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Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2

2020, Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2

https://doi.org/10.37885/978-65-87196-39-8

O envelhecimento populacional é um fenômeno natural que tem alcançado grandes proporções em âmbito global. O Brasil é o país com uma das maiores taxas de crescimento da população idosa do mundo, constituindo-se no fenômeno denominado transição demográfica. Essa mudança traz oportunidades e desafios ainda não inteiramente compreendidos e, com isso faz-se necessária obras que estabeleçam como foco central as questões que envolvam o envelhecimento humano. Neste sentido, o presente livro é constituído de trabalhos construídos por profissionais que atuam com a pessoa idosa em diferentes cenários de prática no Brasil e em outros países da América latina, provocando reflexões sobre os principais desafios encontrados na atenção à pessoa idosa, possibilitando ao leitor compreensões mais ampliadas sobre o envelhecimento humano e instrumentalizando-o para o enfrentamento destes desafios, além de apontar à necessidade do desenvolvimento de ações multi e interdisciplinares, com foco na melhoria da saúde e qualidade de vida das pessoas idosas.

ENVELHECIMENTO HUMANO Desafios Contemporâneos Volume 2 EDILSON COELHO SAMPAIO Organizador editora científica ENVELHECIMENTO HUMANO Desafios Contemporâneos Volume 2 EDILSON COELHO SAMPAIO Organizador 1ª Edição 2020 editora científica Copyright© 2020 por Editora Científica Digital Copyright da Edição © 2020 Editora Científica Digital Copyright do Texto © 2020 Os Autores Todo o conteúdo deste livro está licenciado sob uma Licença de Atribuição Creative Commons. Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0). O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores. Permitido o download e compartilhamento desde que os créditos sejam atribuídos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. 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Carla da Silva Sousa - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano SUMÁRIO CAPÍTULO 01 .......................................................................................................................................... 12 A ENFERMAGEM E O CUIDADO INTEGRAL E HUMANIZADO NO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO Débora Silva Maciel; Larissa Dias Godinho; Michelle dos Santos da Silva; Maria Emília Cirqueira; Lorena Moura de Assis Sampaio; Julita Maria Freitas Coelho; Fernanda Carvalho de Jesus Oliveira; Isabelle Matos Pinheiro; Valterney de Oliveira Morais; Alexsandro Figueredo de Souza DOI: 10.37885/201001797 CAPÍTULO 02 .......................................................................................................................................... 25 A EXPERIÊNCIA NO CUIDADO DOMICILIAR AO IDOSO SEQUELADO POR ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO SOB PERSPECTIVA DE FAMILIARES Françuelda Pereira Nóbrega; Rosilene Alves de Almeida; Francisca das Chagas Alves de Almeida; Rosangela Alves Almeida Bastos; Rosimery Alves de Almeida DOI: 10.37885/201102284 CAPÍTULO 03 .......................................................................................................................................... 37 A INFLUÊNCIA DA CINESIOTERAPIA NO ARRANJO LOMBOPÉLVICO E NA INCONTINÊNCIA URINÁRIA DA MULHER IDOSA Fabiana da Silveira Bianchi Perez; Anna Claudia Sentanin; Luciana Roberta Tenório Peixoto; Adson Ferreira da Rocha DOI: 10.37885/201202402 CAPÍTULO 04 .......................................................................................................................................... 50 A VELHICE E O SENTIMENTO DE SOLIDÃO SOB A ÓTICA DOS IDOSOS Alyne Amaral Santos; Emylle Cristine Alves Veloso; Álvaro Parrela Piris; Bruna Roberta Meira Rios; Carla Silvana de Oliveira e Silva; Leila das Graças Siqueira; José Ronivon Fonseca; Wellington Danilo Soares; Andréa Maria Eleutério de Barros Lima Martins; Henrique Andrade Barbosa DOI: 10.37885/201001748 CAPÍTULO 05 .......................................................................................................................................... 61 A VIVÊNCIA DA SEXUALIDADE PELA MULHER IDOSA Anny Isabelly Medeiros de Góes; Renata Ferreira de Araújo; Daniela Laurentino Rodrigues; Renata Marculino Sousa DOI: 10.37885/201202387 CAPÍTULO 06 .......................................................................................................................................... 71 A VULNERABILIDADE PSICOSSOCIAL DA PESSOA IDOSA FRENTE ÀS SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIAS E DESASTRES Diana Maria da Silva Sousa; Ubiracelma Carneiro da Cunha; Thaís Afonso Andrade DOI: 10.37885/201202393 SUMÁRIO CAPÍTULO 07 .......................................................................................................................................... 82 APORTACIONES DE LA INVESTIGACIÓN CUANTI-CUALITATIVA A LA PSICOGERONTOLOGÍA. Jorge Luis López Jiménez; Guadalupe Barrios Salinas; Blanca Estela López Salgado; Tomás Cortés Solís DOI: 10.37885/201202379 CAPÍTULO 08 .......................................................................................................................................... 95 AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA QUALIDADE DE VIDA DE APOSENTADOS RESIDENTES EM RIO CLARO/SP: ESTUDO QUANTITATIVO Elisangela Gisele do Carmo; Pollyanna Natalia Micali; Raiana Lídice Mór Fukushima; Reisa Cristiane de Paula Venancio; José Luiz Riani Costa DOI: 10.37885/201202442 CAPÍTULO 09 ........................................................................................................................................ 106 CONTEXTO SANITÁRIO DA HANSENÍASE E ENVELHECIMENTO Marcos Túlio Raposo; Marcelo de Almeida do Nascimento; Ailana Cardoso Damasceno; Ana Virgínia de Queiroz Caminha DOI: 10.37885/201202400 CAPÍTULO 10 .........................................................................................................................................117 DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM DO DOMÍNIO ENFRENTAMENTO/TOLERÂNCIA AO ESTRESSE EVIDENCIADOS POR IDOSOS EM TRATAMENTO HEMODIALÍTICO Rosilene Alves de Almeida; Rosângela Alves Almeida Bastos; Francisca das Chagas Alves de Almeida; Roseane Vieira Pereira de Sousa; Raquel Riziolli de Araújo Oliveira; Rita de Cássia Sousa Silva DOI: 10.37885/201202401 CAPÍTULO 11 ........................................................................................................................................ 126 ENTENDENDO A SEXUALIDADE NA TERCEIRA IDADE: REVISÃO INTEGRATIVA Gilson Aquino Cavalcante; Jonatas Gomes Neri; Lilian Machado de Lima DOI: 10.37885/200901215 CAPÍTULO 12 ........................................................................................................................................ 135 ESCUTA DICÓTICA, PROCESSAMENTO TEMPORAL E COGNIÇÃO EM IDOSOS USUÁRIOS DE PRÓTESE AUDITIVA Sandra Nunes Alves Viacelli; Aline Bovolini; Maria Inês Dornelles da Costa-Ferreira; Liliane Desgualdo Pereira DOI: 10.37885/201202398 SUMÁRIO CAPÍTULO 13 ........................................................................................................................................ 152 EVENTOS ADVERSOS EM IDOSOS HOSPITALIZADOS: CONTRIBUIÇÕES DA AUDITORIA EM SAÚDE Cristiane Chagas Teixeira; Ana Lúcia Queiróz Bezerra; Gabriela Camargo Tobias; karynne Borges Cabral DOI: 10.37885/201001839 CAPÍTULO 14 ........................................................................................................................................ 174 FRECUENCIA DE DESÓRDENES MENTALES EN ADULTOS MAYORES RESIDENTES EN UNA INSTITUCIÓN DE ASISTENCIA SOCIAL EN LA CIUDAD DE MÉXICO. Jorge Luis López-Jiménez; Guadalupe Barrios-Salinas; Blanca Estela López-Salgado; María Patricia Martínez-Medina; Laura Angélica Bazaldúa-Merino; Tomás Cortés-Solís DOI: 10.37885/201202376 CAPÍTULO 15 ........................................................................................................................................ 185 IMPACTO DA PANDEMIA DE COVID-19 NA SAÚDE DE IDOSOS: UMA REVISÃO NARRATIVA Genilson Bento dos Santos; Camila Victória Pereira da Silva; Clésia Oliveira Pachú DOI: 10.37885/201202434 CAPÍTULO 16 ........................................................................................................................................ 198 IMPACTO DAS MÍDIAS DIGITAIS NOS RELACIONAMENTOS ENTRE IDOSOS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA Samara Amorim de Araújo; Rômulo Kunrath Pinto Silva; Amanda Souza Fernandes; Ayane de Fátima Queiroz Ferreira; Gilka Paiva Oliveira Costa DOI: 10.37885/201202391 CAPÍTULO 17 ........................................................................................................................................ 207 INSTRUMENTOS DE DETECÇÃO DE DOENÇAS VASCULARES PERIFÉRICAS EM IDOSOS ASSISTIDOS PELA ATENÇÃO PRIMÁRIA Ana Paula Pillatt; Fernanda Dallazen Sartori; Evelise Moraes Berlezi DOI: 10.37885/201102308 CAPÍTULO 18 ........................................................................................................................................ 220 INTERNACÕES DE IDOSOS POR CONDIÇÕES SENSÍVEIS À ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE Iasmim Cunha Maranguape Araújo; Andréa Carvalho Araújo Moreira; Cibelly Aliny Siqueira Lima Freitas; Maria Socorro Carneiro Linhares; Jamylle Lucas Diniz DOI: 10.37885/201202399 SUMÁRIO CAPÍTULO 19 ........................................................................................................................................ 233 INVISIBILIDADE E SOLIDÃO: A FIGURA DO HOMOSSEXUAL IDOSO NO BRASIL Marcos Rodrigo Oliveira; Maria Helena Pereira de Oliveira Araújo; Mônica Iser Silva; Betânia Maria Oliveira de Amorim DOI: 10.37885/201202362 CAPÍTULO 20 ........................................................................................................................................ 246 O DESAFIO DA SARCOPENIA E OBESIDADE SARCOPÊNICA NO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO Izadora Silveira Fernandes; Valdemir Pereira de Sousa; Karoliny Gomes Quirino; Laís de Lima Bride; Flavia de Paula; Flávia Imbroisi Valle Errera DOI: 10.37885/201101951 CAPÍTULO 21 ........................................................................................................................................ 270 PRINCIPAIS FATORES DESENCADEADORES DOS DISTÚRBIOS DO SONO NO ENVELHECIMENTO Luana Meireles Pecoraro; Andreza Maria Lima Maia; Maria Alice Ferreira Farias; Hélio Tavares de Oliveira Neto; Polliana Peres Cruz Carvalho; Milena Nunes Alves de Sousa DOI: 10.37885/201202388 CAPÍTULO 22 ........................................................................................................................................ 283 RASTREIO DE DISTÚRBIO PSICOLÓGICO PELA ESCALA DE DEPRESSÃO GERIÁTRICA E SEUS FATORES DE RISCO Ériks Oliveira Silva; Ana Karen Costa Silva; Morun Bernardino Neto; Alexandre Azenha Alves de Rezende; Luciana Karen Calábria DOI: 10.37885/201102028 CAPÍTULO 23 ........................................................................................................................................ 297 REAÇÕES ADVERSAS AOS ANTIMICROBIANOS EM PESSOAS IDOSAS: O QUE DEVE SER OBSERVADO? Lidiane Riva Pagnussat; Siomara Regina Hahn; Adriano Pasqualotti DOI: 10.37885/201202417 CAPÍTULO 24 ........................................................................................................................................ 310 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE IDOSOS/AS SOBRE O MÉTODO PILATES E SEUS REFLEXOS NO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO Joseana Maria Saraiva; Rosana Barbara da Silva; Iêda Litwak de Andrade Cezar DOI: 10.37885/201202420 SUMÁRIO CAPÍTULO 25 ........................................................................................................................................ 324 SEXUALIDADE E DISFUNÇÃO ERÉTIL NA TERCEIRA IDADE: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Yasmim Vilarim Barbosa; Maria Crislândia Freire de Almeida; Alessandra de Souza Silva; Vanda Lúcia dos Santos DOI: 10.37885/201102178 CAPÍTULO 26 ........................................................................................................................................ 336 USO DE TECNOLOGÍAS DE LA INFORMACIÓN Y COMUNICACIÓN EN SERVICIOS Y CUIDADOS DE ATENCIÓN PRIMARIA DE SALUD PARA ADULTOS MAYORES EN LATINO AMÉRICA Exequiel Plaza; Hernando Durán DOI: 10.37885/201102339 CAPÍTULO 27 ........................................................................................................................................ 358 USO POTENCIAL DO CHÁ VERDE NO TRATAMENTO COMPLEMENTAR DE MORBIDADES E USO DE MEDICAMENTOS, ASSOCIADO AO ENVELHECIMENTO: UMA REVISÃO Renata Breda Martins; Raquel Seibel; Jamile Ceolin; Vilma Maria Junges; Maria Gabriela Valle Gottlieb DOI: 10.37885/201202390 CAPÍTULO 28 ........................................................................................................................................ 375 VIVER A VELHICE COM HIV/AIDS Rosane Paula Nierotka; Ricardo José Nicaretta; Fátima Ferretti DOI: 10.37885/201202397 SOBRE O ORGANIZADOR ................................................................................................................... 388 ÍNDICE REMISSIVO .............................................................................................................................. 389 01 “ A Enfermagem e o Cuidado Integral e Humanizado no Processo de Envelhecimento Débora Silva Maciel Julita Maria Freitas Coelho FAT FAT Larissa Dias Godinho Fernanda Carvalho de Jesus Oliveira FAT FAT Michelle dos Santos da Silva Isabelle Matos Pinheiro FAT IFBA Maria Emília Cirqueira Valterney de Oliveira Morais FAT FAT Lorena Moura de Assis Sampaio Alexsandro Figueredo de Souza FAT FAT 10.37885/201001797 RESUMO INTRODUÇÃO: O envelhecimento é processo dinâmico e progressivo com ocorrência de diferentes alterações que acabam fazendo com que o idoso se torne vulnerável a fatores intrínsecos e extrínsecos. De acordo com as estatísticas, no Brasil e no mundo a população idosa tem aumentado, o que vêm exigindo dos profissionais de saúde mais qualificação. OBJETIVO: Discorrer sobre o cuidado integral e humanizado do enfermeiro no processo de envelhecimento, analisando a assistência de enfermagem na percepção do idoso, destacando sua importância no tratamento humanizado, além de discutir o nível de conhecimento dos profissionais de enfermagem sobre a importância deste tratamento. MATERIAIS E MÉTODOS: O estudo é uma revisão sistemática da literatura, pois utilizou como fonte de dados literaturas já publicadas sobre o tema. Os dados foram coletados, organizados, analisados e interpretados a fim de publicar seu resultado final. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os trabalhos utilizados foram publicados entre os anos de 2007 a 2019, totalizando 27 artigos, sendo que aproximadamente 48,15 % (13 artigos) foram publicados nos últimos 5 anos. Foram destacados em uma tabela (tabela 1), 7 artigos que apresentaram os principais achados sobre o cuidado integral e humanizado do enfermeiro no processo de envelhecimento, organizados por data de publicação. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Conclui-se que, a assistência e o cuidado integral e humanizado estão ligados aos profissionais de enfermagem, que tem grande destaque na aproximação direta com o paciente, porém ainda é necessária uma capacitação profissional acerca da Política Nacional de Atenção a Saúde do Idoso, para que haja uma assistência de qualidade. Palavras-chave: Cuidado ao Idoso, Cuidado Integral, Enfermagem, Atendimento Humanizado. INTRODUÇÃO O envelhecimento populacional é considerado um fenômeno mundial. No Brasil as modificações acontecem de forma radical e bastante acelerada, cujo processo se dá, demograficamente, ao rápido e sustentado declínio da fecundidade. Projeções indicam que em 2020 seremos o sexto país em número de idosos no mundo, com um número superior a 30 milhões de pessoas (LIMA et al., 2010). O Brasil, em menos de 40 anos migrou de um perfil de mortalidade de uma população jovem para o quadro caracterizado por enfermidades crônicas e múltiplas, devido ao crescimento da população idosa. Outros fatores que influenciam esse crescimento é o modo de gerir a atenção a saúde, bem como a necessidade de adequação de valores culturais, das políticas sociais e de saúde, de maneira que possa atender às necessidades e aos problemas em recorrência do envelhecimento populacional (LIMA et al., 2014). A enfermagem tem um papel de destaque quando se trata de cuidado ao ser humano, desde o tratamento de doenças individualmente ou até mesmo na família ou na comunidade. Sabe-se que o envelhecimento da população é inevitável e que quando se trata de pessoas idosas, o profissional de enfermagem lida com um público com deterioração cognitiva, doentes, cansados, tristes e desinteressados da interação social, exigindo assim, nesse âmbito, uma maior atenção (SOUSA e RIBEIRO, 2013). As estratégias para organização da atenção à saúde da população idosa na rede pública, parte do Modelo de Atenção Integral: onde destaca a importância e o potencial do trabalho em rede. Assim são definidas as estratégias para a integração com os diferentes pontos de atenção do Sistema Único de Saúde (SUS) visando à produção do cuidado integral à pessoa idosa, adequado às suas necessidades (BRASIL, 2019). Integralidade é um termo utilizado para denominar um dos princípios do SUS, que significa assistência total as necessidades do usuário, desde a garantia de boas condições de vida, acolhimento nas unidades de saúde, demandam devidamente atendidas até o acesso à oferta de todas as tecnologias. Deste modo, a integralidade está pautada numa alta eficácia nos serviços de saúde voltado e centrado ao indivíduo de uma forma humanizada. (RODRIGUES, 2016). A humanização em saúde se baseia em respeitar a vida humana, levando-se em conta as circunstâncias sociais, éticas, educacionais e psíquicas presentes em todo relacionamento humano. A mesma está vinculada aos direitos humanos, sendo assim, deve ser aplicada em qualquer aspecto na assistência ao ser humano, incluindo o atendimento nos serviços de saúde (SILVA e SILVA, 2017). Com essas informações, entende-se que assistência e cuidados expressivos abrange necessidades psicoafetivas dos idosos, como carinho, atenção, zelo, que só é possível com 14 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 a presença de outro, numa relação social condicionada pelo contexto social. Deste modo, o enfermeiro pode desenvolver algumas características que melhore o planejamento do seu cuidado, ou seja, ter paciência, ser persistente e ter um olhar mais detalhado aos idosos. Este cuidado além de valorizar a humanização da assistência, resgata a condição humana (TOCANTINS et al., 2009). Diante do exposto, entende-se que esse material pode servir para um melhor conhecimento dos profissionais durante o cuidado integral e humanizado da população idosa, ocasionando uma maior interação social entre profissional e usuário. Assim, o objetivo desse estudo foi descrever o cuidado integral e humanizado do enfermeiro no processo de envelhecimento. METODOLOGIA Este estudo tem como metodologia a revisão integrativa da literatura. A revisão de literatura é caracterizada pelo levantamento bibliográfico realizado em fontes científicas (artigos, teses, dissertações) e fontes de divulgação de ideias (revistas, sites, vídeos etc.), onde, o pesquisador, a partir de sua análise, pode interpretar os dados coletados e tecer uma crítica pessoal (ROTHER, 2007). As bases de dados consultadas incluíram: a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), a Scientific Electronic Library online (SciELO), o Portal de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Foram utilizados os seguintes descritores: Cuidado humanizado, Envelhecimento, Humanização, Idosos. O booleano empregado foi o and, com o objetivo de identificar o maior número de publicações que contivesse os descritores mencionados anteriormente. O período de busca foi de agosto de 2019 a maio de 2020 a fim de conseguir alcançar o maior número de estudos. Os artigos analisados foram publicados no período 2003 a 2018. Os critérios de inclusão foram: artigos originais, dissertações e teses disponíveis na sua versão integral, cujo estudo tenha abordado o tema assistência de enfermagem relacionada ao cuidado humanizado ao idoso. Com relação ao idioma, foram considerados os artigos em português e inglês indexados nas bases de dados supracitadas. Foram excluídos os artigos que não se adequam aos critérios de inclusão, bem como os artigos duplicados entre as bases de dados ou mesmo na própria base. Depois de coletados, os dados foram organizados e, posteriormente, analisados e interpretados. O processo de investigação ocorreu conforme a análise de conteúdo, através de artigos científicos, a qual foi cumprida em quatro etapas. A primeira é a da pré-análise, onde se fez uma ordenação dos dados e seleção dos artigos que iriam ser utilizados; a segunda foi o da ordenação dos dados através da leitura do material e a realização de fichamentos, excluindo aqueles materiais que não serviam para responder o objetivo do Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 15 estudo. A classificação dos dados foi feita na terceira fase, onde foram realizadas várias releituras do material e os dados revelados durante a análise (ROTHER, 2007). Por sua vez, na quarta e última fase, foi feito o confronto dos dados provenientes da revisão de literatura, onde os resultados foram organizados e apresentados em três categorias de análise: “Percepção do idoso da assistência de enfermagem”; “Cuidado integral e humanizado do enfermeiro no processo de envelhecimento”; e, “Políticas públicas no processo de envelhecimento integral humanizado”. RESULTADOS E DISCUSSÃO De início foram encontrados 54 estudos que tiveram seus respectivos resumos analisados. Todavia, muitos estudos somente através das leituras de seus resumos não foram possíveis incluí-los ou descartá-los, deste modo foi necessária uma leitura mais aprofundada do material. Nesta etapa alguns artigos foram descartados por não se enquadrarem ao contexto da pesquisa. Os artigos utilizados nesse estudo foram publicados entre os anos de 2007 a 2019, totalizando 27 artigos, sendo que aproximadamente 48,15 % (13 artigos) foram publicados nos últimos 5 anos (de 2015 a 2019). O quadro 2 possui aproximadamente 25,9% (07 artigos) dos estudos selecionados por apresentarem relevância total sobre o assunto abordado, o que evidencia que, a partir do momento em que o idoso tem um atendimento de qualidade pelo profissional da enfermagem, este por sua vez terá confiança para com a equipe e como consequência terá uma relação de afeto, relação esta que fará com que o profissional possa identificar quais os problemas de saúde do idoso quanto paciente, bem como definir intervenções apropriadas para a melhoria da sua saúde, além de promover autonomia do mesmo nas atividades do dia a dia. PERCEPÇÃO DO IDOSO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM A enfermagem é uma profissão que presta serviços de saúde, sendo uma das áreas o cuidado com a população idosa. O cuidado com essa população abrange diversos contextos, exigindo maior especificidade e complexidade nos cuidados (SOUSA e RIBEIRO, 2013). Um estudo, realizado em 2015 em uma unidade básica de saúde da família, observou que a imagem do enfermeiro reflete aspectos positivos aos idosos. Deste modo o enfermeiro está conseguindo desenvolver com atenção seus cuidados prestados, e a confirmação deste fato se configura nas falas de satisfação dos idosos, atribuindo desta maneira grande valor ao profissional enfermeiro, elevando positivamente a imagem profissional e humana dos enfermeiros entre os idosos (LÓZ, 2015). 16 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Ainda nesse estudo supracitado foi apontado que um dos maiores desafios dentro da saúde do idoso é estabelecer vínculos entre profissionais e os pacientes. Mesmo assim, quando se trata deste aspecto o enfermeiro é visto como um profissional qualificado dentro da sua área e com habilidades para lidar com o público baseado em respeito e simpatia tornando uma contribuição enriquecedora (LÓZ, 2015). Idosos e cuidadores relatam que a consulta de enfermagem proporciona esclarecimento, conhecimento e bem-estar, assim o profissional de enfermagem, através da sistematização da assistência de enfermagem, estimula o interesse do cliente pelos problemas quanto aos cuidados, auxilia e adapta suas estratégias quando necessário (EMILIANO et al., 2017). O enfermeiro, como integrante da área de saúde, possui a responsabilidade direta no cumprimento do direito à saúde do idoso. Assegurando por meio do SUS acesso igualitário como previsto na lei. As ações se baseiam na prevenção de doenças, promoção e recuperação da saúde e atenção especial as doenças que afetam a longevidade (RODRIGUES et al., 2007). Devido a responsabilidade pelo cuidado direto ao idoso, a equipe de enfermagem ocupa uma posição de destaque, pois influencia diretamente na satisfação do paciente com o cuidado recebido, uma vez que, o enfermeiro também pode fazer parte da coordenação do trabalho com outros serviços hospitalares, além de compor a maioria do quadro de profissionais nas unidades de saúde (LIMA-JUNIOR, 2015). De uma forma geral as áreas de atuação na enfermagem com o idoso são: cadastramento em base territorial; atendimento em domicílios, unidades de saúde, unidades geriátricas e gerontológicas de referência com profissionais capacitados para trabalhar em tal área, garantir a aquisição e informar o direito do recebimento gratuito de medicamentos, especialmente os de uso continuado, assim como próteses, órteses e outros recursos relativos ao tratamento, habilitação ou reabilitação, dentre outros (RODRIGUES et al., 2007). A enfermagem atua também na garantia do conhecimento de seus direitos, levando informação a essa população, como por exemplo, a lei que permite quando o idoso estiver internado, tenha direito a acompanhante, devendo o órgão de saúde proporcionar condições adequadas durante a permanência, esse e outros direitos à saúde assegurada aos idosos (RODRIGUES et al., 2007). Para efetivar o cuidado competente dos profissionais, estes devem planejar e programar ações, estar aptos para lidar com questões inerentes ao processo de envelhecimento e estimular ao máximo a autonomia dos usuários. O profissional também precisa adaptar-se às rotinas existentes com os idosos que se apresentam emocionalmente instáveis, preocupados com doenças e expostos às fragilidades próprias de sua condição (DIAS et al., 2014). Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 17 CUIDADO INTEGRAL E HUMANIZADO DO ENFERMEIRO NO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO A humanização implica em estabelecer comunhão, depende diretamente da capacidade de conseguir dialogar com o outro, do falar e ouvir das pessoas, se refere ao atendimento das demandas biopsicossociais e espirituais dos indivíduos, tanto do profissional com o paciente. Portanto, para que haja harmonia nas relações, é imprescindível que a comunicação viabilize e facilite as relações e interações. Esta perspectiva se apoia na diretriz da Organização Mundial de Saúde (OMS) e o órgão da Organização das Nações Unidas (ONU), que definem saúde como o “estado de completo bem-estar físico, mental e social, não meramente ausência de doença ou enfermidade”. A partir desta definição, os cuidados nos órgãos de saúde devem partir da possibilidade de se colocar no lugar de outro que, por vezes vulnerável, encontrará na assistência suporte para enfrentar seus desafios (OLIVEIRA et al., 2016). Nesse sentido, Ganong, citado por Simões et al., afirma que: “Humanizar significa reconhecer as pessoas que buscam nos serviços de saúde a resolução de suas necessidades de saúde, como sujeitos de direitos [...] é observar cada pessoa em sua individualidade, em suas necessidades específicas, ampliando as possibilidades para que possa exercer sua autonomia.” (GANONG apud SIMÕES, 2007, p 82). O cuidado no atendimento é inerente à condição humana e deve se apresentar como dispositivo de apoio, sustentação e proteção sem o qual o ser humano não vive. Portanto, o profissional de saúde deve ter o cuidado de trabalhar com humildade, levando esperança e coragem aos pacientes. No âmbito profissional, o enfermeiro, deve extrapolar suas habilidades técnicas, que são indispensáveis nesse processo, e centrar o paciente como núcleo desse processo. Desse modo, é necessário estabelecer vínculos solidários e favorecer a construção de uma relação de confiança e compromisso com os usuários, com as equipes e os serviços, para garantir a participação coletiva no processo de saúde (DIAS et al., 2014). Considerando que a atuação do profissional de enfermagem é diretamente com o ser humano, o cuidado deve ser proporcionado de forma humana com base em uma abordagem integral, visualizando o paciente e não a patologia, valorizando sua individualidade e oferecendo uma assistência de qualidade, pautada numa relação empática (DIAS et al., 2014). E mais, é importante que, a enfermagem como executora do cuidado, priorize a humanização, onde se devem levar em conta as diferenças culturais, crenças e valores de cada indivíduo a fim de adequar o cuidado necessário ao bem estar do doente. Deste modo, é primordial que, a mesma, estabeleça padrões próprios de atendimento que leve, não só em consideração as necessidades do doente, como também de seus familiares (FAGUNDES, 2015). 18 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Quadro 2. Artigos que apresentaram os principais achados sobre o cuidado integral e humanizado do enfermeiro no processo de envelhecimento, organizados por data de publicação. Autor / ano Título Principais achados Categorias de análise Chernicharo et al., 2013. Humanização no cuidado de enfermagem: contribuição ao debate sobre a Política Nacional de Humanização. Do ponto de vista dos profissionais de enfermagem e dos usuários sobre a humanização do cuidado permeiam tanto as questões sociais (comunicação/diálogo, empatia, relação profissional/usuário) quanto às questões gerenciais (infraestrutura, materiais, recursos humanos). Cuidado integral e humanizado do enfermeiro no processo de envelhecimento. Sousa e Ribeiro, 2013. Prestar cuidados de enfermagem a pessoas idosas: experiências e impactos. Os enfermeiros precisam atender os aspetos éticos sobre os cuidados, tratamentos e processos de decisão. Percepção do idoso da assistência de enfermagem. Rissardo et al., 2017. Idosos atendidos em unidade de pronto-atendimento por condições sensíveis à atenção primária à saúde. O acolhimento e a construção do vínculo com o idoso fazem parte do processo de cuidar. O enfermeiro tem sua formação acadêmica voltada para a essência do cuidado. Cuidado integral e humanizado do enfermeiro no processo de envelhecimento. Veras e Oliveira, 2018. Envelhecer no Brasil: a construção de um modelo de cuidado. É preciso repensar e redesenhar o cuidado ao idoso, com foco nesse indivíduo e em suas particularidades, pois, isso trará benefícios aos idosos e a sustentabilidade ao sistema de saúde brasileiro. Cuidado integral e humanizado do enfermeiro no processo de envelhecimento. Melo et al., 2019. Humanitude na humanização da assistência a idosos: relato de experiência em um serviço de saúde. Promover na pessoa cuidada o sentimento de respeito pela sua liberdade, dignidade e autonomia, contribuindo para redução da agitação e aumento na aceitação dos cuidados. Cuidado integral e humanizado do enfermeiro no processo de envelhecimento. Jesus et al., 2019. Humanização da assistência de enfermagem ao paciente idoso na atenção básica A humanização promove autonomia e independência nas atividades diárias, além de focar na reabilitação e prestar um tratamento individual e integral a pessoa idosa. Cuidado integral e humanizado do enfermeiro no processo de envelhecimento. Rodrigues et al., 2019. Percepção dos idosos acerca da assistência humanizada de enfermagem frente ao mal de Parkinson. O profissional de enfermagem além de reconhecer a capacidade dos idosos em criticar suas ideias e se vê em condições de decidir, junto a ele, pela maneira a ser adotada, reconhecendo-o como cidadão de direitos. Cuidado integral e humanizado do enfermeiro no processo de envelhecimento. Fonte: Autoria própria. (2020) Desta forma a Política Nacional de Humanização (PNH) propõe que o acolhimento deve se fazer presente em todo momento do processo de atenção à saúde, apesar disso tem se percebido o não exercício desse acolhimento no cotidiano das instituições de saúde. O acolhimento é uma ação que deve amparar a construção de uma relação confiante e comprometida com os usuários, com as equipes e os serviços. Não só na enfermagem, como num todo, o profissional de saúde deve compreender as questões do processo de envelhecimento, facilitando acesso dos idosos aos diferentes níveis de atenção, bem como qualificar-se e estabelecer uma relação respeitosa com o idoso. Ações como chamá-lo pelo nome, considerar que o mesmo é capaz de compreender as perguntas e orientações e dirigir-se utilizado uma linguagem clara são exemplos simples de um atendimento humanizado (SILVA, 2018). Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 19 POLÍTICAS PÚBLICAS NO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO INTEGRAL HUMANIZADO Sendo um processo universal compreendido pela redução das atividades funcionais, o envelhecimento possui algumas tendências em relação às enfermidades que levam, continuamente, a construção de políticas públicas para idoso no mundo inteiro. Essas políticas por sua vez não são voltadas apenas para a terceira idade, inclui-se também os profissionais de saúde visando sua divulgação e implementação (CAMACHO et al., 2010). Em 1983 a Organização das Nações Unidas (ONU) publicou o Plano de Ação para o Envelhecimento (PAE), trata-se de um documento com recomendações exigidas como prioridades nos aspectos econômicos, culturais e sociais do processo de envelhecimento. Se baseia em garantir uma melhor assistência a essa fatia da população sob a responsabilidade de cada país, promovendo políticas sociais, assistência integral de ordem física, psicológica, cultural, religiosa/espiritual, econômica entre outros aspectos (RODRIGUES et al., 2007). Objetivando reafirmar as recomendações da ONU, a fim de defender e garantir os direitos da pessoa idosa, em 1994 foi promulgada a Lei de nº 8.842/94, que criou a Política Nacional do Idoso (PNI), mais um avanço da política do idoso. As diretrizes da PNI são: “Lei 8.842/94. Art. 3º. Priorização do atendimento familiar ao idoso e não o seu recolhimento a asilos, exceto quando o idoso é sozinho; busca de opções de integração entre os idosos e as demais gerações; participação do idoso no planejamento, desenvolvimento, implementação e avaliação de políticas, projetos, planos e programas de seu interesse; descentralização política administrativa; reciclagem e capacitação de novos profissionais nas áreas de geriatria, gerontologia e prestação de serviços; implementação de sistemas de informações que divulguem de forma educativa os aspectos biopsicossociais do envelhecimento; priorização de serviços públicos e privados prestadores de serviços; apoio a estudos e pesquisas sobre questões relativas ao envelhecimento” (BRASIL, 1994). Recentemente a PNI foi atualizada considerando o Pacto pela Saúde e suas Diretrizes Operacionais para a consolidação do SUS, reafirmando que existe a necessidade de enfrentamento dos desafios de um processo de envelhecimento que pode ser descrito por doenças e/ou condições crônicas não-transmissíveis, ainda assim suscetíveis de prevenção e controle. Dentre os desafios, destaca-se a escassez de equipes multidisciplinar que possuam conhecimento em envelhecimento e saúde da pessoa idosa (MARTINS et al., 2007). Ao observar atentamente o envelhecimento, percebe-se ganhos nos direitos e saúde do idoso, bem como promoção, autonomia, integração e participação efetiva da sociedade. A implementação de leis que proporcionam melhorias na qualidade de vida dos idosos, atendimento no âmbito familiar, assistência integral à saúde, acesso a informação, serviços 20 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 de atenção à pessoa portadora de deficiência, inclusão social, assistência global nos aspectos psicológicos, espirituais e sociais. (CAMACHO et al., 2010) Haja vista dos custos do sistema de saúde provocado pelas mudanças demográficas, a cronicidade do tratamento, a exigência de acompanhamento médico hospitalar e a necessidade de cuidados médio e longo prazo. A adaptação dos serviços de saúde para atender a crescente demanda em nível primário, secundário e/ou terciário é uma questão importante (LIMA et al., 2010). Sendo assim, surgiu o estatuto do idoso, Lei Federal n.º 10.741/03, visando garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à saúde, mediante efetivação de políticas sociais públicas que permitam um envelhecimento saudável e em condições de dignidade, quanto a atenção à saúde, deve-se assegurar por meio do SUS, garantindo acesso igualitário, em conjunto articulado de ações e serviços, para a prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde (BRASIL, 2003) Ainda assim, mesmo com o desenvolvimento de políticas que amparam o idoso, existe a necessidade de uma reorientação dos serviços de saúde, rediscutindo estratégias preventivas de promoção a saúde, uma vez que, se os problemas de saúde do idoso não forem abordados adequadamente poderá impactar negativamente no sistema de saúde, devido as demandas epidemiológicas decorrentes (CAMACHO et al., 2010; LIMA et al., 2010). CONCLUSÃO O estudo buscou descrever o cuidado integral e humanizado do enfermeiro no processo de envelhecimento a partir da literatura especializada. Assim, é possível reafirmar a importância deste profissional nos serviços de saúde, uma vez que a atuação do enfermeiro é direta com o paciente, sendo o profissional de enfermagem é responsável por fornecer a essa fatia da população um atendimento humanizado e adequado. No que se refere a humanização em saúde, parte do princípio em que se deve respeitar a vida humana, independente da sua idade, levando-se em conta as circunstâncias sociais, éticas, educacionais e psíquicas presentes em todo relacionamento humano. Apesar dos avanços da saúde com a implementação de algumas diretrizes da Política Nacional de Atenção à Saúde do Idoso, ainda há muito que ser feito em relação aos profissionais de saúde, como: interação entre equipes, capacitação profissional, mais aproximação de profissionais de saúde frente as políticas públicas de saúde, para que assim idosos possam desfrutar de seus direitos e um atendimento de qualidade. Deste modo, a partir das informações adquiridas neste trabalho, conclui-se que é de suma importância pensar e repensar a estrutura e processo de trabalho nos serviços hospitalares. Novas competências são exigidas ao trabalho em saúde. Além disso, percebe-se Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 21 uma necessidade de reformulação dos serviços de saúde para o atendimento demandas emergentes oriundas desse novo perfil epidemiológico do país. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. BRASIL. Estatuto do Idoso / Ministério da Saúde. – 2.ª ed., 1.ª reimpr. – Brasília: Ministério da Saúde, 2003. Disponível em: <https://urless.in/D1N09>. Acesso em: 31.08.2019. CAMACHO, Alessandra Conceição Leite Fuchal; COELHO, Maria José. Políticas públicas para a saúde do idoso: revisão sistemática. Revista Brasileira de Enfermagem, v.63, n.2, p.27984, 2010. Disponível em: <https://urless.in/jSBHo>. Acesso em: 31.08.2019. 4. CHERNUCHARO, Isis de Moraes; FREITAS, Fernanda Duarte da Silva; FERREIRA, Marcia de Assunção. Humanização no cuidado de enfermagem: contribuição ao debate sobre a Política Nacional de Humanização. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 66, n.4, p.830-839, 2013. Disponível em: <https://urless.in/Ud9su>. Acesso em: 31.08.2019. 5. DAMASCENO, Caroline Kilcia.Carvalho Sena; SOUSA, Cristina Maria Miranda de. Análise sobre as políticas públicas de atenção ao idoso no Brasil. Revista Interdisciplinar, v.9, n.3, p.185-90, 2016. Disponível em: < https://urless.in/OwfIc>. 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LIMA, Thaís Jaqueline Viera de; ARCIERI, Renato Moreira; GARBIN, Cléa Adas Saliba et al. Humanização na atenção básica de saúde na percepção de idosos. Saúde e Sociedade, v.23, n.1, p.265-276, 2014. Disponível em: <https://urless.in/BBQRc >. Acesso em: 25.08.2019. LIMA - JUNIOR, José de Ribamar Medeiros; SARDINHA, Ana Hélia de Lima; GONCALVES, Lucia HisakoTokase. et al. Cuidados de enfermagem e satisfação de idosos hospitalizados. O mundo da saúde, v.39, n.4, p.419-32, 2015. Disponível em: <https://urless.in/VLy45>. Acesso em: 23.08.2019. 14. LÓZ, Rafaela Brito Gomes. A percepção do idoso quanto à assistência de enfermagem prestada em uma unidade básica de saúde do município de Boa Vista/RR. Anais CIEH, v.2, n.1, 2015. Disponível em: <https://urless.in/9sGXs>. Acesso em: 25.08.2019. 15. MARTINS, Josiane de Jesus; SCHIER, Jordelina; ERDMANN, Lorenzini et al. 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Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 02 “ A experiência no cuidado domiciliar ao idoso sequelado por acidente vascular encefálico sob perspectiva de familiares Françuelda Pereira Nóbrega UNIPÊ Rosilene Alves de Almeida UNIPÊ/HULW Francisca das Chagas Alves de Almeida UNIPÊ Rosangela Alves Almeida Bastos HULW Rosimery Alves de Almeida UFC 10.37885/201102284 RESUMO Introdução: a experiência de cuidar de idosos acometidos por Acidente Vascular Encefálico (AVE) em casa tem se tornado cada vez mais frequente no cotidiano das famílias. Diante disso, a família, prestadora direta de tais cuidados, necessita estar preparada para esse fim. O núcleo familiar, entretanto, encontra-se desestruturado devido ao impacto da doença e, com isso, a família pode apresentar dificuldades em assistir ao paciente por conta das restrições. Objetivo: descrever a experiência domiciliar do cuidador de idoso acometido por AVE. Métodos: estudo exploratório descritivo com abordagem quanti-qualitativa, desenvolvido numa Unidade de Básica de Saúde de João Pessoa/PB, de janeiro a fevereiro de 2008. Participaram do estudo 10 familiares de pacientes sequelados por AVE, identificados como cuidadores familiares. A coleta de dados foi feita no domicílio dos cuidadores por meio de um roteiro de entrevista. Os dados quantitativos foram analisados no Microsoft Excel e os qualitativos foram analisados utilizando-se a técnica do Discurso do Sujeito Coletivo. Foram respeitadas as observâncias éticas das pesquisas com seres humanos. Resultados: foram abstraídas 5 ideias centrais - a doença dele (a) mudou a minha vida; cuidar dele (a) é uma tarefa difícil; gosto de cuidar e vou cuidar até o fim; quando eu peço, recebo ajuda nos serviços de casa e nos cuidados com ele (a); cuido dele (a) sozinha. Conclusão: percebeu-se o surgimento de sentimentos de carinho, prazer, obrigação, gratidão e até mesmo conformismo diante da situação vivida. A relação de parentesco e os laços afetivos influenciam muito na escolha de quem vai se tornar o cuidador domiciliar. Palavras-chave: Cuidado Domiciliar, Idoso, Acidente Vascular Encefálico. INTRODUÇÃO Desde a década de 1940 o Brasil vem passando por grandes transformações no que diz respeito à saúde, uma delas é a inversão das curvas de mortalidade, onde há um declínio de mortes por doenças infecciosas e um expressivo aumento por doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) e causas externas (BOCCHI, 2005). Esse processo é observado, também, em todos os países desenvolvidos, nos quais a população idosa é cada vez mais expressiva, sendo conhecido por fenômeno de transição epidemiológica (BRASIL, 2000). Embora as doenças físicas possam assumir uma variedade de formas, suscitando na maioria das vezes hospitalização, é no âmbito familiar que, cada vez mais, se concretiza a fase de reabilitação; por isso os profissionais precisam instrumentalizarem-se para o oferecimento de uma assistência de qualidade no domicílio, a qual deve envolver o paciente e todo o contexto social em que ele vive. Dentre essas doenças o Acidente Vascular Encefálico (AVE/AVE), a partir da década de 1990, aparece como uma das principais causas de internações, deficiências e mortalidade, chegando a superar o câncer e as doenças cardíacas, acometendo principalmente a faixa etária acima de 50 anos (BOCCHI, 2005). O AVE, conforme Roach (2003), mas comumente conhecido e chamado de “derrame cerebral”, é caracterizado por uma incapacidade súbita da circulação cerebral causada por um bloqueio parcial ou total dos vasos sanguíneos cerebrais e pode ocorrer por dois motivos: isquemia ou hemorragia. Cruz (1997) define o AVE como um déficit neurológico que tem um início súbito e dura mais de 24 horas, resultante de doença vascular cerebral (DVC). Os episódios com duração inferior a 24 horas são categorizados como Acidentes Isquêmicos Transitórios (AIT), os quais em 10% dos casos precedem o AVE (DIEPENBROCK, 2005). Estima-se que no mundo, cerca de 300 em cada 100.000 pessoas, apresente doenças cerebrovasculares havendo predominância entre os homens, com idade entre 45 e 84 anos, para população estudada entre as décadas de 1980 e 1990. Estudos mostram que no Brasil as doenças cerebrovasculares são responsáveis por um terço das mortes anuais entre as doenças do aparelho circulatório conforme dados obtidos nos anos 80 a 95 (SILVA, 2004). Pode-se afirmar que o AVE é uma doença crônica que causa incapacidade e deficiências, que variam dependendo da área afetada e de sua extensão, levando o indivíduo a tornar-se dependente dos cuidados de outras pessoas afetando, portanto, a sua vida pessoal, familiar e social. A experiência de cuidar de idosos acometidos por AVE em casa tem se tornado cada vez mais frequente no cotidiano das famílias. Os cuidados domiciliares são elementos fundamentais ao tratamento, considerando que o período de reabilitação após o AVE pode ser bastante prolongado. Diante disso, a família, prestadora direta de tais cuidados, necessita Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 27 estar preparada para esse fim. O núcleo familiar, entretanto, encontra-se desestruturado devido ao impacto da doença e, com isso, a família pode apresentar dificuldades em assistir ao paciente por conta das restrições a ele impostas. OBJETIVO Descrever a experiência domiciliar de cuidadores de idoso acometido por acidente vascular encefálico. MÉTODOS Trata-se de um estudo exploratório descritivo, com abordagem quanti-qualitativa. A pesquisa foi desenvolvida numa Unidade de Básica de Saúde (UBS) de João Pessoa/PB, tendo em vista que nesta havia, à época, um grupo de apoio aos sequelados de AVE, no qual frequentavam pacientes e seus familiares, favorecendo a identificação e o acesso aos sujeitos da pesquisa. Participaram do estudo familiares de pacientes com sequelas de AVE, identificados como cuidadores familiares. Para definição do número de sujeitos entrevistados foi utilizado o critério de saturação de dados, chegando-se a uma amostra de 10 participantes, selecionados de acordo com a disponibilidade destas pessoas, levando em consideração a participação voluntária na pesquisa após a explicação dos objetivos do trabalho e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). A coleta de dados ocorreu nos meses janeiro de 2008 e fevereiro de 2008, nos domicílios dos cuidadores, conforme disponibilidade dos mesmos, onde os participantes responderam ao roteiro da entrevista, sendo suas respostas gravadas e posteriormente ouvidas pelo mesmo para confirmação das informações e, posteriormente, transcritas pelo entrevistador. Utilizou-se um roteiro de entrevista semiestruturado contendo questões objetivas de identificação da amostra e subjetivas pertinentes aos objetivos do estudo. Os dados quantitativos foram analisados no programa Microsoft Excel, versão XP, através do índice de frequência e percentual, com representação por meio de gráficos e tabelas. Os dados qualitativos foram analisados utilizando-se a técnica do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) proposto por Lefèvre e Lefèvre (2003) que consiste em um conjunto de falas individuais, onde são retiradas as ideias para a construção de um discurso-síntese que representa o pensamento coletivo, que contempla as seguintes etapas: seleção das expressões-chave; destaque das ideias centrais; identificação das ideias centrais; ereunião das ideias centrais e semelhantes com mesmo sentido em grupos identificados por letras ou outro código; denominação de cada grupo que expresse da melhor maneira possível 28 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 as ideias centrais e semelhantes e; construção de um discurso síntese que corresponde à construção do discurso do sujeito coletivo. Foram respeitadas as observâncias éticas da Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, que normatiza a pesquisa envolvendo seres humanos, no se refere à participação voluntária, confidencialidade dos dados, anonimato, desistência a qualquer momento da pesquisa e permissão para publicação dos resultados do estudo. O projeto foi apreciado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba. RESULTADOS E DISCUSSÃO Caracterização da amostra Tabela 1. Distribuição dos participantes da pesquisa em percentual segundo idade, faixa etária e estado civil. João Pessoa/ PB, 2008. VARIÁVEIS SEXO FAIXA ETÁRIA ESTADO CIVIL N % Feminino 09 90 Masculino 01 10 24-30 Anos 03 30 30-40 Anos 01 10 40-50 Anos 02 20 50-60 Anos 03 30 > 60 Anos 01 10 Casado (a) 07 70 Solteiro (a) 01 10 Divorciado (a) 02 20 Legenda: N – número; % - porcentagem. Conforme disposto na Tabela 1, a amostra da pesquisa foi composta por 10 cuidadores, sendo a maioria mulheres (90%). A partir destes dados, percebe-se a maior participação de mulheres na pesquisa relacionando-se com as questões históricas e culturais que destacam o papel da mulher como cuidadora na nossa sociedade. Neste sentido, Denardin (1997) afirma que a mulher é detentora do saber sobre o cuidar, ela realiza o cuidado durante toda a sua vida sendo a responsável por conduzir os conhecimentos sobre o mesmo às outras mulheres e assim sucessivamente. Com relação à idade os cuidadores tinham idades entre 24 e 63 anos, com idade média de 43 anos, observando-se uma maior concentração nas faixas entre 24 a 30 anos e 50 a 60 anos, com igual distribuição (30%) cada, seguida da faixa entre 40 a 50 anos (20%). No que diz respeito ao estado civil, percebe-se a maioria dos entrevistados (70%) eram casados, 2 (20%) divorciados e apenas 1 (10%) era solteiro. Relacionando-se ao sexo dos participantes, observa-se no sexo feminino as casadas e divorciadas, e constatando-se a participação de apenas uma pessoa solteira sendo do sexo masculino. Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 29 A maioria dos entrevistados se referiu ao ato de cuidar como uma obrigação e uma responsabilidade inerente ao casamento, onde o cuidar do outro faz parte do projeto de vida das pessoas, muitas vezes a mulher mesmo se separando do esposo, por ocasião da doença ela volta a ocupar o lugar de cuidadora, é como se ela continuasse com aquela obrigação: a questão do cuidar, muitas vezes porque “é o pai dos meus filhos”, ”não vou abandona-lo”, na impossibilidade do conjugue desempenhar essa tarefa de cuidar ou quando é falecido, essa responsabilidade passa a ser assumida pelos filhos. Tabela 2. Distribuição dos participantes da pesquisa segundo escolaridade, profissão/ocupação, renda familiar, grau de parentesco e tempo que cuida do idoso sequelado por AVE. João Pessoa/PB, 2008. VARIÁVEIS ESCOLARIDADE PROFISSÃO/ OCUPAÇÃO RENDA FAMILIAR GRAU DE PARENTESCO TEMPO QUE CUIDA DO IDOSO N % Analfabeto 01 10 Ensino Fundamental incompleto 05 50 Ensino médio incompleto 04 40 Do lar 01 10 Estudante 09 90 Menos de 1 salário mínimo 01 10 1 a 2 salários mínimos 06 60 2 a 3 salários mínimos 02 20 Mais de 3 salários mínimos 01 10 Esposa 04 40 Cunhada 01 10 Filha 03 30 Neta 01 10 Nora 01 10 1 a 3 anos 03 30 3 a 6 anos 02 20 6 a 9 anos 05 50 Legenda: N – número; % - porcentagem; AVE – Acidente Vascular Encefálico. Conforme mostrado na Tabela 2, em relação à escolaridade, quatro (40%) dos dez entrevistados declaram ter o segundo grau incompleto, no entanto, a amostra também inclui cinco (50%) que declaram ter o primeiro grau incompleto e um (10%) analfabeto. Percebese, portanto, que a maioria tem baixo nível de escolaridade, corroborando com o que afirma Resta (2004), quando diz que o nível de escolaridade dos cuidadores pode influenciar na capacidade de cuidar, pois são os cuidadores que recebem as orientações da equipe de saúde e eles podem ter dificuldade de compreender as informações prestadas pelos profissionais que muitas vezes usam uma linguagem científica para esclarecer dúvidas sobre as alterações que ocorrem com o paciente sequelado de AVE. Respondendo ao item profissão/ocupação 90% dos cuidadores declararam ser do lar e apenas 10% declarou ser estudante, sendo este índice representado por um sujeito que também desempenha atividades domésticas e que tem dificuldades em conciliar os estudos, com as atividades do lar e os cuidados ao pai sequelado de AVE. 30 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Todos os entrevistados para se tornarem cuidadores, tiveram mudanças no cotidiano devido ao tempo dedicado ao paciente, aparecendo com maior freqüência o abandono de atividades remuneradas que desempenhavam fora de casa e outras atividades que tiveram de ser abandonadas foram os estudos. Outros aspectos de suas vidas como o autocuidado, o cuidado com os filhos e o lazer foram comprometidas. Essas mudanças em suas vidas, repercutem de forma significativa na situação socioeconômica das famílias, principalmente o fato de deixar de trabalhar fora de casa, pois já viviam em condições financeiras precárias ou razoáveis antes de se tornarem cuidadores familiares, e depois de terem um familiar com sequelas de AVE a dificuldade aumentou proporcionalmente com as demandas financeira requeridas pelas condições do familiar doente (KARSCH, 2003). Com relação a renda familiar observamos que 60% dos cuidadores declararam ter renda familiar mensal entre 1 e 2 salários, 20% dizem ter renda familiar entre 2 e 3 salários mínimos, 10% sobrevivem com renda abaixo de 1 salário e apenas 10% declaram ter renda familiar superior a 3 salários mínimos. Como a maioria dos cuidadores não trabalham fora de casa, portanto, dependem das aposentadorias recebidas e pertencentes aos sequelados de AVE, sendo muitas vezes, essa renda a única fonte de sustentação da família, onde a mesma não é suficiente para atender as necessidades do paciente e da família que vive no mesmo domicílio (Tabela 2). Diante disto é visível que a dificuldade financeira favorece o desgaste emocional do cuidador diante de impossibilidade de atender todas as necessidades do paciente e que a doença exige (CATTANI; GIRARDON-PERLINI, 2004). Neste sentido, ressaltamos a necessidade de inclusão dessa clientela nas políticas de saúde para que possam ser alvo de uma assistência humanizadora que os focalize de forma holística, com vistas a atender as demandas sóciais e econômicas que emergem em decorrência da doença. No que diz respeito ao grau parentesco do cuidador com o paciente, foi observado que a maior parte era composta por esposas (40%), logo depois pelos filhos (a) (30%), aparecendo também em menor freqüência a figura da neta (10%), da cunhada (10%) e da nora (10%). Mais uma vez os dados levantados no estudo reforçam que o papel de cuidador é desempenhado no domicílio pela figura feminina e que o parentesco tem assumido uma grande influência na escolha do cuidador. Segundo Laham (2003), quanto mais estreitos os laços familiares, maiores são as chances dessa pessoa se tornar um cuidador familiar, predominando a figura dos cônjuges e dos filhos. Neste estudo, os cônjuges vêem o cuidar como um dever matrimonial abençoado por Deus e, portanto, deve ser cumprido até a morte, conforme se observa nas expressões: “ele é meu marido né, tenho que cuidar” (Tabela 2). Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 31 Pavarini (2001) diz que na impossibilidade do cônjuge desempenhar essa tarefa de cuidar ou quando é falecido, passa a ser assumida pelos filhos, essa responsabilidade conhecida como “obrigação filial”, por ter uma ligação familiar mais próxima e culturalmente determinada pela sociedade. O tempo em que os sujeitos da pesquisa desempenhavam as atividades de cuidar no domicílio foi de 1 a 9 anos, com uma média de 5 anos, onde (50%) já estavam cuidando de sequelados de AVE há aproximadamente 6 a 9 anos, (30%) cuidavam de 1 a 3 anos e (20%) estavam sendo cuidadores familiares há aproximadamente 3 a 6 anos. Isso nos mostra que o AVE pode deixar sequelas que repercutem para sempre na vida dos pacientes, as quais mudam de forma radical a vida daquele que se torna o cuidador domiciliar, seja o esposo (a), filho (a), neto (a), nora. Cuidar diariamente de alguém com sequelas de AVE durante anos, é uma atividade absorvedora, que está diretamente ligada ao nível de dependência do paciente, ocasionando mudanças no estilo de vida dos cuidadores deixando-os sobrecarregados (KARSCH, 1998). Tudo isso conduz ao estresse físico e emocional, levando muitas vezes ao surgimento de doenças por falta de tempo para desempenhar atividades que costumavam ser realizadas antes, deixando de lado o lazer, as amizades, procurando o isolamento (MOREIRA, 2004; CARTER et. al 2001). Ideias Centrais e Discurso do Sujeito Coletivo Quadro 1. Ideias centrais e discurso do sujeito coletivo em resposta a questão 1: Fale sobre a sua experiência no cuidado ao paciente sequelado de AVE sob sua responsabilidade. João Pessoa/PB, 2008. Ideia central – 1 DSC - 1 A doença dele (a) mudou a minha vida. A doença dela mudou a minha vida, eu cuido dela o dia inteiro, eu já acordo com ela me chamando para ir ao banheiro, então de manhã até me deitar de noite, é essa luta dentro de casa, por isso nem saio mais de casa, porque fico preocupada em deixar ela em casa e ninguém, olhar. A minha vida gira em torno dele, não faço nada pra mim, não cuido de mim, nem tenho tempo p ir a uma igreja se quer, não ganho meus trocados mais, deixei de trabalhar fora de casa, não vou deixar ele morrer a míngua. Ideia central – 2 DSC - 2 Cuidar dele (a) é uma tarefa difícil. Ideia central – 3 DSC - 3 Gosto de cuidar e vou cuidar até o fim 32 A experiência que tenho né, é no cuidado com ele, na alimentação dele, eu que faço tudo, não deixo ele fazer nada sozinho, o que eu posso dizer é que é muito difícil cuidar dele. Já sofri muito desde que essa criatura adoeceu. Cuidar dele é uma tarefa difícil, ele já está nessa situação há muito tempo, trabalho demais, levanto ele da cama, deito ele na cama, coloco na cadeira, tudo sou eu. Eu gosto de cuidar, dá um pouco de trabalho, mas eu cuido, ela é minha avó, cuidou de mim a vida toda e agora tenho que cuidar dela, fico até feliz quando vejo ela sorrindo. [...] faz oito anos que eu cuido dela, sei cuidar dela direitinho, coloco ela na cadeira de rodas, arrumo ela todinha e como você pode ver, gosto de ver ela sempre limpinha e cheirosa assim, a família é para essas coisas mesmo né? [...] vou cuidar dele até o fim, ele é meu marido. Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 A ideia central 1 (Quadro 1) revela que houve mudanças no estilo de vida dos entrevistados após se tornarem cuidadores domiciliares de pacientes sequelados de AVE, pois todo o seu tempo é destinado ao cuidar, deixando de lado suas atividades que desempenhava antes como fonte de sustento financeiro, lazer entre outros. Conforme Cattani e Girardon-Perlini (2004), as mudanças correspondem à reacomodação de atividades com reconstrução de horários, preparos de alimentação especial e adequada para o paciente, administração de medicamentos, higiene pessoal, locomoção, entre outras. Para Bocchi (2004) e Moreira (2004) os cuidadores que permanecem assistindo o paciente por mais de 12 horas diárias sofrem mudanças radicais no seu cotidiano, sobrecarregando-se física e mentalmente a ponto de se afastar de pessoas do seu convívio. Em decorrência disso ocorre um distanciamento de seus amigos e familiares “devido ao medo do comprometimento sem fim (mudança na vida pessoal; peso das tarefas; características do paciente que podem estressar o cuidador; falta de paciência/segurança nos procedimentos de cuidados e etc.” (MOREIRA, 2004). Na ideia central 2 (Quadro 2) percebe-se que a experiência de cuidar tornou- se uma tarefa difícil para os cuidadores que relatam ter dificuldades em desenvolver atividades simples do cotidiano, mas que, pelo nível de dependência do idoso, torna-se uma tarefa árdua. Segundo Cattani e Girardon-Perlini (2004), os mesmos dependem parcial ou totalmente de um cuidador, que tende a assistir o sequelado em todas as suas necessidades, indo desde um simples banho, uma caminhada dentro de casa, ou até mesmo para levanta-se ou deitar-se na cama, estabelecendo uma sobrecarga de atividades que antes eram desempenhadas pelo próprio idoso. Na ideia central 3, observa-se que os discursos, ao contrário das demais, é positivo, visto que os entrevistados relataram esse cuidar como um forma de reconhecimento pela atenção recebida no passado e demonstram ter prazer em poder retribuir em forma de cuidados. Outras pessoas referem-se ao cuidar como uma obrigação do cônjuge. Ferreira (1999) afirma que o cuidar se manifesta como um objeto de afeição, transformando o amor numa forma de compromisso com o outro, entendendo se como uma obrigação matrimonial, tanto do esposo como de esposa. Cattani e Girardon-Perlini (2004) referenciando Mendes (1995) citam que: Os cuidadores entendem a atividade de cuidar como um dever moral decorrente das relações pessoais e familiares inscritas na esfera doméstica, visto que muitos cuidadores não se viam como tais e, a partir do momento que necessitam desempenhar tal papel, o assumem como uma exigência decorrente do viver em família. (p. 260). Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 33 Quadro 2. Ideia central e discurso do sujeito coletivo em resposta a questão 2: Conta com o apoio de outras pessoas no cuidado ao paciente? De que forma? João Pessoa/PB, 2008. Ideia central – 1 DSC - 1 Sim, quando eu peço, recebo ajuda nos serviços de casa e nos cuidados com ele (a). Sim, quando eu peço, quando estou muito ocupada, a minha irmã e o meu irmão que é o marido dela, me ajudam muito, nos serviços de casa, nos serviços com ela, ajudam a dar banho a vestir a roupa, faz uma comida, passeiam com ela na calçada. Mas eu tenho que pedi, as vezes quando eu preciso sair para ir ao banco receber o dinheiro dele, no mercadinho fazer a feira, ai eu chamo uma prima dele para ficar com ele aqui em casa enquanto eu vou, mas, é só para olhar ele mesmo enquanto eu não chego, ou se ele pedir um copo de água, essas coisas. Mas eu tenho que pedi. Ideia central – 2 DSC - 2 Não, cuido dele(a) sozinha. Não, aqui em casa só tem eu mesma, meu marido trabalha fora e eu tenho 7 irmãos, mas ninguém tem a coragem de vir aqui me ajudar. Só eu e Deus. Eu cuido dela sozinha , a casa aqui tem mais gente mais ninguém me ajuda. Na ideia central 1 (Quadro 2) os entrevistados relatam receber ajuda de outras pessoas no cuidado com o idoso somente quando solicitada, que as pessoas nunca se oferecem voluntariamente, deixando a responsabilidade do cuidado exclusivamente para aquele que mora no mesmo domicílio que o sequelado. De acordo com Menezes (1994), isso mostra que as pessoas ajudam sim, mas não querem se envolver na responsabilidade de ser cuidador por medo da responsabilidade e da sobrecarga de trabalhos. Ainda verificando os possíveis apoios recebidos pelos cuidadores para cuidar do sequelado de AVE, a Ideia Central 2 expressa que o fato de assumir a responsabilidade de cuidar, muitas vezes não é feito por uma escolha, mas, por uma imposição circunstancial, por falta de ajuda de outras pessoas da família, o cuidado passando a ser tarefa solitária e sobrecarregante. Isso é confirmado por Karsch (1998), quando diz que os não cuidadores se distanciam, à medida que o cuidador mostra emprenho e dedicação no cuidado para com o doente, sendo difícil ocorrer a mudança de responsabilidades de um familiar para outro. Menezes (1994) diz que por vontade, disponibilidade, ou capacidade, a responsabilidade do cuidar no domicílio, é assumida por uma única pessoa e por isso ocorre uma sobrecarga de tarefas. Isso pode ser visto neste estudo pelo fato de os cuidadores mencionarem que tem outras pessoas na família, como irmão por exemplo, mas que ninguém se disponibiliza a cuidar ou até mesmo a ajudar em algumas tarefas. CONCLUSÃO O presente estudo nos permitiu conhecer a realidade de muitas famílias que passam por situações difíceis, onde os cuidadores familiares muitas vezes assumem este papel 34 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 movidos pelo sentimento de gratidão, de obrigação ou até mesmo pela indisponibilidade de outra pessoa para desempenhar o cuidado ao familiar o que contribui de forma negativa no dia-a-dia das mesmas. No decorrer da pesquisa observamos que a relação de parentesco e os laços afetivos, influenciam muito na escolha de quem vai se tornar o cuidador domiciliar que corresponde na maioria das vezes a figura feminina, sendo esposas, filhas, netas, noras, enfim, mostrando – nos que, quanto mais estreita for a relação maiores são as chances daquela pessoa se tornar um cuidador domiciliar, . Nos discursos , pudemos analisar o surgimento de sentimentos de carinho, prazer, obrigação, gratidão e até mesmo conformismo diante da situação vivida e que o cuidado desempenhado pelo cuidador domiciliar compreende a muitos enigmas a serem desvendados. Por fim, é necessário que se realize mais pesquisas abordando as dificuldades, repercussões físicas e mentais dos cuidadores , pois a partir de conhecimentos mais profundos da realidades dessas pessoas será possível traçar metas e interveções que possam solucionar os principais problemas encontrados. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. BOCCHI, S. C. M.; ÂNGELO, M. Interação cuidador família - pessoa com AVC: autonomia compartilhada. Ciência & Saúde Coletiva, v.10, n.3, p.729-738, 2005. BOCCHI, S. C. M. Vivenciando a sobrecarga ao vir-a-ser um cuidador familiar de pessoa com acidente vascular cerebral (AVC): análise do conhecimento. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v.12, n.1, p.115-121, 2004. BRASIL. Ministério da Saúde. Programas e projetos: doenças cardiovasculares. Disponível em: http://www.saúde.gov.br. Acesso em: 24 out. 2000. 4. CATTANI, R. B.; GIRARDON-PERLINI, N. M.O. Cuidar do idoso doente no domicílio na voz de cuidadores familiares. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 06, n. 02, p. 254-271, 2004. 5. CRUZ, I. C. F. Cuidados Intensivos de Enfermagem: Uma abordagem holística. 6 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1997. 6. DENARDIN-BUDÓ, M. L. A mulher como cuidadora no contexto familiar de uma comunidade rural de imigração italiana. Texto Contexto Enfermagem, Florianópolis, v.6, n.1, p.181-197, jan./abr. 1997. 7. 8. 9. DIEPENBROCK, N. H. Cuidados intensivos. 2.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2005. KARSCH, U. M. S; Envelhecimento com dependência: revelando cuidadores. São Paulo: EDUC, 1998. KARSCH, U. M. S. Idosos dependentes: familiares e cuidadores. Cadernos de Saúde Pública, v.19, n.3, p.861-866, jun.2003. Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 35 10. 11. 12. 13. LEFÉVRE, F.; LEFÉVRE, A. M. C. O cuidado do sujeito coletivo; um novo enfoque em pesquisa qualitativa (desdobramentos). Caxias do Sul: EDUCS, 2003. MENDES, P. M. T. Cuidadores: heróis anônimos do cotidiano. [Dissertação]. São Paulo (SP): Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; 1995. MENEZES, A. K. Cuidados à pessoa idosa: reflexões gerais. In: Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Caminhos do Envelhecer. Rio de Janeiro: Revinter, 1994. 14. MOREIRA, A. C. A; Cuidado domiciliar a pessoa acometida por acidente vascular cerebral (AVC) na perspectiva da teoria das necessidades humanas básicas de Wanda Horta. Monografia (Especialização). Universidade Estadual do Vale do Aracaú, 2004. 15. PAVARINI, et al. De necessidades à intervenção: etapas na organização de um serviço de orientação para cuidadores de idosos. In: Seminário De Metodologia para Projetos de Extensão, 4, 2001, São Carlos. Anais...São Carlos [s.n.], 2001. 16. SILVA, F. Acidente Vascular Cerebral Isquêmico – Prevenção: Aspectos atuais – É preciso agir. Medicina Interna, v.11, n. 2, 2004. 17. 36 LAHAM, C. F. Percepção de perdas e ganhos subjetivos entre cuidadores de pacientes atendidos em um programa de assistência domiciliar. 2003 [Dissertação]. São Paulo (SP): Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo; 2003. ROACH, Sally. Introdução à enfermagem gerontológica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 03 “ A influência da cinesioterapia no arranjo lombopélvico e na incontinência urinária da mulher idosa Fabiana da Silveira Bianchi Perez UNIFAN Anna Claudia Sentanin UNIFAN Luciana Roberta Tenório Peixoto UnB Adson Ferreira da Rocha UnB 10.37885/201202402 RESUMO Introdução: A Incontinência Urinária é uma condição em que ocorre a perda involuntária de urina, que gera um problema social ou higiênico. É classificada de vários tipos, as mais presentes na idosa são de esforço, urge-urgência e persistente. Objetivo: O objetivo do estudo foi realizar uma revisão bibliográfica por meio da seleção e análise criteriosa de artigos científicos que relatem a abordagem cinesioterapêutica em incontinência urinária na mulher idosa. Materiais e métodos: foi realizada uma revisão bibliográfica em livros e em bases de dados eletrônicos SciELO e LILACS, buscando artigos publicados entre 2003 a 2020. Os Palavras-chave utilizados foram: incontinência urinária, idoso e Cinesioterapia, biomecânica lombopélvica, tanto em língua portuguesa quanto em língua inglesa. Resultados: Somando-se todos os bancos de dados, obteve-se um total de 12 artigos utilizados neste estudo. Discussão: vários estudos demonstraram a importância do tratamento de cinesioterapia na paciente idosa com diagnóstico de incontinência urinaria. Considerações finais: De acordo com a revisão apresentada, a abordagem cinesioterapêutica na idosa conduz a um desfecho, a um melhor equilíbrio, força muscular da musculatura pélvica e estabilidade na marcha. Palavras-chaves: Idoso, Incontinência Urinária, Biomecânica Lombopélvica, Cinesioterapia (em Língua Portuguesa e em Língua Inglesa). INTRODUÇÃO O envelhecimento é um processo dinâmico, cumulativo e sequencial que atinge todos os seres vivos. No ser humano, o envelhecimento acontece de forma gradual, universal, irreversível e individual, conforme o estilo de vida e a qualidade do ambiente em que vive. De forma que o envelhecer seja um resultado de uma somatória de alterações orgânicas, bioquímicas, morfológicas, psicológicas e funcionais intrínsecas deste processo natural do envelhecimento, que é denominado de senescência; nele, o indivíduo idoso mantém sua autonomia, preservando sua qualidade de vida. No entanto, quando essas alterações vêm vinculadas a modificações determinadas por afecções que frequentemente acometem os idosos, o idoso pode ter qualidade e tempo de vida comprometidos; esse processo não desejável é denominado senilidade. (OMS, 2015; FLATT, 2012; CIOSAK et al., 2011, REBELLATO, 2007; MONACO et al., 2009; CAVALHEIRO, GRENZEL & MATOS, 2007). Segundo estatísticas do IBGE, em 2050 o mundo terá 2 bilhões de idosos (IBGE,2018). Segundo o PNDA (2018), entre 2012 e 2017, a população brasileira teve um aumento de 4,8 milhões de idosos (18%) – 56% desta população são mulheres enquanto os homens idosos são 13,3 milhões (44% deste grupo etário). Para Araújo (2011), em 2025, no Brasil, os números indicam que a população idosa brasileira será a sexta maior população mundial, perfazendo por volta de 15% da população total brasileira, que corresponderá a cerca de 30 milhões de idosos. E a terminologia idoso é dada a toda pessoa com idade acima de 60 ou 65 anos segundo a OMS, 2010; considera-se que o termo “idoso” expressa o resultado final do processo de envelhecimento e a velhice é a fase da vida caracterizada por redução da capacidade funcional, da resistência, capacidade de trabalho, caníce, calvície, perdas de papéis sociais, perdas psicológicas, solidão, perdas afetivas e motoras. Logo, envelhecimento e doença não são fatores intimamente interligados ou interdependentes. Cada pessoa envelhece a seu modo, e muitas variáveis influenciam esse processo, como a origem, o sexo, o local em que vive, as experiências vivenciadas e aptidões para a vida (OMS, 2015; FLATT, 2012; CIOSAK et al, 2011). O termo envelhecimento saudável denota o processo de envelhecimento acompanhado de desenvolvimento e manutenção da capacidade funcional, física e cognitiva, que permite o bem-estar em idade avançada acompanhada de uma postura ativa perante a vida e a sociedade, com baixa suscetibilidade a doenças. Por outro lado, o envelhecimento com fragilidade é caracterizado pela vulnerabilidade e baixa capacidade para suportar fatores de estresse, acarretando maior suscetibilidade a doenças e a síndromes geradoras de dependência (REBELLATO, 2007; RAMOS, 2011, FREITAS, 2016). O envelhecer leva a alterações anatomofuncionais próprias deste processo, que geram mudanças sistêmicas. No sistema musculoesquelético ocorre a perda de densidade óssea, principalmente nas mulheres pós-menopausa. Ocorre também a redução de massa muscular, Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 39 alterando a biomecânica pélvica e, assim, acentuando alterações nos músculos perineais, podendo acarretar o desenvolvimento de incontinência urinária, fecal e disfunções sexuais. A fisioterapia geriátrica possui técnicas cinesioterápicas que auxiliam no rearranjo lombopélvico do idoso, que favorece a prevenção ou o tratamento da incontinência urinária do idoso. A fisioterapia na reeducação perineal do assoalho pélvico e da biomecânica lombopélvica tem como finalidade melhorar a força de contração das fibras musculares, promover a reeducação abdominal e um rearranjo estático lombo pélvico por meio de exercícios específicos para ajudar a manter a postura, o posicionamento pélvico e a continência urinária. Tanto no tratamento preventivo quanto curativo da incontinência urinária, torna-se imperioso a reeducação da musculatura do assoalho pélvico. (OLIVEIRA, RODRIGUES & PAULA, 2007). A perda da continência urinária ocorre pela alteração na coordenação do enchimento e esvaziamento da urina na bexiga. Causado, entre outras possibilidades, por: suprimento nervoso inadequado ao músculo detrusor da bexiga; ao músculo esfíncter externo da uretra e os músculos do assoalho pélvico; sedentarismo, perda de força e resistência muscular, reação medicamentosa e/ou a injurias por procedimentos cirúrgicos por exemplo, por uma perda de suporte da bexiga e uretra. A perda involuntária de urina pode afetar 60% das mulheres acima de 60 anos, gerando estresse, isolamento social, desconforto, embaraço, perda da autoconfiança, problemas de higiene, interferindo na qualidade de vida do indivíduo de forma negativa (OLIVEIRA et al., 2007). OBJETIVO • O objetivo deste capítulo é analisar a influência da cinesioterapia no arranjo lombo pélvico em mulheres idosas com incontinência urinária. MÉTODOS Fonte dos dados e estratégia de busca Foi realizada uma revisão da literatura do tipo descritivo-exploratória e retrospectiva com análise integrativa, sistematizada e qualitativa. A busca da literatura foi realizada de 14 a 25 de novembro de 2020 nas seguintes bases de dados: LiLACS (Literatura LatinoAmericano em Ciências da Saúde), SciELO (Scientific Eletronic Library Online) e PubMed. Para a busca foram utilizados os seguintes descritores: “Idoso” OR “envelhecimento” AND “fisioterapia” OR “modalidades de fisioterapia” AND “incontinência urinária” OR “distúrbios do assoalho pélvico”; adicionalmente a mesma busca foi feita com os seguintes termos, na língua inglesa: “aged” OR “elderly” AND “ therapy specialty” OR “physical therapy modalities” 40 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 AND “urinary incontinence” OR “pelvic floor disorders”. O período de publicação foi restrito aos últimos 5 anos e foram incluídos artigos nas línguas inglesa e portuguesa. Critérios de elegibilidade Foram considerados os artigos com dados bibliográficos que abordassem a cinesioterapia e sua influência no arranjo biomecânico lombopélvico e a incontinência urinária da idosa, bem como outras informações específicas correlacionadas ao assunto. Além disso, foram excluídas revisões sistemáticas ou integrativas, metaanálises, dissertações, teses, cartas e diretrizes (guidelines). Seleção dos estudos Inicialmente, com base nos critérios de seleção, os títulos e resumos foram lidos para identificar estudos potencialmente elegíveis. Logo em seguida, os estudos elegíveis foram lidos na íntegra para verificar se atendem aos critérios de elegibilidade. Artigos adicionais foram verificados por triagem da lista de referência dos estudos selecionados. Os estudos selecionados foram organizados em uma tabela. Extração dos dados Foi realizada uma extração padronizada para a obtenção de dados relevantes dos artigos selecionados, os quais foram apresentados em forma de tabela. As informações extraídas foram as seguintes: primeiro autor, ano de publicação, tamanho da amostra, número de grupos, características da amostra (idade e gênero), protocolo de tratamento e resultado na incontinência urinária. Concomitantemente, foi realizada uma análise crítica dos artigos. Em um primeiro momento foram identificados 163 títulos, sendo 01 da Scielo, 01 da Lilacs e 161 do PubMed. A Fase I compreendeu a seleção que foi feita pelos títulos, eliminando-se os repetidos. Foram selecionados os artigos referentes à abordagem da cinesioterapia e sua influência no arranjo biomecânico lombopélvico e a incontinência urinária da idosa. Na fase II, procedeu-se à leitura de todos os resumos para aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, resultando na inclusão de 28 artigos. Posteriormente, procedeu-se a busca do texto completo. A leitura dos textos permitiu refinar ainda mais a busca; restaram, então, 05 referências (Figura 1). Uma análise cuidadosa permitiu extrair informações dos artigos e apresentar em um quadro de informações importantes dos estudos. Concomitantemente, realizou-se uma análise crítica dos textos. Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 41 Figura 1. Fluxograma das etapas para seleção dos artigos. RESULTADOS E DISCUSSÃO A amostra desta revisão foi composta por vinte e oito estudos que preenchiam os critérios de inclusão e que avaliaram as técnicas de cinesioterapia e sua influência no arranjo biomecânico lombopélvico e a incontinência urinária da idosa. Após a leitura completa dos artigos, vinte e três foram excluídos, restando cinco artigos que contemplavam o assunto a ser abordado. Em relação às bases de dados consultadas, cento e sessenta e um (98,7%) artigos foram encontrados na PudMed, um (1,6%) no SciELO e um (1,6%) no LILACS. Cento e sessenta e três (100%) estudos foram publicados em inglês. A Tabela 1 apresenta a descrição dos estudos selecionados, contendo os autores, ano de publicação, Grupo n e idade média das participantes, principais resultados e conclusão. 42 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Tabela 1. Dados da amostra, treino, resultados e conclusão dos estudos selecionados Autores (Ano) Grupos (n) Idade média GC (n=14) Treino Resultado Conclusão Avaliação na linha de base, 4 e 12 semanas de intervenção e 1 mês após final da intervenção. TMAP: Idosas da comunidade com 66,5 ± 5,5 anos - 12 repetições de contração da MAP na posição deitada, 57,1% IUU sentada e em pé. Virtuoso et al. (2019) GI (n=12) Idosas da comunidade com 64,8 ± 4,7 anos 66,7% IUU - 2x/semana durante 30 minutos por 12 semanas com progressão I C I Q - S F : m e l h o r a do tempo das contrações de 8 significativa da qualidade de vida (p<0,001) para ambos em 8 sessões até a 24° os grupos, sem diferença intergrupo. Avaliação na linha de base, 4 e 12 semanas de intervenção e 1 S i n t o m a s : m e l h o r a mês após final da intervenção. significativa (p<0,02) no GI TMAP + (58,3% versus 14,3%) O treino combinado da MAP com TR promove uma recuperação mais precoce dos sintomas de IU quando comparado ao treino isolado da MAP. TR: - 15 RM com 1 minuto de intervalo de músculos de MMSS, MMII e abdominais - 2x/semana durante 50 min por 12 semanas GC (n=281) Avaliação na linha de base, a cada 4 semanas e ao final da intervenção - TE: sessão educacional Idosas habitantes de em grupo, dada por um aldeias com 64,7 ± pesquisador paramédico sobre 4,1 anos funcionamento do Sistema Urinário e como mantê-lo saudável, na linha de base e ao final de 12 semanas Perda urinária significativamente menor no Avaliação na linha de base, a Wagg et al. GI, assim como uma melhor cada 4 semanas e ao final da (2019) qualidade de vida e menos intervenção sintomas de depressão GI (n=298) - TE + Idosas habitantes de - TMAP: contrações da MAP aldeias com 64,5 ± nas posições sentada, deitada 4,2 anos e em pé + Caminhada (30 min) + cinesioterapia, alongamentos, durante 60 minutos, 2x/semana por 12 semanas., em grupo. As atividades continuaram na casa das idosas até a 24° semana. Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Uma intervenção estruturada com exercícios em grupo tem o potencial d e c o n t ro l a r a incontinência urinária em idosas habitantes de aldeias, que em grande parte estão fora do alcance de intervenções farmacêuticas ou cirúrgicas. 43 Autores (Ano) Grupos (n) Idade média GC (n=19) Treino Resultado Conclusão A gravidade da IU foi significativamente menor no GI (p=0,04), porém sem diferenças para qualidade de vida e habilidades físicas como marcha e equilíbrio. Idosas frágeis apresentam melhora na gravidade da IU após um programa de 12 semanas que associa estratégias comportamentais com atividade física. Avaliação na linha de base e após 12 semanas de intervenção - Visita domiciliar sendo Idosas frágeis com entregue o mesmo material 84,9 ± 6,4 anos impresso que o GI sobre estratégias comportamentais. Avaliação na linha de base e após 12 semanas de intervenção -Estratégias comportamentais de incontinência (4 visitas domiciliares de 20-60 minutos): Talley et al. orientações sobre hábitos (2017) saudáveis, medicamentos, GI (n=23) prevenção de constipação e Idosas frágeis com exercícios para a MAP. As idosas 84,9 ± 6,4 anos deviam fazer 5 x/ semana com auxílio de um áudio instrucional. -Atividade física para melhora de habilidades de higiene: caminhada (30 minutos, 5x/ semana) e exercício resistido de MMII (1 série de 12-15 repetições em intensidade moderada) 44 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Autores (Ano) Grupos (n) Idade média Treino Resultado Conclusão Uma consulta com especialista -GC e GI reduziram IU GC=(n=18) 76,4 ± 9,9 de IU (fisioterapeuta ou anos -GI > GC p< 0,04 enfermeiro) IU moderada e grave Cuidados habituais com a IU 11% IUU -GI>GC aderência aos G C n ã o o b te ve exercícios redução significativa da IU, nem obteve -Tempo médio entre fim da adesão aos intervenção e entrevista de exercícios em casa. acompanhamento 351 dias GI obteve melhora - Acompanhamento 12 do quadro de IU ou meses 80 de 130 continência obteve continência total total em 6 meses Chu et al. (2019) Escala de Sandvik GI = (n=19) 72,4 ± 6,3 anos IU moderada e grave Manteve exercícios Melhora GI>GC Redução em casa Exercícios + treinamento da gravidade = - A continência total IUU + prevenção em quedas está diretamente - Frequência nas 24h; (exercise UP) ligada a IMC menor - Menor idade > maior idade 6% IUU Haque et al. (2020) - Adesão aos - Menor severidade no exercícios início da intervenção Multiparidade piora IU 10 a - Não presença de 40% fizeram melhorias em ITU casa com visitas Número de sessões concluídas 72% 11% concluíram adesão 53% alcançaram 70% de adesão GC=(n=281) 62,3 ± 0,2 anos Apenas orientações e 3 dias para marcar severidade da IU por Escala de Sandvik Severity GI = (n=298) 67,7 ± 0,86 anos 2 vezes/semana por 12 semanas FTPM + orientações e 3 dias marca severidade da IU por Escala de Sandvik Severity Melhora GC<GI Gravidade IU depende: Frequência nas sessões 56% GI continentes no fim da avaliação sem perdas por pelo menos 3 dias GI>GC aderência aos exercícios GI = PFMT e mobilidade teve maior melhora da gravidade da IU e obteve continência total em 6 meses GC não teve melhora significativa nem adesão a atividade em casa n: tamanho da amostra. GC: Grupo Controle. GI: Grupo Intervenção. IUU: Incontinência urinária de urgência. TMAP: Treinamento da musculatura do assoalho pélvico. TR: treinamento resistido. TE: treinamento educacional. MMSS: membros superiores. MMII: membros inferiores. ICIQ-SF: International Consultation on Incontinence Questionnaire – Short Form. IMC: índice de massa corpórea. ITU: infecção trato urinário. O objetivo desta revisão bibliográfica foi verificar a eficácia das diferentes técnicas cinesioterapêuticas utilizadas no tratamento das incontinências urinárias das idosas e na reeducação postural lombopélvica. No grupo de artigos selecionados na integra para esta revisão, houve grande variação no tamanho da amostra, variando de 12 a 298 idosas incontinentes miccionais, totalizando 1263 idosas pesquisadas. A maioria das idosas apresentaram clínica de IUU (incontinência urinária de urgência) seguido por casos relacionados a IUE (incontinência urinária de esforço) e IUM (incontinência urinária mista) seguida da IUE. Dois dos estudos abordaram a reeducação comportamental vesical no intuito de minimizar a irritabilidade das bexigas das Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 45 participantes e todos utilizaram treinos de exercícios para os músculos do assoalho pélvico, pelo fato de que sendo a fraqueza desses músculos a causa da IUE, o fortalecimento dos mesmos elimina ou minimiza os sintomas da incontinência de esforço destas idosas. Além de que, caso haja força suficiente no MAP, ao contraí-lo de forma eficaz, a pessoa aciona um reflexo denominado A3 de Mahony que auxilia no relaxamento da contração do detrusor, que é um músculo da bexiga, reduzindo a irritabilidade da mesma, e minimizando a IUU. A Incontinência Urinária é uma das várias patologias ocasionadas pela perda da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio-ambiente determinada pelo envelhecimento, que é um processo dinâmico e progressivo no qual há modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas que podem ocorrer de forma saudável (senescência) ou patológica (senilidade) (CAVALHEIRO, GRENZEL, MATTOS, 2007; RIBEIRO, ALVES & MEIRA, 2009). Segundo SILVA et al. (2012), as alterações anatomofuncionais próprias do processo de envelhecimento, tais como, instabilidade ou insuficiência do músculo detrusor, redução da pressão máxima de fechamento uretral, frouxidão da musculatura do assoalho pélvico e alterações tróficas do epitélio vaginal e do epitélio escamoso da uretra distal secundárias à deficiência estrogênica, constituem fatores determinantes de incontinência urinária em mulheres idosas. De acordo com (HONÓRIO, SANTOS, 2009; RIBEIRO, ALVES & MEIRA, 2009) essa patologia compromete a qualidade de vida, vinculada à saúde, autonomia, relacionamentos pessoais, estabilidade financeira e vida ativa, comprometimentos psicológicos, preocupação e desagrado diante das perdas urinárias e receio de elas ocorrerem em locais não apropriados. Em outros estudos foi possível ver os tipos de incontinência urinária tais como: incontinência urinária de esforço, mista, transitória e de urgência. Segundo esses autores a incontinência urinária de esforço é o segundo tipo mais comum de incontinência entre as mulheres idosas, o que está em consonância com os dados das pesquisas selecionadas, em que a IUE foi a segunda mais relatada, e é marcada pela perda incontrolável de urina durante a tosse, o esforço, o espirro, o levantamento de objetos pesados ou qualquer manobra que aumente a pressão intra-abdominal, na ausência de contração do detrusor (REIS et al., 2003; TORREALBA, OLIVEIRA, 2010). Em diversos estudos (REIS et al., 2003; TORREALBA, OLIVEIRA, 2010; OLIVEIRA, RODRIGUES, PAULA, 2007), a IUU é considerada o tipo de incontinência mais prevalente nos idosos de ambos os sexos, caracterizada por desejo urgente de urinar seguido de perda incontrolável de urina e volume residual pequeno. Este tipo de incontinência está associado com frequência à hiperatividade do músculo detrusor: quando a lesão se localiza no trato urinário inferior é denominada instabilidade, cujas causas mais comuns como cistites, 46 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 cálculos, divertículos vesicais e a impactação fecal; quando localizada no sistema nervoso é denominada hiperreflexia. Diversos trabalhos (OLIVEIRA, RODRIGUES, PAULA, 2007; SOBREIRA, 2010) ressaltam que o exercício terapêutico é uma das ferramentas-chave que um fisioterapeuta pode usar para restaurar e melhorar o bem-estar musculoesquelético ou cardiopulmonar do paciente. Sendo assim, nos cinco estudos analisados todos utilizaram da cinesioterapia no intuito de aperfeiçoar a contração muscular do assoalho pélvico das idosas pesquisadas. Ainda para (OLIVEIRA, RODRIGUES, PAULA, 2007; SOBREIRA, 2010) a resistência do músculo à fadiga, que é a capacidade de um músculo de contrair-se repetidamente ou gerar tensão e sustentar aquela tensão em um período prolongado de tempo, pode também ser melhorada ou mantida com o exercício terapêutico, observado nos estudos de Haque et al. (2020) e Virtuoso et al. (2019). De acordo com (RODRIGUES, 2008; SOBREIRA, 2010) os exercícios de musculatura pélvica podem ser em: decúbito dorsal, pernas semi-fletidas, pés no chão, expirar, colocar a pelve em retroversão e em seguida elevar quadril mantendo a retroversão. Repousar lentamente inspirando, desenrolando lentamente a região lombar até o solo. Decúbito dorsal, nádegas apoiadas no chão, colocar entre as pernas uma bola e elevar as duas pernas semi-extendidas. Decúbito dorsal, nádegas ligeiramente elevadas, perna de apoio flexionada e que fará a elevação estendida. Segundo OLIVEIRA et al. (2010), há presença de outros fatores de risco externos no qual são adquiridos ao longo da vida, e de acordo com seu estudo a incontinência é adquirida principalmente em mulheres por fatores traumáticos durante gestação e ou parto vaginal. O sedentarismo e o IMC (índice de massa corpórea) exacerbados estão relacionados à presença de incontinência urinária e dificultam as pacientes pesquisadas a alcançarem a continência total para Chu et al. (2019). As fibras musculares são compostas por filamentos de actina e miosina, e o envelhecimento gradativo e o aumento da pressão intra-abdominal persistente podem levar a uma fraqueza muscular, descrita por SOUSA et al. (2011), e uma das consequências da musculatura perineal fraca é a incontinência urinária. Nas publicações encontradas no presente estudo pode-se observar que o aumento da força muscular do assoalho pélvico tende a levar à melhoria no controle da continência urinária, ao aumento na auto-estima, e à melhoria da qualidade de vida. Estudos demostraram que, além de fatores externos, a alteração da biomecânica lombar e pélvica, observada por meio de exames de imagem, pode causar um desvio lombo-pélvico que gera uma alteração na mecânica do assoalho pélvico, podendo, assim, desencadear incontinência urinária (SOUSA et al., 2011). Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 47 Com ênfase na fisioterapia, SOUSA et al. (2011) realizaram estudo sobre a reabilitação dos músculos do assoalho pélvico em resposta à principal intervenção fisioterapêutica, que é o exercício físico. Nesse trabalho, foi aplicado o método de Kegel, que foi satisfatório em um grupo controle; porém, no outro grupo a resposta teve um desempenho quase 100% melhor quando a eletroestimulação foi usada em conjunto com o método de Kegel. CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com a revisão bibliográfica apresentada, a abordagem cinesioterapêutica no tratamento da idosa incontinente é importante para se obter melhoras reais e significativas, em relação a perda urinaria diária e a alívio dos sinais e sintomas referidos, melhorando a qualidade de vida. Adicionalmente, uma boa avaliação da biomecânica lombopélvica é importante para que seja possível propiciar ao paciente um melhor aprendizado da consciência perineal, aumentando, assim, a probabilidade de reabilitação efetiva do assoalho pélvico. Dessa forma, exercícios estruturados orientados com a intervenção de um profissional têm apresentado alto potencial positivo no controle da IU, e na adesão e manutenção dessas práticas aos exercícios domiciliares. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 48 CAVALHEIRO, D. J.; GRENZEL, J. C. M.; MATTOS, C. M. Z. O envelhecimento e as alterações decorrentes desse processo: um estudo de caso. Cruz Alta. 2007. CHU, C. M.; SCHMITZ, K. H.; KHANIJOW K. et al., Feasibility and outcomes: Pilot Randomized Controlled Trial of a home‐based integrated physical exercise and bladder‐training program vs usual care for community‐dwelling older women with urinary incontinence. Neurolology Urodynamics, v. 38, n. 5, p. 1399-1408, 2019. CIOSAK, S. I.; BRAZ E.; BAETA NEVES, M. F. Senescência e senilidade: novo paradigma na atenção básica de saúde. Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 45, SPE 2, p. 17631768, 2011. 4. FLATT, T. A. New definition of aging? Frontiers in Genetics – Genetics of Aging, Vienna, Austria, v. 3, p.1-2, 2012. 5. FREITAS, C. V.; DE CASTRO, A. P., CHAN, A. Avaliação de fragilidade, capacidade funcional e qualidade de vida dos idosos atendidos no am-bulatório de geriatria de um hospital universitário. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, v. 19, n. 1, p. 119-128, 2016. 6. HAQUE, R.; KABIR, F.; NAHER, K. et al. Promoting and mantaining urinary continence: Follow-up from a cluster-randomized trial of elderly village women in Bangladesh. Neurolology Urodynamics, v. 39, n. 4, p. 1152–1161, 2020. Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. HONÓRIO, M. O.; SANTOS, S. M. A. D. Incontinência urinária e envelhecimento: impacto no cotidiano e na qualidade de vida. Rev Bras Enferm, v. 62, n. 1, p. 51-56, Brasília, 2009. IBGE. 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Fisioterapia Uroginecologica, Uma Cartilha para prevenção de Incontinência Urinaria na saúde da mulher. 60 f. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) Universidade da Amazônia, Belém, 2010. SOUSA G. J et al. Avaliação da força muscular do assoalho pélvico em idosas com incontinência urinária. Revista Brasileira de Fisioterapia. Curitiba, v. 24, n. 1, p. 39-46, jan./mar. 2011. TORREALBA, F. D. C. M.; OLIVEIRA, L. D. R. D. Incontinência urinária na população feminina de idosas. Ensaios e Ciência, v. 14, n. 1, p. 159-175, 2010. VIRTUOSO, J. F.; MENEZES E. C.; MAZO G. Z. Effect of Weight Training with Pelvic Floor Muscle Training in Elderly Women with Urinary Incontinence. Research quarterly for exercise and sport, v. 90, n. 2, p. 141-150, 2019. Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 49 04 “ A velhice e o sentimento de solidão sob a ótica dos idosos Alyne Amaral Santos Leila das Graças Siqueira FASI UNIMONTES Emylle Cristine Alves Veloso José Ronivon Fonseca FASI UNIMONTES Álvaro Parrela Piris Wellington Danilo Soares FASI FASI Bruna Roberta Meira Rios Andréa Maria Eleutério de Barros Lima Martins FASI UNIMONTES Carla Silvana de Oliveira e Silva UNIMONTES Henrique Andrade Barbosa UNIMONTES 10.37885/201001748 RESUMO Objetivo: analisar a percepção do idoso quanto ao sentimento de solidão; além de identificar se as mudanças físicas e fisiológicas, as relações sociais estabelecidas e as perdas ao longo da vida influenciam para o surgimento desse sentimento. Materiais e métodos trata- se de uma pesquisa de investigação subjetiva de abordagem qualitativa transversal exploratória, realizada na cidade de Montes Claros – MG com oito idosos sendo estes selecionados através da técnica de “snowball”. A entrevista foi aplicada com o auxílio do aplicativo “dictate” para transcrição das respostas e na interpretação á analise do discurso foi realizada a partir da base fairclough e com o auxilio do software “MAXQDA” para executar a codificação e categorização da discussão. Esta pesquisa teve parecer positivo pelo CEP com o número: 3.573.122. Resultados: os idosos entrevistados nesta pesquisa apontaram que o sentimento de solidão não está presente nessa etapa de vida. Relataram que fisicamente sentiram o impacto da idade, no entanto o sentimento não é de estar velho, ainda acrescentam que o apoio da família e amigos são primordial para o seu bem estar. Considerações Finais: conclui-se que embora o sentimento de solidão não tenha se mostrado presente nas pessoas entrevistadas, a fase idosa é de extrema importância e merece um olhar cada vez mais atento às suas vulnerabilidades e necessidades Palavras-chave: Solidão, Idosos, Envelhecimento. INTRODUÇÃO A transição para fase idosa para alguns pode ser uma etapa tranquila, entretanto para outros se apresenta como uma das etapas mais difíceis, pois temem a chegada do envelhecimento, e podem apresentar uma maior inclinação para adoecimentos físicos e psíquicos, como por exemplo o sentimento de solidão que é muito apresentado nessa faixa etária e pode contribuir para a evolução de doenças (LIMA, et al 2016). Esse sentimento de solidão se relaciona com a interpretação individual de se sentir solitário, onde há uma divergência com o grau de relações sociais em que anseia em detrimento da atual realidade, isso se explica, por exemplo, quando uma pessoa se sente sozinha mesmo ao lado de muitas pessoas. (MANSO; COMOSAKO; LOPES, 2018). Segundo Keske e Santos (2019) A solidão em especial na fase idosa pode se apresentar por diversas causas, entre elas as mudanças nas relações da contemporaneidade, impulsionadas pelo advento das relações virtuais, e o consequente uso de novas tecnologias. O envolvimento com a sociedade se mostra importante para o ser humano, pois a partir desta se formam as amizades, o afeto, e se desenvolve o apoio emocional onde as pessoas buscam conforto. O indivíduo que se sente pertencente de um grupo social possui uma maior interação, onde o sujeito se situa e constrói a sua identidade (MIGUEL; LUZ,2015). Segundo Fin et al. (2015) As mudanças fisiológicas e estéticas também podem contribuir para o sentimento de solidão, mudanças essas que advém da idade e passam a ser notórias com o passar do tempo, com o aparecimento das linhas faciais, rugas e fraquezas, e diante da referência de beleza que a mídia traz e o país “impõe”, torna-se mais difícil a aceitação dessas transformações que podem proporcionar um agravamento psicológico e baixa autoestima. Essa percepção negativa da população sobre essa etapa da vida traz o estigma que se tornará incompetente, gerando pensamentos que são incapazes e impossibilitados de oportunidades e de viver uma fase mais satisfatória de vida. Lidar com a realidade pode se tornar um obstáculo para muitos, mas tem aqueles que se mostram e tentam mudar essa visão sobre o idoso, tornando essa etapa ativa, praticando hobbys, voltando para a faculdade, proporcionando uma aceitação e vivência mais saudável (MARI et al. 2016). Nesta fase da vida, os idosos costumam ter a ideia e pressupostos que irão “perturbar” e se sentem embotados a pedir ajuda, se sentem inseguros e têm dificuldades para se expressar sobre o que precisam, o que torna a vida mais difícil, pois nessa etapa de vida algumas atividades do dia a dia podem se tornar mais dificeis, demandando auxilio da familia, com isso percebe-se que as pessoas idosas se afastam e se tornam ausentes sem que os familiares percebam esse distanciamento (SILVA, 2016). 52 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 A mudança nos aspectos físicos próprios dessa etapa traz a dependência do idoso, para realizar certas atividades simples como “tomar banho, vestir uma roupa’’. Com essa nova demanda muitas vezes os familiares identificam como solução a institucionalização do idoso em abrigos de permanência, afastando-os do meio familiar, que causam marcantes sentimentos de descaso, abandono e tristeza por falta de tempo e muitas vezes paciência e dificuldade para lidar com esse familiar que necessita de atenção e apoio (PANOSSO et al, 2017). Para Azeredo, Afonso e Alcina (2016)A maneira como o idoso vive poderá interferir diretamente nas suas perspectivas de vida, podendo afastá-lo das relações sociais e até mesmo de pessoas em que possuía um vínculo afetivo, de ambientes e atividades que costumava ser rotina em seu dia a dia e que com os anos acabaram se perdendo. Esse isolamento que o idoso vivencia pode contribuir excessivamente para seu adoecimento, favorecendo um sofrimento. A fase idosa apresenta-se como um momento de grande importância e sensibilidade, pois configura-se como experiência de uma vida, porém a transformação e mudanças tanto biológicas como sociais podem ou não favorecer o sentimento de solidão (CAVALCANTI, K. F. et al. 2016). Para que o idoso tenha então um envelhecimento saudável é indispensável que sejam participativos socialmente não só em tarefas que já costumam fazer em seu dia a dia, como varrer a rua, ir ao mercado, mas em atividades avançadas como: religião, passeios, conhecer novos lugares, entre outros (NERI; VIEIRA, 2013). Conforme Silva (2016) Alguns idosos possuem renda própria e, às vezes, podem morar sozinhos e outras vezes dependerão de sua família e residem com estes, por isso se responsabilizam pela casa, por cuidar dos netos, em realizar as tarefas domésticas e, bem como ajudar financeiramente. Mas, de maneira geral, é importante que esses idosos separem um tempo para si, participando de atividades que trazem algum prazer ou participação em eventos da comunidade como grupos sociais. Há um avanço nos dias atuais na criação de meios que incluam os idosos em atividades que o envolvam em um meio social para uma vida mais ativa, entretanto a interação social não remete somente na participação em eventos com outros da mesma idade, mas também uma boa relação com sua família, ainda que tenham uma quantidade satisfatória de atividades e interações, pois o mais importante não é quanto participam e tem amigos e sim a qualidade destas relações (SIMÕES et al.2016). Diante disso, o objetivo da pesquisa foi analisar a percepção do idoso quanto ao envelhecer e o sentimento de solidão; entendendo assim se as mudanças físicas e fisiológicas influenciam para a solidão no idoso; também verificar como as relações sociais e perdas ao longo da vida podem contribuir para o desenvolvimento dessa condição; e identificar a Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 53 partir do discurso dos idosos os fatores desencadeadores da solidão e como lidam com o processo de envelhecimento. OBJETIVO Analisar a percepção do idoso quanto ao sentimento de solidão; além de identificar se as mudanças físicas e fisiológicas, as relações sociais estabelecidas e as perdas ao longo da vida influenciam para o surgimento desse sentimento. MÉTODOS Este estudo foi construído através de uma pesquisa de investigação subjetiva de abordagem qualitativa, transversal e exploratória. A pesquisa foi realizada na cidade de Montes Claros - MG, com oito idosos, sendo que esse número foi constituído pela saturação das informações relatadas por estes. Foram entrevistados (sete mulheres e um homem) sendo um casal, três viúvas que moram com familiares e duas irmãs que sempre moraram juntas, na faixa etária de 64 a 75 anos. A maior parte dos participantes são vizinhos devido o primeiro participante residir em um bairro antigo da cidade de Montes Claros- MG e consequentemente indicarem os vizinhos para a participação. Como requisito de participação fez se necessário que os entrevistados não tivessem nem um tipo de comprometimento mental que o dificultasse nas respostas e que não estivesse institucionalizado ou enclausurado, pois a intenção deste estudo era investigar a solidão em indivíduos que estavam em convívio direto com seu núcleo familiar. Para escolha dos participantes foi utilizada a técnica de Snowball que funcionou da seguinte maneira: o primeiro participante foi escolhido a partir do grupo de convivência dos pesquisadores e este indicou outra pessoa que se enquadrava nos requisitos estabelecidos e assim suscetivelmente. O instrumento utilizado para a entrevista foi o roteiro de entrevista semiestruturada baseada em Fernandes 13 em seu trabalho intitulado “A Solidão nos Idosos numa comunidade rural - Implicações para uma velhice bem-sucedida”. A entrevista foi aplicada com o auxílio do aplicativo “dictate” que teve por objetivo gravar por áudio e transcrever em formato de texto as perguntas abordadas pelo pesquisador e as respostas dos entrevistados, sendo deletadas após sua transcrição, para a interpretação dos dados foi realizada a análise do discurso a partir da base Fairclough, com o auxílio do software “MAXQDA” utilizado para executar a codificação e categorização da discussão. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa da SOEBRAS, atendendo aos embasamentos da resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) com parecer de número 3.573.122. 54 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Este estudo se propôs analisar, as formas pelas quais a solidão se apresenta na fase idosa. Durante as entrevistas foi observado um certo receio ao falar sobre a solidão, após essa percepção foram utilizadas técnicas de rapport, uma técnica que é bastante utilizada em entrevistas psicológicas que consiste em criar uma ligação com o participante para que este se sinta à vontade para responder as perguntas18. Foi realizada uma clarificação do termo de consentimento livre e esclarecido, onde foi explicado que o seu pseudônimo de pássaro seria utilizado para preservar sua identidade. Em função de alguns indivíduos abordados forem analfabetos e uma cega foi necessária a presença de um membro da família para apresentação e assinatura do TCLE. Também se fez necessário que os pesquisadores adequassem o seu vocabulário pois em alguns momentos apresentaram dificuldades na compreensão da pergunta. RESULTADOS Os idosos entrevistados nesta pesquisa apontaram que o sentimento de solidão não está presente nessa etapa de suas vidas. Apesar da hipótese inicial de que a solidão apareceria presente nessa fase em função de todas as mudanças próprias desse momento. Os entrevistados apontaram que fisicamente sentiram o impacto da idade, no entanto o sentimento não é de estar velho, ainda acrescentam que o apoio da família e amigos é primordial para o seu bem estar. DISCUSSÃO Após a transcrição das entrevistas, leitura exaustiva e discussão entre os pesquisadores para compreensão subjetiva de cada participante da pesquisa, foi feita uma análise de discurso com o auxílio do software “MAXQDA” que nos permitiu codificar e dividir as entrevistas em duas categorias, sendo estas citadas abaixo. A FAMÍLIA COMO REDE DE APOIO SOCIAL PARA O IDOSO A família na fase idosa torna-se a principal rede de apoio como também o grupo que o indivíduo mais quer por perto, a demonstração de afeto, carinho, paciência e amor na vida do idoso por parte dos familiares possibilita que ele se sinta amado levando a ter sensações de bem estar, podendo promover o sentimento de felicidade e satisfação com a vida, isso proporciona maior aceitação as mudanças que surgem nesta etapa da vida (ARAUJO et al.2018). Durante a análise das entrevistas identificou- se que a família e amigos são um suporte essencial para que o sentimento de solidão não se faça presente. O almoço de domingo Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 55 em família, a visita dos filhos, as conversas com vizinhos, a ida a igreja, ocupam um lugar de grande significado, o de “pertencimento”, essa participação da família contribui para que não se sintam sozinhos. Nos acervos literários e pesquisas sobre a solidão há várias contribuições que apontam esse sentimento como frequente na fase idosa. Azeredo (2016), por exemplo afirmam que a solidão se faz muito presente na adolescência e velhice e que o motivo pode ser consequência de diversos fatores que podem mudar de acordo com a subjetividade de cada sujeito. Entretanto, os participantes relatam o contrário, que não compartilham desse sentimento e que a sua rede de apoio social fazem com que se sintam bem emocionalmente. Identificou-se a importância desse suporte social durante a fala do Papagaio: “a família me dá segurança de ter alguém que confio do lado”. Neste contexto Sant’ Ana (2019) aponta o envelhecer precisa de um olhar especial e cuidados para o indivíduo viver a melhor idade de forma satisfatória, porém isso não depende somente dele e sim da sua inserção coletiva e social que contribuem para o seu bem estar15. Sobre isso Agopornis relata “Gosto muito de ter contato e mais com minha família. Todo domingo eu faço almoço para todo mundo”. Para Castilho (2015) na velhice, nem sempre ocorrem os investimentos necessários à sustentação dos laços sociais: a capacidade de substituição encontra algo do limite, o isolamento predomina sobre a criação de novos laços e a dor prevalece. Por isso é importante manter o vinculo estabelecido com a família e amigos, Canário relata “me relaciono muito bem com minha família, eles são tudo, agora mesmo estou com minha irmã em casa, eles me ajudam muito.” Com a fala dos participantes foi possível perceber que mesmo quando há perdas de entes queridos, a fase de luto e aceitação se torna menos complicada quando há esse contato social. “Agopornis” quando questionada se já sentiu solidão em algum momento da sua vida, respondeu: “Sim. Porque perdi a pessoa que eu amei na minha vida, só era eu e meu esposo e eu perdi quando tinha 26 anos, fiquei só com meus 7 filhos, tive que trabalhar muito, eu sinto muita falta dele até hoje, mas tenho meus filhos e meus netos que sempre vem aqui isso me alegra.” Para Azeredo (2016) A saúde e bem-estar do indivíduo dependem da homeostasia e o equilíbrio que consegue estabelecer com o meio. A forma como vive sua vida pode também influenciar a “visão” que tem do mundo quando idoso, e a forma como interage com ele, despertando ou não sentimentos de solidão . Na fala do papagaio é possível perceber que o sistema familiar ocupa o lugar de apoio, ela relata “Bem, meus pais morreram novos, aí fui morar com meus tios que não tinha filhos depois eles morreram e eu e minha irmã 56 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 sempre moramos juntas e convivemos bem”. Somos a companhia uma da outra...’’ na sua fala percebe-se a importância da família para a contribuição do bem estar do sujeito. AS MUDANÇAS FÍSICAS E SUA INFLUÊNCIA NO SENTIMENTO DE SE SENTIR “VELHO” De acordo com Fin (2015) O envelhecimento traz consigo uma serie de mudanças como a presença de rugas, cabelos brancos, fragilidade e fraqueza sendo eles influenciadores do sentimento de tristeza. As mudanças físicas são decorrentes na velhice e podem gerar insatisfações principalmente nas mulheres, pois incluem aspectos relacionados a beleza, que façam pensar na aparência e se sentir excluída, devido ao posicionamento do seu ciclo social e cultural que elevam padrões de beleza. A perda daquele corpo ideal, da saúde, da força que se tem na juventude é para a pessoa idosa um desafio, que dependendo da sua situação torna-se muito difícil de ser aceito5. Foram apresentadas essas questões na fala das participantes, a “Agopornis” diz: “eu até brincava que era muito bonita, eu falava eu sou a mais bonita da família, ainda brinco com isso mas sei que não sou mais como antes”. Cunha (2015) considera que os sentimentos negativos e de inadequações na fase idosa é percebido com maior frequência nas mulheres, pois com o avançar da idade a mulher começa a ser vista como menos atrativa, já o homem na velhice é visto como experiente, levando assim a mulher a uma baixa autoestima. Foi percebido nas falas das participantes suas questões voltadas à beleza e com um participante homem foi relatado, que ele se sente feliz com a velhice pela experiência que adquiriu. As mudanças físicas podem gerar grandes sentimentos de inadequação na vida dos idosos como aspectos estéticos e físicos. Foi identificado o impacto dessas mudanças físicas na fala do Agopornis que relatou “não gosto de olhar para meu corpo, as mudanças e as manchas que aparece na pele” e na fala da Cacatua que diz “A dificuldade maior está sendo a saúde, minhas pernas mesmo eu não tenho confiança de sair sozinha, tenho medo de cair, e seu eu não achar ninguém para segurar? eu não consigo levantar sozinha.” Durante esse relato foi possível perceber como as mudanças físicas e estéticas na melhor idade são uma das causas mais preocupantes para os idosos, podendo gerar insatisfação e insegurança na vida que prejudiquem seu bem estar. Segundo Azeredo (2016) “No idoso o corpo apresenta sinais visíveis do tempo, podendo, para alguns dos seus donos, representar perdas muito significativas que podem favorecer seu isolamento e/ou solidão”. Em uma das perguntas da entrevista os participantes foram questionados sobre qual seria a maior dificuldade que ele tem sentido nessa etapa da vida, e o que mais prevaleceu foram respostas que se referiam a saúde sendo citada como algo que mais entristecem devido aos problemas que surgem. Esses aspectos foram vistos nas falas de “Calopsita ‘’ Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 57 que diz: “A saúde não está muito boa’’, outra participante “Canário’’ também fala: “Não dar conta de fazer tudo mais, não tenho mais a força de antes”. Durante a entrevista também foi possível observar que os entrevistados não se reconhecem como velhos, entretanto sentem o peso da idade. Como no relato de Beija flor que diz: “Não me sinto velho, o tempo é pouco” e Agopornis: “Não me sinto velho, a palavra velha para mim é quando uma pessoa não está servindo mais...” Apesar de não se sentirem velhos há idade traz já bagagens de conceitos, essa aceitação pelos participantes é analisada devido a participação da família e do contexto social como a Sant’ Ana (2019) apresentou. CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta pesquisa possibilitou compreender a percepção do idoso frente a solidão e velhice e também se mostrou relevante ao apresentar a importância dos vínculos sociais e afetivos para o bem-estar emocional do idoso. Apesar de identificar uma saturação nas respostas talvez se a pesquisa tivesse sido realizada com uma amostra maior de idosos ou em um contexto institucionalizado poderia ter sido apontado por algum individuo esse sentimento. Os relatos dos entrevistados evidenciaram a todo momento, como a família, amigos, vizinhos e até a participação na igreja ou na vida dos netos são importantes para que não sintam solidão. Sobre a percepção do idoso em relação à velhice, foi possível perceber que embora sintam o peso da idade e não consigam mais realizar as mesmas atividades que antes, o sentimento não é o de ser velho, houve muitos relatos de que o maior incômodo dessa fase é justamente as mudanças físicas e fisiológicas que se tornam incongruentes às atividades e à rotina que eles gostariam de ter. Como fazer atividade física, andar e etc. Portanto, é possível concluir que a fase idosa é de extrema importância e merece um olhar mais atento às suas vulnerabilidades e necessidades, é necessário que cada vez mais sejam criados meios de inclusão dessas pessoas para que esses se interajam socialmente, tenham mais participação social e se sintam mais ativos para que assim tenham mais qualidade de vida e não venham a sentir em algum momento a solidão. REFERÊNCIAS 1. 2. 58 ARAUJO, L. F.; CASTRO, J. L. C.; SANTOS, J. V. O. A família e sua relação com o idoso: Um estudo de representações sociais. Psicol. pesq., Juiz de Fora , v. 12, n. 2, p. 14-23, jul. 2018 . AZEREDO, A. S.; AFONSO. Z. N.; ALCINA. N. Solidão na perspectiva do idoso. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro, v.19, n.2, p.313-324, abr. 2016. Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 3. CASTILHO, G.; BASTOS, A. Sobre a velhice e lutos difíceis. Psicologia em Revista. 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Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 05 “ A vivência da sexualidade pela mulher idosa Anny Isabelly Medeiros de Góes UEPB Renata Ferreira de Araújo UEPB Daniela Laurentino Rodrigues UEPB Renata Marculino Sousa UEPB 10.37885/201202387 RESUMO Objetivo: Objetivou-se analisar as evidências científicas atuais centradas na vivência da sexualidade pela mulher idosa. Métodos: Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, o levantamento da produção CIENTÍFICA realizou-se nas bases de dados: CINAHL, LILACS, BDENF, SCIELO e SCOPUS. A amostra foi composta por sete produções científicas, todas com nível V de evidência e que atendiam aos critérios de inclusão previamente estabelecidos. Resultados: O estudo permitiu a identificação e compreensão de fatores como a presença do desejo sexual das mulheres idosas independentemente do avançar da idade, a dificuldade existente de comunicação entre os idosos e os profissionais de saúde devido a existência de um preconceito próprio do indivíduo e do julgamento social direcionado a vivência da sexualidade pela mulher idosa. Considerações finais: Os achados da pesquisa evidenciam a importância da sexualidade para as mulheres idosas, visto que muitas vezes a temática está relacionada a tabus da sociedade. Deste modo, torna-se imprescindível que haja o respeito, a valorização e a discussão da sexualidade na sociedade com o intuito de contribuir para o entendimento da sexualidade da mulher idosa, permitindo que haja a expressividade de seus sentimentos e vivência da sexualidade sem preconceitos e mitos. Palavras-chave: Saúde do Idoso, Saúde Pública, Sexualidade, Mulheres. INTRODUÇÃO A diminuição do índice de fecundidade e de mortalidade gera um aumento da expectativa de vida e do número de pessoas idosas, ocasionando transformações demográficas e epidemiológicas na sociedade. No Brasil, as mulheres compõem a maioria da população idosa, com uma média de 5 a 8 anos a mais que os homens, o que evidencia o processo de feminização do envelhecimento (ALMEIDA et al., 2015; SALES et al., 2016). Observa-se que a feminização do envelhecimento é justificada pelo maior interesse que as mulheres apresentam em cuidar da saúde, no entanto, considera-se que a qualidade do envelhecimento feminino vem sendo comprometida pelas desigualdades e desvantagens que as mesmas enfrentam nos ambientes em que convivem ao longo da vida, a exemplo do familiar e profissional (CENTRO INTERNACIONAL DE LONGEVIDADE BRASIL, 2015; CREMA et al., 2017) De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a sexualidade é um dos pilares da qualidade de vida, sendo definida como a energia que motiva o ser a encontrar o amor, englobando o toque, a intimidade e o sentimento (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1974). A sexualidade distingue-se do sexo, o qual é retratado como uma das formas de expressão do homem, por ir além do ato sexual e influenciar outros aspectos como a saúde física e mental do indivíduo (BERNARDO, CORTINA., 2012; SILVA et al., 2013; SILVA et al., 2019). As discussões acerca da sexualidade da pessoa idosa ainda são comprometidas por preconceitos e interdições, aliadas a concepção de que o idoso é assexuado e a super valorização do corpo jovem (CREMA et al., 2017). Mesmo que com o processo de envelhecimento a idosa passe por mudanças físicas, psíquicas, bioquímicas e funcionais e que estas possam influenciar na redução da atividade sexual, muitas ainda apresentam importante interesse sexual com o avançar da idade, o que contesta o preconceito social (BASTOS et al., 2012). Entende-se que a demonstração da sexualidade e feminilidade da mulher ocorre por meio da corporeidade e alterações fisiológicas que ocorrem na velhice podem influenciar nesta demonstração sexual, porém não significa que as tornem sem desejos ou incapazes de sentir prazer. Com a ocorrência dessas mudanças na função sexual, as mulheres podem ressignificar a expressão da sexualidade, com novas possibilidades (ALENCAR et al., 2014). O preconceito social e a ignorância contribuem para que muitos profissionais de saúde, familiares e o próprio individuo evitem a questão da sexualidade em idosos, o que conduz a insatisfações sexuais devido à escassez de diálogo, informações e tratamento para possíveis diagnósticos que compliquem a pratica da sexualidade (ORTE-SOCIAS et al., 2015; LAURENCIO-VALLINA et al., 2017). De acordo com a importância da temática, o estudo justifica-se pelo brado da compreensão a respeito da vivência da sexualidade da mulher pela sociedade e pelos profissionais de Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 63 saúde, de forma a contribuir para uma melhor qualidade de vida e envelhecimento saudável da mulher idosa. OBJETIVO O estudo objetivou analisar as evidências científicas atuais centradas na vivência da sexualidade pela mulher idosa, bem como os pontos que englobam esta vivência. MÉTODOS Este estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura, que tem por objetivo reunir e sintetizar resultados de pesquisas sobre um determinado tema ou questão, de forma sistemática e ordenada, possibilitando a análise ampla da literatura e aprofundamento do conhecimento sobre o tema investigado (MENDES et al., 2008; SOUZA et al., 2010). A questão norteadora desta revisão baseia-se em: “Como a sexualidade é vivenciada pela mulher idosa?” O levantamento da produção científica realizou-se no mês de outubro de 2020, através das bases de dados: Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Base de Dados em Enfermagem (BDENF), Scientific Eletronic Library Online (SCIELO) e SCOPUS. Para os cruzamentos utilizou- se os descritores do Medical Subject Headings (MeSH) e Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): “Sexualidade”, “Mulheres” e “Saúde do Idoso”, nos idiomas português, inglês e espanhol, cruzados pelo operador booleano AND. Os critérios de inclusão foram: estudos em formato de artigo que respondem à questão norteadora e artigos publicados nos últimos cinco anos, em língua portuguesa, inglesa ou espanhola. Como critérios de exclusão, obteve-se: quaisquer outros tipos de estudos que não seja em formato de artigo científico; tais como artigo em jornais, resumos de congresso, editoriais, teses, dissertações e toda a literatura cinzenta. A classificação do nível de evidência dos artigos selecionados foi determinada da seguinte forma: I. Evidência a partir de revisão sistemática ou meta-análise de todos os ensaios clínicos randomizados relevantes; II. Evidência a partir de ensaios clínicos randomizados bem desenhados; III. Evidência a partir de ensaios clínicos não randomizados bem desenhados; VI. Evidência a partir de estudos de coorte e caso-controle bem desenhados; V. Evidência a partir de revisões sistêmicas de estudos descritivos e qualitativos; VI. Evidência a partir de opinião de autoridades e/ou relatório de comitês experientes (MELNYK, 2011). 64 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Figura 1. Fluxograma com a distribuição dos artigos encontrados e selecionados nas bases de dados. Brasil, 2020. Fonte: Dados da pesquisa, 2020. RESULTADOS Os sete artigos selecionados para o estudo apresentam nível cinco de evidência, atendendo aos critérios de inclusão antecedentemente estabelecidos. Além disso, foram analisados por meio de uma abordagem organizada e sistematizada para ponderar o rigor e as características de cada estudo, observando-se o desenvolvimento metodológico, resultados e conclusão. Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 65 Quadro 1. Caracterização dos artigos incluídos de acordo com ano, país do estudo, título, citação, periódico, tipo de estudo, nível de evidência, objetivos e principais resultados. Brasil, 2020. Estudo 1 2 3 4 66 Ano/Pais 2018/ Brasil 2019/ Colômbia 2019/ Argentina 2019/ Brasil Título/Primeiro Autor/ Periódicos O Percurso educativo dialógico como estratégia de cuidado em sexualidade com idosas/ RODRIGUES et al/ Escola Anna Nery Atitudes das idosas quanto à expressão da sua sexualidade/ SILVA et al/ Aquichan Enquanto houver vida, haverá tudo: um olhar sobre a sexualidade dos idosos/ GHIDARA et al/ Evidência Actualización en la Práctica Ambulatoria Análise do comportamento sexual de idosas atendidas em um ambulatório de ginecologia/ RODRIGUES et al/ Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia Tipo de Estudo/ Nível de Evidência Objetivos Principais Resultados Desvelar o crítico mediado por um percurso cuidativoeducativo dialógico em sexualidade com mulheres idosas As mulheres entrevistadas tinham idade de 66 a 74 anos. Das 15 participantes, 10 revelaram ter vida sexualmente ativa. Inferiu-se que as idosas possuem dificuldade para conceituar e entender a sexualidade, estando envolvidas por preconceitos sociais Identificar as atitudes que as idosas têm a respeito da sua sexualidade A população do estudo foi composta por 19 idosas entre 60 e 85 anos de idade. A maioria delas não apresentou mudanças significativas que interferissem a expressão da sexualidade após os 60 anos. Os obstáculos relatados para a expressão da sexualidade foram: ausência de um parceiro fixo e desconforto para falar sobre o assunto Estudo qualitativo fenomenológico/ Nível V Entender a vivência da sexualidade pelo adulto maior Os idosos vêm a sexualidade como um fator que pode ser influenciado pela personalidade, história de vida de cada indivíduo, preconceitos próprios e estereótipos familiares e sociais. Além disso, citam a limitação de compartilhar a vivência sexual com os profissionais de saúde devido a vergonha que sentem. Alguns após a vivência de experiencias conjugais dolorosas, se negam a vivenciar a sexualidade e outros apesar da experiência negativa, se permitem viver a sexualidade Estudo qualitativo, transversal e exploratório/ Nível V Analisar o comportamento sexual de pacientes idosas atendidas em um ambulatório de ginecologia, no período de um ano, estimando a proporção das sexualmente ativas, das que possuem interesse sexual e das que consideram o sexo importante para a qualidade de vida Observou-se que a maioria das idosas do estudo (74,0%) são sexualmente inativas, mas que 40,5% destas gostariam de mudar essa realidade. Constatou-se que o desejo sexual permanece com o avançar da idade, diferentemente do que se imaginava, em vista do tabu em torno da sexualidade da mulher idosa. As dificuldades relatadas para a prática sexual das idosas foram o uso de medicamentos e a impotência sexual dos parceiros Estudo qualitativo e participativo/ Nível V Estudo qualitativo, descritivo e exploratório/ Nível V Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Estudo 5 6 7 Ano/Pais 2019/ Brasil 2018/ Brasil 2018/ Brasil Título/Primeiro Autor/ Periódicos Concepção de mulheres idosas sobre a sexualidade na velhice/ SANTOS et al/ Revista de Enfermagem, UFPE On Line Envelhecimento, sexualidade e cuidados de enfermagem: o olhar da mulher idosa/ SOUZA et al/ Revista Brasileira de Enfermagem, REBEn Compreensão da sexualidade por idosas de área rural/ CABRAL et al/ Revista Brasileira de Enfermagem, REBEn Tipo de Estudo/ Nível de Evidência Estudo qualitativo e descritivo/ Nível V Estudo qualitativo, descritivo e exploratório/ Nível V Estudo qualitativo/ Nível V Objetivos Principais Resultados Analisar a concepção de mulheres idosas sobre a sexualidade na velhice A amostra do estudo foi composta por dez mulheres idosas, sendo cinco casadas e com idade de 60 a 71 anos. As idosas afirmam que houve uma maior liberdade para falar de sexualidade com os familiares, quebrando alguns tabus e destacam a importância do carinho, companheirismo, compreensão e amor entre o casal como fatores importantes para a manutenção da sexualidade Analisar a percepção da mulher idosa sobre sexualidade e a prática do cuidado de enfermagem nesse contexto Compreender o significado da sexualidade por idosas que vivem em área rural Inferiu-se que as idosas se sentem reprimidas e julgadas pela sociedade ao falarem de sexualidade. Deste modo, os problemas que mais interferem na qualidade da sexualidade das idosas são a falta de informação, a vergonha e o preconceito delas mesmas em relação a idade, o que dificulta a comunicação com os profissionais de saúde Para a maioria das mulheres a compreensão da sexualidade está embasada na ideia da prática sexual, companheirismo, carinho e amizade. Pontos estes apontados como pilares para a manutenção da sexualidade entre o casal. Citou-se a emergência da idade cronológica, receio de ter novos relacionamentos e problemas de saúde como empecilhos para a prática da sexualidade das idosas Fonte: Dados da pesquisa, 2020. Os estudos incluídos na pesquisa, a maioria foram realizados no Brasil, além de um estudo da Argentina e outro da Colômbia, aspecto positivo para o Brasil em que demostra a preocupação com a temática da sexualidade da mulher idosa. Além disso, os anos dos estudos são recentes, publicados nos últimos dois anos: quatro do ano de 2019 e três de 2018, evidenciando achados recentes para a contribuição cientfica. DISCUSSÃO O estudo permitiu a identificação e compreensão de fatores como a presença do desejo sexual das mulheres idosas independentemente do avançar da idade, a dificuldade existente de comunicação entre os idosos e os profissionais de saúde devido a existência Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 67 de um preconceito próprio do indivíduo e do julgamento social direcionado a vivência da sexualidade pela mulher idosa. Para que haja uma compreensão da sexualidade da pessoa idosa, faz-se necessário considerar fatores como cultura, educação e o meio social em que está inserido (ALENCAR et al., 2016). RODRIGUES et al., 2018 em seu estudo aponta que as idosas têm a sexualidade como um elemento fundamental para a boa qualidade de vida na velhice, acreditando que não há idade para o fim das relações sexuais. O processo de envelhecimento é influenciado por fatores que afetam o comportamento sexual das mulheres idosas, sendo eles: biofisiológicos, psicológicos, culturais, educacionais e da relação conjugal (VIEIRA et al., 2014). Com o surgimento das doenças e consequente uso de medicações pelas idosas compreende-se que pode ocorrer uma redução na prática sexual, porém o atual aumento da expectativa de vida e aporte da medicina tem facilitado o tratamento para possíveis alterações que dificultem a prática sexual (HUGHES; ROSTANT; PELON, 2015). As dificuldades que mais interferem na qualidade da sexualidade das idosas são a falta de informação, a vergonha e o preconceito delas mesmas e da sociedade em relação à idade e a vivência da sexualidade, o que dificulta a comunicação eficiente entre elas e os profissionais de saúde (MENDONÇA; INGOLD, 2006). O inadequado juízo da sociedade sobre a sexualidade da pessoa idosa, influencia na não demonstração de seu interesse sexual na velhice (SOUZA et al., 2015). Fazendo-se necessário a compreensão da sociedade e dos profissionais de saúde sobre a realidade de que os sentimentos, o desejo sexual, a demonstração de carinho, afeto e capacidade de amar não terminam com o envelhecer (MACHADO, 2014). A escassez de estudos sobre a sexualidade da pessoa idosa se deve a omissão da sexualidade dos idosos pelo próprio individuo, profissionais de saúde e a sociedade no geral (SILVA et al.,2019). Desse modo, essa área da pesquisa necessita de um olhar mais emergente e sensibilizado. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os achados da pesquisa evidenciam a importância da sexualidade para as mulheres idosas, visto que muitas vezes a temática está relacionada a tabus da sociedade, havendo uma infantilização dos idosos. Além disso, com a expectativa de vida aumentando o processo de envelhecimento saudável é uma prioridade, assim, a terceira idade não é sinônimo de doença e sim de uma nova etapa, a qual deve ser experimentada com alegria, vigor e prazer. A compreensão das atitudes dos idosos acerca da sexualidade é fundamental para que se possa proferir novas propostas de intervenções junto a esse grupo populacional (ALENCAR et al., 2014). Deste modo, torna-se imprescindível que haja o respeito, a valorização e a 68 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 discussão da sexualidade na sociedade com o intuito de contribuir para o entendimento da sexualidade da mulher idosa, permitindo que haja a expressividade de seus sentimentos e vivência da sexualidade livre de preconceitos, mitos, tabus e contribuindo para um aumento da autoestima, confiança e melhor qualidade de vida das mulheres idosas. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. ALENCAR, D. L. et al. 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Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 06 “ A vulnerabilidade psicossocial da pessoa idosa frente às situações de emergências e desastres Diana Maria da Silva Sousa UNICAP Ubiracelma Carneiro da Cunha UNICAP Thaís Afonso Andrade UNICAP 10.37885/201202393 RESUMO No mundo tem sido evidente o aumento significativo da população idosa, assim, no âmbito das práticas profissionais e políticas públicas, amplia-se a necessidade de desenvolver ações que atendam as demandas específicas dessa geração. Sendo assim, é preciso conceber o envelhecimento como um processo de desenvolvimento contínuo e singular. Dessa forma, este estudo tem como objetivo compreender os programas e políticas públicas voltadas para a população idosa em situações de desastres e emergências. Para isso utilizou-se de uma pesquisa de natureza qualitativa de caráter bibliográfico a partir de uma análise do que já foi produzido sobre este tema em livros e artigos científicos. Foi verificado que os estudos acerca dessa temática são escassos, dessa forma, com o crescente aumento da população idosa, amplia-se a necessidade de realizar um planejamento de ações direcionadas para os âmbitos mais vulneráveis para a proteção da vida e garantia dos direitos dos idosos. Palavras-chave: Idosos, Desastres, Emergências, Políticas Públicas. INTRODUÇÃO O aumento significativo da população idosa, somado a diminuição das taxas de fecundidade e ao desenvolvimento tecnológico e terapêutico de tratamentos de doenças, produziu efeitos na estrutura etária da população (CIOSAK et al., 2011). Assim, é inegável que a longevidade constitui um triunfo, entretanto, existem diferenças desse fenômeno entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento. Se nos países desenvolvidos o envelhecimento populacional cresceu interligado com melhorias nas condições gerais de vida, nos outros, esse fenômeno ocorreu rapidamente, sem que houvesse uma replanejamento social que viabilizasse atender às novas demandas (BRASIL, 2007). Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), estima-se que até 2025 o Brasil será o sexto país do mundo com maior número de idosos. Este fenômeno revela uma conquista da humanidade e ao mesmo tempo consiste em um dos grandes desafios (OPAS, 2005). Dessa forma, amplia-se a necessidade de realização de estudos e desenvolvimento de ações que considerem as demandas sociais relacionadas a essa geração (SILVA, 2009). Dados recentes na “Síntese de Indicadores Sociais” (IBGE, 2013), mostram algumas características mais predominantes das pessoas de 60 anos ou mais, como: 59,1% são aposentadas, 43,5% possuem renda domiciliar per capita de até um salário mínimo, 34,6% possuem de quatro a oito anos de estudo, 64,2% são pessoas de referência do domicílio, 54,4% são da cor/raça branca e 55,7% são mulheres. Sendo as regiões Sudeste e Sul consideradas as mais envelhecidas do país, possuindo, em 2014, um contingente de idosos de 15,2% e 15,1% respectivamente (IBGE, 2015). Em vista de uma estrutura de desigualdade social presente nas territorialidades, alguns grupos sociais apresentam-se mais vulneráveis do que outros em situações de emergências e desastres, como o grupo de pessoas idosas. Entretanto, no Brasil, são poucas as pesquisas, políticas e ações institucionais voltadas para a população idosa no contexto de desastres (VIANA, 2015). Entende-se por desastres os resultados de eventos adversos, naturais ou provocados pelas pessoas sobre um ecossistema vulnerável, causando danos humanos, materiais ou ambientais e consequentemente prejuízos econômicos e sociais. Já emergências são situações anormais, provocadas por desastres, causando danos e prejuízos que resultam no comprometimento parcial da capacidade de resposta do poder público do ente atingido (BRASIL, 1998). No ano de 2015, no Brasil, houve 2.511 decretos municipais de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP) reconhecidas por portarias da Secretaria Nacional de Defesa Civil (SEDEC) do Ministério da Integração Nacional (MI). De acordo com o Glossário de Defesa Civil de Riscos e Medicina de Desastres (1998), existem várias Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 73 situações em que as vítimas de desastres são expostas, sendo considerado quatro tipos principais: desabrigamento, desalojamento, desaparecimento e morte. Dessa forma, o planejamento de ações direcionadas para os âmbitos mais vulneráveis torna- se essencial para a proteção da vida e garantia dos direitos dessas pessoas. Segundo a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (CONPDEC) é necessário “propor procedimentos para atendimento a crianças, adolescentes, gestantes, idosos e pessoas com deficiência em situação de desastre”. OBJETIVO Compreender os programas e políticas públicas voltadas para a população idosa em situações de desastres e emergências MÉTODO Trata-se de um estudo qualitativo de natureza bibliográfica que, segundo Fonseca (2002, p. 32) consiste em um “levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos”. O levantamento dos artigos científicos foi efetuado através da base de dados “Scielo” e “BVS Brasil”. Para a busca do material, foram utilizados os descritores: “idosos”, “emergências”, “desastres” e “políticas públicas”. Como suporte para a construção deste estudo, também foram utilizados livros que contemplaram a temática. Cabe ressaltar que não houve necessidade de submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa, por se tratar de um relato de experiência com uma proposta de contribuição a partir da prática profissional. RESULTADOS E DISCUSSÃO Aspectos Psicossociais do Envelhecimento De acordo com Schneider e Irigaray (2008), a idade social consiste no exercício de papéis ou experiências atribuídas à pessoa da mesma idade, constituindo-se de hábitos e status social de acordo com a cultura e grupo social aos quais está inserida. Portanto, uma pessoa pode ser considerada mais velha ou mais nova decorrente de como se configura o seu comportamento dentro da classificação social do ambiente em que vive. Em relação ao aludido pressuposto, os antropólogos compreendem que a idade é uma construção social. Minayo e Coimbra Jr. (2002) apontam que o processo biológico traz 74 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 mudanças reais que podem ser vistas através de sinais do corpo e, ao mesmo tempo, é constituído e elaborado simbolicamente por rituais que demarcam as fronteiras etárias. Em vista disso, os autores afirmam que esse processo não é igual em todas as sociedades, pois, em momentos históricos distintos, concedem uma significação específica às etapas do ciclo da vida, atribuindo papéis e funções. Para Bosi (2004), o processo de envelhecer abrange uma categoria social. Nesse sentido, em uma sociedade capitalista, de valorização da produção e do trabalho, o idoso encontra-se excluído, já que não faz mais parte da rede de trabalho. Essa perspectiva é importante para compreender a visão de pessoa, de família e sociedade que constitui a subjetividade de cada idoso. Para a referida autora, é preciso conceber o envelhecimento como um processo de desenvolvimento contínuo e singular. As novas imagens do envelhecimento apresentam transformações sociais que reconstroem identidades, ocasionando uma rediscussão sobre as categorias de família e envelhecimento no contexto da dependência/interdependência geracional (PACHECO; ALVES, 2012). As autoras ainda salientam que essas mudanças sociais da família contemporânea influenciam na redefinição dos relacionamentos familiares, modificando o dia a dia dos vínculos internos e trazendo uma nova figura do idoso, ou seja, rearranjos de papéis e funções que refletiram no contexto da pessoa idosa. Guerra e Caldas (2010) apontam que, na maioria das vezes, o olhar preconceituoso sobre o envelhecimento provém da escassez de informações acerca desse processo, ocasionando a construção de significados e imagens negativas que afetam a vivência e a relação entre as pessoas. Esta significação do processo de envelhecimento gera uma imagem preconcebida que pode ou não levar à exclusão, influenciando o modo como o idoso é valorizado na comunidade. Socialmente, pode-se inferir que a pessoa é definida como idosa a partir do momento em que deixa o mercado de trabalho, isto é, quando se aposenta e deixa de ser economicamente ativa. A sociedade atribui aos aposentados o rótulo de improdutivos e inativos. Com a aposentadoria, muitas vezes se percebe um rompimento abrupto das relações sociais com outras pessoas com as quais o indivíduo conviveu durante muitos anos. Ocorreu ainda, uma redução salarial considerável e a falta de atividades alternativas fora do ambiente de trabalho (SCHNEIDER; IRIGARAY, 2008, p. 590-591). A aposentadoria tem como objetivo a garantia dos direitos dos idosos, assim como sua inserção na sociedade democrática brasileira, porém, em muitas situações, este direito, é insuficiente no provimento das necessidades do idoso, principalmente nos casos em que o envelhecer vem acompanhado de incapacidades e patologias, demandando uma Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 75 maior atenção formal (Estado, sociedade civil) e informal (família) (MENDES; GUSMÃO; FARO; LEITE, 2005). Ainda segundo os autores, em muitas famílias a aposentadoria passa a ser a única fonte de renda da família, essa questão somada ao desenvolvimento tecnológico e incapacidades, associadas a patologias crônicas e/ou agudas, fazendo com que o idoso se sinta diminuído quanto ao seu status social, principalmente quanto as suas experiências, habilidades e conhecimentos, contribuindo para o desempoderamento desses idosos. É neste sentido que se faz necessária a criação e execução de políticas públicas especiais para esta população. Políticas Públicas e os Direitos dos Idosos Por meio dos estudos sobre essa temática percebe-se que o aumento da expectativa de vida acaba por gerar uma “pressão nos sistemas de previdência social” (FERNANDES; SANTOS, 2007, p.49) a chamada “bomba-relógio da aposentadoria”. Para Fernandes e Santos (2007, p. 51) “o termo política diz respeito a um conjunto de objetivos que informam determinado programa de ação governamental e condicionam sua execução”. Porém, apesar da redemocratização em curso no país, principalmente com a promulgação da Constituição cidadã em 1988, é possível verificar várias desigualdades sociais vividas principalmente pelos idosos. Cabe ressaltar ainda, que a constituição de 1988, foi a primeira “a versar sobre a proteção jurídica ao idoso, a qual impõe à família, à sociedade e ao Estado o dever de amparar os idosos” (UVO; ZANATA, 2005 citados por FERNANDES; SANTOS, 2007, p.53). Esses processos permitem que sejam trazidas para pauta questões referentes à cultura com o intuito de favorecer uma nova forma de pensar e agir no processo de envelhecimento, sendo assim, influenciando as políticas públicas e os direitos dos idosos. Direitos estes, que foram assegurados na Constituição Federal de 1988 foram regulamentados através da Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS (Lei nº 8.742/93), entre estes direitos está o Benefício de Prestação Continuada – BPC. A Política Nacional do Idoso, que foi instituída pela Lei 8.842/94 e regulamentada em 03 de junho de 1996, baseia-se em cinco princípios que apresentados por Fernandes e Santos (2007, p. 56): A família, a sociedade e o Estado têm o dever de assegurar ao idoso todos os direitos da cidadania, garantindo sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade, bem- estar e o direito à vida; O processo de envelhecimento diz respeito à sociedade em geral, devendo ser objetivo de conhecimento e informação para todos; O idoso não deve sofrer discriminação de qualquer natureza; O idoso de ser o principal agente e o destinatário das transformações a serem efetivadas através dessa política; As diferenças econômicas, sociais, regionais e, particularmente, as contradições entre o meio rural e o urbano do 76 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Brasil deverão ser observadas pelos poderes públicos e pela sociedade em geral na aplicação da lei. Estes princípios, além de pautar as políticas do direito, permitem uma emancipação, empoderamento do idoso. Atualmente, o Estatuto do Idoso, criado pela Lei 10.741 de 01 de outubro de 2003, representa um marco legal para a consciência idosa no país, elencando novos direitos e estabelecendo normas protetivas ao idoso como prioridade absoluta, assim como estabelece mecanismos específicos de proteção em todos os aspectos, física, psíquica e moral. No artigo 3º do Estatuto do Idoso são apresentados os principais direitos dos idosos, assim como a quem cabe a garantia destes: É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do poder público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. Desta forma, o envelhecimento passa a ser visto não só como uma fase de perdas sociais, intelectuais e físicas, mas também apresenta seus ganhos, principalmente a partir do ambiente e estilo de vida do idoso ao longo de seu desenvolvimento. A Vulnerabilidade do Idoso em Situações de Desastres A Lei 12.608 de 10 de abril de 2012 – Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDEC) e o Glossário de Defesa Civil (1998) consideram como grupo vulnerável: crianças, gestantes, idosos e pessoas com deficiência. Dentro destes, o idoso apresenta maior fragilidade em situações de emergência, devido a múltiplos fatores decorrentes tanto do processo de envelhecimento, quanto das enfermidades, deficiências e habitação em áreas de risco, já que estas situações comprometem a percepção de risco, o estado de alerta, atenção, agilidade e mobilidade dificultam ou impedem as respostas nesta situação. Sendo assim, algumas variáveis aumentam a vulnerabilidade do idoso. Para Bodstein, Lima e Barros (2014) no processo natural de envelhecimento ocorre o declínio da capacidade funcional, sendo assim, gradativamente são reduzidas a percepção de risco, estado de alerta, aumentado a vulnerabilidade do idoso, assim como, as chances de ser vitimado em uma situação de desastre. Outro ponto que deve ser ressaltado, e que agrava ainda mais o declínio funcional do idoso, são as consequências dos acidentes domésticos e nos espaços públicos, fazendo com que aumente ainda mais a vulnerabilidade do idoso em situações de desastres, já que tais consequências podem comprometer a mobilidade e agilidade que são necessárias nestas Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 77 situações. E, ainda, em muitos casos acabam por dificultar a própria reação e o resgate e salvamento por parte dos profissionais (BODSTEIN; LIMA; BARROS, 2014). Nesse contexto, Viana e Valencio (2015), acrescentam que existem três dimensões: objetivas, simbólicas e interpessoais. Sendo a dimensão objetiva a de perdas de bens materiais e entes queridos; a dimensão simbólica representa as significações individuais e coletivas; e a dimensão interpessoal envolve a rede se suporte social, formal e informal. Na tentativa de compreender o desastre na perspectiva dos idosos colocam-se em destaque as dimensões sociais de fragilização a partir de uma mudança radical no seu cotidiano e no espaço físico, bem como nas relações com a comunidade e consigo mesmo. Nesse sentido, ocorre uma descaracterização do local onde ocorreram diversas histórias individuais, de família e comunitárias. Com isso o idoso sente seus fragmentos materiais e memórias individuais e coletivas serem “destruídas”, que em muitos casos de desastres acabam por resultar em afastamento e até “esquecimento” daquele espaço (VIANA; VALENCIO, 2015). Dessa maneira, a casa é semelhante a um ninho, pois possui diversos significados, entre eles simbólicos, intersubjetivos e práticos, e sua construção dá-se não apenas de forma material, mas principalmente subjetiva, na medida em que são experienciadas situações únicas ao longo da construção histórica pessoal e coletiva e de desenvolvimento. (VIANA; VALENCIO, 2015). É neste contexto que os autores Bodstein, Lima e Barros (2014, p.161) afirmam que “a sociedade precisará repensar o lugar dos idosos nas cidades, em termos de infraestrutura e serviços capazes de atender à demanda dessa população”. Sendo assim, é necessário que além das preocupações com as condições do espaço público, seja necessário também uma nova arquitetura de imóveis, do espaço domésticos instrumentos de lazer e esporte, que sejam compatíveis com as necessidades e capacidades dos idosos. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir do levantamento bibliográfico proposto neste estudo, pode-se constatar que, no Brasil, há uma escassez de estudos voltados para a situação da pessoa idosa no âmbito dos desastres e emergências. Foi visto que o envelhecimento é considerado como um processo natural e gradativo, no qual os contextos sociais, culturais, econômicos e ambientais podem qualificar ou prejudicar esse processo. Dessa forma, essa etapa da vida caracterizada como velhice, possui suas especificidades, sendo necessário que seja compreendida através da sua relação com os diferentes aspectos cronológicos, biológicos, funcionais, psicológicos e sociais; e considerando as diferentes situações no qual são expostos. Diante do aumento da população idosa, foi possível perceber que os instrumentos de políticas públicas são importantes para estabelecer mecanismos específicos de proteção 78 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 e garantia dos direitos dos idosos, entretanto percebe-se que esses instrumentos muitas vezes atendem apenas parcialmente as necessidades dessa população. Através dos estudos aqui apresentados foi possível perceber que o idoso está inserido no grupo vulnerável exposto na Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDEC), por ser considerado todas as suas dimensões de fragilização (física, psicológica e social). Em um contexto de desastre e emergência agrava-se ainda mais esse cenário, por conta do comprometimento da mobilidade e agilidade que são necessárias nestas situações, no qual podem dificultar a sua própria percepção do risco e da reação. Faz-se importante destacar a descaracterização do local (casa, comunidade), cheios de significações e histórias individuais e coletivas, que ocorre nessas situações e que interferem na forma como o idoso e sua família vão lidar com a ressignificação do espaço. Nesta perspectiva, com o aumento gradativo da população idosa no país e considerando o contexto de desastres e emergências, se faz necessário realizar um planejamento de ações futuras e de priorização de políticas que busquem soluções adequadas e específicas para abarcar as demandas que surgem dessa faixa etária. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. BRASIL. Ministério da Saúde. Envelhecimento e saúde da pessoa idosa. Brasília-DF, 2007. 192 p. ______. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988. ______. Ministério da Integração Nacional. Glossário de Defesa Civil: estudos de riscos e medicina de desastres. 2. Ed. Brasília: MPO, Departamento de Defesa Civil, 1998. 4. ______. 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Jorge Luis López Jiménez INPRFM Guadalupe Barrios Salinas Blanca Estela López Salgado UIC Tomás Cortés Solís UAMXOCH 10.37885/201202379 RESUMEN El propósito del presente trabajo es el de reflexionar sobre los aportes obtenidos al desarrollar dos líneas de investigación con enfoque psicosocial en el campo de la psicogerontología. El primer estudio denominado “Condiciones de vida y salud mental en adultos mayores”, se llevó a cabo bajo una estrategia cuantitativa aplicando un instrumento estructurado, y el segundo “Construcción de la noción de vejez en el adulto mayor”, fue desarrollado con una metodología cualitativa mediante la aplicación de entrevistas abiertas. Se presentan resultados para cada uno de los enfoques, señalando el contexto en el cual fueron desarrollados, las poblaciones de estudio, así como las generalidades en ambos y las aportaciones específicas para cada situación. Palabras- Clave: Investigación Cuanti- Cualitativa, Adultos Mayores, Salud Mental; Subjetividad, Construcción Noción de Vejez. INTRODUCCIÓN La investigación definida como un procedimiento reflexivo, sistemático, controlado y crítico, permite aportar nuevos hechos o datos, relaciones o leyes en todos los campos del conocimiento humano (Ander, 1971). Por tal motivo, la investigación es una búsqueda sistemática, conducente a nuevos o mayores descubrimientos o percepciones, que al documentarse y difundirse contribuye a modificar el conocimiento y/o práctica existente. La metodología parte esencial en el desarrollo de la investigación, describe las unidades o análisis de investigación, las técnicas de observación y recolección de datos, los instrumentos de medición y las técnicas de análisis (Morales, 1971). En el diseño de investigación cuantitativo, las decisiones sobre las acciones a llevar a cabo, se toman antes de realizar el estudio; por el contrario, en la investigación cualitativa no se planifica el proceso de decisiones, éstas se van tomando en función del cariz que asume el proceso de investigación. Por lo tanto, se habla de un diseño emergente, ya que éste “emerge” en función de lo que ha ocurrido anteriormente (Fernández-Ballesteros, 2000). Kenneth (1995), indica que en este proceso, la labor del investigador no debe limitarse a reunir y organizar información; sino que tiene que ir más allá de eso, lo que implica un trabajo reflexivo profundo para tratar de adquirir nuevas percepciones y poder realizar aportaciones. En este contexto, la investigación científica se ha servido tanto de los enfoques cuantitativos como cualitativos para aproximarse a dicho conocimiento, y ha implementado metodologías con ambas perspectivas que apoyan su desarrollo. Tales formas de indagación representan dos visiones del mundo. En el trabajo de investigación, Fernández-Ballesteros (2000), señala que los enfoques cuantitativos y cualitativos pueden ser empleados de manera complementaría dentro de los siguientes contextos: mediante la implementación de elementos cualitativos cuando se aplica una técnica cuantitativa o de estrategias de análisis cuantitativo en la aplicación de una técnica cualitativa; destacando la complementariedad intrínseca de ambos enfoques, que aunque son perfectamente distinguibles no por ello son necesariamente incompatibles (Brown, 1977 & Popper, 1980). Un campo de estudio relativamente reciente ha sido el de la psicogerontología, la cual ha utilizado ambas aproximaciones cuanti-cualitativas, ayudando a ampliar la comprensión del envejecimiento, la vejez, y los adultos mayores. En la investigación cuantitativa la entrevista tendrá mayor grado de estructuración; es común que una persona haga preguntas (entrevistador) y otra responda (entrevistado), se implementa bajo un instrumento en formato de cuestionario, con categorías de respuesta cerradas, lo que requiere la adscripción de la respuesta del entrevistado en alguna de las categorías previamente establecidas. Por otro lado, la entrevista abierta ha sido muy utilizada en los estudios cualitativos en campo de la psicología y otras disciplinas. La investigación 84 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 cualitativa se basa en un grado mínimo de estructuración; es por esto, que se denomina de tipo abierta (Silva, 1992). Lo más relevante en esta perspectiva, es el registro tal cual del discurso del entrevistado; en la entrevista abierta predomina el discurso subjetivo. Para Hernández (1995), la población de estudio incluye a todas las personas mayores de 65 años, por lo que esta edad representa el límite inferior; sin embargo apuntan Reig y Fernández-Ballesteros (1994), que tenemos que considerar las características especiales que presenta este grupo, ya que éstas pueden tener influencias directas e indirectas sobre las investigaciones que se lleven a cabo. El trabajo con adultos mayores presenta sus propias dificultades, ya que se señala que el paso de los años conlleva la existencia de una serie de cambios sensoriales (aparición de déficit visuales y auditivos), en la salud (problemas respiratorios, circulatorios o de movilidad), o psicológicos que deben ser tomados en cuenta por el investigador (Fernández- Ballesteros, 2000). También, se ha descrito la influencia del contexto socioambiental en el que las personas mayores han desarrollado la mayor parte de su vida y sobre todo aquel que corresponde con su periodo formativo, pudiendo ser totalmente distinto del actual, lo debe ser tomado en cuenta al aplicar instrumentos de investigación desarrollados en el momento presente, ya que probablemente pudieran resultar extraños para estas personas. Asimismo, y como resultado del posible efecto cohorte, se pueden encontrar incluso dificultades de comprensión para completar cuestionarios de autoinforme, que derivan en no pocas ocasiones a ser administrarlos en formato de entrevista (Fernández-Ballesteros, Itzal, Montorio et al., 1992; Reig y Fernández- Ballesteros, 1994). Cabe mencionar en este sentido, los problemas de analfabetismo y la falta de familiaridad con la tarea de completar cuestionarios, lo que podría afectar tanto a la comprensión de las preguntas, como al entendimiento de cómo han de elegirse las respuestas (FernándezBallesteros, 2000). En cuanto a los estudios gerontológicos, se han reportado diversos factores teóricos, conceptuales, metodológicos y prácticos que dificultan su desarrollo (Gómez y Cursio, 1999; Cursio y Gómez, 1999; Moreno, 2001). Ante la presencia del cuestionamiento referente a si la gerontología es una ciencia, disciplina y/o campo de conocimiento, la mayoría de los estudiosos del área ubican a la gerontología como una disciplina que estudia el envejecimiento, la vejez y al adulto mayor (COMLAT-IAGG- ACGG, 2009). Es de destacar que en el ámbito internacional, se estén formulado recomendaciones sobre la importancia de alentar y promover la especialización de profesionistas en esta área (López, Barrios, López et al., 2002). La psicogerontología como una especialidad dentro de la gerontología, aborda entre muchos otros aspectos, los procesos emocionales y del comportamiento de la población adulta mayor. Las actividades profesionales que se desarrollan dentro de este campo son Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 85 múltiples; sin embargo, todas ellas estarían encaminadas a la comprensión desde una perspectiva psicosocial de lo que sucede dentro del propio proceso de envejecimiento. En la actualidad la investigación en esta área es limitada, aún cuando existe el interés para el desarrollo de estudios con mayor rigurosidad científica, que permitan ir descartando mitos, ideas y creencias equivocadas sobre el envejecimiento y sus aspectos asociados. Aunado a dicho interés científico, ha sido la utilización de los enfoques cuantitativos y cualitativos, hecho que esta permitiendo ampliar el conocimiento y comprensión de las situaciones relacionadas al adulto mayor. Por otro lado, para acercarnos al conocimiento global del adulto mayor, es necesario abordar su estudio desde una postura amplia, que no limite de inicio el ámbito de interés. Esto implica que la investigación de la vejez, debe seguir un modelo multidimencional en el cual se incluyan variables tanto del propio individuo -biológicas, personales o psicológicas-, como del entorno en que se desenvuelve -variables ambientales y sociales- (Reig y Fernández-Ballesteros, 1994). En la propuesta para implementar algún estudio en el campo de la psicogerontología, es recomendable definir y precisar la temática que se quiere abordar, la forma en que se problematiza el estudio y si el interés principal es la utilización de técnicas de investigación que buscan datos objetivos (metodologías cuantitativas) o discursos subjetivos (metodologías cualitativas). No menos importante, es el hecho de que el investigador en este campo, deba cubrir el requisito mínimo fundamental de poseer conocimientos consolidados sobre las condiciones prevalecientes de la población gerontológica que se quiere investigar. Al respecto, Fernández-Ballesteros (2000), señala, que es necesario tener siempre presente que es una persona mayor a quién se investiga, a quién se pregunta y se observa; lo cual plantea características diferenciales con respecto a su edad y a lo privativo a esta etapa de la vida en el plano físico, psicológico y social. El objetivo del presente trabajo fue el de presentar y reflexionar sobre la información derivada de dos investigaciones (Figura 1): una con un enfoque cuantitativo y la otra desarrollada bajo una perspectiva cualitativa. La pregunta central que guía este desarrollo fue ¿Qué aportaciones/contribuciones realizan éstos estudios al campo de la psicogerontología? Figura 1. Líneas de investigación sobre el adulto mayor 86 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 El proyecto “Condiciones de vida y salud mental en adultos mayores” (López, 2004), se desarrolló en el contexto de la epidemiología aplicada al estudio de los trastornos emocionales (Cuadro 1). Como parte de los objetivos planteados nos propusimos probar instrumentos, métodos y procedimientos; así como establecer un diagnostico situacional sobre su estado de salud emocional. El estudio fue de tipo observacional, descriptivo y transversal, con información obtenida mediante la aplicación por entrevista directa de un instrumento en formato de cuestionario a personas de 60 años y más, residentes en una Institución de Asistencia Social de la Ciudad de México. Las principales secciones del cuestionario fueron: Datos Demográficos, Limitantes Físicas, Uso de Auxiliares, Cuestionario General de Salud de Goldberg (CGS-12, 1972), Calidad de Vida -WHOQOL-BREF- (WHO, 1996), Cuestionario de Evaluación de la Discapacidad -WHODAS II- (WHO, 2001) y la Mini Entrevista Neuropsiquiátrica Internacional –MINI- (Versión en español 5.0.0., DSM-IV, 2000). De la población de adultos mayores, se seleccionó una muestra aleatoria sistemática entrevistando a una de cada cuatro personas mayores, también se eligió al azar el número de inicio de la selección. Se contó con la participación de profesionales con amplia experiencia en el campo de la investigación y aplicación de entrevistas, quienes fueron previamente capacitados en el manejo de la metodología, procedimientos, instrumento y de la entrevista psiquiátrica MINI. El análisis y descripción de la información se realizó en el marco de la epidemiología de los trastornos mentales (Cuadro 2). Posterior al estudio cuantitativo, desarrollamos la investigación: “Construcción de la noción de vejez en el adulto mayor” (López, 2007), bajo una estrategia cualitativa (Cuadro 1), cuyo objetivo fue el de abordar desde la propia cosmovisión de las personas mayores, el estudio de sus nociones y representaciones que prevalecen sobre su vejez, escuchando y registrando la manera como se narran a sí mismos, lo que sienten, piensan y viven en el momento actual. La forma en que se definen y asumen para poder entender su vida presente. Buscamos indagar desde su propia perspectiva, sus experiencias y expectativas de vida que nos permitieran comprender la forma como se colocan frente a la existencia, sus procesos de vinculación y desvinculación, las transformaciones del cuerpo como condición humana y sus condiciones de segregación entre otras situaciones que pudieran emerger en su discurso. Para tal fin creamos un espacio de reflexión colectiva e individual, donde las personas pudieran escucharse y hablar sobre si mismas, donde pudieran pensarse. El trabajo en su contexto general se desarrollo dentro del marco de las ciencias sociales. Después de contactar al adulto mayor y aclarar los propósitos del estudio, procedimos a solicitar su participación y permiso para grabar todo lo que surgiera en el encuentro. Acto seguido, establecimos el encuadre, donde le indicábamos que estábamos muy interesados en poder escucharlos y registrar la conversación en su totalidad para ayudarnos a tratar de Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 87 entender su vida presente. En el desarrollo del trabajo grupal e individual utilizamos entre otras las siguientes consignas: ¿Cómo es su vida actualmente? ¿Qué piensa de su vida en este momento? ¿Qué cosas le gustan en su vida presente? En resumen nos interesaba que compartieran sus experiencias de la vida cotidiana en el presente; así como sus expectativas de vida para más adelante (Cuadro 2). Desde esta perspectiva, se incluyen los aspectos subjetivos que dan sentido y significado a las conductas y acciones de los individuos, permite investigar el punto de vista de los adultos mayores de acuerdo con el sistema de representaciones simbólicas y significados de su contexto particular (Lerner y Quesnel, 1986). La realidad subjetiva y la realidad social están íntimamente relacionadas y es donde se inscriben las conductas y acciones humanas (Szasz y Lerner, 2002). Al considerar la subjetividad, se enriquece la realidad, ya que se integran datos que suelen desconocerse u omitirse en el enfoque cuantitativo (Jaidar, 1999). El marco de análisis y la interpretación se sustentaron en el análisis del discurso. Cuadro 1. Contexto del desarrollo de las investigaciones 1 2 88 Estudio Cuantitativo: COVYSMAM1 Cualitativo: CONOVEAM2 Adultos Mayores Institucionalizados de 60 años y más Institucionalizados y población general de 60 años y más Metodología Objetividad de los datos Subjetividad de los discursos Tipo Psicosocial Psicosocial Ejes Condiciones de vida, Salud mental Noción de vejez: determinar cómo se definen y asumen Marco de referencia Epidemiología de los trastornos mentales Psicología social. Teoría del vínculo Instrumentos Cuestionario que consta de 12 secciones Consignas Número de Variables Cuantitativas= 506 Cualitativas= 54 Cuantitativas= 69 Cualitativas= 8 Análisis Estadísticos a través del paquete SPSS PC para windows Trascripción de las entrevistas, Análisis del discurso Estudio: Condiciones de vida y salud mental en adultos mayores, COVYSMAM, 2004 Estudio: Construcción de la noción de vejez en el adulto mayor, CONOVEAM, 2007 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Cuadro 2. Características de las poblaciones de estudio COVYSMAM, 2004a Adultos mayores institucionalizados a b CONOVEAM, 2007 b Adultos mayores institucionalizados Adultos mayores, población general Muestra= 30 Factor de ponderación (4*30= 120) Tres entrevistas individuales, en dos encuentros Tres entrevistas individuales, en tres encuentros Población ponderada de estudio= 120 Sexo: Femeninos= 2, Masculinos= 1 Sexo: Femenino=2 Masculino= 1 Adultos mayores, no disponibles / entrevista suspendida= 40 (33.3%) Edad promedio 81.3 años Entrevistas Completas= 80 (66.6%) Tres entrevistas grupales en tres encuentros, con diez participantes Dos entrevistas grupales, en dos encuentros, con dieciséis participantes Sexo: Femenino= 52 (65%), Masculino= 28 (35%) Sexo: Femenino= 7 Masculino= 3 Sexo: Femenino= 15 Masculino= 1 Edad promedio= 80 años Edad promedio= 77.6 años Edad promedio 81.3 años Edad promedio= 71.6 años Estudio: Condiciones de vida y salud mental en adultos mayores, (COVYSMAM, 2004) Estudio: Construcción de la noción de vejez en el adulto mayor, (CONOVEAM, 2007) Generalidades en ambos enfoques a. Los adultos mayores constituyen en la actualidad un segmento especial dentro de nuestra población (López, Barrios, López et al., 2002), condición que se asocia a sus características de vulnerabilidad y fragilidad, por lo que se tienen que atender especialmente los aspectos éticos en los estudios. Los profesionales y personas interesadas en el área deben tener conocimientos básicos del proceso de envejecimiento, de la vejez y del adulto mayor. b. En este contexto, los aspectos éticos adquieren gran importancia. Desde el primer contacto es necesario aclarar los propósitos del estudio con el fin de que no se formen falsas expectativas de lo que puedan obtener con su participación (López, Barrios, López et al., 2003a). Tener una escucha atenta y respetuosa; dirigirse a la persona por su nombre, abordarlo con respeto y obtener el consentimiento firmado de su participación. En la medida de lo posible respetar sus tiempos y espacios. c. Por lo anterior, es necesario considerar las condiciones que prevalecen en gran parte en ésta población: abandono, prejuicio, marginación, discapacidades y enfermedades, así como desconocimiento y dificultad en el manejo de su problemática asociada. d. El ritmo de las entrevistas es “Lento y Pausado”, lo que constituye una característica del trabajo con ésta población. e. Se pudo determinar la necesidad que tienen de “entablar comunicación” con otras personas, ya que no se reportó, ni observo cansancio ni fatiga, mostrando por el contrario, el deseo de continuar conversando aún cuando hubiera finalizado la entrevista. Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 89 Aportaciones del enfoque cuantitativo a. Esta estrategia permitió establecer una situación diagnóstica de las condiciones de vida y de salud en la población de estudio (López, Barrios, López et al., 2002). b. Las principales limitantes físicas y por orden de importancia fueron los de la visión, dentales, auditivos y de movilidad de miembros superiores e inferiores. El uso de auxiliares fue mucho menor en comparación con las limitaciones reportadas. c. Más allá de los problemas de demencia, depresión deterioro cognoscitivo y discapacidad, existen otros problemas emocionales a nivel de sintomatología (40%) y diagnóstico (30%) que requieren ser identificados y atendidos (López, Barrios, Martínez et al., 2005; López-Jiménez, Barrios-Salinas, López-Salgado et al., 2008). d. En los cuestionarios las respuestas dicotómicas facilitan la elección de la respuesta. Es también necesario agregar categorías dentro de las opciones de respuesta: “No Procede, “No aplicable” y “No recuerda”, de acuerdo al contexto en el cual se aplique el cuestionario. e. Es básico destacar la capacitación previa del equipo de investigación tanto en el contacto, como en la aplicación de las entrevistas. Aportaciones del enfoque cualitativo a. Para evitar que la entrevista adquiera una dinámica pregunta-respuesta, se debe omitir el decirle que trata de una entrevista. Para ejemplificar, podría indicársele: “Estamos muy interesados en saber y que comente todo lo que piensa con respecto a {...}” b. .También destaca que sentimientos de soledad, aislamiento, incomunicación y espiritualidad, frecuentemente reportadas, puedan ser mejor comprendidos si se abordan desde los terrenos de la subjetividad, presente en todo acto humano. c. Se pudo reconocer la importancia del espacio que se crea, donde ellos puedan pensarse, escucharse y hablar sobre sí mismo. Nos parece que adicionalmente puede obtenerse un efecto psicoterapéutico. Para ellos el contar con este espacio es de suma importancia y una vez creado, luchan por mantenerlo y conservarlo. Se crean redes de apoyo social. d. Por lo anterior, sobresale la amplia gama de posibilidades que nos brida la investigación cualitativa, destacando al mismo tiempo la necesidad de formar espacios de discusión y aprendizaje interdisciplinarios, sobre todo en el campo de estudio del envejecimiento, donde su aproximación hasta este momento ha sido limitada y relativamente novedosa. 90 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 e. La capacitación previa a la investigación para el equipo hace énfasis en lo subjetivo; el establecimiento del raport y el respeto a su vivencia expresada entre otros. DISCUSIÓN a. La información obtenida permite pensar que las personas mayores constituyen un segmento especial dentro de nuestra población, por lo que el profesional deberá contar con conocimientos en el campo de la gerontología. b. Existen situaciones específicas: problemas de comprensión, médicos, psiquiátricos, ritmo de entrevista y opciones de respuesta que deben ser considerados en el desarrollo de investigaciones en esta población (López, Barrios, López et al., 2003b). c. No obstante e independientemente del tipo de metodología con que se aborden los problemas del adulto mayor, existe la necesidad de dar respuesta en la práctica a diversas situaciones que como sociedad estamos enfrentado. d. Es necesario evaluar problemas auditivos, de la visión y en miembros superiores e inferiores; para asegurar que la persona mayor escucha y comprende lo que se le esta preguntando o sobre lo que se busca obtener información. e. Cuando se pregunta o indagan periodos de tiempo definidos, es necesario estar ubicándolos temporalmente. Recordarle frecuentemente durante el encuentro, los periodos sobre los que se quiere obtener información. f. Un hecho interesante, es la necesidad que presentaron los adultos mayores para “entablar comunicación” con otras personas, como el caso de los investigadores y con personas que no pertenezcan al ámbito en el que se encuentran, lo que les brinda la oportunidad de comentar y relatar diversas situaciones de sus condiciones de vida. g. Por lo anterior, es necesario e importante realizar investigaciones sistemáticas en el campo de la psicogeronotología, adaptadas a la diversidad de condiciones en que se encuentran las personas de 60 años y más, con la finalidad de que a corto y mediano plazo permitan desarrollar y estructurar estrategias de intervención y atención en áreas específicas en las poblaciones de estudio. CONCLUSIONES a. En todo estudio y dependiendo del problema de investigación, enfoque y contexto en el cual se planeé realizarlo, es necesario adaptar y en su caso estandarizar, métodos, procedimientos e instrumentos, tomando en cuenta las características y Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 91 condiciones de la población de estudio. b. En nuestro caso las investigaciones cubrieron las normas éticas establecidas para estudios de esta naturaleza. Desde respetar toda tentativa de rechazo, manejo de la información con absoluta confidencialidad y anonimato y la obtención de su consentimiento por escrito, aclarando que la información proporcionada sería utilizada únicamente con fines de investigación. c. A pesar de los avances obtenidos por ciencia, todavía hay mucho que se desconoce del adulto mayor, por lo que queda bastante por aprender. d. Durante el encuentro con el adulto mayor se debe mostrar una actitud de respeto y comprensión hacia el ser humano y a los contenidos objetivos y subjetivos de la información que se nos proporcione. e. A través de los estudios, se pudo determinar que existen creencias falsas y mitos sobre esta población, como el hecho de no querer hablar, fatigarse fácilmente y que son pasivos frente a los problemas que se les presentan, entre otros. AGRADECIMIENTOS Nuestro agradecimiento a Omar Isai López Ramírez por el apoyo brindado en el desarrollo de este trabajo. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 92 Ander, E. (1971). Introducción a las Técnicas de Investigación Social. Buenos Aires: Humanistas. Brown, H. (1977). Perception, Theory and Commitment. The New Philosophy of Science. Chicago, III. Precedent Publishing. En: La Nueva Filosofía de la Ciencia. (1983). Madrid: Tecnos. COMLAT-IAGG-ACGG. Comité Latinoamericano de la Asociación Internacional de Gerontología y Geriatría (COMLAT-IAGG). 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Introduction, Administration, Scoring and Generic Version of The Assessment. Field Trial Version, December. Program on Mental Health. World Health Organization, Geneva. Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 08 “ As Tecnologias de Informação e Comunicação na Qualidade de Vida de Aposentados Residentes em Rio Claro/SP: estudo quantitativo Elisangela Gisele do Carmo DEF/IB/RIO CLARO, UNESP Pollyanna Natalia Micali DEF/IB/RIO CLARO, UNESP Raiana Lídice Mór Fukushima DEF/IB/RIO CLARO, UNESP Reisa Cristiane de Paula Venancio DEF/IB/RIO CLARO, UNESP José Luiz Riani Costa DEF/IB/RIO CLARO, UNESP 10.37885/201202442 RESUMO Este estudo, de natureza quantitativa, teve por objetivo analisar a utilização das TIC, na fase de aposentadoria, e os possíveis impactos desta utilização na saúde e QV desta população. A amostra foi composta por 20 participantes, com idade igual ou acima de 60 anos, ambos os sexos, residentes em Rio Claro-SP. O protocolo de avaliação foi composto por uma avaliação da utilização das tecnologias e um módulo da QV. Para análise estatística foram utilizados testes estatísticos não paramétricos, devido à natureza dos dados. Os resultados mostram que os aposentados apresentam boa QV com uma maior percepção das consequências das TIC às experiências vivenciadas pela sua utilização. Conclui-se, que a utilização das TIC, favorece o acesso à mais informação, principalmente, de saúde, e que, denota uma melhora significativa na QV desta população. Pa l av r a s - c h ave: Te c n o l o g i a s d e I n fo r m a ç ã o e C o m u n i c a ç ã o, A p o s e n t a d o r i a , Qualidade de Vida. INTRODUÇÃO O cenário mundial mostra um perfil demográfico com grande contingente de idosos e, consequentemente, de maior número de aposentados. Essa mudança demográfica já vem se intensificando, há alguns anos, também no Brasil (IBGE, 2015). Tal mudança acompanha a evolução tecnológica que, no decorrer das décadas, fez as sociedades passarem por diversas modificações. Os âmbitos cultural, social e do lazer adequaram-se a este acesso, principalmente por meio das denominadas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), determinando novos conceitos e ampliando a rede de contatos das pessoas e de seus familiares (SILVA, 2008). As TIC são mecanismos eletrônicos, que fazem o armazenamento e a comunicação da informação, a saber: computadores, notebooks, telefones celulares e/ou smartphones; tablets, além da própria World Wide Web (WWW), comumente chamada de internet, a principal difusora destas informações em tempo real e imediato (SILVA, 2008). As TIC representam mecanismos indispensáveis para a comunicação, a informação e a atualização, sobretudo quando envolvem conteúdos existentes no ambiente virtual. Neste contexto tecnológico, diversos são os fatores que podem determinar a melhor ou a pior Qualidade de Vida (QV) de um indivíduo. Fatores, estes que, refletem o conceito da Organização Mundial de Saúde (OMS), entendidos como sendo algo, em que há aspectos subjetivos, físicos, psicológicos e sociais, com dimensões positivas e negativas (KLUTHCOVSKY; TAKAYANAGUI, 2007). Na busca pela melhor QV, os idosos motivados em ter um envelhecimento ativo, procuram a inclusão social, e por vezes, usam as TIC como forma de alcançá-la (CHEN; SCHULZ, 2016). Assim, ao se sentirem inseridos neste universo tecnológico, os mesmos se sentem incluídos, apoiando a aprendizagem no computador e até mesmo as inúmeras oportunidades de educação os quais foram abandonadas outrora (CZAJA et al., 2008). Assim, os desafios envolvidos na utilização das TIC podem representar um estímulo cognitivo importante na fase de aposentadoria (SMALL et al., 2009), ao ampliar as opções de modalidades no lazer virtual, bem como, as informações quanto a mudanças de hábitos relacionados à saúde (AGE CONCERN AND HELP THE AGED AND BT, 2009). Uma pesquisa realizada pela Universidade de Exeter, na Inglaterra, denominada Activating and Guiding the Engagement of Seniors through Social Media (AGES 2.0), objetivou determinar de que maneira intervenções como as TIC, especialmente as redes sociais e a internet, podem ajudar a comunicação e a inclusão social, e avaliar esses efeitos sobre a saúde e a QV de idosos institucionalizados e não institucionalizados. Os resultados comprovam que os idosos preferem utilizar as redes sociais para contatos com familiares e amigos; para obter conhecimento sobre assuntos relacionados a saúde por meio de pesquisas realizadas no site Google®; os idosos ainda tiveram benefícios nas funções cognitivas e Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 97 melhoria de quadros depressivos, devido ao maior relacionamento social obtido pelas redes sociais, observando, que os idosos tiveram demonstrações anteriores de utilização do site (EUROPEAN COMMISSION, 2013). Além do AGES 2.0, outros estudos têm focado nesta tendência da inclusão digital e os possíveis impactos desta utilização sobre a QV da população idosa (MESQUITA, 2011; KACHAR, 2010; JANTSCH et al., 2012; KARAVIDAS; LIM; KATSIKAS, 2005). A restrição ao acesso a esses recursos pelos indivíduos na fase da aposentadoria pode limitar as perspectivas de vivências de atividades no contexto do lazer e da saúde, com possíveis ressonâncias negativas na percepção sobre QV. A literatura sobre esses temas apresenta lacunas de estudos que abordem a relação das TIC com a promoção da QV, especialmente, na fase de aposentadoria. Sendo assim, este estudo se justifica, pela utilização das TIC que pode incrementar estas vivências, incidindo diretamente na QV de aposentados, aspectos que devem ser focalizados em novos estudos. Desta forma, o objetivo do estudo foi analisar a utilização das TIC, na fase de aposentadoria, e os possíveis impactos desta utilização na saúde e QV desta população. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Trata-se de um estudo transversal, de caráter descritivo, com abordagem quantitativa. O projeto de pesquisa, com seus respectivos protocolos, foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UNESP, Campus Rio Claro, CAAE: 35765514.7.0000.5465. A amostra foi composta por 20 participantes, todos aposentados, com idade igual ou acima de 60 anos, de ambos os sexos, residentes no município de Rio Claro, interior do Estado de São Paulo. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Como critério de inclusão, os participantes não poderiam apresentar comprometimento cognitivo, verificado pela aplicação do Mini Exame do Estado Mental-MEEM (FOLSTEIN et al., 1975), com utilização de pontuação sugerida por Brucki et al. (2003). Protocolo de Avaliação Inicialmente, os participantes participaram de um processo de triagem feito pela aplicação do MEEM, para excluir possíveis indivíduos que não se enquadrassem nos critérios de inclusão da pesquisa. Posteriormente, para a coleta de dados foram utilizados dois instrumentos. Para avaliar a utilização das tecnologias foi aplicada a Escala de Atitudes Face às Novas Tecnologias de Informação, denominada Escala ANT/25, composta por quatro Fatores (CAROCHINHO, 1999) e para avaliar a QV foi aplicado o World Health Organization Quality of Life Group–Módulo WHOQOL-OLD (World Health Organization Quality of Life-OLD) e o 98 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 WHOQOL-Bref (World Health Organization Quality of Life-Bref), (FLECK; CHACHAMOVICH; TRENTINI, 2006). Análise dos Dados Inicialmente, os dados foram mapeados para detecção de outliers, e após aplicou-se, os testes de Shapiro-Wilk (SHAPIRO; WILK, 1965) e Kolmogorov-Smirnov (KOLMOGOROV, 1933; SMIRNOV, 1948), para investigar o atendimento ao pressuposto de normalidade dos dados. Com o resultado indicando que os valores não atenderam ao pressuposto, foi tomada a decisão da aplicação de testes não paramétricos, e adotou-se como medida representativa a mediana e o intervalo interquartílico. O teste U de Mann-Whitney (MANN; WHITNEY, 1947), foi aplicado para avaliar os fatores no que concerne à utilização de tecnologias e demais variáveis. O relacionamento entre as variáveis foi examinado pela Correlação de Spearman (SPEARMAN, 1904). Todas as análises obedeceram ao critério de significância quando p<0,05 e p<0,01. Para análise dos dados do módulo WHOQOL, foi utilizada a sintaxe para o WHOQOL-Bref. Todos os dados foram analisados com a utilização do SPSS® v.20. RESULTADOS A amostra intencional foi composta por 20 aposentados (mediana de idade: 68,5/65,072,0; escolaridade: 12,5/11,4-14,4), composta por 90% de participantes do sexo feminino e 10% do sexo masculino, estado civil com 75% de casados. Do total dos participantes 100% tinha acesso a internet e à mecanismos de TIC. Utilização de Tecnologias de Informação e Comunicação A Tabela 1 ilustra os resultados do teste U de Mann-Whitney, comparando os fatores da Escala ANT/25. Foi encontrada uma tendência, mas não significativa, no fator 2 da Escala ANT/25, com o valor de p, próximo à 0,05 (p=0,053). Na soma dos fatores da Escala ANT/25, apesar de não apresentar diferença significativa, verifica-se os aposentados com 98 pontos. Essa pontuação é maior do que o estudo de Correia da Costa (2010), e está dentro do esperado, pois a Escala ANT/25 tem um ponto de corte de 60 pontos, conforme proposto por Carochinho (1999). Qualidade de Vida No Teste de U de Mann-Whitney da Qualidade de Vida os resultados do WHOQOL-Bref mostram que dentro os domínios, o 2 “Psicológico” e o 3, “Relações Sociais”, respectivamente Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 99 apresentam diferenças significativas. Já no os resultados do WHOQOL-OLD, observa-se que as maiores pontuações ocorrerão nas facetas “Autonomia”, “Atividades Passadas, Presentes e Futuras” e “Participação Social”. Utilização de Tecnologias e a influência na Qualidade de Vida Observa-se que a faceta “Participação Social” obteve diferença significativa (p=0,025). Outros resultados apesar de não apresentar diferenças significativas, também devem ser considerados, como nas facetas “Autonomia” e “Atividades Passadas, Presentes e Futuras”. Tabela 1. Mediana e intervalo interquartílico da idade e da Qualidade de Vida. APOSENTADOS VARIÁVEIS Med P25 P75 14,5 13,0 16,0 P WHOQOL-OLD FS 1,000 AUT 34,4 21,9 37,5 0,075 PPF 81,2 65,7 93,8 0,099 PSO 78,1 68,8 87,5 0,025 MEM 71,9 62,5 81,2 0,504 INT 78,1 68,8 87,5 0,389 DOM1 75,0 66,9 85,7 1,000 DOM2 79,1 78,1 84,3 0,268 DOM3 75,0 64,5 91,6 0,653 DOM4 73,4 67,1 81,2 0,400 AAQV 76,7 70,1 80,3 0,400 WHOQOL-Bref Teste de U de Mann-Whitney. FS: Funcionamento do Sensório. AUT: Autonomia. PPF: Atividades Passadas Presentes e Futuras. PSO: Participação Social. MEM: Morte e Morrer. INT: Intimidade; DOM1: Físico. DOM2: Psicológico. DOM3: Relações sociais. DOM4: Meio ambiente. AAQV: Autoavaliação da Qualidade de Vida. A Tabela 2 ilustra a matriz de Correlação de Spearman (SPEARMAN, 1904), que avalia os objetivos específicos e o relacionamento entre as variáveis. Para este estudo foram utilizados os seguintes pontos de corte, propostos por Spearman (1904): Correlação nula (0,20 até 0,20); Correlação fraca (-0,20 a -0,4 e 0,20 até 0,4); Correlação moderada (-0,40 até -0,80, e 0,40 até 0,80) e Correlação forte (-0,80 a -1 e 0,80 até 1). O fator 2 da Escala ANT/25 apresenta correlação significativa, positiva e moderada, respectivamente, com os fatores 1 (r=0,546; p<0,05) e 3 (r=0,675; p<0,01). No total, o fator 2 apresenta correlação significativa, positiva e forte (r=0,805; p<0,01). O fator 3 existe uma correlação significativa, positiva e moderada, em aposentados, respectivamente, com os fatores 1 (r=0,536; p<0,05), 2 (r=0,675; p<0,01), e com o total dos fatores (r=0,762; p<0,01). A soma dos fatores, em aposentados, ainda apresenta correlação significativa, negativa e moderada com o domínio 3 do WHOQOL-Bref (r=-0,451; p<0,05). O domínio 1 do WHOQOL-Bref apresenta correlação significativa, positiva e moderada com o domínio 2 (r=0,632; p<0,01), e com a auto avaliação da QV (r=0,651; 100 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 p<0,01). O domínio 2, apresenta correlação significativa, positiva e moderada com o domínio 1 (r=0,632; p<0,01), com os domínios 3 (r=0,600; p<0,01), 4 (r=0,554; p<0,05) e com a autoavaliação da QV (r=0,777; p<0,01). O domínio 3 apresenta correlação significativa, negativa e moderada com o total dos fatores da Escala ANT/25 (r=-0,451; p<0,05). O mesmo domínio, também apresenta correlação significativa, positiva e forte com a autoavaliação da QV (r=0,858; p<0,01). O domínio 4 apresenta correlação significativa, positiva e moderada com a autoavaliação da QV (r=0,636; p<0,01). Tabela 2. Relacionamento do Coeficiente da Correlação de Spearman, obtidos entre si, da utilização de tecnologias e Qualidade de Vida. VARIÁVEIS ESCALA ANT/25 ESCALA ANT/25 F1 F2 * F3 WHOQOL-Bref DOM1 DOM2 DOM3 DOM4 AAQV ** 1,000 0,546 0,536 0,350 0,885 -0,119 -0,177 -0,413 -0,212 -0,322 0,546* 1,000 0,675** 0,109 0,805** -0,293 0,002 -0,284 0,067 -0,254 0,536 0,675 1,000 0,186 0,762 -0,217 -0,111 -0,168 0,096 -0,157 0,350 0,109 0,186 1,000 0,404 -0,217 -0,223 -0,361 -0,174 -0,435 0,885 0,805 ** 0,762 0,404 1,000 -0,293 -0,214 -0,451 -0,100 -0,407 -0,119 -0,293 -0,217 -0,217 -0,293 1,000 0,632** 0,362 0,228 0,651** -0,177 0,002 -0,111 -0,223 -0,214 0,632** 1,000 0,600** 0,554* 0,777** -0,413 -0,284 -0,168 -0,361 * -0,451 0,362 ** 0,600 1,000 0,391 0,858** -0,212 0,067 0,096 -0,174 -0,100 0,228 0,554* 0,391 1,000 0,636** -0,322 -0,254 -0,157 -0,435 -0,407 0,651 0,777 0,858 0,636 1,000 * ** WHOQOL-Bref F4 SOMA ANT/25 * ** ** ** * (*) A correlação é estatisticamente significante em:*p<0,05; **p<0,01; rho Spearman. F1:Atitudes face à aprendizagem e ao uso das novas tecnologias de informação. F2:Atitudes face aos atributos, consequências e expectativas relativamente ao uso de novas tecnologias de informação. F3:Atitudes face às implicações das novas tecnologias de informação. F4:Atitudes face aos computadores e as novas tecnologias de informação como ferramentas de trabalho; DOM1: Físico. DOM2:Psicológico. DOM3: Relações sociais. DOM4: Meio ambiente. AAQV: Autoavaliação da Qualidade de Vida. A Tabela 3 ilustra, os coeficientes de correlação de Spearman obtidos entre a utilização de tecnologias com a QV. A faceta “Funcionamento do Sensório” do WHOQOL-OLD apresenta correlação significativa, positiva e moderada com o domínio dois do WHOQOL-Bref (r=0,499; p<0,05). A faceta “Atividades Passadas, Presentes e Futuras” do WHOQOL-OLD apresenta correlação significativa, positiva e moderada com os domínios 2 (r=0,478; p<0,05), 3 (r=0,672; p<0,01), 4 (r=0,570; p<0,01) e com a autoavaliação da QV (r=0,602; p<0,01). A faceta “Participação Social” do WHOQOL-OLD apresenta correlação significativa, positiva e moderada com os domínios 2 (r=0,745; p<0,01), 3 (r=0,705; p<0,01), 4 (r=0,665; p<0,01) e com a autoavaliação da QV (r=0,757; p<0,01). A faceta “Intimidade” do WHOQOLOLD, em pré-aposentados, apresenta correlação significativa, positiva e moderada com o domínio 1 (r=0,449; p<0,05), 2 (r=0,750; p<0,01), 3 (r=0,781; p<0,01), 4 (r=0,487; p<0,05) e com a autoavaliação da QV (r=0,758; p<0,01). Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 101 Tabela 3. Relacionamento dos coeficientes de correlação de Spearman obtidos entre a utilização de tecnologias com a Qualidade de Vida. ESCALA ANT/25 WHOQOL-OLD FS AUT PPF PSO MEM INT F4 SOMA ANT/25 WHOQOL-Bref DOM1 DOM2 DOM3 DOM4 F1 F2 F3 AAQV -0,008 -0,207 0,216 0,038 0,001 0,198 0,187 0,243 0,054 0,094 -0,154 -0,018 0,025 -0,056 -0,140 0,231 0,499* 0,405 0,304 0,437 -0,139 0,117 0,014 -0,182 -0,052 0,118 0,277 -0,041 -0,024 0,202 -0,029 -0,077 0,168 0,276 0,058 -0,151 -0,170 0,121 0,221 0,041 -0,304 0,111 0,062 -0,224 -0,208 0,627** 0,706** 0,543* 0,456* 0,784** -0,082 -0,015 0,164 0,122 -0,017 0,110 0,478* 0,672** 0,570** 0,602** -0,234 -0,106 -0,125 -0,029 -0,184 0,827** 0,730** 0,246 0,487* 0,813** -0,178 -0,115 -0,051 -0,267 -0,204 0,346 0,745** 0,705** 0,665** 0,757** -0,327 0,238 -0,134 -0,378 -0,233 0,103 0,263 0,194 0,011 0,156 -0,370 -0,293 -0,332 0,107 -0,428 0,427 0,433 0,220 0,029 0,270 -0,281 -0,025 -0,243 -0,324 -0,325 0,382 0,721** 0,285 0,366 0,608** -0,262 -0,126 -0,306 -0,251 -0,313 0,449* 0,750** 0,781** 0,487* 0,758** (*) A correlação é estatisticamente significante em: *p<0,05; **p<0,01; rho Spearman. F1:Atitudes face à aprendizagem e ao uso das novas tecnologias de informação. F2:Atitudes face aos atributos, consequências e expectativas relativamente ao uso de novas tecnologias de informação. F3:Atitudes face às implicações das novas tecnologias de informação. F4: Atitudes face aos computadores e as novas tecnologias de informação como ferramentas de trabalho. FS: Funcionamento do Sensório. AUT: Autonomia. PPF: Atividades Passadas Presentes e Futuras. PSO: Participação Social. MEM: Morte e Morrer. INT: Intimidade; DOM1: Físico; DOM2: Psicológico; DOM3: Relações sociais; DOM4: Meio ambiente. AAQV: Autoavaliação da Qualidade de Vida. DISCUSSÃO O presente estudo analisou a associação da utilização das TIC com a QV de aposentados. Os principais resultados mostram que os aposentados possuem fortes tendências à melhor QV, pautada, principalmente, nas relações sociais, que afetam diretamente o âmbito psicológico. Existe uma importância da participação social para os aposentados. Ainda, conforme os achados do estudo, o grupo com maior escolaridade dá maior ênfase à satisfação com aquilo que conquistou durante a vida e as metas que pretende alcançar, talvez pelo fato de este tipo de anseio, esteja ligado às condições socioeconômicas, ao qual é maior no grupo de escolaridade mais alta. Com relação a utilização das tecnologias entre os aposentados, os resultados indicam que ao querer aprender a utilizar as TIC no cotidiano, maior é a percepção deste grupo quanto às consequências, atributos e implicações das TIC devido às experiências vivenciadas pela utilização no cotidiano, e estas também dizem respeito a QV, reafirmando o estudo de Lee, Chenb e Hewittc (2011). Outro estudo que também faz alusão a utilização das TIC e ao autoconceito da QV, é o de Ferreira, Veloso e Mealha (2015). Deve-se observar que o fator 2 da Escala ANT/25, é invertido, assim, quanto maior a pontuação neste fator, mais negativa tende a ser a visão com relação a utilização das TIC. Porém, ao se somar o resultado deste fator com os demais fatores positivos, estes últimos tendem a obter maior pontuação, o que incide no resultado final, indicando que o grupo de pré-aposentados, possuem uma maior percepção da utilização das TIC. No entanto, 102 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 observa-se que as demais respostas dos aposentados, indicam que, apesar de muitos ainda não terem o acesso a essas tecnologias, sabem da importância do seu uso para aquisição de informações em relação à QV. Outro ponto a ser considerado é que apesar dos bons resultados obtidos, ainda há lacunas existentes em nível de alcance da tecnologia. Uma das alternativas, para minimizar essa discrepância entre os que tem acesso e os que não tem acesso, seria a coparticipação de idosos, sugerido pelo estudo de Santiago, Schwartz e Kawaguti (2015), em que, um idoso ensina outro idoso, e assim sucessivamente, criando uma corrente de conhecimento. CONCLUSÕES Os resultados obtidos evidenciam, principalmente, no que tange à utilização das tecnologias de aposentados estão sempre utilizando as TIC, e que, estão influenciando a saúde e, consequente, QV dos mesmos. Este estudo tem implicações para que futuras investigações na área possam aprofundar o assunto de inclusão digital, aposentadoria e QV, assim como, a formulação de novas políticas públicas que possam amparar de fato, o acesso dos idosos à toda gama de tecnologias disponíveis, usufruindo de seus benefícios, em prol da saúde e QV. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. AGE CONCERN AND HELP THE AGED. Introducing another World: older people and digital inclusion: A report of qualitative research on the barriers and enablers to tackling digital exclusion in later life. Age Concern England. United Kingdom, 2009. 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Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 105 09 “ Contexto sanitário da hanseníase e envelhecimento Marcos Túlio Raposo UESB Marcelo de Almeida do Nascimento UESC Ailana Cardoso Damasceno UNISBA Ana Virgínia de Queiroz Caminha UESB 10.37885/201202400 RESUMO Introdução: A hanseníase é uma doença infecciosa que pode comprometer qualquer faixa etária. Devido à sua cronicidade e longo período de exposição ao agente etiológico, é mais prevalente na população à medida que esta envelhece. Objetivo: O estudo descreve as características epidemiológicas da enfermidade em um município da região sudoeste do estado da Bahia, de 2010 a 2019. Resultados: Foram identificados 168 casos novos, sendo 54 (32,14%) em maiores de 60 anos. A média de idade ao diagnóstico foi 51,8 (± 17,2) anos e, entre idosos, 69,8 (± 7,5). Conclusão: O município exibe padrão de alta endemicidade para hanseníase; comprometimento de pessoas em idade produtiva e agravamento com o envelhecimento; apresenta sérias limitações operacionais quanto ao cumprimento das ações programáticas. Palavras- chave: Hanseníase, Epidemiologia, Doenças Negligenciadas, Avaliação de Serviços de Saúde, Envelhecimento. INTRODUÇÃO A hanseníase é uma doença infecciosa granulomatosa, causada pelo bacilo Mycobacterium leprae, que compromete principalmente pele e nervos periféricos. De evolução crônica e potencialmente determinante de incapacidades físicas irreversíveis quando não diagnosticada e tratada em tempo oportuno (BRASIL, 2016; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2020), suas repercussões se estendem par além do dano físico. As incapacidades verificadas estão associadas ao dano neural decorrente da presença do bacilo nas células de Schwann, macrófagos intraneurais e de processos inflamatórios decorrentes da resposta imunológica (WILDER-SMITH; VAN BRAKEL, 2008), sendo agravadas por condições socioeconômicas desfavoráveis, estigma e diagnóstico tardio (WITHINGTON et al., 2003; SCOLLARD et al., 2006). A doença pode comprometer a população em qualquer faixa etária, porém, devido à sua condição crônica e ao longo período de exposição ao agente etiológico é mais prevalente na população à medida que esta avança na idade cronológica (BRASIL, 2016). No ano de 2019, o Brasil registrou 27.863 casos novos de hanseníase, correspondendo a 13,8% do total de casos no mundo (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2020). De 2009 a 2018 foram diagnosticados 311.384 no país, dentre os quais, 85.217 (27,4%) com grau de incapacidade física (GIF) 1 ou 2. Na Bahia, no mesmo período, foram 24.601 casos novos e 4.953 com GIF 1 e2 (BRASIL, 2020). O processo do envelhecimento segue um curso natural que determina perda progressiva da condição funcionalidade da pessoa e pode ser associado a comorbidades que agravam o progresso de incapacidades físicas em adição ao déficit orgânico, mudanças culturais, sociais e emocionais adquiridos com o avançar da idade (CIOSAK et al., 2011). Neste contexto, o Relatório Mundial Sobre Deficiência, publicado em 2011, apontou um crescente corpo de evidências estatísticas que expõem um quadro complexo da mudança dos fatores de risco para as deficiências, em especial associadas ao envelhecimento populacional, às doenças crônicas não-transmissíveis, e também às transmissíveis, enunciando que oitenta por cento da população mundial com deficiência vive em países em desenvolvimento (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2011). A carga da hanseníase é determinada pelo impacto que ela determina na população e a sua caracterização como doença tropical negligenciada de alto impacto a classifica como um problema de Saúde Pública, justificável pelo seu caráter infectocontagioso e associação com populações de baixo nível sócio-econômico-sanitário (KERR-PONTES et al., 2006; MONTEIRO et al., 2017). Neste contexto, a conjunção do processo fisiológico natural, como o envelhecimento, com uma doença infectocontagiosa de ação patogênica silenciosa como a hanseníase está associada com incapacidade física (MATOS et al., 2019) e aumenta o risco de ocorrência de limitações funcionais, restrição de atividades e restrição à participação 108 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 social para a população por ela acometida (BRASIL, 2016), o que repercute especialmente na condição de saúde da população que envelhece e no contexto sanitário que demanda modificações no contexto da oferta da atenção à saúde (CIOSAK et al., 2011). Compreender a situação epidemiológica de uma determinada condição em um contexto geográfico específico permite analisar, por meio de indicadores epidemiológicos, as dimensões que o agravo ou doença podem determinar na população (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2017). No caso da hanseníase, no Brasil, são empregados indicadores epidemiológicos e operacionais estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde para avaliar a condição da endemia (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2012; BRASIL, 2016; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2017). OBJETIVO Descrever as características epidemiológicas da hanseníase em um município da região sudoeste do estado da Bahia, com vista a conhecer o panorama de acometimento populacional em uma série histórica. MÉTODOS O estudo foi caracterizado com descritivo, dentro da perspectiva de uma “Investigação em serviços e sistemas de saúde”. O cenário da pesquisa corresponde ao município de Jequié, localizado no sudoeste do estado da Bahia, com população estimada em 155.966 habitantes. Os dados foram coletados a partir do Sistema Nacional de Agravos de Notificação (SINAN), fornecido pela Secretaria de Saúde da Bahia (SESAB) em 10 de agosto de 2020, assim como complementados por consultas em prontuários clínicos. Os dados populacionais foram obtidos no portal da SESAB. A partir da identificação dos casos novos, estes foram filtrados e selecionados apenas aqueles diagnosticados entre os anos de 2001 e 2019. Na sequência, os dados foram estabelecidos em duas categorias: (i) população geral; (ii) “maior de 60 anos”. De posse dos dados brutos anuais foram estabelecidos os coeficientes padronizados ano a ano, com o objetivo de fundamentar a avaliação da situação epidemiológica e operacional da hanseníase, seguindo proposto pelas Diretrizes para vigilância, atenção e eliminação da Hanseníase como problema de saúde pública (BRASIL, 2016). A análise de dados foi feita por meio do programa Stata 12.0 (Stata Corporation, College Station, USA). Os dados descritivos foram apresentados em análises simples, frequências absolutas, relativas e coeficientes. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 109 em Pesquisas com Seres Humanos da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia com o CAAE 02113112.1.0000.0055. RESULTADOS E DISCUSSÃO No período compreendido entre 01 de janeiro de 2010 e 31 de dezembro de 2019, foram diagnosticados e notificados 168 casos novos de hanseníase, residentes e domiciliados no município de Jequié-Bahia-Brasil, sendo 54 (32,14%) em pessoas com mais de 60 anos. As idades variaram de 11 e 87 anos, com média de 51,8 (± 17,2). Para os idosos a média de idade foi 69,8 (± 7,5) anos. Consequente à reconhecida associação entre a condição de cronicidade da doença e longo período de incubação até a franca manifestação de sinais e sintomas manifestos ao diagnóstico, a faixa etária mais comprometida pela hanseníase envolve adultos em idade produtiva, com progressão do comprometimento de acordo com o avançar da idade. Os achados desta pesquisa são compatíveis coma literatura (RAPOSO; NEMES, 2012; MONTEIRO et al., 2013; SOUZA et al., 2017). No que diz respeito a detecção de casos novos por sexo, observa-se que a proporção de 50,6% para homens dentre a população geral e a 42,6% de homens entre idosos. Apesar de a proporção, por sexo, ser equilibrada para a população geral, no coletivo de idosos a proporção de homens foi inferior. As diferenças quanto ao sexo estão descritas na literatura (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2020; SOUZA, FERREIRA, et al., 2018); ROMÃO; MAZZONI, 2013; MIRANZI et al., 2010). Referente à classificação operacional, para a população geral, houve predomínio de casos multibacilares (MB), com destaque para o ano 2013, em que apenas 6,67% foram diagnosticados com formas clínicas paucibacilares (PB), como descrito na tabela 1. Nesta série histórica, 64,3% dos casos eram MB, no entanto, quando analisada a classificação segundo idade superior a 60 anos, verificou-se que 72,2% dos idosos exibiam formas clínicas mais graves. Quando analisada a classificação operacional por sexo encontra-se evidente diferença entre o padrão de acometimento em homens e mulheres, com maior proporção de MB entre homens (61,1%) dentro do conjunto de pessoas diagnosticadas na população geral, ao passo que, para idosos, houve equilíbrio nesse padrão. 110 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Tabela 1. Casos novos por sexo e classificação operacional, na população geral e entre idosos. Ano Casos novos 2010 Casos novos em homens % de Casos Multibacilares % de Multibacilares entre homens (n 108) Pop. geral n (%) Idosos n (%) Pop geral (n 168) n (%) Idosos (n 54) n (%) Pop Geral (n 108) n (%) Idosos (n 39) n (%) 24 12 (50) 1 (14,3) 17 (70,8) 5 (71,4) 9 (52,3) 1 (20) 2011 11 5 (45,5) – 5 (45,5) – 3 (60) – 2012 19 11 (57,9) 3 (60) 12 (63,1) 3 (60) 9 (75) 2 (66,6) 2013 11 6 (54,5) 3 (75) 10 (90,9) 4 (100) 6 (60) 3 (25) 2014 17 8 (47,1) 1 (14,3) 12 (70,6) 5 (71,4) 8 (66,6) 1 (20) 2015 12 6 (50) 2 (50) 10 (83,3) 3 (75) 5 (50) 2 (66,6) 2016 19 10 (52,6) 3 (50) 14 (73,7) 6 (100) 8 (57,1) 3 (50) 2017 21 6 (28,6) 2 (28,6) 9 (42,9) 4 (57,1) 4 (44,4) 2 (50) 2018 17 11 (64,7) 7 (70) 9 (52,9) 6 (60) 7 (77,7) 5 (83,3) 2019 17 10 (58,8) 1 (25) 10 (58,8) 3 (75) 7 (70) 1 (33,3) Total 168 85 (50,6) 23 (42,6) 108 (64,3) 39 (72,2) 66 (61,1) 20 (51,3) A mais alta proporção de MB é referida na literatura (SARMENTO et al, 2015). No cenário baiano, em 2014, Jequié registrou uma proporção 81,81% de casos de hanseníase com classificação MB. Na Bahia foi de 62,3%, no Nordeste 62,3% e o Brasil registrou 65,9% (SOUZA et al., 2018). A constatação de maioria de casos MB em homens foi verificada em outros estudos (ROMÃO; MAZZONI, 2013; MIRANZI et al., 2010) e também em pesquisas desenvolvidas na Bahia no período de 2001 a 2014, decorrentes de fatores culturais atrelados à masculinidades e questões de gênero, assim como a fatores operacionais dos programas de saúde desenvolvidos no âmbito da saúde pública, em sua maioria direcionados à população feminina (SOUZA et al., 2018). Nesta curta série histórica estudada (tabela 2), segundo o coeficiente de detecção geral calculado ano a ano, verifica-se flutuação deste indicador epidemiológico, marcada por dois picos e descensos, com manutenção da endemia, cujo coeficiente médio de detecção para o período foi de 10,66/100 mil hab. Na sequência avaliada também foram considerados os coeficientes de detecção geral para idosos. O padrão flutuante também se espelha para este grupo, porém, com maior gravidade em relação à magnitude da endemia, com verificação de mais evidente comprometimento neste coletivo. Trata-se, pois, de fixar atenção para os números relativos, e não absolutos, uma vez que o quantitativo de idosos é menor, porém com indicador epidemiológico que aponta uma situação epidemiológica de gravidade, considerando a situação de vulnerabilidade a que eles já estão continuamente envolvidos. Considerando os anos de 2010 a 2017, 85,82% do total de CN diagnosticados no período concluíram a poliquimioterapia (PQT) e foram tipificados como “alta por cura”, ao Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 111 passo que, entre os idosos, este valor alcançou 90%. Estes dados demonstram um padrão regular para a população de todas as faixas etárias e padrão bom para o grupo de idosos (porém no limite de inferioridade), de acordo com o esperado pelos protocolos adotados pelo Brasil e pela Organização Mundial da Saúde (BRASIL, 2016; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2017). Tabela 2. Coeficientes anuais de detecção geral de hanseníase/100 mil hab., de detecção em maiores de 60 anos/100 mil hab. e proporção de cura. Casos NoCoeficiente de vos em ≥ 60 Detecção Geral anos (por 100 mil hab.) n Ano Casos Novos n 2010 24 15,80 2011 11 2012 % de cura entre casos novos Coeficiente de Detecção em ≥ 60 anos (por 100 mil hab.) Na pop Geral n (%) Entre Idosos n (%) 7 40,39 22 (91,6) 7 (100) 7,23 – – 11 (100) – 19 12,50 5 28,76 15(78,95) 4 (80) 2013 11 6,81 4 21,72 8 (72,73) 3 (75) 2014 17 10,52 7 38,07 17 (100) 7 (100) 2015 12 7,43 4 21,70 11 (91,66) 4 (100) 2016 19 11,74 6 32,48 18 (94, 74) 6 (100) 2017 21 12,95 7 37,80 17 6 (85,71) 2018 17 10,91 10 56,22 10# 5# 2019 17 10,90 4 22,44 9# 1 #* Total 168 10,66* 54 30,02** 115 (85,82)& 40 (90)& * Média do coeficiente de detecção geral de 2010 a 2019; ** Média do coeficiente de detecção em maiores de 60 anos de 2010 a 2019. # Dados parciais, portanto, não serão computados para o cálculo do percentual e cura. Segundo a Nota Técnica n. 03/2020/ CGHDE/DEVIT/SVS/MS, para os casos PB considera-se um ano anterior à avaliação; para MB, dois anos antes da avaliação. *** Cálculo realizado com dados de 2001 a 2017 A situação epidemiológica do município foi classificada como de “alta endemicidade”, de acordo com a média do coeficiente de detecção geral para o período, segundo a Diretrizes para vigilância, atenção e eliminação da hanseníase como problema de saúde pública (BRASIL, 2016) e se aproxima do panorama epidemiológico de outros municípios baianos, confirmando a gravidade da endemia estadual (SOUZA et al., 2018; SOUZA, FERREIRA, BOIGNY et al., 2018) e se insere também num conjunto de considerável padrão endêmico nacional (BRASIL, 2018; BRASIL, 2019; BRASIL, 2020). O quantitativo e a proporção de casos novos com o GIF avaliado no momento do diagnóstico por ano, segundo o registro no SINAN aponta que o GIF foi avaliado em 161 (95,83%) dos pacientes da população geral. Dentre estes, o GIF2 foi detectado em 8 (4,97%) dos avaliados; ocorrência de alguma incapacidade (GIF1 ou GIF2) foi confirmada em 21 (13,04%) dos que tiveram o GIF registrado. Para o quantitativo de idosos, o GIF foi avaliado em 52 (96,3%) dos casos novos durante o diagnóstico. Incapacidades graves, classificadas 112 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 como GIF2 foram confirmadas em 4 (7,4%), assim como GIF1 também em 4 (7,4%) dos examinados, totalizando 14,8% de pessoas com incapacidades. Quando foi analisado o momento da alta da PQT, o registro de GIF ocorreu apenas para 3 (1,78%) dos casos da população geral. Mais contundente foi a constatação de que o GIF não foi avaliado em nenhum dos idosos, quando estes concluíram o tratamento. A inobservância desta ação de controle escancara o descumprimento de atividades estratégicas, pactuadas e regulamentadas para o combate da doença. A ausência e a incompletude destes dados inviabilizam a construção de indicadores específicos para as incapacidades e controle da endemia. A confiabilidade do registro de GIF considerada essencial para a análise operacional. A incompletude de dados um obstáculos para a avaliação da qualidade dos serviços, haja vista que comum a ocorrência de falhas de registro neste componente das ações de controle (CRESPO; GONÇALVES; PADOVANI, 2014) e este parece ser um dos entreves nesta investigação, pois foram verificadas ausências de registros dos GIF nas fichas de notificação e no acompanhamento dos casos. As imprecisões e ausências de dados sobre incapacidades entre residentes no município de Jequié (por 100 mil hab.), em especial para idosos, demonstram a impossibilidade para interpretação do padrão de comprometimento funcional e de incapacidades neste horizonte temporal. Por outro lado, de acordo com a constatação de GIF2 encontrada, e provavelmente subestimada, verifica-se diagnóstico tardio da doença para estes casos (RAPOSO; NEMES, 2012; BRASIL, 2016). Por conseguinte, o indicador de proporção de casos de hanseníase curados com GIF2 entre os casos avaliados no momento da alta por cura no ano, não foi calculado para cada ano porque a proporção de GIF avaliado à cura, não atendeu ao disposto nas “Diretrizes para Vigilância, atenção e eliminação da Hanseníase como problema de saúde pública”. Segundo o documento, este indicador é calculado somente quando o percentual de casos com GIF avaliado é maior ou igual a 75% (BRASIL, 2016). CONSIDERAÇÕES FINAIS A condição epidemiológica da hanseníase no município descreve um padrão de alta endemicidade, com comprometimento essencialmente de população em idade produtiva com média de idade ao diagnóstico de 51,8 anos e, entre idosos, 69,8 (± 7,5) anos. O envolvimento de população em maior faixa etária acompanha a dinâmica da transmissão da doença confirmando seu caráter lento e silencioso com amplo período de incubação. Os indicadores avaliados reafirmam a ocorrência de limitações operacionais quanto ao cumprimento das ações programáticas, especialmente em relação à avaliação e monitoramento das incapacidades físicas. Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 113 FINANCIAMENTO Esta pesquisa foi financiada pelo PIBIC-UESB (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia). REFERÊNCIAS 1. 2. 3. BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes para a vigilância, atenção e eliminação da hanseníase como problema de saúde pública. Brasília 2016. Disponível em <https://central3.to.gov. br/arquivo/297694/http:// apps.who.int/iris/bitstream/10665/249601/1/WER9135.pdf?ua=1> Acessado em: 13 jan 2019. BRASIL. Ministério da Saúde. Boletim epidemiológico: Hanseníase. Brasília: Ministério da Saúde; 2018 2018. 4. BRASIL. Ministério da Saúde. 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Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 10 “ Diagnósticos de enfermagem do domínio enfrentamento/ tolerância ao estresse evidenciados por idosos em tratamento hemodialítico Rosilene Alves de Almeida Rosângela Alves Almeida Bastos Francisca das Chagas Alves de Almeida Roseane Vieira Pereira de Sousa Raquel Riziolli de Araújo Oliveira Rita de Cássia Sousa Silva 10.37885/201202401 RESUMO Introdução: No contexto de uma unidade de hemodiálise, o processo de enfermagem constitui ferramenta essencial para orientar o tratamento hemodialítico individual. Este estudo objetivou identificar os diagnósticos de enfermagem do domínio enfrentamento/ tolerância ao estresse da NANDA-I evidenciados por idosos em tratamento hemodialítico. Método: trata-se de uma pesquisa descritiva, exploratória e com abordagem quantitativa, realizada no setor de hemodiálise de uma instituição filantrópica localizada em João Pessoa-PB-Brasil, a coleta de dados deu-se no período de agosto a setembro de 2015, mediante a técnica de entrevista, subsidiada por um roteiro estruturado, e compuseram a amostra 40 idosos que realizavam tratamento hemodialítico. Resultados e discussão: quanto ao perfil dos pacientes investigados, evidenciou-se uma prevalência do sexo masculino, com idade na faixa etária de 60-69 anos, e nível de escolaridade prevalente de 5-8 anos de estudo. Neste estudo, foram identificados oito diagnósticos de enfermagem no domínio enfrentamento/tolerância ao estresse, sendo cinco diagnósticos presentes com média frequência (05; 50% a 75%) e três com baixa frequência (< 50%), não havendo nenhum de alta frequência (75% a 100%). Conclui-se, pois, que a identificação dos diagnósticos de enfermagem é essencial para planejamento de uma assistência individualizada ao idoso que está em tratamento hemodialítico. Palavras-chave: Enfermagem, Insuficiência Renal Crônica, Hemodiálise. INTRODUÇÃO Uma das mais importantes transições demográficas que o Brasil experimentou no final do século XX foi o acentuado envelhecimento da população, uma realidade mundial que gera mudanças no perfil epidemiológico, com o aumento da expectativa de vida e do número de idosos, os quais constituem um importante grupo de risco para desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, especialmente a Insuficiência Renal Crônica (IRC) ( MOURA, 2010). A IRC consiste na perda progressiva e irreversível das funções renais, que pode iniciar com um quadro agudo ou de maneira lenta e progressiva. O estágio final da IRC é denominado Insuficiência Renal Crônica Terminal (IRCT), quando o paciente necessita de uma Terapia Renal Substitutiva (TRS) para sobreviver. As TRS disponíveis são a diálise (hemodiálise e diálise peritoneal) e o transplante renal (BISCA; MARQUES, 2010; CHERCHIGLIA, 2010). No cenário mundial e brasileiro, a incidência e a prevalência da IRC em estádio terminal têm aumentado progressivamente, a cada ano, em “proporções epidêmicas”. No Brasil a prevalência de pacientes em diálise por milhão de habitantes era de 383, ocorrendo um aumento médio no número absoluto de pacientes de cerca de 9% nos últimos anos. Dentre estes, 26% têm mais de 60 anos de idade (SESSO, 2011). O tratamento hemodialítico associado à progressão da IRC causa limitações e prejuízos na saúde mental, física e capacidade funcional. O enfermeiro tem um papel fundamental para identificar as necessidades do cliente por meio dos diagnósticos de enfermagem, planejando intervenções individualizadas e eficazes. Esses diagnósticos são definidos como julgamento clínico das respostas do indivíduo, da família ou da comunidade a problemas de saúde/processos vitais reais ou potenciais constituem a base para seleção das intervenções de enfermagem para o alcance dos resultados pelos quais o enfermeiro é responsável (CENTENARO, 2010; COFEN, 2011). Assim, no contexto da terapia hemodialítica envolvendo idosos, o processo de enfermagem constitui ferramenta essencial para orientar a realização do tratamento. Considerando o exposto, este estudo objetiva identificar os diagnósticos de enfermagem do domínio enfrentamento/tolerância ao estresse da NANDA-I evidenciados por idosos em tratamento hemodialítico. MÉTODO Trata-se de uma pesquisa exploratória com abordagem quantitativa, realizada no setor de hemodiálise de uma instituição filantrópica localizada em João Pessoa-PB-Brasil, referência em tratamento hemodialítico. Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 119 A população do estudo foi constituída por 50 idosos, de ambos os sexos, com IRC e em tratamento hemodialítico no referido serviço de saúde. A amostra compreendeu 40 idosos selecionados aleatoriamente a partir da demanda espontânea. Os critérios de inclusão foram: aceitar participar do estudo de forma voluntária e evidenciar aptidão para entender e responder as questões formuladas no roteiro de entrevista. Foram excluídos do estudo aqueles que apresentaram intercorrências provenientes da terapêutica durante a coleta de dados. A coleta de dados transcorreu no período de agosto a setembro de 2015, mediante a técnica de entrevista, subsidiada por um roteiro estruturado composto por informações relativas aos fatores sociodemográficos dos idosos, às características definidoras e aos fatores relacionados aos diagnósticos de enfermagem do domínio atividade/repouso da Taxonomia da North American Nursing Diagnosis – NANDA-I (2013). Para a análise dos dados utilizou-se um processo individual de julgamento clínico (interativo e intuitivo) sobre as respostas dos idosos em relação ao estado de saúde, o qual foi operacionalizado mediante os seguintes passos: análise (separação do material em partes e o exame crítico delas) e síntese (combinação das partes ou dos elementos em uma entidade única (RISNER, 1990). Esse processo resultou em afirmativas diagnósticas pertencentes ao domínio enfrentamento/tolerância ao estresse contempladas na NANDA-I (2013) expressos pelos idosos investigados. Os resultados obtidos passaram por processo de revisão de forma pareada entre os autores, para assegurar um julgamento consensual sobre o material empírico, garantindo, assim, maior acurácia diagnóstica. Após esse procedimento, os dados foram tratados por meio de estatística descritiva – frequência simples e percentual. Dada a inexistência de um padrão ouro que pudesse ser utilizado para o devido fim, foi delimitado (arbitrariamente) que todos os diagnósticos de enfermagem identificados passassem a constituir o perfil de diagnósticos de enfermagem dos idosos participantes da pesquisa, discriminando-os como de alta frequência (≥ 75% a 100%), de média frequência (≥ 50% a 75%) ou de baixa frequência (< 50%), os quais foram ancorados considerando-se a literatura pertinente. No que concerne aos princípios éticos da pesquisa, o projeto foi apreciado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba, sob o Protocolado n. 0144/11, e desenvolvido seguindo os preceitos contemplados na Resolução 466/12, do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 1996), que normatiza os aspectos éticos a serem considerados na pesquisa envolvendo seres humanos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados sociodemográficos dos participantes do estudo apontam que 23 (57,5%) eram do sexo masculino e 17 (42,5%) eram do sexo feminino. No tocante à idade, verificou-se que 120 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 28 (70%) estavam na faixa etária de 60 a 69 anos e 12 (30%) tinham de 70 a 79 anos. Em relação ao estado civil, 24 (60%) eram casados, 08 (20%) eram viúvos, 05 (12,5%) afirmaram ser divorciados, e apenas 03 (7,5%) eram solteiros. Quanto à escolaridade, verificou-se que 10 idosos (25%) referiram não ter nenhum ano de estudo, 10 (25%) informaram ter apenas de 1 a 4 anos, 11 (27,5%) relataram ter de 5 a 8 anos de estudo, e 09 (22,5%) possuíam de 9 a 12 anos de estudo. Com relação ao tempo em que os idosos realizavam hemodiálise, 19 (47,5%) referiram um período menor que 1 ano, 09 (22,5%) tratavam-se por um intervalo de tempo de 1 a 3 anos, 8 (20%) tiveram a terapêutica instituída por um período de 3 a 6 anos, 04 (10%) realizavam o tratamento por um período compreendido entre 9 a 12 anos. No que se refere à especificidade do acesso vascular para a realização da hemodiálise, 32 (80%) idosos possuíam fístula arteriovenosa e apenas 08 (20%), possuíam cateter duplo lúmen em veia jugular ou subclávia. Quanto aos diagnósticos de enfermagem do domínio enfrentamento/tolerância ao estresse identificados nos idosos em tratamento hemodialítico, foram evidenciados, nos idosos investigados, 08 diagnósticos de enfermagem: tristeza crônica (62,5%); enfrentamento ineficaz (62,5%) medo (50%); planejamento de atividade ineficaz (50%); ansiedade (50%); resiliência individual prejudicada (37,5%); ansiedade relacionada à morte (27,5%); sobrecarga de estresse (25%). Na discussão dos achados, observa-se uma predominância dos diagnósticos de enfermagem, que se apresentaram com média frequência (≥ 50 a 75%). Neste estudo, com idosos em tratamento hemodialítico, o sexo predominante foi o masculino (57,5%), a idade média foi de 60 a 69 anos (70%), a idade máxima encontrada foi de 79 anos, e o nível de escolaridade foi de 5-8 anos de estudo (27,5%). Essa prevalência em relação ao sexo também foi encontrada em outros estudos, porém, não há, ainda, justificativa científica comprovada que possa mostrar essa variação da IRC entre os sexos, visto que, as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs) afetam de maneira igual homens e mulheres (BISCA, 2010; HOLANDA, 2009; PILGER, 2010). Com relação ao tempo que realizam o tratamento hemodialítico, a maioria, 47,5%, referiu realizar o tratamento por menos de um ano e apenas 10% realizavam tratamento entre 9 e 12 anos. Corroborando esses dados, evidenciou-se um estudo realizado em unidade de diálise de hospital do município de João Pessoa-PB acerca do tempo do tratamento dialítico, e este apontou que a maior concentração está entre menos de 1 ano até 7 anos, sendo prevalente o tratamento hemodialítico. A mesma pesquisa demonstra que a partir de 7 anos do tratamento substitutivo a quantidade de pacientes decresce drasticamente. Tal fato mostra claramente a alta taxa de morbimortalidade associada à IRCT e ao tratamento hemodialítico e, com o aumento da idade, esses fatores tornam-se agravantes (PAIVA, 2011). Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 121 Com relação ao tipo de acesso vascular mais frequente para realização da hemodiálise, esteve mais presente o uso da fístula arteriovenosa (80%). A fístula arteriovenosa é considerada a melhor forma de acesso venoso vascular para hemodiálise em idosos; contudo, a presença de doenças cardiovasculares, diabetes e a exploração vascular para confecção de acessos vasculares aumenta a possibilidade de complicações com o acesso, levando à maior morbidade do idoso (KUSUMOTO; OLIVEIRA; MARQUES, 2009). Um domínio é uma esfera de atividade, estudo ou interesse. O domínio enfrentamento/ tolerância ao estresse refere-se a lutas contra eventos/processo da vida (NANDA-I, 2013). Neste estudo, foram identificados oito diagnósticos de enfermagem no domínio enfrentamento/tolerância ao estresse, sendo cinco diagnósticos presentes com média frequência (≥ 50% a 75%) e três com baixa frequência (< 50%), não havendo nenhum de alta frequência (≥ 75% a 100%). A tristeza e sofrimento estão presentes nesses pacientes, a tristeza crônica é definida pela NANDA-I (2014, p. 448) como um “padrão cíclico, recorrente e potencialmente progressivo de tristeza disseminada, vivenciada (por pai/mãe, cuidador ou indivíduo com doença crônica ou deficiência, em resposta à perda contínua ao longo da trajetória de uma doença ou deficiência”. O sentimento de tristeza decorre do convívio com uma doença sem possibilidade de cura associado à instabilidade e ao medo de não saber que limitações advirão da terapia hemodialítica. O apoio psicológico é importante, pois o paciente necessita de alguém disponível para quem possa relatar não só o sentimento de tristeza, mas todos os sentimentos impactantes que surgirão no decorrer do tratamento (IBIAPINA et al. , 2016). A condição de tristeza repercute no fenômeno enfrentamento ineficaz conceituado pela NANDA-I (2013, p. 41), como “a incapacidade de desenvolver uma avaliação válida dos estressores, escolha inadequada das respostas praticadas e/ou incapacidade de utilizar recursos disponíveis.” Assim, o tratamento hemodialítico gera impacto e mudanças significativas no modo de viver do paciente renal crônico, sendo muitas vezes difícil o enfrentamento fato esse que contribuirá com a afirmativa diagnóstica resiliência individual prejudicada, “capacidade reduzida de manter um padrão de respostas positivas a uma situação ou crise adversa NANDA-I (2013, p. 444), cabendo ao enfermeiro auxiliá-lo no processo de resiliência, atuando como educador e facilitador no processo terapêutico hemodialítico (SILVA et al., 2016). Além disso, a adaptabilidade dos idosos também é afetada pelas consequências imediatas do tratamento hemodialítico representando para eles medo, “resposta à ameaça percebida que é conscientemente reconhecida como um perigo”, NANDA-I (2014, p. 427). O fato de conviver com a doença renal crônica e a obrigatoriedade de realização do tratamento gera medo, angustia transformações físicas e mudanças ocorridas na vida desses pacientes (SILVA et al., 2014). ocasionando também ansiedade relacionada à morte evidenciada por 122 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 uma “sensação desagradável e vaga de desconforto ou receio gerado por percepções de uma ameaça real ou imaginária à própria existência” NANDA-I (2014, p. 406). O medo de viver uma vida insatisfatória lhes parece tão intolerável quanto o medo da morte iminente e a morte de pessoas que enfrentam o mesmo tratamento agrava ainda mais esse sentimento (COSTA et al., 2009). A desesperança vivenciada pelos pacientes engloba a ausência de perspectivas quanto ao futuro e sentimentos de tristeza e solidão, que emergem pelo fato da cura estar distante da realidade dos indivíduos sendo difícil elaborar planos e ter expectativas quanto ao futuro (SILVA et al., 2014). Essa situação favorecerá ao planejamento de atividade ineficaz definido pela “incapacidade de preparara-se para um conjunto de ações com tempo estabelecido e sob certas condições” NANDA-I (2014, p. 436). A predominância de sintomatologia de ordem psicológica nesses pacientes parece indicar que esses os idosos são mais vulneráveis à sobrecarga de estresse “excessivas quantidades e tipos de demandas que requerem ação”. NANDA-I (2014, p. 420), assim na fase de resistência ao estresse, o organismo atua no sentido de buscar o equilíbrio, ocorrendo uma grande utilização de energia e manifestação de sintomas da esfera psicossocial, tais como ansiedade, medo, isolamento social, entre outros (VALLE; SOUZA; RIBEIRO, 2009). Desordens de ansiedade também foram evidenciadas nesses pacientes, a resposta humana ansiedade é definida como vago e incômodo sentimento de desconforto ou temor, acompanhado por resposta autonômica (a fonte é frequentemente não específica ou desconhecida para o indivíduo): sentimento de apreensão causada pela antecipação de perigo. É um sinal de alerta que chama a atenção para um perigo iminente e permite ao indivíduo tomar medidas para lidar com ameaça NANDA-I (2014, p. 404). Pacientes renais crônicos tende a desenvolver esse diagnóstico principalmente devido à cronicidade da doença e ao tratamento hemodialítico. O processo de hemodiálise é de difícil adaptação, o que desencadeia reações de ansiedade devido à constante exposição às situações estressoras, como a diálise e a permanência frequente em ambiente hospitalar (VALLE; SOUZA; RIBEIRO, 2009). CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo foi realizado com 40 idosos que se submetiam a tratamento hemodialítico. No perfil dos pacientes investigados evidenciou-se uma prevalência no sexo masculino, com faixa etária de 60-69 anos e nível de escolaridade prevalente de 5-8 anos de estudo. Quanto aos diagnósticos de enfermagem, foram identificados no domínio enfrentamento/ tolerância oito diagnósticos de enfermagem. Os diagnósticos identificados estiveram entre a média frequência (≥ 50% a 75%) e a baixa frequência (< 50%). Os diagnósticos considerados de média frequência foram: tristeza Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 123 crônica (62,5%); enfrentamento ineficaz (62,5%) medo (50%); planejamento de atividade ineficaz (50%); ansiedade (50%). Já os incluídos na baixa frequência foram: resiliência individual prejudicada (37,5%); ansiedade relacionada à morte (27,5%); sobrecarga de estresse (25%). Mediante os diagnósticos de enfermagem encontrados neste estudo, no domínio enfrentamento/tolerância ao estresse, constata-se que a atuação do enfermeiro é de fundamental importância, visto que os idosos em tratamento hemodialítico apresentaram vários desses diagnósticos. Dessa forma, concluiu-se que a identificação dos diagnósticos em idosos é essencial para o planejamento da assistência de enfermagem tão logo se inicie o programa de hemodiálise. Os achados deste estudo suscitam reflexões para a prática de enfermagem, as quais podem facilitar a identificação do problema. A utilização de diagnósticos de enfermagem e a implementação de intervenções específicas podem auxiliar os enfermeiros no cuidado à população idosa em tratamento hemodialítico nos diferentes cenários de prática de atenção à saúde, promovendo, especialmente, melhora em sua qualidade de vida. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. BRASIL, Ministério da Saúde. Resolução n. 196, de 10 de outubro de 1996: aprova as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 1996. BRASIL, Ministério da Saúde. Resolução n. 196, de 10 de outubro de 1996: aprova as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 1996. 4. CENTENARO, G. A. A intervenção do serviço social ao paciente renal crônico e sua família. Ciências Saúde Coletiva, v.15, n.1, p.1881-5, 2010. 5. CHERCHIGLIA, M.L. et al. Perfil epidemiológico dos pacientes em terapia renal substitutiva no Brasil, 2000-2004. 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Aspectos psicossociais do paciente renal crônico em terapia hemodialítica. Sobral, v.15, n.1, p.25-31, jan./jun. 2016 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 10. 11. 12. 13. KUSUMOTO, L; OLIVEIRA, M. P; MARQUES, S. O idoso em diálise. Acta Paulista Enfermagem, v. 22, n. esp, p. 546-50, 2009. MOURA, R. M. F. Funcionalidade e qualidade de vida em idosos com doença venosa crônica. Tese. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2010. NANDA. Diagnósticos de Enfermagem da Nanda: definições e classificação 2012-2014. Porto Alegre: Artmed, 2013. PAIVA, R. M. F. A. Perfil etiológico da insuficiência renal crônica em pacientes submetidos à diálise em hospital filantrópico de João Pessoa-PB. Monografia. João Pessoa: Faculdade Estácio de Sá, 2011. 14. PILGER, C.; RAMPARI E.M.; WAIDMAN, M. A. P.; CARREIRA, L. Hemodiálise: seu significado e impacto para a vida do idoso. Escola Anna Nery, v.14, n. 4, p.677-3, out./dez. 2010. 15. RISNER, P.B. 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Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 125 11 “ Entendendo a sexualidade na terceira idade: Revisão integrativa Gilson Aquino Cavalcante UNINASSAU Jonatas Gomes Neri UNINASSAU Lilian Machado de Lima UNINASSAU 10.37885/200901215 RESUMO Introdução: A longevidade é considerada como um fenômeno mundial. Cada vez mais visível, a população idosa apresenta suas necessidades e especificidades das variadas formas de envelhecer. Onde se mantém os hábitos da fase adulta ou aquisição de novos. Dentre os hábitos anteriormente relegados o segundo plano aos idosos está o exercício de sua sexualidade. A prática sexual segura deve ser reconhecida, orientada e praticada por jovens, adultos e idosos. Objetivo: Descrever como se percebe a sexualidade do idoso em nossa sociedade e identificar se ocorre atenção à saúde sexual dos idosos. Metodologia: Este estudo caracteriza-se como uma revisão integrativa. Foram selecionados 05 artigos que tratavam do tema, sendo identificadas duas categorias temáticas: Aspectos Ligados a Sexualidade e Qualidade na Vida Sexual. Resultados e Discussões: Os estudos apresentaram discussão em torno do conceito de sexualidade. Em relação à prática sexual, os idosos mantêm o interesse no coito, sendo menor a frequência com o passar dos anos. A dificuldade de implementação de ações preventivas e de promoção da saúde sexual, pode estar associada à visão dos idosos como seres assexuados. Conclusões: Diante das características em relação à sexualidade, os estudos apontam que os profissionais de saúde, necessitam ser capacitados e estar preparados para desempenhar a atenção a sexualidade dos idosos. Sugere-se, portanto, o estímulo a realização de mais pesquisas sobre essa temática, pois a sexualidade em uma abordagem para idosos é pouco debatida e merece atenção. Palavras-chave: Idoso, Sexualidade, Saúde Pública. INTRODUÇÃO Vivenciar o envelhecimento populacional na contemporaneidade trata-se de um evento mundial. Nas últimas décadas observa-se com maior nitidez a longevidade entre homens e mulheres. Em termos de classificação cronológica a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera idoso, aqueles com mais de 65 anos de idade em países desenvolvidos e com mais de 60 anos em países em desenvolvimento (BRASIL, 2010). De acordo com dados apontados pelo IBGE a população de idosos, em 2020, será superior a 30 milhões de pessoas. Dentro do grupo etário de 75 anos haverá maior crescimento, sendo 49,3 % dessa população (BRASIL, 2010). Considerado como um fenômeno, o envelhecimento vem ocorrendo devido significativas melhorias nas condições de saúde e uma perceptível facilidade de acesso a bens e serviços, atendimento médico, bem como melhorias nas condições sanitárias e higiênicas (DIAS, CARVALHO, ARAUJO, 2013). Observamos atualmente uma variedade de formas de envelhecer, onde existe a continuidade dos hábitos da fase adulta ou aquisição de novos. Dentre os hábitos anteriormente relegados aos idosos está o exercício de sua sexualidade. No contexto atual, Aboim (2008); Oliveira et al. (2011) apud Burigo et al. (2015) afirmam que “como estão vivendo mais e também utilizando drogas que melhoram o desempenho sexual, bem como próteses para disfunção erétil e reposição hormonal feminina, os idosos estão redescobrindo o sexo”. Apesar de muitos estudos mostrarem que o idoso ainda tem a sua sexualidade viva, ela é negada pela sociedade e por eles próprios, podendo estar associado a fatores culturais. Falar sobre sexualidade e prática sexual ainda é um tabu para todas as gerações, abordar tal assunto ainda gera constrangimento por parte dos profissionais e pelos idosos. No que concerne as orientações sobre prática sexual segura, várias são as barreiras apresentadas. Os idosos são pessoas que vieram de uma época em que nem se cogitava falar sobre o assunto, quanto mais responder a um questionário sobre sua vida sexual para um desconhecido (MASCHIO et al., 2011). A prática sexual segura deve ser reconhecida, orientada e praticada por jovens, adultos e idosos. Vários estudos enfatizam o conhecimento sobre HIV/AIDS em jovens, porém há uma falta de informação relacionada à AIDS em idosos. Segundo dados do último boletim epidemiológico, emitido pelo Ministério da saúde, observa-se um aumento nos últimos dez anos na taxa de detecção de Aids em homens nas faixas etárias entre 15 a 19 anos, 20 a 24 anos e 60 anos ou mais (BRASIL, 2015). Este aumento se deve à falta de campanhas de prevenção para estes cidadãos, pois os idosos são tidos como assexuados, e a sexualidade, nesta faixa etária ainda é cercada de tabus e preconceitos por parte da sociedade e também dos profissionais de saúde. A prevenção 128 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 às DSTs e AIDS nessa faixa etária se torna um desafio para os responsáveis pelas políticas públicas (MASCHIO et al., 2011). Sendo a longevidade uma realidade que se insere em nossa sociedade, tornar se necessário pensar e traçar estratégias para atender as necessidades dessa parcela da sociedade. Neste sentido questionamos como a sociedade percebe a sexualidade do idoso e como se dá à atenção à saúde sexual dos idosos? Compreende-se que sexualidade vai além do ato sexual, são as formas com que cada indivíduo expressa a forma de vivenciar seu gênero. Neste sentido profissionais de saúde e toda a sociedade necessitam compreender especificidades que envolvem a sexualidade dos idosos. Portanto, para responder os questionamentos a pesquisa objetivou descrever como se percebe a sexualidade do idoso em nossa sociedade e identificar se ocorre atenção à saúde sexual dos idosos. METODOLOGIA Este estudo caracteriza-se como uma revisão integrativa, com coletas de dados realizadas a partir de fontes secundárias, por meio de levantamentos bibliográficos. A revisão integrativa é um método de abordagem ampla, que proporciona a síntese do conhecimento e a incorporação da aplicabilidade de resultados de estudos significativos na prática (MENDES, 2008). Esse método desde 1980 é relatado na literatura como método de pesquisa e tem a finalidade de reunir e sintetizar resultados de pesquisas sobre um delimitado tema ou questão, de maneira sistemática e ordenada, contribuindo para o aprofundamento do conhecimento do tema investigado (SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010). Para elaboração desta revisão foram consideradas seis fases: Elaboração das questões norteadoras, busca de literatura nas bases de dados, coleta de dados, análise crítica dos estudos incluídos, discussão dos resultados e apresentação da revisão integrativa. Na primeira etapa estabeleceu a seguinte questão norteadora: “como a sociedade percebe a sexualidade do idoso e como se dá à atenção à saúde sexual dos idosos?”. Na segunda etapa foram definidos os critérios de inclusão e exclusão. Critérios de inclusão: publicações em língua portuguesa, publicados no período de 2012 a 2018, artigos originais completos que tivessem foco na temática abordada e estivessem disponíveis gratuitamente nas bases de dados selecionadas. Critérios de exclusão: cartas ao editor; relatos de casos; editoriais; revisões integrativas e sistemáticas; artigos em duplicidade. Para a pesquisa utilizamos os seguintes descritores: Idoso; Sexualidade e Saúde Pública. Todos esses descritores foram verificados no site Descritores em Ciências da Saúde (DeCS). Em seguida, realizou-se o levantamento bibliográfico no período de Junho a Julho de 2016 através de buscas de produções publicadas no banco de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), Base de Dados em Enfermagem Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 129 (BDENF) e Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE). Para melhor sistematização e detalhamento das informações encontradas, na terceira etapa, os artigos foram fichados e registrados em uma planilha contendo as seguintes informações: Ano de Publicação; Título; Autores; Periódico científico; Tipo de pesquisa e Resultados. Na quarta, quinta e sexta etapas, as publicações foram analisadas e interpretadas para realizar a apresentação desta revisão. RESULTADOS E DISCUSSÕES Encontramos 70 artigos, sendo selecionados 05 que atendiam aos critérios de inclusão da pesquisa e que se enquadravam na temática do estudo. Essa seleção ocorreu por meio da leitura dos títulos e resumos. Os estudos analisados foram desenvolvidos: 03 artigos por enfermeiros; 1 por acadêmicos de enfermagem e 1 por acadêmicos de medicina. Os artigos selecionados foram publicados nas revistas: Revista Mineira Enfermagem (REME), Revista de Pesquisa Cuidado é Fundamental, Revista CuidArt Enfermagem, Revista Brasileira de Enfermagem (REBEn) e Revista de Enfermagem do Centro-Oeste Mineiro (RECOM). Os sujeitos pesquisados foram: os próprios idosos e profissionais médicos e enfermeiros. Os artigos selecionados foram lidos na íntegra, sendo destacados: objetivos de cada estudo; metodologia aplicada e resultados discutidos. Essa leitura mais detalhada permitiu realizar a categorização dos discursos, sendo identificadas duas categorias temáticas: Aspectos Ligados a Sexualidade e Qualidade na Vida Sexual. Aspectos ligados a sexualidade A discussão sobre o conceito de sexualidade esteve presente em alguns artigos, sendo definida como expressão de várias maneiras, não se restringindo apenas ao ato sexual (QUEIROZ et al., 2015; MARQUES et al., 2015; CUNHA et al., 2015). A sexualidade pode ser compreendida como uma atividade que contribui positivamente para a qualidade de vida da pessoa idosa. Trata-se de um processo natural que obedece a uma necessidade fisiológica e emocional do indivíduo e que se manifesta de forma diferenciada nas diferentes fases do desenvolvimento humano (ABREU, 2017). Deste modo a sociedade tem uma percepção distorcida ao deduzir que os idosos deixam de ser sexual nessa fase da vida, portanto tornando-se assexuados. Ainda segundo Marques et al. (2015) o interesse sexual do idoso é mais extenso do que pensa a sociedade, surpreendendo-a, uma vez que para o idoso esse interesse não seja necessariamente manter uma relação sexual no qual haja o coito. 130 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Entre o grupo da terceira idade, o desejo e a frequência sexual podem tornar-se mais espaçados. Em geral, além disso, os idosos tendem a procurar relações mais duradouras, e o ato sexual, apesar de continuar tão satisfatório quanto na juventude, caracteriza-se por uma excitação mais lenta e com orgasmo em menor intensidade (QUEIROZ et. al, 2015). Os estudos de Luz et al. (2015) e Marques et al. (2015), apontam que os idosos evitam conversar sobre o assunto em questão, fato que pode estar associado à cultura e ao preconceito relacionado à idade. Cunha et al. (2015), entre outros autores, afirma que para uma sociedade que prefere pensar no idoso como um ser assexuado, não reconhecendo-a como uma população vulnerável aos problemas relacionados a vida sexual, o tema torna-se dispensável para os profissionais de saúde, o que dificulta a implementação de ações preventivas e de promoção da saúde sexual. O homem e a mulher podem continuar a ter relações sexuais durante a terceira idade e devem ser esclarecidos quanto às alterações que ocorrem em ambos para que não haja prejuízos no prazer sexual e nas relações afetivas, adaptando-se às mudanças ocorridas nesta fase (JESUS et al, 2016). Para que os idosos vivam uma sexualidade satisfatória, é imprescindível receber uma assistência acolhedora dos profissionais de saúde, por meio de informações dos acontecimentos próprios da velhice e, assim, eliminar suas inseguranças e responder as dúvidas (EVANGELISTA et al, 2019). Estudos apontam como desfavorável o fato de idosos e profissionais de saúde relutar em abordar essas questões, pois os profissionais tendem a considerar os idosos assexuados e, como tal, sem possibilidade de terem IST/Aids, dispensando a abordagem preventiva. Essa postura impede que os próprios idosos se percebam vulneráveis a tais infecções (ABREU, 2017). Embora fatores fisiológicos e psicossociais tenham impacto sobre a expressão, a sexualidade permanece essencial à qualidade de vida de muitos adultos mais velhos. Os profissionais de saúde devem estar preparados para lidar com componentes tais como a expressão sexual, a disfunção sexual, a identidade e estigma, o comprometimento cognitivo e a capacidade de consentimento e, às vezes, comportamentos sexuais inapropriados visando melhorar a qualidade de vida de idosos (SRINIVASAN et al, 2019). Também devem estar cientes das crescentes necessidades de educação sexual em idosos e serem incentivados a discutir abertamente questões e preocupações sexuais desses pacientes (CARRASCO et al, 2019). Qualidade na vida sexual Segundo Alencar, Marques, Leal, & Vieira (2014), as dificuldades na aceitação da sexualidade no processo de envelhecer podem advir tanto pela ausência de informação, quanto Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 131 pela noção de que a sexualidade esteja restrita à genitalidade e procriação. Conforme os referidos autores, a educação da atual geração de idosos foi repressora, excluindo o diálogo entre pais e filhos para se falar de sexo. Assim, sentem-se desconfortáveis em dar opiniões e em falar sobre o assunto (ROZENDO; ALVES, 2015). Os estereótipos de que as pessoas velhas não são atraentes fisicamente, são assexuadas, ou são incapazes de sentir algum estímulo sexual ainda estão impregnados no imaginário social. Tais mitos induzem os mais velhos a assumirem uma atitude pessimista na esfera da sexualidade (ALENCAR; MARQUES; LEAL, 2014). Entretanto, com os recursos médicos e farmacológicos da atualidade, a maioria das pessoas idosas está apta a usufruir uma vida sexual satisfatória, como nunca antes. Mesmo assim, o assunto ainda é um grande tabu na nossa cultura e quando vem à tona, costuma causar bastante polêmica (ROZENDO; ALVES, 2015). A percepção que a sociedade tem da pessoa idosa ainda envolve mitos e tabus, e desinformação, o que influencia as práticas de saúde junto a essa população. Nessa perspectiva ainda há muito que se fazer, haja vista a necessidade de vislumbrar o idoso em todas as suas dimensões, reconhecendo a sexualidade como algo possível de se viver na velhice de forma natural e saudável (BRITO et al, 2016). Debert e Brigeiro (2012) apontam que, segundo gerontólogos e sexólogos, praticar sexo até o fim da vida, pode ser uma atividade benéfica para o envelhecimento bem-sucedido. Claro que, com o envelhecimento do corpo, que implica uma reorganização dos hormônios, costuma haver um declínio no interesse e na frequência das atividades sexuais, mas pequenas adaptações vão sendo feitas, novas formas de prazer vão sendo encontradas, menos restritas ao sexo genital e, mais relacionadas ao afeto, toques e carinhos (ABREU, 2017). Como uma expressão da condição humana, a vivência da sexualidade se transforma à medida que as pessoas passam a viver suas metamorfoses, assumindo seus modos peculiares de ser no mundo. Na terceira idade, pode-se dizer que se perde em quantidade, mas seguramente se ganha em qualidade. Constata-se que tanto o homem quanto a mulher continuam a apreciar as relações sexuais durante a velhice, entretanto a prática sexual é exercida de fato pelos homens, enquanto as mulheres, em virtude de vários fatores, principalmente a viuvez, se abstêm mais da prática e ainda a prática sexual pelos idosos muitas vezes são desprotegidas, ou seja, não utilizam o preservativo (MARQUES et al, 2015). Os resultados dos estudos de Luz et al. (2015) mostram que quanto à utilização da camisinha para prevenir as DSTs, apenas 10,8% referiram utilizá-lo, e citaram exclusivamente o preservativo masculino. Quando indagados sobre a descrição dos conhecimentos e a procura de orientação sexual ao profissional de saúde, entre os 33 idosos que descrevem como satisfatório seu conhecimento sobre as DST, apenas 15,1% procuram orientação, já 132 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 entre os 97 que consideram insatisfatório seu conhecimento, apenas 16,4% procuram o profissional de saúde para obter orientação sobre sexualidade e DST. Reconhecendo que a sexualidade tem profunda relação com a qualidade de vida, Cunha et al. (2015) enfatiza que os profissionais da atenção básica precisam desenvolver estratégias pautadas no vinculo e na interação entre profissional/usuário. Com essa interação, poderia haver a superação dos constrangimentos causados quando se fala sobre sexualidade com idosos. Para que os profissionais consigam atender de forma integral e equânime a saúde do idoso, precisam estar capacitados para trabalhar a sexualidade do idoso, assim entendendo-o em sua multidimensionalidade. Nesta pesquisa, os profissionais da atenção básica indicaram que a capacitação na área de saúde do idoso é uma estratégia eficaz de cuidado. CONCLUSÃO Compreendida como uma condição inerente a vida dos sujeitos, a sexualidade precisa ser percebida em sua amplitude em todas as fases do ciclo vital, em especial no contexto dos idosos, quem negados em sua singularidade, tem a sexualidade como um tema tabu em suas discussões. Nesse sentido, a sociedade necessita ultrapassar as barreiras do preconceito no que tange a sexualidade dos idosos, que assim como os jovens e adultos, pode e deve ser vivenciada de modo singular. Diante das características em relação as percepções dos idosos em relação a sexualidade, apontadas nos estudos, os profissionais de saúde, necessitam ser capacitados e estar preparados para desempenhar a atenção a sexualidade dos idosos. Além do mais se faz necessária a construção de políticas públicas para a população idosa, na qual estejam inseridos discussões e ações voltadas para a vivencia da sexualidade por essa parcela da população, possibilitando intervenções que visem informar, orientar e conscientizar idosos e a sociedade em geral e fazer com que eles queiram dialogar sobre o assunto e procurar profissionais de saúde para esclarecer dúvidas que esse público venham ter. Sugere-se, portanto, o estímulo a realização de mais estudos sobre essa temática, pois a sexualidade em uma abordagem para idosos é pouco debatida e merece atenção. Diante do processo de envelhecimento saudável, respeitando todos os aspectos, destaca-se o papel do enfermeiro, inserido como educador em saúde, mediante uma formação qualificada, para contribuir com as discussões relativas a saúde sexual dos idosos. REFERÊNCIAS 1. ALENCAR, D.L et al. Fatores que interferem na sexualidade de idosos: uma revisão integrativa. Ciências e Saúde Coletiva, São Paulo, v.19, n.8, p.1413-1420, 2015. Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 133 2. 3. BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde – Departamento de DST, AIDS e Hepatites Virais. Boletim Epidemiológico. Ano IV nº 01. 27ª à 53ª semana epidemiológica. Julho a Dezembro de 2014. 01ª à 26ª semana epidemiológica. Janeiro a Junho de 2015. Brasília; 2015. 4. BURIGO, G.F et al. Sexualidade e comportamento de idosos vulneráveis a doença sexualmente transmissíveis. Rev CuidArte Enfermagem, V.9, n.2, p. 148-153, 2015. 5. CARRASCO, M.H et al. 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A maioria apresentou perda auditiva do tipo neurossensorial, de grau leve a moderado, de configuração descendente, protetizados com aparelhos auditivos retroauriculares bilateralmente. Foram observadas diferenças entre as covariáveis (sexo, cognição e depressão) em relação ao teste dicótico de dígitos. Correlações estatisticamente significantes entre os testes auditivos e algumas variáveis foram obtidas, mostrando que: quanto maior a idade, menor os acertos por orelha no teste dicótico; quanto maior a dificuldade em copiar figuras geométricas, menor o número de identificações corretas na tarefa de ordenação temporal; quanto maior a dificuldade do idoso em se orientar no tempo, menor o desempenho no teste dicótico de dígitos e de processamento temporal/ordenação; quanto mais erros no reconhecimento de palavras, menor o número de acertos na identificação de serie de sons; quanto mais erros na tarefa de recordação menos acertos na tarefa de reconhecimento de palavras para a orelha direita em escuta dicótica; quanto maior a dificuldade na qualidade de fala, ou seja, dificuldades em encontrar palavras na fala espontânea e em compreensão de linguagem, menor os acertos em ordenação temporal; quanto maior a dificuldade na fala espontânea e em se fazer entender maior o numero de erros na ordenação; quanto maior a dificuldade de compreensão maior o numero de erros do tipo alternado na tarefa de ordenação; e, quanto maior o comprometimento cognitivo pior a habilidade de ordenação temporal de padrão de frequências de sons em série. Os idosos com falhas na tarefa de processamento auditivo temporal também tiveram falhas na tarefa de escuta dicótica. Conclusões: A escuta dicótica e a ordenação de idosos se assemelharam na análise do gênero, acertos por orelha e presença ou não do aspecto cognitivo alterado. Houve correlação entre escuta dicótica, ordenação temporal, idade e aspectos cognitivos. Quanto maior a dificuldade em se orientar no tempo, pior o desempenho no teste dicótico de dígitos. Ainda, quanto pior a qualidade de fala, a dificuldade em encontrar as palavras na fala espontânea e a dificuldade em reconhecimento e compreensão de linguagem, pior o desempenho em ordenação temporal auditiva. Palavras- chave: Perda Auditiva, Auxiliares de Audição, Perda Auditiva Central, Envelhecimento, Reabilitação. INTRODUÇÃO Cada vez mais o tema envelhecimento vem sendo abordado, tanto nos países desenvolvidos quanto nos países em desenvolvimento (GUERRA; CALDAS, 2010). A deficiência auditiva no idoso, denominada presbiacusia, resulta em efeitos negativos não só do ponto de vista social e emocional, como também na qualidade de vida do idoso (VERAS; MATTOS, 2007, SAMELLI et al., 2011). A deterioração do sistema auditivo origina déficits na compreensão de fala, acarretando uma série de problemas sociais, dentre eles: afastamento das atividades sociais e familiares; baixa autoestima; isolamento; solidão; depressão, e irritabilidade (TEIXEIRA et al., 2008). Estudo de Ruschel et al., 2007 comprova que a perda auditiva na população idosa ocorre de 5% a 20% nos indivíduos com 60 anos de idade, incidência essa que aumenta para 60% em indivíduos a partir dos 65 anos. Em função da maior queixa apresentada pelo idoso ser a dificuldade de reconhecimento de fala em situações competitivas, alguns estudos indicam que as habilidades auditivas centrais estariam relacionadas às funções cognitivas (SILVEIRA et al., 2004; VERAS; MATTOS, 2007). A perda da sensibilidade periférica está altamente correlacionada com o declínio cognitivo em idosos. A perda gradual da audição, como ocorre na presbiacusia, leva a dificuldade crescente na comunicação oral e ao consequente isolamento social, com implicações para a cognição (KOPPER, TEIXEIRA; DORNELLES, 2009; SOUZA et al., 2010). Esta dificuldade pode ser relacionada a uma alteração do processamento auditivo temporal, que pode ser definido como a capacidade de processar eventos acústicos mínimos necessários para a percepção da fala, permitindo ao ser humano a percepção dos sons da fala e compreensão da linguagem oral (SHINN, 2007). É sugerido, dessa forma, que a capacidade de analisar a ordenação de sons requer mecanismos que não estão somente associados com o sistema auditivo-periférico, mas também com as estruturas centrais (LIPORACI; FROTA, 2010). Pinheiro et al., 2012 salientam a necessidade de investigar a interferência da cognição em relação ao desempenho no uso de aparelhos de amplificação sonora individuais (AASI) e na qualidade de vida de indivíduos idosos com perda auditiva. Ainda, dada a expectativa da plasticidade cerebral reduzida no paciente idoso, é provável que o plano de atuação para um adulto com Transtorno do Processamento Auditivo Central incidirá em estratégias para melhorar as habilidades de percepção auditiva individual, bem como estratégias compensatórias relacionadas às habilidades cognitivas e linguísticas (BARAN, 2002; MUSIEK; BERGE, 1998). Considerando-se o processamento auditivo temporal como um componente fundamental na maioria das capacidades de processamento auditivo, esta é fortemente apoiada pelo fato de muitas características que englobam informações auditivas serem, de alguma forma, influenciadas pelo tempo (PINHEIRO; MUSIEK, 1985). No que diz respeito ao processamento Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 137 auditivo temporal, é fundamental ter a compreensão de seus quatro subcomponentes: (1) ordenação ou sequenciação temporal, (2) resolução temporal ou discriminação, (3) a integração temporal, ou soma, e (4) mascaramento temporal (SHINN, 2007). Ainda, a habilidade para reconhecer e identificar os padrões auditivos sequenciais está intimamente relacionada a processos perceptivos e cognitivos (PINHEIRO; MUSIEK, 1985). Frente ao exposto, destaca-se a importância de conhecer o funcionamento neuroaudiológico da audição em idosos, especificamente quanto aos aspectos temporais de julgamento de série de sons breves e sucessivos, bem como do desempenho em escuta dicótica. Sendo assim, a hipótese deste estudo é a de que idosos, após reabilitação auditiva por meio de prótese auditiva e de treinamento auditivo com sons verbais e não verbais, mostrariam melhora no desempenho de processamento auditivo temporal e de escuta dicótica. OBJETIVO Verificar o processamento temporal e a escuta dicótica, correlacionando-os com aspectos cognitivos em idosos usuários de prótese auditiva. MÉTODOS Realizou-se o estudo por meio de um levantamento de dados, selecionados dentre os protocolos de atendimento a idosos, no período de dezembro de 2009 a outubro de 2010, no Centro Auditivo Clélia Spinato Manfro, pertencente à Faculdade Nossa Senhora de Fátima (Caxias do Sul - Rio Grande do Sul), com autorização da instituição de origem. O estudo obteve a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina, sob o número 1374/11. Os profissionais da Instituição de origem, responsáveis pelos protocolos, autorizaram o uso dos dados audiológicos por meio de uma carta de consentimento. Dentre os 60 prontuários de atendimento avaliados para o estudo, foram selecionados 31 destes, os quais eram idosos de ambos os sexos e com faixa etária entre 60 a 90 anos, e que iniciaram o processo de adaptação de prótese auditiva em dezembro de 2009 até outubro de 2010. A amostra caracterizou-se por dados da avaliação auditiva de idosos com perda auditiva neurossensorial que participaram da adaptação de próteses auditivas com uma experienciação acústica por um período de cinco sessões. No serviço de adaptação de próteses auditivas do Centro de Saúde Clélia Spinato Manfro, as sessões de avaliação de processamento auditivo foram realizadas individualmente com o idoso posicionado em uma cabina acústica e com testes auditivos gravados, conforme Pereira e Schochat (1997). As sessões de experienciação acústica possibilitaram 138 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 o aprimoramento do comportamento auditivo do idoso usando a prótese auditiva, em uma sala em que os estímulos foram apresentados por meio de um computador via alto-falantes. As estratégias utilizadas visaram aprimorar o comportamento de detectar, discriminar, identificar, reconhecer e compreender os sons da fala. Os limites desse treinamento auditivo foram: ausência do uso de recursos tecnológicos específicos para aprimorar o processamento temporal e; a escuta dicótica. Procedimentos para caracterização dos aspectos cognitivos, da audição e das próteses auditivas dos idosos Para caracterizar os aspectos auditivos, foram elencados dados da audiometria tonal limiar, logoaudiometria, grau, tipo e configuração da perda auditiva, o tipo de prótese auditiva do usuário e da adaptação realizada no serviço. E, para caracterizar os aspectos cognitivos foram colhidos os dados dos testes da Escala de Avaliação da Doença de Alzheimer-Cognitiva (ADAS-Cog) e da Escala de Depressão Geriátrica (EDG). Foram elencados 11 itens da Escala de Avaliação da Doença de Alzheimer (ADASCog) (ROSEN et al., 1984) adaptada à língua portuguesa por Schultz (2001): (1) Evocação imediata de palavras; (2) Nomeação de objetos e dedos; (3) Comandos; (4) Praxia construtiva; (5) Praxia ideativa; (6) Orientação; (7) Reconhecimento de palavras; (8) Recordação das instruções; (9) Habilidade em linguagem falada; (10) Dificuldade em achar palavras na fala espontânea; e (11) Compreensão. O escore total da escala varia de 70 (mais baixo) a zero, de forma que quanto maior a pontuação, maior o comprometimento cognitivo do sujeito avaliado. O escore da escala foi classificado conforme a escolaridade do sujeito e seguindo os critérios de pontuação da média mais dois desvios padrões (DP), segundo Schultz et al. (2001): 0 a 4 anos de escolaridade: 10,9 (DP-6,2) - 23,3 pontos; 5 a 11 anos de escolaridade: 7,8 (DP-2,8) - 13,4 pontos; Acima de 12 anos de escolaridade: 6,3 (DP-2,4) - 11,1 pontos. A análise deste procedimento levou em consideração o total de erros bem como o número de erros por prova nas questões de 1 a 8. Nas questões 9, 10 e 11, que possibilitam análise qualitativa da fala e da compreensão do idoso, foram levados em conta os comportamentos durante as provas e o escore contabilizado de acordo com o desempenho, correspondendo o menor escore ao melhor comportamento. As questões da Escala de Depressão Geriátrica 15 pontos (ALMEIDA; ALMEIDA, 1999) foram apresentadas oralmente aos pacientes, orientados a responder “sim” ou “não”. Considerou-se normal a pontuação que não excedente a cinco pontos (ALMEIDA; ALMEIDA, 1999), uma vez que a pontuação maior do que cinco sugere presença de sintomas depressivos. A aplicação dessa escala teve duração de aproximadamente cinco minutos. A análise Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 139 do EDG foi feita considerando os escores: 0 a 4 pontos: normal; ≥ 5 pontos: suspeita de depressão; ≥ 11 pontos: sugestivo de depressão grave. Procedimentos de estudo da função auditiva central Para o estudo da função auditiva, foram selecionados Testes Comportamentais do Processamento Auditivo (Central) elencando-se os dados observados no Teste Dicótico de Dígitos – Teste TDD (SANTOS; PEREIRA, 1997) e no Teste de Reconhecimento de Padrão de Frequência com tom puro – Teste TPF (disponibilizado pela Auditec desde 1997). No Teste TPF, o paciente foi instruído a nomear o que ouviu, avaliando-se a capacidade de julgamento de ordenação temporal de três estímulos sonoros de diferentes frequências numa dada sequência com base nas discriminações entre esses sons. Para este teste, foram levados em conta os acertos em porcentagem e optou-se por estudar qualitativamente os erros, os quais foram classificados em: (1) erros em estímulo sequencial (TPF-ES), isto é, dois estímulos iguais numa sequência; e (2) erros em estimulo alternado (TPF-EA), isto é, quando os estímulos foram diferentes na sequência. O Teste TDD exige que o ouvinte relate as informações apresentadas às duas orelhas ao mesmo tempo, abrangendo, desta forma, o processo de integração binaural. Neste teste, foram levados em conta os acertos em porcentagem, por orelha. Os achados obtidos foram separados por orelha, abreviados IBOD, Integração Binaural Orelha Direita, e IBOE, Integração Binaural Orelha Esquerda. Em cada procedimento de estudo da função auditiva central, as variáveis analisadas foram respostas dos testes comportamentais quanto aos acertos em porcentagem por orelha na escuta dicótica (TDD) e acertos em porcentagem no julgamento da ordenação temporal (TPF). Essas respostas foram analisadas considerando-se também as variáveis: gênero; orelhas; e presença ou não de aspecto cognitivo alterado, por subitem avaliado. Método estatístico Os dados foram apresentados por meio de estatística descritiva. Foi utilizado o teste de correlação de Pearson para analisar a relação entre os dados auditivos e idade, escolaridade, e adequação cognitiva. Foram realizados testes paramétricos selecionados de acordo com os dados obtidos: teste de normalidade de Kolmogorov-Smirnov, seguido do teste ANOVA. Os intervalos de confiança foram construídos com 95% de confiança estatística, estabelecendo-se nível de significância de 0,005 (5%). A análise estatística foi realizada utilizando-se os softwares SPSS 16, Minitab 15 e Excel Office 2007. 140 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 RESULTADOS Foram selecionados 31 prontuários de pacientes idosos, com idades variando entre 60 e 92 anos, distribuídos similarmente por sexo masculino (n=18) e feminino (n=13). Os idosos mostraram bom reconhecimento de fala com melhora evidente pelo uso de AASI (Tabela1). Verificou-se que somente as variáveis de ganho funcional em campo aberto possuem variabilidade alta, pois o Quociente de Variação (CV) é maior que 50%. Isso demonstra que os dados não são homogêneos para o ganho funcional com o AASI. A maioria dos idosos apresentou perda auditiva do tipo neurossensorial (77,4% orelha direita e 83,9% orelha esquerda), de grau leve a moderado (96,8 % orelha direita e 83,9% orelha esquerda), de configuração descendente (64,5% orelha direita e 58,1% orelha esquerda). As próteses auditivas distribuídas para os 31 idosos foram do tipo retroauricular, sendo a maioria da classe A (87,1%), com adaptação bilateral (96,8%). Aos pacientes foram distribuídos diversos tipos de aparelhos auditivos, de fabricantes distintos. Em relação à limitação da amostra do presente estudo, existem sete pacientes com perda auditiva mista e um paciente com perda auditiva unilateral. Tabela 1. Estatística descritiva para idade (em anos), limiares audiométricos médios (em dBNA), reconhecimento de fala (IRF) com monossílabos e com dissílabos (em porcentagem de acertos), e ganho funcional da prótese auditiva (em dB). Descritiva Média Mediana Desvio Padrão CV Q1 Q3 Min. Max. N IC Idade (em anos) 72,6 72 8,3 11% 67 77 60 90 31 2,9 Audição - Média Tritonal (em dBNA) OD 45,8 45 10,7 23% 40 55 30 80 31 3,8 OE 46,5 45 15,0 32% 35 53 20 80 31 5,3 Audição - IRF Monossílabos % acertos OD 83,4 84 14,6 18% 72 93 40 100 24 5,8 OE 82,7 84 11,1 13% 75 92 60 96 24 4,4 Audição - IRF Dissílabos % de acertos OD 80,8 88 17,8 22% 76 92 52 96 5 15,6 OE 84,7 86 11,1 13% 84 91 64 96 6 8,9 94,3 96 8,1 9% 92 100 68 100 31 2,9 Teste de fala AASI em uso % acertos Ganho Func. em campo aberto em dB 500 Hz 11,6 10 7,8 67% 5 15 0 30 31 2,7 1000 Hz 15,8 15 9,0 57% 8 20 0 35 31 3,2 2000 Hz 20,0 20 11,0 55% 10 28 0 40 31 3,9 3000 Hz 19,8 20 10,8 54% 15 30 0 40 31 3,8 4000 Hz 18,7 15 8,9 48% 15 25 0 40 31 3,1 Legenda: OD = orelha direita; OE= orelha esquerda; HZ = Hertz; CV = Coeficiente de Variação; Q1= primeiro quartil; Q3= terceiro quartil; N= número da amostra; IC= intervalo de confiança; Func=funcional Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 141 Tabela 2. Estatística descritiva para os dados em porcentagem de acertos em escuta dicótica (integração binaural) à orelha direita e esquerda, para o teste de padrão de frequência quanto aos acertos e erros em sequências iguais e alternadas, e o p valor calculado para comparar cognição normal ou alterada e gênero. COGNIÇÃO Média Mediana Desvio Padrão Min Max N IC IBOD % acertos Alterado 53,9 55,0 19,6 32,5 85,0 7 14,5 Normal 57,2 61,3 24,9 10,0 92,5 24 10,0 IBOE % acertos Alterado 58,6 55,0 16,9 42,5 90,0 7 12,6 Normal 66,5 68,8 20,4 25,0 95,0 24 8,1 TPF % acertos Alterado 58,1 56,7 16,8 30,0 80,0 7 12,4 Normal 71,1 76,7 21,0 10,0 96,7 24 8,4 TPF-ES % erros Alterado 20,9 23,3 13,0 6,7 36,7 7 9,6 Normal 11,9 8,3 13,3 0,0 53,3 24 5,3 TPF-EA % erros Alterado 21,0 16,7 10,1 10,0 36,7 7 7,5 Normal 16,9 13,3 10,6 3,3 36,7 24 4,2 p-valor 0,754 0,359 0,145 0,125 0,380 P valor calculado para comparar os dados por gênero (Feminino x masculino) IBOD - 0,894; IBOE -0,988; TPF -0,813; TPF ES -0,630 TPF EA -0,877 Legenda: IBOD= integração binaural á orelha direita;IBOE= integração binaural á esquerda; Min= valor mínimo; Max= valor; Maximo; IC = intervalo de confiança; TPF = teste de padrão de frequência; ES= erros em sequências de estímulos iguais; EA = erros em sequências de estímulos alternados. Tabela 3. Estatística descritiva para os dados em porcentagem de acertos em escuta dicótica (integração binaural) à orelha direita e esquerda, teste de padrão de frequência quanto aos acertos e erros em sequências iguais e alternadas, e p valor calculado para comparar presença ou ausência de depressão. Depressão IBOD % acertos IBOE % acertos TPF % acertos TPF-ES% erros TPF-EA% erros Média Mediana Desvio Padrão Min Max N Com 54,7 60,0 25,3 10,0 87,5 17 12,0 Sem 58,6 55,0 22,0 12,5 92,5 14 11,5 Com 60,7 55,0 21,4 25,0 95,0 17 10,2 Sem 69,5 65,0 16,8 42,5 92,5 14 8,8 Com 66,5 70,0 18,5 30,0 93,3 17 8,8 Sem 70,2 76,7 23,6 10,0 96,7 14 12,3 Com 14,5 10,0 12,2 0,0 36,7 17 5,8 Sem 13,3 8,3 15,6 0,0 53,3 14 8,2 Com 19,0 13,3 11,2 6,7 36,7 17 5,3 Sem 16,4 15,0 9,7 3,3 36,6 14 5,1 IC p-valor 0,657 0,224 0,621 0,814 0,501 Legenda: IBOD= integração binaural à orelha direita; IBOE= integração binaural à esquerda; Min= valor mínimo; Max= valor; Maximo; IC = intervalo de confiança; TPF = teste de padrão de frequência; ES= erros em sequências de estímulos iguais; EA = erros em sequências de estímulos alternados. Nas tarefas de escuta dicótica avaliadas por meio do teste Dicótico de Dígitos, na etapa de Integração Binaural e de processamento auditivo temporal/ordenação por meio do Teste de Padrão de Frequência, verificou-se que o desempenho por orelha foi semelhante por gênero masculino e feminino, (Tabela 2). Quando a casuística foi separada em cognição normal e alterada (Tabela 2), verificou-se similaridade de resultados nos testes auditivos avaliados. A variabilidade dos dados foi alta e sugere-se que estudos com maior número amostral possam ser realizados. Na análise, reunindo a população segundo a presença ou não de depressão (Tabela 3), também foi verificado similaridade de resultados nos testes auditivos. Mais uma vez, uma provável explicação pode ser a amostra selecionada, que mostrou uma grande variabilidade nos achados. 142 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Tabela 4. Correlação entre os dados em porcentagem de acertos em escuta dicótica (integração binaural) à orelha direita e esquerda, teste de padrão de frequência quanto aos acertos e erros em sequências iguais e alternadas, e idade (em anos), anos de escolaridade e escores do ADAS por item e para o total,e para o EDG. Idade Escolaridade ADAS1 ADAS2 ADAS3 ADAS4 ADAS5 ADAS6 ADAS7 ADAS8 ADAS9 ADAS10 ADAS11 Total ADAS EDG IBOD IBOE TPF TPF-ES TPF-EA Corr -56,0% -54,9% -23,4% 14,0% 28,1% p-valor 0,001* 0,001* 0,205 0,452 0,126 Corr 26,7% 20,5% 18,4% -12,1% -20,5% p-valor 0,146 0,269 0,322 0,515 0,269 Corr -15,9% -16,6% -16,5% 16,5% 11,3% p-valor 0,393 0,373 0,376 0,375 0,547 Corr -15,3% -32,0% -27,5% 29,0% 16,5% p-valor 0,413 0,079 0,135 0,114 0,374 Corr 0,8% -13,9% 7,7% -19,1% 9,7% p-valor 0,965 0,457 0,682 0,303 0,604 Corr -16,3% -0,5% -51,8% 44,6% 45,3% p-valor 0,390 0,980 0,003* 0,013* 0,012* Corr -8,5% -17,3% -19,9% 27,2% 4,0% p-valor 0,648 0,351 0,283 0,139 0,832 Corr -38,5% -29,7% -36,0% 29,1% 33,2% p-valor 0,033 0,104 0,047* 0,112 0,068 Corr -7,3% -31,0% -42,8% 41,7% 30,5% p-valor 0,695 0,090 0,016* 0,020 0,095 Corr -37,0% 11,9% -16,4% 6,2% 24,2% p-valor 0,041* 0,523 0,379 0,739 0,190 Corr -13,3% -30,6% -46,7% 40,8% 39,2% p-valor 0,474 0,094 0,008* 0,023* 0,029* Corr -16,3% -22,8% -47,6% 44,6% 36,1% p-valor 0,381 0,217 0,007* 0,012* 0,046* Corr -33,5% -30,2% -39,1% 28,0% 40,9% p-valor 0,066 0,099 0,030 0,127 0,022 Corr -26,9% -34,1% -54,3% 48,4% 44,3% p-valor 0,143 0,061 0,002* 0,006* 0,013* Corr -14,0% 8,4% -7,3% 8,8% 3,1% p-valor 0,453 0,653 0,695 0,639 0,869 Legenda: IBOD= integração binaural á orelha direita; IBOE= integração binaural à esquerda; TPF = teste de padrão de frequência; ES= erros em sequências de estímulos iguais; EA = erros em sequências de estímulos alternados. Corr= correlação. * estatisticamente significante Tabela 5. Correlação entre os dados auditivos quanto à porcentagem de acertos em escuta dicótica(integração binaural) à orelha direita e à esquerda e teste de padrão de frequência quanto aos acertos e erros em sequências iguais e alternadas. IBOD IBOE TPF TPF-ES TPF-EA Corr 62,5% p-valor <0,001* IBOE TPF TPF-ES Corr 56,2% 43,2% p-valor 0,001* 0,015* Corr -33,9% -27,1% -89,4% p-valor 0,062* 0,141 <0,001* Corr -67,0% -50,1% -81,1% 46,4% p-valor <0,001* 0,004* <0,001* 0,009* Legenda: IBOD integração binaural à orelha direita; IBOE= integração binaural à orelha esquerda; Corr = correlação; TPF = teste de padrão de frequência; ES = erros em sequências de estímulos iguais; EA = erros em sequências de estímulos alternados. *estatisticamente significante Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 143 Na população estudada a variabilidade de desempenho dos idosos foi grande em ambos os testes auditivos. No estudo da correlação entre os achados nos testes auditivos de processamento auditivo temporal e de escuta dicótica e as diferentes habilidades medidas no ADAS-Cog, (Tabela 4), verificou-se significância estatística entre os testes auditivos e em algumas provas do ADAS-Cog. Além disso, as correlações entre os achados dos testes auditivos foram significantes entre quase todos os dados estudados (Tabela 5). Desta forma, há evidencias de que os idosos com falhas auditivas na tarefa de processamento auditivo temporal também tiveram falhas na tarefa de escuta dicótica. DISCUSSÃO A diminuição da sensibilidade auditiva e uma redução na inteligibilidade da fala em níveis supraliminares, que frequentemente ocorre numa presbiacusia, comprometem seriamente o processo de comunicação verbal (DIMATOS et al., 2011). Os resultados encontrados no presente estudo quanto a descrição da perda auditiva dos idosos se assemelharam aos achados de Guerra et al. (2010). Assim, numa população idosa com queixa de perda auditiva, verificou-se maior prevalência de perda auditiva do tipo neurossensorial, descendente, com grau variando de leve a moderado. Nos casos em que a deficiência auditiva está presente, é recomendado o uso do aparelho de amplificação sonora individual (AASI) ou prótese auditiva (SUMAN et al., 2008). Os circuitos do AASI podem ser alterados de forma a atender as necessidades de comunicação do paciente, uma vez analisados os aspectos cognitivo e emocional. Um indivíduo sem tais déficits cognitivos e emocionais apresenta maior velocidade no processamento da informação, mesmo diante da diminuição da acuidade auditiva, cujos parâmetros eletroacústicos do aparelho auditivo não necessitam de alterações especiais conforme relatado por Soler e Iório (2008). Em pacientes com quadros demenciais ou depressivos, há necessidade de mudança dos parâmetros eletroacústicos do AASI, uma vez que o processamento neurológico da informação auditiva recebido pode estar lenificado. Neste estudo, os idosos participantes eram usuários de próteses auditivas e alguns mostravam dificuldade no reconhecimento de fala (Tabela1). Embora as próteses auditivas possam aumentar a informação acústica disponível, nem sempre há uma melhora satisfatória no reconhecimento de fala (GORDO; IÓRIO, 2007), visto que, com a idade, a dificuldade de comunicação aumenta progressivamente, associada à deficiência auditiva e a degeneração de fatores cognitivos (BARALDI et al., 2007). Os efeitos da idade no sistema auditivo periférico e central interagem com mudanças na diminuição do suporte cognitivo, diminuição da percepção e elevação de limiares, redução da compreensão de fala no ruído e ambientes 144 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 reverberantes, interfere na percepção das mudanças rápidas na fala, e na localização do som (BARALDI et al., 2007). Gil (2010) salientou a importância da avaliação auditiva central dos candidatos/usuários de próteses auditivas, bem como da reabilitação destas habilidades, independentemente da idade do paciente. Liporaci e Frota (2010) relataram que o envelhecimento pode trazer um declínio na habilidade de ordenação temporal que pode estar relacionado à redução da efetividade da comunicação. No presente estudo, verificou-se falhas na ordenação temporal (Tabela 2) semelhante às descritas por estes autores e diferentes do observado por Fitzgibbons et al. (2006), que afirmaram que a perda auditiva coclear de grau leve a moderado não interfere no desempenho desta tarefa. Neste sentido, é importante salientar que as habilidades de reconhecimento e identificação dos padrões auditivos sequenciais envolvem processos perceptivos e cognitivos, que podem se encontrar comprometidos em função do envelhecimento e da privação auditiva (VIACELLI; COSTA-FERREIRA, 2010). Pichora-Fuller (2006) mostrou que nos idosos com presbiacusia as tarefas do processamento temporal não são prejudicadas apenas pela deterioração que o envelhecimento causa nas estruturas do sistema auditivo periférico e central, mas também pela maior demanda exigida das habilidades cognitivas como a memória e velocidade do processamento. Os achados (Tabela 2) que mostraram que à medida que aumenta a idade, diminui a porcentagem de acertos no teste de reconhecimento de padrão de frequência (TPF) concordaram com os achados de Parra et al. (2004). Alguns estudos têm considerado que o declínio das funções cognitivas relacionado à idade tais como memória de trabalho, atenção seletiva e velocidade de processamento da informação, tem um importante efeito na compreensão de fala do idoso (VERAS; MATTOS, 2007) tendo sido observados no presente estudo achados semelhantes. Muito se discute sobre a importância da sequenciação temporal no sistema auditivo, sendo considerada uma das funções básicas para a discriminação e interpretação da fala. Os autores ainda salientaram o papel da integração hemisférica e da participação de outras áreas do Sistema Nervoso Central para a realização desta tarefa. É importante salientar que apesar dos achados do presente estudo terem revelado similaridade de resultados nos testes auditivos quando comparado ao gênero, presença ou não de depressão e cognição normal ou alterada, existe maior variabilidade dos resultados nos idosos, ou seja, a dificuldade não atinge igualmente a todos. Ainda, embora a escolaridade seja um dado importante para elencar medidas cognitivas, não foi observada relação estatística entre este dado e os testes dicóticos de dígitos e padrão de frequência. Dos 31 participantes da Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 145 amostra somente sete apresentaram alteração cognitiva (Tabela 2), sendo esta medida obtida através do escore total do ADAS-Cog. Em relação aos dados obtidos, foi verificado correlação entre a idade e o desempenho no teste de escuta dicótica (Tabelas 2 e 3), mostrando que as alterações encontradas podem estar relacionadas ao envelhecimento do sistema auditivo concordando com os achados de Rosa et al. (2009). Dentre os achados deste estudo (Tabela 4), na avaliação de indivíduos numa fase inicial da doença de Alzheimer, de Schultz (2001), também não foi encontrada diferença estatisticamente significante quanto à escolaridade, mas uma sensibilidade maior dos itens memória imediata de palavras, reconhecimento de palavras, recordação de instruções, habilidade em linguagem falada, dificuldade em achar palavras na fala espontânea e compreensão. Os achados mostraram também uma sensibilidade maior do TPF quando comparado aos subitens do ADAS-COG. Em relação à praxia construtiva (ADAS 4), prova que avalia habilidades perceptivas e visuoconstrutivas, no presente estudo, os dados obtidos (Tabela 4) se assemelham ao estudo de Ribeiro et al. (2010), no qual verificou que idosos com mais de oito anos de escolaridade obtiveram resultados melhores nos testes de praxia construtiva. Segundo os autores a relação entre escolaridade e desempenho cognitivo pode ser explicada pela hipótese de que a escolaridade é um fator protetor contra o envelhecimento cognitivo patológico. Nas provas envolvendo orientação (ADAS 6) e reconhecimento de palavras (ADAS 7) observou-se (Tabela 4) a relação direta com a memória e atenção, sendo estes processos interligados (MASSARO, 1972), uma vez que a memória é influenciada por fatores como a familiaridade com os estímulos, informações supra segmentares e a utilização de estratégias de atenção. A atenção permite que o indivíduo enfoque seletivamente uma quantidade de informação maximizando assim o processamento e o armazenamento (MASTERS et al., 1998). Nas provas envolvendo a habilidade em linguagem falada (ADAS 9), dificuldade em encontrar palavras na fala espontânea (ADAS 10) e compreensão (ADAS 11), as questões relacionadas ao envelhecimento, perda auditiva e cognição ficam mais evidentes. A perda auditiva, independentemente da idade, afeta as habilidades de ouvir, compreender e comunicar. O processamento auditivo e o processamento cognitivo são cruciais para a execução de tais tarefas. Aqueles com melhor capacidade de processamento cognitivo podem ser mais capazes de usar o contexto, e o uso de contexto pode ser um aspecto importante da compensação que facilita o remapeamento da conexão entre som e significado (PICHORA-FULLER, 2006). O déficit cognitivo pode manifestar-se durante o processo de envelhecimento com início e progressão variáveis e relaciona-se com as próprias perdas biológicas inerentes ao 146 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 tempo e à cultura do indivíduo. No entanto, os níveis social, econômico, instrucional e a idade interferem no desempenho do idoso (FERREIRA et al., 2011). Neste sentido, o teste TPF, medida neuroaudiológica, pode contribuir para estimar aspectos neuropsicológicos de um indivíduo. Outras pesquisas também se fazem necessárias, pois a diminuição da capacidade de processamento temporal decorrente do envelhecimento nem sempre é correlacionada a danos do aparelho auditivo periférico, podendo correlacionar-se a perdas neuronais centrais próprias da senescência conforme já mostraram Neves e Feitosa (2003). CONCLUSÕES Com base nos resultados deste estudo foi possível concluir que o desempenho em porcentagem média de acertos por orelha na escuta dicótica (teste TDD) nos idosos foi semelhante considerando gênero, orelhas direita e esquerda e presença ou não do aspecto cognitivo alterado. Ainda, quanto maior a faixa etária, pior a recordação das instruções e quanto maior a dificuldade de se orientar no tempo, pior o desempenho no reconhecimento de palavras em escuta dicótica. O desempenho em porcentagem média de acertos no julgamento da ordenação temporal (teste TPF) foi semelhante considerando as variáveis gênero e presença ou não aspecto cognitivo alterado, sendo o pior desempenho nesta tarefa auditiva correlacionado com uma maior dificuldade em copiar figuras geométricas e se orientar no tempo, com a pior qualidade de fala, com a dificuldade em achar palavras na fala espontânea, com a dificuldade em reconhecimento de palavras e com a dificuldade de compreensão de linguagem. Quanto pior o desempenho em compreensão, maior a ocorrência de erros do tipo alternado no julgamento da ordem de serie de sons (TPF). REFERÊNCIAS 1. 2. 3. ALMEIDA, Osvaldo P.; ALMEIDA, Shirley. Confiabilidade da versão brasileira da Escala de Depressão em Geriatria (GDS) versão reduzida. Arquivos de Neuropsiquiatria, São Paulo, v. 57, n. 2B, p. 421-426, jun. 1999. Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/anp/v57n2B/1446> Acesso em: 01 dez. 2020. AUDITEC. 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Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 151 13 “ Eventos adversos em idosos hospitalizados: contribuições da auditoria em saúde Cristiane Chagas Teixeira FEN/UFG Ana Lúcia Queiróz Bezerra FEN/UFG Gabriela Camargo Tobias IPTSP/UFG karynne Borges Cabral IESRV 10.37885/201001839 RESUMO Introdução: Os idosos em ambiente hospitalar constitui um grupo exposto à ocorrência de eventos adversos durante a prática assistencial. Esses eventos refletem diretamente na qualidade da assistência prestada, além disso, repercutem em prejuízos para o sistema de saúde, especificamente, por acarretar custos adicionais aos estabelecimentos de saúde, aos pacientes e sociedade, constituindo-se em importantes problemas de saúde pública. A promoção da qualidade em saúde e a auditoria exercem papel fundamental, por meio de avaliações e análises que possibilitem a identificação de falhas, seja no ambiente ou em relação ao quadro de profissionais, o que contribui para a melhoria dos processos de trabalho e segurança do paciente. Objetivo: Analisar por meio da produção científica, a ocorrência de eventos adversos em idosos hospitalizados e o papel da auditoria da qualidade em registros de enfermagem. Metodologia: Trata-se de uma pesquisa exploratória descritiva, de natureza bibliográfica. Resultados: Encontrados 58 estudos, os quais foram organizados em três categorias: segurança do paciente e os eventos adversos na hospitalização de idosos; contribuição da enfermagem na melhoria da qualidade da assistência nos registros de idosos hospitalizados e auditoria em enfermagem como ferramenta na qualidade dos serviços de saúde. Considerações finais: A análise dessas evidências subsidia a necessidade em elaborar e disseminar novos estudos que investiguem a explicitação e discussão de diferentes aspectos que envolvam a temática, a fim de oferecer evidências científicas suficientes para melhorar a qualidade da assistência e a segurança do paciente idoso. Descritores: Auditoria de Enfermagem; Idoso; Segurança do Paciente. INTRODUÇÃO No final da década de 90, após a publicação do relatório To Err is Human: building a safer health care system, pelo Institute of Medicine (IOM) americano, foi estimado que cerca de 98.000 pessoas morrem anualmente em virtude de erros decorrentes do cuidado à saúde. Esses eventos resultaram em uma taxa de mortalidade maior do que as decorrentes de acidentes automobilísticos, câncer de mama e AIDS (KOHN; CORRIGAN; DONALDSON, 2000). A cada ano, milhares de pessoas são vítimas de agravos advindos da assistência à saúde, aproximadamente, um em cada 10 pacientes sofre algum dano ou morre em decorrência do cuidado recebido (WHO, 2008a). A Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica essas ocorrências como eventos adversos, definidos como eventos ou circunstâncias, que poderiam ter resultado ou resultaram em danos desnecessários ao paciente, podendo ser provenientes de atos intencionais ou não intencionais decorrentes da assistência à saúde (WHO, 2009). No que concerne às pessoas idosas em ambiente hospitalar é importante ressaltar que se trata de um grupo exposto à ocorrência crescente de eventos adversos durante a prática assistencial (ACKROYD-STOLARZ; BOWLES; GIFFIN, 2014), uma vez que, essa população se encontra mais propensa às doenças crônicas e múltiplas, necessitando de cuidados permanentes, acompanhamento constante, além de uso contínuo de medicamentos e exames periódicos (VERAS, 2007, 2009). Consomem mais serviços de saúde, as internações se tornam frequentes, a recuperação mais lenta, além de deterem o maior tempo de permanência em instituições hospitalares (VERAS, 2008, 2009). Um elenco de fatores favorecem a ocorrência de eventos adversos, como a idade avançada, existência de comorbidades, gravidade do quadro clínico inicial e utilização frequente de medicamentos associados às alterações na farmacocinética e farmacodinâmica das drogas (CARVALHO-FILHO et al., 1996; GALLOTTI, 2004). Outros fatores podem estar relacionados às situações decorrentes do avanço tecnológico, associados à deficiência no aperfeiçoamento de recursos humanos, uso abusivo de métodos terapêuticos agressivos e sofisticados, distanciamento das ações próprias de cada profissional, fragmentação da atenção à saúde, inexperiência de jovens profissionais envolvidos no atendimento, falhas de comunicação, atendimento de urgência, excesso de carga horária e de trabalho, sobrecarga de trabalho, delegação de cuidados sem supervisão adequada, estresse profissional, desmotivação, falta de atenção, falta de conhecimento, negligência, imprudência e dificuldades para entender as prescrições (CARVALHO-FILHO et al., 1996; MADALOSSO, 2000; GALLOTTI, 2004; CRESSWELL et al., 2007). Para a prestação da assistência à saúde, presume-se que todos os recursos materiais, medicamentosos e tecnológicos, estejam nas mãos de profissionais competentes e 154 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 habilidosos, em condições de efetuar sua prática clínica em ambientes diversificados e eficientes, resultando em melhor atendimento às necessidades de tratamento da doença e de promoção da saúde (PADILHA, 1998). No entanto, nota-se uma carência de profissionais qualificados para atender às necessidades de saúde dos idosos, o que pode colocá-los em situações de riscos, danos e até a morte (PEDREIRA; BRANDÃO; REIS, 2013). A segurança do paciente consiste em reduzir o risco a um mínimo aceitável, de danos desnecessários associados ao cuidado à saúde. O “mínimo aceitável” é referente àquilo que é viável diante do conhecimento atual, dos recursos disponíveis e do contexto em que a assistência é realizada (WHO, 2009). Pode também ser definida como princípio fundamental para a qualidade da assistência, determinando que bens e serviços sejam fornecidos com o mínimo ou ausência total de riscos ou falhas, sem comprometer a continuidade do tratamento (SOUSA, 2006; PADILHA, 2006; CHARLES, 2010). No ambiente hospitalar, o cuidado prestado aos pacientes é complexo e requer que seja executado com qualidade e sem gerar danos desnecessários ao indivíduo (ROQUE; MELO, 2012). Tratando-se de eventos adversos com idosos em âmbito hospitalar, estudiosos (CARVALHO-FILHO et al., 1998; SANTOS; CEOLIM, 2009) apontam que a prevalência de eventos adversos é elevada, o que determina manifestações graves e até mesmo fatais. Silva (2010) considera que a falta de informações sobre os eventos adversos e seus fatores causais constituem os principais determinantes encontrados para novas ocorrências, pois impedem o conhecimento, avaliação e a discussão sobre as consequências desses eventos para profissionais, usuários e familiares, além de prejudicar a ação dos gestores para a qualidade da assistência com foco no cuidado seguro. A busca pela qualidade assistencial tem se tornado uma questão complexa, prioritária e presente no cotidiano de profissionais e de organizações hospitalares (CALDANA et al., 2013). O aprimoramento nos processos de trabalho, com vistas à garantia do cuidado com qualidade, faz parte da rotina diária dos profissionais de saúde, uma vez que, constitui-se uma obrigação legal em muitos países (VITURI; MATSUDA, 2009). A enfermagem tem papel significativo em todos os níveis de complexidade do cuidado e em todos os cenários, o que faz surgir o caráter urgente de aperfeiçoamento da atenção e cuidados integrais para pacientes hospitalizados. Além disso, a necessidade de planejamento estratégico de ações a nível gerencial ou cuidados indiretos, assistencial ou cuidados diretos, educacional e de pesquisa, com ações que melhorem a qualidade da assistência prestada, conforme preconizam os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) e os princípios da profissão (MOTTA; HANSEL; SILVA, 2010). A garantia de resultados positivos e satisfatórios para os clientes requer que as organizações aprendam a associar baixos custos com excelência de qualidade. Para tanto, é Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 155 de extrema importância que as grandes empresas se preocupem em utilizar a auditoria de forma contínua em suas organizações, visto que, os clientes estão cada vez mais convictos de seus direitos (CAMELO et al., 2009). Auditoria representa um exame sistemático e independente dos fatos pela observação, medição, ensaio ou outras técnicas apropriadas de uma atividade, elemento ou sistema. Além disso, verifica-se adequação aos requisitos preconizados pelas leis e normas vigentes, o que determina se as ações e seus resultados estão de acordo com as disposições planejadas (BRASIL, 2011). Trata-se de uma ferramenta de controle da qualidade do trabalho da equipe de enfermagem, sendo utilizada com o intuito de melhorar a qualidade do serviço prestado (SETZ; D’INNOCENZO, 2009). Cumpre salientar, que um dos instrumentos imprescindíveis à auditoria é o prontuário do paciente, sendo utilizado como dever diário entre todos os profissionais, para o acompanhamento das condições de saúde, avaliação do cuidado, bem como, dar apoio à pesquisa, ao ensino e aos serviços de saúde (POSSARI, 2005; FRANÇOLIN et al., 2012). O prontuário do paciente consiste em uma ferramenta para documentação da assistência, monitoramento, gerenciamento, informação clínica e de detecção de erros relacionados com a assistência à saúde entre os vários setores do hospital (MESQUITA; DESLANDES, 2010). Sendo assim, a auditoria em enfermagem pode ser considerada como um processo de avaliação sistemática da qualidade prestada ao cliente pela análise dos prontuários, acompanhamento do cliente in loco e verificação da compatibilidade entre o procedimento realizado e os itens cobrados na conta hospitalar, garantindo justa cobrança e pagamento adequado (MOTTA, 2003). Nos últimos anos, a auditoria em enfermagem é exercida e difundida nas instituições públicas e privadas, objetivando minimizar desperdício de materiais, medicamentos, equipamentos e recursos humanos. Contudo, apesar de ser utilizada, principalmente, para fins contábeis, traduz-se em benefício não só para as instituições de saúde, uma vez que, atinge pacientes e a própria equipe de enfermagem (SILVA et al., 2012). Para a realização da auditoria de enfermagem é necessário conhecer e dominar todos os processos que envolvem o atendimento ao paciente. Deve-se utilizar um método com objetivos claros, que identifiquem pontos inadequados do serviço, pois o sistema hospitalar tem responsabilidade na investigação e controle da qualidade da assistência oferecida por todos os profissionais de saúde e pelos serviços de apoio (SCARPARO et al., 2009). De tal modo, que possibilite por meio dos relatórios de avaliação, orientação para equipe e instituição, quanto ao registro apropriado das ações profissionais e o respaldo ético e legal, frente aos conselhos, às associações de classe e a justiça (SETZ; D’INNOCENZO, 2009). 156 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Em 2011, o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), através da resolução 266, regulamentou a atuação do enfermeiro habilitado profissionalmente, a realizar auditoria em serviços de enfermagem, sendo de competência no exercício de suas atividades, a organizar, dirigir, coordenar, avaliar, prestar consultoria, auditoria e emissão de parecer sobre os serviços de auditoria de enfermagem (COFEN, 2011). A auditoria de enfermagem está inserida na rotina das instituições de saúde possibilitando a análise dos aspectos qualitativos da assistência requerida pelo paciente, assim como, os processos internos e as contas hospitalares. Entretanto, carece de incluir o estabelecimento de padrões da assistência e a utilização de instrumentos para a sua realização (SCARPARO et al., 2009). O compromisso em auditar para fortalecer a gestão, se estabelece na orientação ao gestor quanto à aplicação eficiente do orçamento da saúde, o qual deve refletir na melhoria dos indicadores epidemiológicos e de bem-estar social, no acesso e na humanização dos serviços (BRASIL, 2011). Sabe-se que os registros da equipe de saúde que acompanha o tratamento de pacientes é considerado critério de avaliação da qualidade da prestação de serviços de saúde, isto é, a qualidade dos registros efetuados é o reflexo da qualidade da assistência prestada (SCHULZ; SILVA, 2011). A auditoria da qualidade dos registros de enfermagem surgiu ao se observar que os trabalhadores de enfermagem que prestam assistência em saúde, não se preocupam com a qualidade dos registros. Mediante esse contexto é oportuno enfatizar que a composição de um documento legal, corretamente elaborado é imprescindível para garantir segurança e proteção para o cliente, bem como, para a equipe multiprofissional envolvida no processo (FILHO; BENESSIUTI, 2013). Em decorrência das implicações que os eventos adversos acarretam para a população idosa hospitalizada, torna-se necessário estabelecer estratégias preventivas quanto à incidência e reincidência desses eventos (PADILHA, 2001). Acrescenta-se, ainda, a necessidade em adotar medidas educativas para notificação, com vista a minimizar ou eliminar falhas que possam interferir na qualidade da assistência e na segurança do paciente (BEZERRA et al., 2009; CARNEIRO et al., 2011). Mediante este contexto e considerando a relevância da temática, surgiu o interesse em desenvolver um estudo sobre a produção científica, acerca das estratégias preventivas de eventos adversos em idosos hospitalizados e as contribuições da auditoria da qualidade dos registros de enfermagem. O objetivo do estudo foi analisar por meio da produção científica, a ocorrência de eventos adversos em idosos hospitalizados e o papel da auditoria da qualidade em registros de enfermagem. Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 157 METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa exploratória descritiva com base em fontes bibliográficas nas quais se fez uma revisão da literatura, que consiste em uma pesquisa desenvolvida com base em material já elaborado, constituído, principalmente, de livros e artigos científicos, sendo que sua principal vantagem reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente (GIL, 2007). Para o mesmo autor, as fases identificadas para o delineamento de uma pesquisa bibliográfica foram: identificação das fontes de consulta, localização das mesmas e obtenção do material, leitura do material e apontamentos, fichamentos, organização lógica do assunto e redação do trabalho. A fonte de dados foram periódicos nacionais e internacionais, livros textos, leis, resoluções e portarias governamentais. A busca dos dados foi realizada de forma manual e virtual, em bancos de dados que garantem fidedignidade das informações. O período delimitado para a pesquisa foi 2000 a 2015. A coleta de dados foi realizada nos meses de novembro de 2015 a janeiro de 2016 e, em seguida, a literatura foi confrontada. Os dados foram compilados por meio dos tipos de leitura: exploratória, seletiva, analítica e interpretativa (GIL, 2007), e sua análise realizada de forma descritiva. Para Gil (2007), a exploratória e seletiva envolvem a determinação do material que de fato interessa à pesquisa. A leitura analítica ordena e sumaria as informações das fontes, permitindo responder aos problemas da pesquisa. Inicialmente é feita uma leitura integral da obra, com identificação, hierarquização e sintetização das ideias-chaves. Já a leitura interpretativa, “relaciona o que o autor afirma com o problema para o qual se propõe uma solução” (GIL, 2007). RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir da busca realizada nas bases de dados, foram localizados 58 estudos. Após leitura de títulos e resumos e confronto de dados entre os pesquisadores, foram descartados seis estudos que não atenderam aos critérios de inclusão estabelecidos. Os estudos encontrados compreendem os anos de publicação de 2001 a 2015. Os dados obtidos foram organizados em três categorias: segurança do paciente e os eventos adversos na hospitalização de idosos (36 estudos); contribuição da enfermagem na melhoria da qualidade da assistência nos registros de idosos hospitalizados (12 estudos) e auditoria em enfermagem como ferramenta na qualidade dos serviços de saúde (10 estudos). 158 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Segurança do paciente e os eventos adversos na hospitalização de idosos A prática de cuidado à pessoa idosa requer uma abordagem global, interdisciplinar e multidimensional, que considere a interação entre os fatores físicos, psicológicos e sociais que influenciam a saúde do idoso e a importância do ambiente no qual está inserido (BRASIL, 2006). A equipe de saúde deve prezar pela garantia de prioridades à pessoa idosa que busca por atendimento em uma instituição hospitalar (SOUZA et al., 2013). A questão relacionada à qualidade para o alcance da segurança no cuidado torna-se fundamental a uma análise da Estrutura, do Processo e do Resultado, como também do desempenho de uma instituição de saúde em relação à qualidade, eficiência e equidade (KURCGANT et al., 2009; CALDANA et al., 2011). A segurança do paciente hospitalizado é uma das preocupações prioritárias no sistema de controle de qualidade (ABREU et al., 2012). Em instituições de saúde, a prestação da assistência ao paciente tem, como princípio básico, o atendimento e fornecimento de bens e serviços com o mínimo ou ausência total de riscos e falhas que possam comprometer a qualidade do cuidado (PADILHA, 2001, 2006). Nesse contexto organizacional, quanto mais complexo for o sistema, ou mais complexa a ação, maior o risco de eventos adversos entre a população idosa hospitalizada (ACKROYD-STOLARZ; BOWLES; GIFFIN, 2014). A ocorrência de eventos adversos é considerada um sério problema relacionado à segurança do paciente. Esses eventos são atribuídos a deficiências na atenção à saúde, com impacto direto na saúde dos pacientes e pela repercussão econômica em gastos sociais e sanitários gerados. Tem reflexos na qualidade do cuidado e representa um instrumento de avaliação da qualidade da assistência (MOURA; MENDES, 2012). Os idosos são identificados como grupo de alto risco para a ocorrência de eventos adversos durante a hospitalização (ACKROYD-STOLARZ; BOWLES; GIFFIN, 2014). Ackroyd-Stolarz et al. (2009), em um estudo de coorte retrospectivo realizado com idosos em um hospital canadense, encontraram taxa referente a 14% de eventos adversos nas internações, sendo 42% relacionados a processos clínicos, seguidos de 28% por dispositivos tubulares, como a utilização de cateteres ou dispositivos para cirurgias de revascularização miocárdica e 19% decorrentes de medicamentos. Além disso, os autores evidenciaram que os idosos que sofrem eventos adversos, durante a internação, têm maior probabilidade de serem institucionalizados após a alta hospitalar. Estudo realizado com idosos internados em uma unidade de clínica cirúrgica de um hospital de ensino da região Centro-Oeste do Brasil identificou a ocorrência de 531 registros de eventos adversos, correspondendo à média de 2,04 eventos por internação. Os tipos de eventos adversos foram referentes à dor aguda em pré e pós-operatórios não resolvida, retirada não programada de dispositivos tubulares e obstrução de dispositivos tubulares, Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 159 suspensão de cirurgia, reação adversa a medicamentos, infecção do sítio cirúrgico, flebite, sepse, falhas durante procedimentos técnicos, deiscência cirúrgica, exame marcado e não realizado, processo alérgico não medicamentoso, falta de sangue, lesão por pressão e queda (TEIXEIRA, 2015). A queda é considerada um problema grave de saúde pública e um dos principais eventos a serem prevenidos nas instituições de saúde. São caracterizadas como um indicador de qualidade da assistência e um dos mais importantes indicadores de segurança do paciente (PRATES et al., 2014). Para o mesmo autor, o tipo de queda é uma questão complexa de ser analisada e comparada, visto que é dependente das características da instituição e da população pesquisada. Além disso, a segurança do ambiente, incluindo a presença de leitos com grades, barra de apoio no banheiro, supervisão periódica das condições da área física das unidades podem ser diferentes de acordo com o tipo de instituição, o que influenciará maior prevalência de um determinado tipo de queda. Por esse fato, a evolução do estado do paciente deve ser diária e a observação contínua, durante todo o período de internação, principalmente, para aqueles pacientes que apresentam fatores de risco de queda. Além disso, são fundamentais a informação e a orientação do paciente e dos acompanhantes para prevenção de queda (MENEGUIN; AYRES; BUENO, 2014). Considerando as sérias complicações que as quedas podem trazer aos idosos, os acompanhantes dos mesmos devem ser, frequentemente, orientados em relação ao risco, de tal forma que, falhas nessa comunicação poderão contribuir para a ocorrência de quedas. Evidenciam-se, também, a necessidade de medidas de segurança para o paciente idoso, com modificação dos comportamentos dos enfermeiros, a orientação dos cuidados, por meio da utilização de escalas de avaliação do risco e o desenho de guidelines contextualmente adequado (ABREU et al., 2012). As lesões por pressão constituem um problema comumente identificável em idosos hospitalizados, especialmente, quando os pacientes apresentam comprometimento de sua capacidade funcional, assumindo grande relevância para a prática clínica e para o cuidado de enfermagem. Sua manifestação relaciona-se com a condição clínica do idoso, como também reflete a qualidade da assistência prestada por parte dos profissionais de saúde, uma vez que sua prevenção é de fácil execução e de baixo custo (FERNANDES et al., 2012). Parte-se do pressuposto que a equipe de enfermagem presta cuidado ininterrupto ao paciente, o que remete à necessidade de maior atenção sobre os cuidados para a prevenção das lesões por pressão. Torna-se evidente, dispensar maior tempo para o acompanhamento e assistência a pacientes acamados e melhor dimensionamento de pessoal de enfermagem (BEZERRA et al., 2012). 160 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Szlejf (2010) sinaliza que pacientes idosos que sofrem eventos adversos durante o período de hospitalização, apresentam prolongamento no tempo de internação. Esses eventos ocorrem durante a permanência do paciente na instituição hospitalar e provocam incapacitações temporárias ou permanentes, prolongam o tempo de internação, aumentam os custos hospitalares e podem levá-lo a óbito (DUPOUY et al., 2013). A ocorrência de eventos adversos proporciona danos não só para os pacientes, mas também para as instituições hospitalares, resultando em aumento do tempo de internação, intervenções diagnósticas/terapêuticas, exames e procedimentos extras, comprometimento da qualidade do atendimento, da imagem institucional e elevação dos custos hospitalares (PADILHA et al., 2002). Além disso, afeta a credibilidade da instituição, podendo influenciar a confiança dos usuários do sistema de saúde. De modo geral, priorizam-se, durante o processo de hospitalização, as necessidades de segurança e conforto dos pacientes, assim como as que foram prejudicadas pela internação, além do empenho dos gestores das instituições de saúde para atender, satisfatoriamente, à demanda da clientela (MENEGUIN; AYRES; BUENO, 2014). Os resultados deste estudo corroboram a importância dos “Desafios Globais”, previsto na Aliança Mundial para a Segurança do Paciente da OMS, que recomenda a higienização das mãos como método efetivo para a prevenção das infecções e a implementação de listas de verificação de segurança cirúrgica, antes, durante e após o procedimento cirúrgico, a fim de reduzir a ocorrência de eventos adversos (WHO, 2005, 2007), em idosos hospitalizados. Em 2004, na perspectiva de uma assistência segura, a 57ª Assembleia Mundial da Saúde apoiou a criação da Aliança Mundial para a Segurança do Paciente, cujo objetivo fundamental era “coordenar, divulgar e acelerar as melhorias na segurança do paciente em todo o mundo”. Essa Aliança propôs importantes iniciativas para o estabelecimento de metas de prevenção de danos aos pacientes e, como elemento central, a ação denominada “Desafios Globais” (WHO, 2004). A Aliança Mundial para a Segurança do Paciente enfatiza a necessidade de desenvolver diferentes tipos de investigação para melhorar a segurança do paciente e prevenir os possíveis danos que compreendem: determinar a magnitude do dano, o número e tipos de eventos adversos que prejudicam os pacientes; entender as causas fundamentais dos danos ocasionados aos pacientes; identificar soluções para alcançar uma atenção à saúde mais segura e avaliar o impacto das soluções em situações da vida real (OMS, 2008). O primeiro Desafio Global focou-se nas infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS), com o tema “Cuidado Limpo é Cuidado Seguro”. A estratégia consistiu em promover a conscientização sobre a higienização das mãos na assistência à saúde para a prevenção das infecções (WHO, 2005). Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 161 O segundo Desafio Global intitulado “Cirurgias Seguras Salvam Vidas”, fundamentou-se na segurança do paciente cirúrgico, tendo como foco a diminuição da morbimortalidade causada pelas intervenções cirúrgicas. O propósito era voltado para prevenção de infecções do sítio cirúrgico, promoção de um ato anestésico seguro, equipes cirúrgicas que promovessem uma assistência segura e, por fim, a mensuração dos indicadores cirúrgicos (WHO, 2008b). O terceiro Desafio Global dirige a atenção para o “Combate da Resistência Antimicrobiana”, com ênfase no problema da resistência bacteriana (WHO, 2012). Em 2007, o World Health Organization’s Collaborating Centre for Patient Safety Solutions estabeleceu e recomendou a implementação de metas de segurança, através do redesenho e aperfeiçoamento do processo de cuidado, na tentativa de reduzir e prevenir erros humanos inevitáveis (WHO, 2007). O Centro Colaborador da OMS, em parceria com a Joint Commission International (JCI) incentivaram a adoção de Metas Internacionais de Segurança do Paciente (MISP), direcionadas como estratégia para orientar as boas práticas, a fim de reduzir riscos e taxas de eventos adversos em serviços de saúde. Essas Metas consistem em identificar o paciente corretamente, tornar a comunicação efetiva, melhorar a segurança de medicamentos de alta vigilância, assegurar cirurgias com local de intervenção e paciente corretos, reduzir as taxas de infecções e prevenir quedas (JCI, 2011). Haynes et al. (2009) instituíram, nos anos de 2007 e 2008, um checklist cirúrgico com 19 itens de controle na tentativa de mitigar erros em oito instituições participantes do Programa “Cirurgias Seguras Salvam Vidas”. O resultado apontou que o uso do checklist permitiu uma redução de 36% das complicações cirúrgicas, 47% da mortalidade, 50% da redução de infecção e 25% da redução da necessidade de nova intervenção cirúrgica. O Checklist para “Cirurgias Seguras Salvam Vidas”, desenvolvido pela OMS foi criado com o intuito de melhorar a segurança do paciente em ambiente cirúrgico, para a aplicação antes do procedimento cirúrgico, a fim de reduzir a mortalidade e as complicações pós-operatórias (SALLES; CARRARA, 2009; GRIGOLETO; GIMENES; AVELAR, 2011). Como iniciativa da enfermagem pela melhoria da qualidade e segurança do cuidado nos serviços de saúde foi criada em 2008, a Rede Brasileira de Enfermagem e Segurança do Paciente (REBRAENSP), por iniciativa da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), cujo papel fundamental consiste na articulação e cooperação entre as instituições de saúde e educação, na disseminação e sedimentação de estratégias para o cuidado seguro e com qualidade. O Ministério da Saúde do Brasil e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) formalizaram a Segurança do Paciente dentro da Portaria nº 529, de 1º de abril de 2013, que instituiu o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP), representando uma 162 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 importante iniciativa para a qualificação do cuidado em saúde em todos os estabelecimentos de saúde do território nacional (BRASIL, 2013). Para o fortalecimento do PNSP, foi criada a RDC Nº 36, de 25 de julho de 2013, que institui as ações para a segurança do paciente e a melhoria da qualidade nos serviços de saúde. Fundamenta-se como princípio e diretriz a serem seguidos pelos Núcleos de Segurança do Paciente (NSP), que estabelecem ações para a melhoria contínua dos processos de cuidado e do uso de tecnologias da saúde, disseminação sistemática da cultura de segurança, articulação e a integração dos processos de gestão de risco e a garantia das boas práticas de funcionamento do serviço de saúde (BRASIL, 2013). Um componente estrutural das organizações é a promoção da cultura de segurança em todos os âmbitos de serviços de saúde. Trata-se da consciência coletiva relacionada a valores, atitudes, competência e comportamentos que determina o comprometimento com a gestão da saúde e da segurança. Além disso, significa olhar os eventos adversos como um problema, mas evitando culpabilizar os profissionais que cometem erros não intencionais, e tratar o assunto como uma oportunidade de melhorar a assistência à saúde (THE NATIONAL QUALITY FORUM, 2010). A cultura de segurança impulsiona os profissionais a serem responsáveis pelos seus atos e tem associação direta com a diminuição dos eventos adversos, implicando em intervenções eficazes para a recuperação da saúde dos pacientes (SAMMER et al., 2010). Dentro desse contexto, a comunicação, o trabalho em equipe, a educação continuada e o aprimoramento profissional se tornam ferramentas importantes para estabelecer uma cultura eficaz (BEZERRA et al., 2009). O desenvolvimento de uma cultura de segurança, a prática dos registros, a discussão das circunstâncias em que os eventos adversos ocorreram, assim como as condutas profissionais e organizacionais frente aos danos causados são o caminho a ser seguido para a transformação da realidade nas instituições de saúde (PARANAGUÁ et al., 2013). Os eventos adversos devem ser monitorizados, permanentemente, o que exige avaliação sistemática dos efeitos e medidas adotadas. Um importante fator a ser destacado é a avaliação clínica do paciente no momento da sua admissão hospitalar, visando identificar, de forma precoce, a existência de fatores de risco predisponentes e propor protocolos para prevenção desses eventos (ABREU et al., 2012; LAUS et al., 2014). Além disso, há necessidade de que os gestores e todo o sistema organizacional encorajem suas equipes a uma atitude proativa para notificação dos eventos adversos, tendo como foco, a criação de um sistema livre de punição, com estímulo ao relato do erro e à cultura de segurança. Assim, torna-se de fundamental importância, que os profissionais de saúde inseridos nesse contexto, compreendam as questões do envelhecimento, facilitem o Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 163 acesso do idoso aos diversos níveis de atenção à saúde, estejam qualificados tecnicamente e estabeleçam o paciente idoso como núcleo desse processo (PROCHET et al., 2012). Contribuição da enfermagem na melhoria da qualidade da assistência nos registros de idosos hospitalizados O registro da assistência prestada ao paciente idoso hospitalizado é considerado critério de avaliação da qualidade da prestação de serviço de saúde. Cumpri o papel de respaldar, ética e legalmente, o profissional responsável pelo cuidado, assim como o paciente. Quando esse registro é escasso e inadequado compromete tanto a assistência como a instituição, leva a um comprometimento da segurança e da perspectiva de cuidado e dificulta a mensuração dos resultados assistenciais, o que reflete na qualidade da assistência prestada (SETZ; D’INNOENZO, 2009; SCHULZ; SILVA, 2011). Nessa perspectiva, os registros das atividades e informações sobre o estado clínico dos pacientes internados em um hospital ou unidade de saúde é tarefa e dever diário de todos os profissionais da área de saúde (FRANÇOLIN et al., 2012). Estudo realizado com objetivo de avaliar a qualidade das anotações de enfermagem de pacientes cirúrgicos de um hospital escola do Paraná identificou que os registros referentes às prescrições de enfermagem de pós-operatório, observação de sinais e sintomas e anotações de pós-operatório foram considerados completos. Os autores ainda encontraram que os registros referentes ao aspecto e evolução das lesões cutâneas e às anotações de alta estavam incompletos (VENTURINI; MARCON, 2008). Geremia e Costa (2012), em um estudo sobre a qualidade dos registros de enfermagem em uma unidade hospitalar de Santa Catarina, encontraram que os dados de identificação no prontuário estavam escritos de forma adequada, e as anotações de enfermagem foram preenchidas de forma adequada, porém insuficientes, como também as condições de alta hospitalar do cliente. No estudo de Guedes, Trevisan e Stancato (2013) foi encontrado que as prescrições de enfermagem não contemplavam as particularidades de cada paciente, ficando restritas aos cuidados básicos. Setz e Innocenzo (2009) em uma análise qualitativa de 424 prontuários de unidades clínicas e cirúrgicas de um hospital universitário apontaram que 26,7% registros de enfermagem foram considerados ruins, 64,6% foram considerados regulares e 8,7% bons. Além disso, observou-se que nenhum prontuário foi considerado como ótimo. Investigação realizada com 100 prontuários de pacientes idosos internados em duas enfermarias de um hospital de ensino de São Paulo observou que, na maioria dos prontuários, havia registros pouco detalhados, sem referência precisa aos horários da ocorrência 164 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 dos eventos adversos e quase sempre redigidos somente pelos técnicos de enfermagem (SANTOS; CEOLIM, 2009). A ausência de registros pode implicar na duplicação de procedimentos executados, dificuldade de acompanhamento dos cuidados prestados e na não execução de determinada atividade, o que pode colocar em risco a própria recuperação do usuário (FRANÇOLIN et al., 2012). A enfermagem tem papel significativo em todos os níveis de complexidade do cuidado e em todos os cenários. Está envolvida diretamente no cuidado com a pessoa idosa, de forma ininterrupta, desde o acolhimento, durante todo o processo de hospitalização, até a sua saída por alta, transferência ou óbito. Esses profissionais conhecem, por experiência, as diversas condições enfrentadas diariamente por essa população (SOUZA et al., 2013). O registro das intervenções de enfermagem é um dos campos mais deficientes do processo da assistência de enfermagem, e as causas subjacentes deste problema estão relacionadas com a deficiência dos prestadores de serviços em atender às necessidades dos pacientes, a falta de tempo para registrar de forma detalhada a assistência proporcionada e a carência de formas estruturadas de coleta de dados (LABBADIA; ADAMI, 2004). No processo de atenção à saúde, muitos são os fatores que dificultam um adequado registro de enfermagem como: sobrecarga de trabalho para a equipe, não valorização dos registros como parte do processo de trabalho da enfermagem e desconhecimento da importância devido à escassez de educação continuada, permanente ou até mesmo educação em serviço. Mesmo assim, o registro das atividades assistenciais constitui-se em uma das provas mais valiosas sobre a atuação e a qualidade dos cuidados prestados (MATSUDA; CARVALHO; ÉVORA, 2007). Os registros realizados pela enfermagem, quando são escassos e inadequados, comprometem a assistência prestada ao paciente, bem como à instituição e toda à equipe de enfermagem. Além disso, há um comprometimento da segurança e do cuidado ao paciente, dificultando a mensuração dos resultados assistenciais (SETZ; D’ INNOCENZO, 2009). Os registros de enfermagem são indispensáveis no prontuário do paciente, pois constituem parte da documentação do processo de saúde/doença. A equipe de enfermagem acompanha todo esse processo de forma integral, pela permanência na unidade hospitalar durante 24 horas, garantindo qualidade e fidedignidade em suas observações (FRANÇOLIN et al., 2012). Para os mesmos autores, devem servir como instrumento no processo de tomada de decisão, refletir com clareza e objetividade o estado clínico dos pacientes, bem como as ações e procedimentos realizados. O planejamento estratégico de ações em nível gerencial ou cuidados indiretos, assistencial ou cuidados diretos, educacional e de pesquisa deve contemplar ações a melhorar a Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 165 qualidade da assistência prestada ao idoso hospitalizado, conforme preconizam os princípios do SUS e os princípios da profissão enfermagem (MOTTA; HANSEL; SILVA, 2010). Além disso, é de fundamental importância o registro apropriado das ações profissionais. Teixeira (2015) aponta a necessidade de orientarem e despertarem os profissionais de saúde, em especial a equipe de enfermagem, para reflexões capazes de provocar mudança de atitude, para que haja o aperfeiçoamento e o registro adequado da ocorrência dos eventos adversos em idosos hospitalizados. Auditoria em enfermagem como ferramenta na qualidade dos serviços de saúde A auditoria é de fundamental importância para detectar problemas apresentados nos prontuários, pois possibilita por meio dos relatórios de avaliação, a orientação para equipe e instituição, quanto ao registro apropriado das ações profissionais e o respaldo ético e legal, frente aos conselhos, às associações de classe e a justiça (SETZ; D’INNOCENZO, 2009). Trata-se de um instrumento de controle da qualidade do trabalho da equipe de enfermagem, sendo utilizada com o objetivo de melhorar a qualidade do serviço prestado (SETZ; D’INNOCENZO, 2009; FRANÇOLIN et al., 2012). Uma das ferramentas de gestão para minimizar os problemas relacionados à prática profissional, especialmente, os registros é a auditoria que pode auxiliar na detecção de problemas apresentados nos prontuários e possibilitar a orientação para equipe de saúde e instituição (SETZ; D’INNOCENZO, 2009). Para Hanskamp-Sebregts et al. (2013) as auditorias de segurança do paciente têm por objetivo a detecção precoce dos riscos de eventos adversos, a fim de promover melhorias contínuas na segurança do paciente. Elas devem consistir em sistemas independentes e objetivos de controle e consulta. As auditorias ajudam as organizações a realizar seus objetivos por introduzirem uma abordagem sistemática e disciplinada para a avaliação e a melhoria da efetividade dos sistemas de gestão, controle e governança dos riscos. O enfermeiro auditor desenvolve as atividades de sua competência na auditoria de acordo com aspectos técnicos, atentando às legislações vigentes do Ministério da Saúde, Agência Nacional de Saúde Suplementar, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, às Normas de Auditoria de Enfermagem, ao Código de Ética de Enfermagem e Legislação do Conselho Federal de Enfermagem, Conselho Regional de Enfermagem, Lei 9.656/1998, Lei do Código de Defesa do Consumidor, Contratos e Coberturas Contratuais, Exclusões de Cobertura e Tabelas Contratuais, sempre mantendo os padrões de qualidade da instituição (MELO; VAITSMAN, 2008). A Resolução 266/2001 do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) estabelece as principais atividades privativas do enfermeiro auditor em exercício de sua função: 166 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Organizar, dirigir, planejar, coordenar e avaliar, prestar consultoria, auditoria e emissão de parecer sobre os serviços de auditoria de enfermagem. Atuar na elaboração de medidas de prevenção e controle sistemático de danos que possam ser causados aos pacientes durante a assistência de enfermagem. O enfermeiro auditor, segundo a autonomia legal conferida pela Lei e decretos que tratam do exercício profissional de Enfermagem, para exercer sua função não depende da presença de outro profissional. Tem o direito de visitar/entrevistar o paciente, com o objetivo de constatar sua satisfação com o serviço de enfermagem prestado, bem como a qualidade desse serviço. Se necessário, deve acompanhar os procedimentos prestados no sentido de dirimir quaisquer dúvidas que possam interferir no seu relatório. Tem o direito de acessar, in loco, toda a documentação necessária, sendo-lhe vedado retirar da instituição os prontuários ou suas cópias; pode, também, se necessário, examinar o paciente, desde que autorizado por ele ou por seu representante legal. Quando integrante de equipe multiprofissional, deve preservar sua autonomia, liberdade de trabalho, e sigilo profissional; bem como respeitar autonomia, liberdade de trabalho dos membros da equipe, respeitando a privacidade, e o sigilo profissional, salvo nos casos previstos em lei, que objetivem a garantia do bem estar do ser humano e a preservação da vida. Quando em sua função, deve sempre respeitar os princípios profissionais, legais e éticos no cumprimento do seu dever. A auditoria não tem finalidade punitiva, do ponto de vista da assistência á saúde, ela verifica o cuidado, detecta erros e os analisa quanto à natureza e significado, fornecendo indicadores de padrão ou tendência, assim como subsidio para modificação de procedimentos e técnicas, com o objetivo primordial de promover melhoria da assistência ao paciente (MANUAL DE CONSULTAS DAS NORMAS DE AUDITORIA MÉDICA, 2011). Para que o enfermeiro possa realizar a auditoria da qualidade é necessário que sejam levados em consideração indicadores como: as anotações de enfermagem, que devem ser claras, precisas, legíveis e descritas de forma a contar todos os procedimentos realizados ao paciente, intercorrências e queixas; O estado de saúde do paciente e o estado emocional de sua família; O processo de enfermagem, rotinas e descrição dos procedimentos e protocolos, como os de troca de sonda/cateteres, diluição de medicamentos, preparo para exames, entre outros (CHEBLI; MAIA; PAES, 2005). Dessa forma, os serviços de auditoria de enfermagem necessitam realizar um trabalho proativo visando à revisão das rotinas e implantação de programas de treinamento para conscientização da equipe de enfermagem quanto à importância dos recursos financeiros do hospital (GALVÃO, 2002). Pesquisadores (SEIGNEMARTIN et al., 2013; COSTA; BARROS; Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 167 SANTOS, 2013), destacam a necessidade de avaliação rigorosa dos registros de idosos hospitalizados e a sua consistência na prática de enfermagem. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo se propôs determinar, por meio de uma revisão da literatura, a uma análise por meio da produção científica, sobre a ocorrência de eventos adversos em idosos hospitalizados e o papel da auditoria da qualidade em registros de enfermagem. Verificou-se que os eventos adversos são mais comuns em idosos hospitalizados, devido à vulnerabilidade que apresenta esse grupo etário. Assim, torna-se necessário que a instituição adote medidas que orientem e despertem os profissionais para reflexões capazes de provocar mudança de atitude, para que haja o aperfeiçoamento e o registro adequado da ocorrência desses eventos, tendo como foco a cultura de segurança. O desafio em melhorar a qualidade no atendimento envolve a necessidade em priorizar a promoção da qualidade em saúde, a auditoria e a educação continuada do profissional, com foco nas Políticas Nacionais de Assistência ao Idoso, assim como na Segurança do Paciente, visando capacitar e sensibilizar a equipe multiprofissional no desenvolvimento de competências fundamentais para prestar uma assistência livre de danos a esse segmento populacional. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 168 ABREU, C. et al. Quedas em meio hospitalar: um estudo longitudinal. Revista Latino-americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v.20, n.3, p.597-603, maio-junho, 2012. ACKROYD-STOLARZ, S.; BOWLES, S.K.; GIFFIN, L. 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Jorge Luis López-Jiménez INPRFM Guadalupe Barrios-Salinas Blanca Estela López-Salgado UIC María Patricia Martínez-Medina SSMICH Laura Angélica Bazaldúa-Merino DIF Tomás Cortés-Solís UAMXOCH 10.37885/201202376 RESUMEN Antecedentes: La Organización Mundial de la Salud ha informado que en los adultos mayores se incrementará y agravará la magnitud de los problemas de salud mental, lo que estará relacionado al incremento de su expectativa de vida y al aumento de las personas que alcanzarán edades avanzadas. Objetivos: Identificar y estimar la frecuencia de desórdenes mentales en adultos mayores. Material y Método: Estudio observacional, descriptivo y transversal. Se aplicó un cuestionario que incluía variables sociodemográficas y la Mini Entrevista Neuropsiquiátrica Internacional (M.I.N.I.). Población de estudio de 60 años y más, residentes en una Institución de Asistencia Social de la Ciudad de México. La muestra se seleccionó aleatoria y sistemáticamente, eligiendo una de cada cuatro. Participó personal previamente capacitado tanto en la metodología como en los procedimientos y aplicación del instrumento. Resultados: De la población de estudio, se obtuvo una muestra ponderada de 80 entrevistas completas (67%). En su mayoría fueron femeninos y viudas, con una media de edad de 80 años y 5 de escolaridad. Encontramos ausencia en el 30%; en un 40% sólo se reportó sintomatología y en el 30% restante se cubrieron diagnósticos psiquiátricos. Conclusiones: La salud mental y los desórdenes psiquiátricos han sido escasamente conocidos y estudiados en esta población. La entrevista MINI permitió identificar y estimar la frecuencia de síntomas y diagnósticos de desórdenes mentales. Nuestra estimación (30%) fue similar a la reportada en otro estudio (29.7%). La prevención, identificación, detección e intervención oportuna a los problemas de salud mental adquieren gran importancia en este contexto. Palabras Clave: Adultos Mayores, Envejecimiento, Vejez, Desórdenes Mentales, Mini Entrevista Neuropsiquiátrica Internacional (MINI). INTRODUCCIÓN El envejecimiento y la vejez plantean una compleja condición humana y social que conlleva importantes necesidades de investigación, atención a la salud, cuidados y de asistencia social, entre otras. En México, como consecuencia de la transición demográfica y epidemiológica, los adultos mayores conforman un grupo que se incrementa en números absolutos y relativos con mucha rapidez (CONSEJO NACIONAL DE POBLACIÓN, 2001; HAM CHANDE, 2003). Al respecto, la Organización Mundial de la Salud (OMS) (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1996b) ha indicado que México ocupará el séptimo lugar entre las poblaciones envejecidas más elevadas del mundo en el año 2020. Diversos informes (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1996a, 1996b, 2001) señalan que en la población de adultos mayores se incrementarán y agravarán la magnitud de los problemas de salud mental, lo cual estará relacionado con el incremento de la expectativa de vida de las personas con trastornos mentales y con el aumento de los individuos que alcanzarán edades avanzadas, donde el riesgo de presentar desórdenes mentales es elevado. Con el aumento de la esperanza de vida, se han observado mayores tasas de enfermedades mentales; sin embargo, aún cuando la carga asociada a la salud y debida a los trastornos mentales y del comportamiento se incrementan, las estadísticas generadas tienen limitaciones importantes, al no considerar la morbilidad y la discapacidad relacionada (GEZAIRY HUSSEIN, 2001). En un reporte reciente, se destaca que en el mundo las personas mayores encabezan las listas de la OMS (WORLD FEDERATION FOR MENTAL HEALTH, 2007) de nuevos casos de enfermedad mental, 236 por cada 100.000 presentan algún desorden mental. Hoy día la noción de salud mental no se restringe a la ausencia de desórdenes mentales, ya que también hay aspectos conductuales y emocionales que pueden afectar positiva o negativamente la calidad de vida de los individuos (GEZAIRY HUSSEIN, 2001). El envejecimiento es un proceso en el cual se observa una disminución gradual de la salud física y mental; en el anciano es posible notar diferencias individuales en torno a su salud y enfermedad mental (CRAIG GRACE, 1988). Los adultos mayores tienden a presentar por lo común patologías múltiples, por lo que existe la posibilidad de aquellos que sufren trastornos mentales estén afectados también por otra condición médica crónica. Los ancianos frente a esta situación, tienden a buscar tratamiento por sus problemas físicos más que por los mentales, de tal manera se señala que el tratamiento de las alteraciones mentales será más efectivo si está incorporado al sistema de salud general (DESJARLAIS et al., 1997). Si bien, no existe una enfermedad mental única en los adultos mayores, sí se ha mencionado una amplia gama de ellas, cuya prevalencia tiende a incrementarse con la edad (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1996a, 2001), destacando en este sentido la 176 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 esquizofrenia, depresión, demencia, trastornos afectivos y de ansiedad; así como otras formas de enfermedades psiquiátricas crónicas, cada una con signos y síntomas característicos. Otros reportes también indican un incremento en la población de adultos mayores y una mayor frecuencia y gravedad de alteraciones en su salud mental (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2001; GEZAIRY HUSSEIN, 2001). Para los trastornos de tipo depresivo (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2001), se ha estimado que entre un 8% y 20% de personas mayores en ámbitos comunitarios lo presentan y que en el primer nivel de atención alcanza el 37%. Es de notar que los desórdenes depresivos entre los adultos mayores por lo común no sean detectados, ya que en muchas ocasiones son considerados como parte normal del proceso de envejecimiento. Aún cuando el Alzheimer es el padecimiento más frecuentemente observado en esta población, los adultos mayores son susceptibles de presentar otras alteraciones mentales y del comportamiento. El trastorno es diagnosticado cuando la declinación es suficientemente evidente y afecta las actividades de la vida diaria. El deterioro cognoscitivo se ha relacionado a cambios de la personalidad (suspicacia patológica), humor (depresión o irritabilidad), conducta (descuido de la higiene personal), y orientación espacial (vagar sin rumbo y perderse). En un reporte (DESJARLAIS et al., 1997), se informó de una prevalencia de trastornos psiquiátricos del 29.7%; de los cuales el 5.5% correspondieron a demencias, 14.3% a depresión, 7.7% a neurosis, 15.3% a trastornos de personalidad, 3.3% por trastornos relacionados con el abuso de sustancias y 6.6% a reacciones de adaptación. En este mismo trabajo, donde se aborda la salud mental en el mundo, se identifican cinco síntomas indicadores de trastorno psiquiátrico: dificultades en el sueño, preocupaciones y ansiedad, pérdida de interés, cansancio y mala memoria. La enfermedad mental tanto en los países desarrollados como en aquellos en vías de desarrollo constituye causa de sufrimientos, misma que se manifiesta en la desesperanza y aflicción de los individuos, angustia en las familias y pérdidas económicas y sociales, consecuencia de la disminución de la productividad y el aumento en la utilización de los servicios de salud y de asistencia social. Por lo que es necesario reconocer y tratar oportunamente a los adultos mayores que puedan estar presentando alteraciones mentales (DESJARLAIS et al., 1997). Por lo anteriormente descrito, el interés y propósito del presente trabajo fue el de identificar y estimar la frecuencia de desórdenes mentales en personas de 60 años y más, residentes en una Institución de Asistencia Social (IAP-JAP1) de la Ciudad de México. La información que se presenta forma parte de una línea de investigación (LÓPEZ JIMÉNEZ, 2004; LÓPEZ JIMÉNEZ et al., 2002, 2003, 2005), sobre “Condiciones de vida y salud mental en adultos 1 Institución de Asistencia Privada (IAP), perteneciente a la Junta de Asistencia Privada (JAP). Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 177 mayores, Fase 1”, que se está llevando a cabo en el Instituto Nacional de Psiquiatría, Ramón de la Fuente (INP-RF). METODOLOGÍA La investigación llevada a cabo fue de tipo observacional, transversal y descriptiva, con información obtenida mediante la aplicación por entrevista directa de un instrumento en formato de cuestionario, que consta de ocho secciones integradas por el investigador responsable. Para este trabajo se utilizó la información derivada de la sección demográfica y de la Mini Entrevista Neuropsiquiátrica Internacional (M.I.N.I.). Este instrumento es una breve entrevista diagnóstica estructurada desarrollada en Francia y Estados Unidos, la cual explora en los adultos sus principales trastornos psiquiátricos y puede ser aplicada por entrevistadores no especializados. Incluye todos los síntomas del Manual Diagnóstico y Estadístico de los Trastornos Mentales (DSM-IV) y la Clasificación Internacional de Enfermedades (ICD-10), los diagnósticos son establecidos durante la entrevista, las respuestas son dicotómicas y evalúa la presencia de los desórdenes más comunes; así mismo, confirma la severidad de los síntomas (SHEEHAN et al., 1998; FERRANDO et al., 2000; HEINZE MARTÍN et al., 2000). Se tomó como población de estudio a los adultos mayores que se encontraban residiendo en la Fundación de Socorros “Agustín González de Cosío”, ubicada al Norte de la Ciudad de México. De esta población se seleccionó una muestra aleatoria sistemática, con base al listado proporcionado por la institución. La fracción de muestreo fue incluyendo a una de cada cuatro personas, también se eligió al azar el número de inicio de la selección. La aplicación del instrumento se llevó a cabo de acuerdo a la hoja de control elaborada ex profeso, donde se anotaban los datos básicos de la persona elegida. Mismos datos se anotaron en la carátula del cuestionario, a fin de localizar al adulto mayor dentro de la casa hogar, presentarse, aclararle los propósitos del estudio, solicitar su participación, obtener su consentimiento firmado e iniciar la entrevista. La investigación en su contexto general cubrió las normas éticas, pues no representó riesgo alguno para los entrevistados; además de que no se realizó ninguna estrategia de intervención ni de modificación de variables fisiológicas, psicológicas o sociales. Asimismo, se respetó toda tentativa de rechazo y los datos obtenidos fueron manejados con absoluta confidencialidad y anonimato. Se obtuvo su consentimiento por escrito, aclarando que la información proporcionada sería utilizada únicamente con fines de investigación. En el desarrollo del trabajo de campo se trató de interferir lo menos posible con las actividades que se desempeñan en la institución. Es de notar que el personal de la casa hogar nos apoyo y brindó las facilidades necesarias en la realización de la fase empírica. Para la aplicación de las entrevistas se integró un equipo de investigación en el cual participó 178 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 personal de enfermería, psicología, psiquiatría y medicina, con amplia experiencia en el campo de la investigación y aplicación de entrevistas. Previo al trabajo de campo, se brindó capacitación en el manejo de la metodología, procedimientos y en la aplicación del cuestionario por entrevista directa. Para el adiestramiento en la entrevista M.I.N.I., se contó con participación de un médico residente de psiquiatría del INP-RF. La fase empírica del estudio se desarrolló en el mes de diciembre del 2001. RESULTADOS De una población de 117 adultos mayores que se encontraban residiendo en la Casa Hogar al momento de llevar a cabo el trabajo de campo, se seleccionó una muestra aleatoria sistemática de 30 adultos. En la parte inicial de los análisis procedimos a asignar a cada miembro de la muestra su peso correspondiente, ya que habíamos entrevistado a uno de cada cuatro (4 * 30 = 120). El proceso de ponderación consistió en multiplicar a la muestra captada por la fracción de muestreo. De esta forma, de la muestra ponderada se logró completar el 66.6% (n = 80) de las entrevistas, en el 33.3% (n = 40) restante no se pudieron concluir por problemas de comprensión o no estar disponibles (Figura 1). La información que se presenta corresponde a las entrevistas realizadas. El 65% de éstas tuvo una duración de entre una y dos horas; el tiempo promedio de aplicación fue de una hora con 54 minutos. Figura 1. Distribución de la población de estudio, muestra captada y muestra ponderada. Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 179 Con relación a las características demográficas (Tabla 1), sobresale que los mayores porcentajes correspondieran al sexo femenino (65%), que un 45% se ubicara entre los 75 y 84 años (media de edad de 80.3, desviación estándar de 7.7 y un rango de 64 a 94 años), ser viudo (45%) y que el 80% reportara saber leer y escribir (educación no formal); de estos, el 68.7% obtuvo el nivel primaria de escolaridad (media de 5 años, desviación estándar de 2). Dentro de los principales motivos de estancia a la Casa Hogar encontramos el “No tener quién lo cuidara” (45%) y los “Problemas de Salud” (30%), con un tiempo promedio de residencia en la institución de 4.3 años. Tabla 1. Características sociodemográficas, por sexo, edad, estado civil, saber leer y escribir y escolaridad (N = 80). Ciudad de México, Diciembre 2001. n % Sexo Femenino 52 65.0 Masculino 28 35.0 65 a 74 20 25.0 75 a 84 36 45.0 85 a 98 24 30.0 Viudo 20 45.0 Soltero / Separado 24 30.0 Casado / Unión libre 20 25.0 Si 64 80.0 No 16 20.0 Educación no formal 16 25.0 Primaria 44 68.7 Secundaria 4 6.2 Edad Estado Civil Saber leer y escribir Escolaridad* * Sólo se incluyen a los que informaron saber leer y escribir. De acuerdo a los resultados obtenidos en la aplicación de la Entrevista Diagnóstica de Trastornos Mentales MINI y al ajustar la información a la ausencia/presencia de síntomas y/o diagnósticos de trastornos, encontramos ausencia de estos en el 30% de las entrevistas; no obstante, en un 40% se encontró presencia de sintomatología y en el otro 30% restante, se cubrieron los criterios diagnósticos. Destaca en este sentido, el reporte de presencia de trastornos psiquiátricos en el 70% de la muestra (Tabla 2). Los principales síntomas encontrados fueron los trastornos de angustia, de ansiedad y el antisocial de la personalidad, con porcentajes del 28.5% en cada uno. En cuanto a los desórdenes psiquiátricos identificados por orden de importancia, corresponden al diagnóstico de Riesgo Suicida (42.8%) y dentro de estos, el 83.3% obtuvo el nivel leve y el 16.6% el alto; seguido del Episodio Depresivo Mayor (14.2%) y el Trastorno Distímico (7.1%). Cabe aclarar que, en algunos casos se obtuvieron tres (16.6%), dos (16.6%) 180 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 o sólo un diagnóstico (66.6%). En cuanto a los que sólo reportaron sintomatología y no alcanzaron a cubrir el criterio diagnóstico; reportaron cuatro (25.0%), tres (12.5%), dos (12.5%) y un síntoma (50.0%). Tabla 2. Resultados Entrevista Psiquiátrica Mini Presencia de Desórdenes Mentales por Síntomas y Diagnósticos (N = 56 – 70%). Ciudad de México, Diciembre 2001. n % SÍNTOMAS 32 40.0 DIAGNÓSTICOS Trastorno de Angustia 16 28.5 Episodio Depresivo Mayor Estado por Estrés 4 7.1 n % 24 30.0 Síntomas 20 35.7 Diagnóstico 8 14.2 Síntomas 32 57.1 Diagnóstico 4 7.1 Diagnóstico 24 42.8 Leve 20 83.3 Alto 4 16.6 Postraumático Trastorno Distímico Trastornos Psicóticos Trastorno de Ansiedad 4 16 7.1 28.5 Generalizada Riesgo Suicida Trastorno Antisocial de la Personalidad 16 28.5 Finalmente como se muestra en el Tabla 3, de acuerdo a sus características demográficas y su distribución por reporte de sintomatología, obtención de un diagnóstico y/o ambos en la muestra ponderada estudiada, observamos que, con relación al género, en las tres situaciones predominó el sexo femenino, por edad en el rango de 85 a 96 años se ubicó el mayor porcentaje para síntomas, en cambio en los 75 a 84 años el 66.6% cubrió el criterio diagnóstico, para el total estos dos rangos de edad se obtuvo el mismo porcentaje (35.7%). Por estado civil, el mayor porcentaje de reporte de síntomas fue para soltero/viudo, en el caso de los que obtuvieron diagnóstico y el total de la muestra, los mayores porcentajes fueron para ser viudo (66.6% y 42.8% en cada caso). En las tres situaciones el nivel de escolaridad primaria obtiene los mayores porcentajes 60.0%, 66.6% y 50.0% respectivamente. Con relación al motivo de estancia, destaca que en el grupo de las personas mayores que sólo reportaron síntomas el “no tener quién lo cuide” y los “problemas de salud” alcanzaran los mayores porcentajes (35.7% en ambos casos); tanto en el grupo de los que obtuvieron diagnóstico (66.6%) como en el total de la muestra (50.0%) el “no tener quién lo cuidara” se encontró el mayor porcentaje. Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 181 Tabla 3. Características demográficas: sexo, edad, estado civil, escolaridad y motivo de estancia por Síntomas y Diagnósticos. Entrevista Psiquiátrica Mini (N = 56 – 70%). Ciudad de México, Diciembre 2001. Diagnósticos Síntomas (n= 32) Total (n= 24) (N= 56) n % n % N % Masculino 12 37.5 4 16.6 16 28.5 Femenino 20 62.5 20 83.3 40 71.4 Sexo Edad 64 a 74 12 37.5 4 16.6 16 28.5 75 a 84 4 12.5 16 66.6 20 35.7 85 a 96 16 50.0 4 16.6 20 35.7 Estado Civil Viudo 8 25.0 16 66.6 24 42.8 Soltero / Separado 20 62.5 - - 20 35.7 Casado / Unión Libre 4 12.5 8 33.3 12 21.4 Primaria 12 60.0 20 83.3 32 72.7 Secundaria y Profesional 4 20.0 - - 4 9.0 Leer y Escribir 4 20.0 4 16.6 8 18.1 No tener quien lo cuide 12 37.5 16 66.6 28 50.0 Problemas de Salud 12 37.5 8 33.3 20 35.7 Sin Recursos Económicos 8 25.0 - - 8 14.2 Escolaridad* Motivo de Estancia * Sólo se incluyen a los que informaron saber leer y escribir. DISCUSIÓN Los adultos mayores constituyen un grupo vulnerable dentro de la sociedad. El estado de salud mental y los desórdenes psiquiátricos han sido los menos conocidos y estudiados en este grupo hasta el momento. Con respecto a la Mini Internactional Neuropsychiatric Interview (M.I.N.I.), probó ser útil para detectar tanto sintomatología, como en el establecimiento de los criterios diagnósticos de los módulos investigados en el instrumento. En la literatura se han reportado algunas alteraciones mentales prevalentes, como el caso de las demencias, la depresión y el deterioro cognoscitivo; no obstante, existe una amplia gama de padecimientos mentales que es necesario detectar, identificar y diagnosticar, para poder brindar la atención requerida de manera oportuna. La prevalencia diagnóstica de desordenes psiquiátricos reportados en nuestra investigación (30%) fue similar a la descrita por la Organización Panamericana de la Salud – OPS(DESJARLAIS et al., 1997) en un informe (29.7%). Sin embargo, en nuestro estudio se logró establecer que un 40% de la muestra cursaba con sintomatología de naturaleza psiquiátrica, sobresaliendo los trastornos de angustia, de ansiedad y el antisocial de la personalidad. Los 182 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 criterios diagnósticos encontrados son consistentes a lo informado en la literatura: riesgo suicida, episodios depresivos mayores y trastorno distímico. Es importante aclarar que, en el caso del riesgo suicida (leve), el reactivo por el cual cubrieron el diagnóstico fue por: ¿Haber pensado que estaría mejor muerto o ha deseado estar muerto?, mismo que investiga “ideación de muerte” mas que “ideación suicida”. Con relación a los 16 módulos que explora el M.I.N.I., sólo se encontró sintomatología en siete de ellos y únicamente en tres se cubrieron los criterios diagnósticos. También es de notar haber observado diferencias en la distribución por edad, estado civil y en una categoría del motivo de estancia de acuerdo al reporte de síntomas, los criterios diagnósticos y en ambas situaciones. Para futuras investigaciones se plantea la necesidad de aumentar los tamaños de muestra y la aplicación en otros ámbitos al realizado en el presente estudio, esto con la finalidad de estimar la confiabilidad y validez de la entrevista M.I.N.I.; así como su funcionamiento y adaptación a otros contextos. Finalmente, es necesario destacar la importancia de la detección y diagnóstico oportunos de los problemas de salud mental en los adultos mayores, con el propósito de poder brindar la atención requerida especializada a este grupo de nuestra población. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. CONSEJO NACIONAL DE POBLACIÓN. La Población de México en el Nuevo Siglo. 2. ed. México, D.F., 2001. CRAIG GRACE, J et al. Desarrollo Psicológico. México, D.F.: Prentice-Hall, 1988. DESJARLAIS, Robert et al. Salud Mental en el Mundo: problemas y prioridades en las poblaciones de bajos ingresos. Washington, D.C.: Organización Panamericana de la Salud, 1997. 4. FERRANDO, Laura et al. Mini International Neuropsychiatric Interview (M.I.N.I.): versión en español 5.0.0 DSM-IV. Madrid: Instituto IAP; Tampa: University of South Florida, 2000. 5. GEZAIRY HUSSEIN, A. World Health Day 2001 Documents: foreword. Cairo: Eastern Mediterranean Region Office, World Health Organization, 2001. Disponible en: <http://www.emro. who.int/mnh/whd/WHD2001Documents-Foreword.htm>. Acceso en: 27 nov. 2007. 6. HAM CHANDE, Roberto. El Envejecimiento en México: el siguiente reto de la transición demográfica. Baja California: El Colegio de la Frontera Norte, 2003. 7. HEINZE MARTÍN, Gerhard et al. Mini International Neuropsychiatric Interview (M.I.N.I.): Spanish version (South and Central America) 5.0.0 DSM-IV. México, D.F.: Instituto Nacional de Psiquiatría, 2000. Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 183 8. 9. 10. 11. 12. 13. LÓPEZ JIMÉNEZ, Jorge Luis et al. Condiciones de Salud en Adultos Mayores Institucionalizados: su impacto en el bienestar social. In: CONGRESO AL ENCUENTRO DE LA PSICOLOGÍA MEXICANA, 6., CONGRESO LATINOAMERICANO DE ALTERNATIVAS EN PSICOLOGÍA, 2002, Puebla. México D.F.: Sociedad Mexicana de Psicología Social, 2002. p. 1-17. LÓPEZ JIMÉNEZ, Jorge Luis et al. Psychiatric Disorders in Elderly Living in a Social Assistance in Mexico City. In: ABSTRACTS 18TH WORLD CONGRESS OF THE ASSOCIATION OF GERONTOLOGY. Rio de Janeiro, Brazil, June 26-30, 2005. p. 614. LÓPEZ JIMÉNEZ, Jorge Luis et al. Reflexiones Metodológicas de Investigación Psicosocial en Viejos: resultados de un estudio. Archivo Geriátrico, México, D.F., v. 6, n. 3, p. 74-77, 2003. SHEEHAN, David et al. 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The World Health Report 2001: mental health: new understanding, new hope. Geneva, 2001. Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 15 “ Impacto da pandemia de Covid19 na saúde de idosos: uma revisão narrativa Genilson Bento dos Santos UEPB Camila Victória Pereira da Silva UEPB Clésia Oliveira Pachú UEPB 10.37885/201202434 RESUMO Em 11 de março de 2020 foi declarada a Pandemia COVID-19. Altas taxas de mortalidade por Coronavírus têm sido, em sua maior parte, associadas a pacientes idosos ou a presença de comorbidades mais comuns em pacientes idosos. O estudo analisou o impacto da pandemia de COVID-19 na saúde de idosos, envolvendo aspectos biopsicossociais, por meio de revisão narrativa. A presente pesquisa de natureza qualitativa, foi realizada por meio de revisão narrativa, em novembro de 2020. Optou-se pela revisão narrativa em bases de dados: Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos (PubMED) e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Foram encontrados 680 artigos nas buscas às bases de dados, após leitura e análise, com base nos critérios de elegibilidade, um total de vinte e oito estudos foram incluídos e selecionados para dar continuidade na pesquisa. Indivíduos com mais de 65 anos foram comumente descritos como grupo de risco, mais vulneráveis às complicações da doença COVID-19. O perigo que cerceia este público desemboca em questões como o aumento da incidência de medo e ansiedade, além disso, o distanciamento social sem o uso de tecnologias digitais, como as redes sociais, acentua as implicações frente à saúde de idosos. Torna-se importante enfatizar a relação da COVID-19 e distanciamento social, bem como incidência de preconceito etário disseminado, estigmatização senil, nexo causal entre isolamento e solidão e implicações para o comportamento suicida. O impacto da COVID-19 em idosos que passaram por experiências traumáticas anteriormente, parece ter sido relativizado na crise atual. Palavras-chave: COVID-19, Idosos, Envelhecimento Humano. INTRODUÇÃO O primeiro caso do novo coronavírus foi notificado em Wuhan, na China, em 31 de dezembro de 2019 e foi declarada a Pandemia Mundial no dia 11 de março de 2020 (WHO, 2019). No Brasil, o primeiro caso positivo foi anunciado em 26 de fevereiro de 2020, sendo um homem morador de São Paulo, de 61 anos, que esteve na Itália (BRASIL, 2020). A população idosa em base territorial brasileira tem suporte estabelecido por lei, como disposto no Capítulo IV, art. 15, do estatuto do idoso: é assegurada atenção integral à saúde do idoso, por intermédio do Sistema Único de Saúde, garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, em conjunto articulado e contínuo das ações e serviços, para prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde, incluindo atenção especial às doenças que afetam preferencialmente os idosos (BRASIL, 2003). Em 2006, foi aprovada a Portaria n° 2528/GM, a qual estabelece a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, tem como finalidade primordial, recuperar, manter e promover a autonomia e a independência dos indivíduos idosos, direcionando medidas coletivas e individuais de saúde para esse fim, em consonância com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2006). Vale ressaltar que, nos países em desenvolvimento, o enfrentamento à pandemia de COVID-19 torna-se ainda mais desafiador devido à alta taxa de pobreza, conflitos e instabilidade política, violência, analfabetismo, laboratórios de diagnóstico deficientes e outras doenças infecciosas que competem pela escassez de recursos de saúde. O Brasil exemplifica tal situação, assim como outros países, o impacto causado pela pandemia se refletiu em diversos contextos da sociedade, como na educação, saúde e desenvolvimento econômico (ANSER et al., 2020). Altas taxas de mortalidade por Coronavírus e a presença de comorbidades mais comuns, têm sido, em sua maior parte, associadas a pacientes idosos, ultrapassa um quinto dos acometidos com mais de 80 anos, tanto na China (21,9%) como na Itália (20,2%). A pandemia de COVID-19 constitui um desafio para proteção da saúde de idosos, considerando a susceptibilidade desse grupo populacional a complicações mais graves, cujos desfechos podem resultar em óbito (BARRA et al., 2020; SHERLOCK et al., 2020; D’ADAMO; YOSHIKAWA e OUSLANDER, 2020). Sabe-se que, à medida que a pessoa envelhece, a perda de capacidades físicas e mentais é evidente para todos, embora esse processo natural do desenvolvimento humano ocorre de maneira diferente entre os indivíduos. Diante disso, as manifestações fisiológicas são particulares de cada pessoa, visto que reflete fatores intrínsecos, como características genéticas, e extrínsecos, por meio dos hábitos de vida e contexto ambiental no qual o idoso está exposto, passa a contabilizar fatores como uma boa alimentação, higiene, exercício Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 187 físico, para além de aspectos sociais, políticos e psicológicos, que concorrem para possibilitar longevidade e envelhecimento saudável (NOGUEIRA; MENEZES, 2020). Dessa forma, o conhecimento acerca de aspectos inerentes à saúde do idoso associados à pandemia de COVID-19, desempenha um diferencial para tomada de decisões coerentes por órgãos públicos mediante a proteção e preservação da saúde da população idosa. Neste contexto, a sociedade, regida de conhecimento direcionado aos cuidados frente ao idoso, poderá contribuir seguindo normas padronizadas impostas para combater a disseminação do SARS-CoV-2 e evitar a contaminação entre indivíduos da população, especialmente do público idoso. O presente estudo analisou o impacto da pandemia de COVID-19 na saúde de idosos, envolvendo aspectos biopsicossociais, por meio de revisão narrativa. METODOLOGIA A presente pesquisa de natureza qualitativa, acerca da pandemia por COVID-19 e saúde de idosos, foi realizada por meio de revisão narrativa, no período de novembro a dezembro de 2020. Optou-se pela revisão da literatura em base de dados nacionais e internacionais, por meio da leitura, análise, interpretação e seleção de artigos de revistas científicas. Na busca em bases de dados, foram escolhidas a Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos (PubMED), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Google scholar. Fundamentado por referenciais literários, utilizou-se na estratégia de busca nas diferentes bases de dados escolhidas, os operadores Booleanos AND e OR e respectivos Descritores em Ciências da Saúde / Medical Subject Headings (DeCS/MeSH). Diante disso, utilizou-se os seguintes descritores: “COVID-19”; “Coronavírus”; “SARS-CoV-2”; “Idoso”; “Pessoa idosa”; “Envelhecimento humano”; “Saúde”; “Saúde mental” e “Socialização” / “COVID-19”; “coronavírus”; “SARS-CoV-2”; “Aged”; “Health”; “Mental health” e “Socialization”. Num primeiro momento, discute-se o contexto da pandemia de COVID-19 e saúde mental e física do idoso. Posteriormente, segue discussão acerca de COVID-19 no âmbito da vida social e processo de socialização inerente a esse grupo populacional. Como critérios de inclusão, os artigos deveriam abordar temática envolvendo a pandemia por COVID-19 e consequências da doença sobre a saúde de idosos. Ainda, terem sido publicados na literatura nos últimos 5 anos e apresentados nos idiomas português, inglês ou espanhol (KOCHE, 2011; LUDKE e ANDRÉ, 2013). A execução das pesquisas deu-se de forma autônoma pelos autores, frente a dispositivos eletrônicos, seguindo critérios lógicos de busca, atendendo a fonte determinada: literatura científica (PEREIRA et al., 2018). Foram excluídos os estudos incoerentes com a proposta do trabalho, aqueles que não abordavam as temáticas COVID-19, saúde de idosos 188 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 ou envelhecimento humano; resumos de trabalhos e aqueles que não disponibilizaram gratuitamente o texto para leitura e análise. RESULTADOS O resultado da busca nas bases de dados compreendeu 680 artigos, após leitura e análise de título, resumo e texto completo, definiu-se os estudos que estavam em conformidade para dar sequência à pesquisa (Figura 1). Figura 1. Delineamento da inclusão dos artigos na pesquisa. Fonte: O autor, 2020. Observou-se um amplo retorno de estudos, porém, são de subtemas diversos, cujos assuntos tratados não concordam com a proposta de pesquisa. Dessa forma, após a realização da busca nas bases de dados PubMed, BVS e Google Scholar, um total de vinte e oito estudos foram incluídos com base nos critérios de elegibilidade (Figura 1) e selecionados para dar continuidade à pesquisa. Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 189 DISCUSSÃO COVID-19 NO CONTEXTO DA SAÚDE FÍSICA E MENTAL Diante da crise de saúde com repercussões mundiais devido a infecção por COVID-19, houve o acometimento de diversas faixas etárias, todavia, os adultos com mais de 65 anos foram consistentemente descritos como grupo de risco, portanto, mais vulneráveis a desenvolver doenças graves que requer hospitalização. O perigo que cerceia este público desemboca em questões como o aumento da incidência de medo e ansiedade, além disso, o distanciamento social sem a utilização de ferramentas tecnológicas como redes sociais, mensagens/torpedos instantâneos, videoconferências desencadeou ainda mais o estigma segregacionista (JESTE, 2020). Ainda de acordo com o autor, a baixa familiarização dos adultos mais velhos com a tecnologia de comunicação, que tornou-se imprescindível em tempos de pandemia por COVID-19, acabou por evidenciar o estudo realizado por pesquisadores italianos que objetivou compreender como idosos previamente treinados para o uso de sites de redes sociais vivenciaram esse período de lockdown e distanciamento social. É válido ressaltar que este grupo de indivíduos com idade entre 81 e 85 anos, residentes de Abbiategrasso (Milão), participaram anteriormente de um estudo que pretendia avaliar o impacto do uso dessas redes na solidão na velhice. Dessa maneira, contemplaram a estratificação como treinados, e versando com outros sujeitos não treinados. Ficou constatado em participantes treinados e que fizeram uso tecnológico, a redução da sensação de esquecimento e afastamento de pessoas de seu convívio. Este fato corroborou a necessidade de treinamentos em mídias de redes sociais com idosos, a fim de melhorar sua inclusão social (ROLANDI et al., 2020). Mediante o impacto da COVID-19 no isolamento social, bem como na saúde mental geriátrica, uma edição do periódico da International Psychogeriatrics (IPG) pretende promover o bem estar de idosos por todo mundo, para tanto, houve alguns relatos oriundos de alguns países da África (Gana, Nigéria), da Ásia (China, Índia), Europa (alemanha, Portugal, Espanha, Reino Unido), Oriente Médio (Israel, Líbano), América no Norte (Canadá, EUA), América do Sul (Brasil, República Dominicana). Por conseguinte, Jeste (2020), considera importante enfatizar aspectos específicos na psicogeriatria relacionados à COVID-19 e ao distanciamento social, como as incidências do preconceito etário disseminado, o forte nexo causal entre isolamento e solidão e implicações para o comportamento suicida. Nas Filipinas, as intensas medidas de lockdown objetivaram impedir ou adiar a infecção pelo coronavírus. Contudo, as consequências indesejadas na saúde mental têm recaído sobre os indivíduos mais velhos, pelo fato de constituírem o grupo de risco, assim como 190 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 pela reclusão a qual estão submetidos, de acordo com as exigências do governo. Os sintomas persistentes incluem preocupação, debilidade na execução de atividades de rotina, agitação mediante incerteza, ausência de suporte e de eventos sociais foram elencados como aspectos que potencializam o estresse e diminuem as habilidades de enfrentamento, e que corroboram para presença de ansiedade e depressão em idosos devido à pandemia (BUENAVENTURA et al., 2020). Concomitantemente, na Índia houve uma alta demanda por ajuda psiquiátrica, apesar de contar com diversos profissionais da saúde mental em zonas urbanas, a inacessibilidade de idosos, carentes destes profissionais, torna-os ainda mais vulneráveis, se considerado, à priori, os danos gerados pela solidão e desamparo. Coincidentemente, o país é também um dos lugares no mundo onde há mais assinantes de Internet (560 milhões em 2018) e também de usuários de smartphones (500 milhões no final de 2019). Entretanto, esse benefício está vinculado aos idosos que residem em áreas urbanas, e que utilizam redes sociais como WhatsApp e Facebook para se comunicar com a família, amigos e vizinhos, além de terem acesso às notícias locais e globais, atenuando alguns prejuízos desencadeados pelo isolamento social (VAHIA et al., 2020). Outrossim, a conjuntura social, histórica e econômica da Nigéria parece ofertar condições favoráveis para disseminação da COVID-19. Ainda em consonância com os autores, o Seguro Nacional de Saúde do país cobre cerca de 4% da população nigeriana, a assistência para aposentados e idosos é baixa e precária, para isso é necessário o pagamento dos serviços de saúde, o que torna-se inviável para a maioria dos adultos mais velhos. Diante desse fato, os métodos adotados pelos idosos rurais do país para manutenção da saúde mental são a medicina alternativa e lares espirituais (BAIYEWU et al., 2020). Uma pesquisa realizada online, durante os estágios iniciais da quarentena, com pessoas de diferentes grupos de idades, buscou avaliar os modos de enfrentamentos adotados para lidar com a pandemia do COVID-19 na Espanha. Nesse país, pessoas com mais de 60 anos viveram recortes históricos como Guerra Civil Espanhola e ditadura que durou até 1975, por serem experiências traumáticas, podem ter ajudado na relativização da crise atual. Sob esta ótica, ficou comprovado os altos índices de resiliência nesse público, bem como a efetividade da religião como fator protetivo, além disso, o estudo previu impacto psicológico relevante quando consideravam situação de risco iminente (JUSTO-ALONSO et al., 2020). Destarte, um estudo realizado com mil quinhentas e uma pessoas, com faixa etária dos 18 aos 88 anos, avaliou-se os níveis de ansiedade, tristeza e solidão e a autopercepção do envelhecimento. A partir disso, o objetivo era perceber essa diferenciação - caso houvesse - com base na idade de cada participante, quais sejam pessoas jovens, de meia-idade e idosos confinados devido à pandemia. Os idosos entrevistados relataram menos ansiedade Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 191 e tristeza se comparados aos de meia-idade e jovens; a comorbidade depressiva apresentou-se mais em jovens e menos em pessoas mais velhas. O estudo verificou, por meio do relato dos idosos, que houve menos sofrimento psicológico do que em outras faixas etárias (LOSADA-BALTAR et al., 2020). COVID-19 E O PROCESSO DE SOCIALIZAÇÃO A Pandemia por Coronavírus tem atingido desde preocupações com a saúde física e mental a aspectos sociais, interferindo no processo de socialização de grupos populacionais. Em consonância com Jeste (2020), por volta do dia primeiro de setembro de 2020 havia cerca de vinte e cinco milhões de pessoas com o diagnóstico confirmado de COVID-19, destes, dezessete milhões se recuperaram e oitocentos e cinquenta mil tiveram suas vidas ceifadas. Ademais, as crises são estimulantes e fomentam novas possibilidades, desse modo, estratégias que versem o envolvimento social e o público de adultos mais velhos, pretendendo atenuar as repercussões negativas na saúde mental, devem ser consideradas. Pois, embora o distanciamento físico seja elementar, o social é prejudicial, com isso, atenta-se para a socialização remota, ou seja, através de dispositivos tecnológicos, como mecanismo salutar à aproximação em tempos de pandemia. Rolandi et al. (2020), salientam que em muitas comunidades de aposentados houve uma crescente incidência do uso de celular smartphone, o que possibilitou o envio de fotos e vídeos, ligações por vídeo e por plataformas de reuniões online, e envio de e-mails. Para tanto, o contato virtual pode não ser qualitativamente o mesmo que o presencial, todavia, apresenta-se como facilitador em época de pandemia. Buenaventura et al. (2020), ratificam que o envolvimento físico e relacional com outras pessoas são imprescindíveis para a promoção de um envelhecimento bem-sucedido, o que tem sido impossibilitado em razão da pandemia. Uma pesquisa na China expôs a incidência significativa de 37,1% de casos de idosos que apresentaram depressão e ansiedade nesse período de crise devido a interrupção de atividades diárias. Nas Filipinas essa tendência foi ainda mais acentuada pela situação socioeconômica do país, o que explica a ruptura do lockdown por alguns idosos que tiveram de ir às ruas para trabalhar e manter seu sustento. Assim, a redução do processo de socialização, seja pelo afastamento de familiares, amigos e grupos de apoio, reflete nos grupos de idosos em consequência do isolamento. Ademais, torna-se mais prejudicado pelo não uso de recursos tecnológicos. Em suma, no espectro psicossocial, existem ainda as características idiossincráticas do sujeito que podem maximizar todas reais incidências da doença no mundo, desembocando no agravamento da saúde mental. A solidão é umas das queixas mais mencionadas pelos autores que aqui traremos, seguida pelo adoecimento emocional e psicológico, seja pela 192 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 distância ou perda de parentes, impotência diante da situação, receio da morte, ou mesmo a negligência de familiares para com os idosos (JESTE, 2020). Holt et al. (2020), apontam que é importante considerar a necessidade de maior atenção àqueles idosos que vivem na comunidade com deficiência cognitiva e apresentam incapacidade de compreender as recomendações de distanciamento social, incluindo a capacidade de relatar sintomas ou contatos recentes. Dado o aumento do risco de hospitalização e morbidade entre os idosos, como foco importante de estratégia de saúde pública, deve haver a implementação de sistemas de vigilância e gestão de longo prazo para aqueles que se recuperam dos efeitos agudos do COVID-19, isto é válido para enfrentar deficiências persistentes sobre a saúde dos idosos. De acordo com Brooks et al. (2020), a perda de conexão direta com os prestadores de cuidados de saúde de rotina, devido à incapacidade de realizar interações pessoais, também intensifica o sofrimento e a ansiedade do público idoso. O estudo de Liu et al. (2020), mostrou que pacientes com COVID-19 acima de 55 anos tiveram mortalidade três vezes maior. Além disso, foi observado hospitalização aumentada, recuperação clínica retardada, envolvimento pulmonar aumentado, progressão mais rápida da doença e presença de comorbidades, como diabetes e hipertensão arterial. Em complemento, Gest-Emerson e Jayawardhana (2020), apontam que o auto-isolamento entre os idosos estaria associado a considerável morbimortalidade secundária a complicações cardiovasculares e neurocognitivas e problemas de saúde mental. Portanto, o isolamento social para os idosos pode restringir suas atividades e interações. Isso, por sua vez, parece desencadear uma série de impactos, incluindo situações de solidão, a interrupção das rotinas e atividades diárias, acesso alterado a serviços essenciais, como consultas médicas (VAN et al., 2020). Outros autores, como Choi; Irwin e Cho (2015), corroboram com esse princípio, de que o distanciamento social também pode levar a um aumento da sensação de isolamento e solidão. Dessa forma, idosos que não estão habituados a eventos semelhantes, cujo convívio diário é cercado de pessoas, carecem de aprendizado sobre práticas de resiliência e bem-estar consigo mesmo, fortalecendo pensamentos que criem expectativas mais positivas frente o cenário que o cerca. A pesquisa de García-Fernández et al. (2020), buscou avaliar o estado emocional de idosos durante o período crítico de isolamento social na Espanha. Pode-se constatar que a solidão, como parte do isolamento imposto pela quarentena, não foi associada às consequências psicológicas negativas (ex: transtorno e desgaste mental) que geralmente acompanham a desconexão social. Este achado discorda do exposto por Stuller; Jarrett e DeVries (2012), estes autores acreditam que os fatores sociais podem ter uma influência profunda na saúde física e mental. Assim, pessoas com amplo envolvimento em processos Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 193 de socialização, apresentam mortalidade mais baixa por todas as causas e recuperação funcional e cognitiva mais rápida e extensa após uma ampla variedade de insultos patológicos, como doenças cardiovasculares. Segundo Koening (2020), a religião e a espiritualidade podem desempenhar um papel como fator de risco ou proteção. Uma vez que os encontros presenciais nas igrejas foram reduzidos ou cancelados, assim como a prestação de serviços religiosos, esses idosos podem não se sentir aptos a atuarem de forma plena em auxílio a outras pessoas, gerando angústia e insatisfação pessoal. Por outro lado, a fé, utilizada como força ´positiva, pode auxiliá-los para superação das barreiras encontradas diante deste cenário provocado pela pandemia por SARS-CoV-2. A sensibilização da população acerca dos fatores que permeiam condições no âmbito da saúde biopsicossocial do público idoso, pode conduzir para um processo educacional positivo no combate à estigmatização que denigre sua identidade e representatividade na sociedade. Destarte, de forma a contrariar a percepção equivocada de que o envelhecimento é sinônimo de doença, portanto, que a longevidade representa um ciclo de perdas progressivas da natureza humana. CONSIDERAÇÕES FINAIS O impacto da COVID-19 em pessoas com mais de 60 anos que passaram por experiências traumáticas, de alguma forma, foi relativizado na crise atual. Neste aspecto, adotando altos índices de resiliência, bem como a efetividade da religião como fator protetivo. Ao avaliar os níveis de estresse, tristeza e solidão e a autopercepção do envelhecimento, os idosos relataram menos sofrimento comparado aos de meia-idade e jovens. Diante disso, notou-se que, a solidão é umas das queixas mais frequentes, seguida pelo adoecimento emocional e psicológico, causado pela distância ou perda de parentes, impotência, receio da morte, ou mesmo a negligência de familiares para com os idosos. Em complemento, a dificuldade de socialização, estaria associado a considerável morbimortalidade secundária a complicações cardiovasculares e neurocognitivas e problemas de saúde mental. Entretanto, no contexto social, é importante enfatizar a relação da COVID-19 e distanciamento social, bem como incidência de preconceito etário disseminado, estigmatização senil, nexo causal entre isolamento e solidão e implicações para o comportamento suicida. Foi visto que, em idosos treinados ao uso tecnológico, reduziu-se a sensação de esquecimento e afastamento de pessoas de seu convívio. Nesse ponto, o contato virtual pode não ser qualitativamente o mesmo que o presencial, mas apresenta-se como facilitador para vínculo social em época de pandemia. 194 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Contudo, enquanto perdurar esta pandemia, as populações vulneráveis, especialmente os adultos mais velhos, denotam e carecem do reconhecimento por órgãos públicos competentes, que compreendem grupos de alto risco para exacerbação de problemas de saúde física e mental, além do impacto negativo causado pela limitação na comunicação interpessoal, dificultando o processo de socialização. Ademais, a pandemia do novo coronavírus constitui-se um evento recente, isso pode ser um fator que limitou a possibilidade de encontrar pesquisas efetivas e com resultados mais objetivos. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. ABRAHAMSEN et al. Excesso de mortalidade após fratura de quadril: uma revisão epidemiológica sistemática. Osteoporos Int. Outubro de 2009; 20 (10): 1633-50. ANSER et al. 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Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 197 16 “ Impacto das mídias digitais nos relacionamentos entre idosos: uma revisão sistemática da literatura Samara Amorim de Araújo UFPB Rômulo Kunrath Pinto Silva UFPB Amanda Souza Fernandes UFPB Ayane de Fátima Queiroz Ferreira UFPB Gilka Paiva Oliveira Costa UFPB 10.37885/201202391 RESUMO A população idosa tem crescido nos últimos anos e acompanhar o desenvolvimento tecnológico se torna necessário para se atualizar e expandir suas redes sociais, já que é comum que o ciclo de amizades diminua com o envelhecer. Os idosos estão descobrindo as mídias digitais na tentativa de melhorar e expandir suas relações, sejam elas amorosas, familiares ou de amizade. Desta forma, o estudo trata-se de uma revisão sistemática da literatura cujo objetivo foi analisar quais seriam os interesses dos idosos quando utilizam as redes sociais e avaliar o relacionamento entre eles nesse meio. O levantamento bibliográfico de artigos foi realizado em banco de dados MEDLINE e encontrado um total de 125 trabalhos. Mediante critérios de inclusão e exclusão foram obtidos um total de 11 artigos. Tais artigos demonstraram os diversos campos de relacionamentos em que os idosos estão inseridos e como o uso das mídias sociais tem ajudado no estabelecimento de relações interpessoais, diminuindo a solidão em idosos. Palavras-chave: Idosos, Mídias Sociais, Internet, Relacionamentos, Solidão. INTRODUÇÃO Viver na contemporaneidade implica enfrentar, cotidianamente, desafios que exigem adaptação entre as demandas do ambiente físico e social e as capacidades individuais (ALBUQUERQUE, D. S, 2018). O envelhecimento populacional é um dos fenômenos de maior impacto no cenário mundial e se constitui em um desafio para a sociedade (CORDEIRO, L.M., 2015). As redes sociais são construções inerentes ao existir humano e podem ser definidas atualmente como um conjunto organizado de pessoas que consiste em dois tipos de elementos: seres humanos e as conexões entre eles (CHRISTAKIS, N.A., FOWLER, J.H., 2010). Durante o envelhecer é comum vivenciar a morte de amigos e, à medida que eles morrem, a rede social do idoso torna-se cada vez menor. A satisfação das pessoas idosas com a vida tem uma maior e mais forte correlação com a quantidade e a qualidade do contato com seus amigos. (SOUSA, D. A.; CERQUEIRA-SANTOS, E, 2011). Dentro destas redes, os relacionamentos de amizade se tornam predominantes e ocupam maior espaço, impactando fortemente a sua longevidade. Identificam-se efeitos protetores significativos contra a mortalidade pela presença de redes maiores de amigos. As redes de amigos contribuem mais do que as redes familiares para a qualidade de vida/bem- estar dos idosos, contribuindo positivamente em mais de um tipo de relação (por exemplo, relações de amizade e simultaneamente relações familiares) para a qualidade de vida/bem- estar das pessoas idosas (GOUVEIA, O. M. R. et al. 2016) Vivenciar novos cenários, atualizar-se diante dos mais jovens e expandir a rede social requer acompanhar o desenvolvimento tecnológico. Para isso, os idosos estão se abrindo às mídias digitais e este público tem crescido consideravelmente no uso de tais ferramentas. O uso da internet, aplicativos e redes sociais têm sido usadas em prol da qualidade de vida e saúde humana (FIRTH, J. et al., 2017). Estudos atuais apontam que a capacidade de interagir socialmente é fundamental para o idoso, a fim de que este possa obter melhor qualidade de vida. Essa está comumente associada aos componentes de capacidade funcional, estado emocional, interação social e atividade intelectual. Muitos estudos fazem referência a um aumento da qualidade de vida e da longevidade em idosos que apresentam vida social intensa (CARNEIRO, R.S., 2006). Participar de atividades sociais e manter relacionamentos sociais ativos influenciam positivamente o desempenho funcional, especialmente entre os mais longevos. Apoio emocional e instrumental são os mais associados à diminuição de incapacidade (BRITO, T.R.P. et al., 2018). Diante disso, torna-se relevante o estudo do uso das mídias digitais pelos idosos para compreender a importância dessa ferramenta nas relações entre os idosos e entre este e outras pessoas de faixa etária e função social distintas. O objetivo do trabalho foi analisar 200 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 quais seriam os interesses dos idosos quando utilizam as redes sociais e avaliar o relacionamento entre eles nesse meio através de uma revisão sistemática da literatura. Expandindo o conceito dos relacionamentos para além da definição amorosa e abordando outros relacionamentos, como os de amizade. METODOLOGIA Trata-se de uma revisão sistemática da literatura que se refere ao uso das mídias sociais pelos idosos no estabelecimento de relações interpessoais. O levantamento bibliográfico de artigos foi realizado em banco de dados MEDLINE. Os descritores de assuntos utilizados foram: “idoso” and “rede social” or “mídias sociais” or “internet” and “sexualidade” or “relações interpessoais”. Foram incluídos no estudo artigos escritos nos idiomas português, inglês e espanhol. Os critérios de exclusão adotados referiram-se à natureza do trabalho, restrita a artigos científicos, e ao seu conteúdo, que deveria estar relacionado ao tema investigado. Por isso, foram excluídos do estudo 104 artigos que não tratavam de idosos e mídias sociais mediante leitura prévia do título e resumo dos trabalhos encontrados. Foram excluídos do estudo editoriais, cartas ao editor e relatos de caso. Por fim, foram incluídos aqueles que tinham seu texto completo disponível. Ao final da seleção obtivemos 11 artigos (fluxograma 1). Fluxograma 1. Fluxograma de PRISMA descrevendo o processo de seleção dos artigos. Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 201 O material selecionado para compor a amostra do estudo foi acessado no texto completo, sendo realizada sua leitura e avaliação. Foi considerado a base de dados onde o artigo foi encontrado, com informações sobre o periódico, os autores, o tipo de metodologia utilizada, a amostra, os resultados encontrados e as conclusões. Na sequência ocorreu a análise e discussão dos resultados encontrados. RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir dos descritores, foram encontrados 11 artigos que falam do uso da internet em redes sociais por pessoas com mais idade, acima de 50 anos. Apenas 4 se referiam ao uso de sites de relacionamento afetivo-sexual (Quadro 1). Quadro 1. Listagem de estudos incluídos na revisão e suas variáveis consideradas. REFERÊNCIA 1. HONG, Y. A., CH, J. 2016. 2. CHOPIK, W. J., 2016. 3. DAVIS, E. M., L. K. ,2015 4. LOUIS, J. et al., 2015 5. NYMAN, A.; ISAKSS, G., 2015 202 TIPO DE ESTUDO AMOSTRA RESULTADOS CONCLUSÃO Transversal 6603 participantes com mais de 55 anos. As percentagens de utilização da Internet em todos os subgrupos aumentaram de 2003 para 2011, especificamente, entre o grupo mais antigo (75+); O acesso melhorado à Internet pode permitir o acesso de idosos a informações de saúde, mas pode não levar necessariamente conectar-se com pessoas on-line. 591 participantes com mais de 50 anos; Mais de 70% da amostra relataram que estavam aberto para aprender novas tecnologias.. O uso da tecnologia reduziu solidão, e pode ser usado como preditor de saúde, doença, bem-estar e depressão. Relacionamentos próximos são um grande determinante da saúde física e do bem- estar, e a tecnologia tem o potencial de cultivar Relacionamentos bemsucedidos entre os idosos. 4.000 perfis de namoro de dois sites populares com idades entre 18 e 95 anos. .Os resultados do presente estudo sugerem que os idosos que procuram parceiros de namoro estão interessados em atração física e sexualidade. Surpreendentemente, os adultos mais velhos eram mais propensos a mencionar dinheiro em seus perfis do que os adultos mais jovens. Os dados foram obtidos de sites públicos, mas sem o consentimento do participante. Como tal, o uso ético de dados ecologicamente válidos restringiu o número de características de fundo incluídas neste estudo das diferenças de idade. Necessidade de mais estudos a respeito. 40 idosos Idosos em redes restritas tiveram escores de isolamento social significativamente mais altos e foram mais solitários do que clientes em redes diversas e familiares. Estudo foi pouco representativo, necessitando de mais estudos. 12 idosos, divididos em três grupos focais. Os resultados refletem como os contextos on-line geraram novas possibilidades de união nas ocupações cotidianas e criou um senso de pertencer aos outros e à sociedade em geral. No entanto, a união através da Internet também foi associada à ambiguidade e incerteza entre os idosos. Os resultados refletem como a união derivada de contextos online foi complementar e de alguma forma diferente da união resultante de interações face a face. A Internet permitiu que idosos e seus netos participassem das vidas cotidianas uns dos outros. Transversal Transversal Transversal Transversal Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 6. WADA, M., CLARKE, L. H., 2015 7. WEERD, C. V., 2014 8. ALTEROVITZ, S. S.R., MENDELSOHN, G. A., 2013 9. ALTEROVITZ, S. S.R., ENDELSOHN, G. A., 2009 10. SUM, S.R. et al, 2008 11. RUSSELL, C., et al. 2008 Foram recuperadas 144 artigos de revistas e jornais sobre namoro online na vida adulta que foram publicados entre 2009 e 2011. Aproximadamente 15% dos artigos sugeriram que os idosos deveriam explorar novas técnicas para aumentar o prazer sexual, medicalizando e melhorando o declínio sexual. A representação da mídia de adultos como seres sexuais contraria o estereótipo dos mais velhos como nãosexuais ou pós-sexuais 45 mulheres de mais de 50 anos que buscavam relacionamentos no MySpace. Elas relataram ter experimentado eventos adversos incluindo exploração financeira (40%), ameaças (55%) e danos físicos (38%) por alguém que conheceu on- line em níveis maiores do que a tradicional procura de relacionamento na população em geral. A busca de relacionamentos no MySpace é claramente um fenômeno novo para o maioria das mulheres com mais de 50 anos. Além disso, as conclusões reforçam o argumento de que a Internet é terreno fértil para potenciais predadores. Transversal 450 anúncios pessoais dividido s em três faixas etárias.(40-54, 60-74, 75+) Em comparação com o idoso, o jovem e de meia- idade eram mais propensos a mencionar aventura, romance, interesses sexuais e buscando uma alma gêmea e menos propensos a mencionar a saúde. O idoso era mais propenso em encontrar um(a) companheiro(a) com quem eles poderiam compartilhar atividades. Este estudo aumenta nossa compreensão das metas de relacionamento nas diferentes faixas etárias. Tivemos, portanto, poucos ombros empíricos que se colocar na formulação de questões de pesquisa. Transversal 600 anúncios pessoais da Internet de 4 grupos etários: 20 34, 40-54, 60-74 e 75 anos. Com a idade, os homens procuram mulheres cada vez mais novas que eles. Enquanto as mulheres procuram homens mais velhos. Quando estas atingem os 75 anos, o padrão se inverte. Em todas as idades, homens buscavam atratividade física e ofereciam mais informações relacionadas ao status do que as mulheres. 222 internautas na Austrália com 55 anos ou mais. Usar a Internet como ferramenta de comunicação foi associada a níveis mais baixos de solidão social entre idosos (0,124). Em contraste, usar a Internet para se comunicar com pessoas desconhecidas estava associado a um maior nível de solidão familiar. O estudo sugere alertar os idosos para diferentes efeitos da Internet e levá-los ao uso de funções específicas da Internet com o objetivo de reduzir sentimentos de solidão, a fim de aumentar a seu bem- estar. 154 usuários, com 55 anos ou mais A maioria relatou “nenhuma mudança” desde que começaram a usar a Internet, na quantidade de tempo que passam conversando com pessoas pessoalmente (81,5%) ou saindo (84,2%). Seus padrões de uso da Internet sugerem que a comunicação eletrônica tornou-se um complemento importante para fechar relacionamentos com amigos e familiares. Transversal Transversal Transversal Transversal De um modo geral, os estudos verificam que o uso da internet tem aumentado pelas pessoas idosas, no entanto elas se referem prioritariamente ao uso para questões de saúde como mostra o estudo de Hong e Cho (2016) que observaram um aumento da procura por informações de saúde online de 60,8% em 2003 para 84,4% em 2011 em idosos na faixa etária de 55 a 64 anos. O uso da internet por idosos possibilita melhora na qualidade de vida. Para Chopik (2016) um maior uso de tecnologia social foi associado a uma melhor autoavaliação de saúde, menos doenças crônicas, maior bem-estar subjetivo e menos sintomas Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 203 depressivos, sugerindo que as relações estabelecidas pela tecnologia são capazes de influenciar a saúde física e bem-estar dos idosos. Shima et al. (2008) intensificam os benefícios do uso da internet na solidão ao associarem as mídias sociais a uma redução da solidão entre idosos. No entanto, complementa que o seu uso deve ser cauteloso, pois a comunicação com pessoas desconhecidas por essa via estava associado a um maior nível de solidão familiar. Medvene et al. (2015) reforça que o isolamento e a solidão nos idosos estão ligados aos tipos de redes sociais que eles estão incorporados. Eles observaram que aqueles que faziam parte de redes sociais restritas tiveram escores de isolamento social significativamente mais altos e foram mais solitários do que aqueles em redes diversas e familiares. O relacionamento com familiares parece melhorar com o uso da internet como demonstrou o estudo de Russell et al. (2008) que entrevistando 154 idosos com mais de 55 anos obtiveram mais de três quartos (78,7%) de melhoras no nível de satisfação com o contato com familiares e amigos com o uso da internet, demonstrando que a comunicação eletrônica tornou-se um complemento importante para consolidar relacionamentos com amigos e familiares. A mídia tem a capacidade de expandir as relações sociais e fortalecê-las. Um estudo realizado por Nyman e Isaksson (2015) demonstraram uma complementariedade da internet às interações pessoais que ocorrem face a face. A ferramenta permitiu que idosos e seus netos participassem das vidas cotidianas um do outro. No que se refere aos relacionamentos afetivo-sexuais as pesquisas evidenciam um uso cada vez maior das mídias sociais para estabelecê-los. Alterovitz e Mendelsohn (2013) comparando os perfis de busca em sites de relacionamento entre jovens de meia idade e idosos observaram que estes buscam encontrar um companheiro para compartilhar as atividades e eram mais propensos a mencionar saúde, diferentemente do outro grupo que pareciam mais interessados em começar um novo relacionamento, abordando mais aspectos relacionados a aventuras e interesse sexual do que à saúde. Davis e Fingerman (2015) analisando 4.000 perfis de namoro de dois sites observaram que os idosos se interessavam mais na conexão e nos relacionamentos com os outros, fazendo uso de palavras relacionadas à saúde e emoções positivas. No entanto, os mais velhos eram mais propensos a mencionar dinheiro em seus perfis do que os adultos mais jovens. Outro estudo realizado por Alterovitz e Mendelsohn (2009) analisou os perfis de busca de homens e mulheres idosos e concluíram que à medida em que os homens envelheciam eles procuravam mulheres mais jovens que eles. Na observação de mulheres até 75 anos, estas buscavam homens mais velhos que elas e após essa idade o padrão mudou, ao procurarem homens mais jovens. Por outro lado, a utilização de sites de relacionamento também envolve riscos, pois algumas pessoas se beneficiam da inexperiência desse grupo. 204 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Weerd (2014) identificou eventos adversos associados ao site de relacionamento Myscape entre mulheres acima dos 50 anos. Elas relataram ter experimentado exploração financeira (40%), ameaças (55%) e danos físicos (38%) por alguém que conheceu online. Os idosos, como público que vem experimentando as redes sociais, sejam para buscar informações de saúde quanto aproximar laços familiares e relacionamentos afetivos-sexuais, devem ser orientados quantos aos possíveis riscos inerentes dessa ferramenta. CONSIDERAÇÕES FINAIS A literatura científica, embora exígua na investigação do uso das redes sociais de relacionamentos por idosos, têm apresentado evidências que, de um modo geral, o uso das redes sociais representa um caminho positivo para redução da solidão e da depressão experimentada pelos idosos. Isso se dá por apresentar-se como um canal de aproximação, não presencial, entre os idosos e a família, seus entes queridos, bem como fonte de informação e de construção de novos relacionamentos. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. ALBUQUERQUE, D. S; et al. Contribuições teóricas sobre o envelhecimento na perspectiva dos estudos pessoa- ambiente Psicologia USP. 2018 vol: 29 pp: 442-450 FIRTH, J. et. al. A eficácia das intervenções de saúde mental baseadas em smartphone para sintomas depressivos: uma metanálise de estudos clínicos controlados. Word Psychiatry. 2017. 16: 287-298. ALTEROVITZ, S. S.R. , MENDELSOHN, G. APartner Preferences Across the Life Span: Online Dating by Older Adults. Psychology and Aging. 2009, Vol. 24, No. 2, 513-517 4. ALTEROVITZ, S. S.R. , MENDELSOHN, G. A. Relationship goals of middle-aged, young-old, and old-old internet daters: An analysis of online personal ads. Journal of Aging Studies. 2013 5. BRITO, T. R. P. de et al . Redes sociais e funcionalidade em pessoas idosas: evidências do estudo Saúde, Bem- Estar e Envelhecimento (SABE). Rev. bras. epidemiol., São Paulo , v. 21, supl. 2, e180003, 2018 . 6. CARNEIRO, R. S.. A relação entre habilidades sociais e qualidade de vida na terceira idade. Rev. bras.ter. cogn., Rio de Janeiro , v. 2, n. 1, p. 45-54, jun. 2006 . 7. 8. CHOPIK, W. J. The Benefits of Social Technology Use Among Older Adults Are Mediated by Reduced Loneliness. Cyberpsychology, behavior, and social networking. Vol. 00, Number 00, 2016. CHRISTAKIS, N.A., FOWLER, J.H. O poder das conexões: a importância do networking e como ele molda nossas vidas. Rio de Janeiro:Elsevier. 2010. Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 205 9. 10. 11. 12. 13. DAVIS, E. M., L. K. Digital Dating: Online Profile Content of Older and Younger Adults Fingerman. J Gerontol B Psychol Sci Soc Sci, 2015, 1–8 FIRTH, J. et al. The efficacy of smartphone-based mental health interventions for depressive symptoms: a meta- analysis of randomized controlled trials. World Psychiatry, v. 16, n. 3, p. 287–298, 1 out. 2017. HONG, Y. A., CH, J. Has the Digital Health Divide Widened? Trends of Health-Related Internet Use Among Older Adults From 2003 to 2011. J Gerontol B Psychol Sci Soc Sci, Vol. 00, No. 00, 1–8. 2016. NYMAN, A.; ISAKSSON, G. Togetherness in another way: Internet as a tool for togetherness in everyday occupations among older adults. Scandinavian Journal of Occupational Therapy. 2015 14. RUSSELL, C., et al. Ageing, social capital and the Internet: Findings from an exploratory study of Australian ‘silver surfers’Australasian Journal on Ageing, Vol 27 No 2 June 2008, 78–82 15. SHIMA SUM., M.Sc., MARK, M. HUGHES, I.; CAMPBELL, A. Internet Use and Loneliness in Older Adults. Cyberpsychology & Behavior. Volume 11, Number 2, 2008 16. SOUSA, D. A. de; CERQUEIRA-SANTOS, E. Redes sociais e relacionamentos de amizade ao longo do ciclo vital. Rev. psicopedag., São Paulo , v. 28, n. 85, p. 53-66, 2011 17. 206 CORDEIRO, L.M., et al. Quality of life of frail and institutionalized elderly. Acta Paul Enferm [Internet]. 2015 [2017 Aug 08]; 8(4):361-6. WEERD, C. V. A Preliminary Investigation of Risks for Adverse Outcomes of Relationship Seeking on Social Network Sites (SNS). A Descriptive Study of Women Over 50 Seeking Relationships on MySpace in Hillsborough County, Florida. Journal of Women & Aging. 2014 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 17 “ Instrumentos de detecção de doenças vasculares periféricas em idosos assistidos pela atenção primária Ana Paula Pillatt UNIJUÍ Fernanda Dallazen Sartori UNIJUÍ Evelise Moraes Berlezi UNIJUÍ 10.37885/201102308 RESUMO A atenção primária à saúde é o atendimento inicial, cujo principal objetivo é a prevenção de doenças, o tratamento de agravos simples e o direcionamento de casos graves para outros níveis de complexidade. Assim, cabe à atenção primária o dever de atender e resolver grande parte dos problemas de saúde da população, além de organizar o fluxo de serviços na rede de saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020). A ampliação da rede de atenção primária, por meio das equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF), juntamente com o aumento da população idosa, tornam imperativos o reconhecimento da condição de envelhecimento da população e de seus fatores associados para uma efetiva promoção de saúde (MAIA et al. 2020). A partir do aumento expressivo de idosos, profundas mudanças epidemiológicos implicam em novos desafios para os sistemas de saúde e, é preciso minimizar as consequências do processo de envelhecimento, buscando manter os idosos independentes funcionalmente, pelo maior período possível (CANÊDO et al. 2018). Considerando-se que o envelhecimento individual não é causa de declínio funcional por si só, mas representa o principal fator de risco para o acúmulo de condições crônicas de saúde, que tendem a diminuir a funcionalidade e a qualidade de vida, além de gerar mais custos para o sistema de saúde (MORAES, 2017). Desta forma, investir em ações em nível da atenção primária em saúde, como o rastreamento de condições predisponentes as doenças cardiovasculares, permitiria identificar condições passíveis de serem tratadas com menor custo-benefício; na perspectiva de evitar desfechos indesejáveis como instalação de incapacidades ou morte precoce. Assim, o objetivo deste capítulo é discutir sobre as doenças vasculares periféricas e instrumentos de rastreamento que podem ser adotados pela atenção primária em saúde. Palavras- chave: Assistência Integral à Saúde, Saúde do Idoso, Doenças Vasculares Periféricas, Atenção Primária à Saúde INTRODUÇÃO A atenção primária à saúde é o atendimento inicial, cujo principal objetivo é a prevenção de doenças, o tratamento de agravos simples e o direcionamento de casos graves para outros níveis de complexidade. Assim, cabe à atenção primária o dever de atender e resolver grande parte dos problemas de saúde da população, além de organizar o fluxo de serviços na rede de saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020). A ampliação da rede de atenção primária, por meio das equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF), juntamente com o aumento da população idosa, tornam imperativos o reconhecimento da condição de envelhecimento da população e de seus fatores associados para uma efetiva promoção de saúde (MAIA et al. 2020). A partir do aumento expressivo de idosos, profundas mudanças epidemiológicos implicam em novos desafios para os sistemas de saúde e, é preciso minimizar as consequências do processo de envelhecimento, buscando manter os idosos independentes funcionalmente, pelo maior período possível (CANÊDO et al. 2018). Considerando-se que o envelhecimento individual não é causa de declínio funcional por si só, mas representa o principal fator de risco para o acúmulo de condições crônicas de saúde, que tendem a diminuir a funcionalidade e a qualidade de vida, além de gerar mais custos para o sistema de saúde (MORAES, 2017). Desta forma, investir em ações em nível da atenção primária em saúde, como o rastreamento de condições predisponentes as doenças cardiovasculares, permitiria identificar condições passíveis de serem tratadas com menor custo-benefício; na perspectiva de evitar desfechos indesejáveis como instalação de incapacidades ou morte precoce. Assim, o objetivo deste capítulo é discutir sobre as doenças vasculares periféricas e instrumentos de rastreamento que podem ser adotados pela atenção primária em saúde. DOENÇAS VASCULARES PERIFÉRICAS: Doença Arterial Periférica e Insuficiência Venosa Crônica Entre as DCNT, destacam-se as doenças cardiovasculares (DCV), que estão entre as predominantes causas de mortalidade no mundo, representando cerca de 31% de todas as mortes (OMS, 2017), no qual constituem um conjunto de doenças do coração e dos vasos sanguíneos que incluem: Doença Arterial Periférica (DAP) e Insuficiência Venosa Crônica (IVC), as quais são consideradas Doenças Vasculares Periféricas (DVP). A DAP é um processo patológico gradual, sintomático ou assintomático, caracterizada pela redução do fluxo sanguíneo causada, na maioria dos casos, por aterosclerose, a qual Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 209 é denominada por ateroma, ou placas ateroscleróticas, que se projetam e obstruem a luz vascular, que leva ao desenvolvimento de estenoses e oclusões em artérias maiores da circulação dos membros inferiores (SBACV, 2015a). Aponta-se uma prevalência que varia entre os 3-10% na população em geral e aumenta gradativamente em indivíduos com idade superior a 70 anos, chegando a 15-20% (FERNANDES, 2017). A Doença Arterial Obstrutiva periférica (DAOP) é uma doença decorrente do acúmulo de gordura na parede vascular, ocasionando a formação de placas ateroscleróticas que podem provocar obstruções no sistema arterial, que transporta o sangue para os órgãos vitais do corpo. Os vasos mais afetados são a aorta, os vasos viscerais e as artérias dos membros inferiores e está associada a alto risco de morbimortalidade cardiovascular (SBACV, 2015a). A principal causa da DAOP é a aterosclerose, através do acúmulo de placas de ateroma, as quais são formadas por lipídios, proteínas, cálcio e células da inflamação, na parede das artérias e desta forma, acarretam estreitamentos e obstruções que desencadeiam processos isquêmicos localizados ou sistêmicos (LEIBSON et al, 2004). A aterosclerose é caracterizada por ser uma doença sistêmica e multifatorial que afeta a luz do vaso com intensidade variável. A formação da placa aterosclerótica inicia-se em resposta à uma injúria ao endotélio vascular, a camada única e mais interna que recobre a luz do vaso. Esse processo inicia-se na infância e agrava com o avanço da idade e exposição à fatores de risco, acarretando em incapacidade física, perda da independência e autonomia e reduzindo a capacidade funcional do indivíduo, afetando assim a qualidade de vida (FALUDI et al, 2017). A maioria dos indivíduos acometidos pela doença são assintomáticos, o que pode levar a um diagnóstico tardio, impossibilitando o início do tratamento precocemente, e piorando o prognóstico da doença (ZANDER et al, 2002). Os sintomas mais comuns de DAOP são a ausência de pulsos distais e dor nos membros superiores ou inferiores, que pode ocorrer após atividade física ou mesmo em repouso, claudicação intermitente e lesão cutânea ou não (MAFFEI, 2016). A claudicação intermitente, é a manifestação mais frequente, que é caracterizada por dor e desconforto muscular nos membros inferiores durante o exercício e alivia durante o repouso, devido a diminuição do aporte do fluxo sanguíneo para o membro afetado (SBACV, 2015a). Já, a IVC pode ser definida como um conjunto de alterações que ocorrem na pele e no tecido subcutâneo, principalmente nos membros inferiores, decorrentes de uma hipertensão venosa de longa duração, causada pela insuficiência valvular e/ou obstrução venosa (MAFFEI, 2002) e caracteriza-se por um conjunto de manifestações clínicas como a incapacidade em manter o equilíbrio entre o fluxo sanguíneo e seu retorno nos membros inferiores. Causadas principalmente, por obstrução mecânica ao fluxo venoso e refluxo do sangue venoso através de válvulas incompetentes do sistema venoso periférico superficial 210 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 ou profundo, acometendo os membros inferiores (EKLÖF et al, 2009). Decorre da incompetência valvular, podendo ser associada ou não a uma obstrução do fluxo sanguíneo, de forma predominante em membros inferiores (DIAS et al, 2014); sua no mundo é de 1,5% da população geral e até 5% da população idosa (CHI; RAFFETTO, 2015). A insuficiência das válvulas das veias profundas causa hipertensão venosa, a qual está relacionada com o comprometimento da musculatura da panturrilha levando a uma desordem na circulação venosa (AQUINO et al, 2016). A hipertensão venosa é a principal causa de IVC, ocorre devido a uma pressão venosa aumentada nas vênulas dos capilares, impedindo o fluxo sanguíneo. Sendo baixo o fluxo dentro dos capilares desencadeia o acúmulo de leucócitos, esses por sua vez liberam enzimas proteolíticas e radicais livres de oxigênio, que comprometem as membranas basais capilares, as proteínas plasmáticas vazam fibrinogênio para os tecidos circundantes formando uma braçadeira de fibrina. Em decorrência do acúmulo fibrina intersticial e do edema ocorre uma redução do aporte de oxigênio aos tecidos, causando hipóxia local, inflamação, além de ocasionar o surgimento de úlceras (SBACV, 2015b). Isto ocorre em virtude das veias superficiais normais que se dilatam ao ponto que as abas finas das válvulas venosas não conseguem fazer contato com o lúmen do vaso, sendo incapazes de bombear o sangue de volta ao coração, devido a insuficiência da rede valvular estar “falhada”, decorrente desta falha o sangue flui para trás, com isso acumula sangue nesses vasos sanguíneos (geralmente nas pernas), fazendo com que as veias se dilatam ao longo do tempo, formando por fim, as veias varicosas (ROBERT, 2017). A IVC inicialmente ocorre com aparecimento de varizes, com disfunção na parede venosa, causando a insuficiência das válvulas pela dilatação. Com o acúmulo de sangue formado, é gerado uma pressão hidrostática progressivamente maior no interstício que passa a causar redução no fluxo na microcirculação com consequente diminuição de oxigenação e trocas metabólicas, que com ou sem a participação de veias perfurantes insuficientes termina por transmitir-se aos capilares sanguíneos (SBACV, 2015b). As principais características de IVC incluem o eczema de estase com ressecamento, descamação, adelgaçamento e coceira na pele, sinais evidentes da alteração inflamatória local. Quando ocorre a destruição da pele e há solução de continuidade com os tecidos mais profundos, a denominada “úlcera de estase” ou “úlcera varicosa” é gerada. A condição é acompanhada de sinais e sintomas como, formigamento, dor, queimação, câimbras musculares, edema, latejamento, coceira cutâneo, pernas inquietas e fadiga (SBACV, 2015b). Além disso a IVC, causa impacto negativo na qualidade de vida dos indivíduos, provocando dor, impossibilidade de realizar suas atividades de vida diária (AVD’s), e redução na mobilidade (LOPES et al, 2013). Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 211 Instrumentos de avaliação A Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV, 2015a e 2015b) apresenta em suas diretrizes para DAOP e IVC as recomendações de métodos diagnósticos; e, proposição de instrumentos que auxiliam na classificação de risco, severidade da doença; e também de qualidade de vida. Estes instrumentos podem ser aplicados na população e risco para DVP; e com isso, a equipe de saúde tem insumo para o planejamento das medidas de saúde e de fluxograma para encaminhamentos aos serviços de referência. Com relação aos instrumentos aplicados a condições de insuficiência venosa crônica uma das indicações é a classificação e graduação da doença venosa dos membros inferiores (CEAP – classificação clínica (C), etiológica (E), anatômica (A) e patológica (P)). Esta classificação foi proposta e realizada no fórum Americano de Doenças Venosas preparado por um “Comitê AD HOC”. É também organizada em termos decrescentes de gravidade da doença (EKLOF et al., 2004). Criada em 1994, (PORTER; MONETA, 1995) e revisado em 2004 (EKLOF et al., 2004) (Quadro 1), a classificação de CEAP surgiu devido a necessidade de criar um sistema capaz de conduzir a um diagnóstico e classificação precisos e adequados na prática clínica, que constitua a base para a escolha da estratégia terapêutica mais apropriada. Com a revisão do CEAP, uma forma mais complexa e avançada foi desenvolvida adicionando ao primeiro a classificação anatômica dividida em 18 segmentos venosos, clareando a localização dos processos patológicos subjacentes (MEDEIROS; MANSILHA, 2012). 212 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Quadro 1. Classificação de CEAP revisado Classificação Clínica Co Sem sinais visíveis ou palpáveis de doença venosa crônica C1 Telangiectasias ou veias reticulares C2 Varizes (mais de 3mm de diâmetro) C3 Edema C4a Pigmentação ou eczema C4b Lipodermatosclerose ou atrofia branca C5 Úlcera venosa cicatrizada C6 Úlcera venosa ativa Classificação Anatômica As Veias superficiais Ap Veias perfurantes Ad Veias profundas An Local venoso não identificado Classificação Patofisiológica – CEAP básico Pr Refluxo Po Obstrução Pr,o Refluxo e obstrução Pn Patofisiologia não identificada Classificação Patofisiológica – CEAP avançado Telangiectasias ou veias reticulares Veias Superficiais Grande veia safena acima do joelho Grande veia safena abaixo do joelho Pequena veia safena Veias não safenas Veia cava inferior Veia ilíaca comum Veia ilíaca externa Veias Profundas Veias pélvicas: gonadais, do ligamento largo, outras Veia femoral comum Veia poplítea Veias crurais: tibial anterior, tibial posterior, peroniais Veias musculares: gastrocnêmias, soleais, outras Veias Perfurantes Coxa Perna Fonte: Adaptado de Eklof B., et al. (2004). De acordo com as Diretrizes da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), apesar da classificação da CEAP ser a mais reconhecidamente e difundida, a mesma apresenta algumas limitações nas quais podemos citar a não adequação da sua utilização como marcador de evolução dos tratamentos. Desta forma, existem outros sistemas de classificação como o Venous Clinical Severity Score (VCSS) (VASQUEZ; MUNSCHAUER, 2008), usado frequentemente na prática clínica, fornece uma medida mais próxima da severidade da doença e seu impacto nas atividades de rotina e representando Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 213 uma ferramenta útil para avaliar alterações após procedimentos para o tratamento e acompanhamento dos doentes (VASQUEZ et al., 2010). Este instrumento, Escore de Gravidade Clínica Venosa (VCSS) (Quadro 2) foi desenvolvido no ano de 2000 com o objetivo de melhorar a avaliação padronizada de resultados de doenças venosas com elementos graduáveis que poderiam mudar em resposta ao tratamento e complementar o sistema de classificação de CEAP (RUTHERFORD et al., 2000). No ano de 2010, o VCSS foi revisado devido a identificação de algumas inconsistências que possivelmente limitavam a utilização geral, tendo em vista como falha principal do escore de risco o idioma, pela ambiguidade nos descritores clínicos. A revisão do VCSS foi realizada, com foco na atualização da terminologia, simplificando a aplicação e eliminando ambiguidades (VASQUEZ et al., 2010). O VCSS, validado em 2011 por Passman et al., (2011), com outras ferramentas de avaliação de gravidade venosa o instrumento apresenta a análise os parâmetros clínicos fornecidos pelos pacientes, os quais são: dor, varizes, edema venoso, pigmentação da pele, inflamação, endurecimento, número de úlceras ativas, duração da ulceração ativa, tamanho da úlcera e uso de terapia compressiva, onde a pontuação encontra-se entre zero a três dentro de dez parâmetros avaliados. O sistema de pontuação inicial foi encontrado para ter alta reprodutibilidade inter e intraobservador e ser responsivo a mudanças na gravidade da doença (MEISSNER; NATIELLO; NICHOLLS, 2002). 214 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Quadro 2. Classificação de VCSS revisada. Parâmetro Ausente (0) Leve (1) Moderado (2) Severo (3) Dor ou outro desconforto ligado a doença venosa Não Ocasional Sintomas diários, interferindo mas não impedindo as atividades rotineiras. Sintomas diários limitando a maioria das atividades rotineiras. Veias varicosas Não Poucas dispersas, inclui a coroa flebectásica Limitadas a panturrilha ou coxa Envolvendo panturrilha e coxa Edema de origem venosa Não Limitado ao pé e tornozelo Acima do tornozelo mas abaixo do joelho Até o joelho ou acima Hiperpigmentação Não Limitada a área perimaleolar Difusa e até o terço inferior da perna Distribuição ampla (acima do terço inferior da perna) Inflamação Não Limitada a área perimaleolar Difusa e até o terço inferior da perna Distribuição ampla (acima do terço inferior da perna) Endurecimento Não Limitada a área perimaleolar Até o terço inferior da perna Acima do terço distal da perna Número de úlceras abertas Não 1 2 3 >1 ano Duração da úlcera Não <3 meses > 3 meses mas < 1 ano Tamanho da úlcera Não <2cm 2 a 6 cm > 6cm Terapia de compressão Não Uso Uso na maioria Uso diário Fonte: Adaptado de Projeto Diretrizes SBACV, (2015b). No estudo multicêntrica de Marston et al., (2013), o VCSS revisado demonstrou ser um instrumento confiável e reprodutível para documentação da gravidade dos sintomas em pacientes com IVC e os mesmos concluíram que este instrumento de rastreamento deve ser um sistema de pontuação útil que possa ser usado para documentar a gravidade da doença na prática clínica e na pesquisa estudos de pacientes com DCV. Para o rastreamento de DAOP há sinais característicos que podem sinalizar a necessidade de investigação de doença vascular, como a claudicação intermitente que ocorre devido a redução do aporte sanguíneo para os membros inferiores durante o exercício e caracteriza-se por dor ou desconforto durante a caminhada que desaparece após o repouso (SBACV, 2015a). Cabe destacar que cerca de 50% dos pacientes com DAOP apresentam outros sintomas e não a claudicação, e 40% não apresentam sintomas nas pernas (FIRNHABER; POWELL, 2019), o que demonstra a necessidade da realização de um bom exame físico para detecção de sinais e sintomas que possam sugerir a doença. No exame físico é recomendado que se observe a presença de claudicação intermitente e que se realize, tanto em pacientes sintomáticos quanto em assintomáticos a ausculta das artérias femorais e a palpação dos pulsos femoral comum, poplítea, tibial anterior e tibial posterior. Em pacientes sintomáticos recomenda-se ainda que se verifique a coloração, temperatura, integridade da pele do pé e a presença de ulcerações, que se realize a palpação Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 215 abdominal e ausculta em diferentes níveis, incluindo os flancos, a região periumbilical e as regiões ilíacas (SBACV, 2015a). Outros achados comuns durante o exame físico dos membros inferiores incluem rarefação dos pelos, pele brilhante, atrofia muscular, e as ulcerações arteriais são caracterizadas por lesões bem demarcadas e perfuradas (FIRNHABER; POWEL, 2019). Nos pacientes que apresentam sintomas, a presença de pele fria ou de pelo menos um sopro e qualquer anormalidade palpável no pulso pode ser indicativo de DAOP (SBACV, 2015a). O exame físico não é suficiente para indicar e/ou descartar a presença de DAOP. Existem atualmente diversos protocolos e/ou testes para este fim, dentre eles: o índice tornozelo-braquial (ITB), o índice hálux-braquial (IHB) e o teste de esteira. O ITB é considerado uma ferramenta de triagem primária, sendo calculado pela divisão da maior pressão sistólica nas artérias do tornozelo pela pressão sistólica da artéria braquial, aferido com o indivíduo em decúbito dorsal, utilizando um esfigmomanômetro e um aparelho portátil de ultrassom de ondas contínua (SBACV, 2015a). Os valores de referência são entre 1,0 a 1,4 considerados normais, 0,9 - 0,99 limítrofes e menor que 0,9 indicam a presença de doença obstrutiva; enquanto valores maiores que 1,4 indicam provável calcificação (ROOKE et al., 2011). Pacientes que apresentam calcificação vascular, decorrentes de Diabetes Mellitus ou de Insuficiência Renal, podem apresentar aferições falsamente elevadas das pressões sistólicas, e nestes casos o IHB fornece valores mais acurados (SBACV, 2015a). Os valores de referência utilizados são maiores que 0,7 considerado normal, entre 0,4 e 0,7 considerado anormal, e menor que 0,4 considerado grave (FOLEY, ARMSTRONG; WALDO, 2016). O teste de esteira é utilizado para avaliar a magnitude da limitação funcional devido a claudicação (ROOKE et al., 2013). Conforme a SBACV (2015a), recomenda-se utilizar um protocolo de exercício padronizado com carga fixa ou progressiva. Para a estratificação de risco, recomenda-se a Classificação de Fontaine (FONTAINE; KIM; KIENY; 1954), a qual divide os pacientes com DAOP em quatro estágios, conforme quadro abaixo. Quadro 3. Classificação de Fontaine. Classificação de Fontaine ESTÁGIO I Assintomáticos ESTÁGIO II A Claudicação intermitente limitante ESTÁGIO II B Claudicação intermitente incapacitante ESTÁGIO III Dor isquêmica em repouso ESTÁGIO IV Lesões tróficas Fonte: Adaptado de SBACV (2015a). Recomenda-se que a atenção primária faça o acompanhamento com os indivíduos de menor risco, assim como ações de educação em saúde que possam prevenir a evolução da 216 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 doença. Enquanto que, aqueles indivíduos com riscos elevados devem ser encaminhados para os serviços especializados, através do sistema de referência e contrarreferência. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do contexto apresentado, salienta-se a necessidade de ações de saúde na atenção primária com o intuito de rastreamento e acompanhamento de usuários com DCV. Cabe a equipe de referência, a estratificação de risco destes pacientes e a organização de uma linha de cuidado que tenha como objetivos o acompanhamento dos casos de menor risco e o encaminhamento de casos com maior risco para o atendimento especializado. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. AQUINO, Michael Augusto dos Santos et al. Análise dos efeitos dos exercícios aquáticos na qualidade de vida de indivíduos com doença venosa crônica. J. vasc. bras., Porto Alegre, v. 15, n. 1, p. 27-33, Mar. 2016. https://doi.org/10.1590/1677-5449.005115. CANÊDO, A. C.; LOPES, C. S.; LOURENÇO, R. A. Prevalence of and factors associated with successful aging in Brazilian older adults: frailty in Brazilian older people Study (FIBRA RJ). Geriatr Gerontol Int. v. 18, n. 8, p. 1280-5, 2018. https://doi.org/10.1111/ggi.13334 CHI, Y. 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Objetivo: Analisar a tendência das internações por doenças crônicas não transmissíveis, verificar os principais grupos responsáveis pelas internações de idosos e calcular as taxas dessas internações. Métodos: Trata-se de um estudo transversal, epidemiológico e descritivo, com base em análise secundária de dados. Os dados foram colhidos através do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde. Resultados: Foram realizados 11.050 internações de idosos entre 2012 a 2016 no município de Sobral-Ceará, sendo 2.232 por doenças crônicas não transmissíveis. A tendência na evolução temporal mostrou instabilidade sendo a maior taxa de 3,12/100.000 em 2013. Os três grupos responsáveis pelas maiores taxas de internações foram respectivamente insuficiência cardíaca, doenças pulmonares e doenças cerebrovasculares. Conclusão: A análise de tendência realizada nesse estudo pode favorecer profissionais e gestores a estabelecer prioridades e diretrizes políticas que levem em consideração o idoso com doença crônica, bem como reconhecer a necessidade urgente de fortalecer a atenção primária. Palavras-chave: Atenção Primária à Saúde, Doença Crônica, Hospitalização, Idoso. INTRODUÇÃO O crescimento mundial da população idosa é um desafio para os sistemas de saúde mundiais, não sendo diferente para o Brasil. A transição demográfica e epidemiológica pela qual passou o país modificou a pirâmide etária da população, elevou a expectativa de vida, o que contribuiu para projeções, em 2030, de 41,6 milhões de idosos, 18,7% da população (ALVES, 2014). Dessa forma, o Brasil será caracterizado como um país envelhecido, posto que um país é considerado jovem quando menos de 7% de sua população tem 65 anos; quando a população de 65 anos alcança 14% o país é dito envelhecido. Países desenvolvidos, a exemplo da França levou 115 anos, entre 1865 e 1980, para tornar-se um país envelhecido, o Brasil por sua vez, levará apenas 25 anos, entre 2011 a 2036 para tornar-se um país envelhecido (CHAIMOWICZ, 2013). À medida que o envelhecimento da população avança e o número de óbitos precoces diminui, aumenta a prevalência das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT). No Brasil, as DCNT atingem cerca de 72% das mortes, acometendo principalmente indivíduos com menor poder aquisitivo, baixa escolaridade e idosos (Schmidt et al., 2011). A cada ano, 650 mil novos idosos são incorporados à população brasileira, a maior parte com doenças crônicas e alguns com limitações funcionais (VERAS, 2009). O envelhecimento acentuado mudará o padrão de demanda por serviços de saúde, pois essa população necessita significativamente de mais serviços médico e hospitalar, além de profissionais bem preparados para atenderem esse demanda (MORAES, 2012). Frente ao exposto, há uma expectativa de que modelos de saúde orientados e coordenados pela atenção primária à saúde sejam capazes de provocar melhoria nos indicadores de saúde e influenciar na utilização racional da tecnologia biomédica, com repercussão direta na eficiência dos sistemas de saúde. É necessário uma reestruturação da rede de atenção à saúde, na qual a atenção primária seja protagonista da coordenação dos cuidados em saúde, de modo a atender as demandas de forma efetiva e eficiente com vistas à qualidade da oferta das ações de saúde (MENDES, 2011). O Ministério da Saúde orienta que às equipes de saúde da família se esforce para enfrentar as DCNT promovendo o envelhecimento ativo. Para tanto o Plano de ações estratégicas para o enfrentamento das DCNT propõe medidas quanto à implementação de um modelo de atenção integral ao envelhecimento; incentivo aos idosos à prática de atividade física; capacitação das equipes e profissionais de saúde para melhor atender aos idosos; incentivo ao autocuidado e criação de programa para formação de cuidadores de idosos e de pessoas com condição crônica (BRASIL, 2011). 222 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Destarte, um dos instrumentos utilizados para avaliar o desempenho da APS é a análise do indicador de Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária (ICSAP), conhecido internacionalmente como Ambulatory Care-Sensitive Conditions (ACSC), utilizado, por exemplo, nos Estados Unidos da América desde a década de 1990. No Brasil, a publicação da portaria do Ministério da Saúde MS/GM nº 221, de 17 de abril de 2008, apresentou a Lista Brasileira de Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária, estruturada em grupos de causas de internação e diagnósticos. De forma geral, as condições decorrentes de diagnósticos classificados como sensíveis às ações de atenção primária, poderiam ser resolvidas neste nível de atenção, sem necessitar de internações hospitalares. Nesse contexto, o papel da atenção primária à saúde é de fundamental importância na prevenção de doenças e promoção da saúde da população idosa. Em se tratando de uma população vulnerável os cuidados à saúde devem ser redobrados a fim de reduzir as internações evitáveis. No entanto, a experiência vivenciada na atenção primária à saúde em um município da região norte do Estado do Ceará, prestando assistência de enfermagem aos idosos, revelou muitos desafios, dentre eles o modelo de saúde que ainda têm como característica a priorização das condições agudas, o que traz implicações tanto para o idoso – que não obtém a atenção oportuna e necessária, de modo a receber assistência pela equipe de saúde com acompanhamento multiprofissional e co-responsável somente após a agudização de uma doença crônica, repercutindo negativamente na sua condição de saúde – quanto para o sistema de saúde, dado o comprometimento do uso racional dos recursos nesse nível de atenção. Essa constatação justifica o interesse pela investigação do tema, além de perceber que a literatura carece de estudos com enfoque dado pela presente pesquisa. A análise das internações por condições sensíveis vem sendo empregada para avaliar o desempenho do sistema de saúde nos âmbitos internacional e nacional, tornando-se um instrumento de gestão do cuidado com vistas a melhorar a assistência na atenção primária, na medida que possibilita o levantamento de subsídios para diferentes realidades. A pesquisa tem a finalidade de analisar as tendências das internações de idosos por doenças crônicas não transmissíveis sensíveis à atenção primária (DCNTSAP), além de Verificar os principais grupos causas e diagnósticos de internamentos de idosos por doenças crônicas não transmissíveis sensíveis a atenção básica, de acordo com a CID 10ª e calcular as taxas desse internamento. Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 223 OBJETIVO Analisar as tendências das internações de idosos por doenças crônicas não transmissíveis sensíveis à atenção primária (DCNTSAP), além de Verificar os principais grupos causas e diagnósticos de internamentos de idosos por doenças crônicas não transmissíveis sensíveis a atenção básica, de acordo com a CID 10ª e calcular as taxas desse internamento. MÉTODOS Trata-se de um estudo epidemiológico descritivo e transversal, com base em análise secundária de dados. A pesquisa foi realizada no município de Sobral, Ceará. Em 2016 a população estimada para esse município era de 203.682 habitantes (BRASIL, 2011), ocupando uma área de 2.122,897 quilômetros quadrados. O município esta situado na região Noroeste do Ceará, a uma distancia de 224 km da capital Fortaleza. A população investigada abrangeu 17.592 idosos, conforme estimativa do IBGE (2010). A amostra foi composta por 11.050 idosos, internados no período entre 2012 a 2016, que residiam no município de Sobral-CE. O período selecionado para análise de tendência se justifica pela implementação do Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis no Brasil, que foi publicado em 2011 e tem como meta preparar o Brasil durante os próximos dez anos para enfrentar e deter os fatores de risco das DCNT. Os dados foram colhidos do Sistema de Internação Hospitalar (SIH/SUS), através do departamento de informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Os dados obtidos foram transferidos do programa de tabulação do DATASUS (TabNet) para planilha no programa da Microsoft Excel versão 2010 e apresentados em forma de tabela. Foram selecionados internações por DCNTSAB na população com 60 anos ou mais, que foram internados no período de 2012 a 2016, sendo a causa de internação os 7 grupos classificados como DCNT sensível a atenção básica de acordo com o CID-10a, são elas Asma, Doenças Pulmonares, Hipertensão, Angina, Insuficiência Cardíaca, Doenças Cerebrovasculares e Diabetes Mellitus. Os coeficientes de internação para análise das tendências das DCNTSAP foram calculados através da fórmula (n° de internações por DCNTAB no ano dividido total da população idosa no ano multiplicado por cem mil habitantes). E as taxas das internações por grupos de causas e diagnósticos foram calculada através da fórmula (n° de internação por causa de DCNTSAB no ano dividido pela total de idosos no ano multiplicado por cem mil habitantes). Para o cálculo da evolução temporal dos coeficientes de internações foi utilizada sua variação no período analisado e equações matemáticas para a obtenção de tendências 224 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 prospectivas de padrão linear e de padrão polinomial. Foram verificados ainda em relação a estas internações os principais grupos, causas e diagnósticos de acordo com o CID-10a. Os dados da pesquisa foram retirados do Departamento de Informática do SUS (DATASUS) que é de livre acesso ao público, portanto não foi necessária a avaliação da pesquisa diante do Comitê de Ética e Pesquisa. Entretanto foram respeitadas as normas vigentes no Brasil, relacionadas à ética na pesquisa com seres humanos. Os dados foram analisados especificamente para esta pesquisa, de forma global, sem qualquer identificação individual. Ressalta-se ainda a veracidade das informações que constam nessa pesquisa, que será de grande importância para avaliar a causa dessas internações e a assistência prestada aos idosos nas unidades de atenção primária aos idosos no município de Sobral. RESULTADOS Os dados secundários obtidos através do DATASUS e SIH acerca das internações do município de Sobral no Ceará construíram os indicadores que mostra esse estudo e possibilitaram analisar as causas de internações por DCNTSAP. No período de 2012 a 2016 ocorreram 11.050 internações de pessoas com 60 anos ou mais. Dessas internações 2.232 foram por doenças crônicas não transmissíveis e representaram 20,20% das internações. (Tabela 1). As internações por CSAP nos idosos no mesmo período foram de 3.361 e correspondem a 30,41% de todas as internações e 66,40% das internações por DCNT. Tabela 1. Número total de internações e número de internações por DCNTSAP e sua proporcionalidade ocorridas com os idosos de Sobral, no período de 2012 a 2016, Sobral, Ceará, 2017. Ano N° de internações geral Nº de Internações por DCNTSAP Proporção de internações por DCNTSAP 2012 2468 476 19,28 2013 2406 536 22,28 2014 1969 425 21,58 2015 2231 487 21,83 2016 1976 308 15,59 Total 11050 2232 20,20 Fonte: Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde /Sistema de Internação Hospitalar. De acordo com os dados analisados, no ano de 2012 a proporção de internações de idosos por DCNTSAP foi de 19,28%, em 2013 apresentou um aumento, 22,28%, em 2014 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 225 e 2015 a proporção ficou de 21,58% e 21,83% respectivamente, e em 2016 houve uma diminuição, que resultou no menor percentual desses últimos cinco anos, 15,58%. Sendo a proporção de internações por DCNT durante os anos da pesquisa de 20,20% em relação a todas as internações. A figura 1 demonstra a evolução temporal dos coeficientes de internação por DCNTSAP. Em 2012 a taxa foi de 2,81/100.000, em 2013 houve um aumento que resultou na maior taxa de internações dos anos pesquisados, sendo o valor de 3,12/100.000. Em 2014 houve uma queda que ficou 2,25/100.000, já em 2015 houve um acréscimo resultando na terceira maior taxa dos anos da pesquisa 2,77/100.000 e em 2016 a taxa foi a menor apresentada, resultando no valor 1,75/100.000. Para estimar o comportamento das taxas no futuro foram utilizadas deduções matemáticas (Figura 1). O padrão linear representa o aumento ou a diminuição das taxas de forma constante. A tendencia decrescente quando utilizado o padrão polinomial é uma linha curva utilizada quando há flutuações de dados. A tendencia foi intercalada por um ano de diminuição e outro de aumento da taxa durante os cinco anos da pesquisa expressando assim sua instabilidade. Em relação as tendências por grupos causas e diagnósticos todas as causas também expressaram aumento e diminuição de forma inconstante durante os anos. Figura 1. Internações por Doenças Crônicas Não Transmissíveis Sensíveis à Atenção Primária (ICSAP) em Sobral Ceará: tendência prospectiva dos internamentos por DCNTSAP e a distribuição temporal da taxa de internamentos (por 100.000 hab), no período de 2012 a 2016. Sobra, Ceará, 2017. . Fonte: Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde /Sistema de Internação Hospitalar. 226 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Com relação ao grupo de causas das internações por DCNTSAP verificou-se que a IC detém de maior percentual de causa de internação do idoso, 36,4% (tabela 2). As doenças pulmonares representaram 16,46%, doenças cerebrovasculares 13,18%, asma 11,02%, angina 9,38%, diabetes mellitus 9,32% e hipertensão 0,36%. Tabela 2. Proporção das grupos de causas e diagnósticos ocorridas com os idosos de Sobral, no período de 2012 a 2016, Sobral, Ceará, 2017. 2012 2013 2014 2015 2016 TOTAL Doenças crônicas não transmissíveis Sensíveis à atenção primária % % % % % % 1. Asma 1,66 4,07 2,49 2,29 0,51 11,02 2. Doenças Pulmonares 0,39 6,73 3,91 3,45 1,97 16,46 3. Hipertensão 0,04 0,12 0,05 0,09 0,05 0,36 4. Angina 2,15 0,17 0,86 3,72 2,48 9,38 5. Insuficiência Cardíaca 6,89 8,81 8,99 6,14 5,57 36,40 6. Doenças Cerebrovasculares 1,66 1,04 2,95 3,99 3,54 13,18 7. Diabetes Mellitus 2,04 1,33 2,34 2,15 1,47 9,32 Fonte: Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde /Sistema de Internação Hospitalar. DISCUSSÃO O número de internações de idosos na realidade estudada foi expressivo e tais achados assemelham-se a outros estudos brasileiros quanto à proporcionalidade das doenças crônicas (Ducan et al., 2012). Um estudo realizado no estado do Paraná, incluindo as 22 Regionais de Saúde entre os anos de 2008 a 2011, revelou que houve um total de 773.483 de internações de idosos, sendo que 43% dessas internações encontravam-se na faixa etária de 60 a 69 anos, os resultados do estudo revelou ainda que as maiores causas de internações entre essa população são as condições crônicas (CASTRO, 2013). O número de internações por condições sensíveis revela a fragilidade da atenção primária, na medida em que ações de monitoramento mais eficazes poderiam ocasionar outros desfechos, evitando danos, muitas vezes, irreparáveis no idoso, por consequência da internação. A hospitalização do idoso desencadeia uma cascata de eventos que frequentemente culmina na diminuição da capacidade funcional e da qualidade de vida, complicações não relacionadas ao problema que levou à admissão hospitalar do idoso (COUTO, 2015). Assim, para muitos idosos, a hospitalização não resulta em melhora de saúde; pelo contrário, há correlação com aumento da taxa de mortalidade e morbidade, piora do seu prognóstico e predisposição ao processo de fragilização (Dutra et al., 2011). As internações de idosos embora necessárias representam riscos para a saúde dessa população. As internações recorrentes em idosos podem causar comorbidades, como por exemplo, dependência funcional, risco aumentado de quedas e aumento da mortalidade. Um estudo realizado no Rio de Janeiro com 9.769 idosos a partir de 65 anos, mostrou Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 227 que 6,7% dessa população apresentam alto risco de internações recorrentes, esse risco foi associado à presença de doenças crônicas, como doença pulmonar e obstrutiva crônica e ao uso de medicamentos. Esses pacientes apresentaram dificuldades de realização das atividades de vida diária (AVD) e os riscos de internações ainda são mais recorrentes em idosos que moram sozinhos por conta da necessidade da realização das atividades instrumentais da vida diária (AIVD) (PEREZ; LOURENÇO, 2013). Um estudo realizado na Espanha revelou que o comprometimento funcional dos idosos esta associado ao risco de hospitalização, com uma prevalência de 35-70% e essas hospitalizações causam graves consequências, tendo em vista que a hospitalização interfere na autonomia e independência desses pacientes (Córcoles-Jiménez et al., 2016). Nesse contexto, acrescenta-se que as internações evitáveis causam impacto negativo para Saúde Pública, pois elevam-se os gastos públicos. Para tratar melhor a questão dos gastos com as internações de idosos foi realizada uma pesquisa com a finalidade de descrever o perfil de morbidades e os gastos relacionados às internações de idosos no Brasil, o resultado obtido foi que em dez anos 27,85% dos internados eram idosos, e o recurso gasto com essas internações foram de 36,47% (Silveira et al., 2013). A maioria das internações as quais os idosos são submetidos são consequências da descompensação de doenças crônicas ou agudizações que podem complicar, tanto por comorbidades como por circunstância da própria internação (HALTER et al, 2009). A IC representou a principal causa de internações dessa pesquisa. É uma patologia comum entre os idosos e sua prevalência aumenta com a idade18. Representa um das principais causas de internações, além de ser uma das principais causas de morbimortalidade entre idosos ( (Herrero-Puente et al, 2012). O segundo grupo de causas de internações em idosos foram as Doenças pulmonares (DP). Em um estudo realizado com a “Metade Sul” do Rio Grande do Sul as DP foram as principais causas de internações e as IC ficaram em segundo lugar (SANTOS et al., 2013). Enquanto as causas que resultam em óbitos são as doenças cerebrovasculares seguido pela insuficiência cardíaca. A hipertensão foi à causa com menor proporção durante os anos da pesquisa representando 0,35% das internações. No total foram 8 internações, e o número de óbitos é de 35 óbitos por hipertensão no mesmo período (BRASIL, 2017). A doença considerada um fator de risco para doenças cardiovasculares e responsáveis por cerca de 7,1 milhões de óbitos ao ano no mundo (Chobanian et al., 2003). Estudos apontam que 54% dos casos de acidente vascular cerebral e 47% dos infartos agudos do miocárdio estão relacionados à elevação da pressão arterial (LAWES et al., 2001). 228 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Diabetes mellitus e hipertensão representam importante problema de saúde pública no Brasil, além das elevadas taxas, é comum complicações agudas e crônicas (Gerhardt et al., 2016). Durante a pesquisa essas doenças não foram as responsáveis por a maior parte das internações, no entanto é necessário uma assistência de qualidade aos idosos portadores dessas doenças, uma vez que suas complicações resultam em quadro clínicos mais severos. Diante da complexidade no manejo das doenças crônicas, acredita-se que a assistência prestada em redes seria mais eficaz, uma vez que as redes organizam os serviços de saúde e buscam garantir a integralidade do cuidado. A promoção da saúde é desenvolvida através de mudanças prática e saudáveis e os profissionais de saúde devem incorporar essas mudanças na assistência prestada, evitando agravos (Heflin et al, 2011). A assistência integral e multiprofissional ao idoso portador de doenças crônicas se faz necessário. As doenças crônicas exigem uma atenção contínua e utilização de serviços de saúde, esse grupo de doenças contribuem para uma maior vulnerabilidade do idoso, implicando em internações (Pinheiro et al., 2016). É necessário que os profissionais adotem práticas diferentes do modelo biomédico e hegemônico e que fundamentem suas ações nas diretrizes da atenção primária a saúde. Sendo à atenção primária quem deve estabelecer a comunicação entre as redes, esta requer que os profissionais organizem seus processos de trabalho promovendo a resolutividade dos problemas e integralidade da assistência. Ressalta-se que estudiosos e técnicos em saúde tem inovado na implementação de práticas multiprofissionais de abordagem à pessoa com doença crônica no contexto brasileiro, a partir do Modelo de Atenção às Condições Crônicas (MACC). Entre as características desse novo modelo, pode-se citar: a oferta da atenção à saúde no lugar certo, no tempo certo, com a qualidade certa e com custo certo; a garantia de que os serviços sejam disponibilizados de forma integrada e orientados às necessidade da população pertencente às áreas de abrangência das Unidades de Saúde, ampliando a satisfação da população com o sistema de saúde; ampliação e diversificação dos pontos de atenção à saúde; melhoria da comunicação entre os vários pontos de atenção; promoção do autocuidado; integração intersetorial dos serviços de saúde com outras políticas públicas; valorização dos recursos humanos do SUS; e integração do município com a região metropolitana, buscando aproximação com o principio da universalidade do SUS (MENDES, 2011). Pesquisa avaliativa realizado em Curitiba- PR sobre a atenção a Condições Crônicas buscou identificar a percepção de usuários e equipes de saúde sobre inovações, com a implantação do MACC (Schwab et al, 2014). Os resultados demonstram associação entre a implantação do modelo e as mudanças ocorridas, tais como o cuidado compartilhado e o Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 229 autocuidado. A forma como é dispensado o cuidado mostrou relação direta com o nível de satisfação das equipes de saúde e pessoas usuárias. Diante do exposto, percebe-se que não se pode adiar o debate e mais precisamente o posicionamento político de implementação e monitoramento de ações que envolvem os desafios trazidos pelo envelhecimento populacional, a exemplo das doenças crônicas não transmissíveis. Nesse sentido, devem-se estabelecer espaços de educação permanente voltado aos profissionais de saúde da atenção primária, afim de que os mesmos reflitam sobre sua práxis e priorizem ações estratégicas de abordagem ao idoso com doença crônica. CONCLUSÃO Em relação à evolução temporal a tendência mostrou uma instabilidade uma vez que sua diminuição ou aumento não foram constantes. O estudo evidenciou que a maior causa de internações durante os anos de pesquisa em Sobral, Ceará foram por insuficiência cardíaca seguido das doenças pulmonares e a terceira causa foram doenças cerebrovasculares. A atenção básica à saúde é responsável pela promoção de saúde e pela prevenção de doenças, o atendimento a esse público e a identificação do problema assim como a resolução é indispensável ainda nesse nível de atenção. Tendo em vista os desafios frente ao crescimento da população idosa e a prevalência dessas doenças, faz-se necessário repensar e reestruturar a assistência, de uma forma a atender as necessidades desse público. As DCNT representam um problema de saúde pública por acarretar danos a vida do idoso, é um indicador que pode ser utilizado na análise da atenção básica á saúde, e deve trazer reflexões mais profundas sobre a atenção á saúde do idoso, e as formas de enfrentamento e controle dessas doenças. A Estratégia Saúde da Família deve apropriar-se da atenção ao idoso e prestar um cuidado voltado para as especificidades que essa clientela demanda, criando meios de alcançar melhores resultados em relação ao controle dessas doenças. Orientar o idoso e família sobre os cuidados necessários em relação aos medicamentos a serem utilizados é uma maneira de intervir, além disso, incentivar o autocuidado do idoso é importante nesse processo. A análise de tendência realizada nesse estudo pode favorecer profissionais e gestores a estabelecer prioridades e diretrizes políticas que levem em consideração o idoso com doença crônica, bem como reconhecer a necessidade urgente de fortalecer a atenção primária. REFERÊNCIAS 1. 230 Alves J E D. Transição demográfica, transição da estrutura etária e envelhecimento. Revista Portal de Divulgação 2014; 40. Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 2. 3. Azad N, Lemay G. Management of chronic heart failure in the older population. 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Para os que destoam do padrão heterossexual, o envelhecimento tende a ser agravado pelo preconceito, como para homossexuais idosos, que sofrem “dupla estigmatização”. Assim, objetivou-se apresentar as particularidades dessa população, a partir de uma pesquisa nas bases de dados nacionais pelos Palavras-chave: velhice/envelhecimento/idoso e homossexualidade. Os dados apontam para invisibilidade desse grupo, visto que o idoso homossexual ocupa um não-lugar que implica numa vida solitária, com desamparo social e político. Os índices de depressão e outros transtornos tendem a ser mais elevados. Portanto, julga-se necessária a construção de espaços de acolhimento não-discriminatórios com apoio da psicologia para promover escuta e ressignificar questões envolvendo o envelhecer dos homossexuais. Palavras-chaves: Envelhecimento, Homossexualidade, Invisibilidade. INTRODUÇÃO O Brasil é um dos países com o maior número de idosos, tendo atualmente, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados em 2019, cerca de 28 milhões de pessoas idosas no país e estima-se que esse número duplique nas próximas décadas. Tal fato denota para a necessidade de construir novos olhares acerca de sua disposição na sociedade. A velhice é atravessada por diversos símbolos construídos a partir dos saberes dispostos em cada tempo. Historicamente, circulava na reflexão dos filósofos ora uma serena aceitação das condições do sujeito envelhecido, ora um discurso permeado de tons melancólicos pelas restrições as quais acompanham o ser na velhice, sempre sendo submetidos e encarcerados no porão do sistema social vigente. Dessa maneira, nota-se que a velhice está envolta em diversas nuances que intensificam-se conforme o contexto social e psíquico em que o sujeito está inserido. No cenário brasileiro, a figura da pessoa idosa está associada a estigmas, pois é considerada inútil para os mecanismos produtivistas. Este discurso, perpassado pelo poder do tempo sob o modo de ser e viver do sujeito, tende a impor limitações em sua vida, em especial no que tange a sexualidade, colocando o idoso como despido de desejo e estética (SALGADO et al., 2017). Tal fato ocorre, sobretudo, porque a velhice é compreendida a partir da ideia de finitude. Para o caso dos sujeitos que questionam e destoam da narrativa heterossexual, colocada como padrão a ser seguido, o envelhecimento tende a ser ainda mais limitado pelas barreiras do preconceito, como é o caso dos homossexuais. A homossexualidade, existente desde o Egito Antigo, sofre variações, do ponto de vista de aceitação e respeito social, de acordo com a época e com o poder vigente, assim como a velhice, também está envolta em questões complexas que se materializaram em problemáticas sociais como julgamento, preconceito e exclusão. Embora existam diversos avanços e conquistas de direitos, como a adoção por parte de casais homossexuais, ainda há diversos estereótipos negativos disseminados através de discursos socialmente construídos, que colocam o homossexual em posição inferior e marginal. O preconceito ainda é uma realidade, que de modo explícito ou implícito impulsiona e obriga o sujeito homossexual a lidar com questões difíceis como a violência verbal, moral e física. Sendo assim, o homossexual idoso é submetido a um processo de “dupla estigmatização”: por um lado está a velhice e sua percepção de vulnerabilidade e, por outro, a homossexualidade, interditada pela homofobia (LEAL; MENDES, 2017; SALGADO et al., 2017). A estigmatização sofrida pelo idoso homossexual é potencializada pela questão religiosa. Podemos observar que o Brasil, traçado e edificado a partir de conceitos e noções religiosas, figura-se atualmente como um dos países que mais possuem casos de homofobia, Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 235 registrando-se a morte de, pelo menos, um homossexual por dia, de acordo com levantamento feito por entidades LGBTQ’s, no ano de 2019. O homossexual, de acordo com Araújo e Carlos (2017), é o sujeito que sente atração e pode vir a desenvolver parceria afetiva e/ou sexual com pessoas do mesmo sexo. Tal desejo ou posição provoca, muitas vezes, reações negativas no Outro. É justamente no estranhamento, que a ideia deste artigo une o idoso e o homossexual. Usa-se a nomenclatura homossexual para designar homens gays e mulheres lésbicas, propondo-se a pensar quais os lugares e singularidades de tal população e quais as influências que a sociedade exerce nas diversas realidades experenciadas pelo idoso homossexual. OBJETIVO Investigar na literatura as consequências provocadas pela intersecção velhice e homossexualidade na vida de homens gays e mulheres lésbicas, refletindo sobre suas realidades, que, apesar de singulares, são atravessadas igualmente pelos preconceitos quanto a idade e a orientação sexual. MÉTODOS Trata-se de uma pesquisa realizada através de um levantamento bibliográfico nas bases de dados nacionais. Este tipo de pesquisa busca promover uma familiarização com a temática trabalhada, nesse caso a experiência do idoso sexual na sociedade, oferecendo informações para a realização de pesquisas subsequentes e pretendendo acrescentar conhecimento a partir de uma análise crítica do material encontrado. Para alcançar o objetivo, foram utilizadas as bases de dados SciELO, Biblioteca Virtual da Saúde (BVS), na qual utilizou-se um filtro para bases de dados nacionais presentes no MEDLINE e no LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), entre outras bases de dados nacionais. Utilizou-se como palavras-chaves nas buscas os descritores “velhice”, “envelhecimento”, “idoso” e “homossexualidade”. Não houveram critérios de inclusão definidos pela intenção de realizar uma busca abrangente. RESULTADOS A partir do objetivo proposto, encontramos a maioria dos artigos com o escopo editorial voltado para o preconceito sofrido pelos homossexuais idosos em decorrência da junção idade e sexualidade. A noção de velhice é atravessada por normas que limitam, evidenciando 236 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 a privação de liberdade do idoso, que é deslocado para uma esfera obscura onde a ideia de proximidade do fim dita o viver. A sexualidade segue uma lógica parecida. Todavia, o preconceito neste caso adquire um viés proibitivo, de modo que pouco fala-se sobre vida sexual de idosos homossexuais, além da parca representatividade nos meios de comunicação e na mídia, que levam a crença da não existência de tais pessoas na sociedade. Ao tratar sobre a homossexualidade da mulher idosa, percebemos maior dificuldade para encontrar literatura voltada para o assunto, indicando negligência e desconsideração para as necessidades específicas do gênero feminino. Ao se debruçar sobre o contexto de silenciamento das vivências, encontra-se o descaso com a saúde e com políticas específicas que viabilizem e valorizem os homossexuais idosos. Tais registros provocam inconvenientes, empecilhos e afetam diretamente a saúde de tais pessoas, gerando dificuldades ordem física, emocional e psicológica. A discriminação e a estigmatização frente a existência do idoso homossexual também os insere em um lugar de apagamento dos afetos, transformando a identidade e a singularidade de tais sujeitos em mera condição estatística, impossibilitando o existir para ser. DISCUSSÃO O ser idoso Inicialmente, entende-se o envelhecimento humano como sendo um processo biológico, natural e universal, uma etapa que compõe o contínuo processo de desenvolvimento humano. Contudo, o marcador “velho” ou “velhice” não é um termo referente apenas a dimensão da biologia, considerando que o ser humano é produtor e produto da sociedade (SANTOS, 1994), é necessário pensar o envelhecimento como um processo histórico, social e cultural, que abrange também a dimensão psicológica, uma vez que há uma consciência e uma significação do que é ser idoso e do percurso inexorável até a morte (FREITAS; QUEIROZ; SOUZA, 2010). Encontram-se descrições da variabilidade cultural pelo qual perpassa o entendimento sobre a velhice. Na cultura indígena brasileira, por exemplo, os idosos são considerados grandes sábios, guardadores da tradição e dos ensinamentos passados de geração em geração. Por outro lado, nas zonas urbanas e rurais brasileiras há uma valorização dos corpos jovens, por sua força física e saúde, o que coloca os idosos em decadência, marcados pela “inutilidade” (SANTOS, 1994), representação coerente com o sistema capitalista vigente, que considera a produção lucrativa como motor social e valoriza apenas os corpos úteis para o capital (LEAL; MENDES, 2017; DANIEL; ANTUNES; AMARAL, 2015). Dessa forma, os idosos parecem ocupar um não-lugar na sociedade, sendo retirados da posição Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 237 de sujeitos para serem submetidos a um assujeitamento aos quereres da população mais jovem, processo evidente nos casos de institucionalização da pessoa idosa por familiares (LEAL; MENDES, 2017). Segundo o Estatuto do Idoso, instituído pelo Governo Federal brasileiro na tentativa de proteger e respeitar a pessoa idosa, considera-se idoso as pessoas com idade igual ou superior a 60 anos (BRASIL 2003), contudo é necessário ressaltar que esta é uma temporalidade subjetiva, pela qual nem todas as pessoas se consideram idosas nessa mesma marcação cronológica (FREITAS; QUEIROZ; SOUZA, 2010). Na pesquisa de Santos (1994), foi mostrado que os próprios idosos tem uma representação negativa de sua própria condição, percebendo a velhice como lugar de perda de respeito, perda de autonomia, desprezo e solidão, fazendo-os negar seu tempo de vida com a marcação de “espírito jovem”, isto é, utilizando uma dimensão imaterial para afirmar uma juventude biológica que já findou. Além de que as representações sociais da velhice (DANIEL; ANTUNES; AMARAL, 2015) se contrapõem a essa visão respeitosa assegurada pela legislação, concretizando uma realidade de marginalização e violência, como exposto em uma pesquisa da FIOCRUZ, na qual foi evidenciado que 60% dos casos de violência contra pessoa idosa ocorrem nos lares, sendo a maioria de natureza psicológica que pode levar ao suicídio (FIOCRUZ, 2019). Destaca-se ainda o aumento nos casos de depressão devido ao isolamento, com agravamento para o período atípico atual da pandemia da COVID-19 (BROOKS et al., 2020). Dessa maneira, entende-se o “ser idoso” como um sujeito perpassado pelo poder do tempo, que transforma suas dimensões corporais, acompanhado das mudanças de ordem histórica, social e cultural que, ao mesmo tempo, o acolhe como detentor de sabedoria e merecedor de respeito, sobressalente na esfera teórica e jurídica, e o rejeita às margens sociais e à institucionalização pelo entendimento de desvalorização que o acompanha. Assim, se trata de um sujeito estigmatizado e propenso a sofrer com a solidão, a negligência, a violência e a rejeição. Por fim, expõe-se que essa realidade se altera conforme idosos se situam fora do modelo hegemônico social, sofrendo outros tipos de preconceitos e estigmatizações que corroboram com sua situação preocupante dentro do cenário brasileiro, como é o caso das pessoas negras, marcadas pelo racismo, pessoas com deficiência e, na esfera da sexualidade, idosos que destoam da narrativa heterossexual, como é o caso da homossexualidade que apresentamos a seguir. A construção histórica da homossexualidade A noção de homossexualidade, assim como a maneira que a sociedade enxerga a velhice, modificou-se conforme o passar dos anos e as transformações dos saberes. A Grécia 238 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Antiga e o Egito possuem os primeiros registros históricos a respeito da homossexualidade. Apesar da escassez de documentos sobre a época, é possível encontrar obras que inserem as relações entre pessoas do mesmo sexo como tão comuns quanto relacionamentos e ou práticas sexuais entre os sexos opostos. No entanto, a entrada da Igreja Católica como instrumento determinante para os julgamentos morais e sociais representa, conforme demonstram Cabral e Romeiro (2011), um plano de repressão sexual que tem a intenção de inibir e controlar as vivências sexuais, reverberando nos sujeitos sentimentos como vergonha e medo. Assim, a sexualidade é mascarada e silenciada, tornando-se um tabu, colocando quem ousar fugir à norma em situação de marginalidade. Os homossexuais são chamados, então, de invertidos. A criminalização da homossexualidade pelo Cristianismo, deve-se também a necessidade de controlar as ações resultantes na formação familiar. Tal lógica estava norteada enquanto coerente a partir da defesa biológica de que pessoas do mesmo sexo não conseguem procriar, sendo esta uma das bases para o relacionamento segundo os preceitos da religião cristã. O pensamento que institui a homossexualidade como crime e pecado ganha novos desdobramentos conforme os saberes vão sendo ampliados. A partir de 1948, a Organização Mundial da Saúde (OMS) insere as práticas e vivências homossexuais no CID (Classificação Internacional de Doenças), o que as levam a ser consideradas uma fuga ao padrão normal, um desvio sexual. Em 1965, como aponta Carneiro (2015), o termo “homossexualismo” ganha força, haja vista a criação da subcategoria 302.0, que determina a homossexualidade também como transtorno sexual. Apenas em 1991, a OMS retirou a homossexualidade da categoria doença, deixando marcas de estigmatização que perduram até os dias atuais. Inegavelmente, há conquistas no reconhecimento de vários aspectos inerentes a causa dos homossexuais. No Brasil, por exemplo, atualmente, existe a permissão para o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Apesar disso, a identidade homossexual é atravessada por padrões e normas que colocam o referido grupo social em posição de marginalidade. A homossexualidade na velhice A construção histórica acerca da homossexualidade influencia sobremaneira os modos de viver do homossexual atualmente. Embora algumas crenças não sejam mais aceitas, as marcas do passado indicam os lugares ocupados por tais sujeitos na sociedade. O Brasil, que possui, segundo pesquisa realizada pelo Datafolha em 2019, 50% da população católica, apresenta traços de preconceito oriundos das ideias outrora disseminadas pelo cristianismo. Hoje, apesar dos avanços, a Igreja Católica ainda considera a homossexualidade inadequada e condena a união entre pessoas do mesmo sexo. Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 239 Os estereótipos e preconceitos relativos aos homossexuais, tendem a se intensificar quando se trata do idoso homossexual. As ausências normalmente comuns à velhice, como solidão e abandono, ganham novos tons. As dificuldades impostas refletem, inclusive, na literatura. Leal e Mendes (2017) apontam que pouco é sabido acerca da realidade do homossexual idoso, haja vista a escassa quantidade de produções que se debruçam sobre esta temática. Este silenciamento, revela uma despreocupação da academia quanto aos espaços ocupados, além de denotar um problema de saúde pública, visto que o não saber sobre as especificidades representa a ignorância em relação a necessidades e desejos intrínsecos a tal população. A mentalidade preconceituosa e o descaso, de acordo com o Portal do Idoso, gera a ineficácia dos serviços de saúde no tratamento de homossexuais idosos. Isto ocorre devido a necessidade de conhecimentos específicos direcionados a este público, caracterizando assim uma questão de irresponsabilidade das esferas políticas e públicas, que não se preocuparam em elaborar regras e leis contemplativas relacionadas as carências e demandas dos idosos homossexuais. O silenciamento evoca também a dificuldade que o país tem para respeitar a própria história, considerando que a velhice diz da passagem de tempo e da historicidade da sociedade Nas sociedades tradicionais, a figura do velho representava a sabedoria, a paciência, e transmitia os valores da ancestralidade [...] quem, através da evocação e da transmissão oral, construía uma narrativa com a qual se incorporava (fazia-se corpo) [...] o velho, então era um elemento na vida do jovem que colaborava para sua ancoragem no registro do simbólico.... (GOLDFARB, 1998, p. 11). Nota-se, aqui, a mudança quanto a compreensão que a sociedade possui em relação a vida do idoso. Atualmente, o que se percebe é um novo tipo de pensamento centrado no desejo de permanecer jovem, o que acarreta, como consequência, um desrespeito em relação à velhice e as necessidades e desejos do idoso. A negação do olhar para a velhice do homossexual aponta, também, para o medo que costuma existir quando se trata de envelhecer. A recusa de se enxergar velho está ancorada no processo de formação do Eu. Goldfarb (1998) afirma que existe um ponto de fixação narcísica que possibilita ao sujeito a crença no próprio ser, de modo que este irá trabalhar para se manter sempre da mesma forma. A velhice, no entanto, provoca uma quebra em tal estrutura, porque o corpo e a imagem que o sujeito tem sofrem transformações, que modificam o olhar para si. Deste modo, nota-se que o sujeito tende a fugir da velhice, devido a crença que perpetua quanto a ideia de que “não há mais o que viver”. No entanto, como afirmam Santos, Araújo e Negreiros (2018), é necessário entender que o desenvolvimento humano vai além 240 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 da infância, adolescência e vida adulta, existindo a possibilidade de evolução, nos mais diversos sentidos, na velhice, a depender dos caminhos trilhados e dos desejos de cada idoso. O desejo sexual se configura como uma realidade na vida do idoso. Contudo, a ideia majoritária na sociedade acredita que devido a possíveis limitações fisiológicas, o idoso perde a libido. Todavia, conforme Lemos (2015) pontua, o que ocorre, é uma readequação do corpo, baseada numa alteração comum e estrutural do ser humano, que se modifica de acordo com a passagem do tempo. A estigmatização em torno do idoso ocorre, como coloca Mucida (2009), a partir das nomeações ofertadas pelo Outro. Conforme a linguagem se torna excludente, o velho é inserido em um patamar de negação social, onde, segundo Goldfarb (1998), este passa a viver as vontades e desejos impostos por aqueles que o cercam. Evidencia-se, desta forma, que a sexualidade do idoso é reprimida por conta dos tabus e preconceitos construídos pela sociedade, que colocam a velhice num patamar de finitude e desilusão para com a vida, tornando a vivência do sujeito idoso, solitária e conflituosa. O entendimento preconceituoso que o país tem acerca da sexualidade do idoso e, principalmente, quando este é homossexual, se faz presente, por exemplo, na mídia. A telenovela Babilônia (Rede Globo, 2016), demonstra com precisão o modo que a sociedade enxerga o idoso homossexual. Isto porque a inserção de duas personagens lésbicas e idosas na história, gerou revolta e reprovação por parte da maioria do público. Efraim (2016) defende que a rejeição às personagens se deve à proximidade que a população brasileira tem em relação à teledramaturgia. Isto é, a presença de idosos homossexuais aproximam as pessoas de uma realidade que precisa, necessariamente, ser distante. O público se deparou, no caso da novela, com duas situações “de fora”, ou seja, irreais: a homossexualidade e a vida sexual de idosos. Nos termos de Souza (2003), a velhice do outro, de alguma forma, se torna uma espécie de lembrança antecipada da própria velhice. Além disso, o contato com o ser idoso, abala as estruturas fantasiosas defensivas que são construídas como uma muralha, sendo contra a ideia de sua própria velhice, numa espécie de rejeição de sua condição. Dessa forma, por trás da obsessiva necessidade de crer na juventude eterna e rejeitar a ideia de velhice, vê-se um desejo inconsciente de à inexorável lei da natureza do tempo. Assim, a rejeição as personagens idosas e homossexuais, classificam-se numa linha de pensamento centrada no conservadorismo social brasileiro, que prega a ideia de beleza jovial eterna (e inalcançável) e a noção de família centrada numa relação heteronormativa, que tenha o homem como figura central. Tais estereótipos reverberam em uma política de silenciamento das identidades do homossexual idoso. A novela Babilônia apresenta também a distinção existente no tratamento para com a mulher lésbica. A figura da idosa homossexual defronta o público com um novo Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 241 lugar ocupado pela mulher, neste caso, independente do homem. Tondato (2017) afirma que a exposição de duas mulheres idosas e lésbicas num programa de TV, levam a retirada do papel considerado natural à mulher, demonstrando que a disparidade de gênero é comum ao brasileiro, que se sente atacado ao presenciar tais figuras adentrando sua casa, ainda que por meio de um produto televisivo. O espanto para com a sexualidade da mulher lésbica idosa aponta para a crença permanente de que a mulher deve permanecer como subjugada e dependente do homem. Assim, nota-se a dificuldade da sociedade para lidar, assimilar e respeitar as novas posições ocupadas por homossexuais e mulheres na sociedade. A invisibilidade dos sujeitos homossexuais perante a sociedade, acarreta uma dificuldade maior destes acessarem os serviços de saúde. Segundo Crenitte, Miguel e Filho (2018), o medo de ser maltratado nos serviços de saúde, provoca a não busca pelo profissional de saúde. A falta de confiança no Outro, portanto, coloca os (as) homossexuais idosos (as) em uma esfera de solidão e abandono, que pode vir a provocar problemas de saúde físicos e emocionais. A idosa homossexual, mais uma vez, é afetada pelo medo de sofrer retaliações nos serviços de saúde. Deste modo, a realização de exames preventivos como a mamografia ou a coleta cérvico-vaginal, são significativamente menos realizadas por idosas lésbicas quando comparadas a mulheres heterossexuais. (CRENITTE; MIGUEL; FILHO, 2018). As atitudes dos idosos homossexuais frente a questões de preconceito, dizem muito da maneira que tais experienciaram na juventude. Santos, Araújo e Negreiros (2018), afirmam que, por terem vivido a época da Ditadura Militar (1964) e o surgimento da AIDS, nos anos 1980 (inicialmente ligada unicamente a homossexuais), por exemplo, os colocam em situação de exclusão muitas vezes inconsciente. Isto numa tentativa de manter a própria sexualidade em segredo ou o máximo possível distante dos olhos da sociedade. Tal fato reverbera em um grande número de casais de homossexuais idosos que vivem a relação em segredo em decorrência do medo de enfrentar, principalmente, as famílias que, como já pontuado anteriormente, normalmente possuem crenças voltadas para pensamentos conservadores, calcadas na religião. Ressalta-se, ainda, que essa conjuntura evoca como possibilidade a supressão da orientação sexual numa tentativa de obter uma melhor qualidade de vida, em outras palavras, muitos idosos se vêem impelidos a “voltar ao armário”, mesmo que isso signifique um retrocesso e desrespeito consigo mesmo. A repressão e o ódio direcionados a homossexuais idosos afetam a qualidade de vida e as relações destes em sociedade. A falta de suporte e apoio configura-se como um dos maiores problemas no processo de envelhecimento. A negação do Outro, implica na não aceitação de si mesmo e gera a impossibilidade de ir e vir sem amarras e/ou culpas. 242 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Desse modo, o homossexual idoso tende a viver a partir de limitações impostas por discursos que inserem a velhice num patamar excludente e a homossexualidade em uma esfera de rejeição, estranhamento e desprezo. Santos, Araújo e Negreiros (2018), defendem que o acolhimento da família pode ser um fator positivo para o enfrentamento da velhice do homossexual, visto que a rede de apoio, podendo esta vir a ser de pessoas que não possuam o mesmo laço sanguíneo, possibilita ao sujeito a crença positiva de afeto que o coloca numa seara de manifestações de cuidado e respeito, criando neste, inclusive, uma autoimagem de aceitação e amor próprio. CONSIDERAÇÕES FINAIS A homossexualidade é um construto que perpassa diversas noções sócio-históricas que implicam na imagem que o sujeito tem de si mesmo. A patologização e a ideia de pecado disseminada pela igreja, contribuem para a estereotipização das formas de vida que o homossexual vivencia. A negligência por parte dos poderes públicos acarretam problemas de saúde, que reverberam em péssimas condições de vida. O não-lugar do idoso homossexual no meio social provoca a visão negativa, isto é, a internalização da homofobia, que motiva a vergonha e a repressão do homossexual para consigo mesmo. Culturalmente e socialmente, o idoso homossexual é duplamente apagado, o que implica em um modo de vida extremamente solitário, agravado pela invisibilidade destes sujeitos. Além disso, os índices de depressão e outros transtornos mentais tendem a ser significativamente maiores quando comparadas aos idosos heterossexuais. As enunciações reproduzidas pelos discursos moldam o lugar do homossexual idoso, transformando-o num sujeito limitado com lacunas engendradas e postas por terceiros. Os discursos são representados por meio de signos preconceituosos e falas que diminuem a relevância do homossexual idoso. É comum ouvir expressões como “maricona” ou frases que atrelam a posição homossexual da mulher a falta de homem. Tais evocações são realizadas dentro do próprio meio gay, o que aponta o estranhamento que a figura do idoso homossexual provoca. A fuga à velhice e o desprezo em relação a homossexualidade tangenciam os espaços propostos ao idoso homossexual. O Brasil atual figura como um lugar propagador de preconceitos e, especialmente, neutralizador das vivências de tais sujeitos. Espera-se que os avanços em termos de respeito e dignidade prevaleçam e se sobressaiam as mesquinharias de um conservadorismo datado e vil. Portanto, julga-se necessária a construção de espaços de acolhimento não-discriminatórios com apoio da psicologia para promover escuta e ressignificação, que permitam a vivência livre da sexualidade e que possam (re)afirmar a existência desse grupo, para que o amanhã seja um lugar mais doce e agradável com Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 243 possibilidades ao idoso homossexual, e a todos aqueles que estão em posição marginal, de uma vida visível e de boas parcerias para essas velhices singulares que resistem aos estigmas e preconceitos sociais e ocupam lugares na sociedade brasileira. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. BRASIL. Lei n° 10.741, de 1º de outubro de 2003. Estatuto do Idoso. Brasília- DF, 2003. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm. Acesso em: 29 nov. 2020. BROOKS, S. K., WEBSTER, R. K., SMITH, L. E., WOODLAND, L., WESSELEY, S., GREENBERG, N. & RUBIN, G. J. 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O tema foi explorado por meio de uma revisão narrativa. Serão abordados os subtemas: mecanismos de desenvolvimento, bases genéticas e fatores associados, obesidade sarcopênica, diagnóstico, prevenção e tratamento. Uma vez que muitos idosos relatam dependência e perda de autonomia, a criação e melhoria das políticas voltadas para o acompanhamento médico e atenção à nutrição e prática de atividades físicas regulares para promover o bem-estar físico e psicossocial são indispensáveis. Considerando a relevância do tema, a falta de consenso em relação ao diagnóstico e a escassez de tratamentos, essas condições tornam-se desafios emergentes para um envelhecimento com qualidade de vida. Palavras-chave: Envelhecimento, Sarcopenia, Obesidade Sarcopênica, Saúde. INTRODUÇÃO O número de pessoas com 60 anos ou mais aumentou substancialmente nos últimos anos em diversos países. Isto decorre do avanço tecnológico que propicia melhor qualidade de vida e aumento da longevidade. Em 2018, pela primeira vez, o número de pessoas com 65 anos ou mais superou o de crianças com menos de cinco anos de idade em todo o mundo (UNITED NATIONS, 2019). De acordo com relatório World Population Prospects 2019, entre 2019 e 2050, o número de pessoas com idade igual ou superior a 65 anos deve mais do que dobrar globalmente com previsão de alcançar 1,5 bilhões de pessoas (UNITED NATIONS, 2019). No Brasil, a população de idosos teve um aumento de 7,3 milhões entre 1980 e 2000, resultando em mais de 14,5 milhões de idosos em 2000 (WORLD HEALTH ORGANIZATION - WHO, 2005). A população brasileira manteve seu crescimento em número de idosos ultrapassando 30,2 milhões em 2017, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2018). Estima-se que em 2025 haverá um aumento de mais de 33 milhões de idosos, dado que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), posiciona o Brasil como o sexto país no ranking de idosos. Essa expectativa resulta também da redução nas taxas de fertilidade e do aumento da expectativa de vida nas últimas décadas. Em 2005, 70 países já demonstravam um índice de fertilidade menor que o de reposição, o que colabora ainda mais para uma pirâmide etária com um maior número de idosos (PARAHYBA; SIMÕES, 2006; WHO, 2005). Para que a população de idosos aumente sem prejuízos socioeconômicos e à saúde são necessárias medidas para a manutenção da saúde. Segundo a OMS (2005), o envelhecimento saudável é um processo de desenvolvimento e manutenção da capacidade funcional, que envolve aspectos físicos e mentais. Além disso, o bem-estar é composto de vertentes que incluem relações sociais, sentimentos e desejos (NERI; VIEIRA, 2013; WHO, 2005). Ainda nesse contexto, Neri e Vieira (2013) ressaltam que para a melhor qualidade de vida e diminuição do índice de mortalidade é necessário pensar nas condições socioeconômicas, principalmente no que se refere aos países emergentes como o Brasil, hábitos saudáveis como dieta adequada e prática de atividade física. Dessa forma, a Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) do Brasil tem foco nos desafios acerca dos hábitos destes indivíduos utilizando orientações em grupos e consultas médicas como canal para conscientização (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018). Esta política colabora para que os idosos adotem medidas de autocuidado e auto responsabilidade no que tange a saúde, incluindo consultas médicas de rotina, exames e vacinação (KARLINSKI; FRASSETTO, 2013; VALER et al., 2015). 248 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Karlinski e Frassetto (2013) observam que muitos idosos relatam comprometimento funcional, dependência e solidão. Por essa razão, pensar em alternativas para melhor convivência durante o processo de envelhecimento proporciona a independência destes indivíduos. Desta forma, compreender este processo social, vital e multifacetado é imprescindível aos profissionais da saúde, governo e os indivíduos em questão. O envelhecimento é um processo multifatorial, definido como uma alteração do desenvolvimento e está associado a alterações da composição corporal. Esse processo é caracterizado principalmente pela perda da massa magra e da função do músculo esquelético que impacta na incapacidade ou mortalidade. Esta atrofia interfere nos resultados de força muscular, sendo denominada sarcopenia por Irwin Rosenberg em 1997. Esse termo descreve, em síntese, um declínio prevalente na massa muscular, força e função associado à idade (LEXELL; TAYLOR; SJOSTROM, 1988; ROSENBERG, 1997). De forma geral, a sarcopenia consiste de um distúrbio do equilíbrio entre a síntese e destruição de proteínas musculares. Sua prevalência varia de 3% a 24% dependendo dos critérios diagnósticos utilizados e aumenta com o decorrer da idade (BAKER; VON FELDT; MOSTOUFI-MOAB, 2014), com valores médios em torno de 10% em homens e mulheres (SHAFIEE et al., 2017). Além disso, estudos epidemiológicos indicaram que o envelhecimento muscular está associado a várias doenças degenerativas, como osteoporose, diabetes tipo II e câncer (PRADO et al., 2016; SAYER et al. 2005). A sarcopenia pode acarretar diversas consequências, pois atua na diminuição da força, potência e resistência muscular. Dessa forma, atua na redução da velocidade de movimento e reflexos. Como principal impacto encontra-se o aumento da ocorrência de quedas e a menor produtividade nas tarefas diárias em razão da diminuição da força. Verifica-se que 5% das quedas resultam em fraturas e 5 a 10% causam ferimentos que exigem auxílio médico. Para evitar este quadro é necessário um acompanhamento e avaliação da capacidade funcional (RUIZ et al., 2008; WOLFE, 2006). A falta de vitamina D e proteínas, o tabagismo e alcoolismo tornam este quadro mais presente (MARTINEZ; CAMELIER; CAMELIER, 2014; SANTOS; ANDRADE; BUENO, 2009; TEIXEIRA; FILIPPIN; XAVIER, 2012). Também existem modificações estruturais que se relacionam ao processo de envelhecimento, dentre elas a degeneração dos processos homeostáticos, perda de equilíbrio e audição (GOLL et al., 2003; PAULA et al., 2016). A sarcopenia apresenta-se como um desafio, uma vez que não há consenso em relação aos métodos de diagnóstico. Além disso, os mecanismos moleculares de desenvolvimento e as bases genéticas ainda estão sendo elucidados, bem como as inovações no tratamento Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 249 envolvem fatores éticos ou limitação de produção. Neste sentido, o objetivo deste capítulo é apresentar uma atualização acerca da sarcopenia e obesidade sarcopênica. METODOLOGIA Uma revisão narrativa foi realizada com ampla análise de publicações para caracterizar o tema e apresentar seu desenvolvimento (BERNARDO; NOBRE; JATENA, 2004). Foram utilizados artigos sobre sarcopenia e obesidade sarcopênica, assim como aspectos associados a esta condição dentre eles etnia, sexo, faixa etária, bases genéticas, tratamento e impactos sociais. Os artigos foram obtidos das bases de dados PubMed, Scielo e ScienceDirect através dos seguintes descritores de busca: “sarcopenia AND obesity”, “sarcopenia AND diagnosis OR management”, “sarcopenia AND age”, “sarcopenia AND ethnicity”, “sarcopenia AND mortality”, “sarcopenia AND genes”, “sarcopenia AND quality of life OR health” e “sarcopenia AND treatment”. RESULTADOS E DISCUSSÃO MECANISMOS DE DESENVOLVIMENTO, BASES GENÉTICAS E FATORES ASSOCIADOS Estudos epidemiológicos apontam que a perda de neurônios motores, dieta inadequada e baixo índice de atividade física regular atuam no desenvolvimento da sarcopenia. Entretanto, estas características também podem ser encontradas em indivíduos saudáveis, resultando em um aumento da perda de massa muscular ao longo dos anos (ALWAY; MOHAMED; MYERS, 2017; LEXELL; TAYLOR; SJOSTROM, 1988). O músculo é o maior órgão do corpo, sendo composto por miócitos contráteis que funcionam por meio de neurotransmissores como acetilcolina e dopamina. Conforme o envelhecimento progride, ocorre uma disfunção mitocondrial devido a diminuição da enzima antioxidante aumentando a ativação de vias de apoptose e reduzindo a regeneração muscular. Ainda, este processo leva a perda de neurônios motores, que atuam na atrofia muscular e na perda de força (ALWAY; MOHAMED; MYERS, 2017; LEXELL; TAYLOR; SJOSTROM, 1988). O músculo esquelético é responsável por alta porcentagem da massa corporal e é afetado conforme ocorre a perda de massa muscular. Ele é importante pois capta a glicose circulante e libera aminoácidos. A massa muscular esquelética, o número e o tamanho das fibras são variáveis. A diminuição da quantidade e atrofia de fibras é a principal causa desta desordem de desenvolvimento e, no decorrer dos anos, as fibras de contração rápida 250 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 e lenta diminuem em quantidade e tamanho, gerando menor velocidade de movimento do idoso (BRUNNER et al., 2007). É importante ressaltar que esta condição pode decorrer de uma contração muscular inadequada e isto pode acontecer por alterações nas proteínas que atuam na contração muscular, actina e miosina, ou por estresse oxidativo nas células. Já o início da progressão da sarcopenia, pode estar ligado a perda de miócitos via apoptose, o que ocorre mais facilmente em fibras tipo II. A perda de massa muscular envolve processos bioquímicos como cascatas de sinalização intracelular para apoptose, o aumento da degradação proteica e a redução da ativação das células-satélite que colaboram para a regeneração muscular. A relação deste processo e da sarcopenia, pode ser observada a partir de um modelo de inervação muscular em camundongos, pois, após evidências de apoptose, observou-se sintomas iniciais da atrofia muscular (BRUUSGAARD; GUNDERSEN, 2008). Estudos mostram que marcadores inflamatórios influenciam na quantidade, qualidade e funcionalidade muscular. A inflamação ocorre devido a diminuição das concentrações séricas de hormônios como a testosterona, hormônio do crescimento (GH), insulina e nome fator de crescimento semelhante à insulina 1 (IGF-1). Estes fatores atuam no catabolismo muscular e ocorrem naturalmente conforme o envelhecimento. A queda do GH e IGF-1 culmina em um déficit de células satélites e da síntese proteica (KIM et al., 2014). Embora a sinalização inflamatória tenha sido implicada na patogênese da sarcopenia em animais, poucos estudos investigaram a associação entre fatores circulantes e massa muscular, especialmente em pacientes antes e depois de intervenções no estilo de vida (LI, 2019). Ademais, o sono é um fator importante para um metabolismo eficaz de proteínas musculares, pois a redução da qualidade do ritmo circadiano desencadeia a redução neuromuscular, a modificação da composição corporal e a resistência à insulina (MARGUTTI; SCHUCH; SCHWANKE, 2017). Outro mecanismo que desencadeia a sarcopenia está relacionado à irisina, peptídeo produzido pelos miócitos durante o exercício físico. É possível, portanto, controlar o ganho de gordura ao induzir uma resposta de escurecimento na gordura branca, determinando um aumento da termogenina (UCP1) e do gasto de energia. Assim, estimula-se a diferenciação e o crescimento de miócitos, determinando a expressão de níveis elevados de IGF-1, e diminui-se os níveis de miostatina, por meio de uma via extracelular regulada por proteínas quinases dependentes (COLAIANNI et al., 2017). Assim, a redução da atividade física com o envelhecimento pode determinar um declínio na produção de irisina pelo músculo, o que leva ao aumento da massa gorda e, consequentemente, à obesidade sarcopênica (ZAMBONI; RUBELE; ROSSI, 2019a). A diminuição da massa muscular está relacionada a perda de força, por isso foram propostos estudos para constatar a possível herdabilidade da força, ou seja, o quanto da Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 251 força observada se deve aos genes. Assim, ao avaliar a força do cotovelo, preensão palmar e extensão de joelho, a herdabilidade foi estimada em 56, 66 e 61%, respectivamente, o que demonstra um valor expressivo da contribuição genética. (SILVENTOINEN et al., 2008). Para avaliar a expressão de genes na sarcopenia, são utilizados modelos animais. Desta forma nota-se que modelos de atrofia demonstram uma maior expressão gênica de Fbxo32 e Trim63, genes que fazem parte da via do proteassomo/ubiquitina, a qual é responsável por degradar proteínas. Entretanto, não foi possível confirmar estes achados em humanos, possivelmente devido à dificuldade de replicar os mecanismos complexos e fatores específicos da doença que envolvem o músculo esquelético humano. Desta forma, são necessárias pesquisas que utilizem amostras de tecido humano para esclarecer as vias de sinalização que culminam na diminuição percentual de músculo esquelético e assim encontrar possível alvos terapêuticos (EHMSEN; HÖKE, 2020). A técnica mais utilizada para o estudo de genes e massa muscular é denominada microarranjo de DNA, por contribui para a identificação de mudanças moleculares [*] e pode ser utilizada para estudar o impacto do envelhecimento da massa muscular e identificar os mecanismos moleculares da sarcopenia. Entretanto, os diferentes métodos de análise podem impedir a comparação entre diferentes estudos. A relação entre células musculares e adaptações provenientes do exercício está sendo estudada atualmente e isso permite que os mecanismos relacionados a condições clínicas que afetam o metabolismo muscular ou sua funcionalidade sejam compreendidos. Por isso o transcriptoma, ou seja, o conjunto de transcritos de RNA expressos do genoma, de Vissing e Schjerling (2014) elucida sobre a indução e repressão de genes ligados à hipertrofia muscular IGF1, PPARGC1A, BMPR1A, ASB15, CAST, KLF10 e AGTR1. Nesse estudo foram coletadas amostras pré e pós treinamento e após a coleta foram iniciados os treinos três vezes na semana, incluindo ciclismo e exercícios para as pernas. A ideia era promover o ganho de massa muscular e analisar a expressão dos genes conforme sua modificação pós-treino. A partir desta análise, foi observado que a expressão é alterada em cerca de 10% após exercícios de resistência. A síntese de proteínas musculares, que se relaciona intensamente com o desenvolvimento da sarcopenia, está ligada a vias de sinalização como a IGF1-PI3K-AKt, que colabora para a hipertrofia do músculo esquelético ao mTOR, que por sua vez, depende da alimentação. Isto é relevante pois pode ser utilizado enquanto alvo terapêutico em estudos futuros (EGERMAN; GLASS, 2014). Com relação ao acúmulo de gordura, o grande fluxo de lipídeos regula os receptores ativados por proliferadores de peroxissoma (PPAR), ocasionando disfunção mitocondrial e a ativação de P53, uma proteína supressora de tumor codificada pelo gene TP53, cujo aumento 252 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 de sua concentração a longo prazo desenvolve a atrofia do músculo esquelético em pessoas idosas. Por este motivo, também são considerados genes relacionados ao armazenamento de lipídeos: NTRK1, CUL3 e TP53. Estes genes são altamente expressos em mulheres mais velhas e por isso podem estar relacionados a massa muscular envelhecida. Desses, o TP53 foi o que apresentou maior relação com o desenvolvimento da sarcopenia, visto que é um regulador do ciclo celular e apoptose e, por isso, está envolvido no envelhecimento muscular (CONTE et al., 2013; SHAFIEE et al., 2018; WANG et al., 2009). Polimorfismos de único nucleotídeo (SNP) em diferentes genes podem modular a longevidade e a saúde muscular, inclusive a sarcopenia. Um estudo que envolve o SNP rs7903146 do gene TCF7L2 observou que as frequências genotípicas variam de acordo com a diminuição da saúde/longevidade e o aumento gravidade da diabetes tipo 2, de modo que o genótipo TT foi menos frequente em idosos centenários e mais frequente em sujeitos com diabetes e com complicações vasculares. No que se refere à composição corporal, o alelo T tem sido associado a maior risco para diabetes tipo 2 em menor IMC, enquanto que o alelo C é relacionado com status de obesidade e traços associados (GIULIANI et al., 2017). O Estudo Longitudinal do Envelhecimento testou os efeitos da adiponectina (AdipoQ) na massa muscular e o seu risco para sarcopenia. A AdipoQ sérica foi significativamente maior na sarcopenia em comparação com indivíduos normais e diferiu para alguns genótipos do SNP rs3865188 (SHIMOKATA, 2017). Apesar desses exemplos, estudos adicionais são indispensáveis para a compreensão das bases genéticas da sarcopenia. Fatores como etnia, sexo e idade também influenciam na ocorrência da doença, o que é demonstrado por Obisesan, Aliyu e Rotimi (2005) ao ressaltar a queda exponencial do índice de massa livre de gordura (IMLG) e IMC conforme o avanço da idade, o que foi evidenciado em ambos os sexos. Homens brancos e negros atingiram o pico de IMLG por volta dos 51-54 anos, enquanto as mulheres entre 55 e 59 anos. Goodpaster e colaboradores (2006) também demonstraram que a perda de massa muscular magra em homens é maior do que em mulheres da mesma etnia e que os idosos negros perderam proporcionalmente mais força que os brancos, apesar de sua menor perda muscular. Silva e colaboradores (2010) corroboram ao ressaltar que a etnia, idade e sexo estão relacionados à qualidade muscular e composição corporal. Os negros de ambos os sexos apresentam uma melhor qualidade muscular até os 80 anos quando comparada às demais etnias. Todavia, homens negros e brancos apresentam um declínio significativo de massa muscular a partir dos 60 anos, representado o dobro da perda de mulheres da mesma faixa etária e etnia e em hispânicos essa taxa atingiu até 4 vezes mais. Janssen e colaboradores (2000) afirmam que em mulheres e homens de 18 a 29 anos, a massa muscular compõe 6% e 4%, respectivamente, da massa corporal e que as mulheres, Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 253 em geral, possuem um menor (IME) em relação aos homens. Segundo Sinha – Hikim e colaboradores (2002) isso pode ser atribuído aos baixos níveis de testosterona, a qual promove a hipertrofia muscular. Pesquisas apontam que a força muscular está em seu auge aos 30 anos de idade e a perda varia de 1 a 2% por ano a partir desta faixa etária, em homens e mulheres, sendo que grande parte é mantida até os 50 anos (LIMA et al., 2016; STENHOLM; ALLEY; FERRUCCI, 2009). Após os 50 anos de idade, a perda de força pode ser afetada em 20 e 40% de seu total inicial e a taxa de diminuição de massa muscular atinge entre 8% a 15% por década. Esta diminuição é maior após os 60 anos, e idosos com mais de 90 anos têm esta taxa em torno de 50% (STENHOLM; ALLEY; FERRUCCI, 2009). Recentemente, Du e colaboradores analisaram um grupo de 4367 voluntários americanos entre 18 e 65 anos, sendo 2458 pessoas maiores de 65 anos, com o objetivo de calcular a prevalência da sarcopenia e obesidade sarcopênica em diferentes grupos étnicos com o avanço da idade. A pesquisa observou uma associação entre o tecido muscular esquelético e a idade de forma semelhante até os 27 anos em diversas etnias e sexo. Após este período, os homens apresentam maior queda de qualidade muscular, embora o sexo masculino possua maior massa muscular absoluta. Observou-se ainda que após os 27 anos os indivíduos brancos sofrem uma maior perda de massa muscular, demonstrando uma relação entre a etnia, idade e a sarcopenia. Além disso, a prevalência foi maior em indivíduos brancos do que em negros, atingindo quase o dobro da probabilidade (DU et al., 2018). Em síntese, a sarcopenia é mais frequente em indivíduos brancos, já que a perda muscular e de força é mais presente e a perda muscular progride mais rapidamente em homens após os 60 anos se comparados a mulheres. No entanto, nesta faixa etária a perda é significativa em ambos os sexos. OBESIDADE SARCOPÊNICA A sarcopenia também contribui para a perda de massa óssea e, em conjunto com a obesidade, diminui ainda mais a mobilidade (MUELLER et al., 2016). Vários estudos indicam que, quando a obesidade e o comprometimento muscular coexistem, eles atuam sinergicamente sobre o risco de mortalidade, agravamento da incapacidade, doenças cardiovasculares, DPOC e outras condições desfavoráveis à saúde (ZAMBONI; RUBELE; ROSSI, 2019b). Para determinar se existe relação entre a força muscular e mortalidade em função da idade, foram analisados homens com idades maiores e menores a 60 anos em categorias que os classificavam por massa corporal e aptidão física. Além disso, foi examinada a aptidão cardiorrespiratória e comparada cada combinação de fatores por indivíduo. Desta 254 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 forma, constatou-se que estes aspectos têm forte relação com riscos no dia-a-dia e, portanto, mortalidade em geral (RUIZ et al., 2008). No estudo Health and Nutrition Examination Survey - NHANES (1999–2004), Van Aller (2019) demonstrou que a obesidade sarcopênica aumenta o risco de mortalidade em pessoas com idade entre 50-70 anos, mas não em pessoas com 70 anos ou mais. Resultados semelhantes foram observados em outro estudo longitudinal do envelhecimento (HAMER; O’DONOVAN, 2017). Cabe ressaltar que, mais recentemente, estudos que consideram medidas de qualidade muscular, como força de preensão palmar (FPP), em vez de massa muscular, observaram uma relação forte entre obesidade sarcopênica e mortalidade (ÖZTÜRK, 2018; ROSSI, 2017; SANADA et al., 2018). A obesidade sarcopênica é muito comum em idosos, pois estes indivíduos possuem maior desequilíbrio hormonal e desenvolvem resistência ao hormônio leptina, o que contribui para depositar gordura, principalmente na região abdominal (CHOI, 2016; ZAMBONI; RUBELE; ROSSI, 2019b). Essa doença consiste na perda de massa magra com índice de gordura preservado ou aumentado e ainda, pode estar dentro da normalidade do IMC dependendo do fenótipo (KALINKOVICH; LIVSHITS, 2017). A patogênese inclui envelhecimento, inatividade física, desnutrição, inflamação de baixo grau, resistência à insulina e alterações hormonais (WANG et al., 2020). O acúmulo de gordura está relacionado a um processo inflamatório, onde há o acúmulo de macrófagos pró-inflamatórios, citocinas e quimiocinas inflamatórias, o que induz uma disfunção mitocondrial e o aumento de espécies reativas de oxigênio culminando em um ambiente lipotóxico, que desencadeia um quadro de resistência e catabolismo muscular (CHOI, 2016; ZAMBONI; RUBELE; ROSSI, 2019b). A infiltração de gordura no músculo pode representar uma sobrecarga na locomoção, reduzindo a qualidade muscular e o desempenho físico (CRUZ-JENTOFT et al., 2010), ocasionando a infiltração de macrófagos e a liberação de TNF-α, IL-6, IL-1 e adipocinas (NARICI; MAFFULLI, 2010). Dados do NHANES revelam taxas de obesidade sarcopênica iguais a 12,6% em homens e 33,5% em mulheres (BATSIS et al., 2017). Com o rápido crescimento da população idosa em todo o mundo, estimou-se que essa condição afetará de 100 a 200 milhões de pessoas de 2016 a 2051 (LEE; SHOOK; BLAIR, 2016). Embora a obesidade sarcopênica seja mais comum em pessoas mais velhas devido às mudanças naturais na composição corporal, estima-se que pessoas mais jovens com obesidade classe II ou III também sejam vulneráveis (WANG et al., 2020). A definição de obesidade sarcopênica ainda está em discussão e cria dificuldades na prática clínica (ZAMBONI; RUBELE; ROSSI, 2019a). A primeira definição foi proposta no início de 2000 e enfatizou a incompatibilidade quantitativa entre músculo e massa gorda, ou seja, a Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 255 presença de baixa massa muscular absoluta ou relativa associada a IMC superior a 30 ou com alta massa total ou percentual de gordura, conforme avaliação por absorciometria de raio-X de dupla energia (DXA) ou análise de bioimpedância elétrica (BIA) (ZAMBONI et al., 2008). Um estudo recente demonstrou que a obesidade sarcopênica pode estar associada ao maior risco de deficiência mental e menor desempenho na cognição global, em comparação com indivíduos com apenas obesidade ou sarcopenia (TOLEA; CHRISPHONTE; GALVIN, 2018). Embora o impacto da sarcopenia tenha sido bem demonstrado, o efeito da obesidade sobre ela surge como um novo problema de saúde pública (KOLIAKI et al., 2019). Em comparação com a simples sarcopenia ou obesidade sozinha, as sequelas médicas relacionadas à obesidade sarcopênica são muito maiores e, de certa forma, ainda não conhecidas na totalidade, causando custos de saúde significativamente mais elevados (XIE et al., 2019) e caracterizando um grande desafio contemporâneo. Devido à relação entre a obesidade sarcopênica e as comorbidades já citadas, as células que atuam no armazenamento de gordura, os adipócitos, também possuem um papel fundamental. Estas células regulam a temperatura corporal e a produção de diversas moléculas, além de estarem positivamente ligadas a incidência de inflamação, ou seja, quanto maior o tamanho da célula, maior a secreção de adipocinas pró-inflamatórias. Portanto, o ganho de peso pode determinar um aumento no tamanho da célula adiposa e, consequentemente, um desequilíbrio entre adipocinas pró e anti-inflamatórias. Além disso, com o envelhecimento, as células adiposas também apresentam um perfil pró- inflamatório mais elevado (CINTI; GIORDANO, 2020). A AdipoQ é a única adipocina com ação anti-inflamatória e sensibilizadora de insulina. Kalinkovich e Livshits (2017) destacam que a sarcopenia está ligada a menores concentrações de AdipoQ e maiores de proteína C reativa ultrassensível (PCR-us), outro importante indicador de inflamação. Já o baixo desempenho físico está ligado a menores concentrações citocinas inflamatórias como IL-10 e maiores de IL-6 e TNF-α. Segundo os autores, mulheres e idosos com obesidade sarcopênica apresentam menores concentrações de AdipoQ, pois esta adipocina é negativamente associada à massa muscular, devido à falta de controle do fator nuclear kappa B (NF-Kb) (FANG; JUDD, 2018). Ainda, a AdipoQ teve uma correlação negativa com a espessura do músculo anterior médio da coxa e o IME. Dessa forma, essa molécula pode ser um bom marcador de sinalização ligado à inflamação, má nutrição e perda muscular (SAWAGUCHI; NAKAJIMA; INOUE, 2019). O metabolismo, a capacidade funcional, a concentração de cálcio e a capacidade regenerativa são fortemente induzidos pelo aumento da expressão da AdipoQ. Por outro lado, indivíduos com obesidade e pré-diabetes possuem uma menor expressão. Estas variáveis estão diretamente associadas à prática de atividade física, a qual melhora a sensibilidade 256 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 à insulina, a manutenção do músculo esquelético e a memória positiva na força muscular contra a sarcopenia precoce (KRAUSE, 2019). Já os receptores da AdipoQ (ADIPOR1 e 2) auxiliam na regulação de processos metabólicos, incluindo o fluxo de glicose, resposta à insulina e degradação de lipídios. Recentemente, a diminuição da ativação do o adipoR1 está associada à perda de massa óssea em camundongos e deficiência de estrogênio, sendo um fator indutor de sarcopenia e resistência à insulina (CHINA, 2017). Segundo Li e colaboradores (2019), algumas citocinas pró-inflamatórias estão associadas ao aparecimento de sarcopenia e suas graves mudanças nos idosos, as quais são mais propensas ao sexo feminino. Os fatores de crescimento semelhantes a insulina e AdipoQ foram significativamente mais baixos em pacientes com sarcopenia o TNF-α foi correlacionado a um maior risco para o desenvolvimento da doença, sendo estimado entre 7 e 14 vezes maior. Outro fator que atua na perda de massa muscular, principalmente com relação à caquexia é a interleucina-6 (IL -6), que é secretada por macrófagos e linfócitos e está associada ao controle de respostas imunes. No músculo esquelético, três vias de sinalização intracelular estão ligadas a esta citocina: JAK/STAT3, ERK e PI3K/Akt (CARSON; BALTGALVIS, 2010). Entretanto, a ativação da via JAK/STAT3 já é suficiente para induzir a perda muscular, isto porque a elevação de sua expressão está associada a lesões no tecido muscular, porém este aumento pode ocorrer independentemente deste fator (BONETTO; AYDOGDU; ZIMMERS, 2012). Isto foi demonstrado no estudo de Wallenius e colaboradores (2002), onde ratos deficientes em IL-6 desenvolveram obesidade e quando tratados por 18 dias com a IL-6 demonstraram rápida perda muscular. DIAGNÓSTICO, PREVENÇÃO E TRATAMENTO O diagnóstico geralmente é realizado por um clínico geral ou um geriatra e tem como objetivo estimar o volume muscular. Os métodos mais empregados para tal fim são: Tomografia computadorizada, absorciometria radiológica de dupla energia, BIA, antropometria e ressonância magnética, sendo esta última menos usual devido ao alto custo.. Desta forma, é possível avaliar a composição corporal e estimar a quantidade de gordura, massa magra e taxas metabólicas com indivíduo. A sarcopenia possui uma frequência entre 3 a 30%, dependendo do instrumento utilizado. Com relação a medidas de prevenção, são estudados métodos para evitar a progressão da perda de massa muscular (MARTINEZ; CAMELIER; CAMELIER, 2014). Embora a sarcopenia relacionada à idade seja considerada sarcopenia primária, vários estados de doença, por exemplo, diabetes mellitus (LICCINI; MALMSTROM, 2016; MORLEY; MALMSTROM, RODRIGUEZ-MAÑAS, 2014), hipogonadismo masculino (SHIN; YEON; KIM, Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 257 2018) e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) (MORLEY, 2011; VAN DE BOOL et al., 2017) podem produzir sarcopenia secundária. O Escore Prognóstico de Glasgow (albumina sérica baixa e proteína C reativa elevada) pode ser usado para distinguir sarcopenia secundária da caquexia, uma condição metabólica multifatorial que se caracteriza pela diminuição da massa muscular com ou sem perda de massa gorda. A caquexia é comum em indivíduos com doenças como câncer, DPOC e doença renal crônica (DRC) e pode estar associada a fadiga, anorexia e ao aumento dos marcadores inflamatórios (DOUGLAS, MCMILLAN, 2014; PRADO et al., 2016; SAYER et al. 2005). No que se refere a doenças respiratórias, o tabagismo está relacionado a este desenvolvimento, ocasionando o aumento da mortalidade em indivíduos com baixa massa muscular (DENT et al., 2018). O prejuízo decorrente desta condição fomentou o desenvolvimento de um método para calcular o índice de sarcopenia relativa. Este cálculo engloba a massa muscular esquelética, estimada por meio da análise de BIA, dividida pela massa corporal × 100, representando assim a porcentagem de massa muscular sobre a massa corporal do indivíduo. Com base neste cálculo, desenvolveu-se um modo de classificar a sarcopenia. Sendo a sarcopenia classe I presente em indivíduos com resultado entre uma e dois desvios-padrões dos valores de adultos jovens e a classe II em indivíduos com índice de músculo esquelético (IME) abaixo deste padrão. A identificação de sarcopenia utilizando somente o índice de IME classifica a doença em três estágios: ausência de sarcopenia (IME≥6,76kg/ m²), sarcopenia moderada (IME 5,76 – 6,75kg/m²) e sarcopenia grave (IME≤5,75kg/m²). Entretanto, esta classificação é pouco utilizada na prática clínica, sendo mais utilizada em pesquisas (CRUZ-JENTOFT; SAYER, 2019; PAULA et al., 2016). A correlação entre os resultados de exames e testes funcionais é mais eficaz para realização da análise. Além disso, existem diferentes critérios que podem ser utilizados: European Society of Clinical Nutrition and Metabolism (ESPEN) e Global Leadership Initiative of Malnutrition (GLIM) (CEDERHOLM et al., 2015; LEONE et al., 2014; NETA et al., 2018). O critério ESPEN propõe duas maneiras de diagnóstico da desnutrição: o índice de massa corporal (IMC) abaixo de 18,5 kg/m² ou a avaliação da perda de peso não intencional combinada a um baixo IMC considerando a idade, sendo considerado relevante um índice menor que 20 kg/m² em menores de setenta anos e menor que 22 kg/m² em maiores que esta faixa etária (CEDERHOLM et al., 2015). Já o critério GLIM, engloba um aspecto fenotípico e um etiológico. Dentre os fenotípicos são considerados: perda de peso involuntária, quando acima de 4,5 kg, IMC, e diminuição da massa muscular. Quanto aos etiológicos, são considerados: a menor assimilação de nutrientes ou perda de apetite, comorbidades associadas e inflamação (CRUZ-JENTOFT; SAYER, 2019). 258 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Beaudart e colaboradores (2019) realizaram um estudo 534 participantes da Bélgica, de moradia comunitária e com 65 anos ou mais. Estes foram recrutados a partir de anúncios da imprensa com o objetivo foi avaliar uma possível relação entre desnutrição e a incidência da sarcopenia. A doença foi confirmada a partir de baixa resistência e baixo índice de massa muscular. A desnutrição segundo o critério ESPEN estava presente em 19 indivíduos e segundo critérios GLIM em 59. Os participantes com desnutrição apresentaram um risco 4 vezes maior para sarcopenia. No decorrer dos 4 anos novos casos de sarcopenia e de sarcopenia grave foram relatados, destacando importância da análise muscular e funcional para prevenir a doença. É importante destacar que existem outros aspectos envolvidos, como comprometimentos adicionais na função muscular que têm relação com doenças crônicas, hospitalizações e inatividade em geral. Dessa forma, os serviços de saúde precisam atuar no diagnóstico e na diminuição dos fatores de risco, além de contribuir para o tratamento daqueles já acometidos por esse déficit (SANTOS; ANDRADE; BUENO, 2009; TAVARES et al., 2015; ZHONG; CHEN; THOMPSON, 2007). Apesar de ser um importante parâmetro, o índice de massa corporal (IMC)1não é a melhor abordagem para o diagnóstico da sarcopenia, pois não diferencia massa magra e massa gorda e a progressão da idade influi em doenças crônicas e, consequentemente, perda de peso. Por isso, muitos autores afirmam que existe menor associação do IMC e mortalidade em idosos do que em jovens. Entretanto, foi apontado um aumento linear no risco de mortalidade em adultos e idosos com maior circunferência da cintura e relação cintura/ quadril, mesmo que estes estejam dentro da faixa exigida pelo IMC. Contudo, este cálculo vem sendo utilizado enquanto indicador do estado nutricional e como análise de risco para diversas doenças (LEONE et al., 2014; NETA et al., 2018). O IMC está relacionado à massa corporal e altura, no entanto é necessário o resultado deste cálculo e medidas ligadas à gordura corporal e massa muscular como densitometria, BIA, pregas cutâneas e relação cintura/quadril (LEONE et al., 2014; NETA et al., 2018). Nas mulheres, a correlação entre IMC e obesidade sarcopênica é mais forte do que nos homens, em todas as faixas etárias, mas conforme a progressão do envelhecimento, esta diferença diminui. No decorrer da vida, a porcentagem de gordura corporal é redistribuída ou sofre um aumento de massa gorda, o que ocorre principalmente na região intra-abdominal e intramuscular. Esta mudança de conformação decorre conforme a diminuição da massa óssea, muscular e da água, sendo acompanhada de outras mudanças (NAGAYA et al., 1999). Outro desafio para a utilização deste cálculo em idosos é a medição da estatura, pois é comum os indivíduos utilizarem cadeiras de rodas ou estarem acamados o que os impede 1 Esta classificação tem como objetivo estimar o estado nutricional. Desta forma, são adotados intervalos para determinar o estado nutricional corporal. São eles: grau I - magreza leve (IMC 17,0-18,49kg/m2 ); grau II - magreza moderada (IMC 16,0-16,99kg/m2 ); grau III - magreza intensa (IMC<16,0) (WHO, 1995). Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 259 de ficar de pé e muitas vezes resulta em medidas errôneas. Demais aspectos importantes são: o maior índice de adiposidade presente em mulheres e doenças como escoliose e osteoporose, que atuam na diminuição da estatura e do peso corpóreo (JACKSON et al., 2002). Assim, Lipschitz (2015) propõe um modelo que considera estas questões usando os seguintes pontos de corte para a classificação: desnutrição (IMC<22 kg/m²), eutrofia (IMC≥22 kg/m² e <27 kg/m²) e obesidade (IMC≥27 kg/m²), sendo considerados com sarcopenia os indivíduos desnutridos ou com baixo índice de massa muscular, ainda que dentro dos critérios. Para pacientes acamados são utilizadas medidas alternativas como altura do joelho, comprimento do braço, circunferência da panturrilha, do braço e abdominal, pois grande parte das instituições não detém potencial econômico para utilização de balanças para pesar o paciente no leito, BIA e adipômetros (RABITO et al., 2006). Além dos exames, podem ser utilizados testes funcionais para avaliar o nível de perda muscular em consideração a idade, massa corporal, estatura, IMC, comorbidades, polimedicação, IME e testes específicos para uma análise com maior confiabilidade. Dentre os testes avalia-se a FPP obtida na dinamometria manual e existe o Timed Up and Go (TUG), que consiste no idoso sentando-se em uma cadeira de aproximadamente 46 centímetros e levantando sem a ajuda dos braços, em seguida o paciente deve caminhar em uma linha reta de 3 metros distância, girar, e retornar à cadeira. O tempo gasto é cronometrado e é utilizado como parâmetro. Até 10 segundos o tempo é considerado normal, entre 11 e 20 segundos é comum em idosos frágeis, mas é um valor médio. Entre 21 e 29 segundos, a avaliação funcional é obrigatória para atuar na prevenção de quedas e 30 segundos ou mais demonstra alta perda de funcionalidade e risco para quedas (NETA et al., 2018; PAULA et al., 2016). Existe também o teste de Velocidade de Marcha (VM), em que o participante caminha aproximadamente 10 metros em linha reta. O tempo dividido pela distância calcula a velocidade da marcha (m/s), se abaixo de 0,8 m/s é considerada sarcopenia grave. Estes testes funcionais colaboram para a estimativa do fator de risco e diagnóstico (NETA et al., 2018; PAULA et al., 2016). Além disso, muitos pesquisadores correlacionam estes dados à circunferência da cintura (CC) e relação cintura/quadril e estatura (LEONE et al., 2014). Os pontos de corte da OMS classificam enquanto risco moderado mulheres com CC entre 80 cm e 88 cm e como alto taxa de risco ≥88 cm, já em homens, o risco moderado ocorre a partir dos 94 cm e a alta taxa de risco a partir de 102 cm (WHO, 1995). Ademais, a circunferência da panturrilha também é comumente utilizada enquanto teste funcional e um valor inferior a 31 centímetros é utilizado para indicar diminuição de massa muscular. Por isso, medidas podem ser importantes para a avaliação de risco (GADELHA et al., 2014; PAULA et al., 2016). Definições alternativas foram posteriormente propostas, usando área de gordura visceral ou circunferência da cintura em vez de IMC ou massa de gordura, juntamente com a 260 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 massa muscular total ou apendicular (ZAMBONI; RUBELE; ROSSI, 2019a). Recentemente, foram propostas definições de obesidade sarcopênica que consideram o comprometimento muscular, expresso pela força muscular, ao invés da massa muscular, associado à CC o que levou à introdução do conceito de obesidade abdominal dinapênica (DAO), que é avaliada em conjunto com o IMC ou exames específicos (ROSSI et al., 2017). O conceito de obesidade dinapênica é importante pois esta variável desencadeia limitação funcional e dificuldade na mobilidade, bem como maior risco de óbito e quedas (BOUCHARD; JANSSEN, 2010; SÉNÉCHAL; DIONNE; BROCHU, 2012) Com base nas possíveis causas subjacentes da sarcopenia, ou seja, a desnutrição, inflamação e falta de exercícios, foram realizados ensaios clínicos para avaliar o potencial do uso de exercícios e suplementos para o ganho de massa e força muscular, manutenção do cálcio e da vitamina D. Os resultados mostraram grande eficácia de exercícios aeróbicos ou de resistência na diminuição dos sintomas e comorbidades associadas a sarcopenia, o que decorre da mudança de perfil secretório e diminuição da expressão ou ativação de citocinas inflamatórias e genes que atuam no desenvolvimento da doença. Além disso, o tratamento também contribui para a melhora da sintomatologia de doenças cardiovasculares, neurodegenerativas, pulmonares crônicas, câncer, diabetes e obesidade (LO et al., 2020). Os exercícios atuam na diminuição das concentrações sistêmicas de citocinas inflamatórias que promovem o ganho de massa gorda, atrofia muscular ou resistência à insulina, além de aumentar o débito cardíaco e o volume sanguíneo. Dessa forma, este hábito evita a regulação positiva da apoptose e consequentemente o envelhecimento ou diminuição da quantidade miócitos. Já a alimentação recomendada por especialistas, auxilia na hipertrofia muscular ou para evitar a perda de massa magra. Todos os fatores citados em conjunto colaboram para a prevenção e tratamento da doença (PEDERSEN; SALTIN, 2015; EGAN; ZIERATH, 2013). Considerando os estudos recentes que destacam a importância da AdipoQ na sarcopenia, Krause (2019) prevê esta citocina como potencial terapêutico, uma vez que ela é observada no desenvolvimento muscular, renovação protéica e regulação da sinalização inflamatória, o que colabora para a o desenvolvimento de possíveis fármacos (KRAUSE, 2019). No entanto, ainda são necessários estudos com relação aos fatores associados à sarcopenia, pois ela impacta diretamente o indivíduo de forma que estratégias de prevenção e tratamento colaboram para o bem-estar e independência do paciente (MARTINEZ; CAMELIER; CAMELIER, 2014). Além das abordagens tradicionais, estão em estudo protocolos utilizando células- tronco adultas e embrionárias para regeneração muscular, bem como o secretoma, ou seja, o conjunto de moléculas secretadas por células, tecidos ou órgãos que contribuem para renovação Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 261 muscular, pois possuem componentes anti-inflamatórios, portanto, potencial de promover a regeneração muscular continuada. Para diminuir a taxa de rejeição do tratamento os pacientes recebem aplicação de esteroides. Atualmente, a introdução dos fatores secretores tem sido mais aceita do que a terapia celular, visto que pode permitir a regeneração do tecido com menor rejeição e custo. Entretanto, este tipo de tratamento ainda é limitado pela ética ou capacidade de produção (LO, et al., 2020). CONCLUSÃO Foi realizada uma atualização com relação à sarcopenia e obesidade sarcopênica, doenças com alta prevalência na população idosa e que resultam da diminuição da massa muscular. Esta doença está relacionada à perda de neurônios motores, dieta ineficiente, baixo índice de atividade física e fatores genéticos. Com relação aos impactos, o principal deles é a queda, que tem sua frequência aumentada e risco em função da perda de força muscular e funcionalidade em geral. A sarcopenia e a obesidade sarcopênica são desafios para a saúde pública, uma vez que não há consenso em relação aos métodos de diagnóstico e envolve diversos parâmetros como exames clínicos, sendo BIA e DXA os principais, IMC, além da CC, FPP, TUG e VM. São mais comuns em brancos e progride mais rapidamente em homens após os 60 anos se comparados a mulheres. No entanto, nesta faixa etária a perda é significativa em ambos os sexos. Com o aumento da população idosa, a prevalência será cada vez maior. Portanto, o conhecimento da gênese, prevenção e tratamento é necessário para a maior longevidade e bem-estar da população. A diminuição da massa muscular está relacionada a comorbidades como diabetes, osteoporose, DPOC e doenças cardiovasculares, além de atuar como agravante no índice de mortalidade. A obesidade sarcopênica mostra que esta condição não está restrita apenas aos indivíduos com baixo IMC, o que dificulta o diagnóstico, e o acúmulo de gordura está relacionado a um processo inflamatório, resultando na resistência a hormônios como a insulina. Dentre as principais citocinas que atuam no desenvolvimento da sarcopenia encontram-se a IL-10, IL-6 e TNF-α. Sendo que o baixo desempenho físico está relacionado a menores concentrações de IL-10 e maiores de IL-6 e TNF-α. Para prevenção e tratamento da doença, são recomendados exercícios, aeróbicos ou de resistência, para o ganho de massa e força muscular, pois possibilitam a alteração da expressão de genes relacionados à sarcopenia. É realizada a manutenção do cálcio e da vitamina D e implementada uma dieta para a melhor absorção de nutrientes. Protocolos de tratamento com células-tronco e com moléculas importantes para a função e renovação muscular também se encontram em estudo. Nesse contexto, a proteína AdipoQ possui 262 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 um papel importante no metabolismo da glicose e ação anti-inflamatória, e sua utilização enquanto fármaco está em estudo. Além disso, a abordagem terapêutica adequada deverá seguir a tendência do cuidado centrado no paciente e da medicina personalizada. Por fim, as Políticas públicas, conscientização da população idosa acerca do autocuidado e da autorresponsabilidade, consultas médicas de rotina e exames colaboram para uma vida com maior autonomia e saúde. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. ALWAY, S. E.; MOHAMED, J. S.; MYERS, M. J. Mitochondria Initiate and Regulate Sarcopenia. Exercise and Sport Sciences Reviews, v. 45, n. 2, p. 58–69, abr. 2017. 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Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 269 21 “ Principais fatores desencadeadores dos distúrbios do sono no envelhecimento Luana Meireles Pecoraro Hélio Tavares de Oliveira Neto UNIFIP UNIFIP Andreza Maria Lima Maia Polliana Peres Cruz Carvalho UNIFIP UNIFIP Maria Alice Ferreira Farias Milena Nunes Alves de Sousa UNIFIP UNIFIP 10.37885/201202388 RESUMO O envelhecimento traz inúmeras mudanças fisiológicas e ambientais que interferem diretamente nas queixas sobre insônia noturna e sonolência diurna, diante disso o estudo objetiva identificar os principais motivos causadores desse transtorno no sono dos idosos. Portanto, foi utilizado uma revisão integrativa da literatura, com busca de dados no Medical Publisher (PubMed) e na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), utilizando-se dos seguintes Palavras-chave em inglês: “Aging” and “Sleep Disorders” and “Quality of Life”. Os critérios de inclusão foram os textos completos entre o período de 2015 a 2020, com o tema relacionado, e de exclusão, os estudos repetidos e não condizentes com a questão norteadora da pesquisa, possibilitando uma amostra de 23 artigos. Diante dos estudos revisados, foi possível observar que as doenças crônicas representam 53,6% (n=30) o principal fator desencadeador dos distúrbios do sono, seguidas pela depressão e ansiedade (14,3%; n=8), figurando-se entre o principal fator psicossocial. Dessa forma, os distúrbios do sono estão intrinsecamente relacionados a grandes grupos de alterações no envelhecimento: mudança hormonal, fatores psicossociais, presença de doenças crônicas e estilo de vida adquirido nessa fase da vida. Todas essas circunstâncias promovem variações na qualidade do sono junto ao passar dos anos, e tem repercussão na qualidade de vida por trazer consigo o adoecimento físico e mental. Palavras- chave: Saúde do Idoso, Distúrbios do Início e da Manutenção do Sono, Fatores de Risco. INTRODUÇÃO O sono tem um papel fundamental nos processos de restauração necessários à vida, de modo a influenciar funções biológicas dos indivíduos, variando desde consolidação da memória e termorregulação, até restauração do metabolismo energético cerebral (CARONE et al., 2020). Os distúrbios associados a essa questão representam um conjunto de diversas manifestações clínicas, as quais podem afetar todos os órgãos e sistemas do indivíduo (DRAGER et al., 2018). Em relação ao processo de envelhecimento, a qualidade do sono pode ser afetada, seja por alterações no ciclo circadiano, seja por mudanças no ciclo homeostático, trazendo impactos na qualidade de vida dos idosos (BARBOSA et al., 2016). Dentre os fatores relacionados à insônia, é pertinente destacar depressão, uso de medicamentos, obesidade, alterações ambientais, incontinência urinária, noctúria, má higiene do sono, mudanças no relógio circadiano endógeno e alterações metabólicas (MORENO-VECINO et al., 2015). A avaliação das variáveis relacionadas à qualidade do sono é imprescindível clinicamente para encontrar problemas de saúde, principalmente quando se observa alterações de humor, redução da tolerância à dor e fadiga (SALOMÉ; ESPÍRITO SANTO; FERREIRA, 2017). Quando se trata do ambiente em que a pessoa idosa se encontra, muitos podem ser os fatores externos que afetam a qualidade do descanso, como: barulho, luzes intensas, dormitórios compartilhados e tempo ocioso. Tudo isso pode agravar o processo de distúrbios do sono comuns no período da senescência (EIDELWEIN, 2015). Tais transtornos envolvem insônia, hipersonia, hipopneia, apneia central do sono, síndrome das pernas inquietas e narcolepsia (GLEASON; MCCALL, 2015). Ao compararem-se os indivíduos mais velhos com os mais jovens, observa-se algumas diferenças em relação ao repouso, pois, nos primeiros, o horário habitual de dormir e acordar é mais cedo, o ritmo de temperatura circadiana mínima ocorre no início da noite e eles possuem um sono mais perturbado. Tudo isso possui relação com as alterações nos ciclos responsáveis pela regulação do sono-vigília (MORENO-VECINO et al., 2015; GLEASON; MCCALL, 2015). Tais mudanças levam a consequências adversas para pessoas de maior idade, como uma qualidade de vida pior, distúrbios cognitivos, depressão, declínio físico, quedas, podendo levar até à morte (RAWTAER et al., 2018). Em relação à atividade física diária, os idosos menos ativos possuem uma composição corporal menos rica do que aqueles que têm maior aptidão física, o que influencia na questão de distúrbios do sono (BARBOSA et al., 2016). Nesse sentido, observa-se que a prática de exercícios aeróbicos e de resistência contribui significativamente para a melhora do descanso em adultos mais velhos, com ênfase na atividade física regular (HERRICK; PURI; RICHARDS, 2018). 272 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 É pertinente ainda relatar a importância de terapias cognitivo-comportamentais para otimizar a qualidade do sono em pessoas idosas, já que o uso de algumas medicações como hipnóticos podem causar reações adversas como insônia de rebote, sedação diurna, alterações cognitivas, dependência ou tolerância e inclusive, causar quedas (RAWTAER et al., 2018). O conhecimento sobre a epidemiologia desses distúrbios contribui para o planejamento de ações que auxiliem na melhora do sono das pessoas durante o período de senescência (CARONE et al., 2020). Ademais, tal situação está associada à maior ocorrência de complicações e de gastos com saúde, além disso, há pouca informação nacional em relação a esse assunto e a questões associadas na população brasileira (ZANUTO et al., 2015). Desse modo, o presente estudo tem como objetivo identificar os principais motivos causadores de transtornos do sono nos idosos. MATERIAL E MÉTODO O método utilizado foi a revisão integrativa da literatura (RIL) com a seguinte questão norteadora: “Quais os principais fatores desencadeadores dos distúrbios do sono no envelhecimento ?”. A RIL é um método de pesquisa que fornece informações amplas sobre uma determinada questão, e para isso, utiliza como ferramenta uma questão central como embasamento para pesquisas e posterior condensação dos resultados (RIBEIRO, MARTINS e TRONCHIN, 2016). Para a pesquisa e seleção dos artigos, foram utilizadas as bases de dados: Medical Publisher (PUBMED) e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). A busca de dados foi realizada de acordo com os seguintes descritores em inglês combinados <<”Aging” and “Sleep Disorders” and “Quality of Life”>>. Como critérios de inclusão foram contidos artigos entre os períodos de 2015 a 2020 na língua portuguesa, inglesa e espanhola, com o tema relacionado, e de exclusão os artigos que não condizem com a questão norteadora da pesquisa, publicados anteriores ao ano de 2015 e os estudos repetidos a partir dos descritores supracitados, foram encontrados 23 artigos, configurando-se na amostragem desta RIL. Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 273 Fluxograma 1. Processo de seleção dos artigos sobre o objeto de estudo Fonte: Autoria Própria, 2020 RESULTADOS Dos 23 artigos selecionados, 82,6% (n=19) estava disponível na BVS. Além disso, 41,67% (n=5) são do ano de 2017 (Quadro 1). Quadro 1. Caracterização dos artigos selecionados quanto aos autores, ano, título e base de dados. 274 Autores/Ano Título do Artigo Base de dados Baker et al. (2018) Sleep and sleep disorders in the menopausal transition BVS e PUBMED Barbosa et al. (2016) Sleep disorder or simple sleep ontogeny? Tendency for morningness is associated with worse sleep quality in the elderly BVS Belencastello-Domenech, et al. (2016) Sleep alterations in non-demented older individuals: the role of cortisol. BVS e PUBMED Canham (2015) What’s loneliness got to do with it? Older women who use benzodiazepines. BVS Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Autores/Ano Título do Artigo Base de dados Cybulski et al. (2019) Sleep disorders among educationally active elderly people in Bialystok, Poland: a cross-sectional study. PUBMED Deses (2018) Alteraciones del sueño en personas adultas mayores BVS Eslami et al. (2016) Pain grade and sleep disturbance in older adults: evaluation the role of pain, and stress for depressed and non-depressed individuals BVS Gleason. et al. (2015) Current concepts in the diagnosis and treatment of sleep disorders in the elderly BVS Herrick et al. (2015) Resistance training does not alter same-day sleep architecture in institutionalized older adults. BVS Wams et al. (2017) Sleep-Wake Patterns and Cognition of Older Adults with Amnestic Mild Cognitive Impairment (aMCI): A Comparison with Cognitively Healthy Adults and Moderate Alzheimer’s Disease Patients PUBMED Karimi et al. (2016) Surveying the effects of an exercise program on the sleep quality of elderly males BVS e PUBMED Leland. et al. (2016) Napping and Nighttime Sleep: Findings From an Occupation-Based Intervention BVS Lima et al. (2015) Correlates of excessive daytime sleepiness in community-dwelling older adults: an exploratory study BVS Ma et al. (2017) Sleep disturbances and risk of falls in an old Chinese population-Rugao Longevity and Ageing Study BVS Matsushita et al. (2017) Linkage of lower urinary tract symptoms to sleep quality in elderly men with nocturia: a community based study using home measured electroencephalogram data. BVS Moreno-Vecino et al. (2017) Sleep disturbance, obesity, physical fitness and quality of life in older women: EXERNET study group. BVS Porter, Buxton e Avidan (2015) Sleep, cognition and dementia. BVS E PUBMED Rawtaer et al. (2018) A nonpharmacological approach to improve sleep quality in older adults. BVS Wulff e Foster (2017) Insight into the Role of Photoreception and Light Intervention for Sleep and Neuropsychiatric Behaviour in the Elderly BVS Rodríguez, Alarcón e Escobar (2016) Salud mental en el adulto mayor: trastornos Neurocognitivos mayores afectivos y del sueño BVS Spinedi e Cardinali (2018) Neuroendocrine-Metabolic Dysfunction and Sleep Disturbances in Neurodegenerative Disorders: Focus on Alzheimer’s Disease and Melatonin BVS e PUBMED Uchmanowicz et al. (2019) The relationship between sleep disturbances and quality of life in elderly patients with hypertension PUBMED Yaremchuk (2018) Sleep Disorders in the Elderly PUBMED Das publicações desta RIL, 91,67% (n=11) estavam no idioma inglês; 58,33% (n=7) publicados nos Estados Unidos. Em relação ao periódico de publicação, 16,67% (n=2) foram encontrados na revista APJH Climate Change e 83,4% (n=10) foram feitos seguindo a metodologia de revisão narrativa. Quadro 1.Caracterização dos artigos selecionados quanto ao periódico, idioma, país e método. Periódico Idioma País Método Baker et al. (2018) Sleep medicine clinics Inglês EUA Revisão narrativa Barbosa et al. (2016) Brazilian Journal of Medical and Biological Research Inglês Brasil Quantitativa (entrevista estruturada) Belencastello-Domenech, et al. (2016) Endocrine, Metabolic & Immune Disorders-Drug Targets Inglês Espanha Transversal descritivo Canham (2015) Australasian journal on ageing Inglês EUA Qualitativo descritivo (entrevista semi-estruturada em profundidade) Cybulski et al. (2019) BMC geriatrics Inglês Polônia Estudo transversal descritivo Deses (2018) Revista de la Facultad de Medicina de la UNAM Espanhol México Revisão Eslami et al. (2016) International Jounal of Geriatric Psychiatry Inglês EUA Estudo quantitativo Gleason. et al. (2015) Current psychiatry reports Inglês EUA Revisão narrativa Autores/Ano Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 275 Autores/Ano Periódico Idioma País Método Herrick et al. (2015) Journal of sleep research Inglês EUA Revisão Narrativa Wams et al. (2017) Current Alzheimer Research Inglês Reino Unido Revisão narrativa Karimi et al. (2016) Clin Interv Aging Inglês Irã Quantitativo (estudo semi-experimental) Leland. et al. (2016) The American Journal of Occupational Therapy Inglês EUA Quantitativo (ensaio clínico randomizado) Lima et al. (2015) Revista Brasileira de Epidemiologia Inglês Brasil Quantitativo (estudo transversal exploratório de base populacional ) Ma et al. (2017) Archives of Gerontology and Geriatrics Inglês China Quantitativo (estudo de coorte observacional de base populacional) Matsushita et al. (2017) The Journal of urology Inglês EUA Estudo longitudinal Moreno-Vecino et al. (2017) Climateric Inglês EUA Estudo transversal. Porter, Buxton e Avidan (2015) Current psychiatry reports Inglês EUA Revisão narrativa Rawtaer et al. (2018) Asia-Pacific Psychiatry Inglês Singapura Pesquisa qualitativa (estudo de Coorte) Wulff e Foster (2017) Current Alzheimer Research Inglês EUA Revisão narrativa Rodríguez, Alarcón e Escobar (2016) Rev Peru Med Exp Salud Publica Espanhol Peru Revisão narrativa Spinedi e Cardinali (2018) Neuroendocrinology Inglês Argentina Revisão narrativa Uchmanowicz et al. (2019) Clinical Interventions in Aging Inglês Polônia Estudo transversal Yaremchuk (2018) Clinics in Geriatric Medicine Inglês EUA Revisão narrativa Diante dos artigos revisados, foi possível observar que as doenças crônicas representam 53,6% (n=30) da amostra de estudos sobre os fatores desencadeadores dos distúrbios do sono, entretanto, a depressão e ansiedade, como um fator psicossocial, destacou-se como causa prevalente da insônia, representando 14,3% (n=8) da amostra. Quadro 2.Divisão dos artigos por fatores desencadeadores dos distúrbios do sono no envelhecimento Categorias Subcategorias Autores/anos N % Menopausa Moreno-Vecino et al. (2017) Baker et al. (2018) 2 3,6% Cortisol Belencastello-Domenech et al. (2016) 1 1,8% Melatonina Porter, Buxton e Avidan (2015) Rodríguez, Alarcón, Escobar (2016) Wulff e Foster (2017) Barbosa et al. (2016) Gleason et al. (2015) Karimi et al. (2016) 6 10,7% Estresse Baker et al. (2018) Eslami et al. (2016) 2 3,6% Depressão e ansiedade Moreno-Vecino, et al. (2017) Rawtaer et al. (2018) Lima et al. (2015) Rodríguez, Alarcón e Escobar (2016) Wulff e Foster (2017) Canham (2015) Deses (2018) Eslami et al. (2016) 8 14,3% Hormonal Fatores psicossociais 276 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Categorias Subcategorias Autores/anos N % Do Sistema Somático Moreno-Vecino et al. (2017) Cybulski et al. (2019) Gleason et al. (2015) Porter, Buxton e Avidan (2015) Yaremchuk (2018) 5 8,9% Doença de Alzheimer Wams et al. (2017) Deses (2018) Gleason et al. (2015) Spinedi e Cardinali (2018) 4 7,1% Demências Porter, Buxton e Avidan (2015) Rodríguez, Alarcón e Escobar (2016) Wams, et al. (2017) Wulff e Foster (2017) Gleason et al. (2015) 5 8,9% Síndrome metabólica Moreno-Vecino et al. (2017) Lima et al. (2015) Spinedi e Cardinali (2018) Deses (2018) Eslami et al. (2016) Ma et al. (2017) Uchmanowicz et al. (2019) 7 12,5% Distúrbios urinários Matsushita et al. (2017) Moreno-Vecino et al. (2017) Lima et al. (2015) Deses (2018) Gleason et al. (2015) 5 8,9% Distúrbios respiratórios Yaremchuk (2018) Deses (2018) Gleason et al. (2015) Porter, Buxton e Avidan (2015) 4 7,1% Fatores culturais Cybulski et al. (2019) Herrick et al. (2015) 2 3,6% Ausência de atividade física KarimI et al. (2016) Moreno-Vecino et al. (2017) 2 3,6% Cochilos diurnos Leland et al. (2016) Rodríguez, Alarcón e Escobar (2016) Gleason et al. (2015) 3 5,3% 56 100 Doenças crônicas Estilo de vida TOTAL DISCUSSÃO A velhice é um fenômeno biológico e é inevitável passar por diversas mudanças, sejam elas físicas, fisiológicas ou mentais (KARIMI et al., 2016). Uma dessas mudanças que podem ser percebidas é a alteração na qualidade do sono. Dessa forma, a análise dos presentes resultados revela que os principais determinantes que podem desencadear os distúrbios do sono em idosos, destacaram-se os fatores hormonais, psicossociais, estilo de vida e doenças crônicas, sendo o último o mais relevante por representar sozinho mais da metade da amostra. Nesse contexto, alguns hormônios estão fortemente ligados a um sono de qualidade, são eles o cortisol, a melatonina, que possuiu achados mais expressivos, além do desbalanço hormonal que ocorre após a menopausa. Em estudos feitos com uma população idosa do sexo masculino, que tinha um bom sono quando faziam uso de medicamentos “para dormir”, percebeu-se que quando foi introduzida a prática de exercícios físicos em sua rotina Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 277 ocorreu um aumento na qualidade do sono, em que houve redução no tempo necessário para adormecer e aumento no período de sono, uma diminuição na necessidade de drogas para dormir e uma diminuição dos problemas nas tarefas diárias (KARIMI et al., 2016). Essa prática de exercícios físicos promove a liberação de hormônios que promovem um bem-estar, além de diminuir o cortisol, que é o hormônio do estresse (BELEN CASTELLODOMENECH et al., 2016). Somado a isso, constatou-se também que existe uma forte relação entre o amanhecer e a piora da qualidade do sono com o aumento da idade. Em pessoas mais velhas, percebe-se que existem alterações no ciclo de sono-vigília e que a periodicidade intrínseca da secreção de melatonina costuma ser reduzida (BARBOSA et al., 2016). No que se refere a transição da menopausa, ela está associada ao aumento dos sintomas de insônia, principalmente dificuldade em manter o sono, o que interfere qualidade de vida de muitas mulheres. Os sintomas vasomotores, referidos pelas pacientes como ondas de calor, calores ou fogachos, são um componente importantes da perturbação do sono. Nesse aspecto, a terapia hormonal pode aliviar os distúrbios do sono, especialmente se houver sintomas vasomotores. Entretanto, existem fortes contraindicações, então outras opções devem ser consideradas (BAKER et al., 2018; GLEASON et al., 2015; WULFF; FOSTER, 2017; RODRÍGUEZ; ALARCÓN; ESCOBAR, 2016). Outro aspecto também considerado como determinante para uma boa qualidade do sono em idosos foram os fatores psicossociais. Assim, destaca-se nesse contexto o estresse, e depressão e ansiedade, que foram achados bem mais frequentes na amostra. Nesse cenário, observou-se que o desenvolvimento de insônia é mais frequente em idosos psicologicamente mais vulneráveis, os quais já desenvolveram insônia no passado ou com antecedentes familiares relacionados à insônia ou a algum tipo de problema causador de dor. Importante salientar que a avaliação da insônia precisa de uma abordagem ampla, englobando características médicas e aspectos psicossociais do paciente, pois ela pode ser de natureza biológica, ambiental, comportamental ou psicossocial. Assim, os fatores causadores da insônia podem estar relacionados com fatores sociais, profissionais e familiares (DESES, 2018; RAWTAER et al., 2018; LIMA et al., 2015; CANHAM, 2015; D’HYVER DE LAS DESES, 2018). O que se corrobora em resultados encontrados nos testes utilizando AIS (Escala de Insônia de Atenas), uma das mais confiáveis, associado a análises de sonolência excessiva pela ESS (Escala de Sonolência de Epworth), além de ponderar sobre a gravidade da insônia pelo questionário ISI (Índice de Gravidade da Insônia), os quais mostram a prevalência de insônia entre mais da metade das pessoas acima de 55 anos de idade, trazendo à tona preocupações com o futuro da qualidade de vida desse grupo (CYBULSKI et al., 2019). 278 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Encontram-se associados à insônia, muitos outros fatores, como a demência, porém tendo cuidados para não haver diagnóstico errôneo, pois junto à condição podem vir vários outros fatores como hipersonolência, síndrome das pernas inquietas, desalinhamento do ritmo circadiano, distúrbios respiratórios do sono, distúrbios motores do sono, parassonias, principalmente na forma de distúrbio comportamental do sono (RBD) de movimento rápido dos olhos (REM). O que prejudica tanto as pessoas que sofrem do mal, quanto os que convivem, fazendo-se importante o diagnóstico mais prévio possível, pois com o passar do tempo às condições podem piorar (PORTER; BUXTON; AVIDAN, 2015). Doenças neurodegenerativas como a Doença de Alzheimer (DA), encontram-se presentes nos estudos relacionados aos distúrbios do sono por terem seus processos bidirecionais de agravamento, porque ao haver a privação de sono ou ainda a má continuação dele, resulta num maior espectro para desenvolver doenças como DA, ao passo que a mesma doença gera alterações cognitivas e fisiológicas alterando ciclos circadianos (por alterações metabólicas anteriores e posteriores) e, assim, prejudicando a funcionalidade normal do sono. (SPINEDI; CARDINALI, 2018). Além disso, quadro depressão, dores e estresse foram relatados como fatores associados, ou até desencadeadores de piora nos distúrbios do sono, pois investigação com 562 participantes elegíveis com idade média de 78,22 mostrou associação da dor com o transtorno de sono. Em comparação, o mesmo estudo não apresentou relação significativa entre a depressão e as alterações do sono (ESLAMI et al., 2016). Adicionado ao fato de que as condições físicas e a forma de distribuição de gordura no corpo relacionam-se às alterações no sono, estudo indicou em um grupo de mulheres idosas, aquelas que tinham maiores de IMC, apresentaram mais distúrbios do sono. Ademais, foram correlações baixas, mas significativas entre escore de sono desordenado e parâmetros de composição corporal, como peso corporal e circunferência da cintura (MORENOVECINO et al., 2017). Outros fatores associados à baixa qualidade do sono foram a noctúria e a frequência urinária noturna, como observado em pesquisa com homens idosos, em que a piora na qualidade do sono estava relacionada ao fator miccional durante a noite. (MATSUSHITA et al., 2017). CONCLUSÃO Este trabalho infere a relevância da qualidade do sono e da sua relação com sintomas psicopatológicos em idosos. Portanto, o envelhecimento traz alterações no padrão regular do sono e, por este ser um fator fisiológico e essencial à vida, tal privação pode corroborar com o aparecimento concomitante com as doenças psicossociais. Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 279 Paralelamente, as doenças crônicas são consideradas como principal fator influenciador da baixa qualidade do sono desse grupo populacional, seguido de depressão e ansiedade. Logo, a promoção da qualidade do sono é necessária para melhorar o estado geral e emocional dos idosos. Os profissionais de saúde devem estar atentos a esses sintomas a fim de garantir um diagnóstico mais preciso e um tratamento mais assertivo para esse tipo de distúrbio, em que é notória a redução da qualidade de vida dessa população em específico e que se não tratado, pode propor desfechos negativos. Ademais, novos estudos precisam ser realizados para confirmar os resultados obtidos. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. BARBOSA, A. A. et al. Sleep disorder or simple sleep ontogeny? Tendency for morningness is associated with worse sleep quality in the elderly. Brazilian Journal of Medical and Biological Research, v. 49, n. 10, 2016. BELEN CASTELLO-DOMENECH, A. et al. Sleep alterations in non-demented older individuals: the role of cortisol. Endocrine, Metabolic & Immune Disorders-Drug Targets (Formerly Current Drug Targets-Immune, Endocrine & Metabolic Disorders), v. 16, n. 3, p. 174-180, 2016. 4. CANHAM, S. L. What’s loneliness got to do with it? Older women who use benzodiazepines. 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Métodos: A versão validada da Escala de Depressão Geriátrica-15 (EDG-15) foi aplicada juntamente com um questionário socioeconômico semiestruturado, sendo os dados avaliados por estatísticas descritiva e inferencial por meio do teste de correlação de Spearman. Resultados: Os resultados revelaram que 29,7% dos entrevistados apresentaram depressão, com prevalência entre as mulheres (70%), sendo em sua maioria aposentados (56,7%). Houve também a relação entre escolaridade e diagnóstico médico, na qual os indivíduos com baixa escolaridade (85,2%) apresentaram maiores níveis de depressão, além da menor idade dos idosos e a ausência de companheiro(a). Os psicotrópicos mais citados no estudo foram os ansiolíticos, antidepressivos e antiepiléticos. Conclusão: O instrumento de rastreio identificou o perfil socioeconômico dos idosos atendidos no munícipio, bem como uma subnotificação da depressão e o uso inapropriado de psicotrópicos. Palavras-chave: Envelhecimento, Atenção Primária à Saúde, Psicotrópicos. INTRODUÇÃO O aumento da população idosa está associado com a incidência de doenças crônico-degenerativas, como aquelas que comprometem o funcionamento do sistema nervoso central, sendo a depressão a enfermidade neuropsiquiátrica mais prevalente (STELLA et al., 2002). A depressão é uma morbidade relativamente comum, de curso crônico e recorrente, associada à incapacitação funcional e comprometimento da integridade física, bem como à limitação do bem-estar e maior utilização dos serviços de saúde (ORMEL et al., 1993; LLOYD, JENKINS, MANN, 1996), podendo interferir nos aspectos mais simples da vida diária (FRADE et al., 2015). Envelhecer é um processo natural, que provoca mudanças graduais relacionadas à idade e acomete o indivíduo independentemente da condição de saúde ou estilo de vida. Apesar de vários aspectos comuns, não se deve associar a senescência como condição natural da depressão, mesmo o envelhecimento sendo inevitável e podendo apresentar, durante o seu processo, crise identitária, tristeza profunda, sentimentos de inutilidade, ausência de apetite e isolamento social, os quais também são fatores que contribuem para o desenvolvimento da depressão (BARROSO et al., 2018). Concomitante ao aumento significativo dos transtornos mentais durante a velhice, está a utilização de fármacos, como os psicotrópicos, indicados na redução dos sintomas ou remissão do paciente (FLECK et al., 2009; LOYOLA FILHO et al., 2014). Diante do seu protagonismo na saúde populacional, o impacto socioeconômico e a dificuldade no diagnóstico da depressão, políticas em saúde têm criado condições para a elaboração de ferramentas de rastreamento e avaliação do estado clínico do idoso, a fim de prevenir o agravamento da doença, fazendo com que os instrumentos de rastreio e avaliação dos sintomas depressivos sejam essenciais para superar as dificuldades de subnotificação. Em 1983, quando foi desenvolvida a Escala de Depressão Geriátrica (EDG; Geriatric Depression Scale – GDS) verificou-se sua grande capacidade de eliminar fatores de confusão como aspectos comportamentais e físicos normais na senescência e rastreamento de quadros de depressão. Com várias versões validadas, a EDG apresenta-se em formatos de 30 itens na sua versão original com propriedades psicométricas de sensibilidade de 84% e especificidade variando de 91 a 95% (YESAVAGE et al., 1983; MCGIVNEY; MULVIHILL; TAYLOR, 1997). Diante da sua extensão algumas abreviações foram validadas posteriormente, como GDS-15, GDS-10, GDS-5 e GDS-4, com o intuito de facilitar o rastreio da morbidade (ALMEIDA; ALMEIDA, 1999; SANTOS et al., 2019). Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 285 OBJETIVO Apresentar as características sociodemográficas e o perfil psicológico dos idosos atendidos no sistema público de saúde do município de Ituiutaba-MG, buscando identificar os fatores de risco associados à depressão nesta população. MÉTODOS Estudo descritivo e transversal realizado no município de Ituiutaba, Minas Gerais, Brasil, entre os meses de abril e junho de 2018, composto por 101 idosos, de ambos os sexos (feminino, n=53; masculino, n=48), com idade igual ou superior a 60 anos, não institucionalizados e atendidos na Unidade Mista de Saúde, localizada no bairro Elândia. A coleta dos dados foi realizada a partir da aplicação da versão validada da Escala de Depressão Geriátrica-15 (EDG-15), adaptada com um questionário socioeconômico semiestruturado (idade, sexo, situação conjugal, ocupação e escolaridade). Além disso, os idosos também foram questionados se possuíam diagnóstico médico para depressão e se usavam algum medicamento prescrito de uso contínuo. A entrevista foi conduzida pelos membros do Grupo de pesquisa “Atenção preventiva e educativa em saúde do idoso” da Universidade Federal de Uberlândia, campus Pontal. Após serem autorizados pelo Secretário Municipal de Saúde e pelo responsável da Unidade de Saúde, os pesquisadores se dividiram por ala em direção aos que apresentavam 60 anos ou mais. Os idosos eram convidados a participar da pesquisa enquanto aguardavam atendimento. Ocorrendo a saturação do grupo populacional no dia, a aplicação dos questionários era finalizada. Os critérios de inclusão dos idosos foram ter idade igual ou acima de 60 anos, ser morador do município de Ituiutaba-MG, ter interesse em participar da entrevista e concordar em assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram excluídos do estudo os idosos com incapacidade de responder ao questionário. Os dados foram tabulados utilizando o programa computacional Microsoft Office Excel 2010® e analisados por estatística descritiva considerando as frequências absoluta (n) e relativa (%), mediana, desvio interquartílico e primeiro e terceiro quartis. A normalidade dos dados de idade foi avaliada pelo teste de D’Agostino-Pearson. A correlação da depressão identificada pela EDG-15 com as outras variáveis foi analisada pela correlação de Spearman. As análises foram realizadas utilizando o programa Bioestat 5.3 e foi considerado nível de significância de 5%. A pesquisa obteve aprovação do Comitê de Ética da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), parecer n.º 3.070.463. 286 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 RESULTADOS Dos 101 idosos entrevistados, sendo 48 homens e 53 mulheres, com idade mediana de 70 anos, com o primeiro e o terceiro quartis iguais a 65 e 76 anos, e desvio interquartílico igual a 11 (mín: 60 anos e máx: 91 anos), observou-se que 30 (29,7%) apresentaram algum grau de depressão, com prevalência entre as mulheres (70%), sendo em sua maioria aposentados (56,7%) (Tabela 1). Ao analisar o perfil sociodemográfico dos idosos identificados pela escala com psicológico normal (Tabela 1), verificou-se a maioria aposentada (88,7%), que declarou possuir companheiro(a) (63,4%), sendo 31,1% mulheres e 68,9% homens, afirmando possuir menos de quatro anos de estudo (57,7%). O perfil de saúde dos idosos com psicológico normal (Tabela 2), segundo a EDG-15, revelou que há predominância de idosos que não possuem diagnóstico médico de depressão (84,5%), mas que fazem uso de pelo menos um medicamento antidepressivo por dia (58,3%). Já os idosos que foram classificados com depressão leve (Tabela 1), segundo o instrumento de coleta, são majoritariamente mulheres (70,4%), aposentados e/ou pensionistas (59,2%), que declararam não possuir companheiro(a) (70,4%) e com menos de quatro anos de estudo (51,9%). Em relação ao diagnóstico médico, 51,9% desses idosos declararam não apresentar laudo do especialista, apesar de 92,3% deles afirmarem fazer uso diário de algum psicofármaco (Tabela 2). A aplicação da EDG identificou três idosos, sendo duas mulheres e um homem, com depressão severa. Desses idosos, 67,7% afirmaram não possuir ocupação e companheiro(a), além de serem analfabetos e/ou com baixa escolaridade (Tabela 1). Ainda, apenas um deles afirmou apresentar diagnóstico médico para depressão (Tabela 2). Verificou-se uma correlação significativa positiva fraca entre a presença de depressão nos diferentes graus com o sexo (ρ=+0,228) e o diagnóstico médico para depressão (ρ=+0,311), enquanto foi negativa fraca correlacionando com a idade (ρ=-0,199) e situação conjugal (ρ=-0,306) com p < 0,05 para todas as análises. Esses resultados indicam que a presença de depressão está correlacionada com o sexo feminino, a menor idade dos idosos e a ausência de companheiro(a). Os idosos que declararam possuir diagnóstico médico para depressão também relataram usar pelo menos um tipo de psicotrópico, sendo os mais citados: alprazolam, amitriptilina, clonazepam, diazepam, duloxetina, escitalopram, fenobarbital, fluoxetina, imipramina, paroxetina e pregabalina (Tabela 3). A classificação farmacoterapêutica destes medicamentos seguiu as orientações da Anatomical Therapeutic Chemical, sendo cinco antidepressivos, três antiepiléticos, dois ansiolíticos e um psicoléptico (Tabela 3). Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 287 Tabela 1. Características sociodemográficas dos idosos atendidos nas unidades de saúde estratificadas pelo perfil psicológico de acordo com a Escala de Depressão Geriátrica Reduzida e sexo, expressas em n (%), Ituiutaba, Minas Gerais, 2018. Mulher n=32 Psicológico normal Homem n=39 Total n=71 Mulher n=19 Depressão leve Homem n=8 Total n=27 Mulher n=2 Depressão severa Homem Total n=1 n=3 60 a 69 18 (62,1) 11 (37,9) 29 (40,8) 13 (72,2) 5 (27,8) 18 (66,7) 1 (100,0) 0 (0,0) 1 (33,3) 48 (47,5) 70 a 79 13 (44,8) 16 (55,2) 29 (40,8) 5 (71,4) 2 (28,6) 7 (25,9) 1 (50,00) 1 (0,0) 2 (66,7) 38 (37,6) ≥ 80 1 (7,7) 12 (92,3) 13 (18,4) 1 (50,0) 1 (50,0) 2 (7,4) 0 (0,0) 0 (0,0) 0 (0,0) 15 (14,9) Aposentado e/ou pensionista 26 (41,3) 37 (58,7) 63 (88,7) 12 (75,0) 4 (25,0) 16 (59,2) 0 (0,0) 1 (100,00) 1 (33,3) 80 (79,2) Sem ocupação 1 (100,0) 0 (0,0) 1 (1,4) 4 (66,7) 2 (33,3) 6 (22,2) 2 (100,0) 0 (0,0) 2 (67,7) 9 (8,9) Outra ocupação 4 (66,7) 2 (33,3) 6 (8,5) 3 (60,00) 2 (40,0) 5 (18,6) 0 (0,0) 0 (0,0) 0 (0,0) 11 (10,9) Não responderam 1 (100,0) 0 (0,0) 1 (1,4) 0 (0,0) 0 (0,0) 0 (0,0) 0 (0,0) 0 (0,0) 0 (0,0) 1 (1,0) Com companheiro 14 (31,1) 31(68,9) 45 (63,4) 7 (87,5) 1(12,5) 8 (29,6) 1 (100,0) 0 (0,0) 1 (33,3) 54 (53,5) Sem companheiro 18 (69,2) 8(30,8) 26 (36,6) 12 (63,2) 7(36,8) 19 (70,4) 1 (100,0) 1 (100,0) 2 (67,7) 47 (46,5) Analfabeto 2 (50,0) 2 (50,0) 4 (5,6) 2 (40,0) 3 (60,0) 5 (18,5) 0 (0,0) 1 (100,0) 1 (33,3) 10 (9,9) Analfabeto funcional 2 (28,6) 5 (71,4) 7 (9,9) 1 (100,0) 0 (0,0) 1 (3,7) 0 (0,0) 0 (0,0) 0 (0,0) 8 (7,9) < 4 anos 18 (43,9) 23 (56,1) 41 (57,7) 11 (78,6) 3 (21,4) 14 (51,9) 1 (100,0) 0 (0,0) 1 (33,3) 56 (55,5) ≥ 4 anos 10 (52,6) 9 (47,4) 19 (26,8) 5 (71,4) 2 (28,6) 7 (25,9) 1 (100,0) 0 (0,0) 1 (33,3) 27 (26,8) Total n=101 Idade Ocupação Situação conjugal Escolaridade Os medicamentos citados também foram analisados quanto à condição do idoso pela EDG-15 e o sexo. Os idosos identificados com psicológico normal declararam o uso de oito psicotrópicos, enquanto os rastreados com depressão citaram quatro psicotrópicos. Ainda, os homens mencionaram principalmente antidepressivos e antiepiléticos, enquanto as mulheres citaram majoritariamente os antiepiléticos (Tabela 3). DISCUSSÃO Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2015 a depressão acometeu 4,4% da população global, totalizando 322 milhões de casos e com crescimento exponencial com o passar dos anos (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2017). Com base na Política Nacional de Saúde do Idoso (BRASIL, 1994) e considerando o aumento proporcional de indivíduos idosos, adicionado ao declínio das taxas de fecundidade e ao desenvolvimento tecnológico e terapêutico no tratamento de doenças, há esforços em manter o idoso na sociedade da forma mais digna e confortável possível. Neste contexto, a depressão tem sido associada à incapacidade funcional e ao comprometimento da saúde física, podendo contribuir para o aumento da vulnerabilidade do idoso em relação à outras morbidades, dentre outros aspectos (MELLO; ENGSTROM; ALVES, 2014). Neste estudo, 30 casos de depressão foram identificados numa população alvo de 101 idosos, portanto 30,3%. Esta prevalência está dentro da faixa nacional de depressão em idosos que varia de 2 a 50% dependendo das delimitações do estudo como idade, local do 288 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 estudo e método utilizado (RAMOS et al., 2019), e é maior que a mundial chegando a 12% nos Estados Unidos, Inglaterra, Holanda e Alemanha (PINHO; CUSTÓDIO; MAKDISSE, 2009). A variedade de escalas e instrumentos de análise utilizados no diagnóstico da depressão, bem como as diferenças sociodemográficas., podem justificar essa particularidade regional (LIMA, 1999; MATIAS et al., 2016; ARGIMON et al., 2016). Alguns aspectos singulares devem ser levantados, como o sexo feminino, a não ocupação laboral e a ausência de um companheiro associados à depressão nos idosos investigados em Ituiutaba-MG. Os resultados sugerem que as mulheres sejam mais suscetíveis aos sintomas depressivos na velhice e, por ser o sexo que possui maior longevidade, com o passar do tempo e o avançar da idade apresenta maior prevalência de doenças crônicas, incluindo a depressão, apesar de não haver diferença significativa entre gênero quanto a mortalidade por doenças crônicas não transmissíveis no Brasil ((HEISE, 1994; UNITED NATIONS, 2010; STEVENS; SCHMIDT; DUCAN, 2012). Ainda, observa-se que a maioria dos casos analisados é de indivíduos classificados com depressão leve, corroborando com o estudo de Magalhães et al. (2016), que identificou esta mesma prevalência na população envelhecida. A transição de uma vida dedicada a execução de atividades laborais para um período de pós-trabalho demanda preparação para a nova fase e é considerada necessária durante o avançar da senescência cheio de riscos para a saúde do idoso. A sua saída como força de trabalho predispõe a um episódio estressante e de solidão, visto que, a partir daquele instante muitos enxergam essa nova fase como a perda do seu papel profissional e social, acrescida da diminuição da renda e essa ideologia é reforçada pelas relações de produção e da lógica capitalista. Além disso, a possível ausência do parceiro e a rotina com mais tempo livre corroboram para a instalação desse cenário (BITTENCOURT et al., 2011). Ao identificar a aposentadoria como ferramenta de proteção social, o benefício passa a ser fundamental para a manutenção da vida dos idosos de classe social vulnerável na redução da pobreza. O benefício previdenciário confere ao idoso rural, principalmente às mulheres, mudança de hábitos, aquisição de bens materiais e segurança em ter mensalmente uma renda fixa que muitas vezes não foi realidade (BARROS; FIUZA; PINTO, 2017). Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 289 Tabela 2. Variáveis relacionadas ao diagnóstico médico e ao uso de medicamentos citados pelos idosos atendidos nas unidades de saúde, estratificadas por perfil psicológico e sexo, expressas em n (%), Ituiutaba, Minas Gerais, 2018. Psicológico normal Mulher n=32 Depressão leve Homem n=39 Total n=71 Mulher n=19 Depressão severa Homem n=8 Total n=27 Mulher n=2 Homem n=1 Total n=3 Total n=101 Diagnóstico médico Sim 6 (54,5) 5 (45,5) 11 (15,5) 10 (76,9) 3 (23,7) 13 (48,1) 1 (100,0) 0 (0,0) 1 (33,3) 25 (24,8) Não 26 (43,3) 34 (56,7) 60 (84,5) 9 (64,3) 5 (35,7) 14 (51,9) 1 (100,0) 1 (100,0) 2 (67,6) 76 (75,2) Um medicamento 4 (57,1) 3 (42,9) 7 (58,3) 0 (0,0) 0 (0,0) 0 (0,0) 0 (0,0) 0 (0,0) 0 (0,0) 7 (26,9) Mais de um medicamento 1 (100,0) 0 (0,0) 1 (8,3) 3(100,0) 0 (0,0) 3 (23,1) 0 (0,0) 0 (0,0) 0 (0,0) 4 (15,5) Não lembra o nome 0 (0,0) 1 (100,0) 1 (8,3) 0 (0,0) 1 (100,0) 1 (7,7) 1 (100,0) 0 (0,0) 1 (100,0) 3 (11,5) Não usa 0 (0,0) 2 (100,0) 2 (16,8) 1 (100,0) 0 (0,0) 1 (7,7) 0 (0,0) 0 (0,0) 0 (0,0) 3 (11,5) Não respondeu 1 (100,0) 0 (0,0) 1 (8,3) 6 (75,0) 2 (25,0) 8 (61,5) 0 (0,0) 0 (0,0) 0 (0,0) 9 (34,6) Medicamento antidepressivos Quando se trata de companhia, os idosos casados apresentaram menor suscetibilidade à depressão. Prince et al. (1998), revelaram que as mulheres casadas têm maior risco de ficarem deprimidas do que os homens. Por outro lado, na ausência de companheiro(a), os homens apresentam maior chance em relação às mulheres. A baixa escolaridade é outra condição social vista como determinante para a manutenção da qualidade de vida como apresentado por Castan e Brentano (2017). Neste sentido, é possível que o maior grau de instrução permita melhor estado de proteção ao adoecimento mental, devido ao acesso à informação e aos serviços antes que haja agravamento da condição em saúde do idoso, bem como cria possibilidades para hábitos saudáveis, influencia a autoestima, gera menor frustração durante a senescência e reduz o surgimento de incapacidades (GIATTI; BARRETO, 2003). Observa-se ainda o baixo índice de diagnóstico médico para a depressão. Em serviços de atendimentos gerais e de cuidados primários, sendo estes feitos por médicos não psiquiatras, 30% a 50% dos casos de depressão não são diagnosticados. Além dos pacientes terem preconceito em relação ao processo de diagnóstico e tratamento, ainda há falta de especialistas que conheçam os sintomas físicos da depressão (TYLEE et al., 1995). Somado a isso, observa-se a utilização de psicofármacos de forma inadequada, e muitas vezes por pacientes não diagnosticados, fazendo com que recebam tratamento sintomático (SHIRAMA; MIASSO, 2013). 290 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Tabela 3. Idosos com diagnóstico médico de depressão estratificados quanto ao estado psicológico de acordo com a EDG-15 e sexo, bem como o medicamento utilizado, seu código ATC e classificação farmacoterapêutica, Ituiutaba, Minas Gerais, 2018. Medicamentos Classificação farmacoterapêutica Estado psicológico Sexo ATC* Psicológico normal n Depressão leve n Homem n Mulher n Alprazolam Ansiolítico N05BA12 0 1 1 0 Amitriptilina Antidepressivo N06AA09 1 0 1 0 Clonazepam Antiepilético N03AE01 3 1 3 1 Diazepam Ansiolítico N05BA01 2 0 1 1 Duloxetina Antidepressivo N06AX21 1 0 1 0 Escitalopram Antidepressivo N06AB10 1 0 1 0 Fenobarbital Antiepilético N03AA02 0 1 0 1 Fluoxetina Psicoléptico N06CA03 2 0 2 0 Imipramina Antidepressivo N06AA02 1 0 1 0 Paroxetina Antidepressivo N06AB05 0 1 0 1 Pregabalina Antiepilético N03AX16 1 0 1 0 * Nível 3 (Anatomical Therapeutic Chemical (https://www.whocc.no/atc_ddd_index/) Além disso, é importante ressaltar que além dos sintomas comuns da depressão, como humor depressivo e insatisfação, pode ocorrer ainda a intensificação de sintomas como cefaleia e fadiga persistente, mesmo sem esforço físico (DEL PORTO, 1999). Estes sintomas podem estar associados à presença de doenças físicas ou à utilização de medicamentos (STELLA et al., 2002). Por isso, é necessário identificar e tratar a depressão a fim de diminuir o agravamento de outras doenças, diminuindo o risco de morte. O uso de psicofármacos está comumente associado ao surgimento e agravamento de incapacidades no idoso, como mostra um estudo longitudinal realizado no município de Bambuí-MG, no qual foi evidenciado que os sintomas depressivos estão presentes em cerca de 60% dos idosos com incapacidade ao realizar as Atividades Instrumentais de Vida Diária – AIVD e as Atividades Básicas de Vida Diária – ABVD (FALCI et al., 2019). Mesmo diante da sua efetividade no tratamento de transtorno depressivo grave, o uso prolongado de algumas classes de psicotrópicos, incluindo amitriptilina e paroxetina, prejudica a funcionalidade do idoso e reduz sua função cognitiva, prejudicando sua capacidade motora (KIKUCHI et al., 2013; FOX et al., 2014). Ainda, o risco pode ser potencializado quando o uso de psicotrópicos por idosos é associado a polifarmácia (NOIA et al., 2012; GUIMARÃES; MOURA, 2012). A avaliação do fármaco apropriado nessa faixa etária apresenta complexidade e requer muita atenção do profissional em consideração às condições clínicas e as interações fisiológicas que interferem na farmacodinâmica e farmacocinética do medicamento. Para que haja a diminuição dos riscos na saúde do idoso, o atendimento multiprofissional associado à educação em saúde e uma rede de apoio integrado podem contribuir positivamente durante a farmacoterapia (ANACLETO, 2017). Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 291 Portanto, cabe às equipes de assistência identificar os fatores que podem agravar precocemente a qualidade de vida dos idosos, detectando sinais de depressão e os aspectos associados, além de promover atividades que visam minimizar este quadro, preservando a autonomia do idoso (ALVARENGA; OLIVEIRA; FACCENDA, 2012). Um outro aspecto importante é a validação da EDG-15, a qual teve suas propriedades psicométricas verificada em vários estudos, sendo atestada sua alta sensibilidade e especificidade, boa acurácia e melhor desempenho quanto aos valores preditivos positivos e resultados negativos para o rastreio da depressão em idosos quando comparada com outros instrumentos validados e utilizados mundialmente (COUTINHO; HAMDAN, 2016; DIAS et al., 2017; MAXIMIANO-BARRETO et al., 2019). Além disso, delineamentos com características sociodemográficas que adotaram a EDG como instrumento de rastreio da depressão obtiveram frequências similares às encontradas em Ituiutaba-MG (OLIVEIRA; GOMES; OLIVEIRA, 2006; SANTOS et al., 2012; SILVA et al., 2016). As limitações deste estudo também devem ser apontadas, uma vez que há a possibilidade de viés de omissão de renda e/ou ocupação por parte dos entrevistados. Ainda, por ser um estudo transversal, não é possível inferir aspectos sociodemográficos e a causalidade da depressão. Em contraponto, os dados foram levantados utilizando uma ferramenta de diagnóstico de boa acurácia, revelando a situação de vida dos idosos atendidos, sendo um ponto alto do delineamento. CONCLUSÃO O estudo demonstra prevalência de distúrbio mental, de acordo com a EDG-15, entre as mulheres idosas aposentadas e/ou pensionistas, com menor grau de instrução e que declararam não possuir companheiro. Além disso, a ferramenta de rastreio aplicada identificou subnotificação da depressão no município, comparando o resultado da aplicação da EDG-15 e a declaração de diagnóstico médico feita por cada participante da pesquisa. Ainda, os dados levantados no estudo evidenciam a utilização de fármacos de maneira inadequada, sendo que indivíduos não diagnosticados com depressão fazem uso de psicotrópicos na terapêutica de transtornos. Além disso, foi possível notar que idosos que utilizam psicofármacos apresentam maior grau de incapacidades. Portanto, o acompanhamento dos idosos pela atenção primária é de extrema importância, seja com atividades de educação preventiva em saúde ou pelo rastreio dos possíveis riscos de agravo à condição clínica, e poderá garantir melhor condição de vida na senescência e evitar uma potencial vulnerabilidade e fragilidade do idoso. 292 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 AGRADECIMENTOS Aos estudantes Andressa Cristina Stuchi e Victor Antonio Ferreira Freire por auxiliarem na coleta de dados. À Prefeitura Municipal de Ituiutaba/Secretaria Municipal de Saúde. Ao apoio da Universidade Federal de Uberlândia concedido a execução do projeto “Atenção preventiva e educativa em saúde do idoso: o saber e o fazer compartilhados em Ituiutaba-MG” (SIEX 12440 e 15574). REFERÊNCIAS 1. 2. 3. ALMEIDA, O. P.; ALMEIDA, S.A. Confiabilidade da versão brasileira da Escala de Depressão em Geriatria (GDS) versão reduzida. Arquivos de Neuro-psiquiatria, v. 57, n. 2B, p. 421-426, 1999. 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Lidiane Riva Pagnussat UPF Siomara Regina Hahn (UPF Adriano Pasqualotti UPF 10.37885/201202417 RESUMO Os antimicrobianos são medicamentos que provocam a morte ou inibição do crescimento de microrganismos e são utilizados para o tratamento de infecções. As alterações fisiológicas (farmacocinéticas e farmacodinâmicas) que ocorrem com o envelhecimento podem dificultar o uso adequado dos antimicrobianos em pessoas idosas. Nesta perspectiva, a dose inapropriada e/ou o uso concomitante com outros fármacos podem potencializar o aparecimento de interações e reações adversas. O objetivo desta revisão é identificar as principais reações adversas encontradas na literatura para cada classe antimicrobiana em pacientes idosos. Realizou-se uma revisão bibliográfica de artigos em inglês e português, através do PubMed e BIREME publicados no período de 2010 até 2018. Os antimicrobianos estão entre as classes de medicamentos mais associadas a reações adversas, e entre estes, principalmente as penicilinas, fluorquinolonas, cefalosporinas, macrolídeos e sulfonamidas. As reações adversas podem ser de efeitos neurotóxicos, distúrbios dos tecidos cutâneos e subcutâneos, lesões renais, hipocalemia, reações hematológicas, entre outras. Os fatores de risco relacionados a estas reações a população idosa, podem ser insuficiência renal crônica, maior tempo de internação hospitalar, maior número de comorbidades e de medicamentos em uso. Por isso, os profissionais da saúde devem estar atentos a necessidades de adequação na terapia para garantir a segurança do tratamento nesta população. Palavras- chave: Idoso, Efeitos Colaterais e Reaç ões Adversas Relacionados a Medicamentos, Antimicrobianos INTRODUÇÃO Qualquer ocorrência médica desfavorável ocorrida durante o tratamento com um medicamento, mas que não possui, necessariamente, relação causal com esse tratamento é considerado um evento adverso. Este pode ser uma reação adversa a medicamento (RAM), que ocorre quando a resposta for nociva e não-intencional a um medicamento nas doses normalmente usadas em seres humanos. Essa resposta sofre interferência de fatores individuais de cada paciente (OMS, 2005). O envelhecimento da população é uma das mais significativas tendências do século XXI, no Brasil estima-se que a população de pessoas com 65 anos ou mais chegará a 25,2% em 2058 (IBGE, 2018). Essa população tem maior risco de sofrer reações adversas a medicamentos devido a alterações nas propriedades farmacocinéticas e farmacodinâmicas, uso de polifarmácia e inúmeras comorbidades (DAVIES; O’MAHONY, 2015; HILMER; MCLACHLAN; LE COUTEUR, 2007; WELKER; MYCYK, 2016). A alta incidência de eventos adversos foi descrita em um estudo de coorte americano com 30.397 adultos maiores de 65 ano que identificou 1523 eventos adversos a medicamentos. Destes, 27,6% (421) foram considerados evitáveis. O estudo encontrou uma taxa global de eventos adversos a medicamentos de 50,1 por 1000 pessoas-ano, com uma taxa de 13,8 eventos adversos evitáveis por 1000 pessoas-ano, sendo que 578 (38,0%) foram categorizados como graves, com risco de vida ou fatais (GURWITZ et al., 2003). As alterações fisiológicas como: aumento do pH gástrico, a redução da motilidade e da superfície de absorção no trato gastrointestinal, a diminuição do fluxo sanguíneo, diminuição do metabolismo hepático e do clearence de creatinina, assim como o aumento da gordura corporal e diminuição da massa muscular que ocorrem como envelhecimento, alteram a farmacocinética dos medicamentos causando modificações na absorção, distribuição, metabolismo, eliminação e ligação às proteínas (DAVIES; O’MAHONY, 2015; HILMER; MCLACHLAN; LE COUTEUR, 2007). Podem ocorrer também alterações fisiológicas que influenciam na farmacodinâmica dos medicamentos, e assim na resposta órgão-alvo. Essas podem estar relacionadas a modificações do sistema nervoso autônomo, alterações no número de receptores (números de canais de cálcio e nos receptores beta-adrenérgicos) e na afinidade de ligação receptor-medicamento (HILMER; MCLACHLAN; LE COUTEUR, 2007). Além disso, as pessoas idosas possuem um maior risco de infecções, a incidência de pneumonias adquiridas da comunidade pode ser até três vezes maior, e a de infecções urinárias em até duas vezes, quando comparada à população mais jovem. Esse risco pode estar relacionado a uma deficiência orgânica do sistema imunológico devido à redução na produção de anticorpos e células T que ocorre com o envelhecimento e a desnutrição (deficiência calórico-protéica, e/ou deficiência de micro-nutrientes) comum em pessoas idosas (MOREIRA et al., 2007). Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 299 Para o tratamento destas infecções é necessário o uso de antimicrobianos, que são medicamentos que provocam a morte ou inibição do crescimento de microrganismos (BARROS et al., 2013). As alterações fisiológicas (farmacocinéticas e farmacodinâmicas) que ocorrem com o envelhecimento podem dificultar o uso adequado dos antimicrobianos em pessoas idosas, por exemplo a dose apropriada para pessoas idosas pode não ser a mesma utilizada para adultos jovens. E o uso concomitante de outros fármacos pelas pessoas idosas, requer atenção especial em razão de potenciais interações e reações adversas (MOREIRA et al., 2007). Por estas razões é necessário monitorar o uso destes medicamentos nesta população, o que requer dos profissionais de saúde compreensão da eficácia dos medicamentos, da avaliação do risco de eventos adversos, discussão da relação dano/ benefício com o paciente, regime de dose e monitoramento cuidadoso do paciente e das possíveis intervenções na terapia medicamentosa dos mesmos (HILMER; MCLACHLAN; LE COUTEUR, 2007; MOREIRA et al., 2007). OBJETIVO Identificar as principais reações adversas encontradas na literatura para cada classe antimicrobiana em pacientes idosos. MÉTODOS Foi realizado uma revisão bibliográfica de artigos em inglês e português, através do PubMed e BIREME publicados no período de 2010 até 2018. Estudos adicionais foram identificados através de pesquisa bibliografias de artigos primários e resumos de conferências. As palavras de busca utilizadas foram Drug-Related Side Effects and Adverse Reactions, Antimicrobial e Aged. Todas as pesquisas foram limitadas a seres humanos. Os artigos foram excluídos quando, após leitura, não se referiam ao objetivo principal da presente pesquisa. Análise descritiva dos artigos foi realizada. RESULTADOS O Quadro 1 apresenta um resumo das principais reações adversas encontradas para cada classe antimicrobiana em paciente pessoas idosas. 300 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Quadro 1. Resumo das principais reações adversas encontradas para cada classe antimicrobiana. Classe de antimicrobianos Reações adversas Referências Fluorquinolonas Efeitos neurológicos (psicose aguda, confusão, delirium, alucinações, ansiedade, inquietação, euforia, tontura, insônia, mania, comportamentos suicidas) e neuropatia periférica; Descolamento de retina; Lesões hepáticas; Distúrbios: ▪ Renais (Lesões renais agudas); ▪ Hematológicos (trombocitopenia); ▪ Dos tecidos cutâneos e subcutâneos; ▪ Gastrointestinais; ▪ Associados ao colágeno (ruptura de tendão e aneurisma aórtico); Cardiopatias; Reações no local da administração endovenosa; CHOPRA et al., 2015; JUNG et al., 2017; LIN et al., 2014; MATTAPPALIL; MERGENHAGEN, 2014; MEREL; PAAUW, 2017; SAMYDE et al., 2016; TAMMA et al., 2017; VALOUR et al., 2014. Cefalosporisnas Efeitos neurológicos (confusão, delirium, convulsões, NCSE), mais comum com cefepime, ceftazidima e cefazolina; Distúrbios: ▪ Dos tecidos cutâneos e subcutâneos (mais comum com cefalosporinas de 3ª geração); ▪ Gastrointestinais (mais comum com cefalosporinas de 3ª geração); Hematológicos e sistema linfático (mais comum com cefalosporinas de 3ª geração); ▪ Respiratórios, torácicos e do mediastino (mais comum com cefalosporinas de 3ª geração); Hepáticos; Cardiopatas (mais comum com cefalosporinas de 2ª e 3ª geração) e Síndrome de Kounis (Mais comum ceftazidima); Nefrotoxicidade; CHOPRA et al., 2015; HONORE; SPAPEN, 2015; JUNG et al., 2017; KITULWATTE et al., 2017; LIN et al., 2014; MAC et al., 2015; MARCONDES-FONSECA et al., 2018; MATTAPPALIL; MERGENHAGEN, 2014; NAKAHARAI et al., 2016; TAMMA et al., 2017; VALOUR et al., 2014. Beta lactâmicos Efeitos neurológicos (comportamento bizzaro, confusão, delirium, desorientação, alucinações NCSE, convulsões) mais comum com a piperacilina/ tazobactam -Insuficiência renal aguda (potencializada no uso concomitante de outros agentes nefrotóxicos); Distúrbios: ▪ Hematológicos e sistema linfático; ▪ Hepatobiliares; ▪ Tecidos cutâneos e subcutâneos; ▪ Gastrointestinais; Afecções musculosqueléticas e dos tecidos conjuntivos; CHOPRA et al., 2015; JUNG et al., 2017; LIN et al., 2014; MARCONDES-FONSECA et al., 2018; MATTAPPALIL; MERGENHAGEN, 2014; TAMMA et al., 2017; VALOUR et al., 2014. Carbapenêmicos Efeitos neurológicos (Declínio cognitivo, delirium, alucinações, síndrome psicótica, convulsões) mais comum com a imipenem e ertapenem; Distúrbios: ▪ Gastrointestinais; ▪ Dos tecidos cutâneos e subcutâneos; JUNG et al., 2017; MATTAPPALIL; MERGENHAGEN, 2014. Macrolídeos Efeitos neurológicos (psicose aguda, delirium, mania) mais comum claritromicina e eritromicina; Hipotensão (principalmente associados bloqueadores dos canais de cálcio); Distúrbios renais (Lesões renais agudas); MATTAPPALIL; MERGENHAGEN, 2014; VALOUR et al., 2014; WRIGHT et al., 2011. Sulfonamidas Efeitos neurológicos (psicose aguda, meningite asséptica, alucinações) mais comum com SMX/TMP; Hipercalemia (interação com diurético); Hipoglicemia; Distúrbios dos tecidos cutâneos e subcutâneos; ANTONIOU et al., 2011a, 2011b; JUNG et al., 2017; LIN et al., 2014; MATTAPPALIL; MERGENHAGEN, 2014; MEREL; PAAUW, 2017; ROSSIO et al., 2018; WEIR et al., 2010. Nitroimidazólicos Efeitos neurológicos (agitação, alteração do estado mental, disfunção cerebelar, encefalopatia, ototoxicidade, neuropatia periférica, psicose, convulsões) principal metronidazol. JUNG et al., 2017; MATTAPPALIL; MERGENHAGEN, 2014; TAMMA et al., 2017. Oxazolidinonas Efeitos neurológicos (Delirium, encefalopatia, neuropatia periférica, Síndrome serotoninérgica) mais comum linezolida; MATTAPPALIL; MERGENHAGEN, 2014. Outros antibióticos Hipercalemia (nitrofurantoína); Vómitos, aumento da bilirrubina no sangue (Rifampicina); MEREL; PAAUW, 2017; VALOUR et al., 2014. Glicopéptidos Reações alérgicas (erupção cutânea difusa e síndrome do homem vermelho); Distúrbios ▪ Renais (Lesões renais agudas); ▪ Hematológicos e sistema linfático; VALOUR et al., 2014. Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 301 Classe de antimicrobianos Reações adversas Referências Aminoglicosídeo Distúrbios renais (Lesões renais agudas); Nefrotoxicidade, neurotoxicidade (ototoxicidade, neuropatia periférica, encefalopatia, delirium e bloqueio neuromuscular), sintomas vestibulotóxicos (tontura, ataxia ou nistagmo) principalmente gentamicina e a tobramicina. E neuropatia periférica e encefalopatia; MATTAPPALIL; MERGENHAGEN, 2014; VALOUR et al., 2014. NCSE = Status epilepticus não convulsivos SMX/TMP = sulfametoxizol/trimetoprima DISCUSSÃO Eventos adversos a medicamentos são importantes causas evitáveis de hospitalização em pessoas idosas, principalmente entre adultos com 80 anos ou mais (BUDNITZ et al., 2011). Um estudo americano avaliou 1488 pacientes, com idade mediana de 59 anos, internados em um hospital de ensino, que utilizaram antibióticos. Foi registrado pelo menos um evento adverso em 298 (20%) pacientes. A prescrição sem necessidade de regimes antimicrobianos foi associada a um evento adverso em 56 pacientes, incluindo 7 casos de infecção por C. difficile. O risco de evento adverso aumenta 3% a cada 10 dias adicionais de antibioticoterapia e os eventos mais comuns foram distúrbios gastrointestinais (42%), renais (24%) e hematológicos (15%) (TAMMA et al., 2017). Em Portugal, um estudo mostrou que os antibióticos foram a classe de medicamentos mais associadas a RAMs (22%), seguido das vacinas (16%) e fármacos que atuam no sistema nervoso (15%), e foram mais comuns entre adultos de 19 e 65 anos (56,9%) e com mais de 65 anos (23,2%). Dentre os antimicrobianos o relato de RAM foi principalmente para as penicilinas associadas a inibidores de beta-lactamases (20,7%), quinolonas (16,7%), cefalosporinas (12,6%), penicilinas (9,7%), macrolídeos (7,6%) e sulfonamidas (6,5%) (MARQUES et al., 2013). Um estudo brasileiro encontrou uma incidência de RAM de 16,2% em pacientes hospitalizados sendo que os antibióticos foram os medicamentos mais comumente envolvidos (21,2%), seguidos por opioides (13,8%). Os fatores de risco relacionados a RAM foram: insuficiência renal crônica, maior tempo de internação hospitalar, uso de polifarmácia, pois para cada medicamento introduzido durante a internação aumentou em 10% a taxa de reação adversa a medicamentos (MARCONDES-FONSECA et al., 2018). Um estudo francês de coorte retrospectivo (de 2001 a 2011) avaliou 200 pacientes, com idade mediana de 60,8 anos, em terapia com antimicrobiano anti-estafilocócico, e identificou 38 reações adversas em 30 pacientes (15%). As principais reações foram hematológicas, cutâneo-mucosas, lesões renais agudas, hipocalemia e hepatite colestática(VALOUR et al., 2014). Como a população idosa está mais predisposta as reações adversas ao antimicrobianos, torna-se fundamental o conhecimento dos profissionais sobre as possíveis RAM associadas a terapia antimicrobiana. As reações adversas podem acometer diferentes sistemas do corpo humano e ter diferentes classificações de gravidade (OMS, 2005). Entre elas destacam-se as alterações do sistema nervoso central, que podem ter sérias consequências na 302 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 população idosa devido aos riscos (quedas, interações com outros medicamentos, toxicidade, entre outros). A exposição recorrente a antibióticos está associada ao aumento do risco de depressão e ansiedade (LURIE et al., 2015), e o desenvolvimento de vários sintomas de neurotoxicidade em pessoas idosas pode ser comum com o uso de piperacilina/tazobactam, cefalosporinas, carbapenêmicos, aminoglicosídeos, trimetoprim/sulfametoxazol, nitrofurantoína, linezolida e fluoroquinolonas. Os mecanismos potenciais de neurotoxicidade diferem entre os agentes ou não estão totalmente elucidadas. A incidência pode aumentar com os fatores de risco relatados, disfunção renal ou interações medicamentosas (MATTAPPALIL; MERGENHAGEN, 2014). As reações adversas cutâneas graves também são importantes e incluem a síndrome de Stevens-Johnson (SSJ), necrólise epidérmica tóxica (NET), erupção medicamentosa com eosinofilia e sintomas sistêmicos (DRESS) e pustulose exantemática generalizada aguda (PEGA), relacionados ao uso de antibióticos sistêmicos como penicilinas, cefalosporina e glicopeptídeos. Nesses casos pode ser necessário uso de terapia alternativa, uso de corticosteróides e imunoglobulina intravenosa {Formatting Citation}. Importante reação adversa que ocorre principalmente com o uso prolongado a antimicrobianos é a colite pseudomembranosa, provocada por toxinas produzidas por cepas de Clostridium difficile no trato gastrintestinal. Os principais sintomas são diarreia, algumas vezes sanguinolenta, e para o tratamento é preciso adicionar à terapia outros antimicrobianos como o metronidazol e/ou vancomicina (MCDONALD et al., 2018). Existem diversos tipos de RAM, estudos recentes descrevem mecanismos associando possíveis causas e intervenções necessárias para os principais grupos de antimicrobianos, como: Cefalosporinas a) Síndrome de Kounis, também conhecida como infarto do miocárdio alérgico ou síndrome da angina alérgica, coincide com a dor no peito e reações alérgicas, reação incomum grave que pode ocorrer com a ativação de células inflamatórias (relato após uso de ceftazidima) (KITULWATTE et al., 2017). b) Nefrotoxicidade: pode ser um evento comum com o uso de cefalosporinas, a nefrite intersticial aguda e um evento raro que pode ocorrer com o uso de cefepime, mesmo sendo considerada seguro no aspecto de nefrotoxicidade. Desta forma a monitorização cuidadosa dos parâmetros renais deve ser realizada em pacientes em terapia prolongada com cefepime (MAC et al., 2015). c) Hepatotoxidade: a Ceftriaxona foi reconhecida como um medicamento bem tolerado; no entanto, em alguns casos, a disfunção hepática ocorre após o uso de altas doses de ceftriaxona (NAKAHARAI et al., 2016) Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 303 d) Distorções no sistema nervoso central como: encefalopatia, confusão, mioclonia, coma, convulsões, delirium e status epilepticus, ocorrem pelo antagonismo do GABA pelas cefalosporinas. O risco maior ocorre no uso da cefepime devido à boa penetração no SNC, e uso de altas doses. Os fatores de risco associados incluem insuficiência renal, doença neurológica pré-existente e idade avançada. A resolução dos efeitos ocorreu após a descontinuação da cefalosporina, mas recomenda-se ajuste de dose nas cefalosporinas eliminadas renalmente para prevenir a neurotoxicidade em pessoas com insuficiência renal (MATTAPPALIL; MERGENHAGEN, 2014). Fluoroquinolonas a) Neuropatia periférica é uma RAM que pode ocorrer em até 24 horas após o início do agente e algumas vezes durar meses ou anos ou ser permanente {Formatting Citation}. b) Distúrbios no sistema nervoso central com sintomas de ansiedade, inquietação, euforia, tontura, dor de cabeça e insônia. Não são efeitos colaterais comuns, mas ocorrem em 1% -2% dos pacientes que utilizam essa classe de medicamentos A etiologia da toxicidade induzida pela fluoroquinolona no SNC é provavelmente multifatorial, mas a interação entre quinolonas e neurotransmissores é responsável pela maioria dos efeitos adversos neurológicos, como as quinolonas possuem capacidade de deslocar o GABA do seu local de ligação ao receptor, pela influência da cadeia lateral localizada na posição 7 das quinolonas. (MATTAPPALIL; MERGENHAGEN, 2014). c) Distúrbios associados ao colágeno, como a ruptura de tendão e aneurisma aórtico. A ruptura do tendão de Aquiles é provavelmente a mais comum e o risco é maior em pessoas idosas e no uso concomitante de corticosteróides (LIN et al., 2014; MEREL; PAAUW, 2017). Sulfonamidas a) Hipercalemia (aumento dos níveis de potássio): O trimetoprim, age como o diurético poupador de potássio e reduz a excreção urinária de potássio em 40%, a hipercalemia ocorre com mais frequência quando associado a um inibidor da enzima conversora de angiotensina (IECA) ou bloqueador do receptor de angiotensina ou pacientes com insuficiência renal (MEREL; PAAUW, 2017). Essa reação foi associada a interação com espironolactona (diurético poupador de potássio). Um estudo de 18 anos realizado com pacientes de 66 anos ou mais, tratados com espironolactona que internaram por hipercalemia, identificou 6903 internações por hipercalemia, das quais 306 ocorreram dentro de 14 dias após o uso de antibióticos e 10,8% destes utilizaram trimetoprim-sulfametoxazol (TMP-SMX). O estudo sugere que aproximadamente 60% de todos os casos de hipercalemia em pessoas idosas com infecção do trato urinário poderiam ser evitados se TMP-SMX não fosse prescrito (ANTONIOU 304 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 et al., 2011a). O cuidado na prescrição concomitante destes fármacos se deve ao fato do aumento dos níveis de potássio poder causar distúrbios fatais no coração (ROCHA, 2009). b) Hipoglicemia: pode ocorrer com o uso de TMP-SMX, por isso a necessidade de monitorar pacientes diabéticos em uso de múltiplos medicamentos, a suspensão do antibiótico pode ser necessária para que os níveis de glicose no plasma estabilizem (ROSSIO et al., 2018). c) Toxicidade: Um estudo realizado com pessoas idosas internados por intoxicação pela fenitoína, mostrou que a associação com o antibiótico TMP-SMX, está associado a um aumento de mais de duas vezes no risco de toxicidade por fenitoína. Essa interação ocorre porque o trimetoprim (TMP) pode inibir o metabolismo hepático da fenitoína (ANTONIOU et al., 2011b). d) Neurotoxicidade (psicose aguda): O mecanismo ainda não está claro e variam com a idade (maior em pessoas idosas), comorbidades (fator de risco HIV), uso de medicamentos concomitantes, dosagem, indicações de uso, via de administração, início da apresentação e resolução dos sintomas. Pode existir uma correlação entre a deficiência de glutationa e o aumento da frequência da toxicidade de TMP-SMX, porque as propriedades antioxidantes da glutationa normalmente impedem o metabolismo de metabólitos instáveis de sulfonamida relatados como responsáveis pelas reações adversas ao TMP-SMX. Um mecanismo secundário, é a interferência do TMP-SMX na síntese de tetra-hidrobiopterina, que é um co-fator utilizado na formação de dopamina e serotonina. Deficiências nesses neurotransmissores podem contribuir potencialmente para os efeitos colaterais do SNC. (MATTAPPALIL; MERGENHAGEN, 2014). Macrolideos a) Hipotensão: principalmente durante o uso de bloqueador dos canais de cálcio. Um estudo com 7100 pacientes de 66 anos ou mais admitidos no hospital por causa de hipotensão durante o uso de um bloqueador dos canais de cálcio, mostrou que 176 pacientes receberam antibiótico macrolídeo durante os intervalos de risco ou controle. A eritromicina (o mais forte inibidor do citocromo P450 3A4) foi mais fortemente associada à hipotensão, seguida por claritromicina, já a azitromicina, que não inibe o citocromo P450 3A4, não foi associada a um risco de hipotensão. Essa reação ocorre devido a inibição das enzimas do citocromo P450 envolvidas no metabolismo do fármaco, particularmente a isoenzima 3A4 do citocromo P450. A interação desses medicamentos tem alto risco de toxicidade cardiovascular, por isso quando necessária associação de um antibiótico macrolídeos, em pacientes que estejam recebendo um bloqueador dos canais de cálcio, deve-se preferir a azitromicina (WRIGHT et al., 2011). b) Neurotoxicidade: os mecanismos de toxicidade do SNC não são claros. Várias hipóteses incluem interações medicamentosas (metabolismo através do citocromo P450 3A4), Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 305 efeitos adversos do metabolito lipossolúvel ativo da claritromicina (14-hidroxicaritromicina) no SNC, alterações do cortisol e do metabolismo das prostaglandinas, bem como interações com as vias glutaminérgicas e GABA. Os sinais de neurotoxicidade podem ser: delirium, psicose aguda, mania, alucinações, depressivo maior. O envelhecimento foi considerado um fator de risco e a resolução ocorreu com a descontinuação do tratamento, mas alguns pacientes podem necessitar uso de agentes antipsicóticos ou ansiolíticos durante a apresentação sintomática inicial. (MATTAPPALIL; MERGENHAGEN, 2014). Outros antimicrobianos a) Nitrofurantoína: O tratamento com nitrofurantoína foi associado a um risco aumentado de hipercaliemia durante o tratamento com espironolactona, em uma pesquisa que incluiu 6903 internações, por hipercalemia, de pacientes de 66 anos ou mais, tratados com espironolactona. Essa reação pode ocorrer pois nitrofurantoína inibe a biossíntese de esteróides, resultando em uma redução de 50% na liberação de aldosterona pelas células adrenocorticais (ANTONIOU et al., 2011a). O uso deste antimicrobiano pode provocar sintomas de neurotoxicidade, que incluem neuropatia periférica, tontura, vertigem, diplopia, disfunção cerebelar e hipertensão intracraniana benigna. A patogênese da neuropatia associada ao uso da nitrofurantoína pode ocorrer devido a perda de axônios, embora o mecanismo de preferência pelas fibras nervosas seja desconhecido. Após a descontinuação a recuperação neurológica parcial ocorreu 21 meses após a cessação. Os sintomas persistentes incluíram dor neuropática leve, dormência e diminuição das sensações de temperatura das extremidades digitais.(MATTAPPALIL; MERGENHAGEN, 2014). b) Daptomicina pode provocar neuropatia periférica, reação incomum, que pode estar associada a uma possível alteração em uma via metabólica (polimorfismos do gene ABCB1) (PIÑEIRO et al., 2018). c) Nitroimidazol podem provocar sintomas de neurotoxicidade incluem parestesias, neuropatias periféricas, convulsões, marcha atáxica, disartria e encefalopatia. A patogênese da neurotoxicidade induzida pelo metronidazol não está totalmente elucidada, podendo está relacionada a degeneração axonal por metabolitos do metronidazol inibindo a síntese proteica e a modulação do receptor GABA nos sistemas cerebelar e vestibular (MATTAPPALIL; MERGENHAGEN, 2014). d) Clindamicina pode produzir bloqueio neuromuscular, mecanismos hipotéticos de efeitos de bloqueio incluem ação direta na contratilidade muscular e diminuição da sensibilidade à liberação de acetilcolina. É um efeito adverso raro, mas grave (MATTAPPALIL; MERGENHAGEN, 2014). 306 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 O Quadro 1 apresenta um resumo das principais reações adversas encontradas para cada classe antimicrobiana em paciente pessoas idosas. Além das RAMs descritas, é importante atentar as alergias aos antimicrobianos, que são reações de hipersensibilidade que podem ocorrer para qualquer fármaco. São tipicamente imprevisíveis e implicam alteração da terapêutica, podendo ser fatais (DEMOLY et al., 2014). As alergias a antimicrobianos foram investigadas em um estudo australiano que identificou em 24% (107) dos pacientes internados, uma alergia a antimicrobianos, sendo que a média de idade destes foi de 82 anos (TRUBIANO et al., 2016). Um estudo americano investigou a causa de anafilaxia perioperatória e identificou que a causa mais frequente foi o uso de antimicrobianos 59% (10) (β-lactâmicos e metronidazo) (GONZALEZ-ESTRADA et al., 2015). Estudo de Valour et al., 2014 mostrou que 23,7% (9) das reações adversas a antimicrobianos foram reações alérgicas como erupção macropapular (5), síndrome de Stevens-Johnson (3) e choque anafilático (1) e ocorreram com antimicrobianos Glicopeptídeos (5), fluoroquinolonas (6), rifampicina (4), β-lactâmicos (3) e macrolídeos (1) (VALOUR et al., 2014) resultados semelhantes ao encontrado num estudo da Coréia do Sul que relatou reações imunológicas de hipersensibilidade, anafilaxia, síndrome de Stevens-Johnson e angioedema com o uso de antimicrobianos (JUNG et al., 2017). CONCLUSÃO / CONSIDERAÇÕES FINAIS Os pacientes geriátricos possuem múltiplas comorbidades que geralmente têm implicações funcionais significativas e ampla variabilidade interindividual. A prescrição para pessoas idosas requer a individualização da terapia, considerando a compreensão da eficácia dos medicamentos, avaliação das interações medicamentosas, do risco de eventos adversos e da relação dano/benefício nessa população. Embora os antibióticos tenham papel imprescindível na terapia medicamentosa para o manejo das infecções, quando usados adequadamente, as RAM relatadas na literatura, apontam a importância da prescrição criteriosa destes para reduzir os danos aos pacientes. Os profissionais da saúde devem estar atentos a necessidade de ajuste de dose, principalmente em pacientes com características fisiológicas alteradas, como ocorre na população idosa. Assim, o monitoramento criterioso da resposta do paciente ao tratamento, o uso concomitante de outros medicamentos e o manejo das potencias reações adversas, devem ser sistematicamente implantados na terapia com antimicrobianos. REFERÊNCIAS 1. ANTONIOU, T. et al. 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Contudo, não se encontrou na literatura estudos que evidencie os efeitos desse método na população idosa, sobretudo, a partir do ponto de vista dos/as próprios/as idosos/as. Nessa direção, esse artigo tem como objetivo analisar e compreender as representações sociais dos/as idosos/as que praticam Pilates em estúdios da cidade de Recife-PE e os impactos desse método em sua saúde e qualidade de vida. A abordagem é qualitativa e o estudo se caracteriza como de caso, de natureza explicativa. Para coleta de dados utilizou-se a entrevista estruturada acompanhada de questionário com perguntas abertas e fechadas e como método de análise se privilegiou as Representações Sociais. A totalidade dos/as idosos/ as gosta de praticar o Pilates e avaliam o método como excelente, por ser muito eficiente, propiciar efeitos significativamente positivos em vários aspectos, principalmente no que se refere a melhoria da força, da mobilidade, sobretudo, das articulações, do equilíbrio, da flexibilidade, dá segurança, funcionando como um instrumento positivo para melhoria de doenças que os/as acometem no processo de envelhecimento, inclusive as doenças psicossociais, o alivio da depressão, o aumento da autoconfiança e a melhora da autoestima. Considera-se que os impactos do Método Pilates sob o ponto de vista dos/as entrevistados/as são efetivos para melhoria da saúde e qualidade de vida. Palavras-chave: Método Pilates, Efeitos ou Impactos, Processo de Envelhecimento, Saúde e Qualidade de Vida. INTRODUÇÃO Considera-se a importância e atualidade do fenômeno investigado, sobremaneira, por se preocupar em estudar os impactos do Método Pilates na vida dos/as idosos/as que praticam essa atividade de condicionamento físico em estúdios da cidade de Recife-PE e sua relação com a melhoria da saúde e qualidade de vida. A preocupação passa, especialmente, pelos indicadores demográficos que apresentam o Brasil como um país que está envelhecendo. Os estudos mostram que o Brasil vive uma transição demográfica acelerada, cuja tendência é o crescimento da população acima de 60 anos de idade e a diminuição das taxa de fecundidade. Segundo o IBGE (2010), estima-se que a expectativa de vida aumentará de 75 para 81 anos, induzida pelas melhorias nos aspectos médico-sanitários e pelo planejamento familiar. Nesse contexto, mais do que a média internacional, em 2050 o Brasil triplicará em quantidade de idosos/as, enquanto duplicará no mundo, isso é extremamente preocupante. Segundo Lima (2014) o envelhecimento desta população traz consigo a necessidade de um cuidado equânime, integral e efetivo que associa múltiplos eixos que interferem na saúde, como os hábitos de vida, a capacidade física e funcional, interação social, a percepção das condições de saúde e socioeconômicas para um envelhecimento saudável. Para Borges et al., (2014) o/a idoso/a pode interpretar o seu declínio físico, funcional, de saúde de diversas maneiras, sendo a autopercepção um importante e confiável preditor de morbidade física, emocional e de déficit físico e funcional. Importante se faz os estudos que utilizam métodos de autoavaliação, que utilizam ao questionar o/a idoso/a “como ele classifica a sua saúde”. A partir desses pressupostos, a preocupação desse estudo, é, particularmente, o desafio de contribuir com o processo de envelhecimento, para que seja mais bem vivido pelas pessoas que compõem esse segmento populacional, a partir da valorização das suas potencialidades físicas e intelectuais e que a atividade física seja reconhecida como um meio através do qual como sujeito, o/a idoso/a possa conscientemente reconhecê-la como uma prática valiosa, como elemento de contribuição para a melhoria de sua saúde e qualidade vida. Nesse contexto, são inúmeros os estudos que reforçam o método Pilates como um instrumento preventivo, uma vez que promove o fortalecimento muscular, equilíbrio, flexibilidade, melhora da postura, controle motor e consciência corporal, propiciando a redução do estresse, por conseguinte, aprimora o foco mental e gera um equilíbrio entre o corpo e a mente. Segundo Lima e Mejia (2016, p.1), Gallagher e Kryzanowska (2000), Latey (2001), Segal et al. (2004), Pires e Sá (2005), Aparício e Perez (2005), Bertolla et al. (2007), com a prática regular de exercício físico, os/as idosos/as podem reverter as suas limitações físicas e funcionais decorrentes do processo de envelhecimento, melhorar sua autonomia, sua capacidade física, seus relacionamentos sociais e o aspecto psicológico, uma vez que a 312 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 reintegração social minimiza problemas de solidão e depressão, proporcionando bem-estar geral e qualidade de vida. Estudos de Pilates e Miller (2006) são enfáticos em afirmar os benefícios do Método Pilates para esse segmento da população, no entanto, não se encontrou na literatura pesquisas que comprove esses efeitos a partir do ponto de vista dos/as próprios/as idosos/as. Nessa direção, este estudo tem como objetivo analisar e compreender as representações sociais dos/as idosos/as submetidos/as à intervenção com o Método Pilates em estúdios da cidade de Recife-PE. Mais especificamente, a proposta é entender quais são os impactos ou efeitos desse método na vida dos/as idosos/as e sua relação com a melhoria da saúde e qualidade de vida. Trata-se de um estudo de caso, de abordagem qualiquanti, que utilizou como método de análise as representações sociais, tendo em vista encontrar elementos do discurso social trazidos pelos/as idosos/as, sujeitos da pesquisa, para melhor compreensão do fenômeno social estudado (MOSCOVICI, 1981). Destaca-se que esta pesquisa vem consolidar outros estudos desenvolvidos pelo Curso de Pós-Graduação - Especialização em Treinamento de Força para Saúde da Universidade Estadual de Pernambuco e pelo Programa de Pós-Graduação em Consumo, Cotidiano e Desenvolvimento Social/UFRPE. Ademais visa subsidiar o planejamento de políticas sociais voltadas para os/as idosos/as no processo de envelhecimento, na perspectiva de indicar condições para promover a sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade com bem-estar, saúde e qualidade de vida. OBJETIVO Analisar e compreender as representações sociais dos/as idosos/as submetidos/as à intervenção com o Método Pilates em estúdios da cidade de Recife-PE. Mais especificamente, a proposta é entender quais são os impactos ou efeitos desse método na vida dos/ as idosos/as e sua relação com a melhoria da saúde e qualidade de vida. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Abordagem e Tipologia de Estudo A abordagem é qualiquanti e o estudo que se caracteriza como de caso, de natureza explicativa. A opção pelo estudo de caso justifica-se por este método de investigação ser adequado ao estudo dos fenômenos que não estão claramente esclarecidos, conforme salienta Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 313 Yin (2005, p. 94). Nesses termos, o estudo de caso vai possibilitar apreender o fenômeno a ser pesquisado dentro do seu contexto real e como se encontra situado. O interesse da pesquisadora é compreender os processos sociais que ocorrem num determinado contexto na perspectiva de abranger a situação investigada de forma ampla e em profundidade, entendendo o seu significado para os envolvidos com a situação, conforme Chizzotti (1995) e Yin, (2005). Para esses autores, o estudo de caso constitui uma descrição (holística e intensiva) de um fenômeno social bem delimitado (um programa, uma instituição, uma pessoa, um grupo de pessoas, um processo social ou unidade social). Segundo Viana (2017, p. 105), o estudo de caso além de permitir a utilização de métodos e técnicas diversificadas de modos para explorar o fenômeno - entrevistas, observações, relatos, avaliações – propicia um retrato abrangente e detalhado do fenômeno estudado, favorecendo a organização de um estudo ordenado e crítico do fenômeno estudado (CHIZZOTTI, p.102). Nessa direção, o estudo de caso propiciou a compreensão dos significados acerca do Método Pilatos e sua relação com a melhoria da saúde e qualidade de vida no processo de envelhecimento, a partir das representações sociais que os/as idosos/as têm sobre o fenômeno estudado. Através da pesquisa qualitativa e do estudo de caso foi possível trabalhar com o método de análise das representações sociais. Esse método tem o privilégio de possibilitar trabalhar pouco as generalizações e mais o aprofundamento e a abrangência das representações subjetivas dos sujeitos, fundamentadas no o senso comum, construtor da realidade social UNIVERSO E AMOSTRA A amostra da pesquisa se constituiu de 10 idosos/as na faixa etária de 60 a 80 anos de idade, aposentados/as e na ativa, bem como pensionistas, a maioria (70%) classificada segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2015) na Classe Média (Classe C) e Classe Média Baixa (Classe D) cuja renda auferida se encontra na faixa entre 2 a 6 salários-mínimos. Os demais, em menor percentual (30%) se encontram na Classe Média Alta (Classe B). Para escolha da amostra se considerou a ênfase dada pela literatura acerca da pesquisa qualitativa. Para Hodges e Richardson (1997, p. 218), o quantitativo de entrevistas deve permitir transcrever os dados e tirar conclusões possíveis sem probabilidade de saturação. Desse modo, para este estudo considerou-se a quantidade de 10 entrevistados/as como satisfatória e mais apropriada para trabalhar com as representações subjetivas dos sujeitos da pesquisa, construtores da realidade social. 314 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Os/as idosos/as de 4 Estúdios de Pilates da cidade de Recife foram previamente cadastrados/as numa ficha (contendo nome completo, endereço e telefone) e, posteriormente, contatados/as para a subsequente entrevista. De 20 idosos/as cadastrados (nomes fictícios), 10 ligaram dizendo que gostariam de participar da pesquisa, estes/as constituíram a amostra. INSTRUMENTOS E TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS Utilizou-se a Entrevista Estruturada acompanhada de um roteiro integrando perguntas abertas e fechadas que dirigiu o processo de investigação. A Entrevista Estruturada, segundo Hodges e Richardson (p.207), é uma técnica que facilita a interação face a face, elemento fundamental na pesquisa qualitativa e que permite o desenvolvimento de uma estreita relação entre o entrevistador e o sujeito entrevistado. Nessa direção, o instrumento de coleta de dados se constituiu de um formulário de entrevista integrando perguntas abertas e fechadas compondo cinco 3 blocos, a saber: BLOCO I – Dados de identificação da entrevista; BLOCO II – Caracterização socioeconômica e demográfica dos entrevistados/as BLOCO III – Representações sociais dos/as idosos/as acerca dos impactos ou efeitos do Método Pilates e sua relação com a melhoria da saúde e qualidade de vida no processo de envelhecimento. A primeira versão do formulário de entrevista foi pretextada com cinco (5) idosos/as, de um Estúdio de Pilates da cidade do Recife-PE, entre aqueles não selecionados para integrar a amostra. Após aplicação do questionário se verificou a sua adequação no que diz respeito à compreensão e ordenamento das perguntas e à pertinência das questões aos propósitos do estudo. As entrevistas foram realizadas pela própria autora, gravadas e registradas. No final, cada idoso/a ciente da entrevista assinou o Termo de Consentimento Livre Esclarecido. A pesquisa de campo foi realizada entre os meses novembro e dezembro de 2017, com duração média de 1 hora, nos Estúdios de Pilatos selecionados para pesquisa. Depois de realizadas as entrevistas, as respostas foram tabuladas e, em seguida, categorizadas e distribuídas segundo o conteúdo das respostas, sobressaindo-se os depoimentos mais significativos dos/as entrevistados/as. As categorias foram apresentadas em forma de tabela, considerando às frequências estatísticas, analisadas, posteriormente, tendo como referência a teoria das representações sociais. MÉTODO DE ANÁLISE DE DADOS A teoria do método de análise das representações sociais, utilizado em várias áreas do conhecimento, tem como figura central Serge Moscovici (1981). Para este teórico, a Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 315 noção de representação social parte de um conjunto de conceitos, afirmações e explicações originadas no cotidiano, no curso de comunicações interindividuais (MOSCOVICI, p. 181). As representações sociais, segundo Moscovici (1981, p.123), se constituem em uma das formas de compreensão da realidade, do mundo concreto, que permite encontrar elementos do discurso social trazido pelos sujeitos sociais para melhor compreensão dos fenômenos sociais. Nessa direção, como base nesse método, objetivando compreender as ideais, visões, interpretações e concepções que os/as idosos/as submetidos/as à intervenção com o Método Pilates, possuem a respeito dos impactos ou efeitos do método e sua relação com a melhoria da saúde e qualidade de vida, insere-se neste estudo o conceito das representações sociais, tendo em vista compreender a realidade, do mundo concreto, permitindo encontrar elementos do discurso social trazido pelos sujeitos sociais para melhor compreensão dos fenômenos sociais (MOSCOVICI, p. 123). De acordo com as representações sociais que regem as relações entre as pessoas, orientam as condutas e definem as identidades pessoais e sociais, segundo Viana (2017), as representações sociais são um método eficiente para análise das concepções de idosos/as, uma vez que evidenciam os fatores que afetam e traduzem, na sociedade contemporânea, o processo de envelhecimento e o estigma sofrido pelos idosos. Todo estudo tem uma base de cunho bibliográfico. Nessa direção, utilizou-se para análise e fundamentação teórica do fenômeno diversos estudos publicados em periódicos nacionais e internacionais, bancos de dissertações e teses da CAPES, livros, entre outros. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados das análises desenvolvidas neste estudo, a partir das representações sociais dos/as idosos/as submetidos/as à intervenção com o Método Pilates em Estúdios da cidade de Recife-PE, evidenciam os efeitos ou impactos desse método na melhoria da saúde e a sua relação com qualidade de vida. Mais, especificamente, apresentam as respostas em relação aos efeitos dos exercícios físicos baseados no Método Pilates e a melhora da capacidade funcional e na qualidade de movimento e vida dos/as idosos/as. Esse problema se faz presente mediante o contínuo crescimento da população idosa em nosso país e em todo mundo. Em consequência, esse crescimento tem colocado em evidência à incidência de inúmeras doenças e males que tem acometido essa população, por conseguinte, muitos idosos/as têm procurado o Método Pilates em busca de saúde e manutenção das capacidades físicas, funcionais e prevenção de doenças. A Tabela 1 apresenta as categorias analisadas, tendo como referência a teoria das representações sociais e às frequências estatísticas. 316 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 TABELA 1. Representações sociais dos/as idosos/as participantes da pesquisa sobre o Método Pilates e seus impactos no processo de envelhecimento - Recife, 2017. REPRESENTAÇÕES SOCIAIS Frequência das respostas Nº % Sim 08 80,00 Caminhada 05 50,00 Dança 01 10,00 Musculação 01 10,00 Alongamento/ Yoga 01 10,00 Não 02 20,00 Sim 06 60,00 Desenvolvimento Físico (muscular, do equilíbrio, da força) 01 10,00 Quem foi o fundador do método 01 10,00 Saúde geral (físico, mental, espiritual) 04 40,00 Não 04 40,00 I. Faz alguma atividade física Além do Pilates? II. Você sabe o que significa o termo Pilates? III. Porque resolveu procurar o Método Pilates? Dores (na coluna e articulações) 04 40,00 Melhorar a postura, a coordenação motora, a mobilidade, fortalecer os músculos 04 40,00 Flexibilidade dos membros 01 10,00 Portadora de osteoporose 01 10,00 2 a 4 meses 02 20,00 Faz mais 2 anos 03 30,00 Faz 4 anos 04 40,00 Há quase 8 anos 01 10,00 IV. Quanto tempo prática Pilates? V. Que objetivos pretende atingir com a prática do Pilates? Melhorar a qualidade de vida (equilíbrio emocional, tensão, estresse) 02 20,00 Melhorar a condição física (fortalecimento muscular, flexibilidade, força, resistência física) 06 60,00 Melhorar as dores (muscular, tensão) 02 20,00 Total 10 100,00 Fonte: autora I. Faz alguma atividade física Além do Pilates? Dos/as idosos/as entrevistados, a quase totalidade (80%) prática outra atividade física além do Pilates. Entre as atividades 50% praticam caminhada, 10% dança, 10% faz musculação e 10% alongamento com yoga. Quando se perguntou por que praticavam mais de uma atividade, a maioria (68%) respondeu enfatizando que “é muito bom”, “é saudável”, seguidos de 22% daqueles/as que ressaltaram ser bom”, “previne doenças” e 10% que disseram que é saudável, traz mais “qualidade de vida.” As representações sociais dos/as idosos/as revelam que os/as mesmos/as tem uma compreensão da importância da adoção de hábitos saudáveis de vida, sendo a prática de atividade física um desses hábitos. As concepções dos/as idosos/as contrariam aquela ideia, Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 317 visão de que na faixa etária em que se encontram é tarde ou não adianta mais cuidar da saúde. Ao contrário para as idosas sujeito desse estudo, a prática da atividade física: [...] é muito bom, além do Pilates faço caminhada duas vezes por semana e me faz muito bem, durmo bem, fico relaxada, me sinto mais jovem (Francisca, 74 anos); [...] tinha pressão alta, depois que passei a caminhar, a pressão melhorou bastante, por isso faço Pilates e caminho quantas vezes for possível na semana (Maria de Lourdes, 80 anos); [...] caminhar melhora a saúde, evita doenças, é muito saudável, é importante para qualidade de vida (Maria José, 77). Os depoimentos revelam que a adoção de hábitos saudáveis de vida é importante em todas as etapas da vida, independente de faixa etária e que a prática de atividades físicas adequadas pode prevenir doenças, retardar o declínio funcional, aumentar a longevidade e promover a qualidade de vida. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (2005) até 2025 o Brasil será o sexto país do mundo em número de idosos, nessa direção o incentivo a prática regular de atividades físicas desse segmento da população é essencial considerando que a prática da atividade física contribui para melhorar a saúde mental, promove o contato social, reduz o risco de quedas e traz mais independência e autonomia para o/a idoso/a. Para Maciel (2010, p. 1025) a adoção de um estilo de vida ativo proporciona diversos benefícios à saúde, uma vez que é considerado como um importante componente para a melhoria da qualidade de vida e da independência funcional do/a idoso/a. Porém, tão importante quanto investigar os benefícios biopsicossociais adquiridos pela prática da atividade física, é compreender os fatores associados que influenciam a sua adesão e manutenção. Sendo assim, compreender as ideias, visões que os idosos têm sobre a prática da atividade física é essencial para compreender a funcionalidade dessa atividade para esse segmento. Estudos realizados em Belo Horizonte no GETI/UDESC com idosos/as, sobre a importância da caminhada para a conquista de melhorias na saúde física, emocional e mental, obtiveram em seus depoimentos, respostas que enfatizam os ganhos expressivos na saúde e na qualidade de vida (MARCHESAN, et al., 1997-1998, p.29). II. Você sabe o que significa o termo Pilates? Apesar de 30% dos/as idosos/as entrevistados/as afirmarem categoricamente não conhecer o que significa o termo Pilates, a maioria 70% demonstrou compreender o seu significado, apenas 10% relacionou com menor precisão o termo Pilates ao nome do seu criador – Hubertus Pilates. De forma mais aprofundada, 60% relacionou o termo ao Método 318 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Pilates, enfatizando seus objetivos, principalmente, que tem como base exercícios que ajudam a melhorar a coordenação, a flexibilidade, a musculatura, o controle do corpo e da mente. III. Por que resolveu procurar o Método Pilates? Os resultados mostram que os/as idosos/as resolveram fazer Pilates por vários motivos, a maioria, relaciona a prevenção de doenças e tratamentos coadjuvantes. Para 40%, o motivo principal foram as “dores (na coluna e articulações), seguidos do mesmo percentual que enfatiza “melhorar a postura, a coordenação motora, a mobilidade e fortalecer os músculos. Apenas 1 entrevistado se refere à flexibilidade dos membros e outro também por motivo de doença refere-se ser portador de osteoporose. Os/as idosos/as sentem-se motivados/as pela prática de atividades físicas porque sabem os benefícios fisiológicos e psicológicos que a mesma pode proporcionar para a saúde. Lima e Mejia (2006, p.253), realizaram pesquisa sobre a prática do Método Pilates com uma população específica de idosos/as de um bairro da zona norte do Rio de JaneiroRJ e evidenciaram que os principais motivos que os/as levaram a praticar o Pilates foram: controle de estresse, saúde, sociabilidade, competitividade, estética. Esses resultados corroboram aqueles relacionados à saúde, sociabilidade e prazer encontrados neste estudo, entre os/as idosos/as avaliados praticantes do Método Pilates frequentadores de Estúdios de Pilates de Recife-Pe. Pesquisa feita na capital pernambucana (Recife) com 120 idosos/as de programas de saúde ligados à rede pública avaliou através de um questionário as motivações para a prática esportiva. Os fatores relacionados à saúde e ao desempenho físico são respostas motivacionais mais relatados entre os/as idosos/as, tanto para adesão como para a permanência na atividade física (FREITAS, et al., 2007, p.253). IV. Quanto tempo prática Pilates? Os dados evidenciados na tabela 2 mostram que 70% dos/as idosos/as praticam o Pilates de 2 a 4 anos e a totalidade frequenta o Studio duas vezes por semana. As constatações anteriores sobre importância dada pelos/as idosos/as a atividade física justifica a permanência por anos subsequentes na atividade do Pilates. De acordo com as representações sociais dos/as sujeitos, isso vai acontecer em função dos benefícios que os/as idosos/ as garantem quando praticam essa atividade, tanto em relação aos aspectos corporais, quanto mentais, auxiliando na prevenção de diversas doenças e propiciando aos mesmos ter uma vida mais saudável. Para Toscano e Oliveira (2009, p.3), o sedentarismo no processo de envelhecimento para idoso/a é um grande fator de risco para as doenças crônicas degenerativas. Tendo Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 319 em vista evitar os efeitos negativos do sedentarismo, a prática sistemática de atividades e exercícios físicos torna-se positiva, principalmente no processo de envelhecimento, na prevenção e minimização dos efeitos deletérios desse processo. A atividade física regular para os/as idosos/as, especialmente os exercícios que se usa o peso do próprio corpo, os exercícios de força, promove maior fixação de cálcio nos ossos, auxiliando na prevenção e tratamento da osteoporose (NÓBREGA, et al., 1999, p.23). O Método Pilates pode ser colaborador nesse processo, uma vez que contém inúmeros exercícios em que o peso do próprio corpo é utilizado, em diferentes situações, baseados em seus princípios. Nesse sentido, o método pode ser adaptado aos cuidados necessários em cada população e disfunção, permitindo a progressão de acordo com o indivíduo acompanhado (SILVA e MANNRICH, 2009, p.13). Estes mesmos autores ainda encontraram recomendações de que o Pilates para idosos/as deva ser realizado três vezes por semana. V. Que objetivos pretende atingir com a prática do Pilates? As representações sociais dos/as idosos/as em relação aos seus objetivos com a prática do Pilates revelam que a maioria (60%) dos entrevistados tem procurado o método em busca de melhorar a flexibilidade, o equilíbrio, a resistência, seguidos daqueles (40%) que buscam reduzir as tensões, estresse, obter equilíbrio emocional e melhorar as dores. Esses resultados corroboram uma diversidade de estudos que evidenciam esses mesmos resultados. Para Costa, et al., (2016, p.695) o Método Pilates tem sido considerado um sistema de exercício que visa melhora da flexibilidade, resistência física, força, equilíbrio e coordenação motora. É um método que tem sido indicado também para atuar como prevenção e/ou em pós-tratamento médico e fisioterápico de dores articulares. Desta forma, observa-se que os/as entrevistados/as desse estudo estão bem informados e conscientes quanto aos objetivos do Método Pilates, fundamentando suas escolhas e procura, em busca da melhora, manutenção da saúde e qualidade de vida. O Método Pilates vem ganhando cada vez mais adeptos a sua prática. Os exercícios são dinâmicos, isso permite que a atividade não seja exaustiva, permitindo que o/a idoso/a tenha tempo para recomeçar o próximo exercício com o cuidado necessário na execução para que venha desenvolver a força, flexibilidade, equilíbrio, coordenação motora. A execução de cada exercício de ser feito de forma consciente e realizados com poucas repetições. A técnica apresenta muitas variações de exercícios e benefícios, prevenindo e proporcionando uma melhor qualidade de vida (SACCO, et al., 2005, p.9). 320 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 CONCLUSÃO / CONSIDERAÇÕES FINAIS Considera-se que neste este estudo os/as entrevistados/as buscam o Método Pilates, principalmente, como caráter preventivo, tendo em vista reverter o quadro de doenças que acometem os idosos/as no processo de envelhecimento e nesse processo viverem com qualidade de vida. Consta-se que os/as entrevistados/as são conscientes da necessidade da prática de atividades físicas e da importância do Método Pilates. É categórica a relação que estabelecem entre atividade física, qualidade de vida e envelhecimento saudável, há um consenso entre os/as idosos/as acerca da compreensão, estilo de vida ativo como fator determinante para um envelhecimento com qualidade de vida. Dessa forma, pode-se afirmar que, apesar do reduzido número de estudos com foco nos efeitos do Método Pilates em idosos/as, a partir de suas próprias concepções, o estudo mostra que conforme representações sociais dos/as idosos/as, essa atividade constitui-se como um precioso meio de contribuição para a melhoria da qualidade de vida dos/as idosos/ as em processo de envelhecimento. Considera-se que o Método Pilates efetivamente se constitui como instrumento preventivo na visão dos/as idosos/as e muito mais do que isto, promove o fortalecimento muscular, equilíbrio, melhora da postura, controle motor e consciência mental e corporal. Dessa forma, responde ao que os estudos perguntam, ou seja, para os/as idosos/as o Método Pilates auxilia e na prevenção de quedas e, consequentemente, de fraturas, com menor risco de lesão musculo-articular, constituindo-se em um instrumento precioso para a prevenção e promoção da saúde e qualidade de vida do/a idoso/a. Um aspecto que se sobressai na pesquisa, a partir da análise das representações sociais dos/as idosos/as diz respeito aos benefícios psicossociais, entre esses se encontram o alívio da depressão, o aumento da autoconfiança, a melhora da autoestima. Para os/as idosos/as o Método Pilates vai além do desenvolvimento físico e muscular, integra a mente, o corpo e o espírito, resultando no controle completo do próprio corpo. REFERÊNCIAS 1. 2. APARICIO, Esperanza; PÉRES, Javier. O autêntico método Pilates: A Arte do Controle [tradução Magda Lopes] – São Paulo. Editora Planeta do Brasil, 2005. BERTOLLA F, BARONI BM, LEAL ECPJ, OLTRAMARI JD. 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Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 323 25 “ Sexualidade e disfunção erétil na terceira idade: uma revisão bibliográfica Yasmim Vilarim Barbosa Alessandra de Souza Silva UEPB UEPB Maria Crislândia Freire de Almeida Vanda Lúcia dos Santos UEPB UEPB 10.37885/201102178 RESUMO Nos últimos anos houve uma inversão da pirâmide demográfica do país e a chegada da senilidade traz inúmeras mudanças no cotidiano dos indivíduos, no que diz respeito a sexualidade e as alterações corporais, como a disfunção erétil (DE), distúrbio que acomete a maioria da população idosa masculina. Foi realizada uma revisão bibliográfica baseada nas publicações indexados nas bases Scielo, Science Direct e Google Acadêmico, com base na análise de produções científicas que comprovassem o impacto da sexualidade e da disfunção erétil na terceira idade. Foram analisadas 25 publicações. De acordo com análise dos artigos, a sexualidade na velhice ainda é tratada como um tabu e aspectos culturais e alterações corporais, como a disfunção erétil influenciam no preconceito contra os idosos. Segundo dados obtidos na nova Zelândia, aproximadamente um em cada três homens de 40 a 70 anos pode ter DE, com a prevalência aumentando com o aumento da idade. A velhice, diabetes, hipertensão, fatores psicológicos e o uso da polifarmácia são potenciais causadores dessa disfunção. É notório que o envelhecimento abrange diversas mudanças na vida dos indivíduos, tornando-se necessário uma visão da sexualidade e da DE de modo multidisciplinar, identificando as individualidades e potencialidades de cada um. Assim, se faz necessário identificar o que afeta a expressão da sexualidade dos idosos e as causas endógenos e exógenos que levam a DE e com isso, identificar seus possíveis tratamentos, para que se possa permitir a população idosa expressar seus sentimentos e desejos sexuais de modo tranquilo e satisfatório. Palavras-chave: Sexualidade, Disfunção Erétil, Terceira Idade. INTRODUÇÃO O mundo enfrenta uma severa transição demográfica, na qual a população está envelhecendo em passos rápidos, exibindo extremas alterações no cenário econômico, social e nos padrões de saúde-doença. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2016 mostrou que entre 2005 e 2015, a proporção de idosos com 60 anos ou mais na população brasileira, passou de 9,8% para 14,3% (MIRANDA, et al 2016). O envelhecimento compreende uma fase da vida que se relaciona como um período de diversas mudanças psicológicas, biológicas e sociais, e torna necessário incorporar ações e métodos que permitam a compreensão do indivíduo idoso em toda sua totalidade, inclusive no que se refere à sexualidade (ALENCAR, et al 2014). Para a Organização Mundial de Saúde (OMS) (1992) a sexualidade é uma energia que nos motiva para encontrar amor, contato, ternura e intimidade; ela integra-se no modo como sentimos, movemos, tocamos e somos tocados, é ser-se sensual e ao mesmo tempo ser-se sexual. A sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações e, por isso, influencia também a nossa saúde física e mental. Por conta de vários fatores sociais como o preconceito, a sexualidade na terceira idade, que deveria ser tratada de forma natural, ainda é vista como um tabu, pois, para muitos, os idosos exprimirem sua sexualidade é algo de se causar espanto, tratando os mesmos como seres assexuados (ALENCAR, et al 2014). E o envelhecimento traz consigo diversas questões, a exemplo da disfunção erétil, que geram sérios impactos nos idosos, sendo preciso que se entenda as transformações que fazem parte do processo de envelhecimento, para que com isso se busque alternativas para reverter ou diminuir os impactos que esses fatores causam na vida dos idosos. Nessa perspectiva é importante explorar a sexualidade e a disfunção erétil na terceira idade, que até então são temas pouco discutidos por essa parcela de indivíduos. OBJETIVO Examinar os inúmeros tabus formados frente ao processo de envelhecimento, de modo que se permita destacar que a sexualidade em si, engloba processos de auto aceitação e trocas entre os indivíduos na terceira idade, além de avaliar os diversos fatores que influenciam a decorrência da disfunção erétil em idosos. 326 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 MÉTODOS Foi realizada uma revisão integrativa da literatura e teve como questão norteadora a análise de produções científicas que comprovassem o impacto da sexualidade e da disfunção erétil na terceira idade. Para isso, foram consultadas informações encontradas em artigos, teses e dissertações, indexadas nas bases de dados eletrônicas SciELO, Science Direct e Google Acadêmico, utilizando como descritores as palavras-chaves “sexualidade” AND “disfunção erétil” AND “terceira idade” em português e inglês. Foi adotado como critério de inclusão publicações que abordassem a relação entre a sexualidade e a disfunção erétil e seus efeitos na terceira idade publicados nos últimos 10 anos, em língua portuguesa, inglesa e espanhola, realizando a leitura dos artigos na integra, excluindo-se os trabalhos em duplicata e os que não envolviam idosos. Dessa forma, foram analisados um total de 25 publicações, sendo 14 artigos de produção nacional e 11 artigos de produção internacional. RESULTADOS Estudo realizado por meio de entrevistas com idosos frequentadores da Universidade Aberta à Terceira Idade (NEATI) da Universidade Federal de Mato Grosso em 2015, mostrou que das 32 pessoas entrevistadas (maioria tinha companheiros e idade entre 60 e 75 anos), 66% deles afirmaram que sentiam à vontade para falar sobre sexualidade, e 69% afirmaram sentir desejos sexuais. As principais queixas desses idosos em relação a sexualidade, se referiam a timidez, falta de conhecimentos sobre sexo na terceira idade e os tabus sociais (ROZENDO, et al 2015). Um estudo realizado por Uchôa et al. (2016), mostrou que em um grupo de idosos com idade média de 72 anos, 84% deles não sabiam diferenciar sexo de sexualidade, porém, cerca de 69,5%, julgava que estimulava a sua sexualidade, reconhecendo a religião (15,5%) e a família (16,5%) como fatores inibitórios para a expressão da mesma. E ainda, afirmaram que os profissionais da saúde são preparados para tratar do tema, porém, eles não são a primeira opção de fonte de informação consultada quando o assunto é sexualidade. Queiroz et al. (2015) mostram através de um estudo baseado na teoria da representatividade social que o núcleo central de representação da sexualidade para os idosos, é composto com as seguintes palavras: amor, carinho e respeito. Diversos fatores interferem na sexualidade dos idosos, incluindo o aspecto sociocultural que está relacionado ao fato de que a maior parte da sociedade, ainda decorre nos moldes de que a chegada da terceira idade traz consigo a assexualidade. Diante disso, este julgamento acaba fazendo com que a pessoa idosa se sinta envergonhada em expressar sua sexualidade, se privando e adotando comportamentos que condizem com os anseios sociais. Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 327 Além disso, para maioria dos idosos, a falta de um companheiro fixo, é um dos principais fatores que levam a diminuição das práticas sexuais (ALENCAR, et al 2014). Outro fator importante é a insatisfação com a própria imagem corporal relacionado pelo aumento do peso, principalmente nas mulheres pela não aceitação de si e com isso a recusa para o sexo (MENEZES et al, 2014). No estudo realizado por Lochlainn et al. (2013) com homens e mulheres com mais de 70 anos, 52% das mulheres e 38% dos homens eram sexualmente “inativos” e afirmavam que a falta de um parceiro era a principal razão para a vida sexual inativa. Porém, um dos principais fatores que afetam de forma intensa a sexualidade dos idosos, são as mudanças fisiológicas presentes no corpo, causadas pela senilidade, principalmente nos homens. Com o avanço da idade ocorrem alterações significativas na estrutura peniana, isso ocorre devido a diminuição da concentração de fibras elásticas e colágenas do pênis, além da deficiência do conteúdo do músculo liso, o que acarreta mudanças na sensibilidade mecânica dessa região. Esses e outros fatores são os principais mecanismos que levam a disfunção erétil (DE). A disfunção erétil é caracterizada pela incapacidade de modo contínuo em obter e manter uma ereção peniana que possibilite uma atividade sexual satisfatória e é causada pelos mais diversos fatores, que incluem causas psicogênicas e orgânicas (SARRIS, et al 2016). Afeta principalmente homens idosos e este problema tornou-se um problema de saúde muito importante com o aumento da expectativa de vida (GÖKÇE; YAMAN 2017). Para a ereção ocorrer é necessário que se tenha inicialmente uma excitação, que irá estimular a atividade parassimpática, iniciando uma cascata de eventos para liberar óxido nítrico (NO) e aumentar o cGMP intracelular. Esses fatores levam ao relaxamento do musculo liso vascular e o aumento no fluxo sanguíneo nos corpos cavernosos. Essa rapidez no fluxo causa compressão da rede venular para diminuir o fluxo venoso, aumentando a pressão intracavernosa e resultando na ereção (Figura 1). Diante disso, a disfunção erétil é causada por qualquer fator que prejudique as vias vasculares ou neurais que geram a ereção (IRWIN, 2019). 328 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Figura 1. Promoção da ereção peniana a partir da difusão do óxido nítrico ao citoplasma das células da musculatura lisa vascular e do pênis (em preto) e flacidez peniana (em vermelho). NO-óxido nítrico; GTP (guanosina trifosfato); GMP (guanosina monofosfato); cGMP (guanosina monofosfato cíclico); PDE V (fosfodiesterase V). Estudo realizado por Geerkens et al, 2019, mostra que a prevalência de disfunção sexual na população masculina saudável, refletida pela perda de desejo sexual e atividade sexual, aumenta apenas ligeiramente com a idade, e é relativamente baixo o número de homens que se incomoda com DE. Ainda assim, um grande número de homens nos grupos de meia-idade e idosos considera a sexualidade um aspecto importante da vida. Em um grande estudo nos EUA, mostrou que a proporção de homens sexualmente ativos declina de 83,7% na faixa etária de 57 a 64 anos para 38,5% na faixa etária de 75 a 85 anos. Todos os estudos epidemiológicos mostram claramente uma prevalência e gravidade de DE (GARERI, et al. 2014). Na Nova Zelândia, aproximadamente um em cada três homens de 40 a 70 anos pode ter DE. Com a prevalência bruta de DE foi de 42% (22% leve, 10% leve a moderada, 6% moderada e 4% grave), com 24% dos homens em seus 40 anos, 38% em seus 50 anos e 60% em seus 60 anos. Com isso foi concluído que a idade está associada a um aumento significativo na disfunção erétil (QUILTER, et al, 2017). Várias doenças que potencialmente agravam a função sexual podem ocorrer em pessoas idosas, juntamente com a polifarmácia (GARERI, et al. 2014). Um dos fatores que levam a disfunção erétil são as causas psicogênicas, como a depressão e ansiedade, principalmente. Neste seguimento, a depressão é vastamente citada na literatura como influenciadora do surgimento da DE (LIMA, et al 2016; SPOSITO, et al 2013). Para Jackson et al. (2019) homens e mulheres que relataram declínio no desejo sexual ou frequência de atividades sexuais, apresentaram maior número de sintomas depressivos e menor qualidade de vida. Para os homens, o declínio no desejo sexual está associado com menor satisfação com a Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 329 vida, enquanto para as mulheres é o declínio na frequência de atividades sexuais que está associado com menor satisfação com a vida. A ansiedade, principalmente a ansiedade de desempenho é o principal fator que leva DE, pois ela inibe as funções do sistema nervoso autônomo em níveis que dificultam a excitação fisiológica (LIMA, et al 2016). E a idade está intimamente relacionada com o aumente da ansiedade (QUILTER, et al. 2017). Doenças neurológicas, como Parkinson, Alzheimer e acidentes vasculares cerebrais também podem levar a DE (LIMA, et al 2016). O uso de medicamentos como anti- hipertensivos, antidepressivos e os antipsicóticos também pode levar a DE (IRWIN, 2019). Outros fatores orgânicos associados ao envelhecimento também podem estimular o surgimento da disfunção erétil. As alterações vasculares, hipertensão arterial sistêmica (HAS), aterosclerose, arritmias cardíacas, muito comum nos idosos, leva ao estreitamento das artérias que permitem o fluxo sanguíneo ao pênis (MLYNARSKI; MLYNARSKA; GOLBA, 2019; LIMA, et al 2016; SARRIS, et al 2016). E, além disso, diabetes, aumento de colesterol, stress e uso de cigarro são capazes de desencadear a DE, pois esses fatores também podem levar a oclusão ou obstrução da circulação (LIMA, et al 2016; SPOSITO, et al 2013). Ruiz et al.(2006) verificaram a relação entre a presença de incontinência urinária e a recusa para a prática sexual e os pacientes relataram que a perda da urina durante o ato sexual influencia a diminuição ou ausência da prática sexual. Tabela 1. Principais fatores desencadeadores da DE Causas Referências Doenças - Depressão JACKSON et al. 2019; LIMA, et al 2016; POSITO, et al 2013 - Ansiedade - Hipertensão arterial - Alterações vasculares - Diabetes - Hipercolesterolemia LIMA, et al 2016; SPOSITO, et al 2013 - Doença de Parkinson LIMA, et al 2016 - Doença de Alzheimer LIMA, et al 2016 -Incontinência urinária LIMA, et al 2016 - Câncer RUIZ et al 2006 Medicamentos - Anti-hipertensivo IRWIN, 2019; SPOSITO, et al 2013 - Antipsicótico IRWIN, 2019 - Antidepressivo IRWIN, 2019 - Anticâncer CARTER et al, 2011 - Polifarmácia GARERI, et al. 2014 - Uso de cigarro LIMA, et al 2016; SPOSITO, et al 2013 Outros 330 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 No entanto, existem variados métodos para tratar a disfunção erétil, dentre eles terapia com medicação oral com os inibidores de fosfodiesterase 5 (IPDE-5) a exemplo do sildenafil (viagra® ), vardenafil (levitra® ) e tadalafil (Cialis® ), que infelizmente não são eficazes em todos os tipos de pacientes, como por exemplo em diabéticos, e sua prescrição e utilização deve ser feito com cautela, pois estes apresentam muitas interações com outros fármacos, inclusive com anti-hipertensivos (IRWIN, 2019; ALVES, et al 2012). Outras opções incluem o uso de terapias intracavernosas, que corresponde a injeções de drogas vasoativas. E por fim, têm-se a opção do implante de prótese peniana (LIMA, et al 2016). A alta prevalência da DE e os baixos níveis de diagnóstico e tratamento indicam uma oportunidade perdida de intervenção oportuna para retardar ou impedir a sua progressão (QUILTER, et al, 2017), sendo de extrema importância a participação efetiva dos profissionais de saúde. DISCUSSÃO A sexualidade, apesar de ser um fator inerente ao desenvolvimento humano, nem sempre é tratada com aceitação, pois ela reporta para muitos, a vivências pessoais muito íntimas principalmente quando é associada à velhice (SANTANA, et al 2014). É interessante pontuar que, seja na terceira idade ou não, a sexualidade, não se refere apenas ao ato sexual, mas também o toque, a fantasia, a carícia e a proximidade física (LOCHLAINN, et al 2013). A sexualidade é um fenômeno ao longo da vida e sua expressão é um direito humano básico em todas as idades (DHINGRA, et al, 2016). No entanto, os mais velhos enfrentam muito estigma ao expressar desejos ou preocupações sexuais, tanto de suas próprias famílias quanto do sistema de saúde, e ainda existe o pensamento de que pessoas mais velhas não têm, ou não sentem desejos sexuais. Pois para muitos, é algo de se achar estranheza, e chegam até a se negar a aceitar o fato que o idoso possa ter o anseio em querer namorar e não percebem que a sexualidade não se resume apenas a genitalidade, existe também a questão da afetividade, que é imprescindível aos seres humanos (DHINGRA, et al, 2016; SANTANA, et al 2014). As construções sociais configuram-se como empecilhos na expressão da sexualidade dos idosos, visto que os dados demonstram que para muitos, a família e a religião são os principais fatores inibitórios, além da falta de informação sobre o sexo na terceira idade, já que muitos idosos citam que os profissionais da saúde não são a primeira escolha deles para tratar desse assunto, tudo atrelado a timidez e os tabus sociais impostos pela sociedade, que dificultam ainda mais esse processo de autoconhecimento e libertação por parte dos idosos para desenvolver suas aspirações (UCHÔA, et al 2016; MOURA, et al 2019). Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 331 Além dos estigmas sociais, as alterações orgânicas que ocorrem com a senilidade caracterizam-se como uma das principais etiologias que dificultam o processo de desenvolvimento da sexualidade nos idosos, principalmente nos homens, no que se refere ao surgimento da disfunção erétil (DE), um distúrbio que de acordo com os dados encontrados tem alta prevalência na população idosa masculina, e que por ocasionar a incapacidade de modo contínuo em obter e manter uma ereção peniana que possibilite uma atividade sexual satisfatória, oprime ainda mais a exteriorização da sexualidade dos mesmos (MENDES, et al 2020). A atuação dos profissionais de saúde no entendimento dos fatores de risco que levam ao surgimento dessa disfunção, que são os mais variados, incluindo causas fisiológicas e psicogênicas, é extremamente essencial, pois, muitos desses fatores, como por exemplo as doenças prevalentes na terceira idade, incluindo hipertensão, aterosclerose, além do uso de certos medicamentos que podem levar ao surgimento da DE, se controladas com acompanhamento profissional correto, podem reduzir os malefícios causados pela disfunção (LIMA, et al 2016; SARRIS, et al 2016; IRWIN, 2019). Além de que, uma melhor relação profissional de saúde e paciente é crucial, pois permite a compreensão dos anseios dos idosos, garantindo melhoria na qualidade de vida deles. É visível que mesmo a sexualidade sendo um meio relevante de troca de amor e carinho entre pessoas idosas, ainda recebe pouca atenção na educação e também no treinamento de profissionais de saúde, pois para muitos ainda é vista como um tabu, relacionando a chegada da terceira idade com a assexualidade, fazendo com que os idosos reprimam seus anseios para adequar-se as regras impostas pela sociedade (FRUGOLI, et al 2011). Por fim, pode se dizer que a construção da normalidade para o sexo no envelhecimento é algo ainda turvo, mas com a disponibilização de educação em saúde para os idosos, maior empenho dos profissionais de saúde no entendimento das alterações presentes nessa fase da vida, como a disfunção erétil, além da desconstrução da visão errada acerca da sexualidade na terceira idade por parte da população, são os pilares essenciais para garantir aos idosos a manifestação de sua sexualidade e anseios de forma adequada (DHINGRA, et al, 2016). CONCLUSÃO / CONSIDERAÇÕES FINAIS À medida que a população envelhece tratar de sexualidade na terceira idade pode causar estranheza e negação. Fatores socioculturais, incluindo preconceitos e até mesmo as próprias alterações corporais advindas da senilidade acabam reprimindo e impedindo que os idosos exprimam sua sexualidade. A terceira idade traz consigo alterações psicológicas e fisiológicas, ocasionando um efeito inevitável como a disfunção erétil que acomete uma grande parcela da população masculina que se encontra na idade média de 60 anos, porém, é de responsabilidade da sociedade entender a população idosa em sua totalidade, 332 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 respeitando suas vontades e desejos, para que possam viver essa etapa da vida de modo satisfatório e saudável. A disfunção erétil é uma condição multifatorial e, como tal, a prevenção e o tratamento exigem uma abordagem multidisciplinar. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 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Disponível em: http://www.who.int/topics/sexual_health/en/ Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 335 26 “ Uso de tecnologías de la información y comunicación en servicios y cuidados de atención primaria de salud para adultos mayores en latino américa Exequiel Plaza Universidad de Talca Hernando Durán Universidad de Talca 10.37885/201102339 RESUMO Los cambios demográficos relacionados al envejecimiento poblacional y la necesidad de generar estrategias de cuidado a nivel de atención primaria de salud, nos lleva a tratar de identificar cual es la evidencia científica que existe sobre el uso de tecnologías digitales de comunicación e información a distancia que puedan auxiliar el cuidado de la salud de adultos mayores. Este estudio realizado en Chile, utilizó metodología de revisión sistemática basada en recomendaciones PRISMA para la búsqueda de investigaciones basadas en evidencia científica que orienten sobre el estado actual de desarrollo de este ámbito en Latino América. El estudio identifica el uso de telemedicina y aplicaciones móviles que contribuyan a la prevención, diagnóstico, monitoreo y manejo de las enfermedades prevalentes en la población adulto mayor. La investigación originalmente realizada se actualizó para incorporar artículos sobre esta temática post inicio de pandemia COVID-19 en 2020. Se identificaron 1.174 resúmenes en tres bases de datos (PubMed= 777; Scopus= 72; Web of Science= 325) quedando finalmente un total de 13 estudios incluidos en la revisión. Se evidenció un bajo nivel de evidencia científica y complejidad metodológica de los estudios revisados, lo cual fue analizado mediante una evaluación con instrumento CONSORT. Se estableció que el uso documentado de telemedicina y otras formas de plataformas digitales son aun de temprano desarrollo en América Latina y su empleo en cuidados de adultos mayores en atención primaria resulta aún más desconocida. Se requiere generar evidencia científica de las experiencias en telemedicina que ya existen y aquellas que se han empezado a desarrollar en varios países del continente. Respecto a los reportes sobre telesalud en tiempos de pandemia COVID-19, Brasil es el país que ha aumentado sus publicaciones, aunque estos estudios incluyen a la población general y no solamente se centran en la atención de adultos mayores. Palavras-chave: Adulto Mayor, Telemedicina Tics. INTRODUCCIÓN El advenimiento de los cambios demográficos concerniente al envejecimiento poblacional y la necesidad de generar estrategias de cuidado a nivel de atención primaria para este los adultos mayores, nos lleva a tratar de identificar cual es la evidencia que existe sobre el uso de tecnologías digitales de comunicación e información a distancia que puedan auxiliar el cuidado de la salud de esta población de pacientes. En la actualidad, casi 700 millones de personas son mayores de 60 años. Para 2050, las personas de 60 años o más serán 2.000 millones, esto es, más del 20% de la población mundial. El mundo está envejeciendo. En los próximos 50 años se va casi a cuadriplicar el número de personas de edad, pasando de unos 600 millones a casi 2.000 millones Este aumento será más notable y más rápido en los países en desarrollo. En Asia y América Latina, la proporción del grupo clasificado como personas de edad aumentará del 8% al 15% entre 1998 y 2025. (ONU, 2002). En Latinoamérica el envejecimiento demográfico está más avanzado en Uruguay, Argentina, Cuba y Chile y en países del Caribe (Trinidad, Tobago y Barbados), donde más de un 10% de la población es mayor de 60 años. En el otro extremo se ubican países que se encuentran menos adelantados en su transición demográfica (Guatemala, Bolivia, Paraguay, Honduras, Haití, entre otros), donde un porcentaje inferior al 6.5% de la población sobrepasa los 60 años (BEARD, J ET AL., 2016). Existe un grupo de países en situación intermedia con una transición demográfica bastante avanzada que experimentarán los mayores aumentos de sus mayores de 60 años en las próximas décadas. Entre estos se encuentran Brasil, México, Colombia, Costa Rica y Panamá. (GUZMÁN, 2002). Este estudio realizado en Chile, utiliza la metodología de revisión sistemática para identificar investigaciones basadas en evidencia científica que oriente sobre el estado actual de desarrollo de este ámbito en Latino América. Las actuales políticas de los países y el marco regulatorio normativo genera un escenario propicio para el uso de telemedicina y aplicaciones móviles que contribuyan a la prevención, diagnóstico, monitoreo y manejo de las enfermedades prevalentes en la población adulto mayor atención primaria y el uso de tecnologías digitales existentes (BASHSHUR, R et al. 2016). Esto último, debido al acceso tecnológico del que se dispone en países del continente, en donde si bien es cierto existen indicadores propios de países en desarrollo como pobreza, envejecimiento, ruralidad y discapacidad, coexisten indicadores de países desarrollados como el nivel de cobertura de internet, calidad de la transmisión de datos digitales y existencia de teléfonos inteligentes con capacidades que hasta hace poco eran propias sólo de computadores estacionarios. La democratización 338 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 de la información y el acceso a ella es una necesidad conocida y más aún saber si está científicamente documentada (SCOTT K., et al. 2018). Este estudio tuvo el propósito de conocer cuáles son las metodologías de telemedicina y aplicaciones digitales en atención de salud primaria para la atención de adultos mayores en el continente. La Red Internacional de Agencias de Evaluación de Tecnologías Sanitarias (INAHTA) generó el año 2000 un informe que incluyó 19 análisis económicos de aplicaciones de telemedicina; Además se identificaron 11 estudios sobre el tema. Tres de los estudios se habían realizado en Noruega, mientras que la mayoría procedía de América del Norte. Se identificó la necesidad de incrementar el número de experiencias que analizaran el desarrollo del uso de la telemedicina en el uso de los sistemas de salud en diferentes regiones del mundo (KUHN-BARRIENTOS, 2014). Las tecnologías de telemedicina pueden ahorrar costos, pero su impacto en los resultados de salud es en gran parte desconocido. El hecho de que una tecnología específica ahorre costos dependerá de su tipo, la estructura de costos del sistema de atención médica, el volumen de pacientes y los factores geográficos. Teniendo en cuenta las limitaciones de los estudios, se concluye que la rentabilidad de los métodos de telemedicina no está claramente establecida. La afirmación de que la telemedicina puede ahorrar “miles de millones” no está respaldada por la investigación (INESS, 2010). La telemedicina es parte de la revolución más reciente en salud. El rápido avance de la tecnología ha hecho que la entrada en el campo de la telemedicina sea mucho más rápida y económica. El equipo “listo para usar” necesario para conectar a las personas con los profesionales de la salud permite que incluso los países más pobres ingresen rápidamente a sus ciudadanos para salvar vidas. En Estados Unidos, aproximadamente 100.000 consultas de telemedicina se realizan anualmente (BOXER, 2015). La Organización Mundial de la Salud ha adoptado la siguiente descripción de telemedicina: “La entrega de servicios de atención médica, donde la distancia es un factor crítico, por todos los profesionales de la salud que utilizan Tecnologías de la información y la comunicación para el intercambio de información válida para el diagnóstico, tratamiento y prevención de enfermedades y lesiones, investigación y evaluación, así como para la continua educación de los proveedores de atención médica, todo en aras de mejorar la salud de las personas y sus comunidades (SOOD, 2007). Un elemento que no siempre es considerado es la educación de los proveedores de atención médica, por la diversidad de escenarios geográficos y nivel de desarrollo donde se han implementado estas tecnologías. Los principios de ingeniería de usabilidad, evaluación y telemedicina están bien establecidos, lo que puede contribuir a la adopción y eventualmente el despliegue de sistemas y servicios de telemedicina. Un análisis en profundidad de usabilidad, que incluya medidas de desempeño Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 339 y actitud, requiere conocimiento sobre técnicas de uso disponibles (por ejemplo, conocimiento sobre la caja de herramientas de métodos que se pueden utilizar), y es dependiendo de la cantidad de recursos (por ejemplo, tiempo y dinero). Por ejemplo, los cuestionarios son un herramienta de usabilidad popular, ya que proporcionan una “solución rápida” (barata y fácil de implementar) para la investigación metodología, donde los métodos de observación requieren una mayor cantidad de recursos (RYU, 2012). Uso de la telemedicina en servicios de salud El monitoreo de los pacientes en sus hogares puede llevar a una mejor atención médica a costos más bajos, lo que implica una mayor demanda de nuevas estrategias de atención médica como la telemedicina (COMBI, 2016). En un Sistema de monitorización remota, el paciente es monitoreado en la ubicación remota. Sus señales y signos de salud se adquieren continuamente y se envían al hospital principal con la posibilidad de ser analizados localmente por un Sistema de apoyo para la toma de decisiones. Experiencias de telemedicina y uso de plataformas digitales en países en desarrollo. Actualmente existe muy poca literatura que aporte información validada sobre el uso de tecnología a distancia o TIC´s en salud en países en desarrollo. Los países desarrollados presentan un producto interno bruto (PIB) mucho mayor con respecto al PIB de los países en desarrollo. El gasto público en salud, medido como porcentaje del PIB dedicado a la atención de salud, difiere aún más entre los países desarrollados y en desarrollo, que van desde una proporción entre 5,5 y 7,0 para los países más ricos a una relación entre 0,6 y 1,7 para los países más pobres (WOOTTON, 2001) Respecto a las zonas geográficas donde pueden implantarse soluciones basadas en telemedicina, dos tipos principales de ubicación pueden clasificarse en: zonas rurales, donde las necesidades se destinan principalmente a la atención primaria de salud, incluidas las situaciones de emergencia a menudo sin equipo específico para tratar a las personas heridas; y lugares urbanos, donde las necesidades están principalmente orientadas a patologías crónicas. Mientras que los ciudadanos en países desarrollados viven principalmente en lugares urbanos, un porcentaje mucho mayor de personas en los países en desarrollo todavía viven en lugares rurales (ODUTOLA, 2003). Los países donde en desarrollo donde se han documentado experiencias con telemedicina pertenecen a Norte América y algunas zonas de Asia (China, India, Micronesia). Hasta el año 2010, sólo dos experiencias en América Latina habían logrado un nivel de desarrollo susceptible de ser documentadas en la literatura científica. Estas se desarrollaron en Perú y Brasil (COMBI, 2016). 340 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Mediciones de usabilidad de la telemedicina en adultos mayores Se han realizado estudios con la intención de identificar el nivel de despliegue de tecnología a distancia en Estados Unidos para acciones de salud relacionadas con adultos mayores. A partir de una revisión general de 297 artículos se seleccionaron 16 de los cuales el 60% se centraron en la usabilidad general de los sistemas de telemedicina; 6.25% en la usabilidad de un robot de telepresencia; El 12,5% comparó una consulta médica cara a cara con el uso de sistemas de telemedicina, y el 25% se centró en el estudio de otros aspectos de la telemedicina además de su utilidad. Hubo una alta satisfacción del paciente con la telemedicina en 31.25%, mientras que otro 31.25% indicó una alta aceptación de este método de consulta médica. Estos datos establecen que a pesar del despliegue tecnológico que se proclama, no existen estudios en número suficiente para documentar, al menos en Estados Unidos, una evaluación de usabilidad científicamente válida y reproducible en varias etapas del desarrollo del sistema de telemedicina (Narasimha, 2017). A partir de la pandemia global por COVID-19 se ha intensificado el interés por reportes científicos sobre la telemedicina, sin embargo la información aun no es específica para la población de adultos mayores que utiliza servicios de atención primaria (WOSIK ET AL., 2020). Previamente se había establecido que los diseñadores de sistemas de telemedicina debieran considerar los problemas relacionados con la edad en la cognición, la percepción y el comportamiento de los pacientes geriátricos al diseñar aplicaciones de telemedicina (EKELAND, 2012). OBJETIVO Este estudio pretende contribuir a la identificación de información basada en la evidencia científica sobre el uso de tecnología como la telemedicina, en servicios de atención primaria de salud a usuarios adultos mayores. METODOLOGÍA Revisión sistemática para la cual se utilizaron los criterios de establecidos por el modelo PRISMA Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (SHAMSEER, 2015), a continuación, se presenta los procedimientos realizados en las 3 fases consideradas para la búsqueda y selección de los artículos, a saber, una fase de identificación, screening y elegibilidad. El propósito de esta primera fase consistió en identificar la evidencia de investigaciones acorde a los objetivos de este estudio. Para ello, y con el fin de mantener un grado de confiabilidad, dos investigadores de forma independiente realizaron una búsqueda en las Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 341 bases de datos de PubMed, Scopus y Web of Science durante los meses de febrero a abril de 2019 y actualizado en 2020. Para realizar la búsqueda en cada una de las bases de datos se elaboraron tres constructos principales: (1) “Comunicación digital a distancia”; (2) “adultos mayores”; (3) “Nivel de Atención Primaria”. Cada constructo incluyó una serie de asociaciones entre palabras claves usando el operador booleano OR. De esta manera, el primer constructo estuvo compuesto por la combinación de las siguientes palabras claves: “Telemedicine” OR “e-health OR “Digital healthcare”. El segundo por las palabras claves: “older adult” OR “elderly”. Finalmente, el tercer constructo incluyó las palabras claves: “Basic medical care” OR “Primary health care” En cada uno de los motores de búsqueda se incorporó la asociación entre los tres constructos, esta vez, utilizando el operador booleano AND. Se limitó el idioma de los artículos (inglés, español y portugués) y, en el caso de la base de datos de PubMed, el rango etario de la población en estudio (> 60 años). No obstante, fueron incorporados al análisis preliminar los abstracts de artículos sin considerar restricción en el tiempo ni en la disponibilidad de acceso a estos. En la Fase de Elegibilidad se utilizaron criterios de inclusión y exclusión. Los criterios de inclusión fueron que los estudios: (1) fueran escritos en inglés, español o portugués, (2) consideraran la intervención en sujetos adultos mayores o envejecidos; (3) proporcionaran alguna descripción detallada de algún instrumento o estrategia técnica digital de comunicación remota para la atención de salud, fuese en forma de aplicaciones digitales telefónicas o vía internet; 4) fueran realizados en América Latina, considerando el área geográfica de América Central y Sudamérica completa, es decir incluyendo Brasil; 5) informaran alguna forma de medición de los resultados de las intervenciones clínicas realizadas incluyendo las de tipo preventivas, curativas y de rehabilitación; y 6) estuvieran disponibles de modo online. Los criterios de exclusión fueron: 1) Estudios que incluían participantes infantiles 2) Estudios con adultos jóvenes, con o sin patologías, 3) Estudios que no usaran tecnología a distancia en la prestación del servicio de salud y 4) Estudios fuera del nivel de atención primaria de salud. RESULTADOS La búsqueda inicial realizada por los dos investigadores a cargo arrojó un total de 1.174 resúmenes (PubMed= 777; Scopus= 72; Web of Science= 325). Hubo un 100% de concordancia entre los investigadores en la búsqueda realizada. De los 1.174 resúmenes que arrojó la búsqueda inicial, se eliminaron los artículos duplicados (n= 397), quedando un total de 777 artículos. De estos, 777 se excluyeron artículos de acuerdo con los criterios definidos en la fase de screening. Hubo un 92,6% de 342 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 concordancia entre los investigadores en la selección de esos artículos. Hubo dudas sólo en un 7,4%. En este punto intervino el tercer evaluador. Se evaluó la elegibilidad de 2 artículos adicionales luego de realizar una búsqueda secundaria. En la fase de elegibilidad, se seleccionaron y evaluaron 264 artículos que cumplieron con los criterios de inclusión. De estos se descartaron 251 estudios, quedando un total de 13 estudios incluidos en la revisión. La Figura 1 muestra el flujograma de selección de acuerdo con lo establecido por el modelo PRISMA (SHAMSEER, 2015)). Figura 1. Diagrama de flujo para la selección de los estudios. El perfil y características de los estudios seleccionados son presentados en el Cuadro 1. Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 343 Cuadro 1. CARACTERÍSTICAS DE LOS ESTUDIOS INCLUIDOS EN LA REVISIÓN Autor Año País Diseño del Estudio Duración Muestras en los Estudios (Tamaño, Edad, sexo) Tipo de programa y Tecnología utilizada Área Clínica o área de Salud de realización del estudio Resultados 108 Sujetos. Edad promedio de los participantes 63,5 años. Muestra integrada por 62% de mujeres y 38% de hombres. Unidad de diagnóstico móvil implementada con equipamiento de diagnóstico clínico y equipo computacional de videoconferencia con conexión satelital operada por un médico de atención primaria. Los participantes eran pacientes con condiciones patológicas del área cardio-circulatorio, como hipertensión arterial, disfunción cardiaca y fibrilación atrial. 36 pacientes atendidos anualmente.. El 100% recibió una evaluación vía telemedicina. Los pacientes mostraron un nivel de satisfacción de 98%. Beneficios económicos y amplitud de cobertura clínica. Pacientes con perfil cardiometabólico y estado de prehipertensión El estudio basado en llamadas telefónicas y mensaje de texto tuvo un bajo nivel de modificación en la salud de los pacientes Pacientes con perfil cardiometabólico y estado de prehipertensión El estudio implementado fue exitoso estableciéndose que la implementación exitosa se debió en parte al uso de la tecnología digital y a la difusión de resultados similares a gran escala. 1 Cifuentes L 2017 Colombia Estudio piloto longitudinal 3 días de duración. 2 Rubinstein et al. 2016 Perú, Argentina, Guatemala Estudio Clínico Randomizado con dos grupos de estudio. Duración de la intervención: Exposición= 12 meses Muestra N=637 (553 analizados); 43.4 años/30–60 year. Adultos conh prehipertension 46 % (M), 54 % (F) Uso de Aplicación digital en teléfono celular. Llamadas de asesoría mensual y mensajes de textos semanales. Rubinstein et al. 2015 Argentina Ensayo Clínico Estudio Clínico aleatorizado de clusters. Diseñado para probar una estrategia de intervención de prevención y control de la hipertensión. Manejo de hipertensión y mHealth de 18 centros de atención primaria de salud. 212 participantes divididos en dos grupos de 106 sujetos. Los participantes fueron incluidos en dos grupos estratificados por edad (30–45 años y 46–60 años) Pacientes hipertensos de que asistían a 18 centros de salud familiar. Estrategia basada en una plataforma WEB de intervención vía mHealth con llamadas de asesoría mensual y mensajes de textos. Además, una aplicación para teléfonos inteligentes para mejorar el manejo del paciente. No especifica Intervenciones de cesación tabáquica basadas en telefonía móvil. Intervenciones de cesación tabáquica basadas en internet. Intervenciones de cesación tabáquica basadas en correo electrónico. Tratamiento de apoyo a la cesación tabáquica en pacientes fumadores. Se necesita contar con estudios donde la intervención sea entregada por vías de amplio uso actual, como Whatsapp u otras aplicaciones móviles que han venido a desplazar la clásica mensajería de texto. Entrevistas a personeros de instituciones público y privadas (n=20) y pacientes beneficiarios de los proyectos de telemedicina (n=5) Proyecto de telemedicina mediante la identificación de actores y factores y hechos que determinan este tipo de innovaciones. Se extraen las relaciones de estructura y causas en innovación de productos inclusivos. Interacción entre múltiples actores en los procesos de innovación, factores y actores en contextos de inclusión social y acceso a servicios de salud de comunidades indígenas y rurales en México. Se identifican los actores y los determinantes de la innovación en productos inclusivos, y se establece el orden causal que siguen las relaciones entre estos determinantes, así como su estilización gráfica. 3 4 5 344 Alcantara y Bambs 2017 Chile Martínez et als. 2017 México Reporte general de tecnologías digitales y TIC´s Estudio de caso con análisis estructural-causal Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Autor Año País 6 7 8 9 10 Tovar-Cuevas et als. 2018 Colombia Guedes et als. 2018 Brasil Nieto et al. 2019 Chile Moretti y Barsottini 2017 Brasil Ríos y Botero. 2018 Colombia Diseño del Estudio Duración Muestras en los Estudios (Tamaño, Edad, sexo) Tipo de programa y Tecnología utilizada Área Clínica o área de Salud de realización del estudio Resultados Servicio de atención tele-operado de rehabilitación física, vía Internet para pacientes con lesiones leves de rodilla que viven en zonas de vulnerabilidad geográfica El diseño correcto de SI es relevante al facilitar un mejor control y ejecución del proceso de atención clínica. El SI evalúa la implementación de atención teleoperada por usuarios de rehabilitación física de zonas donde acceder a los servicios de salud es difícil. Usuarios de servicios de telemedicina del ámbito de la comunicación humana Las acciones se restringieron al campo del lenguaje y se concentraron en el tema de la educación, así como en el área estratégica de la salud. La categoría ocupacional más frecuente entre los tele consultores fue la enfermería. Equipo creador del prototipo 2 Kinesiólogos, 1 diseñador industrial, 1 ingeniero electrónico, un ingeniero de sistemas, 1 ingeniero industrial y 1 estadístico. Estudio para probar un prototipo de sistema informático (SI) desarrollado para evaluar el proceso teleoperado de cuidados de rehabilitación. Estudio transversal Encuestas de datos provenientes de fuentes secundarias Se consideraron las acciones educativas producidas por tele consultores relacionadas con la salud de la comunicación humana. Todo esto en un centro universitario de tele-salud. Estudio retrospectivo de pacientes que usan terapias antitrombóticas 6.280 Pacientes con tratamiento anticoagulante tratados en el Servicio de Salud H = 48.7% M =51.3% Edad promedio de 67.3 + 14.5 años. Se utiliza una plataforma de telemedicina aportada por el Servicio de Salud Metropolitano Oriente. La telemedicina, realizada por equipos comprometidos, mejoró el uso de anticoagulantes orales. Se identificaron tres diagnósticos: Trastorno por desorden cardíaco (43.7%), trombosis venosa (22%) y prótesis valvular (10.7%). En los pacientes la recepción de tratamiento fue con una frecuencia terapéutica mayor al 50%. Sin embargo, se observaron mejores resultados, 66.7%, cuando se utilizó una estrategia de telemedicina solo en la provincia de Santiago. 15 entrevistas semiestruturadas con especialistas Dos estrategias de comunicación: 1. Entrevistas semiestructuradas con especialistas que trabajan con guía telefónica. 2. Método etnográfico en el que se realizó un seguimiento de un grupo Facebook sobre fibromialgia durante tres meses Seguimiento telefónico en el manejo de pacientes crónicos, que registran las llamadas, monitorean el ausentismo, auditan la interacción, trabajan con centros y software disponibles las 24 horas. Las iniciativas estudiadas tienen resultados positivos.. Las entrevistas han demostrado que las prácticas de apoyo a distancia para pacientes crónicos podrían ampliarse para un mayor número de enfermedades. Destinatarios médicos y pacientes con interfase dedicada para cada uno de estos usuarios. Aplicativo prototipo para Smartphone con sistema de vigilancia y seguimiento a los pacientes que permitan su monitorización permanente por fuera del ambiente hospitalario. Se obtuvo información remota que se comunica con una red de sensores, realizando peticiones de señales ECG y signos vitales para ser almacenados y posteriormente procesados. Estudio Piloto de caso Estudio cualitativo de casos. Tres meses de duración Estudio piloto exploratorio. Pacientes con enfermedades cardiovasculares. Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 345 Autor Año País 11 12 Do Nascimento. 2017 Brasil Chamorro, Caicedo, García. 2017 Colombia Tipo de programa y Tecnología utilizada Área Clínica o área de Salud de realización del estudio Resultados 38 profesionales y funcionarios de atención primaria. Capacitación en el área de pacientes adultos mayores con énfasis en terapia de lenguaje en patologías neurológicas adquiridas. Describir la implementación y el nivel de satisfacción de los usuarios en acciones de teleducación relacionadas con la salud de la comunicación humana. Plataforma de Red Núcleo de Telesalud NUTES, en atención primaria de salud. Área de la salud de la comunicación humana en diferentes ciclos de vida. Los temas que involucran la salud de los niños y Los adultos mayores. La implementación de la terapia de teledistancia se inició mediante la capacitación del equipo, la planificación, la oferta y la evaluación de las acciones de teleducación. 15 sujetos incluidos en el proceso de pilotaje Dispositivo de tecnología asistencia remota operada en forma local o tele-operada vía internet para la rehabilitación activa y pasiva del hombro. Alteraciones de la movilidad funcional del hombro con protocolos de movimientos activos y pasivos. Dispositivo tecnológico de asistencia para la rehabilitación activa y pasiva del hombro lo que permitió que los pacientes que temporalmente discapacitados sean rehabilitados en forma descentralizada Diseño del Estudio Duración Muestras en los Estudios (Tamaño, Edad, sexo) Estudio descriptivo exploratorio Estudio descriptivo exploratorio piloto Los doce estudios revisados presentan una heterogeneidad del diseño y tipo de estudios. Algunos presentan de manera clara los sujetos participantes en términos de número, sexo y patología. Otros sólo genéricamente presentan datos sobre los beneficiarios dando gran énfasis a la arquitectura de las plataformas de telemedicina empleada o especialmente diseñadas, como es el caso de los estudios que reportan estudios pilotos basados en la descripción de prototipos de plataformas digitales de telecomunicación a distancia. Importante es el reporte que cada estudio hace del área clínica de interés en el cual sitúan la situación problema que a su vez constituye el desafío de abordar en términos de acortar brechas de acceso, particularmente a sujetos en zonas rurales y/o remotas a los centros urbanos. Existe coincidencia en todos ellos de realizar un despliegue desde la perspectiva propia de la atención primaria. En el cuadro 2 se presenta el área de interés clínico que aborda cada estudio. CUADRO 2. AMBITO CLÍNICO DE LOS ESTUDIOS DE TELEMEDICINA Y APLICIONES DIGITALES 346 Estudio Diseño Ámbito Clínico Cifuentes L 2017 Estudio piloto longitudinal Patológicas del área cardio-circulatorio Rubinstein et al. 2016 Estudio clínico randomizado Patologías de perfil cardiometabólico y estado de prehipertensión Rubinstein et al. 2015 Estudio Clínico aleatorizado de clusters . Patologías de perfil cardiometabólico y estado de prehipertensión Alcantara y Bambs 2017 Reporte de Casos Tabaquismo en pacientes fumadores Martínez et als. 2017 Estudio de caso con análisis estructural-causal Inclusión y acceso a la salud Tovar-Cuevas et als. 2018 Estudio Piloto de caso Patologías de rodilla Guedes et als. 2018 Estudio Descriptivo transversal Patologías de la comunicación humana Nieto et al. 2019 Estudio retrospectivo Terapias Antitrombóticas Moretti y Barsottini 2017 Estudio cualitativo de casos Patologías crónicas y fibromialgia Ríos y Botero. 2018 Estudio piloto exploratorio. Patologías cardiovasculares Do Nascimento. 2017 Estudio descriptivo exploratorio Patologías de la comunicación humana Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Estudio Diseño Ámbito Clínico Chamorro, Caicedo, García. 2017 Estudio descriptivo exploratorio piloto Patologías de movilidad funcional del hombro Resultados de la evaluación hecha con la escala de Fundación CONSORT para estudios clínicos (ALTMAN, 2001). Esta escala de 25 items permite evaluar el estudio publicado en términos de aspectos formales, de consistencia interna e interna. Cada ítem logrado aporta un punto. Así mismo se establece si la investigación reporta la efectividad de la propuesta presentada. En el Cuadro 3 se presentan los puntajes y porcentajes obtenidos, donde sólo cuatro estudios obtienen una puntuación sobre el 50%. CUADRO 3. Evaluación de estudios revisados en base a CONSORT 2010. Lista de comprobación de la información Estudio Diseño Puntaje CONSORT (porcentaje de criterios cumplidos) Efectividad reportada Cifuentes L 2017 Estudio piloto longitudinal 8 (32%) + Rubinstein et al. 2016 Estudio clínico randomizado 20(80%) + Rubinstein et al. 2015 Estudio Clínico aleatorizado de clusters . 22(88%) + Alcantara y Bambs 2017 Reporte de Casos 7 (25%) + Martínez et als. 2017 Estudio de caso con análisis estructural-causal 12 (48) + Tovar-Cuevas et als. 2018 Estudio Piloto de caso 8 (32%) + Guedes et als. 2018 Estudio Descriptivo transversal 7 (25%) + Nieto et al. 2019 Estudio retrospectivo 18 (72%) + Moretti y Barsottini 2017 Estudio cualitativo de casos 9 (36%) + Ríos y Botero. 2018 Estudio piloto exploratorio. 8 (32%) + Do Nascimento. 2017 Estudio descriptivo exploratorio 13 (52%) + Chamorro, Caicedo, García. 2017 Estudio descriptivo exploratorio piloto 7 (28%) + DISCUSIÓN La información publicada en los últimos cinco años en estudios basados en evidencia científica permiten establecer que la telemedicina y el uso de aplicaciones digitales a distancia son modalidades que usados en la atención de salud puede ser de gran beneficio por la ampliación del servicio a los usuarios y beneficiarios remotos (OMS, 2017). El advenimiento de la tecnología digital que auxilia los suministros de servicios de atención sanitaria donde la distancia es un factor crítico, ha tenido una importante evolución en países desarrollados, sin embargo, en Latinoamérica a pesar de haberse desarrollado diversas iniciativas, estas no están del todo documentadas ni su publicación asume una metodología que avale científicamente su evidencia y su replicación (TOTTEN, 2016). Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 347 Del análisis genérico de la bibliografía existente se constata que la mayor publicación de experiencias basadas en evidencia proviene de países como Estados Unidos, Japón, Reino Unido y Sudáfrica (MARS, 2013). Ahora en tiempos de pandemia COVID-19, China ha incrementado las publicaciones en este ámbito (HONG, 2020), (SONG, 2020). En Estados Unidos, los mecanismos de asociación público-privada para la construcción de un ecosistema digital de salud más fuerte y más conectado es una visión que el Estado pretende alcanzar antes del año 2025 (MASSACHUSETTS E-HEALTH INSTITUTE MEHI), 2016). En Japón la Telemedicina experimental se realizó utilizando un modelo de jerarquía entre centros regionales con centros intermedios y clínicas en zonas remotas, respaldada en su conjunto por la Universidad de Osaka (DURRANI ET AL 2009). El repertorio de servicios está dado por electrocardiograma digital (ECG) enviado por fax era legible y también la trasmisión ECG usando modem, la telepatología, telemonitoreo con sensores vitales, telemedicina para mujeres embarazadas, teleenfermería, teleoftalmología, monitoreo-vigilancia-soporte de vida a pacientes, promoción de salud en residentes locales, red de colaboración para terapias de cáncer, coordinación de salud comunitaria y sistema de Telemedicina móvil (TAKASHI ET AL, 2013). Estado de desarrollo en Latino América Al análisis de la información obtenida en el presente estudio, es posible constatar que el mayor reporte de iniciativas de telemedicina y servicios digitales basados en evidencia científica está dado por Colombia con un 33%, Brasil 25%, Argentina 17%, Chile 17% y México 8%. Los estudios establecen desarrollo en cuatro áreas principales de la salud tales como enfermedades del sistema cardio-circulatorio, músculo esquelético y motor, comunicación y funcionamiento humano social y finalmente malos hábitos como el tabaquismo. El mayor porcentaje de estudios (42%) están referidos a iniciativas relacionadas al cuidado de pacientes que presentan alteraciones cardiacas y del sistema circulatorio en general. Luego, los sistemas que pretenden abordar la problemática de alteraciones motoras y músculos esqueletales constituyen un 25% de los estudios reportados. En igual dimensión se encuentran la telemedicina para usuarios con alteraciones de la comunicación y funcionamiento humano social. Estudios para el cuidado de pacientes con hábitos de tabaquismo constituyen el 8% del total de las investigaciones disponibles. En cuanto aparato al número de sujetos usuarios y beneficiarios, los estudios reportan un número de 7.246 casos. Cabe destacar que la gran mayoría está destinada a la población general de sujetos con patologías a lo largo de todo el ciclo vital. 348 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Telemedicina, atención primaria y adulto mayor La atención primaria está relegada a un 18%. Esto cobra mayor relevancia cuando al analizar los estudios revisados, solamente un 10% tiene como destinatario a la población adulta mayor reportándose sólo un número de 724 casos a nivel latinoamericano. El estudio reportado en Chile es el que presenta una mayor casuística con 6.280 casos en el ámbito de pacientes con tratamiento anticoagulante a quienes se les administró terapias antitrombóticas (NIETO ET AL. 2019). Estos datos son producto de una investigación retrospectiva que hace énfasis en la cobertura mediante servicios a teledistancia en todo el país, con base a la red de apoyo del Ministerio de salud. Los estudios generados en Colombia han utilizado tecnología equipamiento de diagnóstico clínico y equipo computacional de videoconferencia con conexión satelital operada por un médico de atención primaria (CIFUENTES, 2017), Servicio de atención tele-operado de rehabilitación física, vía Internet para pacientes con lesiones leves de rodilla (TOVAR-CUEVAS, 2018), prototipos de aplicaciones para Smartphone con sistema de vigilancia y seguimiento a los pacientes con enfermedades cardiovasculares (RÍOS Y BOTERO, 2018) y asistencia remota operada en forma local o tele-operada vía internet para la rehabilitación activa y pasiva del hombro (CHAMORRO et al., 2017). Destaca del análisis los estudios realizados en Brasil, principalmente por la implicancia que tiene el uso de tecnología digital a distancia en un país cuyo territorio es tan vasto, al considerar que este país tiene una superficie de 8.516 millones km² y con una amplia dispersión de los asentamientos humanos. La población de Brasil es de 207,7 millones de habitantes, por lo que la utilización de tecnología que posibilite una mejora en los servicios y cuidados sanitarios de la población es un objetivo relevante de alcanzar, tal es el caso de las acciones de teleducación relacionadas con la salud (DO NASCIMENTO, 2017). Interesante resulta el uso de tecnologías de comunicación que podrían considerarse básicas en la actual era digital, pero que demuestran su vigencia y utilidad. Tal es el caso del uso de seguimiento y monitoreo telefónico asociado al uso de redes sociales (MORETTI Y BARSOTTINI, 2017). Aquí al igual al modelo de países desarrollados de otras latitudes, la incorporación de centros de educación superior como las universidades resulta ser una buena alianza, ejemplificado en un estudio cuyo centro operativo de la información residía en un centro universitario de tele-salud (GUEDES ET ALS. 2018). Desde el inicio de pandemia por COVID-19 se han generado más publicaciones de experiencias (AVELINO ET AL. 2020). El acercamiento más evidente hacia la salud primaria requiere un trabajo de red eficiente y con base comunitaria (RUBINSTEIN ET AL. 2015). La experiencia en Argentina mediante la utilización combinada de plataformas de sitios WEB para proveer intervención vía mHealth y el uso de aplicación digital en teléfono Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 349 celular logra ser efectivo para una población de pacientes con perfil cardiometabólico y estado de prehipertensión. La replicabilidad del modelo extendido a otros países como Perú y Guatemala reafirma la viabilidad de la intervención a distancia en base a tecnología digital. Este estudio es el que se ubica en el más alto nivel de evidencia del grupo de estudios seleccionados en la presente revisión sistemática. Posee un diseño metodológica que incluye grupo control, que constituye una alta deseabilidad de futuros reportes científicos (RUBINSTEIN ET AL. 2016). El caso de México permite identificar una mirada menos biomédica y más biopsicosocial de la intervención basada en tecnología a distancia, pues reporta información relevante y novedosa sobre interacción entre múltiples actores de la comunidad en los procesos de innovación, factores y agentes en contextos de inclusión social que contribuye a la calidad de vida de los beneficiarios finales de los sistemas implementados (MARTÍNEZ ET ALS. 2017). La diversidad de los estudios revisados y la variabilidad de sus estructuras metodológicas, así como su nivel de evidencia permite inferir que a pesar de existir numerosas iniciativas en el ámbito de la provisión de servicios y cuidados de salud mediante el uso de telemedicina y tecnología digital, la necesidad de publicar resultados robustos y replicables es evidente. Del mismo modo la consideración de dimensiones que se instalan a la base de estos procesos como la infraestructura, los equipamientos, los costos de mantención y la dispersión geográfica, debieran ser comunicadas como elementos constitutivos de los estudios, para así lograr una mejor comprensión de sus alcances y limitaciones, particularmente en los casos de experiencias pilotos o pruebas de prototipos. Esto cobra relevancia en un escenario continental de envejecimiento respecto a la población total (CEPAL,2018). Finalmente, en Chile aparecen dos estudios de diferente arquitectura metodológica, el primero que utiliza tecnología para Intervenciones de cesación tabáquica basadas en telefonía móvil que incluye comunicación vía internet. Esto se utiliza adicional a correos electrónicos de monitoreo y llamadas a celulares más mensajería vía internet a través de la aplicación whatsapp como apoyo al cese del hábito de fumar de los pacientes fumadores en control (ALCANTARA Y BAMBS, 2017). Adicionalmente, destaca un estudio retrospectivo con una importante casuística donde el 48.7% eran hombres y un 51.3% correspondía a participantes de sexo. Femenino. El diseño metodológico es valorado por la alta casuística presentada. Los participantes fueron 6.280 pacientes quienes presentaban trastorno por desorden cardíaco (43.7%), trombosis venosa (22%) y prótesis valvular (10.7%). El impacto en la población de adultos mayores es aún muy limitada considerando el número de sujetos en este rengo etario actual y sus proyecciones a 2025 (ALBALA, 2015). En Chile se están desarrollando proyectos en el área de la Telemedicina, tanto en el sector público como privado. (DUARTE, 2014). El proceso de instalación y los sistemas de atención médica 350 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 utilizan crecientemente combinaciones de video, imagen y consultas telefónicas para llevar el cuidado de la salud a las áreas rurales y también a lugares apartados en las grandes ciudades (MENDOZA, 2006). El crecimiento se basa en la mayor disponibilidad y menor costo de la conexión de banda ancha y, también, en la decisión de las compañías de seguro de empezar a pagar algunas atenciones de salud remotas. La mayor barrera al crecimiento se observa en aquellas áreas geográficas donde no hay cobertura financiera para las prestaciones remotas (GUERRA, 2018). A pesar de ello, la telecirugía y la teleconsulta son áreas de investigación en aumento. En el área académica, las Universidades cumplen un rol estratégico en el área salud, realizando investigaciones e incorporando a la tecnología como un elemento prioritario para su desarrollo (TORRES, 2015). Cómo estas iniciativas progresarán en la disposición de servicios y ciudades para adultos mayores que se atienden en los establecimientos de Atención Primaria, parece aún no estar claro. La especialización de gestores clínicos y administrativos. Especialización de Actores y la identificación de buenas prácticas, pudiera ser un primer nivel de avance para una real provisión de servicios y cuidados a distancia para la población de adultos mayores que se atienden regularmente en establecimientos de Atención Primaria, tanto rurales como urbanos, considerando la morbilidad asociada a ese grupo etario. En Chile, las principales estrategias de telemedicina que se han implementado no han presentado aún manuscritos publicados en revistas de corriente principal que validen su desarrollo. CONCLUSIÓN Se estableció que el uso documentado de telemedicina y otras formas de plataformas digitales son todavía de temprano desarrollo en América Latina y su empleo en cuidados de adultos mayores en atención primaria resulta aún más desconocida. Se requiere generar evidencia científica de las experiencias que se han empezado a desarrollar en el continente, especialmente en los así llamados países en desarrollo. Si bien es cierto la robustez de la literatura científica no es alto, es posible establecer que del perfil de morbilidad asociado al adulto mayor en atención primaria atendido vía telemedicina, es el área de enfermedades no transmisibles como la salud cardio-circulatoria. Cuadros como la la sarcopenia, diabetes tipo 2 u obesidad, son aspectos donde los investigadores aun no reportan estudios que involucren a la telemedicina y uso de plataformas digitales en prácticas basadas en la evidencia. Brasil es el país en Latino América que ha incrementado sus reportes científicos sobre telemedicina desde el inicio de la pandemia por COVID-19, aunque esta no es específica para adultos mayores e incluyen diferentes niveles de atención de salud, no sólo atención primaria. Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 351 REFERÊNCIAS 1. 2. 3. Altman, D. G., Schulz, K. F., Moher, D., Egger, M., Davidoff, F., Elbourne, D. CONSORT Group. (2001). The revised CONSORT statement for reporting randomized trials: Explanation and elaboration. Annals of Internal Medicine, 134(8), 663-694. Atalah, E. (2012) Epidemiología de la obesidad en chile. Revista Médica Clínica Las Condes, Volume 23, Issue 2,2012, Pages 117-123 4. Avelino, P et al. “Validation of the Telephone-Based Application of the ABILHAND for Assessment of Manual Ability After Stroke.” Journal of neurologic physical therapy : JNPT vol. 44,4 (2020): 256-260 5. 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Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 357 27 “ Uso potencial do chá verde no tratamento complementar de morbidades e uso de medicamentos, associado ao envelhecimento: uma revisão Renata Breda Martins AMPAL - PUCRS Raquel Seibel PPGERONBIO - PUCRS Jamile Ceolin PPMCS - PUCRS Vilma Maria Junges CINTRO POA Maria Gabriela Valle Gottlieb IGG - PUCRS 10.37885/201202390 RESUMO Objetivo: Revisar a literatura sobre o uso potencial do chá verde (Camellia sinensis) no tratamento complementar de morbidades e uso de medicamentos, associado ao envelhecimento. Método: Revisão narrativa da literatura sobre o tema e agrupado em quatro tópicos principais: descrição da Camellia sinensis (C.sinensis), composição química e propriedades funcionais da C.sinensis, chá verde e doenças associadas ao envelhecimento e as interações medicamentosas com a planta C.sinensis. Resultados: O chá da C.sinensis é bastante consumido devido ao seu aroma, sabor e, principalmente por ser uma bebida medicinal capaz de diminuir o risco de várias doenças, pois são ricos em compostos biologicamente ativos como flavonóides, catequinas, polifenóis, alcalóides, vitaminas e sais minerais. Dependendo das condições de cultivo, coleta, preparo e acondicionamento das folhas, podem ser diferenciados em cinco diferentes tipos de chás: branco, preto, verde, amarelo e vermelho. Um dos benefícios do chá verde está no combate ao envelhecimento celular devido a sua propriedade antioxidante, que protege as células e os tecidos do dano oxidativo. Além disso, possui atividade anti-inflamatória, antimicrobiana, antimutagência, antiapopitótica e anti-angiogênica. Essas propriedades têm potencial uso no tratamento complementar de doenças crônicas não comunicáveis em idosos. Adicionalmente, os estudos mostram que a C.sinensis interfere na biodisponi- bilidade de medicamentos. Considerações finais: Consumo do chá verde da C. sinensis pode trazer inúmeros benefícios para a saúde, devido a seus compostos químicos bioativos. Entretanto, o consumo do chá verde por idosos polimedicados deve ser avaliado com cautela, devido as possíveis interações que podem ocorrer entre a planta ou os seus componentes bioativos com os princípios ativos dos medicamentos, e nutrientes da dieta habitual, reduzindo, exacerbando ou até mesmo podendo anular os efeitos da medicação. P a l a v r a s - c h a v e : C a m e l l i a S i n e n s i s , C h á Ve r d e , C o m p o s t o s F i t o q u í m i c o s , Medicamentos, Idoso. INTRODUÇÃO O envelhecimento é um processo biológico natural, gradual e progressivo que resulta no declínio das funções orgânicas, aumentando as chances de surgimento de doenças crônicas não comunicáveis (DCNCs) e de morte dos idosos. Nesse sentido, o uso da polifarmácia para o tratamento das DCNCs é muito frequente, e representa uma ameaça real à saúde dos idosos (ROTH; TIMMERMANN; HAGENBUCH, 2011). O número de medicamentos, a complexidade dos regimes terapêuticos, especialmente na vigência de comorbidades, e as alterações farmacocinéticas e farmacodinâmicas inerentes ao processo de envelhecimento são elementos que aumentam a vulnerabilidade dessa população aos eventos adversos a medicamentos, seja por reações adversas a medicamentos, seja por interações medicamentosas. As interações entre medicamento-medicamento, ou medicamento-nutriente podem comprometer a homeostasia orgânica dos idosos expostos à polifarmácia, desencadeando eventos iatrogênicos (UNGUREANU, ALEXA, STOICA, 2007), piorando o estado clínico geral do idoso. Diversos estudos mostram alterações nos parâmetros farmacocinéticos em decorrência do envelhecimento (HUNTER, CYR, 2006; DELAFUENTE, 2008; RIBEIRO, ACURCIO, WICK, 2009; HOWLAND, 2009). A capacidade de absorção de fármacos diminui devido às alterações do pH gástrico e às reduções do fluxo sanguíneo no trato gastrintestinal e no baço. A distribuição dos fármacos é alterada devido à redução da massa magra, da água corporal, da concentração sérica de albumina e das proteínas totais do soro, além do aumento da gordura corporal e da permeabilidade da barreira hematoencefálica. O metabolismo e a eliminação dos fármacos também sofrem alterações com o avanço da idade (HUNTER, CYR, 2006; DELAFUENTE, 2008). O idoso apresenta, respectivamente, alteração na atividade das enzimas do complexo P450 oxidase e diminuição da função renal, culminando em acentuada queda da taxa de filtração glomerular. Por todos esses fatores, a biodisponibilidade, o volume de distribuição, o clearance e o tempo de meia-vida dos fármacos são modificados com o envelhecimento. As drogas hidrossolúveis se tornam mais concentradas, ao passo que as lipossolúveis podem ter aumento da meia-vida devido à lenta liberação do tecido adiposo (HUNTER, CYR, 2006; HOWLAND, 2009). Todas as substâncias que não são encontradas naturalmente no nosso corpo, são chamadas de xenobióticos, medicamentos, o fumo, drogas ilícitas, poluentes, agrotóxicos etc. se enquadram nesse grupo. Portanto, nossas células, DNA e tecidos são diariamente expostos a essas substâncias (TANIGUCHI, GUENGERICH, 2010). O organismo depende de reações que são catalisadas por enzimas e que ativam os processos de detoxicação para reduzir e remover intermediários reativos ou radicais livres produzidos pelo metabolismo ou pela ingestão ou exposição à xenobióticos (CHEN et al. 2011). O complexo P450 (CYP) e 360 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 as flavinoproteinas (FMO1) promovem a eliminação dos compostos indesejáveis antes que sejam depositados nos tecidos extra hepáticos (LISKA, LYON, JONES, 2006). Em idosos esse mecanismo enzimático de reparo também sofre prejuízos, por isso é fundamental que o esquema terapêutico oferecido para o tratamento de DCNCs não apresente muitas interações medicamentosas, nutriente-medicamento e gene-medicamento. Caso contrário, os idosos estarão muito expostos a iatrogenia medicamentosa. Além disso, é fundamental que o profissional prescritor tenha um profundo conhecimento sobre a biologia do envelhecimento para que o idoso tenha mais benefícios do que riscos à sua saúde. Assim, os estudos, in vitro, de células senescentes têm proporcionado modelos para melhor compreensão do processo de envelhecimento. Nesse sentido, as evidências experimentais sustentam hipóteses interligas de que o envelhecimento decorre de: • uma cascata de eventos programados e que eles caracterizam o processo final de diferenciação de um organismo; • bem como, decorrente da ação aleatória de mutações ao acaso (MOTA, FIGUEIREDO, DUARTE, 2004; MALUF, POMPÉIA, 2005; LOU, CHEN, 2006). Além disso, algumas teorias que tentam explicar quais os mecanismos causadores do envelhecimento. A teoria da mutação somática que se baseada na alteração do genoma provocando assim o envelhecimento, a do erros catastróficos, que relaciona o envelhecimento aos erros de duplicação do DNA e de proteínas, que nem sempre são completamente reparados, a da resposta autoimune que refere-se ao ataque aos tecidos normais pelos linfócitos e a teoria do acúmulo de metabólitos tóxicos que atribui ao envelhecimento a eliminação incompleta de excreções tóxicas (SCOTTI, VELASCO, 2003). Dessa forma, todos esses eventos e mecanismos envolvidos no processo de envelhecimento contribuem para a ineficiência do aparato enzimático, principalmente do citocromo P450 na detoxicação e metabolização de xenobióticos. Dentro deste contexto, muito tem se investido em descobrir moléculas naturais que possam atuar no tratamento complementar de DCNCs em idosos e, a planta C. sinensis tem despontado como uma segura e eficaz candidata. Uns dos chás de grande interesse pelo homem são os produzidos a partir da planta C. sinensis, pois são ricos em compostos biologicamente ativos (flavonóides, catequinas, polifenóis, alcalóides, vitaminas, sais minerais), que contribuem de forma eficiente para a prevenção e o tratamento de várias doenças (TREVISANATO, KIM, 2000). Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 361 OBJETIVO Revisar a literatura sobre o uso potencial do chá verde (Camellia sinensis) no tratamento complementar de morbidades e uso de medicamentos, associado ao envelhecimento. MÉTODOS Foi realizada uma revisão narrativa da literatura que investigou a produção do conhecimento sobre Camellia sinensis (C.sinensis) em relação ao tratamento complementar de morbidades e uso de medicamentos, associadas ao envelhecimento, e sobre os compostos bioativos do chá verde. O processo de coleta do material foi realizado de forma não sistemática no período de agosto a dezembro de 2019. Foram pesquisadas nas seguintes bases de dados: LILACS, SciELO, MEDLINE - Bireme e PubMed. Foram adotados alguns critérios de inclusão na busca como: artigos disponíveis integralmente, publicação em português, inglês ou espanhol em periódicos nacionais e internacionais e indexação nas bases de dados referidas sem período estabelecido. Foram excluídos os artigos que se repetiam entre as bases. Bem como, utilizou-se de livros para compor a literatura. A partir dos materiais selecionados foi realizada uma leitura crítica e interpretativa com a necessária imparcialidade e objetividade, na qual foram relacionadas às informações e ideias dos autores com o objetivo do estudo. A partir da leitura, agrupou-se em quatro tópicos principais que foram escritos nesse trabalho: descrição da C.sinensis, composição química e propriedades funcionais da C.sinensis, prevenção e tratamento de morbidades em idosos e as interações medicamentosas com a planta C.sinensis. RESULTADOS E DISCUSSÃO Breve descrição da Camellia sinensis O chá da C.sinensis é originário da China, e bastante consumido, principalmente por as suas características de aroma, sabor e propriedades medicinais (SAITO; MIYATA, 2000; KUMUDAVALLY et al., 2008). É designado genericamente como chá-da-índia ou como chá-verde, oolong e chá-preto, em referência ao produto resultante do preparo diferencial das folhas. Isto é, folhas frescas e recém coletadas caracterizam o chá verde, e quando submetidas a fermentação são chamadas de oolong (fermentação rápida) e chá preto (fermentação prolongada) (KUHN, WINSTON, 2000). 362 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 A planta da C.sinensis pertencente à família Theaceae, possui pequeno porte, do tipo arbustivo, apresenta folhas simples, alternas, inteiras, com margem serreada e textura coriácea, ápice acuminado, base aguda, serrada, pecíola a 5 mm. “Folhas axilares, solitárias a 3 cm de diâmetro, brancas “com pedicelo” a 1,5 cm, brácteas 2 ou 3 pequenas, sépalas 5,5 mm de diâmetro, orbicular, pétalas 5,2 x 1,5 cm”. “Possui estames numerosos; ovário com 3-5 carpelos, cada um com 4-6 óvulos, cápsulas deprimidas, globosas, acastanhadas, lobadas com 2 cm de largura, com 1-3 sementes em cada lóbulo subglobosas.” Cápsula a 2 cm de diâmetro, as flores são pequenas, brancas, geralmente com quatro a cinco pétalas e aparecem nas axilas das folhas em grupos de dois, três ou quatro. O fruto é uma cápsula com dois ou três centímetros de diâmetro (LORENZI, MATOS, 2002; HAZARIKA, BHUYAN, HAZARIKA, 2009). Os países de maior produção de C.sinensis são a China e a Índia e os chás provenientes desses países já foram objeto de diversos estudos (ASTILL et al., 2001; LIN et al., 2003; PERVA-UZUNALIC et al., 2006). Existem cinco diferentes tipos de chás provenientes da planta C.sinensis: o branco, o preto, o verde, o amarelo e o vermelho (MANFREDINI, MARTINS, BENFATO, 2004; WU et al., 2007). O chá dessa planta tem sido muito utilizado desde os tempos antigos por ser considerada uma bebida saudável e medicinal capaz de diminuir o risco de várias doenças, provavelmente devido à presença de catequinas. As catequinas têm mostrado ter efeitos antioxidantes, anti-inflamatório, imuno-moduladores, antilipidêmicos, antibióticos, antiangiogênicos e anti-carcinogênico (CABRERA, GIMENEZ, 2006; GOTTLIEB et al., 2017). O chá verde também apresenta efeitos protetores em diferentes fases do processo da carcinogênese, inibindo-o pela modulação da transdução de sinais que conduzem à inibição da proliferação, transformação das células e aumento do apoptose (YANG, PRABHU, LANDAU, 2000). Devido aos benefícios que o chá dessa planta oferece, seus efeitos vêm sendo estudados no combate ao envelhecimento celular, e na prevenção e tratamento do câncer, devido aos seus componentes fenólicos (COOPER, MORRÉ, MORRÉ, 2005; GOTTLIEB et al., 2017). Composição química e propriedade funcionais do chá verde (Camellia sinensis) A composição química do chá sofre variação de acordo com o clima, a estação, as práticas hortícolas e a preparação diferencial das suas folhas após a colheita (PASTORE; FRATELLONE, 2006). O chá das folhas da planta C.sinensis contém cerca de 4.000 compostos químicos bioativos, sendo que um terço é polifenóis (SUMPIO et al., 2006). Os principais constituintes do chá incluem proteínas, polissacarídeos, polifenóis, minerais e carboidratos, incluindo celulose, fibras, quase insolúveis em água. Além disso contém amidas, ácidos proteicos nucleicos, e aminoácidos, como a teanina e o ácido glutâmico, Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 363 bem como arginina e ácido aspártico. As folhas de chá apresentam vitamina A, tiamina (B1), riboflavina (B2), niacina (B3), vitamina K e ácido ascórbico, embora o processo de fermentação resulte em uma redução da quantidade de alguns componentes. Contém também elementos minerais como zinco, ferro, cobre, manganês, sódio, potássio, bem como níquel, fósforo e cálcio. Outro grupo de constituintes importante do chá é o alcaloide, que inclui cafeína, teofilina e teobromina (GRAMZA-MICHALOWSKA, BAJERSKA-JARZEBOWSKA, 2007; DIAS et al., 2013). Dentre os quatro tipos de chá, o chá verde, ou o chá não fermentado, contém a maior quantidade de flavonoides, sendo que as catequinas compreendem 80% a 90% dos flavonóides totais, com galato de epigalocatequina (EGCG), sendo a catequina mais abundante (48-55%) e o componente ativo mais significativo, seguida das outras catequinas, epigalocatequina (EGC), com cerca de 9-12%, Galato de epicatequina (ECG) com 9-12% e epicatequina (CE) com cerca de 5-7% (Pastore; Fratellone, 2006). Além das catequinas, a composição química do chá verde também inclui 15% de proteínas, 4% de aminoácidos, 26% de fibras, 7% de outros carboidratos, 7% de lipídios, 2% de pigmentos e 5% de minerais (BASU; LUCAS, 2007). A concentração usual de polifenóis totais em folhas de chá verde seco é de cerca de 8% a 12% (PASTORE; FRATELLONE, 2006). As catequinas presentes no chá, são compostos incolores e solúveis em água que conferem amargura e adstringência à infusão de chá verde. A maioria das características do chá fabricado, como o aroma, cor e sabor, estão associados, direta ou indiretamente, a modificações nas catequinas (WANG, PROVAN, HELLIWELL, 2000). As catequinas são potentes eliminadoras de radicais livres, devido ao seu potencial de redução de elétrons. A taxa de reação com os radicais livres e a estabilidade dos radicais antioxidantes resultantes contribuem para a reatividade do antioxidante (ANANINGSIH, SHARMA, SHOU, 2013). O chá verde é uma fonte potente de antioxidantes benéficos, pois é rico em polifenóis, incluindo catequinas, teaflavinas e as arubiginas. A folha possui a presença de um conhecido antioxidante, entre os quais EGCG (epigalocatequina-galato), bem como flúor e taninos (SHARANGI, 2009). Os flavonoides encontrados no chá verde e preto são potentes agentes de eliminação de radicais e podem ser ativos como antioxidantes no trato digestivo ou em outros tecidos após a absorção (RIETVELD, WISEMAN, 2003). As propriedades antiinflamatórias da C.sinensis também estão bem estabelecidas na literatura. Diferentes flavonoides da C.sinensis apresentam ação antiinflamatória, inibindo as enzimas ciclooxigenase 2 (COX-2) e lipoxigenase do metabolismo do ácido araquidônico e a formação de thromboxane e 12-ácido-hidroxiheptadecatrienoico (ADCOCKS, COLLIN, BUTTLE, 2002; CHUNG et al., 2015). A inflamação crônica está envolvida numa gama de diferentes tipos de câncer, doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes e hipertensão e 364 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 os inibidores da COX-2 vem sendo estudados como potenciais agentes quimioprotetores em câncer colorretal (LE MARCHAND, 2002; ADCOCKS, COLLIN, BUTTLE, 2002; CHUNG et al., 2009; CHUNG et al., 2015). Outra propriedade funcional muito importando da C.sinensis é a capacidade antimicrobiana contra várias bactérias. O mecanismo proposto para essas atividades antimicrobianas é que as catequinas bactericidas atuam prejudicando as membranas bacterianas. Os receptores ou sensores sensíveis ao nutriente são detectados por nutrientes orais ou intravenosos incluindo nutracêuticos imunomoduladores, que, através de fibras vagais aferentes, se projetam no núcleo dorso motor e interagem com o hipotálamo (SATO, MIYATA, 2000). Aumenta a atividade eferente do tímico vagal e linfonodo vagal, estimulando a liberação de células T. Simultaneamente, ocorre diminuição dos eferentes esplênicos, inibindo a absorção de linfócitos. O efeito líquido é um aumento na imunidade celular e humoral circulante (SATO, MIYATA, 2000). Adicionalmente, os estudos têm sugerido propriedades antimutagênicas, anti-apopitóticas e anti-angiogênicas da C.sinensis (LE MARCHAND, 2002; ADCOCKS, COLLIN, BUTTLE, 2002; CHUNG et al., 2009; CHUNG et al., 2015). Assim, a planta C.sinensis, nas suas diferentes formas (chá, extrato) tem ganhado bastante atenção pelos diversos benefícios que impactam na saúde. Por conta disso, incluiu-se os extratos de chá em suplementos dietéticos e alimentos funcionais (BHARDWAJ, KHANNA, 2013; GOTTLIEB et al., 2017). Chá verde e doenças associadas ao envelhecimento Câncer Vários estudos in vitro, in vivo e epidemiológicos relataram que o consumo de chá verde pode diminuir o risco de câncer. A EGCG, principal componente do chá verde, tem demonstrado que inibe a invasão tumoral e a angiogênese, que são essenciais para o crescimento e metástase do tumor (KHAN; MUKHTAR, 2010). Conforme Kim et al. (2016), os metabólitos da catequina do chá verde induzem a ativação imune mediada pela atividade das células TCD4+, bem como, a citotoxicidade das células Natural Killer (NK). A ausência de um 4’-hidroxilo no grupo fenilo (anel B) é importante para o efeito sobre a atividade imune. No estudo, a 5-(3 ‘, 5’-di-hidroxifenil) -e-valerolactona (EGC-M5), um dos principais metabólitos do EGCG, aumentou a atividade das células TCD4+ e a atividade citotóxica das células NK in vivo. Os autores sugerem que EGC-M5 pode apresentar atividade imuno estimuladora. Nakachi et al. (2003), em um estudo prospectivo de coorte de uma população japonesa com dados de seguimento de 13 anos, encontraram uma diminuição no número de mortes Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 365 por câncer quando associadas ao aumento do consumo de chá verde, indicando uma desaceleração significativa do aumento da morte por câncer e todas as causas da morte com o envelhecimento. Os efeitos quimiopreventivos do chá dependem de sua ação como antioxidante, da indução específica de enzimas desintoxicantes, das funções reguladoras moleculares no crescimento celular, desenvolvimento e apoptose e melhoria seletiva na função da flora bacteriana intestinal (WEISBURGER, CHUNG, 2002). Doenças cardiovasculares Entre os benefícios propostos da C. sinensis estão a manutenção da função endotelial e da homeostase vascular e uma redução associada na aterogênese e no risco de doenças cardiovasculares (MOORE, JACKSON, MINIHANE, 2009). O estudo intitulado Ohsaki, prospectivo de base populacional, realizado com 40.530 indivíduos japoneses, entre 40 a 79 anos, sem história de acidente vascular cerebral, doença cardíaca coronária ou câncer na linha de base, revelaram que os japoneses consumindo cinco ou mais xícaras de chá verde por dia apresentaram redução de 12% no total de mortalidade e redução de 26% no quadro de mortalidade cardiovascular quando comparada àqueles que estavam consumindo menos que 1 xícara por dia. Os autores concluíram que o consumo de chá verde está associado à redução da mortalidade por todas as causas e por doença cardiovascular, exceto câncer (KURIYAMA et al., 2006). Diabetes Mellitus No estudo realizado por Funke & Melzig (2006), foi realizado um rastreio da inibição da α-amilase de plantas tradicionalmente utilizadas no tratamento antidiabético e produtos naturais puros. Conforme resultados, o extrato seco das folhas de C. sinensis inibiu em 45-75% a enzima α-amilase, a qual é responsável pela quebra dos oligossacarídeos em monossacarídeos, os quais são absorvidos. Chen et al. (2005) verificaram que o conjunto de polissacarídeos do chá verde diminui a glicemia e melhora a atividade da superóxido dismutase (SOD), sugerindo que o conjunto de polissacarídeos são um potente antioxidante e parece haver uma conexão direta entre a atividade antioxidante e a atividade hipoglicêmica. Conforme Waltner-Law et al. (2002), o galato de epigalocatequina (EGCG) regula genes que codificam enzimas gluconeogênicas e fosforilação proteína-tirosina modulando o estado redox da célula. Os resultados do estudo demonstram que as mudanças no estado redox podem ter efeitos benéficos para o tratamento da diabetes. Assim, sugere-se que o EGCG seja um potente agente antidiabético. 366 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 No estudo in vitro realizado por Wu et al. (2004) foi utilizado um extrato de polifenol de chá verde para determinar seu efeito na atividade da insulina. Os resultados apontam um aumento significativo na absorção de adipócitos basal e estimulada por insulina. O chá verde aumentou a sensibilidade à insulina em ratos e o polifenol de chá verde é um dos componentes ativos. Dislipidemias O efeito de redução do colesterol no consumo de chá verde e preto foi encontrado em muitos estudos observacionais e estudos de intervenção. A ação pode ser principalmente devido à redução da absorção de colesterol e outros lipídios por catequinas de chá e polifenóis de chá preto. Foram propostas ações específicas sobre a inibição da síntese de colesterol por EGCG. Os polifenóis do chá preto têm uma biodisponibilidade muito baixa ou não, e, portanto, a ligação de lipídios pode ser o mecanismo mais importante de seus efeitos hipolipemiantes (YANG; HONG, 2013). Foi realizado um estudo prospectivo, duplo cego e cruzado para investigar os efeitos do chá verde em pacientes portadores de dislipidemias. O estudo envolveu 33 pacientes, com idade entre 21 e 71 anos, que consumiam uma dieta com baixo teor de gorduras. As variações lipídicas médias, provocadas pelo uso do chá verde, mostraram uma redução de 3,9 % (p = 0,006) nas concentrações do colesterol total e uma redução de 4,5 % (p=0,026) do LDL-colesterol. A ingestão de chá verde não influenciou significativamente os níveis de HDLcolesterol, dos triglicerídeos e do Apo-B. Resultados não significativos foram observados na avaliação dos lipídeos sanguíneos (colesterol total e LDL-colesterol) com o uso do placebo (BATISTA et al., 2009). Hipertensão Estudos de intervenção sobre os efeitos do consumo de chá na pressão arterial relataram resultados inconsistentes (PENG et al., 2014; GREYLING et al., 2014). Alkerwi et al. (2014) avaliaram a associação entre os componentes da pressão arterial (PA) e o consumo de chá ou café, levando em consideração o consumo simultâneo. A amostra foi constituída por 1352 indivíduos com idades entre os 18 a 69 anos. Não foi observada associação entre os componentes da PA e o consumo de café. O consumo diário de 1 dL de chá foi associado a uma redução significativa da pressão arterial sistólica em 0,6 mm Hg e pressão de pulso em 0,5 mm Hg. Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 367 Obesidade O extrato do chá verde contém uma grande proporção de EGCG, e têm como atrativo, o aumento da termogênese e oxidação de gordura e tem demonstrado ser capaz de aumentar a energia gasta em 24h e a oxidação lipídica promovendo a perda de peso em humanos, esta comprovação tem sido evidenciada em estudos que nivelam a mesma quantidade de cafeína e outro grupo pelo aumento de catequinas. Os resultados revelam que os indivíduos tratados com as catequinas alcançam melhores resultados quanto à termogênese (ALTERIO, FAVA, NAVARRO, 2007). Em um estudo realizado por Senger et al. 2012 demonstrou a eficácia do chá verde na redução da circunferência abdominal de idosos com síndrome metabólica. Apesar dos estudos do uso de C.sinensis no tratamentos de DCNCs em idosos serem escassos e ainda inconclusivos, a medicina tradicional chinesa utiliza-o há milênios, tanto na prevenção como no tratamento de doenças. Interações medicamentosas com a planta C. sinensis Devido ao uso generalizado e regular do chá verde como uma bebida ou suplemento dietético, o uso concomitante do extrato de planta com um ou mais medicamentos convencionais é essencialmente inevitável (ALBASSAM, MARKOWITZ, 2017). Idosos apresentam o costume de combinar chá de ervas medicinais com medicamentos, o que pode acarretar mais riscos que benefícios. Além disso, como são portadores de múltiplas morbidades acabam fazendo uso exagerado de medicamentos, princípios ativos, automedicação, gerando interações medicamentosas, dosagens erradas e muitos efeitos adversos e complicações. O chá verde por apresentar diversas propriedades funcionais deve ser administrado com cautela pelo idoso polimedicado, pois pode aumentar, reduzir ou anular a biodisponibilidade dos princípios ativos dos medicamentos (ALBASSAM, MARKOWITZ, 2017). Além disso, estudos em animais sugerem que o extrato de chá verde e/ou epigalocatequina-3-galato aumenta significativamente a biodisponibilidade de diltazem, verapamil, tamoxifeno, sinvastatina, 5-fluorouracil e nicardipina. Por outro lado, o extrato de chá verde e/ou epigalocatequina-3-galato reduzem a biodisponibilidade de quetiapina, sunitinibe, clozapina e nadolol (LI, CHOI, 2008; SCANDLYN et al., 2008; CHUNG et al., 2009; CHUNG; CHOI; CHOI, 2009; SENGER et al., 2012; ESSAM, YOUSIF, MUZAFFAR, 2015; WERBA et al., 2015; ALBASSAM, MARKOWITZ, 2017). Contudo, os estudos clínicos em humanos são poucos e inconclusivos nesse tema, por isso o cuidado para evitar interações adversas e iatrogenia deve ser intensificado. Esimone (2011) verificou que a interação de ervas-drogas entre extratos de chá (C. sinensis) e Penicilina G mostrou-se aditiva, sugerindo que a administração do chá e a Penicilina G pelo consorciador podem não prejudicar as propriedades antimicrobianas deste 368 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 último. No entanto, a interação entre o chá e algumas fluoroquinolonas, como ciprofloxacina, ofloxacina e norfloxacina, mostrou-se antagonista (ESIMONE, 2011). A biodisponibilidade e a atividade antibacteriana, in vivo, da levofloxacina foram melhoradas após administração concomitante com de chá, de C. sinensis. Embora não tenha sido realizada uma avaliação mecanicista da interação erva-drogas, é possível que o efeito inibitório do chá na P-glicoproteína possa ter resultado na biodisponibilidade melhorada que foi observada. A levofloxacina é um substrato para a glicoproteína-P, que também é expressa em intestinos de coelho. Portanto, a inibição de P-glicoproteína por chá poderia potencialmente aumentar a biodisponibilidade de medicamentos que são substratos para P-glicoproteína (ESIMONE, 2011). Dentro deste contexto, os estudos sugerem que a C. sinensis tem potencial para interferir na biodisponibilidade de medicamentos usados por idosos para o tratamento das suas DCNCs e morbidades. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os estudos científicos atuais consideram a C.sinensis uma planta estratégica para a saúde humana no século XXI, pois faz parte de um estilo de vida mais saudável. As plantas, em modo geral, são economicamente importantes, porque a base dos seus produtos, transformados ou não, são muito utilizados pelo homem desde a pré-história (LINDON; GOMES; CAMPOS, 2001). As pesquisas com chá verde (C.sinensis) revelam de forma crescente seu potencial efeito restaurador de estados patológicos por ter presente compostos bioativos. Por se tratar de uma bebida amplamente disponível, baixo custo, fácil consumo, e muito apreciada pela população de idosos, torna-se viável o seu uso como um importante coadjuvante no manejo terapêutico e nutricional em diversas DCNCs. Entretanto, é importante levar em consideração a ação da C.sinensis (chá verde) na biodisponibilidade de medicamentos em idosos, uma vez que são frequentemente polimedicados e apresentam diversas alterações fisiológicas, devido ao processo de envelhecimento inerente. Apesar da C.sinensis ser uma planta com diversas propriedades benéficas a saúde humana, existe a real possibilidade de interação, tanto com os genes, com os nutrientes da dieta habitual e com os medicamentos, o que pode acarretar em aumento, redução, anulação ou mesmo um efeito adverso ou iatrogenia. E, o segmento idoso está muito mais exposto a eventos e desfechos adversos em comparação a qualquer outro grupo etário. Além disso, é importante ressaltar que nenhum alimento isolado tem a capacidade de proporcionar um impacto de grande magnitude sobre a saúde. Nesse sentido é necessário investigações a respeito das interações nutricionais, a dosagem adequada, a melhor forma e Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 369 horário de consumo para que idosos se beneficiem das propriedades bioativas terapêuticas da C.sinensis com menor risco de interações adversas. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. Albassam, A. A.; Markowitz, J. S. An Appraisal of Drug-Drug Interactions with Green Tea (Camellia sinensis). Planta Med., v. 83, n. 6, p. 496-508, 2017. doi: 10.1055/s-0043-100934 Alkerwi, A.; Sauvageot, N.; Crichton, G. E.; Elias, M. F. Tea, but not coffee consumption, is associated with components of arterial pressure. Nutr Res., v. 35, n. 7, p. 557-65, 2015. doi: 10.1016/j.nutres.2015.05.004 4. Ananingsih, V. K.; Sharma, A.; Zhou, W. 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Metodologia: Este texto é derivado de reflexões e estudos realizados na organização do referencial teórico da dissertação e do projeto de estudo da tese no curso de Mestrado e Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Unochapecó. Resultado: O HIV é uma doença crônica rodeada por preconceitos e a discriminação de alguns segmentos da sociedade, que podem ser ainda mais evidentes na população idosa, percebidos por muitos, como seres assexuados o que, dificulta as medidas protetivas e retarda o diagnóstico e tratamento da doença, indispensável para uma vivência com maior qualidade. Assim, uma assistência qualificada de acordo com as especificidades da idade, pode garantir e gerar uma experiê ncia positiva do convívio com o HIV/Aids. Conclusão: As reflexões e estudos relacionados a vivências dos idosos com HIV é imprescindível para a criação de estratégias de prevenção da transmissão do vírus nesta faixa etária, bem como para qualificar as estratégias de assistência em saúde para este público. Palavras-chave: Velhice, Sorodiagnóstico da AIDS, Sorodiagnóstico do HIV, Idosos. INTRODUÇÃO Aspectos gerais sobre o envelhecimento no Brasil Uma das grandes conquistas da humanidade foi a ampliação do tempo de vida, com o alcançar da velhice; o que antes era um privilégio de poucos hoje é comum mesmo em países mais pobres (VERAS; OLIVEIRA, 2018). Nenhum homem que vive por mais tempo consegue fugir da velhice, ela é inelutável e irreversível (BEAUVOIR, 2018). No Brasil, a velhice é um fenômeno recente e crescente, que apresenta algumas particularidades no que tange ao número de idosos e à assistência prestada (DEBERT, 2004). Uma realidade mais positiva visualizada nas últimas décadas em relação à pessoa idosa, no Brasil, também é creditada às transformações profundas na composição de sua estrutura etária e a um significativo aumento do contingente de idosos, resultado da redução da taxa de crescimento populacional, da melhoria nas condições de saúde, do acesso aos serviços de saúde, da queda da taxa de natalidade e de fecundidade (BURIGO et al., 2015). Segundo dados do IBGE (2018 a,b), no Brasil, a população de idosos, desde o ano de 2012, teve um aumento de 4,8 milhões, superando a marca de 30,2 milhões em 2017, um crescimento de 18%. Desta população, as mulheres representam 16,09 milhões (56% dos idosos), enquanto os homens são 13,3 milhões (44% do grupo). A expectativa para 2060 é de que um quarto da população total, 25,5% (58,2 milhões), terá mais de 65 anos, enquanto em 2018 esse percentual é de 9,2% (19,2 milhões). Essa realidade do aumento do número de idosos no Brasil nos faz pensar: como essa população está chegando nessa fase da vida? Chegar à velhice com qualidade não é uma tarefa fácil, visto que em algumas regiões ainda existem precárias condições socioeconômicas e grandes desigualdades sociais (PAPALÉO NETTO, 2016). Os modelos assistenciais para o idoso ainda estão estruturados como nos tempos em que o Brasil era um país de jovens, com doenças agudas, porém o País está envelhecendo e, com esse envelhecimento, há o aumento de doenças crônicas e, consequentemente, dos gastos para atender essa demanda (VERAS, 2016). Dentre as doenças que estão em crescimento neste público, é evidente o aumento do número de casos das Infecções Sexualmente Transmissíveis – IST’s, como o HIV/Aids. Um panorama geral sobre o sexo, sexualidade e as IST’s na velhice. A sexualidade e o sexo são questões diferentes e precisam ser abordadas de maneira distinta para o entendimento deste aspecto na vida do idoso. A sexualidade faz parte da vida de todas as pessoas e é algo singular, individual que envolve aspectos psíquicos, Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 377 culturais, históricos, práticas e simbolizações, podendo ou não estar atrelado à relação com outra pessoa (MOIZES; BUENO et al., 2010). No idoso a sexualidade pode expressar-se na interação com o outro, na corporeidade e na maneira de ser, distinguindo-se do sexo que está relacionado ao ato sexual que é apenas uma das formas de expressão do amor humano (UCHOA et al., 2016). A sexualidade é algo de caráter subjetivo, permeando as relações interpessoais que permitam o afeto, a paixão, o namoro, o amor, o sexo, a cumplicidade, e o companheirismo, bem como, a identidade, gênero, orientação sexual, erotismo, prazer, intimidade e diversos outros aspectos. O idoso que possui uma vida sexual ativa pode se beneficiar de fatores biológicos, emocionais e sociais, assim como os idosos que suprimem esta questão podem envelhecer de maneira menos equilibrada e satisfatória (VIEIRA et al., 2014). Um dos problemas relacionado à sexualidade na vida do idoso é a falta de autonomia que esta população muitas vezes é exposta, devido aos familiares tomarem as maiores decisões sobre a vida destes, inclusive sobre os lugares que frequentam e as relações interpessoais que constroem. Outra dificuldade está relacionada às questões físicas, nos homens é possível observar dificuldade de ereção, maior tempo para ejaculação e em muitos casos a impotência sexual. Nas mulheres a partir da menopausa é possível observar pele mais seca e fina e a redução da lubrificação podendo ocasionar dor e sangramento na relação sexual. Estes fatores podem diminuir de maneira acentuada a prática sexual neste público (SILVA; PINTO, 2019). Porém, mesmo com essas alterações fisiológicas importantes, os idosos não alteram significativamente a rotina sexual até os 74 anos. É com 75 anos que se começa a notar queda importante nas relações nesta faixa etária. Outas questões, além das biológicas que podem interferir no decréscimo da prática com o avançar da idade, está a aceitação da aparência física, o sedentarismo, o estado civil e o relacionamento social (CAMBÃO et al., 2019). A sexualidade no idoso é rodeada de mitos e tabus. A sociedade tem uma visão limitada quanto a este tema e para muitos os sujeitos nessa faixa etária são considerados assexuados. É necessário repensar estes estigmas, considerando a sexualidade dentro do processo de envelhecimento, compreendida com naturalidade, como qualquer outro elemento da vida humana (ALENCAR et al., 2014). Porém este panorama tende a mudar, o aumento da expectativa de vida e o quadro de envelhecimento da população mundial vêm transformando também as práticas sexuais desses idosos, dentre elas alterando o perfil sexual, tornando-os ativos por maior tempo e possibilitando a inserção de maior número de parceiros nas suas rotinas, muitas vezes sem os cuidados necessários, colocando os mesmos em situações de risco para as IST’s como HIV/Aids. Esta mudança está atrelada as tecnologias em saúde que proporcionaram 378 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 medicações mais eficazes contra a impotência sexual e novas terapias de reposição hormonal (LAROQUE et al., 2011). O panorama crescente de idosos diagnosticados com HIV/Aids reflete o aumento da prática sexual desprotegida entre idosos, demonstrando que o desejo e a sexualidade estão presentes em todas as etapas da vida do ser humano (BRITO, 2016). A falta de compreensão sobre a sexualidade no idoso que está enraizada na sociedade, também está presente nos profissionais de saúde. Estes raramente questionam seus pacientes/usuários sobre questões ligadas a prática sexual, uma assistência fragmentada, limitada principalmente às queixas e doenças características da idade (SANTOS et al., 2019). Diante do contexto exposto é de extrema importância que os profissionais de saúde ampliem sua percepção e compreensão sobre tema e possam pensar em estratégias e ações capazes de auxiliar os idosos, para que eles possam vivenciar a prática sexual da melhor maneira possível, entendendo seus comportamentos de riscos e abordando as IST’s durante as consultas de saúde (CASTRO, 2013). Assim, é importante ressaltar que a sexualidade é normal e está presente em todas as faixas etárias, porém, a falta do diálogo sobre esse tema no processo de envelhecimento e os tabus que o envolvem tem contribuído para o avanço das IST’s, dentre elas o HIV/Aids, que apresentou um aumento significativo nesta faixa etária (GOMES et al., 2018). A partir dessas reflexões, é que nos despertou o interesse em estudar e compreender como é viver a velhice com HIV? Assim, este estudo teve por objetivo refletir sobre o viver a velhice com HIV/Aids. METODOLOGIA Este texto é derivado de reflexões e estudos realizados na organização do referencial teórico da dissertação “Itinerário terapêutico de idosos vivendo com HIV/Aids: perspectivas da história oral” e do projeto de estudo da tese “Vivências de idosos com HIV/Aids: dando voz e visibilidade as velhas árvores”, no curso de Mestrado e Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Unochapecó. Desenvolvimento Ao iniciar nosso diálogo sobre viver a velhice com HIV, apresentamos alguns dados conceituais sobre o HIV/Aids. O HIV é a sigla dada ao Vírus da Imunodeficiência Humana a partir da contaminação, este vírus ataca as células do sistema imunológico e posteriormente pode levar à Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), o estágio mais avançado da doença, por meio da queda da contagem dos linfócitos TCD4+. A infecção com o HIV não tem Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 379 cura, mas tem tratamento, o que pode evitar que a pessoa chegue ao estágio mais avançado da doença, desenvolvendo assim a AIDS. Ou seja, todos os sujeitos que possuem a AIDS passaram pelo estágio do HIV, porém nem todos os sujeitos que possuem HIV desenvolvem a doença, já que ela é uma manifestação mais tardia da doença (BRASIL, 2020). Atualmente, com os avanços da medicina e a possibilidade de monitorar a progressão da doença com CD4 e carga viral, bem como os avanços no tratamento antirretroviral, a Aids passa a ser uma doença tratável, deixando de ser uma doença aguda (BRASIL, 2017). A partir do desenvolvimento do tratamento antirretroviral, surgem discussões da possibilidade de viver com a Aids sob uma perspectiva de cronicidade e ela passa a ser incluída pela Organização Mundial da Saúde (OMS) na categoria das doenças crônicas transmissíveis (SCHAURICH; COELHO; MOTTA, 2006; BRASIL, 2017). A incidência de casos de Aids em idosos aumentou no decorrer dos anos, do ano da primeira notificação de Aids no Brasil, em 1980, até junho 2019, foram notificados 35.128 casos de Aids em idosos. No ano de 2000, o Brasil contabilizou 735 novos casos na população idosa. Uma década depois esse quantitativo mais do que dobrou, passando para 1.618 casos e em 2016, foram contabilizadas 2.199 novas infecções na população idosa. No ano de 2019, até o mês de junho, foram diagnosticados 704 novos casos de HIV em idosos; destes, 429 eram do sexo masculino, e 275, do sexo feminino. Nesse mesmo ano, os casos de Aids em idosos foram de 879 – 553 do sexo masculino e 326 do sexo feminino (BRASIL, 2017; BRASIL, 2019). Dados da literatura mostram que o perfil de maior ocorrência de HIV/Aids em idosos no Brasil se configura na faixa etária entre 60 e 69 anos, no sexo masculino, com recente processo de feminização da epidemia, sendo a categoria com maior exposição ao HIV a heterossexual (RIBEIRO; JESUS, 2006; ARAÚJO et al., 2007; SILVA et al., 2011; ULTRAMARI et al., 2011; VIEIRA; ALVES; SOUSA, 2012; OLIVEIRA; PAZ; MELO, 2013; SOUSA; SUASSUNA; COSTA, 2009; LIMA; MAIA; SOUSA, 2013; AFFELDT; SILVEIRA; BARCELOS, 2015; QUADROS et al., 2016; GODOY et al., 2008; ARAÚJO; BERTOLINI; BERTOLINI, 2015). O maior número de idosos vivenciando essa realidade, em parte, é creditado ao acesso a novas terapêuticas e medicamentos que tornaram possível o prolongamento da vida sexual ativa, porém o baixo conhecimento sobre o vírus e as formas de transmissão, que muitas vezes credita o risco apenas aos mais jovens, reduz a adoção de medidas preventivas para os mais velhos, o que aumenta a susceptibilidade ao HIV nessa faixa etária (SOUSA et al., 2019). A baixa escolaridade e a falta de informação sobre o uso do preservativo, a resistência em usá-lo como uma demonstração de confiança e fidelidade ao parceiro e a não realização 380 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 de testes diagnósticos levam a maior exposição e aumento dos casos de HIV em idosos. Além destes fatores sociais e culturais, os idosos apresentam outras condições específicas que podem predispô-los à contaminação, como redução das defesas mucosas e imunológicas (CERQUEIRA; RODRIGUES, 2016; BRASIL, 2015a). Essas condições fazem com que o diagnóstico do HIV em idosos seja tardio e ocorra nos serviços secundários ou terciários à saúde. Os profissionais da saúde não têm adotado como rotina a investigação do vírus do HIV em idosos, geralmente tratam as doenças oportunistas da patologia, que se assemelham a doenças características da pessoa idosa (CERQUEIRA; RODRIGUES, 2016; ALENCAR; CIOSAK, 2016). Alguns sintomas do HIV como perda de peso, fadiga, anorexia, dores crônicas são parecidos com sintomas de outras enfermidades crônicas, comum a essa fase da vida, dificultando ainda mais o diagnóstico, que é geralmente realizado quando já se encontra com alguma infecção oportunista relacionada ao HIV/AIDS (ARAÚJO et al., 2017). Além disto, infecções oportunistas são facilmente confundidas com a pneumocistose que podem ser confundidas com insuficiência cardíaca congestiva; a demência pelo HIV com Alzheimer ou Parkinson, status mental alterado, dificuldade de memória recente, ou intelecto diminuído que podem ser confundidos com Alzheimer (BRASIL, 2017b). Uma das consequências da demora em diagnosticar a infecção produz o acesso tardio à Terapia Antirretroviral (TARV), fundamental para o tratamento, que, quanto mais cedo iniciado, diminui as taxas de comorbidades e morbimortalidades relacionadas ao HIV, o que interfere de modo importante na forma como o idoso vivencia o HIV e qualidade dos anos vividos com a síndrome (ALVES; LOPES; BARBOSA, 2017). O diagnóstico soropositivo para o HIV, pode ocasionar, em primeira instância um grande impacto, despertando sentimentos desestruturantes, que exigem do idoso uma nova forma de olhar para o adoecimento a fim de fazer frente aos medos e angústias geradas pela doença. O preconceito após o diagnóstico e a falta de informações sobre a patologia é um dos grandes limitadores para a ressignificação deste indivíduo frente a capacidade de lidar com a patologia (SALES et al., 2013). Ao ser diagnosticado com o HIV, os idosos enfrentam aspectos negativos na sua vida, com desorganização do seu modo de viver, experiências de sofrimento e medo sobre as repercussões dessa nova condição, as possibilidades de tratamento e o julgamento das pessoas (CASSÉTTE et al., 2016). O HIV ainda está rodeado de muitos sentimentos controversos, como o medo, os sofrimentos emocionais e as inseguranças quanto a essa nova etapa de vida; ainda há que se preocupar com os preconceitos e a discriminação de alguns segmentos da sociedade (PIMENTA, 2014). Pode ser ainda mais complicado quando se refere à população idosa, Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 381 pois, aos olhos de muitos familiares, amigos, profissionais da saúde e de porção significativa da sociedade, essas pessoas são seres assexuados (NASCIMENTO et al., 2017). Novos desafios são postos cotidianamente, principalmente quanto ao estereótipo relacionado ao comportamento sexual de idosos. A visão do velho como assexuado tem ligação com as limitações físicas, as mudanças estéticas e alterações hormonais, por exemplo, a menopausa feminina (gerando ressecamento vaginal, diminuição da libido) e a progressiva manifestação das disfunções da ereção masculina, alterações que são associadas ao fim de uma vida sexual ativa (ALENCAR et al., 2016). Os idosos com HIV/Aids convivem com preconceitos e discriminação da sociedade, com o silenciamento e a invisibilidade impostos pelo medo de que as pessoas tomem ciência do seu diagnóstico e se afastem, produzindo, assim, o isolamento social, bem como surgem sentimentos negativos como a vergonha, a culpa e a repressão sexual (SALDANHA; ARAÚJO; SOUSA, 2009; SILVA et al., 2015; NASCIMENTO et al., 2017). O estudo de Andrade, Silva e Santos (2010) que buscou compreender a vivência dos idosos com HIV na cidade de Belém com 13 colaboradores, demonstrou que estas alterações emocionais estão também atreladas ao medo da doença, vergonha dos familiares e também relacionadas às alterações físicas. A pesquisa apresentou como resultado que as mudanças na imagem corporal, atreladas ao processo de emagrecimento acentuado e debilidade ocasionados pela doença nos idosos, são fatores de sofrimento. O tratamento também pode causar sintomas físicos como o aparecimento de risco de doenças cardiovasculares, dislipidemia e hiperglicemia, causando assim um processo de preocupação nestes sujeitos. O processo de diagnóstico e viver com o HIV/Aids exige dos idosos a reelaboração de uma série de processos, em especial para manter uma boa saúde mental e qualidade de vida. Para isto o idoso precisa de suporte psicológico, social e muitas vezes, espiritual, desde o diagnóstico, como também o apoio familiar e dos profissionais da saúde (HIPOLITO, 2014). Tais características nem sempre recebem atenção especial e uma assistência de acordo com suas especificidades. Nesta perspectiva, quando se pensa a assistência à população idosa convivendo com o HIV/Aids, as ações e olhares têm se remetido às implicações biológicas e físicas que a patologia produz na velhice, uma vez que o tempo de desenvolvimento do HIV para a AIDS nesta faixa etária é mais rápido (em média cinco anos, enquanto em adultos e jovens este tempo é de oito a dez anos). Essas implicações interferem diretamente nos caminhos percorridos pelos idosos nos serviços de saúde, já que grupos com menor comprometimento podem realizar sua assistência na atenção básica, enquanto idosos com maior comprometimento são atendidos na média complexidade, isto é, serviços de atendimento específicos, ou mesmo na alta complexidade (BRASIL, 2015a), produzindo diferentes demandas. 382 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Realizando uma busca documental no dia 4 de abril de 2019, com o objetivo de identificar nas políticas, protocolos e diretrizes de saúde, ações e serviços que atendem a população de idosos com HIV, no site oficial do Ministério da Saúde voltado para o HIV/Aids (Aids.gov), no site da QualiAids e na BVS (utilizando os descritores “políticas públicas” or “idosos¨ or “sorodiagnóstico de HIV e Aids”), nos últimos cinco anos, foram encontrados apenas nove documentos que organizam a assistência das pessoas vivendo com HIV em todos os níveis, porém apenas um (“Diretriz para Implementação da Rede de Cuidados em IST/HIV/Aids de 2017”) cita os idosos, no seu item “3.24. Infecção HIV e Aids em pessoas idosas”. Essa diretriz aponta que o risco de contrair o HIV em idades mais velhas está relacionado aos idosos não se perceberem como população de risco, pelas mudanças biológicas da idade que levam à redução das defesas das mucosas e imunológicas, o estabelecimento de novas e múltiplas parcerias sexuais, a redução no uso de preservativos e a melhora do desempenho sexual. Discorre, também, sobre o diagnóstico ser tardio nessa população devido ao estigma, à marginalização e à falta de informação dos idosos e ao subdiagnóstico marcado por estereótipos, preconceito de profissionais de saúde que não oferecem a testagem do HIV em momento inicial, somente após esgotarem todas as outras possibilidades de diagnóstico das condições relacionadas à idade. Por último, apresenta o tratamento com o TARV em idosos com HIV, não trazendo elementos para uma assistência direcionada às necessidades dessa população (BRASIL, 2017). Para uma assistência mais qualificada que envolva a população idosa, é fundamental que, primeiramente, os profissionais de saúde possam se despir de preconceitos e estereótipos sobre a contaminação do HIV em idosos, visto que, por diversos motivos (o despreparo na sua formação profissional, a visão do idoso como um ser assexuado e a diferença de idade do profissional da saúde e do idoso), produzem a invisibilidade do “idoso com HIV/ Aids” por dentro do sistema de saúde, o que pode levar ao diagnóstico tardio, consequentemente ao retardamento do tratamento com a terapia antirretroviral e à morte prematura (ALENCAR; CIOSAK, 2016). Nessa direção, a assistência ao idoso deve ser pensada em sua integralidade, com cuidados precoces, com ações de promoção e educação em saúde, prevenção de doenças e reabilitação de agravos, em uma lógica de rede, englobando todos os níveis de atenção à saúde, desde o acolhimento até os cuidados no fim da vida (VERAS, 2016). Para além do tratamento medicamentoso, incorporar nas práticas clínicas o entendimento do HIV/Aids como uma enfermidade crônica pode potencializar uma assistência mais humanizada e aflorar a possibilidade de uma escuta qualificada sobre a realidade e as necessidades desse idoso. Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 383 CONSIDERAÇÕES FINAIS Viver com HIV é algo desafiador e que pode ser acentuado na pessoa idosa, que ainda é marcada por preconceitos e uma visão do idoso como o “velho”, sem funcionalidade, que cuida dos netos, assexuado, dentre outros tabus existentes. Assim, precisamos refletir mais sobre o assunto, na tentativa de dar maior visibilidade a patologia e minimizar os estereótipos existentes, vislumbrando a superação de preconceitos e discriminações na direção de uma lógica de cuidado que considera o indivíduo em sua totalidade e individualidade, que respeita sua condição de vida e saúde. É necessário rever as políticas públicas já existentes em nosso país no combate ao HIV/Aids, desenvolvendo novas estratégias que atingem a população de idosos, deixando esses menos vulneráveis a contaminação, auxiliando no diagnóstico precoce e no início precoce do tratamento, possibilitando ao idoso vivenciar essa experiência da forma mais positiva. Evidencia-se também, a necessidade de uma assistência ampla e com um olhar abrangente e despido de preconceitos por parte dos profissionais e serviços de saúde para essa população. Por fim, torna-se essencial ampliar as pesquisas em torno desse tema buscando aprofundar o conhecimento sobre essa nova característica da epidemia, a presença maior na população idosa. Conhecer as demandas, as características do HIV/Aids nos idosos, as implicações da infecção nessa fase da vida, trazem informações para refletirmos sobre os serviços de saúde e as estratégias de prevenção do HIV nessa faixa etária, buscando a humanização do cuidado. 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Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 387 SOBRE O ORGANIZADOR Prof. Dr. Edilson Coelho Sampaio Graduado em Terapia Ocupacional pela Universidade do Estado do Pará (2005-2010), com especialização em Saúde do Idoso pelo Programa de Residência Multiprofissional em Saúde do Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB) da Universidade Federal do Pará (UFPA) (2011-2013). Mestre (2013-2015) e Doutor (2015-2020) em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários pela UFPA com ênfase em Virologia e Epidemiologia. Professor nos cursos de graduação do Núcleo Saúde e Pedagogia da Faculdade Ideal e do curso de Terapia Ocupacional na Universidade da Amazônia. É membro do Conselho Editorial da Editora Cientifica Digital. Áreas e temáticas de interesse: desenvolvimento infantil (ênfase nos transtornos do neurodesenvolvimento), atenção a saúde da pessoa idosa, epidemiologia, saúde coletiva e fundamentos de Terapia Ocupacional. Lattes: http://lattes.cnpq.br/7154091678027221 388 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 ÍNDICE REMISSIVO Envelhecimento Humano: 188 A Acidente Vascular Encefálico: 26 Epidemiologia: 22, 59, 107, 115, 125, 171, 274, 276, 281, 294, 384, 385, 386, 387 Antimicrobianos: 298, 308 H Aposentadoria: 96 Hanseníase: 107, 109, 113, 114 Atenção Primária à Saúde: 221 Hemodiálise: 118, 125 Auditoria de Enfermagem: 153, 169, 171 Homossexualidade: 234, 245 Auxiliares de Audição: 136 Hospitalização: 221 C I Cinesioterapia (em Língua Portuguesa e em Língua Inglesa): 38, 49 Covid: 185 Idosos: 15, 17, 19, 23, 35, 51, 54, 59, 70, 72, 76, 111, 112, 134, 186, 199, 202, 218, 231, 266, 291, 294, 322, 323, 368, 376, 385, 386, 387 Cuidado ao Idoso: 13 Cuidado Domiciliar: 26, 36 Incontinência Urinária: 45, 49, 330 Cuidado Integral: 16, 19 Insuficiência Renal Crônica: 118, 125 D Desastres: 72, 73, 77, 79 Internet: 104, 191, 195, 199, 202, 203, 206, 232, 333, 335, 345, 349, 352, 353, 355, 357 Disfunção Erétil: 325 Invisibilidade: 233, 234 Doença Crônica: 221 M Doenças Vasculares Periféricas: 218 Mídias Sociais: 199 E Mulheres: 62, 64 Emergências: 72 P Enfermagem: 12, 22, 23, 24, 35, 48, 49, 59, 64, 67, 70, 80, 118, 124, 125, 129, 130, 134, 148, 157, 162, 166, 167, 168, 169, 170, 171, 172, 173, 217, 231, 281, 293, 294, 295, 296, 384, 385, 386, 387 Perda Auditiva: 136 Envelhecimento: 12, 15, 20, 24, 35, 49, 51, 67, 69, 74, 79, 80, 104, 107, 136, 149, 151, 172, 173, 186, 188, 205, 232, 234, 245, 247, 253, 267, 268, 311, 322, 323, 373, 385 389 Idoso: 13, 20, 21, 22, 26, 40, 62, 64, 76, 77, 79, 80, 127, 129, 153, 168, 188, 208, 221, 238, 240, 244, 288, 293, 298, 322, 334, 359 Políticas Públicas: 16, 22, 23, 263 R Reabilitação: 136 Relacionamentos: 199, 202 S Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 Saúde do Idoso: 231, 271 Segurança do Paciente: 153, 159, 169, 172 Sexualidade: 62, 64, 69, 70, 127, 129, 130, 134, 244, 324, 325, 334, 385, 386, 387 Solidão: 51, 54, 58, 196, 199 T Terceira Idade: 325 V Velhice: 70, 80, 134, 245, 376, 386 390 Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2 editora científica