Revista Espinhaço, 2013 2 (2): 36-54.
As Muitas Arqueologias das Minas Gerais
André Prous1*
1
Arqueólogo (UFMG). Professor Titular da Universidade Federal de Minas Gerais
Resumo Apresentamos uma história crítica das pesquisas em arqueologia - particularmente pré-histórica - realizadas em
território mineiro desde o século XIX. Após a fase do pioneirismo (P. Lund, amadores diversos), missões internacionais estudam
a região de Lagoa Santa no terceiro quarto do século XX, enquanto o Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas
(PRONAPA) inicia levantamentos no alto vale do rio São Francisco. Com a abertura de pesquisas mais sistemáticas pelo Instituto
de Arqueologia Brasileira (IAB) no Norte mineiro e a criação do Setor de Pesquisa da UFMG, na segunda metade dos anos de
1970, abre-se uma fase de pesquisas mais intensivas e regionais, tematicamente diversificadas. O início deste século XXI é
marcado pela multiplicação das pesquisas preventivas e de resgate, a emergência de novos centros de pesquisa e a criação de
cursos de formação de arqueólogos na UFMG. O Patrimônio pré-histórico de Minas Gerais é notável pela importância de
preservação de materiais perecíveis, de restos esqueletais humanos de grande antiguidade, pela riqueza dos registros rupestres e a
variedade regional das indústrias realizadas sobre matérias-primas muito diversas. A arqueologia histórica, cuja importância
cresceu exponencialmente nos dois últimos decênios, é marcada pela importância dos vestígios da mineração de pedras e metais
preciosos, dos assentamentos de escravos fugitivos e os remanescentes de fazendas antigas, cujo estudo se desenvolveu
comparativamente mais que a arqueologia da urbanização e dos monumentos barrocos.
Palavras-chave: Arqueologia, Minas Gerais, Brasil, História da Ciência.
1. Introdução
A arqueologia em Minas Gerais nasceu de forma
acidental e poderíamos dizer, prematura, em meados do
século XIX. Após um eclipse de quase um século durante o
qual as pesquisas se limitaram à região de Lagoa Santa e
foram realizadas essencialmente por instituições
estrangeiras ou do Museu Nacional do Rio de Janeiro, a
arqueologia firmou-se no estado com a criação do Setor de
Arqueologia da UFMG. Isto ocorreu no final do ano de
1975, por iniciativa conjunta do Instituto Estadual do
Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA) e
da Reitoria da Universidade. Desde então, a arqueologia
mineira passou a ter um papel relevante no panorama
brasileiro.
Na fase inicial das pesquisas, o foco principal foi a
antiguidade do Homem na região de Lagoa Santa (e, por
extensão, nas Américas) e o tipo humano que caracterizou
os primeiros americanos. Em meados do século XX, as
pesquisas ampliaram-se para o estudo dos vestígios
associados - particularmente de indústria. No último quarto
do século, as pesquisas passaram a interessar novas regiões
do estado. Também se tornaram cada vez mais abrangentes,
envolvendo o estudo das tecnologias pré-históricas, as
manifestações rituais, as expressões gráficas, os vestígios de
subsistência. Nos últimos anos do século XX, o foco
acadêmico voltou-se de novo, pelo menos em parte, para
estudos de bio-antropologia e para a região de Lagoa Santa.
___________________________
*e-mail:
[email protected]
Uma novidade importante foi o desenvolvimento da
arqueologia histórica, até então largamente minoritária
frente ao estudo do período pré-histórico. Isto se deveu em
grande parte ao crescimento das pesquisas contratadas para
licenciamento ambiental, que passaram a predominar de
forma absoluta sobre os trabalhos de cunho acadêmico. Isto
criou uma enorme demanda de arqueólogos e de mão de
obra técnica, levando à criação de cursos de formação
especializada no início deste século XXI.
Neste artigo, detalharemos particularmente, entre as
pesquisas realizadas desde 1976, aquelas realizadas pelo
Setor de Arqueologia da UFMG no campo da pré-história.
Para este mesmo período, a bibliografia apresenta
particularmente obras de síntese (regional ou temática) e de
metodologia de interesse geral publicadas em português,
evitando uma listagem de publicações de foco mais restrito
ou feitas no exterior e de difícil acesso.
2. Os primórdios: as pesquisas de P.
W. Lund e os achados fortuitos
(1840/1920)
A contribuição de Lund à ciência é bem conhecida
(HOCH; PROUS, 1985; HOLTEN; STERN, 2011; PROUS,
2002, 2013; NEVES; PILÓ, 2008). O referido naturalista
dinamarquês, fixado em Lagoa Santa desde 1832, encontrou
casualmente ossadas humanas na gruta de Sumidouro,
misturadas com restos de megafauna pleistocênica.
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Desenvolveu então estudos pioneiros dos sistemas de
deposição na gruta e de tafonomia, chegando à conclusão da
contemporaneidade dos ossos humanos e faunísticos. Notou
também a diferença entre a morfologia dos crânios
modernos e daqueles de Lagoa Santa. Desta forma,
levantou, pela primeira vez no Ocidente, a ideia de uma
humanidade muito anterior ao dilúvio, de uma presença
humana em era geológica anterior a nossa. Esta sugestão foi
defendida em várias comunicações enviadas a Sociedades
científicas europeias. Na época, esta descoberta prematura
não despertou muita atenção no meio científico, mas em
poucos decênios, depois de se reconhecer a existência de
um “Homem antediluviano” na Europa, passou a ser
considerada (TEN KATE, 1885). Outrossim, interessou-se
pelos machados de pedra dos estados de São Paulo e de
Minas Gerais, a respeito dos quais elaborou uma nota para a
Sociedade Nórdica de Arqueologia; finalmente, forneceu
subsídios para as discussões sobre a origem antrópica dos
concheiros europeus, a partir do exemplo dos sambaquis
brasileiros. Paleontólogo antes de tudo, Lund não foi um
arqueólogo, mas não deixou de contribuir para o
reconhecimento da antiguidade e da importância de se
estudar o Homem primitivo americano. Seu desenhista,
Brandt, reproduziu um painel de pinturas de Cerca Grande,
tratando-se, segundo dizem, da primeira prancha colorida
publicada na história da edição.
Figura 1. P. W. Lund (Fonte: www.lagoasanta.com.br)
Figura 2. Brandt desenhando em Cerca Grande (Fonte: Wikipedia)
Alguns achados fortuitos chegaram a interessar a
comunidade científica brasileira. O engenheiro alemão
Heinrich Wilhelm Ferdinand Halfeld comentou em carta
endereçada a A. Varnhagem o achado de urnas pintadas,
exumadas durante a construção de uma estrada na Zona da
Mata mineira em 1840 (CORREA, 2009). O francês P. Rey,
por sua vez, passou pelo Grande Abrigo de Santana do
Riacho na Serra do Cipó, viu as pinturas pré-históricas,
assim como aquelas de um sítio do Rio Doce (1879). Em
1871, foram identificados restos humanos mumificados na
Serra da Babilônia, em propriedade do Barão de Santa Ana.
De uma das grutas foram retirados três corpos e o material
que os acompanhava. Doados ao Imperador D. Pedro II,
estão hoje depositados no Museu Nacional. Os geólogos F.
Hartt, C. Gorceix e o paisagista A. Glaziou foram então
encarregados de realizar uma campanha de escavação nas
grutas da região, que resultaram na coleta de alguns objetos,
e na primeira planta de localização de artefatos em sítio
arqueológico no Brasil (CORREA, 2009).
No entanto, no final do século XIX, as pesquisas
arqueológicas no Brasil passaram a se desenvolver
essencialmente no litoral meridional do país (escavações de
sambaquis) ou na Amazônia Oriental (Ilha de Marajó, sítios
funerários de Miracanguera ou do Amapá).
3. As primeiras pesquisas arqueológicas (1926/1954): O Museu Nacional
e a Academia de Ciências de Minas
Gerais
Nesta época, a grande antiguidade do Homem na terra
tinha-se tornado amplamente aceita; no entanto,
considerava-se que a entrada de migrantes na América seria
muito tardia e holocênica. As sugestões contrárias eram
consideradas infundadas. O Padre jesuíta J. PadbergDrenkpohl, contratado pelo Museu Nacional (primeiro
arqueólogo profissional no Brasil) realizou 3 campanhas de
escavações na região de Lagoa Santa entre 1926 e 1929.
Escavou a parte anterior da Lapa Mortuária de Confins,
onde esperava encontrar provas da contemporaneidade do
Homem e da fauna extinta. Apesar de encontrar dezenas de
esqueletos da “raça de Lagoa Santa”, não achou nenhum
vestígio de megafauna extinta associado. Encontrou
também alguns esqueletos na Lapa do Caetano embaixo de
um piso estalagmítico (possivelmente pleistocênico). Deu
por terminada sua tarefa, sem sequer estudar, e muito menos
publicar, o material arqueológico proveniente das
escavações, que foi depositado no Museu Nacional do Rio
de Janeiro; apenas apresentou relatórios internos
(PADBERG-DRENKPOHL, 1926, 1929). Pouco depois,
Padberg voltou para sua Áustria natal, e o novo Diretor do
Museu Nacional decidiu retomar a questão da antiguidade
dos achados de Lagoa Santa. Bastos d’Ávila e Ruy Lima e
Silva voltaram então para a região, escavando em grutas do
maciço de Carrancas (particularmente, na Lapa do Urubu).
Seu relatório, também inédito, menciona o achado de uma
dezena de esqueletos em uma gruta, todos sepultados e
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cobertos por uma pedra. Também informa a presença de
algumas lâminas de machado de rocha básica, de lascas e
fragmentos de pontas de cristal de quartzo.
Logo depois, várias pessoas de Belo Horizonte
interessaram-se pelos achados de Lagoa Santa. A maioria
delas, no âmbito da Academia de Ciências de Minas Gerais.
Tratava-se principalmente de H. Walter, Cônsul do Reino
Unido na capital mineira e do artista plástico e autor de
peças de teatro A. Mattos. Faziam excursões em Lagoa
Santa, onde chegaram a realizar algumas escavações, mas
sobretudo recebiam peças coletadas nos abrigos por
operários - um deles, Rosalino, continuou esta atividade
remunerada até 1976, quando foi enviado para esvaziar o
sedimento de um abrigo no município de Jaboticatubas,
alguns dias antes da minha ida ao local para escavá-lo.
Conservamos no Museu de História Natural e Jardim
Botânico da UFMG (doravante mencionado como MHNJB)
alguns cadernos escritos do punho de H. V. Walter, que
registram a aquisição de artefatos e crânios. Participavam
também deste grupo interessado na pré-história mineira o
médico A. Cathoud (que cuidava dos vestígios esqueletais)
e o dentista J. Penna, que fotografava a arte rupestre de
Lagoa Santa e da Serra do Cabral. As escavações realizadas
pelos operários de H. Walter em 1935 proporcionaram um
esqueleto humano (o “Homem de Confins”) na Lapa
Mortuária, abaixo do nível escavado por PadbergDrenkpohl. Segundo os escavadores, teria sido encontrado
abaixo de uma crosta estalagmítica (provavelmente
pleistocênica) e estaria associado a restos de megafauna.
pelos dentes não é mais aceito hoje. H. V. Walter escavou –
ou mandou escavar - particularmente nos sítios de
Eucalipto, Limeira, Mãe Rosa, Samambaia, Marciano,
Lagoa Funda e Sumidouro. Publicou dois livros no quais
apresentou os principais sítios escavados (WALTER, 1948)
e tentou sistematizar os resultados das suas observações
(WALTER, 1958). Propôs uma tipologia dos artefatos
líticos e ósseos encontrados em diversos abrigos, tentando
mostrar uma evolução cronológica das categorias
morfológicas (com dois conjuntos pré-cerâmicos e dois do
período ceramista). Infelizmente, a tentativa, obviamente
inspirada no modelo europeu da sequência cronológica préhistórica, não era suportada por nenhuma observação
estratigráfica e as pesquisas posteriores não confortaram o
quadro por ele proposto. Por sua vez, A. Mattos abriu uma
sondagem na gruta e no principal abrigo de Lapa Vermelha
IV de Pedro Leopoldo (hoje, no município de Confins).
Também coletou peças em sítios cerâmicos que estavam
sendo destruídos pelas obras de urbanização; um deles
encontrava-se a proximidade do atual Museu de História
Natural, e outro, na Rua Jacuí (MATTOS, 1947). Parte das
coleções reunidas pelos membros da Academia de Ciências
de Minas Gerais foi doada à UFMG (os esqueletos à Escola
de Medicina; a cerâmica, assim como peças líticas e ósseas,
para a FAFICH-UFMG). Em 1976, ao criar o Setor de
arqueologia, reunimos este material no MHNJB-UFMG.
Desta forma, as pesquisas realizadas entre 1920 e 1955
mantiveram aberta a pergunta sobre antiguidade do Homem
em Lagoa Santa, mas sem trazer nenhuma resposta
definitiva. A partir dos anos de 1940, os achados de
instrumentos líticos inquestionavelmente associados à
megafauna no sítio de Clovis (no Oeste americano)
demonstraram que a ideia de um Homem pleistocênico no
Brasil não era absurda. A presença de esqueletos
preservados em Lagoa Santa mantinha aceso o interesse
pela região, já que não havia sepultamentos conhecidos para
os autores da cultura Clovis. Esta foi logo datada em cerca
de 11.000 anos a partir de 1950, quando a análise de
radiocarbono tornou-se operacional. Tornava-se imperativo
esclarecer a antiguidade dos achados em terra mineira.
4. As Missões internacionais e os
amadores
de
Minas
Gerais
(1954/1979)
Figura 3. H. Walter com o crânio de Confins
(Foto: Diários Associados)
Infelizmente, a falta de um observador mais capacitado,
assim como a ausência de controle estratigráfico e de
documentação tiraram muita credibilidade do achado - que
teria sido, na época, a primeira comprovação de uma
presença pleistocênica humana nas Américas. Uma análise
comparativa do flúor contido nos dentes do esqueleto préhistórico, de um osso moderno e de um osso fóssil de fauna
(não identificada) sugeriu grande antiguidade para o
esqueleto (STEWART & WALTER, 1955), mas este
método de datação relativa a partir da absorção do flúor
4.1 As Missões internacionais
Em 1955, o Museólogo e arqueólogo norte-americano W.
Hurt realizou prospecções em abrigos de Lagoa Santa,
mantendo relações tensas com vários dos membros da
Academia de Ciências Gerais. No ano seguinte, W. Hurt
organizou escavações no maciço de Cerca Grande e na Lapa
das Boleiras, em colaboração com o Museu Nacional do Rio
de Janeiro e a participação do paranaense O. Blasi e do
paleontólogo Paula Couto. Foi retirado dos abrigos um
grande número de sepultamentos e de restos de indústria
(sobretudo líticos e ósseos), mas de novo foi frustrada a
esperança de se encontrar uma associação entre a fauna
38
pleistocênica e vestígio de ocupação humana. Desta forma,
não houve publicação adequada dos resultados da pesquisa.
Quinze anos depois, no entanto, W. Hurt enviou duas
amostras de carvões provenientes de Cerca Grande para
datações; os resultados apontaram para uma antiguidade
inesperada (ambos entre 9.000 e 9.500 anos BP, não
calibrados).
Tratava-se,
inclusive,
das
datações
radiocarbônicas então disponíveis para o Brasil. W. Hurt e
O. Blasi resgataram então parte das informações e fizeram
uma publicação sintética das pesquisas realizadas em 1955 e
1956 (HURT; BLASI, 1969). Basicamente se reconhecia a
existência de uma camada pulverulenta com vestígios de
uma ocupação recente, com cerâmica não decorada, e de um
pacote sedimentar do Holoceno antigo no qual se
concentravam os sepultamentos, datado em mais de 9.000
anos. As peculiaridades das indústrias de quartzo,
amplamente desconhecidas pelos arqueólogos da época,
dificultaram o entendimento dos conjuntos lascados.
Reconheceram a grande antiguidade da fabricação de
lâminas polidas (pela sua presença na camada que
proporcionou datações de cerca de 10.000 anos) que
devíamos confirmar mais tarde em Santana do Riacho e de
Buritizeiro, com maior segurança estratigráfica.
Figura 4. Parte da equipe de escavação da Lapa Vermelha e de
levantamentos rupestres em 1976*.
Encorajada pelas datações antigas obtidas pelo
pesquisador norte-americano, a pré-historiadora francesa A.
Laming-Emperaire se interessou em montar uma Missão
franco-brasileira para estudar a região de Lagoa Santa e
procurar dados mais completos sobre o povoamento inicial,
descrito de forma muito superficial pelas pesquisas
anteriores. Já era conhecida por seus trabalhos sobre arte
rupestre no Paleolítico europeu, suas pesquisas sobre o
povoamento inicial da Terra do Fogo e sobre sambaquis do
litoral paranaense e paulista. Para o estudo da pré-história
*
Da esquerda para direita: A. Laming-Emperaire e Paulo Junqueira
(sentados); em pé: Nadine Orloff, José Eustáquio Teixeira de Abreu,
um geógrafo francês (logo atrás); Solange Caldarelli, Suzana Monzon
(em frente), Ione Malta (logo atrás), Osvaldo Heredia; na frente,
agachados: Carlos Magno Guimarães e Sidney Anthonioz (hoje,
Picasso).
de Lagoa Santa, propunha-se uma perspectiva ampla,
analisando o contexto geomorfológico dos sítios, as
transformações da paisagem e as mudanças climáticas desde
o Pleistoceno final. Tinha tido um breve contato com sítios
da região em 1961, onde J. Penna a tinha convidado para
conhecer os abrigos pintados. As primeiras prospecções,
para escolher um sítio base, foram realizadas no inverno de
1971 em vários locais nas imediações dos atuais municípios
de Lagoa Santa, Pedro Leopoldo, Confins e Matozinhos,
com a participação de arqueólogos do Museu Paulista.
A maioria dos sítios encontrados estando depredada,
escolhemos o abrigo nº IV da Lapa Vermelha (no atual
município de Confins) apesar da pouca densidade de
vestígios, por ele apresentar uma espessa sedimentação com
estratigrafia
extraordinariamente
legível,
sendo
praticamente possível separar camadas de deposição anuais.
Esperava-se assim conseguir um quadro evolutivo fino das
mudanças ambientais.
As escavações intensivas foram realizadas nos anos de
1973 a 1976, com equipe grande (mais de 25 pesquisadores
nos anos de 1973 e 1974) que incluía escavadores de vários
estados (Mato Grosso, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Rio
Grande do Sul, Mato Grosso); em 1976, membros do
recém-criado Setor de Arqueologia vinham representar o
Estado de Minas Gerais.
Com efeito, o IPHAN tinha exigido que a pesquisa fosse
utilizada como escola de escavação para jovens brasileiros.
Participaram também pesquisadores de diversos países
(Colômbia, Equador, Chile e França). Paralelamente, uma
equipe realizava levantamentos rupestres sistemáticos, e o
Instituto de Arqueologia Brasileira (IAB, do Rio de Janeiro)
fornecia vários colaboradores à Missão; paralelamente ao
trabalho realizado na Lapa Vermelha, uma equipe do IAB
realizava em 1973 prospecções de sítios Sapucai ao Norte
de Lagoa Santa (Fase Paraeopeba).
As escavações na Lapa Vermelha, que foi sempre
ocupada apenas periodicamente por pessoas de passagem,
proporcionaram as primeiras datações mínimas para
pinturas rupestres (enterradas) no Brasil e os restos do
esqueleto da jovem que seria mais tarde popularizada sob o
nome de “Luzia”. Tratava-se também dos mais antigos
restos ósseos humanos datados nas Américas, embora a
datação inicial de 11.680 anos BP (não calibrada) aceita
pela pesquisadora em sua publicação inicial (LAMINGEMPERAIRE, 1979) seja antiga demais; ela provinha de
um carvão encontrado junto ao crânio, mas ambos se
encontravam em um setor perturbado, tendo o crânio, junto
com vários blocos, afundado em uma pequena fossa de
sucção. Analisando mais tarde a localização estratigráfica
do resto do esqueleto, mostramos que a idade correta era de
cerca de 11.000 anos (não calibrados) “apenas”. De
qualquer forma, os elementos esqueletais ainda in situ
encontravam-se abaixo de um nível onde tinham sido
encontrados vários coprólitos de preguiça gigante,
comprovando-se assim a contemporaneidade entre o
Homem e a megafauna extinta. O sítio proporcionou
também uma grande quantidade de instrumentos de
conchas, o que me levou a estudar sua fabricação, sua
utilização e, mais tarde e com a ajuda de M. E. Solá, estudar
o valor nutritivo dos grandes gastrópodes terrestres.
39
As mortes trágicas de A. Laming-Emperaire e de outros
especialistas encarregados do estudo dos vestígios, assim
como a desistência do Doutorando encarregado do estudo
geomorfológico, fizeram com que o sítio nunca fosse
devidamente estudado e publicado, embora pontos
específicos da escavação e do material tenham sido
apresentados em diversos contextos. O sítio encontra-se
agora no interior de um Monumento Natural em nível
estadual, mas o problema da estabilização do seu
espetacular e didático corte não está ainda resolvido.
Apesar de ter deixado sua empreitada inacabada, A.
Emperaire deixou uma herança importante. Tinha
comprovado a antiguidade do povoamento humano na
região: o esqueleto e os coprólitos humanos da Lapa
Vermelha, além de raras lasquinhas de cristal, e um
instrumento lascado encontrado num contexto impreciso,
mas estratigraficamente anterior a 15.000 anos.
Tinha demonstrado que a arte rupestre no Brasil, até
então considerada recente pela maioria dos pesquisadores,
era milenar. Também foi co-responsável pela criação do
Setor de Arqueologia da UFMG, permitindo assim o
surgimento de um centro de pesquisas acadêmicas no estado
de Minas Gerais.
região de Belo Horizonte; chegou a fazer um estágio com
M. Beltrão no Museu Nacional, onde o conhecemos. Hélio
Diniz, por sua vez, acompanhou a exploração mineral da
gruta nº VI de Cerca Grande após o final da Missão
chefiada por W. Hurt. Teria encontrado esqueletos humanos
abaixo do piso estalagmítico sobre o qual tinham parado as
escavações de 1956; seriam, portanto, esses achados
anteriores a 10.000 anos. Também retirou esqueletos da
gruta de Sumidouro. Conseguimos fazer com que M.
Alvim, bio-antropóloga do Museu Nacional, pudesse ver e
estudar este material, mas não conseguimos acesso aos
vestígios líticos. Depois da morte do colecionador,
negociações para conseguir esta coleção para o MHNUFMG foram mal sucedidas; o material coletado por H.
Diniz foi então entregue para o Museu particular da
Lapinha, perto de Lagoa Santa. Este era mantido por M.
Banyai, um fotógrafo húngaro imigrado depois da guerra.
Colecionava curiosidades, peças paleontológicas e
arqueológicas que coletava ou conseguia através de
doações. Tentamos interessá-lo a uma colaboração com os
arqueólogos e mostrar para ele práticas mais ortodoxas,
convidando-o a acompanhar nossas pesquisas na Lapa
Vermelha, aproveitando a presença na equipe de dois
arqueólogos da CODEMAT de origem também húngara. A
tentativa não surtiu efeito, e as relações foram doravante
difíceis entre os arqueólogos e o colecionador
entrincheirado em seu castelinho da Lapinha.
O Professor Sigefredo Marques Soares passou a
organizar excursões aos sítios com pinturas rupestres na
região de Belo Horizonte e até o alto vale do Rio Doce,
onde despertou o interesse do jovem acadêmico Marcos
Rubinger. Este, ainda estudante, registrou suas observações
e hipóteses em cadernos datados de 1954 a 1956. A argúcia
expressa nas anotações do jovem inexperiente e
deslumbrado e suas intuições, muito à frente da sua época
são, deveras, excepcionais. Foi profundamente lastimável
sua perda para a arqueologia e para a antropologia.
Figura 5. Instrumento lascado pleistocênico (entre 15.000 e 21.000
BP) da Lapa Vermelha IV
Nota-se que o material coletado durante as pesquisas do
Museu Nacional e das duas Missões internacionais foi
depositado no Museu Nacional, não existindo então
nenhuma Instituição habilitada a recebê-lo nas Minas
Gerais.
4.2 Os amadores
No mesmo período em que as Missões internacionais
focalizavam os abrigos - onde se podia esperar achar mais
facilmente vestígios concentrados e correspondendo a
vários períodos, várias personalidades mineiras se
interessavam pelos vestígios encontrados casualmente, ou
pelos registros rupestres visíveis imediatamente sem
escavações.
Entre eles, podemos lembrar o nome de Raul Tassini,
museólogo e artista (foi aluno de A. Mattos), que foi
funcionário na pequena cidade de Jaboticatubas onde
identificou sítios arqueológicos (As grutas de Minas Gerais,
1939) e também coletou cerâmica em sítios de superfície da
Figura 6. M. Rubinger, segurando uma vasilha Tupiguarani
M. Rubinger suportou mal o exílio que se seguiu a sua
fuga espetacular da prisão militar; com a saúde abalada,
morreu logo depois da sua volta ao Brasil no momento da
abertura. Conheci-o em 1976 em seus últimos meses de vida
40
e tive o prazer de prefaciar o pequeno livro póstumo que sua
esposa organizou a partir de notas esparsas. Por contraste
com a capacidade intelectual do estudante, parece ainda
mais esdrúxula a publicação de C. Alvim (ALVIM, 1964)
na qual este autor pretendia identificar o nível mental
(obviamente considerado infantil) dos indígenas a partir dos
desenhos por eles deixados nos paredões. Teria sido
interessante pedir ao doutor Professor que ele mesmo
desenhasse algo no quadro negro da sua sala, para depois
retribuir o procedimento analítico.
5.2 A primeira pesquisa intensiva: Santana do Riacho
Enquanto a equipe dirigida por A. Emperaire continuava
escavando a Lapa Vermelha, decidi procurar na Serra do
Cipó, 60 km ao Norte de Lagoa Santa, um sítio intacto e
rico em vestígios, que não tivesse sido destruído pelos
amadores. Após algumas tentativas frustradas (vários sítios
tinham sido esburacados), decidi fixar-me no grande abrigo
de Santana do Riacho, que tinha sido protegido dos
amadores pelos proprietários.
5. Os estudos em pré-história do Setor
de Arqueologia da UFMG
5.1. Primeiros passos
Em 1975, o arquiteto L. A. Péret, Diretor do recémcriado IEPHA e E. Cisalpino, Reitor da UFMG, ficaram
sensibilizados pela ausência de uma instituição que pudesse
pesquisar a pré-história de Minas Gerais. Precisava deixar
de depender de missões vindas de fora e sofrer a alienação
do patrimônio arqueológico retirado do estado.
Encarregaram G. Alves Wainstein, da também recém-criada
Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (FUNDEP), de
prover a Universidade de um centro de pesquisa. Após um
contato com a Missão francesa, que determinou minha
contratação pela UFMG, decidiu-se criar um centro de
pesquisas dedicado às ciências humanas. Desta forma
renunciei ao meu cargo de Professor na USP para residir em
Belo Horizonte. Pouco depois, Darcy Ribeiro (que acabava
de voltar do exílio) ampliou o projeto, idealizando um
“Museu do Homem” cuja estrutura física foi idealizada por
O. Niemayer. Este projeto faraônico esbarrou em oposições
políticas, e dele restou apenas o Setor de Arqueologia,
instalado no Museu de História Natural da UFMG. A
Reitoria encarregou-me de selecionar pessoas a partir de um
curso de extensão que ministrei no Museu no final de 1975;
realizamos os primeiros treinos da equipe em escavação nas
Lapas de Eucalipto (apenas um teste preliminar) e do
Carroção, perto de Pedro Leopoldo, no verão de 1975/76.
Alguns membros do grupo participaram das escavações na
Lapa Vermelha IV e da primeira expedição a Montalvânia,
em 1976. Nos meses seguintes, a UFMG contratou três
pessoas com as quais montei a primeira equipe do Setor,
com a ajuda preciosa de vários colaboradores voluntários
que dedicaram durante vários anos todo seu tempo livre às
nossas pesquisas. Nosso grupo congregava historiadores,
cientistas sociais, biólogos e geógrafos, com os quais
pretendia criar um centro de estudos pluridisciplinares. Os
primeiros laboratórios de estudos de materiais
arqueológicos, de palinologia foram então instalados no
Museu de História Natural. Pouco depois, o centro da
NUCLEBRAS (hoje CDTN) montava seu laboratório de
rádio-datação por análise de carbono 14. Montou-se até um
laboratório de termoluminescência na UFMG, que não
chegou a ficar operacional.
Figura 7. Foto de A. Prous com um auxiliar na
Lapa Vermelha IV em 1974
As primeiras sondagens em 1976 evidenciaram uma
grande riqueza em material e a presença de sepultamentos.
Desta forma coordenei uma equipe de escavações enquanto
encarregava dos levantamentos rupestres P. Colombel, um
técnico especializado da Missão francesa. As escavações
foram realizadas entre 1976 e 1979 e somaram cerca de
quatro meses. Ainda voltamos várias vezes nos anos
seguintes para estudos complementares de vegetação,
geomorfologia e levantamentos rupestres. A ocupação no
abrigo revelou uma profundidade cronológica de quase
12.000 anos (não calibrados; uma datação direta dos ossos
de um esqueleto, em 13.000 anos, não deve ser considerada,
pois a sua posição estratigráfica implica uma antiguidade
pouco maior que 8.000 anos). Os principais resultados
foram a localização de um cemitério deixado pelos
representantes da população dita “de Lagoa Santa” em
contexto muito bem datado e a observação minuciosa dos
ritos funerários. Ao estudar as indústrias desde o Holoceno
antigo até o período pré-cerâmico recente, entendemos
finalmente as características do trabalho de quartzo,
realizado em grande parte sobre bigorna. Este procedimento
era ignorado pela grande maioria dos pré-historiadores na
época, apesar de ter sido mencionado por H. Breuil desde os
anos de 1920 em indústrias do Paleolítico antigo da China.
Pudemos generalizar o reconhecimento desta técnica na
América do Sul, ao mesmo tempo em que se instalava nosso
laboratório de traceologia que iniciava o reconhecimento
dos micro-vestígios de utilização em gumes de pedra
(PROUS & LIMA, 1991; LIMA & MANSUR, 1991).
Conseguimos também datar neste sítio várias pinturas feitas
em blocos caídos do teto - inclusive com datação ao mesmo
tempo mínima e máxima - e períodos (um antigo, outro do
41
Holoceno médio) de intensa preparação de pigmentos.
Enfim, pudemos estudar detalhadamente numerosos restos
alimentares. Restos de pequi, coquinhos e jatobá ocorriam
nos sepultamentos desde quase 10.000 anos atrás, enquanto
grãos de milho pré-histórico eram coletados em cerca de
2.000 anos (em contexto seguro) e talvez 4.000 anos (em
contexto duvidoso). Instrumentos de fibras e adornos
vegetais foram também preservados (PROUS; MALTA
coord., 1991; PROUS coord., 1992).
Fora do grande abrigo realizamos nos arredores, ao pé da
Serra do Cipó, levantamentos de sítios a céu aberto
(sondamos “casas subterrâneas” em Pula Cinco) ou
abrigados. Entre estes últimos destacaremos Sucupira, que
forneceu elementos excepcionais de cronologia relativa para
os sucessivos estilos de pintura, e o Morro Vermelho, onde
pinturas do período histórico (uma bela evocação da cidade
de Mariana) sobrepõem grafismos pré-históricos.
5.3. Pesquisas no vale dos rios Cochá e Carinhanhã
(região de Montalvânia)
Nos mesmos anos em que começávamos as escavações
sistemáticas em Santana do Riacho, preparávamos novas
frentes de pesquisa. Em junho de 1976, o Prefeito e
fundador da cidade de Montalvânia, Antônio Montalvão,
tinha procurado o IEPHA, buscando quem estudasse as
gravuras e pinturas rupestres desta região do Norte do
estado.
Convidados ao encontro, A. Emperaire e eu ficamos
muito impressionados pela riqueza arqueológica do alto
médio São Francisco; fui então encarregado de levar um
pequeno grupo para visitar uma amostra dos sítios
descobertos pelo Prefeito e seu capanga, João “geólogo”.
Na volta da expedição, foi decidido que realizaria
escavações num sítio e organizaria prospecções sistemáticas
nos arredores de Montalvânia no ano seguinte (1977). Foi
então que A. Emperaire faleceu. Decidi não prolongar mais
as escavações na Lapa Vermelha, tanto por razões pessoais
quanto por considerar que este sítio já tinha entregado o que
de mais importante podia fornecer e que se precisava manter
o grande corte remanescente para fins didáticos.
Com a morte trágica de A. Laming-Emperaire em 1977,
decidi recusar a proposta de voltar para França, escolhendo
fixar-me em Belo Horizonte para firmar o novo grupo de
pesquisa. Pouco depois, em 1981, o Ministère des Affaires
Etrangères francês encarregou-me de liderar uma Missão
Francesa em Minas Gerais. Desta forma, tive um apoio
financeiro modesto, porém constante, para pesquisas em
simbiose com a equipe do Setor de Arqueologia da UFMG.
A campanha de 1977 em Montalvânia foi dedicada ao
estudo do sítio do Dragão (escavações e levantamento
sistemático dos grafismos rupestres) e à prospecção: mais
de 50 sítios foram registrados, mercê ao apoio de João
“geólogo”, apesar da derrota de A. Montalvão nas eleições
municipais, evento que acarretou dificuldades imprevistas e
episódios tragicômicos para nossa expedição. Mais uma
vez, as escavações privilegiavam um abrigo, pois este tipo
de sítio tem a vantagem de concentrar vestígios, ser
reocupado frequentemente e oferecer uma estratigrafia
contrastada, proporcionando assim informações para
documentar as modificações comportamentais ao longo do
tempo dentro de um mesmo ambiente; finalmente, nos
abrigos secos de Minas Gerais preservavam-se matérias
perecíveis. As pesquisas realizadas em Montalvânia
mostraram-nos, por contraste, a grande diferença existente
entre a ocupação do platô e das serras do centro de Minas
Gerais de um lado, e aquela desta parte do vale do rio São
Francisco. Os conjuntos gráficos parietais de cada região
refletiam obviamente conceitos totalmente diferentes. As
variações na indústria lítica em sílex eram bem mais
facilmente perceptíveis no Norte do estado, a partir das
indústrias de sílex, que no centro, onde predominava o
quartzo. Finalmente, verificava-se em Montalvânia a
presença de maior quantidade e variedade de vestígios
vegetais particularmente bem preservados - inclusive de
plantas cultivadas.
Apesar dos projetos iniciais de continuar a pesquisa na
região, ficamos vários anos sem voltar em Montalvânia. A
distância era muito grande, o asfalto não ia além de Montes
Claros, e não se podia mais contar com o apoio irrestrito da
Prefeitura. Mesmo assim, queria realizar um estudo
aprofundado de uma região do vale do rio São Francisco um
pouco mais próxima de nossa base de Belo Horizonte, para
melhor expor a oposição entre as duas regiões - Centro e
Norte mineiro. Para tanto, resolvi fixar minha atenção sobre
o vale do rio Peruaçu. Voltamos, no entanto, em
Montalvânia nos anos de 1990, essencialmente para
completar os levantamentos rupestres. Com efeito, nossas
pesquisas no vale do rio Peruaçu tinham evidenciado a
existência de numerosos pontos comuns nos registros
rupestres das duas regiões do alto médio São Francisco
(presença dos mesmos estilos e tradições, na mesma
sequência), mas também, de diferenças significativas. Estas
iam permitir diferenciar o Complexo Montalvânia (muito
mais desenvolvido no município epônimo - onde se
expressava, sobretudo, na forma de gravuras) (PROUS;
RIBEIRO, 1996) - da tradição São Francisco (esta,
predominante no vale do rio Peruaçu).
5.4. As pesquisas no vale do Rio Peruaçu (região de
Januária e Itacarambi)
Antônio Montalvão foi quem nos falou pela primeira vez
das ocorrências do Vale do rio Peruaçu. Quando desistimos
de continuar as pesquisas em Montalvânia, enviamos um
primeiro grupo de prospecção ao vale, em 1978, numa
expedição realizada em conjunto com A. Bryan e R. Gruhn,
com os quais havia então um projeto de colaboração iniciada com sondagens na região de Montes Claros. Esta
colaboração não foi adiante, mas nossa equipe francobrasileira iniciou em 1981 um longo programa de pesquisas
na região, cujas atividades de campo foram desenvolvidas
até 1995. As escavações concentraram-se inicialmente em
abrigos (Boquete, Malhador, Bichos, Caboclo, Índio), mas
foram mais tarde estendidas a sítios abertos (Boquete
externo, Terra Preta, Antônio Cardoso, Russinho, etc.) para
permitir uma visão mais completa da ocupação do vale.
Verificou-se a modificação da forma de ocupação assim
como da tecnologia ao longo dos milênios de ocupação. Os
belos pisos do primeiro momento de uso dos abrigos
42
(datados em 12.000 anos - não calibrados) proporcionaram
vestígios muito variados e ricos em estruturas in situ,
embora não tivéssemos encontrado estruturas funerárias
datadas do Pleistoceno final nem do Holoceno antigo. Os
primeiros vestígios datados de grafismos rupestres datam
desta época (gravuras com cerca de 9.000 anos), assim
como restos de pigmentos vermelhos. O período Holoceno
médio, longe de ser caracterizado por um abandono da
região, é marcado nos abrigos por uma intensa atividade de
utilização de pigmentos, provavelmente destinados à pintura
das paredes e dos tetos. No entanto, as atividades de
fabricação e uso de instrumentos de pedra e osso que eram
frequentemente realizadas anteriormente em abrigos
tornam-se mais raras neste período, sendo provavelmente
executadas em sítios a céu aberto. No Holoceno superior os
abrigos foram utilizados intensivamente para guardar cestos
de alimentos (“silos” contendo milho, mandioca, feijão e
amendoim, além de frutos silvestres) e, de maneira mais
casual, para enterrar mortos. Por outro lado, o estudo dos
paredões decorados, pelo qual se verificou uma mesma
sequência em todos os sítios, permitiu detalhar a
modificação dos temas e das formas de representação ao
longo do tempo; na Lapa dos Desenhos, oito “momentos”
estilísticos puderam assim ser separados, e tentamos
relacioná-los com os níveis encontrados nas escavações. De
qualquer forma, era óbvio que os abrigos nunca tinham sido
locais de habitação, mas apenas de frequentação mais ou
menos esporádica, pois os restos de subsistência não eram
representativos de atividades cotidianas. Infelizmente,
nunca encontramos lixeiras alimentares, que não se
preservaram nos locais a céu aberto que escavamos; mesmo
assim, as pesquisas no vale do rio Peruaçu proporcionaram
um quadro comparativo e de referência muito rico para todo
o Brasil central e, particularmente, para o médio vale do São
Francisco. (PROUS; RODET coord., 2009).
5.5 Os (e as!) ceramistas Tupiguarani
Após o fim das escavações no Peruaçu decidimos deixar
a arqueologia dos povoamentos antigos, dos registros
rupestres, dos restos alimentares e dos abrigos.
Colaboradores que pesquisavam o Médio Vale do Rio Doce
(BAETA ET AL, 1997) e colegas da UFJF que trabalhavam
na Zona da Mata (OLIVEIRA ET AL, 2006) convidaramnos a participar das suas escavações em sítios tupiguarani.
Considerando a riqueza destas regiões em sítios e
entusiasmado pela qualidade das pinturas em cerâmica que
apareciam num sítio de Conceição dos Ouros, decidi montar
um projeto para estudar esta tradição. Após uma fase
intensa de pesquisas no tempo do PRONAPA, a Tradição
tupiguarani tinha saído de moda e parecia esquecida pela
arqueologia acadêmica. Parecia-me urgente estudar sítios
inteiros para analisar sua estrutura interna, revisitar sua
indústria
(particularmente,
lítica,
praticamente
desconhecida) e abordar seriamente a iconografia das
cerâmicas pintadas, até então praticamente esquecida e que
me pareciam um meio de abordar a territorialidade dos
diversos grupos ligados a esta Tradição. Assim, montei um
projeto de arqueologia tupiguarani para o Sul de Minas
Gerais. Logo depois de colaborar a uma pesquisa dos sítios
de baixa altitude acima do Rio Doce, realizada no âmbito de
uma pesquisa de resgate, escavamos no município de
Andrelândia um sítio notável pela presença de “caretas”
modeladas. A seguir, organizei a escavação completa do
sítio Florestal 2 de Itueta (2001/2004), situado em topo de
morro abrupto e fora da zona de resgate, para estudar a
ocupação deste tipo de sítio estratégico, até então
inexplorado pela arqueologia tupiguarani. A aldeia tinha
sido ocupada durante um tempo aparentemente restrito e foi
preservada quase intacta. Desta forma, sua estrutura estava
legível, se tornava possível estudar a tralha de cada uma das
habitações, assim como dos postos de trabalhos situados
fora das casas (PROUS & LIMA, 2010). Ao analisar os
vestígios líticos, fomos levados a estudar os instrumentos
com dentes de pedra destinados a ralar mandioca,
mencionados entre os Tupis do século XVI, mas nunca
documentados
nem
etnograficamente
nem
arqueologicamente entre eles ou entre os Tupi e Guarani
históricos. Este trabalho desdobrou com a análise de
instrumentos atuais dos índios Baniwá e Waiwai.
Realizamos observações entre grupos Waiwai do Amazonas
e do Pará (PROUS ET AL, 2009), além da fabricação de
réplicas e experimentação. Os instrumentos líticos
utilizados brutos também receberam particular atenção
(PESSOA LIMA, 2009).
Levamos nossos colegas brasileiros, uruguaios e
argentinos de todas as tendências a compor uma obra
coletiva sobre os vários aspectos da arqueologia tupiguarani
e sobre o mundo simbólico dos seus prováveis descendentes
(PROUS; LIMA eds., 2010). Finalmente, ampliamos o
estudo das pinturas tupiguarani às coleções de todo o Brasil,
da Argentina e do Paraguai, cujo catálogo realizado com o
auxílio de numerosos colegas está em fase final de
publicação (PROUS; LIMA, 2010; ROCHA; PROUS;
JÁCOME coords.). Gostaria também de mencionar os
indícios de fornos tupiguarani para queimar cerâmica,
encontrados em sítios dos municípios de Conceição dos
Ouros, Aymorés e Itueta. Infelizmente, os resultados de
todas estas pesquisas estão longe de ser ainda publicados
adequadamente (embora se possam consultar o volume 3 de
PROUS; LIMA eds. 2010; BAETA; LIMA; PILÓ 2009;
PILÓ; BAETA; LIMA, 2009) .
5.6. Buritizeiro e Bibocas
Já nos anos de 1980, uma equipe da UFMG tinha
constatado a existência de um importante cemitério précerâmico frente à Pirapora, na cidade de Buritizeiro. O sítio
era relevante por ser um local a céu aberto numa situação
estratégica para a pesca, a proximidade da confluência do
Rio das Velhas e com o Rio São Francisco. Apresentava
características situacionais que ainda não tínhamos
encontrado nos sítios pré-cerâmicos até então escavados,
além de conter uma indústria sobre seixos que nos
interessava desde os anos de 1980 (PROUS, 1995). Quase
20 anos depois, W. Neves obteve uma datação de 6.000 BP
para uma das amostras ósseas coletadas por nossa equipe
nesta época. O estudo deste sítio tornava-se assim mais
relevante, pois se tratava do primeiro cemitério no Brasil
43
que pudesse fornecer uma boa amostra de esqueletos do
Holoceno médio. Discutia-se a forma pela qual tinha
ocorrido a substituição de populações paleoíndias não
mongolizadas (ditas “de Lagoa Santa”) bem datadas entre
ca. 11.000 e 8.000 BP por populações modernas
mongolizadas (bem representada somente a partir de ca.
4.500 BP, nos sambaquis). Teria havido uma evolução
gradual de uma morfologia para outra? Uma substituição
traumática de população? Esperávamos que o cemitério de
Buritizeiro poderia fornecer elementos de resposta por
inserir-se no período intermediário. Realizamos, portanto,
entre em 2005 e 2009, uma escavação sistemática de parte
do terreno que tinha escapado da destruição nos anos de
1980. Como não dispúnhamos de bio-antropólogos para
analisar os vestígios esqueletais, asseguramos uma
colaboração com o Laboratório de Estudos Evolutivos do
Instituto de Biologia da USP.
Nos níveis correspondendo ao cemitério (entre 5.000 e
6.000 BP - datas não calibradas), a indústria óssea é
particularmente interessante, evidenciando a utilização de
pontas de diversas características e funções. A análise do
amido preservado em superfícies de moagem comprovou a
presença de plantas cultivadas num período muito mais
remoto do que se supunha ate então, confortando nossa
antiga afirmação de que os procedimentos agrícolas seriam
bem anteriores ao aparecimento da cerâmica. A delicada
curadoria dos restos esqueletais faz com que somente
observações preliminares sobre a população enterrada no
sítio tenham sido realizadas até agora, mas já se verificou
diferenças nítidas nos acompanhamentos funerários (tanto
na indústria lítica quanto óssea) dos diversos enterramentos:
uns com conjuntos de grandes pontas losangulares
(provavelmente reunidas em aljava); outros com grandes
mós; outros, com “estojo de viagem”, etc. (PROUS;
RODET, 2009).
Para não ficarmos limitados ao estudo de um único sítio
isolado de todo contexto, a equipe do MHN também
realizou, sob a coordenação de M. J. Rodet, prospecções e
escavações em abrigos do município de Jequitai, enquanto
M. Castro e Silva e R. Tobias Jr encarregavam-se dos
levantamentos rupestres nos arredores. O abrigo Bibocas II
permite estudar a transformação das indústrias, que
aproveitaram tanto o quartzito dos paredões, quanto o
silexito regional e o quartzo cristalino. O registro rupestre,
por sua vez, acompanha a transição entre as formações
quartzíticas e calcárias: as principais manifestações
estilísticas dividem-se entre os dois espaços geológicos,
como se os pré-históricos ressentissem suas paisagens
diferenciadas como marcadores de territórios separados.
Ainda é cedo para fazer o balanço da arqueologia
regional, pois as escavações em Jequitai não terminaram e a
análise do sítio de Buritizeiro não está concluída. Mesmo
assim, podemos salientar o interesse excepcional da
comparação entre as indústrias do abrigo e do sítio a céu
aberto, que se desenvolvem paralelamente desde mais de
10.500 anos atrás, mas privilegiando matérias-primas locais
de qualidades diferentes e suportes (seixos, cristais ou
blocos). Assim se pode estudar como dois grupos
contemporâneos e vizinhos (ou talvez até, um único grupo)
adaptam-se às condições locais, modificando sua forma de
fabricar instrumentos. Por outro lado, articulando as
pesquisas realizadas nas terras altas do centro mineiro (perto
de Diamantina sob a coordenação de A. Isnardis; de Montes
Claros, sob a coordenação de L. Bueno), estamos tentando
determinar as relações e as oposições entre a região Serrana
e o vale do rio São Francisco, interligados justamente pelo
curso do rio Jequitai.
5.7. Diamantina e Montes Claros
Paralelamente às pesquisas em Buritizeiro, o Setor
realizava pesquisas na região de Diamantina, coordenadas
por A. Isnardis. Escavações foram realizadas em sítios de
abrigo (Lapas do Boi e do Caboclo) e em sítio aberto
(Garimpo do Turco). Os níveis mais antigos (aqui também
datados em cerca de 10.500 anos - não calibrados - BP) dos
abrigos revelaram uma bela indústria com peças
cuidadosamente trabalhadas em quartzo hialino e em
quartzito claro de ótima qualidade. Uma verdadeira lacuna
de registro arqueológico e sedimentar ocorre no Holoceno
médio. Nos níveis superiores de ocupação foram
encontrados pacotes funerários preservados dentro de tubos
de casca, fechados por tampos de couro animal. Nos níveis
subsuperficiais, os vestígios líticos deixados pelos últimos
frequentadores indígenas dos abrigos misturavam-se com os
restos de lascamento atuais feitos pelos garimpeiros atuais.
Com efeito, nesta região riquíssima em monocristal, a
produção é vendida principalmente às indústrias que
precisam de sílica pura. Desta forma, é preciso descorticar
totalmente os cristais, cuja superfície retém impureza. Esta
operação é realizada durante o almoço, na sombra dos
abrigos e abaixo dos paredões pintados. Desta forma, a
pesquisa arqueológica gerou um trabalho etnográfico; além
de se analisar os refugos atuais (em abrigo, e em
amontoamentos monticulares a céu aberto), estudam-se as
práticas e repartição de tarefas nas aldeias que vivem do
garimpo e da preparação dos cristais. A arte rupestre da
região apresenta muitos conjuntos temáticos em comum
com aquela de Lagoa Santa e da Serra do Cipó, mas com
traços estilísticos próprios. A pesquisa seguiu quatro
direções principais. O estabelecimento de uma cronoestilística; a determinação dos critérios de escolha de certos
abrigos em função das suas características morfológicas e
da sua situação na paisagem; a preferência de cada unidade
estilística por suportes específicos; enfim, o reconhecimento
dos processos de elaboração gráfica e a recuperação ou a
integração dos grafismos anteriores por pintores préhistóricos mais recentes.
Uma expedição tinha sido realizada em 1976 na região
cárstica de Montes Claros por A. Bryan e R. Gruhn
(Universidade de Alberta, Canadá) com a participação de
membros do Setor de Arqueologia da UFMG e sob nossa
coordenação formal. A sondagem da Lapa Pequena tinha
proporcionado vestígios de uma ocupação datada em 7.000
BP. Entre outros vestígios líticos, numerosas bigornas
tinham atraído nossa atenção, levando-nos a trabalhar sobre
os instrumentos utilizados brutos (percutores e bigornas),
com intensas experimentações e análises de vestígios de
utilização (MOURA; PROUS, 1989). A Lapa Pintada
próxima apresentava um amplo espaço, protegido por
44
pinturas rupestres. Em 2007, L. Bueno e A. Isnardis,
desejosos de estudar a região intermediária entre
Diamantina e o vale do Rio Peruaçu, decidiram sondar as
partes ainda intactas do sítio, assim como dois outros
abrigos, encontrando silos bem preservados contendo
vegetais cultivados, parecidos com aqueles do vale do rio
Peruaçu (BUENO ET AL, 2008; BUENO, no prelo).
5.8. Pesquisas assistemáticas, ou realizadas fora do
estado
5.8.1. Pesquisas fora de programas
Realizamos várias pesquisas oportunísticas ou de âmbito
limitado.
Entre
elas,
destacaremos
escavações
paleontológicas em 1976 (na gruta da Preguiça que, mais
tarde, W. Neves rebatizaria “Cuvieri”) e estudos de ossos de
preguiça gigante e mastodonte com marcas de corte e
desarticulação com instrumentos líticos (PROUS;
GUIMARÃES, 1981). Foram também feitas prospecções de
sítios cerâmicos a céu aberto na região de Lagoa Santa
(1976/78) e escavações de uma aldeia circular Sapucaí em
Ibiá (1980).
Realizaram-se levantamentos rupestres preliminares nas
regiões de Diamantina e da Serra do Cipó (1976/82).
Levantamentos sistemáticos foram feitos com a participação
destacada de A. Baeta, A. Siqueira e J. Motta na região
arqueológica dita “de Lagoa Santa” (anos de 1970 até 1990)
e perto de Cocais (1987/88). Fizemos prospecções no
município de Arcos a pedido do Prefeito da cidade,
levantando casas subterrâneas e abrigos com inscrições
rupestres. Foram realizadas várias operações para atender
solicitações do IPHAN ou da Promotoria Pública.
Citaremos como exemplo escavações para resgatar
estruturas funerárias (São Gotardo, Iguatama, Ipanema e
Belo Vale); escavações e sondagens, assim como
levantamentos rupestres no município de Andrelândia. Esta
última operação levou em 1986 à criação de um Parque,
realizado por iniciativa de uma ONG local (o NPA). Fomos
também solicitados a verificar achados de corpos
mumificados e trançados preservados na Gruta dos Puris em
Carangola, mas nossas recomendações restaram sem efeito.
Membros do Setor de arqueologia da UFMG
participaram oficialmente de pesquisas ou atividades
realizadas por grupos de outras instituições: Museu
Paraense Emílio Goeldi, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Universidade Federal de Sergipe, MAEUSP, etc. Em troca, recebemos pesquisadores ou estagiários
da Universidade Estácio de Sá, da Universidade Federal da
Bahia. Estudantes e pesquisadores de vários estados
participaram de cursos promovidos pelo Museu de História
Natural da UFMG.
5.8.2. A miragem das Amazonas: Alto Trombetas e
Marajó
O recebimento de uma coleção de cerâmica e de peças
líticas Konduri provenientes do baixo Trombetas despertou,
pela primeira vez, o interesse do Setor de Arqueologia para
esta cultura pouco estudada até então; este material foi, na
época, estudado e publicado por C. M. Guimarães. A
criação do curso de pós-graduação em Antropologia
(integrando arqueologia e antropologia) levou à elaboração,
em 2010, de um projeto comum envolvendo arqueólogos e
antropólogos, nos formadores do rio Trombetas (PA) onde o
etnólogo R. Caixeta de Queiroz trabalhou há mais de um
decênio com os grupos indígenas. Tratava-se de um
trabalho ainda em fase de realização, sob a responsabilidade
conjunta minha e de C. Jácome, cujos primeiros resultados
são ainda inéditos. Arqueologicamente, verificou-se uma
antiguidade de cerca de 7.000 anos da ocupação humana. A
maioria dos sítios em análise, no entanto, é formada por
terras pretas bem mais recentes. Tentamos avaliar as
relações entre as Guianas e o vale do baixo Amazonas, a
partir da análise da cerâmica, dos vestígios líticos e do
registro rupestre gravado e pintado.
Paralelamente, realizamos uma pesquisa sobre a
utilização e a iconografia das tangas marajoaras, que levou à
fabricação de réplicas e testes de utilização com a
participação de bolsistas e estagiárias do Setor.
5.9. Principais colaborações
As pesquisas do Setor de Arqueologia da UFMG foram
realizadas em colaboração com vários laboratórios da
UFMG e, também, de outras Instituições. Já mencionamos a
forte relação com a Missão Francesa na realização dos
principais programas. Mantivemos parcerias com o
laboratório de geomorfologia da Universidade de Caen; com
o CDTN (Laboratório de Radiocarbono, nos anos de 1990;
programas de estudos de cerâmica por ativação nuclear, de
1997 a 2005). Com o LEEH do Instituto de Biologia da
USP (bio-antropologia); com o MAEA da UFV
(arqueologia tupiguarani). Aproveitamos a colaboração de
colegas de diversas Instituições: Museu Nacional e Estácio
de Sá; da EMBRAPA de Piracicaba e de Brasília (genética
de plantas cultivadas antigas), e outros muitos.
Equipes ou pesquisadores do MHN da UFMG, em
parceria com o CPRM, o IBAMA ou com o Ministério
Público, atualizaram o mapa dos sítios do carste de Lagoa
Santa; participaram da definição dos limites ou do plano de
manejo de APAs, PARNAs, Monumentos Naturais
Estaduais e Federais (Serra do Cipó, Sumidouro, Gruta Rei
do Mato, RPPN do Instituto Terra, Itambé, Biribiri, Rio
Preto, Peruaçu).
Pesquisadores da UFMG têm também apoiado pesquisas
de equipes de outros estados UFS (A. Prous), UFBA,
UFRN, Museu Paraense Emílio Goeldi (M. J. Rodet e D.
Duarte Talim), etc. Estivemos também em Missão pelo
ICOMOS ou realizando perícias em diversos países da
América Latina.
6. A arqueologia do período histórico feita por
equipes da UFMG e colaboradores
Em seus primeiros anos, o Setor de Arqueologia dedicouse particularmente à arqueologia pré-histórica, mas
registrava também ocorrências de interesse histórico. C. M.
Guimarães passou a se especializar neste campo, criando em
1995 um Laboratório de Arqueologia na Faculdade de
Filosofia e Ciências Humanas (FAFICH-UFMG).
45
6.1. Arqueologia da resistência e da repressão
Em 1978, a equipe de prospecção do MHN teve
oportunidade de visitar vários sítios ocupados por
Quilombos na região Diamantina. Em 1981, reconheceu
Quilombo do Ambrósio, entre Campos Altos e Ibiá, à qual
se seguiram escavações. Um estudo destas manifestações de
resistência à escravidão foi então realizado por C. M.
Guimarães que iniciou escavações neste último local. A
pesquisa evidenciou a profunda diferença de estrutura entre
os Quilombos em região de mineração e os Quilombos
estabelecidos em região agrícola (GUIMARÃES; LANNA,
1981). Mais tarde, vários (ex)membros e colaboradores do
Setor estudaram cavernas utilizadas por escravos fugitivos
(Serra da Moeda) (BAETA; PILÓ, 2009), postos militares
(Ilha da Lorena, no Rio Doce) e quartéis militares no
Jequitinhonha para controlar os movimentos dos indígenas
(CEDEFES, 2003), assim como sedes e senzalas de
Fazendas coloniais (JUNQUEIRA, 2010).
Em 2010, a contratação de novos arqueólogos pela
UFMG reforçou esta linha de pesquisa dos vestígios da
escravidão e de populações afrodescendentes. L. C.
Symanski estuda senzalas de engenhos de açúcar e de
fazendas de café nos campos de Goytacazes e de Santa Rita
de Jacutinga. Procura assim elementos sobre as
configurações econômicas, sociais e culturais desenvolvidas
pelos grupos escravizados. Espera-se encontrar indicadores
de cosmologias, resistência e reconstrução de identidades.
M. Torres, por sua vez, desenvolve um trabalho sobre a
Diáspora africana levando em conta seus aspectos e
consequências em ambas as margens do oceano Atlântico:
retenção e emergência de práticas culturais, religiosas e
econômicas; espaço social e paisagens ligados à Diáspora,
influência da imigração africana sobre as relações raciais.
Dentro de um projeto de “Arqueologia da Inconfidência
Mineira”, C. M. Guimarães vem mapeando trechos de
estradas reais, estalagens e locais de exploração de pedras
na região de Ouro Preto (GUIMARÃES ET AL, 2010). Na
mesma cidade, estudou também o Morro da Queimada,
palco da revolta de Felipe dos Santos em 1720.
Com a integração do arqueólogo argentino Andrés
Zarankin à equipe de arqueologia histórica da FAFICH,
uma vertente mais moderna da violência repressiva passou a
ser também contemplada: o estudo dos campos de
concentração da ditadura militar argentina e a conformação
dos chamados sítios da memória.
6.2. Arqueologia da Mineração
Vários arqueólogos estudaram as áreas de mineração de
ouro e de ferro. Podem-se destacar as pesquisas realizadas
por Paulo Junqueira no Gongo Soco (Barão de Cocais) e
Brucutu, as de Mariana Gonçalves na fabrica Patriótica - a
primeira fabrica de ferro fundido em Minas, instalada por
Eschwegue, e as de A. Baeta no sítio do Gogó, onde se pode
documentar uma grande variedade de formas de exploração,
assim como as estruturas associadas (igreja e cemitério dos
Ingleses, caminhos, casas, comércios, represas, etc.). L
Ribeiro e D. Leanza (2006) pesquisaram a mineração
Córrego de Cuiabá em Sabará, enquanto G. Henriques
(2008) estudava as Minas do Socorro em Barão de Cocais.
C. M. Guimarães analisa particularmente os processos de
degradação ambiental decorrentes da mineração de ouro (e
também, do ciclo do café), dentro de uma perspectiva de
arqueologia ambiental.
6.3. Arqueologia rural e urbana
Inesperadamente, a arqueologia das igrejas barrocas de
Minas Gerais parece quase inexistente, sendo sua
restauração confiada a arquiteto sem intervenção de
arqueólogos. Uma das poucas exceções ocorreu na matriz
de Tiradentes, cuja reforma foi monitorada pela arqueóloga
T. Portela em 2004. Entre as fazendas históricas estudadas,
mencionaremos as da Jaguará (escavações realizadas por P.
Junqueira e F. Lopes de Paula) e de Bom Jardim (por A.
Baeta). Esta última pesquisadora também pesquisou a rede
colonial de canalizações e levantou as minas de ouro da
cidade de Mariana.
A arqueologia dos jardins, iniciada pelos japoneses em
Nara, teve início tardio no Brasil. Um trabalho pioneiro foi
realizado por F. Lopes de Paula e A. Baeta na oportunidade
da renovação da Praça da Liberdade em Belo Horizonte
(1990). Mais tarde, esta última arqueóloga procurou os
vestígios históricos dos Jardins do Palácio do Bispo de
Mariana, dos quais se tem uma aquarela de José Joaquim
Viegas de Menezes pintada em 1809. Tinham sido
mencionados com louvor por Auguste de Saint-Hilaire em
1817, e Dom Pedro II se banhou em uma das suas fontes em
1881. Finalmente, pesquisou o quintal da casa da Baronesa
em Ouro Preto. Dentro desta perspectiva, escrevi um estudo
sobre evolução dos jardins no mundo e sua relação com as
filosofias e sociedades que os tinham produzido, incluindo
observações sobre jardins contemporâneos da região
metropolitana de Belo Horizonte - particularmente, de
Lagoa Santa (PROUS, 2000).
6.4. Arqueologia da Antártida
O Laboratório de Estudos Antárticos em Ciências
Humanas (LEACH-UFMG), liderado por A. Zarankin
desenvolve, desde 2010, pesquisas em ilhas da Antártida
(Shetland do Sul). A equipe tri-nacional (Brasil, Argentina e
Chile) estuda os vestígios dos primeiros estabelecimentos
humanos na margem deste continente. Trata-se das bases
para os caçadores de mamíferos marinhos. Até então, a
história destes empreendimentos fundamentava-se nos
documentos escritos deixados pelos oficiais dos navios,
focalizando as personagens situadas no topo da escala
hierárquica. Pesquisas iniciais foram realizadas a partir de
1995 por uma equipe argentina do CONICET integrada por
A. Zarankin. Com a escavação das bases terrestres iniciadas
em 2010, tornou-se possível resgatar o cotidiano dos grupos
operários. Desta maneira, foram encontradas estruturas de
pedra, materiais de construção e mobiliário (pregos, estacas
de madeira, coberturas em couro e vértebras de baleia
usadas como fogão). Foram recuperadas peças de vestuário
(tecidos, botões, luvas e sapatos), restos de alimentação
(ossos, grès e vidros), armas brancas e pederneiras e
munições para armas de fogo. Ossos e couros de animais
46
abatidos, estacas de madeiras usadas para o abate atestam a
função primordial dos estabelecimentos, enquanto fichas de
jogos, tabuleiros e cachimbos documentam os momentos de
lazer. Todos estes vestígios estão sendo estudados e tratados
em colaboração com o Laboratório de Ciências da
Conservação (LACICOR) da UFMG.
7. Outros grupos de pesquisa e
divulgação da arqueologia nos anos
1970/2013
7.1. Pesquisas acadêmicas realizadas por equipes de
outros estados da Federação
7.1.1. O Instituto de Arqueologia Brasileira
Ao mesmo tempo em que se criava o Setor de
Arqueologia, o Instituto de Arqueologia Brasileira, liderado
por O. Dias Jr., iniciava em meados dos anos de 1970
pesquisas no estado Minas Gerais, com o objetivo de
realizar prospecções ao longo do rio São Francisco. Perto
das cabeceiras do mesmo, observou, pela primeira vez, a
presença de casas subterrâneas no estado; mais para jusante,
depois de uma breve visita ao município de Montalvânia, os
responsáveis pelo IAB, provavelmente influenciados pela
experiência adquirida em Lapa Vermelha, decidiram
realizar pesquisas mais intensivas e localizadas, decidiu
(sobretudo, desenvolveu, nos anos de 1980, escavações de
ampla superfície nos municípios de Unaí (Lapas da Foice e
do Gentio 1976/87) e de Varzelândia (Boqueirão Soberbo,
Lapa do Varal - 1982/92). Estes trabalhos trouxeram
importantes contribuições ao conhecimento dos ritos
funerários e dos vegetais cultivados na pré-história tardia de
Minas Gerais. Verificou-se a antiguidade da arte rupestre na
região, a partir do achado de um bloco pintado enterrado em
nível pré-cerâmico. Após uma visita inicial realizada em
1976 pelo IAB na Serra do Cabral, P. Seda, também do
IAB, iniciou em 1990 um trabalho de prospecção
sistemática e de sondagens (Lapa Pintada III de Buenópolis)
nesta formação. As pesquisas deste arqueólogo justificaram
a criação, em 2005, do Parque Estadual da Serra do Cabral
(PESCABRAL).
7.1.2. Pesquisadores da Universidade de São Paulo
Desde muito jovem, o mineiro W. Neves sonhava em
escavar em Lagoa Santa e, particularmente, no sítio de
Sumidouro de Fidalgo onde Lund tinha trabalhado. Depois
de colaborar com a UFMG, realizando a curadoria e
analisando os esqueletos da população de Lagoa Santa e
Santana conservados no MHN, iniciou em 2000, uma
pesquisa em abrigos com sua equipe do Laboratório de
Estudos Evolutivos Humanos da USP. Depois de trabalhar
na Lapa do Sumidouro para controlar as descrições de
Lund, escavou na Lapa das Boleiras (já parcialmente
estudada por W. Hurt) e finalmente a Lapa do Santo, onde
encontrou um importante cemitério da população “de Lagoa
Santa”. O estudo minucioso dos restos esqueletais permitiu
observar manipulações dos ossos que não tinham sido ainda
registradas. Também datou entre 9.500 e 10.000 anos vários
restos ósseos de fauna quaternária (preguiças gigantes,
tigre-dente-de-sabre) conservados na Dinamarca, data
correspondente àquela da preguiça gigante datada na Lapa
Vermelha em 1975. O recente achado de uma gravura
enterrada no fundo de uma sondagem veio reforçar a
importância da Lapa do Santo, cuja escavação continua sob
a liderança de A. Strauss.
A partir de 1980, a também mineira e pesquisadora da
USP Marcia Angelina Alves escavou sítios cerâmicos e précerâmicos no vale do rio Paranaíba (rio Quebra Anzol).
7.1.3. Universidade Estácio de Sá
Tínhamos recebido nas escavações de Santana do Riacho
alunos do curso de Arqueologia e Museologia das então
Faculdades Unidas Estácio de Sá em 1979. Em 1985,
convidamos vários professores deste curso, sob a direção de
O. Heredia, a participar das pesquisas realizadas no abrigo
do Janelão. Infelizmente, a colaboração que tínhamos
idealizado não foi para frente.
Em 1991, V. Luft, professor do curso de Arqueologia e
Museologia da Universidade Estácio de Sá, iniciou um
projeto de arqueologia Puri-Coroado na Zona da Mata
(município de Visconde do Rio Branco), mas que também
não foi levado adiante.
7.1.4. Centros e grupos de pesquisa de Minas Gerais
CETEC, CPG, CAALE
Em 1976 e 1977, a Fundação Centro Tecnológico de
Minas Gerais (CETEC) realizou prospecções de sítios
rupestres da região de Monjolos e da Serra do Cabral, com
incentivo do Museu Nacional, mas a iniciativa não foi
adiante. O Centro de Pesquisas geológicas (CPG) criado por
estudantes que tinham participado das primeiras atividades
do Setor de Arqueologia do MHN-UFMG registraram e
documentaram vários sítios de registro rupestre nos
municípios de Jequitaí (Curral de Pedra) e na Serra do
Cabral, trazendo muitas informações para a UFMG. O CPG
transformou-se a seguir no Grupo Bambuí de Pesquisas e
passou a dedicar-se exclusivamente à espeleologia,
enquanto um dos seus fundadores criava uma firma de
consultoria ambiental (Brandt Meio Ambiente).
Em 1983, R. Albano, ex-estagiária do Setor de
Arqueologia do MHN-UFMG, criava o Núcleo Municipal
de Arqueologia, mais tarde denominado Centro de
Arqueologia Annette Laming- Emperaire. Desde então, vem
realizando trabalhos de divulgação de arqueologia junto à
população.
7.1.5. O Museu de Arqueologia e Etnologia
Americana da Universidade Federal de Juiz de Fora
Em 1986, F. J. Hochleitner, aviador alemão que tinha
estudado arqueologia americana na Bolívia depois da
segunda guerra mundial, fundou um Setor de
Arqueoastronomia na Universidade Federal de Juiz de Fora.
47
Depois da aquisição de coleções de Etnografia em 1992,
este passou a se chamar Museu de Arqueologia e Etnologia
Americana (MAEA). Em 2000 montou um Laboratório de
arqueologia liderado por A. P. de Oliveira, que desenvolveu
um dinâmico projeto de estudo de arqueologia tupiguarani
na Zona da Mata - chegando a UFMG a colaborar nos
trabalhos de campo. Uma importante série de publicações e
diversas atividades junto às populações locais foram
desenvolvidas pela instituição. Em 2011, problemas de
ordem administrativa e a saída de A. P. de Oliveira levaram
o MAEA a limitar suas atividades no campo da arqueologia.
7.1.6. Criação do LAEP da UFVJM
Em 2009, a Universidade Federal dos Vales do
Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) em Diamantina abriu
concurso para arqueólogo. Logo contratado, M. Fagundes
criou o Laboratório de Arqueologia e Estudo da Paisagem
da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e
Mucuri (LAEP).
7.2. Arqueologia preventiva
Como em todo o Brasil, a grande maioria das atividades
em arqueologia hoje desenvolvidas no estado é de pesquisas
contratadas. Segundo o IPHAN-MG, eram aprovadas
centenas de projetos de intervenção (arqueologia
preventiva) a cada ano entre 1991 e 2009, e apenas 1 ou 2
projetos acadêmicos (DELFORGE, com. pessoal). As
primeiras pesquisas deste tipo em Minas foram solicitadas
por Instituições públicas (CETEC, IBPC - hoje IPHAN) no
início do decênio de 1980; os levantamentos de EIA-RIMA
começaram a surgir nos anos de 1986/87. Ao que parece, o
primeiro grande projeto foi aquele realizado na
oportunidade das obras da UH de Nova Ponte em
1992/1994, quando duas equipes - uma do Paraná e outra,
de Minas Gerais, dividiram a tarefa de localizar e estudar os
sítios afetados.
8. Desenvolvimento do ensino e da
divulgação em arqueologia no estado e
no exterior
8.1. Ensino
No segundo semestre de 1975, ministramos um curso de
curta duração no MHN da UFMG, para selecionar os
primeiros colaboradores. Em 1977, M. Vasconcellos,
recém-chegado da França onde tinha ficado no exílio
durante o regime militar, fundou uma Sociedade de
Paleontologia e Pré-História (SPP) em Belo Horizonte, que
recebeu nosso apoio, assim como de várias personalidades
como J. Pena (Presidente) e o paleontólogo C. Cartelle.
Apesar de um início auspicioso e da realização de um curso
de extensão, dificuldades devidas à personalidade do
Secretário levaram rapidamente à extinção da Sociedade.
Em 1978, ministramos um curso noturno de divulgação,
para financiar o custo dos Arquivos do Museu de História
Natural (volume 3), que o Diretor do Museu não tinha
achado interessante financiar. Em 1980/81, organizei no
Museu de História Natural um curso de especialização com
duração de 2 anos, com a colaboração de professores da
UNB, da USP e do Museu Nacional, que permitiu capacitar
a primeira equipe da UFMG e vários colaboradores. Os
trabalhos de campo obrigatórios foram realizados no abrigo
Rei do Mato, no sítio Sapucaí de Ibiá e em abrigos do vale
do Rio Peruaçu. O livro “Arqueologia Brasileira”,
publicado dez anos depois pela UNB, é a apostila que eu
tinha preparado para ministrar a matéria de mesma
denominação.
Nos anos seguintes, aproveitei diversas oportunidades
para completar a formação da equipe que trabalhava no
Museu. Através de uma bolsa da Fulbright, trouxe o
tecnólogo J. Flenniken, com o qual discuti intensamente as
indústrias de quartzo. Depois de uma estadia na USP, J.
Tixier veio fazer demonstrações de lascamento, que foram
registradas em filme. Trouxemos no Museu M. Estela
Mansur - Franchomme, pioneira na América Latina dos
estudos de traceologia. A partir do curso que ela ministrou
para estudantes de vários estados do Brasil no MHN,
criamos nosso laboratório de traceologia, cujo responsável,
M. Alonso, ela recebeu também em sua base de Ushuaia.
Paralelamente, oferecemos um curso de estudo de indústrias
líticas, que reuniu estudantes de vários estados da
Federação. Em 1998, o Fórum de Arqueologia organizou
cursos de formação intensiva na UFRS, onde ministramos
um curso de tecnologia lítica. Em 2000, fomos convidados
pela Universidade de Montevidéu para oferecer uma nova
versão desta atividade. Em 2003, a Fundação Ortegalia
solicitava também nossa ida à Espanha para ministrar o
mesmo curso, e mostrar particularmente as características
das indústrias de quartzo. Foi desta experiência que saiu a
publicação do livro Apuntes para Analises de industrias
líticas. Já tínhamos apresentado algumas características das
indústrias de quartzo para pesquisadores franceses
trabalhando sobre coleções africanas (sítios de
Australopitecos e H. habilis) e italianas nos anos de 1980.
O curso de graduação de Ciências Sociais da UFMG
oferece, desde os anos de 1980, matérias optativas de
arqueologia. Em 2006 foi criado o Mestrado em
Antropologia, com área de concentração em Arqueologia.
Em 2011 foi implantado o curso de antropologia (com
habilitação em Arqueologia). Em 2013 deve ser realizada a
primeira seleção para o Doutorado no mesmo programa
(PPGAN).
8.2. Divulgação para o grande público
A equipe do Setor de Arqueologia da UFMG tem longa
tradição de divulgação para o grande público. Entre as
exposições realizadas, podemos mencionar aquelas
apresentadas em 1978: no Saguão da Reitoria (arte rupestre
de Montalvânia); no ex-campo do Atlético em convênio
com a Prefeitura Municipal (o Homem pré-histórico e meio
ambiente); pela embaixada do Brasil em Paris (Galerie
Debret). Em 1980, na Pinacoteca de São Paulo (arte rupestre
brasileira) em colaboração com o Instituto de Pré-História
48
da USP. Em 1982†, nossa grande exposição no segundo
andar da Estação Rodoviária de Belo Horizonte recebeu
dezenas de milhares de visitantes. Em 1991, sob a
coordenação de C. Cartelle, no Palácio das Artes
(Paleontologia, Espeleologia e Arqueologia), em
colaboração com o Grupo Bambuí de Espeleologia e a
PUC-MG; em 2000, no mesmo Palácio das Artes; outras, no
Parque Ibirapuera em São Paulo (sobre a pré-história do
Velho Mundo, e sobre a entrada do Homem na América em
colaboração com W. Neves) para as comemorações dos 500
anos da chegada dos Portugueses no Brasil; na estação Ana
Rosa do metrô de São Paulo em 2007 (arte rupestre); nas
prefeituras de Pedro Leopoldo e Matozinhos (em várias
oportunidades, sobre a pré-história regional). Em
Diamantina (2009), durante o Festival de Inverno; no
espaço TIM da Praça da Liberdade de Belo Horizonte
(2010/2013). O MAEA de Juiz de Fora também organizou
exposições em várias cidades da Zona da Mata de Minas
Gerais. O MHNJB da UFMG também participou de várias
exposições organizadas por G. Rocha Silva Catel em
Manguinhos. Além destas exposições, autores do Setor de
Arqueologia do MHN publicaram vários textos destinados a
um amplo público, tais como vários artigos na revista
Ciência Hoje (inclusive primeiro da revista a tratar de
arqueologia, em 1983), catálogos de exposição; livros
didáticos especialmente concebidos para professores e
estudantes (PROUS, BAETA & RUBBIOLI, 2003 primeiro texto a receber o prêmio Alfredo Rohr de
preservação do patrimônio arqueológico, naquele mesmo
ano). O CAALE, por sua vez, criou recentemente o boletim
informativo In Situ. Vários artigos publicados na revista da
FAPEMIG (Minas Faz Ciência) divulgaram nosso trabalho
no meio acadêmico mineiro não especializado. Realizamos
filmes didáticos (com destaque para Arqueologia no Brasil,
1977), vídeos sobre a arqueologia do rio Peruaçu (realizado
por A. Xexeu); sobre registros rupestres e graffiti (“O ateliê
de Luzia”, com M. Jorge). Participamos de programas
especiais e amplamente divulgados no Brasil da
REDEMINAS (DVDs sobre paleontologia, espeleologia e
arqueologia em Minas Gerais, 2012), das Redes Manchete e
Globo.
8.3. Publicações Científicas
O Setor de Arqueologia pré-histórica do MHN-UFMG
manteve, por si só, os Arquivos do Museu de História
Natural desde o número 2 (1976) até o número 19 (2009);
somente a partir do volume 20 houve participação de outras
áreas, das ciências da terra, da vida, e da conservação. Os
membros do Setor chegaram a ministrar cursos noturnos de
extensão para financiar a revista, quando um dos Diretores
do Museu negou apoio. A revista deve ser disponibilizada
na INTERNET ainda este ano. O Laboratório de
Arqueologia da FAFICH, por sua vez, lançou em 2007 a
revista internacional Vestígios, dedicada à arqueologia
histórica. Em 1977, encarregamos D. Campos de copiar em
diversas bibliotecas do país as publicações antigas de
arqueologia brasileira, montando-se assim um centro de
†
Data aproximativa
documentação no Setor de Arqueologia. Desde então,
tentamos manter atualizada uma Bibliografia de
Arqueologia Brasileira, que conta atualmente com cerca de
8.000 títulos. Ela foi parcialmente publicada nos volumes 4,
10 e 15 da revista Arquivos do MHN com o auxílio de H.
Diniz Ribeiro (vol. 10), R. Kipnis, I. Wust, A. Miranda e R.
Bita (vol. 15). Este levantamento, atualizado até 2013, deve
ser disponibilizado no site do Setor de Arqueologia
(atualmente em preparação) ainda este ano. Os
pesquisadores da UFMG, tanto na área de pré-história
quanto de história, mantêm uma prolífica produção
científica, que soma dezenas de livros em português,
espanhol, francês e inglês, além de centenas de artigos em
revistas especializadas de ambas as Américas e da Europa.
Participaram de numerosos congressos em todos os
continentes. Por sua vez, o MAEA da UFJF manteve, entre
2005 e 2010, uma série dedicada à arqueologia de Minas
Gerais.
8.4. Encontros
O Setor de Arqueologia do MHN hospedou, em 1978, um
dos Simpósios do Colóquio interdisciplinar FrancoBrasileiro sobre formações superficiais, no qual se
debateram as formações cársticas de Lagoa Santa. Em 1981,
organizamos a Segunda Reunião Científica da recém-criada
Sociedade de Arqueologia Brasileira (estes encontros ainda
não eram denominados “Congresso”). Em 2007, L. Bueno e
A. Isnardis idealizaram e coordenaram no MHN o Simpósio
“Tecnologia lítica no Brasil”, com participação de
pesquisadores do Rio Grande do Sul, de Goiás e dos
Estados Unidos. A. Paula de Oliveira organizou vários
simpósios sobre Arqueologia e Patrimônio da Zona da Mata
Mineira (Nepomuceno, 2004; Juiz de Fora, 2006), assim
como os primeiros encontros da SAB Sudeste (Carangola,
2008; Ouro Preto, 2000). Os pesquisadores do Setor de
Arqueologia participaram de numerosos congressos
interacionais nas Américas, na Europa e na Austrália.
8.5. Coleções arqueológicas provenientes de sítios do
estado de Minas Gerais
Fora do Estado de Minas Gerais, as maiores coleções de
arqueologia pré-histórica encontram-se no Museu Nacional,
que recebia o material coletado pelas sucessivas Missões até
a criação do Setor de Arqueologia da UFMG, em 1976. O
material coletado pelas equipes do Instituto Brasileiro de
Arqueologia encontra-se na sede do IAB em Belford Roxo,
perto do Rio de Janeiro. Algumas peças de origem mineira
encontram-se também no Museu do Índio do Rio de Janeiro.
As coleções esqueletais recém escavadas pela equipe da
USP estão sendo conservadas no LEEH. Algumas
cerâmicas do oeste mineiro e parte da coleção reunida por
H. V. Walter entre 1939 e 76 encontrar-se-iam no Museu
Paulista de Arqueologia (MUPA) de São Paulo, aonde
foram levadas pelo Maestro T. Khallyabby - amigo de
Derek Walter, filho e herdeiro do colecionador.
As maiores coleções guardadas no estado são,
provavelmente, aquelas do Museu de História Natural da
UFMG, onde M. Castro e Silva luta há anos para conseguir
condições adequadas de preservação. A PUC-MG e o
49
CAALE de Lagoa Santa guardam coleções provenientes de
ações de arqueologia preventiva. O Museu da UFJF
conserva uma coleção essencialmente tupiguarani. Existem
Museus regionais em Perdizes (Museu Profa. M. A. Alves,
criado em 1986) e Pains (Museu Arqueológico do Carste,
criado em 2010). O Museu particular de Lapinha, perto de
Lagoa Santa, encontra-se atualmente sob intervenção do
IPHAN. Os núcleos museológicos RIA, de Resplendor,
Itueta e Aimorés (Instituto Terra), assim como o MAEA da
UFJF conservam coleções tupiguarani de origem local. O
NPA de Andrelândia preserva uma pequena coleção de
achados fortuitos proveniente do município e dos arredores.
Entre os Museus históricos, destacam-se os de Pompeu, o
Museu do Ouro, de Sabará, e o Museu da Escravidão, de
Belo Vale.
8.6. O papel do IEPHA (1974/80) e do IPHAN
Vimos que o IEPHA teve um papel relevante na minha
contratação e, portanto, na criação do Setor de Arqueologia
da UFMG. Em 1984 e 1985, contratava os arqueólogos M.
E. Solá e F. Lopes de Paula (formados no curso de
especialização do Museu), assim como S. Bulcão. Com eles
teve inicio um programa de levantamento de bens culturais inclusive arqueológicos - começando com a região de Lagoa
Santa. Infelizmente, este projeto parece não ter sido levado
adiante e os arqueólogos não permaneceram efetivamente
neste órgão. O IEPHA promoveu também um curso de
restauração em cerâmica ministrado por especialistas
italianos.
Pode-se dizer que a Superintendência do IPHAN em
Minas Gerais esteve muito tempo ausente na área de
arqueologia. Sua atuação no estado refletia a predominância
de arquitetos e historiadores que focalizavam antes de tudo
a arte barroca. Não houve, durante muito tempo, nenhum
profissional encarregado de fiscalizar a arqueologia no
Estado. Desta forma, gozamos, entre 1976 e início dos anos
de 1990, de uma exorbitante autorização ampla e irrestrita
de atuação, em nome de um... Museu do Homem inexistente
(o projeto frustrado da UFMG e de D. Ribeiro). Precisou-se
esperar o crescimento da demanda em arqueologia
preventiva, inserida a partir de 1986 na área de
licenciamento ambiental e tornada obrigatória pela portaria
do IPHAN 230/02 para que um funcionário fosse indicado
na 13ª SR para cuidar da arqueologia. Foi assim que A.
Delforge assumiu esta responsabilidade, em 2006. Como ele
mesmo frisa, “a autarquia não tinha tradição de atuar na área
de licenciamento ambiental e ainda está se adaptando à
grande demanda criada” (DELFORGE 2010). Desde então,
o Instituto se dedica ao levantamento e mapeamento do
patrimônio arqueológico do Estado, à organização e
fiscalização de um sistema de reservas arqueológicas (tarefa
esta, ainda longe de estar completada) e a gestão das
ocorrências fortuitas, através de cooperação com as equipes
das Universidades Federais (UFMG e UFJF). Apenas no
ano de 2009, o IPHAN-MG emitia 900 licenças “trifásicas”
(para licenciamento prévio, de instalação e operacional),
enquanto outorgava apenas uma autorização para
arqueologia acadêmica (DELFORGE, 2010). Obviamente,
poderia haver projetos que não necessitassem intervenções
em campo, dispensando uma autorização; mesmo assim, o
desequilíbrio quantitativo é gritante.
9. Conclusão
Peço desculpas ao leitor por ter escrito, muitas vezes, na
primeira pessoa. Isto só se justifica pelo fato que, por acaso,
fui o primeiro arqueólogo contratado em Minas e radicado
no Estado. Desta forma, a arqueologia mineira girou muito
tempo ao redor da equipe que eu tinha montado, pois os
pesquisadores do IAB não estavam exclusivamente
envolvidos pela arqueologia local; tendo sua base em outro
estado, estavam menos presentes e visíveis. De qualquer
forma, se fui um elemento catalizador, nada o teria
conseguido sem o entusiasmo e a dedicação benévola de
todos os colaboradores voluntários - alguns dos quais se
tornaram colegas - estagiários, bolsistas. Bem mais tarde,
pude contar com os primeiros funcionários técnicos e
administrativos, alguns dos quais se tornaram
indispensáveis e preciosos auxiliares.
Ao concluir este histórico da pesquisa mineira em
arqueologia, gostaria de expressar algumas das minhas
satisfações e frustrações.
A minha maior frustrações é, provavelmente, o fato de
não ter sido capaz de provocar mais cedo a
institucionalização de uma estrutura de pesquisa e ensino
em arqueologia. Em consequência, nossa disciplina, muito
tempo praticada na informalidade do MHNJB, acabou tendo
que se inserir em uma proposta de ensino feita por colegas
antropólogos, em si válida (reunindo antropologia e
arqueologia), porém orientada essencialmente para a
vertente das Ciências Humanas. O quadro Departamental
das
universidades
atuais
não
favorece
a
interdisciplinaridade. Desta forma, a formação dos
arqueólogos em Minas - e, certamente, em vários outros
lugares do país - não integra suficientemente as ciências da
terra e, muito menos ainda, as ciências biológicas. Devemos
esperar que esta limitação seja sanada nos próximos anos.
Outrossim, a insuficiência de centros de pesquisa acadêmica
em arqueologia no estado continua evidente. É de se
lamentar a “desativação” do Museu da UFJF, embora se
possa salientar a criação do centro da UFVJM. Desta forma,
apenas duas das onze universidades federais do estado
dispõem de arqueólogos, e nenhuma universidade estadual
ou particular. Finalmente, a precariedade das reservas do
MHNJB onde se conservam as coleções pré-históricas,
apesar dos esforços de M. Silva, continua sendo uma
preocupação constante – embora as recentes gestões
pareçam ter tomado consciência deste problema que coloca
em perigo este precioso patrimônio. Frustração também o
fato que nossos esforços para treinar arqueólogos no estudo
da micro-estratigrafia de sítios arqueológicos não tenham
sido acompanhados por uma preocupação semelhante em
outras partes do Brasil – mas isto, pelo menos, não
consideramos culpa nossa.
Satisfação sinto, em compensação, pelo fato do Setor de
Arqueologia da UFMG ter-se firmado entre os principais
centros de pesquisa do país. Teve um papel pioneiro no
Brasil em vários campos de atividades. Nos estudos de
50
registros gráficos, por exemplo, onde desenvolvemos a
observação dos aspectos crono-estilísticos em suportes
rupestres; ou a interpretação iconográfica (em cerâmica),
sem falar da atenção dada aos gestos de fabricação e
elaboração. No campo dos estudos de materiais, o Setor
teve papel relevante na formação de pessoas capacitadas em
abordar as indústrias líticas através de análises tecnológicas
e de funcionalidade (microtraceologia, sob responsabilidade
de M. Alonso Lima). Desenvolvemos abordagens
experimentais com reprodução da fabricação e da utilização
de peças polidas lascadas, ou de superfícies utilizadas brutas
(MOURA; PROUS, 1989; PESSOA LIMA, 2005). Em
menor grau, também trabalhamos matérias tais como
concha e argila.
Para estudar os vestígios vegetais excepcionalmente
preservados nos abrigos, mantivemos muitos anos uma área
de paleobotânica, infelizmente desativada atualmente, assim
como o laboratório de palinologia que funcionou nos
primeiros anos de existência do Setor sob responsabilidade
de A. Prous. Também procurei valorizar as antigas coleções,
que os arqueólogos modernos e “científicos” costumam
desprezar: zoólitos, vasilhas tupiguarani pintadas, tangas
marajoara, etc. Ao que parece, consegui convencer alguns
jovens de que não era tempo perdido revisitar as peças
inteiras e selecionadas reunidas pelos nossos predecessores,
e G. de Souza levou esta preocupação para fora do estado.
Todas estas iniciativas apontaram caminhos; esperamos que
tenham ajudado ao preparar o desenvolvimento atual destas
áreas junto à arqueologia no Brasil.
As pesquisas que tratam das relações de poder e
resistência de grupos minoritários, ou de grupos
subalternos, caracterizam os trabalhos de Arqueologia
histórica na UFMG, tanto quanto os estudos sobre
mineração.
Uma das minhas maiores fontes de satisfação pessoal é
ter sempre recusado as barreiras de “escolas”, colaborando
em campo com pessoas originárias dos mais diversos
horizontes geográficos, intelectuais e “ideológicos”;
sobretudo, conseguimos fazer participar pesquisadores de
todo o país em projetos de interesse científico comum (por
exemplo, na publicação da obra coletiva “Os ceramistas
tupiguarani”) – um feito que me parece único na história da
nossa disciplina. Espero que este tipo de colaboração se
torne natural para a nova geração de profissionais que vai
tomar as rédeas da pesquisa arqueológica no Brasil.
REFERÊNCIAS
[1]
[2]
ALVIM, C. de Faria Nível mental e personalidade
dos índios pré-colombianos do Vale do Rio das
Valhas. Revista da Universidade Federal de
Minas Gerais, v. 14, p. 131-161. 1964
[3]
BAETA, A. ; ALONSO, M. Consórcio Aimorés.
Programa de Resgate arqueológico UHE
Aimorés - Relatório final, CD ROM, 243 p.
2004.
[4]
BAETA, A. ; PILO, H. ( orgs.) Marcas históricas
- Miguel Brunier. Ouro Preto. 2012.
[5]
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de
anotações
Agradecimentos:
Agradeço particularmente, A. Baeta por sua revisão
crítica do texto e suas sugestões. Paulo Junqueira, A.
Isnardis, L. Bueno, A. Delforge, A. P. de Oliveira, C. M.
Guimarães, Marcos Torres, L. Symanski e G. Henriques que
me forneceram informações sobre suas atividades. Ao
Projeto memória FACE/UFMG por fornecer uma foto de
M. Rubinger. Rosângela Bita que fez a revisão do
português.
53
Revista Espinhaço, 2013 2 (2): 36-54.
The Many Archaeologies of Minas Gerais
André Prous1
1
Archaeologist. Titular Professor at UFMG.
Abstract This paper presents a critical history of research in archaeology - particularly prehistoric - held in the State of Minas
Gerais (central Brazil) since the nineteenth century. After the pioneering phase (P. W. Lund, and some nonprofessional people)
some international missions focused the Lagoa Santa region in the third quarter of the twentieth century, while a PRONAPA team
made a preliminary survey in the upper valley of the São Francisco River. The beginning of more systematic research by the
Instituto de Arqueologia Brasileira in the northern part of the State and the creation of the Department of Prehistoric Research at
the Federal University of Minas Gerais (UFMG, Belo Horizonte) in the second half of the 1970s, open a phase of more intensive,
regionally and thematically diverse research. The beginning of the XXI century is characterized by the proliferation of rescue
archaeology, the emergence of new research centers and the creation of training courses for archaeologists at Federal University
of Minas Gerais. The caves of the State are notorious by the importance of preservation of perishable materials and of human
skeletal remains of great antiquity. The diversity and variety of regional industries, made from very different raw materials, are
also important. The archaeology of historical period, very dynamic in the recent years, focuses much more colonial gold mining
structures, fazendas and maroon slaves settlements than the archaeology of urbanization and Baroque monuments.
Key words: Archaeology, Minas Gerais, Brazil, History of Science.
Informações sobre o autor
André Prous (UFMG)
Endereço para correspondência: Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas,
Departamento de Sociologia e Antropologia. Rua Gustavo da Silveira, 1.035, Santa Inês, Belo Horizonte, MG – Brasil. CEP
31080-010.
E-mail:
[email protected]
Link para currículo: http://lattes.cnpq.br/2546876510627706
Artigo Recebido em: 10-10-2013
Artigo Aprovado em: 11-11-2013
54