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Liber CL - De Lege Libellum
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Aleister Crowley
A∴A∴
Publicação em Classe E.
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Liber CL - De Lege Libellum
LIBER CL VEL נעל
UMA SANDÁLIA
DE LEGE LIBELLUM
L-L-L-L-Li ii
por Aleister Crowley
PREFÁCIO
A LEI
Faze o que tu queres deverá ser o todo da Lei.
COM RETIDÃO DE CORAÇÃO aproximai-vos, e ouvi: pois sou eu, ΤΟ ΜΕΓΑ ΘΗΡΙΟΝ1, que entreguei
esta Lei a todos os que se mantiveram em santidade. Sou eu, e não outro, que deseja a sua completa
Liberdade e a ascensão dentro de você do Conhecimento e Poder integrais.
Vide! O Reino de Deus está dentro de você, assim como o Sol permanece eterno no céu, igual à meia noite e
ao meio dia. Ele não nasce: ele não se põe: é nada mais do que a sombra da terra que o esconde, ou as
nuvens sobre a sua face.
Deixai-me então, declarar a você este Mistério da Lei, tal como se tornou conhecido por mim em diversos
lugares, sobre as montanhas e nos desertos, mas também em grandes cidades, sobre o que eu falo para o seu
conforto e boa coragem. E será assim com todos vós.
Sabei primeiro, que da Lei brotam quatro Raios ou Emanações: de forma que se a Lei for o centro do seu
próprio ser, elas devem preenchê-lo com sua bondade secreta. E estas quatro são: Luz, Vida, Amor e
Liberdade.
Pela Luz vós considerareis a vós mesmos, e percebereis Todas as Coisas que são em Verdade Uma só Coisa,
cujo nome foi chamado de Nenhuma Coisa2 devido a uma causa que mais tarde vos será declarada. Mas a
substância da Luz é a Vida, uma vez que sem Existência e Energia ela nada seria. Portanto, pela Vida, vós
vos tornais eternos e incorruptíveis, flamejando como sóis, autocriados e autossustentados, cada um o único
centro do Universo.
Então pela Luz vós percebeis, pelo Amor vós sentis. Há um êxtase de puro Conhecimento e outro de puro
Amor. E este Amor é a força que une as diversas coisas, para a contemplação na Luz de sua Unidade. Sabei
que o Universo não esta em repouso, mas em movimento extremo, cuja soma é o Descanso. E este
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Grego, To Mega Therion, A Grande Besta.
Nota do Tradutor: Nada.
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entendimento de que Estabilidade é Mudança e a Mudança é Estabilidade, que o Ser é Tornar-se e que
Tornar-se é Ser, é a Chave do Palácio Dourado desta Lei.
Finalmente, pela Liberdade está o poder para guiar o seu curso de acordo com a sua Vontade. Pois a
extensão do Universo é ilimitada, e sois livres para realizar o vosso prazer como quiserdes, observando que
a diversidade do ser é também infinita. Por isso também há o Regozijo da Lei, de que não existem duas
estrelas iguais e vós deveis compreender também que esta Multiplicidade é em si mesma a Unidade, e que
sem ela a Unidade não existiria. E esta é uma dura declaração contra a Razão: vós compreendereis quando,
ao se elevar acima da Razão, que nada mais é do que uma manipulação da Mente, chegarem a alcançar o
puro Conhecimento através da percepção direta da Verdade.
Sabei também que estas quatro Emanações da Lei brilham sobre todos os caminhos: vós as usareis não
apenas nessas Rodovias do Universo, de onde eu escrevi, mas em todas as veredas da sua vida diária.
Amor é a lei, amor sob vontade.
I
DA LIBERDADE
É SOBRE LIBERDADE que eu escrevo primeiramente a vós, pois a menos que sejais livres para agir, não
podereis agir. Ainda assim, todas as quatro dádivas da Lei devem ser exercitadas de alguma forma,
observando que estas quatro são uma. Mas para o Aspirante que veio procurar o Mestre, a primeira
necessidade é a liberdade.
A maior prisão de todas é a ignorância. Como poderá um homem ser livre para agir se ele não conhece o seu
próprio propósito? Vós devereis, portanto, antes de tudo descobrir qual estrela sois dentre todas as estrelas,
vossa relação com as outras estrelas, e a vossa relação e identidade com o Todo.
Em nossos Santos Livros são fornecidos diversos meios para realizar esta descoberta, e cada um deverá
fazê-lo por si mesmo, alcançando a convicção absoluta através da experiência direta, e não meramente
raciocinando e calculando o que é provável. E para cada um virá o conhecimento da sua vontade finita, pela
qual um é poeta, outro é um profeta, um trabalha na siderurgia, outro com jade. Mas também para cada um,
que haja o conhecimento da sua Vontade infinita, seu destino é alcançar a realização da Grande Obra, a
realização do seu Verdadeiro Ser. Sobre esta Vontade, deixai-me, portanto falar claramente para todos, uma
vez que esta diz respeito a todos.
Então compreendei que dentro de vós há certo descontentamento. Analisai bem a vossa natureza: por fim em
todo caso há uma conclusão. O mal se origina a partir de duas coisas, o Ser e o Não-Ser, e o conflito entre
eles. Isto é também uma restrição da Vontade. Aquele que está doente está em conflito com o seu próprio
corpo: aquele que é pobre está em desacordo com a sociedade: e assim por diante. Em última análise,
portanto, o problema é como destruir esta percepção de dualidade, para alcançar a apreensão da unidade.
Então vamos supor que tenhais vindo ao Mestre, e que Ele vos mostrou o Caminho desta realização. O que
vos impede? Coitado! A Liberdade ainda está longe.
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Compreendeis isto claramente: que se estiveres seguros quanto à vossa Vontade, e seguros a respeito dos
vossos meios, então quaisquer pensamentos ou ações que se oponham àqueles meios também estarão se
opondo àquela Vontade.
Se, entretanto, o Mestre vos impor um Voto de Santa Obediência, esta observância não será uma rendição da
Vontade, mas a realização da mesma.
Então vide, o que vos impede? Isto vem de fora ou de dentro, ou de ambos. Pode ser fácil para o buscador de
espírito forte não se deixar afetar pela opinião pública, ou arrancar do seu coração os objetos que ele ama, de
certa forma: mas sempre restarão dentro dele muitos afetos discordantes, como também as limitações do
hábito, e estas ele também precisa conquistar.
Em nosso Livro mais sagrado está escrito: “Tu não tens direito a não ser fazer a tua vontade. Faze isso, e
nenhum outro te dirá não”. Escreveis isto também no vosso coração e no vosso cérebro: pois esta é a chave
de toda a questão.
Que aqui a própria Natureza seja o vosso pregador: pois em todo fenômeno de força e movimento ela
realmente proclama bem alto esta verdade. Mesmo em um ato tão pequeno quanto o de pregar um prego em
uma tábua, ouvi este mesmo sermão. Seu prego deve ser duro, liso, com a ponta bem fina, senão ele não se
deslocará rapidamente na direção desejada. Imagineis então um prego feito de graveto com doze pontas –
realmente isto não é mais um prego. Ainda assim quase toda a humanidade é igual a este respeito. Eles
desejam uma dúzia de carreiras diferentes; e a força que poderia ter sido suficiente para alcançar a
superioridade em alguém é desperdiçada com os outros: eles são ineficazes.
Então, deixai-me fazer aqui uma confissão e, portanto dizer: embora eu tenha me comprometido ainda quase
na infância com a Grande Obra, embora em meu auxílio tenham acorrido as forças mais poderosas de todo o
Universo a fim de me manter firme neste intento, embora o próprio hábito tenha agora me obrigado a seguir
na direção correta, ainda assim eu não realizei a minha Vontade: diariamente eu me desvio da tarefa
designada. Eu hesito. Eu esmoreço. Eu me demoro.
Que isto sirva como um grande consolo para todos vós, que se eu sou tão imperfeito – e por verdadeira
vergonha eu não enfatizei esta imperfeição – se eu, o escolhido, ainda falho, então quão fácil é para vós me
superares! Ou, fossem vós apenas iguais a mim, ainda assim quão grande realização seria a vossa!
Portanto, tenhais entusiasmo, já que tanto o meu fracasso quanto o meu sucesso são argumentos de coragem
para vós.
Buscai, vós mesmos habilmente, eu vos suplico, analisando seus pensamentos mais íntimos. E vós
descartareis primeiro todos aqueles óbvios impedimentos grosseiros à vossa Vontade: ociosidade, amizades
tolas, empregos ou divertimentos sem valor, eu não vou enumerar os conspiradores contra o bem estar do
vosso Estado.
A seguir, encontreis um tempo mínimo no dia a dia que seja realmente necessário para a vossa vida natural.
O resto devotareis aos Verdadeiros Meios para a vossa Realização. E mesmo estas horas necessárias, vós
consagrareis à Grande Obra, sempre dizendo conscientemente enquanto estais realizando todas estas Tarefas
que vós as estais realizando apenas de modo a preservar vosso corpo e vossa mente saudáveis para a correta
oferenda àquele sublime e único Objetivo.
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Não vai demorar muito até que venhais a compreender que tal vida é a verdadeira Liberdade. Vós
experimentareis variações da vossa Vontade, tais como sejam. Elas não mais parecerão agradáveis e
atraentes, mas serão como prisões, como vergonha. E quando vós tiverdes alcançado este ponto, sabeis que
tereis passado pelo Portal do Meio deste Caminho. Pois tereis unificado a vossa Vontade.
Mesmo assim, quando um homem, sentado em uma plateia de teatro onde a peça o entedia, este dá boas
vindas a qualquer distração, e acha graça em qualquer acidente: porém se ele estivesse interessado na peça,
quaisquer incidentes o perturbariam. Sua atitude quanto a estes é então uma indicação da sua atitude com
relação á própria peça teatral.
Primeiramente, é difícil adquirir o hábito da atenção. Perseverais, e vós tereis espasmos de asco
periodicamente. A própria razão vos atacará, dizendo: como pode uma prisão tão restrita ser o Caminho da
Liberdade?
Persevere. Vós nunca chegastes a conhecer a Liberdade. Quando as tentações forem sobrepujadas, a voz da
Razão será silenciada, então a vossa alma prosseguirá desimpedida através da sua rota escolhida, e pela
primeira vez vós experimentareis a extrema delícia de ser Mestre de Si Mesmo e, portanto, do Universo.
Quando isto for totalmente realizado, quando vos sentares com segurança na sela, então também podereis
desfrutar de todas aquelas distrações que antes vos agradavam e então passaram a vos irritar. Então agora
elas não farão mais nada: pois elas são os vossos escravos e brinquedos.
Até que tenhais alcançado este ponto, não sois totalmente livres. Vós devereis matar o desejo e matar o
medo. O fim de tudo é poder de viver de acordo com a sua própria natureza, sem o perigo de que uma parte
possa se desenvolver em detrimento do todo, ou se preocupar a menos que possa surgir o perigo.
O ébrio bebe, e fica bêbado: o covarde não bebe, e treme: o homem sábio, bravo e livre, bebe, e dá glorias
ao Deus Altíssimo.
Esta então é a Lei da Liberdade: vós possuis toda Liberdade por vosso próprio direito, mas deveis equilibrar
o Direito com o Poder: devereis ganhar a Liberdade por vós mesmos em muitas batalhas. Lamentáveis são
as crianças que dormem na Liberdade que seus antepassados conquistaram para elas!
“Não existe lei além de Faze o que tu queres”: mas é apenas o maior da raça que tem a força e a coragem
para obedecer.
Oh homem! Observa a ti mesmo! Com quantas dores foste moldado! Quantas eras se passaram para a tua
modelagem! A história do planeta está tecida na verdadeira substância do teu cérebro! Terá tudo isso sido
em vão? Não há propósito em ti? Foste criado apenas para que pudesses comer, crescer e morrer? Não
penses assim! De fato tu incorporas tantos elementos, tu é o fruto de tantos æons de trabalho, tu és assim
moldado deste modo e não de outro, para algum Fim colossal.
Anima-te, então, para buscá-lo e realizá-lo. Nada pode te satisfazer exceto a realização da tua Vontade
transcendente, que está oculta dentro de ti. Então sendo assim, às armas! Conquistes a tua própria Liberdade
por ti mesmo! Golpeie duro!
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III
DO AMOR
ESTÁ ESCRITO que “Amor é a lei, amor sob vontade”. Aqui existe um Mistério escondido, pois na Língua
Grega Αγαπη3, Amor, possui o mesmo valor numérico que Θελημα4, Vontade. Através disso, nós
entendemos que a Vontade Universal é da natureza do Amor.
Então o Amor é a chama de êxtase de Dois que se tornará Um. Esta é, portanto, uma fórmula Universal da
Alta Magia(k). Vide agora como todas as coisas, vivendo na tristeza causada pela divisão, precisam
necessariamente querer a Unidade como seu remédio.
Também aqui a Natureza é a monitora daqueles que buscam a Sabedoria no seu seio: pois na união dos
elementos de polaridades opostas existe a glória do calor, da luz e da eletricidade. Assim também na
humanidade nós realmente contemplamos o fruto espiritual da poesia e de toda genialidade, surgindo da
semente daquilo que é nada mais que um gesto animal, como é considerado por aqueles que são escolados
em Filosofia. E deve ser fortemente percebido que as paixões mais violentas e divinas são aquelas entre
pessoas de naturezas completamente desarmônicas.
Então eu vos farei saber que na mente não existem tais limitações a respeito da espécie como evitar que um
homem se apaixone por um objeto inanimado ou uma ideia. Para aquele que está de certa maneira adiantado
no Caminho da Meditação, parece que todos os objetos, exceto o Único Objeto, são desagradáveis, mesmo
como surgidos anteriormente a respeito dos seus desejos quanto à Vontade. Portanto, todos os objetos
devem se apreendidos pela mente, e aquecidos na sétupla fornalha do Amor, até que com a explosão do
êxtase eles se unam e desapareçam, pois eles, sendo imperfeitos, são completamente destruídos na criação
da Perfeição da União, assim como as pessoas do Amante e do Amado são fundidas no ouro espiritual do
Amor, que a ninguém conhece, mas compreende a todos.
Ainda que cada estrela seja nada além de uma estrela, e que a aproximação de duas quaisquer seja nada além
do que um êxtase parcial, assim deverá o aspirante à nossa santa Ciência e Arte crescer constantemente
através deste método de assimilação de ideias, para que no final, se torne capaz de apreender o Universo em
um só pensamento, que ele possa saltar para cima Dele com a violência acumulada do seu Ser, e destruir a
ambos, e se tornar aquela Unidade cujo nome é Não-Coisa5. Portanto buscai todos vós constantemente unir a
si mesmos em êxtase com cada uma e todas as coisas que existam, através da mais absoluta paixão e desejo
de União. Para este fim, tomai principalmente todas as coisas que sejam naturalmente repulsivas. Pois o que
é agradável é facilmente assimilado e sem êxtase: é na transfiguração do repugnante e abominável no
Amado que o Ser é sacudido desde a raiz em Amor.
Então no amor humano nós também vemos aquelas mediocridades entre os homens que se casam com
mulheres vazias: mas a História nos ensina que os mestres supremos do mundo sempre buscam pelas
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Grego, Agape, Amor.
Grego, Thelema, Vontade.
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Nota do Tradutor: Nada.
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criaturas mais vis e horríveis para suas concubinas, até mesmo ultrapassando as limitações das leis do sexo e
da espécie na sua necessidade de transcender a normalidade. Não é suficiente em tais naturezas excitar a
luxúria ou a paixão: a própria imaginação deve ser inflamada de todas as formas possíveis.
Então para nós, emancipados de toda lei ordinária, o que faremos para satisfazer a nossa Vontade de
Unidade? Não menos que uma amante do Universo: não menos que um lupanar cercado pelo Espaço
Infinito: não menos que uma noite de violação que seja contemporânea da Eternidade!
Considerai como o Amor é poderoso a ponto de trazer todo Êxtase, e a ausência de amor é causa da maior
ansiedade. Todo aquele que se frustrou no Amor sofreu de verdade, mas aquele que não teve ardentemente
aquela paixão no seu coração com relação a algum objeto está exausto pela dor da ansiedade. E este estado é
chamado misticamente de “Aridez”. Pois não existe, acredito, cura além da paciente persistência como
Regra de vida.
Mas esta Aridez tem sua virtude, pois é através dela que a alma é purificada daquelas coisas que obstruem a
Vontade: pois quando a aridez é totalmente perfeita, então é certo que de modo algum a Alma se satisfará,
exceto pela Realização da Grande Obra. E nas almas fortes isto é um estímulo para a Vontade. É a Fornalha
da sede que queima todas as impurezas dentro de nós.
Mas para cada ato de Vontade há uma Aridez particular correspondente: e assim que o Amor cresce dentro
de vós, assim ocorre com o tormento da Sua ausência. Que isso também esteja em vós como um consolo no
ordálio! Mais ainda, quanto mais feroz a praga da impotência, mais rápida e subitamente serão as chances de
abatê-lo.
Eis aqui o método do Amor em Meditação. Que o Aspirante primeiramente pratique e então se discipline na
Arte de fixar a atenção em qualquer coisa à vontade, sem permitir a menor distração possível.
Que ele também pratique a arte da Análise das Ideias, e a de recusar-se a permitir que a mente manifeste sua
reação natural a elas, agradáveis ou desagradáveis, e então se fixando na Simplicidade e na Indiferença.
Tendo alcançado estas coisas no seu tempo certo, que vós saibas que todas as ideias terão se tornado iguais
na sua apreensão, desde que cada uma seja simples e cada uma seja indiferente: qualquer uma delas
permanecendo na mente à Vontade sem agitação ou luta, ou vindo a passar de uma para outra qualquer. Mas
cada ideia possuirá uma qualidade especial comum a todas: esta, de que nenhuma delas é O Ser, enquanto
for percebida pelo Ser como Algo Oposto.
Quando estiver pleno e profundo no impacto desta percepção, então este será o momento para o aspirante
direcionar sua Vontade de Amor sobre isto, de forma que toda a sua consciência fique focalizada naquela
Única Ideia. E no começo ela pode estar fixa e imóvel, ou ser levemente mantida. Então, ela poderá se tornar
aridez ou repulsa. Então finalmente, pela pura persistência naquele Ato de Vontade de Amor, o próprio
Amor se elevará, Como um pássaro, como uma chama, como uma canção, e toda a Alma voará por um
caminho flamejante de música até o Derradeiro Céu da Fruição.
Então, como neste método existem muitas estradas e caminhos, alguns simples e diretos, alguns ocultos e
misteriosos, assim também ocorre com o amor humano do qual nenhum homem conseguiu fazer mais do
que os primeiros esboços para chegar a um Mapa: pois o Amor é infinito em diversidade do mesmo modo
que as Estrelas. Por este motivo eu deixo que o próprio Amor ensine no coração de cada um de vós: pois ele
vos ensinará corretamente se apenas o servirem com diligência e devoção mesmo no abandono.
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Vós não tereis ressentimentos ou surpresas quanto às estranhas peças que ele irá pregar: pois Ele é um
garoto caprichoso e brincalhão, sagaz nas Artimanhas de Afrodite Nossa Senhora, Sua doce Mãe: e todos os
Seus gracejos e crueldades são temperos em uma hábil criação que nenhuma arte poderá igualar.
Regozijeis, portanto, em todo o Seu jogo, sem diminuir de qualquer forma o vosso próprio ardor, mas
brilhando com as picadas do seu chicote, e tornando a própria Gargalhada um sacramento auxiliar do Amor,
assim como no Vinho de Rheims há espuma e sabor, assim como foram os ministros do Sumo Sacerdote em
sua Intoxicação.
É também adequado que eu vos escreva a respeito da importância da Pureza no Amor. Então este assunto
não tem a ver de modo algum com o objeto ou o método da prática: a única coisa essencial é que nenhum
elemento estranho se intrometa. E isso é pertinente, de forma mais particular ao aspirante naquele aspecto
primário e mundano do seu trabalho onde ele se estabeleceu no método através de suas afeições naturais.
Sabeis, pois, que todas as coisas são mascaras ou símbolos da Única Verdade, e que a natureza serve sempre
para salientar a mais alta perfeição sob o véu da menor perfeição. Então, toda a Arte e Habilidade do amor
humano vos servirão como um hieróglifo: pois está escrito que Aquilo que está acima é como aquilo que
está embaixo: e Aquilo que está abaixo é como aquilo que está acima.
Portanto, também cabe a vós prestares muita atenção, de todo modo possível, a todas as maneiras em que
vieres a falhar neste assunto de pureza. Pois cada ato deverá estar completo no seu próprio plano, e a
nenhuma influência de qualquer outro plano deverá ser permitido interferir ou se misturar, posto que tal
coisa é toda a impureza, e ainda assim cada ato deve ser completo em si mesmo e perfeito de modo que seja
um espelho da perfeição de todos os outros planos, e portanto se torne participante da pura Luz do mais
elevado. Também, uma vez que todos os atos deverão ser atos de Vontade na Liberdade em todos os planos,
todos os planos são na realidade nada mais do que um só: e, portanto, a mais baixa expressão de qualquer
função daquela Vontade deverá ser ao mesmo tempo uma expressão da Vontade mais elevada, ou apenas a
verdadeira Vontade, que é aquela já implícita na aceitação da Lei.
Que também seja bem compreendido por vós que não é necessário ou correto excluir a atividade natural de
qualquer tipo, como certas pessoas falsas, eunucos do espírito, muito estupidamente ensinam, para a
destruição de muitos. Pois todas as coisas herdam sua própria perfeição adequada para a mesma, e
negligenciar toda operação e função de qualquer parte traz distorção e degeneração para o todo. Portanto
atue em todos os caminhos, porém transformando o efeito de todos estes caminhos em Um Só Caminho da
Vontade. E isto é possível, porque todos os caminhos são na Verdade Um Só Caminho, sendo que o
Universo é em si mesmo Um e Apenas Um, e a sua aparência como Multiplicidade é aquela ilusão
primordial que é o verdadeiro objeto de Amor a dissipar.
Na realização do Amor há dois princípios, o de controlar e o de se submeter. Porém a natureza destes é
difícil de explicar, pois eles são sutis, e são ensinados melhor pelo Próprio Amor ao longo das operações.
Porém se diz geralmente que a escolha de uma fórmula ou da outra é automática, sendo a obra daquela
Vontade mais íntima que está viva dentro de vós. Então, não procureis determinar conscientemente esta
decisão, pois aqui o instinto verdadeiro não está sujeito a erros.
Mas aqui eu encerro, sem mais palavras a acrescentar: pois em nossos Santos Livros estão escritos muitos
detalhes sobre as verdadeiras práticas de Amor. E aquelas são as melhores e as mais verdadeiras e que foram
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escritas de modo sutil em símbolo e imagem, especialmente na Tragédia e na Comédia, pois toda a natureza
destas coisas é desse tipo, sendo a própria Vida nada mais que o fruto da flor do Amor.
Então é sobre a Vida que eu preciso escrever para vós agora, observando que através de cada ato de Vontade
em Amor vós a estareis criando, uma quintessência mais misteriosa e feliz do que possas imaginar, pois isto
que os homens chamam de vida não passa de uma sombra daquela Vida verdadeira, seu direito de nascença
e o dom da Lei de Thelema.
III
DA VIDA
SÍSTOLE E DIÁSTOLE: estas são as fases de todas as coisas compostas. Disso também é a vida do homem.
Sua curva se eleva desde a latência do óvulo fertilizado, como se diz, até um zênite onde este decai para a
nulidade da morte? Se corretamente analisado, esta não é toda a verdade. A vida do homem é nada além de
um segmento de uma curva serpentina que se projeta ao infinito, e os seus zeros marcam nada mais que as
alterações do mais para o menos, os coeficientes da sua equação. É por causa disso, entre muitas outras
coisas, que os sábios do passado escolheram a Serpente como o Hieróglifo da Vida.
Então a vida é indestrutível como tudo mais o é. Toda destruição e construção são alterações na natureza do
Amor, como eu vos escrevi no capítulo anterior. Assim, como da mesma forma que o sangue no batimento
do pulso não é o mesmo sangue do próximo batimento, a individualidade é em parte destruída assim que
cada vida passa; é assim, mesmo com cada pensamento.
O que então faz o homem, se ele morre e renasce como uma criança trocada a cada alento? Isto: a
consciência de continuidade concedida pela memória, à concepção do seu Ser como alguma coisa cuja
existência, longe de ser ameaçada por estas alterações, é na verdade encorajada por elas. Que então o
aspirante à sagrada Sabedoria considere o seu Ser não mais como um segmento da Serpente, mas como o
todo. Que ele estenda sua consciência para considerar a ambos, nascimento e morte, como incidentes triviais
como a sístole e a diástole do próprio coração, e necessárias como são para o seu funcionamento.
Para fixar a mente nesta apreensão da Vida, dois modos são preferidos, como preliminares para realizações
maiores a serem discutidas na sua própria ordem, experiências que transcendem até mesmo aquelas
realizações de Liberdade e Amor sobre as quais escrevi aqui, e a da Vida que eu agora inscrevo neste meu
pequeno livro que estou preparando para vós a fim de que possais alcançar a Grande Realização.
O primeiro modo é a aquisição da assim chamada Memória Mágica, e o método é descrito com detalhes e
clareza em certos dos nossos Livros Sagrados. Contudo, para quase todos os homens ela é considerada como
sendo uma prática de extrema dificuldade. Assim, que o aspirante siga o impulso da sua própria Vontade na
decisão de optar ou não por este.
O segundo modo é fácil, agradável, não tedioso, e no final é tão certo quanto o outro. Porém como o
caminho do erro no anterior repousa no Desânimo, neste último devereis estar atentos quanto aos Falsos
Caminhos. Deveras posso falar no geral sobre todas as Obras, de que existem dois perigos, o obstáculo do
Fracasso e a armadilha do Sucesso.
Então este segundo modo consiste em dissociar os seres que compõe a sua vida. Primeiramente, porque isto
é o mais fácil, vós devereis segregar aquela Forma que é chamada de Corpo de Luz (e também por muitos
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outros nomes) e preparar-vos para viajar nesta Forma, realizando exploração sistemática daqueles mundos
que são para as outras coisas materiais o que o vosso próprio Corpo de Luz é para a vossa própria forma
material.
Assim, vos ocorrerá que nestas viagens alcançareis muitos Portais que não sereis capazes de atravessar. Isso
é porque o vosso Corpo de Luz ainda não é por si mesmo forte o suficiente, ou sutil o suficiente, ou puro o
suficiente: e vós devereis então aprender a dissociar os elementos daquele Corpo através de um processo
similar ao primeiro, vossa consciência permanecendo no superior e deixando o inferior. Nesta prática vós
continuais, curvando vossa Vontade como um grande Arco para projetar a Flecha da vossa consciência
através dos céus cada vez mais elevados e santos. Entretanto a duração deste Caminho é em si mesma de
valor vital: pois ocorrerá que presentemente o próprio hábito vos irá persuadir de que o corpo que nasce e
morre dentro de um espaço de tempo tão curto quanto um ciclo de Netuno no Zodíaco não é essência do seu
Ser, que a Vida da qual vos tornastes participantes, enquanto por si mesma sujeita à Lei da ação e reação,
fluxo e refluxo, sístole e diástole, é ainda assim insensível às aflições daquela vida que anteriormente
considerastes como sendo a única ligação com a Existência.
E aqui vós devereis determinar o vosso Ser a realizar os mais poderosos esforços: por mais floridos que
sejam os campos deste Éden, e tão doce o fruto dos seus pomares, que vós adorareis demorar-vos entre eles,
e ali se deliciarem em preguiça e brincadeiras. Portanto eu vos escrevo com energia para que não o façam,
pois isso provocará impedimento ao vosso verdadeiro progresso, porque todas estas alegrias são dependentes
da dualidade, sendo que seu verdadeiro nome é Tristeza da Ilusão, como aquela da vida normal do homem,
que vos preparais para transcender.
Que seja de acordo com a vossa Vontade, mas aprendeis isso, que (tal como está escrito) são felizes apenas
aqueles que desejaram o inalcançável. Então é melhor, por fim, se a vossa Vontade for sempre encontrar o
maior prazer no Amor, isso é, na Conquista, e na Morte, ou seja, na Renúncia, como eu já vos escrevi
anteriormente. Então vós gozareis estas delícias antes mencionadas, mas apenas como brinquedos,
conservando vossa maturidade firme e pungente para penetrar êxtases mais profundos e santos sem reprimir
a Vontade.
Além do mais, quero que saibas que nesta prática, buscada com um ardor incansável, há esta graça especial,
que chegareis, como se por sorte, a estados que transcendem a própria prática, sendo da natureza daqueles
Trabalhos de Pura Luz sobre os quais eu vos escreverei no capítulo seguinte a este. Pois existem certos
Portais pelos quais nenhum ser que ainda esteja consciente da dualidade, isso é, do Ser e do não-Ser como
opostos, poderá atravessar: e na intempestividade daqueles Portais por impetuosa investida de luxúria
celestial, sua chama arderá veementemente contra o seu Ser grosseiro, embora ele já seja divino além da sua
presente imaginação, e o devorará em uma morte mística, de forma que na Travessia do Portal tudo é
dissolvido na Luz sem forma da Unidade.
Então, retornando daqueles estados de ser, também no retorno há um Mistério de Prazer, sereis apartados do
Leite da Escuridão da Lua, e vos tornareis participantes do Sacramento do Vinho que é o sangue do Sol.
Ainda assim, no começo poderá haver choque e conflito, pois o velho pensamento persiste pela força do seu
hábito: vós devereis criar através de atos repetidos o verdadeiro ato correto desta consciência da Vida que
habita em Luz. E isto é fácil, se a vossa vontade for forte: pois a verdadeira Vida é muito mais vívida e
essencial do que a falsa sendo que (tal como posso estimar de maneira rudimentar) uma hora da primeira
cria uma impressão na memória igual a um ano da última. Uma experiência única, em duração ela pode ter
apenas alguns segundos de tempo terrestre, é suficiente para destruir a crença na realidade da nossa vida vã
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na terra: mas isto vai se desfazendo gradualmente se a consciência, através de choque ou medo, não se
vincular a esta, e a Vontade não lutar continuamente para a repetição daquele êxtase, mais belo e terrível do
que a morte, que ela conquistou pela virtude do Amor.
Existem muitos outros modos para realizar a apreensão da verdadeira Vida, e estes dois a seguir são de
muito valor pra quebrar o gelo do vosso engano mortal na visão do vosso ser. E destes, o primeiro é a
constante contemplação da Identidade de Amor e Morte, e a compreensão da dissolução do corpo como um
Ato de Amor para o Corpo do Universo, e como está extensivamente escrito nos nossos Livros Sagrados. E
com isto vai, como se fossem irmã e seu irmão gêmeo, a prática do amor mortal como um sacramento
simbólico daquela grande Morte: com está escrito “Matai a ti mesmo”: e novamente “Morra diariamente”.
E o segundo desses modos menores é a prática da apreensão mental e análise das ideias, principalmente
como eu já os ensinei, mas com ênfase especial na escolha de coisas naturalmente repulsivas, em particular,
a própria morte e seus fenômenos auxiliares. Assim o Buddha mandou que seus discípulos meditassem sobre
as Dez Impurezas, isso é, sobre dez casos de morte em decomposição, de modo que o Aspirante,
identificando-se com seu próprio cadáver em todas estas formas imaginadas, pudesse perder o horror, a
relutância, medo ou aversão natural que ele poderia ter com relação a estas. Sabei disso, que toda ideia de
qualquer tipo se torna irreal, fantasiosa e ilusão plenamente manifesta, se for sujeitada à persistente
investigação, com concentração. E isto é particularmente fácil de alcançar no caso de todas as impressões
corporais, porque todas as coisas materiais, e especialmente aquelas das quais estamos primeiramente
conscientes, a saber, nossos próprios corpos, são a mais grosseira e a mais antinatural de todas as falsidades.
Pois existe em todos nós, latente, aquela Luz na qual nenhum erro pode perdurar, e Ela já ensina ao nosso
instinto a rejeitar primeiro de tudo aqueles véus que estão hermeticamente envoltos Nela. Portanto também
em meditação é muito (para muitos homens) proveitoso se concentrar na Vontade de Amor sobre os centros
sagrados da força nervosa: pois eles, como todas as coisas, são imagens adequadas ou reflexos verdadeiros
dos seus semelhantes em esferas mais sutis: de modo que, suas naturezas grosseiras são dissipadas pelo
ácido solvente da Meditação, suas almas mais sutis aparecem (por assim dizer) nuas, e apresentam sua força
e glória na consciência do aspirante.
Sim, verdadeiramente deixai a vossa Vontade de Amor queimar avidamente rumo a esta criação em vós
mesmos, da verdadeira Vida que flui através das ondas ao longo do mar ilimitado do Tempo! Não vivei as
vossas vidas insignificantes com medo das horas! A Lua, o Sol e as Estrelas pelos quais nós medimos o
Tempo são por si mesmos nada mais do que servidores daquela Vida que pulsa em vós, alegres batidas de
tambor enquanto marchais triunfantes através do Caminho das Eras. Então, quando cada nascimento e morte
vossos forem reconhecidos nesta percepção meros marcos na vossa Estrada sempre viva, o que será dos
tolos incidentes das vossas vidas medíocres? Não são eles grãos de areia soprados pelo vento do deserto, ou
pedregulhos que chutais com vossos pés alados, ou tufos de grama ocos se vós pressionais a turfa e o musgo
flexíveis nas vossas danças líricas? Nada importa para aquele que vive a Vida: seu é o eterno movimento,
energia, a delícia da Mudança que nunca falha: incansável, vós passais de Æon em Æon, de estrela em
estrela, o Universo sendo o seu parque de diversões, sua infinita variedade de esportes sempre velhos e
sempre novos. Todas aquelas ideias que geram tristeza e medo são conhecidas na sua verdade e, portanto,
tornam-se a semente da alegria: pois vós estais certamente além de toda prova de que jamais podereis
morrer; que, através da vossa mudança, esta mudança é parte da vossa própria natureza: o Grande Inimigo se
torna o Grande Aliado.
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Liber CL - De Lege Libellum
E agora, arraigado nesta perfeição, vosso Ser se torna a verdadeira Árvore da Vida, vós tendes um apoio
para vossa alavanca: vós estais prontos para compreender que esta pulsação de Unidade é, em si mesma,
Dualidade e, portanto, no mais elevado e mais sagrado sentido, cesse o Sofrimento e a Ilusão; que tendo
assim compreendido, aspirai ainda novamente, exatamente até a Quarta Dádiva da Lei, até o Fim do
Caminho, até a Luz.
IV
DA LUZ
EU VOS SUPLICO, sejais pacientes comigo quanto àquilo que escreverei com relação à Luz: pois aqui
existe uma dificuldade, sempre crescente, no uso das palavras. Mais ainda, eu mesmo me perco
constantemente e sou confundido pela sublimidade deste assunto, de modo que a fala direta pode se
transformar em lirismo, quando eu poderia demorar-me pacificamente com expressões didáticas. Minha
melhor esperança é que vós possais entender em virtude da compaixão da sua intuição, do mesmo modo que
dois amantes possam conversar em uma linguagem tão ininteligível para os outros quanto possa parecer
idiota, maliciosa e sem graça, ou como naquela outra intoxicação provocada pelo Éter que os participantes
comungam com infinita destreza, ou sabedoria, conforme seu estado de ânimo, através de uma palavra ou
um gesto, sendo iniciado à apreensão pela sutileza da droga. Então pode ser que eu esteja inflamado com o
amor desta Luz, e embriagado pelo vinho Etéreo desta Luz, comunicar não tanto com sua razão e
inteligência, mas com aquele princípio oculto em vós mesmos que está pronto para compartilhar comigo.
Até mesmo muitos homens e mulheres enlouquecem de amor, sem qualquer palavra trocada entre eles,
devido à indução (como de fato) das suas almas. E a vossa compreensão dependerá da vossa maturidade
para a percepção da minha Verdade. Mais ainda, se for o caso de aquela Luz dentro de vós estar pronta para
irromper, então a Luz vos interpretará estas palavras obscuras em linguagem de Luz, mesmo como uma
corrente inanimada, devidamente ajustada, vibrará no seu tom peculiar, tocada em outra corda. Lede,
portanto, não apenas com os olhos e o cérebro, mas com o ritmo da Vida que vós alcançastes através da
vossa Vontade de Amor estimulada à dança medida por estas palavras, que são os movimentos da vara da
minha Vontade de Amor, e assim de modo a inflamar sua Vida para a Luz.
Nesse estado de ânimo eu interrompi a escrita deste meu pequeno livro, e durante dois dias e noites sem
dormir, fiz esta consideração, lutando veementemente com o meu espírito, senão por pressa ou falta de
cuidado eu poderia falhar perante vós.
No exercício de Vontade e de Amor estão implícitos movimento e mudança, mas na Vida é obtida uma
Unidade que se move e modifica apenas em pulso ou fase, e é quase como música. Ainda assim na obtenção
desta Vida vós já tereis percebido que a Quintessência desta é pura Luz, um êxtase sem forma, sem limites
ou marcas. Nessa Luz nada existe, pois Ela é homogênea: e, portanto os homens a chamaram de Silêncio, e
Escuridão, e Nada. Mas neste, como em todos os outros esforços para lhe dar um nome, está a raiz de toda
falsidade e equívoco, uma vez que todas as palavras implicam em alguma dualidade. Portanto, embora eu a
chame de Luz, ela não é Luz, nem ausência de Luz. Muitos também buscaram descrevê-la por meio de
contradições, uma vez que através da negação transcendente de toda fala isso poder ser realizado de alguma
forma. Também através de imagens e símbolos os homens se esforçaram para expressá-la: mas sempre em
vão. Ainda assim aqueles que estavam prontos para apreender a natureza desta Luz vieram a entender por
meio da compaixão: e assim será convosco que ledes este pequeno livro, amando-o. Contudo, sabeis que a
melhor de todas as instruções neste assunto, e a Palavra mais adequada ao Æon de Hórus, está escrita em O
Livro da Lei. Também o Livro Ararita é certamente valioso no Trabalho da Luz, como o Trigrammaton
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Aleister Crowley
naquele da Vontade, o Cordis Cincti Serpente no Caminho do Amor, e Liberi naquele da Vida. Todos estes
Livros também têm a ver com todas estas Quatro Dádivas, pois ao final vereis que todos são inseparáveis
uns dos outros.
Eu desejo vos escrever a respeito do número 93, o número de Θελημα. Não apenas o número da sua
interpretação, Αγαπη, mas também aquela de uma Palavra desconhecida por vós a menos que sejais um
Neófito da nossa Santa Ordem da A∴A∴ cuja palavra representa em si mesma a ascensão da Fala a partir do
Silêncio, e o retorno a este no Final. Então este número 93 é três vezes 31, que é LA em Hebraico, que quer
dizer NÃO, e assim ela nega a extensão nas três dimensões do Espaço. Eu também eu gostaria vós
meditasses muito profundamente sobre o nome NU que é 56, que nos mandam dividir, adicionar, multiplicar
e compreender. Pela divisão chegamos a 0,12, como se estivesse escrito Nuith! Hadith! Ra- Hoor-Khuith!
antes da Díada. Pela adição se chega a Onze, o número da Verdadeira Magia(k): e pela multiplicação,
Trezentos, o Número do Espírito Santo ou Fogo, a letra Shin, onde todas as coisas são completamente
consumidas. Com estas considerações, e uma compreensão integral dos mistérios dos Números 666 e 418,
vós estareis poderosamente armados neste Caminho de voo distante. Mas vós também devereis considerar
todos os números nas suas escalas. Pois não há meio de resolução melhor do que este da pura matemática, já
que por meio desta as ideias grosseiras são refinadas, e tudo está ordenado e pronto para a Alquimia da
Grande Obra.
Eu já vos escrevi sobre como, na Vontade de Amor, a Luz se ergue como a parte secreta da Vida. E no
começo, o pequeno, Ama, A Vida realizada é ainda pessoal: mais tarde, ela se torna impessoal e universal.
Então agora é chegada a Vontade, sendo que posso dizer, como seu polo magnético, onde as linhas de força
apontam igualmente para todos os caminhos e para nenhum caminho: e o Amor também não é mais um
trabalho, mas um estado. Estas qualidades se tornam parte da Vida Universal, que procede infinitamente
junto à alegria da Vontade e do Amor como inerente a estas. Portanto, estas coisas, em sua perfeição,
perderam seus nomes e suas naturezas. Ainda assim estas eram a Substância da Vida, seu Pai e Mãe: e sem a
sua operação e impacto a própria Vida cessará gradualmente as suas pulsações. Porém uma vez que a
energia infinita de todo o Universo está ali, o que então é possível, o que esta retorna à sua própria Primeira
Intenção, dissolvendo-se pouco a pouco naquela Luz que é a sua Natureza mais secreta e mais sutil?
Pois este Universo é na Verdade Zero, sendo uma equação da qual o Zero é a soma. Onde aqui está a prova
de que, se não fosse assim, ela estaria desequilibrada e alguma coisa poderia surgir do Nada, o que é um
absurdo. Esta Luz ou Nada é então o Resultante ou Totalidade onde em pura Perfeição; e todos os outros
estados, positivos ou negativos, são imperfeitos, uma vez que omitem os seus opostos.
Ainda assim, eu vos pediria que considerassem que esta igualdade ou identidade de equação entre todas as
coisas e Nada é a mais absoluta, de modo que vós não permanecereis em um mais do que permaneceram no
outro. E vós compreendereis este grandioso Mistério muito facilmente sob a luz daquelas outras
experiências que vós já provastes, onde há movimento e repouso, mudança e estabilidade, e muitos outros
opostos sutis, que levaram à identidade pela força da sua santa meditação.
A maior dádiva da Lei, então, vem através da prática mais perfeita das Três Dádivas Menores. E então vós
devereis trabalhar plenamente nesta Obra para que sejais capazes de passar de um lado da equação para o
outro à vontade: ou melhor, para compreender o todo de uma vez, e para sempre. Então a vossa alma
prisioneira do tempo e espaço viajará de acordo com a sua natureza na sua órbita, revelando a Lei para
aqueles que caminham presos aos grilhões, pois esta é a sua função particular.
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Liber CL - De Lege Libellum
Agora eis aqui o Mistério da Origem do Mal. Primeiramente, por Mal nós nos referimos àquilo que está em
oposição às nossas próprias vontades: portanto, ele é um termo relativo, e não absoluto. Pois tudo o que é o
maior mal para alguém é o maior bem para outro, assim como a dureza da madeira que esgota o lenhador é a
segurança daquele que se arrisca ao mar em um barco construído com aquela madeira. E esta é uma verdade
fácil de entender, por ser superficial e inteligível para a mente comum.
Portanto, todo mal é relativo, ou aparente, ou ilusório: mas, voltando à filosofia, eu repetirei que a sua raiz
está sempre na dualidade. Portanto a saída deste mal aparente é buscar a Unidade, o que vós fareis como eu
já vos mostrei. Mas agora eu mencionarei aquilo que está escrito a respeito disto em O Livro da Lei.
Sendo o primeiro passo a Vontade, o Mal aparece segundo esta definição, “tudo o que impede a execução da
Vontade”. Portanto, está escrito: “A palavra de pecado é Restrição”. Deve-se observar que em O Livro dos
Trinta Æthyrs [Livro 418] o Mal aparece como Choronzon cujo número é 333, que em grego significa
Impotência e Indolência: e a natureza de Choronzon é Dispersão e Incoerência.
Então no Caminho do Amor, o Mal aparece como “tudo aquilo que tende a evitar a União de duas coisas
quaisquer”. Logo, O Livro da Lei diz, sob a figura da Voz de Nuit: “tomai vossa fartura e vontade de amor
como quiserdes, quando, onde e com quem quiserdes! Mas sempre a mim”. Pois todo ato de Amor deve ser
"sob vontade", ou seja, de acordo com a Verdadeira Vontade, o que não significa se contentar com coisas
parciais e transitórias, mas prosseguir firmemente até o Fim. Assim também, em O Livro dos Trinta Æthyrs,
os Irmãos Negros são aqueles que se trancam, não desejando destruir a si mesmos por Amor.
Terceiro, no Caminho da Vida o Mal aparece sob uma forma mais sutil como “tudo aquilo que não é
impessoal e universal”. Aqui O Livro da Lei, pela Voz de Hadit, nos informa: “Na esfera Eu sou em todo
lugar o centro”. E novamente: “Eu sou Vida, e o doador de Vida” [...] “Vinde a mim” é uma palavra tola:
pois sou Eu que vou”. “Pois Eu sou perfeito, Não sendo”. Pois esta vida está em todo lugar e tempo
simultaneamente, de modo que n’Ela estas limitações não existem mais. E tereis visto isso por vós mesmos,
que em todo ato de Amor tempo e espaço desaparecem com a criação da Vida por sua virtude, como
também faz a própria personalidade. Pela terceira vez, então, num sentido ainda mais sutil, “A palavra de
pecado é Restrição”.
Por fim, no Caminho da Luz este mesmo versículo é a chave para a concepção do Mal. Mas aqui a Restrição
está no fracasso em se resolver a Grande Equação, e, mais tarde, em preferir uma expressão ou fase do
Universo à outra. Contra isso nós advertimos em O Livro da Lei através da Palavra de Nuit, dizendo:
“Nenhum” [...] “e dois. Pois Eu estou dividida pela causa do amor, pela chance de união”, e portanto, “Se
isto não estiver correto; se vós confundires as marcas do espaço, dizendo: Elas são uma; ou dizendo, Elas
são muitas;” [...] “então esperai pelos terríveis julgamentos” [...].
Agora, portanto, pelo favor de Thoth eu chego ao fim deste meu livro: e vós vos armais adequadamente com
as Quatro Armas: o Bastão para a Liberdade, o Cálice para o Amor, A Espada para a Vida, o Pantáculo para
a Luz: e com estes operai todas as maravilhas pela Arte de Alta Magia(k) sob a Lei do Novo Æon, cuja
Palavra é Θελημα.
© O.T.O. - Ordo Templi Orientis
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Aleister Crowley
INFORMAÇÕES EDITORIAIS
Título:
Liber Cl vel נעל
Uma Sandália
De Lege Libellum
L-L-L-L-L
Autor:
Aleister Crowley
Origem:
Espaço Novo Æon (www.thelema.com.br/espaco-novo-aeon)
Tradução:
Arnaldo Lucchesi Cardoso (
[email protected])
Revisão:
Nina Castro (
[email protected])
Edição:
Jonatas Lacerda (
[email protected])
Versão:
1.0 – 07/08/2011 e.v.
i
Esta epístola foi publicada pela primeira vez em O Equinócio III(1). (Detroit: Universal, 1919 e.v.). As citações são de Liber
Legis, O Livro da Lei.
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O presente ensaio pode ser encontrado no site www.thelema.com.br/espaco-novo-aeon, que é um veículo de estudo e pesquisas
Thelêmicos. O copyright © de todo material de autoria de Aleister Crowley pertence à O.T.O. – Ordo Templi Orientis
(http://oto.org/) e esta tradução não pode ser utilizada de forma alguma para fins comerciais, devendo sempre manter os créditos
e ressalvas. Importante: O Espaço Novo Æon não é um veículo da O.T.O. – Ordo Templi Orientis e não está subordinado a
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