Foucault para o próximo século:
ecogovernamentalidade
Sébastien Malette
Professor no Departamento de
Política da University of Victoria, Canadá.
RESUMO:
O artigo propõe uma expansão da genealogia do poder de Michel Foucault para
incluir a análise das racionalidades ecológicas de governo. Parte da noção de
governamentalidade para propor ecogovernamentalidade, como reorganização dos
conceitos de população, segurança e economia política, nos quais a regulação dos
vivos se expandiria para regulação de tudo o que necessário para a vida. Localizo,
nessa expansão, a emergência de uma nova épistème ecológica que levaria o
problema do governo a uma nova fase crítica.
Palavras-chave: ecogovernamentalidade, biopolítica, segurança, ambiente, regulação.
ABSTRACT:
The article proposes an expansion of Michel Foucault’s genealogy of power in
order to include the analysis of ecological rationalities of government. It departs
from the notion of governmentality to introduce the notion of eco-governmentality,
reorganizing the concepts of populations, security and political economy, in which
the regulation of the living would be expanded to regulate all that is needed for
life. It identifies, in this process, the emergence of a new ecological épistème that
would take the issue of government to a new critical phase.
Keywords: ecogovernmentality, biopolitics, security, environment, regulation.
ecopolítica, 1: 4-25, 2011
www.revistas.pucsp.br/ecopolitica
4
No final da década de 1970, Michel Foucault empenhou-se novamente
na relação poder/saber, previamente analisada por ele, sob a rubrica de
“microfísica do poder”. Ele o fez examinando uma série de dispositivos
do Estado moderno e de racionalidades de governo, relacionando gestão da
população, economia política e a questão da segurança (Foucault, 2004b,
2004c; Gordon, 1991). Descreveu esses dispositivos e racionalidades com
um novo termo, “governamentalidade”, que se refere não apenas aos
meios, mecanismos e instrumentos do governo moderno, mas também a
maneiras de pensá-lo sistematicamente (2001a). Muitos analistas posteriores
a ele utilizaram o conceito de governamentalidade para dar sentido à
“globalização neoliberal” (Lipschutz, 2005; Larner e Walters, 2004). Nesse
contexto, alguns desafiaram nossas maneiras de entender a liberdade
em relação à soberania (Prozorov, 2007). Outros esboçaram os efeitos
disciplinares e normalizadores da ordem internacional emergente por meio
de uma investigação do sistema de “graduação” dos países do “Terceiro
Mundo” (Anghie, 2006), ou analisando a expansão da contabilidade
social, gestão da população, controle de segurança, reforma democrática,
racionalidade econômica, organização biopolítica e avaliação de risco
(Porter, 1995; Ewald, 1991; O’Malley, 1996; Dean, 1999; Rose, 2007).
Discutirei a possibilidade de expandir a análise genealógica de Foucault
para incluir as racionalidades ecológicas de governo. Baseado em seu
pensamento, sugiro que possamos olhar por meio da “ecologia” como
a ordem das coisas conecta diferentes cenários de governamentalidade.
Mostrarei que a “ecogovernamentalidade” reorganiza as relações entre os
conceitos foucaultianos de população, segurança e economia política: três
movimentos constitutivos da governamentalidade moderna. Demonstrarei,
também, que a emergência da “ecogovernamentalidade” pode ser
compreendida como a intensificação e transformação da “lógica imanente”
que reorganiza as suposições dualísticas e derivativas incorporadas ao nosso
entendimento do político. Meu principal argumento é que os estudos da
www.revistas.pucsp.br/ecopolitica
5
governamentalidade deveriam reconhecer a “ecopolítica” como uma das
principais racionalizações de governo para o século XXI.
O que é ‘governamentalidade’?
Governamentalidade é uma noção complexa cunhada por Michel Foucault
no fim dos anos 1970. Este conceito emergiu logo após Foucault ter
usado uma “microfísica do poder” para analisar diversas tecnologias e
racionalidades de normalização. Como muitos sugeriram, a análise do
“micro” feita por Foucault, disseminada e sempre mudando o lugar do
poder/saber, chegou à maturidade com a publicação de Surveiller et Punir
[Vigiar e Punir] em 1975 (Foucault, 2004a). Então, seu olhar genealógico
mudou o foco para “o problema do governo” (Dean, 1999; Rose, 1999;
Gordon, 1991; Burchell, 1996). Essa mudança aconteceu em resposta a
duas críticas: que ele havia negligenciado o “macro” (ou seja, o Estado) a
favor do “micro”, e havia retratado as relações de poder/saber de modo a
sugerir que qualquer projeto (ou sujeito) de emancipação estaria condenado
(Gordon, 1991). Ao se dirigir para o problema do governo mais diretamente,
Foucault foi capaz de mostrar que tais críticas eram equivocadas.
Para Foucault, os níveis “macro” e “micro” de investigação estavam
intimamente
relacionados
(Foucault,
2004c).
Ele
reconheceu
que
a normalização pela disciplinarização e individualização dependia do
patrocínio do Estado moderno. Seus cursos de 1975-76, focados nas
práticas psiquiátricas voltadas a regular e proteger o “corpo social” contra
os perigos da “anormalidade”, demonstraram, claramente, o seu interesse
nas economias de poder que tomaram populações e não apenas indivíduos
como seus primeiros alvos de regulação (Foucault, 1999; 1999a).
Segundo Foucault, há uma estreita ligação entre a governamentalidade
moderna e a progressiva “medicalização” das estruturas sociais (1999b; 2003b).
As “racionalidades reguladoras” da normalidade e anormalidade expandem
www.revistas.pucsp.br/ecopolitica
6
tanto o escopo da investigação do que torna possível os “desviados”,
quanto o alcance das intervenções sociais e disciplinares (Foucault, 1999a).
A estreita regulação disciplinar de corpos individualizados simplesmente
não é suficiente. Para entender as causas das “anormalidades sociais”,
as recém-nomeadas corporações médico-sociais e os “cientistas sociais”
emergentes tiveram que investigar as origens do que constitui e transmite
a “anormalidade”. Para isso, tiveram que examinar, minuciosamente, a
infância dos desviados e, posteriormente, regular métodos de paternidade;
investigaram as marcas genéticas e intergeracionais que pareciam transmitir
as “doenças sociais”; estudaram o meio no qual o desvio era mais propenso
a emergir e tentar mudá-lo. Além disso, os novos “cientistas sociais”
tiveram que avaliar os ambientes específicos e as relações que produziram
novas formas de “anormalidades”. Assim, eles puderam produzir os dados
calculáveis necessários para gerar racionalidades de governo; aquelas que
administrariam ambientes e relações de modo a “conduzir a conduta” de
pessoas em direção à normalidade, liberdade e segurança (Osborne, 1996).
Foucault vê uma conexão entre diferentes práticas disciplinares, economias
biopolíticas de poder emergentes e diversos dispositivos de Estado. Contudo,
para ele, o Estado não é o telos da política, nem sua materialização final,
assim como não é simplesmente um dispositivo de poder ou de reprodução
capitalista. Outras relações aparecem quando o Estado é analisado na
maneira em que Foucault estudou a normalização e a disciplinarização
(Foucault, 2004a; 2003a), em particular, diferentes economias de poder e
produções de “verdade”. Neste sentido, é possível ver como a “verdade”
da política de Estado é internalizada para produzir modelos específicos de
subjetividade, tipos de liberdade e padrões de resistência.
Foucault não evita a análise sistemática da política ou o problema
do Estado moderno. Ao contrário, ele reposiciona o Estado moderno
como uma figura histórica e contingente na história mais ampla das
tecnologias de poder e racionalidades de governo que ele chama de
www.revistas.pucsp.br/ecopolitica
7
“governamentalidade” (Foucault, 2004b). Do mesmo modo que ao oferecer
uma análise sistemática das inter-relações das diversas economias de
poder, Foucault não está sacrificando a dimensão analítica necessária
para fundamentar suas afirmações teóricas, nem está nos dizendo o que
devemos finalmente amar, endossar ou odiar ao fim de sua análise.
A liberdade como outra coisa
O suposto “silêncio normativo” no trabalho de Foucault levanta a
questão da liberdade, base da segunda crítica, à qual ele responde. Ao
longo de seu trabalho sobre a governamentalidade, Foucault examina os
meios pelos quais as pessoas experimentam a “liberdade” (e, portanto,
subjetividade) via diferentes práticas, racionalidades de governo e
tecnologias de poder. Foucault não só expõe que as maneiras pelas
quais nós experimentamos a “liberdade” são contingentes, como também
mostra que a “liberdade” pode ser deslocada de sua frequente encarnação:
o eu como uma entidade transcendental. Ao ressaltar o fato de que a
liberdade é antes de qualquer coisa constituída e conceitualizada por
“práticas”, Foucault se distancia da ideia de uma essência ontológica ou
apriorística do eu trans-histórico. Tal eu imaginado pode ser capaz de
se “liberar” de qualquer regime (tradicional, cultural ou governamental),
pela força de adotar, contestar ou produzir práticas (Prozorov, 2007). No
entanto, tal liberdade está sempre situada dentro de diversas conexões
culturais e institucionais — ainda que abertas — de práticas de relações
e racionalidades pelas quais a “ação livre” — não a liberdade —
é posteriormente internalizada como significativa pelos agentes das
relações, os quais se referem a si mesmos como agentes desta ou
daquela “liberdade”.
Isso significa que Foucault opõe-se a todas as possibilidades de liberdade
individual? Claro que não: significa que o que entendemos por “liberdade”
www.revistas.pucsp.br/ecopolitica
8
(ou como “resistência” em sua tradução liberal) não é uma quintessência
humana. O que entendemos por liberdade emerge de um processo histórico
variável de negociação muito específico sobre diversas racionalizações éticas
que, por sua vez, operam por um padrão cultural de racionalidades localizado e específico. Portanto, pelo fato dessas “práticas de liberdade” serem
inerentemente relacionais (e, portanto, reversíveis), contingentes e altamente
contextualizadas, elas não estão suscetíveis a nenhum tipo de definição inequívoca sobre o que “liberdade” possa ser. Nenhuma governamentalidade
pode congelar nossas negociações sobre a liberdade: não pelo fato do eu
ser o epítome ou o lugar de alguma resistência transcendental já pressuposta por todas as formas de ação governamental, mas porque nunca nenhum
regime de governo poderá suprimir o inesperado e as relações sempre mutáveis constitutivas da nossa experiência de liberdade, nem a condição de sua
própria contingência como um regime particular de governo. É assim que
nós podemos entender melhor Foucault quando afirma que não há melhor
garantia da liberdade do que ela mesma. Podemos compreender a “liberdade” sem adotar nenhuma concepção predeterminada, transcendental ou
a-histórica sobre ela, amarrada à nossa atual compreensão (Tully, 1999:138).
Há um foco inerente sobre a questão da emancipação nos estudos sobre
governamentalidade que revela as condições contingentes da nossa história
atual. Eles o fazem ao mesmo tempo em que esboçam a possibilidade de
um futuro diferente, deixando para a próxima geração a capacidade de
decidir qual deve ser seu futuro comum. Assim, esses estudos acreditam,
com uma fé nunca vista, na nossa capacidade de criar melhores modelos
de relações e interações quando necessário. Eles colocam a imaginação
antes do julgamento, e o julgamento antes de qualquer verdade dogmática.
É nesse sentido que a noção de governamentalidade de Foucault reintroduz
a liberdade na política; não necessariamente pelo lugar individualizado da
resistência eterna, mas por introduzir a existência histórica, contingente e
humanamente inventada das diversas e múltiplas formas de racionalidades
www.revistas.pucsp.br/ecopolitica
9
de governo. Deste modo, Foucault situa a liberdade humana em um
processo inter-relacional de negociações permanentes e abertas onde nós
coletivamente traçamos nossos diversos entendimentos sobre o que é
liberdade, o que é resistir, e o que é dominar ou ser dominado. Talvez a
única injunção normativa de Foucault seja — para nós — estar atento a
qualquer padrão de relações que possa imobilizar a própria possibilidade
das relações serem diferentes. Tal atenção impediria a nossa dádiva
inerente de um futuro indeterminado ao aplicar uma verdade que não
poderia ser diferente. Foucault sugere um projeto de emancipação aberto
e sempre renovável.
Em direção a uma “Ecogovernamentalidade”?
Entretanto, quais são as implicações de uma governamentalidade verde
que tem se tornado cada vez mais notada desde a morte de Foucault?
Quais racionalidades e tecnologias de governo estão implícitas nela?
Quais as implicações em aderir a ela? Estas são as questões que eu
gostaria de investigar na continuidade deste texto.
O tema da “governamentalidade verde” problematiza a (re) introdução
da “natureza” no centro das racionalidades políticas ocidentais (Darier,
1999; Luke, 1999; Rutherford, 1999a). Deste modo, o trabalho de
Foucault é de importância central na análise da produção e circulação
de saber, tecnologias e racionalidades de governo que recorrem a
noções de “natureza”. Mais precisamente, as amplamente disseminadas
ecogovernamentalidades e as tecnologias ambientais são vistas como
extensões das redes disciplinares, descritas por Foucault em Vigiar e
Punir, e da biopolítica que o interessa em seus trabalhos posteriores.
Assim, seu conceito de biopolítica é ampliado para incluir tudo o que
seja necessário para manter a “vida” pela emergência de diversas práticas
e regulações ambientais (Luke, 1997; Rutherford, 2007; Darier, 1999).
www.revistas.pucsp.br/ecopolitica
10
Dois pressupostos epistemológicos são usualmente incorporados em tais
estudos genealógicos da “natureza”. Primeiro, é frequentemente sugerido
que a “natureza” apareça como algo sem importância “ao menos ou
até que certos seres humanos lhe deem significado ao interpretar alguns
de seus signos ambivalentes como importantes para eles” (Luke, 1999).
Segundo, isto é dito porque constantemente os humanos olham para os
padrões naturais de maneiras diferentes: o significado da natureza será
sempre múltiplo, móvel e em constante mudança (Luke, 1999).
No entanto, tais suposições não geram consenso algum entre os intelectuais
para quem a “natureza” se refere a “processos biofísicos” primordiais que
sustentariam — e até mesmo determinariam — o que nós entendemos
por “cultura”. Embora ainda seja possível argumentar que esta forma de
objetividade é apenas uma maneira de entender a “natureza” entre muitas
outras, eu gostaria de sugerir que o projeto de examinar a emergência
de racionalidades ecológicas não é necessariamente destinado a definir o
que é a natureza per se. O projeto de compreender as relações de poder
incorporadas nas formulações competitivas de como a “natureza” deve ser
entendida não exige que nós saibamos o que é “natureza” em definitivo.
É preciso apenas examinar os “efeitos” que tais formulações produzem nas
configurações sociais e culturais que experimentamos. É aí que o conceito
de Foucault de “governamentalidade” se encaixa: não apenas para explorar
as dimensões das nossas experiências constituídas “por todas as maneiras
de refletir e agir que visam modelar, administrar, regular a conduta das
pessoas,” mas também recolocar a problemática da normalização conjugada
com a “natureza”, tal como tem sido delineada no ocidente durante os
três últimos séculos (Rose, 1996; Gordon, 1991; Foucault, 2001b). Como
sugerem Stephanie Rutherford e Eric Darier, o trabalho de Foucault sobre
a governamentalidade — e mais particularmente seu conceito de biopolítica
— pode ser reconstruído como o estudo da “ecopolítica” quando as
condições sob as quais populações são administradas estão subordinadas a
www.revistas.pucsp.br/ecopolitica
11
tentativas mais amplas de administrar toda a Vida com o desdobramento
de racionalidades ecológicas de governo (Rutherford, S., 2007; Darier,
1999). Deixem-me expor três exemplos sobre tais reconstruções.
A governamentalidade dos entres
Primeiro,
poderíamos
expandir
a
análise
de
Foucault
sobre
governamentalidade para investigar como a ordem das “coisas” incluiu,
progressivamente, variáveis como “vida”, “saúde”, “sustentabilidade” e
“ambiente”, para gerar novas racionalidades de governo destinadas a dar
visibilidade às relações entre as “coisas” pela produção de racionalidades
ecológicas de governo. Desse modo, podemos ver que estas racionalidades
não emergiram apenas do contexto de uma crise pelo desmatamento e
poluição na Europa (ou seja, em um ambiente paraestatal já constituído),
mas também no contexto de uma expansão colonial que foi concebida
como uma solução para tais problemas (Moore, 2007). Assim, a emergência
dessas racionalidades aparece intimamente relacionada à expansão dos
poderes marítimos venezianos, franceses, holandeses e ingleses, todos
competindo por atividades comerciais em lugares estratégicos que incluem
as colônias das ilhas oceânicas e diversas plantações particularmente
sensíveis ao desmatamento e à erosão do solo. De fato, problemas do
último tipo levaram a novas conscientizações ambientais relacionadas
à especificidade da terra, botânica, meteorologia e produção de mapas,
por exemplo (Grove, 1995: 475). Grove insiste que foi nas colônias
tropicais que os cientistas “perceberam pela primeira vez a velocidade
extraordinária com que as pessoas, os europeus em particular, puderam
transformar e destruir o seu ambiente natural” (Grove, 1998). Em meio
à produção de tal saber e ao desenvolvimento de habilidades necessárias
para explorar colônias distantes, emergiram as múltiplas relações de
poder/saber que progressivamente formataram a “ecologização” do nosso
www.revistas.pucsp.br/ecopolitica
12
entendimento de política (Moore, 2007; Headrick, 1988; Crosby, 1986).
Relações como estas podem ser traçadas não apenas nas incorporações
coloniais europeias e nas inovações ambientais produzidas por elas, mas
também nas crescentes preocupações que tais atividades estimuladas
em direção ao “outro” não-europeu encontrado nessas regiões tropicais
diante dos quais os “europeus modernos” formataram sua identidade em
aspectos importantes. Todas essas relações e preocupações contribuíram
para uma “percepção global” da interconectividade natural e intercultural
(Grove, 1995: 476; Goodie, 2006: 33). Ao expandir a leitura de Foucault
sobre a governamentalidade para incluir a “ecogovernamentalidade”,
podemos aprofundar nosso entendimento do “problema de governo”. Este
último acrescenta a essas “relações intermediárias” que conectaram os
diferentes cenários de governamentalidade via um “ambiente” primordial,
progressivamente colonizado por várias relações de poder/saber, em uma
tentativa crescente de governamentalizar a “natureza”. Então, contra o
argumento de Lipschutz — de que se a governamentalidade refere-se
à gestão, então o ambiente político e a praxis não se referem, pois a
política desafia o próprio fundamento constitutivo da governamentalidade
neoliberal (Lipschutz, 2004: 242) — podemos contestar que a emergência
das preocupações ambientais do ocidente estavam intimamente ligadas
à expansão econômica desde o começo. De fato, a disseminação do
colonialismo administrativo e a formatação dos diversos dispositivos
políticos para “governar à distância” estabeleceram, desde o século
XV em diante, a rede global da qual as chamadas “racionalidades de
governo neoliberais avançadas” irão mais tarde emergir.
Da biopolítica à ecogovernamentalidade
Segundo, ao expandir a análise de Foucault sobre a biopolítica de
modo a incluir a ecogovernamentalidade, podemos investigar as diversas
www.revistas.pucsp.br/ecopolitica
13
conexões entre os dois conceitos que formatam a governamentalidade
moderna. Podemos notar, por exemplo, que o conceito de “ambiente”
também foi modelado pela emergência das estatísticas e de modos
indutivos de raciocínio, levando a ciências computacionais e modelos
preditivos, todos operando para tornar as relações caóticas e aleatórias que
esse conceito implica em previsíveis e, portanto, controláveis (Foucault,
2004b; Hacking, 2006; Rose, 1999). Daí, acompanhando os insights de
Foucault sobre a significância política das estatísticas, podemos explorar
os caminhos pelos quais a progressiva matematização da “natureza”
tem possibilitado diversas racionalidades e tecnologias ecológicas para
produzir uma ampla gama de “normas” que se referem à “natureza”,
não apenas para complementar o poder do dispositivo da “soberanialei”, mas também para dar forma a uma série de “reivindicações de
verdades” sobre modos ecológicos de conduta pelos quais se espera
que indivíduos racionais governem a si e aos outros (Desjardins, 1999;
Ashford e Caldart, 2008).
Além disso, ao explorar os meios pelos quais o conceito de “população”
(como um corpo-espécie) e “ambiente” (como sua necessidade territorial)
estão relacionados, podemos localizar a emergência de diferentes
racionalidades de governo fazendo uso de diversas metáforas orgânicas,
de crescimento e de saúde, para explicar as relações entre as duas noções
através da formação de disciplinas científicas como a “ecologia”. É
sabido que a “ecologia” e suas éticas associadas emergiram amplamente
como uma reação contra o “antinaturalismo” atribuído aos modelos
científicos utilitaristas, ou seja, como uma reação que pretende expandir
o foco redutivo e completamente mecânico desses modelos, ao mesmo
tempo em que mantém os métodos de laboratório intactos (Goodie, 2006:
36). Menos conhecida é a brilhante observação de Jo-Ann Goodie, que
aponta a afiliação entre a teoria da evolução de Darwin e a emergência
da “ecologia” para explicar a resolução desta ambiguidade, ressaltando,
www.revistas.pucsp.br/ecopolitica
14
assim, a influência do que se tornaria uma ciência dedicada a examinar
“tudo no ambiente físico e biológico que afetou a sobrevivência em seu
entendimento mais amplo” (Goodie, 2006: 37; Hawkins, 1997: 136).
Fortemente influenciado por tais representações ecológicas, os séculos
XIX e XX testemunharam a emergência de diferentes racionalidades
de governo trabalhando ativamente na conexão de argumentos médicos,
sociais, econômicos, biológicos e ambientais para formular diferentes
“padrões evolucionários” nos quais não só a vida, mas a administração
de tudo o que a inclua torna-se critério primordial na orientação das
ações políticas (Robert, 1938; Campbell, 2007; Schneider, 1990; Jones,
1986). Tais “padrões evolucionários” contribuíram significativamente para
dar forma à “cultura moderna” que se viu com o direito “natural” de
dominar os “inferiores” de acordo com a lógica evolucionista na qual
apenas os “organismos” bem adaptados, abastados e tecnologicamente
avançados sobreviveriam (Hawkins, 1997). A tradução econômica desse
argumento requereu progressivamente que todos os “recursos naturais”
— incluindo populações humanas — fossem vistos como “commodities”
e/ou “recursos do Estado” que deveriam ser monitorados, protegidos e
ampliados por uma grande variedade de “ecoespecialistas” que trabalham,
em grande parte, em coordenação com os agentes do Estado (Broberg
e Roll-Hansen, 1996). Sociedades inteiras, consequentemente, foram
analisadas e comparadas no âmbito de sua produtividade de trabalho,
vitalidade, bom comportamento, adaptabilidade e poderes econômicos,
levando ao desenvolvimento de práticas raciais e eugenistas baseadas
em classes, orientações sexuais, localizações geográficas e distinções
etnológicas e tecnológicas para classificar a continuidade evolucionária
da raça humana (Foucault, 1999a: 229; Rose, 2007; Bauman, 1989).
Portanto, é óbvio que o conceito de “população”, ou mesmo de “vida”,
não poderia ter sustentado sozinho a articulação da biopolítica que, de
acordo com Foucault, opera pela expansão de racionalidades médicas,
www.revistas.pucsp.br/ecopolitica
15
implantação do racismo de Estado, dispositivos de segurança, inferências
estatísticas e pela emergência da economia política (Foucault, 2004b; 2004c).
Ao aprofundar o “argumento evolucionista”, podemos então ampliar o
estudo de um conjunto de estruturas no qual tudo o que é necessário para
a “vida” e não apenas para a “vida” capturada pelo conceito de população
e raça — teve que ser considerado pela integração política de diversas
ciências ecológicas (Foucault, 1999: 52). Em outras palavras, podemos
ampliar a problematização da governamentalidade moderna ao sugerir que
os problemas da “vida”, do “ambiente” e do “governo” coincidem agora
com a emergência da “ecopolítica”, cristalizando, assim, uma relação
de poder/saber que reorganiza profundamente de maneira relacional os
três movimentos constitutivos da governamentalidade moderna: governo,
população e economia política (Rutheford, 1999a, 1999b; Luke, 1999;
Darier, 1999; Goodie, 2006).
Ecogovernamentalidade: intensificação e transformações
Finalmente, ao expandir nossa análise de governamentalidade para
incluir o estudo da ecogovernamentalidade, podemos ver a intensificação
da “lógica imanente” que atravessa as diferentes racionalidades de
governo analisadas por Foucault. Podemos estudar essa intensificação
nas racionalidades ecológicas de governo emergentes no contexto
da “globalização” que, de acordo com Law e Barnett, “tornaramse a grande narrativa que justifica o fim de todas as outras grandes
narrativas de mudança social” (Redcliff, 2002). Por “lógica imanente”
da governamentalidade, refiro-me à ideia implícita na raison d’état que
sustenta os princípios políticos inerentes que devem ser separados de
qualquer tutela onto-teológica (Foucault, 2004b: 263; Mallete, 2006: 78).
A ideia é reformulada nas noções de “sociedade civil”, “economia”, e
“propriedade privada”, entendidos como domínios autônomos designados
www.revistas.pucsp.br/ecopolitica
16
aos seus próprios direitos contra o Político. Seguindo uma lógica similar,
parece que as racionalidades ecológicas de governo contemporâneas
reproduzem tanto as implicações derivativas quanto as dualísticas
conectadas a qualquer racionalidade política que recorre a níveis de
realidade mais profundos ou intrínsecos como titulares de suas próprias
verdades: a “natureza” é algo diante da qual nos deparamos e a que
devemos escutar1. Deste modo, enquanto essas racionalidades ecológicas
abrem novos domínios de intervenção política com alcance nunca visto,
elas também estabelecem novos limites para a ação humana, agora,
argumentando que o “mundo natural” que sustenta toda a vida tem
regras intrínsecas que nenhum governo ou indústria humana deve violar
(Agar, 2001).
No entanto, ao problematizar o planeta como um “campo dinâmico” no
qual ações humanas ou não-humanas estão inerentemente interconectadas,
essas racionalidades ecológicas estão questionando também alguns dos
conceitos-chave do pensamento político ocidental (Lipschutz, 2004:
36). Tais racionalidades questionam frequentemente profundas hipóteses
ontológicas e epistemológicas que sustentam, por exemplo, os meios pelos
quais o pensamento político ocidental compreendeu os limites de uma
“territorialidade” ao delinear as fronteiras de uma soberania que, por sua
vez, justifica a integridade de tais limites ao fazer do território nacional
uma posse. De fato, ao articular uma série de problemas ecológicos,
estas racionalidades não estão apenas criticando o Estado moderno, mas
Utilizo os termos derivativo e dualístico acompanhando as excelentes definições
formuladas por John M. Meyer: “De um lado, alguns argumentam que a característica
distintiva do pensamento ocidental é que a política (e a cultura humana em geral)
está completamente separada da natureza. Eu me refiro a isso como uma explicação
dualística... de outro lado, muitos enxergam o pensamento político ocidental como
repleto de teorias normativas derivadas da concepção de natureza, seja a concepção de
teologia dos aristotélicos, o mecanismo preciso dos primeiros cientistas modernos, ou
a mão invisível da seleção darwiniana. Eu me refiro a isso como uma interpretação
derivativa” (Meyer, 2001: 2).
1
www.revistas.pucsp.br/ecopolitica
17
também questionando o modelo de socialização capitalista predominante
sobre o qual ele opera (Lipschutz, 2004: 243; Kuehls, 1996: 130; 1998:
48). Preocupações ecológicas, que incluem a perda da biodiversidade e
a possibilidade de conflito por “recursos naturais” que acreditamos ser
inesgotáveis, demandam agora não só uma melhor administração do
cenário ecológico, mas algum tipo de cordenação que teria como alvo o
equilíbrio ambiental e econômico e a sustentabilidade de todo o planeta
(Luke, 1999). Em termos econômicos, tais preocupações podem ser
reunidas ainda na questão colocada pela Comissão Mundial sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento 21 anos atrás: como podemos sustentar um
mundo no próximo século com o dobro da população dependendo do
mesmo meio ambiente (Kuehls, 1996: 75)? Para colocar isso de outra
maneira, o futuro parece depender da existência de um ambiente capaz
de prover as necessidades humanas em um tempo no qual os canais
que permitiam o deslocamento de problemas ambientais e de extração de
recursos para “terras distantes” estão se fechando em um ritmo acelerado,
colocando novamente a chamada economia global como uma das principais
preocupações (Kuehls, 1998). Em um mundo onde até mesmo pensar
globalmente e agir localmente é um privilégio, os problemas globais
permanecem como um problema ocidental de vários modos, senão como
o ápice de um empreendimento colonial que começou séculos atrás
(Wilmer, 1998). Uma solução é urgente para a criação de um futuro
sustentável, que permita às chamadas sociedades pós-industriais manterem
um nível de conforto e opulência facilitada por séculos de apropriação
colonial, integração forçada, escravidão e assim por diante, ao mesmo
tempo em que forneça uma fundamentação lógica para as sociedades
não-ocidentais acatarem o modo de vida moderno, predominantemente
moldado no ocidente (o livre mercado, consumo em massa, o Estado
liberal democrático, e assim por diante) e uma fórmula de moderação que
mantenha as condições ambientais exigidas para que esse modo de vida
www.revistas.pucsp.br/ecopolitica
18
continue. A “ecopolítica” aparece como o domínio no qual essa situação
se apresenta.
Desde os trabalhos desbravadores de Aldo Leopold (1966), vários
pensadores ecológicos articularam diferentes soluções. Eles variam da
criação de uma nova ordem global (Ward e Dubos, 1972) ao autoritarismo
centralizado por meio de instituições do Estado (Ophuls, 1977; Hardin e
Baden, 1977); versões híbridas das duas, que projetam práticas liberais
ou republicanas em grande escala (Ferry, 1992); comunalismo (Heilbroner,
1980); anarquismo (Bookchin, 1991); e “parceria” entre agentes humanos
e não-humanos baseada em uma revolução epistemológica no pensamento
ocidental (Merchant, 2003; Kuehls, 1998; Serres, 1990; Latour, 2004). Essas
soluções variam da constatação de diversos problemas ecológicos, que o
“modelo keynesiano-westfaliano” não é mais capaz de conter ou de dirigir
(demandando desta forma a criação de uma forma centralizada de um
“leviatã global” capaz de coerção planetária nessas questões2), ao argumento
que diz que enquanto continuarmos a acreditar que os humanos não são
suscetíveis de consentir sem a coerção de comportamentos ecoamigáveis,
criar um “governo mundial” é muito perigoso e/ou inapropriado para tais
situações. Outros, embora comecem por constatações ecológicas similares,
condenam os modelos políticos ocidentais predominantes pelos quais nós
temos compreendido as regulações políticas e sociais. Com frequência,
estas soluções exigem novas maneiras de entender a diversidade ecológica
em termos do valor intrínseco da “vida” e de possibilidades de mutualismo
ou outras formas de redes cooperativas descentralizadas capazes de nos
libertar de padrões estabelecidos de relações hierárquicas.
Ao olhar para o que constitui apenas uma das fraturas que opõe as
diversas racionalidades ecológicas de governo, fica claro que a base sobre
a qual a nossa concepção do político se desenvolveu foi perturbada. A
erupção da natureza na política parece demandar novas racionalidades
2
A expressão “modelo keynesiano-westfaliano” é de Nancy Fraser (2007).
www.revistas.pucsp.br/ecopolitica
19
de governo e éticas de relações (Curry, 2006; Desjardins, 1999). Tais
demandas geram tanto inseguranças quanto antecipações ao expor, direta
ou indiretamente, o quão contingentes e dependentes são as nossas
maneiras de pensar a política em relação aos contextos específicos em
que elas ocorrem. De um lado, essas inseguranças se traduzem tanto
como uma aproximação neorrealista, para a qual a centralização do
poder e o monopólio da violência institucionalizada aparecem como
as únicas soluções para resolver as diversas crises que a humanidade
pode encontrar, como um argumento populista de que a emergência da
consciência ecológica é um subproduto da modernidade e, como tal, uma
evolução desse soberbo ethos democrático que as civilizações ocidentais
produziram para salvar o mundo de sua “barbárie” (Ferry, 1992). De outro
lado, encontramos pensadores que nunca desacreditaram do nosso ethos
revolucionário adormecido e nunca duvidaram do retorno de uma grande
narrativa, poderosa o bastante para varrer tanto o nosso realismo ocidental
quanto o espartilho cartesiano e as aproximações neopirrônicas e suas
visões “rizóicas” e dispersas de liberdade como constantes trocas de lado
de resistência, compatíveis com o capitalismo e outras relações hierárquicas
de poder em suas constantes reformas. Para esses revolucionários, a
“natureza” representa o último salvador, o derradeiro solo para eliminar a
procura de qualquer outra base filosófica para ações, a saber, o único solo
monoteisticamente verdadeiro: a Terra (Weston, 1994 apud Meyer, 2001).
Ao explorar os impactos dessas diversas considerações ecológicas,
podemos então explorar não apenas a intensificação como também a
transformação da “lógica imanente” que descrevemos anteriormente.
Podemos entender melhor uma lógica ecológica que reorganiza de
maneira profunda as hipóteses dualísticas e derivativas incorporadas no
nosso entendimento do Político. Podemos entender melhor a rearticulação
de novos conjuntos de distinções operando para tornar convincentes as
justificativas de empreendimentos ecológicos disciplinadores/reguladores,
www.revistas.pucsp.br/ecopolitica
20
e a produção de um conceito mais inclusivo pelo qual a regulação dos
vivos pode, de fato, expandir-se para tudo o que é necessário para
a vida: um ambiente interconectado e primordial, que as sociedades
tecnologicamente avançadas e seus cientistas estão agora em posição de
prever, policiar e regular (Osborne, 1996: 116-117).
Por isso, do que aparece como diversos indicadores de uma “episteme
ecológica” emergente, o “problema do governo” aparenta ter alcançado
uma nova “fase crítica”. O dragão, novamente, está para trocar de pele.
Assim como novas medidas estão substituindo as velhas, as racionalidades
de governo contemporâneas parecem estar convergindo na direção de uma
noção mais ampla do que a de “vida”, “população”, “raça”, ou “economia”
para reformular sua legitimidade de ação. Essas racionalidades de governo
estão agora se aproximando da necessidade de governar o tecido das
relações que ligam tudo e qualquer coisa, que apoia todos os seres vivos
e não-vivos do mesmo modo, e que faz das fronteiras internas/externas
uma questão secundária. Essa Mãe-Mônada é a “natureza” em toda a sua
complexidade, diversidade e unidade, isto é, um ambiente planetário que
todos nós compartilhamos, humanos ou não-humanos atores/sujeitos/objetos,
da mesma maneira.
Tradução do inglês por Anamaria Salles.
www.revistas.pucsp.br/ecopolitica
21
Bibliografia
AGAR, N. (2001). Life’s Intrinsic Value. Science, Ethics, and Nature. New York:
Columbia University Press.
ANGHIE, A. (2006). Imperialism, Sovereignty and the Making of International Law.
Cambridge: Cambridge University Press.
ASHFORD, N. & CALDART, C. C. (2008). Environmental Law, Policy and Economics.
Cambridge (MA): The MIT Press.
BAUMAN, Z. (1989). Modernity and the Holocaust. Cambridge: Polity Press.
BOOKCHIN, M. (1991). The Ecology of Freedom. Montreal: Black Rose Book.
BROBERG, G. and ROLLS-HANSEN (orgs.) (1996). Eugenics and the Welfare State.
East Lansing: Michigan State University Press.
BURCHELL, G. (1996). “Liberal Government and Techniques of the Self”. In:
BARRY, B.; OSBORNE, T.; ROSE, N. (orgs). Foucault and Political Reason. Chicago:
The University of Chicago Press.
CAMPBELL, C. (2007). Race and empire. Eugenics in colonial Kenya. Manchester:
Manchester University Press.
CROSBY, A. W. (1986). Ecological Imperialism. The Biological Expansion of Europe,
900-1900. Cambridge: Cambridge University Press.
CURRY, P. (2006). Ecological Ethics: An Introduction. Cambridge: Polity Press.
DARIER, E. (1999). “Foucault and the Environment: An Introduction.” In: Darier,
E. (org.). Discourses of Environment. Oxford: Blackwell.
DEAN, M. (1999). Governamentality: Power and Rule in Modern Society. London:
Sage.
DESJARDINS, J. (1999). Environmental Ethics. Mountain View: Mayfield Publishing
Company.
EWALD, F. (1999). “Insurance and Risk”. In: BURCHELL, G.; GORDON, C.;
MILLER, P. (orgs.). The Foucault effect. Hemel Hempstead: Harvester Wheatsheaf.
FERRY, F. (1992). Le nouvel ordre écologique. L’arbre, l’animal et l’homme. Paris:
Grasset.
FOUCAULT, M. (1999a). Il faut defender la société. Cours au Collège de France 197576. Paris: Gallimard/Seuil.
___ (1999b). Les anormaux. Cours au Collège de France 1974-75. Paris: Gallimard/
Seuil.
___ (2001a). “Gouvernementalité”. In: EWALD, F.; DERFERT; LAGRANGE, J.
(orgs.). Dits et écrits (tome 2). Paris: Gallimard.
___ (2001b). “Omnes et Singulatim: Toward a Criticism of Political Reason”.
In: EWALD, F.; DEFERT; LAGRANGE, J. (orgs.). Dits et écrits (tome 2). Paris:
Gallimard.
___ (2003a). Histoire de la sexualité, volume 1: La volonté de savoir. Paris: Gallimard.
___ (2003b). Le pouvoir psychiatrique. Cours au Collège de France 1973-74. Paris:
Gallimard/Seuil.
___ (2004a). Surveiller et punir. Paris: Gallimard/TEL.
___ (2004b). Sécurité, Territoire, Population. Cours au Collège de France 1977-78.
Paris: Gallimard/Seuil.
www.revistas.pucsp.br/ecopolitica
22
___ (2004c). Naissance de la biopolitique. Cours au Collège de France 1978-79. Paris:
Gallimard/Seuil.
FRASER, N. (2007). “Reframing Justice in a Globalizing World”. In: HELD, D. &
KAYA, A. (orgs.). Global Inequality. Patterns and Explanations. Cambridge: Polity
Press.
GORDON, C. (1991). “Governmental rationality: An introduction.” In: BURCHELL,
G.; GORDON, C.; MILLER, P. (orgs.). The Foucault effect. Hemel Hempstead:
Harvester Wheatsheaf.
GOODIE, J-A (2006). The Invention of the Environment as a Legal Subject. University
of Murdoch: PhD dissertation. Disponível em: Murdoch University Digital Theses,
http://www.lib.murdoch.edu.au/ (consultado em 8/7/2008).
GROVE, R.H. (1995). Green Imperialism. Colonial Expansion, Tropical Island Edens
and the Origins of Environmentalism, 1600-1860. Cambridge: Cambridge University
Press.
___ (1998). Ecology, Climate and Empire. The Indian Legacy in Global Environmental
History 1400-1490. Oxford: Oxford University Press.
HACKING, I. (2006). The Emergency of Probability. Cambridge: Cambridge University
Press.
HARDIN, G. & BADEN, J. (1977). Managing the Commons. San Francisco: Freeman.
HAWKINS, M. (1997). Social Darwinism in European and American Thought 18601945. Cambridge: Cambridge University Press.
HEADRICK, D. R. (1988). The Tentacles of Progress. Technology Tranfer in the Age
of Imperialism, 1850-1940. Oxford: Oxford University Press.
HEILBRONER, R. L. (1980). An Inquiry Into the Human Prospect: Updated and
Reconsidered for the 1980s. New York: Norton.
INDA, J. X. (2005). Anthropologies of Modernity: Foucault, Governamentality and Life
Politics. Oxford: Blackwell.
JONES, G. (1986). Social Hygiene in Twentieth Century Britain. London: Croom
Helm.
KUEHLS, T. (1996). Beyond Sovereign Territory. The Space of Ecopolitics. Minneapolis:
University of Minnesota Press.
___ (1998). “Between Sovereignty and Environment: An Exploration of the Discourse
of Government.” In: Liftin, K.T. (org.). The Greening Sovereignty in World Politics.
Cambridge (MA): The MIT Press.
LARNER, W. & WALTERS, W. (orgs.) (2004). Global Governmentality. Governing
international spaces. London: Routledge.
LATOUR, B. (2004). Politiques de la nature. Comment faire entrer lês sciences em
démocratie. Paris: La Découverte.
LAW, M. & BARNETT, C. (2000). “After Globalization”. In: Environment and
Planning D, nº 18, vol. 1, february, pp. 1-25.
LEOPOLD, A. (1966). A Sand County Almanac with other essays. New York: Oxford
University Press.
LIPSCHUTZ, R. D. (2004). Global Environmental Politics: Power, Perspective and
Practice. Washington: CQ Press.
___ (2005). Globalization, Governamentality and Global Politics. New York: Routledge.
www.revistas.pucsp.br/ecopolitica
23
LUKE, T. (1999). “Environmentality as Green Governamentality”. In: DARIER, E.
(org.). Discourses of Environment. Oxford: Blackwell.
___ (1997). Ecocritique. Minneapolis: University of Minnesota Press.
MALETTE, S. (2006). “La gouvernementalité chez Michel Foucault.” In: Laval
University. Disponível em: Erudit/Thèse de l’universitéLaval, http://www.erudit.org/
these/liste.html?typ=tous&let=M (consultado em 8/7/2008).
MERCHANT, C. (2003). Reinventing Eden. The Fate of Nature in Western Culture.
London: Routledge.
MEYER, J. M. (2001). Political Nature. Environmentalism and the Interpretation of
Western Thought. Cambridge (MA): The MIT Press.
MOORE, J. W. (2007). “Silver, Ecology, and the Origins of the Modern World,
1450-1640”. In: HORNBORG, A.; MCNEILL, J.R.; MARTINEZ-ALIER, J. (orgs.).
Rethinking Environmental History. World-System History and Global Environmental
Change. NEW York: Altamira Press.
O’MALLEY, P. (1996). “Risk and Responsibility”. In: BARRY, B.; OSBORNE, T.;
ROSE, N. (orgs.). Foucault and Political Reason. Liberalism. Chicago: The University
of Chicago Press.
OPHULS, W. (1977). Ecology and the Politics of Scarcity. San Francisco: Freeman.
OSBORNE, T. (1996) “Security and Vitality: Drains, Liberalism and Power in the
Nineteen Century.” In: BARRY, B.; OSBORNE, T.; ROSE, N. (orgs.) Foucault and
Political Reason. Chicago: The University of Chicago Press.
PELS, P. (1997). “The Anthropology of Colonialism: Culture, History, and the
Emergency of Western Governamentality”. In: Annual Review of Anthropology, vol.
26, pp. 163-183.
PORTER, T. M. (1995). Trust in Number. Princeton: Princeton University Press.
PROZOROV, S. (2007). Foucault, Freedom and Sovereignty. Aldershot: Ashgate.
RABINOW, P. (1984). The Foucault Reader. Harmondsworth: Penguin Books.
REDCLIFF, M. (2002). “The Environment and Civil Society: The Rights to Nature,
and the Rights of Nature”. In: PAGE, A. & REDCLIFF, M. (orgs.). Human Security
and the Environment. Cheltenham: Edward Elgar.
ROBERT, M. (1938). Biopolitics. An Essay in the Physiology, Pathology and Politics of
the Social and Somatic Organism. London: Dent.
ROSE, N. (1996). “Governing Advanced Liberal Democracies”. In: BARRY, B.;
OSBORNE, T.; Rose, N. (orgs.). Foucault and Political Reason. Chicago: The
University of Chicago Press.
___ (1999). Power of Freedom. Cambridge: Cambridge University Press.
___ (2007). The Politics of Life Itself. Princeton: Princeton University Press.
RUTHERFORD, P. (1999a). “The Entry of Life into History.” In: DARIER, E. (org.).
Discourses of Environment. Oxford: Blackwell.
___ (1999b). “Ecological Modernization and Environmental Risk.” In: DARIER, E.
(org.). Discourses of Environment. Oxford: Blackwell.
RUTHERFORD, S. (2007). “Green Governamentality: Insights and Opportunities in
the Study of Nature’s Rule”. In: Progress in Human Geography, n. 31, vol. 3, pp.
291-307.
SCHNEIDER, W. H. (1990). Quality and Quantity: The Quest for Biological Regeneration
in the Twentieth-Century France. Cambridge: Cambridge University Press.
www.revistas.pucsp.br/ecopolitica
24
SERRES, M. (1990). Le contrat naturel. Paris: François Bourin.
TULLY, J. (1999). “To Think and Act Differently”. In: ASHEDEN, S. & OWEN,
D. (orgs.). Foucault contra Habermas. London: Sage Publication.
WARD, B. & DUBOS, R. (1972). Only One Earth; The Care and Maintenance of a
Small Planet. New York: Norton.
WESTON, A. (1994). Back to Earth: Tomorrow’s Environmentalism. Philadelphia:
Temple University Press.
WILMER, F. (1998). “Taking Indigenous Critiques Seriously: The Enemy R Us”. In:
LIFTIN, K.T. (org.). The Greening of Sovereignty in World Politics. Cambridge (MA):
The MIT Press.
www.revistas.pucsp.br/ecopolitica
25