Práticas avaliativas desenvolvidas por professores de matemática:
novos desafios frente aos resultados da Avaliação Externa na rede de
ensino SESI/SP
Evaluation Practices Developed by Mathematics Teachers: new challenges in the
light of the results of Outside Evaluations in the SESI/SP education network
_____________________________________
SOLANGE MARIA SANTOS1
ANA LÚCIA MANRIQUE2
Resumo
Esse artigo apresenta um estudo sobre as influências que as avaliações externas têm
produzido nas práticas pedagógicas de docentesda rede de ensino SESI/SP.
Inicialmente, umlevantamento de trabalhos desenvolvidos sobre avaliação foi realizado
para uma melhor compreensão da problemática envolvida. Os dados foram coletados
por meio de entrevistas com três professores, cujas escolas apresentaram avanços na
média de habilidades no componente de matemática nas últimas avaliações externas.
Constata-se que as avaliações externas estão mudando a rotina escolar quanto a
práticas no processo avaliativo, além de estarem servindo de referência para um
direcionamento do currículo. Conclui-se que existe uma prática avaliativa visando
resultados nas avaliações externas e poucas influências no que e como é ensinado.
Palavras-chave: Avaliação externa, práticas avaliativas, práticas pedagógicas em
matemática.
Abstract
This article presents a study of the influences that outside evaluations have had on the
pedagogical practices of staff in the SESI/SP education network. Initially, a survey of
studies on evaluation was conducted in order to better understand the problems
involved. Data was collected through interviews with three teachers whose schools have
shown advances in average mathematics skills in the last set of outside evaluations. It
was found that outside evaluations are changing school routines as far as evaluation
practices are concerned and that curriculums are being directed with such evaluations
in mind. We concluded that there are evaluation practices aimed at results in outside
evaluations, to the detriment of an educational evaluation within the sphere of students’
knowledge.
Keywords: outside evaluation, evaluation practices, pedagogical practices in
mathematics.
Introdução
O Serviço Social da Indústria São Paulo- SESI/SP, uma das maiores redes de
ensino particular do Brasil, criado em 25 de Junho de 1946, a partir de um decreto pela
Confederação Nacional da Indústria, tem como objetivo prestar serviços de educação de
base para a classe operária industrial brasileira, o qual se mantém até os dias atuais. No
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2
SESI -
[email protected]
PUC-SP –
[email protected]
Educ. Matem. Pesq., São Paulo, v.14, n.1, pp.171-193, 2012
decorrer dos anos passou por várias mudanças e, hoje, atua desde a Educação Infantil
até o Ensino Médio.
Com as inovações na área educacional provocadas pela implementação da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/96), o SESI/SP, em 1999,
submeteu, após vários estudos e discussões, seus alunos do ciclo IV final (o equivalente
ao 9º ano) à primeira avaliação externa nos componentes de Língua Portuguesa,
Redação e de Matemática. Tinha como um dos objetivos verificar, a partir de seus
resultados, a situação da instituição em relação às aprendizagens de seus alunos, ou seja,
averiguar a qualidade do sistema em nível educacional.
A partir desse momento, iniciou-se uma reconstrução das culturas de avaliação
do sistema SESI/SP. De posse dos primeiros resultados, que não foram os melhores,
percebeu-se que muito ainda poderia se fazer para obter um ensino e uma aprendizagem
de melhor qualidade. Assim, como forma de buscar uma educação de excelência em
âmbito estadual – capital e interior – foi organizada a matriz curricular em ciclos de dois
anos.
Em 2001, começou um grande projeto educacional com a ampliação no quadro
de funcionários, principalmente na Divisão de Educação, com a contratação de 35
profissionais de todos os componentes curriculares do Ensino Fundamental e da
Educação Infantil, distribuídos em: Área de Avaliação, Área de Metodologia, Área de
Treinamento e Enriquecimento Curricular, contratados por meio de concurso interno,
realizado em seis fases, tendo como pré-requisitos graduação no respectivo componente
curricular e em Pedagogia.
Nomeados pela instituição SESI/SP de Analistas Pedagógicos, esses
profissionais tinham como uma das principais funções promover a formação continuada
de professores da rede em todo o Estado de São Paulo. Com o apoio da Gerência de
Educação Básica, dos consultores de diversos componentes, supervisores e professores,
eles iniciaram a construção dos Referenciais Curriculares da Rede Escolar SESI/SP,
tendo como principal objetivo nortear os trabalhos de todos os profissionais ligados da
Educação Infantil ao Ensino Fundamental, a fim de que todos tivessem a mesma diretriz
curricular e concepção de avaliação, de modo a unificar a rede.
Nos primeiros encontros de formação continuada, os professores foram
convidados a dar suas sugestões e contribuições quanto à construção das expectativas de
ensino e aprendizagem de cada componente curricular integrante dos Referenciais
Curriculares. Nesse momento histórico, vivido pela rede SESI/SP, não se esperava
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muitas sugestões, por haver uma cultura muito forte de não participação desses
profissionais em decisões ou construção de algo tão inédito. Mesmo assim, alguns
professores de diferentes componentes apresentaram sugestões, inclusive os da área de
Matemática, sendo algumas acatadas e outras modificadas após discussões realizadas
entre os Analistas Pedagógicos dos componentes específicos.
As formações aconteceram ao longo de oito anos, em quatro encontros anuais,
de quatro horas cada, ocorrendo em polos de formação, tanto na Capital de São Paulo
quanto no interior. Os professores foram organizados em seus componentes curriculares
por aproximação de Centros Educacionais ou cidades, constituindo, assim, 21 pólos de
formação, espalhados pelo Estado de São Paulo.Nesses encontros, os Analistas
discutiam as práticas pedagógicas com professores, os modelos de atividades
diferenciadas, os Referenciais Curriculares, os procedimentos metodológicos, os itens
da avaliação externa, a concepção de avaliação nas diretrizes curriculares
implementadas na rede e outras demandas que surgiam ao longo do ano.
Entretanto, não foi possível verificar se as avaliações produzidas pelos
professores em suas salas de aula, aqui nomeadas como avaliações internas, estão
relacionadas com os resultados das avaliações externas. Muitas vezes, essa relação entre
as avaliações internas e as externas, com intenções de concretizar práticas de ensino e
de avaliação, voltadas ao desenvolvimento de competências para que os alunos possam
prosseguir seus estudos, ainda não fazem parte da realidade de muitas escolas,
tampouco da de muitos professores.
Desta forma, embora se saiba que esta temática propicie a discussão de
diferentes questões teóricas importantes e relevantes para a área de Avaliação, este
trabalho aborda, por limitações de espaço, como se processam as avaliações em sala de
aula realizadas por professores de matemática da rede SESI/SP - Serviço Social da
Indústria do Estado de São Paulo, e as relações que estabelecem com as avaliações
externas, pelas quais os alunos são submetidos desde 1999 e denominada de SIMEB –
Sistema de Monitoramento da Educação Básica.
Estudos sobre avaliações
Existem vários trabalhos escritos relacionados a avaliações, esses, por sua vez,
retratam diversos segmentos importantes que as permeiam podendo ser subdivididas em
eixos: avaliação educacional (CHUEIRI (2008), COELHO (2008)), avaliação externa
(BURIASCO, SOARES (2008), CHISTE (2007)), avaliação de aprendizagens (JORBA,
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SANMARTI (2003), HADJI (1994), FERNANDES (2008)) e algumas relacionadas a
políticas públicas (GONÇALVES (2005), SILVA (2003)).
Outros trabalhos foram analisados e serão destacados alguns artigos recentes
que contribuíram para o estudo sobre Avaliação presente nesta pesquisa, os quais foram
publicados em três revistas especializadas, contemplando abordagens diferenciadas:
Sísifo – Revista de Ciências da Educação, número 9 – Avaliação em Educação:
Perspectivas Ibero-Americanas; Bolema – Boletim de Educação Matemática, número 33
(temático) – Avaliação e Educação Matemática; e Estudos em Avaliação Educacional,
número 41.
Da revista Sísifo destaca-se o trabalho de Gatti (2009), apresentando um breve
histórico dos modelos de avaliações educacionais implantados desde a década de 1960 e
sua expansão em rede nacional. Mostra o quanto o processo avaliativo tem sofrido
mudanças ao longo das décadas até os dias atuais. Aponta que, mesmo lentamente, as
experiências com avaliações educacionais em âmbito nacional têm contribuído para a
formação e aperfeiçoamento de pesquisadores e técnicos em avaliação de desempenho
escolar e nas instituições de ensino. Destaca também trabalhos de pesquisa que vem
sendo desenvolvidos a partir de análises dos dados, com pretensões de se buscar maior
credibilidade e trabalhos efetivos para melhorias nas escolas e no ensino.
Gatti (2009, p.15) aponta que,
Depreende-se pelos documentos consultados que se buscou ao longo
do tempo criar um ambiente propício à receptividade de avaliações,
incrementar competências no campo, e estimular o emprego de
avaliações para mudanças. Pensava-se em provocar mudanças na
representação dos processos avaliativos que tinham conotação
punitiva e de depreciação dando-lhes novo significado.
Sabe-se que modificar atitudes frente aos resultados das avaliações
educacionais não é algo simples, pois depende de mudanças socioculturais, que estão
fortemente arraigadas em grande parte por gestores educacionais,expandindo-se aos
docentes que são responsáveis diretos de possíveis transformações de suas práticas em
sala de aula.
Outro aspecto a ser mencionado, que tem contribuído para esse processo lento
de mudanças em relação aos resultados das avaliações educacionais, é a baixa utilização
desses dados pelas redes de ensino. Segundo Gatti (2009), isso pode estar relacionado a
processos inadequados de disseminação e acesso à visibilidade aos dados, que pode
estar ligado a dificuldades nas redes de lidar, analisar e interpretar os dados
pedagogicamente.
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Destaca ainda que essa dificuldade se apresenta como ponto nevrálgico no
campo educacional, que precisa ser resolvido ao longo desse processo. Para que isso se
efetive, as escolas devem se apropriar dos resultados, estendendo as discussões aos
professores e alunos, e os utilizar para orientar as atividades propostas, com objetivo de
se ter melhores resultados no processo de ensino e aprendizagem.
Apesar das dificuldades de aceitação por grande parte dos educadores, as
avaliações externas são uma realidade que não se pode mudar. Precisa-se, no momento,
que os dados gerados sejam mais bem divulgados e discutidos nas escolas para que, a
partir daí, surjam propostas mais factíveis de serem realizadas por todos que fazem parte
da educação escolar.
Outro artigo desta revista a ser destacado, fazendo parte dos estudos em relação
às avaliações externas, é o trabalho desenvolvido por Carrasco e Torrecilla (2009), que
traz uma análise crítica das práticas avaliativas nacionais e internacionais da América
Latina. Para esses autores, os resultados referentes às aprendizagens e rendimento dos
alunos de um modo geral continuam aquém do esperado.
Segundo Carrasco e Torrecilla (2009) algumas pesquisas constataram que os
jovens latino-americanos de diferentes níveis e contextos educativos não se apropriam
dos saberes e das ferramentas básicas necessários para compreender e atuar sobre a
realidade que os cercam. E alunos com idades próximas ao término da escolaridade
obrigatória demonstram não terem adquirido competências necessárias para o seu
desenvolvimento como cidadão na atual contemporaneidade.
Afirmam que os resultados baixos advindos das avaliações têm colocado em
questão várias ações ocorridas a partir de seu surgimento, destacando-se, por exemplo,
desde os efeitos das reformas educativas até a utilização dos dados para melhoria da
qualidade da educação. Apontam que surgiram discussões acerca do currículo,
desempenho de professores, gestão e administração das escolas, efetivação de
investimento e gasto público na educação, além da validade e confiabilidade das
avaliações realizadas.
Carrasco e Torrecilla (2009, p.32) destacam ainda que
Também têm surgido fortes críticas relativas à pertinência dos
modelos e estratégias dos sistemas de avaliação para assumir a
diversidade de contextos e condições em que ocorrem as
aprendizagens e, consequentemente, serem pouco justos quando
avaliam os desempenhos escolares.
Essas indagações são pertinentes se considerar atualmente a grande diversidade
de alunos na sala de aula, oriunda de várias realidades e contextos educacionais
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diferenciados. Ao mesmo tempo, sabe-se que os resultados das avaliações são emitidos
para cada escola, que é quem tem possibilidades de efetivamente realizar um trabalho
diferenciado de acordo com sua realidade e mais aprofundado das dificuldades
pertinentes ao seu contexto. Não se pode esquecer que esses instrumentos de avaliação,
cada vez mais sofisticados, possuem como um dos principais objetivos melhorar a
qualidade educacional, promovendo equidade para todos.
Esses autores enfatizam que, nos diversos países da América Latina, a busca
pela melhoria da qualidade nos componentes de língua materna e matemática é uma
constante há décadas. Comparando os resultados entre os países desde 1993 até 1998,
na educação primária e secundária, constata-se que, em uma análise mais aprofundada,
não se deve deixar de observar as características próprias de cada país, seus contextos e
peculiaridades.
De acordo com Carrasco e Torrecilla (2009, p.36),
(...) é preciso assinalar que os países latino-americanos participantes
nestas medições internacionais “sofrem” duplamente com os
resultados da avaliação, uma vez que não apenas veem comprovados
os seus problemas de qualidade educativa, já evidentes e claros nas
avaliações nacionais, como também se veem expostos a um juízo
duplo (interno e externo) e a uma dura comparação com os seus pares
na região.
Encarar essas avaliações comparativas pressupõe desafios a serem trabalhados
e os juízos de valores atribuídos, mesmo que vistos com certa “pressão”, devem servir
para abrir espaços para reflexões em prol de ações e políticas públicas dos países
participantes. Pois, não é possível falar de qualidade em educação se os alunos não se
apropriam dos conhecimentos necessários para o seu desenvolvimento como cidadão.
Carrasco e Torrecila (2009) finalizam dizendo que o esforço e investimento
realizados pelos diversos países da América Latina que participam dos processos
avaliativos só terão sentido na medida em que desenvolverem melhorias na oferta
educativa para uma distribuição justa da qualidade educativa dos sistemas.
Outros trabalhos que merecem destaque são as pesquisas extraídas da revista
Bolema, que traz seus artigos com assuntos relacionados sobre a aprendizagem de
matemática. Entre eles, destaca-se o de Araújo e Santos (2009), o qual revelou que os
alunos demonstraram fragilidade na resolução de problemas, apresentando dificuldades
em construir significado para o enunciado dos problemas. Apontam que nas avaliações
externas realizadas em larga escala nas diversas regiões brasileiras, pesquisas têm
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demonstrado que uma das principais dificuldades dos alunos está na resolução de
problemas com grandezas geométricas.
Segundo Araújo e Santos (2009, p.25), “em grande parte, essas dificuldades
aparecem ligadas ao próprio trabalho de sala de aula com esses objetos de ensino”. Isso
significa que o fazer pedagógico do professor em sala de aula é de fundamental
importância para os processos de aprendizagem. Dessa forma, nota-se o quanto o
trabalho do professor é importante para a compreensão dos conteúdos aplicados e o
quanto seu trabalho de certa maneira é refletido nas avaliações externas realizadas pelos
alunos.
Fazer uma leitura aprofundada dos resultados das avaliações externas
produzidas pelos sistemas educacionais é de suma importância para tomada de decisões,
no sentido de contribuir para trabalhos mais efetivos na prática da sala de aula.
Entretanto, para que isso ocorra, é essencial que o professor saiba os propósitos e
finalidades das avaliações, lhes dando sentido e significado.
Aos vários enfoques e pesquisas que se pode realizar a partir do tema
“avaliações externas”, alguns têm se revelado importantes à medida que abordam
aspectos relacionados as políticas públicas desenvolvidas a partir de seus resultados.
Sendo assim, de acordo com Ortigão (2009), em outro artigo da revista
Bolema, as avaliações externas têm contribuído muito para avanços em relação a
aspectos metodológicos e institucionais e no acompanhamento de políticas
educacionais. Ela apresenta a importância de se olhar os dois tipos de instrumentos
utilizados pelas avaliações externas que são: testes e questionários. Acredita-se que, por
meio dos questionários, podem-se obter informações que permitam traçar um perfil das
condições da escola, inclusive conhecer algumas práticas em Matemática em uma
perspectiva mais geral dos professores. Enquanto que os testes oferecem informações
acerca das habilidades cognitivas adquiridas pelos alunos.
A partir de estudos nos mais variados relatórios emitidos por meio das
avaliações externas, essa autora apresenta resultados de um questionário que fora
elaborado com o propósito de investigar as aulas de Matemática em escolas de nível
básico. E acaba concluindo que os processos que ocorrem nas salas de aula são
complexos demais para se generalizar, observando também que no nível do discurso, os
professores informaram que avaliam seus alunos utilizando procedimentos que vão
além do uso de provas e testes.
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Ortigão (2009) também constatou que os professores que utilizam como
estratégia de ensino a resolução de problemas relacionados com o mundo real faz com
que seus alunos sejam bem sucedidos nas avaliações externas, diferente daqueles que
enfatizam com pouca frequência resolução de problemas. Pode-se inferir que o trabalho
com resolução de problemas é importante para o desenvolvimento cognitivo em
matemática, permitindo desenvolver habilidades essenciais para seu processo de
construção do conhecimento. Ainda mais que, atualmente, todas as avaliações externas
propostas contemplam em seus testes questões que enfatizam a resolução de problemas,
pautados no desenvolvimento de habilidades e competências.
Essa autora mostra que a utilização dos resultados das avaliações externas
necessita de uma análise mais contextualizada e criteriosa, tanto nos testes quanto nos
questionários, pois só assim poderá provocar mudanças na esfera educacional. Para
tanto, é necessário que ao se analisar os resultados possa se fazer algumas inferências
com o intuito de desenvolver políticas públicas na área da educação.
O artigo de Bauer (2008), da revista Estudos em Avaliação Educacional,
apresenta alguns resultados de uma pesquisa realizada a partir do uso dos dados da
avaliação do Saresp e sua influência no desenvolvimento em políticas públicas
efetivadas quanto à formação de professores. Essa autora conclui que as formas de
divulgação de resultados se mostram ineficientes, uma vez que os materiais de
divulgação dos resultados por sua complexidade e leitura difícil não são bem
compreendidos pelos profissionais das diretorias de ensino, que acabam restringindo os
trabalhos a cada ano. Além disso, o acesso a esses resultados só é possível em meados
do primeiro semestre, não viabilizando um trabalho de apoio e formação de professor.
Das inúmeras dificuldades apontadas, a autora inferiu a possibilidade de uma
falha na comunicação entre os profissionais das diretorias regionais, quanto à utilização
dos dados da avaliação do Saresp e sua utilização para um trabalho em equipe, devido a
algumas contradições percebidas no discurso desses profissionais, mesmo assim
percebeu que muitas ações vinham sendo realizadas.
Para verificar em que medida as diretorias de ensino e as escolas planejaram
ações a partir dos dados apresentados da avaliação, a autora investigou como os dados
chegavam até as escolas. Observou que, por meio de depoimentos, alguns dados
enviados pela SEE – Secretaria Estadual de Educação não passaram pelas diretorias,
indo direto para as escolas, causando dificuldades ainda maiores no entendimento dos
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dados, além da demora em chegar às escolas. Esse descompasso entre diretorias e
escolas aconteceu na maioria das escolas pesquisadas, segundo Bauer (2008).
Percebe-se ao longo da pesquisa o quanto alguns fatores influenciaram para um
trabalho não muito efetivo em algumas escolas, entre eles, a autora ressalta a falta de
compreensão dos dados, como um dos fatores mais relevantes.
Segundo Vianna apud Bauer (2008, p.496),
Ainda que os resultados dos desempenhos sejam apresentados em
escalas elaboradas por intermédio de rigorosos procedimentos
estatísticos, e com a especificação dos vários níveis correspondentes
de competência, dificilmente os professores têm condições técnicas
para interpretar dados que resultam da expertise técnica dos
responsáveis pelos relatórios.
Sendo assim, Bauer (2008) aponta a necessidade de um trabalho mais profundo
e sistematizado de formação em avaliação para os educadores das diretorias de ensino e
aqueles pertencentes às escolas, de forma a potencializar o entendimento dos resultados
da avaliação. Afirma que, a partir da compreensão dos dados, sua utilização poderá ser
mais eficaz tanto pelas diretorias quanto pelas escolas.
Geralmente, quando se pensa em trabalhos a serem realizados a partir dos
resultados de grandes avaliações como o SARESP, nossos governantes incluem
prioritariamente políticas de formação de docentes, como uma das alternativas
principais para melhorar a qualidade do ensino, por estarem diretamente ligados aos
alunos, sujeitos das avaliações. Entretanto, sabe-se que o investimento que se pretende
não deve ser somente em políticas para formação de profissionais na área da educação,
mas em políticas públicas mais amplas que visam à qualidade da educação, um slogan
próprio do século XXI.
Nota-se que, por meio das pesquisas anteriormente mencionadas, quando se
fala em “avaliação externa”, essa poderá ser observada sobre os mais variados enfoques,
todos com seu grau de importância, imprescindíveis para se compreender o que é
avaliar.
Cultura escolar e práticasavaliativas educacionais
As avaliações educacionais têm se tornado uma prática constante desde a
década de 1980, se expandindo para todo o país. Seus resultados são analisados e
discutidos em vários âmbitos, com propósitos de descobrir entraves e possibilidades na
melhoria da qualidade da educação brasileira, subsidiando algumas ações específicas
junto às escolas.
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Com objetivos claros para todos os sistemas de ensino, as avaliações externas
têm se tornado um campo forte de pesquisas com vistas a torná-las mais significativas.
Mesmo assim, esse trabalho tem caminhado de modo lento e muitas vezes com
resultados insatisfatórios, numa prerrogativa que muito ainda precisa ser feito.
Segundo Fernandes (2009, p.111),
(...) para muitos educadores e pesquisadores é duvidoso que as
avaliações externas por si mesmas, possam ter o papel de informar de
forma confiável acerca do que os alunos sabem e que possam
contribuir para melhorar a qualidade do ensino.
Fernandes (2009, p.121) acrescenta ainda que, atualmente, existe uma grande
variedade de modalidades de avaliações externas, que são desenvolvidas de acordo com
o propósito e objetivos definidos por meio das políticas educacionais de cada país,
produzindo diferentes tipos de implicações nos mais variados níveis, como:
a) na vida pessoal, social e acadêmica dos alunos;
b) nas formas como as escolas e os professores se organizam e
desenvolvem o currículo;
c) naquilo que é ensinado e como é ensinado;
d) naquilo que é avaliado e como é avaliado;
e) na credibilidade social dos sistemas educativos.
Esse autor ainda alerta para algumas vantagens e desvantagens das avaliações
externas que não se pode ignorar. Como vantagens, partindo do princípio que a
concepção e elaboração dessas avaliações têm qualidades pedagógicas, educacionais e
formativas, elas poderão: exercer efeito moderador nas avaliações internas aplicadas
pelos professores, induzir práticas inovadoras de ensino e avaliação, contribuir para
avaliar o sistema educacional para tomada de decisões, alertar as escolas na melhoria de
seus projetos educacionais e dar informações úteis às escolas e aos professores no
sentido do que é importante ensinar e aprender.
Ao mesmo tempo em que essas “vantagens” podem contribuir para o trabalho
dos professores e de toda equipe como um todo, também pode condicionar os
professores à execução de um currículo a ser trabalhado em sala em função da avaliação
externa, em detrimento daquilo que o professor julgar importante.
Para Fernandes (2009) existem também algumas desvantagens na prática das
avaliações externas que precisam ser estudadas pelos sistemas educacionais a fim de se
conseguir equilíbrio, evitando, dessa forma, que muitas escolas tenham algumas ações
equivocadas. Dentre as quais cita: avaliações que poderão induzir as escolas a
concentrarem seus esforços nos alunos que já tenham possibilidade de sucesso,
discriminando aqueles que realmente precisam de maiores atenção.
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Esses desafios para serem superados demandam tempo e muito estudo com
pesquisas a serem desenvolvidas nessa área, além de desenvolvimento de políticas
públicas educacionais que visem preparar os professores para essa nova realidade.
De acordo com Mendes (2009, p.164),
(...) as inovações implementadas no processo de avaliação podem
desencadear consequentes inovações no ensino. Isso significa que a
direção dada à avaliação aponta o caminho a ser seguido pela prática
do professor, caso contrário teremos um sistema em total
desequilíbrio durante seu funcionamento; o que muitas vezes não é
percebido nem pelo professor nem pelos alunos.
Se a avaliação pode apontar o caminho a ser seguido pela prática docente,
então surge os seguintes questionamentos: Será que existe um estabelecimento de
relações entre esses tipos de avaliação? Como é realizada pelo professor e
implementada pelo sistema de ensino?
Supostamente a aprendizagem não é o único objetivo considerado pelo
professor, pode-se dizer que em sala quando ele aplica uma avaliação tem também
como meta verificar o que se aprendeu e o que ainda não foi compreendido.
Para Gatti (2003), a avaliação realizada pelos docentes em salas de aula merece
estudos, porém, em geral, pouca ou nenhuma orientação é oferecida nos cursos de
formação de professores.
Pesquisas desenvolvidas nesse campo, como a de Pavanello (2006),
demonstram a importância de se pensar em “o que avaliar em Matemática”,
principalmente com preocupação sobre a avaliação escolar, que passa pelo “o que
ensinar”, que depende do “por que ensinar”, do “para quem ensinar”, e do “como
ensinar”, observando a trajetória a ser considerada quando se pensa em o que avaliar em
matemática. Essas decisões estão diretamente relacionadas com a concepção que o
professor tem de Matemática, influenciando deste modo o fazer Matemático, o fazer
pedagógico e a avaliação.
Outro trabalho de pesquisa, desenvolvido por Rojas (2007), discute as
dificuldades que os docentes possuem quanto às teorias e práticas avaliativas, uma vez
que essas discussões praticamente não existem em suas formações iniciais. Considera
como ponto essencial a possibilidade de uma formação no próprio espaço escolar,
partindo da trajetória pessoal e profissional do professor. Esse tipo de formação ajudaria
os docentes a refletirem sobre suas práticas, adequando-as de acordo com a realidade da
sala de aula.
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A ação do professor no cotidiano escolar e o acompanhamento do desempenho
de seus alunos são marcados por avaliações no decorrer do ano letivo que determinam
sua progressão ou não para o próximo ano do ciclo, ou seja, ele é o avaliador, quem
determina o que irá ser avaliado.
Os docentes avaliam de acordo com uma filosofia de ensino, estando em jogo
suas experiências, sua formação e suas crenças e concepções. Essas avaliações
promovidas em sala de aula pressupõem verificar, por meio de instrumentos utilizados,
se os alunos compreenderam ou não os conteúdos.
Segundo Prado et al (2003, p.45), “a avaliação não é um processo meramente
técnico; implica uma postura política e inclui valores e princípios, refletindo uma
concepção de educação, escola e sociedade”.Sendo assim, o estudo da avaliação
aplicada pelos professores em sala de aula possibilitará verificar se seus objetivos estão
sendo alcançados ou não, podendo retomar os conteúdos caso haja necessidade.
Segundo Gatti, (2003, p. 99),
Para ter sentido, a avaliação em sala de aula deve ser bem
fundamentada quanto a uma filosofia de ensino que o professor
espose. A partir dessa premissa, o professor pode acumular dados
sobre alguns tipos de atividades, provas, questões ou itens ao longo do
seu trabalho, criando um acervo de referência para suas atividades de
avaliação dentro de seu processo de ensino.
Dessa forma, as ações do professor em sala relacionadas às avaliações são
importantes uma vez que o orienta, a partir de informações colhidas de atividades
propostas, em seu fazer pedagógico. Assim, no sentido de trazer algo novo para as
discussões da área de Educação Matemática, as análises contempladas neste trabalho
serão a respeito do fazer do professor, das avaliações realizadas em sua sala de aula e
das implicações das avaliações externas em sua prática pedagógica.
Metodologia da Pesquisa
A necessidade de conhecer e explicar alguns fenômenos ligados a avaliações de
rendimento produzidas em larga escala nas diversas redes educacionais permitiu que se
trilhasse por uma pesquisa de cunho qualitativo com um olhar científico na rede
SESI/SP.Inicialmente, foram estabelecidos alguns critérios para a escolha das escolas e
dos professores, tendo em vista que a pesquisa não poderia abarcar todas as escolas da
rede SESI/SP, nem tampouco todos os professores de matemática.
Sendo assim, o primeiro critério foi verificar, no rol de todos os Centros
Educacionais e Centro de Atividades do Trabalhador, que participaram das avaliações
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externas de 2003 e 2005, escolas que mantiveram médias cinco até seis na avaliação
externa, se comparado com a média da rede SESI/SP, tendo como padrão o conceito de
0 a 10.O segundo critério foi escolher os professores de matemática do ensino
fundamental que participaram das avaliações externas, que ocorrem desde 1999 na rede
SESI/SP, por conhecerem a concepção da rede, bem como o processo de avaliação
desde sua implantação, pontuando avanços e recuos.
Estabelecidos os critérios de escolha das escolas e dos professores, iniciaram-se
os primeiros contatos com os participantes via telefone e e-mail, sendo esclarecidos os
propósitos da pesquisa, bem como o direito ao sigilo profissional. Desta forma, foram
selecionados, de acordo com esses critérios, três professores de Matemática,
pertencentes a duas escolas localizadas no interior de São Paulo.
Para a preservação da identidade dos professores, foram utilizados nomes
fictícios em sua identificação. A professora Alfa trabalha com turmas de 8º e 9º anos e
leciona na rede SESI/SP desde 1997. O segundo professor entrevistado, denominado
Beta, pertence à mesma escola da professara Alfa, trabalha com alunos do 6º e 7º anose
ingressou na rede em 2002.O terceiro entrevistado pertence à região de Ribeirão Preto,
o professor Gama, que atua na rede desde 1992.
As escolas pesquisadas ficam localizadas na região periféricas de suas cidades,
contemplam alunos oriundos das diversas camadas sociais, a maior parte deles possui
vagas garantidas, chamadas assim por serem beneficiários pelo fato de seus pais
trabalharem nas indústrias. Na sobra de vagas, essas são preenchidas por meio de
sorteio por alunos da comunidade, designados não beneficiários, pelo fato de os pais
não trabalharem na indústria.
A primeira escola é umCentro de Atividades do Trabalhador, situada em
Bauru, considerada de grande porte, com biblioteca, laboratório de informática, quadras
poliesportivas, teatro, refeitórios e salas multidisciplinares. Comporta um total de 959
alunos, subdivididos na educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. Possui
55 funcionários no total, sendo 40 professores, dos quais 15 são da educação básica II,
além de coordenador, administrador escolar, auxiliar de cozinha, auxiliar de serviços e
conservação, professor orientador de aprendizagem e assistente de serviço
administrativo.
A escola tem seu ritmo de trabalho distribuído em dois períodos, manhã e
tarde. Pela manhã, funcionam duas salas para a Educação Infantil, oito para a educação
em tempo integral para alunos do ensino fundamental do ciclo básico I (do 1º ao 3º
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anos) e II (4º e 5º anos), e doze salas para o ciclo III(6º e 7º anos) e IV (8º e 9º anos). No
período da tarde, além dos alunos do período integral, funcionam três salas do ensino
médio.
A segunda unidade escolar é um Centro Educacional, situado em Ribeirão
Preto. É considerada de pequeno porte se comparada com a anterior; possui um total de
502 alunos que estudam em dois períodos manhã e tarde e trinta e um funcionários
incluindo os professores. O corpo docente é formado por um total de 22 professores,
sendo 10 da educação básica II.
O prédio cedido pela prefeitura de Ribeirão Preto possui: laboratório de
informática, biblioteca, sala de leitura, cantina e quadras esportivas. Pela manhã,
funcionam oito salas de aulas que abrange os ciclos III e IV do ensino fundamental. No
período da tarde, funcionam cinco turmas de ciclo I e II do ensino fundamental e duas
salas para o ensino médio.
Para a coleta de dados, foi utilizada uma entrevista semiestruturada com um
roteiro previamente elaborado com questões abertas direcionadas e flexíveis, por
permitir ampliação dos questionamentos favoráveis para a observação, análise e
interpretação.As questões da entrevista foram pensadas com o objetivo de responder às
inquietações/questionamentos presentes nesta pesquisa, envolvendo os seguintes temas:
avaliações internas e avaliações externas, bem como suas relações.
Para a organização e análise dos dados, foi utilizada a técnica de análise de
conteúdo, apresentada porBardin (1977). Essa organização compreende três etapas: a
pré-análise, a exploração do material e o tratamento dos resultados, que compreendem a
inferência e a interpretação.
Após todo o processo de pré-análise vem a fase da análise propriamente dita,
que consiste na exploração e codificação de todo material, para, em seguida, fazer a
categorização e, finalmente, a interpretação.
Dessa forma, depois de gravadas as entrevistas, houve o momento da escuta
para proceder à transcrição em folha devidamente digitada, com reprodução das falas
dos sujeitos sem nenhuma modificação. A transcrição se deu pelo fato de facilitar na
leitura e análise dos dados. Realizadas as leituras do material descritivo, a partir das
entrevistas, determinou-se as categorias utilizadas para este trabalho: o fazer do
professor, a avaliação interna e a avaliação externa.
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Análise dos resultados
A análise dos resultados contemplou três categorias: 1) Fazer do professor; 2)
Avaliações internas e3) Avaliações externas.
1) Fazer do professor:
A professora Alfa, ao responder sobre o desenvolvimento de sua aula,
mencionou que realiza um trabalho voltado para a metodologia de resolução de
problemas, embora não deixe de fazer a parte técnica – cálculos e algoritmos. E
evidenciou a importância de fazer um levantamento de conhecimentos prévios dos
alunos. O professor Beta afirmou que sempre trabalha os conteúdos de matemática
relacionados ao cotidiano do aluno, fazendo sempre uma investigação do que o aluno já
sabe por meio de questionamentos. Quanto ao professor Gama, afirmou que seu
trabalho é todo voltado para o resultado da avaliação externa do SESI/SP. Relatou que
faz uso de uma apostila ao longo do ano; nela estão concentrados exercícios
suplementares, situações problema, entre outros selecionados por meio de avaliações
externas como Saresp e exercícios complementares. Além dos exercícios, os simulados
são uma constante na prática desse professor.
Quanto aos recursos utilizados, a professora Alfa demonstrou que, às vezes,
utiliza jogos como recurso que auxilia na aprendizagem. Ao invés de falar sobre outros
recursos, explicita o modo como trabalha: desenvolve trabalhos em grupo, individual,
duplas, e utiliza monitoramento intitulado “projeto mão amiga”, que ocorre com a ajuda
de alunos que auxiliam outros com maiores dificuldades, bem como a estratégia de
agrupamentos produtivos.O professor Beta, ao ser questionado sobre os recursos que
utiliza, deu exemplos relacionados a alguns conteúdos e de como trabalha em sala de
aula. O professor Gama foi mais direto ao dizer que utiliza CDs “Só Matemática”,
apresentando vídeo aulas. Acredita que a parte visual é um ótimo recurso a ser utilizado,
pois, por meio desse recurso pedagógico, demonstra a parte prática da matemática e sua
importância. Também comentou como desenvolve suas aulas propiciando trabalhos em
grupos, em dupla e individual. Mencionou a utilização nesse ano de um CD chamado
“CD do educador”, que contém “joguinhos ligados ao conteúdo”. Acredita que esses
“joguinhos” têm ajudado os alunos na compreensão de determinados conteúdos, embora
admita que sua utilização em suas aulas seja rara.
Ao serem questionados como preparam suas aulas, a professora Alfa relatou
que utiliza o plano mensal para verificar qual o conteúdo que deverá abordar naquele
mês. O professor Beta disse fazer seu planejamento a partir das aulas que ministra na
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rede Estadual; explicou que é como se fosse um pré-teste, experimenta no Estado e, a
partir desse momento, em sua casa, ao preparar suas aulas para os alunos do SESI/SP,
modifica aprofundando um pouco mais o conteúdo. O professor Gama disse que tem
preparado suas aulas nos finais de semana, por meio de seleção e resolução de todos os
exercícios dos livros. Muitas vezes, o mesmo resolvido de várias maneiras como forma
de proporcionar melhor compreensão dos conteúdos.
Na entrevista, observa-se que os professores, ao prepararem suas aulas, quase
não mencionam os recursos que irão utilizar em sala. Percebe-se que o livro didático é o
recurso mais utilizado. Sobre esse aspecto, Mendes (2009, p.156) assinala que “os
recursos didáticos são elementos indispensáveis que, aliados aos métodos e
procedimentos, facilitam e apoiam o desenvolvimento de todas as atividades de ensino e
aprendizagem em sala de aula”.
No geral, esses professores usam o livro didático como um forte recurso que
os auxiliam no seu dia a dia, além de outros livros e fontes de pesquisa na Internet.
Apenas um professor utiliza a historicização como mais uma possibilidade de explicar a
origem do conhecimento matemático.
Em alguns momentos, foi possível perceber alguns termos utilizados como:
“resolução de problemas”, “parte do que o aluno já sabe sobre o assunto” e “cotidiano
do aluno”, sempre aliados aos recursos didáticos. Além disso, esses professores usam
agrupamentos produtivos com monitores auxiliares como estratégia de ensino, além de
propiciarem atividades para que as desenvolvam em grupos.
Mesmo o professor que quase não mencionou num primeiro momento uma
metodologia voltada para resolução de problemas, demonstrou que, em sua prática,
trabalha muito com situações-problema, uma vez que seu maior objetivo é fazer com
que seus alunos tenham um bom desempenho na avaliação do SIMEB. E, para alcançar
seu objetivo, estimula seus alunos para a resolução de exercícios presentes em uma
apostila, além de simulados com situações-problema.
Ao fazer uma análise dessas informações relacionadas àprática pedagógica do
professor,pode-se notar dois temas relevantes, que foram identificados a partir de
regularidades e pontos comuns presentes nas respostas dos professores. O primeiro tema
se refere à didática utilizada na matemática vinculada aos conceitos matemáticos e o
segundo a metodologia de ensino que inclui procedimentos e recursos pedagógicos.A
didática aqui mencionada é a que se ocupa dos processos de ensino e aquisição dos
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conhecimentos por meio de técnicas próprias da matemática, e a metodologia se refere
às estratégias.
Dessa forma, à medida que se vai conhecendo um pouco mais o fazer
pedagógico do professor, vai se revelando a metodologia de ensino que adota em suas
práticas, ao mesmo tempo em que se consegue verificar as práticas avaliativas
empregadas em seu contexto, uma vez que estão diretamente relacionadas.
2) Avaliações internas:
Dois dos professores, Alfa e Gama, deixaram claro que a avaliação que realizam
junto a seus alunos quando trabalham com jogos na sala de aula é exclusivamente por
meio da observação. A observação é uma técnica avaliativa informal que, na maioria
das vezes, dificulta a análise e apreciação do progresso do aluno por não conter
registros.O professor Gama foi um pouco vago de certa forma e acabou não
respondendo como avalia seus alunos quando utiliza jogos. Talvez porque não trabalhe
muito com jogos em sala. Ficou perceptível que os professores Alfa e Beta, ao
proporem jogos a seus alunos, avaliam de forma informal; isso pode significar que, por
não haver registros e nenhuma atividade escrita posterior para verificação de
aprendizagem, os alunos podem encarar como uma brincadeira. Para o professor, o jogo
tem um caráter lúdico, no qual verifica a interação entre os alunos e, a partir daí, dá
continuidade aos conteúdos.
É interessante perceber que os três professores mencionaram em suas respostas
aplicarem simulados ou provas como atividade diagnóstica antes de iniciar um novo
conteúdo.Quando se fala nesse tipo de avaliação pressupõe um momento avaliativo pelo
qual o professor, por meio de questionamentos ou registros escritos, tentará colher
informações sobre os conhecimentos dos alunos, sobre um determinado assunto que
pretende iniciar, para, a partir desse momento, fazer ajustes de acordo com seu plano de
aula.Nota-se que, apesar de os professores afirmarem aplicar simulados, questões e
provas como instrumentosde diagnóstico antes de mudar de conteúdo, essa prática não é
visível quando relatam como trabalham os conteúdos de matemática.Ficou perceptível
que os três professores fizeram certa confusão com relação ao significado de avaliação
diagnóstica, principalmente quando dizem que realizam simulados com várias questões,
dando a ideia de avaliação somativa.
Quando se fala em instrumentos utilizados nos processos de avaliação, devem
ser consideradas todas as tarefas que são planejadas com objetivo de subsidiar, a partir
dos dados fornecidos, a análise que o professor faz acerca das aprendizagens.Podem
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fazer parte dos instrumentos: a prova propriamente dita, as pesquisas, os relatórios, os
exercícios, os trabalhos biográficos, os vistos nos cadernos etc. Toda atividade que o
professor sugere com intenção de verificar o conhecimento adquirido, seja ele aplicado
ao final ou durante o percurso, poderá ser considerado um instrumento desde que se
atribua uma nota ou um conceito ou um registro.
A análise dos dados demonstrou que os professores falam superficialmente sobre
os instrumentos que utilizam, sem entrar em detalhes. Mesmo havendo insistência por
parte do pesquisador, não houve um avanço nas respostas.No relato da professora Alfa
fica perceptível a distinção que faz entre avaliação e outras atividades, que também
atribui notas, quando diz: “Das atividades de avaliações, obviamente, são atribuídas
notas a elas e, às vezes, às pesquisas...”. Geralmente, essa distinção entre os
instrumentos faz com que o professor não valorize outras atividades desenvolvidas em
sala de aula, que poderiam também servir de parâmetro para se perceber o
desenvolvimento cognitivo do aluno.
Já o professor Beta apresentou vários instrumentos quantificando-os, dizendo
que utiliza quatro a cinco instrumentos diferenciados. Fez questão de mencionar que
observa inclusive a interação dos alunos em sala de aula, só não diz como faz o registro
dessas avaliações informais.O professor Gama enfatizou a importância da nota no
processo avaliativo, pois acredita que existe uma cultura nos alunos de só realizarem as
tarefas se obtiverem notas.
Quando perguntado aos três professores como fazem para atribuir nota ou
conceito final, os professores Alfa e Beta colocaram, como ponto comum, observar os
“avanços dos alunos” durante todo o processo de ensino e aprendizagem, quando
afirmam: “procuro ver os avanços do aluno...” e “considero sempre o avanço que o
aluno teve durante aquele processo”, respectivamente. O que leva a crer que eles têm
em seus discursos um conhecimento de avaliação formativa. O professor Gama, ao se
referir às avaliações que desenvolve em sala de aula, faz uma espécie de separação, uma
delas denominada de “avaliações classificatórias”, que diz representar as avaliações
individuais dos alunos, em que esses irão colocar o que aprenderam. Já os trabalhos em
duplas e as pesquisas estariam em outro grupo, não fazendo parte das avaliações
classificatórias. Declarou que faz uma somatória dessas e dos trabalhos para fazer a
média aritmética.
Os professores Alfa e Beta disseram acreditar que, para recuperar a nota,
revelando também ser uma recuperação do “aprender matemática”, é necessário uma
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ação voltada para a aproximação dialógica com esses alunos, que envolve também uma
aproximação física. Mencionaram que em suas aulas fazem questão de colocá-los
próximos de sua mesa, para que, dessa forma, possam dar mais atenção, questionandoos e envolvendo-os nas atividades. O professor Gama falou das tentativas que faz para
ficar mais próximo dos alunos com dificuldades. Demonstrou perceber a importância
desses momentos que não acontecem diariamente, mas confessa que é muito difícil dar
uma atenção mais individualizada. Contudo, propõe como alternativa o trabalho com
monitores.
Percebe-se que isso não é uma tarefa fácil, uma vez que a atenção maior
precisa estar voltada para aqueles que não possuem ainda o conhecimento ou saber
matemático, sem esquecer, no entanto, dos outros alunos. Desse modo, os professores
tentam viabilizar, por meio de atividades apresentadas concomitante a outras,
repassadas para o restante da classe, o processo de aprendizagem para os alunos que
estão com dificuldades.
3) Avaliações externas:
Os professores, de maneira geral, perceberam a avaliação externa como um ato
imprescindível no processo de verificação de resultados. A professora Alfa fez algumas
observações dizendo que, nas primeiras avaliações produzidas, havia certa incoerência
quanto às questões apresentadas, se comparadas às questões que costumava trabalhar
em sala. Fez referências à ausência de questões contextualizadas. Hoje conclui que já
houve mudanças na apresentação desses itens.Declarou, ainda, que, nesse período de
avaliações, existe uma mudança na forma de trabalho, na qual os professores se tornam
mais solidários uns com os outros num trabalho de equipe, nos quais: trocam de aula, se
estendem um pouco mais em suas aulas, solicitam a professores de outros componentes
curriculares que desenvolvam conteúdos que possam ajudar nos componentes de Língua
Portuguesa e Matemática, além dos professores se disponibilizarem para trabalhar em
outro período para dar aulas de reforço sem ônus algum da entidade.
O professor Beta disse ver a avaliação externa como um mecanismo que
possibilita fiscalizar o trabalho de todas as escolas, incluindo também as aprendizagens
dos alunos.Na sua concepção, a avaliação externa possibilita avaliar a rede, os alunos e
o trabalho dos professores. Diz não se estressar, entende que a instituição pretende dar
um ensino de qualidade. Em sua fala demonstra compreender que, apesar de o SESI/SP
ser uma instituição de educação, a vê como uma empresa.
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O professor Gama entende a avaliação externa como se fosse um aparelho de
medida. Dá como exemplo o termômetro, que por meio dele consegue verificar como
está o sistema de ensino de cada unidade escolar. Verbaliza que a avaliação ocorre sobre
pressão nas escolas, que no seu modo de ver, deveria ser diferente. Deixa claro que há
uma cobrança muito forte somente no ano que acontece a avaliação. Então, por conta
disso, os professores se desdobram ficando estressados. Os professores, de um modo
geral, ficam ansiosos pelos resultados de suas escolas, sabem que, se não for um bom
resultado, ficará um sentimento de frustração, além das cobranças.
Os depoimentos dos professores mostram que algumas escolas mudam sua
rotina de trabalho meses antes da realização da avaliação externa.A professora Alfa
mencionou que já passou por várias etapas, entre elas, está a intensificação de aplicação
de simulados, aumento do número de aulas de matemática, professores que, por livre
vontade, atuam em outro período para trabalhar com alunos com dificuldades, além da
contribuição de outros professores dos diversos componentes curriculares, em fazer um
treinamento com os alunos para o preenchimento do alvéolo no cartão de respostas.
O professor Beta relatou que, desde o início, quando surgem as primeiras
notícias a respeito da aplicação da avaliação externa, já começam olhar para os
descritores, com intenção de trabalhá-los. Observam se os conteúdos presentes estão de
acordo com as expectativas de ensino e aprendizagem e metas, ao se referir a essa
relação, o professor utiliza o termo “têm que estar casado”.A partir daí, intensificam os
exercícios, situações-problema, simulados, sempre com foco nos conteúdos dos
descritores. Ele mesmo afirma que se prontifica a dar aulas de reforço em outro período,
justificando que todos se envolvem num conjunto de trabalhos em prol da avaliação
externa.
O professor Gama disse que sua escola trabalha em uma rotina que acredita ser
“tranquila”, pois já ao longo do ano se prepara para a avaliação externa, e quando ela é
realizada diz para o aluno que “é mais um simulado”. Essa revelação demonstra a rotina
que a escola tem ao longo do ano com aplicações de simulados, na qual aplica um
simulado a cada bimestre para todos os alunos da escola e um a cada quinze dias para os
anos avaliados.
Considerações Finais
Falar de avaliação não é algo fácil. Embora não se tenha clareza da prática dos
professores no cotidiano da sala de aula, uma vez que o “dizer” possa estar longe do
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“fazer”, percebe-se nos depoimentos e materiais disponibilizados pelos professores
pesquisados a utilização de instrumentos diversificados.Se avaliação e prática
caminham juntas, pode-se concluir que esses professores mostram uma prática
diferenciada com intenção de obtenção de bons resultados.
De acordo com Fernandes (2009, p.161),
Ora, o que temos de fazer é investir mais nas avaliações que se
desenvolvem pelos professores nas salas de aula, pois é aí que se
pode e deve aprender. Como se tem visto, a avaliação formativa é
com certeza um elemento chave no desenvolvimento do sucesso
educativo.
Ficou evidente nos discursos dos professores uma grande preocupação presente
em relação à avaliação externa, ou melhor, com os resultados dessa avaliação. Os
professores sabem o quanto a avaliação externa é importante para a rede, bem como
seus resultados. Portanto, não medem esforços para preparar seus alunos para o grande
dia, o esforço não é só dos professores, mas de toda a equipe escolar.
Em nenhum momento os professores mencionaram a realização de reuniões ou
planos de ações a partir dos relatórios produzidos pelas instituições que promovem as
avaliações. Isso significa que os relatórios precisam ser divulgados e trabalhados de
forma eficiente, de modo que seus resultados tenham um caráter qualitativo e não
quantitativo.
Embora cada unidade do SESI/SP fique com a responsabilidade de fazer planos
de ações, não se tem um controle efetivo da execução desses planos. Seria interessante
que fosse vinculado a proposta pedagógica de cada escola, metas a partir dos resultados,
e ter um monitoramento que não ficasse reduzido apenas ao domínio de conteúdos na
estância da escola.
Além disso, percebe-se que a avaliação externa está limitando o trabalho do
professor, é ela quem está direcionando o currículo a ser seguido. Fernandes (2009,
p.121) nos alerta para alguns impactos ou efeitos que podem ocorrer no âmbito escolar
por causa das avaliações. Destacam-se dois deles: a) na forma como as escolas e os
professores se organizam e desenvolvem o currículo; e b) naquilo que é ensinado e
como é ensinado.
Assim, os resultados desta pesquisa são importantes, porque exprimem valores
que bem traduzidos e analisados podem indicar ações com objetivos de melhorar a
qualidade da educação, “qualidade” que não pode ser confundida simplesmente com
bons resultados. Além disso, as avaliações externas podem sim influenciar e orientar o
trabalho desenvolvido pelos professores em sala, direcionando suas práticas como um
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todo, de modo que ela e as práticas escolares tornem-se aliadas, numa relação de
integração.
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