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ARTIGO FÁBIO

DOI: 10.55905/cuadv15n12-138 Recebimento dos originais: 24/11/2023 Aceitação para publicação: 29/12/2023 Estudo sobre os desdobramentos do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (SARESP) nas práticas pedagógicas de professores e gestores escolares Study on the consequences of the Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (SARESP) on the pedagogical practices of teachers and school managers Luiz Carlos Gesqui Doutor em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC - SP) Instituição: Universidade de Araraquara (UNIARA) Endereço: Rua Carlos Gomes ,1338, Araraquara – SP, CEP: 14801-340 E-mail: [email protected] Fábio Renato Manzoli Mestre em Processos de Ensino, Gestão e Inovação pela Universidade de Araraquara (UNIARA) Instituição: Rede Pública de Ensino Endereço: Rua Rui Barbosa, 924, Pradópolis - SP, CEP: 14850-000 E-mail: [email protected] RESUMO Este artigo tem por base recente pesquisa qualitativa que investigou os desdobramentos do Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (SARESP) nas práticas pedagógicas dos professores e gestores escolares em escolas da rede pública paulista de ensino regular, haja vista a identificação de baixa produção acadêmica referente ao tema. A partir da coleta de dados, via questionário online, de 57 respondentes de duas escolas da rede pública de ensino de São Paulo e analisados a partir de Freitas (2007; 2012) no que se refere aos desdobramentos do SARESP nas práticas pedagógicas de professores e gestores educacionais, seus resultados revelaram um cenário preocupante, pois constatou-se que as práticas pedagógicas dos professores e gestores educacionais são modificadas na busca por avançar em valores absolutos os resultados dos indicadores gerados pela avaliação em larga escala, no caso a do SARESP, das unidades escolares. Desta forma, o estudo demonstrou a importância do conhecimento por parte dos professores e gestores escolares em relação aos indicadores de qualidade da educação produzidos pelo SARESP como ferramenta de compreensão do processo educacional dos estudantes sob sua responsabilidade, além de entender as intencionalidades e instrumentos do SARESP para melhorar continuamente a qualidade da educação oferecida pela rede pública paulista de ensino regular. Palavras-chave: avaliação externa, IDESP, prática docente, qualidade da educação, SARESP. CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, v.15, n.12, p. 17686-17700, 2023 17686 ABSTRACT This article is based on recent qualitative research that investigated the consequences of the São Paulo State School Performance Assessment System (SARESP) on the pedagogical practices of teachers and school managers in schools in the São Paulo public regular education network, with a view to identifying low academic production on the topic. From data collection, via online questionnaire, from 57 respondents from two schools in the public education network in São Paulo and analyzed based on Freitas (2007; 2012) with regard to the consequences of SARESP in the pedagogical practices of teachers and educational managers, their results revealed a worrying scenario, as it was found that the pedagogical practices of teachers and educational managers are modified in the search to advance in absolute values the results of the indicators generated by the large-scale evaluation, in this case that of SARESP), of school units. In this way, the study demonstrate the importance of knowledge on the part of teachers and school managers in relation to the education quality indicators produced by SARESP as a tool for understanding the educational process of students under their responsibility, in addition to understanding the intentions and instruments of SARESP. to continually improve the quality of education offered by the São Paulo public regular education network. Keywords: external evaluation, IDESP, teaching practice, quality of education, SARESP. 1 INTRODUÇÃO A qualidade na educação básica é um tema muito pesquisado por sua grande relevância social, por ser imprescindível para o desenvolvimento de uma sociedade e, nesse contexto, a utilização das evidências geradas pelas avaliações externas em larga escala como dados estratégicos para elaboração, acompanhamento e avaliação de políticas públicas surgem como tecnologia indispensável para mensurar a qualidade da educação e consequentemente, prestar contas à sociedade sobre as características da educação produzida na rede pública de ensino. A centralidade dessas avaliações para as políticas públicas educacionais no Brasil é constatada por Bauer (2012) ao verificar que dos vinte e seis (26) estados do Brasil, vinte e três (23) possuíam sistemas próprios de avaliação externa em larga escala propositivos de metas. Essa constatação é corroborada por Bauer, Alavarse e Oliveira (2015) ao examinaram como as mudanças na educação nos últimos anos tem utilizado os indicadores produzidos pelas CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.15, n.12, p. 17686-17700, 2023 17687 avaliações externas em larga escala, em especial no estabelecimento de metas a serem alcançadas pelas escolas, redes e sistemas de ensino referentes à qualidade educacional oferecida. No estado de São Paulo, a rede pública paulista de ensino regular tem utilizado, desde 1996, a avaliação externa em larga escala denominada de Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo – SARESP (São Paulo, 1996) para avaliar a qualidade da educação básica por ela oferecida as mais de 5.000 escolas sob sua responsabilidade e, a partir de 2007, o SARESP é um dos critérios que subsidiam a elaboração do Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo – IDESP (São Paulo, 2008) cujo principal objetivo é fornecer um indicador que mensure a qualidade do ensino desta rede e, com base nesse indicador, toda a comunidade escolar pode acompanhar sua evolução ao longo dos anos, visando atingir as metas estabelecidas oficialmente pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo (SEDUC-SP). Essa abordagem tem se mostrado uma importante iniciativa na tentativa de impulsionar ações de melhorias que promovam a qualidade educacional nas escolas públicas paulistas e mobilizem os professores e gestores escolares para análise, avaliação e uso dos resultados, relacionando-os aos princípios das propostas pedagógicas das instituições de ensino, bem como, refletir sobre as práticas pedagógicas exitosas, reprodutivistas ou espontaneístas de professores e gestores escolares em relação ao planejamento escolar, contudo tais ações não tem ocorrido a contento e, baseado na hipótese de que, se possuíssem conhecimento adequado sobre esses indicadores, poderiam qualificar suas ações pedagógicas, é possível elaborar a seguinte questão: quais os desdobramentos do SARESP nas práticas pedagógicas dos professores e gestores escolares? Sendo assim, este artigo tem por base recente pesquisa (Manzoli, 2022) que investigou os desdobramentos do SARESP nas práticas pedagógicas de professores e gestores educacionais a partir da hipótese de que, as práticas pedagógicas dos professores e gestores escolares são modificadas com a CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.15, n.12, p. 17686-17700, 2023 17688 finalidade de avançar, em valores absolutos, os indicadores do SARESP. Entre seus principais resultados destacam-se a confirmação da hipótese e que os professores e gestores educacionais conhecem pouco e possuem dúvidas quanto à avaliação, legislação e objetivos do SARESP. O texto está organizado de modo a apresentar a fundamentação teórica utilizada como referencial de análise das informações obtidas, o método utilizado e alguns resultados da referida pesquisa. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A partir de um mapeamento bibliográfico realizado, observou-se que apesar de diversos estudos e pesquisas acerca dos resultados das avaliações externas e seus desdobramentos nas unidades educacionais, essas produções apresentavam como foco de investigação a relação das avaliações externas em larga escala com os organismos internacionais e a relação de seus resultados (mensurados) com a qualidade da educação, no entanto, deixavam uma importante lacuna de investigação, no caso, os desdobramentos dos resultados dessas avaliações nas práticas pedagógicas dos professores e gestores educacionais. Ao se analisar o panorama atual da investigação educacional, a relevância desse tema, tornou-se evidente, pois embora haja uma tendência de investigar as avaliações externas em relação as políticas internacionais e nacionais e seus resultados no âmbito escolar, pouco se tem explorado na perspectiva dos seus desdobramentos nas práticas pedagógicas dos professores no interior das salas de aulas e nas práticas pedagógicas dos gestores escolares no interior das instituições de ensino com o objetivo de avançar em valores absolutos os resultados das avaliações do SARESP. Essa lacuna se torna ainda mais relevante considerando que essas avaliações não têm permeado processos de formações condizentes com a política de avaliação externa em larga, mesmo alterando as metodologias de ensino e fazendo com que os professores busquem práticas paralelas a seus planos de ensino (Santos, 2017). CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.15, n.12, p. 17686-17700, 2023 17689 De modo geral, o campo acadêmico brasileiro tem produzido obras que se preocupam com a qualidade da educação e a relação com as práticas pedagógicas, o que revela a reflexão sobre os processos educacionais, porém identifica-se a ausência de conhecimento aprofundado dos professores e gestores, bem como, de formação continuada que considerem as questões objetivas do exercício da docência (rotina de trabalho dos professores e gestores) para o entendimento e apropriação dos índices gerados a partir das avaliações externas. Identifica-se também, que as políticas públicas de avaliações externas influenciam as decisões tomadas nas práticas escolares pelos gestores escolares e professores (Almeida, 2020) ditando o caminho do processo de ensino aprendizagem e alterando o trabalho dos profissionais da educação, ainda assim, é possível que seja este o ponto de partida para a construção de novas práticas e caminhos ainda a percorrer. Importante ressaltar a centralidade de Freitas (2012) no que se refere às investigações relacionadas aos indicadores de qualidade educacionais e seus efeitos tecnicistas nas escolas ao ressaltar que este modelo se apresenta em convergência com uma teoria da responsabilização, meritocrática e gerencialista. Para ele a crescente utilização dos indicadores educacionais obtidos a partir das avaliações externas em larga escala se propõe a mesma racionalidade técnica de antes na forma de “standards”, ou expectativas de aprendizagens medidas em testes padronizados, com ênfase nos processos de gerenciamento da força de trabalho da escola (controle pelo processo, bônus e punições), ancorada nas mesmas concepções oriundas da psicologia behaviorista (Freitas,2012, p. 385). Algumas produções indicam uma possibilidade de orientação do trabalho pedagógico a partir dos indicadores, extraídos dos resultados do SARESP, todavia, segundo Freitas (2014), as apropriações desses dados por parte dos profissionais são insuficientes, devido a necessidade de formação continuada para a melhor compreensão e uso pedagógico das informações geradas pelas avaliações. CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.15, n.12, p. 17686-17700, 2023 17690 Freitas (2007) argumenta que somente a responsabilização da escola pelo sucesso ou fracasso escolar, sem levar em consideração outras variáveis que interferem no processo e relegadas ou negligenciadas pelos índices, pode comprometer o resultado e suas análises, podendo reduzir o conceito de qualidade educacional ao evidenciar resultados e metas para serem utilizados nas políticas de bonificação dos professores e gestores escolares favorecendo as ideias meritocráticas que correspondem a ação da lógica global do capital na educação. Ainda segundo Freitas (2007), o problema da educação básica é ideológico porque as políticas neoliberais reduzem a concepção de qualidade educacional a acesso e, ao responsabilizar os próprios educandos pelo fracasso escolar e estimular a competitividade entre as escolas, objetivam a atender os anseios do neoliberalismo em contraponto as reais necessidades da educação pública. Relata também, que os limites para a melhoria da qualidade da escola é a própria meritocracia liberal, que deliberada pelos organismos internacionais e acordada com o Ministério da Educação (MEC), criam um sistema de gerencialismo a distância que rompe com a autonomia dos professores e gestores escolares. Segundo o autor, se a escola não apresentou resultados satisfatórios, deve ser responsabilizada com a exposição de seus resultados, no entanto, não cabe o simplismo de achar que os resultados são mera competência do professor ou da escola, escondendo a responsabilidade do Estado em garantir boa educação para todos. Assim, ressalta que, neste ponto, termina desresponsabilizando o Estado quando convém – ou seja, quando está em jogo, por um lado, o faturamento das corporações educacionais e, por outro, o controle ideológico do sistema educacional pelas corporações empresariais para colocá-lo a serviço de interesses de mercado, estreitando as finalidades educativas (Freitas, 2012, p.387). Neste cenário são construídas as políticas públicas que privilegiam os resultados das avaliações externas em larga escala, em detrimento às outras dimensões que compõem o conceito de qualidade educacional, como a qualidade da formação inicial e em serviço oferecida aos professores e as CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.15, n.12, p. 17686-17700, 2023 17691 condições objetivas da escola. Em contrapartida, as avaliações externas podem trazer informações importantes sobre as condições destas escolas, constituindo importante instrumento para redefinir e monitorar a qualidade da educação. Deste modo, a compreensão dos resultados pelos professores e gestores educacionais é essencial para o estabelecimento de práticas em relação aos indicadores produzidos pelo SARESP. 3 MÉTODO A considerar o objetivo de verificar os desdobramentos do Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (SARESP) nas práticas pedagógicas dos professores e gestores educacionais e a hipótese de que as práticas pedagógicas dos professores e gestores escolares são alteradas com a finalidades de avançar nos resultados da avaliação externa, o método utilizado valeu-se de uma pesquisa qualitativa, com base em um estudo de caso de duas unidades escolares localizadas em dois municípios do interior paulista, selecionadas a partir dos seguintes critérios: as unidades escolares deviam pertencer a rede pública paulista de ensino regular e que ocorresse o aceite documentado de sua participação na pesquisa. A população das duas unidades escolares selecionadas consistiu em sessenta e nove (69) professores e seis (6) gestores educacionais e, após o contato com essa população, via e-mail, a amostra obtida foi de cinquenta e sete (57) respondentes, dos quais cinquenta e um (51) professores e seis (6) gestores. A coleta de informações foi realizada por meio do oferecimento de um questionário online para os professores e gestores escolares do campo empírico e a população estudada foi contatada individualmente, por meio de e-mails cadastrados na unidade escolar. Nesse e-mail foi solicitada a todos a sua participação voluntária na pesquisa, fornecendo-lhes todas as informações e orientações necessárias, além da apresentação do Termo de Compromisso Livre e Esclarecido (TCLE). Para concordar com a sua participação foram disponibilizas aos participantes duas opções: 1) “Não concordo” que, ao CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.15, n.12, p. 17686-17700, 2023 17692 selecioná-la, o contatado terá encerrada a sua participação na pesquisa e 2) a opção “Concordo” que, ao selecioná-la, o contatado será direcionado automaticamente ao questionário online da plataforma Google forms, composto por quinze (15) questões fechadas organizadas em cinco (5) agrupamentos. • Do item 1 ao item 3, com o objetivo de caracterizar os respondentes. • Do item 4 ao item 6, com o objetivo de captar o nível de conhecimento dos respondentes em relação aos parâmetros legais do SARESP. • Do item 7 ao item 9, com o objetivo é categorizar a frequência que os professores exercitam atividades específicas voltadas para os resultados da avaliação externa. • Nos itens 10 e 11 com o objetivo de captar, o conhecimento dos professores e gestores quanto a elaboração do instrumento de medição; • Do item 12 ao item 15, com o objetivo de identificar as atividades utilizadas para o avanço dos indicadores. O tempo estimado para sua realização foi de aproximadamente vinte (20) minutos. 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 QUANTO A CARACTERIZAÇÃO DOS RESPONDENTES As informações obtidas neste agrupamento evidenciam que os respondentes são majoritariamente docentes, no caso cinquenta e um (51) e (6) seis gestores educacionais, dos quais trinta e cinco (35) docentes e os (6) seis gestores com experiência superior a cinco (5) anos no magistério. A pesquisa apresentou dados semelhantes em relação ao tempo laboral exercido pelos respondentes na rede estadual de educação ao proporcionar evidências que trinta e três (33) docentes possuem cinco anos ou mais de atuação na rede estadual, ao passo que apenas cinco (5) possuem menos de um ano de atuação na rede estadual. Todos os gestores possuem mais de cinco (5) anos de atuação na rede pública de ensino. CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.15, n.12, p. 17686-17700, 2023 17693 O conjunto de respostas obtidas visando categorizar os respondentes permite inferir que é formado, na sua maioria, por docentes e gestores escolares, com experiência no ensino, no magistério da rede estadual e conhecedores das atividades relacionadas a avaliação externa bem como das implicações de atingirem ou não as metas anualmente projetas pelo SARESP. 4.2 QUANTO AO CONHECIMENTO DOS RESPONDENTES EM RELAÇÃO AO SARESP Neste agrupamento as informações obtidas apontam que trinta e um (31) dos cinquenta e sete (57) respondentes conhecem o básico em relação ao SARESP e, desses, vinte e dois (22), sendo um (1) da equipe gestora, possuem dúvidas a respeito da avaliação. Os dados demonstram que a maioria dos respondentes possui tempo de trabalho no magistério e na rede pública de ensino regular, superior a cinco anos e, mesmo assim, afirmam possuir dúvidas sobre o SARESP, o que permite inferir que os momentos de planejamento, replanejamento e formação continuada não conseguem romper com a reprodução de informações dos órgãos centrais nas escolas. Quanto ao conhecimento dos professores e gestores referentes aos objetivos do SARESP as informações apontam que vinte e dois (22) respondentes entre professores e gestores reconhecem possuir dúvidas a respeito dos objetivos do sistema de avaliação. Os respondentes afirmaram possuir conhecimentos básicos e dúvidas sobre os objetivos do SARESP o que evidência uma reprodução de informações sem o necessário conhecimento em relação ao SARESP nas escolas. Em relação ao conhecimento dos participantes da pesquisa sobre a legislação que sustenta o SARESP as informações demonstram que trinta e três (33) dos respondentes conhecem o básico e quinze (15) entre docentes e gestores, possuem dúvidas quanto à legislação da referida avaliação em larga escala, o que chama a atenção é que três (3) são da equipe gestora, normalmente os responsáveis pela formação nas Aulas de Trabalho Pedagógico CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.15, n.12, p. 17686-17700, 2023 17694 Coletivo (ATPCs), planejamentos e replanejamentos nas escolas, o que reforça o entendimento que as instituições estão reproduzindo informações sem o necessário adensamento teórico, principalmente, devido à importância do assunto “SARESP” nas escolas. 4.3 QUANTO À FREQUÊNCIA E PERÍODO DA REALIZAÇÃO DE ATIVIDADES ESPECÍFICAS DO SARESP EM SALA DE AULA PARA APOIAR OS AVANÇOS DOS INDICADORES DA UNIDADE ESCOLAR As informações obtidas apontam que trinta e três (33) docentes participantes desenvolvem ações específicas de preparação para o SARESP, que todos os gestores desenvolvem, junto aos docentes, atividades específicas para o SARESP, evidenciam também, que as atividades ocorrem predominantemente no terceiro (3º) e quarto (4º) bimestres dos períodos letivos com o conhecimento e solicitação da equipe gestora, exatamente nos períodos que antecedem a aplicação do exame, corroborando Solano (2019) ao relatar que um dos efeitos das avaliações externas é o condicionamento das práticas pedagógicas demonstrando a centralidade do assunto para os docentes e equipe gestora. 4.4 QUANTO AO CONHECIMENTO DOS DOCENTES E GESTORES EDUCACIONAIS SOBRE O INSTRUMENTO DE MEDIÇÃO, ESCOLHA DAS QUESTÕES E METODOLOGIA DE CORREÇÃO Sobre o método de correção do SARESP as informações acompanham a mesma tendencia do conhecimento dos respondentes sobre a avaliação ao apontar que dos cinquenta e sete (57) respondentes quatorze (14) docentes conhecem o básico e possuem dúvidas sobre a metodologia de correção e dezesseis (16) conhecem pouco ou não conhecem a metodologia da Teoria de Resposta ao Item (TRI) usada para a correção da avaliação. Vale ressaltar que três (3) integrantes da equipe gestora conhecem pouco ou não conhecem a metodologia aplicada, estabelecendo um paradoxo com as respostas anteriores ao indicarem que conhecem amplamente a avaliação. A análise das respostas CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.15, n.12, p. 17686-17700, 2023 17695 da equipe gestora permite inferir que o conhecimento sobre a avaliação não está relacionado ao instrumento, mas aos usos dos resultados divulgados, o que é conexo com o dado de que quarenta e cinco (45) dos cinquenta e um (51) professores não conhecem ou possuem dúvidas sobre como são escolhidas as questões para a aplicação da avaliação. 4.5 QUANTO A IDENTIFICAÇÃO DE ATIVIDADES UTILIZADAS PARA O AVANÇO DOS INDICADORES EXTERNOS O conjunto respostas obtidas visando identificar as atividades utilizadas para o avanço dos indicadores permite inferir que os desdobramentos do SARESP em sala de aula se inicia ao alterar os caminhos planejados a partir das avaliações diagnósticas, e repercutem na sequência, no currículo escolar ao acrescentar momentos para atividades específicas (estudo de avaliações anteriores e treinamento com lista de exercícios), acrescidas de exercícios extras (diversas disciplinas) preparatórios para a avaliação externa, visando o avanço dos indicadores e os bônus pelos resultados, o que faz a escola perder a sua essência reflexiva e humanista gerando, segundo Rodrigues (2018), repercussões negativas nos profissionais do magistério, principalmente em relação às divergências com as metas externas impostas, desconfiança e sentimento de injustiça em relação as avaliações externas, desânimo, frustração e desestímulo em relação à carreira docente. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O trabalho investigativo realizado nas duas unidades escolares, indicou que professores e gestores escolares necessitam de um processo de formação mais aprofundado sobre o SARESP para que possam compreender os indicadores e todo o processo envolvido na elaboração desta avaliação. A conscientização em relação à avaliação externa é necessária para o processo de entendimento das relações entre o currículo, práticas pedagógicas e avaliações em larga escala. CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.15, n.12, p. 17686-17700, 2023 17696 Os principais resultados sugerem que os grupos de respondentes é formado por profissionais com experiência no ensino e no magistério da rede estadual conhecedores da logística que envolve o SARESP, bem como as implicações de atingirem, ou não as metas projetas para o SARESP, entretanto, conhecem o básico e possuem dúvidas sobre os parâmetros legais do SARESP, sobre a forma de escolha dos itens que o compõem e sobre a sua metodologia de correção. Mesmo assim, realizam atividades específicas para o preparo dos alunos para o SARESP, principalmente, nos 3º e 4º bimestres dos anos letivos, sendo está uma ação conhecida e solicitada pela gestão escolar, mesmo apresentando dúvidas sobre a avaliação e sua metodologia de correção. As informações apontam que a totalidade da equipe gestora afirma que as disciplinas (exceto Língua Portuguesa e Matemática) contribuem com atividades extras para atender as demandas do SARESP. Além disso, trinta (30) dos cinquenta e um (51) professores respondentes corroboram essa afirmação tornando importante ressaltar que a conjugação desses dados permite inferir que os desdobramentos do SARESP nas práticas pedagógicas dos professores alteram o planejamento inicial para incluir atividades extras em várias disciplinas, visando aumentar em valores absolutos os resultados dos indicadores de qualidade, não somente em Língua Portuguesa e Matemática, alterando assim, as sequências didáticas e percursos formativos organizados pelos docentes. Desta forma, é possível inferir, que o SARESP produz desdobramentos nas práticas pedagógicas de docentes e gestores escolares, das quais se destacam a manutenção de conhecimento limitado de professores e gestores escolares desse todo que envolve o SARESP e seus desdobramentos, fomentando a utilização de práticas pedagógicas reprodutivistas no interior das escolas. Espera-se que os resultados desta pesquisa possam contribuir com o campo educacional e, de modo especial, com o campo empírico investigado visando apontar para a necessária compreensão adensada por parte dos professores e gestores educacionais dos processos que envolvem o Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (SARESP) para que esse instrumento seja uma tecnologia efetiva de elaboração de políticas públicas CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.15, n.12, p. 17686-17700, 2023 17697 educacionais e que impactem positivamente na busca por uma educação de qualidade. CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.15, n.12, p. 17686-17700, 2023 17698 REFERÊNCIAS ALMEIDA, L.C. Quando o foco passa a ser o resultado na avaliação externa em larga escala: evidências de uma rede. Educação em Revista [online]. 2020, v. 36, dez/2020. Disponível em: https://doi.org/10.1590/0102-4698233713 . Acesso em: 21 de jun. 2021. BAUER, A. Estudos sobre Sistemas de Avaliação Educacional no Brasil: um retrato em preto e branco. Revista @mbienteeducação, São Paulo, v. 5, n. 1, p. 7–31, 2012. DOI: 10.26843/v5. n°1.2012.115.p7 - 31. Disponível em: https://publicacoes.unicid.edu.br/ambienteeducacao/article/view/115. Acesso em: 14 fev. 2023. BAUER, A.; ALAVARSE, O.M.; OLIVEIRA, R.P. Avaliações em larga escala: uma sistematização do debate. 2015. p. 1267-1384. Educação e Pesquisa [online]. 2015, v. 41, n. spe, Disponível em: https://doi.org/10.1590/S15179702201508144607 . Acesso em: 13 fev. 2022 FREITAS, L.C. 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