Ana Pinheiro
Diovargildio Chauque
Brigite Silva
Clara Craveiro
Décimo Banze
Paula Medeiros
Brincar
e Tchovar
pela
Infância
PARCEIROS
FINANCIADOR
20 anos
CO-FINANCIADOR
Ficha técnica
Título:
Brincar e tchovar pela infância
Organização:
Ana Pinheiro
Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti
CIPAF – Centro de Investigação Paula Frassinetti
INED – Centro de Investigação e Inovação em Educação
OFEI – Observatório para o Futuro da Educação de Infância
Diovargildio Chauque
Universidade Pedagógica de Maputo
Brigite Silva
Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti
CIPAF – Centro de Investigação Paula Frassinetti
CeiED - Centro de Estudos Interdisciplinares em Educação
e Desenvolvimento da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia
OFEI – Observatório para o Futuro da Educação de Infância
Clara Craveiro
Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti
CIPAF – Centro de Investigação Paula Frassinetti
CeiED - Centro de Estudos Interdisciplinares em Educação
e Desenvolvimento da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia
Décimo Banze
Universidade Pedagógica de Maputo
Paula Medeiros
Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti
CIPAF – Centro de Investigação Paula Frassinetti
INED – Centro de Investigação e Inovação em Educação
Revisão:
Irene Cortesão
Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti
CIIE - Centro de Investigação e Intervenção Educativas,
Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, Universidade do Porto
Mónica Oliveira
Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti
I2ADS - Instituto de Investigação em Arte, Design e Sociedade
da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto
Centro de Estudos em Desenvolvimento Humano - Universidade Católica Portuguesa
Design Gráfico e paginação:
Daniela Costa
Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti
Editor:
Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti
Local de Edição:
Porto
Data:
2021
ISBN:
978-989-54506-7-1
Os textos publicados neste livro respeitam a grafia do país de origem dos respetivos autores.
Os conteúdos organizados neste livro são responsabilidade dos autores dos respectivos artigos e recursos/actividades
Organizadores
Ana Pinheiro
[email protected]
Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti, Porto - Portugal
CIPAF – Centro de Investigação Paula Frassinetti
INED – Centro de Investigação e Inovação em Educação
OFEI – Observatório para o Futuro da Educação de Infância
Professora Adjunta na Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti,
iniciou o seu percurso profissional como Educadora de Infância e
Coordenadora Pedagógica de Jardins de Infância durante 12 anos, altura em
que integrou o Ensino Superior como docente. Completou o Mestrado em
Tecnologia Educativa em 2005 na Universidade do Minho e o Doutoramento
em Ciências da Educação na Universidade do Porto em 2012. Atualmente,
é investigadora integrada no INED-Centro de Investigação e Inovação em
Educação da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto,
membro do Cipaf-Centro de Investigação Paula Frassinetti da ESEPF e do OFEI
– Observatório para o Futuro da Educação de Infância.
Diovargildio Chauque
[email protected]
Universidade Pedagógica, Maputo - Moçambique
Docente na Universidade Pedagógica, Doutorando em Educação/ Currículo,
Mestre em Desenho de Sistemas de Educação e Licenciado em Educação de
Infância pela UP. Formado pelo Instituto do Magistério Primário (IMAP), como
professor primário de Educação Musical. Iniciou a sua carreira Pedagógica
como Professor Primário em 2007, depois como Educador de Infância no Jardim
Infantil Mães de Mavalane. Actualmente coordena os núcleos de Educação de
Infância e de Audiovisual no Centro de Tecnologias Educativas da UP. Para além
de ser Pedagogo é Produtor de Audiovisual, Artista Plástico e Fotografo.
Brigite Silva
[email protected]
Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti, Porto - Portugal
CIPAF – Centro de Investigação Paula Frassinetti
CeiED - Centro de Estudos Interdisciplinares em Educação e Desenvolvimento da Universidade Lusófona
de Humanidades e Tecnologia
OFEI – Observatório para o Futuro da Educação de Infância
Professora Adjunta na Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti.
Doutorada na área da Didática e Organização Escolar pela Universidad de Jaén,
possui Diploma de Estudos Superiores Avançados pela Universidad de Jaén
e Licenciatura em Educação de Infância pela Escola Superior de Educação de
Paula Frassinetti. Atualmente, é investigadora integrada do Centro de Estudos
Interdisciplinares em Educação e Desenvolvimento (CeiED) da Universidade
Lusófona e membro do Centro de Investigação Paula Frassinetti (CIPAF).
Organizadores
Clara Craveiro
[email protected]
Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti, Porto - Portugal
CIPAF – Centro de Investigação Paula Frassinetti
CeiED - Centro de Estudos Interdisciplinares em Educação e Desenvolvimento da Universidade Lusófona
de Humanidades e Tecnologia
Professora Coordenadora da Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti.
PhD em Estudos da Criança – especialidade em Metodologia e Supervisão em
Educação de Infância, pelo Instituto de Estudos da Criança da Universidade do
Minho. Mestrado em Educação – área de especialização em Desenvolvimento
Curricular, pelo Instituto de Educação da Universidade do Minho. Licenciatura
em Ciências da Educação da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da
Universidade do Porto. Bacharelato em Educação de Infância pela Escola Superior
de Educação de Paula Frassinetti. É investigadora do Centro de Investigação
de Paula Frassinetti (CIPAF) e investigadora integrada do Centro de Estudos
Interdisciplinares em Educação e Desenvolvimento (CeiED) da Universidade
Lusófona de Humanidades e Tecnologias (ULHT).
Décimo Banze
[email protected]
Universidade Pedagógica, Maputo - Moçambique
Natural de Manjacaze, Província de Gaza, Bacharel e Licenciado em Educação de
Infância, Mestre em Desenho dos Sistemas de Educação pela Universidade Pedagógica
de Moçambique (UP), Diretor do Curso de Educação de Infância e docente na Faculdade
de Educação e Psicologia (FEP) da Universidade Pedagógica de Moçambique, leciona
cadeiras de Educação Familiar e Comunitária, e Didática de Educação de Infância,
Presidente da Mesa da Assembleia da Rede do Desenvolvimento da Primeira Infância
(R-DPI), membro da equipe multissectorial de elaboração e implementação da
Estratégia do Desenvolvimento Integral da Primeira Infância e pesquisador da transição
e socialização da criança da pré-escola para classes iniciais do ensino primário.
Paula Medeiros
[email protected]
Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti, Porto - Portugal
CIPAF – Centro de Investigação Paula Frassinetti
CeiED - Centro de Estudos Interdisciplinares em Educação e Desenvolvimento da Universidade Lusófona
de Humanidades e Tecnologia
OFEI – Observatório para o Futuro da Educação de Infância
É Professora Adjunta na Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti. Possui
licenciatura, mestrado em Sociologia do Desenvolvimento e da Transformação
Social e doutoramento em Sociologia. Foi investigadora e consultora de
investigação na CNOTINFOR especializada no apoio à equipa de validação,
testes e avaliação de software educativo inclusivo da marca Imagina. Participou
também em diferentes projetos nacionais e internacionais integrados no Centro
de Investigação de Paula Frassinetti (CIPAF) e na Cnotinfor. Atualmente, é
investigadora integrada no INED – Centro de Investigação e Inovação em
Educação da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto.
Índice
6
Prefácio
9
Tchovar pela Educação de Infância
10
Da teoria à recolha
12
A Educação de Infância em Moçambique
15
Construção social do brincar
29
Sistemas de organização, gestão e pilotagem cooperada em educação de infância
50
Do lúdico ao brincar: uma abordagem às orientações curriculares em Portugal 1997-2016
Índice de recursos
21
Já posso lavar a roupa à Máquina!
42
Calendário (mensal)
22
Tamboran
44
Calendário (anual)
23
Viola
46
Assembleia semanal
24
Histórias através das pedras
47
Agenda semanal
25
Dados que contam histórias
48
Quadro de responsabilidades
26
Vamos contar os dedos
58
Figuras geométricas
27
Reutilize! Crie um animal reciclado
59
Flutua ou não flutua?
28
Bonecas
60
Jogo de encaixe e correspondência
34
Quadro de presenças
61
Copos de contagem
36
Quadro de tarefas ou de responsabilidades
62
Caixa de correspondência
37
Quadro de atividades
63
Comboio/barquinho das cores
38
Diário de grupo
64
Quadro de formas geométricas
39
Quadro de Projeto
65
Correspondência de figuras geométricas
40
Quadro de regras
prefácio
prefácio
Matilde Muocha
Docente e Investigadora em História e em
Indústrias Culturais e Criativas
O ser humano é, na essência, o produto de
realidades e dinâmicas dos seus principais
uma construção social através de um processo
actores. O meu depositário de memórias de
de socialização que se inicia na sua família,
infâncias, bem como o que já tive oportunidade
alargando-se para outros membros da sua
de ver, não só nas comunidades de que faço
comunidade consanguínea, ou não, e, quando
parte, mas também pelo país adentro, é
aplicável, a outras instituições da sua vida tais
constituído por brincadeiras onde se pode
como a escola, os ritos de passagem para vida
encontrar a neca, a cheia/vazia, o jogo das
adulta, e/ou os contextos sócio profissionais.
escondidas, a matacuzana, o Ntxuva, só para
Neste âmbito, o acto de brincar surge como
citar alguns exemplos. Estas brincadeiras,
um complemento do processo de socialização
por vezes constituídas em jogos, expressam
dos indivíduos e, querendo suportar-me na
a relação que as crianças possuem com os
abordagem dos autores deste livro, como uma
seus contextos, as dinâmicas que lhes são
ferramenta de educação.
colocadas pelos seus pais, bem como os
Entretanto, pensar em “brincar para tchovar a
processos de aprendizagem. Estas brincadeiras
infância” coloca-se no meu imaginário como a
essencializam todo um complexo código de
possibilidade de documentar ou teoricamente
legado cultural que, para além do acto de
discutir este processo como a negociação da
brincar per si, cria um sistema de regras de
inserção de narrativas locais (moçambicanas)
vida social, de respeito mútuo e de vida, bem
sobre as brincadeiras construídas a partir das
como de construção de algum espírito de
-07
competitividade do indivíduo auto superação.
povo tem formas específicas para introduzir-
Reforço ainda a ideia de que durante os
se na história e no mundo, me parece fazer
primeiros anos da criança as brincadeiras que
jus à esta minha direcção. Que a cultura é
são usadas para e com as crianças desempenham
um processo, continuando em Mboup, que
uma função que vai para além da conexão
significa a restituição e aquisição de uma
entre pais e filhos, passando a representar
memória histórica e política, por um lado, e
um sistema de transmissão de formas de ser,
a reconquista e renovação da auto-estima e
estar e comportar-se que são e devem ser
da auto confiança nas próprias capacidades
específicas a uma determinada comunidade e
para encarar os desafios contemporâneos
como exercício de pertencimento. E penso que
num contexto de globalização e no espírito de
são estas perspectivas de uso das brincadeiras
renascença africana como uma alternativa e um
a partir dos contextos locais na criação de
projecto global da sociedade e da civilização.
uma narrativa global, que o livro em mãos me
E é isto que esta obra deve representar, a
trouxe à reflexão, entre presenças e ausências.
possibilidade de produzir um conhecimento
As brincadeiras como um legado de cultura
sobre brincadeiras e processos de educação a
local em formas de sistemas de conhecimento
partir de uma multiplicidade de contextos e
e de saber. Samba Mboup, um teórico africano
com a justa participação de todos actores.
que, associando à Ron Karenga, Amílcar Cabral,
Anta Diop e Adeniyi Ajayi, defende que cada
Brincar e Tchovar pela Infância
-09
Tchovar pela Educação de Infância
O Projeto Tchovar pela Educação de Infância é uma
2)
Melhoramento na implementação de práticas
iniciativa da FEC – Fundação Fé e Cooperação e
pedagógicas
Associação Khandlelo e Mozarte – Centro Juvenil
escolinhas;
de Artesanato, conta com o apoio do financiador
3)
integradas
e
inclusivas
nas
Comunidade e famílias mais consciencializadas
principal Fundação Calouste Gulbenkian e com o
e mobilizadas para a importância da idade pré-
cofinanciador Camões - Instituto da Cooperação
escolar;
e da Língua I.P., tem como parceiros científicos a
4)
Articulação com estado, privados, OSC e redes de
Universidade Pedagógica em Maputo-Moçambique e
pré-escolar para advocacia para a Educação Pré-
a Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti,
escolar.”;
5)
no Porto-Portugal.
Aumento da qualidade da investigação pedagógica
O projecto decorre ao longo de 35 meses (2018-2021) e
como base para revisão da política pública.”
tem o financiamento da Fundação Calouste Gulbenkian
(Candidatura à Fundação Calouste Gulbenkian).
no âmbito do Concurso para apoio a iniciativas-
Este livro, elaborado a partir da parceria entre a
piloto na educação pré-escolar. Implementado em
Universidade Pedagógica e a Escola Superior de
10 escolinhas de educação de infância nos bairros
Educação de Paula Frassinetti, apresenta-se como
periféricos de Maputo, tem como objectivo Melhorar
um contributo para a educação de infância de ambos
(a equidade) o acesso a uma Educação Pré-Escolar de
os países. Com uma vertente prática muito incidente,
Qualidade e assenta em atividades relacionadas com:
envolve os estudantes das duas instituições dos
1)
“Capacitação de agentes educativos (à semelhança
cursos de habilitação para a docência em Educação
do projeto Othukumana- Juntos no Niassa);
de Infância.
Brincar e Tchovar pela Infância
Da teoria à recolha
Da teoria à recolha
A organização deste livro decorre da necessidade
conceito “brincar” assumiu nas Orientações
de hoje, cada vez mais, se reconhecer o brincar
Curriculares
e a participação da criança como atividades
portuguesas desde 1997 até ao novo documento
privilegiadas. Trata-se de valorizar a vivência
orientador de 2016.1
muito mais do que as propostas unidirecionais
Recolhemos propostas concretas de construção
de adultos e tendo como perspetiva uma
de
aprendizagem mais escolarizada. A criança é
atividades para a educação pré-escolar que
por isso parte integrante da planificação e da
envolveram as crianças como elementos da
construção dos seus próprios brinquedos. A
equipa que decidiu e construiu. Este documento
incidência educativa está pois nos processos.
constitui-se por isso um instrumento de
Este trabalho em concreto iniciou com uma
trabalho no próprio projeto Tchovar para
série de reflexões sobre o brincar nas suas
os
diferentes vertentes. Quisemos problematizar
envolvidos no projeto.
teoricamente a construção social do brincar,
A recolha dos recursos integrados neste livro
perceber
pode
transformou-se também numa oportunidade
organizar as suas próprias dinâmicas e rotinas
para a perceção sobre o papel que a criança
através de instrumentos de organização social
assume nas dinâmicas desenvolvidas pelos
e ainda refletir sobre a importância que o
estagiários, futuros educadores de infância.
de
que
forma
a
criança
recursos
para
a
Educação
pedagógicos
profissionais
de
e
Pré-escolar
dinâmicas
Educação
de
de
Infância
1 - Para consulta aceda às OCEPE de 1997 em https://www.dge.mec.pt/sites/default/files/Basico/orientacoes_curriculares_pre_escolar.pdf e às OCEPE
de 2016 em http://www.dge.mec.pt/ocepe/node/1
-011
Quisemos que este livro fosse uma oportunidade
todo foram selecionados 19 recursos/dinâmicas
de interação e partilha de experiências entre
de 16 autores-estudantes.
estudantes.
A seleção das propostas para publicação
O desafio foi proposto a alunos do Mestrado
neste livro teve em conta a promoção
em Educação Pré-Escolar e do Mestrado em
do brincar e a valorização do papel da
Educação Pré Escolar e Ensino do 1º Ciclo do
criança no seu processo de aprendizagem.
Ensino Básico, da Escola Superior de Educação
Foi igualmente valorizada a utilização de
de Paula Frassinetti, em Portugal, e a estudantes
materiais de desperdício. Esperamos que a
da Licenciatura em Educação de Infância da
partilha seja um contributo para a equidade
Universidade Pedagógica, em Moçambique. Ao
na educação de infância.
Brincar e Tchovar pela Infância
A Educação de Infância em Moçambique
A Educação de Infância
em Moçambique
Páscoa Sumbana Ferrão
Diretora Nacional Adjunta da Criança do
Ministério do Género, Criança e Acção
Social de Moçambique
Em Moçambique a Educação Pré-escolar, que
visa o desenvolvimento integral e harmonioso
da criança, sobretudo de suas capacidades intelectuais, morais, sociais e habilidades psicomotoras, realiza-se nos Centros Infantis Públicos
e Privados e nas Escolinhas Comunitárias, para
crianças de 0 a 5 anos2.
A população moçambicana é de 27.909.798 habitantes, sendo que 33,4% dela vive na zona
urbana, enquanto 66,6% encontra-se na zona
rural. Do total de habitantes, 15.413.374 têm
idades compreendidas entre 0-18 anos e destes,
4.655.731 estão na faixa etária de 0-4 anos3.
2 – Centro Infantil – instituição de apoio a infância que integra Creche (criança de 0 a 2 anos) e Jardim Infantil (criança de 2 a 5 anos).
Escolinhas Comunitárias – instituição não formal, apoiada pela comunidade, Organizações Não Governamentais ou por Parceiros de Desenvolvimento Comunitário, que oferece cuidados às crianças de 3 a 5 anos.
3 – Dados do INE, no Censo 2017.
-013
Até Dezembro
de 2019, foram
atendidas no
sistema de educação
pré-escolar 106.630
crianças, o que
correspondem a
2,3% do universo
de crianças
moçambicanas
nesta idade.
Brincar e Tchovar pela Infância
A Educação de Infância em Moçambique
Até Dezembro de 2019, foram atendidas no sis-
Instituições de Educação de Infância
tema de educação pré-escolar 106.630 crian-
Segundo o Regulamento dos Centros Infantis,
ças, o que correspondem a 2,3% do universo de
as instituições de Educação de Infância, quanto
crianças moçambicanas nesta idade. Existe 879
ao funcionamento e atendimento às crianças,
Escolinhas Comunitárias, 611 Centros infantis
podem ser entendidas da seguinte forma:
privados e 12 Centros infantis Públicos.
•
Educação Pré-escolar – refere se a educa-
Estes dados demostram que a maioria das crian-
ção que é oferecida a criança antes do seu
ças em idade pré-escolar não está inserida no
ingresso ao ensino Primário.
sistema de Educação Pré-Escolar. Além disso,
•
Centro Infantil – é uma instituição de apoio
observa-se que as zonas rurais possuem menos
a infância que integra creche e jardim in-
infraestrutura disponível, o que dificulta ainda
fantil que se destina ao atendimento de
mais o acesso eficaz de sua população aos servi-
crianças dos 0 aos 5 anos.
ços sociais básicos.
•
Embora existam várias iniciativas, como é o caso
do projecto Tchovar pela Infância, um maior nú-
ças dos 0 aos 2 anos.
•
mero de crianças ainda não beneficia das acções
formais de desenvolvimento da primeira infância,
o que constitui preocupação do governo, e para
garantir que as crianças tenham acesso a este tipo
de educação, o Governo desenvolveu vários instrumentos que visam melhorar o nível de prestação de serviços a vários níveis, tendo a destacar:
•
Resolução 8/98 de 9 de Junho, a Política
Nacional da Acção Social;
•
Diploma Ministerial 277/2010 de 31 de Dezembro, regulamento dos Centros Infantis;
•
A Estratégia do Desenvolvimento Integral
da Criança em Idade Pré-escolar (DICIPE)
2012-2021;
•
Programa pedagógico para crianças do 1º a
5º ano e Manual das actividades nas escolinhas Comunitárias.
Creche - Instituição de infância para crian-
Jardim Infantil - Instituição de apoio a infância para crianças dos 2 aos 5 anos.
•
Escolinhas Comunitárias - alternativas comunitárias de atendimento a infância para
crianças de 3 a 5 anos.
-015
Construção social
do brincar
Paula Medeiros
Para explorar a ideia de brincar, enquanto uma
ESEPF | CIPAF | INED
atividade social e culturalmente construída in-
Ana Pinheiro
teressa recuperar algumas definições teóricas
ESEPF | CIPAF | INED | OFEI
do ato de brincar, do jogo, brinquedo ou brin-
Brigite Silva
cadeira mesmo que não se observe consensos
ESEPF | CIPAF | CeiED | OFEI
sobre estes tópicos.
Clara Craveiro
Uma primeira ideia que nos interessa salien-
ESEPF | CIPAF | CeiED
tar relaciona-se com a polissemia da noção de
brincar. Ao revisitar teoricamente este conceito, Jardim (2003) dá conta, precisamente, das
dificuldades em identificar uma noção unívoca
do termo brincar, bem como a da necessidade
de se remeter as formulações teóricas sobre o
Brincar e Tchovar pela Infância
Construção social do brincar
ato de brincar para os contextos dos seus au-
2003, p. 35). É a partir da noção de brinquedo
tores. Esta autora observa, com base nos ar-
que Brougère se aproxima da dimensão cultural
gumentos de Wojskop (1996), que a “noção de
do brincar. Para este autor, se o brinquedo é
brincar tem sido construída no uso quotidiano
um objeto que veicula um conjunto diversifi-
e sob influência de diversas teorias e práticas
cado de significados que remete para o real ou
sociais” (Jardim, 2003, p.32).
para o imaginário das crianças, ele é também
Além disso, Cláudia Jardim salienta que o facto
um objeto cultural e, como tal, pode ajudar a
de se utilizarem diversas palavras para signifi-
compreender as formas de ser, estar, pensar e
car o ato de brincar, tais como jogar, brinquedo,
sentir de uma dada comunidade ou sociedade.
jogo etc. dificulta a delimitação deste conceito.
Mas brincar não pode ser entendido apenas
Por essa razão, o esquema analítico de Brougè-
como um processo de tradução ou reprodução
re, que propõe 3 níveis de significado da noção
culturais. Tanto o brincar, como os brinque-
de brincar (Brougère, citado por Jardim, 2003,
dos, devem ser perspetivados como formas ati-
p. 34), ganha aqui outra pertinência. De acordo
vas de produção ou construção culturais. Para
com este autor, o primeiro nível de significado
abordar a questão de brincar enquanto processo
do brincar tem em conta o caráter autónomo,
cultural, há que ter em conta a complexidade
livre e voluntário desta ação. Remetendo esta
do conceito de cultura, mesmo que queiramos
caraterística para o comportamento da criança
apenas mobilizá-lo numa perspetiva analítica.
enquanto brinca, esta “escolhe o tema com o
Numa obra atual e profundamente crítica so-
qual brinca” e “se entrega com toda a emoção
bre a ideia de cultura, Terry Eagleton (Eagleton,
nesta atividade, escolhendo os papeis que irá
2003) identifica uma das principais dificulda-
desempenhar no interior de um determinado
des na operacionalização deste conceito: “É di-
enredo” (Jardim, 2003, p. 34). No segundo ní-
fícil resistir à conclusão de que a palavra «cul-
vel de significação do ato de brincar, Brougè-
tura» é simultaneamente demasiado ampla e
re destaca um sistema de regras que envolve
demasiado restrita para ter grande utilidade”
aqueles que brincam. No entanto, estas regras
(Eagleton, 2003,p.49). Explicita mais adiante:
podem ser a qualquer momento negociadas e
“se durante algum tempo a cultura foi uma no-
consensualizadas entre os participantes da
ção demasiado selecta, hoje possui a inconsis-
brincadeira. O último nível remete para o ter-
tência de um termo que deixa muito pouco de
mo brinquedo a que se associa a “uma forma
fora” (Eagleton, 2003). Com efeito, a palavra
de brincar infantil”. O brinquedo, segundo
cultura é frequentemente utilizada para desig-
Brougère, é “(…) Um objeto cultural produzido
nar um conjunto de práticas e experiências di-
pelos adultos para as crianças e que ganha ou
ferenciadas e, de acordo com Bauman, com o
produz significados no processo da brincadei-
propósito de “responder a problemas diversos,
ra pela imagem da realidade que ele represen-
enraizados em interesses convergentes” (Bau-
ta ou transmite” (Brougère, citado por Jardim,
man, 2002, p.95).
-017
Ao revisitar um conjunto de propostas teóricas
de ao conceito de culturas de infância que, de
que mobilizam o conceito de cultura, Eagleton
um modo global, remete, “tanto para os signi-
reflete sobre a forma como alguns dos autores
ficados que historicamente foram construídos
superaram a ambivalência inerente ao termo
sobre a infância (perspetiva diacrónica), como
e destaca algumas definições que se mostram
para os que são construídos e partilhados pelas
particularmente heurísticas tendo em conta a
crianças na interpretação que estas elaboram
análise que pretendemos desenvolver. Assim,
sobre a realidade, os quais regulam suas inte-
Eagleton resume a ideia de cultura “como o
rações no interior do grupo de pares (perspetiva
complexo de valores, costumes, crenças e prá-
sincrônica)” (Arenhart, 2017). No mesmo sen-
ticas que constituem a forma de vida de um
tido, Corsaro (2011) utiliza o termo reprodução
grupo específico” (2003, p.52). Esta definição
interpretativa para apoiar o argumento de que
parece situar-se numa posição intermédia, en-
as crianças participam ativa e criativamente na
tre a proposta mais abrangente de Stuart Hall
cultura e nas sociedades, ou nas palavras do
para quem cultura inclui “práticas vitais” ou
autor, “as crianças criam e participam de suas
“ideologias práticas que permitem a uma so-
próprias e exclusivas culturas de pares quando
ciedade, um grupo ou a uma classe experimen-
selecionam ou se apropriam criativamente de
tar, definir ou interpretar e entender as suas
informações do mundo adulto para lidar com
condições de existência” (Stuart Hall, 1982,
as suas próprias e exclusivas preocupações.”
citado por Eagleton, 2003, p. 52) e a perspe-
(Corsaro, 2011, p. 31).
tiva mais concreta de John Frow que entende
Compreende-se, tendo em conta estas perspe-
a cultura como “toda a gama de práticas e re-
tivas, que o ato de brincar tenha sido associado,
presentações através das quais a realidade (ou
nos estudos sobre a infância, ao desenvolvi-
realidades) de um grupo social são construídas
mento humano. Ao mesmo tempo que a brin-
e mantidas” (Frow, 1995, p. 3 citado por Eagle-
cadeira passou a ser garantida como um direito,
ton, 2003, p. 53).
ela foi interpretada como uma forma de signi-
Se entendermos cultura, na linha de Geertz
ficação do pensamento que define, ou ajuda a
(1989), como um conjunto de significados
construir, as interações das crianças com os pa-
construídos por grupos sociais que orientam e
res e com os adultos e produz conhecimentos.
regulam as interações e comportamentos des-
Nesta medida, ela só pode ser entendida como
ses grupos, então não é difícil reconhecer que,
uma atividade que contribui, inequivocamente,
as crianças, enquanto sujeitos, constroem sig-
para o desenvolvimento global da criança.
nificados culturais e também o fazem durante
Recorde-se que no artigo 31 da Convenção So-
a brincadeira. Embora não seja o nosso objeti-
bre os Direitos da Criança, adotada pela Assem-
vo tratar aqui esta questões, em profundidade,
bleia Geral das Nações Unidas em 1989, pode
convém a este propósito observar que estamos
ler-se no seu ponto 1 “1. Os Estados Partes re-
perante os pressupostos que dão estabilida-
conhecem à criança o direito ao repouso e aos
Brincar e Tchovar pela Infância
Construção social do brincar
tempos livres, o direito de participar em jogos e
dada sociedade, ou numa determinada altu-
actividades recreativas próprias da sua idade e
ra histórica.
de participar livremente na vida cultural e ar-
o brinquedo, para a criança e para a relação
tística.” (Unicef, 2004, p. 22). Mas será que o
entre ambos, como fenómenos historicamen-
tempo disponível para brincar, hoje, é suficien-
te situados, é relembrada por Maaike Lawaert
te? O tempo de brincar rouba tempo à aprendi-
quando reflete sobre as mudanças ocorridas ao
zagem? A nossa perspetiva desenvolve-se na
longo dos séculos XIX, XX e XXI na visão do-
linha de argumentação de Rachel White (2012)
minante da infância. O autor recorda que o séc.
que defende: “Through play, children learn to
XIX e os primeiros anos do séc. XX introdu-
regulate their behavior, lay the foundations for
zem uma significativa transformação da ima-
later learning in science and mathematics, fi-
gem da criança e da infância. Sociedades mais
gure out the complex negotiations of social re-
preocupadas, agora, como o bem-estar, a saúde
lationships, build a repertoire of creative pro-
ou a educação da criança; a criança percebida
blem solving skills, and so much more.” (2012,
enquanto um ser vulnerável que necessita de
p. 5). No entanto, mesmo que a maioria dos es-
cuidados, ou como o reflexo da inocência, fo-
tudiosos da infância reconheça a influência po-
ram ideias que dominaram a época que veio a
sitiva do ato de brincar para o desenvolvimento
ser designada por Ellen Key como a “idade da
da criança, as ideologias das sociedades atuais
criança”. (2009, p.22). Como seria de esperar,
não parecem estar para essas brincadeiras. O
as lojas e objetos especializados para a infância
tempo para brincar tem vindo a ser reduzido
vão refletir essa mudança de pensamento rela-
para dar lugar ao tempo para aprender, tem-
tivamente às crianças. Seja como for, a criança
po para obter bons resultados académicos, para
não foi entendida, historicamente, como um
estudar para os exames, para se trabalhar com
agente ativo na sociedade. Foram as trans-
vista ao sucesso, académico, desportivo ou ou-
formações nas sociedades e dos olhares sobre
tro. Tudo isto é baseado num pressuposto que
a infância que, posteriormente, levaram a um
carece de fundamento, pois como refere White
interesse renovado na ideia de agenciamento da
“Our society has created a false dichotomy bet-
criança. Ela deixa de ser vista como um sujei-
ween play and learning” (2012, p. 5).
to passivo, que “vai um dia tornar-se adulto”
Retomando a relação entre brincar e a cultura,
e, tanto ao nível da pesquisa, como em outros
ou o ato de brincar como social e culturalmente
contextos, as crianças são reconhecidas como
condicionado, importa refletir, também, sobre
capazes de intervir ativamente no seu mundo
o brinquedo ou o jogo como objeto cultural. Na
social. Assim os brinquedos, enquanto objetos
realidade, o brinquedo e o jogo consubstan-
culturais, também passaram a ser concetuali-
ciam dimensões sociais e culturais concretas,
zados e construídos de um modo diferente. Isto
podendo refletir, inclusivamente, modos de
torna-se evidente para alguns dos estudiosos
olhar para a criança e para a infância numa
dos jogos de computador para crianças.
A importância de se olhar para
-019
Nas sociedades ocidentais contemporâneas, não
power, speed, aggression, imagination, femi-
é possível falar do brinquedo ou do jogo igno-
nism, masculinism, and terror are just some of
rando as tecnologias, designadamente os jogos
concepts embedded in new e-games” (p. 283).
de computadores. A este propósito, e contra-
Todas estas análises parecem responder ade-
riando a ideia saudosista daqueles que lamen-
quadamente às nossas interrogações sobre os
tam o facto de a criança, hoje, já não construir
brinquedos e o brincar das crianças nas socie-
os seus próprios brinquedos, Maaike Lawaert
dades ocidentais. No entanto, não são muitos
(2009) contrapõe o argumento de que com a
os estudos que se sustentam na pesquisa com
tecnologização e digitalização dos brinquedos,
crianças de diferentes sociedades e culturas.
na atualidade, também as crianças se tornam
Não sendo possível desenvolver aqui esta te-
“co-designers” destes brinquedos. Isto é tan-
mática, queremos sublinhar que, a este nível, a
to mais assim quanto a maioria dos softwares
geografia interessa. Recorremos às análises de
de jogos de computador incorpora funções de
Jean-Pierre Rossie (2013), um investigador que
partilha e publicação que, segundo o autor, in-
se dedicou à pesquisa sobre crianças e sobre
centivam a sua utilização social e de uma forma
as brincadeiras, jogos e brinquedos de crian-
participativa (2009, p.8). Assim, ao se remeter
ças do Norte de África e do Sahara, para ilustrar
o brinquedo para o seu contexto cultural, social
algumas questões associadas às diferenças de
e histórico evitam-se algumas comparações
contextos socioculturais e geográficos. Tome-
consideradas simplistas, como exemplifica La-
mos como exemplo uma das bonecas mais co-
waert (2009, p.21):
nhecidas no Ocidente – a Barbie. Para Rossie
When non-digital and digital toys are ‘compa-
(2013) a Barbie significa um modelo ideal para
red’ from the more pessimistic point of view
as jovens raparigas, bem como para os rapazes
of computer game adversaries, this generally
de todas as classes sociais, um modelo de como
leads to an equally simplified comparison that
uma mulher se deve parecer, de como se deve
applauds the first (‘real’ interaction, physical
esforçar para ser, de como se deve comportar
activity, tactile play) and condemns the latter
(Rossie, 2013, p.19). Numa pesquisa realizada
(isolated, immobile and escapist play).
em 1999, em Mildet, Marrocos, Rossie decide
Por outro lado, parece ser impossível negar a
mostrar uma Barbie e registar as reações de
influência dos fatores culturais e sociais nos
mulheres e crianças a esta boneca. A maioria
brinquedos e das formas de brincar contempo-
das mulheres nunca tinha visto uma boneca
râneos. Por exemplo, estudos sobre os chama-
como aquela, que consideraram bonita, mas
dos “videogames” ou jogos de computador na
apenas para ser usada como objeto decorativo;
internet revelam a existência de elementos ou
acharam graça por a boneca ser tão magra e tão
conceitos que não estavam presentes décadas
alta; e registaram-se comentários como este
atrás. Esta é uma ideia sustentada por Mehr-
protagonizado por uma das mulheres questio-
dad Shahidi (2012) que argumenta: “Action,
nadas: “não é um problema ela ser tão magra,
Brincar e Tchovar pela Infância
Construção social do brincar
porque depois de casar ela vai ficar mais gor-
Bibliografia
da”. As roupas da boneca também foram objeto
de apreciação por parte destas mulheres que,
de um modo geral, consideraram os seus trajes provocadores. A reação das crianças não foi
muito diferente. Para elas a boneca era bonita,
representava uma rapariga que devia ter uns
18 anos e, pela forma como estava vestida, não
deveria ser casada. As duas adolescentes entrevistadas (uma de 14 e outra de 11 anos) confirmaram que os homens dali não escolheriam
uma mulher como a Barbie para casar por ser
demasiado magra. Contudo, uma delas afirmou
que gostaria de brincar com ela, para pentear os
seus cabelos ou mudar as suas roupas (Rossie,
2013). É claro que, hoje, as crianças de Marrocos, sobretudo as provenientes de famílias com
mais recursos, têm Barbies, casas da Barbie,
roupa da Barbie, o carro da Barbie etc. e a Barbie já destronou outras bonecas de origem local. Este exemplo serve apenas como chamada
de atenção para que se concluir com Rossie que:
without situating the toys, games and
play activities into a particular socio-cultural context it is impossible to describe
and understand them, to see their significance and to feel their influence and
importance. The examples also show that
the introduction of toys, especially dolls,
in cultures quite different from the one
where these originated can be a distorting
experience. (2013, p. 26).
Arenhart, D. (2017). Culturas infantis e desigualdades
sociais. Petropólis: Editora Vozes, obtido
em https://www.livrebooks.com.br/livros/
culturas-infantis-e-desigualdades-sociaisdeise-arenhart-8fovdwaaqbaj/baixar-ebook
Bauman, Z. (2002). La cultura como praxis. Buenos
Aires: Paidós.
Corsaro, W. A. (2011). Sociologia da Infância. Porto
Alegre: Artmed.
Eagleton, T. (2003). A Ideia de Cultura. Lisboa: Temas
e Debates.
Geertz, C. (1989). A interpretação das culturas. Rio de
Janeiro: Editora Guanabara Koogan.
Jardim, C. S. (2003). Brincar: um campo de
subjetivação na infância. São Paulo:
Annablume Editora. Obtido de https://www.
livrebooks.com.br/livros/brincar-umcampo-de-subjetivacao-claudia-santosjardim-laowyesoeukc/baixar-ebook
Lawaert, M. (2009). The place of play: toys and digital
culture. Amsterdam: Amsterdam University
Press.
Shahidi, M. (2012). Culture within play and play
within culture. International Journal of
Current Research (Vol.4). pp 282-286
Rossie, J.P. (2013). Toys, play, culture and society: an
anthropological approach with reference
to North Africa and the Sahara. Stockholm:
Sitrec
Unicef (2004). Convenção sobre os direitos da
criança, obtido de https://www.unicef.
pt/media/1206/0-convencao_direitos_
crianca2004.pdf.
-021
Já posso lavar a roupa à Máquina!
Autor: Joana Baião
Idade: 4 anos
(Estudante do Mestrado em Educação Pré-Escolar da ESEPF)
A desenvolver
Material
–
Caixa de cartão, tintas, tampas de plástico e cartolina
–
–
–
–
Conhecimento sobre os recursos tecnológicos
do quotidiano;
Recriação e invenção de cenários para representações dramáticas;
Jogo dramático;
Trabalho colaborativo;
Capacidades expressivas e criativas.
Descrição
Em grande grupo, converse com as crianças sobre a importância dos eletrodomésticos em casa. Questione
sobre os que conhecem.
Observe com as crianças imagens de eletrodomésticos, frequentemente encontrados em ambientes domésticos.
Peça para refletirem sobre os brinquedos que têm na sala: Que eletrodomésticos de brincar temos na nossa
sala? O que falta? O que podemos fazer? Como vamos fazer?
Reúna e registe com as crianças qual o material necessário. Peça-lhes para confirmarem se o têm na sala e/ou
proponha trazerem de casa: caixote, tampas, tintas, colas, pincéis.
Com o grupo, comece a dar forma ao caixote que se vai transformar em máquina de lavar a roupa e motive as
crianças a pintarem o electrodoméstico.
Depois de seco e pronto, questione as crianças sobre o local a colocar.
Estratégias
Desde que exequível, aceite a opinião das crianças sobre a construção do brinquedo: forma, cores, botões,
local onde vai ficar, etc.
Promova a tomada de decisão com as crianças em grande grupo.
Dê tempo às crianças para que reflitam e registem sobre como vão construir e o que precisam.
Incentive-as a participar na recolha de material para a construção da máquina.
Prossiga para a construção da máquina em pequenos grupos.
Futuras intervenções
Promova novos momentos de reflexão sobre o que as crianças conhecem/veem em casa: Que electrodomésticos temos? O que a mãe/pai usam? Para que servem? Queremos ter um para brincar? Como funcionam estas
máquinas?
Brincar e Tchovar pela Infância
-022
Tamboran
Autor: Ana Brito
Idade: 3, 4 e 5 anos
(Estudante do Mestrado em Educação
Pré-Escolar e Ensino do 1º Ciclo do Ensino Básico)
A desenvolver
Material
–
–
Tampas de metal ou caixas redondas de cartão,
papel, tintas, fio de lã, missangas, tubo de eletricista ou pequenos pedaços de pau de qualquer tipo,
cola e fita cola.
–
–
–
Conhecimento de instrumentos musicais;
Reconhecimento de sons de instrumentos
musicais;
Exploração e criação de sons com objetos;
Sensibilidade musical e auditiva;
Capacidades expressivas e criativas através de
produções plásticas.
Descrição
Com a criança, cole as duas tampas viradas uma conta a outra. Numa folha branca, cada criança realiza uma
pintura livre, utilizando tintas das cores que pretender. Peça à criança para recortar em dois círculos que serão
colados nas faces das tampas ou caixas. Após esta fase, a criança escolhe um fio de lã e as missangas. Com a
ajuda do adulto, faz um furo em cada uma das laterais das tampas ou da caixa, para que de seguida se passe
o fio de lã. Em cada uma das pontas do fio de lã coloca uma missanga e dá um nó para que fique bem segura.
Cola-se o tubo ou pau numa parte lateral da caixa. No final, com fita cola larga, reveste-se toda a parte lateral
das tampas ou caixa para que fique tudo mais resistente.
Estratégias
Antes de começar a construir o instrumento musical, permita que a criança explore e manuseie o instrumento
verdadeiro ou observe imagens do mesmo.
Promova entre as crianças a partilha de experiências pessoais com instrumentos musicais similares.
Tenha todo o material organizado e disponível no local de produção do instrumento.
Permita que as crianças façam as suas opções (relativas às cores da tinta, à cor do fio de lã, às missangas).
Fará com que sintam maior entusiasmo porque sabem que o seu instrumento vai ser único e de acordo com
as suas escolhas.
Futuras intervenções
Observar imagens de instrumentos musicais da mesma família. Crie diálogos com as crianças sobre o assunto
(no caso do tamboran, pertence à família da percussão).
Cantar e tocar, misturando os instrumentos verdadeiros com os instrumentos produzidos pelas crianças.
-023
Viola
Autor: Emídia Eugénio Muchanga
Idade: 5 anos
(Estudante da Licenciatura em Educação de Infância da Universidade
Pedagógica de Maputo)
A desenvolver
Material
–
–
–
–
–
Ripa de madeira (ou outro material resistente que
tenha disponível), garrafa plástica, guaches de várias cores, cola, papelão e cordas.
–
Conhecimento de instrumentos musicais;
Percepção auditiva;
Técnica (postura, sonoridade articulação);
Conhecimento das formas geométricas;
Capacidades expressivas e criativas através de
produções plásticas;
Mobilização de elementos da linguagem plástica (cor).
Descrição
Corte um quadrado num dos lados do garrafão. Peça à criança para introduzir uma ripa de madeira no gargalo
do garrafão.
Num segundo momento, peça à criança para cortar um rectângulo em cartão e recortar um círculo no seu centro. Encaixe este rectângulo no buraco do garrafão previamente cortado. Numa extremidade do garrafão, faça
5 furos seguidos para que a criança possa enfiar e prender as cordas. Estas serão presas na outra extremidade
da ripa de madeira com cola. Deixe a criança decorar a viola a seu gosto.
Estratégias
Antes de começar a construir o instrumento musical, permita que as crianças explorem e manuseiem o instrumento verdadeiro e/ou observem imagens do mesmo.
Peça às crianças para fazer a viola consigo.
Incentive as crianças a tomarem decisões sobre a decoração da viola e definir que materiais querem usar.
Convide as crianças a explorar o instrumento musical construído. Reúna-as em grupo para tocar e fazer música.
No final reflicta/reveja com as crianças os materiais que utilizaram e quais as etapas de construção da viola.
Futuras intervenções
Com as crianças, pode procurar formas de recriar este brinquedo com materiais mais resistentes.
Peça às crianças para pensarem noutros instrumentos que queiram construir.
Brincar e Tchovar pela Infância
-024
Histórias através das pedras
Autor: Marta Ramos Pinto
Idade: 5 anos
(Estudante do Mestrado em Educação Pré-Escolar da ESEPF)
A desenvolver
Material
–
–
Pedras, tintas, pincéis.
Produção de histórias
Construção de sequências
Descrição
Peça às crianças para trazerem de casa pedras (seixos). Na sala sugira a cada criança que faça um desenho na
sua pedra: animal, pessoa, casa, carro, planta, etc.
Em pequenos grupos, as crianças vão ter de criar uma história com os desenhos das pedras. Cada criança, à
vez, retira uma pedra. Dê liberdade à primeira criança para inventar o início da história a partir do desenho.
Peça à seguinte para dar continuidade e assim sucessivamente.
Estratégias
Reúna as crianças em pequeno grupo.
Dê tempo para que a criança consiga integrar o desenho na história.
Promova a entreajuda entre as crianças na criação da história.
Incentive e valorize a criação/imaginação da criança.
Futuras intervenções
Aumente o número de pedras/desenhos;
Crie com as crianças um livro com todas as histórias criadas.
-025
Dados que contam histórias
Autor: Íris Oliveira Mendes
Idade: 5 anos
(Estudante do Mestrado em Educação Pré-Escolar da ESEPF)
A desenvolver
Material
–
–
–
–
Cartolina, moldes dos dados, cola, canetas de filtro
(ou outro material de pintura).
Criação de histórias através de imagens;
Imaginação na criação de histórias;
Mobilização de ideias em ação;
Pensamento crítico.
Descrição
Com o molde do dado desenhado numa cartolina, pede-se a cada criança que faça o desenho de um objeto,
uma personagem ou um cenário. Com o apoio do adulto, cada criança recorta o seu dado e monta-o, colando
e dando-lhe forma.
Depois de os dados estarem montados, inicia-se a fase de criação de histórias. Assim, pode pedir-se a uma ou
duas crianças, de cada vez, que lance os dados. As crianças observam as imagens que estão voltadas para cima
e, a partir desse conjunto de imagens, as crianças criam uma história.
Estratégias
A atividade deve conter mais do que um dado para que se consiga criar a história. O número de dados pode variar
consoante a idade das crianças.
Numa primeira vez deixe que cada criança escolha as imagens a incluir na história – virando o dado manualmente. Quando se sentirem mais seguras, introduza o efeito surpresa, fazendo rodar os dados e sorteando as
imagens.
À medida que as crianças criam as histórias, registe o que elas dizem para, posteriormente, elaborarem um livro.
Futuras intervenções
Para manter o efeito surpresa na atividade, promova a criação de outros dados com outras imagens.
Promova a interação com as famílias, sugerindo às crianças que levem os dados para casa. Pode construir com
elas uma mensagem que acompanha o dado e pede aos pais para jogarem e registarem as histórias dos seus
filhos. Assim, poderá ser criado mais um livro de histórias com as famílias.
Brincar e Tchovar pela Infância
-026
Vamos contar os dedos
Autor: Marta Ramos Pinto
Idade: 5 anos
(Estudante do Mestrado em Educação Pré-Escolar da ESEPF)
A desenvolver
Material
–
4 luvas, 2 cartolinas ou cartão, 2 dados, Fita velcro.
Sentido do número 1 a 12
Descrição
Encha de ar duas luvas de plástico, simulando as mãos. Afixe-as numa parede. Cole um pequeno quadrado de
velcro na ponta dos dedos e na palma da mão da luva.Peça às crianças para lançar um dado. As crianças terão
de baixar o número de dedos correspondente ao número que saiu no dado. Ao longo do jogo pergunta-se às
crianças quantos dedos ficaram levantados e quando ficaram para baixo.
Estratégias
Reúna as crianças em grande grupo;
Inicialmente deixe que as crianças façam o jogo apenas com o dado;
Questione e dê tempo à criança para que ela pense e responda.
Futuras intervenções
Use números no dado para que as crianças possam fazer a correspondência entre o valor e o número registado.
-027
Reutilize! Crie um animal reciclado
Autor: Ana Miranda
Idade: 5 anos
(Estudante do Mestrado em Educação Pré-Escolar e Ensino
do 1º Ciclo do Ensino Básico)
A desenvolver
Material
–
8 garrafões de plástico, 4 garrafas de plástico
(1,5l), jornal, fita cola, fita cola de papel, tesoura,
sacos de plástico, cartão, pincéis e tinta.
–
Exploração de modalidades diversificadas de
expressão visual (pintura, desenho, recorte,
colagens, modelagem), recorrendo a diferentes elementos da linguagem plástica (cores,
linhas, manchas, formas);
Representação e recriação de animais, através
de diferentes materiais (tintas, pincéis, esponjas, material reciclado, etc.).
Descrição
Com as crianças organize e recolha todo o material necessário. Construa o elefante em grupo. Sugerem-se as
seguintes etapas:
Monte os garrafões e as garrafas como na imagem, para dar forma ao animal. Peça às crianças para amachucar jornal e encher vários sacos de plástico grandes. Dê volume ao animal, colocando os sacos à volta dos
garrafões, presos com fita-cola. Cubra o plástico com folhas de jornal. Desenhe, em cartão, a forma das patas
e cole-as por baixo das garrafas.
Desenhe também, em cartão, a forma das orelhas, proporcionais ao corpo, e revista-as com jornal e fita cola
de papel e coloque no corpo do animal.
Preencha os membros inferiores (inclusive as patas) com jornal amachucado. Para prender o jornal utilize fita
cola de papel. Para a tromba coloque uma garrafa para dar forma ou opte por fazer um rolo de papel ou cartão.
Pinte o animal da cor que preferir e desenhe os olhos, a boca e as unhas.
Estratégias
Ajude as crianças a encontrar soluções para a construção do elefante - Que materiais vamos usar? Por onde
começamos? Quem faz o quê? (…).
Permita que ela faça opções na construção.
Envolva as famílias neste processo, pedindo algum material de desperdício.
Futuras intervenções
Construa outros animais, utilizando a mesma técnica de trabalho.
Brincar e Tchovar pela Infância
-028
Bonecas
Autor: Marta Ramos Pinto
Idade: 4 e 5 anos
(Estudante do Mestrado em Educação Pré-Escolar da ESEPF)
A desenvolver
Material
–
–
–
Pincéis, tecidos, fitas, paus, diversos materiais de
desperdício, tesoura e cola.
Motricidade fina;
Transformação de ideias em produtos;
Pensamento criativo.
Descrição
Reunir todos os materiais de desperdício que tenha e deixar as crianças criarem as suas próprias bonecas.
Estratégias
Fale com as crianças sobre qual a produção pretendida: tipo de boneca que pretende fazer e as suas características. Disponibilize às crianças imagens com diferentes bonecas.
Apresente e reúna com a criança todo o material disponível.
Peça à criança para falar sobre o que pensa fazer antes de começar a produção.
Futuras intervenções
Peça à criança para, antes de passar à produção da boneca, fazer um esboço no papel sobre o que quer concretizar e com que materiais.
Proponha às crianças produções mais complexas, por exemplo, elaborando as diferentes partes do corpo com
maior pormenor.
-029
Sistemas de organização,
gestão e pilotagem cooperada
em educação de infância
Clara Craveiro
ESEPF | CIPAF | CeiED
USAR INSTRUMENTOS DE ORGANIZAÇÃO,
GESTÃO E PILOTAGEM NA EDUCAÇÃO DE
INFÂNCIA
Ana Pinheiro
Neste artigo procuramos refletir sobre algu-
ESEPF | CIPAF | INED | OFEI
Brigite Silva
ESEPF | CIPAF | CeiED | OFEI
Paula Medeiros
ESEPF | CIPAF | INED
mas das funções relevantes da utilização dos
instrumentos de organização, gestão e pilotagem na educação de infância. Estes meios
justificam-se pela necessidade de encontrar
ferramentas de orientação que guiem, regulem e facilitem o funcionamento de um grupo social, no caso, composto por um conjunto de crianças.
É claro que um sistema de controlo desta
natureza deve ser dinâmico, adaptando-se à
Brincar e Tchovar pela Infância
Sistemas de organização, gestão e pilotagem cooperada em educação de infância
evolução e desenvolvimento das crianças ao
tos têm como finalidade clarificar como está
longo do seu percurso enquanto grupo.
organizado o trabalho e, consequentemente,
Por estas razões os sistemas de organização,
desencadear na criança a execução de ações,
de gestão e pilotagem não podem constituir
segundo as condições combinadas e fixadas.
um conjunto de instrumentos iguais e que se
aplicam de modo similar a todos os grupos
– Instrumentos de gestão do grupo que pos-
de crianças. Cabe por isso ao educador a re-
sibilitam, com base na informação registada,
flexão sobre quais e como cada um se adapta
fazer a gestão do grupo e das suas ativida-
à sua realidade, em cada momento do ano
des de modo democrático, justo e equitativo,
letivo. Neste sentido, conhecer muito bem
originando oportunidades iguais para todas
o grupo, as suas características, necessida-
as crianças.
des, nível de desenvolvimento e a faixa etária
evidência de um conjunto de ações que fun-
constituem alguns dos fatores determinan-
damentam a tomada de decisão do educador,
tes da construção desses instrumentos e da
dando respostas adequadas às crianças e às
sua complexificação ao longo do tempo. Dito
suas solicitações em cada um dos momentos.
Deste modo, constituem uma
de outro modo, estes instrumentos devem
procurar responder às características e ne-
– Instrumentos de pilotagem que proporcio-
cessidades identificadas de cada grupo.
nam o controle das atividades realizadas ou
Sem pretensão de classificarmos os ins-
a realizar e que implicam a responsabiliza-
trumentos referidos, nem tão pouco de nos
ção das crianças e a supervisão dos adultos.
aprisionarmos por sugestões deste ou dou-
Apesar da palavra controle, geralmente, ter
tro modelo pedagógico, Folque (2018), Niza
uma conotação negativa pela ligação ao ato
(1996), Vasconcelos (1997), Grave-Resendes
de fiscalizar, no caso destes sistemas, usados
e Soares (2002) constituem referências teó-
na educação de infância, a sua finalidade é
ricas fundamentais na elaboração da reflexão
facultar informação às crianças e aos adultos
que sustenta todo este trabalho. Não obstan-
sobre o que está feito; sobre o que falta fazer;
te, optamos por, com base na liberdade da
identificar quem ainda não participou em de-
nossa reflexão teórico-prática e na evidência
terminada atividade ou tarefa, entre outros
da pluralidade de funções, que cada um dos
aspetos, permitindo que estes intervenientes
instrumentos possui, os dispor conforme as
possam ter a informação conveniente para
suas funções predominantes, em:
tomarem as decisões necessárias.
– Instrumentos de organização social do
grupo que permitem dar informações e explicitar a organização do trabalho, quer às
crianças, quer aos adultos. Estes instrumen-
-031
INSTRUMENTOS DE ORGANIZAÇÃO, GESTÃO E PILOTAGEM – EXPLICITAÇÃO DE
ALGUNS PRESSUPOSTOS
No quadro dos instrumentos de organização,
gestão e pilotagem alguns pressupostos subjazem à sua elaboração, funcionamento e razão
de ser. Estes meios devem garantir desígnios
fundamentais
que
reconhecem
as
crian-
ças como sujeitos competentes para intervir
na organização e gestão de tempos, espaços,
atividades e projetos, bem como para serem
protagonistas da sua própria aprendizagem.
Assim, explicitando e detalhando alguns destes pressupostos, pode afirmar-se que o uso
desses instrumentos numa sala de educação de
infância se justifica por:
mento de inclusão de todos, quando as crianças
experimentam o sentimento de superação e de
eficácia do trabalho colaborativo e em cooperação.
– Uma questão de comunicação dado que as utilizações destes recursos implicam que haja diálogo entre crianças e entre crianças e adultos. Deste
modo, vai crescendo uma relação de confiança e de
entendimento que, numa situação de desacordo,
pode servir para motivar as crianças a comunicarem e a encontrarem soluções, transpondo os
obstáculos que surgem.
– Uma questão de participação das crianças pois
a sua participação na escolha e elaboração destes
instrumentos, assim como na discussão sobre a
– Uma questão de socialização uma vez que estes meios favorecem o conhecimento e a ligação entre as crianças e, consequentemente, o
sentimento de pertença a um grupo. As crianças através da presença na mesma sala e da
progressiva identificação dos seus pares dão-se conta da existência dessa realidade coletiva, que envolve tratar das relações, interações,
afetos, conflitos, entre outras ações que implicam o entendimento de que são participantes
de uma instância coletiva.
– Uma questão de cooperação dado que estes
instrumentos apelam à aprendizagem de uma
atuação em conjunto e de modo a atingir interesses ou objetivos comuns, acima dos individuais. Neste contexto, implicam entreajuda,
apoio mútuo, partilhas e decisões conjuntas
tendo em vista um fim comum. Permite também atender às diferenças e melhorar o senti-
forma como estes devem ser utilizados, é fundamental. Este processo determina muito do que irá
ser ou não o papel ativo e protagonista da criança
nas decisões que lhe dizem respeito.
– Uma questão de responsabilização uma vez
que os instrumentos explicitam as responsabilidades assumidas pelas crianças como atores e
protagonistas, no contexto da atividade, da manutenção e do bom funcionamento da sala onde
o grupo se situa.
– Uma questão de autonomia, que se desenvolve na medida em que a criança não depende
do adulto nem das outras crianças para decidir
ou empreender determinadas ações. A consulta
destes instrumentos possibilita uma ação independente e descentralizada do educador e, consequentemente, contribui para uma progressiva
autonomia da criança.
Brincar e Tchovar pela Infância
Sistemas de organização, gestão e pilotagem cooperada em educação de infância
– Uma questão de autocontrolo, pois os ins-
criança, pois a sua autoridade para decidir sozinho
trumentos permitem um registo de evidências
fica condicionada pela consulta do registo e das
que, sendo observadas e refletidas com a crian-
informações proporcionadas pelos instrumentos
ça, conduzem a uma aprendizagem de contenção
usados na sala das crianças. A descentração das
que favorece as competências de autocontrolo da
decisões do adulto para a criança é um fator de-
criança. De cada vez que um instrumento desta
terminante para a definição de alguns limites da
natureza é consultado, a criança verifica quando é
autoridade do adulto.
a vez de cada um; quando tem de esperar; quando
tem de dar a vez e porquê.
— Uma questão de convergência de interesses, pois estes instrumentos usados por todas as
– Uma questão de equidade. No dia a dia da prática
crianças favorecem a disposição das mesmas para
com grupos, sempre grandes, de crianças numa
se comprometerem com as atividades e o traba-
sala e decisões imediatas a tomar, o educador não
lho da sala, tendo em vista que todos beneficiam
deve confiar apenas na sua memória para tomar
de forma equitativa das mesmas regras, tarefas e
certas determinações e resolver situações da prá-
oportunidades. Neste contexto, a criança progres-
tica. Frases das crianças como: “agora é a minha
sivamente aprende a afastar-se dos seus inte-
vez”; “eu ainda não fui para os jogos e quero ir”;
resses pessoais para reunir os seus esforços num
“não quero ir pôr as mesas hoje” são questões que
modo altruísta de convivência com os seus pares,
se decidem com as crianças, consultando os re-
percebendo que interessa a todos respeitar as re-
gistos dos respetivos quadros de organização do
gras que as consultas dos dados dos instrumentos
grupo. Evita que alguma criança mais abusiva, ou
revelam sobre todas as crianças do grupo.
um educador com menos memória, cometa o erro
de, inconscientemente, ser injusto, não dando as
– Uma questão de avaliação porque estes ins-
mesmas oportunidades a todas as crianças ou in-
trumentos favorecem um sistema de registo que
voluntariamente favorecendo outras.
torna, sobretudo, possível a avaliação formativa.
A dinâmica, que se desenvolve ao longo de todo o
– Uma questão de orientação. Estes instrumen-
processo educativo, pela utilização de instrumen-
tos são guias de ação das crianças relativamente
tos, que têm como função registar, guiar, pilotar e
a ações, tarefas e responsabilidades. Orientam de
regular, de forma sustentada, o desenvolvimento
forma simples e eficaz a condução do grupo em
do trabalho e das aprendizagens, suscitadas pelas
cada momento de ação e decisão.
atividades e pelos projetos vividos, com a participação direta das crianças e do educador, permitem
– Uma questão de definição de limites da autori-
uma verdadeira avaliação cooperada, integrada na
dade. Estes instrumentos ajudam à distribuição de
ação e nas aprendizagens.
poder entre adultos e crianças e, de algum modo, a
evitar algum excesso de controlo do adulto sobre a
-033
INSTRUMENTOS DE ORGANIZAÇÃO, GESTÃO E PILOTAGEM – CONCRETIZAÇÃO
Os instrumentos que temos vindo a referir possuem características diversas, conforme o fim
principal a que se destinam, mas geralmente
tomam a forma de pequenos quadros que se
espalham pela sala do grupo de crianças. Estes
quadros servindo para leitura, registo ou apenas consulta da criança e adultos, pressupõe-se
que estejam afixados nos locais adequados e à
altura das crianças.
Brincar e Tchovar pela Infância
-034
Quadro de presenças
Descrição
Pode iniciar-se com um formato mais simples e, posteriormente, à medida que as crianças se desenvolvem, ir
assumindo estruturas mais complexas. Assim, numa 1ª fase o quadro pode ter apenas duas colunas, uma com
as fotografias das crianças presentes e outra com as fotografias das crianças ausentes.
Como modo de funcionamento basta que as crianças marquem a presença, colocando a respetiva fotografia
na coluna das presenças. O adulto ou uma criança, responsável pela tarefa de verificar o preenchimento deste
quadro, coloca as fotografias das crianças ausentes na outra coluna.
Mais tarde, numa 2ª fase, este quadro pode evoluir para uma tabela semanal de dupla entrada. No eixo horizontal tem os dias da semana e no eixo vertical as fotografias das crianças com o respetivo nome. Diariamente, as crianças registam na respetiva coluna, se está presente, por exemplo desenhando uma cruz preta
ou fazendo o seu nome ou a inicial do nome (esta sinalética deve ser combinada entre o adulto e as crianças.
O adulto ou a criança responsável pela tarefa de apoio e preenchimento do quadro pode terminar, colocando
por exemplo uma cruz de cor diferente ou deixando sem nome as colunas das crianças que estão ausentes.
Posteriormente, numa 3ª fase, a tabela de dupla entrada semanal pode passar a mensal, sendo que o eixo
horizontal será preenchido com os dias das quatro semanas do mês e o eixo vertical poderá, quando todas
as crianças dominam o registo e identificação do seu nome, incluir apenas os nomes e retirar as fotografias.
Este quadro mensal irá permitir que cada criança, no final de cada mês, conte as suas presenças e ausências e
efetue um registo dessa atividade através da elaboração de um gráfico mensal.
A reflexão que o educador for fazendo diariamente com as crianças sobre as presenças e ausências das variadas crianças é também uma componente importante para a consecução da finalidade deste instrumento
denominado Quadro de Presenças.
Finalidades
- Desenvolve o sentimento de pertença a um grupo;
- Promove o sentido de responsabilidade;
- Estimula a consciência de presença e ausência.
Agrupamento de Escola Garcia da Horta
– EB S. Miguel de Nevogilde
– Educadora Glória Sousa – Grupo misto
Agrupamento de Escola Garcia da Horta
– EB S. Miguel de Nevogilde
– Educadora Orquídea Neves
-035
Associação de Pais e Amigos do Infantário e Jardim de Infância
Dr. Leonardo Coimbra Filho – Educadora Madalena Marques
Associação de Solidariedade Social de Mãos Dadas
– Educadora Mariana Oliveira
Associação de Solidariedade Social de Mãos Dadas
– Educadora Andreia Xavier
Brincar e Tchovar pela Infância
-036
Quadro de tarefas ou de responsabilidades
Descrição
É um quadro de colunas. Cada coluna é encabeçada pelo nome e a fotografia de cada tarefa ou responsabilidade, como por exemplo: regar as plantas, dar comida ao periquito da sala, orientar o preenchimento do quadro
de presenças, etc. Será mais interessante, devido à entreajuda e cooperação, que as crianças se encarreguem
das várias responsabilidades aos pares. As crianças afixam uma etiqueta com o seu nome na coluna correspondente à tarefa pela qual fica responsável. É interessante que as diferentes tarefas ou responsabilidades
sejam rotativamente assumidas pelas crianças do grupo.
Finalidades
- Organiza o quotidiano das tarefas e o trabalho da sala;
- Incentiva a responsabilidade da criança;
- Promove o sentido de compromisso;
- Favorece o sentido de cooperação.
Associação de Solidariedade Social de Mãos Dadas
– Educadora Mariana Oliveira
Agrupamento de Escolas de Rio Tinto nº 3
– Educadora Luísa Gonçalves – Grupo misto
-037
Quadro de atividades
Descrição
É um quadro de dupla entrada. No eixo vertical, à esquerda, inscrevem-se os nomes das crianças e no eixo
horizontal possui o nome das áreas/atividades e a fotografia ou o registo da mesma feito pelas crianças. As
crianças marcam nas respetivas casas das colunas, as áreas que escolhem, por exemplo, durante um mês. No
final desse tempo, é possível ver quais são as áreas mais e menos escolhidas pelas crianças, contribuindo para
o adulto refletir sobre o que deve ou não alterar nesses espaços. Permite ao longo desse período, por exemplo,
que as crianças verifiquem a frequência nas diversas áreas, dialoguem sobre se devem experimentar uma
área que ainda não frequentaram e negoceiem sobre se devem dar a sua vez a outra criança. No final de cada
mês é muito interessante que as crianças façam um gráfico individual com o registo do número de vezes que
frequentaram cada área e que analise isso com o adulto e até com o grupo de crianças. Este registo pode ser
guardado no portfólio individual da criança.
Finalidades
- Organiza a frequência de cada área e a atividade do trabalho da sala;
- Apoia a reflexão sobre a frequência ou a ausência das crianças nas áreas;
- Estimula o diálogo e a negociação entre as crianças;
- Apoia a dinâmica da sala através das interações e decisões democráticas entre as crianças;
- Facilita o desenvolvimento da compreensão do que os outros sentem, desejam e do que cada um tem direito;
- Confere a oportunidade de exercício e divisão do poder da criança com o adulto.
Associação de Solidariedade Social de Mãos Dadas
– Educadora Mariana Oliveira
Brincar e Tchovar pela Infância
-038
Diário de grupo
Descrição
É um quadro com quatro colunas encimadas pelos seguintes títulos: Gostamos; Não gostamos; Fizemos; Queremos. Diariamente, as crianças refletem sobre estes aspetos, comentando o que gostaram ou não de fazer,
apreciando o que fizeram e planificando o que querem fazer. A educadora regista o que as crianças dizem nas
respetivas colunas.
No final da semana, em reunião de grupo/assembleia, as crianças dialogam sobre as apreciações registadas no
quadro e atualizam-no com novas sugestões, num verdadeiro processo de dar vez e voz às palavras das crianças.
Neste cenário, o adulto orienta o diálogo e regista, no quadro, o que a criança exprime.
As duas primeiras colunas (gostamos e não gostamos) fomentam o desenvolvimento socio moral das crianças,
pois possibilitam uma reflexão das crianças sobre diferentes situações da vida e do trabalho do grupo e viabilizam a tomada de decisão sobre o que deve ser alterado, quer no grupo, quer individualmente. Neste contexto,
as crianças têm oportunidade de dar a sua opinião, resolver problemas do quotidiano, apresentar soluções para
dilemas que surgem, deliberar sobre questões de interação e de comportamento, tomar decisões cooperativamente. Daqui podem sair contributos para enriquecerem as regras da sala, para mudarem rotinas (por exemplo:
aumentar o tempo para brincar no recreio), para alterarem os espaços ou os materiais (por exemplo: desativar
ou criar uma área ou substituir um recurso pedagógico), entre outros aspetos possíveis. As duas últimas colunas
(fizemos e queremos) fomentam a atividade de avaliação e de planificação. Neste contexto, as crianças têm voz
para opinar sobre o trabalho desenvolvido, para apreciar as aprendizagens realizadas e sobre como dar continuidade a estes aspetos. Envolve as crianças num verdadeiro processo de avaliação e de planificação participada
e democrática.
Este quadro apresenta, por vezes, pequenas variações pela necessidade de se adaptar às características do grupo ou ao tipo de modelo ou prática pedagógica da educadora (justificação dada pelas próprias profissionais de
educação de infância). Assim, é possível encontrar Diários de grupo cujas colunas podem ser encimadas por
designações alternativas, às antes apresentadas, ou que funcionam, durante algum tempo, apenas com uma das
partes do quadro e que conduzem a outro tipo de ação e de reflexão e a outras intencionalidades pedagógicas.
Finalidades
- Promove a participação ativa das crianças;
- Fomenta o espírito critico;
- Incentiva a negociação, cooperação e convivência democrática;
- Incrementa a tomada de decisões;
- Propicia uma componente de desenvolvimento sociomoral;
- Favorece a capacidade de avaliar e planificar;
- Ocasiona a participação da criança no seu itinerário de aprendizagem;
- Confere a oportunidade de exercício e divisão do poder da criança com o adulto.
Associação de Solidariedade Social de Mãos Dadas
-039
Quadro de Projeto
Descrição
Na sequência do vínhamos dizendo sobre o quadro anteriormente apresentado, poderá existir um Quadro de
Projeto especificamente para planificação e documentação de algum projeto. Este quadro poderá ser constituído pelas seguintes colunas, encimadas pelas seguintes ações: o que sabemos; o que queremos saber; quem
faz; como vamos saber/fazer e o que aprendemos. A educadora regista o que as crianças dizem nas respetivas
colunas. As duas primeiras colunas permitem definir o tema, o tópico ou o problema a trabalhar e a elucidar
sobre o que é que as crianças já sabem sobre o tema (teorias das crianças) e o que querem vir a saber, colocando perguntas ou hipóteses. A coluna seguinte permite planificar o trabalho, dividir as tarefas e decidir as ações
a levar a cabo. A última coluna possibilita que as crianças reúnam o conjunto de saberes que descobriram, os
conhecimentos novos que adquiriram e que permitiram responder a todas as perguntas feitas, inicialmente,
ou outras que surgiram, entretanto. Nesta sequência, as crianças podem apreciar as novas aprendizagens e
comparam o que já sabiam com o que sabem no presente, alterando algumas das suas perceções, conceções e
teorias inicialmente expostas.
Finalidades
- Situa as crianças num tema, tópico ou problema que pretendam investigar ou encontrar respostas;
- Permite planificar o trabalho a desenvolver e a prepará-lo organizadamente;
- Possibilita ter uma panorâmica do que têm de realizar ou do que já está realizado;
- Gera momentos diários de diálogo e de discussão;
- Gera momentos diários de partilha de conhecimentos;
- Promove o trabalho cooperativo;
- Favorece a negociação e a tomada de decisões pelas crianças;
- Possibilita a aprendizagem ativa, construtiva e pela descoberta;
- Promove a construção de saber pelas crianças;
- Incentiva o trabalho com um propósito e para o mesmo fim;
- Favorece a divulgação de saberes e o valor da partilha de conhecimentos.
Associação de Solidariedade Social de Mãos Dadas – Educadora Patrícia Cambalacho
Brincar e Tchovar pela Infância
Quadro de regras
Quadro de regras
Descrição
É um quadro muitas vezes dispensável nas salas de educação de infância. No entanto, como ainda é utilizado
em muitas salas, podemos dizer que se trata de um quadro onde são registadas pelo educador e ilustradas
pelas crianças as regras que combinaram existir para o bom funcionamento do grupo e da dinâmica da sala.
Pode-se começar com um formato mais simples, utilizando uma cartolina e escrevendo as frases das crianças
e progressivamente assumindo formatos mais complexos, sobretudo no que diz respeito à formulação das
regras. É fundamental que as normas partam de situações perturbadoras ou problemáticas para as crianças,
pois serão elas a pedir soluções e a mostrar necessidade de estabelecer posturas, condicionamentos e orientações adequados ao funcionamento do grupo. O educador deve refletir e conversar com as crianças e registar
a sua opinião e, progressivamente, terá um quadro de regras elaborado com a participação das crianças. As
regras devem sempre ser escritas na positiva para salientar mais o que a criança deve fazer do que aquilo que
não deve fazer. E, assim, pedagogicamente, mostra à criança a postura que é adequada e como. Podem também aparecer nas áreas pequenos quadros de normas, indicando o número de crianças que pode frequentar
cada área, ou que ações devem cumprir desde que iniciam até ao arrumar do material, entre outros exemplos
interessantes, que servem de guia de ação e são criativos.
Finalidades
- Situa as crianças nos comportamentos e posturas adequadas;
- Situa as crianças nas normas da dinâmica e funcionamento da sala;
- Gera ambiente de segurança e confiança;
- Incentiva a responsabilidade da criança;
- Promove o sentido de compromisso;
- Propicia uma componente de desenvolvimento sociomoral;
- Gera momentos diários de diálogo e de discussão;
- Favorece a negociação e a tomada de decisões pelas crianças;
- Regula o comportamento das crianças;
- Confere a oportunidade de exercício e divisão do poder entre a criança e o adulto;
- Favorece a participação da criança naquilo que lhe diz respeito.
Associação de Solidariedade Social de Mãos Dadas
– Educadora Diana Pacheco
Associação de Pais e Amigos do Infantário e Jardim de
Infância Dr. Leonardo Coimbra Filho
– Educadora Isabel Cristina Morais
-041
Associação de Solidariedade Social de Mãos Dadas – Educadora Daniela Oliveira
Associação de Solidariedade Social de Mãos Dadas
Brincar e Tchovar pela Infância
Calendário (mensal)
Calendário (mensal)
Descrição
É um quadro mensal que contém os dias da semana, os seus nomes e os dias do mês. Diariamente as crianças
assinalam o dia em que se encontram, fazendo um círculo à volta da data. Este quadro possui uma enorme
possibilidade de utilizações, pois aqui se registam todos os acontecimentos importantes da vida da sala, como
por exemplo o aniversário de cada criança, um passeio que está programado, os dias festivos do ano (Natal,
Carnaval, início e fim de um Estação do Ano, etc.), entre outros aspetos que forem significativos. Neste quadro, as crianças diariamente registam o tempo, desenhando o mesmo (sol, chuva, nuvens, etc.). Neste sentido, funciona como uma agenda do grupo e substitui a proliferação de quadros pela sala, como por exemplo
o do Tempo, o dos Aniversários, o das Estações do ano, entre outros. Os fins de semana, as férias, os feriados
etc. podem marcar-se com uma cor diferente dos restantes dias ou não fazer qualquer marca. Os calendários
vão sendo substituídos mensalmente, mas não desaparecem, pois ficam afixados numa parede da sala, onde
seja possível as crianças e adultos revisitarem datas, acontecimentos, épocas, estações e tantas outras informações que o grupo achar pertinente.
Finalidades
- Situa as crianças e os adultos no tempo;
- Fornece a noção de tempo e da sucessão dos dias no tempo;
- Permite planificar acontecimentos e antecipar trabalho a desenvolver ou a preparar organizadamente;
- Possibilita ter uma panorâmica (mensal e anual) dos acontecimentos realizados e vividos ou a realizar e a concretizar;
- Gera momentos diários de diálogo e de discussão, conforme os acontecimentos marcados no calendário.
Associação de Solidariedade Social de Mãos Dadas.
Associação de Solidariedade Social de
Mãos Dadas
– Educadora Andreia Xavier
-043
Associação de Solidariedade Social de Mãos Dadas
- Educadora Cristina Magalhães
Associação de Solidariedade Social de Mãos
Dadas
– Educadora Diana Pacheco
Brincar e Tchovar pela Infância
Calendário (anual)
Calendário (anual)
Descrição
Tabela com a data, o nome do mês e o ano. Este registo pode ser feito através de etiquetas que as crianças
atualizam ou pode, simplesmente, ser feito um registo daqueles itens num quadro de giz ou similar que exista
na sala.
Finalidades
- Desenvolve a noção da sucessão dos dias, meses e ano;
- Permite que as crianças copiem a data, o mês e o ano para os desenhos e outros trabalhos.
Associação de Solidariedade Social de Mãos Dadas
-045
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Bibliografia
Os sistemas de organização, gestão e pilotagem
cooperada em educação de infância operacionalizam-se através de diversos instrumentos,
que promovem e constituem a realidade visível
e documentada da participação da criança na
Azevedo, A., & Oliveira-Formosinho, J. (2008). A
documentação da aprendizagem: A voz das
crianças. In J. Oliveira-Formosinho (Org.), A
escola vista pelas crianças. Coleção Infância,
nº 12. Porto: Porto Editora, 117-143.
cionalidade educativa do educador de infância.
Folque, A. (2018). O aprender a aprender no préescolar: o modelo pedagógico do movimento da
escola moderna. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian.
Nesta linha, a criança desde o jardim de in-
Grave-Resendes, L. e Soares, J. (2002). Diferenciação
Pedagógica. Lisboa: Universidade Aberta
vida do grupo e da articulação com a inten-
fância vive o exercício da cidadania infantil e
da aprendizagem democrática, aprende como
ter voz e a usá-la com autonomia e respeito
pela voz dos seus pares e adultos. Neste cenário, têm fundamental importância os saberes,
as crenças, os valores e as atitudes dos adultos que postulam o protagonismo da criança e
a sua autonomia, numa educação baseada no
diálogo, na comunicação, na divisão do poder
e no reconhecimento da criança como um sujeito de direitos. Digamos que subjaz, fundamentalmente, a este texto a grande finalidade
de que cada educadora na sua prática reflita,
crie e encontre os instrumentos que possibilitem uma justa concordância e proporção entre
os propósitos das crianças e as intencionalida-
Niza, S. (1996). O modelo curricular de Educação
Pré-escolar da Escola Moderna. In OliveiraFormosinho, J. (org.) (1996). Modelos
Curriculares para a Educação de Infância.
Porto: Porto Editora.
Oliveira-Formosinho, J. (org.) (1998). Modelos
curriculares para a educação de infância. Porto:
Porto Editora
Oliveira-Formosinho, J. (2011). O espaço e o tempo em
Pedagogia-em-Participação. Porto: Porto
Editora.
Oliveira-Formosinho, J. & Gambôa, R. (2011). Trabalho
de Projeto na pedagogia em-participação.
Porto: Porto Editora
Oliveira-Formosinho, J., & Formosinho, J. (2013).
Pedagogia-em-Participação: A perspetiva
educativa da Associação Criança. Porto:
Associação Criança e Porto Editora.
Pinazza, M. (2007). John Dewey: inspirações para
uma pedagogia da infância. In J. OliveiraFormosinho, Pedagogia(s) da Infância.
Dialogando com o Passado Construindo o
Futuro (pp. 65-94). São Paulo: Artmed.
Vasconcelos, T. (1997). Ao redor da mesa grande – a
prática educativa de Ana. Porto: Porto Editora
des educativas dos adultos.
Brincar e Tchovar pela Infância
Assembleia semanal
Assembleia semanal
Autor: Ana Miranda
Idade: 4 e 5 anos
(Estudante do Mestrado em Educação Pré-Escolar e Ensino do 1º Ciclo
do Ensino Básico da ESEPF)
A desenvolver
Material
–
–
Folhas de papel A3 e marcadores
–
–
–
Tomada de decisão;
Expressão de opiniões, preferências e apreciações críticas, indicando algumas razões
que as justificam;
Responsabilidade;
Capacidade de planificação de propostas/projetos individuais e coletivos, explicitando o
que pretende fazer, tendo em conta as escolhas dos outros e contribuindo para a elaboração de planos comuns;
Memória de trabalho.
Descrição
Divida a folha de papel em três partes: o que gostamos mais; o que gostamos menos; o que queremos fazer/
aprender.
Peça às crianças para se sentarem numa roda e proponha a cada uma que reflita e refira o que gostou mais de
realizar na semana, o que gostou menos e o que pretende realizar ou aprender na semana seguinte.
Afixe a folha na sala.
Estratégias
Relembre as crianças das atividades realizadas durante a semana.
Inicie o processo numa ponta da roda ou, então, por ordem alfabética.
Pergunte a todas a crianças uma coisa de cada vez.
Permita algum tempo para as crianças pensarem.
Futuras intervenções
Deixe que sejam as crianças a nomear as atividades da semana.
Em caso de indecisão, motive as crianças a tomarem uma decisão.
Alterne a ordem de participação das crianças para que não seja sempre a mesma em primeiro lugar ou em
último.
-047
Agenda semanal
Autor: Helena Lourenço Licuco
Idade: 4 e 5 anos
(Estudante da Licenciatura em Educação de Infância da UP)
A desenvolver
Material
–
–
Madeira, tintas de várias cores e pregos
Sentido do número;
Noção de dia, semana e mês.
Descrição
Previamente, numa base de madeira quadrada, cole ripas também de madeira, onde irão encaixar os dias do
mês. Em grande grupo, ajude as crianças a relembrarem os dias da semana e peça às crianças para irem preenchendo o calendário com a letra correspondente a cada dia da semana. Depois de completar, peça às crianças
para irem dizendo os números até ao 31 e proponha serem elas a escrever um número em cada quadrado. Vá
encaixando os dias do mês em função do dia da semana.
Estratégias
Após a construção da base do calendário, trabalhe com o grupo um dia de cada vez. Comece a dinamizar o
calendário no primeiro dia de um mês.
Deixe as crianças manipularem ou manusearem de forma individual ou colectiva colocando os diferentes números nos respectivos lugares no quadro.
Use jogos e canções de forma a ajudar as crianças a organizarem os números em sequência.
Futuras intervenções
Explore as diferenças entre os meses.
Valorize e proponha situações diárias que levem as crianças a interagirem com o recurso.
A partir desse material podem conhecer os números, identificar número maior e menor e também podem
organizar de ordem crescente e decrescente.
Brincar e Tchovar pela Infância
Quadro de responsabilidades
Quadro de responsabilidades
Autor: Ana Miranda
(Estudante do Mestrado em Educação Pré-Escolar e Ensino do 1º Ciclo do
Ensino Básico da ESEPF)
Idade: 4 e 5 anos
A desenvolver
Material
–
–
–
–
–
Papel ou cartão plastificado, marcador
Escrita do nome;
Responsabilidade;
Sequência dos dias da semana e dos meses do ano;
Confiança;
Reconhecimento de fenómenos meteorológicos.
Descrição
Reúna vários cartões ou papéis recortados e plastifique-os. Destine cada cartão a uma responsabilidade (pôr a
mesa, regar as plantas, dar comida ao peixe, etc.). Afixe-os numa parede da sala e eleja uma criança diferente
todos os dias, para ser a responsável. Essa criança, no início da manhã, deve escrever o seu nome, a data do
presente dia, o dia da semana em que se encontra e assinalar o estado do tempo.
Estratégias
A escolha do responsável pode seguir a ordem alfabética dos nomes das crianças da sala, a começar no A ou no Z.
Construa com as crianças algum objeto que possam utilizar para as representar como responsáveis (ex.: colar).
Futuras intervenções
Escolha dois responsáveis por dia e inclua uma tabela de dupla entrada onde constem os nomes dos mesmos.
Estes devem chegar a um acordo e colocar uma cruz (X) nas tarefas a realizar (ex.: distribuir o lanche; pôr a
mesa; verificar se as áreas da sala ficam arrumadas, etc.).
Proponha às crianças planificarem em conjunto quem são os responsáveis da semana seguinte.
-049
Brincar e Tchovar pela Infância
Do lúdico ao brincar: uma abordagem às orientações curriculares em Portugal 1997-2016
Do lúdico ao brincar: uma
abordagem às orientações
curriculares em Portugal
1997-2016
Ana Pinheiro
ESEPF | CIPAF | INED | OFEI
Brigite Silva
ESEPF | CIPAF | CeiED | OFEI
REFLETINDO SOBRE A INCIDÊNCIA DOS
CONCEITOS
Uma análise sobre a frequência de utilização de
conceitos como brincar, brincadeira ou lúdico
nas Orientações Curriculares para a Educação
Clara Craveiro
ESEPF | CIPAF | CeiED
Paula Medeiros
ESEPF | CIPAF | INED
Pré-Escolar (OCEPE), permite-nos perceber o
crescente interesse e valorização desta atividade
e uma consciencialização por parte do adulto sobre a importância educativa do brincar. Em 1997,
data de publicação das primeiras OCEPE, a palavra brincar era mencionada uma só vez. O conceito aparece explicitamente ligado à biologia e à
físico química. Regista-se concretamente:
-051
“Há por exemplo, conteúdos relativos à
promove a brincadeira quando planifica. In-
biologia, conhecimento os órgãos do cor-
siste-se novamente aqui no conceito ligado a
po, dos animais, do seu habitat e cos-
conteúdos concretos.
tumes, de plantas, etc., e ainda expe-
Numa análise às OCEPE de 2016 percebemos
riências da física e da química (luz, ar,
a transformação na narrativa sobre a educa-
água, etc.) que podem ser realizadas por
ção de infância que se apresenta sustenta-
crianças de idade pré-escolar. Brincar
da numa perspetiva completamente distin-
com água, encher e esvaziar recipien-
ta. Aqui, neste documento, passamos a ver
tes pode ser, por exemplo, um meio de
o apelo ao “brincar” 34 vezes e dezenas de
compreender que o ar ocupa espaço, ex-
outros conceitos associados a expressões e
perimentar o princípio dos vasos comu-
palavras que apelam à necessidade da ludi-
nicantes, questionar porque há objetos
cidade. Este apelo também está presente no
que flutuam e outros que vão ao fundo”
documento de 1997. Percebe-se que, mui-
(Ministério da Educação, 1997, p. 81)
to embora o conceito de “brincar” não seja
A utilização do conceito brincar neste docu-
frequente, ao contrário de 2016, aparecem
mento, claramente ligada aos conteúdos, às
outros conceitos associados. Quando nos re-
áreas de conhecimento e especificamente à
ferimos à ludicidade, este conceito já se tor-
área curricular do conhecimento do mundo,
na mais recorrente em 1997, como vemos no
parece não prever que brincar possa depen-
seguinte excerto:
der da liberdade de opção da criança e que
“Adoptar
decorre de uma orientação concreta do adul-
e estruturada não significa introduzir
to para a dinâmica da atividade.
na educação pré-escolar certas práti-
Paralelamente, num outro momento a pa-
cas “tradicionais” sem sentido para as
lavra “brincadeira” aparece também uma
crianças, nem menosprezar o carácter
única vez, quando se refere a conteúdos de
lúdico de que se revestem muitas apren-
matemática:
dizagens, pois o prazer de aprender e de
uma
pedagogia
organizada
“Do mesmo modo, as brincadeiras com
dominar
água permitem introduzir as medidas
exige também esforço, concentração e
de capacidade. A utilização de diferentes
investimento pessoal.” (Ministério da
utensílios que se usam para esta forma
Educação, 1997, p.18)
determinadas
competências
de medição na vida corrente, desde co-
Esta referência à necessidade de um “carác-
pos graduados até embalagens de água
ter lúdico” é referida nos “Fundamentos e
ou leite, permitem comparar e ordenar.”
Organização das Orientações Curriculares” o
(Ministério da Educação, 1997, p.77)
que permite antever que a expressão “carác-
Mais uma vez percebemos a importância dos
ter lúdico” é um dos conceitos base das OCE-
conteúdos e que é o próprio educador que
PE de 1997. Ao analisarmos os outros mo-
Brincar e Tchovar pela Infância
Do lúdico ao brincar: uma abordagem às orientações curriculares em Portugal 1997-2016
mentos onde este conceito é referido, apenas
sentido para as crianças, contactos com
encontramos referências ao carácter lúdico
crianças de outros países, por conheci-
quando o documento se refere à Música, no
mento directo ou correspondência, e se
Domínio das Expressões (Ministério da Edu-
assume um carácter lúdico e informal.”
cação, 1997, p.64), no Domínio da Lingua-
(Ministério da Educação, 1997, p.73)
gem Oral e Abordagem à Escrita, no que diz
Para além da descrição sobre os fundamentos
respeito especificamente à Linguagem Oral
do documento, são apenas 4 as referências ao
(Ministério da Educação, 1997, p. 67), às
carácter lúdico na Educação Pré-Escolar nas
Novas Tecnologias (Ministério da Educação,
Áreas e Domínios, três das quais no Domí-
1997, p. 72), fazendo ainda referência, den-
nio da Linguagem Oral e Abordagem à Escrita.
tro deste domínio, à língua estrangeira (Mi-
Registe-se ainda que a quarta menção, sendo
nistério da Educação, 1997, p.73):
relativa ao domínio da Música, salienta o in-
“Trabalhar as letras das canções re-
teresse do carácter lúdico nas letras das mú-
laciona o domínio da expressão musi-
sicas “por explorar o carácter lúdico das pa-
cal com o da linguagem, que passa por
lavras” (Ministério da Educação, 1997, p. 64).
compreender o sentido do que se diz,
A assertividade e determinação das OCEPE
por tirar partido das rimas para discri-
de 2016 no que diz respeito à assunção da
minar os sons, por explorar o carácter
valorização do brincar como um elemento
lúdico das palavras e criar variações da
chave para a aprendizagem, parece retirar
letra original” (Ministério da Educação,
a ideia de carácter lúdico e de uma abor-
1997, p.64)
dagem à ludicidade como caraterística das
“Esta aprendizagem baseia-se no ca-
dinâmicas
rácter lúdico da linguagem, prazer em
brincar é cada vez mais a dinâmica, a ati-
lidar com as palavras, inventar sons,
vidade a partir da qual decorrem as apren-
e descobrir as relações” (OCEPE, 1997,
dizagens. Brincar torna-se, pois, numa ação
p.67)“Os
são
da criança, que ela desenvolve com prazer,
meios de expressão individual e colec-
sem objetivos extrínsecos, espontâneo e que
tiva e também meios de transmissão do
pressupõe envolvimento por parte da criança
saber e da cultura que a criança vê como
(Cfr. Garvey, 1988, p. 10). Oliveira-Formo-
lúdicos e aceita com prazer” (Ministério
sinho espelha de forma muito concreta esta
da Educação, 1997, p.72)
ideia, a de que a educação de infância pre-
“A multiplicidade de códigos pode ainda
cisa de assumir como urgência o resgate do
referir-se à existência de diferentes lín-
brincar no mundo em que o quotidiano de
guas, não se excluindo a sensibilização
muitas crianças se transforma numa acu-
a uma língua estrangeira na educação
mulação de actividades extracurriculares que
pré-escolar, sobretudo se esta tem um
esse pensa que abrirão às crianças as portas
registos
audiovisuais
implementadas.
Ao
contrário,
-053
do sucesso.” (Oliveira-Formosinho, 2011, p.
OPERACIONALIZANDO IDEIAS
48). Não será por isso ao acaso que comu-
É a brincar, mesmo sozinha, que a criança
mente ouvimos o “Agora vão brincar”. Esta
aprende conteúdos concretos, a resolver pro-
ideia de que há momentos para trabalhar e
blemas e encontrar soluções, a relacionar-se
momentos para brincar colide com o pró-
com o outro e com o mundo que a rodeia.
prio papel do educador. A sua função não é
As OCEPE (2016) são muito claras sobre esta
apenas orientar dinâmicas preparadas, mas
vertente, quando referem que é a “ativida-
sim acompanhar de forma regular as brinca-
de natural da iniciativa da criança que reve-
deiras das crianças. Ao brincar elas decidem,
la a sua forma holística de aprender” (Lo-
cooperam, criam regras na própria brinca-
pes da Silva, Marques, Mata e Rosa, 2016,
deira e é aqui que o adulto se pode envolver
p.10). Definindo brincar, trata-se de uma
e assumir-se como mais um elemento. Es-
dinâmica da iniciativa da criança, “em que
tes momentos são ricos de informação para o
esta escolhe o que quer fazer e com quem,
educador. Importa por isso “diferenciar uma
mantendo o controlo sobre o desenrolar da
visão redutora de brincar, como forma de a
atividade” (Lopes da Silva, Marques, Mata
criança estar ocupada ou entretida, de uma
e Rosa, 2016, p.105). Brincar é para Garvey
perspetiva de brincar como atividade rica e
uma atividade espontânea, voluntária, com
estimulante que promove o desenvolvimento
uma motivação intrínseca, que não serve
e a aprendizagem e se caracteriza pelo ele-
qualquer objetivo a não ser a própria brinca-
vado envolvimento da criança, demonstrado
deira (1988, p.10). Nesta perspetiva, é valo-
através de sinais como prazer, concentração,
rizada a criança como ser autónomo, criador
persistência e empenhamento (Lopes da Sil-
das suas próprias brincadeiras, construtor
va, Marques, Mata e Rosa, 2016, p. 10-11).
privilegiado das suas próprias competências.
Nas OCEPE o brincar assume diferenciadas
A participação do/a educador/a, desde que
vertentes e importância mas nesta reflexão
não se sobreponha às intenções da criança,
destacamos a operacionalização do papel do
permite alargar e enriquecer o brincar, e o
educador perante dois contextos: o brincar
jogo da iniciativa da criança.” (Lopes da Sil-
como uma dinâmica única da própria criança
va, Marques, Mata e Rosa, 2016, p.105). Isto
e o aprender através de um contexto lúdico
não significa que deixe as crianças e se se-
promovido pelo adulto.
pare delas porque é tempo de brincar. É aqui
que a expressão “Agora, vão brincar!”, tão
comum no dia a dia dos jardins de infância,
se revela tão expressiva de uma perspetiva
do educador pouco presente no brincar autónomo da criança. Por outro lado, lembramos
bem o desabafo de uma educadora que nos
Brincar e Tchovar pela Infância
Do lúdico ao brincar: uma abordagem às orientações curriculares em Portugal 1997-2016
diz “Quando vou para a casinha brincar com
não conseguiram resolver. Os compor-
as crianças, elas param e ficam à espera das
tamentos, os diálogos, as decisões e as
minhas orientações” É curioso perceber que
dificuldades de cada criança envolvida
as expectativas das crianças passam, mui-
podem relacionar-se, por exemplo, com:
tas vezes, pela ideia de que se o adulto está
a)
problemas, lacunas ou insuficiência
presente, então o adulto orienta. Operacio-
de materiais disponibilizados para as
nalizamos por isso o papel e envolvimento
brincadeiras;
do educador nas brincadeiras decididas pelas
b) os espaços, a sua gestão e adequação
crianças.
à área concreta de brincadeira;
No dia a dia de uma sala de Jardim deve-
c)
o discurso das crianças: formas como
mos oscilar estratégias de forma a manter a
se expressa, vocabulário, problemas
presença do adulto em diversos momentos,
de linguagem, etc.;
sem violar o próprio espaço da criança. Mas
é claro, e as OCEPE também o referem, que
d) questões de relacionamento, lideranças, cooperação, etc.;
a observação é um instrumento privilegiado
e) o conhecimento que o educador tem
do educador. Deve por isso ser utilizada nas
da própria criança: as competências
brincadeiras livres das crianças como recurso
que desenvolveu no Jardim de Infância
para organizar a planificação, avaliar, carac-
e em casa, hábitos, costumes e aspe-
terizar, despistar eventuais problemas, etc.
tos culturais.
Sugerimos por isso as seguintes estratégias:
–
–
–
–
Por exemplo:
Incluir diariamente na planificação mo-
“Quatro crianças brincam na casinha.
mentos de brincadeira das crianças nos
Estão a fazer o almoço e vão trazen-
quais é ela que organiza e decide em con-
do para a mesa vários objetos. A certa
junto com os seus pares;
altura alguns pratos e frutos que estão
Defina momentos em que vai brincar
em cima da mesa começam a cair por
com a criança;
causa do excesso de objetos. As crian-
Crie um registo sistemático dos espaços,
ças apanham e voltam a pôr em cima
momentos, comportamentos e crianças
da mesa. O adulto pergunta: “Está
com quem brincou de forma a optimizar
tudo a cair. Não cabe tudo em cima da
as suas planificações futuras;
mesa.” (registos de observação)
Observe e registe comportamentos, con-
Nesta situação faz todo o sentido pro-
textos, situações concretas que lhe per-
mover um espaço de conversa com as
mitam
que
crianças para que elas percebam o que
poderá fazer mais tarde para ajudar a
está errado, naquele momento ou mais
potenciar competências e a colmatar os
tarde, se não for pertinente interromper
problemas que deteta e que as crianças
as crianças. Neste caso concreto poderia
perceber/fundamentar
o
-055
fazer sentido que as crianças percebes-
implementar. Conforme referem as OCE-
sem que, para comer a fruta, é necessário
PE, “A observação do brincar e de situa-
primeiro comer a carne ou o peixe, reti-
ções da iniciativa das crianças é um meio
rar os pratos e só depois trazer a fruta,
de conhecer os seus interesses, um co-
tal como a mãe e o pai fazem em casa. É
nhecimento que pode ser utilizado para
importante por isso usar o brincar para a
o/a educador/a planear novas propostas,
continuidade na aprendizagem.
ou apoiar o desenvolvimento de projetos
Conforme confirmam as OCEPE,
de pequenos grupos ou de todo o grupo.”
“brincar torna-se um meio privilegiado para promover a relação entre
–
–
Defina na planificação um equilíbrio en-
crianças e entre estas e o/a educador/a,
tre as dinâmicas orientadas e os momen-
facilitando o desenvolvimento de com-
tos de liberdade para que as crianças se
petências sociais e comunicacionais e o
possam expressar livremente dentro das
domínio progressivo da expressão oral.
suas próprias dinâmicas;
Proporciona, de igual modo, outras
–
(2016, p. 18)
–
Questione as crianças: onde estiveram
conquistas, tais como, ter iniciativas,
a brincar? Brincaram com o quê? Com
fazer descobertas, expressar as suas
quem? Como? As assembleias de grupo
opiniões, resolver problemas, persistir
(Cfr. “Assembleia semanal” de Miranda,
nas tarefas, colaborar com os outros,
neste mesmo documento) permitem que
desenvolver a criatividade, a curiosi-
a criança reflicta sobre a sua ação, tome
dade e o gosto por aprender, que atra-
decisões, planifique, perceba a distinção
vessam todas as áreas de desenvolvi-
entre o essencial e o acessório, bem como
mento e aprendizagem na educação
promove a alteração de comportamen-
de
condições
tos, entre outros aspetos. “ao brincar,
essenciais para que a criança aprenda
a criança exprime a sua personalidade
com sucesso, isto é, “aprenda a apren-
e singularidade, desenvolve curiosidade
der”.” (Lopes da Silva, Marques, Mata
e criatividade, estabelece relações entre
e Rosa, 2016: p. 11)
aprendizagens, melhora as suas capaci-
infância,
constituindo
Durante a brincadeira, aceite as regras
dades relacionais e de iniciativa e assume
das crianças, organização, distribuição
responsabilidades” (Lopes da Silva, Mar-
de papéis, etc. e alinhe o seu compor-
ques, Mata e Rosa, 2016, p.11)
tamento com as indicações das crianças;
Interessa, assim, conhecer verdadeiramente
Escute as conversas das crianças nas
a criança, os seus medos, as suas conquis-
suas brincadeiras. Registe os seus inte-
tas, as suas competências. Nestes momentos
resses e gostos de forma a potenciar o
faz sentido aproveitar para compreender os
aparecimento de dinâmicas ou projetos a
perfis das crianças, a forma como lideram
Brincar e Tchovar pela Infância
Do lúdico ao brincar: uma abordagem às orientações curriculares em Portugal 1997-2016
ou não a brincadeira, se intervém, se dão
resses e curiosidade, bem como ao dar-lhe
opinião. É nestes momentos que percebe-
oportunidade de escolher como, com quê e
mos também algumas das dificuldades que
com quem brincar” (Lopes da Silva, Mar-
poderão ser promotoras de novas aprendi-
ques, Mata e Rosa, 2016, p.11) Mas a utiliza-
zagens e determinantes para a planificação
ção de materiais chamativos e motivadores
de dinâmicas para um outro dia. Ao recolher
é muitas vezes limitada a uma perspectiva
informação para a construção partilhada de
da educação de infância vocacionada para o
dinâmicas, mais do que preparar actividades
“ensino”, de um para todos, e não para con-
para orientar, deve-se aproveitar o espaço de
textos mais construtivistas onde a criança
brincadeira da e com a criança para salien-
aprende descobrindo. Vejamos o exemplo
tar as ideias delas, ajudá-las a tornarem-se
concreto “Flutua ou não flutua?” (consultar
exequíveis e decidir com elas sobre dinâmi-
página X). Nesta dinâmica concreta apre-
cas a implementar num segundo momen-
sentada neste livro o educador não explica à
to. “Observar e envolver-se no brincar das
criança o que significa flutuar. Ao contrário,
crianças, sem interferir nas suas iniciativas,
faz uma proposta de descoberta que deve-
permite ao/à educador/a conhecer melhor os
rá ser desvendada a partir do pensamento
seus interesses, encorajar e colocar desafios
da criança. É a ela que cabe explicar o que
às suas explorações e descobertas” (Lopes da
significa flutuar a partir da experimentação.
Silva, Marques, Mata e Rosa, 2016: p11).
Ao contrário, a mesma ideia e os mesmos
Percebemos, no entanto, que embora esta
materiais poderiam ser utilizados simples-
faceta do brincar tenha um lugar importan-
mente para o adulto explicar, mostrando à
tíssimo na Educação de Infância, há outros
criança, o significado do flutuar, dinâmica
contextos onde as estratégias lúdicas po-
nada enriquecedora e que apelaria apenas à
dem ser utilizadas com objetivos específicos
capacidade da criança em memorizar o que
no desenvolvimento de competências. São
está a ser ensinado. A continuidade entre o
exemplos disso contextos em que o educador
brincar e aprender está claramente explicada
planifica uma dinâmica com um intuito con-
nas OCEPE que referem que “esta perspeti-
creto de desenvolvimento de uma competên-
va de continuidade entre brincar e aprender
cia ou trabalhar um conteúdo. É, no entanto,
articula-se com o reconhecimento da criança
determinante entendermos que a utilização
como sujeito e agente do processo educativo,
de materiais criativos não pressupõe a uti-
que lhe garante o direito de ser escutada nas
lização de estratégias lúdicas. O educador
decisões relativas à sua aprendizagem e de
pode proporcionar à criança contextos de
participar no desenvolvimento do currículo.
aprendizagem mais ricos no sentido de ela
No contexto relacional e de interação social
ter acesso, concretamente, a “materiais di-
do jardim de infância, e partindo das expe-
versificados que estimulam os seus inte-
riências e saberes únicos da criança, consi-
-057
derada como capaz de construir a sua apren-
Bibliografia
dizagem, cada uma aprende e contribui para a
aprendizagem e progresso das outras.” (Lopes
da Silva, Marques, Mata e Rosa, 2016, p. 31).
Estamos por isso perante formas diferentes de olhar os brinquedos, os materiais que
usamos, bem como a forma como os associamos ao brincar. Mas certamente devemos
estar cientes de que mais do que abordar
conteúdos e ensinar as crianças, devemos
partir da sua própria dinâmica e proporcionar momentos concretos para novas descobertas. Devemos, também, distinguir claramente o brincar livre promotor intencional,
de aprendizagens decorrentes de um contexto de evidente entretenimento. As OCEPE
Brock, A., Jarvis, P. e Olusoga, Y. (2019). Perspectives
on play. Nova Iorque: Routledge
Garvey, C. (1988). Play: the developing child. Glasgow:
Fontana Press.
Lopes da Silva, I., Marques, L., Mata, L. e Rosa, M.
(2016). Orientações Curriculares para a
Educação Pré-Escolar. Lisboa: Ministério da
Educação.
Ministério da Educação (1997). Orientações
Curriculares para a Educação Pré-Escolar.
Lisboa: Ministério da Educação.
Moreira, V. (1986). A criança dos dois aos seis anos.
Lisboa: Caminho
Oliveira-Formosinho, J. (2011). O Espaço e o Tempo
na Pedagogia-em-Participação. Porto: Porto
Editora.
Santer, J., Griffiths, C. e Goodall, D. (2007). Free
play in Early Childhood. Londres: National
Children’s Bureau. Retirado de http://www.
playengland.org.uk/media/120426/freeplay-in-early-childhood.pdf em 14.01.2019
são clarificadoras quando referem que “Importa, porém, diferenciar uma visão redutora de brincar, como forma de a criança estar
ocupada ou entretida, de uma perspetiva de
brincar como atividade rica e estimulante
que promove o desenvolvimento e a aprendizagem e se caracteriza pelo elevado envolvimento da criança, demonstrado através de
sinais como prazer, concentração, persistência e empenhamento” (2016, p. 10-11)
Brincar e Tchovar pela Infância
Figuras geométricas
Figuras geométricas
Autor: Edna Eugénio Gomes
Idade: 3, 4 e 5 anos
(Estudante da Licenciatura em Educação de Infância da Universidade
Pedagógica de Maputo)
A desenvolver
Material
–
–
–
Tintas, garrafões de plástico, cartão.
Criatividade e imaginação;
Observação e percepção;
Semelhanças e diferenças entre figuras geométricas.
Descrição
Defina com as crianças as formas geométricas que quer trabalhar. Peça a uma criança para traçar a forma (em
tamanho grande) no garrafão. Faça um furo no garrafão e ajude-a a cortar a forma desenhada.
Peça à criança para desenhar a mesma forma em cartão e ajude-a a recortar.
Em pequeno grupo pintar todas as peças construídas.
Estratégias
Deixe que a criança decida as formas a desenhar e dê oportunidade para que seja ela a desenhar e cortar.
Se trabalhar com um grupo misto, promova que as crianças mais velhas possam fazer este jogo para as crianças mais novas.
Questione e dê tempo para a criança reflectir e pensar em estratégias de execução da actividade.
Futuras intervenções
Converse com as crianças sobre as propriedades das formas geométricas, estimulando-as a comparar, agrupar, etc.
-059
Flutua ou não flutua?
Autor: Tatiana Sousa
Idade: 5 anos
(Estudante do Mestrado de Educação Pré-Escolar e Ensino do 1º Ciclo
do Ensino Básico da ESEPF)
A desenvolver
Material
–
–
Uma cartolina e canetas, duas bacias e água.
Materiais para a experiência: palhas, lápis, esferovite, rolhas, maça, tesoura, borracha, feijão, clips,
mola de plástico, batata, plasticina e duas bacias.
Imagens dos objetos utilizados.
Conceitos: flutua ou não flutua;
Espírito de descoberta.
Descrição
Previamente recolha alguns objetos com densidades diferentes que as crianças conheçam bem. Encha duas
bacias (com cores diferentes) com água e inicie atividade. Comece por explicar às crianças que vão fazer uma
experiência e que são elas que vão descobrir o que acontece. Coloque um objeto que flutue numa das bacias e
questione as crianças sobre o que aconteceu. Coloque um objecto que não flutue na outra bacia e pergunte às
crianças o que aconteceu de diferente. Após as crianças terem descoberto as diferenças, identifique as bacias
para que elas façam a associação com os outros objetos.
Por fim preencha o registo em conjunto com as crianças com dois desenhos de duas bacias e as imagens dos
objectos utilizados.
Estratégias
Reúna as crianças em grande grupo.
Deixe que as crianças descubram o que se passa com os objectos quando os colocam na água.
Dê oportunidade para que elas possam escolher o objecto e colocá-lo numa das bacias, observando o
resultado. Questione e dê tempo à criança para que ela reflita.
Futuras intervenções
Permitir que as crianças escolham outros objectos, possibilitando que elas possam prever se flutua ou não.
Brincar e Tchovar pela Infância
Jogo de encaixe e correspondência
Jogo de encaixe e correspondência
Autor: Chéuzia Afonso Banze
Idade: 3 anos
(Estudante da Licenciatura em Educação de Infância da Universidade
Pedagógica de Maputo)
A desenvolver
–
–
–
–
–
Conhecimento das cores;
Expressão e criação através de modalidades diversificadas de expressão visual (pintura e construção tridimensional);
Expressão e criação através de materiais reutilizáveis;
Motricidade fina;
Concentração.
Material
Rolo de cartão, paus de sorvete, molas de roupa e
tintas para colorir.
Descrição
Defina com as crianças onde querem fazer os furos no rolo e ajude nesta tarefa. Peça às crianças para pintarem
os paus e os introduza um em cada buraco. Peça também para pintar as molas com as mesmas cores dos paus.
Durante a actividade peça à criança para pegar numa mola e fazer a correspondência com o pau da mesma cor.
Estratégias
Pode começar por reunir as crianças, fale-lhes das cores e em seguida sugira um jogo que pode ser individual,
em pares ou grupos. Peça-lhes para encaixarem os paus no rolo e depois pegar nas molas e fazerem a correspondência das cores.
Caso combinem de forma errada, peça para outra criança ajudar. Dê a hipótese de tentar novamente.
Futuras intervenções
Dificulte a actividade pedindo para nomear as cores ou entregando o jogo com algumas molas colocadas nos
sítios errados para as crianças corrigirem.
-061
Copos de contagem
Autor: Deolinda Francisco Cumaio
Idade: 3, 4 e 5 anos
(Estudante da Licenciatura em Educação de Infância da Universidade
Pedagógica de Maputo)
A desenvolver
Material
–
–
–
–
Rolo de papel higiénico, papel de lustro, cola de
papel, cartão, 15 paus, saco plástico, 5 folhas A4
pintadas com as cores dos rolos, 5 lápis de cera
(amarelo, cor de laranja, verde, preto, vermelho).
Capacidade de atenção;
Sequências numéricas;
Correspondências através de cores;
Sentido de número.
Descrição
Peça para as crianças trazerem de casa rolos de papel higiénico, paus pequenos de tamanhos iguais (paus de
gelado, por exemplo). Ajude a criança a forrar os rolos com papel colorido, medindo, recortando e colando.
Proponha às crianças atribuir um número a cada rolo de um a cinco e peça-lhe para escreverem um número
em cada rolo. Solicite às crianças que coloquem em cada rolo o número correspondente de pauzinhos e, com
os papéis coloridos amachucados, faça o mesmo número de bolas. As bolas podem também ser realizadas com
pasta de papel, barro ou plasticina, tornando-se mais resistentes.
Estratégias
Prepare o ambiente de trabalho e os materiais a utilizar. Defina o número de crianças que irão participar na
construção do material e envolva-as nos recortes, colagem, medidas, contagem e pintura.
Faça a atividade em grande ou pequeno grupo. Dê tempo e incentive a criança a refletir sobre o que está a
construir.
Dê oportunidade a todas as crianças para participarem.
Futuras intervenções
Utilize rolos de tamanhos diferentes em função do número de paus ou bolas correspondentes.
Altere a ordem dos rolos para dificultar a contagem por parte das crianças.
Brincar e Tchovar pela Infância
Caixa de correspondência
Caixa de correspondência
Autor: Alice Arumbo Chicaruge
Idade: 4 e 5 anos
(Estudante da Licenciatura em Educação de Infância da Universidade
Pedagógica de Maputo)
A desenvolver
Material
–
–
Caixa de cartão, cartolinas de cores, tampas de
garrafas para colar as letras, cola de papel e de
madeira, marcador para escrever as letras e tesoura sem ponta.
–
–
Compreensão sobre o código escrito;
Reconhecer letras e aperceber-se da sua organização em palavras;
Concentração;
Atenção.
Descrição
Peça às crianças para forrarem uma caixa. Incentive a criança a decidir como vai forrar, com que papel, etc.
Com uma cartolina proponha à criança, usando a tampa como forma, desenhar círculos. Peça-lhe para recortar. Após ter todos os círculos feitos, proponha às crianças procurarem as letras em livros, placards afixados,
etc. e peça-lhes para copiar, uma a uma, para os círculos de cartolina.
Com as crianças, defina as palavras que pretende registar para encontrar as letras. Proponha que seja a criança a escrever ou a copiar as palavras e fazer o desenho correspondente. São estas palavras que a criança deverá
formar juntando as tampas com letras.
Estratégias
Trabalhe com grupos pequenos para uma atenção mais personalizada a cada criança.
Futuras intervenções
Utilize palavras diferentes em função da idade das crianças.
Mantenha o jogo na sala e recorra a ele sempre que precisar de trabalhar uma palavra nova.
Associe imagens às palavras.
-063
Comboio/barquinho das cores
Autores: Nilza Maria Maulide e Ofélia de Lurdes Novela
Idade: 3 anos
(Estudantes da Licenciatura em Educação de Infância da Universidade
Pedagógica de Maputo)
A desenvolver
Material
–
–
–
–
Rolos de papel higiénico, tintas, garrafas de plástico, cartolinas, caixas, favos de caixas de ovos,
cartão e uma caneta.
Criatividade e imaginação;
Observação - percepção sobre semelhanças;
Reconhecimento das cores;
Contagem.
Descrição
Faça três buracos na garrafa, deixando a criança riscar o contorno. Cada buraco vai corresponder a um espaço
da garrafa por isso recorte dois pedaços de cartão para introduzir na garrafa e crie os três espaços interiores
separados.
Rode a garrafa e faça três furos superiores e peça à criança para encaixar os rolos de papel pintados ou forrados.
Peça às crianças para fazerem bolas com papel com favos de caixas de ovos ou outro material reciclado. Também pode usar pedrinhas.
Para jogar as crianças têm que introduzir as bolas no tubo da cor correspondente.
Estratégias
Deixe as crianças tomarem decisões sobre os materiais, as cores que pretendem usar para pintar ou forrar.
Deixe as crianças brincarem com as bolas fazendo correspondências de acordo com as cores. Dê-lhes tempo
para explorar a actividade com calma.
Promova que as crianças encontrem diferentes formas de brincar o mesmo jogo.
Futuras intervenções
Dificulte atribuindo números diferentes aos rolos.
Brincar e Tchovar pela Infância
Quadro de formas geométricas
Quadro de formas geométricas
Autor: Helena Pedro Muchanga
Idade: 3 e 4 anos
(Estudante da Licenciatura em Educação de Infância da Universidade
Pedagógica de Maputo)
A desenvolver
Material
–
Cartão, cola e tintas.
Observação e manipulação de diferentes formas
geométricas.
Descrição
Com ajuda das crianças observe formas geométricas. Peça-lhes para desenharem e cortarem dois quadrados grandes que servirão de base para o jogo.
Num deles ajuda as crianças a recortar, destacando, um quadrado, um triângulo, um círculo e um rectângulo.
Deixe as crianças decidirem como querem pintar e colar os dois quadrados grandes, bem como as formas
que se destacaram de uma das bases.
Estratégias
Ajude a criança a identificar as formas geométricas através dos objectos da sala que conhece. Ajude-a a fazer a
correspondência com o jogo e comparar objectos de formas diferentes.
Futuras intervenções
Construa o jogo com peças e formas mais difíceis e complexas, associando mais características.
-065
Correspondência de figuras geométricas
Autor: Nélia Especiosa Mabjaia
Idade: 3 e 4 anos
(Estudante da Licenciatura em Educação de Infância da Universidade
Pedagógica Maputo)
A desenvolver
Material
–
Cartão/Madeira e tintas
Observação e manipulação de diferentes formas geométricas.
Descrição
Construa um cubo de cartão (para crianças muito pequenas pode usar madeira para que o jogo fique mais
resistente).
Com as crianças desenhe formas geométricas nos lados dos cubos.
Ajude a criança a fazer um furo em dois lados opostos do cubo e insira os cubos em espetos de metal ou de
madeira
Estratégias
Deixe as crianças participarem o mais possível na sua construção do jogo. Peça às crianças para alinharem
quadrados, triângulos, etc.
Promova a entreajuda entre crianças.
Futuras intervenções
Pode aumentar o número de formas de acordo com a idade ou interesses das crianças.
Introduza a variável cor.
Brincar e Tchovar pela Infância
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