depois de apresentar ao cliente partimos para o próximo passo, o anteprojeto:
nele já constarão diversas informações, como os elementos construídos,
elementos vegetais e mobiliários, além de suas respectivas legendas.
Acrescentamos aqui a importância de também mostrar para o cliente
algumas imagens de referência, como as que foram utilizadas para a criação
do projeto, tanto da vegetação quanto dos acabamentos e mobiliários; isso
serve como complemento e ajuda no entendimento do cliente, que, muitas
vezes, é leigo no assunto.
c ap ítulo 3 - R E C UR SOS GR ÁF IC OS
45
Após esta etapa, pode ser necessária uma consulta com os proissionais que
irão auxiliar no desenvolvimento do próximo passo, o projeto executivo. Este
precisa ter uma linguagem muito clara e técnica, para ser entendida na obra.
Podemos dividir o projeto executivo em dois, que devem ser desenhados em
folhas separadas, para facilitar a leitura e não misturar informações: projeto
executivo dos elementos construídos e projeto executivo de plantio.
Ilustração: Patrícia Morales Bertucci
Como o foco aqui é o paisagismo, vamos focar no projeto de plantio. Este deve
conter: localização das espécies, quantidade, porte e distância de plantio.
legenda geral:
quantidade
cÓdigo/especificação
porte/altura (cm)
dist. plantio (cm)/cor da flor
Como tudo não pode ser explicado no projeto, também precisaremos de algumas
planilhas para nos auxiliar. Segue abaixo alguns exemplos de planilhas:
46
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
quantidade
nome popular
espaçamento
nome
altura da muda
código
árvores, palmeiras e arbustos
orçamento
ABGR Abelia x grandiflora
Abélia-da-china
1,20m 0,80m 72 -
AEBL Aechmea blanchetiana
Bromélia
0,50m 0,90m 18 -
ALCA Allamanda cathartica
Alamanda-amarela-
0,50m 0,50m 11
ALPU Alpinia purpurata
Gengibre-vermelho
1,00m 0,60m 54 -
AVCA Averrhoa carambola
Carambola-
1,50m -1
BAFO Bauhinia forficata
Pata-de-vaca
3,00m -8
BAGR Bambusa gracilis
Bambuzinho-de-jardim
com 5 hastes
2,00m 0,70m 147 Muda
bem formadas
CAEC Caesalpinia enchinata
Pau-brasil-
2,00m -3
CAFI Cassia fistula
Chuva-de-ouro
1,50m -1
-
CLSP Clerodendron splenders Clerodendro
0,50m -2
Flor vermelha
CLTH Clerodendron thomsonae Lágrima-de-cristo
0,50m -2
-
COTE Cordyline terminalis
CordilineF
1,20m 0,60m 5
olhas verdes
DOWA Dombeya wallichii
Astrapéia
1,50m 4,00m 5
Conduzir como
arvoreta
DRMA Dracaena marginata
Dracena-de-madagascar 0,50m 1,80m 3
DYLU Dypsis lutescens
Areca-bambu
Flor branca
Folhas verdes
com 5 hastes
1,50m 1,00m 58 Muda
bem formadas
forrações
código
nome
nome popular
altura da muda espaçamento
área
AGAF
Agapanthus africanus Agapanto
0,30m
0,30m
17,12m²
ARRE
Arachis repens
Amendoim-rasteiro
0,10m0
,15m
4,14m²
CTSE
Clenanthe selosa
Maranta-cinza8
0,30m
0,40m
,26m²
DIBI
Dietes bicolor
(touceira bem form.)
0,50m
0,60m
entre touc
Moréia-creme
39,96m²
47
c ap ítulo 3 - R E C UR SOS GR ÁF IC OS
material
VA.DRMA+AR Vaso de concreto com prato, com 1,20m
01 dracena marginata e 0.3m2 de
grama amendoim
VA.DYLU+OJ1 Vaso de concreto com prato, com
01 areca marginata e 0.3m2 de
grama preta
1,20m
quantidade
código
altura da muda
vasos
6
observações
Vaso vogue, linha lisa, modelo
CL-3, pintado de branco
tel. (11) 75240509 ou similar
0
Vaso vogue, linha lisa, modelo
CL-3, pintado de branco
tel. (11) 75240509 ou similar
outros
material
espessura
área
Argila expandida
0,20m
23,33m²
Pedra britada cinza clara nº15
0,05m
106,39m²
volume
4,67m³
,32m³
observações
sobre laje da portaria
para caminho de pedrisco
Além destas planilhas, é importante que juntamente ao projeto executivo,
sejam realizados os memoriais descritivos para serem entregues como
complemento ao projeto. Nele deve conter: tamanho de covas, tipos de
tutores, os tipos de terra, com as correções e a adubação adequada, etc.
Além de informações sobre manutenção, como: irrigação, podas, adubações,
escariicação da terra para aeração quando as espécies estiverem recémplantadas, em formação e adultas.
representação de um projeto
Para apresentar um projeto utilizamos as seguintes vistas: planta, corte,
elevação, perspectivas e detalhes ou ampliações.
planta
Vista superior horizontal do plano localizado a, aproximadamente 1,50 m do
piso em referência. A altura desse plano pode ser variável para cada projeto
de maneira a representar todos os elementos considerados necessários.
48
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
5.00
3.50
0.20
churrasco
com coifa
bancada
granito
com cuba
Ilustração: Patrícia Morales Bertucci
4.50
0.80
0.15
1.50
pilar
20x20
proj. cob
planta
esc. 1:100
elev.1
corte
corte a
esc. 1:100
Ilustração: Patrícia Morales Bertucci
Plano vertical que divide a ediicação em duas partes, seja no sentido
longitudinal, seja no transversal. Ele deve ser disposto de forma que o
desenho mostre o máximo possível de detalhes construtivos.
49
c ap ítulo 3 - R E C UR SOS GR ÁF IC OS
elevação
Ilustração: Patrícia Morales Bertucci
Representação gráica de planos internos ou de elementos da ediicação.
elevação 1
esc. 1:100
perspectivas
perspectiva
Ilustração: Patrícia Morales Bertucci
Representação gráica que mostra os objetos como eles aparecem a nossa
vista, com três dimensões.
detalhes ou ampliações
Representação gráica de todos os pormenores necessários, em escala
adequada, para um perfeito entendimento do projeto e para possibilitar sua
correta execução.
50
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
elementos arquitetônicos
Ilustração: Patrícia M. Bertucci
alvenaria
alv. alta
linha grossa
alv. baixa
linha fina
corte
esc.1:100
planta
esc.1:100
elevação
esc.1:100
caixilhos
portas
Ilustração: Patrícia M. Bertucci
janelas
fixa
mobiliários
mesa
banco
espreguiçadeira
guarda sol
Ilustração: Patrícia M. Bertucci
abrir
correr
brinquedos
gangorra
ponte
casinha com
escorregador
Ilustração: Patrícia M. Bertucci
51
c ap ítulo 3 - R E C UR SOS GR ÁF IC OS
Ilustração: Patrícia Morales Bertucci
iluminação
poste (1 pétala)
arandela
poste (2 pétalas)
baliZador
projetor (espeto)
projetor (embutido)
52
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
elementos vegetais
Com relação aos elementos vegetais, o mais importante é que haja uma
diferenciação da representação gráica entre as espécies que serão utilizadas,
sempre considerando o seu estágio adulto. Essa diferenciação pode ser feita
por meio de tamanhos diferentes, graismos, texturas e cores.
árvores
5m
8m
5m
árvore
grande
planta
elevação
4m
5 a 8m
planta
elevação
2m 2m
4 a 5m
árvore
pequena
planta
elevação
Ilustração: Patrícia Morales Bertucci
4m
árvore
média
53
c ap ítulo 3 - R E C UR SOS GR ÁF IC OS
palmeiras
3m
1.5m
elevação
planta
3m
elevação
planta
elevação
Ilustração: Patrícia Morales Bertucci
planta
pequena
média
8m
4m
15m
grande
baixos
elevação
planta
0.4/1m
2 a 5m
planta
escandentes
0.4/1m
altos
elevação
maciço
elevação
Ilustração: Patrícia Morales Bertucci
planta
Ilustração: Patrícia M. Bertucci
arbustos
54
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
taludes
Taludes são superfícies inclinadas naturais ou resultantes de obras de
terraplanagem, quando da construção de plataformas.
+3,00
+o,00
0,00
+3,00
corte
planta
curvas de nível
As curvas de nível descrevem as características físicas da superfície de uma
determinada área, no que se refere aos desníveis existentes. Qualquer ponto
que tomarmos sobre uma mesma curva representada no desenho estará no
mesmo nível, e quanto mais próximas estiverem as curvas de nível ente si
mais íngreme será o terreno.
planta
corte
quantificação
Para quantiicarmos determinados elementos (grama, terra e pisos, por
exemplo) que serão empregados durante a implantação do projeto de
paisagismo, é preciso relembrar alguns conceitos como área e volume.
55
c ap ítulo 3 - R E C UR SOS GR ÁF IC OS
Área é a medida de uma superfície plana. Para as iguras geométricas
básicas temos:
b
l
h
i
i
b
a=b+b.h
2
a=l.i
a=i.i
h
r
b
a=b.h
2
a = x . r², onde x = 3,14
Para o cálculo da área de iguras complexas como a seguinte, devemos
subdividi-la em iguras geométricas básicas.
a1
a2
a3
a4
a total = a1 + a2 + a3 + a4
Volume é a medida do espaço ocupado por um sólido.
Para o cálculo do volume de um cubo, basta multiplicarmos a área da base
pela altura do cubo. Da mesma forma, para obtermos o volume de um cilindro,
multiplicamos a área do círculo da base pela altura.
56
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
h
h
r
i
v = i . i .h
modelo de folha para apresentação de projeto
norte
margem
2,5cm
legenda
projeto
situação sem
escala
margem
1cm
título/escala
carimbo
folha formato a2 para entrega do projeto final
O projeto de paisagismo é composto de vários desenhos, divididos em folhas
separadas de acordo com o assunto. Dessa forma podemos ter uma folha
com elementos arquitetônicos, outra com vegetação, outra com detalhes e
assim por diante. A escolha da escala do desenho dependerá basicamente
do espaço disponível e do nível de detalhamento desejado.
c ap ítulo 3 - R E C UR SOS GR ÁF IC OS
57
Ilustrações: Patrícia Morales Bertucci
referÊncias bibliográficas
MONTENEGRO, Gildo A. Desenho Arquitetônico. Editora Edgard Blucher, 2001.
OBERG, L. Desenho Arquitetônico. Editora Imperial Novomilenio, 1997.
ABBUD, Benedito. Criando Paisagens. Guia de Trabalho em Arquitetura
Paisagística. Editora SENAC, São Paulo, 2007.
NBR 6492 - Representação de Projetos de Arquitetura.
NBR-10067 – Princípios gerais de representação em desenho técnico.
c ap ítulo 4 - R E C UR SOS V E GE TAIS
59
Muitas pessoas que trabalhando com jardins acham que escolher a planta para
uma área é uma tarefa muito difícil, e é, mas também é a mais deliciosa, ainal
o Brasil tem a maior biodiversidade do mundo, entre plantas e animais. Em um
alqueire de Mata Atlântica encontramos mais espécies que Canadá e EUA juntos.
São tantas plantas disponíveis para uso, entre nativas (originárias do Brasil) e
exóticas (introduzidas de outros países), que é difícil escolher somente algumas.
Sabemos que em alguns projetos paisagísticos estes elementos não estão
presentes, mas na grande maioria eles compõem uma das partes mais
importante no jardim.
São os elementos que dão vida, pois têm vida. Um jardim é uma composição
mutável e a cada mês ou estação se apresenta de uma maneira. Por isso é
imprescindível um estudo profundo destes elementos.
Como todo ser vivo as plantas nascem (germinam), crescem (crescimento
vegetativo) e se multiplicam (lorescem, produzem frutos, sementes, e até
se multiplicam vegetativamente) e a cada momento se apresentam de uma
maneira diferente. Se o objetivo é ter lores em todas as épocas, então, é só
escolher plantas que lorescem nas quatro estações. Ao contrário de muitos
países, onde o inverno vigoroso não permite o lorescimento o ano todo, no Brasil
isso é possível.
Um bom jardineiro não só mantém a planta viva, mas faz com que ela viva bem
e para isso deve respeitar suas necessidades, que está muito relacionada com o
seu ambiente natural. Para facilitar a escolha da planta, pode-se começar por
eliminar o que não se adapta. Podemos seguir a seguinte lista:
condições ambientais
Em primeiro lugar devemos respeitar as necessidades de cada planta.
• Qual a face do jardim, o lado norte recebe praticamente o sol o dia
todo, enquanto a face sul recebe muito pouco, deve-se considerar as
construções e vegetação existente. Quantas horas diárias de sol o ambiente recebe?
• Qual o tipo de solo?
• Qual a declividade? Pedir o levantamento plani-altimétrico.
60
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
• Existe água em abundância e de boa qualidade?
• Qual o espaço para o pleno desenvolvimento da planta, parte aérea e
sistema radicular.
• Região, clima.
• Que tipo de vegetação existe no entorno?
• Há presença de ventos fortes?
• Existe algum tipo de inseto ou outros animais que podem atrapalhar
o desenvolvimento das plantas? Podemos usar algumas espécies que
sejam resistentes ou afastem esses animais?
• Por onde passa a iação elétrica – pedir a planta elétrica da casa.
• Por onde passam as tubulações – pedir a planta hidráulica da casa.
Estas são algumas das perguntas que podemos começar a fazer para a
escolha das espécies. De um jeito mais simples podemos até começar pelas
diiculdades que o terreno apresenta.
Vamos fazer um exercício hipotético para ver como podemos reduzir o número
de opções de plantas para um jardim:
Imagine que você tem 1.000 opções de plantas que gostaria de colocar no
jardim e não sabe qual escolher. O local tem muito sol e somente 50% das
plantas se adaptam a esta condição, então o número cai para 500. Há muito
vento, também ocorre uma redução de pelo menos 300 espécies, o espaço
é pequeno, mais umas 100 são eliminadas, agora em vez de 1000 espécies,
existem 100 possibilidades. Por exemplo:
o local
escolha
Sombreado
Plantas de meia-sombra, que sejam
originalmente de mata e naturalmente
sombreadas por outras plantas.
Talude
Plantas com raízes fortes que segurem taludes.
Encharcado
Plantas que costumam crescer junto a rios,
lagos etc.
Muito vento
Plantas com folhas resistentes, que deixem
passar o vento e que sejam flexíveis.
Pouco espaço para o
Plantas e porte pequeno e que possam
desenvolvimento das raízes. acumular água de reserva.
c ap ítulo 4 - R E C UR SOS V E GE TAIS
61
análise do cliente
Cliente: Quanto mais o cliente se integrar ao jardim, mais participará e
o resultado será melhor. É muito importante saber qual o peril do cliente.
Alguns fatores a serem observados:
• Qual seu estilo de vida?
• Qual a verba disponível?
• Tem prazer em fazer a manutenção?
• Contratará um jardineiro para manutenção?
• Idade dos moradores e grau de sociabilidade
• Presença de alguma deiciência física.
• Gosto ou aversão por determinada espécie.
• Possui cachorros ou gatos? Que raça?
• Qual o estilo de jardim que mais lhe agrada?
• É alérgico a alguma planta?
Acredito que o jardim deve ter a identidade do dono do jardim, para que ocorra
o pertencimento e realmente a apropriação.
Seguindo o exercício anterior, temos 100 opções, mas o cliente tem pouca
verba para implantação do jardim, então, este número cai para 50, se possui
cachorro, agora são 30.
Observação: os cachorros, costumam atacar plantas que se mexem com o
vento, pois pensam que são pássaros. Eles também adoram brincar com o
copinho das bromélias e acabam por matá-las.
objetivo do jardim-finalidade
Função do jardim: Para que está fazendo este jardim?
• É um lugar onde quero apenas icar em paz, lendo um livro?
• Preciso chamar a atenção das pessoas que passam por perto?
• Quero isolar a área da minha casa?
• Uma estufa para minha terapia diária?
• Um jardim esportivo
• Um jardim com utilidades como a de fornecer alimentos
62
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
Depois de serem respondidas todas estas perguntas, vem a parte da criação.
Um jardim deve ser belo e formar um conjunto harmônico.
E para isso mais algumas perguntas.
Ainda continuando com os cálculos: temos 30 opções, mas precisamos de
plantas que chamem muita atenção, que normalmente são aquelas com
cores quentes (vermelho, amarelo ou laranja) ou tenham formas diferentes.
Então, nosso número cai para 10.
estética
•
•
•
•
•
•
Qual o estilo da casa?
Qual o tipo de arquitetura?
Qual a localização do terreno e quais as plantas existentes?
Quais os pontos atrativos?
O que devemos realçar ou esconder?
Como fazer uma composição harmoniosa?
O gosto e a beleza são subjetivos, mas devemos considerar que o jardim será
apreciado todos os dias pelo dono do jardim, o jardim é dele, então o gosto é
dele, podemos até sugerir algumas modiicações, mas sempre respeitando o
gosto do dono do jardim.
As modiicações que devemos insistir são relacionadas com as necessidades
das plantas e as condições ambientais. Caso o cliente queira uma planta que
precise de muito sol dentro da sua varanda, onde não bate sol. Ela morrerá
por falta de adaptação ao ambiente, neste caso é melhor não plantar.
Das 10 espécies possíveis precisamos de uma que seja alta, pois é necessário
que esconda uma parede feia. Então, sobram somente umas quatro espécies
possíveis. Fica bem mais fácil escolher não?
Para escolha é necessário juntar todos os fatores e em alguns casos priorizar
algum fator, por exemplo, para áreas públicas como canteiro central a
segurança é o principal item.
Além disso, a disposição das plantas deve obedecer uma certa organização,
c ap ítulo 4 - R E C UR SOS V E GE TAIS
63
pode-se começar pelo porte (quando adultas): plantas baixas, médias ou
altas - pode-se fazer uma relação com uma casa, existem as plantas que
formam o “piso”, as “paredes” e o “teto”.
plantas baixas ou “pisos”
Gramados, forrações e algumas loríferas (sendo que as loríferas funcionam
como um acabamento, um detalhe mais elaborado da composição).
plantas médias ou “paredes”
Folhagens, arbustos, trepadeiras.
plantas altas ou “tetos”
Árvores e palmeiras.
Para que se tenha uma boa visão não se pode plantar espécies altas na frente
das menores, ou, estas não aparecerão.
Para se escolher uma árvore, um dos pontos principais é a relação com a
área, o espaço tem que ser suiciente para o desenvolvimento de sua copa,
raíz e tronco. Além disso, a produção de frutos, lores e consistência dos
galhos são aspectos fundamentais.
Os arbustos são bastante usados para formação de cercas vivas ou
para substituir uma árvore por falta de espaço, deve-se ter os mesmos
cuidados que na escolha das árvores, com atenção especial para o tempo
de desenvolvimento da planta e ao local mais adequado para o seu pleno
desenvolvimento. Pois ao contrário das árvores, alguns arbustos de
desenvolvem bem em locais mais sombreados.
As forrações são escolhidas em função da luz, solo, cor, uso do jardim,
topograia etc. Com um número muito grande de espécies as forrações são
usadas para “enfeitar” um jardim ou para substituir o gramado em locais
onde estes não se desenvolvem.
Os gramados dão o tom do jardim, através dele podemos identiicar se
um jardim é bem cuidado ou não. A escolha da grama certa e do tipo de
64
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
implantação é de fundamental importância. É recomendado fazer uma
análise de custo benefício para saber se o gramado será implantado por
placas, mudas ou sementes, pois o valor do investimento é inversamente
proporcional ao tempo que ele leva para cobrir todo o solo.
Muitos alunos me perguntam “Qual a melhor escola ou o melhor curso de
paisagismo” A melhor escola é o jardim e o melhor curso é a curiosidade,
dedicação e organização. Através da pesquisa pessoal pode-se adquirir
um ótimo banco de dados para ser usado futuramente ou simplesmente
aumentar seu conhecimento.
Aconselha-se ter um caderno só para estudo das plantas e lá deve ser anotado o
nome, em que condições foi encontrada (sol/sombra, etc.), espaço que ocupa
(porte), forma de crescimento (rápido/ lento), tipo de copa, características da
raiz (pivotante, cabeleira, agressiva, etc.), cor das folhas e lores, época de
loração, se possui algum tipo de cheiro ou substâncias alérgicas, enim um
histórico desta planta. De preferência que este estudo seja acompanhado de
fotos da planta. A lista a seguir ajuda muito na hora da escolha:
Gramas
• Resistência à falta de água;
• Necessidade de menos podas;
• Qual a mais bonita?
• Resistência a local mais sombreado.
Forrações
• Forrações de sol, meia-sombra;
• Quais as cores e formas de suas folhas?
• Produzem lores atraentes?
• Qual o tempo de crescimento?
Arbustos
• Quais fecham melhor uma área;
• Produzem lores atraentes?
• Quando lorescem?
• Quais as cores das lores e das folhas?
• Atraem pássaros?
• Possuem espinhos?
Trepadeiras
• Qual o tipo de estruturas para se ixar?
65
c ap ítulo 4 - R E C UR SOS V E GE TAIS
•
•
•
•
Produzem lores, quais as cores?
Quando lorescem?
É muito agressiva?
Possibilita um espaço entre a planta e a parede que pode abrigar
insetos e outros animais menores?
• Exala perfume?
Árvores
• Árvores de pequeno, médio ou grande porte?
• Produzem frutos comestíveis?
• Tipo de raiz,
• Tipo de copa,
• Fornecem sombra densa?
Não podemos designar o que um proissional deve fazer, mas é realmente
triste ver pessoas plantando espécies que seguramente irão morrer por não
se adaptarem ao ambiente ou por não serem plantadas adequadamente ou
não receberem a manutenção devida.
O paisagista é um proissional do meio ambiente e tem por dever respeitá-lo.
Quanto menos um ambiente for modiicado mais chances ele terá de
permanecer com o projeto. E quanto as plantas...
O que transforma uma semente de 2 cm
em uma linda árvore de 20 m. de altura?
A primeira resposta que surge é: O tempo.
Porém se deixarmos esta semente sobre um armário dentro de um quarto
ela jamais se transformará em árvore, pois ela precisa de “cuidados” que são
traduzidos como água, luz, calor, solo, nutrientes, tratamento itossanitário,
atenção, amor etc.
referÊncias bibliográficas
BRASIL. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Relatório Nacional para a convenção
sobre diversidade biológica. Brasília: MMA, 1998.
TUPIASSÚ, Assucena. Da planta ao Jardim. 1ª. Ed. São Paulo: Nobel, 2008
c ap ítulo 5 - R E C UR SOS AR QUITE TÔN IC OS
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Após conversa com usuário(s) e/ou proprietário(s) é feita a análise das
características do terreno, do entorno, do clima, entre outros, elabora-se um
estudo preliminar, onde vão constar os elementos arquitetônicos e vegetais
que, vistos como um todo, constituirão o paisagismo da área.
Os elementos arquitetônicos constantes neste item foram divididos em
sete grupos:
• Circulação e pisos;
• Divisórios;
• Pequenas construções;
• Uso da água;
• Obras de arte;
• Playground;
• Infra-estrutura.
Suas funções englobam questões funcionais e utilitárias e também as formas
de lazer:
• Passivo – desenvolvido sem atividade física.
• Ativo – atividades onde o exercício e a movimentação são uma constante.
Alguns elementos também apresentam função simplesmente estética no
jardim, ou, agem melhorando o microclima.
Zoneamento / implantação:
Identiicados os elementos que serão implantados na área, é feito um
zoneamento, setorizando o terreno e permitindo o desenvolvimento do projeto.
Inicia-se a deinição de localização de elementos diversos, em função das
características de cada um deles.
Aspectos a serem considerados:
• Características do uso;
• Conforto: térmico, visual, auditivo, luminoso, tátil;
• Segurança;
• Graus de intimidade/exposição;
• Relação com os arredores: continuação/bloqueio;
• Características de manutenção.
68
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
circulação / pisos
caminhos
Caminho é o elemento de integração entre os equipamentos (áreas e
elementos arquitetônicos e vegetais).
Podem ser permeáveis ou impermeáveis.
É desejável que ocupem a menor área possível, pois setorizam (fazem um
zoneamento dos espaços), dividindo o terreno e as áreas ajardinadas.
Foto: Sarita Brulé
Podem ser retos ou sinuosos, o que inluencia na velocidade do percurso.
Podem ou não ser ladeados por orlas, elementos que fazem a divisão entre
a área de circulação e a área ajardinada.
Representação gráica
A deinição dos limites e da largura da circulação é importante, antecedendo
a escolha do material de pavimentação.
largura
69
c ap ítulo 5 - R E C UR SOS AR QUITE TÔN IC OS
pisos
A execução do piso é feita sobre solo compactado, assentado sobre camada
de areia.
Nos casos em que o solo é menos resistente, é executado sobre um lastro de
concreto magro.
os pisos podem ser executados com os materiais mais diversos
pisos
composições
Cimentado
Grama
Placas de concreto
Tijolo
Pedras
Mineira
Seixos
Miracema
Seixo branco
Paralelepípedos
Arenito
Ardósia bruta
Cerâmica
Goiás
Grelha de concreto
Pedrisco
Mosaico português
Lajota de cerâmica
Cimentado
Tijolo de barro
Mistura de tamanhos e formas
Ladrilho hidráulico
Etc.
Mosaico português
Seixo rolado
Dormentes
Bolacha de madeira
(tratamento à base de resina)
Madeira (decks)
Seixo branco
Terra batida
Grelha de concreto/grama
Blocos de concreto
Arenito
Emborrachado
Intertravado, etc.
70
Foto: Elaine Martinez Diaz
Foto: Maria de Lourdes da Costa
Foto: Acervo Escola de Jardinagem
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
a escolha do piso depende do uso que se pretende faZer
Madeira (ver decks)
Local agradável, aconchegante
Dormentes
Bolacha de madeira
Local para festa ou jogos
Para crianças
Cimentado
Pedras (mineira, ardósia, arenito)
Materiais não muito duros
(tijolos, deck, grama, areia, etc.)
Piso emborrachado
Para clarear o ambiente
Pedras (claras)
Concreto
Decks de madeira
Quando o excesso de luz é o problema
Mosaico português
Grama
Bordas de piscina
Materiais que apresentem conforto
térmico e textura agradável (pedra
mineira, tijolo, decks, etc.)
71
c ap ítulo 5 - R E C UR SOS AR QUITE TÔN IC OS
Tipos de piso
mineira
Foto: Acervo Escola de Jardinagem
ardÓsia
miracema
goiás
pedra portuguesa
pedriscos
arenito vermelho
seixos
intertravado
escadas / rampas
Diminuem a velocidade de percurso favorecendo o aproveitamento do espaço
para criação de áreas especialmente tratadas paisagisticamente.
Devem ser executadas em materiais não muito lisos.
A fórmula utilizada para se ter conforto no percurso é:
p
h
h= altura
p= piso
72
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
Temos que considerar, no entanto, que em espaços externos esta fórmula
nem sempre é utilizada, uma vez que os espaços necessários para o estar e
para a circulação são maiores do que nas áreas internas.
As rampas também podem ser utilizadas para vencer desníveis.
Nas rampas podemos ter um máximo de declividade de 10%, o ideal é que
esta seja menor, propiciando rampas mais suaves.
10% declividade
0,10m
1m
circulação de veículos
Suas dimensões dependem basicamente do número e tipo de veículos que
utilizarão a circulação. Deve-se evitar a interferência com a circulação de
pedestres e com outras áreas do jardim.
decks
• Planos, contínuos ou seccionados, determinando pisos, isolando as
espécies vegetais e conservando gramados, os decks possuem execução especíica, em geral adaptada ao relevo.
detalhe construtivo
(sem escala)
construção do deck
assoalho
longaninas
“chamada”
de madeira
base do
concreto
vigamento
camada fértil
(solo)
terreno aplicado
vigas
concreto
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c ap ítulo 5 - R E C UR SOS AR QUITE TÔN IC OS
Foto: Maria de L. da Costa
Foto: Maria de L. da Costa
• Executados em madeira adequada (massaranduba, aroeira, peroba),
exigem manutenção permanente que pode ser feita com esparlaque
ou óleo queimado, por exemplo.
bancos
Foto: Marco Antonio Braga
• Nas áreas públicas, os bancos são executados visando rotatividade dos
usuários; nas áreas particulares, normalmente são ligados e emoldurados pelos planos de piso (permanência transitória e prolongada);
• Nas áreas particulares sua concepção e seus materiais são mais variados, gerando maior conforto e maior tempo de utilização.
• Deve haver harmonia entre os materiais e formas com o projeto arquitetônico e paisagístico.
• É importante a veriicação da insolação e ventos para sua localização,
visando maior conforto.
áreas de estar
• Localizada em áreas de maior calma e tranquilidade.
• Área de lazer passivo, intimidade ou de ponto de interesse.
• É interessante que exista mais de uma área de estar, quando em terrenos de grandes dimensões.
74
Foto: Elaine Martinez Diaz
Foto: Elaine Martinez Diaz
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
Foto: Maria de L. da Costa
Foto: Maria de L. da Costa
divisÓrios
cercas
• Impedem a circulação em determinadas áreas;
• São executadas em materiais e tipologias variados;
• As cercas mais altas e fechadas podem criar ambientes de intimidade
no lado interno.
muros
• Podem também aparecer formando loreiras em prédios com subsolo;
• Revestidos de vegetação ou simplesmente pintados;
• Exercendo a função de segurança ou de dividir ambientes.
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c ap ítulo 5 - R E C UR SOS AR QUITE TÔN IC OS
pequenas construções
pérgulas
Foto: Marco Antonio Braga
Foto: Acervo Escola de Jard.
• Lazer passivo e utilização funcional;
• Criadas para estares semi cobertos (caráter social), mas comportam
outras funções no jardim e junto às ediicações;
• Possibilitam o cultivo de espécies de meia sombra e de interior;
• A pérgula normalmente acompanha a linguagem arquitetônica da
ediicação;
• Materiais: madeira, concreto, alvenaria, ferro;
• São muito usadas como cobertura de jardins internos.
gaZebo
• Criado para atividades de caráter social e de lazer passivo;
• Desligado do corpo principal da casa, usualmente inserido em áreas
que permitem intimidade e visual privilegiado;
• Possui características e dimensões variadas;
• É elemento de destaque na paisagem;
• Materiais diversos: madeiras, treliças, alvenaria, concreto, ferro e vidro
ou policarbonato, lona, etc.
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c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
quiosque
Foto: Maria de L. da Costa
Foto: Maria de L. da Costa
• Nome de origem turca designando equipamento urbano de uso comercial;
• Possui caráter social de lazer ativo e passivo;
• Alguns possuem churrasqueira, pia, forno de barro e mobiliário especíico;
• Utilizado para refeições, guarda sol em praias ou piscinas, bares, etc;
• Importante quando estiverem em conjunto que se veriique a insolação
e ventilação.
caramanchão
Foto: Maria de L. da Costa
Foto: J. N. Shiraki
• Estrutura executada usualmente em materiais delgados. Suporte para
trepadeiras loríferas. Seu uso depende do projeto arquitetônico da
ediicação e do paisagismo como um todo;
• Trata-se de um elemento de destaque no jardim.
quadras
Faz parte do lazer ativo, geralmente poliesportivas.
Devem receber orientações especíicas como:
• Caimento do piso;
• Coleta de águas pluviais, drenagem;
• Eixo de insolação (N);
• Cercamento/isolamento adequado (visual, ventos, ruídos, distância
com outras áreas sociais);
• Tratamento paisagístico próprio;
c ap ítulo 5 - R E C UR SOS AR QUITE TÔN IC OS
77
Foto: Maria de Lourdes da Costa
• Proximidade de vestiário/sanitário;
• Iluminação noturna.
De modo geral, as quadras poliesportivas possuem as dimensões: 16 x
27 metros.
uso da água
piscinas
Foto: Maria de Lourdes da Costa
• Elemento de lazer ativo intenso;
• Localizadas em função do relevo e solo - que, caso não sejam adequados, podem encarecer sua execução;
• Cuidados no tratamento de insolação/ventilação de inverno (proteção);
• Cuidados na especiicação de árvores e arbustos (perda de folhas);
• Proximidade de vestiários;
• Conlito com áreas sociais - devem se distanciar dessas áreas ou serem divididas com vegetação;
• Interferência visual e auditiva da casa de máquinas subterrânea;
• Previsão de iluminação noturna;
78
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
Foto: Maria de Lourdes da Costa
• Os materiais de revestimento devem ser lisos;
• O material de piso das bordas deve ser adequado tanto termicamente,
quanto em relação à textura;
• Os acessos e a circulação devem ser simples;
• O conjunto piscina, área de entorno (materiais) e outros elementos
presentes (quiosques, pérgulas) e o tratamento paisagístico, não é
analisado separadamente. Seu efeito depende de um planejamento
equilibrado. A piscina sempre tem um efeito de muito destaque no
local onde se insere;
• O formato deve se harmonizar com o plano geral do jardim para minimizar suas proporções;
• O revestimento em cores claras aumenta a impressão de águas límpidas;
• São executadas em diversos materiais (concreto, iblerglass, vinil);
• Revestidas em azulejos, vidrotil, pintura impermeabilizante;
• A deinição do formato da piscina depende do uso predominante que
esta terá;
• Para natação é aconselhável piscinas mais regulares, dimensões mínimas de 7.00, 8.00 metros - sendo aconselhável a dimensão de aproximadamente l0.00 metros em uma das laterais;
• Para o lazer, a adoção de formas mais arrojadas é interessante.
cascatas
• Naturais ou artiiciais, as cascatas são um elemento de destaque
na paisagem;
• Sua proximidade é agradável, repousante e refrescante;
• As cascatas artiiciais são executadas em materiais variados como pedras (imitando as naturais), concreto, calhas de cerâmica e outros.
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c ap ítulo 5 - R E C UR SOS AR QUITE TÔN IC OS
espelhos d’água
• Oriundos de países do Norte da África, Mediterrâneo e Extremo Oriente
são utilizados para o aumento da umidade relativa do ar no interior
de ambientes cobertos e também em áreas descobertas. Possuem
aspecto ilosóico e simbólico (puriicação);
• Aumentam a luminosidade em função da relexão;
• É comum o plantio de espécies aquáticas;
• A manutenção deve ser constante evitando a formação de lodo e acúmulo de folhas;
• Revestimentos mais utilizados: pintura impermeabilizante, vidrotil, azulejos, entre outros;
• Quando houver fonte recomenda-se que a altura (H) não seja maior
que a distância desta à borda (D).
Foto: Sarita Brulé
Foto: Elaine Martinez Diaz
h<d
pontes
• Aparecem ligadas ao elemento água ou a acidentes geográicos e possuem forte simbologia (o “andar sobre as águas”), além de obter destaque natural no contexto paisagístico e criar foco de interesse;
• Aparece com inúmeras tipologias e os materiais utilizados são: madeira, ferro, aço, concreto.
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Foto: Maria de Lourdes da Costa
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
obras de arte
As obras de arte são um detalhe soisticado no paisagismo.
Podem ser de caráter religioso, decorativo ou venerativo.
Foto: Maria de L. da Costa
Foto: Sarita Brulé
Necessitam de iluminação especíica, acessos adequados, bancos. Podendo
ter um destaque maior ou menor dentro da concepção geral da paisagem.
Podem se constituir em:
• bustos
• esculturas
• peças utilitárias (ex.: fontes)
• painéis
• pisos (mosaicos) etc.
Dão uma dimensão especial ao paisagismo que muitas vezes é desenvolvido
em função desses elementos.
Pode ser um edifício quando usadas concepções especiais ou por se tratar de
prédio de valor histórico.
81
Foto: Sarita Brulé
Foto: Acervo Escola de Jard.
c ap ítulo 5 - R E C UR SOS AR QUITE TÔN IC OS
playground
Foto: J. N. Shiraki
• Lazer ativo;
• Os novos equipamentos são executados com materiais mais orgânicos, hoje industrializados e comercializados por várias irmas (antes
executados com estruturas metálicas tubulares);
• Os novos brinquedos são um exercício de criatividade, desenvolvem
a imaginação das crianças, executados até com sobras de madeira,
pneus, canalizações de grandes dimensões, morrotes e até cenograia criada para o uso em parques: grandes bichos da mata onde as
crianças brincam, pontes, morros, corredores, etc.
A faixa etária dos usuários é em torno dos oito anos. Considerações quanto à
implantação dos playgrounds:
Segurança: Manter distância entre os equipamentos conforme o uso; separar
os brinquedos por faixa etária (crianças mais novas e mais velhas); manter
distância conveniente de elementos construídos e outras interferências.
Higiene: Cuidados quanto a limpeza e conservação (ex.: areia).
Localização: Próximo a salões de festas em prédios de apartamento ou
residências (quando houver); manter distância de outras áreas de lazer
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c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
do jardim: passivo (calma, sossego), ativo (movimento, grande número de
pessoas, interferência); distância conveniente da residência, ediicações
(controle visual).
Insolação: Sol durante pelo menos um período (salubridade) - é mais
conveniente o da manhã.
Ventos: Evitar locais sujeitos a ventos frios, sem proteção.
Área para acompanhantes: Área contígua, com bancos, destinada a
acompanhantes.
Vegetação: Disposta de maneira adequada, visando não interferir, mas isolar
o sistema, nos ângulos convenientes, até mesmo por segurança.
Pisos: Gramado, terra batida, cimentado, emborrachado, pisos diversos e
areia. Na verdade todos apresentam inconvenientes tanto quanto à higiene,
conservação, segurança. A escolha é feita em função da infra-estrutura para
conservação e o uso que terá essa área.
Com a riqueza que se tem nesses equipamentos, uma área de recreação
pode conter somente um ou dois brinquedos.
Quanto ao dimensionamento não é recomendável áreas muito grandes
(exceção aos parques). A deinição do tamanho e do número de equipamentos
depende do tipo de usuário, da localização e da área disponível: parques,
residências, sítios, prédios com grande número de apartamentos, escolas,
etc. Caso a frequência seja muito grande, pode-se dividir em várias áreas
de recreação.
infra-estrutura
É importante ressaltar que todos os itens desta categoria possuem
canalizações que podem ou não estar enterradas totalmente ou em trechos.
A obra para sua execução deve ser feita antes que o jardim seja plantado.
• Iluminação
• Irrigação
• Drenagem
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c ap ítulo 5 - R E C UR SOS AR QUITE TÔN IC OS
iluminação
Tipos de iluminação:
• Geral extraordinária (para grandes espaços públicos e viários);
• Geral pública (para áreas abertas e limitadas);
• Particular direta (para destaque de espécies/objetos/atividades);
• Particular difusa (para encaminhamentos internos).
1
2
3
4
1) Geral pública
3) Particular direta
2) Geral particular
4) Particular difusa (encaminhamento)
Funções:
• segurança;
• permitir o uso do jardim à noite;
• ressaltar detalhes;
• criar efeitos especiais.
84
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
Cada luminária tem função predominante:
projetor
baliZador
h=2d
h
h
2h
d
Projetor: iluminação de massas de vegetação com aumento de relevo na
iluminação lateral
Balizador: iluminação de caminhos.
Postes: locados abaixo dos maciços aumentam os espaços; quando
locados acima, criam sombras e o efeito é contrário.
Iluminação baixa dá a sensação agradável de aconchego.
A iluminação amarela altera a cor dos objetos, inclusive da vegetação.
A iluminação em piscinas é feita sob a água, com estrutura de cobre e
lente blindada.
irrigação
Aparece aqui com o objetivo de indicar as canalizações existentes nas
modalidades mais aplicáveis:
• Irrigação por aspersão
• Irrigação por nebulização
• Irrigação por gotejamento.
85
c ap ítulo 5 - R E C UR SOS AR QUITE TÔN IC OS
nebuliZador
aspersor rotativo
nível do solo
bocal
tubulação
tubulação
corte
irrigação por gotejamento
tubulação
gotejador
nível do terreno
na original
lençol
rebaixado
h
linha de fluxo
área molhada
galeria
l
drenagem
• Enxugamento de áreas alagadas. Ocorre frequentemente em fundos
de vale e próximo de nascentes;
• A drenagem rebaixa o nível dessas águas por meio de tubulações ou
galerias de drenagem;
• Quando em áreas extensas é necessária a instalação de vários drenos.
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c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
considerações finais
Os recursos arquitetônicos, ao lado dos recursos vegetais, formam a paisagem
como um todo.
Durante o desenvolvimento do projeto não são analisados separadamente,
mas formando um conjunto.
Os elementos arquitetônicos trazem a vegetação para o diálogo, ligando os
espaços internos e externos.
A implantação adequada da obra em relação ao solo e ao entorno existente
contribui muito para o resultado se tornar positivo.
É importante ressaltar, no entanto, que hoje, devido às características da
moderna quadra verticalizada, os elementos arquitetônicos são cada vez
mais utilizados, sendo elementos que valorizam os imóveis. Na realidade,
as porcentagens são mesmo muito altas: piscinas, quadras, quiosques,
playgrounds, etc., é importante, senão por outros motivos, que se conheçam
as formas de implantá-los e as limitações, considerando que a cidade como
um todo está cada vez mais se verticalizando.
agradecimentos
Ilustrações: Marco Antonio Braga
Fotos: Elaine Martinez Diaz, Sarita Brulé, Juscelino Nobuo Shiraki, Marco
Antonio Braga
referÊncias bibliográficas
BRAGA, M.A. et. aL. CURSO DE RECURSOS PAISAGÍSTICOS. São Paulo: Divisão
Técnica de Desenvolvimento de Tecnologia (DEPAVE-4), Departamento de
Parques e Áreas Verde, Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente,
PMSP.
BLOSSFELD,H. JARDINAGEM. São Paulo: Melhoramentos,1965. 418p.
BROOKES, J. GUIA COMPLETA DE DISEÑO DE JARDINES. Barcelona: Blume, 2005.
BROOKES, J. THE GARDEN BOOK: Designing, Creating and Maintaining your
garden. New York: Crown Trade Paperbacks.
STEVENS, D.; BUCHAN, U. ENCICLOPEDIA DEL JARDIN: Planiicacion,
Plantacion, Diseño. Barcelona: Blume, 1997.
c ap ítulo 6 - P E R C E P Ç ÃO E C OMP OSIÇ ÃO DE E SPAÇ OS
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fatores estéticos
Somamos agora aos tantos fatores que inluenciam na concepção dos jardins,
os fatores estéticos.
A composição do jardim não é mera colocação de elementos (arquitetônicos
e/ou vegetais) respondendo a questões racionalistas, ela é organização de
um espaço que procura reações de nossos sentidos (visão, audição, tato,
olfato, paladar). A leitura do ‘espaço jardim’ engloba duas características:
uma leitura racional e outra emocional.
Um jardim nunca é apenas um espaço utilitário. Sempre esperamos que ele
seja belo, original, equilibrado e harmônico.
Ao falar sobre composição, e da forma como reagimos a ela, estamos
levantando um tema que extrapola a arte dos jardins, engloba todas as outras
artes e diz respeito a nosso dia a dia.
percepção
Somos bombardeados constantemente por um grande número de estímulos aos nossos sentidos, porém a faixa que percebemos conscientemente
é estreita.
Podemos falar sobre três níveis de percepção:
• Redundância
• Ruído
• Informação
Na faixa da redundância estão composições desinteressantes por serem
muito conhecidas ou compostas por muitas semelhanças, simples demais,
monótonas.
No ruído estão as cheias de contrastes, confusas ou muito complexas, caóticas,
dinâmicas ao extremo.
Em ambas a percepção consciente é breve, quase inexiste. É percepção
passiva. A imagem passa por nós sem deixar rastro.
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c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
Informação por sua vez é tudo aquilo que desperta interesse, ocupa posição
central entre as duas primeiras, ou seja, é graduação entre o muito simples
e o muito complexo, entre o predomínio de semelhanças - prenúncio da
monotonia - e o excesso de contrastes - o que beira o caos.
A percepção de informações é ativa, não só percebemos como recebemos,
ativando mecanismos de compreensão mais apurados e críticos.
Os limites entre as três faixas de percepção são variáveis, dependendo de
vários fatores e diferindo de pessoa para pessoa.
Nossos olhos são os grandes responsáveis pela percepção, pois, em conjunto
com a memória, são capazes de transmitir informações não só referentes à
visão mas, também, aos outros sentidos.
Todo aquele que atua em áreas de criação deve estar atento a ampliar sua
faixa de percepção de informações, e questionar o posicionamento simplista
do mero ‘gostar ou não gostar’, que acaba se mostrando uma armadilha,
empobrecendo o senso crítico e, consequentemente, a capacidade criativa.
o espaço visual
Toda composição é organização de um espaço visual que nos transmite
sensações. Diante de espaços ‘ruidosos’ ou ‘redundantes’ nos sentimos
incomodados, pois é sua organização espacial que nos incomoda.
Diante de qualquer composição nossos olhos transitam para lá e para cá
em direções e velocidades diferentes, enquanto fazem isso, analisam a
composição e sua estrutura, descobrem partes, agrupam, isolam e comparam.
Dotam os elementos de pesos visuais e organizam esses pesos do maior
para o menor em várias combinações possíveis. Este processo de análise das
partes é em grande parte inconsciente. Conscientemente nos ica a leitura do
todo da composição e não de suas partes.
Dessa organização dos pesos visuais derivam ideais de composição como:
• Equilíbrio
• Harmonia
c ap ítulo 6 - P E R C E P Ç ÃO E C OMP OSIÇ ÃO DE E SPAÇ OS
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• Unidade
• Ritmo
• Dominância, etc.
Como ponto de partida podemos dizer que um elemento pesado visualmente é
aquele que nos chama mais a atenção, ele une uma série de fatores de peso.
Os fatores que dotam os elementos de peso visual vão desde os dados
inerentes ao elemento (forma, cor, textura, etc.) passando por sua localização
no espaço visual e incluindo aspectos simbólicos e afetivos.
A seguir veremos alguns dos fatores analisados durante o processo de leitura
visual, deixando claro que os elementos da composição são sempre compostos
por uma combinação destes fatores e que a percepção consciente é a do todo
da composição - e não de suas partes - além, é claro, da leitura do espaço
diferir sempre de pessoa para pessoa, principalmente em suas minúcias.
figura e fundo
A leitura de igura e fundo acompanha todo o processo de leitura do campo
visual. Ao identiicar uma composição nós a isolamos, tornamos a composição
em igura, mais ativa e, portanto, mais pesada em comparação com o entorno,
mais leve, tornado fundo.
Segue-se então a leitura dos elementos componentes que vão sendo isolados,
tornados em igura, enquanto o resto se torna fundo.
Este processo dá dinamismo visual às composições. Tudo que se torna igura
parece maior e vibrante, avança em direção ao observador. O fundo, ao
contrário, parece menor, recua, ica desfocado.
contrastes e semelhanças
A leitura de igura e fundo consiste em isolar elementos e isto se dá de duas
maneiras:
• Agrupamento por semelhança: igura criada por elementos semelhantes;
92
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
• Leitura de constrastes: isolamos o elemento por sua diferença dos outros.
No inal toda leitura visual é leitura dos contrastes, pois mesmo nos grupos mais
semelhantes acabamos por identiicar os elementos como indivíduos únicos.
características do campo visual
Também é importante compreender as dimensões do campo visual e,
com isso, certas áreas dele acabam dotadas de peso visual coincidindo,
principalmente, com as áreas limites do espaço, dando peso extra aos
elementos aí colocados.
Altura, largura e profundidade deinem as dimensões do campo visual.
Toda composição possui alturas medianas (‘neutras’) todo elemento
colocado acima ou abaixo dessa posição mediana será dotado de peso maior
(quanto mais acima ou abaixo dessa altura mediana, maior o peso visual).
Os elementos próximos ao piso da composição estão suscetíveis à energia
exercida por esse piso, parecem mais estáveis, arraigadas ao solo; já os
elementos muito altos parecem lutuar, chamam a atenção por uma espécie
de prodígio - o elemento parece ‘romper com a lei da gravidade’.
A profundidade da composição também estabelece relações limites.
Buscamos estabelecer qual a área mais próxima da composição e qual a
mais distante (primeiro e último plano), com isso ambas são carregadas de
peso visual.
Com relação à largura do espaço, nossa tendência é a de entrar no campo
visual da esquerda para a direita. O lado direito se torna área de maior peso
visual por ser área de inalização. Porém essa leitura não é de um movimento
tão linear quanto parece. Tendemos a entrar na composição no alto do
lado esquerdo, seguindo para o direito com volteios buscando o centro da
composição e chegando à área inferior direita. Novas indicações de peso
surgem então: a área central, é área de destaque de qualquer composição;
e a área inferior direita, mais pesada que o lado direito em si. Elementos
colocados recebem, peso visual extra.
c ap ítulo 6 - P E R C E P Ç ÃO E C OMP OSIÇ ÃO DE E SPAÇ OS
93
linearidades
Linhas são produto de nosso raciocínio, elas não existem na natureza – tudo
aquilo que chamamos ‘linha’ na natureza é, na realidade, limite de uma
forma (a linha do horizonte é a coniguração da Terra) ou é uma forma muito
alongada; alguns elementos carregam conotações que podem ser lidas
como linhas. Exemplos: o mar, plantações agrícolas, gramados carregam
horizontalidade; algumas palmeiras e alguns troncos de árvores, arranhacéus, torres indicam verticalidade.
Lemos então nas composições suas ‘linhas’ que provocam agrupamentos
por semelhanças ou isolamento por contrastes.
Como o processo de leitura visual normalmente vai do mais simples
(ou com maior possibilidade de simpliicação) para o mais complexo, as
linhas geometrizadas tornam-se mais pesadas que as orgânicas (já numa
composição muito geometrizada, a presença de uma linha orgânica, por ser
muito contrastante, ganhará peso visual).
Dentre as linhas geometrizadas o peso visual vai das horizontais, passando
pelas verticais, chegando então às diagonais, curvas e, por último, as orgânicas.
Entre as orgânicas vão aquelas passíveis de simpliicações geometrizantes
até as mais complexas.
O predomínio de determinada orientação visual acaba por criar ‘clima’
numa composição.
A horizontalidade transmite sensações de segurança, evoca o chão onde
pisamos. São linhas passivas. Sua direção visual normal é da esquerda para
a direita. Pode evocar descanso, sono, melancolia e morte.
A verticalidade também se apresenta estável, apesar de ser uma
estabilidade conseguida a custo – toda vertical parece prestes a tombar.
Sua direção visual, normalmente, é ascendente. Evoca vida, espiritualidade
e magniicência.
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c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
Todas as outras linhas carregam maior dinamismo visual e são menos
estáveis. Sua leitura varia com as linhas presentes na composição.
formas, tamanhos e posições
Como na leitura das linhas, tendemos também ver como mais pesadas as
formas geométricas – quanto mais simples, mais pesadas. Numa composição
composta por formas geométricas, a presença de uma única forma orgânica,
por sua conotação contrastante, será de grande visualidade.
A leitura das formas depende também de seu tamanho – normalmente formas
grandes são mais pesadas. As composições também apresentam tamanhos
medianos, ‘neutros’, coisas maiores ou menores que eles chamam atenção
– levando em consideração as limitações visuais (mesmo um elemento
pequeno pode ser trabalhado de modo a adquirir peso visual maior, com o
uso de cores adequadas, por exemplo).
A posição que as formas ocupam no espaço também inluenciam em muito
seu peso visual. A posição central insinua a conotação de ‘elementos
girando à sua volta’; o lado direito da composição deve ser muito estudado,
dependendo do elemento aí colocado, por ser área de inalização da
composição, a composição pode adquirir aspecto muito estático, tirando o
interesse dos demais elementos.
Posição simétrica – a simetria tende também a deixar a composição menos
dinâmica visualmente.
Outra conotação a ser levantada é o valor intrínseco das formas que pode
lhes aumentar o peso visual, como exemplo podemos citar: formas humanas
e animais, símbolos como cruzes, setas, estrelas, corações, etc. Formas com
as quais tenhamos alguma ainidade ou mesmo repulsa.
As formas que se movimentam, e o movimento em si, carregam peso visual
c ap ítulo 6 - P E R C E P Ç ÃO E C OMP OSIÇ ÃO DE E SPAÇ OS
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cores e luZes
Cores e luzes são fatores sensuais e simbólicos de uma composição. Sua
percepção difere muito de pessoa para pessoa. A percepção das cores é
percepção de luz.
A luz ‘branca’ (do sol) é composta por uma gama de raios luminosos dos quais
nossos olhos percebem uma faixa estreita:
vermelho, laranja, amarelo, verde, aZul, violeta
Tudo aquilo acima do violeta (ultravioleta) e abaixo do vermelho (infravermelho)
não é percebido pelo olho humano. Quando a luz branca atravessa um prisma
de cristal, ou no arco-íris, vemos suas cores componentes.
Numa simpliicação do processo de percepção das cores de um objeto
podemos dizer: um objeto percebido como vermelho é iluminado pela luz
branca, portanto por todas as cores, O elemento absorve todos os raios que vão
do violeta ao laranja e reletem para nossos olhos apenas os raios vermelhos.
A leitura das cores de uma composição depende totalmente das cores
existentes nela. Cada composição possui esquemas de cor muito particulares.
De qualquer forma algumas características do universo das cores podem
ser levantadas nos ajudando na compreensão do esquema de cor de cada
composição:
• O espectro: violeta, azul, verde, amarelo, laranja e vermelho;
• Cores primárias: cores não produzidas pela somatória de outras luzes
(azul, amarelo, vermelho);
• Cores secundárias: cores produzidas pela somatória de duas primárias (violeta, verde, laranja);
• Cores terciárias: cores compostas pela somatória de uma primária e
uma sua secundária (azuis esverdeados, amarelos alaranjados, vermelhos alaranjados, etc.);
96
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
•
•
•
•
•
Branco: é luz, somatória de todas as luzes;
Preto: é ausência de luz;
Cinzentos: são gradações de luz;
Cores quentes: amarelo, laranja, vermelho;
Cores frias: violeta, azul, verde.
comportamento da relação entre as cores
relação entre cores primárias
Relação de contraste intenso pois estas cores são muito individualizadas.
São relação de grande peso visual, principalmente entre o azul/amarelo ou
azul/vermelho - a relação entre o vermelho e o amarelo não é tão intensa,
pois ambas são cores quentes.
A presença de uma cor secundária entre elas (ex.: azul-violeta-vermelho,
amarelo-laranja-vermelho) cria uma espécie de ponte, suavizando o contraste.
relação entre cores complementares
As cores complementares são pares compostos, simpliicadamente, por uma
cor primária e uma secundária composta pelas outras duas primárias. Assim
os pares de complementares são:
• amarelo e violeta
• azul e laranja
• vermelho e verde
Ou seja, na coniguração do círculo de cores, as cores complementares são as
que icam na posição oposta.
A relação entre complementares é de contraste intenso. Porém essas cores
perdem sua individualidade. O contraste é tão intenso que elas acabam
se fundindo. Mas é uma fusão vibrante. Tal situação se dá em proporção
ideal, como isso é difícil, a relação faz com que a complementar que esteja
em defasagem (menos área preenchida) receba um peso visual extra,
ressalte na composição.
c ap ítulo 6 - P E R C E P Ç ÃO E C OMP OSIÇ ÃO DE E SPAÇ OS
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relação entre cores quentes e frias
As cores quentes são mais luminosas, vibrantes, ambos fatores de peso
visual. A relação é de contraste intenso.
relação entre tonalidades
Numa composição com apenas tons de verde, por exemplo, fazemos leituras
referentes a todas as anteriores. Tons de verde amarelado ao lado de verdes
azulados carregam relação tanto entre primárias quanto entre temperaturas.
Cores e luzes carregam simbologias que lhes conferem peso visual.
Cores quentes são mais vibrantes, lembram o fogo, o sol, o calor, a alegria,
elas são ativas, mais pesadas, parecem ocupar mais espaço que na realidade,
conferem maior vibração à composição, assim como parecem avançar em
direção ao observador. Da mesma forma funcionam as áreas luminosas.
Cores frias, ao contrário, nos lembram o frio, o gelo, o céu, a umidade, são
passivas, mais leves, profundas, recuam visualmente, podem inspirar tristeza,
são mais relaxantes, mais estáticas. Dessa forma funcionam também as
áreas escuras.
Da percepção das cores podemos citar duas premissas básicas:
• Como semelhante a todos temos apenas a percepção das cores primárias, todas as outras apresentarão leituras variadas de pessoa
para pessoa (quando um laranja é mesmo um laranja e não um laranja amarelado ou avermelhado?);
• As cores percebidas não são só as ‘cores locais’ dos objetos, são uma
combinação de luzes e relexos dessas luzes. Um objeto de cor local
vermelho relete luzes vermelhas a objetos próximos e acaba interferindo na cor local desse novo objeto.
O comportamento de uma mesma cor varia muito de composição para
composição.
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c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
as texturas
A leitura das texturas acompanha todo o processo de leitura visual da
composição, do macro ao micro cosmo. Por textura podemos entender um
padrão, ou trama, composta pela repetição de elementos visuais. As texturas
provém então de um agrupamento por semelhanças.
Ao observarmos um bosque percebemos uma série de texturas:
• a conformação das copas das árvores;
• a conformação dos troncos;
• o piso de folhas secas;
• as folhas das copas;
• as ranhuras dos troncos;
• as nervuras de cada folha;
• etc.
O comportamento das texturas é deinido por uma somatória dos fatores vistos
até então - e sempre depende das texturas existentes numa composição única.
• A textura de palmeiras reais (por sua verticalidade) é mais pesada
quando em comparação a outras árvores com troncos inclinados (diagonais);
• Um piso de lajotas de cerâmica quadradas é mais pesado que um
gramado, isto se deve, em grande parte, à coniguração, porém o peso
pode ser amenizado pelo uso da cor por exemplo, utilizando, principalmente, cores mais frias ou neutras;
• Texturas lustrosas, brilhantes, são mais pesadas que texturas opacas;
• Texturas agressivas, como espinhos, são mais pesadas que texturas
delicadas (a primeira tende à geometrização, ao triângulo, ao ângulo
agudo, além de trazer um valor intrínseco, o de machucar).
os fatores da composição
Composição é organização, ordenação equilibrada, harmônica, rítmica de
elementos visuais.
A composição do jardim é ordenação de elementos estruturando espaços.
c ap ítulo 6 - P E R C E P Ç ÃO E C OMP OSIÇ ÃO DE E SPAÇ OS
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As composições obedecem a fatores de dominância (‘temas’ da
composição) aos quais os elementos devem se adequar. Alguns fatores
dominantes num jardim:
• A inter-relação entre jardim/arquitetura;
• A utilização (funcionalidade) das áreas - áreas de repouso são mais
adequadas quando há predomínio de semelhanças e cores frias;
• Cores - numa composição não são utilizadas todas as cores do espectro mas, sim, grupo de cores e tons, um dos fatores de deinição do
clima da composição;
• Elementos que por várias características (expressividade, monumentalidade, etc.) fazem outros elementos funcionarem em sua função
- água, por exemplo;
• Clima ou ambientação (sensação) que se deseja dar.
O equilíbrio de uma composição é deinido pela graduação e distribuição dos
pesos visuais dos elementos.
O modo como é estabelecido o equilíbrio interfere muito no dinamismo visual
- composições dinâmicas são mais cheias de contrastes, mais vivas, quentes
(aqui estão as composições com equilíbrio assimétrico). Composições
estáticas são mais cheias de semelhanças, frias, relaxantes (aqui estão
composições de equilíbrio mais simétrico).
Existem nos fatores das composições palavras vindas do mundo musical:
harmonia e ritmo. O ritmo advém da velocidade e da forma como nossos
olhos percorrem a composição, estão baseadas, principalmente, nas
semelhanças, nos agrupamentos. Já a harmonia está na combinação entre
os elementos, baseia-se principalmente nos contrastes, nos indivíduos
componentes da composição.
Toda composição deve visar dois fatores básicos que marcam o princípio de
unidade:
• Os elementos devem todos falar entre si;
• Os elementos componentes devem estar dispostos de tal forma que
nenhum possa ser retirado ou acrescido (nada sobra e nada falta à
composição) sem que se altere radicalmente seu equilíbrio e sua estruturação.
100
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
Toda boa composição é uma determinada estrutura visual (harmônica,
equilibrada, rítmica, única) - uma estrutura entre tantas possíveis - que está
entre os limites do ruído e da redundância (nem tão contrastante que seja
impossível sua leitura, nem tão cheia de semelhanças ou pobre visualmente
que se torne desinteressante).
Os caminhos das composições são muito variados. Toda composição é
resultado de um processo de muitas escolhas. Dentro desse processo
devemos ter sempre em mente o ideal da simplicidade. É comum criarmos
composições cheias de elementos - fala-se sobre ‘pecar pelo excesso que
pela falta’, porém o exagero beira o ruidoso. É muito mais difícil estabelecer
relações entre inúmeros elementos. A simplicidade é então a palavra chave na
composição, consegui-la é resultado de processos internos nossos, processos
de seleção, de formação de nosso gosto, advindos de muita observação
crítica das coisas que existem a nosso redor, e de um estado de alerta a tudo.
É processo de formação de nossa própria linguagem criativa/compositiva.
referÊncias bibliográficas
MARX, Roberto Burle. O Jardim como forma de arte (apostila).
SANTOS, M. Coutinho dos. Manual de Jardinagem e Paisagismo.
ARNHEIM, R. Arte & Percepção Visual – Uma Psicologia da Visão Criadora. Livraria Pioneira Editora; São Paulo
MARX, Roberto Burle. Museu de Arte Moderna de São Paulo. São Paulo, 1974.
103
c ap ítulo 7 - JAR DIM SOBR E LAJE
Relatos indicam que desde a Babilônia de Nabucodonosor, lá pelos anos
600 a.C., o homem já considerava a possibilidade de alçar jardins ao topo
das construções.
As experiências de plantio em planos acima do solo foram desenvolvidas
por várias culturas em diversos períodos ao longo da história, através de
manifestações empíricas populares, eruditas ou vanguardistas.
Contemporaneamente deve-se o resgate desta idéia ao movimento Modernista
que adotou o terraço ajardinado como parte dos princípios básicos de
composição arquitetônica.
Foto: Maria de L. da Costa
Foto: Maria de L. da Costa
Foto: Sarita Brulé
Foto: Sarita Brulé
Atualmente com o crescimento vertical dos grandes centros urbanos, os
jardins começaram literalmente a “perder terreno” e ganharam um novo
cenário: em cima de lajes de casas e apartamentos sob a forma de cobertura
ou de pequenas loreiras.
cuidados especiais
A execução destes jardins necessita de projetos bem elaborados e executados,
levando-se em conta as condições da laje onde será implantado o jardim, o
tratamento de impermeabilização da mesma, construção de canteiro com
drenagem e substrato apropriados.
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c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
Por im a escolha das espécies deve ser cuidadosa, assim como a manutenção
de todo o jardim, de forma a não causar problemas estruturais, iniltrações ou
inadequação de vegetação escolhida, levando à ruína do jardim.
verificação da laje
A execução de um jardim sobre laje deve começar com a veriicação das
condições da laje.
A primeira coisa a ser levada em conta é a capacidade de carga da mesma.
Para obras já executadas deve-se consultar a planta, os cálculos estruturais
da obra e, se possível, o responsável pelo dimensionamento da laje,
assegurando-se da carga máxima que poderá receber. A escolha do tipo de
jardim e das espécies a serem cultivadas também se dará em função da
máxima carga na laje.
Após a veriicação estrutural, observar as condições gerais das lajes, como
presença de trincas, que devem ser fechadas com massa de cimento e areia.
A criação de um jardim “suspenso” pode representar um peso extra muito
grande para a estrutura da laje.
Se somar o peso dos vasos, composto, plantas, revestimento, mobiliário de
jardim, churrasqueira e outros itens que deseje acrescentar, você veriicará
que o resultado revela uma cifra surpreendente.
Por isso, torna-se vital que a laje consiga suportar a carga extra (em média o
m²: pode receber de 95 - 145 Kg).
Foto: Sarita Brulé
Mas lembre-se que o solo molhado ica muito mais pesado.
105
c ap ítulo 7 - JAR DIM SOBR E LAJE
impermeabiliZação
A impermeabilização das lajes de cobertura ou terraços merece um cuidado
especial, considerando os estragos e aborrecimentos que uma eventual falha
pode provocar aos moradores ou usuários.
Deve-se considerar a eiciência, durabilidade, resistência ao sol, temperatura
e ambiente. E considerar as conseqüências graves de iniltrações de água e
consequentes manchas de aspecto desagradável no forro ou goteiras.
Foto: Maria de L. da Costa
Foto: Maria de L. da Costa
Impermeabilização de terraços é feita com membrana asfáltica, membrana
de polímeros e revestimentos impermeáveis.
Nas impermeabilizações de terraços em geral são necessários os seguintes
cuidados:
• As impermeabilizações de terraços devem ser aplicadas já com um
caimento:
• Caimento mínimo de 1% (ou seja, 1cm de desnível por metro de
distância);
• Na realidade é recomendável um caimento de 2%;
• Caimentos maiores que 2,5% em locais transitáveis são exagerados;
• Não havendo trânsito, quanto maior o caimento, melhor.
• É importante que o caimento seja uniforme para não se ter formações
de bolsões de água parada;
• Arredondamento dos cantos;
• Não esquecer de embutir as bordas da impermeabilização. Para isto,
abrir canaletas de 2 x 2 cm na alvenaria ou no concreto circundantes,
deixando o rodapé abaixo assinalado ;
• É importante que a impermeabilização suba nas paredes e platibandas circunvizinhas formando rodapé. Este rodapé protege contra os
106
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
respingos e a água que escorre pelas paredes, contra os respingos e
a água que ica represada durante a chuva;
20 cm
rodapé de 20 cm de altura.
• A impermeabilização deve entrar nos ralos e escoamentos pluviais,
para que a água não venha a se iniltrar abaixo da membrana ou escorrer para dentro da peça;
• Dentro do ralo a membrana deve estar bem aderente ao mesmo, pois
água pode transbordar;
certo
a membrana está
totalmente colada
errado
a membrana descolada
age como um sifão e puxa
a água para fora
• Deve-se ter cuidados especiais nas escadas e soleiras de portas,
pois são comuns erros ali, com falta de visão dos pontos onde a água
possa penetrar;
errado
certo
c ap ítulo 7 - JAR DIM SOBR E LAJE
107
• As soleiras e marcos de portas devem icar uns 3 cm acima da impermeabilização para que a água represada não venha a penetrar
sob a película;
• Cuidado para que os colocadores de mastros, grades, antenas, etc.,
não venham a perfurar mais tarde a impermeabilização.
Estes elementos devem ser colocados antes da impermeabilização, porque neles também deve ser feito o rodapé protetor.
• Se a área a impermeabilizar tem mais de l00 m² ou distâncias superiores a 12 m em qualquer sentido, recomenda-se colocar isolamento
térmico, para diminuir o trabalho do concreto;
• Se houver canalização de água quente junto à impermeabilização asfáltica, é indispensável o isolamento térmico dos canos, para que o
calor desprendido não venha a amolecer o asfalto.
Membrana antiraiz: é uma manta impermeabilizante a base de asfalto
modiicado com polímeros, estruturada com um tecido de ilamentos
contínuos de poliéster, previamente estabilizado. Possui em sua composição
exclusiva herbicida atóxico inibidor do ataque de raízes.
drenagem
Um sistema eiciente é essencial para o sucesso do projeto, pois uma planta
em um solo bem drenado irá se desenvolver muito melhor e, além disso,
uma boa drenagem evita o acúmulo de água sobre a laje, contribuindo para
sua estanqueidade.
A primeira coisa a fazer é a instalação da tubulação de coleta de água, que
deve icar no ponto mais baixo.
A drenagem pode ser executada de duas formas:
• Através do iltro granulométrico:
• Camada de brita.
• Camada de areia grossa.
• Camada de areia ina
• Através da manta geotêxtil (bidim): substitui as transições granulométricas permitindo um bom escoamento da água, retendo as partículas
do substrato.
108
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
manta de
drenagem
argila
expandida
tubo de
drenagem
ESQUEMA DAS CAMADAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO
edificação
manta anti-raiZ
manta asfáltica
substrato
manta de
drenagem
argila
expandida
Deve fornecer os nutrientes necessários ao bom desenvolvimento da planta,
deve apresentar porosidade, permeabilidade, bom escoamento da água,
capacidade de retenção de água e de nutrientes.
Foto: Sarita Brulé
Espessura da camada de substrato necessária varia conforme o tipo de
vegetação a ser plantada. Em média são necessários de l5 a 20 cm para
gramados e forrações; 30 a 50 cm para arbustos; 80 a 130 cm para árvores.
109
Foto: Maria de L. da Costa
Foto: Maria de L. da Costa
c ap ítulo 7 - JAR DIM SOBR E LAJE
escolha das espécies
(Alguns cuidados importantes devem nortear a escolha das plantas)
tipo de raiZ
• Raízes profundas daniicarão a impermeabilização e a estrutura da
ediicação. (Ficus, Schelera, Primavera,Juníperos, Tuias,etc)
• O plantio de árvores sobre lajes não é recomendado, deve-se dar
preferência a arbustos para produzir o efeito estético alcançado
com as árvores.
afinidade climatolÓgica
• Plantas que combinam entre si quanto à luminosidade, regime de
regas, temperatura e solo são as mais indicadas para a composição
do jardim.
população local
• Em locais onde é grande a circulação de crianças e animais deve se
evitar: plantas com espinhos, plantas tóxicas e plantas com pontas
aguçadas.
Foto: Maria de L. da Costa
Foto: Sarita Brulé
Mais exemplos:
110
Foto: Maria de L. da Costa
Foto: Silvia Helena Guerra
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
agradecimentos
Fotos: Sarita Brulé e Silvia Helena Guerra
Diagramação: Juscelino Nobuo Shiraki.
referÊncias bibliográficas
ABBUD, B. Criando Paisagens. Guia de trabalho em arquitetura paisagística.
São Paulo: Senac, 2006.
c ap ítulo 7 - JAR DIM SOBR E LAJE
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JARDINS SOBRE LAJES. Revista Natureza. São Paulo: Europa, out.1999.
JARDINS SOBRE LAJES. Revista Paisagismo e Jardinagem. São Paulo: Casa
Dois, out.2000.
capítulo 8 - A QUESTÃO ESTÉTICA E O PAISAGISMO CONTEMPORÂNEO
113
introdução
Vários são os fatores que interferem na criação de um jardim, basicamente
esses fatores podem ser divididos em duas categorias:
• Fatores relativos à área de implantação do jardim, por exemplo: localização do terreno indicando características climáticas, incidência de sol, de ventos, dimensão e forma da área, características topográicas, monumentos naturais (vegetação existente, formações
rochosas, presença de córregos e lagos.); elementos construídos
existentes etc.
• Fatores relativos aos usuários do jardim, por exemplo: tipologia do
jardim (residencial, comercial etc.), peril dos usuários (idades, sociabilidade, hobbies etc.), disposição inanceira; gosto; expectativas
para deinição de usos etc.
Todos esse fatores apresentam-se como diretrizes para o projeto de um
jardim, porém o mero cumprimento dessas diretrizes não garante a criação
de um ‘bom jardim’, um lugar não só agradável de ver e de estar mas também
um espaço diferenciado. Há outro fator em sintonia com todos os outros, que
os engloba e arranja em uma forma interessante, inovadora e original: o
fator estético.
Jardins são obras de arte e, como tal, possuem técnicas e normas de
execução. Mais que isso, os jardins estão entre as belas-artes, pois buscam a
perfeição, a harmonia, a excelência.
Uma arte que alerta todos os nossos sentidos (jardins possuem cores,
formas, texturas, aromas, promovem sensações de calor e frescor,
apresentam frutos saborosos, sons agradáveis como o canto dos pássaros
e o de folhas balançando ao vento, etc.). É arte que trabalha com todas as
dimensões, criando espaços que devem levar em consideração não só a
tridimensionalidade, mas também uma quarta dimensão: o tempo. O tempo
impõe uma característica dinâmica aos jardins – plantas crescem, mudam
radicalmente com as estações do ano, lorescendo, frutiicando, perdendo
folhas, perecendo.
114
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
Como arte, jardins são linguagem. Discursos expressando e testemunhando
modos e características do viver de sua época, resultando de peculiaridades
culturais, sociais, religiosas, tecnológicas do grupo que os produz.
Os jardins contemporâneos revelam uma diversidade de manifestações
adequada a uma valorização do gosto individual característica do nosso tempo.
Em alguns aspectos estamos ainda muito arraigados aos ideais de beleza
clássicos desenvolvidos e defendidos a partir da época do Renascimento e
baseados numa releitura de antigas tradições culturais greco-romanas. A
partir da virada do século XIX para o século XX a arte, a princípio sob o signo da
Modernidade, desejou o rompimento com esse ideal classicista e tradicional
porém, ao invés de romper com as tradições, o gosto contemporâneo acabou
por ampliar o leque das variáveis que podem ser consideradas belas e/ou
expressivas. Com isso os jardins contemporâneos podem se alimentar de
aspectos tradicionais (históricos) dessa arte, enquanto outros se mostram
inovadores na busca de linguagens arrojadas.
jardins nos séculos xviii e xix
A história dos jardins tem origens que se perdem no tempo. A partir da
Renascença, séculos XV e XVI, os jardins ganharam um novo status,
denotando o ‘bom gosto’ e a soisticação de seus proprietários. Esse período
marcou a formação da Tradição Clássica Formal dos Jardins. Essa tradição
caracteriza os jardins não só do Renascimento, também do estilo Barroco (ou
Classicismo Francês) do século XVII e parte do século XVIII, cuja obra-prima
é o Parque de Versailles, encomendado por Luís XIV e projetado por André le
Nôtre, um paisagista (mestre-jardineiro) cujas obras e técnicas passariam a
servir de modelos para a coniguração dos jardins de outras cortes européias.
O século XVIII presenciou duas revoluções marcantes: a Revolução
Industrial (Inglaterra) e a Revolução Francesa, ambas marcando grandes
transformações sociais.
A Revolução Francesa condenou os princípios do Classicismo Francês que
remontavam à nobreza e deveriam ser esquecidos. Num primeiro momento
houve a defesa ao Neoclassicismo, estilo mais contido e racionalista que
capítulo 8 - A QUESTÃO ESTÉTICA E O PAISAGISMO CONTEMPORÂNEO
115
serviu de modelo a várias cortes européias e acabou sendo exportado para
as Américas.
No Brasil o primeiro grande projeto Neoclássico foi o Jardim Botânico do Rio de
Janeiro, encomendado por Dom João VI. O neoclassicismo teve continuidade
por várias décadas (expressando-se inclusive em jardins do século XX como
é o caso, por exemplo, do jardim do Museu Paulista, o Museu do Ipiranga).
Na Europa a condenação ao Barroco ou Classicismo Francês permitiu
caminho para um estilo revolucionário de jardins, desenvolvido na Inglaterra,
passasse a ser valorizado e difundido: os Jardins Paisagísticos ou Pitorescos,
jardins grandiosos, resultantes de grandes projetos e intervenções, porém
trazendo um aspecto leve e ‘natural’, marcando a formação da Tradição
Clássica Informal dos Jardins, um dos aspectos do Romantismo, o estilo que
abarca os séculos XVIII e XIX.
características das tradições clássicas formal e informal
tradição formal
tradição informal
Centralização
Descentralização
Simetria
Assimetria
Geometrismo
Organicismo
Domínio da natureza
Representação da natureza
Topiaria, condução das espécies
Crescimento espontâneo, natural
Apelo à razão
Apelo à emoção
Visão frontal ou específica
Visão global ou geral
Domínio arquitetônico e/ou escultório
Domínio vegetal
Sensação de completo
Sensação de incompleto
Fechado
Aberto
Elementos tratados individualmente
Elementos tratados coletivamente
Estático
Dinâmico
Sensação de inconformidade com o
mundo, vontade de organizá-lo
Conformismo com o mundo, desejo
de representá-lo
116
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
Jardim Botânico de São Paulo (à esquerda o ‘Jardim de Lineu’, exemplo
da estruturação clássica formalista; à direita, a área do lago, exemplo da
estruturação clássica informalista)
A Revolução Industrial ocorrida na Inglaterra também marcou profundas
transformações sociais. Com a necessidade de trabalhadores para as
indústrias teve início um êxodo dos campos e, conseqüentemente, a piora da
qualidade de vida urbana com o crescimento súbito das cidades. Passam a
ser valorizados os parques, praças, passeios públicos, projetos para cinturões
verdes ao redor das cidades e o incremento da arborização urbana visando
melhoria da qualidade de vida. Ideal que se espalha pela Europa e, de lá,
para as Américas.
A virada do século XVIII para o XIX assiste a grandes transformações na arte
dos jardins. A continuidade da tradição de jardins particulares grandiosos
estava comprometida, a busca por áreas para construção nas cidades
crescentes e a valorização dessas áreas marca uma diminuição das áreas
ajardinadas, assim como o desaparecimento de grandes jardins. Com essa
diminuição, a arte dos jardins passa por um processo de popularização
acompanhada pela formação de clubes de jardinagem, por um aumento no
número de publicações sobre o assunto num sentido menos cientíico e mais
amador, num incremento no comércio de sementes e bulbos por correio etc.
A composição dos jardins passou a indicar a criação de espaços mais
intimistas, deinidos pelo gosto individual de seus proprietários.
Uma das características do Romantismo está nos chamados ‘Estilos
Reviventes’ (‘neos’) onde estilos históricos serviram de fonte de inspiração
para a criação artística. Os jardins receberam inluência dos ‘Estilos
Reviventes’ tanto em seus elementos construídos, quanto na estruturação
dos espaços, com isso há uma crescente liberdade de escolha entre as
capítulo 8 - A QUESTÃO ESTÉTICA E O PAISAGISMO CONTEMPORÂNEO
117
fontes de inspiração marcando a possibilidade da existência e até da mistura
de várias tipologias, nessa mistura dos ‘Estilos Reviventes’ está uma das
características do chamado Ecletismo do século XIX.
modernidade
No século XX, sob o título de “moderna”, a arte entra num ciclo de negações
e rupturas. O “novo a todo custo” passa a imperar. São incessantes as
buscas dos elementos que iriam compor a nova linguagem artística, sempre
negando aquilo que cheirasse a passado, a tradicional. Esse desejo de
modernidade é sentido na arte dos jardins, pois a nova arquitetura requeria
uma linguagem igualmente inovadora para seu entorno. Grande contribuição
para a formação dessa nova linguagem deriva dos ideais ‘Racionalistas’ em
grande parte desenvolvidos pela Bauhaus, uma escola alemã que teve seu
conteúdo programático reformulado por Walter Gropius e defendia uma visão
funcionalista. A Bauhaus observava as inovações propostas pelas vanguardas
(os movimentos pictóricos e escultóricos modernos) e adequavam-nas
à linguagem da arquitetura e do design. Dentre as vanguardas que muito
contribuíram aos ideais da Bauhaus estão o Cubismo e as vanguardas
abstratas (tanto as mais concretas, geométricas e construtivas, quanto as
mais gestuais, orgânicas e matéricas). A Bahuaus acabaria sendo fechada
pelos nazistas que consideravam seus ideais subversivos, porém naquele
momento suas idéias já haviam se espalhado pela Europa e muitos arquitetos,
fugindo da guerra, acabariam por introduzi-los nas Américas. Sob estas
inluências os jardins começam a se transformar.
Pela visão racionalista e funcionalista a ‘ornamentação por mera
ornamentação’ passa a ser descartada. Jardins meramente ornamentais,
muitos considerados exagerados e ostensivos, são condenados diante
desse posicionamento. Há um desejo pela síntese e simpliicação que acaba
inluenciando a criação de jardins, a funcionalidade é valorizada e os espaços
vão sendo adequados e deinidos de acordo com seus usos.
Porém o jardim abrange duas características: sua funcionalidade e a
preocupação estética, esta última passa a resultar de um processo de
conceitualização. As vanguardas abstratas em muito contribuíram para a
estruturação dos novos jardins.
118
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
A abstração foi o processo lógico do desenvolvimento para a arte moderna,
desde os movimentos proto-modernos (como o Impressionismo) a arte vinha
trilhando um caminho de deinição de seu próprio universo, libertando-se de
qualquer coisa alheia a ele. O Impressionismo libertava a arte da iguração
acadêmica e realista. As vanguardas deram continuidade a isso e buscavam a
‘nova linguagem’ da arte. O Cubismo, por exemplo, continuou com as buscas
pelas linguagens pertinentes ao mundo da arte, porém continuava sendo
igurativo, ou seja, suas obras tinham por tema coisas do mundo ao redor; o
Cubismo colocou em questão as matérias primas da obra de arte chegando à
conclusão de que ‘arte se faz com arranjos de cores, formas e texturas dando à
arte uma grande liberdade quanto aos materiais compositivos’. As vanguardas
abstratas são aquelas que levam a cabo essa constatação e libertam a arte
da iguração, ou seja, criam com cores, formas e texturas porém não têm por
tema nada do mundo ao redor, libertam-se da iguração. Em alguns aspectos
o termo ‘abstrato’ é errado, pois a abstração pode conduzir à leitura de um
processo de abstração das coisas do mundo ao redor, e a arte abstrata pode
não resultar desse processo.
Relações de cores, formas e texturas são também as matérias-primas para
a criação de jardins, e não só: num passeio pelo jardim nossos sentidos
respondem aos estímulos provocados por seus elementos componentes e
pelas suas combinação. Temos as cores, as texturas, as formas, os cheiros,
os sons, os sabores; temos as tantas alterações, o dinamismo dos jardins, a
mudança de cor, de forma e de tamanho; os movimentos; o fato dos elementos
poderem esconder ou revelar coisas; as temperaturas diferentes das sombras
e manchas de sol; a umidade. Com tudo isso, nossas reações ante um mesmo
jardim são muito diversiicadas e, por mais que os projetemos, é impossível
prever todos os resultados.
Ao conceber um jardim devemos considerar que ele é um ser vivo com
inúmeros fatores externos inluenciando em seu desenvolvimento.
A junção da racionalização com a abstração é ponto de partida para a busca
da linguagem dos jardins do século XX. Como todas as artes os jardins
acabam também apresentado seus ‘ismos’ e revelando constante mutação.
Várias manifestações rápidas viram fórmulas ou modismo.
capítulo 8 - A QUESTÃO ESTÉTICA E O PAISAGISMO CONTEMPORÂNEO
119
A linguagem dos jardins modernos tem plena consciência das características
formais e informais a que o ciclo histórico conduziu, e vê que, apesar de
opostas, é possível realizar inúmeras combinações entre suas características
dependendo dos objetivos estéticos, funcionais e conceituais no ato da
criação do jardim.
A leitura do jardim contemporâneo, que engloba os ideais modernos e não
além, não é simplista, ela se tornou conceitual. Algumas características:
• Combinações conceituais de diversas características formais e informais, numa incessante experimentação:
• Os projetos visam a concepção global do jardim e não a valorização
individual de seus componentes;
• Valorização dos processos de síntese;
• Condeno ao exagero, ao luxo, à ostentação;
• Estudo cuidadoso das características funcionais;
• Valorização da combinação entre os elementos vegetais, arquitetônicos e outros, num todo orgânico;
• Liberdade no uso dos mais variados materiais;
• Defesa ao gosto individual;
• Praticidade.
alguns gÊneros no paisagismo
O Estilo Contemporâneo de Jardins apresenta uma diversidade muito grande
de tipologias e a estas será dada aqui a denominação GÊNEROS, estes
gêneros podem ser interpretados por suas características: estruturação
espacial, desenho, ambientação, elementos estruturadores comuns ou
frequentes (elementos vegetais, arquitetônicos, de mobiliário etc).
jardim paisagem (naturalista ou paisagístico)
Sua característica é o desejo de representar uma paisagem ‘natural’.
Adequados a grandes espaços.
paisagismo reconstituinte
Propõe a recuperação de áreas degradadas.
120
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
jardim da abstração
Pode trazer um desenho geométrico ou informal (ou até uma mistura de
ambos). Valoriza a combinação de efeitos de cores, formas, texturas na busca
do dinamismo da composição.
jardins ‘clean’ (limpo) ou minimalista
Baseado no uso de poucos elementos gerando poucos contrastes porém com
grande impacto visual.
jardim de ‘cottage’ (casa de campo)
Evoca rusticidade, nostalgia.
jardim cenográfico
Um exemplo deste gênero são os recintos de animais na atual linguagem dos
jardins zoológicos onde se pretende representar o habitat do animal.
jardim à japonesa
Usa elementos típicos do paisagismo japonês (pontes, lanternas, pedras,
azaléias, cerejeiras, lagos com carpas, etc.), porém em composições
ornamentais e não simbólico-ilosóicas como são os originais japoneses.
jardim ‘instalação’ ou ‘ambiente’
Usados principalmente relacionados a eventos. São grande oportunidade
para soltar a imaginação em termos de estruturação de espaços e
materiais utilizados.
jardim pÓs-moderno
Tem entre seus recursos a citação de elementos do passado na coniguração
de novas composições.
capítulo 8 - A QUESTÃO ESTÉTICA E O PAISAGISMO CONTEMPORÂNEO
121
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c ap ítulo 9 - OR Ç AME N TO
123
Quanto custa um jardim?
A resposta é unânime entre os paisagistas:
Depende.
O que diiculta a resposta é o fato da jardinagem e do paisagismo serem
obras de arte e, assim, difícil determinar seu preço. Depende do nome do
paisagista, tamanho da área, complexidade, distancia de sua área de atuação,
experiência, estilo etc. Podemos até dizer que é mais fácil cobrar um quadro
do que um jardim, pois, além do artista, outros fatores interferirão, como o
material utilizado e mais uma lista que citaremos a seguir.
Em 1997, foi feito estudo que comparava o preço de casas em vilas na cidade
de São Paulo. Naquela época, uma casa com um jardim bem cuidado podia
valorizar até 10% o valor do imóvel. Em 11 de março de 2011, a empresa
Husqvarna, fabricante de ferramentas para jardinagem, realizou uma pesquisa
com mais de cinco mil participantes de nove países, que estimou os preços
de mercado de propriedades com diferentes tipos de jardins. A conclusão foi
categórica: o “Efeito-jardim”, quando se tem uma área verde bem cuidada,
aumenta o valor de venda do imóvel em até 16%. A mesma pesquisa indica
que cada dólar ou euro investido no seu jardim, representa um ganho de 4
a mais no valor de venda da propriedade. Isto é fato, o jardim valoriza uma
área, mas como cobrar por ele? Para facilitar a explanação podemos dividir
em áreas de atuação do paisagista
projeto
De todos os itens o valor do projeto é o mais difícil para calcular. É o preço
da criação.
Para projetos podemos pensar no valor em função de: Segundo a Associação
Brasileira de Arquitetos Paisagistas www.apab.org.br em 08/09/2011.
O valor dos honorários proissionais, quando baseado na dimensão da área
do projeto, será calculado segundo a seguinte fórmula:
onde:
H = honorários (valor em R$)
√ = raiz quadrada
S = área a receber tratamento paisagístico
124
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
coeficientes de correção
Poderão ser aplicados Coeicientes de Correção por complexidade nos
casos de:
• Projeto sobre laje;
• Topograia acidentada;
• Áreas com vegetação signiicativa e conseqüente necessidade de
atendimento à legislação ambiental e acompanhamento nos órgãos
competentes.
Nestes casos o Coeiciente de Correção poderá variar até 1,4.
Índices de Correção poderão também ser aplicados para adequar os honorários
nos casos de projetos com grandes áreas de tratamento paisagístico
simpliicado, como por exemplo, áreas de estacionamento, quadras esportivas,
grandes extensões de áreas de cobertura vegetal sem complexidade. Nestes
casos o coeiciente de correção poderá ser de até 0,7.
A grande parte dos paisagistas consultados para escrever este capitulo,
quando usam esta fórmula concedem descontos que vão desde 30 a 50 % no
total, o que diiculta bastante o cálculo.
Algumas pessoas preferem fazer o cálculo em correspondência à área a ser
trabalhada, por exemplo, com um valor determinado:
De R$ 10.00 a R$ 50.00 o m², segundo pesquisa do Jornal o Estado de São
Paulo de outubro de 1998. Assim, um jardim com a mesma área, no caso
mil m², pode custar R$10.000,00 ou R$50.000,00, que são valores bem
diferentes.
Outros ainda preferem fazer o cálculo tendo por base o tempo gasto para
elaboração do projeto - horas trabalhadas.
Essa pode ser a melhor maneira de calcular o valor de um projeto, mas quem
está começando encontra três diiculdades:
• Se ainda não fez o projeto, como saberá quantas horas serão necessárias para realizá-lo para fazer o orçamento?
• Quanto custa a hora trabalhada?
• Como posso provar para o cliente que usei este tempo fazendo o jardim?
c ap ítulo 9 - OR Ç AME N TO
125
Neste caso faz-se necessário o uso do bom senso, pois em uma escala
natural no inicio da carreira um paisagista/jardinista terá uma valor de hora
muito menor. Como não tem experiência levará muito mais tempo para fazer,
assim trabalhará mais e receberá menos e com o tempo e as experiências a
tendência é trabalhar menos, pois fará o mesmo trabalho em menos tempo.
Chegará um momento que ele não cobrará pelo tempo que ele fez o projeto,
mas sim pelo tempo que ele levou “com estudos, pesquisas e outros jardins”
para criar um jardim em um tempo tão curto.
Deve-se acrescentar neste orçamento, quando não for sua equipe os
executores, pelo menos mais três horas referentes ao acompanhamento da
execução. É a forma de se garantir que o projeto será bem executado e o
jardim icará bonito. Os momentos são:
• Quando as plantas chegarem à obra. Deve-se veriicar se são de
fato as plantas que constam no projeto, para isso é importante que
conste no projeto o nome cientíico, o porte, e o estado itossanitário “saúde da planta”;
• Quando os canteiros estiverem delimitados na área e começarem
o plantio com o espaçamento certo;
• Quando o jardim estiver pronto, para um toque inal, principalmente a limpeza.
Para fazer opção por qual método será escolhido para o cálculo é preciso
fazer uma análise da situação e usar de bom senso.
execução
Para este cálculo normalmente se faz o levantamento de todo o material
utilizado. Podemos separar em:
• Recursos Vegetais: plantas. O valor varia muito quanto a espécie utilizada e quanto ao porte da planta.
• Recursos arquitetônicos: pedras, pedriscos, pontes, iluminação, caminhos vasos etc. A qualidade do material e o design determinarão o
preço destes itens.
• Preparação do solo: terra, composto orgânico, mineral, defensivos,
maquinarias, etc.
• Mão de obra: jardineiros, auxiliares, pedreiros, eletricistas, encana-
126
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
dores, etc. Deve-se fazer o cálculo de quantos dias serão necessários
para execução do jardim e quanto tempo terá de garantia, pois estas
próximas visitas deverão constar do orçamento.
• Transporte: frete, automóvel, carreto, etc.
• Administração: taxa do responsável pela contratação, compra dos
materiais, acompanhamento da obra etc. Esta é uma porcentagem do
valor total dos gastos.
manutenção
O cálculo é normalmente baseado em tempo gasto para execução do trabalho;
quantas pessoas serão necessárias para sua execução; grau de diiculdade
do trabalho, tamanho do local, etc. Algumas vantagens compensam o valor
que se recebe por este tipo de serviço, os mais importantes são: poder
acompanhar o desenvolvimento do jardim e ter um contrato que garante a
entrada do pagamento mensalmente.
projeto + execução
Este é o tipo de serviço mais contratado, o jardim. Neste caso o projeto terá
um custo menor, pois será sua equipe que o implantará, assim todas as
horas de acompanhamento de execução são eliminadas, além disso, não é
necessário a elaboração do memorial descritivo, pois você o fará.
Pode-se usar o mesmo esquema utilizado na execução, acrescentado o
valor do projeto.
consultoria técnica
Nesta modalidade o proissional faz um rigoroso estudo do jardim e sugere
alterações paisagísticas, correções, tratamento itossanitário etc. Faz os
cálculos de mudas necessárias e de insumos, mas ele não compra, esta
tarefa é feita pelo contratante. Os proissionais que realizam o trabalho, por
exemplo, o plantio, também é de responsabilidade do contratante.
O paisagista é responsável somente pelo que sugere, mas para realizar este
trabalho o proissional precisa de muito conhecimento técnico. O contrato
é anual e é calculado no numero de horas que o paisagista necessita para
vistorias e relatórios.
1. A pessoa que deseja saber algumas “dicas” para fazer um jardim
c ap ítulo 9 - OR Ç AME N TO
127
sem se preocupar em desenho, especiicações, mas, sim, em estudos de massas.
2. Algumas empresas já possuem em seu quadro de funcionários a
equipe de jardineiros, porém não contam com paisagistas para projetos e acompanhamento do desenvolvimento. Neste caso faz-se um
contrato semestral ou anual como servidor autônomo.
3. Empresas que terceirizam serviços como limpeza, manutenção, jardinagem. É necessário um consultor que avalie se o serviço está sendo
bem executado. No caso de paisagismo, por exemplo, além de da
execução do trabalho é necessário ver ser as substituições de vegetação são realmente necessárias.
Em todos os casos, normalmente, o valor a ser pago será hora trabalhada.
Quanto mais experiência maior será este valor, pois além de errar muito
pouco, a pessoa fará o serviço em menos tempo que uma pessoa pouco
experiente.
fatores que influenciam o cálculo do orçamento
Podemos listar entre eles:
• Disponibilidade de verba do cliente;
• Distância da área;
• Diiculdade para se chegar na área propriamente dita;
• Topograia;
• Tempo para execução do projeto;
• Diiculdades de execução;
• Plantas selecionadas;
• Idade e porte das plantas;
• Condições do solo;
• Compactação;
• Infestação de pragas e doenças;
• Presença de ervas espontâneas;
• Recursos arquitetônicos especíicos;
• Se já existem pessoas especializadas para execução do serviço.
referÊncias bibliográficas
www. abap.org.br
www. husqvarna.com.br
TUPIASSÚ, Assucena. Da planta ao Jardim. 1ª. Ed. São Paulo: Nobel, 2008
c ap ítulo 10 - An álise e Imp lan taç ão de P r oje to
129
análise de projeto
Para a análise de um projeto é necessário fazer a leitura completa e entender
o que o paisagista considerou na hora da escolha dos recursos vegetais e
arquitetônicos. Para melhor compreensão, faremos uma comparação:
Um texto é composto por frases, que são formadas por palavras e estas por
letras. Um projeto de paisagismo/jardim é composto por canteiros e estes
por plantas. Acrescidos de iluminação, pisos etc.
Para a compreensão do texto é necessário conhecer as letras, palavras,
frases. E ir além imaginar e viver a situação.
Para se fazer a análise de um jardim é necessário conhecer as plantas
“letras” suas características e necessidades, saber agrupá-las para formar
os canteiros “palavras” que em seu conjunto formarão o jardim “frases”.
O assim como um texto, um jardim estará pronto quando ele emocionar
aquele que o vê.
Um jardim deve ter personalidade, e esta personalidade deve ser referente
aquele que usará o jardim, seja uma pessoa, uma família ou uma
população, além de estar inserido no contexto do local, com um toque
especial do paisagista.
Escolher um grupo de plantas resistentes, fazer uma “combinação” entre
elas e aplicar para várias áreas e clientes não é paisagismo. Uma obra de
arte, que é um projeto de paisagismo, deve ser único, contar uma história,
ter sua vida própria.
Podemos analisar um jardim de varias maneiras: esteticamente,
botanicamente, historicamente, culturalmente, pela utilidade etc.
• Na estética, é importante observar harmonia, equilíbrio, composição,
beleza etc;
• Botanicamente devemos observar as características de cada planta,
suas necessidades e a composição levando em conta o que o ambiente oferece a planta. Trabalho com grupos do mesmo gênero ou
família etc;
130
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
• A análise histórica e cultural leva em conta não só o signiicado especial de cada planta, mas em que época a planta foi introduzida no
país, quem a classiicou etc. Podemos pensar em que rota ela passou para chegar ao local e de que forma foi introduzida ou iniciada
sua produção. Qual grupo de imigrantes introduziu aquelas plantas
e como ela se comporta junto com plantas de outras localidades. No
Brasil encontramos jardins com plantas de origem asiática, européia,
africana e americana, muitas vezes no mesmo jardim. Algumas vezes
o jardim conserva as características originais e outras vezes, ocorre
uma transformação, quase uma hibridização. São jardins franceses
composto por plantas tropicais ou jardins tropicais criados com plantas européias ou asiáticas. Muitas plantas utilizadas no paisagismo
brasileiro são originárias da África, que certamente vieram nos lastros
dos navios que infelizmente vinham trazendo os escravos;
• Um jardim utilitário, por exemplo, um jardim com plantas medicinais
deve ter uma boa composição, pois muitas plantas consideradas medicinais têm crescimento rápido e invasor, tanto que boa parte delas
está listada em livros de plantas daninhas. Também não se pode descuidar de uma separação entre elas, pois é comum que uma acabe
sufocando e até matando outra.
Fazer uma análise de um jardim não é tão fácil. Muitas vezes nos limitamos a
achar o jardim bonito ou não, mas uma boa análise vai muito além.
Ao elaborar o projeto o paisagista pode pensar em contemplar uma série de
fatores ou combinações como, por exemplo:
• Falta de verba impediu que a compra de plantas com porte maior ou
mais adequadas;
• O gosto e as necessidades do cliente levou a escolhas daquelas
espécies;
• As condições ambientais difíceis reduziram o número de espécies
que poderiam se adaptar ao local.
Uma boa parte da análise é muito subjetiva, principalmente o gosto, mas
quando se analisa pelo agrupamento de plantas e suas necessidades, podese perceber qual a intimidade do paisagista com as plantas.
c ap ítulo 10 - An álise e Imp lan taç ão de P r oje to
131
implantação
A implantação começa com a análise da área, o entorno, cliente, objetivos da
elaboração do jardim. Diante de todos os dados, começa-se a desenhar as
possibilidades.
Há várias maneiras de iniciar o desenho, para quem está começando, é
recomendável uso de papel quadriculado, e cada quadrado representará
uma medida, como 01 m², por exemplo.
Para facilitar a locação de todos os elementos que comporão o jardim,
devemos observar bem as portas e as janelas da construção. Elas darão as
referências de caminhos, das vistas e do traçado do jardim.
O desenho pode ser iniciado com o traçado do caminho, após isso ica mais
fácil a distribuição dos recursos vegetais e arquitetônicos no jardim.
Devemos priorizar os elementos maiores, pois se começarmos a distribuir os
elementos pequenos, logo não sobrará espaço para aqueles que requerem
maiores áreas. Então, a ordem é locação das árvores, palmeiras, arbustos,
trepadeiras, loríferas, forrações e gramado.
Ao inal será desenhada toda parte de recursos arquitetônicos, ou seja,
bancos, pérgulas, espelhos d`água, iluminação etc.
O planejamento é fundamental para qualidade do projeto.
Se pegarmos alguns exemplos para analisar, poderemos ter os seguintes
resultados:
• Uma área com um talude muito acentuado: Se não houver uma área para
acumulo de água, o ideal é que a limpeza da área seja feita em etapas,
caso contrário a terra ica solta e pode desmoronar. Pode-se começar
por baixo, seleciona-se uma faixa onde será feita a limpeza, tratamento
do solo e implantação. Somente quando esta faixa estiver bem ixada é
que se trabalhará a área seguinte, até chegar na última faixa, na parte
superior. É recomendado fazer a curva de nível para saber e possibilitar
que a água em excesso saia sem causar nenhum problema.
132
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
Muitos dizem que querem trabalhar com paisagismo, pois é uma proissão
zen. Muito se engana quem pensa isso, talvez com alguns anos de trabalho e
depois de ter passado por alguns apuros não ocorram mais surpresas.
Acordar de madrugada para comprar as melhores plantas, ensinar os
jardineiros e auxiliares a plantar, convencer o cliente que se plantar aquela
espécie naquele local ela irá morrer, esperar a planta que não chega, ensinar o
zelador a irrigar de maneira adequada são ocorrências que podem acontecer.
Citaremos alguns problemas comuns que podem ocorrer em uma implantação:
• Entrega de plantas erradas, por isso, é sempre importante comprar
pelo nome cientíico;
• Entrega das plantas com porte diferente do comprado, para que isso
não ocorra deixar especiicado “escrito” no pedido o porte das plantas;
• O frete que não chega no horário combinado. Minimizamos o problema
acompanhando o frete e trocando os números de celulares;
• As espécies foram plantadas com espaçamento errado ou com a parte
mais bonita para o lado contrário. Neste caso, deve-se retirar as mudas
e plantar novamente. O ideal é a contratação de um jardineiro bom,
que conheça as técnicas de jardinagem, mas se este proissional está
difícil no mercado, então, treine-o;
• No local há impedimento de transito de caminhão no horário solicitado. Veriique antes, principalmente na área central de São Paulo, os horários que os caminhões podem circular e se programe, inclusive com
algum responsável do local para recebimento durante a madrugada;
• Não havia a planta no dia planejado para compra. É importante encomendar todo material necessário, isso minimiza os riscos;
• O jardineiro não foi trabalhar. Contrate jardineiros de coniança e tenha sempre alguns disponíveis para alguma emergência;
• Esta chovendo no momento da implantação. Caso haja tempo, suspenda o plantio e aguarde a estiagem, mas se não houver tempo,
tenha sempre algumas capas de chuva para estes momentos;
• As plantas já chegaram e o solo não está preparado. Isso é muito
comum, as pessoas erram muito no cálculo de tempo para o preparo
do solo. Analise bem as condições do terreno para não errar nos cálculos, inclusive no orçamento e só encomende as plantas quando o
solo já estiver pronto;
c ap ítulo 10 - An álise e Imp lan taç ão de P r oje to
133
• Os jardineiros necessitam se alimentar durante o trabalho. Veriique
sempre se há local próximo que venda água e alimento. Caso não
tenha, é importante recomendar que os jardineiros levem a alimentação e água, e é bom o paisagista levar também para alguém que
tenha esquecido;
• A terra que chegou está cheia de “batatinha”, bulbos e sementes germinado. Compre terra de produtor conhecido e idôneo, vale a pena
pedir terra peneirada.
Por melhor que seja o projeto, se a implantação não for bem feita diicilmente
teremos um trabalho com qualidade.
Infelizmente poucas empresas têm mão-de-obra qualiicada para implantação,
pois os proissionais envolvidos neste tipo de trabalho raramente são
capacitados o suiciente e via de regra são muito mal remunerados. Logo
que eles começam a aprender o serviço abandonam a empresa e abrem
seu próprio negócio. Porém o conhecimento necessário vai muito além de
saber plantar (o que nem sempre eles sabem, principalmente para espécies
que necessitam de um pouco mais de cuidado), é necessário também
conhecimento sobre solo, cálculos, estética, tratamento humano, etc.
Quais são os proissionais envolvidos:
• Produtor de plantas: é necessário conhecer bons produtores, pois a
qualidade das plantas é importantíssima. Algumas pessoas vendem
plantas, mas nem sabem a procedência e acontece da planta apresentar algum tipo de doença;
• A pessoa responsável pelo transporte das plantas, pois frequentemente observamos problemas relacionados com falta de cuidados na
retirada, colocação em veículos não adequados e entrega do material
em horários não acertados. Muitas plantas são perdidas por quebra
de torrão e ponteiro;
• Auxiliar de jardinagem: alguns requisitos são básicos – algum conhecimento e estar aberto para aprender mais, organização, boa apresentação (principalmente relacionado a higiene), delicadeza, pontualidade, honestidade e, principalmente, o gosto pelas plantas;
• Jardineiro: além das qualidades do auxiliar de jardinagem, saber lidar/cuidar das ferramentas, ter conhecimento técnico sobre a vege-
134
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
tação, ter uma boa visão da disposição da planta no jardim e saber
fazer cálculos de mudas e insumos;
• Chefe de equipe: saber ler o projeto e desenhá-lo na área, ter liderança sobre a equipe e saber lidar com problemas relacionados a implantação, de preferência ter um carro apropriado para transporte de
ferramentas e algumas plantas.
Enim, são muitos os problemas que podem ocorrer, mas com certeza a
satisfação de ver o jardim pronto é um privilégio.
Para facilitar a elaboração de um projeto, usar papel quadriculado e nele
desenhar tudo que a área receberá.
c ap ítulo 10 - An álise e Imp lan taç ão de P r oje to
135
Etapas para implantação
1. Análise da área, fazer o levantamento das plantas existentes e de todas as características do local;
2. Traçar o caminho, levando em consideração as entradas e saídas;
3. Veriicar a visão que se tem das janelas;
4. Escolha das árvores que são os elementos maiores do jardim, em
seguida as palmeiras, arbustos, trepadeiras, forrações e por im o gramado. O cálculo está descrito no capítulo orçamento;
5. Desenhar em um papel a melhor distribuição destes elementos;
6. Deixar marcado e implantado os pontos de luz e água. Para áreas
maiores é aconselhável contratar projetos de iluminação e irrigação,
assim como drenagem;
7. Fazer o tratamento das plantas existentes, quanto mais aproveitar
melhor;
8. Fazer o tratamento do solo. Muitas vezes é necessário fazer análise,
como esta descrita no capítulo de solo da apostila de jardinagem,
para as devidas correções;
9. Nivelar;
10. Marcar os canteiros, com alguns pequenos pedaços de madeira
amarrados com io;
11. Plantar adequadamente: tirar o invólucro, seja ele saco plástico, vaso,
lata, estopa etc. com muito cuidado para não quebrar o torrão (terra
que envolve e protege a raiz da planta), fazer uma cova suicientemente grande para receber o torrão, nivelar o colo da planta na superfície
e completar com terra preparada;
12. Após o plantio, regar;
13. Apreciar sua obra de arte.
referÊncias bibliográficas
TUPIASSÚ, Assucena. Da planta ao Jardim. 1ª. Ed. São Paulo: Nobel, 2008
c ap ítulo 11 - LE GISLAÇ ÃO
137
o homem como ser social
O homem vive em sociedade e para que a relação entre seus componentes
ocorra de maneira ordenada e pacíica, o Estado elabora normas jurídicas.
O termo legislação pode ser entendido como um conjunto de normas jurídicas
acerca de determinada matéria. Lei é uma espécie de norma jurídica.
As atividades desenvolvidas no Paisagismo estão sujeitas a um conjunto de
normas que devem ser conhecidas pelos proissionais envolvidos no tema.
a institucionaliZação do poder
• Chefe → Instituição (paz social, ordem).
significado da palavra lei
• Sentido amplo. Ex: lei da gravidade;
• Norma jurídica.
interpretação de leis
• Gramatical;
• Lógica (razão);
• Histórica;
• Sistemática.
direito ambiental
• Evolução no Brasil: fase desregrada - fase fragmentária - fase holística.
princípios do direito ambiental
• Precaução
• Participação
• Poluidor-pagador
conferÊncias das nações unidas sobre meio ambiente
• Estocolmo / 72
• Rio / 92
138
c ur so mun ic ipal de r e c ur sos paisagístic os
constituição federal de 1988
“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes
e futuras gerações” (art. 225, “caput” da CF).
lei 6.938 ⁄ 81 – dispõe sobre a política nacional do meio ambiente
• SISNAMA - integração entre órgãos ambientais
• Objetivo: preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental
propícia à vida.
lei 12.651/12 – novo cÓdigo florestal
• Florestas e demais formas de vegetação
• Preservação permanente: rios, lagoas, reservatórios d’água, nascentes, etc.
lei 7.802 ⁄ 89 - agrotÓxicos
• O termo agrotóxico
• Usuário e comerciante - responsabilidade (civil, administrativa e penal)
• Devolução de embalagens
• Receituário agronômico
• EPIs
lei 9.605 ⁄ 98 – crimes ambientais
• Instrumento normativo híbrido (infrações administrativas e penais);
• Crimes contra a fauna, lora, ordenamento urbano e patrimônio cultural; crime de poluição; crime contra a administração ambiental, etc.
.
lei municipal 10.365 ⁄ 87
• Corte e poda - autorização do órgão competente
• Vegetação de porte arbóreo:
• Espécie vegetal lenhosa de DAP superior a 0,05 m
c ap ítulo 11 - LE GISLAÇ ÃO
meios processuais para a defesa do meio ambiente
• Ação popular art. 5º. LXXIII da CF
• Ação civil pública: Lei 7.347/85
a sociedade em questões ambientais
• EIA / RIMA - audiências públicas
• Direito à informação dos órgãos públicos - art. 5º. XXXIII da CF.
referÊncias bibliográficas
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: doutrina, jurisprudência, glossário. 5a
edição - São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007.
139
EDIÇÃO 2012