ENVELHECIMENTO HUMANO
Desafios Contemporâneos
Volume 2
EDILSON COELHO SAMPAIO
Organizador
editora científica
ENVELHECIMENTO HUMANO
Desafios Contemporâneos
Volume 2
EDILSON COELHO SAMPAIO
Organizador
1ª Edição
2020
editora científica
Copyright© 2020 por Editora Científica Digital
Copyright da Edição © 2020 Editora Científica Digital
Copyright do Texto © 2020 Os Autores
Todo o conteúdo deste livro está licenciado sob uma Licença de
Atribuição Creative Commons. Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0).
O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos
autores. Permitido o download e compartilhamento desde que os créditos sejam atribuídos aos autores, mas sem a
possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais.
EDITORA CIENTÍFICA DIGITAL LTDA
Guarujá - São Paulo - Brasil
www.editoracientifica.org -
[email protected]
CONSELHO EDITORIAL
Editor Chefe
Reinaldo Cardoso
Editor Executivo
João Batista Quintela
Editor Científico
Prof. Dr. Robson José de Oliveira
Assistentes Editoriais
Elielson Ramos Jr.
Érica Braga Freire
Erick Braga Freire
Bianca Moreira
Sandra Cardoso
Arte e Diagramação
Andrewick França
Bruno Gogolla
Bibliotecário
Maurício Amormino Júnior - CRB6/2422
Jurídico
Dr. Alandelon Cardoso Lima - OAB/SP-307852
CONSELHO EDITORIAL
Prof. Dr. Robson José de Oliveira - Universidade Federal do Piauí
Prof. Dr. Carlos Alberto Martins Cordeiro - Universidade Federal do Pará
Prof. Me. Ernane Rosa Martins - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás
Prof. Dr. Rossano Sartori Dal Molin - FSG Centro Universitário
Prof. Dr. Carlos Alexandre Oelke - Universidade Federal do Pampa
Prof. Me. Domingos Bombo Damião - Universidade Agostinho Neto, Angola
Prof. Dr. Edilson Coelho Sampaio - Universidade da Amazônia
Prof. Dr. Elson Ferreira Costa - Universidade do Estado Do Pará
Prof. Me. Reinaldo Eduardo da Silva Sale - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará
Prof. Me. Patrício Francisco da Silva - Faculdade Pitágoras de Imperatriz
Prof. Me. Hudson Wallença Oliveira e Sousa - Instituto Nordeste de Educação Superior e Pós-Graduação
Profª. Ma. Auristela Correa Castro - Universidade Federal do Oeste do Pará
Profª. Drª. Dalízia Amaral Cruz - Universidade Federal do Pará
Profª. Ma. Susana Martins Jorge - Ferreira - Universidade de Évora, Portugal
Prof. Dr. Fabricio Gomes Gonçalves - Universidade Federal do Espírito Santo
Prof. Me. Erival Gonçalves Prata - Universidade Federal do Pará
Prof. Me. Gevair Campos - Faculdade CNEC Unaí
Prof. Esp. Flávio Aparecido de Almeida - Faculdade Unida de Vitória
Prof. Me. Mauro Vinicius Dutra Girão - Centro Universitário Inta
Prof. Esp. Clóvis Luciano Giacomet - Universidade Federal do Amapá
Profª. Drª. Giovanna Faria de Moraes - Universidade Federal de Uberlândia
Profª. Drª. Jocasta Lerner - Universidade Estadual do Centro-Oeste
Prof. Dr. André Cutrim Carvalho - Universidade Federal do Pará
Prof. Esp. Dennis Soares Leite - Universidade de São Paulo
Profª. Drª. Silvani Verruck - Universidade Federal de Santa Catarina
Prof. Me. Osvaldo Contador Junior - Faculdade de Tecnologia de Jahu
Profª. Drª. Claudia Maria Rinhel Silva - Universidade Paulista
Profª. Drª. Silvana Lima Vieira - Universidade do Estado da Bahia
Profª. Drª. Cristina Berger Fadel - Universidade Estadual de Ponta Grossa
Profª. Ma. Graciete Barros Silva - Universidade Estadual de Roraima
Prof. Dr. Carlos Roberto de Lima - Universidade Federal de Campina Grande
CONSELHO EDITORIAL
Prof. Dr. Júlio Ribeiro - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Prof. Dr. Wescley Viana Evangelista - Universidade do Estado de Mato Grosso Carlos Alberto Reyes Maldonado
Prof. Dr. Cristiano Souza Marins - Universidade Federal Fluminense
Prof. Me. Marcelo da Fonseca Ferreira da Silva - Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória
Prof. Dr. Daniel Luciano Gevehr - Faculdades Integradas de Taquara
Prof. Me. Silvio Almeida Junior - Universidade de Franca
Profª. Ma. Juliana Campos Pinheiro - Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Prof. Dr. Raimundo Nonato F. do Nascimento - Universidade Federal do Piauí
Prof. Dr. Iramirton Figuerêdo Moreira - Universidade federal de Alagoas
Profª. Dra. Maria Cristina Zago - Faculdade de Ciências Administrativas e Contábeis de Atibaia
Profª. Dra. Gracielle Teodora da Costa Pinto Coelho - Centro Universitário de Sete Lagoas
Profª. Ma. Vera Lúcia Ferreira - Centro Universitário de Sete Lagoas
Profª. Ma. Glória Maria de França - Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Profª. Dra. Carla da Silva Sousa - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano
SUMÁRIO
CAPÍTULO 01 .......................................................................................................................................... 12
A ENFERMAGEM E O CUIDADO INTEGRAL E HUMANIZADO NO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
Débora Silva Maciel; Larissa Dias Godinho; Michelle dos Santos da Silva; Maria Emília Cirqueira; Lorena
Moura de Assis Sampaio; Julita Maria Freitas Coelho; Fernanda Carvalho de Jesus Oliveira; Isabelle
Matos Pinheiro; Valterney de Oliveira Morais; Alexsandro Figueredo de Souza
DOI: 10.37885/201001797
CAPÍTULO 02 .......................................................................................................................................... 25
A EXPERIÊNCIA NO CUIDADO DOMICILIAR AO IDOSO SEQUELADO POR ACIDENTE VASCULAR
ENCEFÁLICO SOB PERSPECTIVA DE FAMILIARES
Françuelda Pereira Nóbrega; Rosilene Alves de Almeida; Francisca das Chagas Alves de Almeida;
Rosangela Alves Almeida Bastos; Rosimery Alves de Almeida
DOI: 10.37885/201102284
CAPÍTULO 03 .......................................................................................................................................... 37
A INFLUÊNCIA DA CINESIOTERAPIA NO ARRANJO LOMBOPÉLVICO E NA INCONTINÊNCIA
URINÁRIA DA MULHER IDOSA
Fabiana da Silveira Bianchi Perez; Anna Claudia Sentanin; Luciana Roberta Tenório Peixoto; Adson
Ferreira da Rocha
DOI: 10.37885/201202402
CAPÍTULO 04 .......................................................................................................................................... 50
A VELHICE E O SENTIMENTO DE SOLIDÃO SOB A ÓTICA DOS IDOSOS
Alyne Amaral Santos; Emylle Cristine Alves Veloso; Álvaro Parrela Piris; Bruna Roberta Meira Rios;
Carla Silvana de Oliveira e Silva; Leila das Graças Siqueira; José Ronivon Fonseca; Wellington Danilo
Soares; Andréa Maria Eleutério de Barros Lima Martins; Henrique Andrade Barbosa
DOI: 10.37885/201001748
CAPÍTULO 05 .......................................................................................................................................... 61
A VIVÊNCIA DA SEXUALIDADE PELA MULHER IDOSA
Anny Isabelly Medeiros de Góes; Renata Ferreira de Araújo; Daniela Laurentino Rodrigues;
Renata Marculino Sousa
DOI: 10.37885/201202387
CAPÍTULO 06 .......................................................................................................................................... 71
A VULNERABILIDADE PSICOSSOCIAL DA PESSOA IDOSA FRENTE ÀS SITUAÇÕES DE
EMERGÊNCIAS E DESASTRES
Diana Maria da Silva Sousa; Ubiracelma Carneiro da Cunha; Thaís Afonso Andrade
DOI: 10.37885/201202393
SUMÁRIO
CAPÍTULO 07 .......................................................................................................................................... 82
APORTACIONES DE LA INVESTIGACIÓN CUANTI-CUALITATIVA A LA PSICOGERONTOLOGÍA.
Jorge Luis López Jiménez; Guadalupe Barrios Salinas; Blanca Estela López Salgado; Tomás Cortés Solís
DOI: 10.37885/201202379
CAPÍTULO 08 .......................................................................................................................................... 95
AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA QUALIDADE DE VIDA DE
APOSENTADOS RESIDENTES EM RIO CLARO/SP: ESTUDO QUANTITATIVO
Elisangela Gisele do Carmo; Pollyanna Natalia Micali; Raiana Lídice Mór Fukushima; Reisa Cristiane
de Paula Venancio; José Luiz Riani Costa
DOI: 10.37885/201202442
CAPÍTULO 09 ........................................................................................................................................ 106
CONTEXTO SANITÁRIO DA HANSENÍASE E ENVELHECIMENTO
Marcos Túlio Raposo; Marcelo de Almeida do Nascimento; Ailana Cardoso Damasceno; Ana Virgínia
de Queiroz Caminha
DOI: 10.37885/201202400
CAPÍTULO 10 .........................................................................................................................................117
DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM DO DOMÍNIO ENFRENTAMENTO/TOLERÂNCIA AO ESTRESSE
EVIDENCIADOS POR IDOSOS EM TRATAMENTO HEMODIALÍTICO
Rosilene Alves de Almeida; Rosângela Alves Almeida Bastos; Francisca das Chagas Alves de Almeida;
Roseane Vieira Pereira de Sousa; Raquel Riziolli de Araújo Oliveira; Rita de Cássia Sousa Silva
DOI: 10.37885/201202401
CAPÍTULO 11 ........................................................................................................................................ 126
ENTENDENDO A SEXUALIDADE NA TERCEIRA IDADE: REVISÃO INTEGRATIVA
Gilson Aquino Cavalcante; Jonatas Gomes Neri; Lilian Machado de Lima
DOI: 10.37885/200901215
CAPÍTULO 12 ........................................................................................................................................ 135
ESCUTA DICÓTICA, PROCESSAMENTO TEMPORAL E COGNIÇÃO EM IDOSOS USUÁRIOS DE
PRÓTESE AUDITIVA
Sandra Nunes Alves Viacelli; Aline Bovolini; Maria Inês Dornelles da Costa-Ferreira; Liliane
Desgualdo Pereira
DOI: 10.37885/201202398
SUMÁRIO
CAPÍTULO 13 ........................................................................................................................................ 152
EVENTOS ADVERSOS EM IDOSOS HOSPITALIZADOS: CONTRIBUIÇÕES DA AUDITORIA EM
SAÚDE
Cristiane Chagas Teixeira; Ana Lúcia Queiróz Bezerra; Gabriela Camargo Tobias; karynne Borges Cabral
DOI: 10.37885/201001839
CAPÍTULO 14 ........................................................................................................................................ 174
FRECUENCIA DE DESÓRDENES MENTALES EN ADULTOS MAYORES RESIDENTES EN UNA
INSTITUCIÓN DE ASISTENCIA SOCIAL EN LA CIUDAD DE MÉXICO.
Jorge Luis López-Jiménez; Guadalupe Barrios-Salinas; Blanca Estela López-Salgado; María Patricia
Martínez-Medina; Laura Angélica Bazaldúa-Merino; Tomás Cortés-Solís
DOI: 10.37885/201202376
CAPÍTULO 15 ........................................................................................................................................ 185
IMPACTO DA PANDEMIA DE COVID-19 NA SAÚDE DE IDOSOS: UMA REVISÃO NARRATIVA
Genilson Bento dos Santos; Camila Victória Pereira da Silva; Clésia Oliveira Pachú
DOI: 10.37885/201202434
CAPÍTULO 16 ........................................................................................................................................ 198
IMPACTO DAS MÍDIAS DIGITAIS NOS RELACIONAMENTOS ENTRE IDOSOS: UMA REVISÃO
SISTEMÁTICA DA LITERATURA
Samara Amorim de Araújo; Rômulo Kunrath Pinto Silva; Amanda Souza Fernandes; Ayane de Fátima
Queiroz Ferreira; Gilka Paiva Oliveira Costa
DOI: 10.37885/201202391
CAPÍTULO 17 ........................................................................................................................................ 207
INSTRUMENTOS DE DETECÇÃO DE DOENÇAS VASCULARES PERIFÉRICAS EM IDOSOS
ASSISTIDOS PELA ATENÇÃO PRIMÁRIA
Ana Paula Pillatt; Fernanda Dallazen Sartori; Evelise Moraes Berlezi
DOI: 10.37885/201102308
CAPÍTULO 18 ........................................................................................................................................ 220
INTERNACÕES DE IDOSOS POR CONDIÇÕES SENSÍVEIS À ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
Iasmim Cunha Maranguape Araújo; Andréa Carvalho Araújo Moreira; Cibelly Aliny Siqueira Lima Freitas;
Maria Socorro Carneiro Linhares; Jamylle Lucas Diniz
DOI: 10.37885/201202399
SUMÁRIO
CAPÍTULO 19 ........................................................................................................................................ 233
INVISIBILIDADE E SOLIDÃO: A FIGURA DO HOMOSSEXUAL IDOSO NO BRASIL
Marcos Rodrigo Oliveira; Maria Helena Pereira de Oliveira Araújo; Mônica Iser Silva; Betânia Maria
Oliveira de Amorim
DOI: 10.37885/201202362
CAPÍTULO 20 ........................................................................................................................................ 246
O DESAFIO DA SARCOPENIA E OBESIDADE SARCOPÊNICA NO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
Izadora Silveira Fernandes; Valdemir Pereira de Sousa; Karoliny Gomes Quirino; Laís de Lima Bride;
Flavia de Paula; Flávia Imbroisi Valle Errera
DOI: 10.37885/201101951
CAPÍTULO 21 ........................................................................................................................................ 270
PRINCIPAIS FATORES DESENCADEADORES DOS DISTÚRBIOS DO SONO NO ENVELHECIMENTO
Luana Meireles Pecoraro; Andreza Maria Lima Maia; Maria Alice Ferreira Farias; Hélio Tavares de Oliveira
Neto; Polliana Peres Cruz Carvalho; Milena Nunes Alves de Sousa
DOI: 10.37885/201202388
CAPÍTULO 22 ........................................................................................................................................ 283
RASTREIO DE DISTÚRBIO PSICOLÓGICO PELA ESCALA DE DEPRESSÃO GERIÁTRICA E SEUS
FATORES DE RISCO
Ériks Oliveira Silva; Ana Karen Costa Silva; Morun Bernardino Neto; Alexandre Azenha Alves de
Rezende; Luciana Karen Calábria
DOI: 10.37885/201102028
CAPÍTULO 23 ........................................................................................................................................ 297
REAÇÕES ADVERSAS AOS ANTIMICROBIANOS EM PESSOAS IDOSAS: O QUE DEVE SER
OBSERVADO?
Lidiane Riva Pagnussat; Siomara Regina Hahn; Adriano Pasqualotti
DOI: 10.37885/201202417
CAPÍTULO 24 ........................................................................................................................................ 310
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE IDOSOS/AS SOBRE O MÉTODO PILATES E SEUS REFLEXOS
NO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
Joseana Maria Saraiva; Rosana Barbara da Silva; Iêda Litwak de Andrade Cezar
DOI: 10.37885/201202420
SUMÁRIO
CAPÍTULO 25 ........................................................................................................................................ 324
SEXUALIDADE E DISFUNÇÃO ERÉTIL NA TERCEIRA IDADE: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Yasmim Vilarim Barbosa; Maria Crislândia Freire de Almeida; Alessandra de Souza Silva; Vanda
Lúcia dos Santos
DOI: 10.37885/201102178
CAPÍTULO 26 ........................................................................................................................................ 336
USO DE TECNOLOGÍAS DE LA INFORMACIÓN Y COMUNICACIÓN EN SERVICIOS Y CUIDADOS
DE ATENCIÓN PRIMARIA DE SALUD PARA ADULTOS MAYORES EN LATINO AMÉRICA
Exequiel Plaza; Hernando Durán
DOI: 10.37885/201102339
CAPÍTULO 27 ........................................................................................................................................ 358
USO POTENCIAL DO CHÁ VERDE NO TRATAMENTO COMPLEMENTAR DE MORBIDADES E USO
DE MEDICAMENTOS, ASSOCIADO AO ENVELHECIMENTO: UMA REVISÃO
Renata Breda Martins; Raquel Seibel; Jamile Ceolin; Vilma Maria Junges; Maria Gabriela Valle Gottlieb
DOI: 10.37885/201202390
CAPÍTULO 28 ........................................................................................................................................ 375
VIVER A VELHICE COM HIV/AIDS
Rosane Paula Nierotka; Ricardo José Nicaretta; Fátima Ferretti
DOI: 10.37885/201202397
SOBRE O ORGANIZADOR ................................................................................................................... 388
ÍNDICE REMISSIVO .............................................................................................................................. 389
01
“
A Enfermagem e o Cuidado
Integral e Humanizado no
Processo de Envelhecimento
Débora Silva Maciel
Julita Maria Freitas Coelho
FAT
FAT
Larissa Dias Godinho
Fernanda Carvalho de Jesus Oliveira
FAT
FAT
Michelle dos Santos da Silva
Isabelle Matos Pinheiro
FAT
IFBA
Maria Emília Cirqueira
Valterney de Oliveira Morais
FAT
FAT
Lorena Moura de Assis Sampaio
Alexsandro Figueredo de Souza
FAT
FAT
10.37885/201001797
RESUMO
INTRODUÇÃO: O envelhecimento é processo dinâmico e progressivo com ocorrência
de diferentes alterações que acabam fazendo com que o idoso se torne vulnerável a
fatores intrínsecos e extrínsecos. De acordo com as estatísticas, no Brasil e no mundo
a população idosa tem aumentado, o que vêm exigindo dos profissionais de saúde mais
qualificação. OBJETIVO: Discorrer sobre o cuidado integral e humanizado do enfermeiro
no processo de envelhecimento, analisando a assistência de enfermagem na percepção do idoso, destacando sua importância no tratamento humanizado, além de discutir
o nível de conhecimento dos profissionais de enfermagem sobre a importância deste
tratamento. MATERIAIS E MÉTODOS: O estudo é uma revisão sistemática da literatura, pois utilizou como fonte de dados literaturas já publicadas sobre o tema. Os dados
foram coletados, organizados, analisados e interpretados a fim de publicar seu resultado
final. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os trabalhos utilizados foram publicados entre
os anos de 2007 a 2019, totalizando 27 artigos, sendo que aproximadamente 48,15 %
(13 artigos) foram publicados nos últimos 5 anos. Foram destacados em uma tabela
(tabela 1), 7 artigos que apresentaram os principais achados sobre o cuidado integral
e humanizado do enfermeiro no processo de envelhecimento, organizados por data
de publicação. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Conclui-se que, a assistência e o cuidado
integral e humanizado estão ligados aos profissionais de enfermagem, que tem grande
destaque na aproximação direta com o paciente, porém ainda é necessária uma capacitação profissional acerca da Política Nacional de Atenção a Saúde do Idoso, para que
haja uma assistência de qualidade.
Palavras-chave: Cuidado ao Idoso, Cuidado Integral, Enfermagem, Atendimento Humanizado.
INTRODUÇÃO
O envelhecimento populacional é considerado um fenômeno mundial. No Brasil as
modificações acontecem de forma radical e bastante acelerada, cujo processo se dá, demograficamente, ao rápido e sustentado declínio da fecundidade. Projeções indicam que
em 2020 seremos o sexto país em número de idosos no mundo, com um número superior
a 30 milhões de pessoas (LIMA et al., 2010).
O Brasil, em menos de 40 anos migrou de um perfil de mortalidade de uma população
jovem para o quadro caracterizado por enfermidades crônicas e múltiplas, devido ao crescimento da população idosa. Outros fatores que influenciam esse crescimento é o modo de
gerir a atenção a saúde, bem como a necessidade de adequação de valores culturais, das
políticas sociais e de saúde, de maneira que possa atender às necessidades e aos problemas em recorrência do envelhecimento populacional (LIMA et al., 2014).
A enfermagem tem um papel de destaque quando se trata de cuidado ao ser humano,
desde o tratamento de doenças individualmente ou até mesmo na família ou na comunidade.
Sabe-se que o envelhecimento da população é inevitável e que quando se trata de pessoas
idosas, o profissional de enfermagem lida com um público com deterioração cognitiva, doentes, cansados, tristes e desinteressados da interação social, exigindo assim, nesse âmbito,
uma maior atenção (SOUSA e RIBEIRO, 2013).
As estratégias para organização da atenção à saúde da população idosa na rede
pública, parte do Modelo de Atenção Integral: onde destaca a importância e o potencial do
trabalho em rede. Assim são definidas as estratégias para a integração com os diferentes
pontos de atenção do Sistema Único de Saúde (SUS) visando à produção do cuidado integral
à pessoa idosa, adequado às suas necessidades (BRASIL, 2019).
Integralidade é um termo utilizado para denominar um dos princípios do SUS, que significa assistência total as necessidades do usuário, desde a garantia de boas condições de
vida, acolhimento nas unidades de saúde, demandam devidamente atendidas até o acesso
à oferta de todas as tecnologias. Deste modo, a integralidade está pautada numa alta eficácia nos serviços de saúde voltado e centrado ao indivíduo de uma forma humanizada.
(RODRIGUES, 2016).
A humanização em saúde se baseia em respeitar a vida humana, levando-se em conta
as circunstâncias sociais, éticas, educacionais e psíquicas presentes em todo relacionamento
humano. A mesma está vinculada aos direitos humanos, sendo assim, deve ser aplicada
em qualquer aspecto na assistência ao ser humano, incluindo o atendimento nos serviços
de saúde (SILVA e SILVA, 2017).
Com essas informações, entende-se que assistência e cuidados expressivos abrange
necessidades psicoafetivas dos idosos, como carinho, atenção, zelo, que só é possível com
14
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
a presença de outro, numa relação social condicionada pelo contexto social. Deste modo, o
enfermeiro pode desenvolver algumas características que melhore o planejamento do seu
cuidado, ou seja, ter paciência, ser persistente e ter um olhar mais detalhado aos idosos.
Este cuidado além de valorizar a humanização da assistência, resgata a condição humana
(TOCANTINS et al., 2009).
Diante do exposto, entende-se que esse material pode servir para um melhor conhecimento dos profissionais durante o cuidado integral e humanizado da população idosa, ocasionando uma maior interação social entre profissional e usuário. Assim, o objetivo desse estudo
foi descrever o cuidado integral e humanizado do enfermeiro no processo de envelhecimento.
METODOLOGIA
Este estudo tem como metodologia a revisão integrativa da literatura. A revisão de
literatura é caracterizada pelo levantamento bibliográfico realizado em fontes científicas
(artigos, teses, dissertações) e fontes de divulgação de ideias (revistas, sites, vídeos etc.),
onde, o pesquisador, a partir de sua análise, pode interpretar os dados coletados e tecer
uma crítica pessoal (ROTHER, 2007).
As bases de dados consultadas incluíram: a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), a
Scientific Electronic Library online (SciELO), o Portal de periódicos da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Foram utilizados os seguintes
descritores: Cuidado humanizado, Envelhecimento, Humanização, Idosos.
O booleano empregado foi o and, com o objetivo de identificar o maior número de
publicações que contivesse os descritores mencionados anteriormente. O período de busca foi de agosto de 2019 a maio de 2020 a fim de conseguir alcançar o maior número de
estudos. Os artigos analisados foram publicados no período 2003 a 2018.
Os critérios de inclusão foram: artigos originais, dissertações e teses disponíveis na sua
versão integral, cujo estudo tenha abordado o tema assistência de enfermagem relacionada
ao cuidado humanizado ao idoso. Com relação ao idioma, foram considerados os artigos em
português e inglês indexados nas bases de dados supracitadas. Foram excluídos os artigos
que não se adequam aos critérios de inclusão, bem como os artigos duplicados entre as
bases de dados ou mesmo na própria base.
Depois de coletados, os dados foram organizados e, posteriormente, analisados e interpretados. O processo de investigação ocorreu conforme a análise de conteúdo, através
de artigos científicos, a qual foi cumprida em quatro etapas. A primeira é a da pré-análise,
onde se fez uma ordenação dos dados e seleção dos artigos que iriam ser utilizados; a
segunda foi o da ordenação dos dados através da leitura do material e a realização de
fichamentos, excluindo aqueles materiais que não serviam para responder o objetivo do
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
15
estudo. A classificação dos dados foi feita na terceira fase, onde foram realizadas várias
releituras do material e os dados revelados durante a análise (ROTHER, 2007).
Por sua vez, na quarta e última fase, foi feito o confronto dos dados provenientes da
revisão de literatura, onde os resultados foram organizados e apresentados em três categorias de análise: “Percepção do idoso da assistência de enfermagem”; “Cuidado integral
e humanizado do enfermeiro no processo de envelhecimento”; e, “Políticas públicas no
processo de envelhecimento integral humanizado”.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De início foram encontrados 54 estudos que tiveram seus respectivos resumos analisados. Todavia, muitos estudos somente através das leituras de seus resumos não foram
possíveis incluí-los ou descartá-los, deste modo foi necessária uma leitura mais aprofundada do material. Nesta etapa alguns artigos foram descartados por não se enquadrarem ao
contexto da pesquisa.
Os artigos utilizados nesse estudo foram publicados entre os anos de 2007 a 2019,
totalizando 27 artigos, sendo que aproximadamente 48,15 % (13 artigos) foram publicados
nos últimos 5 anos (de 2015 a 2019).
O quadro 2 possui aproximadamente 25,9% (07 artigos) dos estudos selecionados por
apresentarem relevância total sobre o assunto abordado, o que evidencia que, a partir do
momento em que o idoso tem um atendimento de qualidade pelo profissional da enfermagem,
este por sua vez terá confiança para com a equipe e como consequência terá uma relação
de afeto, relação esta que fará com que o profissional possa identificar quais os problemas
de saúde do idoso quanto paciente, bem como definir intervenções apropriadas para a melhoria da sua saúde, além de promover autonomia do mesmo nas atividades do dia a dia.
PERCEPÇÃO DO IDOSO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM
A enfermagem é uma profissão que presta serviços de saúde, sendo uma das áreas o
cuidado com a população idosa. O cuidado com essa população abrange diversos contextos,
exigindo maior especificidade e complexidade nos cuidados (SOUSA e RIBEIRO, 2013).
Um estudo, realizado em 2015 em uma unidade básica de saúde da família, observou
que a imagem do enfermeiro reflete aspectos positivos aos idosos. Deste modo o enfermeiro está conseguindo desenvolver com atenção seus cuidados prestados, e a confirmação
deste fato se configura nas falas de satisfação dos idosos, atribuindo desta maneira grande
valor ao profissional enfermeiro, elevando positivamente a imagem profissional e humana
dos enfermeiros entre os idosos (LÓZ, 2015).
16
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Ainda nesse estudo supracitado foi apontado que um dos maiores desafios dentro da
saúde do idoso é estabelecer vínculos entre profissionais e os pacientes. Mesmo assim,
quando se trata deste aspecto o enfermeiro é visto como um profissional qualificado dentro
da sua área e com habilidades para lidar com o público baseado em respeito e simpatia
tornando uma contribuição enriquecedora (LÓZ, 2015).
Idosos e cuidadores relatam que a consulta de enfermagem proporciona esclarecimento,
conhecimento e bem-estar, assim o profissional de enfermagem, através da sistematização
da assistência de enfermagem, estimula o interesse do cliente pelos problemas quanto aos
cuidados, auxilia e adapta suas estratégias quando necessário (EMILIANO et al., 2017).
O enfermeiro, como integrante da área de saúde, possui a responsabilidade direta no cumprimento do direito à saúde do idoso. Assegurando por meio do SUS acesso
igualitário como previsto na lei. As ações se baseiam na prevenção de doenças, promoção e recuperação da saúde e atenção especial as doenças que afetam a longevidade
(RODRIGUES et al., 2007).
Devido a responsabilidade pelo cuidado direto ao idoso, a equipe de enfermagem ocupa uma posição de destaque, pois influencia diretamente na satisfação do paciente com o
cuidado recebido, uma vez que, o enfermeiro também pode fazer parte da coordenação do
trabalho com outros serviços hospitalares, além de compor a maioria do quadro de profissionais nas unidades de saúde (LIMA-JUNIOR, 2015).
De uma forma geral as áreas de atuação na enfermagem com o idoso são: cadastramento em base territorial; atendimento em domicílios, unidades de saúde, unidades geriátricas e gerontológicas de referência com profissionais capacitados para trabalhar em tal
área, garantir a aquisição e informar o direito do recebimento gratuito de medicamentos,
especialmente os de uso continuado, assim como próteses, órteses e outros recursos relativos ao tratamento, habilitação ou reabilitação, dentre outros (RODRIGUES et al., 2007).
A enfermagem atua também na garantia do conhecimento de seus direitos, levando
informação a essa população, como por exemplo, a lei que permite quando o idoso estiver
internado, tenha direito a acompanhante, devendo o órgão de saúde proporcionar condições
adequadas durante a permanência, esse e outros direitos à saúde assegurada aos idosos
(RODRIGUES et al., 2007).
Para efetivar o cuidado competente dos profissionais, estes devem planejar e programar ações, estar aptos para lidar com questões inerentes ao processo de envelhecimento e
estimular ao máximo a autonomia dos usuários. O profissional também precisa adaptar-se
às rotinas existentes com os idosos que se apresentam emocionalmente instáveis, preocupados com doenças e expostos às fragilidades próprias de sua condição (DIAS et al., 2014).
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
17
CUIDADO INTEGRAL E HUMANIZADO DO ENFERMEIRO NO PROCESSO
DE ENVELHECIMENTO
A humanização implica em estabelecer comunhão, depende diretamente da capacidade
de conseguir dialogar com o outro, do falar e ouvir das pessoas, se refere ao atendimento das
demandas biopsicossociais e espirituais dos indivíduos, tanto do profissional com o paciente.
Portanto, para que haja harmonia nas relações, é imprescindível que a comunicação viabilize e facilite as relações e interações. Esta perspectiva se apoia na diretriz da Organização
Mundial de Saúde (OMS) e o órgão da Organização das Nações Unidas (ONU), que definem saúde como o “estado de completo bem-estar físico, mental e social, não meramente
ausência de doença ou enfermidade”. A partir desta definição, os cuidados nos órgãos de
saúde devem partir da possibilidade de se colocar no lugar de outro que, por vezes vulnerável, encontrará na assistência suporte para enfrentar seus desafios (OLIVEIRA et al., 2016).
Nesse sentido, Ganong, citado por Simões et al., afirma que:
“Humanizar significa reconhecer as pessoas que buscam nos serviços de
saúde a resolução de suas necessidades de saúde, como sujeitos de direitos
[...] é observar cada pessoa em sua individualidade, em suas necessidades
específicas, ampliando as possibilidades para que possa exercer sua autonomia.” (GANONG apud SIMÕES, 2007, p 82).
O cuidado no atendimento é inerente à condição humana e deve se apresentar como
dispositivo de apoio, sustentação e proteção sem o qual o ser humano não vive. Portanto,
o profissional de saúde deve ter o cuidado de trabalhar com humildade, levando esperança
e coragem aos pacientes. No âmbito profissional, o enfermeiro, deve extrapolar suas habilidades técnicas, que são indispensáveis nesse processo, e centrar o paciente como núcleo
desse processo. Desse modo, é necessário estabelecer vínculos solidários e favorecer a
construção de uma relação de confiança e compromisso com os usuários, com as equipes e
os serviços, para garantir a participação coletiva no processo de saúde (DIAS et al., 2014).
Considerando que a atuação do profissional de enfermagem é diretamente com o ser
humano, o cuidado deve ser proporcionado de forma humana com base em uma abordagem
integral, visualizando o paciente e não a patologia, valorizando sua individualidade e oferecendo uma assistência de qualidade, pautada numa relação empática (DIAS et al., 2014).
E mais, é importante que, a enfermagem como executora do cuidado, priorize a humanização, onde se devem levar em conta as diferenças culturais, crenças e valores de
cada indivíduo a fim de adequar o cuidado necessário ao bem estar do doente. Deste
modo, é primordial que, a mesma, estabeleça padrões próprios de atendimento que leve,
não só em consideração as necessidades do doente, como também de seus familiares
(FAGUNDES, 2015).
18
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Quadro 2. Artigos que apresentaram os principais achados sobre o cuidado integral e humanizado do enfermeiro no
processo de envelhecimento, organizados por data de publicação.
Autor / ano
Título
Principais achados
Categorias de análise
Chernicharo et al.,
2013.
Humanização no cuidado de
enfermagem: contribuição ao
debate sobre a Política Nacional de Humanização.
Do ponto de vista dos profissionais de enfermagem e dos
usuários sobre a humanização do cuidado permeiam tanto
as questões sociais (comunicação/diálogo, empatia, relação
profissional/usuário) quanto às questões gerenciais (infraestrutura, materiais, recursos humanos).
Cuidado integral e humanizado do enfermeiro no processo de envelhecimento.
Sousa e Ribeiro,
2013.
Prestar cuidados de enfermagem a pessoas idosas:
experiências e impactos.
Os enfermeiros precisam atender os aspetos éticos sobre os
cuidados, tratamentos e processos de decisão.
Percepção do idoso da assistência de enfermagem.
Rissardo et al., 2017.
Idosos atendidos em unidade
de pronto-atendimento por
condições sensíveis à atenção
primária à saúde.
O acolhimento e a construção do vínculo com o idoso fazem
parte do processo de cuidar. O enfermeiro tem sua formação
acadêmica voltada para a essência do cuidado.
Cuidado integral e humanizado do enfermeiro no processo de envelhecimento.
Veras e Oliveira,
2018.
Envelhecer no Brasil: a
construção de um modelo de
cuidado.
É preciso repensar e redesenhar o cuidado ao idoso, com
foco nesse indivíduo e em suas particularidades, pois, isso
trará benefícios aos idosos e a sustentabilidade ao sistema
de saúde brasileiro.
Cuidado integral e humanizado do enfermeiro no processo de envelhecimento.
Melo et al., 2019.
Humanitude na humanização
da assistência a idosos: relato
de experiência em um serviço
de saúde.
Promover na pessoa cuidada o sentimento de respeito pela
sua liberdade, dignidade e autonomia, contribuindo para
redução da agitação e aumento na aceitação dos cuidados.
Cuidado integral e humanizado do enfermeiro no processo de envelhecimento.
Jesus et al., 2019.
Humanização da assistência
de enfermagem ao paciente
idoso na atenção básica
A humanização promove autonomia e independência nas
atividades diárias, além de focar na reabilitação e prestar um
tratamento individual e integral a pessoa idosa.
Cuidado integral e humanizado do enfermeiro no processo de envelhecimento.
Rodrigues et al.,
2019.
Percepção dos idosos acerca
da assistência humanizada de
enfermagem frente ao mal de
Parkinson.
O profissional de enfermagem além de reconhecer a capacidade dos idosos em criticar suas ideias e se vê em condições
de decidir, junto a ele, pela maneira a ser adotada, reconhecendo-o como cidadão de direitos.
Cuidado integral e humanizado do enfermeiro no processo de envelhecimento.
Fonte: Autoria própria. (2020)
Desta forma a Política Nacional de Humanização (PNH) propõe que o acolhimento
deve se fazer presente em todo momento do processo de atenção à saúde, apesar disso
tem se percebido o não exercício desse acolhimento no cotidiano das instituições de saúde. O acolhimento é uma ação que deve amparar a construção de uma relação confiante
e comprometida com os usuários, com as equipes e os serviços. Não só na enfermagem,
como num todo, o profissional de saúde deve compreender as questões do processo de
envelhecimento, facilitando acesso dos idosos aos diferentes níveis de atenção, bem como
qualificar-se e estabelecer uma relação respeitosa com o idoso. Ações como chamá-lo
pelo nome, considerar que o mesmo é capaz de compreender as perguntas e orientações
e dirigir-se utilizado uma linguagem clara são exemplos simples de um atendimento humanizado (SILVA, 2018).
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
19
POLÍTICAS PÚBLICAS NO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO INTEGRAL
HUMANIZADO
Sendo um processo universal compreendido pela redução das atividades funcionais,
o envelhecimento possui algumas tendências em relação às enfermidades que levam, continuamente, a construção de políticas públicas para idoso no mundo inteiro. Essas políticas
por sua vez não são voltadas apenas para a terceira idade, inclui-se também os profissionais
de saúde visando sua divulgação e implementação (CAMACHO et al., 2010).
Em 1983 a Organização das Nações Unidas (ONU) publicou o Plano de Ação para o
Envelhecimento (PAE), trata-se de um documento com recomendações exigidas como prioridades nos aspectos econômicos, culturais e sociais do processo de envelhecimento. Se baseia em garantir uma melhor assistência a essa fatia da população sob a responsabilidade
de cada país, promovendo políticas sociais, assistência integral de ordem física, psicológica,
cultural, religiosa/espiritual, econômica entre outros aspectos (RODRIGUES et al., 2007).
Objetivando reafirmar as recomendações da ONU, a fim de defender e garantir os
direitos da pessoa idosa, em 1994 foi promulgada a Lei de nº 8.842/94, que criou a Política
Nacional do Idoso (PNI), mais um avanço da política do idoso. As diretrizes da PNI são:
“Lei 8.842/94. Art. 3º. Priorização do atendimento familiar ao idoso e não o
seu recolhimento a asilos, exceto quando o idoso é sozinho; busca de opções
de integração entre os idosos e as demais gerações; participação do idoso
no planejamento, desenvolvimento, implementação e avaliação de políticas,
projetos, planos e programas de seu interesse; descentralização política administrativa; reciclagem e capacitação de novos profissionais nas áreas de
geriatria, gerontologia e prestação de serviços; implementação de sistemas de
informações que divulguem de forma educativa os aspectos biopsicossociais
do envelhecimento; priorização de serviços públicos e privados prestadores
de serviços; apoio a estudos e pesquisas sobre questões relativas ao envelhecimento” (BRASIL, 1994).
Recentemente a PNI foi atualizada considerando o Pacto pela Saúde e suas Diretrizes
Operacionais para a consolidação do SUS, reafirmando que existe a necessidade de enfrentamento dos desafios de um processo de envelhecimento que pode ser descrito por
doenças e/ou condições crônicas não-transmissíveis, ainda assim suscetíveis de prevenção
e controle. Dentre os desafios, destaca-se a escassez de equipes multidisciplinar que possuam conhecimento em envelhecimento e saúde da pessoa idosa (MARTINS et al., 2007).
Ao observar atentamente o envelhecimento, percebe-se ganhos nos direitos e saúde
do idoso, bem como promoção, autonomia, integração e participação efetiva da sociedade. A implementação de leis que proporcionam melhorias na qualidade de vida dos idosos,
atendimento no âmbito familiar, assistência integral à saúde, acesso a informação, serviços
20
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
de atenção à pessoa portadora de deficiência, inclusão social, assistência global nos aspectos psicológicos, espirituais e sociais. (CAMACHO et al., 2010)
Haja vista dos custos do sistema de saúde provocado pelas mudanças demográficas,
a cronicidade do tratamento, a exigência de acompanhamento médico hospitalar e a necessidade de cuidados médio e longo prazo. A adaptação dos serviços de saúde para atender
a crescente demanda em nível primário, secundário e/ou terciário é uma questão importante
(LIMA et al., 2010).
Sendo assim, surgiu o estatuto do idoso, Lei Federal n.º 10.741/03, visando garantir à
pessoa idosa a proteção à vida e à saúde, mediante efetivação de políticas sociais públicas
que permitam um envelhecimento saudável e em condições de dignidade, quanto a atenção
à saúde, deve-se assegurar por meio do SUS, garantindo acesso igualitário, em conjunto
articulado de ações e serviços, para a prevenção, promoção, proteção e recuperação da
saúde (BRASIL, 2003)
Ainda assim, mesmo com o desenvolvimento de políticas que amparam o idoso, existe
a necessidade de uma reorientação dos serviços de saúde, rediscutindo estratégias preventivas de promoção a saúde, uma vez que, se os problemas de saúde do idoso não forem
abordados adequadamente poderá impactar negativamente no sistema de saúde, devido as
demandas epidemiológicas decorrentes (CAMACHO et al., 2010; LIMA et al., 2010).
CONCLUSÃO
O estudo buscou descrever o cuidado integral e humanizado do enfermeiro no processo de envelhecimento a partir da literatura especializada. Assim, é possível reafirmar a
importância deste profissional nos serviços de saúde, uma vez que a atuação do enfermeiro
é direta com o paciente, sendo o profissional de enfermagem é responsável por fornecer a
essa fatia da população um atendimento humanizado e adequado.
No que se refere a humanização em saúde, parte do princípio em que se deve respeitar
a vida humana, independente da sua idade, levando-se em conta as circunstâncias sociais,
éticas, educacionais e psíquicas presentes em todo relacionamento humano.
Apesar dos avanços da saúde com a implementação de algumas diretrizes da Política
Nacional de Atenção à Saúde do Idoso, ainda há muito que ser feito em relação aos profissionais de saúde, como: interação entre equipes, capacitação profissional, mais aproximação de profissionais de saúde frente as políticas públicas de saúde, para que assim idosos
possam desfrutar de seus direitos e um atendimento de qualidade.
Deste modo, a partir das informações adquiridas neste trabalho, conclui-se que é de
suma importância pensar e repensar a estrutura e processo de trabalho nos serviços hospitalares. Novas competências são exigidas ao trabalho em saúde. Além disso, percebe-se
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
21
uma necessidade de reformulação dos serviços de saúde para o atendimento demandas
emergentes oriundas desse novo perfil epidemiológico do país.
REFERÊNCIAS
1.
2.
3.
BRASIL. Estatuto do Idoso / Ministério da Saúde. – 2.ª ed., 1.ª reimpr. – Brasília: Ministério
da Saúde, 2003. Disponível em: <https://urless.in/D1N09>. Acesso em: 31.08.2019.
CAMACHO, Alessandra Conceição Leite Fuchal; COELHO, Maria José. Políticas públicas para
a saúde do idoso: revisão sistemática. Revista Brasileira de Enfermagem, v.63, n.2, p.27984, 2010. Disponível em: <https://urless.in/jSBHo>. Acesso em: 31.08.2019.
4.
CHERNUCHARO, Isis de Moraes; FREITAS, Fernanda Duarte da Silva; FERREIRA, Marcia de
Assunção. Humanização no cuidado de enfermagem: contribuição ao debate sobre a Política
Nacional de Humanização. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 66, n.4, p.830-839, 2013.
Disponível em: <https://urless.in/Ud9su>. Acesso em: 31.08.2019.
5.
DAMASCENO, Caroline Kilcia.Carvalho Sena; SOUSA, Cristina Maria Miranda de. Análise
sobre as políticas públicas de atenção ao idoso no Brasil. Revista Interdisciplinar, v.9, n.3,
p.185-90, 2016. Disponível em: < https://urless.in/OwfIc>. Acesso em: 27.08.2020.
6.
DIAS, Kalina Coeli Costa de; LOPES, Maria Emília Limeira; ZACCARA, Ana Aline Lacet et al.
O cuidado em enfermagem direcionado para a pessoa idosa: revisão integrativa. Revista de
Enfermagem da UFPE, v.8, n.5, p.1337-46, 2014. Disponível em: <https://urless.in/4TvFO>.
Acesso em: 24.08.2020.
7.
8.
9.
10.
11.
22
BRASIL. Lei nº. 8.842/94. Dispõe sobre a política nacional do idoso, cria o Conselho Nacional
do Idoso e dá outras providências. Política Nacional do Idoso. Disponível em: <https://cutt.
ly/md9Jg6V>. Acesso em: 31 de ago 2019.
EMILIANO, Marina da Silva; LINDOLPHO, Mirian da Costa; VALENTE, Geilsa Soraia Cavalcanti et al. A percepção da consulta de enfermagem por idosos e seus cuidadores. Revista de
Enfermagem da UFPE, v.11, n.5, p.1794-96, 2017. Disponível em: <https://urless.in/sVi0N>.
Acesso em: 24.08.2019.
FILHO, Ananias Noronha; SILVA, Ângela Maria Moreira; CARVALHO, Rutineia de Oliveira.
Políticas públicas de educação no Brasil: caminhos e descaminhos trilhados. V Jornada Internacional de Políticas Públicas, 2011. Disponível em: <https://urless.in/fs4AR>. Acesso
em: 24.08.2019.
GALVÃO, Taís Freire; PEREIRA, Mauricio Gomes. Revisões sistemáticas da literatura: passos para sua elaboração. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v.23, n.1, p.183-84, 2014.
Disponível em: <https://urless.in/nCGeS>. Acesso em: 24.08.2019.
LIMA, Cristina Alves de; TOCANTINS, Florence Romjin. Necessidades de saúde do idoso:
perspectivas para a enfermagem. Rev. bras. enferm. v.62, n.3, p. 367 – 373, 2009. Disponivel
em: <https://cutt.ly/sd9MVRf>. Acesso em: 05.07.2019
LIMA, Thaís Jaqueline Viera de; ARCIERI, Renato Moreira; GARBIN, Cléa Adas Saliba et al.
Humanização na atenção à saúde do idoso. Saúde e Sociedade, v.19, n.4, p.866-77, 2010.
Disponível em: <https://urless.in/ecvv6>. Acesso em: 25.08.2019.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
12.
13.
LIMA, Thaís Jaqueline Viera de; ARCIERI, Renato Moreira; GARBIN, Cléa Adas Saliba et al.
Humanização na atenção básica de saúde na percepção de idosos. Saúde e Sociedade, v.23,
n.1, p.265-276, 2014. Disponível em: <https://urless.in/BBQRc >. Acesso em: 25.08.2019.
LIMA - JUNIOR, José de Ribamar Medeiros; SARDINHA, Ana Hélia de Lima; GONCALVES,
Lucia HisakoTokase. et al. Cuidados de enfermagem e satisfação de idosos hospitalizados. O
mundo da saúde, v.39, n.4, p.419-32, 2015. Disponível em: <https://urless.in/VLy45>. Acesso
em: 23.08.2019.
14.
LÓZ, Rafaela Brito Gomes. A percepção do idoso quanto à assistência de enfermagem prestada em uma unidade básica de saúde do município de Boa Vista/RR. Anais CIEH, v.2, n.1,
2015. Disponível em: <https://urless.in/9sGXs>. Acesso em: 25.08.2019.
15.
MARTINS, Josiane de Jesus; SCHIER, Jordelina; ERDMANN, Lorenzini et al. Políticas públicas
de atenção à saúde do idoso: reflexão acerca da capacitação dos profissionais da saúde para
o cuidado com o idoso. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, v.10, n.3, p.371-82,
2007. Disponível em: <https://urless.in/2IJAD>. Acesso em: 26.08.2019.
16.
MELO, Rosa Cândida Carvalho Pereira de; COSTA, Paulo Jorge; HENRIQUES, Lliliana Vanessa Lúcio et al. Humanitude na humanização da assistência a idosos: relato de experiência
em um serviço de saúde. Revista Brasileira de Enfermagem, v.79, n.3, p.865-869, 2019.
Disponível em: <https://urless.in/R8Vae>. Acesso em: 25.08.2019.
17.
18.
19.
20.
21.
22.
OLIVEIRA, Bernadete de; CONCONE, Maria Helena Vilas Bôas; SOUZA, Sandra Regina Pelisser. A enfermagem dá o tom no atendimento humanizado aos idosos institucionalizados?.
Revista Kairós Gerontologia, v.19, n.1m p.239-54, 2016. Disponível em: <https://urless.in/
gux9Z>. Acesso em: 25.08.2019.
RISSARDO, Leidyani Karina; REGO, Anderson da Silva; SCOLARI, Giovana Aparecida de
Souza et al. Idosos atendidos em unidade de pronto-atendimento por condições sensíveis à
atenção primária à saúde. REME, Revista Mineira de Enfermagem, v. 20, n.1, p.01-07, 2016.
Disponível em: <https://urless.in/LH6iR>. Acesso em: 26.08.2019.
RODRIGUES, Dayse Maria de Vasconcelos. A integralidade do cuidado ao idoso acamado
na atenção domiciliar e o papel da equipe de saúde da família. Graduação: Universidade
Federal Fluminense, Niterói, 2016. Disponível em: < https://app.uff.br/riuff/handle/1/3461 >.
Acesso em: 17.08.2020.
RODRIGUES, Rosalina Aparecida Partezane; KUSUMOTA, Luciana; MARQUES, Sueli et al.
Política nacional de atenção ao idoso e a contribuição da enfermagem. Texto Contexto de
Enfermagem, v.16, n.3, p.536-45, 2007. Disponível em: <https://urless.in/0HzCY>. Acesso
em: 27.08.2019.
RODRIGUES, Wellington Pereira; CARVALHO, Fábio Luiz Oliveira de; BRANDÃO, Igor Macedo
et al. Percepção dos idosos sobre o cuidado humanizado de enfermagem diante da doença de
Parkinson. BrazilianJournalof Health Review, v.2, n.4, p. 3421-3430,2019. Disponível em:
<https://urless.in/bMHwL>. Acesso em: 27.08.2019.
ROTHER, Edna Terezinha. Revisão sistemática x revisão narrativa. Acta Paul Enferm, v.20,
n.2, 2007. Disponível em: <https://urless.in/9L1AA>. Acesso em: 28.08.2019.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
23
23.
24.
SILVA, Hélica Pereira da; SILVA, John Lennon Soares da. Humanização da assistência de
enfermagem ao idoso. Graduação: Faculdade do instituto Brasil. Anápolis, 2017. Disponível
em: <https://urless.in/40cyYAcesso em: 27.08.2019.
25.
SIMÕES, Ana Lúcia de Assis; BITTAR, Daniela Borges; MATTOS, Erika Ferreira. A humanização do atendimento no contexto atual de saúde: uma reflexão. Revista Mineira de Enfermagem, v.11, n.1, p.81-85, 2007. Disponível em: <https://urless.in/EaNvq>. Acesso em:
27.08.2019.
26.
SOUSA, Liliana; RIBEIRO, Antonio Pedro. Prestar cuidados de enfermagem a pessoas idosas: experiências e impactos. Saúde e Sociedade, v. 22, n. 3, p. 866-867. São Paulo, 2013.
Disponível em: <https://urless.in/p7Qpg>. Acesso em: 25.08.2019.
27.
24
SILVA, Danilo Paulo Lima da; SILVA, José Jefferson Moreira; PINTO, João Paulo Duarte et
al. Envelhecimento e velhice: humanização nos cuidados à pessoa idosa na perspectiva dos
alunos do curso técnico em enfermagem da Escola Técnica de Saúde de Cajazeiras - ETSC.
Brazilian Journalof Health Reviw, v.1, n.2, p.389-98, 2018. Disponível em: <https://urless.
in/OOw1A>. Acesso em; 28.08.2019.
VERAS, Renato Peixoto; OLIVEIRA, Marta. Envelhecer no Brasil: a construção de um modelo
de cuidado. Ciênc. saúde coletiva, v.23, n.6. Rio de Janeiro, 2018. Disponível em: <https://
urless.in/WBBWz>. Acesso em: 27.08.2019.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
02
“
A experiência no cuidado
domiciliar ao idoso sequelado
por acidente vascular encefálico
sob perspectiva de familiares
Françuelda Pereira Nóbrega
UNIPÊ
Rosilene Alves de Almeida
UNIPÊ/HULW
Francisca das Chagas Alves de Almeida
UNIPÊ
Rosangela Alves Almeida Bastos
HULW
Rosimery Alves de Almeida
UFC
10.37885/201102284
RESUMO
Introdução: a experiência de cuidar de idosos acometidos por Acidente Vascular
Encefálico (AVE) em casa tem se tornado cada vez mais frequente no cotidiano das
famílias. Diante disso, a família, prestadora direta de tais cuidados, necessita estar preparada para esse fim. O núcleo familiar, entretanto, encontra-se desestruturado devido
ao impacto da doença e, com isso, a família pode apresentar dificuldades em assistir ao
paciente por conta das restrições. Objetivo: descrever a experiência domiciliar do cuidador de idoso acometido por AVE. Métodos: estudo exploratório descritivo com abordagem
quanti-qualitativa, desenvolvido numa Unidade de Básica de Saúde de João Pessoa/PB,
de janeiro a fevereiro de 2008. Participaram do estudo 10 familiares de pacientes sequelados por AVE, identificados como cuidadores familiares. A coleta de dados foi feita no
domicílio dos cuidadores por meio de um roteiro de entrevista. Os dados quantitativos
foram analisados no Microsoft Excel e os qualitativos foram analisados utilizando-se a
técnica do Discurso do Sujeito Coletivo. Foram respeitadas as observâncias éticas das
pesquisas com seres humanos. Resultados: foram abstraídas 5 ideias centrais - a doença
dele (a) mudou a minha vida; cuidar dele (a) é uma tarefa difícil; gosto de cuidar e vou
cuidar até o fim; quando eu peço, recebo ajuda nos serviços de casa e nos cuidados com
ele (a); cuido dele (a) sozinha. Conclusão: percebeu-se o surgimento de sentimentos
de carinho, prazer, obrigação, gratidão e até mesmo conformismo diante da situação vivida. A relação de parentesco e os laços afetivos influenciam muito na escolha de quem
vai se tornar o cuidador domiciliar.
Palavras-chave: Cuidado Domiciliar, Idoso, Acidente Vascular Encefálico.
INTRODUÇÃO
Desde a década de 1940 o Brasil vem passando por grandes transformações no que
diz respeito à saúde, uma delas é a inversão das curvas de mortalidade, onde há um declínio de mortes por doenças infecciosas e um expressivo aumento por doenças crônicas não
transmissíveis (DCNTs) e causas externas (BOCCHI, 2005). Esse processo é observado,
também, em todos os países desenvolvidos, nos quais a população idosa é cada vez mais
expressiva, sendo conhecido por fenômeno de transição epidemiológica (BRASIL, 2000).
Embora as doenças físicas possam assumir uma variedade de formas, suscitando na
maioria das vezes hospitalização, é no âmbito familiar que, cada vez mais, se concretiza a
fase de reabilitação; por isso os profissionais precisam instrumentalizarem-se para o oferecimento de uma assistência de qualidade no domicílio, a qual deve envolver o paciente e
todo o contexto social em que ele vive.
Dentre essas doenças o Acidente Vascular Encefálico (AVE/AVE), a partir da década de
1990, aparece como uma das principais causas de internações, deficiências e mortalidade,
chegando a superar o câncer e as doenças cardíacas, acometendo principalmente a faixa
etária acima de 50 anos (BOCCHI, 2005).
O AVE, conforme Roach (2003), mas comumente conhecido e chamado de “derrame
cerebral”, é caracterizado por uma incapacidade súbita da circulação cerebral causada por
um bloqueio parcial ou total dos vasos sanguíneos cerebrais e pode ocorrer por dois motivos:
isquemia ou hemorragia. Cruz (1997) define o AVE como um déficit neurológico que tem um
início súbito e dura mais de 24 horas, resultante de doença vascular cerebral (DVC). Os episódios com duração inferior a 24 horas são categorizados como Acidentes Isquêmicos
Transitórios (AIT), os quais em 10% dos casos precedem o AVE (DIEPENBROCK, 2005).
Estima-se que no mundo, cerca de 300 em cada 100.000 pessoas, apresente doenças
cerebrovasculares havendo predominância entre os homens, com idade entre 45 e 84 anos,
para população estudada entre as décadas de 1980 e 1990. Estudos mostram que no Brasil
as doenças cerebrovasculares são responsáveis por um terço das mortes anuais entre as
doenças do aparelho circulatório conforme dados obtidos nos anos 80 a 95 (SILVA, 2004).
Pode-se afirmar que o AVE é uma doença crônica que causa incapacidade e deficiências, que variam dependendo da área afetada e de sua extensão, levando o indivíduo
a tornar-se dependente dos cuidados de outras pessoas afetando, portanto, a sua vida
pessoal, familiar e social.
A experiência de cuidar de idosos acometidos por AVE em casa tem se tornado cada
vez mais frequente no cotidiano das famílias. Os cuidados domiciliares são elementos fundamentais ao tratamento, considerando que o período de reabilitação após o AVE pode ser
bastante prolongado. Diante disso, a família, prestadora direta de tais cuidados, necessita
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
27
estar preparada para esse fim. O núcleo familiar, entretanto, encontra-se desestruturado
devido ao impacto da doença e, com isso, a família pode apresentar dificuldades em assistir
ao paciente por conta das restrições a ele impostas.
OBJETIVO
Descrever a experiência domiciliar de cuidadores de idoso acometido por acidente
vascular encefálico.
MÉTODOS
Trata-se de um estudo exploratório descritivo, com abordagem quanti-qualitativa. A pesquisa foi desenvolvida numa Unidade de Básica de Saúde (UBS) de João Pessoa/PB,
tendo em vista que nesta havia, à época, um grupo de apoio aos sequelados de AVE, no
qual frequentavam pacientes e seus familiares, favorecendo a identificação e o acesso aos
sujeitos da pesquisa.
Participaram do estudo familiares de pacientes com sequelas de AVE, identificados
como cuidadores familiares. Para definição do número de sujeitos entrevistados foi utilizado o
critério de saturação de dados, chegando-se a uma amostra de 10 participantes, selecionados
de acordo com a disponibilidade destas pessoas, levando em consideração a participação
voluntária na pesquisa após a explicação dos objetivos do trabalho e assinatura do Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
A coleta de dados ocorreu nos meses janeiro de 2008 e fevereiro de 2008, nos domicílios dos cuidadores, conforme disponibilidade dos mesmos, onde os participantes responderam ao roteiro da entrevista, sendo suas respostas gravadas e posteriormente ouvidas pelo
mesmo para confirmação das informações e, posteriormente, transcritas pelo entrevistador.
Utilizou-se um roteiro de entrevista semiestruturado contendo questões objetivas de identificação da amostra e subjetivas pertinentes aos objetivos do estudo.
Os dados quantitativos foram analisados no programa Microsoft Excel, versão XP,
através do índice de frequência e percentual, com representação por meio de gráficos e
tabelas. Os dados qualitativos foram analisados utilizando-se a técnica do Discurso do
Sujeito Coletivo (DSC) proposto por Lefèvre e Lefèvre (2003) que consiste em um conjunto
de falas individuais, onde são retiradas as ideias para a construção de um discurso-síntese
que representa o pensamento coletivo, que contempla as seguintes etapas: seleção das
expressões-chave; destaque das ideias centrais; identificação das ideias centrais; ereunião
das ideias centrais e semelhantes com mesmo sentido em grupos identificados por letras
ou outro código; denominação de cada grupo que expresse da melhor maneira possível
28
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
as ideias centrais e semelhantes e; construção de um discurso síntese que corresponde à
construção do discurso do sujeito coletivo.
Foram respeitadas as observâncias éticas da Resolução 466/2012 do Conselho
Nacional de Saúde, que normatiza a pesquisa envolvendo seres humanos, no se refere
à participação voluntária, confidencialidade dos dados, anonimato, desistência a qualquer
momento da pesquisa e permissão para publicação dos resultados do estudo. O projeto foi
apreciado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde
da Universidade Federal da Paraíba.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Caracterização da amostra
Tabela 1. Distribuição dos participantes da pesquisa em percentual segundo idade, faixa etária e estado civil. João Pessoa/
PB, 2008.
VARIÁVEIS
SEXO
FAIXA ETÁRIA
ESTADO CIVIL
N
%
Feminino
09
90
Masculino
01
10
24-30 Anos
03
30
30-40 Anos
01
10
40-50 Anos
02
20
50-60 Anos
03
30
> 60 Anos
01
10
Casado (a)
07
70
Solteiro (a)
01
10
Divorciado (a)
02
20
Legenda: N – número; % - porcentagem.
Conforme disposto na Tabela 1, a amostra da pesquisa foi composta por 10 cuidadores,
sendo a maioria mulheres (90%). A partir destes dados, percebe-se a maior participação de
mulheres na pesquisa relacionando-se com as questões históricas e culturais que destacam
o papel da mulher como cuidadora na nossa sociedade. Neste sentido, Denardin (1997)
afirma que a mulher é detentora do saber sobre o cuidar, ela realiza o cuidado durante toda
a sua vida sendo a responsável por conduzir os conhecimentos sobre o mesmo às outras
mulheres e assim sucessivamente.
Com relação à idade os cuidadores tinham idades entre 24 e 63 anos, com idade média de 43 anos, observando-se uma maior concentração nas faixas entre 24 a 30 anos e 50
a 60 anos, com igual distribuição (30%) cada, seguida da faixa entre 40 a 50 anos (20%).
No que diz respeito ao estado civil, percebe-se a maioria dos entrevistados (70%) eram
casados, 2 (20%) divorciados e apenas 1 (10%) era solteiro. Relacionando-se ao sexo dos
participantes, observa-se no sexo feminino as casadas e divorciadas, e constatando-se a
participação de apenas uma pessoa solteira sendo do sexo masculino.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
29
A maioria dos entrevistados se referiu ao ato de cuidar como uma obrigação e uma
responsabilidade inerente ao casamento, onde o cuidar do outro faz parte do projeto de vida
das pessoas, muitas vezes a mulher mesmo se separando do esposo, por ocasião da doença
ela volta a ocupar o lugar de cuidadora, é como se ela continuasse com aquela obrigação:
a questão do cuidar, muitas vezes porque “é o pai dos meus filhos”, ”não vou abandona-lo”,
na impossibilidade do conjugue desempenhar essa tarefa de cuidar ou quando é falecido,
essa responsabilidade passa a ser assumida pelos filhos.
Tabela 2. Distribuição dos participantes da pesquisa segundo escolaridade, profissão/ocupação, renda familiar, grau de
parentesco e tempo que cuida do idoso sequelado por AVE. João Pessoa/PB, 2008.
VARIÁVEIS
ESCOLARIDADE
PROFISSÃO/
OCUPAÇÃO
RENDA FAMILIAR
GRAU DE PARENTESCO
TEMPO QUE CUIDA DO
IDOSO
N
%
Analfabeto
01
10
Ensino Fundamental incompleto
05
50
Ensino médio incompleto
04
40
Do lar
01
10
Estudante
09
90
Menos de 1 salário mínimo
01
10
1 a 2 salários mínimos
06
60
2 a 3 salários mínimos
02
20
Mais de 3 salários mínimos
01
10
Esposa
04
40
Cunhada
01
10
Filha
03
30
Neta
01
10
Nora
01
10
1 a 3 anos
03
30
3 a 6 anos
02
20
6 a 9 anos
05
50
Legenda: N – número; % - porcentagem; AVE – Acidente Vascular Encefálico.
Conforme mostrado na Tabela 2, em relação à escolaridade, quatro (40%) dos dez
entrevistados declaram ter o segundo grau incompleto, no entanto, a amostra também inclui
cinco (50%) que declaram ter o primeiro grau incompleto e um (10%) analfabeto. Percebese, portanto, que a maioria tem baixo nível de escolaridade, corroborando com o que afirma
Resta (2004), quando diz que o nível de escolaridade dos cuidadores pode influenciar na
capacidade de cuidar, pois são os cuidadores que recebem as orientações da equipe de
saúde e eles podem ter dificuldade de compreender as informações prestadas pelos profissionais que muitas vezes usam uma linguagem científica para esclarecer dúvidas sobre as
alterações que ocorrem com o paciente sequelado de AVE.
Respondendo ao item profissão/ocupação 90% dos cuidadores declararam ser do lar
e apenas 10% declarou ser estudante, sendo este índice representado por um sujeito que
também desempenha atividades domésticas e que tem dificuldades em conciliar os estudos,
com as atividades do lar e os cuidados ao pai sequelado de AVE.
30
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Todos os entrevistados para se tornarem cuidadores, tiveram mudanças no cotidiano
devido ao tempo dedicado ao paciente, aparecendo com maior freqüência o abandono de
atividades remuneradas que desempenhavam fora de casa e outras atividades que tiveram
de ser abandonadas foram os estudos. Outros aspectos de suas vidas como o autocuidado,
o cuidado com os filhos e o lazer foram comprometidas. Essas mudanças em suas vidas,
repercutem de forma significativa na situação socioeconômica das famílias, principalmente
o fato de deixar de trabalhar fora de casa, pois já viviam em condições financeiras precárias
ou razoáveis antes de se tornarem cuidadores familiares, e depois de terem um familiar com
sequelas de AVE a dificuldade aumentou proporcionalmente com as demandas financeira
requeridas pelas condições do familiar doente (KARSCH, 2003).
Com relação a renda familiar observamos que 60% dos cuidadores declararam ter
renda familiar mensal entre 1 e 2 salários, 20% dizem ter renda familiar entre 2 e 3 salários
mínimos, 10% sobrevivem com renda abaixo de 1 salário e apenas 10% declaram ter renda
familiar superior a 3 salários mínimos. Como a maioria dos cuidadores não trabalham fora
de casa, portanto, dependem das aposentadorias recebidas e pertencentes aos sequelados
de AVE, sendo muitas vezes, essa renda a única fonte de sustentação da família, onde a
mesma não é suficiente para atender as necessidades do paciente e da família que vive no
mesmo domicílio (Tabela 2).
Diante disto é visível que a dificuldade financeira favorece o desgaste emocional do
cuidador diante de impossibilidade de atender todas as necessidades do paciente e que a
doença exige (CATTANI; GIRARDON-PERLINI, 2004).
Neste sentido, ressaltamos a necessidade de inclusão dessa clientela nas políticas
de saúde para que possam ser alvo de uma assistência humanizadora que os focalize de
forma holística, com vistas a atender as demandas sóciais e econômicas que emergem em
decorrência da doença.
No que diz respeito ao grau parentesco do cuidador com o paciente, foi observado que
a maior parte era composta por esposas (40%), logo depois pelos filhos (a) (30%), aparecendo também em menor freqüência a figura da neta (10%), da cunhada (10%) e da nora
(10%). Mais uma vez os dados levantados no estudo reforçam que o papel de cuidador é
desempenhado no domicílio pela figura feminina e que o parentesco tem assumido uma
grande influência na escolha do cuidador. Segundo Laham (2003), quanto mais estreitos
os laços familiares, maiores são as chances dessa pessoa se tornar um cuidador familiar,
predominando a figura dos cônjuges e dos filhos. Neste estudo, os cônjuges vêem o cuidar
como um dever matrimonial abençoado por Deus e, portanto, deve ser cumprido até a morte,
conforme se observa nas expressões: “ele é meu marido né, tenho que cuidar” (Tabela 2).
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
31
Pavarini (2001) diz que na impossibilidade do cônjuge desempenhar essa tarefa de
cuidar ou quando é falecido, passa a ser assumida pelos filhos, essa responsabilidade conhecida como “obrigação filial”, por ter uma ligação familiar mais próxima e culturalmente
determinada pela sociedade.
O tempo em que os sujeitos da pesquisa desempenhavam as atividades de cuidar no
domicílio foi de 1 a 9 anos, com uma média de 5 anos, onde (50%) já estavam cuidando de
sequelados de AVE há aproximadamente 6 a 9 anos, (30%) cuidavam de 1 a 3 anos e (20%)
estavam sendo cuidadores familiares há aproximadamente 3 a 6 anos. Isso nos mostra que
o AVE pode deixar sequelas que repercutem para sempre na vida dos pacientes, as quais
mudam de forma radical a vida daquele que se torna o cuidador domiciliar, seja o esposo
(a), filho (a), neto (a), nora.
Cuidar diariamente de alguém com sequelas de AVE durante anos, é uma atividade
absorvedora, que está diretamente ligada ao nível de dependência do paciente, ocasionando
mudanças no estilo de vida dos cuidadores deixando-os sobrecarregados (KARSCH, 1998).
Tudo isso conduz ao estresse físico e emocional, levando muitas vezes ao surgimento de
doenças por falta de tempo para desempenhar atividades que costumavam ser realizadas
antes, deixando de lado o lazer, as amizades, procurando o isolamento (MOREIRA, 2004;
CARTER et. al 2001).
Ideias Centrais e Discurso do Sujeito Coletivo
Quadro 1. Ideias centrais e discurso do sujeito coletivo em resposta a questão 1: Fale sobre a sua experiência no cuidado
ao paciente sequelado de AVE sob sua responsabilidade. João Pessoa/PB, 2008.
Ideia central – 1
DSC - 1
A doença dele (a) mudou a minha vida.
A doença dela mudou a minha vida, eu cuido dela o dia inteiro, eu já
acordo com ela me chamando para ir ao banheiro, então de manhã até
me deitar de noite, é essa luta dentro de casa, por isso nem saio mais de
casa, porque fico preocupada em deixar ela em casa e ninguém, olhar.
A minha vida gira em torno dele, não faço nada pra mim, não cuido de
mim, nem tenho tempo p ir a uma igreja se quer, não ganho meus trocados mais, deixei de trabalhar fora de casa, não vou deixar ele morrer a
míngua.
Ideia central – 2
DSC - 2
Cuidar dele (a) é uma tarefa difícil.
Ideia central – 3
DSC - 3
Gosto de cuidar e vou cuidar até o fim
32
A experiência que tenho né, é no cuidado com ele, na alimentação dele,
eu que faço tudo, não deixo ele fazer nada sozinho, o que eu posso dizer
é que é muito difícil cuidar dele. Já sofri muito desde que essa criatura
adoeceu. Cuidar dele é uma tarefa difícil, ele já está nessa situação há
muito tempo, trabalho demais, levanto ele da cama, deito ele na cama,
coloco na cadeira, tudo sou eu.
Eu gosto de cuidar, dá um pouco de trabalho, mas eu cuido, ela é minha
avó, cuidou de mim a vida toda e agora tenho que cuidar dela, fico até
feliz quando vejo ela sorrindo. [...] faz oito anos que eu cuido dela, sei
cuidar dela direitinho, coloco ela na cadeira de rodas, arrumo ela todinha
e como você pode ver, gosto de ver ela sempre limpinha e cheirosa
assim, a família é para essas coisas mesmo né? [...] vou cuidar dele até o
fim, ele é meu marido.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
A ideia central 1 (Quadro 1) revela que houve mudanças no estilo de vida dos entrevistados após se tornarem cuidadores domiciliares de pacientes sequelados de AVE, pois todo
o seu tempo é destinado ao cuidar, deixando de lado suas atividades que desempenhava
antes como fonte de sustento financeiro, lazer entre outros.
Conforme Cattani e Girardon-Perlini (2004), as mudanças correspondem à reacomodação de atividades com reconstrução de horários, preparos de alimentação especial
e adequada para o paciente, administração de medicamentos, higiene pessoal, locomoção, entre outras.
Para Bocchi (2004) e Moreira (2004) os cuidadores que permanecem assistindo o
paciente por mais de 12 horas diárias sofrem mudanças radicais no seu cotidiano, sobrecarregando-se física e mentalmente a ponto de se afastar de pessoas do seu convívio. Em decorrência disso ocorre um distanciamento de seus amigos e familiares “devido ao medo do
comprometimento sem fim (mudança na vida pessoal; peso das tarefas; características do
paciente que podem estressar o cuidador; falta de paciência/segurança nos procedimentos
de cuidados e etc.” (MOREIRA, 2004).
Na ideia central 2 (Quadro 2) percebe-se que a experiência de cuidar tornou- se uma
tarefa difícil para os cuidadores que relatam ter dificuldades em desenvolver atividades simples do cotidiano, mas que, pelo nível de dependência do idoso, torna-se uma tarefa árdua.
Segundo Cattani e Girardon-Perlini (2004), os mesmos dependem parcial ou totalmente de um
cuidador, que tende a assistir o sequelado em todas as suas necessidades, indo desde um
simples banho, uma caminhada dentro de casa, ou até mesmo para levanta-se ou deitar-se
na cama, estabelecendo uma sobrecarga de atividades que antes eram desempenhadas
pelo próprio idoso.
Na ideia central 3, observa-se que os discursos, ao contrário das demais, é positivo,
visto que os entrevistados relataram esse cuidar como um forma de reconhecimento pela
atenção recebida no passado e demonstram ter prazer em poder retribuir em forma de cuidados. Outras pessoas referem-se ao cuidar como uma obrigação do cônjuge.
Ferreira (1999) afirma que o cuidar se manifesta como um objeto de afeição, transformando o amor numa forma de compromisso com o outro, entendendo se como uma obrigação
matrimonial, tanto do esposo como de esposa.
Cattani e Girardon-Perlini (2004) referenciando Mendes (1995) citam que:
Os cuidadores entendem a atividade de cuidar como um dever moral decorrente das relações pessoais e familiares inscritas na esfera doméstica, visto
que muitos cuidadores não se viam como tais e, a partir do momento que necessitam desempenhar tal papel, o assumem como uma exigência decorrente
do viver em família. (p. 260).
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
33
Quadro 2. Ideia central e discurso do sujeito coletivo em resposta a questão 2: Conta com o apoio de outras pessoas no
cuidado ao paciente? De que forma? João Pessoa/PB, 2008.
Ideia central – 1
DSC - 1
Sim, quando eu peço, recebo ajuda nos serviços de casa e nos
cuidados com ele (a).
Sim, quando eu peço, quando estou muito ocupada, a minha irmã
e o meu irmão que é o marido dela, me ajudam muito, nos serviços
de casa, nos serviços com ela, ajudam a dar banho a vestir a roupa,
faz uma comida, passeiam com ela na calçada. Mas eu tenho que
pedi, as vezes quando eu preciso sair para ir ao banco receber o
dinheiro dele, no mercadinho fazer a feira, ai eu chamo uma prima
dele para ficar com ele aqui em casa enquanto eu vou, mas, é só
para olhar ele mesmo enquanto eu não chego, ou se ele pedir um
copo de água, essas coisas. Mas eu tenho que pedi.
Ideia central – 2
DSC - 2
Não, cuido dele(a) sozinha.
Não, aqui em casa só tem eu mesma, meu marido trabalha fora
e eu tenho 7 irmãos, mas ninguém tem a coragem de vir aqui me
ajudar. Só eu e Deus. Eu cuido dela sozinha , a casa aqui tem mais
gente mais ninguém me ajuda.
Na ideia central 1 (Quadro 2) os entrevistados relatam receber ajuda de outras pessoas
no cuidado com o idoso somente quando solicitada, que as pessoas nunca se oferecem
voluntariamente, deixando a responsabilidade do cuidado exclusivamente para aquele que
mora no mesmo domicílio que o sequelado.
De acordo com Menezes (1994), isso mostra que as pessoas ajudam sim, mas não
querem se envolver na responsabilidade de ser cuidador por medo da responsabilidade e
da sobrecarga de trabalhos.
Ainda verificando os possíveis apoios recebidos pelos cuidadores para cuidar do sequelado de AVE, a Ideia Central 2 expressa que o fato de assumir a responsabilidade de
cuidar, muitas vezes não é feito por uma escolha, mas, por uma imposição circunstancial,
por falta de ajuda de outras pessoas da família, o cuidado passando a ser tarefa solitária e
sobrecarregante. Isso é confirmado por Karsch (1998), quando diz que os não cuidadores
se distanciam, à medida que o cuidador mostra emprenho e dedicação no cuidado para com
o doente, sendo difícil ocorrer a mudança de responsabilidades de um familiar para outro.
Menezes (1994) diz que por vontade, disponibilidade, ou capacidade, a responsabilidade do cuidar no domicílio, é assumida por uma única pessoa e por isso ocorre uma
sobrecarga de tarefas.
Isso pode ser visto neste estudo pelo fato de os cuidadores mencionarem que tem
outras pessoas na família, como irmão por exemplo, mas que ninguém se disponibiliza a
cuidar ou até mesmo a ajudar em algumas tarefas.
CONCLUSÃO
O presente estudo nos permitiu conhecer a realidade de muitas famílias que passam
por situações difíceis, onde os cuidadores familiares muitas vezes assumem este papel
34
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
movidos pelo sentimento de gratidão, de obrigação ou até mesmo pela indisponibilidade de
outra pessoa para desempenhar o cuidado ao familiar o que contribui de forma negativa no
dia-a-dia das mesmas.
No decorrer da pesquisa observamos que a relação de parentesco e os laços afetivos,
influenciam muito na escolha de quem vai se tornar o cuidador domiciliar que corresponde na
maioria das vezes a figura feminina, sendo esposas, filhas, netas, noras, enfim, mostrando
– nos que, quanto mais estreita for a relação maiores são as chances daquela pessoa se
tornar um cuidador domiciliar, .
Nos discursos , pudemos analisar o surgimento de sentimentos de carinho, prazer,
obrigação, gratidão e até mesmo conformismo diante da situação vivida e que o cuidado desempenhado pelo cuidador domiciliar compreende a muitos enigmas a serem desvendados.
Por fim, é necessário que se realize mais pesquisas abordando as dificuldades, repercussões físicas e mentais dos cuidadores , pois a partir de conhecimentos mais profundos da
realidades dessas pessoas será possível traçar metas e interveções que possam solucionar
os principais problemas encontrados.
REFERÊNCIAS
1.
2.
3.
BOCCHI, S. C. M.; ÂNGELO, M. Interação cuidador família - pessoa com AVC: autonomia
compartilhada. Ciência & Saúde Coletiva, v.10, n.3, p.729-738, 2005.
BOCCHI, S. C. M. Vivenciando a sobrecarga ao vir-a-ser um cuidador familiar de pessoa com
acidente vascular cerebral (AVC): análise do conhecimento. Revista Latino-Americana de
Enfermagem, v.12, n.1, p.115-121, 2004.
BRASIL. Ministério da Saúde. Programas e projetos: doenças cardiovasculares. Disponível
em: http://www.saúde.gov.br. Acesso em: 24 out. 2000.
4.
CATTANI, R. B.; GIRARDON-PERLINI, N. M.O. Cuidar do idoso doente no domicílio na voz
de cuidadores familiares. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 06, n. 02, p. 254-271, 2004.
5.
CRUZ, I. C. F. Cuidados Intensivos de Enfermagem: Uma abordagem holística. 6 ed. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 1997.
6.
DENARDIN-BUDÓ, M. L. A mulher como cuidadora no contexto familiar de uma comunidade
rural de imigração italiana. Texto Contexto Enfermagem, Florianópolis, v.6, n.1, p.181-197,
jan./abr. 1997.
7.
8.
9.
DIEPENBROCK, N. H. Cuidados intensivos. 2.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2005.
KARSCH, U. M. S; Envelhecimento com dependência: revelando cuidadores. São Paulo:
EDUC, 1998.
KARSCH, U. M. S. Idosos dependentes: familiares e cuidadores. Cadernos de Saúde Pública,
v.19, n.3, p.861-866, jun.2003.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
35
10.
11.
12.
13.
LEFÉVRE, F.; LEFÉVRE, A. M. C. O cuidado do sujeito coletivo; um novo enfoque em pesquisa qualitativa (desdobramentos). Caxias do Sul: EDUCS, 2003.
MENDES, P. M. T. Cuidadores: heróis anônimos do cotidiano. [Dissertação]. São Paulo (SP):
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; 1995.
MENEZES, A. K. Cuidados à pessoa idosa: reflexões gerais. In: Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Caminhos do Envelhecer. Rio de Janeiro: Revinter, 1994.
14.
MOREIRA, A. C. A; Cuidado domiciliar a pessoa acometida por acidente vascular cerebral
(AVC) na perspectiva da teoria das necessidades humanas básicas de Wanda Horta.
Monografia (Especialização). Universidade Estadual do Vale do Aracaú, 2004.
15.
PAVARINI, et al. De necessidades à intervenção: etapas na organização de um serviço de
orientação para cuidadores de idosos. In: Seminário De Metodologia para Projetos de Extensão, 4, 2001, São Carlos. Anais...São Carlos [s.n.], 2001.
16.
SILVA, F. Acidente Vascular Cerebral Isquêmico – Prevenção: Aspectos atuais – É preciso
agir. Medicina Interna, v.11, n. 2, 2004.
17.
36
LAHAM, C. F. Percepção de perdas e ganhos subjetivos entre cuidadores de pacientes
atendidos em um programa de assistência domiciliar. 2003 [Dissertação]. São Paulo (SP):
Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo; 2003.
ROACH, Sally. Introdução à enfermagem gerontológica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
03
“
A influência da cinesioterapia
no arranjo lombopélvico e na
incontinência urinária da mulher
idosa
Fabiana da Silveira Bianchi Perez
UNIFAN
Anna Claudia Sentanin
UNIFAN
Luciana Roberta Tenório Peixoto
UnB
Adson Ferreira da Rocha
UnB
10.37885/201202402
RESUMO
Introdução: A Incontinência Urinária é uma condição em que ocorre a perda involuntária
de urina, que gera um problema social ou higiênico. É classificada de vários tipos, as mais
presentes na idosa são de esforço, urge-urgência e persistente. Objetivo: O objetivo
do estudo foi realizar uma revisão bibliográfica por meio da seleção e análise criteriosa
de artigos científicos que relatem a abordagem cinesioterapêutica em incontinência urinária na mulher idosa. Materiais e métodos: foi realizada uma revisão bibliográfica em
livros e em bases de dados eletrônicos SciELO e LILACS, buscando artigos publicados
entre 2003 a 2020. Os Palavras-chave utilizados foram: incontinência urinária, idoso e
Cinesioterapia, biomecânica lombopélvica, tanto em língua portuguesa quanto em língua
inglesa. Resultados: Somando-se todos os bancos de dados, obteve-se um total de 12
artigos utilizados neste estudo. Discussão: vários estudos demonstraram a importância do tratamento de cinesioterapia na paciente idosa com diagnóstico de incontinência
urinaria. Considerações finais: De acordo com a revisão apresentada, a abordagem
cinesioterapêutica na idosa conduz a um desfecho, a um melhor equilíbrio, força muscular
da musculatura pélvica e estabilidade na marcha.
Palavras-chaves: Idoso, Incontinência Urinária, Biomecânica Lombopélvica, Cinesioterapia
(em Língua Portuguesa e em Língua Inglesa).
INTRODUÇÃO
O envelhecimento é um processo dinâmico, cumulativo e sequencial que atinge todos os
seres vivos. No ser humano, o envelhecimento acontece de forma gradual, universal, irreversível e individual, conforme o estilo de vida e a qualidade do ambiente em que vive. De forma
que o envelhecer seja um resultado de uma somatória de alterações orgânicas, bioquímicas,
morfológicas, psicológicas e funcionais intrínsecas deste processo natural do envelhecimento, que é denominado de senescência; nele, o indivíduo idoso mantém sua autonomia,
preservando sua qualidade de vida. No entanto, quando essas alterações vêm vinculadas a
modificações determinadas por afecções que frequentemente acometem os idosos, o idoso
pode ter qualidade e tempo de vida comprometidos; esse processo não desejável é denominado senilidade. (OMS, 2015; FLATT, 2012; CIOSAK et al., 2011, REBELLATO, 2007;
MONACO et al., 2009; CAVALHEIRO, GRENZEL & MATOS, 2007).
Segundo estatísticas do IBGE, em 2050 o mundo terá 2 bilhões de idosos (IBGE,2018).
Segundo o PNDA (2018), entre 2012 e 2017, a população brasileira teve um aumento de
4,8 milhões de idosos (18%) – 56% desta população são mulheres enquanto os homens
idosos são 13,3 milhões (44% deste grupo etário). Para Araújo (2011), em 2025, no Brasil,
os números indicam que a população idosa brasileira será a sexta maior população mundial,
perfazendo por volta de 15% da população total brasileira, que corresponderá a cerca de
30 milhões de idosos. E a terminologia idoso é dada a toda pessoa com idade acima de 60
ou 65 anos segundo a OMS, 2010; considera-se que o termo “idoso” expressa o resultado
final do processo de envelhecimento e a velhice é a fase da vida caracterizada por redução
da capacidade funcional, da resistência, capacidade de trabalho, caníce, calvície, perdas
de papéis sociais, perdas psicológicas, solidão, perdas afetivas e motoras. Logo, envelhecimento e doença não são fatores intimamente interligados ou interdependentes. Cada pessoa
envelhece a seu modo, e muitas variáveis influenciam esse processo, como a origem, o
sexo, o local em que vive, as experiências vivenciadas e aptidões para a vida (OMS, 2015;
FLATT, 2012; CIOSAK et al, 2011). O termo envelhecimento saudável denota o processo
de envelhecimento acompanhado de desenvolvimento e manutenção da capacidade funcional, física e cognitiva, que permite o bem-estar em idade avançada acompanhada de uma
postura ativa perante a vida e a sociedade, com baixa suscetibilidade a doenças. Por outro
lado, o envelhecimento com fragilidade é caracterizado pela vulnerabilidade e baixa capacidade para suportar fatores de estresse, acarretando maior suscetibilidade a doenças e a
síndromes geradoras de dependência (REBELLATO, 2007; RAMOS, 2011, FREITAS, 2016).
O envelhecer leva a alterações anatomofuncionais próprias deste processo, que geram
mudanças sistêmicas. No sistema musculoesquelético ocorre a perda de densidade óssea,
principalmente nas mulheres pós-menopausa. Ocorre também a redução de massa muscular,
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
39
alterando a biomecânica pélvica e, assim, acentuando alterações nos músculos perineais,
podendo acarretar o desenvolvimento de incontinência urinária, fecal e disfunções sexuais.
A fisioterapia geriátrica possui técnicas cinesioterápicas que auxiliam no rearranjo lombopélvico do idoso, que favorece a prevenção ou o tratamento da incontinência urinária do
idoso. A fisioterapia na reeducação perineal do assoalho pélvico e da biomecânica lombopélvica tem como finalidade melhorar a força de contração das fibras musculares, promover
a reeducação abdominal e um rearranjo estático lombo pélvico por meio de exercícios específicos para ajudar a manter a postura, o posicionamento pélvico e a continência urinária.
Tanto no tratamento preventivo quanto curativo da incontinência urinária, torna-se imperioso a
reeducação da musculatura do assoalho pélvico. (OLIVEIRA, RODRIGUES & PAULA, 2007).
A perda da continência urinária ocorre pela alteração na coordenação do enchimento
e esvaziamento da urina na bexiga. Causado, entre outras possibilidades, por: suprimento
nervoso inadequado ao músculo detrusor da bexiga; ao músculo esfíncter externo da uretra
e os músculos do assoalho pélvico; sedentarismo, perda de força e resistência muscular,
reação medicamentosa e/ou a injurias por procedimentos cirúrgicos por exemplo, por uma
perda de suporte da bexiga e uretra. A perda involuntária de urina pode afetar 60% das
mulheres acima de 60 anos, gerando estresse, isolamento social, desconforto, embaraço,
perda da autoconfiança, problemas de higiene, interferindo na qualidade de vida do indivíduo
de forma negativa (OLIVEIRA et al., 2007).
OBJETIVO
• O objetivo deste capítulo é analisar a influência da cinesioterapia no arranjo lombo
pélvico em mulheres idosas com incontinência urinária.
MÉTODOS
Fonte dos dados e estratégia de busca
Foi realizada uma revisão da literatura do tipo descritivo-exploratória e retrospectiva
com análise integrativa, sistematizada e qualitativa. A busca da literatura foi realizada de
14 a 25 de novembro de 2020 nas seguintes bases de dados: LiLACS (Literatura LatinoAmericano em Ciências da Saúde), SciELO (Scientific Eletronic Library Online) e PubMed.
Para a busca foram utilizados os seguintes descritores: “Idoso” OR “envelhecimento” AND
“fisioterapia” OR “modalidades de fisioterapia” AND “incontinência urinária” OR “distúrbios
do assoalho pélvico”; adicionalmente a mesma busca foi feita com os seguintes termos, na
língua inglesa: “aged” OR “elderly” AND “ therapy specialty” OR “physical therapy modalities”
40
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
AND “urinary incontinence” OR “pelvic floor disorders”. O período de publicação foi restrito
aos últimos 5 anos e foram incluídos artigos nas línguas inglesa e portuguesa.
Critérios de elegibilidade
Foram considerados os artigos com dados bibliográficos que abordassem a cinesioterapia e sua influência no arranjo biomecânico lombopélvico e a incontinência urinária da
idosa, bem como outras informações específicas correlacionadas ao assunto. Além disso,
foram excluídas revisões sistemáticas ou integrativas, metaanálises, dissertações, teses,
cartas e diretrizes (guidelines).
Seleção dos estudos
Inicialmente, com base nos critérios de seleção, os títulos e resumos foram lidos para
identificar estudos potencialmente elegíveis. Logo em seguida, os estudos elegíveis foram
lidos na íntegra para verificar se atendem aos critérios de elegibilidade. Artigos adicionais
foram verificados por triagem da lista de referência dos estudos selecionados. Os estudos
selecionados foram organizados em uma tabela.
Extração dos dados
Foi realizada uma extração padronizada para a obtenção de dados relevantes dos
artigos selecionados, os quais foram apresentados em forma de tabela. As informações extraídas foram as seguintes: primeiro autor, ano de publicação, tamanho da amostra, número
de grupos, características da amostra (idade e gênero), protocolo de tratamento e resultado
na incontinência urinária. Concomitantemente, foi realizada uma análise crítica dos artigos.
Em um primeiro momento foram identificados 163 títulos, sendo 01 da Scielo, 01 da
Lilacs e 161 do PubMed. A Fase I compreendeu a seleção que foi feita pelos títulos, eliminando-se os repetidos. Foram selecionados os artigos referentes à abordagem da cinesioterapia e sua influência no arranjo biomecânico lombopélvico e a incontinência urinária da
idosa. Na fase II, procedeu-se à leitura de todos os resumos para aplicação dos critérios de
inclusão e exclusão, resultando na inclusão de 28 artigos. Posteriormente, procedeu-se a
busca do texto completo. A leitura dos textos permitiu refinar ainda mais a busca; restaram,
então, 05 referências (Figura 1).
Uma análise cuidadosa permitiu extrair informações dos artigos e apresentar em um
quadro de informações importantes dos estudos. Concomitantemente, realizou-se uma
análise crítica dos textos.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
41
Figura 1. Fluxograma das etapas para seleção dos artigos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A amostra desta revisão foi composta por vinte e oito estudos que preenchiam os critérios de inclusão e que avaliaram as técnicas de cinesioterapia e sua influência no arranjo
biomecânico lombopélvico e a incontinência urinária da idosa. Após a leitura completa dos
artigos, vinte e três foram excluídos, restando cinco artigos que contemplavam o assunto a ser abordado.
Em relação às bases de dados consultadas, cento e sessenta e um (98,7%) artigos
foram encontrados na PudMed, um (1,6%) no SciELO e um (1,6%) no LILACS. Cento e
sessenta e três (100%) estudos foram publicados em inglês.
A Tabela 1 apresenta a descrição dos estudos selecionados, contendo os autores, ano
de publicação, Grupo n e idade média das participantes, principais resultados e conclusão.
42
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Tabela 1. Dados da amostra, treino, resultados e conclusão dos estudos selecionados
Autores (Ano)
Grupos (n)
Idade média
GC (n=14)
Treino
Resultado
Conclusão
Avaliação na linha de base, 4 e
12 semanas de intervenção e 1
mês após final da intervenção.
TMAP:
Idosas da comunidade
com 66,5 ± 5,5 anos - 12 repetições de contração
da MAP na posição deitada,
57,1% IUU
sentada e em pé.
Virtuoso et al.
(2019)
GI (n=12)
Idosas da
comunidade com
64,8 ± 4,7 anos
66,7% IUU
- 2x/semana durante 30 minutos
por 12 semanas com progressão I C I Q - S F : m e l h o r a
do tempo das contrações de 8 significativa da qualidade de
vida (p<0,001) para ambos
em 8 sessões até a 24°
os grupos, sem diferença
intergrupo.
Avaliação na linha de base, 4 e
12 semanas de intervenção e 1 S i n t o m a s : m e l h o r a
mês após final da intervenção. significativa (p<0,02) no GI
TMAP +
(58,3% versus 14,3%)
O treino combinado
da MAP com TR
promove uma
recuperação
mais precoce dos
sintomas de IU
quando comparado
ao treino isolado da
MAP.
TR:
- 15 RM com 1 minuto de
intervalo de músculos de
MMSS, MMII e abdominais
- 2x/semana durante 50 min
por 12 semanas
GC (n=281)
Avaliação na linha de base, a
cada 4 semanas e ao final da
intervenção
- TE: sessão educacional
Idosas habitantes de em grupo, dada por um
aldeias com 64,7 ± pesquisador paramédico sobre
4,1 anos
funcionamento do Sistema
Urinário e como mantê-lo
saudável, na linha de base e ao
final de 12 semanas
Perda
urinária
significativamente
menor no
Avaliação na linha de base, a
Wagg et al.
GI,
assim
como
uma
melhor
cada 4 semanas e ao final da
(2019)
qualidade
de
vida
e
menos
intervenção
sintomas de depressão
GI (n=298)
- TE +
Idosas habitantes de
- TMAP: contrações da MAP
aldeias com 64,5 ±
nas posições sentada, deitada
4,2 anos
e em pé + Caminhada (30 min)
+ cinesioterapia, alongamentos,
durante 60 minutos, 2x/semana
por 12 semanas., em grupo. As
atividades continuaram na casa
das idosas até a 24° semana.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Uma intervenção
estruturada com
exercícios em grupo
tem o potencial
d e c o n t ro l a r a
incontinência
urinária em idosas
habitantes de
aldeias, que em
grande parte estão
fora do alcance
de intervenções
farmacêuticas ou
cirúrgicas.
43
Autores (Ano)
Grupos (n)
Idade média
GC (n=19)
Treino
Resultado
Conclusão
A gravidade da IU foi
significativamente menor
no GI (p=0,04), porém sem
diferenças para qualidade
de vida e habilidades físicas
como marcha e equilíbrio.
Idosas frágeis
apresentam melhora
na gravidade da IU
após um programa
de 12 semanas que
associa estratégias
comportamentais
com atividade física.
Avaliação na linha de base e
após 12 semanas de intervenção
- Visita domiciliar sendo
Idosas frágeis com
entregue o mesmo material
84,9 ± 6,4 anos
impresso que o GI sobre
estratégias comportamentais.
Avaliação na linha de base e
após 12 semanas de intervenção
-Estratégias comportamentais
de incontinência (4 visitas
domiciliares de 20-60 minutos):
Talley et al.
orientações sobre hábitos
(2017)
saudáveis, medicamentos,
GI (n=23)
prevenção de constipação e
Idosas frágeis com exercícios para a MAP. As idosas
84,9 ± 6,4 anos
deviam fazer 5 x/ semana com
auxílio de um áudio instrucional.
-Atividade física para melhora
de habilidades de higiene:
caminhada (30 minutos, 5x/
semana) e exercício resistido
de MMII (1 série de 12-15
repetições em intensidade
moderada)
44
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Autores (Ano)
Grupos (n)
Idade média
Treino
Resultado
Conclusão
Uma consulta com especialista -GC e GI reduziram IU
GC=(n=18) 76,4 ± 9,9
de IU (fisioterapeuta ou
anos
-GI > GC p< 0,04
enfermeiro)
IU moderada e grave
Cuidados habituais com a IU
11% IUU
-GI>GC aderência aos
G C n ã o o b te ve
exercícios
redução significativa
da IU, nem obteve
-Tempo médio entre fim da
adesão
aos
intervenção e entrevista de
exercícios em casa.
acompanhamento 351 dias
GI obteve melhora
- Acompanhamento 12
do quadro de IU ou
meses 80 de 130 continência
obteve continência
total
total em 6 meses
Chu et al.
(2019)
Escala de Sandvik
GI = (n=19)
72,4 ± 6,3 anos
IU moderada e grave
Manteve exercícios
Melhora GI>GC Redução em casa
Exercícios + treinamento da gravidade =
- A continência total
IUU + prevenção em quedas
está diretamente
- Frequência nas 24h;
(exercise UP)
ligada a IMC menor
- Menor idade > maior idade
6% IUU
Haque et al.
(2020)
- Adesão aos
- Menor severidade no exercícios
início da intervenção Multiparidade piora IU 10 a - Não presença de
40% fizeram melhorias em ITU
casa com visitas Número
de sessões concluídas 72%
11% concluíram adesão 53%
alcançaram 70% de adesão
GC=(n=281)
62,3 ± 0,2 anos
Apenas orientações e 3 dias para
marcar severidade da IU por Escala de
Sandvik Severity
GI = (n=298)
67,7 ± 0,86 anos
2 vezes/semana por 12 semanas
FTPM + orientações e
3 dias marca severidade da IU por
Escala de Sandvik Severity
Melhora GC<GI
Gravidade IU depende:
Frequência nas sessões 56% GI
continentes no fim da avaliação
sem perdas por pelo menos 3 dias
GI>GC aderência aos exercícios
GI = PFMT e mobilidade
teve maior melhora da
gravidade da IU e obteve
continência total em 6
meses
GC não teve melhora
significativa nem adesão
a atividade em casa
n: tamanho da amostra. GC: Grupo Controle. GI: Grupo Intervenção. IUU: Incontinência urinária de urgência. TMAP: Treinamento da
musculatura do assoalho pélvico. TR: treinamento resistido. TE: treinamento educacional. MMSS: membros superiores. MMII: membros
inferiores. ICIQ-SF: International Consultation on Incontinence Questionnaire – Short Form. IMC: índice de massa corpórea. ITU: infecção
trato urinário.
O objetivo desta revisão bibliográfica foi verificar a eficácia das diferentes técnicas
cinesioterapêuticas utilizadas no tratamento das incontinências urinárias das idosas e na
reeducação postural lombopélvica.
No grupo de artigos selecionados na integra para esta revisão, houve grande variação
no tamanho da amostra, variando de 12 a 298 idosas incontinentes miccionais, totalizando
1263 idosas pesquisadas. A maioria das idosas apresentaram clínica de IUU (incontinência
urinária de urgência) seguido por casos relacionados a IUE (incontinência urinária de esforço) e IUM (incontinência urinária mista) seguida da IUE. Dois dos estudos abordaram a
reeducação comportamental vesical no intuito de minimizar a irritabilidade das bexigas das
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
45
participantes e todos utilizaram treinos de exercícios para os músculos do assoalho pélvico,
pelo fato de que sendo a fraqueza desses músculos a causa da IUE, o fortalecimento dos
mesmos elimina ou minimiza os sintomas da incontinência de esforço destas idosas. Além
de que, caso haja força suficiente no MAP, ao contraí-lo de forma eficaz, a pessoa aciona
um reflexo denominado A3 de Mahony que auxilia no relaxamento da contração do detrusor,
que é um músculo da bexiga, reduzindo a irritabilidade da mesma, e minimizando a IUU.
A Incontinência Urinária é uma das várias patologias ocasionadas pela perda da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio-ambiente determinada pelo envelhecimento, que
é um processo dinâmico e progressivo no qual há modificações morfológicas, funcionais,
bioquímicas e psicológicas que podem ocorrer de forma saudável (senescência) ou patológica
(senilidade) (CAVALHEIRO, GRENZEL, MATTOS, 2007; RIBEIRO, ALVES & MEIRA, 2009).
Segundo SILVA et al. (2012), as alterações anatomofuncionais próprias do processo
de envelhecimento, tais como, instabilidade ou insuficiência do músculo detrusor, redução
da pressão máxima de fechamento uretral, frouxidão da musculatura do assoalho pélvico
e alterações tróficas do epitélio vaginal e do epitélio escamoso da uretra distal secundárias
à deficiência estrogênica, constituem fatores determinantes de incontinência urinária em
mulheres idosas.
De acordo com (HONÓRIO, SANTOS, 2009; RIBEIRO, ALVES & MEIRA, 2009) essa
patologia compromete a qualidade de vida, vinculada à saúde, autonomia, relacionamentos
pessoais, estabilidade financeira e vida ativa, comprometimentos psicológicos, preocupação e
desagrado diante das perdas urinárias e receio de elas ocorrerem em locais não apropriados.
Em outros estudos foi possível ver os tipos de incontinência urinária tais como: incontinência urinária de esforço, mista, transitória e de urgência. Segundo esses autores a
incontinência urinária de esforço é o segundo tipo mais comum de incontinência entre as
mulheres idosas, o que está em consonância com os dados das pesquisas selecionadas,
em que a IUE foi a segunda mais relatada, e é marcada pela perda incontrolável de urina
durante a tosse, o esforço, o espirro, o levantamento de objetos pesados ou qualquer manobra que aumente a pressão intra-abdominal, na ausência de contração do detrusor (REIS
et al., 2003; TORREALBA, OLIVEIRA, 2010).
Em diversos estudos (REIS et al., 2003; TORREALBA, OLIVEIRA, 2010; OLIVEIRA,
RODRIGUES, PAULA, 2007), a IUU é considerada o tipo de incontinência mais prevalente
nos idosos de ambos os sexos, caracterizada por desejo urgente de urinar seguido de perda incontrolável de urina e volume residual pequeno. Este tipo de incontinência está associado com frequência à hiperatividade do músculo detrusor: quando a lesão se localiza no
trato urinário inferior é denominada instabilidade, cujas causas mais comuns como cistites,
46
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
cálculos, divertículos vesicais e a impactação fecal; quando localizada no sistema nervoso
é denominada hiperreflexia.
Diversos trabalhos (OLIVEIRA, RODRIGUES, PAULA, 2007; SOBREIRA, 2010) ressaltam que o exercício terapêutico é uma das ferramentas-chave que um fisioterapeuta
pode usar para restaurar e melhorar o bem-estar musculoesquelético ou cardiopulmonar
do paciente. Sendo assim, nos cinco estudos analisados todos utilizaram da cinesioterapia
no intuito de aperfeiçoar a contração muscular do assoalho pélvico das idosas pesquisadas.
Ainda para (OLIVEIRA, RODRIGUES, PAULA, 2007; SOBREIRA, 2010) a resistência
do músculo à fadiga, que é a capacidade de um músculo de contrair-se repetidamente ou
gerar tensão e sustentar aquela tensão em um período prolongado de tempo, pode também
ser melhorada ou mantida com o exercício terapêutico, observado nos estudos de Haque
et al. (2020) e Virtuoso et al. (2019).
De acordo com (RODRIGUES, 2008; SOBREIRA, 2010) os exercícios de musculatura
pélvica podem ser em: decúbito dorsal, pernas semi-fletidas, pés no chão, expirar, colocar
a pelve em retroversão e em seguida elevar quadril mantendo a retroversão. Repousar lentamente inspirando, desenrolando lentamente a região lombar até o solo. Decúbito dorsal,
nádegas apoiadas no chão, colocar entre as pernas uma bola e elevar as duas pernas semi-extendidas. Decúbito dorsal, nádegas ligeiramente elevadas, perna de apoio flexionada
e que fará a elevação estendida.
Segundo OLIVEIRA et al. (2010), há presença de outros fatores de risco externos no
qual são adquiridos ao longo da vida, e de acordo com seu estudo a incontinência é adquirida principalmente em mulheres por fatores traumáticos durante gestação e ou parto vaginal. O sedentarismo e o IMC (índice de massa corpórea) exacerbados estão relacionados
à presença de incontinência urinária e dificultam as pacientes pesquisadas a alcançarem a
continência total para Chu et al. (2019).
As fibras musculares são compostas por filamentos de actina e miosina, e o envelhecimento gradativo e o aumento da pressão intra-abdominal persistente podem levar a uma
fraqueza muscular, descrita por SOUSA et al. (2011), e uma das consequências da musculatura perineal fraca é a incontinência urinária. Nas publicações encontradas no presente
estudo pode-se observar que o aumento da força muscular do assoalho pélvico tende a levar
à melhoria no controle da continência urinária, ao aumento na auto-estima, e à melhoria da
qualidade de vida.
Estudos demostraram que, além de fatores externos, a alteração da biomecânica lombar
e pélvica, observada por meio de exames de imagem, pode causar um desvio lombo-pélvico
que gera uma alteração na mecânica do assoalho pélvico, podendo, assim, desencadear
incontinência urinária (SOUSA et al., 2011).
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
47
Com ênfase na fisioterapia, SOUSA et al. (2011) realizaram estudo sobre a reabilitação
dos músculos do assoalho pélvico em resposta à principal intervenção fisioterapêutica, que
é o exercício físico. Nesse trabalho, foi aplicado o método de Kegel, que foi satisfatório em
um grupo controle; porém, no outro grupo a resposta teve um desempenho quase 100%
melhor quando a eletroestimulação foi usada em conjunto com o método de Kegel.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com a revisão bibliográfica apresentada, a abordagem cinesioterapêutica no
tratamento da idosa incontinente é importante para se obter melhoras reais e significativas,
em relação a perda urinaria diária e a alívio dos sinais e sintomas referidos, melhorando a
qualidade de vida. Adicionalmente, uma boa avaliação da biomecânica lombopélvica é importante para que seja possível propiciar ao paciente um melhor aprendizado da consciência
perineal, aumentando, assim, a probabilidade de reabilitação efetiva do assoalho pélvico.
Dessa forma, exercícios estruturados orientados com a intervenção de um profissional
têm apresentado alto potencial positivo no controle da IU, e na adesão e manutenção dessas
práticas aos exercícios domiciliares.
REFERÊNCIAS
1.
2.
3.
48
CAVALHEIRO, D. J.; GRENZEL, J. C. M.; MATTOS, C. M. Z. O envelhecimento e as alterações
decorrentes desse processo: um estudo de caso. Cruz Alta. 2007.
CHU, C. M.; SCHMITZ, K. H.; KHANIJOW K. et al., Feasibility and outcomes: Pilot Randomized
Controlled Trial of a home‐based integrated physical exercise and bladder‐training program vs
usual care for community‐dwelling older women with urinary incontinence. Neurolology Urodynamics, v. 38, n. 5, p. 1399-1408, 2019.
CIOSAK, S. I.; BRAZ E.; BAETA NEVES, M. F. Senescência e senilidade: novo paradigma na
atenção básica de saúde. Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 45, SPE 2, p. 17631768, 2011.
4.
FLATT, T. A. New definition of aging? Frontiers in Genetics – Genetics of Aging, Vienna, Austria, v. 3, p.1-2, 2012.
5.
FREITAS, C. V.; DE CASTRO, A. P., CHAN, A. Avaliação de fragilidade, capacidade funcional
e qualidade de vida dos idosos atendidos no am-bulatório de geriatria de um hospital universitário. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, v. 19, n. 1, p. 119-128, 2016.
6.
HAQUE, R.; KABIR, F.; NAHER, K. et al. Promoting and mantaining urinary continence: Follow-up from a cluster-randomized trial of elderly village women in Bangladesh. Neurolology Urodynamics, v. 39, n. 4, p. 1152–1161, 2020.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
HONÓRIO, M. O.; SANTOS, S. M. A. D. Incontinência urinária e envelhecimento: impacto no
cotidiano e na qualidade de vida. Rev Bras Enferm, v. 62, n. 1, p. 51-56, Brasília, 2009.
IBGE. Website: httpps://agenciadenoticias.ibge.gov.b/ agencia_noticias/2012-agencia-de_
noticias/noticias/ 20980-numero-de-idosos-cresce-18-em-5-anos-e-ultrapassa-30-milhoes-em-2017-19.
IBGE. Website: ttps://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2019/05/22/ibge-mostra-envelhecimento-da-populacao-no-brasil. ghtml. 2019.
OLIVEIRA, J. R., GARCIA, R. R. Cinesioterapia no tratamento da incontinência urinária em
mulheres idosas. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, v. 14, n. 2, p. 343-351, 2011.
OLIVEIRA. E. et al. Avaliação dos fatores relacionados à ocorrência da incontinência urinária
feminina. Revista Associação Brasileira Médica 2010; 56(6): 688-90.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS). Relatório Mundial de Envelhecimento e Saúde
(resumo), 28 p. 2015.
OLIVEIRA, K. A. C.; RODRIGUES, A. B. C.; PAULA, A. B. Técnicas fisioterapêuticas no tratamento e prevenção da incontinência urinária de esforço na mulher. Revista Eletrônica F@
pciência, v.1, n.1, 31-40, 2007.
14.
REBELATTO, J. R.; DE CASTRO, A. P., CHAN, A. Quedas em idosos institucionalizados: características gerais, fatores determinantes e relações com a força de preensão manual. Acta
Ortopédica Brasileira, v. 15, n. 3, p. 151-154, 2007.
15.
REIS, R. B. D.; COLOGNA, A. J.; MARTINS, A. C. P.; PASCHOALIN, E. D.; TUCCI, JR. S.;
SUAID, H. J. Incontinência urinária no idoso. Acta Cirúrgica Brasileira. v. 18, n. 5, 2003.
16.
RIBEIRO, L. D. C. C.; ALVES, P. B.; MEIRA, E. P. Percepção dos idosos sobre alterações
fisiológicas do envelhecimento. Ciência Cuidado e Saúde, v. 8, n. 2, p. 220-227, 2009.
17.
18.
19.
20.
21.
22.
RODRIGUES, B. P. Abordagem Fisioterapêutica na Incontinência Urinaria de esforço na mulher idosa. 73 f. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) - Universidade Veiga Almeida,
Rio de Janeiro, 2008.
SILVA, V. A.; D’ELBOUX, M. J. Fatores associados à incontinência urinária em idosos com
critérios de fragilidade. Texto & Contexto Enfermagem, v. 21, n. 2, p. 338-347, 2012.
SOBREIRA, M. A. F. Fisioterapia Uroginecologica, Uma Cartilha para prevenção de Incontinência Urinaria na saúde da mulher. 60 f. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) Universidade da Amazônia, Belém, 2010.
SOUSA G. J et al. Avaliação da força muscular do assoalho pélvico em idosas com incontinência urinária. Revista Brasileira de Fisioterapia. Curitiba, v. 24, n. 1, p. 39-46, jan./mar. 2011.
TORREALBA, F. D. C. M.; OLIVEIRA, L. D. R. D. Incontinência urinária na população feminina
de idosas. Ensaios e Ciência, v. 14, n. 1, p. 159-175, 2010.
VIRTUOSO, J. F.; MENEZES E. C.; MAZO G. Z. Effect of Weight Training with Pelvic Floor
Muscle Training in Elderly Women with Urinary Incontinence. Research quarterly for exercise
and sport, v. 90, n. 2, p. 141-150, 2019.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
49
04
“
A velhice e o sentimento de
solidão sob a ótica dos idosos
Alyne Amaral Santos
Leila das Graças Siqueira
FASI
UNIMONTES
Emylle Cristine Alves Veloso
José Ronivon Fonseca
FASI
UNIMONTES
Álvaro Parrela Piris
Wellington Danilo Soares
FASI
FASI
Bruna Roberta Meira Rios
Andréa Maria Eleutério de Barros Lima
Martins
FASI
UNIMONTES
Carla Silvana de Oliveira e Silva
UNIMONTES
Henrique Andrade Barbosa
UNIMONTES
10.37885/201001748
RESUMO
Objetivo: analisar a percepção do idoso quanto ao sentimento de solidão; além de
identificar se as mudanças físicas e fisiológicas, as relações sociais estabelecidas e as
perdas ao longo da vida influenciam para o surgimento desse sentimento. Materiais e
métodos trata- se de uma pesquisa de investigação subjetiva de abordagem qualitativa
transversal exploratória, realizada na cidade de Montes Claros – MG com oito idosos
sendo estes selecionados através da técnica de “snowball”. A entrevista foi aplicada
com o auxílio do aplicativo “dictate” para transcrição das respostas e na interpretação á
analise do discurso foi realizada a partir da base fairclough e com o auxilio do software
“MAXQDA” para executar a codificação e categorização da discussão. Esta pesquisa
teve parecer positivo pelo CEP com o número: 3.573.122. Resultados: os idosos entrevistados nesta pesquisa apontaram que o sentimento de solidão não está presente
nessa etapa de vida. Relataram que fisicamente sentiram o impacto da idade, no entanto
o sentimento não é de estar velho, ainda acrescentam que o apoio da família e amigos
são primordial para o seu bem estar. Considerações Finais: conclui-se que embora o
sentimento de solidão não tenha se mostrado presente nas pessoas entrevistadas, a
fase idosa é de extrema importância e merece um olhar cada vez mais atento às suas
vulnerabilidades e necessidades
Palavras-chave: Solidão, Idosos, Envelhecimento.
INTRODUÇÃO
A transição para fase idosa para alguns pode ser uma etapa tranquila, entretanto para
outros se apresenta como uma das etapas mais difíceis, pois temem a chegada do envelhecimento, e podem apresentar uma maior inclinação para adoecimentos físicos e psíquicos,
como por exemplo o sentimento de solidão que é muito apresentado nessa faixa etária e
pode contribuir para a evolução de doenças (LIMA, et al 2016).
Esse sentimento de solidão se relaciona com a interpretação individual de se sentir
solitário, onde há uma divergência com o grau de relações sociais em que anseia em detrimento da atual realidade, isso se explica, por exemplo, quando uma pessoa se sente sozinha
mesmo ao lado de muitas pessoas. (MANSO; COMOSAKO; LOPES, 2018).
Segundo Keske e Santos (2019) A solidão em especial na fase idosa pode se apresentar por diversas causas, entre elas as mudanças nas relações da contemporaneidade,
impulsionadas pelo advento das relações virtuais, e o consequente uso de novas tecnologias.
O envolvimento com a sociedade se mostra importante para o ser humano, pois a partir
desta se formam as amizades, o afeto, e se desenvolve o apoio emocional onde as pessoas
buscam conforto. O indivíduo que se sente pertencente de um grupo social possui uma maior
interação, onde o sujeito se situa e constrói a sua identidade (MIGUEL; LUZ,2015).
Segundo Fin et al. (2015) As mudanças fisiológicas e estéticas também podem contribuir para o sentimento de solidão, mudanças essas que advém da idade e passam a ser
notórias com o passar do tempo, com o aparecimento das linhas faciais, rugas e fraquezas,
e diante da referência de beleza que a mídia traz e o país “impõe”, torna-se mais difícil a
aceitação dessas transformações que podem proporcionar um agravamento psicológico e
baixa autoestima.
Essa percepção negativa da população sobre essa etapa da vida traz o estigma que
se tornará incompetente, gerando pensamentos que são incapazes e impossibilitados de
oportunidades e de viver uma fase mais satisfatória de vida. Lidar com a realidade pode se
tornar um obstáculo para muitos, mas tem aqueles que se mostram e tentam mudar essa
visão sobre o idoso, tornando essa etapa ativa, praticando hobbys, voltando para a faculdade,
proporcionando uma aceitação e vivência mais saudável (MARI et al. 2016).
Nesta fase da vida, os idosos costumam ter a ideia e pressupostos que irão “perturbar” e se sentem embotados a pedir ajuda, se sentem inseguros e têm dificuldades para se
expressar sobre o que precisam, o que torna a vida mais difícil, pois nessa etapa de vida
algumas atividades do dia a dia podem se tornar mais dificeis, demandando auxilio da familia,
com isso percebe-se que as pessoas idosas se afastam e se tornam ausentes sem que os
familiares percebam esse distanciamento (SILVA, 2016).
52
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
A mudança nos aspectos físicos próprios dessa etapa traz a dependência do idoso, para
realizar certas atividades simples como “tomar banho, vestir uma roupa’’. Com essa nova demanda muitas vezes os familiares identificam como solução a institucionalização do idoso em
abrigos de permanência, afastando-os do meio familiar, que causam marcantes sentimentos
de descaso, abandono e tristeza por falta de tempo e muitas vezes paciência e dificuldade
para lidar com esse familiar que necessita de atenção e apoio (PANOSSO et al, 2017).
Para Azeredo, Afonso e Alcina (2016)A maneira como o idoso vive poderá interferir
diretamente nas suas perspectivas de vida, podendo afastá-lo das relações sociais e até
mesmo de pessoas em que possuía um vínculo afetivo, de ambientes e atividades que
costumava ser rotina em seu dia a dia e que com os anos acabaram se perdendo. Esse
isolamento que o idoso vivencia pode contribuir excessivamente para seu adoecimento,
favorecendo um sofrimento.
A fase idosa apresenta-se como um momento de grande importância e sensibilidade, pois configura-se como experiência de uma vida, porém a transformação e mudanças tanto biológicas como sociais podem ou não favorecer o sentimento de solidão
(CAVALCANTI, K. F. et al. 2016).
Para que o idoso tenha então um envelhecimento saudável é indispensável que sejam
participativos socialmente não só em tarefas que já costumam fazer em seu dia a dia, como
varrer a rua, ir ao mercado, mas em atividades avançadas como: religião, passeios, conhecer
novos lugares, entre outros (NERI; VIEIRA, 2013).
Conforme Silva (2016) Alguns idosos possuem renda própria e, às vezes, podem morar sozinhos e outras vezes dependerão de sua família e residem com estes, por isso se
responsabilizam pela casa, por cuidar dos netos, em realizar as tarefas domésticas e, bem
como ajudar financeiramente. Mas, de maneira geral, é importante que esses idosos separem um tempo para si, participando de atividades que trazem algum prazer ou participação
em eventos da comunidade como grupos sociais.
Há um avanço nos dias atuais na criação de meios que incluam os idosos em atividades que o envolvam em um meio social para uma vida mais ativa, entretanto a interação
social não remete somente na participação em eventos com outros da mesma idade, mas
também uma boa relação com sua família, ainda que tenham uma quantidade satisfatória
de atividades e interações, pois o mais importante não é quanto participam e tem amigos e
sim a qualidade destas relações (SIMÕES et al.2016).
Diante disso, o objetivo da pesquisa foi analisar a percepção do idoso quanto ao envelhecer e o sentimento de solidão; entendendo assim se as mudanças físicas e fisiológicas
influenciam para a solidão no idoso; também verificar como as relações sociais e perdas
ao longo da vida podem contribuir para o desenvolvimento dessa condição; e identificar a
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
53
partir do discurso dos idosos os fatores desencadeadores da solidão e como lidam com o
processo de envelhecimento.
OBJETIVO
Analisar a percepção do idoso quanto ao sentimento de solidão; além de identificar se
as mudanças físicas e fisiológicas, as relações sociais estabelecidas e as perdas ao longo
da vida influenciam para o surgimento desse sentimento.
MÉTODOS
Este estudo foi construído através de uma pesquisa de investigação subjetiva de abordagem qualitativa, transversal e exploratória. A pesquisa foi realizada na cidade de Montes
Claros - MG, com oito idosos, sendo que esse número foi constituído pela saturação das
informações relatadas por estes. Foram entrevistados (sete mulheres e um homem) sendo
um casal, três viúvas que moram com familiares e duas irmãs que sempre moraram juntas,
na faixa etária de 64 a 75 anos. A maior parte dos participantes são vizinhos devido o primeiro
participante residir em um bairro antigo da cidade de Montes Claros- MG e consequentemente indicarem os vizinhos para a participação.
Como requisito de participação fez se necessário que os entrevistados não tivessem
nem um tipo de comprometimento mental que o dificultasse nas respostas e que não estivesse institucionalizado ou enclausurado, pois a intenção deste estudo era investigar a solidão
em indivíduos que estavam em convívio direto com seu núcleo familiar.
Para escolha dos participantes foi utilizada a técnica de Snowball que funcionou da
seguinte maneira: o primeiro participante foi escolhido a partir do grupo de convivência dos
pesquisadores e este indicou outra pessoa que se enquadrava nos requisitos estabelecidos
e assim suscetivelmente. O instrumento utilizado para a entrevista foi o roteiro de entrevista
semiestruturada baseada em Fernandes 13 em seu trabalho intitulado “A Solidão nos Idosos
numa comunidade rural - Implicações para uma velhice bem-sucedida”.
A entrevista foi aplicada com o auxílio do aplicativo “dictate” que teve por objetivo gravar
por áudio e transcrever em formato de texto as perguntas abordadas pelo pesquisador e as
respostas dos entrevistados, sendo deletadas após sua transcrição, para a interpretação dos
dados foi realizada a análise do discurso a partir da base Fairclough, com o auxílio do software
“MAXQDA” utilizado para executar a codificação e categorização da discussão. O projeto foi
aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa da SOEBRAS, atendendo aos embasamentos da
resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) com parecer de número 3.573.122.
54
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Este estudo se propôs analisar, as formas pelas quais a solidão se apresenta na fase
idosa. Durante as entrevistas foi observado um certo receio ao falar sobre a solidão, após
essa percepção foram utilizadas técnicas de rapport, uma técnica que é bastante utilizada
em entrevistas psicológicas que consiste em criar uma ligação com o participante para que
este se sinta à vontade para responder as perguntas18. Foi realizada uma clarificação do
termo de consentimento livre e esclarecido, onde foi explicado que o seu pseudônimo de
pássaro seria utilizado para preservar sua identidade. Em função de alguns indivíduos abordados forem analfabetos e uma cega foi necessária a presença de um membro da família
para apresentação e assinatura do TCLE. Também se fez necessário que os pesquisadores
adequassem o seu vocabulário pois em alguns momentos apresentaram dificuldades na
compreensão da pergunta.
RESULTADOS
Os idosos entrevistados nesta pesquisa apontaram que o sentimento de solidão não
está presente nessa etapa de suas vidas. Apesar da hipótese inicial de que a solidão apareceria presente nessa fase em função de todas as mudanças próprias desse momento. Os entrevistados apontaram que fisicamente sentiram o impacto da idade, no entanto
o sentimento não é de estar velho, ainda acrescentam que o apoio da família e amigos é
primordial para o seu bem estar.
DISCUSSÃO
Após a transcrição das entrevistas, leitura exaustiva e discussão entre os pesquisadores para compreensão subjetiva de cada participante da pesquisa, foi feita uma análise
de discurso com o auxílio do software “MAXQDA” que nos permitiu codificar e dividir as
entrevistas em duas categorias, sendo estas citadas abaixo.
A FAMÍLIA COMO REDE DE APOIO SOCIAL PARA O IDOSO
A família na fase idosa torna-se a principal rede de apoio como também o grupo que o
indivíduo mais quer por perto, a demonstração de afeto, carinho, paciência e amor na vida do
idoso por parte dos familiares possibilita que ele se sinta amado levando a ter sensações de
bem estar, podendo promover o sentimento de felicidade e satisfação com a vida, isso proporciona maior aceitação as mudanças que surgem nesta etapa da vida (ARAUJO et al.2018).
Durante a análise das entrevistas identificou- se que a família e amigos são um suporte
essencial para que o sentimento de solidão não se faça presente. O almoço de domingo
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
55
em família, a visita dos filhos, as conversas com vizinhos, a ida a igreja, ocupam um lugar
de grande significado, o de “pertencimento”, essa participação da família contribui para que
não se sintam sozinhos.
Nos acervos literários e pesquisas sobre a solidão há várias contribuições que apontam
esse sentimento como frequente na fase idosa. Azeredo (2016), por exemplo afirmam que a
solidão se faz muito presente na adolescência e velhice e que o motivo pode ser consequência de diversos fatores que podem mudar de acordo com a subjetividade de cada sujeito.
Entretanto, os participantes relatam o contrário, que não compartilham desse sentimento e que a sua rede de apoio social fazem com que se sintam bem emocionalmente.
Identificou-se a importância desse suporte social durante a fala do Papagaio: “a família me
dá segurança de ter alguém que confio do lado”.
Neste contexto Sant’ Ana (2019) aponta o envelhecer precisa de um olhar especial
e cuidados para o indivíduo viver a melhor idade de forma satisfatória, porém isso não depende somente dele e sim da sua inserção coletiva e social que contribuem para o seu bem
estar15. Sobre isso Agopornis relata “Gosto muito de ter contato e mais com minha família.
Todo domingo eu faço almoço para todo mundo”.
Para Castilho (2015) na velhice, nem sempre ocorrem os investimentos necessários à
sustentação dos laços sociais: a capacidade de substituição encontra algo do limite, o isolamento predomina sobre a criação de novos laços e a dor prevalece. Por isso é importante
manter o vinculo estabelecido com a família e amigos, Canário relata “me relaciono muito
bem com minha família, eles são tudo, agora mesmo estou com minha irmã em casa, eles
me ajudam muito.”
Com a fala dos participantes foi possível perceber que mesmo quando há perdas de
entes queridos, a fase de luto e aceitação se torna menos complicada quando há esse
contato social. “Agopornis” quando questionada se já sentiu solidão em algum momento da
sua vida, respondeu: “Sim. Porque perdi a pessoa que eu amei na minha vida, só era eu e
meu esposo e eu perdi quando tinha 26 anos, fiquei só com meus 7 filhos, tive que trabalhar
muito, eu sinto muita falta dele até hoje, mas tenho meus filhos e meus netos que sempre
vem aqui isso me alegra.”
Para Azeredo (2016) A saúde e bem-estar do indivíduo dependem da homeostasia e
o equilíbrio que consegue estabelecer com o meio. A forma como vive sua vida pode também influenciar a “visão” que tem do mundo quando idoso, e a forma como interage com
ele, despertando ou não sentimentos de solidão . Na fala do papagaio é possível perceber
que o sistema familiar ocupa o lugar de apoio, ela relata “Bem, meus pais morreram novos,
aí fui morar com meus tios que não tinha filhos depois eles morreram e eu e minha irmã
56
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
sempre moramos juntas e convivemos bem”. Somos a companhia uma da outra...’’ na sua
fala percebe-se a importância da família para a contribuição do bem estar do sujeito.
AS MUDANÇAS FÍSICAS E SUA INFLUÊNCIA NO SENTIMENTO DE SE
SENTIR “VELHO”
De acordo com Fin (2015) O envelhecimento traz consigo uma serie de mudanças como
a presença de rugas, cabelos brancos, fragilidade e fraqueza sendo eles influenciadores
do sentimento de tristeza. As mudanças físicas são decorrentes na velhice e podem gerar
insatisfações principalmente nas mulheres, pois incluem aspectos relacionados a beleza,
que façam pensar na aparência e se sentir excluída, devido ao posicionamento do seu ciclo
social e cultural que elevam padrões de beleza. A perda daquele corpo ideal, da saúde, da
força que se tem na juventude é para a pessoa idosa um desafio, que dependendo da sua
situação torna-se muito difícil de ser aceito5. Foram apresentadas essas questões na fala
das participantes, a “Agopornis” diz: “eu até brincava que era muito bonita, eu falava eu sou
a mais bonita da família, ainda brinco com isso mas sei que não sou mais como antes”.
Cunha (2015) considera que os sentimentos negativos e de inadequações na fase idosa é percebido com maior frequência nas mulheres, pois com o avançar da idade a mulher
começa a ser vista como menos atrativa, já o homem na velhice é visto como experiente,
levando assim a mulher a uma baixa autoestima. Foi percebido nas falas das participantes
suas questões voltadas à beleza e com um participante homem foi relatado, que ele se sente
feliz com a velhice pela experiência que adquiriu.
As mudanças físicas podem gerar grandes sentimentos de inadequação na vida dos
idosos como aspectos estéticos e físicos. Foi identificado o impacto dessas mudanças físicas na fala do Agopornis que relatou “não gosto de olhar para meu corpo, as mudanças e
as manchas que aparece na pele” e na fala da Cacatua que diz “A dificuldade maior está
sendo a saúde, minhas pernas mesmo eu não tenho confiança de sair sozinha, tenho medo
de cair, e seu eu não achar ninguém para segurar? eu não consigo levantar sozinha.”
Durante esse relato foi possível perceber como as mudanças físicas e estéticas na
melhor idade são uma das causas mais preocupantes para os idosos, podendo gerar insatisfação e insegurança na vida que prejudiquem seu bem estar. Segundo Azeredo (2016)
“No idoso o corpo apresenta sinais visíveis do tempo, podendo, para alguns dos seus donos,
representar perdas muito significativas que podem favorecer seu isolamento e/ou solidão”.
Em uma das perguntas da entrevista os participantes foram questionados sobre qual
seria a maior dificuldade que ele tem sentido nessa etapa da vida, e o que mais prevaleceu
foram respostas que se referiam a saúde sendo citada como algo que mais entristecem
devido aos problemas que surgem. Esses aspectos foram vistos nas falas de “Calopsita ‘’
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
57
que diz: “A saúde não está muito boa’’, outra participante “Canário’’ também fala: “Não dar
conta de fazer tudo mais, não tenho mais a força de antes”.
Durante a entrevista também foi possível observar que os entrevistados não se reconhecem como velhos, entretanto sentem o peso da idade. Como no relato de Beija flor que
diz: “Não me sinto velho, o tempo é pouco” e Agopornis: “Não me sinto velho, a palavra velha
para mim é quando uma pessoa não está servindo mais...” Apesar de não se sentirem velhos há idade traz já bagagens de conceitos, essa aceitação pelos participantes é analisada
devido a participação da família e do contexto social como a Sant’ Ana (2019) apresentou.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa possibilitou compreender a percepção do idoso frente a solidão e velhice e também se mostrou relevante ao apresentar a importância dos vínculos sociais e
afetivos para o bem-estar emocional do idoso. Apesar de identificar uma saturação nas
respostas talvez se a pesquisa tivesse sido realizada com uma amostra maior de idosos
ou em um contexto institucionalizado poderia ter sido apontado por algum individuo esse
sentimento. Os relatos dos entrevistados evidenciaram a todo momento, como a família,
amigos, vizinhos e até a participação na igreja ou na vida dos netos são importantes para
que não sintam solidão.
Sobre a percepção do idoso em relação à velhice, foi possível perceber que embora
sintam o peso da idade e não consigam mais realizar as mesmas atividades que antes, o
sentimento não é o de ser velho, houve muitos relatos de que o maior incômodo dessa fase
é justamente as mudanças físicas e fisiológicas que se tornam incongruentes às atividades
e à rotina que eles gostariam de ter. Como fazer atividade física, andar e etc.
Portanto, é possível concluir que a fase idosa é de extrema importância e merece um
olhar mais atento às suas vulnerabilidades e necessidades, é necessário que cada vez mais
sejam criados meios de inclusão dessas pessoas para que esses se interajam socialmente,
tenham mais participação social e se sintam mais ativos para que assim tenham mais qualidade de vida e não venham a sentir em algum momento a solidão.
REFERÊNCIAS
1.
2.
58
ARAUJO, L. F.; CASTRO, J. L. C.; SANTOS, J. V. O. A família e sua relação com o idoso: Um
estudo de representações sociais. Psicol. pesq., Juiz de Fora , v. 12, n. 2, p. 14-23, jul. 2018 .
AZEREDO, A. S.; AFONSO. Z. N.; ALCINA. N. Solidão na perspectiva do idoso. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro, v.19, n.2, p.313-324, abr. 2016.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
3.
CASTILHO, G.; BASTOS, A. Sobre a velhice e lutos difíceis. Psicologia em Revista. Belo
Horizonte, v. 21, n. 1, p.1-14, abr. 2015.
4.
CAVALCANTI, K. F. et al. O olhar da pessoa idosa sobre a solidão. Artículo de Investigación.
Paraíba, v.34, n.3, p.259-267, 2016.
5.
CUNHA,R. P. A MULHER IDOSA NO BRASIL: percepções e expectativas de boas práticas
na promoção do bem estar promovidas pelo SESC em São Paulo. Artigo apresentado à
Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, como requisito para obtenção do título de Mestre em Gestão e Políticas Públicas. 2015.
6.
FERNANDES, A. E. J. A solidão nos idosos numa comunidade rural – Implicações para
uma velhice bem-sucedida. Dissertação (Mestrado em Enfermagem de Saúde Comunitária)
- Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Viana do Castelo. 2012.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
FIN, T. C. et al.Estética e expectativas sociais: o posicionamento da mulher idosa sobre os
recursos estéticos. São Paulo- SP. Revista Kairós Gerontologia. V. 18, n.4, p 133- 149. out./
dez. 2015.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Número de idosos cresce 18% em 5
anos e ultrapassa 30 milhões em 2017. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/
agencia-noticias/2012-agencia-de noticias/noticias/20980-numero-de-idosos-cresce-18-em-5-anos-e-ultrapassa-30 milhoes-em-2017. Acesso em: 21 de mai. de 2019.
KESKE, H.; SANTOS, E. R. O envelhecer digno como direito fundamental da vida humana.
Revista de Bioética y Decredo. Barcelona, n.45, p.163-178, fev. 2019.
LIMA, A. M. P.et al. Depressão em idosos: uma revisão sistemática da literatura. Revista de
Epidemiologia e Controle de Infecções, Santa Cruz, v.6, n.2, p. 96-103, abr. 2016.
LUZ, M. H. R. A; MIGUEL, I. Apoio social e solidão: Reflexos na população idosa em contexto
institucional e comunitário. Revista Portuguesa de Investigação Comportamental e Social,
Coimbra, Portugal, v.1, n.2, set. 2015.
MANSO, M. E. G; COMOSAKO, V. T; LOPES, R. G. C. Idosos e isolamento social: algumas
considerações. Revista portal de divulgação, n.58, p. 82- 86, out/dez. 2018.
MARI, F. R et al. O processo de envelhecimento e a saúde: o que pensam as pessoas de
meia-idade sobre o tema. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Rio Grande do
Sul, v.19, n.1, p. 35-44. 2016.
14.
NERI, A. L. VIEIRA, L. A. M. Envolvimento social e suporte social percebido na velhice. Revista brasileira de geriatria e gerontologia. Rio de Janeiro. v.16, n.3, p. 419-432, set., 2013.
15.
PANOSSO. E. F. et al. O idoso asilado e o sentimento de abandono. Revista Uningá.v. 27,
n. 1, nov. 2017.
16.
PINTO, F. N. Violência contra o idoso: Uma discussão sobre o papel do cuidador. RevitstaKairós: Gerontologia. V.19, n.2 p.107-119, abr. 2016.
17.
TAVARES, M. Considerações Preliminares à Condução de uma Avaliação Psicológica. Aval.
psicol., Itatiba , v. 11, n. 3, p. 321-334, dez. 2012
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
59
18.
19.
20.
21.
60
SANT’ ANA, L. A. J.; D’ELBOUX, M. J. Suporte social e expectativa de cuidado de idosos:
associação com variáveis socioeconômicas, saúde e funcionalidade. Saúde debate, Rio de
Janeiro , v. 43, n. 121, p. 503-519, abr. 2019 .
SILVA, D. A. M. Comunidades de vizinhança em Portugal e na França: lidando com o isolamento
social e a solidão dos idosos. Revista portal da divulgação, n. 49, p. 43- 65, jun./ago. 2016.
SILVA, G. S. R.et al. Visão do idoso sobre a morte. Revista Interdisciplinar. v. 11, n. 4, p.
30-41, out./dez. 2018.
SIMÕES, R.; MOURA, M. M.; WEY M, W. Esperando a morte: O corpo idoso institucionalizado.
Revista Polemica. v.16,n.3, p.046-061, ago. 2016.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
05
“
A vivência da sexualidade pela
mulher idosa
Anny Isabelly Medeiros de Góes
UEPB
Renata Ferreira de Araújo
UEPB
Daniela Laurentino Rodrigues
UEPB
Renata Marculino Sousa
UEPB
10.37885/201202387
RESUMO
Objetivo: Objetivou-se analisar as evidências científicas atuais centradas na vivência
da sexualidade pela mulher idosa. Métodos: Trata-se de uma revisão integrativa da
literatura, o levantamento da produção CIENTÍFICA realizou-se nas bases de dados:
CINAHL, LILACS, BDENF, SCIELO e SCOPUS. A amostra foi composta por sete produções científicas, todas com nível V de evidência e que atendiam aos critérios de inclusão
previamente estabelecidos. Resultados: O estudo permitiu a identificação e compreensão
de fatores como a presença do desejo sexual das mulheres idosas independentemente
do avançar da idade, a dificuldade existente de comunicação entre os idosos e os profissionais de saúde devido a existência de um preconceito próprio do indivíduo e do julgamento social direcionado a vivência da sexualidade pela mulher idosa. Considerações
finais: Os achados da pesquisa evidenciam a importância da sexualidade para as mulheres idosas, visto que muitas vezes a temática está relacionada a tabus da sociedade.
Deste modo, torna-se imprescindível que haja o respeito, a valorização e a discussão da
sexualidade na sociedade com o intuito de contribuir para o entendimento da sexualidade
da mulher idosa, permitindo que haja a expressividade de seus sentimentos e vivência
da sexualidade sem preconceitos e mitos.
Palavras-chave: Saúde do Idoso, Saúde Pública, Sexualidade, Mulheres.
INTRODUÇÃO
A diminuição do índice de fecundidade e de mortalidade gera um aumento da expectativa de vida e do número de pessoas idosas, ocasionando transformações demográficas
e epidemiológicas na sociedade. No Brasil, as mulheres compõem a maioria da população
idosa, com uma média de 5 a 8 anos a mais que os homens, o que evidencia o processo de
feminização do envelhecimento (ALMEIDA et al., 2015; SALES et al., 2016).
Observa-se que a feminização do envelhecimento é justificada pelo maior interesse
que as mulheres apresentam em cuidar da saúde, no entanto, considera-se que a qualidade
do envelhecimento feminino vem sendo comprometida pelas desigualdades e desvantagens
que as mesmas enfrentam nos ambientes em que convivem ao longo da vida, a exemplo
do familiar e profissional (CENTRO INTERNACIONAL DE LONGEVIDADE BRASIL, 2015;
CREMA et al., 2017)
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a sexualidade é um dos pilares
da qualidade de vida, sendo definida como a energia que motiva o ser a encontrar o amor,
englobando o toque, a intimidade e o sentimento (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE,
1974). A sexualidade distingue-se do sexo, o qual é retratado como uma das formas de expressão do homem, por ir além do ato sexual e influenciar outros aspectos como a saúde física
e mental do indivíduo (BERNARDO, CORTINA., 2012; SILVA et al., 2013; SILVA et al., 2019).
As discussões acerca da sexualidade da pessoa idosa ainda são comprometidas por
preconceitos e interdições, aliadas a concepção de que o idoso é assexuado e a super valorização do corpo jovem (CREMA et al., 2017). Mesmo que com o processo de envelhecimento
a idosa passe por mudanças físicas, psíquicas, bioquímicas e funcionais e que estas possam
influenciar na redução da atividade sexual, muitas ainda apresentam importante interesse
sexual com o avançar da idade, o que contesta o preconceito social (BASTOS et al., 2012).
Entende-se que a demonstração da sexualidade e feminilidade da mulher ocorre por
meio da corporeidade e alterações fisiológicas que ocorrem na velhice podem influenciar
nesta demonstração sexual, porém não significa que as tornem sem desejos ou incapazes
de sentir prazer. Com a ocorrência dessas mudanças na função sexual, as mulheres podem
ressignificar a expressão da sexualidade, com novas possibilidades (ALENCAR et al., 2014).
O preconceito social e a ignorância contribuem para que muitos profissionais de saúde,
familiares e o próprio individuo evitem a questão da sexualidade em idosos, o que conduz
a insatisfações sexuais devido à escassez de diálogo, informações e tratamento para possíveis diagnósticos que compliquem a pratica da sexualidade (ORTE-SOCIAS et al., 2015;
LAURENCIO-VALLINA et al., 2017).
De acordo com a importância da temática, o estudo justifica-se pelo brado da compreensão a respeito da vivência da sexualidade da mulher pela sociedade e pelos profissionais de
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
63
saúde, de forma a contribuir para uma melhor qualidade de vida e envelhecimento saudável
da mulher idosa.
OBJETIVO
O estudo objetivou analisar as evidências científicas atuais centradas na vivência da
sexualidade pela mulher idosa, bem como os pontos que englobam esta vivência.
MÉTODOS
Este estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura, que tem por objetivo reunir e sintetizar resultados de pesquisas sobre um determinado tema ou questão, de forma
sistemática e ordenada, possibilitando a análise ampla da literatura e aprofundamento do
conhecimento sobre o tema investigado (MENDES et al., 2008; SOUZA et al., 2010).
A questão norteadora desta revisão baseia-se em: “Como a sexualidade é vivenciada
pela mulher idosa?”
O levantamento da produção científica realizou-se no mês de outubro de 2020, através
das bases de dados: Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL),
Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Base de Dados
em Enfermagem (BDENF), Scientific Eletronic Library Online (SCIELO) e SCOPUS. Para os
cruzamentos utilizou- se os descritores do Medical Subject Headings (MeSH) e Descritores
em Ciências da Saúde (DeCS): “Sexualidade”, “Mulheres” e “Saúde do Idoso”, nos idiomas
português, inglês e espanhol, cruzados pelo operador booleano AND.
Os critérios de inclusão foram: estudos em formato de artigo que respondem à questão
norteadora e artigos publicados nos últimos cinco anos, em língua portuguesa, inglesa ou
espanhola. Como critérios de exclusão, obteve-se: quaisquer outros tipos de estudos que
não seja em formato de artigo científico; tais como artigo em jornais, resumos de congresso,
editoriais, teses, dissertações e toda a literatura cinzenta.
A classificação do nível de evidência dos artigos selecionados foi determinada da seguinte forma: I. Evidência a partir de revisão sistemática ou meta-análise de todos os ensaios
clínicos randomizados relevantes; II. Evidência a partir de ensaios clínicos randomizados bem
desenhados; III. Evidência a partir de ensaios clínicos não randomizados bem desenhados;
VI. Evidência a partir de estudos de coorte e caso-controle bem desenhados; V. Evidência
a partir de revisões sistêmicas de estudos descritivos e qualitativos; VI. Evidência a partir de
opinião de autoridades e/ou relatório de comitês experientes (MELNYK, 2011).
64
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Figura 1. Fluxograma com a distribuição dos artigos encontrados e selecionados nas bases de dados. Brasil, 2020.
Fonte: Dados da pesquisa, 2020.
RESULTADOS
Os sete artigos selecionados para o estudo apresentam nível cinco de evidência,
atendendo aos critérios de inclusão antecedentemente estabelecidos. Além disso, foram
analisados por meio de uma abordagem organizada e sistematizada para ponderar o rigor
e as características de cada estudo, observando-se o desenvolvimento metodológico, resultados e conclusão.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
65
Quadro 1. Caracterização dos artigos incluídos de acordo com ano, país do estudo, título, citação, periódico, tipo de
estudo, nível de evidência, objetivos e principais resultados. Brasil, 2020.
Estudo
1
2
3
4
66
Ano/Pais
2018/ Brasil
2019/
Colômbia
2019/
Argentina
2019/ Brasil
Título/Primeiro Autor/
Periódicos
O Percurso educativo
dialógico como estratégia de cuidado em
sexualidade com idosas/
RODRIGUES et al/ Escola
Anna Nery
Atitudes das idosas
quanto à expressão da
sua sexualidade/ SILVA et
al/ Aquichan
Enquanto houver vida,
haverá tudo: um olhar
sobre a sexualidade dos
idosos/ GHIDARA et al/
Evidência Actualización
en la Práctica Ambulatoria
Análise do comportamento sexual de idosas
atendidas em um ambulatório de ginecologia/
RODRIGUES et al/ Revista
Brasileira de Geriatria e
Gerontologia
Tipo de
Estudo/ Nível de Evidência
Objetivos
Principais Resultados
Desvelar o crítico
mediado por um
percurso cuidativoeducativo dialógico
em sexualidade com
mulheres idosas
As mulheres entrevistadas
tinham idade de 66 a 74 anos.
Das 15 participantes, 10 revelaram ter vida sexualmente
ativa. Inferiu-se que as idosas
possuem dificuldade para
conceituar e entender a sexualidade, estando envolvidas
por preconceitos sociais
Identificar as atitudes
que as idosas têm a
respeito da sua sexualidade
A população do estudo foi
composta por 19 idosas entre
60 e 85 anos de idade. A
maioria delas não apresentou
mudanças significativas que
interferissem a expressão da
sexualidade após os 60 anos.
Os obstáculos relatados para a
expressão da sexualidade foram: ausência de um parceiro
fixo e desconforto para falar
sobre o assunto
Estudo qualitativo fenomenológico/ Nível V
Entender a vivência
da sexualidade pelo
adulto maior
Os idosos vêm a sexualidade
como um fator que pode ser
influenciado pela personalidade, história de vida de cada
indivíduo, preconceitos próprios e estereótipos familiares
e sociais. Além disso, citam
a limitação de compartilhar
a vivência sexual com os
profissionais de saúde devido
a vergonha que sentem.
Alguns após a vivência de
experiencias conjugais dolorosas, se negam a vivenciar a
sexualidade e outros apesar
da experiência negativa, se
permitem viver a sexualidade
Estudo qualitativo,
transversal e exploratório/ Nível V
Analisar o comportamento sexual de
pacientes idosas
atendidas em um
ambulatório de ginecologia, no período
de um ano, estimando a proporção das
sexualmente ativas,
das que possuem
interesse sexual e das
que consideram o
sexo importante para
a qualidade de vida
Observou-se que a maioria
das idosas do estudo (74,0%)
são sexualmente inativas, mas
que 40,5% destas gostariam
de mudar essa realidade.
Constatou-se que o desejo
sexual permanece com o
avançar da idade, diferentemente do que se imaginava,
em vista do tabu em torno da
sexualidade da mulher idosa.
As dificuldades relatadas para
a prática sexual das idosas
foram o uso de medicamentos
e a impotência sexual dos
parceiros
Estudo qualitativo e
participativo/ Nível V
Estudo qualitativo, descritivo e exploratório/
Nível V
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Estudo
5
6
7
Ano/Pais
2019/ Brasil
2018/ Brasil
2018/ Brasil
Título/Primeiro Autor/
Periódicos
Concepção de mulheres
idosas sobre a sexualidade na velhice/ SANTOS et
al/ Revista de Enfermagem, UFPE On Line
Envelhecimento, sexualidade e cuidados de
enfermagem: o olhar da
mulher idosa/ SOUZA et
al/ Revista Brasileira de
Enfermagem, REBEn
Compreensão da sexualidade por idosas de
área rural/ CABRAL et
al/ Revista Brasileira de
Enfermagem, REBEn
Tipo de
Estudo/ Nível de Evidência
Estudo qualitativo e
descritivo/ Nível V
Estudo qualitativo, descritivo e exploratório/
Nível V
Estudo qualitativo/
Nível V
Objetivos
Principais Resultados
Analisar a concepção
de mulheres idosas
sobre a sexualidade
na velhice
A amostra do estudo foi
composta por dez mulheres
idosas, sendo cinco casadas
e com idade de 60 a 71 anos.
As idosas afirmam que houve
uma maior liberdade para
falar de sexualidade com os
familiares, quebrando alguns
tabus e destacam a importância do carinho, companheirismo, compreensão e amor
entre o casal como fatores
importantes para a manutenção da sexualidade
Analisar a percepção
da mulher idosa
sobre sexualidade e
a prática do cuidado
de enfermagem nesse
contexto
Compreender o significado da sexualidade
por idosas que vivem
em área rural
Inferiu-se que as idosas se
sentem reprimidas e julgadas
pela sociedade ao falarem de
sexualidade. Deste modo, os
problemas que mais interferem na qualidade da sexualidade das idosas são a falta
de informação, a vergonha e
o preconceito delas mesmas
em relação a idade, o que
dificulta a comunicação com
os profissionais de saúde
Para a maioria das mulheres a
compreensão da sexualidade
está embasada na ideia da
prática sexual, companheirismo, carinho e amizade.
Pontos estes apontados como
pilares para a manutenção
da sexualidade entre o casal.
Citou-se a emergência da
idade cronológica, receio de
ter novos relacionamentos e
problemas de saúde como
empecilhos para a prática da
sexualidade das idosas
Fonte: Dados da pesquisa, 2020.
Os estudos incluídos na pesquisa, a maioria foram realizados no Brasil, além de um
estudo da Argentina e outro da Colômbia, aspecto positivo para o Brasil em que demostra
a preocupação com a temática da sexualidade da mulher idosa. Além disso, os anos dos
estudos são recentes, publicados nos últimos dois anos: quatro do ano de 2019 e três de
2018, evidenciando achados recentes para a contribuição cientfica.
DISCUSSÃO
O estudo permitiu a identificação e compreensão de fatores como a presença do desejo sexual das mulheres idosas independentemente do avançar da idade, a dificuldade
existente de comunicação entre os idosos e os profissionais de saúde devido a existência
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
67
de um preconceito próprio do indivíduo e do julgamento social direcionado a vivência da
sexualidade pela mulher idosa.
Para que haja uma compreensão da sexualidade da pessoa idosa, faz-se necessário
considerar fatores como cultura, educação e o meio social em que está inserido (ALENCAR
et al., 2016). RODRIGUES et al., 2018 em seu estudo aponta que as idosas têm a sexualidade como um elemento fundamental para a boa qualidade de vida na velhice, acreditando
que não há idade para o fim das relações sexuais.
O processo de envelhecimento é influenciado por fatores que afetam o comportamento
sexual das mulheres idosas, sendo eles: biofisiológicos, psicológicos, culturais, educacionais
e da relação conjugal (VIEIRA et al., 2014). Com o surgimento das doenças e consequente
uso de medicações pelas idosas compreende-se que pode ocorrer uma redução na prática
sexual, porém o atual aumento da expectativa de vida e aporte da medicina tem facilitado o
tratamento para possíveis alterações que dificultem a prática sexual (HUGHES; ROSTANT;
PELON, 2015). As dificuldades que mais interferem na qualidade da sexualidade das idosas
são a falta de informação, a vergonha e o preconceito delas mesmas e da sociedade em
relação à idade e a vivência da sexualidade, o que dificulta a comunicação eficiente entre
elas e os profissionais de saúde (MENDONÇA; INGOLD, 2006).
O inadequado juízo da sociedade sobre a sexualidade da pessoa idosa, influencia na
não demonstração de seu interesse sexual na velhice (SOUZA et al., 2015). Fazendo-se
necessário a compreensão da sociedade e dos profissionais de saúde sobre a realidade de
que os sentimentos, o desejo sexual, a demonstração de carinho, afeto e capacidade de
amar não terminam com o envelhecer (MACHADO, 2014).
A escassez de estudos sobre a sexualidade da pessoa idosa se deve a omissão da
sexualidade dos idosos pelo próprio individuo, profissionais de saúde e a sociedade no
geral (SILVA et al.,2019). Desse modo, essa área da pesquisa necessita de um olhar mais
emergente e sensibilizado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os achados da pesquisa evidenciam a importância da sexualidade para as mulheres
idosas, visto que muitas vezes a temática está relacionada a tabus da sociedade, havendo
uma infantilização dos idosos. Além disso, com a expectativa de vida aumentando o processo
de envelhecimento saudável é uma prioridade, assim, a terceira idade não é sinônimo de
doença e sim de uma nova etapa, a qual deve ser experimentada com alegria, vigor e prazer.
A compreensão das atitudes dos idosos acerca da sexualidade é fundamental para que
se possa proferir novas propostas de intervenções junto a esse grupo populacional (ALENCAR
et al., 2014). Deste modo, torna-se imprescindível que haja o respeito, a valorização e a
68
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
discussão da sexualidade na sociedade com o intuito de contribuir para o entendimento da
sexualidade da mulher idosa, permitindo que haja a expressividade de seus sentimentos e
vivência da sexualidade livre de preconceitos, mitos, tabus e contribuindo para um aumento
da autoestima, confiança e melhor qualidade de vida das mulheres idosas.
REFERÊNCIAS
1.
2.
3.
ALENCAR, D. L. et al. Fatores que interferem na sexualidade de idosos: uma revisão integrativa.
Cienc Saude Coletiva. v.19, n.8, pp.3533-3542, 2014. Disponível em: https://www.scielosp.
org/article/csc/2014.v19n8/3533-3542/. Acesso em: 01 dez. 2020.
ALENCAR, D. L. et al. Exercício da sexualidade em pessoas idosas e os fatores relacionados.
Rev Bras Geriatr Gerontol. v.19, n.5, pp.861-869, 2016. Disponível em: https://www.scielosp.
org/article/csc/2014.v19n8/3533-3542/. Acesso em: 28 nov. 2020.
ALMEIDA, A. V., MAFRA, S. C. T., SILVA, E. P., KANSO, S. A Feminização da velhice: em
foco as características socioeconômicas, pessoais e familiares das idosas e o risco social.
Texto&Contexto. v.14, n.1, pp.115-131, 2018. Disponível em: https://www.scielosp.org/article/
csc/2014.v19n8/3533-3542/. Acesso em: 28 nov. 2020.
4.
BASTOS, C.C. et al. Importância atribuída ao sexo por idosos do município de Porto Alegre e associação com a autopercepção de saúde e o sentimento de felicidade. Rev Bras Geriatr Gerontol. v.15, n.1, pp.87- 95, 2012. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/4038/403838795010.
pdf. Aceso em: 27 nov. 2020.
5.
BERNARDO, R., CORTINA, I. Sexualidade na terceira idade. Rev enferm UNISA. v.13, n.1,
pp.74-78, 2012. Disponível em: http://www.unisa.br/graduacao/biologicas/enfer/revista/arquivos/2012-1-13.pdf. Acesso em: 27 nov. 2020.
6.
CENTRO INTERNACIONAL DE LONGEVIDADE. Envelhecimento Ativo: Um marco político em resposta a revolução da longevidade. Rio de Janeiro, 2015. Disponível em: http://
ilcbrazil.org/portugues/wp-content/uploads/sites/4/2015/12/Envelhecimento-Ativo-Um-MarcoPol%C3%ADtico-ILC-Brasil_web.pdf. Acesso em: 28 nov. 2020.
7.
8.
9.
10.
CREMA, I. L., TILIO, R., CAMPOS, M. T. A. Repercussões da menopausa para a sexualidade
de idosas: Revisão Integrativa da Literatura. Psicol cienc Prof. v.37, n.3, pp. 753-769, 2017.
Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-98932017000300753&script=sci_arttext. Acesso em: 28 nov. 2020.
HUGHES, A. K., ROSTANT, O. S., PELON, S. Problemas sexuais entre mulheres mais velhas
por idade e raça. J Womens Health. v.24, pp.663-669, 2015.
LAURENCIO-VALLINA, S. C., JIMÉNEZ-BETANCOURT, E., SÁNCHEZ-MASÓ, Y. Experiências afetivas e fatores condicionantes em idosos sem relação de parceiro. MEDISAN. v.21,
n.1, pp.102, 2017.
MACHADO D. J. C. Quem foi que disse que na terceira idade não se faz sexo? Fragmentos de
Cultura. Rev Interdisciplinar de Ciências Humanas. v.24, n.11, p. 4, 2014. Disponível em:
http://seer.pucgoias.edu.br/index.php/fragmentos/article/view/3573. Acesso em: 01 dez. 2020.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
69
11.
12.
13.
MENDONCA, A. M. L., INGOLD, M. A sexualidade da mulher na terceira idade. Ensaios Cienc.
v.10, n.3, pp.201-213, 2006. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/260/26012809020.
pdf. Acesso em: 27 nov. 2020.
ORTE-SOCIAS, C., VIVES-BARCELÓ, M. YDIA, Sánchez-Prieto. GAZQUE, J. J. et al. Amor
e sexualidade na velhice. A história contada por seus protagonistas. Investigação em saúde
e envelhecimento. v.2, pp.127-133, 2015.
14.
SALES, J. C. S., JÚNIOR, F. J. G. S., VIEIRA, C. P. B., FIGUEIREDO, M. L. F., LUZ, M. H.
B. A., MONTEIRO, C. F. S. Feminização da Velhice e sua interface com a depressão: revisão
integrativa. Revista de Enfermagem UFPE On Line. v.10, n.5, pp.1840-1846, 2016. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/bde-29670. Acesso em: 01 dez. 2020.
15.
SILVA, L. A. N., OLIVEIRA, A. A. V. Idosos, Sexualidade e doenças sexualmente transmissíveis:
revisão integrativa da literatura. Rev Divulgação Científica Sena Aires. v.2, n.2, pp.197-206,
2013. Disponível em: http://revistafacesa.senaaires.com.br/index.php/revisa/article/view/106.
Acesso em: 28 nov, 2020.
16.
SILVA, F. G., PELZER, M. T. NEUTZLING, B. R. S. Atitudes das idosas quanto à expressão da
sua sexualidade. Aquichan. v.19, n.3, 2019. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/servlet/
articulo?codigo=7071182. Acesso em: 01 dez. 2020.
17.
18.
70
MELNYK, B. M., FINEOUT-OVERHOLT, E. Making the case for evidence-based practice. In:
Melnyk BM, Fineout-Overholt E, (eds). Evidence based practice in nursing & healthcare: a
guide to best practice. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2011.
SOUZA, M., MARCON, S. S., BUENO, S. M. V., CARREIRA, L., BALDISSERA, V. D. A. A
vivência da sexualidade por idosas viúvas e suas percepções quanto a opinião dos familiares
a respeito. Saude Soc. v.24, n.3, pp.936-944, 2015. Disponível em: https://www.scielosp.org/
article/sausoc/2015.v24n3/936-944/pt/ . Acesso em: 27 nov. 2020.
VIEIRA, S. et al. A vivência da sexualidade saudável nos idosos: o contributo do enfermeiro.
Rev Cienc Saude. v.6, pp.35-45, 2014. Disponível em: https://www.researchgate.net/profile/
Jose_Vilelas/publication/271852653_The_experience_of_healthy_sexu ality_in_the_elderly_The_nurse_contribution/links/54d525490cf246475807014e.pdf. Acesso em: 01 dez. 2020.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
06
“
A vulnerabilidade psicossocial da
pessoa idosa frente às situações
de emergências e desastres
Diana Maria da Silva Sousa
UNICAP
Ubiracelma Carneiro da Cunha
UNICAP
Thaís Afonso Andrade
UNICAP
10.37885/201202393
RESUMO
No mundo tem sido evidente o aumento significativo da população idosa, assim, no âmbito
das práticas profissionais e políticas públicas, amplia-se a necessidade de desenvolver
ações que atendam as demandas específicas dessa geração. Sendo assim, é preciso
conceber o envelhecimento como um processo de desenvolvimento contínuo e singular.
Dessa forma, este estudo tem como objetivo compreender os programas e políticas públicas voltadas para a população idosa em situações de desastres e emergências. Para
isso utilizou-se de uma pesquisa de natureza qualitativa de caráter bibliográfico a partir
de uma análise do que já foi produzido sobre este tema em livros e artigos científicos.
Foi verificado que os estudos acerca dessa temática são escassos, dessa forma, com
o crescente aumento da população idosa, amplia-se a necessidade de realizar um planejamento de ações direcionadas para os âmbitos mais vulneráveis para a proteção da
vida e garantia dos direitos dos idosos.
Palavras-chave: Idosos, Desastres, Emergências, Políticas Públicas.
INTRODUÇÃO
O aumento significativo da população idosa, somado a diminuição das taxas de fecundidade e ao desenvolvimento tecnológico e terapêutico de tratamentos de doenças, produziu
efeitos na estrutura etária da população (CIOSAK et al., 2011). Assim, é inegável que a
longevidade constitui um triunfo, entretanto, existem diferenças desse fenômeno entre os
países desenvolvidos e os países em desenvolvimento. Se nos países desenvolvidos o envelhecimento populacional cresceu interligado com melhorias nas condições gerais de vida,
nos outros, esse fenômeno ocorreu rapidamente, sem que houvesse uma replanejamento
social que viabilizasse atender às novas demandas (BRASIL, 2007).
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), estima-se que até 2025 o Brasil
será o sexto país do mundo com maior número de idosos. Este fenômeno revela uma conquista da humanidade e ao mesmo tempo consiste em um dos grandes desafios (OPAS,
2005). Dessa forma, amplia-se a necessidade de realização de estudos e desenvolvimento
de ações que considerem as demandas sociais relacionadas a essa geração (SILVA, 2009).
Dados recentes na “Síntese de Indicadores Sociais” (IBGE, 2013), mostram algumas
características mais predominantes das pessoas de 60 anos ou mais, como: 59,1% são
aposentadas, 43,5% possuem renda domiciliar per capita de até um salário mínimo, 34,6%
possuem de quatro a oito anos de estudo, 64,2% são pessoas de referência do domicílio,
54,4% são da cor/raça branca e 55,7% são mulheres. Sendo as regiões Sudeste e Sul consideradas as mais envelhecidas do país, possuindo, em 2014, um contingente de idosos de
15,2% e 15,1% respectivamente (IBGE, 2015).
Em vista de uma estrutura de desigualdade social presente nas territorialidades, alguns
grupos sociais apresentam-se mais vulneráveis do que outros em situações de emergências e desastres, como o grupo de pessoas idosas. Entretanto, no Brasil, são poucas as
pesquisas, políticas e ações institucionais voltadas para a população idosa no contexto de
desastres (VIANA, 2015).
Entende-se por desastres os resultados de eventos adversos, naturais ou provocados pelas pessoas sobre um ecossistema vulnerável, causando danos humanos, materiais
ou ambientais e consequentemente prejuízos econômicos e sociais. Já emergências são
situações anormais, provocadas por desastres, causando danos e prejuízos que resultam
no comprometimento parcial da capacidade de resposta do poder público do ente atingido (BRASIL, 1998).
No ano de 2015, no Brasil, houve 2.511 decretos municipais de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP) reconhecidas por portarias da Secretaria
Nacional de Defesa Civil (SEDEC) do Ministério da Integração Nacional (MI). De acordo
com o Glossário de Defesa Civil de Riscos e Medicina de Desastres (1998), existem várias
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
73
situações em que as vítimas de desastres são expostas, sendo considerado quatro tipos
principais: desabrigamento, desalojamento, desaparecimento e morte.
Dessa forma, o planejamento de ações direcionadas para os âmbitos mais vulneráveis torna- se essencial para a proteção da vida e garantia dos direitos dessas pessoas.
Segundo a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (CONPDEC) é necessário “propor
procedimentos para atendimento a crianças, adolescentes, gestantes, idosos e pessoas
com deficiência em situação de desastre”.
OBJETIVO
Compreender os programas e políticas públicas voltadas para a população idosa em
situações de desastres e emergências
MÉTODO
Trata-se de um estudo qualitativo de natureza bibliográfica que, segundo Fonseca (2002,
p. 32) consiste em um “levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por
meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos”.
O levantamento dos artigos científicos foi efetuado através da base de dados “Scielo”
e “BVS Brasil”. Para a busca do material, foram utilizados os descritores: “idosos”, “emergências”, “desastres” e “políticas públicas”. Como suporte para a construção deste estudo,
também foram utilizados livros que contemplaram a temática.
Cabe ressaltar que não houve necessidade de submissão ao Comitê de Ética em
Pesquisa, por se tratar de um relato de experiência com uma proposta de contribuição a
partir da prática profissional.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Aspectos Psicossociais do Envelhecimento
De acordo com Schneider e Irigaray (2008), a idade social consiste no exercício de
papéis ou experiências atribuídas à pessoa da mesma idade, constituindo-se de hábitos e
status social de acordo com a cultura e grupo social aos quais está inserida. Portanto, uma
pessoa pode ser considerada mais velha ou mais nova decorrente de como se configura o
seu comportamento dentro da classificação social do ambiente em que vive.
Em relação ao aludido pressuposto, os antropólogos compreendem que a idade é
uma construção social. Minayo e Coimbra Jr. (2002) apontam que o processo biológico traz
74
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
mudanças reais que podem ser vistas através de sinais do corpo e, ao mesmo tempo, é constituído e elaborado simbolicamente por rituais que demarcam as fronteiras etárias. Em vista
disso, os autores afirmam que esse processo não é igual em todas as sociedades, pois, em
momentos históricos distintos, concedem uma significação específica às etapas do ciclo da
vida, atribuindo papéis e funções.
Para Bosi (2004), o processo de envelhecer abrange uma categoria social. Nesse
sentido, em uma sociedade capitalista, de valorização da produção e do trabalho, o idoso
encontra-se excluído, já que não faz mais parte da rede de trabalho. Essa perspectiva é
importante para compreender a visão de pessoa, de família e sociedade que constitui a
subjetividade de cada idoso. Para a referida autora, é preciso conceber o envelhecimento
como um processo de desenvolvimento contínuo e singular.
As novas imagens do envelhecimento apresentam transformações sociais que reconstroem identidades, ocasionando uma rediscussão sobre as categorias de família e envelhecimento no contexto da dependência/interdependência geracional (PACHECO; ALVES,
2012). As autoras ainda salientam que essas mudanças sociais da família contemporânea
influenciam na redefinição dos relacionamentos familiares, modificando o dia a dia dos vínculos internos e trazendo uma nova figura do idoso, ou seja, rearranjos de papéis e funções
que refletiram no contexto da pessoa idosa.
Guerra e Caldas (2010) apontam que, na maioria das vezes, o olhar preconceituoso sobre o envelhecimento provém da escassez de informações acerca desse processo,
ocasionando a construção de significados e imagens negativas que afetam a vivência e a
relação entre as pessoas. Esta significação do processo de envelhecimento gera uma imagem preconcebida que pode ou não levar à exclusão, influenciando o modo como o idoso
é valorizado na comunidade.
Socialmente, pode-se inferir que a pessoa é definida como idosa a partir do
momento em que deixa o mercado de trabalho, isto é, quando se aposenta e
deixa de ser economicamente ativa. A sociedade atribui aos aposentados o
rótulo de improdutivos e inativos. Com a aposentadoria, muitas vezes se percebe um rompimento abrupto das relações sociais com outras pessoas com as
quais o indivíduo conviveu durante muitos anos. Ocorreu ainda, uma redução
salarial considerável e a falta de atividades alternativas fora do ambiente de
trabalho (SCHNEIDER; IRIGARAY, 2008, p. 590-591).
A aposentadoria tem como objetivo a garantia dos direitos dos idosos, assim como
sua inserção na sociedade democrática brasileira, porém, em muitas situações, este direito, é insuficiente no provimento das necessidades do idoso, principalmente nos casos em
que o envelhecer vem acompanhado de incapacidades e patologias, demandando uma
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
75
maior atenção formal (Estado, sociedade civil) e informal (família) (MENDES; GUSMÃO;
FARO; LEITE, 2005).
Ainda segundo os autores, em muitas famílias a aposentadoria passa a ser a única fonte
de renda da família, essa questão somada ao desenvolvimento tecnológico e incapacidades,
associadas a patologias crônicas e/ou agudas, fazendo com que o idoso se sinta diminuído
quanto ao seu status social, principalmente quanto as suas experiências, habilidades e conhecimentos, contribuindo para o desempoderamento desses idosos. É neste sentido que
se faz necessária a criação e execução de políticas públicas especiais para esta população.
Políticas Públicas e os Direitos dos Idosos
Por meio dos estudos sobre essa temática percebe-se que o aumento da expectativa
de vida acaba por gerar uma “pressão nos sistemas de previdência social” (FERNANDES;
SANTOS, 2007, p.49) a chamada “bomba-relógio da aposentadoria”.
Para Fernandes e Santos (2007, p. 51) “o termo política diz respeito a um conjunto
de objetivos que informam determinado programa de ação governamental e condicionam
sua execução”. Porém, apesar da redemocratização em curso no país, principalmente com
a promulgação da Constituição cidadã em 1988, é possível verificar várias desigualdades
sociais vividas principalmente pelos idosos. Cabe ressaltar ainda, que a constituição de
1988, foi a primeira “a versar sobre a proteção jurídica ao idoso, a qual impõe à família, à
sociedade e ao Estado o dever de amparar os idosos” (UVO; ZANATA, 2005 citados por
FERNANDES; SANTOS, 2007, p.53).
Esses processos permitem que sejam trazidas para pauta questões referentes à cultura
com o intuito de favorecer uma nova forma de pensar e agir no processo de envelhecimento, sendo assim, influenciando as políticas públicas e os direitos dos idosos. Direitos estes,
que foram assegurados na Constituição Federal de 1988 foram regulamentados através
da Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS (Lei nº 8.742/93), entre estes direitos está o
Benefício de Prestação Continuada – BPC.
A Política Nacional do Idoso, que foi instituída pela Lei 8.842/94 e regulamentada em
03 de junho de 1996, baseia-se em cinco princípios que apresentados por Fernandes e
Santos (2007, p. 56):
A família, a sociedade e o Estado têm o dever de assegurar ao idoso todos os
direitos da cidadania, garantindo sua participação na comunidade, defendendo
sua dignidade, bem- estar e o direito à vida; O processo de envelhecimento
diz respeito à sociedade em geral, devendo ser objetivo de conhecimento e
informação para todos; O idoso não deve sofrer discriminação de qualquer
natureza; O idoso de ser o principal agente e o destinatário das transformações
a serem efetivadas através dessa política; As diferenças econômicas, sociais,
regionais e, particularmente, as contradições entre o meio rural e o urbano do
76
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Brasil deverão ser observadas pelos poderes públicos e pela sociedade em
geral na aplicação da lei.
Estes princípios, além de pautar as políticas do direito, permitem uma emancipação,
empoderamento do idoso. Atualmente, o Estatuto do Idoso, criado pela Lei 10.741 de 01 de
outubro de 2003, representa um marco legal para a consciência idosa no país, elencando
novos direitos e estabelecendo normas protetivas ao idoso como prioridade absoluta, assim como estabelece mecanismos específicos de proteção em todos os aspectos, física,
psíquica e moral.
No artigo 3º do Estatuto do Idoso são apresentados os principais direitos dos idosos,
assim como a quem cabe a garantia destes:
É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do poder público
assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho,
à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e
comunitária.
Desta forma, o envelhecimento passa a ser visto não só como uma fase de perdas
sociais, intelectuais e físicas, mas também apresenta seus ganhos, principalmente a partir
do ambiente e estilo de vida do idoso ao longo de seu desenvolvimento.
A Vulnerabilidade do Idoso em Situações de Desastres
A Lei 12.608 de 10 de abril de 2012 – Política Nacional de Proteção e Defesa Civil
(PNPDEC) e o Glossário de Defesa Civil (1998) consideram como grupo vulnerável: crianças, gestantes, idosos e pessoas com deficiência. Dentro destes, o idoso apresenta maior
fragilidade em situações de emergência, devido a múltiplos fatores decorrentes tanto do
processo de envelhecimento, quanto das enfermidades, deficiências e habitação em áreas
de risco, já que estas situações comprometem a percepção de risco, o estado de alerta,
atenção, agilidade e mobilidade dificultam ou impedem as respostas nesta situação. Sendo
assim, algumas variáveis aumentam a vulnerabilidade do idoso.
Para Bodstein, Lima e Barros (2014) no processo natural de envelhecimento ocorre o
declínio da capacidade funcional, sendo assim, gradativamente são reduzidas a percepção
de risco, estado de alerta, aumentado a vulnerabilidade do idoso, assim como, as chances
de ser vitimado em uma situação de desastre.
Outro ponto que deve ser ressaltado, e que agrava ainda mais o declínio funcional do
idoso, são as consequências dos acidentes domésticos e nos espaços públicos, fazendo com
que aumente ainda mais a vulnerabilidade do idoso em situações de desastres, já que tais
consequências podem comprometer a mobilidade e agilidade que são necessárias nestas
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
77
situações. E, ainda, em muitos casos acabam por dificultar a própria reação e o resgate e
salvamento por parte dos profissionais (BODSTEIN; LIMA; BARROS, 2014).
Nesse contexto, Viana e Valencio (2015), acrescentam que existem três dimensões:
objetivas, simbólicas e interpessoais. Sendo a dimensão objetiva a de perdas de bens
materiais e entes queridos; a dimensão simbólica representa as significações individuais
e coletivas; e a dimensão interpessoal envolve a rede se suporte social, formal e informal.
Na tentativa de compreender o desastre na perspectiva dos idosos colocam-se em destaque as dimensões sociais de fragilização a partir de uma mudança radical no seu cotidiano
e no espaço físico, bem como nas relações com a comunidade e consigo mesmo. Nesse
sentido, ocorre uma descaracterização do local onde ocorreram diversas histórias individuais,
de família e comunitárias. Com isso o idoso sente seus fragmentos materiais e memórias
individuais e coletivas serem “destruídas”, que em muitos casos de desastres acabam por
resultar em afastamento e até “esquecimento” daquele espaço (VIANA; VALENCIO, 2015).
Dessa maneira, a casa é semelhante a um ninho, pois possui diversos significados,
entre eles simbólicos, intersubjetivos e práticos, e sua construção dá-se não apenas de forma
material, mas principalmente subjetiva, na medida em que são experienciadas situações
únicas ao longo da construção histórica pessoal e coletiva e de desenvolvimento. (VIANA;
VALENCIO, 2015).
É neste contexto que os autores Bodstein, Lima e Barros (2014, p.161) afirmam que “a
sociedade precisará repensar o lugar dos idosos nas cidades, em termos de infraestrutura
e serviços capazes de atender à demanda dessa população”. Sendo assim, é necessário
que além das preocupações com as condições do espaço público, seja necessário também
uma nova arquitetura de imóveis, do espaço domésticos instrumentos de lazer e esporte,
que sejam compatíveis com as necessidades e capacidades dos idosos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do levantamento bibliográfico proposto neste estudo, pode-se constatar que, no
Brasil, há uma escassez de estudos voltados para a situação da pessoa idosa no âmbito dos
desastres e emergências. Foi visto que o envelhecimento é considerado como um processo
natural e gradativo, no qual os contextos sociais, culturais, econômicos e ambientais podem
qualificar ou prejudicar esse processo. Dessa forma, essa etapa da vida caracterizada como
velhice, possui suas especificidades, sendo necessário que seja compreendida através da
sua relação com os diferentes aspectos cronológicos, biológicos, funcionais, psicológicos e
sociais; e considerando as diferentes situações no qual são expostos.
Diante do aumento da população idosa, foi possível perceber que os instrumentos de
políticas públicas são importantes para estabelecer mecanismos específicos de proteção
78
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
e garantia dos direitos dos idosos, entretanto percebe-se que esses instrumentos muitas
vezes atendem apenas parcialmente as necessidades dessa população.
Através dos estudos aqui apresentados foi possível perceber que o idoso está inserido
no grupo vulnerável exposto na Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDEC), por
ser considerado todas as suas dimensões de fragilização (física, psicológica e social). Em um
contexto de desastre e emergência agrava-se ainda mais esse cenário, por conta do comprometimento da mobilidade e agilidade que são necessárias nestas situações, no qual
podem dificultar a sua própria percepção do risco e da reação. Faz-se importante destacar
a descaracterização do local (casa, comunidade), cheios de significações e histórias individuais e coletivas, que ocorre nessas situações e que interferem na forma como o idoso e
sua família vão lidar com a ressignificação do espaço.
Nesta perspectiva, com o aumento gradativo da população idosa no país e considerando o contexto de desastres e emergências, se faz necessário realizar um planejamento de
ações futuras e de priorização de políticas que busquem soluções adequadas e específicas
para abarcar as demandas que surgem dessa faixa etária.
REFERÊNCIAS
1.
2.
3.
BRASIL. Ministério da Saúde. Envelhecimento e saúde da pessoa idosa. Brasília-DF, 2007.
192 p.
______. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:
Senado, 1988.
______. Ministério da Integração Nacional. Glossário de Defesa Civil: estudos de riscos e
medicina de desastres. 2. Ed. Brasília: MPO, Departamento de Defesa Civil, 1998.
4.
______. Lei nº 8.842, de 4 de janeiro de 1994. Dispõe sobre a Política Nacional do Idoso.
Brasília, 1994.
5.
______. Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá
outras providências.
6.
______. Lei 12.608, de 10 de abril de 2012. Dispõe sobre o Sistema Nacional de Proteção e
Defesa Civil - SINPDEC e o Conselho Nacional de Proteção e Defesa Civil -
7.
8.
CONPDEC, autoriza a criação de sistema de informações e monitoramento de desastres e dá
outras providências.
BODSTEIN, A.; LIMA, V. V. A.; BARROS, A. M. A. A Vulnerabilidade do Idoso em Situações de Desastres: necessidade de uma política de resiliência eficaz. Ambiente & Sociedade, São Paulo, v. 17, n.2, p. 157-174, abr-jun, 2014. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S1414753X2014000200011.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
79
9.
10.
11.
12.
13.
CIOSAK, S. I.; BRAZ, E.; COSTA, M. F.; NAKANO, N. G.; RODRIGUES, J.; ALENCAR, R. A.;
ROCHA, A. C. Senescência e senilidade: novo paradigma na atenção básica de saúde. Revista
Escola de Enfermagem, São Paulo, v. 45, n. 2, p.1763-1768, dez. 2011. doi: http://dx.doi.
org/10.1590/S0080-62342011000800022.
FERNANDES, M. G. M.; SANTOS, S. R. Políticas Públicas e Direitos do Idoso: desafios da
agenda social do Brasil. Revista de Ciência Política, 2007. Disponível em: http://www.achegas.net/numero/34/idoso_34.pdf.
FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002. GIL, A. C.
Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007
14.
GUERRA, A. C.; CALDAS, C. P. Dificuldades e recompensas no processo de envelhecimento:
a percepção do sujeito idoso. Ciência e saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 15, n. 6, p. 29312940, 2010. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S1413-8123201000060003.
15.
IBGE. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população
brasileira. Rio de Janeiro, 2013. Disponível em: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/
liv66777.pdf. Acesso em: 20 set. 2016.
16.
IBGE. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população
brasileira. Rio de Janeiro, 2015. Disponível em: http://ndonline.com.br/uploads/global/materias/2015/12/04- 12-2015-02-58-43-pesquisa-ibge.pdf. Acesso em: 20 set. 2016.
17.
18.
19.
20.
21.
22.
23.
80
BOSI, E. Memória e sociedade: lembranças de velhos. 12 ed. São Paulo: Companhia das
Letras, 2004. 484 p.
MENDES, M. R. S. S. B; GUSMÃO, J. L.; FARO, A. C. M.; LEITE, R. C. B. O. A Situação Social
do Idoso no Brasil: uma breve consideração. Acta Paulista de Enfermagem. 2005, v. 18, n.
4, p. 422-426. doi: https://doi.org/10.1590/S0103-21002005000400011.
MINAYO, M. C. S.; COIMBRA JUNIOR, C. E. (orgs.). Antropologia, saúde e envelhecimento.
Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2002, 209 p.
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE. Envelhecimento ativo: uma política de
saúde. Tradução Suzana Gontijo. Brasília:, 2005, 60 p. Disponível em: http://bvsms.saude.
gov.br/bvs/publicacoes/envelhecimento_ativo.pdf. Acesso em: 20 set. 2016.
PACHECO, M. E. A. G; ALVES, S. M. M. A função social dos idosos avós na contemporaneidade: uma análise preliminar da estrutura familiar. Revista Conhecimento e Diversidade,
Niterói, n. 8, p. 93-103, jul./dez. 2012. doi: http://dx.doi.org/10.18316/974.
SILVA, V. Velhice e envelhecimento: qualidade de vida para os idosos inseridos nos projetos
do SESC – Estreito. Trabalho de conclusão de curso em Serviço Social - Universidade Federal
de Santa Catarina, Florianópolis, 2009.
SCHNEIDER, R. H.; IRIGARAY, T. Q.; O envelhecimento na atualidade: aspectos cronológicos, biológicos e sociais. Estudos de psicologia, Campinas, v. 25, n. 4, p. 585-593, out./dez.
2008. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S0103-166X2008000400013.
VIANA, A. S. Idoso, família e desastres: uma discussão na interface da sociologia e gerontologia a partir da análise do caso de Teresópolis/RJ. 2015. 211 f. Dissertação (Mestrado em
Ciência da Engenharia Ambiental) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
24.
VIANA, A. S.; VALENCIO, N. Desafios de idosos no enfrentamento de um desastre: considerações sociológicas e gerontológicas. Revista O Social em Questão, Ano XVIII, n. 33, 2015.
Disponível em: http://osocialemquestao.ser.puc-rio.br/media/OSQ_33_2_Viana_Valencio.pdf.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
81
07
“
Aportaciones de la investigación
cuanti-cualitativa a la
psicogerontología.
Jorge Luis López Jiménez
INPRFM
Guadalupe Barrios Salinas
Blanca Estela López Salgado
UIC
Tomás Cortés Solís
UAMXOCH
10.37885/201202379
RESUMEN
El propósito del presente trabajo es el de reflexionar sobre los aportes obtenidos al
desarrollar dos líneas de investigación con enfoque psicosocial en el campo de la psicogerontología. El primer estudio denominado “Condiciones de vida y salud mental en
adultos mayores”, se llevó a cabo bajo una estrategia cuantitativa aplicando un instrumento estructurado, y el segundo “Construcción de la noción de vejez en el adulto mayor”,
fue desarrollado con una metodología cualitativa mediante la aplicación de entrevistas
abiertas. Se presentan resultados para cada uno de los enfoques, señalando el contexto
en el cual fueron desarrollados, las poblaciones de estudio, así como las generalidades
en ambos y las aportaciones específicas para cada situación.
Palabras- Clave: Investigación Cuanti- Cualitativa, Adultos Mayores, Salud Mental;
Subjetividad, Construcción Noción de Vejez.
INTRODUCCIÓN
La investigación definida como un procedimiento reflexivo, sistemático, controlado
y crítico, permite aportar nuevos hechos o datos, relaciones o leyes en todos los campos
del conocimiento humano (Ander, 1971). Por tal motivo, la investigación es una búsqueda
sistemática, conducente a nuevos o mayores descubrimientos o percepciones, que al documentarse y difundirse contribuye a modificar el conocimiento y/o práctica existente.
La metodología parte esencial en el desarrollo de la investigación, describe las unidades
o análisis de investigación, las técnicas de observación y recolección de datos, los instrumentos de medición y las técnicas de análisis (Morales, 1971). En el diseño de investigación
cuantitativo, las decisiones sobre las acciones a llevar a cabo, se toman antes de realizar el
estudio; por el contrario, en la investigación cualitativa no se planifica el proceso de decisiones, éstas se van tomando en función del cariz que asume el proceso de investigación. Por
lo tanto, se habla de un diseño emergente, ya que éste “emerge” en función de lo que ha
ocurrido anteriormente (Fernández-Ballesteros, 2000). Kenneth (1995), indica que en este
proceso, la labor del investigador no debe limitarse a reunir y organizar información; sino
que tiene que ir más allá de eso, lo que implica un trabajo reflexivo profundo para tratar de
adquirir nuevas percepciones y poder realizar aportaciones.
En este contexto, la investigación científica se ha servido tanto de los enfoques cuantitativos como cualitativos para aproximarse a dicho conocimiento, y ha implementado metodologías con ambas perspectivas que apoyan su desarrollo. Tales formas de indagación
representan dos visiones del mundo.
En el trabajo de investigación, Fernández-Ballesteros (2000), señala que los enfoques
cuantitativos y cualitativos pueden ser empleados de manera complementaría dentro de
los siguientes contextos: mediante la implementación de elementos cualitativos cuando se
aplica una técnica cuantitativa o de estrategias de análisis cuantitativo en la aplicación de
una técnica cualitativa; destacando la complementariedad intrínseca de ambos enfoques,
que aunque son perfectamente distinguibles no por ello son necesariamente incompatibles
(Brown, 1977 & Popper, 1980). Un campo de estudio relativamente reciente ha sido el de la
psicogerontología, la cual ha utilizado ambas aproximaciones cuanti-cualitativas, ayudando
a ampliar la comprensión del envejecimiento, la vejez, y los adultos mayores.
En la investigación cuantitativa la entrevista tendrá mayor grado de estructuración; es
común que una persona haga preguntas (entrevistador) y otra responda (entrevistado), se
implementa bajo un instrumento en formato de cuestionario, con categorías de respuesta
cerradas, lo que requiere la adscripción de la respuesta del entrevistado en alguna de las
categorías previamente establecidas. Por otro lado, la entrevista abierta ha sido muy utilizada
en los estudios cualitativos en campo de la psicología y otras disciplinas. La investigación
84
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
cualitativa se basa en un grado mínimo de estructuración; es por esto, que se denomina de
tipo abierta (Silva, 1992). Lo más relevante en esta perspectiva, es el registro tal cual del
discurso del entrevistado; en la entrevista abierta predomina el discurso subjetivo.
Para Hernández (1995), la población de estudio incluye a todas las personas mayores
de 65 años, por lo que esta edad representa el límite inferior; sin embargo apuntan Reig y
Fernández-Ballesteros (1994), que tenemos que considerar las características especiales
que presenta este grupo, ya que éstas pueden tener influencias directas e indirectas sobre
las investigaciones que se lleven a cabo. El trabajo con adultos mayores presenta sus propias
dificultades, ya que se señala que el paso de los años conlleva la existencia de una serie
de cambios sensoriales (aparición de déficit visuales y auditivos), en la salud (problemas
respiratorios, circulatorios o de movilidad), o psicológicos que deben ser tomados en cuenta
por el investigador (Fernández- Ballesteros, 2000). También, se ha descrito la influencia
del contexto socioambiental en el que las personas mayores han desarrollado la mayor
parte de su vida y sobre todo aquel que corresponde con su periodo formativo, pudiendo
ser totalmente distinto del actual, lo debe ser tomado en cuenta al aplicar instrumentos de
investigación desarrollados en el momento presente, ya que probablemente pudieran resultar
extraños para estas personas. Asimismo, y como resultado del posible efecto cohorte, se
pueden encontrar incluso dificultades de comprensión para completar cuestionarios de autoinforme, que derivan en no pocas ocasiones a ser administrarlos en formato de entrevista
(Fernández-Ballesteros, Itzal, Montorio et al., 1992; Reig y Fernández- Ballesteros, 1994).
Cabe mencionar en este sentido, los problemas de analfabetismo y la falta de familiaridad
con la tarea de completar cuestionarios, lo que podría afectar tanto a la comprensión de
las preguntas, como al entendimiento de cómo han de elegirse las respuestas (FernándezBallesteros, 2000).
En cuanto a los estudios gerontológicos, se han reportado diversos factores teóricos,
conceptuales, metodológicos y prácticos que dificultan su desarrollo (Gómez y Cursio, 1999;
Cursio y Gómez, 1999; Moreno, 2001). Ante la presencia del cuestionamiento referente a si
la gerontología es una ciencia, disciplina y/o campo de conocimiento, la mayoría de los estudiosos del área ubican a la gerontología como una disciplina que estudia el envejecimiento,
la vejez y al adulto mayor (COMLAT-IAGG- ACGG, 2009). Es de destacar que en el ámbito
internacional, se estén formulado recomendaciones sobre la importancia de alentar y promover la especialización de profesionistas en esta área (López, Barrios, López et al., 2002).
La psicogerontología como una especialidad dentro de la gerontología, aborda entre
muchos otros aspectos, los procesos emocionales y del comportamiento de la población
adulta mayor. Las actividades profesionales que se desarrollan dentro de este campo son
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
85
múltiples; sin embargo, todas ellas estarían encaminadas a la comprensión desde una perspectiva psicosocial de lo que sucede dentro del propio proceso de envejecimiento.
En la actualidad la investigación en esta área es limitada, aún cuando existe el interés
para el desarrollo de estudios con mayor rigurosidad científica, que permitan ir descartando
mitos, ideas y creencias equivocadas sobre el envejecimiento y sus aspectos asociados.
Aunado a dicho interés científico, ha sido la utilización de los enfoques cuantitativos y cualitativos, hecho que esta permitiendo ampliar el conocimiento y comprensión de las situaciones relacionadas al adulto mayor. Por otro lado, para acercarnos al conocimiento global del
adulto mayor, es necesario abordar su estudio desde una postura amplia, que no limite de
inicio el ámbito de interés. Esto implica que la investigación de la vejez, debe seguir un modelo multidimencional en el cual se incluyan variables tanto del propio individuo -biológicas,
personales o psicológicas-, como del entorno en que se desenvuelve -variables ambientales
y sociales- (Reig y Fernández-Ballesteros, 1994).
En la propuesta para implementar algún estudio en el campo de la psicogerontología,
es recomendable definir y precisar la temática que se quiere abordar, la forma en que se
problematiza el estudio y si el interés principal es la utilización de técnicas de investigación
que buscan datos objetivos (metodologías cuantitativas) o discursos subjetivos (metodologías cualitativas). No menos importante, es el hecho de que el investigador en este campo,
deba cubrir el requisito mínimo fundamental de poseer conocimientos consolidados sobre las
condiciones prevalecientes de la población gerontológica que se quiere investigar. Al respecto, Fernández-Ballesteros (2000), señala, que es necesario tener siempre presente que es
una persona mayor a quién se investiga, a quién se pregunta y se observa; lo cual plantea
características diferenciales con respecto a su edad y a lo privativo a esta etapa de la vida
en el plano físico, psicológico y social.
El objetivo del presente trabajo fue el de presentar y reflexionar sobre la información
derivada de dos investigaciones (Figura 1): una con un enfoque cuantitativo y la otra desarrollada bajo una perspectiva cualitativa. La pregunta central que guía este desarrollo fue
¿Qué aportaciones/contribuciones realizan éstos estudios al campo de la psicogerontología?
Figura 1. Líneas de investigación sobre el adulto mayor
86
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
El proyecto “Condiciones de vida y salud mental en adultos mayores” (López, 2004),
se desarrolló en el contexto de la epidemiología aplicada al estudio de los trastornos emocionales (Cuadro 1). Como parte de los objetivos planteados nos propusimos probar instrumentos, métodos y procedimientos; así como establecer un diagnostico situacional sobre su
estado de salud emocional. El estudio fue de tipo observacional, descriptivo y transversal,
con información obtenida mediante la aplicación por entrevista directa de un instrumento
en formato de cuestionario a personas de 60 años y más, residentes en una Institución
de Asistencia Social de la Ciudad de México. Las principales secciones del cuestionario
fueron: Datos Demográficos, Limitantes Físicas, Uso de Auxiliares, Cuestionario General
de Salud de Goldberg (CGS-12, 1972), Calidad de Vida -WHOQOL-BREF- (WHO, 1996),
Cuestionario de Evaluación de la Discapacidad -WHODAS II- (WHO, 2001) y la Mini Entrevista
Neuropsiquiátrica Internacional –MINI- (Versión en español 5.0.0., DSM-IV, 2000). De la
población de adultos mayores, se seleccionó una muestra aleatoria sistemática entrevistando
a una de cada cuatro personas mayores, también se eligió al azar el número de inicio de la
selección. Se contó con la participación de profesionales con amplia experiencia en el campo de la investigación y aplicación de entrevistas, quienes fueron previamente capacitados
en el manejo de la metodología, procedimientos, instrumento y de la entrevista psiquiátrica
MINI. El análisis y descripción de la información se realizó en el marco de la epidemiología
de los trastornos mentales (Cuadro 2).
Posterior al estudio cuantitativo, desarrollamos la investigación: “Construcción de la
noción de vejez en el adulto mayor” (López, 2007), bajo una estrategia cualitativa (Cuadro
1), cuyo objetivo fue el de abordar desde la propia cosmovisión de las personas mayores,
el estudio de sus nociones y representaciones que prevalecen sobre su vejez, escuchando
y registrando la manera como se narran a sí mismos, lo que sienten, piensan y viven en el
momento actual. La forma en que se definen y asumen para poder entender su vida presente.
Buscamos indagar desde su propia perspectiva, sus experiencias y expectativas de vida
que nos permitieran comprender la forma como se colocan frente a la existencia, sus procesos
de vinculación y desvinculación, las transformaciones del cuerpo como condición humana y
sus condiciones de segregación entre otras situaciones que pudieran emerger en su discurso.
Para tal fin creamos un espacio de reflexión colectiva e individual, donde las personas
pudieran escucharse y hablar sobre si mismas, donde pudieran pensarse. El trabajo en su
contexto general se desarrollo dentro del marco de las ciencias sociales.
Después de contactar al adulto mayor y aclarar los propósitos del estudio, procedimos
a solicitar su participación y permiso para grabar todo lo que surgiera en el encuentro. Acto
seguido, establecimos el encuadre, donde le indicábamos que estábamos muy interesados
en poder escucharlos y registrar la conversación en su totalidad para ayudarnos a tratar de
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
87
entender su vida presente. En el desarrollo del trabajo grupal e individual utilizamos entre
otras las siguientes consignas:
¿Cómo es su vida actualmente?
¿Qué piensa de su vida en este momento?
¿Qué cosas le gustan en su vida presente?
En resumen nos interesaba que compartieran sus experiencias de la vida cotidiana en
el presente; así como sus expectativas de vida para más adelante (Cuadro 2).
Desde esta perspectiva, se incluyen los aspectos subjetivos que dan sentido y significado a las conductas y acciones de los individuos, permite investigar el punto de vista de los
adultos mayores de acuerdo con el sistema de representaciones simbólicas y significados
de su contexto particular (Lerner y Quesnel, 1986).
La realidad subjetiva y la realidad social están íntimamente relacionadas y es donde
se inscriben las conductas y acciones humanas (Szasz y Lerner, 2002). Al considerar la
subjetividad, se enriquece la realidad, ya que se integran datos que suelen desconocerse
u omitirse en el enfoque cuantitativo (Jaidar, 1999). El marco de análisis y la interpretación
se sustentaron en el análisis del discurso.
Cuadro 1. Contexto del desarrollo de las investigaciones
1
2
88
Estudio
Cuantitativo: COVYSMAM1
Cualitativo: CONOVEAM2
Adultos Mayores
Institucionalizados de 60 años y más
Institucionalizados y población general de 60
años y más
Metodología
Objetividad de los datos
Subjetividad de los discursos
Tipo
Psicosocial
Psicosocial
Ejes
Condiciones de vida,
Salud mental
Noción de vejez: determinar
cómo se definen y asumen
Marco de referencia
Epidemiología de los trastornos
mentales
Psicología social. Teoría del
vínculo
Instrumentos
Cuestionario que consta de 12
secciones
Consignas
Número de Variables
Cuantitativas= 506
Cualitativas= 54
Cuantitativas= 69
Cualitativas= 8
Análisis
Estadísticos a través del paquete
SPSS PC para windows
Trascripción de las entrevistas,
Análisis del discurso
Estudio: Condiciones de vida y salud mental en adultos mayores, COVYSMAM, 2004
Estudio: Construcción de la noción de vejez en el adulto mayor, CONOVEAM, 2007
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Cuadro 2. Características de las poblaciones de estudio
COVYSMAM, 2004a
Adultos mayores institucionalizados
a
b
CONOVEAM, 2007 b
Adultos mayores institucionalizados
Adultos mayores, población general
Muestra= 30
Factor de ponderación
(4*30= 120)
Tres entrevistas
individuales, en dos
encuentros
Tres entrevistas
individuales, en tres
encuentros
Población ponderada de
estudio= 120
Sexo:
Femeninos= 2,
Masculinos= 1
Sexo:
Femenino=2
Masculino= 1
Adultos mayores, no
disponibles / entrevista
suspendida= 40 (33.3%)
Edad promedio 81.3 años
Entrevistas Completas= 80
(66.6%)
Tres entrevistas grupales en
tres encuentros, con diez
participantes
Dos entrevistas grupales,
en dos encuentros, con
dieciséis participantes
Sexo:
Femenino= 52 (65%),
Masculino= 28 (35%)
Sexo:
Femenino= 7
Masculino= 3
Sexo:
Femenino= 15
Masculino= 1
Edad promedio= 80 años
Edad promedio= 77.6 años
Edad promedio 81.3 años
Edad promedio= 71.6 años
Estudio: Condiciones de vida y salud mental en adultos mayores, (COVYSMAM, 2004)
Estudio: Construcción de la noción de vejez en el adulto mayor, (CONOVEAM, 2007)
Generalidades en ambos enfoques
a. Los adultos mayores constituyen en la actualidad un segmento especial dentro de
nuestra población (López, Barrios, López et al., 2002), condición que se asocia a
sus características de vulnerabilidad y fragilidad, por lo que se tienen que atender
especialmente los aspectos éticos en los estudios. Los profesionales y personas
interesadas en el área deben tener conocimientos básicos del proceso de envejecimiento, de la vejez y del adulto mayor.
b. En este contexto, los aspectos éticos adquieren gran importancia. Desde el primer
contacto es necesario aclarar los propósitos del estudio con el fin de que no se
formen falsas expectativas de lo que puedan obtener con su participación (López,
Barrios, López et al., 2003a). Tener una escucha atenta y respetuosa; dirigirse a la
persona por su nombre, abordarlo con respeto y obtener el consentimiento firmado
de su participación. En la medida de lo posible respetar sus tiempos y espacios.
c. Por lo anterior, es necesario considerar las condiciones que prevalecen en gran parte
en ésta población: abandono, prejuicio, marginación, discapacidades y enfermedades, así como desconocimiento y dificultad en el manejo de su problemática asociada.
d. El ritmo de las entrevistas es “Lento y Pausado”, lo que constituye una característica del trabajo con ésta población.
e. Se pudo determinar la necesidad que tienen de “entablar comunicación” con otras
personas, ya que no se reportó, ni observo cansancio ni fatiga, mostrando por el contrario, el deseo de continuar conversando aún cuando hubiera finalizado la entrevista.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
89
Aportaciones del enfoque cuantitativo
a. Esta estrategia permitió establecer una situación diagnóstica de las condiciones de
vida y de salud en la población de estudio (López, Barrios, López et al., 2002).
b. Las principales limitantes físicas y por orden de importancia fueron los de la visión,
dentales, auditivos y de movilidad de miembros superiores e inferiores. El uso de
auxiliares fue mucho menor en comparación con las limitaciones reportadas.
c. Más allá de los problemas de demencia, depresión deterioro cognoscitivo y discapacidad, existen otros problemas emocionales a nivel de sintomatología (40%)
y diagnóstico (30%) que requieren ser identificados y atendidos (López, Barrios,
Martínez et al., 2005; López-Jiménez, Barrios-Salinas, López-Salgado et al., 2008).
d. En los cuestionarios las respuestas dicotómicas facilitan la elección de la respuesta. Es también necesario agregar categorías dentro de las opciones de respuesta:
“No Procede, “No aplicable” y “No recuerda”, de acuerdo al contexto en el cual se
aplique el cuestionario.
e. Es básico destacar la capacitación previa del equipo de investigación tanto en el
contacto, como en la aplicación de las entrevistas.
Aportaciones del enfoque cualitativo
a. Para evitar que la entrevista adquiera una dinámica pregunta-respuesta, se debe
omitir el decirle que trata de una entrevista. Para ejemplificar, podría indicársele:
“Estamos muy interesados en saber y que comente todo lo que piensa con respecto
a {...}”
b. .También destaca que sentimientos de soledad, aislamiento, incomunicación y
espiritualidad, frecuentemente reportadas, puedan ser mejor comprendidos si se
abordan desde los terrenos de la subjetividad, presente en todo acto humano.
c. Se pudo reconocer la importancia del espacio que se crea, donde ellos puedan
pensarse, escucharse y hablar sobre sí mismo. Nos parece que adicionalmente
puede obtenerse un efecto psicoterapéutico. Para ellos el contar con este espacio
es de suma importancia y una vez creado, luchan por mantenerlo y conservarlo. Se
crean redes de apoyo social.
d. Por lo anterior, sobresale la amplia gama de posibilidades que nos brida la investigación cualitativa, destacando al mismo tiempo la necesidad de formar espacios
de discusión y aprendizaje interdisciplinarios, sobre todo en el campo de estudio
del envejecimiento, donde su aproximación hasta este momento ha sido limitada y
relativamente novedosa.
90
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
e. La capacitación previa a la investigación para el equipo hace énfasis en lo subjetivo; el establecimiento del raport y el respeto a su vivencia expresada entre otros.
DISCUSIÓN
a. La información obtenida permite pensar que las personas mayores constituyen un
segmento especial dentro de nuestra población, por lo que el profesional deberá
contar con conocimientos en el campo de la gerontología.
b. Existen situaciones específicas: problemas de comprensión, médicos, psiquiátricos, ritmo de entrevista y opciones de respuesta que deben ser considerados en
el desarrollo de investigaciones en esta población (López, Barrios, López et al.,
2003b).
c. No obstante e independientemente del tipo de metodología con que se aborden los
problemas del adulto mayor, existe la necesidad de dar respuesta en la práctica a
diversas situaciones que como sociedad estamos enfrentado.
d. Es necesario evaluar problemas auditivos, de la visión y en miembros superiores e
inferiores; para asegurar que la persona mayor escucha y comprende lo que se le
esta preguntando o sobre lo que se busca obtener información.
e. Cuando se pregunta o indagan periodos de tiempo definidos, es necesario estar
ubicándolos temporalmente. Recordarle frecuentemente durante el encuentro, los
periodos sobre los que se quiere obtener información.
f. Un hecho interesante, es la necesidad que presentaron los adultos mayores para
“entablar comunicación” con otras personas, como el caso de los investigadores
y con personas que no pertenezcan al ámbito en el que se encuentran, lo que les
brinda la oportunidad de comentar y relatar diversas situaciones de sus condiciones
de vida.
g. Por lo anterior, es necesario e importante realizar investigaciones sistemáticas en
el campo de la psicogeronotología, adaptadas a la diversidad de condiciones en
que se encuentran las personas de 60 años y más, con la finalidad de que a corto
y mediano plazo permitan desarrollar y estructurar estrategias de intervención y
atención en áreas específicas en las poblaciones de estudio.
CONCLUSIONES
a. En todo estudio y dependiendo del problema de investigación, enfoque y contexto
en el cual se planeé realizarlo, es necesario adaptar y en su caso estandarizar,
métodos, procedimientos e instrumentos, tomando en cuenta las características y
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
91
condiciones de la población de estudio.
b. En nuestro caso las investigaciones cubrieron las normas éticas establecidas para
estudios de esta naturaleza. Desde respetar toda tentativa de rechazo, manejo de
la información con absoluta confidencialidad y anonimato y la obtención de su consentimiento por escrito, aclarando que la información proporcionada sería utilizada
únicamente con fines de investigación.
c. A pesar de los avances obtenidos por ciencia, todavía hay mucho que se desconoce del adulto mayor, por lo que queda bastante por aprender.
d. Durante el encuentro con el adulto mayor se debe mostrar una actitud de respeto
y comprensión hacia el ser humano y a los contenidos objetivos y subjetivos de la
información que se nos proporcione.
e. A través de los estudios, se pudo determinar que existen creencias falsas y mitos
sobre esta población, como el hecho de no querer hablar, fatigarse fácilmente y que
son pasivos frente a los problemas que se les presentan, entre otros.
AGRADECIMIENTOS
Nuestro agradecimiento a Omar Isai López Ramírez por el apoyo brindado en el desarrollo de este trabajo.
REFERÊNCIAS
1.
2.
3.
92
Ander, E. (1971). Introducción a las Técnicas de Investigación Social. Buenos Aires: Humanistas.
Brown, H. (1977). Perception, Theory and Commitment. The New Philosophy of Science. Chicago, III. Precedent Publishing. En: La Nueva Filosofía de la Ciencia. (1983). Madrid: Tecnos.
COMLAT-IAGG-ACGG. Comité Latinoamericano de la Asociación Internacional de Gerontología
y Geriatría (COMLAT-IAGG). ASOCIACIÓN Colombiana de Gerontología y Geriatría (ACGG).
ORGANIZACIÓN Panamericana de la Salud (OPS). 1er. Curso de Formación de Docentes en
Gerontología de América Latina. Manizales, Colombia, 12 al 17 de Mayo del 2009.
4.
Cursio, L. C. y Gómez F. J. (1999). Investigar en gerontología. ¿Obligación? Archivo Geriátrico,
2 (2): 46-8.
5.
Epping-Jordan, J. A. and Bedirhan, U. T. (Nd). The WHODAS II: Leveling the playing field for
all disorders. WHO Bulletin of Mental Health.
6.
Fernández-Ballesteros, R. (2000). Gerontología Social. Madrid: Pirámide. Fernández-Ballesteros, R.; Itzal M.; Montorio L. et al. (1992). Evaluación e Intervención Psicológica en la Vejez.
Barcelona: Martínez Roca.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
Goldberg, D. P. (1972). The detection of psychiatric illness by questionnaire. Maudsley Monograph, n.° 21. London: Oxford University Press. Gómez, F. J. y Cursio L. C. (1999). Investigación
gerontológica en América Latina. Archivo Geriátrico, 2 (2): 37-40.
Hernández, J. M. (1995). Procedimientos de Recogida de Información en Evaluación de Programas. En: Fernández-Ballesteros, R. (ed.). Evaluación de Programas. Una Guía Práctica en
Ámbitos Sociales, Educativos y de Salud. Madrid: Síntesis.
Jaidar, I. (1999). Caleidoscopio de subjetividades. Cuadernos del TIPI 8. UAM-X. 2ª ed.
Kenneth, E. B. (1995). The Boundaries of Music Therapy Research. En: B. Wheeler (ed.) Music
Therapy Research: Quantitative and Qualitative Perspective. Barcelona Publishers, Gilsum,
NH, 17-27.
Lerner, S. y Quesnel, A. (1986). Problemas de interpretación de la dinámica demográfica y de
su integración a los procesos sociales. Problemas metodológicos en la investigación sociodemográfica. PISPAL/El Colegio de México.
.López, J. L. (2004). Estudio de Condiciones de Vida y Salud Mental en Adultos Mayores, Fase
I: Reporte Interno. México: D. F. Dirección de Investigaciones Epidemiológicas y Psicosociales,
Instituto Nacional de Psiquiatría Ramón de la Fuente. López, J. L. (2007). Construcción de la
Noción de Vejez en el Adulto Mayor. Trabajo de Tesis para optar por el Grado de Doctor en
Ciencias Sociales. (En proceso). Universidad Autónoma Metropolitana, Unidad Xochimilco.
México D. F.
López, J. L.; Barrios S. G.; López S. B. E. et al. (2002). Implicaciones de la investigación gerontológica desde una perspectiva psicosocial. X Congreso Mexicano de Psicología. “El Perfil
Profesional del Psicólogo Presente y Futuro”. Acapulco Gro., México, Octubre.
14.
López, J. L.; Barrios, S. G.; López, S. B. E. et al. (2003a). La ética en la investigación gerontológica. XI Congreso Mexicano de Psicología. “El Psicólogo como usuario de la investigación:
La Generación de Competencias Profesionales”. Campeche, Camp. Octubre, México.
15.
López-Jiménez, J. L.; Barrios-Salinas, G.; Lopez-Salgado, B. E. et al. (2003b). “Reflexiones
Metodológicas de Investigación Psicosocial en Viejos: resultados de un Estudio”. Archivo
Geriátrico, 6 (3): 74-7.
16.
López, J. L.; Barrios S. G.; Martínez M. M. P. et al. (2005). Psychiatric Disorders in Elderly Living
in a Social Assistance in Mexico City. In: Abstracts 18th World Congress of the Association of
Gerontology. Rio de Janeiro, Brasil, June 26-30, 614.
17.
18.
19.
20.
López-Jiménez, J. L.; Barrios-Salinas, G.; López-Salgado, B. E. et al. (2008). Frecuencia de
Desórdenes Mentales en Adultos Mayores Residentes en una Institución de Asistencia Social.
Estud. interdiscip. envelhec., 13 (1), Porto Alegre, 133-45.
Morales, V. (1971, Mayo). Guía para la Elaboración y Evaluación de Proyectos de Investigación.
In: Revista de Pedagogía, 1, Año 1, 51-9. Caracas: Icolpe. Serie de Investigaciones n.° 2., 1972.
Moreno, M. (2001). La importancia de la investigación en gerontología y la geriatría. ¿Dónde
estamos hacia dónde vamos? Archivo Geriátrico, 4 (1): 23-6.
Popper, K. (1980). The Logic of Scientific Discovery. New York: Basic Books. En: La Lógica
de la Investigación Científica. Madrid: Tecnos.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
93
21.
22.
23.
94
Reig, A. y Fernández-Ballesteros, R. (1994). Evaluación Conductual en la Vejez. En: Fernández-Ballesteros, R. (ed.). Evaluación Conductual Hoy. Madrid: Pirámide.
Sheehan, D. V.; Lecrubier, Y.; Sheehan, K. H. et al. (1998). The Mini-International Neuropsychiatric Interview (M.I.N.I.): the development and validation of a structured diagnostic psychiatric
interview for DSM-IV and ICD-10. Journal of Clinical Psychiatry, Memphis, 59 (Supplement n.°
20), 22-33.
Silva, F. (1992). La Entrevista. En: Fernández-Ballesteros, R. (ed.). Introducción a la Evaluación
Psicológica. Madrid: Pirámide.
24.
Szasz, I. y Lerner, S. (2002). Para comprender la subjetividad. El colegio de México. Centro
de Estudios Demográficos y Desarrollo Urbano.
25.
WHOQOL-BRIEF (1996). Introduction, Administration, Scoring and Generic Version of The
Assessment. Field Trial Version, December. Program on Mental Health. World Health Organization, Geneva.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
08
“
As Tecnologias de Informação
e Comunicação na Qualidade
de Vida de Aposentados
Residentes em Rio Claro/SP:
estudo quantitativo
Elisangela Gisele do Carmo
DEF/IB/RIO CLARO, UNESP
Pollyanna Natalia Micali
DEF/IB/RIO CLARO, UNESP
Raiana Lídice Mór Fukushima
DEF/IB/RIO CLARO, UNESP
Reisa Cristiane de Paula Venancio
DEF/IB/RIO CLARO, UNESP
José Luiz Riani Costa
DEF/IB/RIO CLARO, UNESP
10.37885/201202442
RESUMO
Este estudo, de natureza quantitativa, teve por objetivo analisar a utilização das TIC, na
fase de aposentadoria, e os possíveis impactos desta utilização na saúde e QV desta
população. A amostra foi composta por 20 participantes, com idade igual ou acima de 60
anos, ambos os sexos, residentes em Rio Claro-SP. O protocolo de avaliação foi composto por uma avaliação da utilização das tecnologias e um módulo da QV. Para análise
estatística foram utilizados testes estatísticos não paramétricos, devido à natureza dos
dados. Os resultados mostram que os aposentados apresentam boa QV com uma maior
percepção das consequências das TIC às experiências vivenciadas pela sua utilização.
Conclui-se, que a utilização das TIC, favorece o acesso à mais informação, principalmente,
de saúde, e que, denota uma melhora significativa na QV desta população.
Pa l av r a s - c h ave: Te c n o l o g i a s d e I n fo r m a ç ã o e C o m u n i c a ç ã o, A p o s e n t a d o r i a ,
Qualidade de Vida.
INTRODUÇÃO
O cenário mundial mostra um perfil demográfico com grande contingente de idosos e,
consequentemente, de maior número de aposentados. Essa mudança demográfica já vem
se intensificando, há alguns anos, também no Brasil (IBGE, 2015). Tal mudança acompanha a evolução tecnológica que, no decorrer das décadas, fez as sociedades passarem por
diversas modificações. Os âmbitos cultural, social e do lazer adequaram-se a este acesso,
principalmente por meio das denominadas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC),
determinando novos conceitos e ampliando a rede de contatos das pessoas e de seus familiares (SILVA, 2008).
As TIC são mecanismos eletrônicos, que fazem o armazenamento e a comunicação da
informação, a saber: computadores, notebooks, telefones celulares e/ou smartphones; tablets, além da própria World Wide Web (WWW), comumente chamada de internet, a principal
difusora destas informações em tempo real e imediato (SILVA, 2008). As TIC representam
mecanismos indispensáveis para a comunicação, a informação e a atualização, sobretudo
quando envolvem conteúdos existentes no ambiente virtual. Neste contexto tecnológico,
diversos são os fatores que podem determinar a melhor ou a pior Qualidade de Vida (QV)
de um indivíduo. Fatores, estes que, refletem o conceito da Organização Mundial de Saúde
(OMS), entendidos como sendo algo, em que há aspectos subjetivos, físicos, psicológicos
e sociais, com dimensões positivas e negativas (KLUTHCOVSKY; TAKAYANAGUI, 2007).
Na busca pela melhor QV, os idosos motivados em ter um envelhecimento ativo, procuram a inclusão social, e por vezes, usam as TIC como forma de alcançá-la (CHEN; SCHULZ,
2016). Assim, ao se sentirem inseridos neste universo tecnológico, os mesmos se sentem
incluídos, apoiando a aprendizagem no computador e até mesmo as inúmeras oportunidades
de educação os quais foram abandonadas outrora (CZAJA et al., 2008). Assim, os desafios
envolvidos na utilização das TIC podem representar um estímulo cognitivo importante na
fase de aposentadoria (SMALL et al., 2009), ao ampliar as opções de modalidades no lazer
virtual, bem como, as informações quanto a mudanças de hábitos relacionados à saúde
(AGE CONCERN AND HELP THE AGED AND BT, 2009).
Uma pesquisa realizada pela Universidade de Exeter, na Inglaterra, denominada
Activating and Guiding the Engagement of Seniors through Social Media (AGES 2.0), objetivou determinar de que maneira intervenções como as TIC, especialmente as redes sociais e a internet, podem ajudar a comunicação e a inclusão social, e avaliar esses efeitos
sobre a saúde e a QV de idosos institucionalizados e não institucionalizados. Os resultados
comprovam que os idosos preferem utilizar as redes sociais para contatos com familiares e
amigos; para obter conhecimento sobre assuntos relacionados a saúde por meio de pesquisas realizadas no site Google®; os idosos ainda tiveram benefícios nas funções cognitivas e
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
97
melhoria de quadros depressivos, devido ao maior relacionamento social obtido pelas redes
sociais, observando, que os idosos tiveram demonstrações anteriores de utilização do site
(EUROPEAN COMMISSION, 2013).
Além do AGES 2.0, outros estudos têm focado nesta tendência da inclusão digital e
os possíveis impactos desta utilização sobre a QV da população idosa (MESQUITA, 2011;
KACHAR, 2010; JANTSCH et al., 2012; KARAVIDAS; LIM; KATSIKAS, 2005). A restrição
ao acesso a esses recursos pelos indivíduos na fase da aposentadoria pode limitar as
perspectivas de vivências de atividades no contexto do lazer e da saúde, com possíveis
ressonâncias negativas na percepção sobre QV. A literatura sobre esses temas apresenta
lacunas de estudos que abordem a relação das TIC com a promoção da QV, especialmente,
na fase de aposentadoria. Sendo assim, este estudo se justifica, pela utilização das TIC que
pode incrementar estas vivências, incidindo diretamente na QV de aposentados, aspectos
que devem ser focalizados em novos estudos. Desta forma, o objetivo do estudo foi analisar
a utilização das TIC, na fase de aposentadoria, e os possíveis impactos desta utilização na
saúde e QV desta população.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Trata-se de um estudo transversal, de caráter descritivo, com abordagem quantitativa. O projeto de pesquisa, com seus respectivos protocolos, foi aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa (CEP) da UNESP, Campus Rio Claro, CAAE: 35765514.7.0000.5465. A amostra
foi composta por 20 participantes, todos aposentados, com idade igual ou acima de 60 anos,
de ambos os sexos, residentes no município de Rio Claro, interior do Estado de São Paulo.
Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Como
critério de inclusão, os participantes não poderiam apresentar comprometimento cognitivo,
verificado pela aplicação do Mini Exame do Estado Mental-MEEM (FOLSTEIN et al., 1975),
com utilização de pontuação sugerida por Brucki et al. (2003).
Protocolo de Avaliação
Inicialmente, os participantes participaram de um processo de triagem feito pela aplicação do MEEM, para excluir possíveis indivíduos que não se enquadrassem nos critérios de
inclusão da pesquisa. Posteriormente, para a coleta de dados foram utilizados dois instrumentos. Para avaliar a utilização das tecnologias foi aplicada a Escala de Atitudes Face às
Novas Tecnologias de Informação, denominada Escala ANT/25, composta por quatro Fatores
(CAROCHINHO, 1999) e para avaliar a QV foi aplicado o World Health Organization Quality
of Life Group–Módulo WHOQOL-OLD (World Health Organization Quality of Life-OLD) e o
98
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
WHOQOL-Bref (World Health Organization Quality of Life-Bref), (FLECK; CHACHAMOVICH;
TRENTINI, 2006).
Análise dos Dados
Inicialmente, os dados foram mapeados para detecção de outliers, e após aplicou-se,
os testes de Shapiro-Wilk (SHAPIRO; WILK, 1965) e Kolmogorov-Smirnov (KOLMOGOROV,
1933; SMIRNOV, 1948), para investigar o atendimento ao pressuposto de normalidade dos
dados. Com o resultado indicando que os valores não atenderam ao pressuposto, foi tomada
a decisão da aplicação de testes não paramétricos, e adotou-se como medida representativa a mediana e o intervalo interquartílico. O teste U de Mann-Whitney (MANN; WHITNEY,
1947), foi aplicado para avaliar os fatores no que concerne à utilização de tecnologias e
demais variáveis. O relacionamento entre as variáveis foi examinado pela Correlação de
Spearman (SPEARMAN, 1904). Todas as análises obedeceram ao critério de significância
quando p<0,05 e p<0,01. Para análise dos dados do módulo WHOQOL, foi utilizada a sintaxe
para o WHOQOL-Bref. Todos os dados foram analisados com a utilização do SPSS® v.20.
RESULTADOS
A amostra intencional foi composta por 20 aposentados (mediana de idade: 68,5/65,072,0; escolaridade: 12,5/11,4-14,4), composta por 90% de participantes do sexo feminino e
10% do sexo masculino, estado civil com 75% de casados. Do total dos participantes 100%
tinha acesso a internet e à mecanismos de TIC.
Utilização de Tecnologias de Informação e Comunicação
A Tabela 1 ilustra os resultados do teste U de Mann-Whitney, comparando os fatores da Escala ANT/25. Foi encontrada uma tendência, mas não significativa, no fator 2 da
Escala ANT/25, com o valor de p, próximo à 0,05 (p=0,053). Na soma dos fatores da Escala
ANT/25, apesar de não apresentar diferença significativa, verifica-se os aposentados com
98 pontos. Essa pontuação é maior do que o estudo de Correia da Costa (2010), e está
dentro do esperado, pois a Escala ANT/25 tem um ponto de corte de 60 pontos, conforme
proposto por Carochinho (1999).
Qualidade de Vida
No Teste de U de Mann-Whitney da Qualidade de Vida os resultados do WHOQOL-Bref
mostram que dentro os domínios, o 2 “Psicológico” e o 3, “Relações Sociais”, respectivamente
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
99
apresentam diferenças significativas. Já no os resultados do WHOQOL-OLD, observa-se que
as maiores pontuações ocorrerão nas facetas “Autonomia”, “Atividades Passadas, Presentes
e Futuras” e “Participação Social”.
Utilização de Tecnologias e a influência na Qualidade de Vida
Observa-se que a faceta “Participação Social” obteve diferença significativa (p=0,025).
Outros resultados apesar de não apresentar diferenças significativas, também devem ser
considerados, como nas facetas “Autonomia” e “Atividades Passadas, Presentes e Futuras”.
Tabela 1. Mediana e intervalo interquartílico da idade e da Qualidade de Vida.
APOSENTADOS
VARIÁVEIS
Med
P25
P75
14,5
13,0
16,0
P
WHOQOL-OLD
FS
1,000
AUT
34,4
21,9
37,5
0,075
PPF
81,2
65,7
93,8
0,099
PSO
78,1
68,8
87,5
0,025
MEM
71,9
62,5
81,2
0,504
INT
78,1
68,8
87,5
0,389
DOM1
75,0
66,9
85,7
1,000
DOM2
79,1
78,1
84,3
0,268
DOM3
75,0
64,5
91,6
0,653
DOM4
73,4
67,1
81,2
0,400
AAQV
76,7
70,1
80,3
0,400
WHOQOL-Bref
Teste de U de Mann-Whitney. FS: Funcionamento do Sensório. AUT: Autonomia. PPF: Atividades Passadas Presentes e Futuras.
PSO: Participação Social. MEM: Morte e Morrer. INT: Intimidade; DOM1: Físico. DOM2: Psicológico. DOM3: Relações sociais.
DOM4: Meio ambiente. AAQV: Autoavaliação da Qualidade de Vida.
A Tabela 2 ilustra a matriz de Correlação de Spearman (SPEARMAN, 1904), que avalia os objetivos específicos e o relacionamento entre as variáveis. Para este estudo foram
utilizados os seguintes pontos de corte, propostos por Spearman (1904): Correlação nula
(0,20 até 0,20); Correlação fraca (-0,20 a -0,4 e 0,20 até 0,4); Correlação moderada (-0,40
até -0,80, e 0,40 até 0,80) e Correlação forte (-0,80 a -1 e 0,80 até 1).
O fator 2 da Escala ANT/25 apresenta correlação significativa, positiva e moderada,
respectivamente, com os fatores 1 (r=0,546; p<0,05) e 3 (r=0,675; p<0,01). No total, o fator 2
apresenta correlação significativa, positiva e forte (r=0,805; p<0,01). O fator 3 existe uma correlação significativa, positiva e moderada, em aposentados, respectivamente, com os fatores
1 (r=0,536; p<0,05), 2 (r=0,675; p<0,01), e com o total dos fatores (r=0,762; p<0,01). A soma
dos fatores, em aposentados, ainda apresenta correlação significativa, negativa e moderada
com o domínio 3 do WHOQOL-Bref (r=-0,451; p<0,05).
O domínio 1 do WHOQOL-Bref apresenta correlação significativa, positiva e moderada com o domínio 2 (r=0,632; p<0,01), e com a auto avaliação da QV (r=0,651;
100
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
p<0,01). O domínio 2, apresenta correlação significativa, positiva e moderada com o domínio 1 (r=0,632; p<0,01), com os domínios 3 (r=0,600; p<0,01), 4 (r=0,554; p<0,05) e com
a autoavaliação da QV (r=0,777; p<0,01). O domínio 3 apresenta correlação significativa,
negativa e moderada com o total dos fatores da Escala ANT/25 (r=-0,451; p<0,05). O mesmo
domínio, também apresenta correlação significativa, positiva e forte com a autoavaliação
da QV (r=0,858; p<0,01). O domínio 4 apresenta correlação significativa, positiva e moderada
com a autoavaliação da QV (r=0,636; p<0,01).
Tabela 2. Relacionamento do Coeficiente da Correlação de Spearman, obtidos entre si, da utilização de tecnologias e
Qualidade de Vida.
VARIÁVEIS
ESCALA ANT/25
ESCALA ANT/25
F1
F2
*
F3
WHOQOL-Bref
DOM1
DOM2
DOM3
DOM4
AAQV
**
1,000
0,546
0,536
0,350
0,885
-0,119
-0,177
-0,413
-0,212
-0,322
0,546*
1,000
0,675**
0,109
0,805**
-0,293
0,002
-0,284
0,067
-0,254
0,536
0,675
1,000
0,186
0,762
-0,217
-0,111
-0,168
0,096
-0,157
0,350
0,109
0,186
1,000
0,404
-0,217
-0,223
-0,361
-0,174
-0,435
0,885
0,805
**
0,762
0,404
1,000
-0,293
-0,214
-0,451
-0,100
-0,407
-0,119
-0,293
-0,217
-0,217
-0,293
1,000
0,632**
0,362
0,228
0,651**
-0,177
0,002
-0,111
-0,223
-0,214
0,632**
1,000
0,600**
0,554*
0,777**
-0,413
-0,284
-0,168
-0,361
*
-0,451
0,362
**
0,600
1,000
0,391
0,858**
-0,212
0,067
0,096
-0,174
-0,100
0,228
0,554*
0,391
1,000
0,636**
-0,322
-0,254
-0,157
-0,435
-0,407
0,651
0,777
0,858
0,636
1,000
*
**
WHOQOL-Bref
F4
SOMA
ANT/25
*
**
**
**
*
(*) A correlação é estatisticamente significante em:*p<0,05; **p<0,01; rho Spearman. F1:Atitudes face à aprendizagem e ao uso das novas
tecnologias de informação. F2:Atitudes face aos atributos, consequências e expectativas relativamente ao uso de novas tecnologias de
informação. F3:Atitudes face às implicações das novas tecnologias de informação. F4:Atitudes face aos computadores e as novas
tecnologias de informação como ferramentas de trabalho; DOM1: Físico. DOM2:Psicológico. DOM3: Relações sociais. DOM4: Meio
ambiente. AAQV: Autoavaliação da Qualidade de Vida.
A Tabela 3 ilustra, os coeficientes de correlação de Spearman obtidos entre a utilização
de tecnologias com a QV. A faceta “Funcionamento do Sensório” do WHOQOL-OLD apresenta correlação significativa, positiva e moderada com o domínio dois do WHOQOL-Bref
(r=0,499; p<0,05). A faceta “Atividades Passadas, Presentes e Futuras” do WHOQOL-OLD
apresenta correlação significativa, positiva e moderada com os domínios 2 (r=0,478; p<0,05),
3 (r=0,672; p<0,01), 4 (r=0,570; p<0,01) e com a autoavaliação da QV (r=0,602; p<0,01).
A faceta “Participação Social” do WHOQOL-OLD apresenta correlação significativa,
positiva e moderada com os domínios 2 (r=0,745; p<0,01), 3 (r=0,705; p<0,01), 4 (r=0,665;
p<0,01) e com a autoavaliação da QV (r=0,757; p<0,01). A faceta “Intimidade” do WHOQOLOLD, em pré-aposentados, apresenta correlação significativa, positiva e moderada com o
domínio 1 (r=0,449; p<0,05), 2 (r=0,750; p<0,01), 3 (r=0,781; p<0,01), 4 (r=0,487; p<0,05)
e com a autoavaliação da QV (r=0,758; p<0,01).
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
101
Tabela 3. Relacionamento dos coeficientes de correlação de Spearman obtidos entre a utilização de tecnologias com a
Qualidade de Vida.
ESCALA ANT/25
WHOQOL-OLD
FS
AUT
PPF
PSO
MEM
INT
F4
SOMA
ANT/25
WHOQOL-Bref
DOM1
DOM2
DOM3
DOM4
F1
F2
F3
AAQV
-0,008
-0,207
0,216
0,038
0,001
0,198
0,187
0,243
0,054
0,094
-0,154
-0,018
0,025
-0,056
-0,140
0,231
0,499*
0,405
0,304
0,437
-0,139
0,117
0,014
-0,182
-0,052
0,118
0,277
-0,041
-0,024
0,202
-0,029
-0,077
0,168
0,276
0,058
-0,151
-0,170
0,121
0,221
0,041
-0,304
0,111
0,062
-0,224
-0,208
0,627**
0,706**
0,543*
0,456*
0,784**
-0,082
-0,015
0,164
0,122
-0,017
0,110
0,478*
0,672**
0,570**
0,602**
-0,234
-0,106
-0,125
-0,029
-0,184
0,827**
0,730**
0,246
0,487*
0,813**
-0,178
-0,115
-0,051
-0,267
-0,204
0,346
0,745**
0,705**
0,665**
0,757**
-0,327
0,238
-0,134
-0,378
-0,233
0,103
0,263
0,194
0,011
0,156
-0,370
-0,293
-0,332
0,107
-0,428
0,427
0,433
0,220
0,029
0,270
-0,281
-0,025
-0,243
-0,324
-0,325
0,382
0,721**
0,285
0,366
0,608**
-0,262
-0,126
-0,306
-0,251
-0,313
0,449*
0,750**
0,781**
0,487*
0,758**
(*) A correlação é estatisticamente significante em: *p<0,05; **p<0,01; rho Spearman. F1:Atitudes face à aprendizagem e ao uso
das novas tecnologias de informação. F2:Atitudes face aos atributos, consequências e expectativas relativamente ao uso de novas
tecnologias de informação. F3:Atitudes face às implicações das novas tecnologias de informação. F4: Atitudes face aos computadores e
as novas tecnologias de informação como ferramentas de trabalho. FS: Funcionamento do Sensório. AUT: Autonomia. PPF: Atividades
Passadas Presentes e Futuras. PSO: Participação Social. MEM: Morte e Morrer. INT: Intimidade; DOM1: Físico; DOM2: Psicológico;
DOM3: Relações sociais; DOM4: Meio ambiente. AAQV: Autoavaliação da Qualidade de Vida.
DISCUSSÃO
O presente estudo analisou a associação da utilização das TIC com a QV de aposentados. Os principais resultados mostram que os aposentados possuem fortes tendências à
melhor QV, pautada, principalmente, nas relações sociais, que afetam diretamente o âmbito
psicológico. Existe uma importância da participação social para os aposentados. Ainda, conforme os achados do estudo, o grupo com maior escolaridade dá maior ênfase à satisfação
com aquilo que conquistou durante a vida e as metas que pretende alcançar, talvez pelo
fato de este tipo de anseio, esteja ligado às condições socioeconômicas, ao qual é maior
no grupo de escolaridade mais alta.
Com relação a utilização das tecnologias entre os aposentados, os resultados indicam
que ao querer aprender a utilizar as TIC no cotidiano, maior é a percepção deste grupo quanto às consequências, atributos e implicações das TIC devido às experiências vivenciadas
pela utilização no cotidiano, e estas também dizem respeito a QV, reafirmando o estudo de
Lee, Chenb e Hewittc (2011). Outro estudo que também faz alusão a utilização das TIC e
ao autoconceito da QV, é o de Ferreira, Veloso e Mealha (2015).
Deve-se observar que o fator 2 da Escala ANT/25, é invertido, assim, quanto maior a
pontuação neste fator, mais negativa tende a ser a visão com relação a utilização das TIC.
Porém, ao se somar o resultado deste fator com os demais fatores positivos, estes últimos
tendem a obter maior pontuação, o que incide no resultado final, indicando que o grupo
de pré-aposentados, possuem uma maior percepção da utilização das TIC. No entanto,
102
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
observa-se que as demais respostas dos aposentados, indicam que, apesar de muitos ainda
não terem o acesso a essas tecnologias, sabem da importância do seu uso para aquisição
de informações em relação à QV.
Outro ponto a ser considerado é que apesar dos bons resultados obtidos, ainda há
lacunas existentes em nível de alcance da tecnologia. Uma das alternativas, para minimizar
essa discrepância entre os que tem acesso e os que não tem acesso, seria a coparticipação de idosos, sugerido pelo estudo de Santiago, Schwartz e Kawaguti (2015), em que, um
idoso ensina outro idoso, e assim sucessivamente, criando uma corrente de conhecimento.
CONCLUSÕES
Os resultados obtidos evidenciam, principalmente, no que tange à utilização das tecnologias de aposentados estão sempre utilizando as TIC, e que, estão influenciando a saúde e,
consequente, QV dos mesmos. Este estudo tem implicações para que futuras investigações
na área possam aprofundar o assunto de inclusão digital, aposentadoria e QV, assim como,
a formulação de novas políticas públicas que possam amparar de fato, o acesso dos idosos à
toda gama de tecnologias disponíveis, usufruindo de seus benefícios, em prol da saúde e QV.
REFERÊNCIAS
1.
2.
3.
4.
AGE CONCERN AND HELP THE AGED. Introducing another World: older people and digital inclusion: A report of qualitative research on the barriers and enablers to tackling digital
exclusion in later life. Age Concern England. United Kingdom, 2009. Disponível em: < http://www.
ageuk.org.uk/Documents/EN-GB/For-professionals/Computers-and-technology/140_0809_introducing_another_world_older_people_and_digital_inclusion_2009_pro.pdf?dtrk=true >. Acesso
em: 12 julho 2014.
ALEXANDRE, M.C.C.F.M.C. Estudo sobre Burnout e atitudes em relação ao uso de novas
tecnologias em docentes do 2º e 3º ciclos e ensino secundário de escolas do concelho
da Covilhã. 2009. 128f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Psicologia, Departamento de Psicologia e Educação, Universidade da Beira Interior, Covilhã, Portugal, 2009. Disponível em:
<https://ubibliorum.ubi.pt/bitstream/10400.6/2548/1/Maria%20Alexandre.pdf>. Acesso em: 20
setembro 2014.
BRUCKI, S.M.D; NITRINI, R.; CARAMELLI, P.; BERTOLUCCI, P.H.F.; OKAMOTO, I.H. Sugestões para o uso do Mini Exame do Estado Mental no Brasil. Arquivos de Neuropsiquiatria,
São Paulo, v. 61, n. 3-B, p. 777-781, 2003.
CAROCHINHO, J.A.B. Atitudes face as novas tecnologias de informação: adaptação e validação da escala ANT/25 para a língua portuguesa. In: SOARES, A. P.; ARAÚJO, S.; CAIRES, S.
(Orgs). Avaliação psicológica: formas e contextos. vol. 4. Braga: Associação dos Psicólogos
Portugueses – APPORT, 1999, p.758-768.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
103
5.
CHEN, Yi-ru R.; SCHULZ, P. J. The Effect of Information Communication Technology Interventions on Reducing Social Isolation in the Elderly: a systematic review. Journal of Medical
Internet Research, Toronto, v. 18, n. 1, p. 18-30, 2016.
6.
CORREIA DA COSTA, J.F. Os idosos e as novas tecnologias: perspectivas para uma
maior qualidade de vida. 2010. 289f. Tese (Doutorado).- Faculdades de Ciências da Educação
Departamento de Teoria da Educação, História da Educação e Pedagogia Social, Santiago de
Compostela, Portugal. Universidade de Santiago de Compostela, 2010.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
EUROPEAN COMMISSION. European Union Programme for employment and social solidarity. Activating and guiding the engagement of seniors through social media: AGES
2.0. 2013. Programme for employment, social affairs and inclusion of the European Union –
PROGRESS (2007-2013). Disponível em <http://www.ages2.eu/en/project-summary>Acesso
em:13 de agosto de 2014.
FERREIRA, S.A.; TORRES, A.; MEALHA, O; VELOSO, A. Training Effects on Older Adults in
Information and Communication Technologies Considering Psychosocial Variables. Educational
Gerontology, United States, v.41, n.7, p. 482-493, 2015.
FLECK, M.P.A.; CHACHAMOVICH, Eduardo; TRENTINI, Clarissa. Development and validation
of the Portuguese version of the WHOQOL-OLD module. Revista de Saúde Pública, São
Paulo, v.40, n.5, p.785-791, 2006.
FLECK, M.P.A.; LOUZADA, S.; XAVIER, M.; CHACHAMOVICH, E.; VIEIRA, G.; SANTOS,
L.; PINZON, V. Aplicação da versão em português do instrumento abreviado de avaliação da
qualidade de vida WHOQOL-bref. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v.34, n.2, p. 17883, 2000.
FOLSTEIN, M.F., FOLSTEIN, S.E.; MCHUGH, P.R. Mini-mental state: a practical method for
grading the cognitive state off patients for the clinician. Journal of Psychiatric Research,
Kidlington, v.12, n.3, p.189-198,1975.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Brasil em síntese: Esperança
de vida ao nascer (em anos) Brasil – 2000 a 2015. Disponível em: <http://brasilemsintese.ibge.
gov.br/populacao/esperancas-de-vida-ao-nascer.html > Acesso em: 2 de outubro de 2015.
14.
JANTSCH, A.; MACHADO, L.R.; BEHAR, P.A.; LIMA, J.V. As redes sociais e a qualidade de
vida: os idosos na era digital. IEEE-RITA, Washington, v.7, n.4, p.173-179, 2012. Institute of
Electrical & Electronics Engineers (IEEE).
15.
KACHAR, V. Envelhecimento e perspectivas de inclusão digital. Kairós Gerontologia, São
Paulo, v.13, n.2, p.131-147,2010.
16.
KARAVIDAS, M., LIM, N.K.; KATSIKAS, S.L. The effects of computers on older adult users.
Computers in Human Behavior, United Kingdom, v.21, n.5, p.697-711, 2005.
17.
104
CZAJA, S.J.; CHARNESS, N.; FISK, A.D.; HERTZOG, C.; NAIR, S.N.; ROGERS, W.A.; SHARIT,
J. Factors predicting the use of technology: findings from the center for research and education
on aging and technology enhancement (create). Psychology and Aging, Washington, v.21.
n.2, p.333-352, 2006.
KOLMOGOROV, A.N. Sulla determinazione empirica di una legge di distribuzione. Giornale
dell’Istituto Italiano degli Attuari. European Actuarial Journal, Zurique, v.4, n.1, p.83-91,1933.
Springer.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
18.
19.
20.
21.
22.
23.
KLUTHCOVSKY, A.C.G.C.; TAKAYANAGUI, A.M.M. Qualidade de Vida– aspectos conceituais.
Revista Salus, Guarapuava, v.1, n.1, p.13-15,2007.
LEE, B.; CHEN, Y.; HEWITT, L. Age differences in constraints encountered by seniors in their
use of computers and the internet. Computers in Human Behavior, United Kingdom, v.27,
n.3, p.1231-1237, 2011.
MANN, H.B.; WHITNEY, D.R. On a test of whether one of two random variables is stochastically
larger than the other. Annals of Mathematical Statistics, Beachwood, v.18, n.1, p.50-60, 1947.
MESQUITA, P.F.B.A. Disposições para um novo envelhecimento: Reflexões sobre ser velho
na contemporaneidade. Geriatria & Gerontologia, Fortaleza, v. 5, n.1, p.46- 51,2011.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. WHOQOL-OLD/WHOQOL-Bref. Versão em português
dos instrumentos de avaliação de qualidade de vida (WHOQOL). 1998. Disponível em: <http://
www.ufrgs.br/psiquiatria/psiq/WHOQOL-OLD.pdf > Acesso em: 12 agosto de 2014.
SANTIAGO, D.R.P.; SCHWARTZ, G.M.; KAWAGUTI, C.N. Artigo sobre a estratégia de coparticipação: estratégia de inclusão digital por coparticipação de idosos no lazer virtual.
In: Inclusão Digital: estratégias de coparticipação de idosos no lazer virtual. SANTIAGO, Danilo
Roberto Pereira; SCHWARTZ, Gisele Maria; KAWAGUTI, Cristiane Naomi (Orgs). Curitiba:
CRV. p.79-95.
24.
SHAPIRO, S.S.; WILK, M.B. An analysis of variance test for normality (complete samples).
Biometrika, United Kingdom, v.52, n.3-4, p.591-611, 1965. Oxford University Press (OUP).
25.
SILVA, S. Cursos de informática para a terceira idade: por quê? Sinergia, Brasil, v.9, n.1, p.
49-54, 2008.
26.
SMALL, G. W. et al. Your brain on Google: patterns of cerebral activation during internet searching. The American Journal of Geriatric Psychiatry, Washington, v. 17, n. 2, p. 116-126,
2009.
27.
28.
SMIRNOV, V.I. Table for estimating the goodness of fit of empirical distributions. Annals of
Mathematical Statistics, Beachwood, v.19, n.2, p. 279-281, 1948.
THE WHOQOL GROUP. The World Health Organization quality of life assessment (WHOQOL):
position paper from the World Health Organization. Social Science and Medicine, United
Kingdom, v.41, n.10, p.1403-1409, 1995.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
105
09
“
Contexto sanitário da hanseníase
e envelhecimento
Marcos Túlio Raposo
UESB
Marcelo de Almeida do Nascimento
UESC
Ailana Cardoso Damasceno
UNISBA
Ana Virgínia de Queiroz Caminha
UESB
10.37885/201202400
RESUMO
Introdução: A hanseníase é uma doença infecciosa que pode comprometer qualquer faixa
etária. Devido à sua cronicidade e longo período de exposição ao agente etiológico, é
mais prevalente na população à medida que esta envelhece. Objetivo: O estudo descreve
as características epidemiológicas da enfermidade em um município da região sudoeste
do estado da Bahia, de 2010 a 2019. Resultados: Foram identificados 168 casos novos,
sendo 54 (32,14%) em maiores de 60 anos. A média de idade ao diagnóstico foi 51,8
(± 17,2) anos e, entre idosos, 69,8 (± 7,5). Conclusão: O município exibe padrão de
alta endemicidade para hanseníase; comprometimento de pessoas em idade produtiva
e agravamento com o envelhecimento; apresenta sérias limitações operacionais quanto
ao cumprimento das ações programáticas.
Palavras- chave: Hanseníase, Epidemiologia, Doenças Negligenciadas, Avaliação de
Serviços de Saúde, Envelhecimento.
INTRODUÇÃO
A hanseníase é uma doença infecciosa granulomatosa, causada pelo bacilo
Mycobacterium leprae, que compromete principalmente pele e nervos periféricos. De evolução
crônica e potencialmente determinante de incapacidades físicas irreversíveis quando não diagnosticada e tratada em tempo oportuno (BRASIL, 2016; WORLD HEALTH ORGANIZATION,
2020), suas repercussões se estendem par além do dano físico. As incapacidades verificadas
estão associadas ao dano neural decorrente da presença do bacilo nas células de Schwann,
macrófagos intraneurais e de processos inflamatórios decorrentes da resposta imunológica
(WILDER-SMITH; VAN BRAKEL, 2008), sendo agravadas por condições socioeconômicas
desfavoráveis, estigma e diagnóstico tardio (WITHINGTON et al., 2003; SCOLLARD et al.,
2006). A doença pode comprometer a população em qualquer faixa etária, porém, devido à
sua condição crônica e ao longo período de exposição ao agente etiológico é mais prevalente
na população à medida que esta avança na idade cronológica (BRASIL, 2016).
No ano de 2019, o Brasil registrou 27.863 casos novos de hanseníase, correspondendo
a 13,8% do total de casos no mundo (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2020). De 2009 a
2018 foram diagnosticados 311.384 no país, dentre os quais, 85.217 (27,4%) com grau de
incapacidade física (GIF) 1 ou 2. Na Bahia, no mesmo período, foram 24.601 casos novos
e 4.953 com GIF 1 e2 (BRASIL, 2020).
O processo do envelhecimento segue um curso natural que determina perda progressiva
da condição funcionalidade da pessoa e pode ser associado a comorbidades que agravam o
progresso de incapacidades físicas em adição ao déficit orgânico, mudanças culturais, sociais
e emocionais adquiridos com o avançar da idade (CIOSAK et al., 2011). Neste contexto, o
Relatório Mundial Sobre Deficiência, publicado em 2011, apontou um crescente corpo de
evidências estatísticas que expõem um quadro complexo da mudança dos fatores de risco
para as deficiências, em especial associadas ao envelhecimento populacional, às doenças
crônicas não-transmissíveis, e também às transmissíveis, enunciando que oitenta por cento
da população mundial com deficiência vive em países em desenvolvimento (WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2011).
A carga da hanseníase é determinada pelo impacto que ela determina na população e
a sua caracterização como doença tropical negligenciada de alto impacto a classifica como
um problema de Saúde Pública, justificável pelo seu caráter infectocontagioso e associação
com populações de baixo nível sócio-econômico-sanitário (KERR-PONTES et al., 2006;
MONTEIRO et al., 2017). Neste contexto, a conjunção do processo fisiológico natural, como
o envelhecimento, com uma doença infectocontagiosa de ação patogênica silenciosa como
a hanseníase está associada com incapacidade física (MATOS et al., 2019) e aumenta o
risco de ocorrência de limitações funcionais, restrição de atividades e restrição à participação
108
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
social para a população por ela acometida (BRASIL, 2016), o que repercute especialmente
na condição de saúde da população que envelhece e no contexto sanitário que demanda
modificações no contexto da oferta da atenção à saúde (CIOSAK et al., 2011).
Compreender a situação epidemiológica de uma determinada condição em um contexto geográfico específico permite analisar, por meio de indicadores epidemiológicos, as
dimensões que o agravo ou doença podem determinar na população (WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2017). No caso da hanseníase, no Brasil, são empregados indicadores
epidemiológicos e operacionais estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde para
avaliar a condição da endemia (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2012; BRASIL, 2016;
WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2017).
OBJETIVO
Descrever as características epidemiológicas da hanseníase em um município da
região sudoeste do estado da Bahia, com vista a conhecer o panorama de acometimento
populacional em uma série histórica.
MÉTODOS
O estudo foi caracterizado com descritivo, dentro da perspectiva de uma “Investigação
em serviços e sistemas de saúde”. O cenário da pesquisa corresponde ao município de
Jequié, localizado no sudoeste do estado da Bahia, com população estimada em 155.966
habitantes. Os dados foram coletados a partir do Sistema Nacional de Agravos de Notificação
(SINAN), fornecido pela Secretaria de Saúde da Bahia (SESAB) em 10 de agosto de 2020,
assim como complementados por consultas em prontuários clínicos. Os dados populacionais
foram obtidos no portal da SESAB.
A partir da identificação dos casos novos, estes foram filtrados e selecionados apenas
aqueles diagnosticados entre os anos de 2001 e 2019. Na sequência, os dados foram estabelecidos em duas categorias: (i) população geral; (ii) “maior de 60 anos”. De posse dos
dados brutos anuais foram estabelecidos os coeficientes padronizados ano a ano, com o
objetivo de fundamentar a avaliação da situação epidemiológica e operacional da hanseníase, seguindo proposto pelas Diretrizes para vigilância, atenção e eliminação da Hanseníase
como problema de saúde pública (BRASIL, 2016).
A análise de dados foi feita por meio do programa Stata 12.0 (Stata Corporation,
College Station, USA). Os dados descritivos foram apresentados em análises simples, frequências absolutas, relativas e coeficientes. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
109
em Pesquisas com Seres Humanos da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia com
o CAAE 02113112.1.0000.0055.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No período compreendido entre 01 de janeiro de 2010 e 31 de dezembro de 2019,
foram diagnosticados e notificados 168 casos novos de hanseníase, residentes e domiciliados no município de Jequié-Bahia-Brasil, sendo 54 (32,14%) em pessoas com mais de 60
anos. As idades variaram de 11 e 87 anos, com média de 51,8 (± 17,2). Para os idosos a
média de idade foi 69,8 (± 7,5) anos.
Consequente à reconhecida associação entre a condição de cronicidade da doença e
longo período de incubação até a franca manifestação de sinais e sintomas manifestos ao
diagnóstico, a faixa etária mais comprometida pela hanseníase envolve adultos em idade
produtiva, com progressão do comprometimento de acordo com o avançar da idade. Os achados desta pesquisa são compatíveis coma literatura (RAPOSO; NEMES, 2012; MONTEIRO
et al., 2013; SOUZA et al., 2017).
No que diz respeito a detecção de casos novos por sexo, observa-se que a proporção
de 50,6% para homens dentre a população geral e a 42,6% de homens entre idosos.
Apesar de a proporção, por sexo, ser equilibrada para a população geral, no coletivo
de idosos a proporção de homens foi inferior. As diferenças quanto ao sexo estão descritas
na literatura (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2020; SOUZA, FERREIRA, et al., 2018);
ROMÃO; MAZZONI, 2013; MIRANZI et al., 2010).
Referente à classificação operacional, para a população geral, houve predomínio de
casos multibacilares (MB), com destaque para o ano 2013, em que apenas 6,67% foram
diagnosticados com formas clínicas paucibacilares (PB), como descrito na tabela 1. Nesta
série histórica, 64,3% dos casos eram MB, no entanto, quando analisada a classificação
segundo idade superior a 60 anos, verificou-se que 72,2% dos idosos exibiam formas clínicas
mais graves. Quando analisada a classificação operacional por sexo encontra-se evidente
diferença entre o padrão de acometimento em homens e mulheres, com maior proporção
de MB entre homens (61,1%) dentro do conjunto de pessoas diagnosticadas na população
geral, ao passo que, para idosos, houve equilíbrio nesse padrão.
110
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Tabela 1. Casos novos por sexo e classificação operacional, na população geral e entre idosos.
Ano
Casos
novos
2010
Casos novos em homens
% de Casos Multibacilares
% de Multibacilares entre homens
(n 108)
Pop. geral
n (%)
Idosos
n (%)
Pop geral (n
168)
n (%)
Idosos (n 54)
n (%)
Pop Geral (n 108)
n (%)
Idosos (n 39)
n (%)
24
12 (50)
1 (14,3)
17 (70,8)
5 (71,4)
9 (52,3)
1 (20)
2011
11
5 (45,5)
–
5 (45,5)
–
3 (60)
–
2012
19
11 (57,9)
3 (60)
12 (63,1)
3 (60)
9 (75)
2 (66,6)
2013
11
6 (54,5)
3 (75)
10 (90,9)
4 (100)
6 (60)
3 (25)
2014
17
8 (47,1)
1 (14,3)
12 (70,6)
5 (71,4)
8 (66,6)
1 (20)
2015
12
6 (50)
2 (50)
10 (83,3)
3 (75)
5 (50)
2 (66,6)
2016
19
10 (52,6)
3 (50)
14 (73,7)
6 (100)
8 (57,1)
3 (50)
2017
21
6 (28,6)
2 (28,6)
9 (42,9)
4 (57,1)
4 (44,4)
2 (50)
2018
17
11 (64,7)
7 (70)
9 (52,9)
6 (60)
7 (77,7)
5 (83,3)
2019
17
10 (58,8)
1 (25)
10 (58,8)
3 (75)
7 (70)
1 (33,3)
Total
168
85 (50,6)
23 (42,6)
108 (64,3)
39 (72,2)
66 (61,1)
20 (51,3)
A mais alta proporção de MB é referida na literatura (SARMENTO et al, 2015). No cenário baiano, em 2014, Jequié registrou uma proporção 81,81% de casos de hanseníase
com classificação MB. Na Bahia foi de 62,3%, no Nordeste 62,3% e o Brasil registrou 65,9%
(SOUZA et al., 2018). A constatação de maioria de casos MB em homens foi verificada em
outros estudos (ROMÃO; MAZZONI, 2013; MIRANZI et al., 2010) e também em pesquisas
desenvolvidas na Bahia no período de 2001 a 2014, decorrentes de fatores culturais atrelados
à masculinidades e questões de gênero, assim como a fatores operacionais dos programas
de saúde desenvolvidos no âmbito da saúde pública, em sua maioria direcionados à população feminina (SOUZA et al., 2018).
Nesta curta série histórica estudada (tabela 2), segundo o coeficiente de detecção geral
calculado ano a ano, verifica-se flutuação deste indicador epidemiológico, marcada por dois
picos e descensos, com manutenção da endemia, cujo coeficiente médio de detecção para
o período foi de 10,66/100 mil hab. Na sequência avaliada também foram considerados os
coeficientes de detecção geral para idosos. O padrão flutuante também se espelha para
este grupo, porém, com maior gravidade em relação à magnitude da endemia, com verificação de mais evidente comprometimento neste coletivo. Trata-se, pois, de fixar atenção
para os números relativos, e não absolutos, uma vez que o quantitativo de idosos é menor,
porém com indicador epidemiológico que aponta uma situação epidemiológica de gravidade,
considerando a situação de vulnerabilidade a que eles já estão continuamente envolvidos.
Considerando os anos de 2010 a 2017, 85,82% do total de CN diagnosticados no
período concluíram a poliquimioterapia (PQT) e foram tipificados como “alta por cura”, ao
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
111
passo que, entre os idosos, este valor alcançou 90%. Estes dados demonstram um padrão regular para a população de todas as faixas etárias e padrão bom para o grupo de
idosos (porém no limite de inferioridade), de acordo com o esperado pelos protocolos adotados pelo Brasil e pela Organização Mundial da Saúde (BRASIL, 2016; WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2017).
Tabela 2. Coeficientes anuais de detecção geral de hanseníase/100 mil hab., de detecção em maiores de 60 anos/100
mil hab. e proporção de cura.
Casos NoCoeficiente de
vos em ≥ 60
Detecção Geral
anos
(por 100 mil hab.)
n
Ano
Casos
Novos
n
2010
24
15,80
2011
11
2012
% de cura entre casos novos
Coeficiente de Detecção em ≥ 60 anos (por
100 mil hab.)
Na pop Geral
n (%)
Entre Idosos
n (%)
7
40,39
22 (91,6)
7 (100)
7,23
–
–
11 (100)
–
19
12,50
5
28,76
15(78,95)
4 (80)
2013
11
6,81
4
21,72
8 (72,73)
3 (75)
2014
17
10,52
7
38,07
17 (100)
7 (100)
2015
12
7,43
4
21,70
11 (91,66)
4 (100)
2016
19
11,74
6
32,48
18 (94, 74)
6 (100)
2017
21
12,95
7
37,80
17
6 (85,71)
2018
17
10,91
10
56,22
10#
5#
2019
17
10,90
4
22,44
9#
1 #*
Total
168
10,66*
54
30,02**
115 (85,82)&
40 (90)&
* Média do coeficiente de detecção geral de 2010 a 2019; ** Média do coeficiente de detecção em maiores de 60 anos de 2010
a 2019.
#
Dados parciais, portanto, não serão computados para o cálculo do percentual e cura. Segundo a Nota Técnica n. 03/2020/
CGHDE/DEVIT/SVS/MS, para os casos PB considera-se um ano anterior à avaliação; para MB, dois anos antes da avaliação.
*** Cálculo realizado com dados de 2001 a 2017
A situação epidemiológica do município foi classificada como de “alta endemicidade”, de
acordo com a média do coeficiente de detecção geral para o período, segundo a Diretrizes
para vigilância, atenção e eliminação da hanseníase como problema de saúde pública
(BRASIL, 2016) e se aproxima do panorama epidemiológico de outros municípios baianos,
confirmando a gravidade da endemia estadual (SOUZA et al., 2018; SOUZA, FERREIRA,
BOIGNY et al., 2018) e se insere também num conjunto de considerável padrão endêmico
nacional (BRASIL, 2018; BRASIL, 2019; BRASIL, 2020).
O quantitativo e a proporção de casos novos com o GIF avaliado no momento do
diagnóstico por ano, segundo o registro no SINAN aponta que o GIF foi avaliado em 161
(95,83%) dos pacientes da população geral. Dentre estes, o GIF2 foi detectado em 8 (4,97%)
dos avaliados; ocorrência de alguma incapacidade (GIF1 ou GIF2) foi confirmada em 21
(13,04%) dos que tiveram o GIF registrado. Para o quantitativo de idosos, o GIF foi avaliado
em 52 (96,3%) dos casos novos durante o diagnóstico. Incapacidades graves, classificadas
112
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
como GIF2 foram confirmadas em 4 (7,4%), assim como GIF1 também em 4 (7,4%) dos
examinados, totalizando 14,8% de pessoas com incapacidades.
Quando foi analisado o momento da alta da PQT, o registro de GIF ocorreu apenas
para 3 (1,78%) dos casos da população geral. Mais contundente foi a constatação de que o
GIF não foi avaliado em nenhum dos idosos, quando estes concluíram o tratamento. A inobservância desta ação de controle escancara o descumprimento de atividades estratégicas,
pactuadas e regulamentadas para o combate da doença. A ausência e a incompletude
destes dados inviabilizam a construção de indicadores específicos para as incapacidades
e controle da endemia.
A confiabilidade do registro de GIF considerada essencial para a análise operacional. A incompletude de dados um obstáculos para a avaliação da qualidade dos serviços,
haja vista que comum a ocorrência de falhas de registro neste componente das ações de
controle (CRESPO; GONÇALVES; PADOVANI, 2014) e este parece ser um dos entreves
nesta investigação, pois foram verificadas ausências de registros dos GIF nas fichas de
notificação e no acompanhamento dos casos. As imprecisões e ausências de dados sobre
incapacidades entre residentes no município de Jequié (por 100 mil hab.), em especial para
idosos, demonstram a impossibilidade para interpretação do padrão de comprometimento
funcional e de incapacidades neste horizonte temporal. Por outro lado, de acordo com a
constatação de GIF2 encontrada, e provavelmente subestimada, verifica-se diagnóstico
tardio da doença para estes casos (RAPOSO; NEMES, 2012; BRASIL, 2016).
Por conseguinte, o indicador de proporção de casos de hanseníase curados com GIF2
entre os casos avaliados no momento da alta por cura no ano, não foi calculado para cada
ano porque a proporção de GIF avaliado à cura, não atendeu ao disposto nas “Diretrizes
para Vigilância, atenção e eliminação da Hanseníase como problema de saúde pública”.
Segundo o documento, este indicador é calculado somente quando o percentual de casos
com GIF avaliado é maior ou igual a 75% (BRASIL, 2016).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A condição epidemiológica da hanseníase no município descreve um padrão de alta
endemicidade, com comprometimento essencialmente de população em idade produtiva
com média de idade ao diagnóstico de 51,8 anos e, entre idosos, 69,8 (± 7,5) anos. O envolvimento de população em maior faixa etária acompanha a dinâmica da transmissão da
doença confirmando seu caráter lento e silencioso com amplo período de incubação. Os indicadores avaliados reafirmam a ocorrência de limitações operacionais quanto ao cumprimento das ações programáticas, especialmente em relação à avaliação e monitoramento
das incapacidades físicas.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
113
FINANCIAMENTO
Esta pesquisa foi financiada pelo PIBIC-UESB (Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia).
REFERÊNCIAS
1.
2.
3.
BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes para a vigilância, atenção e eliminação da hanseníase como problema de saúde pública. Brasília 2016. Disponível em <https://central3.to.gov.
br/arquivo/297694/http:// apps.who.int/iris/bitstream/10665/249601/1/WER9135.pdf?ua=1>
Acessado em: 13 jan 2019.
BRASIL. Ministério da Saúde. Boletim epidemiológico: Hanseníase. Brasília: Ministério
da Saúde; 2018 2018.
4.
BRASIL. Ministério da Saúde. Hanseníase no Braasil: caracterização das incapacidades
físicas. Brasília. Ministério da Saúde, 2020.
5.
BRASIL. Ministério da Saúde. Departamento de Informática do SUS. DATASUS. Informações
de Saúde: Epidemiológicas e Morbidades. Brasília, DF: 2019. Disponível em: <http://tabnet.
datasus.gov.br/cgi/webtabx.exe?ETL_hanseniase/ETL_hans2000BD.def > Acessado em: 19
abr 2019.
6.
CIOSAK, S. I. et al. Senescence and senility: the new paradigm in primary health care. Rev
Esc Enferm USP, v. 45 Spec No 2, p. 1763-8, Dec 2011. ISSN 0080-6234. Disponível em: <
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22569669 >. Acessado em: 25 mai 2019.
7.
8.
9.
10.
114
BRSIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Boletim epidemiológico –
Hanseníase 2020. Brasília. 2020.
CRESPO, M. J. I.; GONÇALVES, A.; PADOVANI, C. R. Hanseníase: pauci e multibacilares
estão sendo diferentes? Revista da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Botucatu, v.
47, n. 1, p. 43-50, 2014.
KERR-PONTES, L. R. et al. Socioeconomic, environmental, and behavioural risk factors for
leprosy in North-east Brazil: results of a case-control study. Int J Epidemiol, v. 35, n. 4, p.
994-1000, Aug 2006. ISSN 0300-5771. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16645029 >. Acessado em: 10 abr 2019.
MATOS, T. S. et al. Leprosy in the elderly population and the occurrence of physical disabilities: Is there cause for concern? An Bras Dermatol, v. 94, n. 2, p. 243-245, 2019 Mar-Apr
2019. ISSN 1806-4841. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/31090837 >.
Acessado em: 07 jun 2019.
MIRANZI, S. S. C.; PEREIRA, L. H. M.; NUNES, A. A. Epidemiological profile of leprosy in a
Brazilian municipality between 2000 and 2006. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina
Tropical, Uberaba, v. 43, n. 1, p. 62-67, 2010.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
11.
12.
13.
MONTEIRO, L. D. et al. [Physical disabilities in leprosy patients after discharge from multidrug
therapy in Northern Brazil]. Cad Saude Publica, v. 29, n. 5, p. 909-20, May 2013. ISSN 16784464. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23702997 >. Acessado em: 28
abr 2019.
MONTEIRO, L. D. et al. Social determinants of leprosy in a hyperendemic State in North Brazil.
Rev Saude Publica, v. 51, p. 70, Jul 2017. ISSN 1518-8787. Disponível em: < https://www.
ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28746575 >. Acessado em: 22 abr 2019.
RAPOSO, M. T.; NEMES, M. I. B. Assessment of integration of the leprosy program into primary health care in Aracaju, state of Sergipe, Brazil. Rev Soc Bras Med Trop, v. 45, n. 2, p.
203-8, 2012 Mar-Apr 2012. ISSN 1678-9849. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/
pubmed/22534993 >. Acessado em: 14 mai 2019.
14.
SOUZA, C. D. F. et al. Grau de incapacidade física na população idosa afetada pela
hanseníase no estado da Bahia, Brasil. Revista Acta Fisiátrica, v. 24, n. 1, p. 27-31, 2017.
Disponível em: < http://www.actafisiatrica.org.br/detalhe_artigo.asp?id=663> Acessado em:
15 abr 2019.
15.
ROMÃO, E. R.; MAZZONI, A. M. Perfil epidemiológico da hanseníase no município de
Guarulhos, SP. Revista de Epidemiologia e Controle de Infecção, Guarulhos, v. 3, n. 1, p.
22-27, 2013.
16.
SARMENTO, A. P. A.; PEREIRA, A. M.; RIBEIRO, F.; CASTRO, J. L.; ALMEIDA, M. B.; RAMOS, N. M. Perfil epidemiológico da hanseníase no período de 2009 a 2013 no município
de Montes Claros (MG). Revista da Sociedade Brasileira de Clínica Médica. v. 13, n. 3, p.
180-184, 2015.
17.
18.
19.
20.
21.
22.
SCOLLARD, D. M. et al. The continuing challenges of leprosy. Clin Microbiol Rev, v. 19, n.
2, p. 338-81, Apr 2006. ISSN 0893-8512. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16614253 >. Acessado em: 29 mar 2019.
SOUZA, E. A. et al. [Programmatic vulnerability in leprosy control: gender-related patterns in
Bahia State, Brazil]. Cad Saude Publica, v. 34, n. 1, p. e00196216, Feb 2018. ISSN 1678-4464.
Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29412328 >. Acessado em: 10 abr 2019.
SOUZA, E. A. FERREIRA, A. F. BOIGNY, R. N. et al. Leprosy and gender in Brazil: trends in
an endemic area of the Northeast region, 2001-2014. Rev Saude Publica, v. 52, p. 20, 2018.
ISSN 1518-8787. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29489990 >. Acessado em: 15 maio 2019.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. WHO Expert Committee on Leprosy. World Health Organ Tech Rep Ser, n. 968, p. 1-61, 1 p following 61, 2012. ISSN 0512-3054. Disponível em:
< https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22970604 >. Acessado em: 08 jun 2019.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Global Leprosy Strategy 2016–2020. Accelerating
towards a leprosy-free world. Monitoring and Evaluation Guide. New Delhi: World Health
Organization, Regional Office for South-East Asia 2017.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Weekly epidemiological record. No 36, 2020, 95, 417–
440. 2020.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
115
23.
116
WILDER-SMITH, E. P.; VAN BRAKEL, W. H. Nerve damage in leprosy and its management.
Nat Clin Pract Neurol, v. 4, n. 12, p. 656-63, Dec 2008. ISSN 1745-8358. Disponível em: <
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19002133 >. Acessado em: 06 junho 2019.
24.
WITHINGTON, S. G. et al. Assessing socio-economic factors in relation to stigmatization, impairment status, and selection for socio-economic rehabilitation: a 1-year cohort of new leprosy
cases in north Bangladesh. Lepr Rev, v. 74, n. 2, p. 120-32, Jun 2003. ISSN 0305-7518. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12862253 >. Acessado em: 04 abr 2019.
25.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. World Report on Disability. Lancet, v. 377, n. 9782, p. 1977,
Jun 2011. ISSN 1474-547X. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21665020
>. Acessado em: 07 mar 2019.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
10
“
Diagnósticos de enfermagem
do domínio enfrentamento/
tolerância ao estresse
evidenciados por idosos em
tratamento hemodialítico
Rosilene Alves de Almeida
Rosângela Alves Almeida Bastos
Francisca das Chagas Alves de Almeida
Roseane Vieira Pereira de Sousa
Raquel Riziolli de Araújo Oliveira
Rita de Cássia Sousa Silva
10.37885/201202401
RESUMO
Introdução: No contexto de uma unidade de hemodiálise, o processo de enfermagem
constitui ferramenta essencial para orientar o tratamento hemodialítico individual. Este
estudo objetivou identificar os diagnósticos de enfermagem do domínio enfrentamento/
tolerância ao estresse da NANDA-I evidenciados por idosos em tratamento hemodialítico.
Método: trata-se de uma pesquisa descritiva, exploratória e com abordagem quantitativa, realizada no setor de hemodiálise de uma instituição filantrópica localizada em João
Pessoa-PB-Brasil, a coleta de dados deu-se no período de agosto a setembro de 2015,
mediante a técnica de entrevista, subsidiada por um roteiro estruturado, e compuseram
a amostra 40 idosos que realizavam tratamento hemodialítico. Resultados e discussão:
quanto ao perfil dos pacientes investigados, evidenciou-se uma prevalência do sexo masculino, com idade na faixa etária de 60-69 anos, e nível de escolaridade prevalente de
5-8 anos de estudo. Neste estudo, foram identificados oito diagnósticos de enfermagem
no domínio enfrentamento/tolerância ao estresse, sendo cinco diagnósticos presentes
com média frequência (05; 50% a 75%) e três com baixa frequência (< 50%), não havendo nenhum de alta frequência (75% a 100%). Conclui-se, pois, que a identificação
dos diagnósticos de enfermagem é essencial para planejamento de uma assistência
individualizada ao idoso que está em tratamento hemodialítico.
Palavras-chave: Enfermagem, Insuficiência Renal Crônica, Hemodiálise.
INTRODUÇÃO
Uma das mais importantes transições demográficas que o Brasil experimentou no
final do século XX foi o acentuado envelhecimento da população, uma realidade mundial
que gera mudanças no perfil epidemiológico, com o aumento da expectativa de vida e do
número de idosos, os quais constituem um importante grupo de risco para desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, especialmente a Insuficiência Renal Crônica
(IRC) ( MOURA, 2010).
A IRC consiste na perda progressiva e irreversível das funções renais, que pode iniciar
com um quadro agudo ou de maneira lenta e progressiva. O estágio final da IRC é denominado Insuficiência Renal Crônica Terminal (IRCT), quando o paciente necessita de uma Terapia
Renal Substitutiva (TRS) para sobreviver. As TRS disponíveis são a diálise (hemodiálise e
diálise peritoneal) e o transplante renal (BISCA; MARQUES, 2010; CHERCHIGLIA, 2010).
No cenário mundial e brasileiro, a incidência e a prevalência da IRC em estádio terminal têm aumentado progressivamente, a cada ano, em “proporções epidêmicas”. No Brasil
a prevalência de pacientes em diálise por milhão de habitantes era de 383, ocorrendo um
aumento médio no número absoluto de pacientes de cerca de 9% nos últimos anos. Dentre
estes, 26% têm mais de 60 anos de idade (SESSO, 2011).
O tratamento hemodialítico associado à progressão da IRC causa limitações e prejuízos
na saúde mental, física e capacidade funcional. O enfermeiro tem um papel fundamental
para identificar as necessidades do cliente por meio dos diagnósticos de enfermagem, planejando intervenções individualizadas e eficazes. Esses diagnósticos são definidos como
julgamento clínico das respostas do indivíduo, da família ou da comunidade a problemas
de saúde/processos vitais reais ou potenciais constituem a base para seleção das intervenções de enfermagem para o alcance dos resultados pelos quais o enfermeiro é responsável
(CENTENARO, 2010; COFEN, 2011).
Assim, no contexto da terapia hemodialítica envolvendo idosos, o processo de enfermagem constitui ferramenta essencial para orientar a realização do tratamento. Considerando
o exposto, este estudo objetiva identificar os diagnósticos de enfermagem do domínio
enfrentamento/tolerância ao estresse da NANDA-I evidenciados por idosos em tratamento hemodialítico.
MÉTODO
Trata-se de uma pesquisa exploratória com abordagem quantitativa, realizada no setor
de hemodiálise de uma instituição filantrópica localizada em João Pessoa-PB-Brasil, referência em tratamento hemodialítico.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
119
A população do estudo foi constituída por 50 idosos, de ambos os sexos, com IRC e em
tratamento hemodialítico no referido serviço de saúde. A amostra compreendeu 40 idosos
selecionados aleatoriamente a partir da demanda espontânea. Os critérios de inclusão foram:
aceitar participar do estudo de forma voluntária e evidenciar aptidão para entender e responder as questões formuladas no roteiro de entrevista. Foram excluídos do estudo aqueles
que apresentaram intercorrências provenientes da terapêutica durante a coleta de dados.
A coleta de dados transcorreu no período de agosto a setembro de 2015, mediante a
técnica de entrevista, subsidiada por um roteiro estruturado composto por informações relativas aos fatores sociodemográficos dos idosos, às características definidoras e aos fatores
relacionados aos diagnósticos de enfermagem do domínio atividade/repouso da Taxonomia
da North American Nursing Diagnosis – NANDA-I (2013).
Para a análise dos dados utilizou-se um processo individual de julgamento clínico (interativo e intuitivo) sobre as respostas dos idosos em relação ao estado de saúde, o qual foi
operacionalizado mediante os seguintes passos: análise (separação do material em partes e
o exame crítico delas) e síntese (combinação das partes ou dos elementos em uma entidade
única (RISNER, 1990). Esse processo resultou em afirmativas diagnósticas pertencentes ao
domínio enfrentamento/tolerância ao estresse contempladas na NANDA-I (2013) expressos
pelos idosos investigados.
Os resultados obtidos passaram por processo de revisão de forma pareada entre os
autores, para assegurar um julgamento consensual sobre o material empírico, garantindo,
assim, maior acurácia diagnóstica. Após esse procedimento, os dados foram tratados por
meio de estatística descritiva – frequência simples e percentual. Dada a inexistência de um
padrão ouro que pudesse ser utilizado para o devido fim, foi delimitado (arbitrariamente) que
todos os diagnósticos de enfermagem identificados passassem a constituir o perfil de diagnósticos de enfermagem dos idosos participantes da pesquisa, discriminando-os como de
alta frequência (≥ 75% a 100%), de média frequência (≥ 50% a 75%) ou de baixa frequência
(< 50%), os quais foram ancorados considerando-se a literatura pertinente.
No que concerne aos princípios éticos da pesquisa, o projeto foi apreciado e aprovado
pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal
da Paraíba, sob o Protocolado n. 0144/11, e desenvolvido seguindo os preceitos contemplados na Resolução 466/12, do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 1996), que normatiza
os aspectos éticos a serem considerados na pesquisa envolvendo seres humanos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os dados sociodemográficos dos participantes do estudo apontam que 23 (57,5%) eram
do sexo masculino e 17 (42,5%) eram do sexo feminino. No tocante à idade, verificou-se que
120
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
28 (70%) estavam na faixa etária de 60 a 69 anos e 12 (30%) tinham de 70 a 79 anos. Em relação ao estado civil, 24 (60%) eram casados, 08 (20%) eram viúvos, 05 (12,5%) afirmaram
ser divorciados, e apenas 03 (7,5%) eram solteiros. Quanto à escolaridade, verificou-se que
10 idosos (25%) referiram não ter nenhum ano de estudo, 10 (25%) informaram ter apenas
de 1 a 4 anos, 11 (27,5%) relataram ter de 5 a 8 anos de estudo, e 09 (22,5%) possuíam
de 9 a 12 anos de estudo.
Com relação ao tempo em que os idosos realizavam hemodiálise, 19 (47,5%) referiram um período menor que 1 ano, 09 (22,5%) tratavam-se por um intervalo de tempo de 1
a 3 anos, 8 (20%) tiveram a terapêutica instituída por um período de 3 a 6 anos, 04 (10%)
realizavam o tratamento por um período compreendido entre 9 a 12 anos. No que se refere
à especificidade do acesso vascular para a realização da hemodiálise, 32 (80%) idosos
possuíam fístula arteriovenosa e apenas 08 (20%), possuíam cateter duplo lúmen em veia
jugular ou subclávia.
Quanto aos diagnósticos de enfermagem do domínio enfrentamento/tolerância ao
estresse identificados nos idosos em tratamento hemodialítico, foram evidenciados, nos
idosos investigados, 08 diagnósticos de enfermagem: tristeza crônica (62,5%); enfrentamento ineficaz (62,5%) medo (50%); planejamento de atividade ineficaz (50%); ansiedade
(50%); resiliência individual prejudicada (37,5%); ansiedade relacionada à morte (27,5%);
sobrecarga de estresse (25%). Na discussão dos achados, observa-se uma predominância
dos diagnósticos de enfermagem, que se apresentaram com média frequência (≥ 50 a 75%).
Neste estudo, com idosos em tratamento hemodialítico, o sexo predominante foi o
masculino (57,5%), a idade média foi de 60 a 69 anos (70%), a idade máxima encontrada foi
de 79 anos, e o nível de escolaridade foi de 5-8 anos de estudo (27,5%). Essa prevalência
em relação ao sexo também foi encontrada em outros estudos, porém, não há, ainda, justificativa científica comprovada que possa mostrar essa variação da IRC entre os sexos, visto
que, as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs) afetam de maneira igual homens
e mulheres (BISCA, 2010; HOLANDA, 2009; PILGER, 2010).
Com relação ao tempo que realizam o tratamento hemodialítico, a maioria, 47,5%, referiu realizar o tratamento por menos de um ano e apenas 10% realizavam tratamento entre
9 e 12 anos. Corroborando esses dados, evidenciou-se um estudo realizado em unidade de
diálise de hospital do município de João Pessoa-PB acerca do tempo do tratamento dialítico,
e este apontou que a maior concentração está entre menos de 1 ano até 7 anos, sendo prevalente o tratamento hemodialítico. A mesma pesquisa demonstra que a partir de 7 anos do
tratamento substitutivo a quantidade de pacientes decresce drasticamente. Tal fato mostra
claramente a alta taxa de morbimortalidade associada à IRCT e ao tratamento hemodialítico
e, com o aumento da idade, esses fatores tornam-se agravantes (PAIVA, 2011).
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
121
Com relação ao tipo de acesso vascular mais frequente para realização da hemodiálise,
esteve mais presente o uso da fístula arteriovenosa (80%). A fístula arteriovenosa é considerada a melhor forma de acesso venoso vascular para hemodiálise em idosos; contudo, a
presença de doenças cardiovasculares, diabetes e a exploração vascular para confecção
de acessos vasculares aumenta a possibilidade de complicações com o acesso, levando à
maior morbidade do idoso (KUSUMOTO; OLIVEIRA; MARQUES, 2009).
Um domínio é uma esfera de atividade, estudo ou interesse. O domínio enfrentamento/
tolerância ao estresse refere-se a lutas contra eventos/processo da vida (NANDA-I, 2013).
Neste estudo, foram identificados oito diagnósticos de enfermagem no domínio enfrentamento/tolerância ao estresse, sendo cinco diagnósticos presentes com média frequência
(≥ 50% a 75%) e três com baixa frequência (< 50%), não havendo nenhum de alta frequência (≥ 75% a 100%).
A tristeza e sofrimento estão presentes nesses pacientes, a tristeza crônica é definida
pela NANDA-I (2014, p. 448) como um “padrão cíclico, recorrente e potencialmente progressivo de tristeza disseminada, vivenciada (por pai/mãe, cuidador ou indivíduo com doença
crônica ou deficiência, em resposta à perda contínua ao longo da trajetória de uma
doença ou deficiência”. O sentimento de tristeza decorre do convívio com uma doença
sem possibilidade de cura associado à instabilidade e ao medo de não saber que limitações
advirão da terapia hemodialítica. O apoio psicológico é importante, pois o paciente necessita
de alguém disponível para quem possa relatar não só o sentimento de tristeza, mas todos
os sentimentos impactantes que surgirão no decorrer do tratamento (IBIAPINA et al. , 2016).
A condição de tristeza repercute no fenômeno enfrentamento ineficaz conceituado pela
NANDA-I (2013, p. 41), como “a incapacidade de desenvolver uma avaliação válida dos estressores, escolha inadequada das respostas praticadas e/ou incapacidade de utilizar recursos disponíveis.” Assim, o tratamento hemodialítico gera impacto e mudanças significativas
no modo de viver do paciente renal crônico, sendo muitas vezes difícil o enfrentamento fato
esse que contribuirá com a afirmativa diagnóstica resiliência individual prejudicada, “capacidade reduzida de manter um padrão de respostas positivas a uma situação ou crise adversa
NANDA-I (2013, p. 444), cabendo ao enfermeiro auxiliá-lo no processo de resiliência, atuando como educador e facilitador no processo terapêutico hemodialítico (SILVA et al., 2016).
Além disso, a adaptabilidade dos idosos também é afetada pelas consequências imediatas do tratamento hemodialítico representando para eles medo, “resposta à ameaça percebida que é conscientemente reconhecida como um perigo”, NANDA-I (2014, p. 427). O fato
de conviver com a doença renal crônica e a obrigatoriedade de realização do tratamento
gera medo, angustia transformações físicas e mudanças ocorridas na vida desses pacientes
(SILVA et al., 2014). ocasionando também ansiedade relacionada à morte evidenciada por
122
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
uma “sensação desagradável e vaga de desconforto ou receio gerado por percepções de
uma ameaça real ou imaginária à própria existência” NANDA-I (2014, p. 406). O medo de
viver uma vida insatisfatória lhes parece tão intolerável quanto o medo da morte iminente e
a morte de pessoas que enfrentam o mesmo tratamento agrava ainda mais esse sentimento
(COSTA et al., 2009).
A desesperança vivenciada pelos pacientes engloba a ausência de perspectivas quanto
ao futuro e sentimentos de tristeza e solidão, que emergem pelo fato da cura estar distante
da realidade dos indivíduos sendo difícil elaborar planos e ter expectativas quanto ao futuro
(SILVA et al., 2014). Essa situação favorecerá ao planejamento de atividade ineficaz definido
pela “incapacidade de preparara-se para um conjunto de ações com tempo estabelecido e
sob certas condições” NANDA-I (2014, p. 436).
A predominância de sintomatologia de ordem psicológica nesses pacientes parece
indicar que esses os idosos são mais vulneráveis à sobrecarga de estresse “excessivas
quantidades e tipos de demandas que requerem ação”. NANDA-I (2014, p. 420), assim na
fase de resistência ao estresse, o organismo atua no sentido de buscar o equilíbrio, ocorrendo
uma grande utilização de energia e manifestação de sintomas da esfera psicossocial, tais
como ansiedade, medo, isolamento social, entre outros (VALLE; SOUZA; RIBEIRO, 2009).
Desordens de ansiedade também foram evidenciadas nesses pacientes, a resposta
humana ansiedade é definida como vago e incômodo sentimento de desconforto ou temor,
acompanhado por resposta autonômica (a fonte é frequentemente não específica ou desconhecida para o indivíduo): sentimento de apreensão causada pela antecipação de perigo. É um sinal de alerta que chama a atenção para um perigo iminente e permite ao indivíduo
tomar medidas para lidar com ameaça NANDA-I (2014, p. 404). Pacientes renais crônicos
tende a desenvolver esse diagnóstico principalmente devido à cronicidade da doença e ao
tratamento hemodialítico. O processo de hemodiálise é de difícil adaptação, o que desencadeia reações de ansiedade devido à constante exposição às situações estressoras, como a
diálise e a permanência frequente em ambiente hospitalar (VALLE; SOUZA; RIBEIRO, 2009).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo foi realizado com 40 idosos que se submetiam a tratamento hemodialítico. No perfil dos pacientes investigados evidenciou-se uma prevalência no sexo masculino,
com faixa etária de 60-69 anos e nível de escolaridade prevalente de 5-8 anos de estudo.
Quanto aos diagnósticos de enfermagem, foram identificados no domínio enfrentamento/
tolerância oito diagnósticos de enfermagem.
Os diagnósticos identificados estiveram entre a média frequência (≥ 50% a 75%) e a
baixa frequência (< 50%). Os diagnósticos considerados de média frequência foram: tristeza
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
123
crônica (62,5%); enfrentamento ineficaz (62,5%) medo (50%); planejamento de atividade ineficaz (50%); ansiedade (50%). Já os incluídos na baixa frequência foram: resiliência individual
prejudicada (37,5%); ansiedade relacionada à morte (27,5%); sobrecarga de estresse (25%).
Mediante os diagnósticos de enfermagem encontrados neste estudo, no domínio enfrentamento/tolerância ao estresse, constata-se que a atuação do enfermeiro é de fundamental
importância, visto que os idosos em tratamento hemodialítico apresentaram vários desses
diagnósticos. Dessa forma, concluiu-se que a identificação dos diagnósticos em idosos é
essencial para o planejamento da assistência de enfermagem tão logo se inicie o programa
de hemodiálise. Os achados deste estudo suscitam reflexões para a prática de enfermagem,
as quais podem facilitar a identificação do problema. A utilização de diagnósticos de enfermagem e a implementação de intervenções específicas podem auxiliar os enfermeiros no
cuidado à população idosa em tratamento hemodialítico nos diferentes cenários de prática
de atenção à saúde, promovendo, especialmente, melhora em sua qualidade de vida.
REFERÊNCIAS
1.
2.
3.
BRASIL, Ministério da Saúde. Resolução n. 196, de 10 de outubro de 1996: aprova as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília (DF):
Ministério da Saúde; 1996.
BRASIL, Ministério da Saúde. Resolução n. 196, de 10 de outubro de 1996: aprova as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília (DF):
Ministério da Saúde; 1996.
4.
CENTENARO, G. A. A intervenção do serviço social ao paciente renal crônico e sua família.
Ciências Saúde Coletiva, v.15, n.1, p.1881-5, 2010.
5.
CHERCHIGLIA, M.L. et al. Perfil epidemiológico dos pacientes em terapia renal substitutiva
no Brasil, 2000-2004. Revista Saúde Pública, v.44, n.4, p. 639-49, 2010.
6.
Conselho Federal de Enfermagem. Resolução COFEN n. 358, de 15 de outubro de 2009.
Dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem e a implementação do Processo
de Enfermagem em ambientes públicos ou privados em que ocorre o cuidado profissional de
enfermagem e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília (DF); 2012.
7.
8.
9.
124
BISCA, M. M.; MARQUES, I.R. Perfil de diagnósticos de enfermagem antes de iniciar o tratamento hemodialítico. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 63, n. 3, p. 435-9, jun, 2010.
COSTA, F. A. P. et al. Cotidiano de portadores de doença renal crônica – Percepções sobre
a doença. Revista Médica Minas Gerais, v. 19, n. 4, supl. 2, S12-17, 2009.
HOLANDA, R. H.; SILVA, V. M. Diagnósticos de enfermagem de pacientes em tratamento
hemodialítico. Revista Rene, v. 10, n. 2, p.37-44, abr./jun. 2009.
IBIAPINA, A, R, S et al. Aspectos psicossociais do paciente renal crônico em terapia hemodialítica. Sobral, v.15, n.1, p.25-31, jan./jun. 2016
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
10.
11.
12.
13.
KUSUMOTO, L; OLIVEIRA, M. P; MARQUES, S. O idoso em diálise. Acta Paulista Enfermagem, v. 22, n. esp, p. 546-50, 2009.
MOURA, R. M. F. Funcionalidade e qualidade de vida em idosos com doença venosa
crônica. Tese. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2010.
NANDA. Diagnósticos de Enfermagem da Nanda: definições e classificação 2012-2014.
Porto Alegre: Artmed, 2013.
PAIVA, R. M. F. A. Perfil etiológico da insuficiência renal crônica em pacientes submetidos à diálise em hospital filantrópico de João Pessoa-PB. Monografia. João Pessoa:
Faculdade Estácio de Sá, 2011.
14.
PILGER, C.; RAMPARI E.M.; WAIDMAN, M. A. P.; CARREIRA, L. Hemodiálise: seu significado
e impacto para a vida do idoso. Escola Anna Nery, v.14, n. 4, p.677-3, out./dez. 2010.
15.
RISNER, P.B. Diagnosis: analysis and synthesis of date. In: Christensen PJ, Kennedy JW.
Nursing process, application of conceptual models. 4. ed. St. Louis: Mosby, p. 124-67, 1990.
16.
SESSO, R. Insuficiência renal crônica para profissionais de saúde. Epidemiologia da
doença renal crônica no Brasil e sua prevenção. Disponível em: http://www.cve.saude.
sp.gov.br/htm/cronicas/irc_prof.htm. Acesso em: 13 de abr. 2019.
17.
18.
19.
SILVA, C. F. et al. Vivenciando o tratamento hemodialítico pelo portador de insuficiência renal
crônica. Revista Cuba Enfemería, v. 30, n. 3, 2014.
SILVA, R. A. R. et al. Estratégias de enfrentamento utilizadas por pacientes renais crônicos
em tratamento hemodialítico. Escola Anna Nery, v.20, n.1, jan./mar.2016
VALLE, L. S.; V. F. S.; SOUZA, V. F.; RIBEIRO, A. M. Estresse e ansiedade em pacientes renais
crônicos submetidos à hemodiálise. Estud. Psicol. I Campinas I, v. 30, n. 1, jan./mar. 2013.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
125
11
“
Entendendo a sexualidade
na terceira idade: Revisão
integrativa
Gilson Aquino Cavalcante
UNINASSAU
Jonatas Gomes Neri
UNINASSAU
Lilian Machado de Lima
UNINASSAU
10.37885/200901215
RESUMO
Introdução: A longevidade é considerada como um fenômeno mundial. Cada vez mais
visível, a população idosa apresenta suas necessidades e especificidades das variadas
formas de envelhecer. Onde se mantém os hábitos da fase adulta ou aquisição de novos.
Dentre os hábitos anteriormente relegados o segundo plano aos idosos está o exercício de
sua sexualidade. A prática sexual segura deve ser reconhecida, orientada e praticada por
jovens, adultos e idosos. Objetivo: Descrever como se percebe a sexualidade do idoso em
nossa sociedade e identificar se ocorre atenção à saúde sexual dos idosos. Metodologia:
Este estudo caracteriza-se como uma revisão integrativa. Foram selecionados 05 artigos
que tratavam do tema, sendo identificadas duas categorias temáticas: Aspectos Ligados
a Sexualidade e Qualidade na Vida Sexual. Resultados e Discussões: Os estudos
apresentaram discussão em torno do conceito de sexualidade. Em relação à prática
sexual, os idosos mantêm o interesse no coito, sendo menor a frequência com o passar
dos anos. A dificuldade de implementação de ações preventivas e de promoção da saúde
sexual, pode estar associada à visão dos idosos como seres assexuados. Conclusões:
Diante das características em relação à sexualidade, os estudos apontam que os profissionais de saúde, necessitam ser capacitados e estar preparados para desempenhar a
atenção a sexualidade dos idosos. Sugere-se, portanto, o estímulo a realização de mais
pesquisas sobre essa temática, pois a sexualidade em uma abordagem para idosos é
pouco debatida e merece atenção.
Palavras-chave: Idoso, Sexualidade, Saúde Pública.
INTRODUÇÃO
Vivenciar o envelhecimento populacional na contemporaneidade trata-se de um evento
mundial. Nas últimas décadas observa-se com maior nitidez a longevidade entre homens e
mulheres. Em termos de classificação cronológica a Organização Mundial de Saúde (OMS)
considera idoso, aqueles com mais de 65 anos de idade em países desenvolvidos e com
mais de 60 anos em países em desenvolvimento (BRASIL, 2010). De acordo com dados
apontados pelo IBGE a população de idosos, em 2020, será superior a 30 milhões de pessoas. Dentro do grupo etário de 75 anos haverá maior crescimento, sendo 49,3 % dessa
população (BRASIL, 2010).
Considerado como um fenômeno, o envelhecimento vem ocorrendo devido significativas melhorias nas condições de saúde e uma perceptível facilidade de acesso a bens e
serviços, atendimento médico, bem como melhorias nas condições sanitárias e higiênicas
(DIAS, CARVALHO, ARAUJO, 2013). Observamos atualmente uma variedade de formas de
envelhecer, onde existe a continuidade dos hábitos da fase adulta ou aquisição de novos.
Dentre os hábitos anteriormente relegados aos idosos está o exercício de sua sexualidade. No contexto atual, Aboim (2008); Oliveira et al. (2011) apud Burigo et al. (2015) afirmam
que “como estão vivendo mais e também utilizando drogas que melhoram o desempenho
sexual, bem como próteses para disfunção erétil e reposição hormonal feminina, os idosos
estão redescobrindo o sexo”.
Apesar de muitos estudos mostrarem que o idoso ainda tem a sua sexualidade viva, ela
é negada pela sociedade e por eles próprios, podendo estar associado a fatores culturais.
Falar sobre sexualidade e prática sexual ainda é um tabu para todas as gerações, abordar
tal assunto ainda gera constrangimento por parte dos profissionais e pelos idosos. No que
concerne as orientações sobre prática sexual segura, várias são as barreiras apresentadas. Os idosos são pessoas que vieram de uma época em que nem se cogitava falar sobre
o assunto, quanto mais responder a um questionário sobre sua vida sexual para um desconhecido (MASCHIO et al., 2011).
A prática sexual segura deve ser reconhecida, orientada e praticada por jovens, adultos
e idosos. Vários estudos enfatizam o conhecimento sobre HIV/AIDS em jovens, porém há
uma falta de informação relacionada à AIDS em idosos. Segundo dados do último boletim
epidemiológico, emitido pelo Ministério da saúde, observa-se um aumento nos últimos dez
anos na taxa de detecção de Aids em homens nas faixas etárias entre 15 a 19 anos, 20 a
24 anos e 60 anos ou mais (BRASIL, 2015).
Este aumento se deve à falta de campanhas de prevenção para estes cidadãos, pois os
idosos são tidos como assexuados, e a sexualidade, nesta faixa etária ainda é cercada de tabus e preconceitos por parte da sociedade e também dos profissionais de saúde. A prevenção
128
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
às DSTs e AIDS nessa faixa etária se torna um desafio para os responsáveis pelas políticas
públicas (MASCHIO et al., 2011).
Sendo a longevidade uma realidade que se insere em nossa sociedade, tornar se necessário pensar e traçar estratégias para atender as necessidades dessa parcela da sociedade.
Neste sentido questionamos como a sociedade percebe a sexualidade do idoso e como se
dá à atenção à saúde sexual dos idosos? Compreende-se que sexualidade vai além do ato
sexual, são as formas com que cada indivíduo expressa a forma de vivenciar seu gênero.
Neste sentido profissionais de saúde e toda a sociedade necessitam compreender
especificidades que envolvem a sexualidade dos idosos. Portanto, para responder os questionamentos a pesquisa objetivou descrever como se percebe a sexualidade do idoso em
nossa sociedade e identificar se ocorre atenção à saúde sexual dos idosos.
METODOLOGIA
Este estudo caracteriza-se como uma revisão integrativa, com coletas de dados realizadas a partir de fontes secundárias, por meio de levantamentos bibliográficos. A revisão
integrativa é um método de abordagem ampla, que proporciona a síntese do conhecimento e
a incorporação da aplicabilidade de resultados de estudos significativos na prática (MENDES,
2008). Esse método desde 1980 é relatado na literatura como método de pesquisa e tem a
finalidade de reunir e sintetizar resultados de pesquisas sobre um delimitado tema ou questão,
de maneira sistemática e ordenada, contribuindo para o aprofundamento do conhecimento
do tema investigado (SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010).
Para elaboração desta revisão foram consideradas seis fases: Elaboração das questões
norteadoras, busca de literatura nas bases de dados, coleta de dados, análise crítica dos
estudos incluídos, discussão dos resultados e apresentação da revisão integrativa.
Na primeira etapa estabeleceu a seguinte questão norteadora: “como a sociedade percebe a sexualidade do idoso e como se dá à atenção à saúde sexual dos idosos?”. Na segunda
etapa foram definidos os critérios de inclusão e exclusão. Critérios de inclusão: publicações
em língua portuguesa, publicados no período de 2012 a 2018, artigos originais completos
que tivessem foco na temática abordada e estivessem disponíveis gratuitamente nas bases
de dados selecionadas. Critérios de exclusão: cartas ao editor; relatos de casos; editoriais;
revisões integrativas e sistemáticas; artigos em duplicidade. Para a pesquisa utilizamos os
seguintes descritores: Idoso; Sexualidade e Saúde Pública. Todos esses descritores foram
verificados no site Descritores em Ciências da Saúde (DeCS).
Em seguida, realizou-se o levantamento bibliográfico no período de Junho a Julho de
2016 através de buscas de produções publicadas no banco de dados da Biblioteca Virtual em
Saúde (BVS), Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), Base de Dados em Enfermagem
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
129
(BDENF) e Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE). Para melhor
sistematização e detalhamento das informações encontradas, na terceira etapa, os artigos
foram fichados e registrados em uma planilha contendo as seguintes informações: Ano de
Publicação; Título; Autores; Periódico científico; Tipo de pesquisa e Resultados. Na quarta, quinta e sexta etapas, as publicações foram analisadas e interpretadas para realizar a
apresentação desta revisão.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Encontramos 70 artigos, sendo selecionados 05 que atendiam aos critérios de inclusão
da pesquisa e que se enquadravam na temática do estudo. Essa seleção ocorreu por meio
da leitura dos títulos e resumos. Os estudos analisados foram desenvolvidos: 03 artigos por
enfermeiros; 1 por acadêmicos de enfermagem e 1 por acadêmicos de medicina.
Os artigos selecionados foram publicados nas revistas: Revista Mineira Enfermagem
(REME), Revista de Pesquisa Cuidado é Fundamental, Revista CuidArt Enfermagem,
Revista Brasileira de Enfermagem (REBEn) e Revista de Enfermagem do Centro-Oeste
Mineiro (RECOM). Os sujeitos pesquisados foram: os próprios idosos e profissionais médicos e enfermeiros.
Os artigos selecionados foram lidos na íntegra, sendo destacados: objetivos de cada
estudo; metodologia aplicada e resultados discutidos. Essa leitura mais detalhada permitiu realizar a categorização dos discursos, sendo identificadas duas categorias temáticas:
Aspectos Ligados a Sexualidade e Qualidade na Vida Sexual.
Aspectos ligados a sexualidade
A discussão sobre o conceito de sexualidade esteve presente em alguns artigos, sendo definida como expressão de várias maneiras, não se restringindo apenas ao ato sexual
(QUEIROZ et al., 2015; MARQUES et al., 2015; CUNHA et al., 2015). A sexualidade pode ser
compreendida como uma atividade que contribui positivamente para a qualidade de vida da
pessoa idosa. Trata-se de um processo natural que obedece a uma necessidade fisiológica
e emocional do indivíduo e que se manifesta de forma diferenciada nas diferentes fases do
desenvolvimento humano (ABREU, 2017).
Deste modo a sociedade tem uma percepção distorcida ao deduzir que os idosos deixam de ser sexual nessa fase da vida, portanto tornando-se assexuados. Ainda segundo
Marques et al. (2015) o interesse sexual do idoso é mais extenso do que pensa a sociedade, surpreendendo-a, uma vez que para o idoso esse interesse não seja necessariamente
manter uma relação sexual no qual haja o coito.
130
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Entre o grupo da terceira idade, o desejo e a frequência sexual podem tornar-se mais
espaçados. Em geral, além disso, os idosos tendem a procurar relações mais duradouras,
e o ato sexual, apesar de continuar tão satisfatório quanto na juventude, caracteriza-se
por uma excitação mais lenta e com orgasmo em menor intensidade (QUEIROZ et. al,
2015). Os estudos de Luz et al. (2015) e Marques et al. (2015), apontam que os idosos evitam conversar sobre o assunto em questão, fato que pode estar associado à cultura e ao
preconceito relacionado à idade.
Cunha et al. (2015), entre outros autores, afirma que para uma sociedade que prefere pensar no idoso como um ser assexuado, não reconhecendo-a como uma população
vulnerável aos problemas relacionados a vida sexual, o tema torna-se dispensável para os
profissionais de saúde, o que dificulta a implementação de ações preventivas e de promoção
da saúde sexual.
O homem e a mulher podem continuar a ter relações sexuais durante a terceira idade
e devem ser esclarecidos quanto às alterações que ocorrem em ambos para que não haja
prejuízos no prazer sexual e nas relações afetivas, adaptando-se às mudanças ocorridas
nesta fase (JESUS et al, 2016). Para que os idosos vivam uma sexualidade satisfatória, é
imprescindível receber uma assistência acolhedora dos profissionais de saúde, por meio de
informações dos acontecimentos próprios da velhice e, assim, eliminar suas inseguranças
e responder as dúvidas (EVANGELISTA et al, 2019).
Estudos apontam como desfavorável o fato de idosos e profissionais de saúde relutar em abordar essas questões, pois os profissionais tendem a considerar os idosos assexuados e, como tal, sem possibilidade de terem IST/Aids, dispensando a abordagem
preventiva. Essa postura impede que os próprios idosos se percebam vulneráveis a tais
infecções (ABREU, 2017).
Embora fatores fisiológicos e psicossociais tenham impacto sobre a expressão, a sexualidade permanece essencial à qualidade de vida de muitos adultos mais velhos. Os profissionais de saúde devem estar preparados para lidar com componentes tais como a expressão
sexual, a disfunção sexual, a identidade e estigma, o comprometimento cognitivo e a capacidade de consentimento e, às vezes, comportamentos sexuais inapropriados visando melhorar
a qualidade de vida de idosos (SRINIVASAN et al, 2019). Também devem estar cientes das
crescentes necessidades de educação sexual em idosos e serem incentivados a discutir
abertamente questões e preocupações sexuais desses pacientes (CARRASCO et al, 2019).
Qualidade na vida sexual
Segundo Alencar, Marques, Leal, & Vieira (2014), as dificuldades na aceitação da sexualidade no processo de envelhecer podem advir tanto pela ausência de informação, quanto
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
131
pela noção de que a sexualidade esteja restrita à genitalidade e procriação. Conforme os
referidos autores, a educação da atual geração de idosos foi repressora, excluindo o diálogo
entre pais e filhos para se falar de sexo. Assim, sentem-se desconfortáveis em dar opiniões
e em falar sobre o assunto (ROZENDO; ALVES, 2015).
Os estereótipos de que as pessoas velhas não são atraentes fisicamente, são assexuadas, ou são incapazes de sentir algum estímulo sexual ainda estão impregnados no
imaginário social. Tais mitos induzem os mais velhos a assumirem uma atitude pessimista
na esfera da sexualidade (ALENCAR; MARQUES; LEAL, 2014). Entretanto, com os recursos médicos e farmacológicos da atualidade, a maioria das pessoas idosas está apta a
usufruir uma vida sexual satisfatória, como nunca antes. Mesmo assim, o assunto ainda é
um grande tabu na nossa cultura e quando vem à tona, costuma causar bastante polêmica
(ROZENDO; ALVES, 2015).
A percepção que a sociedade tem da pessoa idosa ainda envolve mitos e tabus, e
desinformação, o que influencia as práticas de saúde junto a essa população. Nessa perspectiva ainda há muito que se fazer, haja vista a necessidade de vislumbrar o idoso em todas
as suas dimensões, reconhecendo a sexualidade como algo possível de se viver na velhice
de forma natural e saudável (BRITO et al, 2016).
Debert e Brigeiro (2012) apontam que, segundo gerontólogos e sexólogos, praticar sexo
até o fim da vida, pode ser uma atividade benéfica para o envelhecimento bem-sucedido.
Claro que, com o envelhecimento do corpo, que implica uma reorganização dos hormônios,
costuma haver um declínio no interesse e na frequência das atividades sexuais, mas pequenas adaptações vão sendo feitas, novas formas de prazer vão sendo encontradas, menos
restritas ao sexo genital e, mais relacionadas ao afeto, toques e carinhos (ABREU, 2017).
Como uma expressão da condição humana, a vivência da sexualidade se transforma
à medida que as pessoas passam a viver suas metamorfoses, assumindo seus modos peculiares de ser no mundo. Na terceira idade, pode-se dizer que se perde em quantidade,
mas seguramente se ganha em qualidade. Constata-se que tanto o homem quanto a mulher
continuam a apreciar as relações sexuais durante a velhice, entretanto a prática sexual é
exercida de fato pelos homens, enquanto as mulheres, em virtude de vários fatores, principalmente a viuvez, se abstêm mais da prática e ainda a prática sexual pelos idosos muitas
vezes são desprotegidas, ou seja, não utilizam o preservativo (MARQUES et al, 2015).
Os resultados dos estudos de Luz et al. (2015) mostram que quanto à utilização da
camisinha para prevenir as DSTs, apenas 10,8% referiram utilizá-lo, e citaram exclusivamente o preservativo masculino. Quando indagados sobre a descrição dos conhecimentos e a
procura de orientação sexual ao profissional de saúde, entre os 33 idosos que descrevem
como satisfatório seu conhecimento sobre as DST, apenas 15,1% procuram orientação, já
132
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
entre os 97 que consideram insatisfatório seu conhecimento, apenas 16,4% procuram o
profissional de saúde para obter orientação sobre sexualidade e DST.
Reconhecendo que a sexualidade tem profunda relação com a qualidade de vida, Cunha
et al. (2015) enfatiza que os profissionais da atenção básica precisam desenvolver estratégias
pautadas no vinculo e na interação entre profissional/usuário. Com essa interação, poderia
haver a superação dos constrangimentos causados quando se fala sobre sexualidade com
idosos. Para que os profissionais consigam atender de forma integral e equânime a saúde
do idoso, precisam estar capacitados para trabalhar a sexualidade do idoso, assim entendendo-o em sua multidimensionalidade. Nesta pesquisa, os profissionais da atenção básica
indicaram que a capacitação na área de saúde do idoso é uma estratégia eficaz de cuidado.
CONCLUSÃO
Compreendida como uma condição inerente a vida dos sujeitos, a sexualidade precisa
ser percebida em sua amplitude em todas as fases do ciclo vital, em especial no contexto
dos idosos, quem negados em sua singularidade, tem a sexualidade como um tema tabu
em suas discussões. Nesse sentido, a sociedade necessita ultrapassar as barreiras do
preconceito no que tange a sexualidade dos idosos, que assim como os jovens e adultos,
pode e deve ser vivenciada de modo singular.
Diante das características em relação as percepções dos idosos em relação a sexualidade, apontadas nos estudos, os profissionais de saúde, necessitam ser capacitados e
estar preparados para desempenhar a atenção a sexualidade dos idosos. Além do mais se
faz necessária a construção de políticas públicas para a população idosa, na qual estejam
inseridos discussões e ações voltadas para a vivencia da sexualidade por essa parcela da
população, possibilitando intervenções que visem informar, orientar e conscientizar idosos
e a sociedade em geral e fazer com que eles queiram dialogar sobre o assunto e procurar
profissionais de saúde para esclarecer dúvidas que esse público venham ter.
Sugere-se, portanto, o estímulo a realização de mais estudos sobre essa temática, pois
a sexualidade em uma abordagem para idosos é pouco debatida e merece atenção. Diante
do processo de envelhecimento saudável, respeitando todos os aspectos, destaca-se o papel do enfermeiro, inserido como educador em saúde, mediante uma formação qualificada,
para contribuir com as discussões relativas a saúde sexual dos idosos.
REFERÊNCIAS
1.
ALENCAR, D.L et al. Fatores que interferem na sexualidade de idosos: uma revisão integrativa.
Ciências e Saúde Coletiva, São Paulo, v.19, n.8, p.1413-1420, 2015.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
133
2.
3.
BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde – Departamento de DST,
AIDS e Hepatites Virais. Boletim Epidemiológico. Ano IV nº 01. 27ª à 53ª semana epidemiológica. Julho a Dezembro de 2014. 01ª à 26ª semana epidemiológica. Janeiro a Junho de 2015.
Brasília; 2015.
4.
BURIGO, G.F et al. Sexualidade e comportamento de idosos vulneráveis a doença sexualmente
transmissíveis. Rev CuidArte Enfermagem, V.9, n.2, p. 148-153, 2015.
5.
CARRASCO, M.H et al. Características da esfera sexual em pacientes idosos. Semergen,
v.45, n.1, p.37-43, 2019.
6.
CUNHA, L. M et al. Vovó e vovô também amam: sexualidade na terceira idade. Revista Mineira
de Enfermagem, v.19, n.4, p. 894-900, 2015.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
134
ABREU, M. C. Velhice: uma nova paisagem. São Paulo: Ágora. 2017.
DIAS, D. da S; CARVALHO, C. da S; ARAÚJO, C. V. de. Comparação da Percepção Subjetiva
de Qualidade de Vida e Bem-estar de Idosos que Vivem Sozinhos, com a Família e Institucionalizados. Rev Bras Geriatria e Gerontologia, Rio de Janeiro, v.16, n.1, p. 127-138, 2013.
EVANGELISTA, A.R et al. Sexualidade na terceira idade. Rev Esc Enferm USP, São Paulo,
v. 53, n.1, p.15-21, 2019.
JESUS, D.S et al. Nível de conhecimento sobre DST’s e a influência da sexualidade na vida
integral da mulher idosa. Revista em Foco, v.1, n.15, p.33-45, 2016.
LUZ, A.C et al. Comportamento sexual de idosos assistidos na estratégia saúde da família.
Revista de Pesquisa Cuidado é Fundamental Online, v.7, n.2, p. 2229-2240, 2015.
MARQUES, A. D. B et al. A vivência da sexualidade de idosos em um centro de convivência.
Revista de Enfermagem do Centro-Oeste Mineiro, v.5, n.3, p.1768-1783, 2015.
MASCHIO, M.B.M et al. Sexualidade na terceira idade: medidas de prevenção para doenças
sexualmente transmissíveis e AIDS. Revista Gaúcha de Enfermagem, Porto Alegre (RS), v.32,
n.3, p.583-589, 2011.
MENDES, K. D. S; SILVEIRA, R.C.C.P; GALVÃO, C.M. Revisão integrativa: Método de Pesquisa para a Incorporação de Evidências na Saúde e na Enfermagem. Texto contexto – enferma,
Florianópolis, v. 17, n. 4, 2008.
14.
QUEIROZ, M.A.C et al. Social representations of sexuality for the elderly. Revista Brasileira
de Enfermagem, v.68, n.4, p. 662-667, 2015.
15.
ROZENDO, A.S; ALVES, J.M. Sexualidade na terceira idade: tabus e realidade. Revista Kairós
Gerontologia, São Paulo, v.18, n.3, p. 95-107, 2015.
16.
SRINIVASAN, S et al. Sexuality and the older adult. Curr Psychiatry Rep, v.21, n.97, p. 12-20,
2019.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
12
“
Escuta dicótica, processamento
temporal e cognição em idosos
usuários de prótese auditiva
Sandra Nunes Alves Viacelli
UNIFESP
Aline Bovolini
UNIFESP
Maria Inês Dornelles da Costa-Ferreira
UNIFESP
Liliane Desgualdo Pereira
UNIFESP
10.37885/201202398
RESUMO
Objetivo: O objetivo deste trabalho foi verificar o processamento temporal e a escuta
dicótica, correlacionando-os com aspectos cognitivos em idosos usuários de prótese
auditiva. Métodos: Foram selecionados dados da audiometria tonal, tipo de prótese
auditiva selecionada e dos testes Dicótico de Dígitos e de Padrão de Frequência obtidos
por 31 idosos na faixa etária entre 60 e 90 anos, atendidos em um serviço de média
complexidade. Resultados: Os idosos mostraram bom reconhecimento de fala com melhora evidente pelo uso de prótese auditiva. A maioria apresentou perda auditiva do tipo
neurossensorial, de grau leve a moderado, de configuração descendente, protetizados
com aparelhos auditivos retroauriculares bilateralmente. Foram observadas diferenças
entre as covariáveis (sexo, cognição e depressão) em relação ao teste dicótico de dígitos.
Correlações estatisticamente significantes entre os testes auditivos e algumas variáveis
foram obtidas, mostrando que: quanto maior a idade, menor os acertos por orelha no
teste dicótico; quanto maior a dificuldade em copiar figuras geométricas, menor o número
de identificações corretas na tarefa de ordenação temporal; quanto maior a dificuldade
do idoso em se orientar no tempo, menor o desempenho no teste dicótico de dígitos e
de processamento temporal/ordenação; quanto mais erros no reconhecimento de palavras, menor o número de acertos na identificação de serie de sons; quanto mais erros
na tarefa de recordação menos acertos na tarefa de reconhecimento de palavras para
a orelha direita em escuta dicótica; quanto maior a dificuldade na qualidade de fala, ou
seja, dificuldades em encontrar palavras na fala espontânea e em compreensão de linguagem, menor os acertos em ordenação temporal; quanto maior a dificuldade na fala
espontânea e em se fazer entender maior o numero de erros na ordenação; quanto maior
a dificuldade de compreensão maior o numero de erros do tipo alternado na tarefa de
ordenação; e, quanto maior o comprometimento cognitivo pior a habilidade de ordenação
temporal de padrão de frequências de sons em série. Os idosos com falhas na tarefa de
processamento auditivo temporal também tiveram falhas na tarefa de escuta dicótica.
Conclusões: A escuta dicótica e a ordenação de idosos se assemelharam na análise
do gênero, acertos por orelha e presença ou não do aspecto cognitivo alterado. Houve
correlação entre escuta dicótica, ordenação temporal, idade e aspectos cognitivos. Quanto
maior a dificuldade em se orientar no tempo, pior o desempenho no teste dicótico de
dígitos. Ainda, quanto pior a qualidade de fala, a dificuldade em encontrar as palavras
na fala espontânea e a dificuldade em reconhecimento e compreensão de linguagem,
pior o desempenho em ordenação temporal auditiva.
Palavras- chave: Perda Auditiva, Auxiliares de Audição, Perda Auditiva Central,
Envelhecimento, Reabilitação.
INTRODUÇÃO
Cada vez mais o tema envelhecimento vem sendo abordado, tanto nos países desenvolvidos quanto nos países em desenvolvimento (GUERRA; CALDAS, 2010). A deficiência
auditiva no idoso, denominada presbiacusia, resulta em efeitos negativos não só do ponto de
vista social e emocional, como também na qualidade de vida do idoso (VERAS; MATTOS,
2007, SAMELLI et al., 2011).
A deterioração do sistema auditivo origina déficits na compreensão de fala, acarretando
uma série de problemas sociais, dentre eles: afastamento das atividades sociais e familiares;
baixa autoestima; isolamento; solidão; depressão, e irritabilidade (TEIXEIRA et al., 2008).
Estudo de Ruschel et al., 2007 comprova que a perda auditiva na população idosa ocorre
de 5% a 20% nos indivíduos com 60 anos de idade, incidência essa que aumenta para 60%
em indivíduos a partir dos 65 anos. Em função da maior queixa apresentada pelo idoso ser
a dificuldade de reconhecimento de fala em situações competitivas, alguns estudos indicam
que as habilidades auditivas centrais estariam relacionadas às funções cognitivas (SILVEIRA
et al., 2004; VERAS; MATTOS, 2007).
A perda da sensibilidade periférica está altamente correlacionada com o declínio cognitivo em idosos. A perda gradual da audição, como ocorre na presbiacusia, leva a dificuldade
crescente na comunicação oral e ao consequente isolamento social, com implicações para a
cognição (KOPPER, TEIXEIRA; DORNELLES, 2009; SOUZA et al., 2010). Esta dificuldade
pode ser relacionada a uma alteração do processamento auditivo temporal, que pode ser
definido como a capacidade de processar eventos acústicos mínimos necessários para a
percepção da fala, permitindo ao ser humano a percepção dos sons da fala e compreensão
da linguagem oral (SHINN, 2007). É sugerido, dessa forma, que a capacidade de analisar a
ordenação de sons requer mecanismos que não estão somente associados com o sistema
auditivo-periférico, mas também com as estruturas centrais (LIPORACI; FROTA, 2010).
Pinheiro et al., 2012 salientam a necessidade de investigar a interferência da cognição
em relação ao desempenho no uso de aparelhos de amplificação sonora individuais (AASI) e
na qualidade de vida de indivíduos idosos com perda auditiva. Ainda, dada a expectativa da
plasticidade cerebral reduzida no paciente idoso, é provável que o plano de atuação para um
adulto com Transtorno do Processamento Auditivo Central incidirá em estratégias para melhorar as habilidades de percepção auditiva individual, bem como estratégias compensatórias
relacionadas às habilidades cognitivas e linguísticas (BARAN, 2002; MUSIEK; BERGE, 1998).
Considerando-se o processamento auditivo temporal como um componente fundamental na maioria das capacidades de processamento auditivo, esta é fortemente apoiada pelo
fato de muitas características que englobam informações auditivas serem, de alguma forma,
influenciadas pelo tempo (PINHEIRO; MUSIEK, 1985). No que diz respeito ao processamento
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
137
auditivo temporal, é fundamental ter a compreensão de seus quatro subcomponentes: (1)
ordenação ou sequenciação temporal, (2) resolução temporal ou discriminação, (3) a integração temporal, ou soma, e (4) mascaramento temporal (SHINN, 2007). Ainda, a habilidade
para reconhecer e identificar os padrões auditivos sequenciais está intimamente relacionada
a processos perceptivos e cognitivos (PINHEIRO; MUSIEK, 1985).
Frente ao exposto, destaca-se a importância de conhecer o funcionamento neuroaudiológico da audição em idosos, especificamente quanto aos aspectos temporais de julgamento de série de sons breves e sucessivos, bem como do desempenho em escuta dicótica.
Sendo assim, a hipótese deste estudo é a de que idosos, após reabilitação auditiva por meio
de prótese auditiva e de treinamento auditivo com sons verbais e não verbais, mostrariam
melhora no desempenho de processamento auditivo temporal e de escuta dicótica.
OBJETIVO
Verificar o processamento temporal e a escuta dicótica, correlacionando-os com aspectos cognitivos em idosos usuários de prótese auditiva.
MÉTODOS
Realizou-se o estudo por meio de um levantamento de dados, selecionados dentre os
protocolos de atendimento a idosos, no período de dezembro de 2009 a outubro de 2010, no
Centro Auditivo Clélia Spinato Manfro, pertencente à Faculdade Nossa Senhora de Fátima
(Caxias do Sul - Rio Grande do Sul), com autorização da instituição de origem. O estudo
obteve a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo
– Escola Paulista de Medicina, sob o número 1374/11. Os profissionais da Instituição de
origem, responsáveis pelos protocolos, autorizaram o uso dos dados audiológicos por meio
de uma carta de consentimento.
Dentre os 60 prontuários de atendimento avaliados para o estudo, foram selecionados
31 destes, os quais eram idosos de ambos os sexos e com faixa etária entre 60 a 90 anos,
e que iniciaram o processo de adaptação de prótese auditiva em dezembro de 2009 até
outubro de 2010. A amostra caracterizou-se por dados da avaliação auditiva de idosos com
perda auditiva neurossensorial que participaram da adaptação de próteses auditivas com
uma experienciação acústica por um período de cinco sessões.
No serviço de adaptação de próteses auditivas do Centro de Saúde Clélia Spinato
Manfro, as sessões de avaliação de processamento auditivo foram realizadas individualmente com o idoso posicionado em uma cabina acústica e com testes auditivos gravados,
conforme Pereira e Schochat (1997). As sessões de experienciação acústica possibilitaram
138
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
o aprimoramento do comportamento auditivo do idoso usando a prótese auditiva, em uma
sala em que os estímulos foram apresentados por meio de um computador via alto-falantes. As estratégias utilizadas visaram aprimorar o comportamento de detectar, discriminar,
identificar, reconhecer e compreender os sons da fala. Os limites desse treinamento auditivo
foram: ausência do uso de recursos tecnológicos específicos para aprimorar o processamento
temporal e; a escuta dicótica.
Procedimentos para caracterização dos aspectos cognitivos, da audição e das próteses
auditivas dos idosos
Para caracterizar os aspectos auditivos, foram elencados dados da audiometria tonal
limiar, logoaudiometria, grau, tipo e configuração da perda auditiva, o tipo de prótese auditiva
do usuário e da adaptação realizada no serviço. E, para caracterizar os aspectos cognitivos
foram colhidos os dados dos testes da Escala de Avaliação da Doença de Alzheimer-Cognitiva
(ADAS-Cog) e da Escala de Depressão Geriátrica (EDG).
Foram elencados 11 itens da Escala de Avaliação da Doença de Alzheimer (ADASCog) (ROSEN et al., 1984) adaptada à língua portuguesa por Schultz (2001): (1) Evocação
imediata de palavras; (2) Nomeação de objetos e dedos; (3) Comandos; (4) Praxia construtiva; (5) Praxia ideativa; (6) Orientação; (7) Reconhecimento de palavras; (8) Recordação
das instruções; (9) Habilidade em linguagem falada; (10) Dificuldade em achar palavras na
fala espontânea; e (11) Compreensão. O escore total da escala varia de 70 (mais baixo) a
zero, de forma que quanto maior a pontuação, maior o comprometimento cognitivo do sujeito
avaliado. O escore da escala foi classificado conforme a escolaridade do sujeito e seguindo
os critérios de pontuação da média mais dois desvios padrões (DP), segundo Schultz et al.
(2001): 0 a 4 anos de escolaridade: 10,9 (DP-6,2) - 23,3 pontos; 5 a 11 anos de escolaridade: 7,8 (DP-2,8) - 13,4 pontos; Acima de 12 anos de escolaridade: 6,3 (DP-2,4) - 11,1
pontos. A análise deste procedimento levou em consideração o total de erros bem como
o número de erros por prova nas questões de 1 a 8. Nas questões 9, 10 e 11, que possibilitam análise qualitativa da fala e da compreensão do idoso, foram levados em conta os
comportamentos durante as provas e o escore contabilizado de acordo com o desempenho,
correspondendo o menor escore ao melhor comportamento.
As questões da Escala de Depressão Geriátrica 15 pontos (ALMEIDA; ALMEIDA,
1999) foram apresentadas oralmente aos pacientes, orientados a responder “sim” ou “não”.
Considerou-se normal a pontuação que não excedente a cinco pontos (ALMEIDA; ALMEIDA,
1999), uma vez que a pontuação maior do que cinco sugere presença de sintomas depressivos. A aplicação dessa escala teve duração de aproximadamente cinco minutos. A análise
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
139
do EDG foi feita considerando os escores: 0 a 4 pontos: normal; ≥ 5 pontos: suspeita de
depressão; ≥ 11 pontos: sugestivo de depressão grave.
Procedimentos de estudo da função auditiva central
Para o estudo da função auditiva, foram selecionados Testes Comportamentais do
Processamento Auditivo (Central) elencando-se os dados observados no Teste Dicótico de
Dígitos – Teste TDD (SANTOS; PEREIRA, 1997) e no Teste de Reconhecimento de Padrão
de Frequência com tom puro – Teste TPF (disponibilizado pela Auditec desde 1997).
No Teste TPF, o paciente foi instruído a nomear o que ouviu, avaliando-se a capacidade
de julgamento de ordenação temporal de três estímulos sonoros de diferentes frequências
numa dada sequência com base nas discriminações entre esses sons. Para este teste, foram
levados em conta os acertos em porcentagem e optou-se por estudar qualitativamente os
erros, os quais foram classificados em: (1) erros em estímulo sequencial (TPF-ES), isto é,
dois estímulos iguais numa sequência; e (2) erros em estimulo alternado (TPF-EA), isto é,
quando os estímulos foram diferentes na sequência.
O Teste TDD exige que o ouvinte relate as informações apresentadas às duas orelhas ao mesmo tempo, abrangendo, desta forma, o processo de integração binaural. Neste
teste, foram levados em conta os acertos em porcentagem, por orelha. Os achados obtidos
foram separados por orelha, abreviados IBOD, Integração Binaural Orelha Direita, e IBOE,
Integração Binaural Orelha Esquerda.
Em cada procedimento de estudo da função auditiva central, as variáveis analisadas
foram respostas dos testes comportamentais quanto aos acertos em porcentagem por orelha
na escuta dicótica (TDD) e acertos em porcentagem no julgamento da ordenação temporal
(TPF). Essas respostas foram analisadas considerando-se também as variáveis: gênero;
orelhas; e presença ou não de aspecto cognitivo alterado, por subitem avaliado.
Método estatístico
Os dados foram apresentados por meio de estatística descritiva. Foi utilizado o teste
de correlação de Pearson para analisar a relação entre os dados auditivos e idade, escolaridade, e adequação cognitiva. Foram realizados testes paramétricos selecionados de acordo com os dados obtidos: teste de normalidade de Kolmogorov-Smirnov, seguido do teste
ANOVA. Os intervalos de confiança foram construídos com 95% de confiança estatística,
estabelecendo-se nível de significância de 0,005 (5%). A análise estatística foi realizada
utilizando-se os softwares SPSS 16, Minitab 15 e Excel Office 2007.
140
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
RESULTADOS
Foram selecionados 31 prontuários de pacientes idosos, com idades variando entre 60
e 92 anos, distribuídos similarmente por sexo masculino (n=18) e feminino (n=13).
Os idosos mostraram bom reconhecimento de fala com melhora evidente pelo uso
de AASI (Tabela1). Verificou-se que somente as variáveis de ganho funcional em campo
aberto possuem variabilidade alta, pois o Quociente de Variação (CV) é maior que 50%.
Isso demonstra que os dados não são homogêneos para o ganho funcional com o AASI.
A maioria dos idosos apresentou perda auditiva do tipo neurossensorial (77,4% orelha
direita e 83,9% orelha esquerda), de grau leve a moderado (96,8 % orelha direita e 83,9% orelha esquerda), de configuração descendente (64,5% orelha direita e 58,1% orelha esquerda).
As próteses auditivas distribuídas para os 31 idosos foram do tipo retroauricular, sendo a maioria da classe A (87,1%), com adaptação bilateral (96,8%). Aos pacientes foram
distribuídos diversos tipos de aparelhos auditivos, de fabricantes distintos.
Em relação à limitação da amostra do presente estudo, existem sete pacientes com
perda auditiva mista e um paciente com perda auditiva unilateral.
Tabela 1. Estatística descritiva para idade (em anos), limiares audiométricos médios (em dBNA), reconhecimento de fala
(IRF) com monossílabos e com dissílabos (em porcentagem de acertos), e ganho funcional da prótese auditiva (em dB).
Descritiva
Média
Mediana
Desvio
Padrão
CV
Q1
Q3
Min.
Max.
N
IC
Idade (em anos)
72,6
72
8,3
11%
67
77
60
90
31
2,9
Audição - Média Tritonal (em dBNA)
OD
45,8
45
10,7
23%
40
55
30
80
31
3,8
OE
46,5
45
15,0
32%
35
53
20
80
31
5,3
Audição - IRF Monossílabos % acertos
OD
83,4
84
14,6
18%
72
93
40
100
24
5,8
OE
82,7
84
11,1
13%
75
92
60
96
24
4,4
Audição - IRF Dissílabos % de acertos
OD
80,8
88
17,8
22%
76
92
52
96
5
15,6
OE
84,7
86
11,1
13%
84
91
64
96
6
8,9
94,3
96
8,1
9%
92
100
68
100
31
2,9
Teste de fala AASI em
uso % acertos
Ganho Func. em campo aberto em dB
500 Hz
11,6
10
7,8
67%
5
15
0
30
31
2,7
1000 Hz
15,8
15
9,0
57%
8
20
0
35
31
3,2
2000 Hz
20,0
20
11,0
55%
10
28
0
40
31
3,9
3000 Hz
19,8
20
10,8
54%
15
30
0
40
31
3,8
4000 Hz
18,7
15
8,9
48%
15
25
0
40
31
3,1
Legenda: OD = orelha direita; OE= orelha esquerda; HZ = Hertz; CV = Coeficiente de Variação; Q1= primeiro quartil; Q3= terceiro
quartil; N= número da amostra; IC= intervalo de confiança; Func=funcional
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
141
Tabela 2. Estatística descritiva para os dados em porcentagem de acertos em escuta dicótica (integração binaural) à orelha
direita e esquerda, para o teste de padrão de frequência quanto aos acertos e erros em sequências iguais e alternadas,
e o p valor calculado para comparar cognição normal ou alterada e gênero.
COGNIÇÃO
Média
Mediana
Desvio Padrão
Min
Max
N
IC
IBOD
% acertos
Alterado
53,9
55,0
19,6
32,5
85,0
7
14,5
Normal
57,2
61,3
24,9
10,0
92,5
24
10,0
IBOE
% acertos
Alterado
58,6
55,0
16,9
42,5
90,0
7
12,6
Normal
66,5
68,8
20,4
25,0
95,0
24
8,1
TPF
% acertos
Alterado
58,1
56,7
16,8
30,0
80,0
7
12,4
Normal
71,1
76,7
21,0
10,0
96,7
24
8,4
TPF-ES
% erros
Alterado
20,9
23,3
13,0
6,7
36,7
7
9,6
Normal
11,9
8,3
13,3
0,0
53,3
24
5,3
TPF-EA
% erros
Alterado
21,0
16,7
10,1
10,0
36,7
7
7,5
Normal
16,9
13,3
10,6
3,3
36,7
24
4,2
p-valor
0,754
0,359
0,145
0,125
0,380
P valor calculado para comparar os dados por gênero (Feminino x masculino)
IBOD - 0,894; IBOE -0,988; TPF -0,813; TPF ES -0,630 TPF EA -0,877
Legenda: IBOD= integração binaural á orelha direita;IBOE= integração binaural á esquerda; Min= valor mínimo; Max= valor; Maximo;
IC = intervalo de confiança; TPF = teste de padrão de frequência; ES= erros em sequências de estímulos iguais; EA = erros em
sequências de estímulos alternados.
Tabela 3. Estatística descritiva para os dados em porcentagem de acertos em escuta dicótica (integração binaural) à
orelha direita e esquerda, teste de padrão de frequência quanto aos acertos e erros em sequências iguais e alternadas,
e p valor calculado para comparar presença ou ausência de depressão.
Depressão
IBOD % acertos
IBOE % acertos
TPF % acertos
TPF-ES% erros
TPF-EA% erros
Média
Mediana
Desvio Padrão
Min
Max
N
Com
54,7
60,0
25,3
10,0
87,5
17
12,0
Sem
58,6
55,0
22,0
12,5
92,5
14
11,5
Com
60,7
55,0
21,4
25,0
95,0
17
10,2
Sem
69,5
65,0
16,8
42,5
92,5
14
8,8
Com
66,5
70,0
18,5
30,0
93,3
17
8,8
Sem
70,2
76,7
23,6
10,0
96,7
14
12,3
Com
14,5
10,0
12,2
0,0
36,7
17
5,8
Sem
13,3
8,3
15,6
0,0
53,3
14
8,2
Com
19,0
13,3
11,2
6,7
36,7
17
5,3
Sem
16,4
15,0
9,7
3,3
36,6
14
5,1
IC
p-valor
0,657
0,224
0,621
0,814
0,501
Legenda: IBOD= integração binaural à orelha direita; IBOE= integração binaural à esquerda; Min= valor mínimo; Max= valor;
Maximo; IC = intervalo de confiança; TPF = teste de padrão de frequência; ES= erros em sequências de estímulos iguais; EA = erros
em sequências de estímulos alternados.
Nas tarefas de escuta dicótica avaliadas por meio do teste Dicótico de Dígitos, na etapa
de Integração Binaural e de processamento auditivo temporal/ordenação por meio do Teste
de Padrão de Frequência, verificou-se que o desempenho por orelha foi semelhante por
gênero masculino e feminino, (Tabela 2). Quando a casuística foi separada em cognição
normal e alterada (Tabela 2), verificou-se similaridade de resultados nos testes auditivos
avaliados. A variabilidade dos dados foi alta e sugere-se que estudos com maior número
amostral possam ser realizados. Na análise, reunindo a população segundo a presença ou
não de depressão (Tabela 3), também foi verificado similaridade de resultados nos testes
auditivos. Mais uma vez, uma provável explicação pode ser a amostra selecionada, que
mostrou uma grande variabilidade nos achados.
142
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Tabela 4. Correlação entre os dados em porcentagem de acertos em escuta dicótica (integração binaural) à orelha direita
e esquerda, teste de padrão de frequência quanto aos acertos e erros em sequências iguais e alternadas, e idade (em
anos), anos de escolaridade e escores do ADAS por item e para o total,e para o EDG.
Idade
Escolaridade
ADAS1
ADAS2
ADAS3
ADAS4
ADAS5
ADAS6
ADAS7
ADAS8
ADAS9
ADAS10
ADAS11
Total ADAS
EDG
IBOD
IBOE
TPF
TPF-ES
TPF-EA
Corr
-56,0%
-54,9%
-23,4%
14,0%
28,1%
p-valor
0,001*
0,001*
0,205
0,452
0,126
Corr
26,7%
20,5%
18,4%
-12,1%
-20,5%
p-valor
0,146
0,269
0,322
0,515
0,269
Corr
-15,9%
-16,6%
-16,5%
16,5%
11,3%
p-valor
0,393
0,373
0,376
0,375
0,547
Corr
-15,3%
-32,0%
-27,5%
29,0%
16,5%
p-valor
0,413
0,079
0,135
0,114
0,374
Corr
0,8%
-13,9%
7,7%
-19,1%
9,7%
p-valor
0,965
0,457
0,682
0,303
0,604
Corr
-16,3%
-0,5%
-51,8%
44,6%
45,3%
p-valor
0,390
0,980
0,003*
0,013*
0,012*
Corr
-8,5%
-17,3%
-19,9%
27,2%
4,0%
p-valor
0,648
0,351
0,283
0,139
0,832
Corr
-38,5%
-29,7%
-36,0%
29,1%
33,2%
p-valor
0,033
0,104
0,047*
0,112
0,068
Corr
-7,3%
-31,0%
-42,8%
41,7%
30,5%
p-valor
0,695
0,090
0,016*
0,020
0,095
Corr
-37,0%
11,9%
-16,4%
6,2%
24,2%
p-valor
0,041*
0,523
0,379
0,739
0,190
Corr
-13,3%
-30,6%
-46,7%
40,8%
39,2%
p-valor
0,474
0,094
0,008*
0,023*
0,029*
Corr
-16,3%
-22,8%
-47,6%
44,6%
36,1%
p-valor
0,381
0,217
0,007*
0,012*
0,046*
Corr
-33,5%
-30,2%
-39,1%
28,0%
40,9%
p-valor
0,066
0,099
0,030
0,127
0,022
Corr
-26,9%
-34,1%
-54,3%
48,4%
44,3%
p-valor
0,143
0,061
0,002*
0,006*
0,013*
Corr
-14,0%
8,4%
-7,3%
8,8%
3,1%
p-valor
0,453
0,653
0,695
0,639
0,869
Legenda: IBOD= integração binaural á orelha direita; IBOE= integração binaural à esquerda; TPF = teste de padrão de frequência;
ES= erros em sequências de estímulos iguais; EA = erros em sequências de estímulos alternados. Corr= correlação. * estatisticamente
significante
Tabela 5. Correlação entre os dados auditivos quanto à porcentagem de acertos em escuta dicótica(integração binaural) à
orelha direita e à esquerda e teste de padrão de frequência quanto aos acertos e erros em sequências iguais e alternadas.
IBOD
IBOE
TPF
TPF-ES
TPF-EA
Corr
62,5%
p-valor
<0,001*
IBOE
TPF
TPF-ES
Corr
56,2%
43,2%
p-valor
0,001*
0,015*
Corr
-33,9%
-27,1%
-89,4%
p-valor
0,062*
0,141
<0,001*
Corr
-67,0%
-50,1%
-81,1%
46,4%
p-valor
<0,001*
0,004*
<0,001*
0,009*
Legenda: IBOD integração binaural à orelha direita; IBOE= integração binaural à orelha esquerda; Corr = correlação; TPF = teste
de padrão de frequência; ES = erros em sequências de estímulos iguais; EA = erros em sequências de estímulos alternados.
*estatisticamente significante
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
143
Na população estudada a variabilidade de desempenho dos idosos foi grande em ambos os testes auditivos. No estudo da correlação entre os achados nos testes auditivos de
processamento auditivo temporal e de escuta dicótica e as diferentes habilidades medidas
no ADAS-Cog, (Tabela 4), verificou-se significância estatística entre os testes auditivos e
em algumas provas do ADAS-Cog. Além disso, as correlações entre os achados dos testes
auditivos foram significantes entre quase todos os dados estudados (Tabela 5). Desta forma,
há evidencias de que os idosos com falhas auditivas na tarefa de processamento auditivo
temporal também tiveram falhas na tarefa de escuta dicótica.
DISCUSSÃO
A diminuição da sensibilidade auditiva e uma redução na inteligibilidade da fala em níveis
supraliminares, que frequentemente ocorre numa presbiacusia, comprometem seriamente
o processo de comunicação verbal (DIMATOS et al., 2011).
Os resultados encontrados no presente estudo quanto a descrição da perda auditiva
dos idosos se assemelharam aos achados de Guerra et al. (2010). Assim, numa população
idosa com queixa de perda auditiva, verificou-se maior prevalência de perda auditiva do tipo
neurossensorial, descendente, com grau variando de leve a moderado.
Nos casos em que a deficiência auditiva está presente, é recomendado o uso do aparelho de amplificação sonora individual (AASI) ou prótese auditiva (SUMAN et al., 2008). Os circuitos do AASI podem ser alterados de forma a atender as necessidades de comunicação
do paciente, uma vez analisados os aspectos cognitivo e emocional. Um indivíduo sem tais
déficits cognitivos e emocionais apresenta maior velocidade no processamento da informação, mesmo diante da diminuição da acuidade auditiva, cujos parâmetros eletroacústicos
do aparelho auditivo não necessitam de alterações especiais conforme relatado por Soler
e Iório (2008). Em pacientes com quadros demenciais ou depressivos, há necessidade de
mudança dos parâmetros eletroacústicos do AASI, uma vez que o processamento neurológico da informação auditiva recebido pode estar lenificado.
Neste estudo, os idosos participantes eram usuários de próteses auditivas e alguns
mostravam dificuldade no reconhecimento de fala (Tabela1). Embora as próteses auditivas
possam aumentar a informação acústica disponível, nem sempre há uma melhora satisfatória
no reconhecimento de fala (GORDO; IÓRIO, 2007), visto que, com a idade, a dificuldade de
comunicação aumenta progressivamente, associada à deficiência auditiva e a degeneração
de fatores cognitivos (BARALDI et al., 2007). Os efeitos da idade no sistema auditivo periférico e central interagem com mudanças na diminuição do suporte cognitivo, diminuição da
percepção e elevação de limiares, redução da compreensão de fala no ruído e ambientes
144
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
reverberantes, interfere na percepção das mudanças rápidas na fala, e na localização do
som (BARALDI et al., 2007).
Gil (2010) salientou a importância da avaliação auditiva central dos candidatos/usuários
de próteses auditivas, bem como da reabilitação destas habilidades, independentemente
da idade do paciente.
Liporaci e Frota (2010) relataram que o envelhecimento pode trazer um declínio na
habilidade de ordenação temporal que pode estar relacionado à redução da efetividade da
comunicação. No presente estudo, verificou-se falhas na ordenação temporal (Tabela 2)
semelhante às descritas por estes autores e diferentes do observado por Fitzgibbons et al.
(2006), que afirmaram que a perda auditiva coclear de grau leve a moderado não interfere
no desempenho desta tarefa. Neste sentido, é importante salientar que as habilidades de
reconhecimento e identificação dos padrões auditivos sequenciais envolvem processos perceptivos e cognitivos, que podem se encontrar comprometidos em função do envelhecimento
e da privação auditiva (VIACELLI; COSTA-FERREIRA, 2010).
Pichora-Fuller (2006) mostrou que nos idosos com presbiacusia as tarefas do processamento temporal não são prejudicadas apenas pela deterioração que o envelhecimento
causa nas estruturas do sistema auditivo periférico e central, mas também pela maior demanda exigida das habilidades cognitivas como a memória e velocidade do processamento.
Os achados (Tabela 2) que mostraram que à medida que aumenta a idade, diminui a
porcentagem de acertos no teste de reconhecimento de padrão de frequência (TPF) concordaram com os achados de Parra et al. (2004). Alguns estudos têm considerado que o
declínio das funções cognitivas relacionado à idade tais como memória de trabalho, atenção
seletiva e velocidade de processamento da informação, tem um importante efeito na compreensão de fala do idoso (VERAS; MATTOS, 2007) tendo sido observados no presente
estudo achados semelhantes.
Muito se discute sobre a importância da sequenciação temporal no sistema auditivo, sendo considerada uma das funções básicas para a discriminação e interpretação da
fala. Os autores ainda salientaram o papel da integração hemisférica e da participação
de outras áreas do Sistema Nervoso Central para a realização desta tarefa. É importante
salientar que apesar dos achados do presente estudo terem revelado similaridade de resultados nos testes auditivos quando comparado ao gênero, presença ou não de depressão e
cognição normal ou alterada, existe maior variabilidade dos resultados nos idosos, ou seja,
a dificuldade não atinge igualmente a todos. Ainda, embora a escolaridade seja um dado
importante para elencar medidas cognitivas, não foi observada relação estatística entre
este dado e os testes dicóticos de dígitos e padrão de frequência. Dos 31 participantes da
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
145
amostra somente sete apresentaram alteração cognitiva (Tabela 2), sendo esta medida
obtida através do escore total do ADAS-Cog.
Em relação aos dados obtidos, foi verificado correlação entre a idade e o desempenho
no teste de escuta dicótica (Tabelas 2 e 3), mostrando que as alterações encontradas podem
estar relacionadas ao envelhecimento do sistema auditivo concordando com os achados de
Rosa et al. (2009).
Dentre os achados deste estudo (Tabela 4), na avaliação de indivíduos numa fase
inicial da doença de Alzheimer, de Schultz (2001), também não foi encontrada diferença
estatisticamente significante quanto à escolaridade, mas uma sensibilidade maior dos itens
memória imediata de palavras, reconhecimento de palavras, recordação de instruções, habilidade em linguagem falada, dificuldade em achar palavras na fala espontânea e compreensão. Os achados mostraram também uma sensibilidade maior do TPF quando comparado
aos subitens do ADAS-COG.
Em relação à praxia construtiva (ADAS 4), prova que avalia habilidades perceptivas e
visuoconstrutivas, no presente estudo, os dados obtidos (Tabela 4) se assemelham ao estudo
de Ribeiro et al. (2010), no qual verificou que idosos com mais de oito anos de escolaridade
obtiveram resultados melhores nos testes de praxia construtiva. Segundo os autores a relação entre escolaridade e desempenho cognitivo pode ser explicada pela hipótese de que a
escolaridade é um fator protetor contra o envelhecimento cognitivo patológico.
Nas provas envolvendo orientação (ADAS 6) e reconhecimento de palavras (ADAS 7)
observou-se (Tabela 4) a relação direta com a memória e atenção, sendo estes processos
interligados (MASSARO, 1972), uma vez que a memória é influenciada por fatores como a
familiaridade com os estímulos, informações supra segmentares e a utilização de estratégias
de atenção. A atenção permite que o indivíduo enfoque seletivamente uma quantidade de informação maximizando assim o processamento e o armazenamento (MASTERS et al., 1998).
Nas provas envolvendo a habilidade em linguagem falada (ADAS 9), dificuldade em
encontrar palavras na fala espontânea (ADAS 10) e compreensão (ADAS 11), as questões
relacionadas ao envelhecimento, perda auditiva e cognição ficam mais evidentes. A perda auditiva, independentemente da idade, afeta as habilidades de ouvir, compreender e
comunicar. O processamento auditivo e o processamento cognitivo são cruciais para a
execução de tais tarefas. Aqueles com melhor capacidade de processamento cognitivo
podem ser mais capazes de usar o contexto, e o uso de contexto pode ser um aspecto importante da compensação que facilita o remapeamento da conexão entre som e significado
(PICHORA-FULLER, 2006).
O déficit cognitivo pode manifestar-se durante o processo de envelhecimento com
início e progressão variáveis e relaciona-se com as próprias perdas biológicas inerentes ao
146
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
tempo e à cultura do indivíduo. No entanto, os níveis social, econômico, instrucional e a idade
interferem no desempenho do idoso (FERREIRA et al., 2011). Neste sentido, o teste TPF,
medida neuroaudiológica, pode contribuir para estimar aspectos neuropsicológicos de um
indivíduo. Outras pesquisas também se fazem necessárias, pois a diminuição da capacidade
de processamento temporal decorrente do envelhecimento nem sempre é correlacionada a
danos do aparelho auditivo periférico, podendo correlacionar-se a perdas neuronais centrais
próprias da senescência conforme já mostraram Neves e Feitosa (2003).
CONCLUSÕES
Com base nos resultados deste estudo foi possível concluir que o desempenho em
porcentagem média de acertos por orelha na escuta dicótica (teste TDD) nos idosos foi semelhante considerando gênero, orelhas direita e esquerda e presença ou não do aspecto
cognitivo alterado. Ainda, quanto maior a faixa etária, pior a recordação das instruções e
quanto maior a dificuldade de se orientar no tempo, pior o desempenho no reconhecimento
de palavras em escuta dicótica. O desempenho em porcentagem média de acertos no julgamento da ordenação temporal (teste TPF) foi semelhante considerando as variáveis gênero e
presença ou não aspecto cognitivo alterado, sendo o pior desempenho nesta tarefa auditiva
correlacionado com uma maior dificuldade em copiar figuras geométricas e se orientar no
tempo, com a pior qualidade de fala, com a dificuldade em achar palavras na fala espontânea,
com a dificuldade em reconhecimento de palavras e com a dificuldade de compreensão de
linguagem. Quanto pior o desempenho em compreensão, maior a ocorrência de erros do
tipo alternado no julgamento da ordem de serie de sons (TPF).
REFERÊNCIAS
1.
2.
3.
ALMEIDA, Osvaldo P.; ALMEIDA, Shirley. Confiabilidade da versão brasileira da Escala de
Depressão em Geriatria (GDS) versão reduzida. Arquivos de Neuropsiquiatria, São Paulo, v.
57, n. 2B, p. 421-426, jun. 1999. Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/anp/v57n2B/1446>
Acesso em: 01 dez. 2020.
AUDITEC. Evaluation manual of pitch pattern sequence and duration pattern sequence.
St. Louis: Auditec. 1997.
BARALDI, Giovana dos Santos; ALMEIDA, Laís Castro; BORGES, Alda Crisitna Carvalho.
Evolução da perda auditiva no decorrer do envelhecimento. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, São Paulo, v. 73, n. 1, p. 64-70, jan./fev. 2007. Disponível em: <https://www.
scielo.br/scielo.php?pid=S0034-72992007000100010&script=sci_arttext&tlng=pt> Acesso em:
01 dez. 2020.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
147
4.
BARAN, Jane A. Managing auditory processing disorders in adolescents and adults. Seminars
in Hearing, v.23, n.4, p. 327-336, 2002. DOI: 10.1055/s-2002-35881
5.
BEZERRA, Yalkirira Guadalupe Vaca Diaz. Memória de reconhecimento em indivíduos com
mais de 45 anos. Natal: Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2006. 93 p. Dissertação (Mestrado em Psicobiologia) - Universidade federal do Rio Grande do Norte, Natal. 2006.
Disponível em: <https://repositorio.ufrn.br/jspui/bitstream/123456789/17362/1/YalkiriaGVDB.
pdf> Acesso em: 01 dez. 2020.
6.
DIMATOS, Oscar Cardoso; IKINO, Claudio Marcio Yudi.; PHILIPPI, Paulo Arlindo; DIMATOS,
Spyrus Cardoso; BIRCK, Marília Susane; FREITAS, Paulo Fontoura. Perfil dos pacientes do
programa de saúde auditiva do estado de Santa Catarina atendidos no HUUFSC. Arquivos
Internacionais de Otorrinolaringologia, São Paulo, v. 15, n. 1, p. 59-66, jan./mar. 2011.
Disponível em: < https://www.scielo.br/pdf/aio/v15n1/09.pdf> Acesso em: 01 dez. 2020.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
148
FERREIRA, Pollyana Cristina Santos; TAVARES, Darlene Mara Santos; RODRIGUES, Rosalina Aparecida Partezani. Características sociodemográficas, capacidade funcional e morbidades entre idosos com e sem declínio cognitivo. Acta Paulista de Enfermagem, São
Paulo, v. 24, n.1, p. 29-35, jan/fev. 2011. Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-21002011000100004&script=sci_arttext> Acesso em: 01 dez. 2020.
FITZGIBBONS, Peter J.; GORDON-SALANT, Sandra; FRIEDMAN, Sarah A. Effects of age
and sequence presentation rate on temporal order recognition. The Journal of the Acoustical Society of America, Pennsylvania, v. 120, n. 2, p. 991-999, aug. 2006. DOI: https://doi.
org/10.1121/1.2214463
GIL, Daniela; IORIO, Maria Cecilia M. Formal auditory training in adult hearing aid users.
Clinics, São Paulo, v. 65, n. 2, p. 165-174, feb. 2010. Disponível em: <https://www.scielo.br/
scielo.php?pid=S1807-59322010000200008&script=sci_arttext> Acesso em: 01 dez. 2020.
GONÇALES, Alina Sanches; CURY, Maria Cristina Lancia. Avaliação de dois testes auditivos centrais em idosos sem queixas. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, São Paulo, v. 77, n.1, p. 24-32, jan./fev. 2011. Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1808-86942011000100005&script=sci_arttext&tlng =pt> Acesso em: 01 dez. 2020.
GORDO, Angela; IÓRIO, Maria Cecilia M. Zonas mortas na cóclea em frequências altas: implicações no processo de adaptação de próteses auditivas. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, São Paulo, v. 73, n. 3, p. 299-307, maio/jun. 2007. Disponível em: <https://www.
scielo.br/scielo.php?pid=S0034-72992007000300003&script=sci_arttext&tlng =pt> Acesso em:
01 dez. 2020.
GUERRA, Ana Carolina Lima Cavaletti; CALDAS, Célia Pereira. Dificuldades e recompensas
no processo de envelhecimento: a percepção do sujeito idoso. Ciência e Saúde Coletiva, Rio
de Janeiro, v. 15, n. 6, p. 2931-2940, set. 2010. Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.
php?pid=S1413-81232010000600031&script=sci_arttext&tlng = pt> Acesso em: 01 dez. 2020.
GUERRA, Tatiana Marques; ESTEVANOVIC, Lucimar Pires; CAVALCANTE, Marcela de Ávila Meira; SILVA, Rafaela Carolina Lopez; MIRANDA, Izabel Cristina Campolina; QUINTAS,
Victor Gandra. Perfil dos limiares audiométricos e curvas timpanométricas de idosos. Revista
Brasileira de Otorrinolaringologia, São Paulo, v. 76, n. 5, p. 663-666, set. 2010. Disponível
em: <https://www.scielo.br/pdf/bjorl/v76n5/v76n5a22.pdf> Acesso em: 01 dez. 2020.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
14.
KOPPER, Helen; TEIXEIRA, Adriane Ribeiro; DORNELES, Silvia. Desempenho cognitivo em
um grupo de idosos: influência de audição, idade, sexo e escolaridade. Arquivos Internacionais de Otorrinolaringologia, São Paulo, v. 13, n. 1, p. 39-43, jan./mar. 2009. Disponível em:
<http://www.arquivosdeorl.org.br/conteudo/pdfForl/586.pdf> Acesso em: 01 dez. 2020.
15.
LIPORACI, Flavia Duarte; FROTA, Silvana Maria Monte Coelho. Envelhecimento e ordenação
temporal auditiva. Revista CEFAC, São Paulo, v. 12, n.1, p. 741-748, set./out. 2010. Disponível
em: <https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-18462010000500004&script=sci_arttext>
Acesso em: 01 dez. 2020.
16.
MASSARO, Dominic W. Preperceptual images, processing time and perceptual units in auditory perception. Phychological Review, v. 79, n. 2, p. 124-45, mar. 1972. DOI: https://doi.
org/10.1037/h0032264
17.
18.
19.
20.
21.
22.
23.
24.
MASTERS, M. Gay; STECKER, Nancy A.; KATZ, Jack. Central auditory processing disorders: mostly management. Boston: Allyn; Bacon. 1998.
MUSIEK, Frank E. Assessment of central auditory dysfunction: the dichotic digit test revisited. Ear
and Hearing, Pennsylvania, v. 4, n. 2, p. 79-83, mar./apr. 1983. DOI: 10.1097/00003446198303000-00002
MUSIEK, Frank E.; BERGE, B. A neuroscience view of auditory training/ stimulation and central auditory processing disorders. In: MASTERS, Gay M.; STECKER, Nancy A.; KATZ, Jack.
Central auditory processing disorders: mostly management. Central Auditory Processing
Disorders. Boston: Publisher Allyn and Bacon. 1998. p. 15-32.
NEVES, Vera Torres das; FEITOSA, Maria Ângela Guimarães. Controvérsias ou complexidade
na Relação entre Processamento Temporal Auditivo e Envelhecimento? Revista Brasileira
de Otorrinolaringologia, São Paulo, v. 69, n. 2, p. 242-249, mar./abr., 2003. Disponível em:
<https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-72992003000200015&script=sci_arttext&tlng=pt>
Acesso em: 01 dez. 2020.
PARRA, Viviane M.; IÓRIO, Maria Cecilia, M.; MIZAHI, Mary M.; BARALDI, Giovana Santos.
Testes de padrão de frequência e de duração em idosos com sensibilidade auditiva normal.
Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, São Paulo, v. 70, n. 4, p. 517-523, jul./ago., 2004.
Disponível em: < https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-72992004000400013&script=sci_arttext&tlng=pt> Acesso em: 01 dez. 2020.
PEREIRA, Liliane Desgualdo. Identificação de desordem do processamento auditivo central
através de observação comportamental: organização de procedimentos padronizados. In:
PEREIRA, Liliane Desgualdo; SCHOCHAT, Eliane. Processamento Auditivo. São Paulo: Lovise, 1996. p. 43-56.
PICHORA-FULLER, Margaret Kathleen. Perceptual Effort and aparent cognitive decline: implication for audiologic rehabilitation. Seminars in Hearing, v. 27, n. 4, p. 284-293, nov. 2006.
DOI: 10.1055/s-2006-954855
PINHEIRO, Maria Madalena Canina; IÓRIO, Maria Cecília Martinelli; MIRANDA, Elisiane Cristana; DIAS, Karin Ziliotto; PEREIRA, Liliane Desgualdo. A influência dos aspectos cognitivos e
dos processos auditivos na aclimatização das próteses auditivas em idosos. Jornal da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, São Paulo, v. 24, n. 4, p. 309-315, out. 2012. Disponível
em: < https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S2179-64912012000400004&script=sci_arttext>
Acesso em: 01 dez. 2020.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
149
25.
PINHEIRO, Marilyn; MUSIEK, Frank E. Assessment of central auditory dysfunction: Foundations and clinical correlates. Baltimore: Williams;Wilkins. 1985.
26.
RIBEIRO, Pricila Cristina Correa; OLIVEIRA, Beatriz Helena Domingos; CUPERTINO, Ana
Paula Fabrino Bretas; NERI, Anita Liberalesso; YASSUDA, Monica Sanches. Desempenho
de idosos na bateria cognitiva CERAD: relações com variáveis sociodemográficas e saúde
percebida. Psicologia Reflexão e Crítica, Porto Alegre, v. 23, n. 1, p. 102-109, mar./abr. 2010.
Disponível em: < https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-79722010000100013&script=sci_arttext> Acesso em: 01 dez. 2020.
27.
28.
29.
30.
31.
32.
33.
34.
150
ROSA, Marine Raquel Diniz; RIBAS, Angela; MARQUES, Jair Mendes. A relação entre o envelhecimento e a habilidade de escuta dicótica em indivíduos com mais de 50 anos. Revista
Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Rio de Janeiro, v. 12, n. 3, p. 331-343, set.-dez.
2009. Disponível em: <https://www.redalyc.org/pdf/4038/403838782003.pdf> Acesso em: 01
dez. 2020.
ROSEN, Wilma G.; MOHS, Richard C.; DAVIS, Kenneth L. A new rating scale for Alzheimer’s
disease. American Journal of Psychiatry, Virginia, v. 141, n. 11, p. 1356-64, Nov. 1984. DOI:
https://doi.org/10.1176/ajp.141.11.1356
RUSCHEL, Christine Vieira; CARVALHO, Claudia Ribeiro; GUARINELLO, Ana Cristina. A
eficiência de um programa de reabilitação audiológica em idosos com presbiacusia e seus
familiares. Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, São Paulo, v. 12, n. 2, p.
95-98, abr./jun. 2007. Disponível em: < https://www.scielo.br/pdf/rsbf/v12n2/03.pdf> Acesso
em: 01 dez. 2020.
RUSSO, Iêda Chaves Pacheco. Intervenção audiológica no idoso. In: FERREIRA, Leslie P.;
Befi-Lopes, Debora M.; Limongi, Sueli C. O. (org.). Tratado de fonoaudiologia. São Paulo:
Roca. 2004. p. 585-96.
SANTOS, Maria Francisca; PEREIRA, Liliane Desgualdo. Escuta com dígitos. In: PEREIRA,
Liliane Desgualdo; SCHOCHAT, Eliane. Processamento auditivo central - manual de avaliação. São Paulo: Lovise. 1997. p.147-50.
SAMELLI, Alessandra Gianella; NEGRETTI, Camila Aparecida; UEDA, Kerli Saori; MOREIRA,
Renata Rodrigues; SCHOCHAT, Eliane. Comparação entre avaliação audiológica e screening: um estudo sobre presbiacusia. Brazilian Journal of Otorhinolaryngology, São Paulo, v. 77, n.1, p. 70-76, Jan./Feb. 2011. Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1808-86942011000100012&script=sci_arttext> Acesso em: 01 dez. 2020.
SCHULTZ, Rodrigo. Rizek.; SIVIERO, Marilena Occhini.; BERTOLUCCI, Paulo Henrique
Ferreira. The cognitive subscale of the “Alzheimer’s disease assessment scale” in a Brazilian sample. Brazilian Journal of Medical and Biological Research, Ribeirão Preto, v.
34, n. 10, p. 1295-1302, oct. 2001. Disponível em: < https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-879X2001001000009&script=sci_arttext> Acesso em: 01 dez. 2020.
SHINN, Jennifer Brooke. Temporal processing and temporal patterning tests. In: MUSIEK,
Frank E.; CHERMAK, Gail D. Handbook of (central) auditory processing disorder: Auditory
Neurocience and diagnosis. San Diego: Plural Publishing. 2007. p. 231-256.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
35.
SILVEIRA, Kátia Miriam de Melo; BORGES, Alda Christina Lopes de Carvalho; PEREIRA,
Liliane Desgualdo. Memória, interação e integração em adultos e idosos de diferentes níveis
ocupacionais, avaliados pelos testes da avaliação simplificada e teste dicótico de dígitos.
Distúrbios da Comunicação, São Paulo, v.16, n. 3, p. 313-322, dez. 2004. Disponível em:
<https://revistas.pucsp.br/index.php/dic/article/view/11653/8382> Acesso em: 01 dez. 2020.
36.
SOUZA, Valéria Lopes de; BORGES, Mirian Fernanda; VITÓRIA, Cássia Maria da Silva; CHIAPPETTA, Ana Lúcia de Magalhães Leal. Perfil das Habilidades Cognitivas no Envelhecimento
Normal. Revista CEFAC, São Paulo, v. 12, n. 2, p. 98-108, mar./abr. 2010. Disponível em: <
https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-18462010000200003&script=sci_arttext> Acesso
em: 01 dez. 2020.
37.
38.
39.
SUMAN, Priscila; BLASCA, Wanderléia Q.; FERRARI, Debora Viviane. Avaliação subjetiva
da expectativa quanto ao uso do aparelho de amplificação sonora individual: correlação com
aspectos auditivos, sociais e econômicos. Distúrbios da Comunicação, São Paulo, v. 20,
n. 1, p. 107-114, abr. 2008. Disponível em: <https://revistas.pucsp.br/index.php/dic/article/
view/6674/4834> Acesso em: 01 dez. 2020.
TEIXEIRA, Adriane Ribeiro; FREITAS, Cintia de La Rocha; MILLÃO, Luzia Fernandes; GONÇALVES, Andréa Kruger; BECKER, Benno Junior; SANTOS, Ana Maria Pujol Vieira dos;
LOPES, Paulo Tadeu Campos; MARTINS, Isabel Amaral; POL, Doralice Orrigo da Cunha;
GONÇALVES, Clézio José dos Santos. Relação entre deficiência auditiva, idade, gênero e
qualidade de vida de idosos. Arquivos Internacionais de Otorrinolaringologia, São Paulo,
v. 12, n. 1, p. 62-70, jan./mar. 2008. Disponível em: <http://www.arquivosdeorl.org.br/conteudo/
pdfForl/483.pdf> Acesso em: 01 dez. 2020.
VERAS, Renato Peixoto; MATTOS, Leila Couto. Audiologia do envelhecimento: revisão de
literatura e perspectivas atuais. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, São Paulo,
v. 71, n. 1, p. 128-134, jan./fev. 2007. Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-72992007000100021&script=sci_arttext> Acesso em: 01 dez. 2020.
40.
VIACELLI, Sandra Nunes Alves; COSTA-FERREIRA, Maria Inês Dornelles da. Perfil dos usuários de AASI com vistas à amplificação, cognição e processamento auditivo. Revista CEFAC,
v. 15, n. 5, p. 1125-1136, 2013.. Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/rcefac/v15n5/19511.pdf> Acesso em: 01 dez. 2020.
41.
YASSUDA, Monica Sanches; LASCA, Valéria Bellini; NERI, Anita Liberalesso. Meta-memória
e auto-eficácia: um estudo de validação de instrumentos de pesquisa sobre memória e envelhecimento. Psicologia: Reflexão e Crítica, Porto Alegre, v. 18, n. 1, p.78-90, jan./abr. 2005.
Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-79722005000100011&script=sci_arttext> Acesso em: 01 dez. 2020.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
151
13
“
Eventos adversos em idosos
hospitalizados: contribuições
da auditoria em saúde
Cristiane Chagas Teixeira
FEN/UFG
Ana Lúcia Queiróz Bezerra
FEN/UFG
Gabriela Camargo Tobias
IPTSP/UFG
karynne Borges Cabral
IESRV
10.37885/201001839
RESUMO
Introdução: Os idosos em ambiente hospitalar constitui um grupo exposto à ocorrência
de eventos adversos durante a prática assistencial. Esses eventos refletem diretamente
na qualidade da assistência prestada, além disso, repercutem em prejuízos para o sistema de saúde, especificamente, por acarretar custos adicionais aos estabelecimentos de
saúde, aos pacientes e sociedade, constituindo-se em importantes problemas de saúde
pública. A promoção da qualidade em saúde e a auditoria exercem papel fundamental,
por meio de avaliações e análises que possibilitem a identificação de falhas, seja no
ambiente ou em relação ao quadro de profissionais, o que contribui para a melhoria dos
processos de trabalho e segurança do paciente. Objetivo: Analisar por meio da produção científica, a ocorrência de eventos adversos em idosos hospitalizados e o papel
da auditoria da qualidade em registros de enfermagem. Metodologia: Trata-se de uma
pesquisa exploratória descritiva, de natureza bibliográfica. Resultados: Encontrados
58 estudos, os quais foram organizados em três categorias: segurança do paciente e
os eventos adversos na hospitalização de idosos; contribuição da enfermagem na melhoria da qualidade da assistência nos registros de idosos hospitalizados e auditoria em
enfermagem como ferramenta na qualidade dos serviços de saúde. Considerações
finais: A análise dessas evidências subsidia a necessidade em elaborar e disseminar
novos estudos que investiguem a explicitação e discussão de diferentes aspectos que
envolvam a temática, a fim de oferecer evidências científicas suficientes para melhorar
a qualidade da assistência e a segurança do paciente idoso.
Descritores: Auditoria de Enfermagem; Idoso; Segurança do Paciente.
INTRODUÇÃO
No final da década de 90, após a publicação do relatório To Err is Human: building a
safer health care system, pelo Institute of Medicine (IOM) americano, foi estimado que cerca
de 98.000 pessoas morrem anualmente em virtude de erros decorrentes do cuidado à saúde.
Esses eventos resultaram em uma taxa de mortalidade maior do que as decorrentes de acidentes automobilísticos, câncer de mama e AIDS (KOHN; CORRIGAN; DONALDSON, 2000).
A cada ano, milhares de pessoas são vítimas de agravos advindos da assistência à
saúde, aproximadamente, um em cada 10 pacientes sofre algum dano ou morre em decorrência do cuidado recebido (WHO, 2008a). A Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica essas ocorrências como eventos adversos, definidos como eventos ou circunstâncias,
que poderiam ter resultado ou resultaram em danos desnecessários ao paciente, podendo
ser provenientes de atos intencionais ou não intencionais decorrentes da assistência à
saúde (WHO, 2009).
No que concerne às pessoas idosas em ambiente hospitalar é importante ressaltar
que se trata de um grupo exposto à ocorrência crescente de eventos adversos durante a
prática assistencial (ACKROYD-STOLARZ; BOWLES; GIFFIN, 2014), uma vez que, essa
população se encontra mais propensa às doenças crônicas e múltiplas, necessitando de
cuidados permanentes, acompanhamento constante, além de uso contínuo de medicamentos
e exames periódicos (VERAS, 2007, 2009). Consomem mais serviços de saúde, as internações se tornam frequentes, a recuperação mais lenta, além de deterem o maior tempo de
permanência em instituições hospitalares (VERAS, 2008, 2009).
Um elenco de fatores favorecem a ocorrência de eventos adversos, como a idade
avançada, existência de comorbidades, gravidade do quadro clínico inicial e utilização frequente de medicamentos associados às alterações na farmacocinética e farmacodinâmica
das drogas (CARVALHO-FILHO et al., 1996; GALLOTTI, 2004).
Outros fatores podem estar relacionados às situações decorrentes do avanço tecnológico, associados à deficiência no aperfeiçoamento de recursos humanos, uso abusivo
de métodos terapêuticos agressivos e sofisticados, distanciamento das ações próprias de
cada profissional, fragmentação da atenção à saúde, inexperiência de jovens profissionais
envolvidos no atendimento, falhas de comunicação, atendimento de urgência, excesso de
carga horária e de trabalho, sobrecarga de trabalho, delegação de cuidados sem supervisão
adequada, estresse profissional, desmotivação, falta de atenção, falta de conhecimento,
negligência, imprudência e dificuldades para entender as prescrições (CARVALHO-FILHO
et al., 1996; MADALOSSO, 2000; GALLOTTI, 2004; CRESSWELL et al., 2007).
Para a prestação da assistência à saúde, presume-se que todos os recursos materiais, medicamentosos e tecnológicos, estejam nas mãos de profissionais competentes e
154
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
habilidosos, em condições de efetuar sua prática clínica em ambientes diversificados e eficientes, resultando em melhor atendimento às necessidades de tratamento da doença e de
promoção da saúde (PADILHA, 1998). No entanto, nota-se uma carência de profissionais
qualificados para atender às necessidades de saúde dos idosos, o que pode colocá-los em
situações de riscos, danos e até a morte (PEDREIRA; BRANDÃO; REIS, 2013).
A segurança do paciente consiste em reduzir o risco a um mínimo aceitável, de danos
desnecessários associados ao cuidado à saúde. O “mínimo aceitável” é referente àquilo que
é viável diante do conhecimento atual, dos recursos disponíveis e do contexto em que a
assistência é realizada (WHO, 2009). Pode também ser definida como princípio fundamental
para a qualidade da assistência, determinando que bens e serviços sejam fornecidos com o
mínimo ou ausência total de riscos ou falhas, sem comprometer a continuidade do tratamento
(SOUSA, 2006; PADILHA, 2006; CHARLES, 2010).
No ambiente hospitalar, o cuidado prestado aos pacientes é complexo e requer que
seja executado com qualidade e sem gerar danos desnecessários ao indivíduo (ROQUE;
MELO, 2012). Tratando-se de eventos adversos com idosos em âmbito hospitalar, estudiosos (CARVALHO-FILHO et al., 1998; SANTOS; CEOLIM, 2009) apontam que a prevalência
de eventos adversos é elevada, o que determina manifestações graves e até mesmo fatais.
Silva (2010) considera que a falta de informações sobre os eventos adversos e seus
fatores causais constituem os principais determinantes encontrados para novas ocorrências,
pois impedem o conhecimento, avaliação e a discussão sobre as consequências desses
eventos para profissionais, usuários e familiares, além de prejudicar a ação dos gestores
para a qualidade da assistência com foco no cuidado seguro.
A busca pela qualidade assistencial tem se tornado uma questão complexa, prioritária
e presente no cotidiano de profissionais e de organizações hospitalares (CALDANA et al.,
2013). O aprimoramento nos processos de trabalho, com vistas à garantia do cuidado com
qualidade, faz parte da rotina diária dos profissionais de saúde, uma vez que, constitui-se
uma obrigação legal em muitos países (VITURI; MATSUDA, 2009).
A enfermagem tem papel significativo em todos os níveis de complexidade do cuidado
e em todos os cenários, o que faz surgir o caráter urgente de aperfeiçoamento da atenção e
cuidados integrais para pacientes hospitalizados. Além disso, a necessidade de planejamento
estratégico de ações a nível gerencial ou cuidados indiretos, assistencial ou cuidados diretos,
educacional e de pesquisa, com ações que melhorem a qualidade da assistência prestada,
conforme preconizam os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) e os princípios da
profissão (MOTTA; HANSEL; SILVA, 2010).
A garantia de resultados positivos e satisfatórios para os clientes requer que as organizações aprendam a associar baixos custos com excelência de qualidade. Para tanto, é
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
155
de extrema importância que as grandes empresas se preocupem em utilizar a auditoria de
forma contínua em suas organizações, visto que, os clientes estão cada vez mais convictos
de seus direitos (CAMELO et al., 2009).
Auditoria representa um exame sistemático e independente dos fatos pela observação,
medição, ensaio ou outras técnicas apropriadas de uma atividade, elemento ou sistema.
Além disso, verifica-se adequação aos requisitos preconizados pelas leis e normas vigentes, o que determina se as ações e seus resultados estão de acordo com as disposições
planejadas (BRASIL, 2011).
Trata-se de uma ferramenta de controle da qualidade do trabalho da equipe de enfermagem, sendo utilizada com o intuito de melhorar a qualidade do serviço prestado (SETZ;
D’INNOCENZO, 2009). Cumpre salientar, que um dos instrumentos imprescindíveis à auditoria é o prontuário do paciente, sendo utilizado como dever diário entre todos os profissionais,
para o acompanhamento das condições de saúde, avaliação do cuidado, bem como, dar apoio
à pesquisa, ao ensino e aos serviços de saúde (POSSARI, 2005; FRANÇOLIN et al., 2012).
O prontuário do paciente consiste em uma ferramenta para documentação da assistência, monitoramento, gerenciamento, informação clínica e de detecção de erros relacionados
com a assistência à saúde entre os vários setores do hospital (MESQUITA; DESLANDES,
2010). Sendo assim, a auditoria em enfermagem pode ser considerada como um processo
de avaliação sistemática da qualidade prestada ao cliente pela análise dos prontuários,
acompanhamento do cliente in loco e verificação da compatibilidade entre o procedimento
realizado e os itens cobrados na conta hospitalar, garantindo justa cobrança e pagamento
adequado (MOTTA, 2003).
Nos últimos anos, a auditoria em enfermagem é exercida e difundida nas instituições
públicas e privadas, objetivando minimizar desperdício de materiais, medicamentos, equipamentos e recursos humanos. Contudo, apesar de ser utilizada, principalmente, para fins
contábeis, traduz-se em benefício não só para as instituições de saúde, uma vez que, atinge
pacientes e a própria equipe de enfermagem (SILVA et al., 2012).
Para a realização da auditoria de enfermagem é necessário conhecer e dominar todos
os processos que envolvem o atendimento ao paciente. Deve-se utilizar um método com
objetivos claros, que identifiquem pontos inadequados do serviço, pois o sistema hospitalar
tem responsabilidade na investigação e controle da qualidade da assistência oferecida por
todos os profissionais de saúde e pelos serviços de apoio (SCARPARO et al., 2009). De tal
modo, que possibilite por meio dos relatórios de avaliação, orientação para equipe e instituição, quanto ao registro apropriado das ações profissionais e o respaldo ético e legal,
frente aos conselhos, às associações de classe e a justiça (SETZ; D’INNOCENZO, 2009).
156
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Em 2011, o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), através da resolução 266,
regulamentou a atuação do enfermeiro habilitado profissionalmente, a realizar auditoria em
serviços de enfermagem, sendo de competência no exercício de suas atividades, a organizar, dirigir, coordenar, avaliar, prestar consultoria, auditoria e emissão de parecer sobre os
serviços de auditoria de enfermagem (COFEN, 2011).
A auditoria de enfermagem está inserida na rotina das instituições de saúde possibilitando a análise dos aspectos qualitativos da assistência requerida pelo paciente, assim
como, os processos internos e as contas hospitalares. Entretanto, carece de incluir o estabelecimento de padrões da assistência e a utilização de instrumentos para a sua realização
(SCARPARO et al., 2009).
O compromisso em auditar para fortalecer a gestão, se estabelece na orientação ao
gestor quanto à aplicação eficiente do orçamento da saúde, o qual deve refletir na melhoria
dos indicadores epidemiológicos e de bem-estar social, no acesso e na humanização dos
serviços (BRASIL, 2011). Sabe-se que os registros da equipe de saúde que acompanha o
tratamento de pacientes é considerado critério de avaliação da qualidade da prestação de
serviços de saúde, isto é, a qualidade dos registros efetuados é o reflexo da qualidade da
assistência prestada (SCHULZ; SILVA, 2011).
A auditoria da qualidade dos registros de enfermagem surgiu ao se observar que os
trabalhadores de enfermagem que prestam assistência em saúde, não se preocupam com
a qualidade dos registros. Mediante esse contexto é oportuno enfatizar que a composição
de um documento legal, corretamente elaborado é imprescindível para garantir segurança
e proteção para o cliente, bem como, para a equipe multiprofissional envolvida no processo
(FILHO; BENESSIUTI, 2013).
Em decorrência das implicações que os eventos adversos acarretam para a população
idosa hospitalizada, torna-se necessário estabelecer estratégias preventivas quanto à incidência e reincidência desses eventos (PADILHA, 2001). Acrescenta-se, ainda, a necessidade
em adotar medidas educativas para notificação, com vista a minimizar ou eliminar falhas
que possam interferir na qualidade da assistência e na segurança do paciente (BEZERRA
et al., 2009; CARNEIRO et al., 2011).
Mediante este contexto e considerando a relevância da temática, surgiu o interesse
em desenvolver um estudo sobre a produção científica, acerca das estratégias preventivas
de eventos adversos em idosos hospitalizados e as contribuições da auditoria da qualidade
dos registros de enfermagem. O objetivo do estudo foi analisar por meio da produção científica, a ocorrência de eventos adversos em idosos hospitalizados e o papel da auditoria da
qualidade em registros de enfermagem.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
157
METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa exploratória descritiva com base em fontes bibliográficas
nas quais se fez uma revisão da literatura, que consiste em uma pesquisa desenvolvida com
base em material já elaborado, constituído, principalmente, de livros e artigos científicos,
sendo que sua principal vantagem reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de
uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente (GIL, 2007).
Para o mesmo autor, as fases identificadas para o delineamento de uma pesquisa bibliográfica foram: identificação das fontes de consulta, localização das mesmas e obtenção
do material, leitura do material e apontamentos, fichamentos, organização lógica do assunto
e redação do trabalho.
A fonte de dados foram periódicos nacionais e internacionais, livros textos, leis, resoluções e portarias governamentais. A busca dos dados foi realizada de forma manual e virtual,
em bancos de dados que garantem fidedignidade das informações. O período delimitado
para a pesquisa foi 2000 a 2015.
A coleta de dados foi realizada nos meses de novembro de 2015 a janeiro de 2016 e,
em seguida, a literatura foi confrontada. Os dados foram compilados por meio dos tipos de
leitura: exploratória, seletiva, analítica e interpretativa (GIL, 2007), e sua análise realizada
de forma descritiva. Para Gil (2007), a exploratória e seletiva envolvem a determinação do
material que de fato interessa à pesquisa. A leitura analítica ordena e sumaria as informações
das fontes, permitindo responder aos problemas da pesquisa. Inicialmente é feita uma leitura
integral da obra, com identificação, hierarquização e sintetização das ideias-chaves. Já a
leitura interpretativa, “relaciona o que o autor afirma com o problema para o qual se propõe
uma solução” (GIL, 2007).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir da busca realizada nas bases de dados, foram localizados 58 estudos. Após
leitura de títulos e resumos e confronto de dados entre os pesquisadores, foram descartados seis estudos que não atenderam aos critérios de inclusão estabelecidos. Os estudos
encontrados compreendem os anos de publicação de 2001 a 2015.
Os dados obtidos foram organizados em três categorias: segurança do paciente e os
eventos adversos na hospitalização de idosos (36 estudos); contribuição da enfermagem na
melhoria da qualidade da assistência nos registros de idosos hospitalizados (12 estudos) e
auditoria em enfermagem como ferramenta na qualidade dos serviços de saúde (10 estudos).
158
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Segurança do paciente e os eventos adversos na hospitalização de idosos
A prática de cuidado à pessoa idosa requer uma abordagem global, interdisciplinar e
multidimensional, que considere a interação entre os fatores físicos, psicológicos e sociais
que influenciam a saúde do idoso e a importância do ambiente no qual está inserido (BRASIL,
2006). A equipe de saúde deve prezar pela garantia de prioridades à pessoa idosa que busca
por atendimento em uma instituição hospitalar (SOUZA et al., 2013).
A questão relacionada à qualidade para o alcance da segurança no cuidado torna-se
fundamental a uma análise da Estrutura, do Processo e do Resultado, como também do
desempenho de uma instituição de saúde em relação à qualidade, eficiência e equidade
(KURCGANT et al., 2009; CALDANA et al., 2011).
A segurança do paciente hospitalizado é uma das preocupações prioritárias no sistema
de controle de qualidade (ABREU et al., 2012). Em instituições de saúde, a prestação da
assistência ao paciente tem, como princípio básico, o atendimento e fornecimento de bens
e serviços com o mínimo ou ausência total de riscos e falhas que possam comprometer a
qualidade do cuidado (PADILHA, 2001, 2006). Nesse contexto organizacional, quanto mais
complexo for o sistema, ou mais complexa a ação, maior o risco de eventos adversos entre
a população idosa hospitalizada (ACKROYD-STOLARZ; BOWLES; GIFFIN, 2014).
A ocorrência de eventos adversos é considerada um sério problema relacionado à segurança do paciente. Esses eventos são atribuídos a deficiências na atenção à saúde, com
impacto direto na saúde dos pacientes e pela repercussão econômica em gastos sociais e
sanitários gerados. Tem reflexos na qualidade do cuidado e representa um instrumento de
avaliação da qualidade da assistência (MOURA; MENDES, 2012).
Os idosos são identificados como grupo de alto risco para a ocorrência de eventos adversos durante a hospitalização (ACKROYD-STOLARZ; BOWLES; GIFFIN, 2014).
Ackroyd-Stolarz et al. (2009), em um estudo de coorte retrospectivo realizado com idosos
em um hospital canadense, encontraram taxa referente a 14% de eventos adversos nas internações, sendo 42% relacionados a processos clínicos, seguidos de 28% por dispositivos
tubulares, como a utilização de cateteres ou dispositivos para cirurgias de revascularização
miocárdica e 19% decorrentes de medicamentos. Além disso, os autores evidenciaram que
os idosos que sofrem eventos adversos, durante a internação, têm maior probabilidade de
serem institucionalizados após a alta hospitalar.
Estudo realizado com idosos internados em uma unidade de clínica cirúrgica de um
hospital de ensino da região Centro-Oeste do Brasil identificou a ocorrência de 531 registros
de eventos adversos, correspondendo à média de 2,04 eventos por internação. Os tipos
de eventos adversos foram referentes à dor aguda em pré e pós-operatórios não resolvida,
retirada não programada de dispositivos tubulares e obstrução de dispositivos tubulares,
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
159
suspensão de cirurgia, reação adversa a medicamentos, infecção do sítio cirúrgico, flebite,
sepse, falhas durante procedimentos técnicos, deiscência cirúrgica, exame marcado e não
realizado, processo alérgico não medicamentoso, falta de sangue, lesão por pressão e queda
(TEIXEIRA, 2015).
A queda é considerada um problema grave de saúde pública e um dos principais eventos a serem prevenidos nas instituições de saúde. São caracterizadas como um indicador de
qualidade da assistência e um dos mais importantes indicadores de segurança do paciente
(PRATES et al., 2014). Para o mesmo autor, o tipo de queda é uma questão complexa de
ser analisada e comparada, visto que é dependente das características da instituição e da
população pesquisada. Além disso, a segurança do ambiente, incluindo a presença de leitos
com grades, barra de apoio no banheiro, supervisão periódica das condições da área física
das unidades podem ser diferentes de acordo com o tipo de instituição, o que influenciará
maior prevalência de um determinado tipo de queda.
Por esse fato, a evolução do estado do paciente deve ser diária e a observação contínua, durante todo o período de internação, principalmente, para aqueles pacientes que
apresentam fatores de risco de queda. Além disso, são fundamentais a informação e a
orientação do paciente e dos acompanhantes para prevenção de queda (MENEGUIN;
AYRES; BUENO, 2014).
Considerando as sérias complicações que as quedas podem trazer aos idosos, os
acompanhantes dos mesmos devem ser, frequentemente, orientados em relação ao risco,
de tal forma que, falhas nessa comunicação poderão contribuir para a ocorrência de quedas.
Evidenciam-se, também, a necessidade de medidas de segurança para o paciente idoso,
com modificação dos comportamentos dos enfermeiros, a orientação dos cuidados, por meio
da utilização de escalas de avaliação do risco e o desenho de guidelines contextualmente
adequado (ABREU et al., 2012).
As lesões por pressão constituem um problema comumente identificável em idosos
hospitalizados, especialmente, quando os pacientes apresentam comprometimento de sua
capacidade funcional, assumindo grande relevância para a prática clínica e para o cuidado
de enfermagem. Sua manifestação relaciona-se com a condição clínica do idoso, como também reflete a qualidade da assistência prestada por parte dos profissionais de saúde, uma
vez que sua prevenção é de fácil execução e de baixo custo (FERNANDES et al., 2012).
Parte-se do pressuposto que a equipe de enfermagem presta cuidado ininterrupto ao
paciente, o que remete à necessidade de maior atenção sobre os cuidados para a prevenção
das lesões por pressão. Torna-se evidente, dispensar maior tempo para o acompanhamento
e assistência a pacientes acamados e melhor dimensionamento de pessoal de enfermagem
(BEZERRA et al., 2012).
160
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Szlejf (2010) sinaliza que pacientes idosos que sofrem eventos adversos durante o período de hospitalização, apresentam prolongamento no tempo de internação. Esses eventos
ocorrem durante a permanência do paciente na instituição hospitalar e provocam incapacitações temporárias ou permanentes, prolongam o tempo de internação, aumentam os custos
hospitalares e podem levá-lo a óbito (DUPOUY et al., 2013).
A ocorrência de eventos adversos proporciona danos não só para os pacientes, mas
também para as instituições hospitalares, resultando em aumento do tempo de internação,
intervenções diagnósticas/terapêuticas, exames e procedimentos extras, comprometimento
da qualidade do atendimento, da imagem institucional e elevação dos custos hospitalares
(PADILHA et al., 2002). Além disso, afeta a credibilidade da instituição, podendo influenciar
a confiança dos usuários do sistema de saúde. De modo geral, priorizam-se, durante o
processo de hospitalização, as necessidades de segurança e conforto dos pacientes, assim como as que foram prejudicadas pela internação, além do empenho dos gestores das
instituições de saúde para atender, satisfatoriamente, à demanda da clientela (MENEGUIN;
AYRES; BUENO, 2014).
Os resultados deste estudo corroboram a importância dos “Desafios Globais”, previsto
na Aliança Mundial para a Segurança do Paciente da OMS, que recomenda a higienização
das mãos como método efetivo para a prevenção das infecções e a implementação de listas
de verificação de segurança cirúrgica, antes, durante e após o procedimento cirúrgico, a fim
de reduzir a ocorrência de eventos adversos (WHO, 2005, 2007), em idosos hospitalizados.
Em 2004, na perspectiva de uma assistência segura, a 57ª Assembleia Mundial da
Saúde apoiou a criação da Aliança Mundial para a Segurança do Paciente, cujo objetivo
fundamental era “coordenar, divulgar e acelerar as melhorias na segurança do paciente
em todo o mundo”. Essa Aliança propôs importantes iniciativas para o estabelecimento de
metas de prevenção de danos aos pacientes e, como elemento central, a ação denominada
“Desafios Globais” (WHO, 2004).
A Aliança Mundial para a Segurança do Paciente enfatiza a necessidade de desenvolver diferentes tipos de investigação para melhorar a segurança do paciente e prevenir
os possíveis danos que compreendem: determinar a magnitude do dano, o número e tipos
de eventos adversos que prejudicam os pacientes; entender as causas fundamentais dos
danos ocasionados aos pacientes; identificar soluções para alcançar uma atenção à saúde
mais segura e avaliar o impacto das soluções em situações da vida real (OMS, 2008).
O primeiro Desafio Global focou-se nas infecções relacionadas à assistência à saúde
(IRAS), com o tema “Cuidado Limpo é Cuidado Seguro”. A estratégia consistiu em promover
a conscientização sobre a higienização das mãos na assistência à saúde para a prevenção
das infecções (WHO, 2005).
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
161
O segundo Desafio Global intitulado “Cirurgias Seguras Salvam Vidas”, fundamentou-se
na segurança do paciente cirúrgico, tendo como foco a diminuição da morbimortalidade causada pelas intervenções cirúrgicas. O propósito era voltado para prevenção de infecções do
sítio cirúrgico, promoção de um ato anestésico seguro, equipes cirúrgicas que promovessem
uma assistência segura e, por fim, a mensuração dos indicadores cirúrgicos (WHO, 2008b).
O terceiro Desafio Global dirige a atenção para o “Combate da Resistência
Antimicrobiana”, com ênfase no problema da resistência bacteriana (WHO, 2012).
Em 2007, o World Health Organization’s Collaborating Centre for Patient Safety Solutions
estabeleceu e recomendou a implementação de metas de segurança, através do redesenho
e aperfeiçoamento do processo de cuidado, na tentativa de reduzir e prevenir erros humanos
inevitáveis (WHO, 2007).
O Centro Colaborador da OMS, em parceria com a Joint Commission International
(JCI) incentivaram a adoção de Metas Internacionais de Segurança do Paciente (MISP),
direcionadas como estratégia para orientar as boas práticas, a fim de reduzir riscos e taxas
de eventos adversos em serviços de saúde. Essas Metas consistem em identificar o paciente
corretamente, tornar a comunicação efetiva, melhorar a segurança de medicamentos de alta
vigilância, assegurar cirurgias com local de intervenção e paciente corretos, reduzir as taxas
de infecções e prevenir quedas (JCI, 2011).
Haynes et al. (2009) instituíram, nos anos de 2007 e 2008, um checklist cirúrgico com 19
itens de controle na tentativa de mitigar erros em oito instituições participantes do Programa
“Cirurgias Seguras Salvam Vidas”. O resultado apontou que o uso do checklist permitiu
uma redução de 36% das complicações cirúrgicas, 47% da mortalidade, 50% da redução
de infecção e 25% da redução da necessidade de nova intervenção cirúrgica. O Checklist
para “Cirurgias Seguras Salvam Vidas”, desenvolvido pela OMS foi criado com o intuito de
melhorar a segurança do paciente em ambiente cirúrgico, para a aplicação antes do procedimento cirúrgico, a fim de reduzir a mortalidade e as complicações pós-operatórias (SALLES;
CARRARA, 2009; GRIGOLETO; GIMENES; AVELAR, 2011).
Como iniciativa da enfermagem pela melhoria da qualidade e segurança do cuidado
nos serviços de saúde foi criada em 2008, a Rede Brasileira de Enfermagem e Segurança do
Paciente (REBRAENSP), por iniciativa da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS),
cujo papel fundamental consiste na articulação e cooperação entre as instituições de saúde e educação, na disseminação e sedimentação de estratégias para o cuidado seguro
e com qualidade.
O Ministério da Saúde do Brasil e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)
formalizaram a Segurança do Paciente dentro da Portaria nº 529, de 1º de abril de 2013,
que instituiu o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP), representando uma
162
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
importante iniciativa para a qualificação do cuidado em saúde em todos os estabelecimentos
de saúde do território nacional (BRASIL, 2013).
Para o fortalecimento do PNSP, foi criada a RDC Nº 36, de 25 de julho de 2013, que
institui as ações para a segurança do paciente e a melhoria da qualidade nos serviços
de saúde. Fundamenta-se como princípio e diretriz a serem seguidos pelos Núcleos de
Segurança do Paciente (NSP), que estabelecem ações para a melhoria contínua dos processos de cuidado e do uso de tecnologias da saúde, disseminação sistemática da cultura
de segurança, articulação e a integração dos processos de gestão de risco e a garantia das
boas práticas de funcionamento do serviço de saúde (BRASIL, 2013).
Um componente estrutural das organizações é a promoção da cultura de segurança
em todos os âmbitos de serviços de saúde. Trata-se da consciência coletiva relacionada a
valores, atitudes, competência e comportamentos que determina o comprometimento com a
gestão da saúde e da segurança. Além disso, significa olhar os eventos adversos como um
problema, mas evitando culpabilizar os profissionais que cometem erros não intencionais, e
tratar o assunto como uma oportunidade de melhorar a assistência à saúde (THE NATIONAL
QUALITY FORUM, 2010).
A cultura de segurança impulsiona os profissionais a serem responsáveis pelos seus
atos e tem associação direta com a diminuição dos eventos adversos, implicando em intervenções eficazes para a recuperação da saúde dos pacientes (SAMMER et al., 2010).
Dentro desse contexto, a comunicação, o trabalho em equipe, a educação continuada e o
aprimoramento profissional se tornam ferramentas importantes para estabelecer uma cultura
eficaz (BEZERRA et al., 2009).
O desenvolvimento de uma cultura de segurança, a prática dos registros, a discussão
das circunstâncias em que os eventos adversos ocorreram, assim como as condutas profissionais e organizacionais frente aos danos causados são o caminho a ser seguido para a
transformação da realidade nas instituições de saúde (PARANAGUÁ et al., 2013).
Os eventos adversos devem ser monitorizados, permanentemente, o que exige avaliação sistemática dos efeitos e medidas adotadas. Um importante fator a ser destacado é
a avaliação clínica do paciente no momento da sua admissão hospitalar, visando identificar,
de forma precoce, a existência de fatores de risco predisponentes e propor protocolos para
prevenção desses eventos (ABREU et al., 2012; LAUS et al., 2014).
Além disso, há necessidade de que os gestores e todo o sistema organizacional encorajem suas equipes a uma atitude proativa para notificação dos eventos adversos, tendo
como foco, a criação de um sistema livre de punição, com estímulo ao relato do erro e à
cultura de segurança. Assim, torna-se de fundamental importância, que os profissionais de
saúde inseridos nesse contexto, compreendam as questões do envelhecimento, facilitem o
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
163
acesso do idoso aos diversos níveis de atenção à saúde, estejam qualificados tecnicamente
e estabeleçam o paciente idoso como núcleo desse processo (PROCHET et al., 2012).
Contribuição da enfermagem na melhoria da qualidade da assistência nos registros
de idosos hospitalizados
O registro da assistência prestada ao paciente idoso hospitalizado é considerado critério
de avaliação da qualidade da prestação de serviço de saúde. Cumpri o papel de respaldar,
ética e legalmente, o profissional responsável pelo cuidado, assim como o paciente. Quando
esse registro é escasso e inadequado compromete tanto a assistência como a instituição,
leva a um comprometimento da segurança e da perspectiva de cuidado e dificulta a mensuração dos resultados assistenciais, o que reflete na qualidade da assistência prestada
(SETZ; D’INNOENZO, 2009; SCHULZ; SILVA, 2011).
Nessa perspectiva, os registros das atividades e informações sobre o estado clínico
dos pacientes internados em um hospital ou unidade de saúde é tarefa e dever diário de
todos os profissionais da área de saúde (FRANÇOLIN et al., 2012). Estudo realizado com
objetivo de avaliar a qualidade das anotações de enfermagem de pacientes cirúrgicos de
um hospital escola do Paraná identificou que os registros referentes às prescrições de enfermagem de pós-operatório, observação de sinais e sintomas e anotações de pós-operatório
foram considerados completos. Os autores ainda encontraram que os registros referentes
ao aspecto e evolução das lesões cutâneas e às anotações de alta estavam incompletos
(VENTURINI; MARCON, 2008).
Geremia e Costa (2012), em um estudo sobre a qualidade dos registros de enfermagem
em uma unidade hospitalar de Santa Catarina, encontraram que os dados de identificação
no prontuário estavam escritos de forma adequada, e as anotações de enfermagem foram
preenchidas de forma adequada, porém insuficientes, como também as condições de alta
hospitalar do cliente.
No estudo de Guedes, Trevisan e Stancato (2013) foi encontrado que as prescrições
de enfermagem não contemplavam as particularidades de cada paciente, ficando restritas
aos cuidados básicos. Setz e Innocenzo (2009) em uma análise qualitativa de 424 prontuários de unidades clínicas e cirúrgicas de um hospital universitário apontaram que 26,7%
registros de enfermagem foram considerados ruins, 64,6% foram considerados regulares e
8,7% bons. Além disso, observou-se que nenhum prontuário foi considerado como ótimo.
Investigação realizada com 100 prontuários de pacientes idosos internados em duas
enfermarias de um hospital de ensino de São Paulo observou que, na maioria dos prontuários, havia registros pouco detalhados, sem referência precisa aos horários da ocorrência
164
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
dos eventos adversos e quase sempre redigidos somente pelos técnicos de enfermagem
(SANTOS; CEOLIM, 2009).
A ausência de registros pode implicar na duplicação de procedimentos executados, dificuldade de acompanhamento dos cuidados prestados e na não execução de
determinada atividade, o que pode colocar em risco a própria recuperação do usuário
(FRANÇOLIN et al., 2012).
A enfermagem tem papel significativo em todos os níveis de complexidade do cuidado
e em todos os cenários. Está envolvida diretamente no cuidado com a pessoa idosa, de
forma ininterrupta, desde o acolhimento, durante todo o processo de hospitalização, até a
sua saída por alta, transferência ou óbito. Esses profissionais conhecem, por experiência,
as diversas condições enfrentadas diariamente por essa população (SOUZA et al., 2013).
O registro das intervenções de enfermagem é um dos campos mais deficientes do
processo da assistência de enfermagem, e as causas subjacentes deste problema estão
relacionadas com a deficiência dos prestadores de serviços em atender às necessidades
dos pacientes, a falta de tempo para registrar de forma detalhada a assistência proporcionada e a carência de formas estruturadas de coleta de dados (LABBADIA; ADAMI, 2004).
No processo de atenção à saúde, muitos são os fatores que dificultam um adequado
registro de enfermagem como: sobrecarga de trabalho para a equipe, não valorização dos
registros como parte do processo de trabalho da enfermagem e desconhecimento da importância devido à escassez de educação continuada, permanente ou até mesmo educação
em serviço. Mesmo assim, o registro das atividades assistenciais constitui-se em uma das
provas mais valiosas sobre a atuação e a qualidade dos cuidados prestados (MATSUDA;
CARVALHO; ÉVORA, 2007).
Os registros realizados pela enfermagem, quando são escassos e inadequados, comprometem a assistência prestada ao paciente, bem como à instituição e toda à equipe de
enfermagem. Além disso, há um comprometimento da segurança e do cuidado ao paciente,
dificultando a mensuração dos resultados assistenciais (SETZ; D’ INNOCENZO, 2009).
Os registros de enfermagem são indispensáveis no prontuário do paciente, pois constituem parte da documentação do processo de saúde/doença. A equipe de enfermagem
acompanha todo esse processo de forma integral, pela permanência na unidade hospitalar
durante 24 horas, garantindo qualidade e fidedignidade em suas observações (FRANÇOLIN
et al., 2012). Para os mesmos autores, devem servir como instrumento no processo de
tomada de decisão, refletir com clareza e objetividade o estado clínico dos pacientes, bem
como as ações e procedimentos realizados.
O planejamento estratégico de ações em nível gerencial ou cuidados indiretos, assistencial ou cuidados diretos, educacional e de pesquisa deve contemplar ações a melhorar a
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
165
qualidade da assistência prestada ao idoso hospitalizado, conforme preconizam os princípios
do SUS e os princípios da profissão enfermagem (MOTTA; HANSEL; SILVA, 2010). Além
disso, é de fundamental importância o registro apropriado das ações profissionais.
Teixeira (2015) aponta a necessidade de orientarem e despertarem os profissionais de
saúde, em especial a equipe de enfermagem, para reflexões capazes de provocar mudança
de atitude, para que haja o aperfeiçoamento e o registro adequado da ocorrência dos eventos
adversos em idosos hospitalizados.
Auditoria em enfermagem como ferramenta na qualidade dos serviços de saúde
A auditoria é de fundamental importância para detectar problemas apresentados nos
prontuários, pois possibilita por meio dos relatórios de avaliação, a orientação para equipe e
instituição, quanto ao registro apropriado das ações profissionais e o respaldo ético e legal,
frente aos conselhos, às associações de classe e a justiça (SETZ; D’INNOCENZO, 2009).
Trata-se de um instrumento de controle da qualidade do trabalho da equipe de enfermagem, sendo utilizada com o objetivo de melhorar a qualidade do serviço prestado (SETZ;
D’INNOCENZO, 2009; FRANÇOLIN et al., 2012).
Uma das ferramentas de gestão para minimizar os problemas relacionados à prática
profissional, especialmente, os registros é a auditoria que pode auxiliar na detecção de
problemas apresentados nos prontuários e possibilitar a orientação para equipe de saúde
e instituição (SETZ; D’INNOCENZO, 2009).
Para Hanskamp-Sebregts et al. (2013) as auditorias de segurança do paciente têm por
objetivo a detecção precoce dos riscos de eventos adversos, a fim de promover melhorias
contínuas na segurança do paciente. Elas devem consistir em sistemas independentes
e objetivos de controle e consulta. As auditorias ajudam as organizações a realizar seus
objetivos por introduzirem uma abordagem sistemática e disciplinada para a avaliação e a
melhoria da efetividade dos sistemas de gestão, controle e governança dos riscos.
O enfermeiro auditor desenvolve as atividades de sua competência na auditoria de
acordo com aspectos técnicos, atentando às legislações vigentes do Ministério da Saúde,
Agência Nacional de Saúde Suplementar, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, às
Normas de Auditoria de Enfermagem, ao Código de Ética de Enfermagem e Legislação do
Conselho Federal de Enfermagem, Conselho Regional de Enfermagem, Lei 9.656/1998, Lei
do Código de Defesa do Consumidor, Contratos e Coberturas Contratuais, Exclusões de
Cobertura e Tabelas Contratuais, sempre mantendo os padrões de qualidade da instituição
(MELO; VAITSMAN, 2008).
A Resolução 266/2001 do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) estabelece as
principais atividades privativas do enfermeiro auditor em exercício de sua função:
166
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Organizar, dirigir, planejar, coordenar e avaliar, prestar consultoria, auditoria e emissão
de parecer sobre os serviços de auditoria de enfermagem.
Atuar na elaboração de medidas de prevenção e controle sistemático de danos que
possam ser causados aos pacientes durante a assistência de enfermagem.
O enfermeiro auditor, segundo a autonomia legal conferida pela Lei e decretos que
tratam do exercício profissional de Enfermagem, para exercer sua função não depende da
presença de outro profissional.
Tem o direito de visitar/entrevistar o paciente, com o objetivo de constatar sua satisfação
com o serviço de enfermagem prestado, bem como a qualidade desse serviço. Se necessário, deve acompanhar os procedimentos prestados no sentido de dirimir quaisquer dúvidas
que possam interferir no seu relatório.
Tem o direito de acessar, in loco, toda a documentação necessária, sendo-lhe vedado
retirar da instituição os prontuários ou suas cópias; pode, também, se necessário, examinar
o paciente, desde que autorizado por ele ou por seu representante legal.
Quando integrante de equipe multiprofissional, deve preservar sua autonomia, liberdade
de trabalho, e sigilo profissional; bem como respeitar autonomia, liberdade de trabalho dos
membros da equipe, respeitando a privacidade, e o sigilo profissional, salvo nos casos previstos em lei, que objetivem a garantia do bem estar do ser humano e a preservação da vida.
Quando em sua função, deve sempre respeitar os princípios profissionais, legais e
éticos no cumprimento do seu dever.
A auditoria não tem finalidade punitiva, do ponto de vista da assistência á saúde, ela
verifica o cuidado, detecta erros e os analisa quanto à natureza e significado, fornecendo
indicadores de padrão ou tendência, assim como subsidio para modificação de procedimentos e técnicas, com o objetivo primordial de promover melhoria da assistência ao paciente
(MANUAL DE CONSULTAS DAS NORMAS DE AUDITORIA MÉDICA, 2011).
Para que o enfermeiro possa realizar a auditoria da qualidade é necessário que sejam
levados em consideração indicadores como: as anotações de enfermagem, que devem ser
claras, precisas, legíveis e descritas de forma a contar todos os procedimentos realizados
ao paciente, intercorrências e queixas; O estado de saúde do paciente e o estado emocional de sua família; O processo de enfermagem, rotinas e descrição dos procedimentos e
protocolos, como os de troca de sonda/cateteres, diluição de medicamentos, preparo para
exames, entre outros (CHEBLI; MAIA; PAES, 2005).
Dessa forma, os serviços de auditoria de enfermagem necessitam realizar um trabalho
proativo visando à revisão das rotinas e implantação de programas de treinamento para
conscientização da equipe de enfermagem quanto à importância dos recursos financeiros do
hospital (GALVÃO, 2002). Pesquisadores (SEIGNEMARTIN et al., 2013; COSTA; BARROS;
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
167
SANTOS, 2013), destacam a necessidade de avaliação rigorosa dos registros de idosos
hospitalizados e a sua consistência na prática de enfermagem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo se propôs determinar, por meio de uma revisão da literatura, a uma análise
por meio da produção científica, sobre a ocorrência de eventos adversos em idosos hospitalizados e o papel da auditoria da qualidade em registros de enfermagem.
Verificou-se que os eventos adversos são mais comuns em idosos hospitalizados, devido à vulnerabilidade que apresenta esse grupo etário. Assim, torna-se necessário que a
instituição adote medidas que orientem e despertem os profissionais para reflexões capazes
de provocar mudança de atitude, para que haja o aperfeiçoamento e o registro adequado
da ocorrência desses eventos, tendo como foco a cultura de segurança.
O desafio em melhorar a qualidade no atendimento envolve a necessidade em priorizar
a promoção da qualidade em saúde, a auditoria e a educação continuada do profissional,
com foco nas Políticas Nacionais de Assistência ao Idoso, assim como na Segurança do
Paciente, visando capacitar e sensibilizar a equipe multiprofissional no desenvolvimento
de competências fundamentais para prestar uma assistência livre de danos a esse segmento populacional.
REFERÊNCIAS
1.
2.
3.
168
ABREU, C. et al. Quedas em meio hospitalar: um estudo longitudinal. Revista Latino-americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v.20, n.3, p.597-603, maio-junho, 2012.
ACKROYD-STOLARZ, S.; BOWLES, S.K.; GIFFIN, L. Validating administrative data for the
detection of adverse events in older hospitalized patients. Drug, Healthcare and Patient Safety, v.6, p.101-108, august, 2014.
ACKROYD-STOLARZ, S. et al. Impact of adverse events on hospital disposition in community-dwelling seniors admitted to acute care. Healthcare Quarterly, v.12, n (Spec), p.34-39, 2009.
4.
BEZERRA, A.L.Q. et al. Análise de queixas técnicas e eventos adversos notificados em um
hospital sentinela. Revista Enfermagem Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio
de Janeiro, v.17, n.4, p.467-472, outubro-dezembro, 2009.
5.
BEZERRA, A.L.Q. et al. Eventos adversos: indicadores de resultados segundo a percepção de
enfermeiros de um hospital centinela. Enfermería Global, v.11, n.27. p. 186-197, julho, 2012.
6.
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Portaria nº 399, de 22 de fevereiro de
2006. Divulga o Pacto pela Saúde 2006 - Consolidação do SUS e aprova as Diretrizes Operacionais do Referido Pacto. Diário Oficial União. Brasília (Brasil): Ministério da Saúde, 2006.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
BRASIL. Auditoria do SUS: orientações básicas / Ministério da Saúde, Secretaria de
Gestão Estratégica e Participativa. Sistema Nacional de Auditoria. Departamento Nacional
de Auditoria do SUS. – Brasília: Ministério da Saúde, 2011. 48 p.
BRASIL. ANVISA. Portaria n.º 529, de 1 de abril de 2013. Institui o Programa Nacional de
Segurança do Paciente (PNSP). Seção1. Brasília (Brasil): Ministério da Saúde, 2013.
CALDANA, G. et al. Indicadores de desempenho em serviço de enfermagem hospitalar: Revisão integrativa. Revista Rene, v,12, n.1, p.189-197, janeiro-março, 2011.
CALDANA, G. et al. Avaliação da qualidade de cuidados de enfermagem em hospital público.
Semina: Ciências Biológicas e da Saúde, v.34, n.2, p.187-194, 2013.
CAMELO, S.H.H. et al. Auditoria de enfermagem e a qualidade da assistência à saúde: uma
revisão da literatura. Revista Eletrônica de Enfermagem, Goiânia, v.11, n.4, p.1018-1025,
2009.
CARNEIRO, F.S. et al. Eventos adversos na clínica cirúrgica de um hospital universitário:
instrumento de avaliação da qualidade. Revista Enfermagem Universidade do Estado do
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, v.19, n.2, p.204-211, abril-junho, 2011.
CARVALHO-FILHO, E.T. et al. Iatrogenia em pacientes idosos hospitalizados. Revista de
Saúde Pública, São Paulo, v.32, n.1, p.36-42, fevereiro,1998.
14.
CARVALHO-FILHO, E.T. et al. Iatrogenia no idoso. Revista Brasileira de Medicina, v.53,
n.3, p.117-137, março, 1996.
15.
CHARLES, V. Segurança do paciente: orientações para evitar os eventos adversos. Porto
Alegre (RS): Yendis, 2010.
16.
CHEBLI, T.F.; MAIA, J.R.; PAES, P.P.L. Manual de auditoria de contas médicas. Ministério
da Defesa, Exército Brasileiro. 4° Região Militar, 4° Divisão do Exército, Juiz de Fora – MG,
2005.
17.
18.
19.
20.
21.
22.
COFEN - CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM (Brasil). Resolução do COFEN-266/2001,
de 5 de outubro de 2011. Aprova atividades de enfermeiro auditor. Diário Oficial da União 5
out de 2011. Disponível em: http://site.portalcofen.gov.br/node/4303. Acesso em: 25 jan. 2015.
COSTA,T.D.; BARROS, A.G.; SANTOS, V.E.P. Registros da equipe de enfermagem em unidade
de terapia intensiva. Revista Baiana de Enfermagem, v.27, n.3, p.221-229, 2013.
CRESSWELL, K.M. et al. Adverse drug events in the elderly. British Medical Bulletin, v.83,
n.1, p.259-274, 2007.
DUPOUY, J. et al. Which Adverse Events Are Related to Health Care during Hospitalization in
Elderly Inpatients? International Journal of Medical Sciences, v.10, n.9, p.1224-1230, 2013.
FERNANDES, M.G.M. et al. Risco para úlcera por pressão em idosos hospitalizados: aplicação
da escala de Waterlow. Revista Enfermagem Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, v.20, n.1, p.56-60, janeiro-março, 2012.
FILHO, I.P.; BENESSIUTI, M.A.T. Conformidade no prontuário do paciente: um desafio permanente. Revista de Administração em Saúde, v.15, n.61. outubro-dezembro, 2013.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
169
23.
24.
GALLOTTI, R.M.D. Eventos adversos - o que são? Revista da Associação Médica Brasileira, São Paulo, v.50, n.2, p.109-126, janeiro, 2004.
25.
GALVÃO, C.R. Estudo do papel da auditoria de enfermagem para a redução dos desperdícios
em materiais e medicamentos. Mundo saúde, v.26, n.2, p.275-282, 2002.
26.
GEREMIA, D.S.; COSTA, L.D. Auditoria da qualidade dos registros de enfermagem em uma
unidade de internação clínica hospitalar. Revista de Administração em Saúde, v.14, n.54,
abril-junho, 2012.
27.
28.
29.
30.
31.
32.
33.
GIL, A.C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2007.
GRIGOLETO, A.R.L.; GIMENES, F.R.E.; AVELAR, M,C,Q. Segurança do cliente e as ações
frente ao procedimento cirúrgico. Revista Eletrônica de Enfermagem, Goiânia, v.13, n.2,
p.347-354, 2011.
GUEDES, G.G.; TREVISAN, D.D.; STANCATO, K. Auditoria de prescrições de enfermagem
de um hospital de ensino paulista: avaliação da qualidade da assistência. Revista de Administração em Saúde, v.15, n.59, 2013.
HANSKAMP-SEBREGTS, M. et al. Efeitos das auditorias de segurança do paciente no cuidado
hospitalar: desenho de uma avaliação baseada em métodos mistos. Bio Med Central Health
Services Research, v.13, n.1, p.226, 2013.
HAYNES, A.B. et al. A surgical safety checklist to reduce morbidity and mortalityn in a global
population. The New England Journal of Medicine, v.360, p.491-499, 2009.
JCI - Joint Commission International. Padrões de acreditação da Joint Commission International para hospitais. 4 ed. Oakbrook Terrace: JCI, 2011.
KOHN, L.T.; CORRIGAN, J.M.; DONALDSON, M.S. To err is human: building a safer health
system. Washington: National Academy Press, 2000.
34.
KURCGANT, P. et al. Indicadores de qualidade e a avaliação do gerenciamento de recursos
humanos em saúde. Revista da Escola de Enfermagem da USP, São Paulo, v.43, n.2,
p.1168-1173, dezembro, 2009.
35.
LABBADIA, L.L.; ADAMI, N.P. Avaliação das anotações de enfermagem em prontuários de um
hospital universitário. Acta Paulista de Enfermagem. v.17, n.1, p.55-62, 2004.
36.
LAUS, A.M. et al. Perfil das quedas em pacientes hospitalizados. Ciência, Cuidado e Saúde,
v.13, n.4, p.688-695, 2014.
37.
38.
39.
170
FRANÇOLIN, L. et al. A qualidade dos registros de enfermagem em prontuários de pacientes
hospitalizados. Revista Enfermagem Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, v.20, n.1, p.79-83, janeiro-março, 2012.
MADALOSSO, A.R.M. Iatrogenia do cuidado de enfermagem: dialogando com o perigo no
quotidiano profissional. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v.8, n.3, p.11-17, 2000.
MANUAL DE CONSULTAS DAS NORMAS DE AUDITORIA MÉDICA E ENFERMAGEM. Diretoria de Integração Cooperativista, São Paulo, 2011.
MATSUDA, L.M.; CARVALHO, A.R.S.; ÉVORA, Y.D.M. Anotações/registros de enfermagem
em um hospital-escola. Ciência, Cuidado e Saúde, v.6, p.337-346, 2007.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
40.
MELO, M.B.; VAITSMAN, J. Auditoria e avaliação no Sistema Único de Saúde. Revista São
Paulo Perspect, v.22, n.1, p.152-162, janeiro-junho, 2008.
41.
MENEGUIN, S.; AYRES, J.A.; BUENO, G.H. Caracterização das quedas de pacientes em
hospital especializado em cardiologia. Revista de Enfermagem da UFSM, v.4, n.4, p.784791, 2014.
42.
MESQUITA, A.M.O.; DESLANDES, S.F. A construção dos prontuários como expressão da
prática dos profissionais de saúde. Saúde e Sociedade, São Paulo, v.19, n.3, p.664-673,
julho-setembro, 2010.
43.
MOTTA, A.L.C. Auditoria de enfermagem nos hospitais e operadoras de planos de saúde.
São Paulo: Iátria, 2003.
44.
MOTTA, C.C.R.; HANSEL, C.G.; SILVA, J. Perfil de internações de pessoas idosas em um
hospital público. Revista Eletrônica de Enfermagem, Goiânia, v.12, n.3, p.471-477, 2010.
45.
MOURA, M.L.O.; MENDES, W. Avaliação de eventos adversos cirúrgicos em hospitais do Rio
de Janeiro. Revista Brasileira de Epidemiologia, São Paulo, v.15, n.3, p.523-535, 2012.
46.
OMS - Organização Mundial da Saúde. La investigación en Seguridad del Paciente: mayor
conocimiento para una atención más segura. Alianza Mundial para la Seguridad del Paciente, 2008.
47.
PADILHA, K.G. Ocorrências iatrogênicas na prática de enfermagem em Unidades de
Terapia Intensiva. 1998. Tese - Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, São
Paulo - SP.
48.
PADILHA, K.G. Ocorrências iatrogênicas na UTI e o enfoque de qualidade. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v.9, n.5, p.91-96, 2001.
49.
PADILHA, K.G. et al. Ocorrências iatrogênicas com medicação em unidade de terapia intensiva: condutas adotadas e sentimentos expressos pelos enfermeiros. Revista da Escola de
Enfermagem da USP, v.36, n.1, p.50-57, 2002.
50.
PADILHA, K.G. Ocorrências iatrogênicas em Unidade de Terapia Intensiva (UTI): análise dos
fatores relacionados. Revista Paulista Enfermagem, v.25, n.1, p.18-23. 2006.
51.
PARANAGUÁ, T.T.B. et al. Prevalência de incidentes sem dano e eventos adversos em uma
clínica cirúrgica. Acta Paulista de Enfermagem, São Paulo, v.26, n.3, p.256-262, 2013.
52.
PEDREIRA, L.C.; BRANDÃO, A.S.; REIS, A.M. Evento adverso no idoso em Unidade de Terapia
Intensiva. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v.66, n.3, p.429-436, maio-junho, 2013.
53.
POSSARI, J. Prontuário do paciente e os registros de enfermagem. São Paulo: Iátria, 2005.
54.
PRATES, C.G. et al. Quedas em adultos hospitalizados: incidência e características desses
eventos. Ciência, Cuidado e Saúde, v.13, n.1, p.74-81, 2014.
55.
PROCHET, T.C. et al. Affection in elderly care from the nurses’ perspective. Revista Escola
de Enfermagem da USP, São Paulo, v.46, n.1, p.96-102, fevereiro, 2012.
56.
ROQUE, K.E.; MELO, E.C.P. Avaliação dos eventos adversos a medicamentos no contexto
hospitalar. Escola Anna Nery, Rio de Janeiro, v.16, n.1, p.121-127, março, 2012.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
171
57.
SALLES, C.L.S.; CARRARA, D. Cirurgia Segura. In: PEDREIRA, M.L.G.; HARADA, M.J.C.S.
Enfermagem dia a dia: segurança do paciente. São Caetano do Sul: Yendis, 2009. 109-118 p.
58.
SAMMER, C.E. et al. What is Patient Safety Culture? A review of the literature. Jornal Nursing
Scholarship, v.42, n.2, p.156-165, 2010.
59.
SANTOS, J.C.; CEOLIM, M.F. Iatrogenias de enfermagem em pacientes idosos hospitalizados.
Revista da Escola de Enfermagem da USP, São Paulo, v.43, n.4, p.810-817, dezembro, 2009.
60.
SCARPARO, A.F. et al. Abordagem conceitual de métodos e finalidades da auditoria de enfermagem. Revista RENE, v.10, n.1, p.124-130, 2009.
61.
SETZ, V.G.; D’INNOCENZO, M. Avaliação da qualidade dos registros de enfermagem no
prontuário por meio da auditoria. Acta Paulista de Enfermagem, v.22, n.3, p.313-317, 2009.
62.
SCHULZ, R.S.; SILVA, M.F. Análise da evolução dos registros de enfermagem numa unidade
cirúrgica após implantação do método soap. Revista Hospital Universitário Pedro Ernesto
UERJ, v.10, (Supl.1), 2011.
63.
SCARPARO, A. F. et al. Abordagem conceitual de métodos e finalidade da auditoria de enfermagem. Revista Rene, Fortaleza, v.10, n.1, p.1-165, janeiro-março, 2009.
64.
SEIGNEMARTIN, B.A. et al. Avaliação da qualidade das anotações de enfermagem no pronto
atendimento de um hospital escola. Revista Rene, v.14, n.6, p.1123-1132, 2013.
65.
SILVA, A.E.B.C. Segurança do paciente: desafios para a prática e a investigação em Enfermagem. Revista Eletrônica de Enfermagem, v.12, n.3, p.422, 2010.
66.
SILVA, M.V,S. et al. Limites e possibilidades da auditoria em enfermagem e seus aspectos
teóricos e práticos. Revista Brasileira de Enfermagem, v.65, n.3, p.535-538, 2012.
67.
SOUSA, P. Patient Safety: a necessidade de uma estratégia nacional. Acta Médica Portuguesa, v.19, n.4, p.309-318, 2006.
68.
SOUZA, A.S. et al. Atendimento idoso hospitalizado: percepções de profissionais de saúde.
Ciência, Cuidado e Saúde, v.12, n.2, p.274-281, 2013.
69.
SZLEJF, C. Eventos adversos médicos em idosos hospitalizados: frequência e fatores
de risco em enfermaria de geriatria. 2010. 90 f. Tese - Faculdade de Medicina, Universidade
de São Paulo, São Paulo – SP.
70.
71.
72.
73.
172
TEIXEIRA, C.C. Eventos adversos ocorridos com idosos hospitalizados. 2015. 139 f.
Dissertação - Faculdade de Enfermagem/UFG, Goiânia – GO.
THE NATIONAL QUALITY FORUM. Safe Practices for Better Healthcare 2010 update.
Washington: The National Quality Forum, 2010.
VENTURINI, D.A.; MARCON, S.S. Anotações de enfermagem em uma unidade cirúrgica de
um hospital escola. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v.61, n.5, p.570-575, setembro-outubro, 2008.
VERAS, R. Fórum. Envelhecimento populacional e as informações de saúde do PNAD: demandas e desafios contemporâneos. Introdução. Caderno de Saúde Pública, v.23, n.10,
p.2463-2466, 2007.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
74.
VERAS, R. Envelhecimento populacional: desafios e inovações necessárias para o setor saúde.
Revista Hospital Universitário Pedro Ernesto, v.7, n.1, p.13-20, 2008.
75.
VERAS, R. Envelhecimento populacional contemporâneo: demandas, desafios e inovações.
Revista de Saúde Pública, v.43, n.3, p.548-554, 2009.
76.
VITURI, D.W.; MATSUDA, L.M. Validação de conteúdo de indicadores de qualidade para avaliação do cuidado de enfermagem. Revista da Escola de Enfermagem da USP, São Paulo,
v.43, n.2, p.429-437, junho, 2009.
77.
78.
79.
WHO - World Health Organization. World Alliance for Patient Safety - Forward Programme.
Switzerland: World Health Organization, 2004. Disponível em: www.who.int/patientsafety/
en/brochure_final.pdf. Acesso: 24 jun. 2013.
WHO - World Health Organization. Envelhecimento ativo: uma política de saúde. Brasília
(Brasil): Organização Pan-Americana da Saúde, 2005. 60p.
WHO - World Health Organization. World Alliance for Patient Safety. Global Patient Safety
Challenge: 2005-2006. WHO Press, 2005.
80.
WHO - World Health Organization. Joint Comission Resources. Joint Comission International. Patient Safety Solutions. Solution 2: patient identification, 2007. Disponível em:
http://www.jointcommissioninternational.org/WHO-Collaborating-Centre-for-Patient-Safety-Solutions/. Acesso: 11 jan. 2014.
81.
WHO - World Health Organization. The evolving threat of antimicrobial resistance: options
for action. Suíça, 2012. Disponível em: http://www.who.int/patientsafety/implementation/amr/
publication/en/index.html. Acesso: 11 dez. 2013.
82.
WHO - World Health Organization. Word alliance for patientt safety. Forward program 20062007. Genève; 2007.
83.
WHO - World Health Organization. World alliance for patient safety. Guideline safe surgery.
1st ed. Genève; 2008a. Disponível em: http://www.who.int/patientsafety/safesurgery/knowledge_base/SSSL_Brochure_finalJun08.pdf. Acesso: 20 mar. 2013.
84.
WHO - World Health Organization. World Alliance for patient safety. The Second Global Patient Safety Challenge: Safe Surgery Saves Lives. Genebra; 2008b.
85.
WHO - World Health Organization. World alliance for patient safety. Taxonomy. The conceptual
framework for the international classification for patient safety. Genève; 2009. Disponível em:
http://www.who.int/patientsafety/taxonomy/icps_full_report.pdf. Acesso: 19 dez. 2013.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
173
14
“
Frecuencia de desórdenes
mentales en adultos mayores
residentes en una institución de
asistencia social en la ciudad de
México.
Jorge Luis López-Jiménez
INPRFM
Guadalupe Barrios-Salinas
Blanca Estela López-Salgado
UIC
María Patricia Martínez-Medina
SSMICH
Laura Angélica Bazaldúa-Merino
DIF
Tomás Cortés-Solís
UAMXOCH
10.37885/201202376
RESUMEN
Antecedentes: La Organización Mundial de la Salud ha informado que en los adultos
mayores se incrementará y agravará la magnitud de los problemas de salud mental, lo
que estará relacionado al incremento de su expectativa de vida y al aumento de las personas que alcanzarán edades avanzadas. Objetivos: Identificar y estimar la frecuencia
de desórdenes mentales en adultos mayores. Material y Método: Estudio observacional,
descriptivo y transversal. Se aplicó un cuestionario que incluía variables sociodemográficas y la Mini Entrevista Neuropsiquiátrica Internacional (M.I.N.I.). Población de estudio
de 60 años y más, residentes en una Institución de Asistencia Social de la Ciudad de
México. La muestra se seleccionó aleatoria y sistemáticamente, eligiendo una de cada
cuatro. Participó personal previamente capacitado tanto en la metodología como en los
procedimientos y aplicación del instrumento. Resultados: De la población de estudio, se
obtuvo una muestra ponderada de 80 entrevistas completas (67%). En su mayoría fueron
femeninos y viudas, con una media de edad de 80 años y 5 de escolaridad. Encontramos
ausencia en el 30%; en un 40% sólo se reportó sintomatología y en el 30% restante se
cubrieron diagnósticos psiquiátricos. Conclusiones: La salud mental y los desórdenes
psiquiátricos han sido escasamente conocidos y estudiados en esta población. La entrevista MINI permitió identificar y estimar la frecuencia de síntomas y diagnósticos de
desórdenes mentales. Nuestra estimación (30%) fue similar a la reportada en otro estudio
(29.7%). La prevención, identificación, detección e intervención oportuna a los problemas
de salud mental adquieren gran importancia en este contexto.
Palabras Clave: Adultos Mayores, Envejecimiento, Vejez, Desórdenes Mentales, Mini
Entrevista Neuropsiquiátrica Internacional (MINI).
INTRODUCCIÓN
El envejecimiento y la vejez plantean una compleja condición humana y social que
conlleva importantes necesidades de investigación, atención a la salud, cuidados y de asistencia social, entre otras. En México, como consecuencia de la transición demográfica y
epidemiológica, los adultos mayores conforman un grupo que se incrementa en números
absolutos y relativos con mucha rapidez (CONSEJO NACIONAL DE POBLACIÓN, 2001;
HAM CHANDE, 2003). Al respecto, la Organización Mundial de la Salud (OMS) (WORLD
HEALTH ORGANIZATION, 1996b) ha indicado que México ocupará el séptimo lugar entre
las poblaciones envejecidas más elevadas del mundo en el año 2020.
Diversos informes (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1996a, 1996b, 2001) señalan
que en la población de adultos mayores se incrementarán y agravarán la magnitud de los
problemas de salud mental, lo cual estará relacionado con el incremento de la expectativa de vida de las personas con trastornos mentales y con el aumento de los individuos
que alcanzarán edades avanzadas, donde el riesgo de presentar desórdenes mentales es
elevado. Con el aumento de la esperanza de vida, se han observado mayores tasas de
enfermedades mentales; sin embargo, aún cuando la carga asociada a la salud y debida a
los trastornos mentales y del comportamiento se incrementan, las estadísticas generadas
tienen limitaciones importantes, al no considerar la morbilidad y la discapacidad relacionada (GEZAIRY HUSSEIN, 2001). En un reporte reciente, se destaca que en el mundo las
personas mayores encabezan las listas de la OMS (WORLD FEDERATION FOR MENTAL
HEALTH, 2007) de nuevos casos de enfermedad mental, 236 por cada 100.000 presentan
algún desorden mental.
Hoy día la noción de salud mental no se restringe a la ausencia de desórdenes mentales,
ya que también hay aspectos conductuales y emocionales que pueden afectar positiva o negativamente la calidad de vida de los individuos (GEZAIRY HUSSEIN, 2001). El envejecimiento
es un proceso en el cual se observa una disminución gradual de la salud física y mental; en
el anciano es posible notar diferencias individuales en torno a su salud y enfermedad mental
(CRAIG GRACE, 1988). Los adultos mayores tienden a presentar por lo común patologías
múltiples, por lo que existe la posibilidad de aquellos que sufren trastornos mentales estén
afectados también por otra condición médica crónica. Los ancianos frente a esta situación,
tienden a buscar tratamiento por sus problemas físicos más que por los mentales, de tal
manera se señala que el tratamiento de las alteraciones mentales será más efectivo si está
incorporado al sistema de salud general (DESJARLAIS et al., 1997).
Si bien, no existe una enfermedad mental única en los adultos mayores, sí se ha
mencionado una amplia gama de ellas, cuya prevalencia tiende a incrementarse con la
edad (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1996a, 2001), destacando en este sentido la
176
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
esquizofrenia, depresión, demencia, trastornos afectivos y de ansiedad; así como otras
formas de enfermedades psiquiátricas crónicas, cada una con signos y síntomas característicos. Otros reportes también indican un incremento en la población de adultos mayores
y una mayor frecuencia y gravedad de alteraciones en su salud mental (WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2001; GEZAIRY HUSSEIN, 2001).
Para los trastornos de tipo depresivo (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2001), se
ha estimado que entre un 8% y 20% de personas mayores en ámbitos comunitarios lo presentan y que en el primer nivel de atención alcanza el 37%. Es de notar que los desórdenes
depresivos entre los adultos mayores por lo común no sean detectados, ya que en muchas
ocasiones son considerados como parte normal del proceso de envejecimiento. Aún cuando
el Alzheimer es el padecimiento más frecuentemente observado en esta población, los adultos
mayores son susceptibles de presentar otras alteraciones mentales y del comportamiento. El trastorno es diagnosticado cuando la declinación es suficientemente evidente y afecta
las actividades de la vida diaria. El deterioro cognoscitivo se ha relacionado a cambios de la
personalidad (suspicacia patológica), humor (depresión o irritabilidad), conducta (descuido
de la higiene personal), y orientación espacial (vagar sin rumbo y perderse).
En un reporte (DESJARLAIS et al., 1997), se informó de una prevalencia de trastornos
psiquiátricos del 29.7%; de los cuales el 5.5% correspondieron a demencias, 14.3% a depresión, 7.7% a neurosis, 15.3% a trastornos de personalidad, 3.3% por trastornos relacionados
con el abuso de sustancias y 6.6% a reacciones de adaptación. En este mismo trabajo,
donde se aborda la salud mental en el mundo, se identifican cinco síntomas indicadores
de trastorno psiquiátrico: dificultades en el sueño, preocupaciones y ansiedad, pérdida de
interés, cansancio y mala memoria.
La enfermedad mental tanto en los países desarrollados como en aquellos en vías de
desarrollo constituye causa de sufrimientos, misma que se manifiesta en la desesperanza
y aflicción de los individuos, angustia en las familias y pérdidas económicas y sociales,
consecuencia de la disminución de la productividad y el aumento en la utilización de los
servicios de salud y de asistencia social. Por lo que es necesario reconocer y tratar oportunamente a los adultos mayores que puedan estar presentando alteraciones mentales
(DESJARLAIS et al., 1997).
Por lo anteriormente descrito, el interés y propósito del presente trabajo fue el de identificar y estimar la frecuencia de desórdenes mentales en personas de 60 años y más, residentes
en una Institución de Asistencia Social (IAP-JAP1) de la Ciudad de México. La información
que se presenta forma parte de una línea de investigación (LÓPEZ JIMÉNEZ, 2004; LÓPEZ
JIMÉNEZ et al., 2002, 2003, 2005), sobre “Condiciones de vida y salud mental en adultos
1
Institución de Asistencia Privada (IAP), perteneciente a la Junta de Asistencia Privada (JAP).
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
177
mayores, Fase 1”, que se está llevando a cabo en el Instituto Nacional de Psiquiatría, Ramón
de la Fuente (INP-RF).
METODOLOGÍA
La investigación llevada a cabo fue de tipo observacional, transversal y descriptiva,
con información obtenida mediante la aplicación por entrevista directa de un instrumento en
formato de cuestionario, que consta de ocho secciones integradas por el investigador responsable. Para este trabajo se utilizó la información derivada de la sección demográfica y de
la Mini Entrevista Neuropsiquiátrica Internacional (M.I.N.I.). Este instrumento es una breve
entrevista diagnóstica estructurada desarrollada en Francia y Estados Unidos, la cual explora
en los adultos sus principales trastornos psiquiátricos y puede ser aplicada por entrevistadores
no especializados. Incluye todos los síntomas del Manual Diagnóstico y Estadístico de los
Trastornos Mentales (DSM-IV) y la Clasificación Internacional de Enfermedades (ICD-10),
los diagnósticos son establecidos durante la entrevista, las respuestas son dicotómicas y
evalúa la presencia de los desórdenes más comunes; así mismo, confirma la severidad de los
síntomas (SHEEHAN et al., 1998; FERRANDO et al., 2000; HEINZE MARTÍN et al., 2000).
Se tomó como población de estudio a los adultos mayores que se encontraban residiendo en la Fundación de Socorros “Agustín González de Cosío”, ubicada al Norte de la
Ciudad de México. De esta población se seleccionó una muestra aleatoria sistemática, con
base al listado proporcionado por la institución. La fracción de muestreo fue incluyendo a
una de cada cuatro personas, también se eligió al azar el número de inicio de la selección.
La aplicación del instrumento se llevó a cabo de acuerdo a la hoja de control elaborada
ex profeso, donde se anotaban los datos básicos de la persona elegida. Mismos datos se
anotaron en la carátula del cuestionario, a fin de localizar al adulto mayor dentro de la casa
hogar, presentarse, aclararle los propósitos del estudio, solicitar su participación, obtener
su consentimiento firmado e iniciar la entrevista.
La investigación en su contexto general cubrió las normas éticas, pues no representó
riesgo alguno para los entrevistados; además de que no se realizó ninguna estrategia de
intervención ni de modificación de variables fisiológicas, psicológicas o sociales. Asimismo,
se respetó toda tentativa de rechazo y los datos obtenidos fueron manejados con absoluta
confidencialidad y anonimato. Se obtuvo su consentimiento por escrito, aclarando que la
información proporcionada sería utilizada únicamente con fines de investigación.
En el desarrollo del trabajo de campo se trató de interferir lo menos posible con las
actividades que se desempeñan en la institución. Es de notar que el personal de la casa
hogar nos apoyo y brindó las facilidades necesarias en la realización de la fase empírica.
Para la aplicación de las entrevistas se integró un equipo de investigación en el cual participó
178
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
personal de enfermería, psicología, psiquiatría y medicina, con amplia experiencia en el
campo de la investigación y aplicación de entrevistas. Previo al trabajo de campo, se brindó
capacitación en el manejo de la metodología, procedimientos y en la aplicación del cuestionario por entrevista directa. Para el adiestramiento en la entrevista M.I.N.I., se contó con
participación de un médico residente de psiquiatría del INP-RF. La fase empírica del estudio
se desarrolló en el mes de diciembre del 2001.
RESULTADOS
De una población de 117 adultos mayores que se encontraban residiendo en la Casa
Hogar al momento de llevar a cabo el trabajo de campo, se seleccionó una muestra aleatoria
sistemática de 30 adultos. En la parte inicial de los análisis procedimos a asignar a cada
miembro de la muestra su peso correspondiente, ya que habíamos entrevistado a uno de
cada cuatro (4 * 30 = 120). El proceso de ponderación consistió en multiplicar a la muestra
captada por la fracción de muestreo.
De esta forma, de la muestra ponderada se logró completar el 66.6% (n = 80) de las
entrevistas, en el 33.3% (n = 40) restante no se pudieron concluir por problemas de comprensión o no estar disponibles (Figura 1). La información que se presenta corresponde a
las entrevistas realizadas. El 65% de éstas tuvo una duración de entre una y dos horas; el
tiempo promedio de aplicación fue de una hora con 54 minutos.
Figura 1. Distribución de la población de estudio, muestra captada y muestra ponderada.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
179
Con relación a las características demográficas (Tabla 1), sobresale que los mayores
porcentajes correspondieran al sexo femenino (65%), que un 45% se ubicara entre los 75 y
84 años (media de edad de 80.3, desviación estándar de 7.7 y un rango de 64 a 94 años),
ser viudo (45%) y que el 80% reportara saber leer y escribir (educación no formal); de estos,
el 68.7% obtuvo el nivel primaria de escolaridad (media de 5 años, desviación estándar de
2). Dentro de los principales motivos de estancia a la Casa Hogar encontramos el “No tener
quién lo cuidara” (45%) y los “Problemas de Salud” (30%), con un tiempo promedio de residencia en la institución de 4.3 años.
Tabla 1. Características sociodemográficas, por sexo, edad, estado civil, saber leer y escribir y escolaridad (N = 80).
Ciudad de México, Diciembre 2001.
n
%
Sexo
Femenino
52
65.0
Masculino
28
35.0
65 a 74
20
25.0
75 a 84
36
45.0
85 a 98
24
30.0
Viudo
20
45.0
Soltero / Separado
24
30.0
Casado / Unión libre
20
25.0
Si
64
80.0
No
16
20.0
Educación no formal
16
25.0
Primaria
44
68.7
Secundaria
4
6.2
Edad
Estado Civil
Saber leer y escribir
Escolaridad*
* Sólo se incluyen a los que informaron saber leer y escribir.
De acuerdo a los resultados obtenidos en la aplicación de la Entrevista Diagnóstica de
Trastornos Mentales MINI y al ajustar la información a la ausencia/presencia de síntomas
y/o diagnósticos de trastornos, encontramos ausencia de estos en el 30% de las entrevistas;
no obstante, en un 40% se encontró presencia de sintomatología y en el otro 30% restante,
se cubrieron los criterios diagnósticos.
Destaca en este sentido, el reporte de presencia de trastornos psiquiátricos en el
70% de la muestra (Tabla 2). Los principales síntomas encontrados fueron los trastornos
de angustia, de ansiedad y el antisocial de la personalidad, con porcentajes del 28.5% en
cada uno. En cuanto a los desórdenes psiquiátricos identificados por orden de importancia,
corresponden al diagnóstico de Riesgo Suicida (42.8%) y dentro de estos, el 83.3% obtuvo
el nivel leve y el 16.6% el alto; seguido del Episodio Depresivo Mayor (14.2%) y el Trastorno
Distímico (7.1%). Cabe aclarar que, en algunos casos se obtuvieron tres (16.6%), dos (16.6%)
180
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
o sólo un diagnóstico (66.6%). En cuanto a los que sólo reportaron sintomatología y no alcanzaron a cubrir el criterio diagnóstico; reportaron cuatro (25.0%), tres (12.5%), dos (12.5%)
y un síntoma (50.0%).
Tabla 2. Resultados Entrevista Psiquiátrica Mini Presencia de Desórdenes Mentales por Síntomas y Diagnósticos (N =
56 – 70%).
Ciudad de México, Diciembre 2001.
n
%
SÍNTOMAS
32
40.0
DIAGNÓSTICOS
Trastorno de Angustia
16
28.5
Episodio Depresivo Mayor
Estado por Estrés
4
7.1
n
%
24
30.0
Síntomas
20
35.7
Diagnóstico
8
14.2
Síntomas
32
57.1
Diagnóstico
4
7.1
Diagnóstico
24
42.8
Leve
20
83.3
Alto
4
16.6
Postraumático
Trastorno Distímico
Trastornos Psicóticos
Trastorno de Ansiedad
4
16
7.1
28.5
Generalizada
Riesgo Suicida
Trastorno Antisocial de la
Personalidad
16
28.5
Finalmente como se muestra en el Tabla 3, de acuerdo a sus características demográficas y su distribución por reporte de sintomatología, obtención de un diagnóstico y/o ambos
en la muestra ponderada estudiada, observamos que, con relación al género, en las tres
situaciones predominó el sexo femenino, por edad en el rango de 85 a 96 años se ubicó el
mayor porcentaje para síntomas, en cambio en los 75 a 84 años el 66.6% cubrió el criterio
diagnóstico, para el total estos dos rangos de edad se obtuvo el mismo porcentaje (35.7%).
Por estado civil, el mayor porcentaje de reporte de síntomas fue para soltero/viudo, en el
caso de los que obtuvieron diagnóstico y el total de la muestra, los mayores porcentajes
fueron para ser viudo (66.6% y 42.8% en cada caso). En las tres situaciones el nivel de escolaridad primaria obtiene los mayores porcentajes 60.0%, 66.6% y 50.0% respectivamente.
Con relación al motivo de estancia, destaca que en el grupo de las personas mayores que
sólo reportaron síntomas el “no tener quién lo cuide” y los “problemas de salud” alcanzaran
los mayores porcentajes (35.7% en ambos casos); tanto en el grupo de los que obtuvieron
diagnóstico (66.6%) como en el total de la muestra (50.0%) el “no tener quién lo cuidara” se
encontró el mayor porcentaje.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
181
Tabla 3. Características demográficas: sexo, edad, estado civil, escolaridad y motivo de estancia por Síntomas y Diagnósticos.
Entrevista Psiquiátrica Mini (N = 56 – 70%).
Ciudad de México, Diciembre 2001.
Diagnósticos
Síntomas
(n= 32)
Total
(n= 24)
(N= 56)
n
%
n
%
N
%
Masculino
12
37.5
4
16.6
16
28.5
Femenino
20
62.5
20
83.3
40
71.4
Sexo
Edad
64 a 74
12
37.5
4
16.6
16
28.5
75 a 84
4
12.5
16
66.6
20
35.7
85 a 96
16
50.0
4
16.6
20
35.7
Estado Civil
Viudo
8
25.0
16
66.6
24
42.8
Soltero / Separado
20
62.5
-
-
20
35.7
Casado / Unión Libre
4
12.5
8
33.3
12
21.4
Primaria
12
60.0
20
83.3
32
72.7
Secundaria y Profesional
4
20.0
-
-
4
9.0
Leer y Escribir
4
20.0
4
16.6
8
18.1
No tener quien lo cuide
12
37.5
16
66.6
28
50.0
Problemas de Salud
12
37.5
8
33.3
20
35.7
Sin Recursos Económicos
8
25.0
-
-
8
14.2
Escolaridad*
Motivo de Estancia
* Sólo se incluyen a los que informaron saber leer y escribir.
DISCUSIÓN
Los adultos mayores constituyen un grupo vulnerable dentro de la sociedad. El estado
de salud mental y los desórdenes psiquiátricos han sido los menos conocidos y estudiados
en este grupo hasta el momento.
Con respecto a la Mini Internactional Neuropsychiatric Interview (M.I.N.I.), probó ser útil
para detectar tanto sintomatología, como en el establecimiento de los criterios diagnósticos
de los módulos investigados en el instrumento.
En la literatura se han reportado algunas alteraciones mentales prevalentes, como el
caso de las demencias, la depresión y el deterioro cognoscitivo; no obstante, existe una amplia gama de padecimientos mentales que es necesario detectar, identificar y diagnosticar,
para poder brindar la atención requerida de manera oportuna.
La prevalencia diagnóstica de desordenes psiquiátricos reportados en nuestra investigación (30%) fue similar a la descrita por la Organización Panamericana de la Salud – OPS(DESJARLAIS et al., 1997) en un informe (29.7%). Sin embargo, en nuestro estudio se logró
establecer que un 40% de la muestra cursaba con sintomatología de naturaleza psiquiátrica,
sobresaliendo los trastornos de angustia, de ansiedad y el antisocial de la personalidad. Los
182
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
criterios diagnósticos encontrados son consistentes a lo informado en la literatura: riesgo
suicida, episodios depresivos mayores y trastorno distímico. Es importante aclarar que,
en el caso del riesgo suicida (leve), el reactivo por el cual cubrieron el diagnóstico fue por:
¿Haber pensado que estaría mejor muerto o ha deseado estar muerto?, mismo que investiga
“ideación de muerte” mas que “ideación suicida”.
Con relación a los 16 módulos que explora el M.I.N.I., sólo se encontró sintomatología
en siete de ellos y únicamente en tres se cubrieron los criterios diagnósticos. También es
de notar haber observado diferencias en la distribución por edad, estado civil y en una categoría del motivo de estancia de acuerdo al reporte de síntomas, los criterios diagnósticos
y en ambas situaciones.
Para futuras investigaciones se plantea la necesidad de aumentar los tamaños de muestra y la aplicación en otros ámbitos al realizado en el presente estudio, esto con la finalidad
de estimar la confiabilidad y validez de la entrevista M.I.N.I.; así como su funcionamiento y
adaptación a otros contextos.
Finalmente, es necesario destacar la importancia de la detección y diagnóstico oportunos de los problemas de salud mental en los adultos mayores, con el propósito de poder
brindar la atención requerida especializada a este grupo de nuestra población.
REFERÊNCIAS
1.
2.
3.
CONSEJO NACIONAL DE POBLACIÓN. La Población de México en el Nuevo Siglo. 2. ed.
México, D.F., 2001.
CRAIG GRACE, J et al. Desarrollo Psicológico. México, D.F.: Prentice-Hall, 1988.
DESJARLAIS, Robert et al. Salud Mental en el Mundo: problemas y prioridades en las poblaciones de bajos ingresos. Washington, D.C.: Organización Panamericana de la Salud, 1997.
4.
FERRANDO, Laura et al. Mini International Neuropsychiatric Interview (M.I.N.I.): versión en
español 5.0.0 DSM-IV. Madrid: Instituto IAP; Tampa: University of South Florida, 2000.
5.
GEZAIRY HUSSEIN, A. World Health Day 2001 Documents: foreword. Cairo: Eastern Mediterranean Region Office, World Health Organization, 2001. Disponible en: <http://www.emro.
who.int/mnh/whd/WHD2001Documents-Foreword.htm>. Acceso en: 27 nov. 2007.
6.
HAM CHANDE, Roberto. El Envejecimiento en México: el siguiente reto de la transición demográfica. Baja California: El Colegio de la Frontera Norte, 2003.
7.
HEINZE MARTÍN, Gerhard et al. Mini International Neuropsychiatric Interview (M.I.N.I.): Spanish version (South and Central America) 5.0.0 DSM-IV. México, D.F.: Instituto Nacional de
Psiquiatría, 2000.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
183
8.
9.
10.
11.
12.
13.
LÓPEZ JIMÉNEZ, Jorge Luis et al. Condiciones de Salud en Adultos Mayores Institucionalizados: su impacto en el bienestar social. In: CONGRESO AL ENCUENTRO DE LA PSICOLOGÍA
MEXICANA, 6., CONGRESO LATINOAMERICANO DE
ALTERNATIVAS EN PSICOLOGÍA, 2002, Puebla. México D.F.: Sociedad Mexicana de Psicología Social, 2002. p. 1-17.
LÓPEZ JIMÉNEZ, Jorge Luis et al. Psychiatric Disorders in Elderly Living in a Social Assistance in Mexico City. In: ABSTRACTS 18TH WORLD CONGRESS OF THE ASSOCIATION OF
GERONTOLOGY. Rio de Janeiro, Brazil, June 26-30, 2005. p. 614.
LÓPEZ JIMÉNEZ, Jorge Luis et al. Reflexiones Metodológicas de Investigación Psicosocial en
Viejos: resultados de un estudio. Archivo Geriátrico, México, D.F., v. 6, n. 3, p. 74-77, 2003.
SHEEHAN, David et al. The Mini-International Neuropsychiatric Interview (M.I.N.I.): the development and validation of a structured diagnostic psychiatric interview for DSM-IV and ICD-10.
Journal of Clinical Psychiatry, Memphis, v. 59, p. 22-33, 1998. Supplement n. 20.
14.
WORLD FEDERATION FOR MENTAL HEALTH. World Mental Health Day: mental health in
a changing world: the impact of culture and diversity. Springfield, 2007. Disponible en: <http://
www.wfmh.org/PDF/SpanishVersion2007.pdf>. Acceso en: 27 nov. 2007.
15.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Mental Health and Demographic Factors. Geneva, 1996a.
(Fact Sheets, 131).
16.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Population Ageing: a public health challenge. Geneva,
1996b. (Fact Sheets, 135).
17.
184
LÓPEZ JIMÉNEZ, Jorge Luis. Estudio de Condiciones de Vida y Salud Mental en Adultos
Mayores, Fase I: reporte interno. México, D.F.: Dirección de Investigaciones Epidemiológicas
y Psicosociales, Instituto Nacional de Psiquiatría Ramón de la Fuente, 2004.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. The World Health Report 2001: mental health: new understanding, new hope. Geneva, 2001.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
15
“
Impacto da pandemia de Covid19 na saúde de idosos: uma
revisão narrativa
Genilson Bento dos Santos
UEPB
Camila Victória Pereira da Silva
UEPB
Clésia Oliveira Pachú
UEPB
10.37885/201202434
RESUMO
Em 11 de março de 2020 foi declarada a Pandemia COVID-19. Altas taxas de mortalidade
por Coronavírus têm sido, em sua maior parte, associadas a pacientes idosos ou a presença de comorbidades mais comuns em pacientes idosos. O estudo analisou o impacto
da pandemia de COVID-19 na saúde de idosos, envolvendo aspectos biopsicossociais,
por meio de revisão narrativa. A presente pesquisa de natureza qualitativa, foi realizada
por meio de revisão narrativa, em novembro de 2020. Optou-se pela revisão narrativa
em bases de dados: Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos (PubMED) e
Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Foram encontrados 680 artigos nas buscas às bases
de dados, após leitura e análise, com base nos critérios de elegibilidade, um total de
vinte e oito estudos foram incluídos e selecionados para dar continuidade na pesquisa.
Indivíduos com mais de 65 anos foram comumente descritos como grupo de risco, mais
vulneráveis às complicações da doença COVID-19. O perigo que cerceia este público
desemboca em questões como o aumento da incidência de medo e ansiedade, além
disso, o distanciamento social sem o uso de tecnologias digitais, como as redes sociais,
acentua as implicações frente à saúde de idosos. Torna-se importante enfatizar a relação da COVID-19 e distanciamento social, bem como incidência de preconceito etário
disseminado, estigmatização senil, nexo causal entre isolamento e solidão e implicações
para o comportamento suicida. O impacto da COVID-19 em idosos que passaram por
experiências traumáticas anteriormente, parece ter sido relativizado na crise atual.
Palavras-chave: COVID-19, Idosos, Envelhecimento Humano.
INTRODUÇÃO
O primeiro caso do novo coronavírus foi notificado em Wuhan, na China, em 31 de
dezembro de 2019 e foi declarada a Pandemia Mundial no dia 11 de março de 2020 (WHO,
2019). No Brasil, o primeiro caso positivo foi anunciado em 26 de fevereiro de 2020, sendo
um homem morador de São Paulo, de 61 anos, que esteve na Itália (BRASIL, 2020).
A população idosa em base territorial brasileira tem suporte estabelecido por lei, como
disposto no Capítulo IV, art. 15, do estatuto do idoso: é assegurada atenção integral à saúde
do idoso, por intermédio do Sistema Único de Saúde, garantindo-lhe o acesso universal e
igualitário, em conjunto articulado e contínuo das ações e serviços, para prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde, incluindo atenção especial às doenças que afetam
preferencialmente os idosos (BRASIL, 2003).
Em 2006, foi aprovada a Portaria n° 2528/GM, a qual estabelece a Política Nacional
de Saúde da Pessoa Idosa, tem como finalidade primordial, recuperar, manter e promover
a autonomia e a independência dos indivíduos idosos, direcionando medidas coletivas e individuais de saúde para esse fim, em consonância com os princípios e diretrizes do Sistema
Único de Saúde (BRASIL, 2006).
Vale ressaltar que, nos países em desenvolvimento, o enfrentamento à pandemia de
COVID-19 torna-se ainda mais desafiador devido à alta taxa de pobreza, conflitos e instabilidade política, violência, analfabetismo, laboratórios de diagnóstico deficientes e outras
doenças infecciosas que competem pela escassez de recursos de saúde. O Brasil exemplifica
tal situação, assim como outros países, o impacto causado pela pandemia se refletiu em
diversos contextos da sociedade, como na educação, saúde e desenvolvimento econômico
(ANSER et al., 2020).
Altas taxas de mortalidade por Coronavírus e a presença de comorbidades mais comuns, têm sido, em sua maior parte, associadas a pacientes idosos, ultrapassa um quinto dos
acometidos com mais de 80 anos, tanto na China (21,9%) como na Itália (20,2%). A pandemia
de COVID-19 constitui um desafio para proteção da saúde de idosos, considerando a susceptibilidade desse grupo populacional a complicações mais graves, cujos desfechos podem
resultar em óbito (BARRA et al., 2020; SHERLOCK et al., 2020; D’ADAMO; YOSHIKAWA
e OUSLANDER, 2020).
Sabe-se que, à medida que a pessoa envelhece, a perda de capacidades físicas e
mentais é evidente para todos, embora esse processo natural do desenvolvimento humano
ocorre de maneira diferente entre os indivíduos. Diante disso, as manifestações fisiológicas
são particulares de cada pessoa, visto que reflete fatores intrínsecos, como características
genéticas, e extrínsecos, por meio dos hábitos de vida e contexto ambiental no qual o idoso
está exposto, passa a contabilizar fatores como uma boa alimentação, higiene, exercício
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
187
físico, para além de aspectos sociais, políticos e psicológicos, que concorrem para possibilitar
longevidade e envelhecimento saudável (NOGUEIRA; MENEZES, 2020).
Dessa forma, o conhecimento acerca de aspectos inerentes à saúde do idoso associados à pandemia de COVID-19, desempenha um diferencial para tomada de decisões
coerentes por órgãos públicos mediante a proteção e preservação da saúde da população
idosa. Neste contexto, a sociedade, regida de conhecimento direcionado aos cuidados frente
ao idoso, poderá contribuir seguindo normas padronizadas impostas para combater a disseminação do SARS-CoV-2 e evitar a contaminação entre indivíduos da população, especialmente do público idoso. O presente estudo analisou o impacto da pandemia de COVID-19
na saúde de idosos, envolvendo aspectos biopsicossociais, por meio de revisão narrativa.
METODOLOGIA
A presente pesquisa de natureza qualitativa, acerca da pandemia por COVID-19 e saúde
de idosos, foi realizada por meio de revisão narrativa, no período de novembro a dezembro de
2020. Optou-se pela revisão da literatura em base de dados nacionais e internacionais, por
meio da leitura, análise, interpretação e seleção de artigos de revistas científicas. Na busca
em bases de dados, foram escolhidas a Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos
(PubMED), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Google scholar.
Fundamentado por referenciais literários, utilizou-se na estratégia de busca nas diferentes bases de dados escolhidas, os operadores Booleanos AND e OR e respectivos
Descritores em Ciências da Saúde / Medical Subject Headings (DeCS/MeSH). Diante disso,
utilizou-se os seguintes descritores: “COVID-19”; “Coronavírus”; “SARS-CoV-2”; “Idoso”;
“Pessoa idosa”; “Envelhecimento humano”; “Saúde”; “Saúde mental” e “Socialização” /
“COVID-19”; “coronavírus”; “SARS-CoV-2”; “Aged”; “Health”; “Mental health” e “Socialization”.
Num primeiro momento, discute-se o contexto da pandemia de COVID-19 e saúde
mental e física do idoso. Posteriormente, segue discussão acerca de COVID-19 no âmbito
da vida social e processo de socialização inerente a esse grupo populacional. Como critérios
de inclusão, os artigos deveriam abordar temática envolvendo a pandemia por COVID-19 e
consequências da doença sobre a saúde de idosos. Ainda, terem sido publicados na literatura nos últimos 5 anos e apresentados nos idiomas português, inglês ou espanhol (KOCHE,
2011; LUDKE e ANDRÉ, 2013).
A execução das pesquisas deu-se de forma autônoma pelos autores, frente a dispositivos eletrônicos, seguindo critérios lógicos de busca, atendendo a fonte determinada:
literatura científica (PEREIRA et al., 2018). Foram excluídos os estudos incoerentes com a
proposta do trabalho, aqueles que não abordavam as temáticas COVID-19, saúde de idosos
188
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
ou envelhecimento humano; resumos de trabalhos e aqueles que não disponibilizaram gratuitamente o texto para leitura e análise.
RESULTADOS
O resultado da busca nas bases de dados compreendeu 680 artigos, após leitura e
análise de título, resumo e texto completo, definiu-se os estudos que estavam em conformidade para dar sequência à pesquisa (Figura 1).
Figura 1. Delineamento da inclusão dos artigos na pesquisa.
Fonte: O autor, 2020.
Observou-se um amplo retorno de estudos, porém, são de subtemas diversos, cujos
assuntos tratados não concordam com a proposta de pesquisa. Dessa forma, após a realização da busca nas bases de dados PubMed, BVS e Google Scholar, um total de vinte e oito
estudos foram incluídos com base nos critérios de elegibilidade (Figura 1) e selecionados
para dar continuidade à pesquisa.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
189
DISCUSSÃO
COVID-19 NO CONTEXTO DA SAÚDE FÍSICA E MENTAL
Diante da crise de saúde com repercussões mundiais devido a infecção por COVID-19,
houve o acometimento de diversas faixas etárias, todavia, os adultos com mais de 65 anos
foram consistentemente descritos como grupo de risco, portanto, mais vulneráveis a desenvolver doenças graves que requer hospitalização. O perigo que cerceia este público
desemboca em questões como o aumento da incidência de medo e ansiedade, além disso,
o distanciamento social sem a utilização de ferramentas tecnológicas como redes sociais,
mensagens/torpedos instantâneos, videoconferências desencadeou ainda mais o estigma
segregacionista (JESTE, 2020).
Ainda de acordo com o autor, a baixa familiarização dos adultos mais velhos com a
tecnologia de comunicação, que tornou-se imprescindível em tempos de pandemia por
COVID-19, acabou por evidenciar o estudo realizado por pesquisadores italianos que objetivou compreender como idosos previamente treinados para o uso de sites de redes sociais
vivenciaram esse período de lockdown e distanciamento social. É válido ressaltar que este
grupo de indivíduos com idade entre 81 e 85 anos, residentes de Abbiategrasso (Milão),
participaram anteriormente de um estudo que pretendia avaliar o impacto do uso dessas
redes na solidão na velhice.
Dessa maneira, contemplaram a estratificação como treinados, e versando com outros sujeitos não treinados. Ficou constatado em participantes treinados e que fizeram uso
tecnológico, a redução da sensação de esquecimento e afastamento de pessoas de seu
convívio. Este fato corroborou a necessidade de treinamentos em mídias de redes sociais
com idosos, a fim de melhorar sua inclusão social (ROLANDI et al., 2020).
Mediante o impacto da COVID-19 no isolamento social, bem como na saúde mental
geriátrica, uma edição do periódico da International Psychogeriatrics (IPG) pretende promover o bem estar de idosos por todo mundo, para tanto, houve alguns relatos oriundos de
alguns países da África (Gana, Nigéria), da Ásia (China, Índia), Europa (alemanha, Portugal,
Espanha, Reino Unido), Oriente Médio (Israel, Líbano), América no Norte (Canadá, EUA),
América do Sul (Brasil, República Dominicana). Por conseguinte, Jeste (2020), considera
importante enfatizar aspectos específicos na psicogeriatria relacionados à COVID-19 e ao
distanciamento social, como as incidências do preconceito etário disseminado, o forte nexo
causal entre isolamento e solidão e implicações para o comportamento suicida.
Nas Filipinas, as intensas medidas de lockdown objetivaram impedir ou adiar a infecção
pelo coronavírus. Contudo, as consequências indesejadas na saúde mental têm recaído
sobre os indivíduos mais velhos, pelo fato de constituírem o grupo de risco, assim como
190
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
pela reclusão a qual estão submetidos, de acordo com as exigências do governo. Os sintomas persistentes incluem preocupação, debilidade na execução de atividades de rotina,
agitação mediante incerteza, ausência de suporte e de eventos sociais foram elencados
como aspectos que potencializam o estresse e diminuem as habilidades de enfrentamento,
e que corroboram para presença de ansiedade e depressão em idosos devido à pandemia
(BUENAVENTURA et al., 2020).
Concomitantemente, na Índia houve uma alta demanda por ajuda psiquiátrica, apesar
de contar com diversos profissionais da saúde mental em zonas urbanas, a inacessibilidade
de idosos, carentes destes profissionais, torna-os ainda mais vulneráveis, se considerado,
à priori, os danos gerados pela solidão e desamparo. Coincidentemente, o país é também
um dos lugares no mundo onde há mais assinantes de Internet (560 milhões em 2018) e
também de usuários de smartphones (500 milhões no final de 2019). Entretanto, esse benefício está vinculado aos idosos que residem em áreas urbanas, e que utilizam redes sociais
como WhatsApp e Facebook para se comunicar com a família, amigos e vizinhos, além de
terem acesso às notícias locais e globais, atenuando alguns prejuízos desencadeados pelo
isolamento social (VAHIA et al., 2020).
Outrossim, a conjuntura social, histórica e econômica da Nigéria parece ofertar condições favoráveis para disseminação da COVID-19. Ainda em consonância com os autores, o
Seguro Nacional de Saúde do país cobre cerca de 4% da população nigeriana, a assistência para aposentados e idosos é baixa e precária, para isso é necessário o pagamento dos
serviços de saúde, o que torna-se inviável para a maioria dos adultos mais velhos. Diante
desse fato, os métodos adotados pelos idosos rurais do país para manutenção da saúde
mental são a medicina alternativa e lares espirituais (BAIYEWU et al., 2020).
Uma pesquisa realizada online, durante os estágios iniciais da quarentena, com pessoas de diferentes grupos de idades, buscou avaliar os modos de enfrentamentos adotados
para lidar com a pandemia do COVID-19 na Espanha. Nesse país, pessoas com mais de
60 anos viveram recortes históricos como Guerra Civil Espanhola e ditadura que durou até
1975, por serem experiências traumáticas, podem ter ajudado na relativização da crise atual.
Sob esta ótica, ficou comprovado os altos índices de resiliência nesse público, bem como a
efetividade da religião como fator protetivo, além disso, o estudo previu impacto psicológico
relevante quando consideravam situação de risco iminente (JUSTO-ALONSO et al., 2020).
Destarte, um estudo realizado com mil quinhentas e uma pessoas, com faixa etária dos
18 aos 88 anos, avaliou-se os níveis de ansiedade, tristeza e solidão e a autopercepção do
envelhecimento. A partir disso, o objetivo era perceber essa diferenciação - caso houvesse
- com base na idade de cada participante, quais sejam pessoas jovens, de meia-idade e
idosos confinados devido à pandemia. Os idosos entrevistados relataram menos ansiedade
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
191
e tristeza se comparados aos de meia-idade e jovens; a comorbidade depressiva apresentou-se mais em jovens e menos em pessoas mais velhas. O estudo verificou, por meio do
relato dos idosos, que houve menos sofrimento psicológico do que em outras faixas etárias
(LOSADA-BALTAR et al., 2020).
COVID-19 E O PROCESSO DE SOCIALIZAÇÃO
A Pandemia por Coronavírus tem atingido desde preocupações com a saúde física e
mental a aspectos sociais, interferindo no processo de socialização de grupos populacionais. Em consonância com Jeste (2020), por volta do dia primeiro de setembro de 2020 havia cerca de vinte e cinco milhões de pessoas com o diagnóstico confirmado de COVID-19,
destes, dezessete milhões se recuperaram e oitocentos e cinquenta mil tiveram suas vidas
ceifadas. Ademais, as crises são estimulantes e fomentam novas possibilidades, desse
modo, estratégias que versem o envolvimento social e o público de adultos mais velhos,
pretendendo atenuar as repercussões negativas na saúde mental, devem ser consideradas.
Pois, embora o distanciamento físico seja elementar, o social é prejudicial, com isso,
atenta-se para a socialização remota, ou seja, através de dispositivos tecnológicos, como
mecanismo salutar à aproximação em tempos de pandemia. Rolandi et al. (2020), salientam
que em muitas comunidades de aposentados houve uma crescente incidência do uso de
celular smartphone, o que possibilitou o envio de fotos e vídeos, ligações por vídeo e por
plataformas de reuniões online, e envio de e-mails. Para tanto, o contato virtual pode não
ser qualitativamente o mesmo que o presencial, todavia, apresenta-se como facilitador em
época de pandemia.
Buenaventura et al. (2020), ratificam que o envolvimento físico e relacional com outras
pessoas são imprescindíveis para a promoção de um envelhecimento bem-sucedido, o que
tem sido impossibilitado em razão da pandemia. Uma pesquisa na China expôs a incidência
significativa de 37,1% de casos de idosos que apresentaram depressão e ansiedade nesse
período de crise devido a interrupção de atividades diárias. Nas Filipinas essa tendência
foi ainda mais acentuada pela situação socioeconômica do país, o que explica a ruptura do
lockdown por alguns idosos que tiveram de ir às ruas para trabalhar e manter seu sustento.
Assim, a redução do processo de socialização, seja pelo afastamento de familiares, amigos
e grupos de apoio, reflete nos grupos de idosos em consequência do isolamento. Ademais,
torna-se mais prejudicado pelo não uso de recursos tecnológicos.
Em suma, no espectro psicossocial, existem ainda as características idiossincráticas do
sujeito que podem maximizar todas reais incidências da doença no mundo, desembocando
no agravamento da saúde mental. A solidão é umas das queixas mais mencionadas pelos
autores que aqui traremos, seguida pelo adoecimento emocional e psicológico, seja pela
192
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
distância ou perda de parentes, impotência diante da situação, receio da morte, ou mesmo
a negligência de familiares para com os idosos (JESTE, 2020).
Holt et al. (2020), apontam que é importante considerar a necessidade de maior atenção
àqueles idosos que vivem na comunidade com deficiência cognitiva e apresentam incapacidade de compreender as recomendações de distanciamento social, incluindo a capacidade de relatar sintomas ou contatos recentes. Dado o aumento do risco de hospitalização
e morbidade entre os idosos, como foco importante de estratégia de saúde pública, deve
haver a implementação de sistemas de vigilância e gestão de longo prazo para aqueles que
se recuperam dos efeitos agudos do COVID-19, isto é válido para enfrentar deficiências
persistentes sobre a saúde dos idosos.
De acordo com Brooks et al. (2020), a perda de conexão direta com os prestadores de
cuidados de saúde de rotina, devido à incapacidade de realizar interações pessoais, também intensifica o sofrimento e a ansiedade do público idoso. O estudo de Liu et al. (2020),
mostrou que pacientes com COVID-19 acima de 55 anos tiveram mortalidade três vezes
maior. Além disso, foi observado hospitalização aumentada, recuperação clínica retardada, envolvimento pulmonar aumentado, progressão mais rápida da doença e presença de
comorbidades, como diabetes e hipertensão arterial. Em complemento, Gest-Emerson e
Jayawardhana (2020), apontam que o auto-isolamento entre os idosos estaria associado a
considerável morbimortalidade secundária a complicações cardiovasculares e neurocognitivas e problemas de saúde mental.
Portanto, o isolamento social para os idosos pode restringir suas atividades e interações. Isso, por sua vez, parece desencadear uma série de impactos, incluindo situações de
solidão, a interrupção das rotinas e atividades diárias, acesso alterado a serviços essenciais,
como consultas médicas (VAN et al., 2020). Outros autores, como Choi; Irwin e Cho (2015),
corroboram com esse princípio, de que o distanciamento social também pode levar a um aumento da sensação de isolamento e solidão. Dessa forma, idosos que não estão habituados
a eventos semelhantes, cujo convívio diário é cercado de pessoas, carecem de aprendizado
sobre práticas de resiliência e bem-estar consigo mesmo, fortalecendo pensamentos que
criem expectativas mais positivas frente o cenário que o cerca.
A pesquisa de García-Fernández et al. (2020), buscou avaliar o estado emocional
de idosos durante o período crítico de isolamento social na Espanha. Pode-se constatar
que a solidão, como parte do isolamento imposto pela quarentena, não foi associada às
consequências psicológicas negativas (ex: transtorno e desgaste mental) que geralmente
acompanham a desconexão social. Este achado discorda do exposto por Stuller; Jarrett e
DeVries (2012), estes autores acreditam que os fatores sociais podem ter uma influência
profunda na saúde física e mental. Assim, pessoas com amplo envolvimento em processos
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
193
de socialização, apresentam mortalidade mais baixa por todas as causas e recuperação
funcional e cognitiva mais rápida e extensa após uma ampla variedade de insultos patológicos, como doenças cardiovasculares.
Segundo Koening (2020), a religião e a espiritualidade podem desempenhar um papel
como fator de risco ou proteção. Uma vez que os encontros presenciais nas igrejas foram
reduzidos ou cancelados, assim como a prestação de serviços religiosos, esses idosos
podem não se sentir aptos a atuarem de forma plena em auxílio a outras pessoas, gerando
angústia e insatisfação pessoal. Por outro lado, a fé, utilizada como força ´positiva, pode
auxiliá-los para superação das barreiras encontradas diante deste cenário provocado pela
pandemia por SARS-CoV-2.
A sensibilização da população acerca dos fatores que permeiam condições no âmbito
da saúde biopsicossocial do público idoso, pode conduzir para um processo educacional
positivo no combate à estigmatização que denigre sua identidade e representatividade na
sociedade. Destarte, de forma a contrariar a percepção equivocada de que o envelhecimento
é sinônimo de doença, portanto, que a longevidade representa um ciclo de perdas progressivas da natureza humana.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O impacto da COVID-19 em pessoas com mais de 60 anos que passaram por experiências traumáticas, de alguma forma, foi relativizado na crise atual. Neste aspecto, adotando
altos índices de resiliência, bem como a efetividade da religião como fator protetivo. Ao avaliar
os níveis de estresse, tristeza e solidão e a autopercepção do envelhecimento, os idosos
relataram menos sofrimento comparado aos de meia-idade e jovens. Diante disso, notou-se
que, a solidão é umas das queixas mais frequentes, seguida pelo adoecimento emocional e
psicológico, causado pela distância ou perda de parentes, impotência, receio da morte, ou
mesmo a negligência de familiares para com os idosos. Em complemento, a dificuldade de
socialização, estaria associado a considerável morbimortalidade secundária a complicações
cardiovasculares e neurocognitivas e problemas de saúde mental.
Entretanto, no contexto social, é importante enfatizar a relação da COVID-19 e distanciamento social, bem como incidência de preconceito etário disseminado, estigmatização
senil, nexo causal entre isolamento e solidão e implicações para o comportamento suicida.
Foi visto que, em idosos treinados ao uso tecnológico, reduziu-se a sensação de esquecimento e afastamento de pessoas de seu convívio. Nesse ponto, o contato virtual pode não
ser qualitativamente o mesmo que o presencial, mas apresenta-se como facilitador para
vínculo social em época de pandemia.
194
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Contudo, enquanto perdurar esta pandemia, as populações vulneráveis, especialmente os adultos mais velhos, denotam e carecem do reconhecimento por órgãos públicos
competentes, que compreendem grupos de alto risco para exacerbação de problemas de
saúde física e mental, além do impacto negativo causado pela limitação na comunicação
interpessoal, dificultando o processo de socialização. Ademais, a pandemia do novo coronavírus constitui-se um evento recente, isso pode ser um fator que limitou a possibilidade
de encontrar pesquisas efetivas e com resultados mais objetivos.
REFERÊNCIAS
1.
2.
3.
ABRAHAMSEN et al. Excesso de mortalidade após fratura de quadril: uma revisão epidemiológica sistemática. Osteoporos Int. Outubro de 2009; 20 (10): 1633-50.
ANSER et al. Does communicable diseases (including COVID-19) may increase global poverty
risk?: a cloud on the horizon. Environ Res., 187:e109668, 2020.
BAIYEWU et al. Burden of COVID-19 on mental health of older adults in a fragile healthcare
system: the case of Nigeria: dealing with inequalities and inadequacies. Int Psychogeriatr;
32(10): 1181-1185, Oct. 2020.
4.
BARRA et al. A importância da gestão correta da condição crônica na Atenção Primária à
Saúde para o enfrentamento da COVID-19 em Uberlândia, Minas Gerais. Uberlândia: APS
em Revista; 2(1):38-43, 2020.
5.
BRASIL. Ministério da Saúde. Lei no 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o estatuto
do idoso e dá outras providências. Brasília, 2003. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm#:~:text=%C3%89%20assegurada%20a%20aten%C3%A7%C3%A3o%20integral,especial%20%C3%A0s%20doen%C3%A7as%20que%20afetam>. Acesso
em 27 de nov. de 2020.
6.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n° 2.528 de 19 de outubro de 2006. Aprova a Política
Nacional de Saúde da Pessoa Idosa. Brasília, 2006. Disponível em: <https://bvsms.saude.
gov.br/bvs/saudelegis/gm/2006/prt2528_19_10_2006.html>. Acesso em 27 de nov. de 2020.
7.
8.
9.
10.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Boletim Epidemiológico.
Situação epidemiológica da febre amarela no monitoramento 2019/2020. [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2020. Disponível em: <https://www.saude.gov.br/images/pdf/2020/
janeiro/15/Boletim-epidemiologico-SVS-01.pdf>. Acessado em 28 de nov. de 2020.
BROOKS et al. O impacto psicológico da quarentena e como reduzi-lo: revisão rápida das
evidências. Lancet; 395 : 912 - 20, 2020.
BUENAVENTURA et al. COVID-19 and mental health of older adults in the Philippines: a perspective from a developing country. Int Psychogeriatr; 32(10): 1129-1133, Oct. 2020.
CHOI, H.; IRWIN, M. e CHO, H. Impacto do isolamento social na saúde comportamental em
idosos: revisão sistemática. World J Psychiatry.; 5 (4): 432-8. 22 de dez. 2015.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
195
11.
12.
13.
GARCÍA-FERNÁNDEZ et al. Impacto da pandemia de COVID-19 na saúde mental de profissionais de saúde espanhóis. Psycho Med., pp. 1-3, 2020.
GERST-EMERSON, K. e JAYAWARDHANA, J. Solidão como um problema de saúde pública:
o impacto da solidão na utilização de cuidados de saúde entre adultos mais velhos. Am J
Public Health; 105 (5): 1013–1019, 2015.
14.
HOLT et al. Solidão e isolamento social como fatores de risco para mortalidade: uma revisão
meta-analítica. Perspect Psychol Sci., 10 (2): 227–237, 2015.
15.
JESTE et al. Coronavirus, social distancing, and global geriatric mental health crisis: opportunities for promoting wisdom and resilience amid a pandemic. Int Psychogeriatr; 32(10):
1097-1099, 2020.
16.
JUSTO-ALONSO et al. How did Different Generations Cope with the COVID-19 Pandemic?
Early Stages of the Pandemic in Spain. Psicothema; 32(4): 490-500, Nov. 2020.
17.
18.
19.
20.
21.
22.
23.
196
D’ADAMO, H.; YOSHIKAWA, T. e OUSLANDER, JG. Coronavirus Disease 2019 in Geriatrics
and Long-Term Care: The ABCDs of COVID-19. J Am Geriatr Soc., 68(5):912-917, 2020.
KOCHE, J. C. Fundamentos de metodologia científica. Petrópolis: Vozes, 2011. Disponível
em: <http://www.brunovivas.com/wp-content/uploads/sites/10/2018/07/K%C3%B6che-Jos%C3%A9-Carlos0D0AFundamentos-de-metodologia-cient%C3%ADfica-_-teoria-da0D0Aci%C3%AAncia-e-inicia%C3%A7%C3%A3o-%C3%A0-pesquisa.pdf>. Acessado em: 29 de nov.
de 2020.
KOENING, H.G. Maneiras de proteger os idosos religiosos das consequências da COVID-19.
Am J Geriatr Psychiatry., 28 (7): 776–779, 2020.
LOSADA-BALTAR et al. Diferencias en función de la edad y la autopercepción del envejecimiento en ansiedad, tristeza, soledad y sintomatología comórbida ansioso-depresiva durante
el confinamiento por la COVID-19. Rev. esp. geriatr. gerontol. (Ed. impr.) ; 55(5): 272-278,
sept.-oct. 2020.
LIU et al. Clinical features of COVID-19 em pacientes idosos: uma comparação com pacientes
jovens e de meia-idade. J. Infect., 51: 102154, 2020.
LUDKE, M. e ANDRÉ, M. Pesquisas em educação: uma abordagem qualitativa. São Paulo:
E.P.U. E., 2013.
NOGUEIRA, M.; MENESES, R. Vulnerabilidade dos idosos em tempos de pandemia: entre a
infeciologia e a responsabilidade ética. Rev de Filosofia, vol. 21, 2020.
PEREIRA et al. Metodologia da pesquisa científica. Santa Maria: UAB/NTE/UFSM, 2018.
Disponível em: <https://www.ufsm.br/app/uploads/sites/358/2019/02/Metodologia-da-Pesquisa-Cientifica_final.pdf>. Acessado em: 29 de nov. de 2020.
24.
ROLANDI et al. Loneliness and Social Engagement in Older Adults Based in Lombardy during
the COVID-19 Lockdown: The Long-Term Effects of a Course on Social Networking Sites Use.
Int. J. Environ. Res. Public Health 2020, 17, 7912.
25.
SHERLOCK et al. Bearing the brunt of covid-19: older people in low and middle income countries. BMJ, 368:m1052, 2020.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
26.
27.
28.
STULLER, Kathleen A.; JARRETT, Brant; e DEVRIES, A. Courtney. Stress and social isolation
increase vulnerability to stroke. [s.l.]: Experimental Neurology, v. 233, n. 1, p. 33-39, jan. 2012.
VAHIA et al. COVID-19 pandemic and mental health care of older adults in India. Int Psychogeriatr; 32(10): 1125-1127, Oct. 2020.
VAN, K. et al. Estratégias para promover conexões sociais entre adultos mais velhos durante
restrições de “distanciamento social”. Am J Geriatr Psychiatry., 2020.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
197
16
“
Impacto das mídias digitais nos
relacionamentos entre idosos:
uma revisão sistemática da
literatura
Samara Amorim de Araújo
UFPB
Rômulo Kunrath Pinto Silva
UFPB
Amanda Souza Fernandes
UFPB
Ayane de Fátima Queiroz Ferreira
UFPB
Gilka Paiva Oliveira Costa
UFPB
10.37885/201202391
RESUMO
A população idosa tem crescido nos últimos anos e acompanhar o desenvolvimento
tecnológico se torna necessário para se atualizar e expandir suas redes sociais, já que é
comum que o ciclo de amizades diminua com o envelhecer. Os idosos estão descobrindo
as mídias digitais na tentativa de melhorar e expandir suas relações, sejam elas amorosas,
familiares ou de amizade. Desta forma, o estudo trata-se de uma revisão sistemática da
literatura cujo objetivo foi analisar quais seriam os interesses dos idosos quando utilizam
as redes sociais e avaliar o relacionamento entre eles nesse meio. O levantamento bibliográfico de artigos foi realizado em banco de dados MEDLINE e encontrado um total
de 125 trabalhos. Mediante critérios de inclusão e exclusão foram obtidos um total de 11
artigos. Tais artigos demonstraram os diversos campos de relacionamentos em que os
idosos estão inseridos e como o uso das mídias sociais tem ajudado no estabelecimento
de relações interpessoais, diminuindo a solidão em idosos.
Palavras-chave: Idosos, Mídias Sociais, Internet, Relacionamentos, Solidão.
INTRODUÇÃO
Viver na contemporaneidade implica enfrentar, cotidianamente, desafios que exigem adaptação entre as demandas do ambiente físico e social e as capacidades individuais (ALBUQUERQUE, D. S, 2018). O envelhecimento populacional é um dos fenômenos de maior impacto no cenário mundial e se constitui em um desafio para a sociedade
(CORDEIRO, L.M., 2015).
As redes sociais são construções inerentes ao existir humano e podem ser definidas
atualmente como um conjunto organizado de pessoas que consiste em dois tipos de elementos: seres humanos e as conexões entre eles (CHRISTAKIS, N.A., FOWLER, J.H., 2010).
Durante o envelhecer é comum vivenciar a morte de amigos e, à medida que eles morrem,
a rede social do idoso torna-se cada vez menor. A satisfação das pessoas idosas com a
vida tem uma maior e mais forte correlação com a quantidade e a qualidade do contato com
seus amigos. (SOUSA, D. A.; CERQUEIRA-SANTOS, E, 2011).
Dentro destas redes, os relacionamentos de amizade se tornam predominantes e ocupam maior espaço, impactando fortemente a sua longevidade. Identificam-se efeitos protetores significativos contra a mortalidade pela presença de redes maiores de amigos. As redes
de amigos contribuem mais do que as redes familiares para a qualidade de vida/bem- estar
dos idosos, contribuindo positivamente em mais de um tipo de relação (por exemplo, relações
de amizade e simultaneamente relações familiares) para a qualidade de vida/bem- estar das
pessoas idosas (GOUVEIA, O. M. R. et al. 2016)
Vivenciar novos cenários, atualizar-se diante dos mais jovens e expandir a rede social
requer acompanhar o desenvolvimento tecnológico. Para isso, os idosos estão se abrindo
às mídias digitais e este público tem crescido consideravelmente no uso de tais ferramentas. O uso da internet, aplicativos e redes sociais têm sido usadas em prol da qualidade de
vida e saúde humana (FIRTH, J. et al., 2017). Estudos atuais apontam que a capacidade de
interagir socialmente é fundamental para o idoso, a fim de que este possa obter melhor qualidade de vida. Essa está comumente associada aos componentes de capacidade funcional,
estado emocional, interação social e atividade intelectual. Muitos estudos fazem referência a
um aumento da qualidade de vida e da longevidade em idosos que apresentam vida social
intensa (CARNEIRO, R.S., 2006). Participar de atividades sociais e manter relacionamentos
sociais ativos influenciam positivamente o desempenho funcional, especialmente entre os
mais longevos. Apoio emocional e instrumental são os mais associados à diminuição de
incapacidade (BRITO, T.R.P. et al., 2018).
Diante disso, torna-se relevante o estudo do uso das mídias digitais pelos idosos para
compreender a importância dessa ferramenta nas relações entre os idosos e entre este e
outras pessoas de faixa etária e função social distintas. O objetivo do trabalho foi analisar
200
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
quais seriam os interesses dos idosos quando utilizam as redes sociais e avaliar o relacionamento entre eles nesse meio através de uma revisão sistemática da literatura. Expandindo
o conceito dos relacionamentos para além da definição amorosa e abordando outros relacionamentos, como os de amizade.
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão sistemática da literatura que se refere ao uso das mídias
sociais pelos idosos no estabelecimento de relações interpessoais. O levantamento bibliográfico de artigos foi realizado em banco de dados MEDLINE. Os descritores de assuntos
utilizados foram: “idoso” and “rede social” or “mídias sociais” or “internet” and “sexualidade”
or “relações interpessoais”. Foram incluídos no estudo artigos escritos nos idiomas português, inglês e espanhol.
Os critérios de exclusão adotados referiram-se à natureza do trabalho, restrita a artigos
científicos, e ao seu conteúdo, que deveria estar relacionado ao tema investigado. Por isso,
foram excluídos do estudo 104 artigos que não tratavam de idosos e mídias sociais mediante
leitura prévia do título e resumo dos trabalhos encontrados. Foram excluídos do estudo editoriais, cartas ao editor e relatos de caso. Por fim, foram incluídos aqueles que tinham seu
texto completo disponível. Ao final da seleção obtivemos 11 artigos (fluxograma 1).
Fluxograma 1. Fluxograma de PRISMA descrevendo o processo de seleção dos artigos.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
201
O material selecionado para compor a amostra do estudo foi acessado no texto completo, sendo realizada sua leitura e avaliação. Foi considerado a base de dados onde o
artigo foi encontrado, com informações sobre o periódico, os autores, o tipo de metodologia
utilizada, a amostra, os resultados encontrados e as conclusões. Na sequência ocorreu a
análise e discussão dos resultados encontrados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir dos descritores, foram encontrados 11 artigos que falam do uso da internet em
redes sociais por pessoas com mais idade, acima de 50 anos. Apenas 4 se referiam ao uso
de sites de relacionamento afetivo-sexual (Quadro 1).
Quadro 1. Listagem de estudos incluídos na revisão e suas variáveis consideradas.
REFERÊNCIA
1. HONG, Y. A., CH, J.
2016.
2. CHOPIK, W. J., 2016.
3. DAVIS, E. M., L. K.
,2015
4. LOUIS, J. et al., 2015
5. NYMAN, A.; ISAKSS,
G., 2015
202
TIPO DE ESTUDO
AMOSTRA
RESULTADOS
CONCLUSÃO
Transversal
6603
participantes com mais
de 55 anos.
As percentagens de utilização da
Internet em todos os subgrupos
aumentaram de 2003 para 2011,
especificamente, entre o grupo
mais antigo (75+);
O acesso melhorado à Internet
pode permitir o acesso de idosos
a informações de saúde, mas
pode não levar necessariamente
conectar-se com pessoas on-line.
591
participantes com mais
de 50 anos;
Mais de 70% da amostra relataram que estavam aberto para
aprender novas tecnologias..
O uso da tecnologia reduziu
solidão, e pode ser usado como
preditor de saúde, doença, bem-estar e depressão.
Relacionamentos próximos
são um grande determinante da
saúde física e do bem- estar, e
a tecnologia tem o potencial de
cultivar Relacionamentos bemsucedidos entre os idosos.
4.000
perfis de namoro de
dois sites populares
com idades entre 18 e
95 anos.
.Os resultados do presente estudo
sugerem que os idosos que procuram parceiros de namoro estão
interessados em atração física e
sexualidade.
Surpreendentemente, os adultos
mais velhos eram mais propensos
a mencionar dinheiro em seus
perfis do que os adultos mais
jovens.
Os dados foram obtidos de sites
públicos, mas sem o consentimento do participante. Como tal,
o uso ético de dados ecologicamente válidos restringiu o
número de
características de fundo incluídas
neste estudo das diferenças de
idade.
Necessidade de mais estudos a
respeito.
40 idosos
Idosos em redes restritas tiveram
escores de isolamento social significativamente mais altos e foram
mais solitários do que clientes em
redes diversas e familiares.
Estudo foi pouco representativo, necessitando de mais
estudos.
12 idosos, divididos
em três grupos focais.
Os resultados refletem como
os contextos on-line geraram
novas possibilidades de união nas
ocupações cotidianas e criou um
senso de pertencer aos outros e à
sociedade em geral. No entanto, a
união através da Internet também
foi associada à ambiguidade e
incerteza entre os idosos.
Os resultados refletem
como a união derivada
de contextos online foi
complementar e de alguma
forma diferente da união resultante de interações face
a face. A Internet permitiu
que idosos e seus netos
participassem das vidas
cotidianas uns dos outros.
Transversal
Transversal
Transversal
Transversal
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
6. WADA, M., CLARKE,
L. H.,
2015
7. WEERD, C. V., 2014
8. ALTEROVITZ,
S. S.R., MENDELSOHN,
G. A., 2013
9. ALTEROVITZ,
S. S.R., ENDELSOHN,
G. A., 2009
10. SUM, S.R. et al, 2008
11. RUSSELL, C.,
et al. 2008
Foram recuperadas
144 artigos de revistas
e jornais sobre namoro
online na vida adulta
que foram publicados
entre 2009 e 2011.
Aproximadamente 15% dos
artigos sugeriram que os idosos
deveriam explorar novas técnicas
para aumentar o prazer sexual,
medicalizando e melhorando o
declínio sexual.
A representação da mídia
de adultos como seres sexuais contraria o estereótipo
dos mais velhos como nãosexuais ou pós-sexuais
45 mulheres de mais
de 50 anos que buscavam relacionamentos
no MySpace.
Elas relataram ter experimentado
eventos adversos incluindo exploração financeira (40%), ameaças
(55%) e danos físicos (38%) por
alguém que conheceu on- line em
níveis maiores do que a tradicional procura de relacionamento na
população em geral.
A busca de relacionamentos
no MySpace é claramente
um fenômeno novo para
o maioria das mulheres
com mais de 50 anos. Além
disso, as conclusões reforçam o argumento de que a
Internet é terreno fértil para
potenciais predadores.
Transversal
450 anúncios pessoais
dividido s em três
faixas etárias.(40-54,
60-74, 75+)
Em comparação com o idoso, o
jovem e de meia- idade eram mais
propensos a mencionar aventura,
romance, interesses sexuais e buscando uma alma gêmea e menos
propensos a mencionar a saúde.
O idoso era mais propenso em
encontrar um(a) companheiro(a)
com quem
eles poderiam compartilhar
atividades.
Este estudo aumenta nossa
compreensão das metas de
relacionamento nas diferentes faixas etárias.
Tivemos, portanto, poucos
ombros empíricos que se
colocar na formulação de
questões de pesquisa.
Transversal
600
anúncios pessoais da
Internet de 4 grupos
etários: 20 34, 40-54,
60-74 e 75 anos.
Com a idade, os homens procuram mulheres cada vez mais novas
que eles. Enquanto as mulheres
procuram homens mais velhos.
Quando estas atingem os 75 anos,
o padrão se inverte.
Em todas as idades, homens
buscavam atratividade física
e ofereciam mais informações relacionadas ao status
do que as mulheres.
222
internautas na Austrália com 55 anos ou
mais.
Usar a Internet como ferramenta
de comunicação foi associada
a níveis mais baixos de solidão
social entre idosos (0,124). Em
contraste, usar a Internet para se
comunicar com pessoas desconhecidas estava associado a um
maior nível de solidão familiar.
O estudo sugere alertar os
idosos para diferentes efeitos
da Internet e levá-los ao
uso de funções específicas
da Internet com o objetivo
de reduzir sentimentos de
solidão, a fim de aumentar a
seu bem- estar.
154
usuários, com 55 anos
ou mais
A maioria relatou “nenhuma
mudança” desde que começaram
a usar a Internet, na quantidade
de tempo que passam conversando com pessoas pessoalmente
(81,5%) ou saindo (84,2%).
Seus padrões de uso da Internet sugerem que a comunicação eletrônica tornou-se um
complemento importante
para fechar relacionamentos
com amigos e familiares.
Transversal
Transversal
Transversal
Transversal
De um modo geral, os estudos verificam que o uso da internet tem aumentado pelas
pessoas idosas, no entanto elas se referem prioritariamente ao uso para questões de saúde
como mostra o estudo de Hong e Cho (2016) que observaram um aumento da procura por
informações de saúde online de 60,8% em 2003 para 84,4% em 2011 em idosos na faixa
etária de 55 a 64 anos. O uso da internet por idosos possibilita melhora na qualidade de vida.
Para Chopik (2016) um maior uso de tecnologia social foi associado a uma melhor autoavaliação de saúde, menos doenças crônicas, maior bem-estar subjetivo e menos sintomas
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
203
depressivos, sugerindo que as relações estabelecidas pela tecnologia são capazes de influenciar a saúde física e bem-estar dos idosos.
Shima et al. (2008) intensificam os benefícios do uso da internet na solidão ao associarem as mídias sociais a uma redução da solidão entre idosos. No entanto, complementa
que o seu uso deve ser cauteloso, pois a comunicação com pessoas desconhecidas por
essa via estava associado a um maior nível de solidão familiar. Medvene et al. (2015) reforça
que o isolamento e a solidão nos idosos estão ligados aos tipos de redes sociais que eles
estão incorporados. Eles observaram que aqueles que faziam parte de redes sociais restritas
tiveram escores de isolamento social significativamente mais altos e foram mais solitários
do que aqueles em redes diversas e familiares.
O relacionamento com familiares parece melhorar com o uso da internet como demonstrou o estudo de Russell et al. (2008) que entrevistando 154 idosos com mais de 55 anos
obtiveram mais de três quartos (78,7%) de melhoras no nível de satisfação com o contato
com familiares e amigos com o uso da internet, demonstrando que a comunicação eletrônica
tornou-se um complemento importante para consolidar relacionamentos com amigos e familiares. A mídia tem a capacidade de expandir as relações sociais e fortalecê-las. Um estudo
realizado por Nyman e Isaksson (2015) demonstraram uma complementariedade da internet
às interações pessoais que ocorrem face a face. A ferramenta permitiu que idosos e seus
netos participassem das vidas cotidianas um do outro.
No que se refere aos relacionamentos afetivo-sexuais as pesquisas evidenciam um uso
cada vez maior das mídias sociais para estabelecê-los. Alterovitz e Mendelsohn (2013) comparando os perfis de busca em sites de relacionamento entre jovens de meia idade e idosos
observaram que estes buscam encontrar um companheiro para compartilhar as atividades e
eram mais propensos a mencionar saúde, diferentemente do outro grupo que pareciam mais
interessados em começar um novo relacionamento, abordando mais aspectos relacionados
a aventuras e interesse sexual do que à saúde. Davis e Fingerman (2015) analisando 4.000
perfis de namoro de dois sites observaram que os idosos se interessavam mais na conexão
e nos relacionamentos com os outros, fazendo uso de palavras relacionadas à saúde e
emoções positivas. No entanto, os mais velhos eram mais propensos a mencionar dinheiro
em seus perfis do que os adultos mais jovens.
Outro estudo realizado por Alterovitz e Mendelsohn (2009) analisou os perfis de busca
de homens e mulheres idosos e concluíram que à medida em que os homens envelheciam
eles procuravam mulheres mais jovens que eles. Na observação de mulheres até 75 anos,
estas buscavam homens mais velhos que elas e após essa idade o padrão mudou, ao
procurarem homens mais jovens. Por outro lado, a utilização de sites de relacionamento
também envolve riscos, pois algumas pessoas se beneficiam da inexperiência desse grupo.
204
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Weerd (2014) identificou eventos adversos associados ao site de relacionamento
Myscape entre mulheres acima dos 50 anos. Elas relataram ter experimentado exploração
financeira (40%), ameaças (55%) e danos físicos (38%) por alguém que conheceu online. Os idosos, como público que vem experimentando as redes sociais, sejam para buscar
informações de saúde quanto aproximar laços familiares e relacionamentos afetivos-sexuais,
devem ser orientados quantos aos possíveis riscos inerentes dessa ferramenta.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A literatura científica, embora exígua na investigação do uso das redes sociais de
relacionamentos por idosos, têm apresentado evidências que, de um modo geral, o uso
das redes sociais representa um caminho positivo para redução da solidão e da depressão
experimentada pelos idosos. Isso se dá por apresentar-se como um canal de aproximação,
não presencial, entre os idosos e a família, seus entes queridos, bem como fonte de informação e de construção de novos relacionamentos.
REFERÊNCIAS
1.
2.
3.
ALBUQUERQUE, D. S; et al. Contribuições teóricas sobre o envelhecimento na perspectiva
dos estudos pessoa- ambiente Psicologia USP. 2018 vol: 29 pp: 442-450
FIRTH, J. et. al. A eficácia das intervenções de saúde mental baseadas em smartphone para
sintomas depressivos: uma metanálise de estudos clínicos controlados. Word Psychiatry.
2017. 16: 287-298.
ALTEROVITZ, S. S.R. , MENDELSOHN, G. APartner Preferences Across the Life Span: Online
Dating by Older Adults. Psychology and Aging. 2009, Vol. 24, No. 2, 513-517
4.
ALTEROVITZ, S. S.R. , MENDELSOHN, G. A. Relationship goals of middle-aged, young-old,
and old-old internet daters: An analysis of online personal ads. Journal of Aging Studies. 2013
5.
BRITO, T. R. P. de et al . Redes sociais e funcionalidade em pessoas idosas: evidências do
estudo Saúde, Bem- Estar e Envelhecimento (SABE). Rev. bras. epidemiol., São Paulo , v.
21, supl. 2, e180003, 2018 .
6.
CARNEIRO, R. S.. A relação entre habilidades sociais e qualidade de vida na terceira idade.
Rev. bras.ter. cogn., Rio de Janeiro , v. 2, n. 1, p. 45-54, jun. 2006 .
7.
8.
CHOPIK, W. J. The Benefits of Social Technology Use Among Older Adults Are Mediated by
Reduced Loneliness. Cyberpsychology, behavior, and social networking. Vol. 00, Number
00, 2016.
CHRISTAKIS, N.A., FOWLER, J.H. O poder das conexões: a importância do networking e
como ele molda nossas vidas. Rio de Janeiro:Elsevier. 2010.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
205
9.
10.
11.
12.
13.
DAVIS, E. M., L. K. Digital Dating: Online Profile Content of Older and Younger Adults Fingerman. J Gerontol B Psychol Sci Soc Sci, 2015, 1–8
FIRTH, J. et al. The efficacy of smartphone-based mental health interventions for depressive
symptoms: a meta- analysis of randomized controlled trials. World Psychiatry, v. 16, n. 3, p.
287–298, 1 out. 2017.
HONG, Y. A., CH, J. Has the Digital Health Divide Widened? Trends of Health-Related Internet
Use Among Older Adults From 2003 to 2011. J Gerontol B Psychol Sci Soc Sci, Vol. 00, No.
00, 1–8. 2016.
NYMAN, A.; ISAKSSON, G. Togetherness in another way: Internet as a tool for togetherness
in everyday occupations among older adults. Scandinavian Journal of Occupational Therapy. 2015
14.
RUSSELL, C., et al. Ageing, social capital and the Internet: Findings from an exploratory study
of Australian ‘silver surfers’Australasian Journal on Ageing, Vol 27 No 2 June 2008, 78–82
15.
SHIMA SUM., M.Sc., MARK, M. HUGHES, I.; CAMPBELL, A. Internet Use and Loneliness in
Older Adults. Cyberpsychology & Behavior. Volume 11, Number 2, 2008
16.
SOUSA, D. A. de; CERQUEIRA-SANTOS, E. Redes sociais e relacionamentos de amizade ao
longo do ciclo vital. Rev. psicopedag., São Paulo , v. 28, n. 85, p. 53-66, 2011
17.
206
CORDEIRO, L.M., et al. Quality of life of frail and institutionalized elderly. Acta Paul Enferm
[Internet]. 2015 [2017 Aug 08]; 8(4):361-6.
WEERD, C. V. A Preliminary Investigation of Risks for Adverse Outcomes of Relationship
Seeking on Social Network Sites (SNS). A Descriptive Study of Women Over 50 Seeking Relationships on MySpace in Hillsborough County, Florida. Journal of Women & Aging. 2014
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
17
“
Instrumentos de detecção de
doenças vasculares periféricas
em idosos assistidos pela
atenção primária
Ana Paula Pillatt
UNIJUÍ
Fernanda Dallazen Sartori
UNIJUÍ
Evelise Moraes Berlezi
UNIJUÍ
10.37885/201102308
RESUMO
A atenção primária à saúde é o atendimento inicial, cujo principal objetivo é a prevenção de doenças, o tratamento de agravos simples e o direcionamento de casos graves
para outros níveis de complexidade. Assim, cabe à atenção primária o dever de atender
e resolver grande parte dos problemas de saúde da população, além de organizar o
fluxo de serviços na rede de saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020). A ampliação da
rede de atenção primária, por meio das equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF),
juntamente com o aumento da população idosa, tornam imperativos o reconhecimento
da condição de envelhecimento da população e de seus fatores associados para uma
efetiva promoção de saúde (MAIA et al. 2020). A partir do aumento expressivo de idosos,
profundas mudanças epidemiológicos implicam em novos desafios para os sistemas
de saúde e, é preciso minimizar as consequências do processo de envelhecimento,
buscando manter os idosos independentes funcionalmente, pelo maior período possível
(CANÊDO et al. 2018). Considerando-se que o envelhecimento individual não é causa
de declínio funcional por si só, mas representa o principal fator de risco para o acúmulo
de condições crônicas de saúde, que tendem a diminuir a funcionalidade e a qualidade
de vida, além de gerar mais custos para o sistema de saúde (MORAES, 2017). Desta
forma, investir em ações em nível da atenção primária em saúde, como o rastreamento
de condições predisponentes as doenças cardiovasculares, permitiria identificar condições passíveis de serem tratadas com menor custo-benefício; na perspectiva de evitar
desfechos indesejáveis como instalação de incapacidades ou morte precoce. Assim, o
objetivo deste capítulo é discutir sobre as doenças vasculares periféricas e instrumentos
de rastreamento que podem ser adotados pela atenção primária em saúde.
Palavras- chave: Assistência Integral à Saúde, Saúde do Idoso, Doenças Vasculares
Periféricas, Atenção Primária à Saúde
INTRODUÇÃO
A atenção primária à saúde é o atendimento inicial, cujo principal objetivo é a prevenção de doenças, o tratamento de agravos simples e o direcionamento de casos graves para
outros níveis de complexidade. Assim, cabe à atenção primária o dever de atender e resolver
grande parte dos problemas de saúde da população, além de organizar o fluxo de serviços
na rede de saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020).
A ampliação da rede de atenção primária, por meio das equipes da Estratégia Saúde
da Família (ESF), juntamente com o aumento da população idosa, tornam imperativos o
reconhecimento da condição de envelhecimento da população e de seus fatores associados
para uma efetiva promoção de saúde (MAIA et al. 2020). A partir do aumento expressivo
de idosos, profundas mudanças epidemiológicos implicam em novos desafios para os sistemas de saúde e, é preciso minimizar as consequências do processo de envelhecimento,
buscando manter os idosos independentes funcionalmente, pelo maior período possível
(CANÊDO et al. 2018).
Considerando-se que o envelhecimento individual não é causa de declínio funcional
por si só, mas representa o principal fator de risco para o acúmulo de condições crônicas
de saúde, que tendem a diminuir a funcionalidade e a qualidade de vida, além de gerar
mais custos para o sistema de saúde (MORAES, 2017). Desta forma, investir em ações em
nível da atenção primária em saúde, como o rastreamento de condições predisponentes as
doenças cardiovasculares, permitiria identificar condições passíveis de serem tratadas com
menor custo-benefício; na perspectiva de evitar desfechos indesejáveis como instalação
de incapacidades ou morte precoce. Assim, o objetivo deste capítulo é discutir sobre as
doenças vasculares periféricas e instrumentos de rastreamento que podem ser adotados
pela atenção primária em saúde.
DOENÇAS VASCULARES PERIFÉRICAS:
Doença Arterial Periférica e Insuficiência Venosa Crônica
Entre as DCNT, destacam-se as doenças cardiovasculares (DCV), que estão entre as
predominantes causas de mortalidade no mundo, representando cerca de 31% de todas as
mortes (OMS, 2017), no qual constituem um conjunto de doenças do coração e dos vasos
sanguíneos que incluem: Doença Arterial Periférica (DAP) e Insuficiência Venosa Crônica
(IVC), as quais são consideradas Doenças Vasculares Periféricas (DVP).
A DAP é um processo patológico gradual, sintomático ou assintomático, caracterizada
pela redução do fluxo sanguíneo causada, na maioria dos casos, por aterosclerose, a qual
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
209
é denominada por ateroma, ou placas ateroscleróticas, que se projetam e obstruem a luz
vascular, que leva ao desenvolvimento de estenoses e oclusões em artérias maiores da
circulação dos membros inferiores (SBACV, 2015a). Aponta-se uma prevalência que varia
entre os 3-10% na população em geral e aumenta gradativamente em indivíduos com idade
superior a 70 anos, chegando a 15-20% (FERNANDES, 2017).
A Doença Arterial Obstrutiva periférica (DAOP) é uma doença decorrente do acúmulo de
gordura na parede vascular, ocasionando a formação de placas ateroscleróticas que podem
provocar obstruções no sistema arterial, que transporta o sangue para os órgãos vitais do
corpo. Os vasos mais afetados são a aorta, os vasos viscerais e as artérias dos membros
inferiores e está associada a alto risco de morbimortalidade cardiovascular (SBACV, 2015a).
A principal causa da DAOP é a aterosclerose, através do acúmulo de placas de ateroma,
as quais são formadas por lipídios, proteínas, cálcio e células da inflamação, na parede das
artérias e desta forma, acarretam estreitamentos e obstruções que desencadeiam processos
isquêmicos localizados ou sistêmicos (LEIBSON et al, 2004). A aterosclerose é caracterizada por ser uma doença sistêmica e multifatorial que afeta a luz do vaso com intensidade
variável. A formação da placa aterosclerótica inicia-se em resposta à uma injúria ao endotélio
vascular, a camada única e mais interna que recobre a luz do vaso. Esse processo inicia-se
na infância e agrava com o avanço da idade e exposição à fatores de risco, acarretando em
incapacidade física, perda da independência e autonomia e reduzindo a capacidade funcional
do indivíduo, afetando assim a qualidade de vida (FALUDI et al, 2017).
A maioria dos indivíduos acometidos pela doença são assintomáticos, o que pode levar
a um diagnóstico tardio, impossibilitando o início do tratamento precocemente, e piorando
o prognóstico da doença (ZANDER et al, 2002). Os sintomas mais comuns de DAOP são
a ausência de pulsos distais e dor nos membros superiores ou inferiores, que pode ocorrer
após atividade física ou mesmo em repouso, claudicação intermitente e lesão cutânea ou
não (MAFFEI, 2016). A claudicação intermitente, é a manifestação mais frequente, que é
caracterizada por dor e desconforto muscular nos membros inferiores durante o exercício e
alivia durante o repouso, devido a diminuição do aporte do fluxo sanguíneo para o membro
afetado (SBACV, 2015a).
Já, a IVC pode ser definida como um conjunto de alterações que ocorrem na pele
e no tecido subcutâneo, principalmente nos membros inferiores, decorrentes de uma hipertensão venosa de longa duração, causada pela insuficiência valvular e/ou obstrução
venosa (MAFFEI, 2002) e caracteriza-se por um conjunto de manifestações clínicas como
a incapacidade em manter o equilíbrio entre o fluxo sanguíneo e seu retorno nos membros
inferiores. Causadas principalmente, por obstrução mecânica ao fluxo venoso e refluxo do
sangue venoso através de válvulas incompetentes do sistema venoso periférico superficial
210
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
ou profundo, acometendo os membros inferiores (EKLÖF et al, 2009). Decorre da incompetência valvular, podendo ser associada ou não a uma obstrução do fluxo sanguíneo, de
forma predominante em membros inferiores (DIAS et al, 2014); sua no mundo é de 1,5% da
população geral e até 5% da população idosa (CHI; RAFFETTO, 2015).
A insuficiência das válvulas das veias profundas causa hipertensão venosa, a qual está
relacionada com o comprometimento da musculatura da panturrilha levando a uma desordem
na circulação venosa (AQUINO et al, 2016). A hipertensão venosa é a principal causa de
IVC, ocorre devido a uma pressão venosa aumentada nas vênulas dos capilares, impedindo o fluxo sanguíneo. Sendo baixo o fluxo dentro dos capilares desencadeia o acúmulo de
leucócitos, esses por sua vez liberam enzimas proteolíticas e radicais livres de oxigênio, que
comprometem as membranas basais capilares, as proteínas plasmáticas vazam fibrinogênio
para os tecidos circundantes formando uma braçadeira de fibrina. Em decorrência do acúmulo
fibrina intersticial e do edema ocorre uma redução do aporte de oxigênio aos tecidos, causando hipóxia local, inflamação, além de ocasionar o surgimento de úlceras (SBACV, 2015b).
Isto ocorre em virtude das veias superficiais normais que se dilatam ao ponto que as
abas finas das válvulas venosas não conseguem fazer contato com o lúmen do vaso, sendo
incapazes de bombear o sangue de volta ao coração, devido a insuficiência da rede valvular
estar “falhada”, decorrente desta falha o sangue flui para trás, com isso acumula sangue
nesses vasos sanguíneos (geralmente nas pernas), fazendo com que as veias se dilatam
ao longo do tempo, formando por fim, as veias varicosas (ROBERT, 2017).
A IVC inicialmente ocorre com aparecimento de varizes, com disfunção na parede
venosa, causando a insuficiência das válvulas pela dilatação. Com o acúmulo de sangue
formado, é gerado uma pressão hidrostática progressivamente maior no interstício que passa
a causar redução no fluxo na microcirculação com consequente diminuição de oxigenação
e trocas metabólicas, que com ou sem a participação de veias perfurantes insuficientes
termina por transmitir-se aos capilares sanguíneos (SBACV, 2015b).
As principais características de IVC incluem o eczema de estase com ressecamento,
descamação, adelgaçamento e coceira na pele, sinais evidentes da alteração inflamatória
local. Quando ocorre a destruição da pele e há solução de continuidade com os tecidos mais
profundos, a denominada “úlcera de estase” ou “úlcera varicosa” é gerada. A condição é
acompanhada de sinais e sintomas como, formigamento, dor, queimação, câimbras musculares, edema, latejamento, coceira cutâneo, pernas inquietas e fadiga (SBACV, 2015b).
Além disso a IVC, causa impacto negativo na qualidade de vida dos indivíduos, provocando
dor, impossibilidade de realizar suas atividades de vida diária (AVD’s), e redução na mobilidade (LOPES et al, 2013).
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
211
Instrumentos de avaliação
A Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV, 2015a e 2015b)
apresenta em suas diretrizes para DAOP e IVC as recomendações de métodos diagnósticos;
e, proposição de instrumentos que auxiliam na classificação de risco, severidade da doença;
e também de qualidade de vida. Estes instrumentos podem ser aplicados na população e
risco para DVP; e com isso, a equipe de saúde tem insumo para o planejamento das medidas
de saúde e de fluxograma para encaminhamentos aos serviços de referência.
Com relação aos instrumentos aplicados a condições de insuficiência venosa crônica
uma das indicações é a classificação e graduação da doença venosa dos membros inferiores (CEAP – classificação clínica (C), etiológica (E), anatômica (A) e patológica (P)). Esta
classificação foi proposta e realizada no fórum Americano de Doenças Venosas preparado
por um “Comitê AD HOC”. É também organizada em termos decrescentes de gravidade da
doença (EKLOF et al., 2004).
Criada em 1994, (PORTER; MONETA, 1995) e revisado em 2004 (EKLOF et al., 2004)
(Quadro 1), a classificação de CEAP surgiu devido a necessidade de criar um sistema capaz
de conduzir a um diagnóstico e classificação precisos e adequados na prática clínica, que
constitua a base para a escolha da estratégia terapêutica mais apropriada. Com a revisão
do CEAP, uma forma mais complexa e avançada foi desenvolvida adicionando ao primeiro
a classificação anatômica dividida em 18 segmentos venosos, clareando a localização dos
processos patológicos subjacentes (MEDEIROS; MANSILHA, 2012).
212
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Quadro 1. Classificação de CEAP revisado
Classificação Clínica
Co
Sem sinais visíveis ou palpáveis de doença venosa crônica
C1
Telangiectasias ou veias reticulares
C2
Varizes (mais de 3mm de diâmetro)
C3
Edema
C4a
Pigmentação ou eczema
C4b
Lipodermatosclerose ou atrofia branca
C5
Úlcera venosa cicatrizada
C6
Úlcera venosa ativa
Classificação Anatômica
As
Veias superficiais
Ap
Veias perfurantes
Ad
Veias profundas
An
Local venoso não identificado
Classificação Patofisiológica – CEAP básico
Pr
Refluxo
Po
Obstrução
Pr,o
Refluxo e obstrução
Pn
Patofisiologia não identificada
Classificação Patofisiológica – CEAP avançado
Telangiectasias ou veias reticulares
Veias
Superficiais
Grande veia safena acima do joelho
Grande veia safena abaixo do joelho
Pequena veia safena
Veias não safenas
Veia cava inferior
Veia ilíaca comum
Veia ilíaca externa
Veias
Profundas
Veias pélvicas: gonadais, do ligamento largo, outras
Veia femoral comum
Veia poplítea
Veias crurais: tibial anterior, tibial posterior, peroniais
Veias musculares: gastrocnêmias, soleais, outras
Veias
Perfurantes
Coxa
Perna
Fonte: Adaptado de Eklof B., et al. (2004).
De acordo com as Diretrizes da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia
Vascular (SBACV), apesar da classificação da CEAP ser a mais reconhecidamente e difundida, a mesma apresenta algumas limitações nas quais podemos citar a não adequação
da sua utilização como marcador de evolução dos tratamentos. Desta forma, existem outros sistemas de classificação como o Venous Clinical Severity Score (VCSS) (VASQUEZ;
MUNSCHAUER, 2008), usado frequentemente na prática clínica, fornece uma medida mais
próxima da severidade da doença e seu impacto nas atividades de rotina e representando
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
213
uma ferramenta útil para avaliar alterações após procedimentos para o tratamento e acompanhamento dos doentes (VASQUEZ et al., 2010).
Este instrumento, Escore de Gravidade Clínica Venosa (VCSS) (Quadro 2) foi desenvolvido no ano de 2000 com o objetivo de melhorar a avaliação padronizada de resultados
de doenças venosas com elementos graduáveis que poderiam mudar em resposta ao tratamento e complementar o sistema de classificação de CEAP (RUTHERFORD et al., 2000).
No ano de 2010, o VCSS foi revisado devido a identificação de algumas inconsistências que possivelmente limitavam a utilização geral, tendo em vista como falha principal do
escore de risco o idioma, pela ambiguidade nos descritores clínicos. A revisão do VCSS foi
realizada, com foco na atualização da terminologia, simplificando a aplicação e eliminando
ambiguidades (VASQUEZ et al., 2010).
O VCSS, validado em 2011 por Passman et al., (2011), com outras ferramentas de
avaliação de gravidade venosa o instrumento apresenta a análise os parâmetros clínicos
fornecidos pelos pacientes, os quais são: dor, varizes, edema venoso, pigmentação da pele,
inflamação, endurecimento, número de úlceras ativas, duração da ulceração ativa, tamanho
da úlcera e uso de terapia compressiva, onde a pontuação encontra-se entre zero a três
dentro de dez parâmetros avaliados. O sistema de pontuação inicial foi encontrado para ter
alta reprodutibilidade inter e intraobservador e ser responsivo a mudanças na gravidade da
doença (MEISSNER; NATIELLO; NICHOLLS, 2002).
214
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Quadro 2. Classificação de VCSS revisada.
Parâmetro
Ausente (0)
Leve
(1)
Moderado
(2)
Severo
(3)
Dor ou outro desconforto
ligado a doença venosa
Não
Ocasional
Sintomas diários, interferindo
mas não impedindo as atividades
rotineiras.
Sintomas diários limitando
a maioria das atividades
rotineiras.
Veias varicosas
Não
Poucas dispersas,
inclui a coroa
flebectásica
Limitadas a panturrilha ou coxa
Envolvendo panturrilha e coxa
Edema de origem venosa
Não
Limitado ao pé e
tornozelo
Acima do tornozelo mas abaixo
do joelho
Até o joelho ou acima
Hiperpigmentação
Não
Limitada a área
perimaleolar
Difusa e até o terço inferior da
perna
Distribuição ampla (acima do
terço inferior da perna)
Inflamação
Não
Limitada a área
perimaleolar
Difusa e até o terço inferior da
perna
Distribuição ampla (acima do
terço inferior da perna)
Endurecimento
Não
Limitada a área
perimaleolar
Até o terço inferior da perna
Acima do terço distal da perna
Número de úlceras abertas
Não
1
2
3
>1 ano
Duração da úlcera
Não
<3 meses
> 3 meses mas
< 1 ano
Tamanho da úlcera
Não
<2cm
2 a 6 cm
> 6cm
Terapia de compressão
Não
Uso
Uso na maioria
Uso diário
Fonte: Adaptado de Projeto Diretrizes SBACV, (2015b).
No estudo multicêntrica de Marston et al., (2013), o VCSS revisado demonstrou ser
um instrumento confiável e reprodutível para documentação da gravidade dos sintomas em
pacientes com IVC e os mesmos concluíram que este instrumento de rastreamento deve ser
um sistema de pontuação útil que possa ser usado para documentar a gravidade da doença
na prática clínica e na pesquisa estudos de pacientes com DCV.
Para o rastreamento de DAOP há sinais característicos que podem sinalizar a necessidade de investigação de doença vascular, como a claudicação intermitente que ocorre devido
a redução do aporte sanguíneo para os membros inferiores durante o exercício e caracteriza-se por dor ou desconforto durante a caminhada que desaparece após o repouso (SBACV,
2015a). Cabe destacar que cerca de 50% dos pacientes com DAOP apresentam outros
sintomas e não a claudicação, e 40% não apresentam sintomas nas pernas (FIRNHABER;
POWELL, 2019), o que demonstra a necessidade da realização de um bom exame físico
para detecção de sinais e sintomas que possam sugerir a doença.
No exame físico é recomendado que se observe a presença de claudicação intermitente
e que se realize, tanto em pacientes sintomáticos quanto em assintomáticos a ausculta das
artérias femorais e a palpação dos pulsos femoral comum, poplítea, tibial anterior e tibial
posterior. Em pacientes sintomáticos recomenda-se ainda que se verifique a coloração, temperatura, integridade da pele do pé e a presença de ulcerações, que se realize a palpação
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
215
abdominal e ausculta em diferentes níveis, incluindo os flancos, a região periumbilical e as
regiões ilíacas (SBACV, 2015a).
Outros achados comuns durante o exame físico dos membros inferiores incluem rarefação dos pelos, pele brilhante, atrofia muscular, e as ulcerações arteriais são caracterizadas
por lesões bem demarcadas e perfuradas (FIRNHABER; POWEL, 2019). Nos pacientes
que apresentam sintomas, a presença de pele fria ou de pelo menos um sopro e qualquer
anormalidade palpável no pulso pode ser indicativo de DAOP (SBACV, 2015a).
O exame físico não é suficiente para indicar e/ou descartar a presença de DAOP.
Existem atualmente diversos protocolos e/ou testes para este fim, dentre eles: o índice tornozelo-braquial (ITB), o índice hálux-braquial (IHB) e o teste de esteira.
O ITB é considerado uma ferramenta de triagem primária, sendo calculado pela divisão da maior pressão sistólica nas artérias do tornozelo pela pressão sistólica da artéria
braquial, aferido com o indivíduo em decúbito dorsal, utilizando um esfigmomanômetro e um
aparelho portátil de ultrassom de ondas contínua (SBACV, 2015a). Os valores de referência
são entre 1,0 a 1,4 considerados normais, 0,9 - 0,99 limítrofes e menor que 0,9 indicam a
presença de doença obstrutiva; enquanto valores maiores que 1,4 indicam provável calcificação (ROOKE et al., 2011).
Pacientes que apresentam calcificação vascular, decorrentes de Diabetes Mellitus ou
de Insuficiência Renal, podem apresentar aferições falsamente elevadas das pressões sistólicas, e nestes casos o IHB fornece valores mais acurados (SBACV, 2015a). Os valores de
referência utilizados são maiores que 0,7 considerado normal, entre 0,4 e 0,7 considerado
anormal, e menor que 0,4 considerado grave (FOLEY, ARMSTRONG; WALDO, 2016).
O teste de esteira é utilizado para avaliar a magnitude da limitação funcional devido a
claudicação (ROOKE et al., 2013). Conforme a SBACV (2015a), recomenda-se utilizar um
protocolo de exercício padronizado com carga fixa ou progressiva. Para a estratificação de
risco, recomenda-se a Classificação de Fontaine (FONTAINE; KIM; KIENY; 1954), a qual
divide os pacientes com DAOP em quatro estágios, conforme quadro abaixo.
Quadro 3. Classificação de Fontaine.
Classificação de Fontaine
ESTÁGIO I
Assintomáticos
ESTÁGIO II A
Claudicação intermitente limitante
ESTÁGIO II B
Claudicação intermitente incapacitante
ESTÁGIO III
Dor isquêmica em repouso
ESTÁGIO IV
Lesões tróficas
Fonte: Adaptado de SBACV (2015a).
Recomenda-se que a atenção primária faça o acompanhamento com os indivíduos de
menor risco, assim como ações de educação em saúde que possam prevenir a evolução da
216
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
doença. Enquanto que, aqueles indivíduos com riscos elevados devem ser encaminhados
para os serviços especializados, através do sistema de referência e contrarreferência.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do contexto apresentado, salienta-se a necessidade de ações de saúde na
atenção primária com o intuito de rastreamento e acompanhamento de usuários com DCV.
Cabe a equipe de referência, a estratificação de risco destes pacientes e a organização de
uma linha de cuidado que tenha como objetivos o acompanhamento dos casos de menor
risco e o encaminhamento de casos com maior risco para o atendimento especializado.
REFERÊNCIAS
1.
2.
3.
AQUINO, Michael Augusto dos Santos et al. Análise dos efeitos dos exercícios aquáticos na
qualidade de vida de indivíduos com doença venosa crônica. J. vasc. bras., Porto Alegre, v.
15, n. 1, p. 27-33, Mar. 2016. https://doi.org/10.1590/1677-5449.005115.
CANÊDO, A. C.; LOPES, C. S.; LOURENÇO, R. A. Prevalence of and factors associated with
successful aging in Brazilian older adults: frailty in Brazilian older people Study (FIBRA RJ).
Geriatr Gerontol Int. v. 18, n. 8, p. 1280-5, 2018. https://doi.org/10.1111/ggi.13334
CHI, Y. W.; RAFFETTO, J. D. Venous leg ulceration pathophysiology and evidence based treatment. Vasc med, v. 20, n. 2, p. 168-181, Abr 2015. https://doi:10.1177/1358863X14568677
4.
DIAS, Thalyne Yurí Araújo Farias et al. Quality of life assessment of patients with and without
venous ulcer. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto. v. 22, n. 4, p. 576-581, Aug.
2014. https://doi.org/10.1590/0104-1169.3304.2454
5.
EKLOF, B., et al., Revision of the CEAP classification for chronic venous disorders: onsensus statement. Journal Vasc Surg. v. 40, n. 6, p. 1248-52, 2004. https://doi.org/10.1016/j.
jvs.2004.09.027
6.
EKLÖF, B.; et al. Updated terminology of chronic venous disorders: the VEINTERM transatlantic interdisciplinar consensus document. J Vasc Surg. v.49, n.2, p. 498-501, 2009. https://
doi:10.1016/j.jvs.2008.09.014
7.
8.
9.
FALUDI, A. A.; et al. Atualização da Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da
Aterosclerose 2017. Arq bras cardiol. v. 109, n. 1, p. 1-76, Ago. 2017. https://doi:10.5935/
abc.20170121
FERNANDES, J. F. Angiologia e Cirurgia Vascular. 2017. Disponível em: <https://www.sns.
gov.pt/wp-content/uploads/2017/05/RRH-Angiologia-e-Cirurgia-Vascular-Para-CP.pdf> Acesso
em: 25/03/2020.
FIRNHABER, J. M; POWELL, C. S. Lower Extremity Peripheral Artery Disease: Diagnosis and
Treatment. Am Fam Physician. v. 99, n. 6, p. 362-369, Mar. 2019. PMID: 30874413
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
217
10.
11.
12.
13.
FONTAINE, R.; KIM, M.; KIENY, R. Surgical treatment of peripheral circulation disorders. Helv
Chir Acta. v. 21, n.5-6, p.499-533, Dec. 1954. PMID: 14366554.
LOPES, C. R.; et al. Avaliação das limitações de úlcera venosa em membros inferiores. J Vasc
Bras, v. 12, n. 1, p. 5-9, 2013. http://dx.doi.org/10.1590/S1677-54492013000100003.
LEIBSON, C.L. et al. Peripheral arterial disease, diabetes, and mortality. Diabetes Care, v. 27,
n. 12, p. 2843- 2849, 2004. http://dx.doi.org/10.2337/diacare.27.12.2843
14.
MAFFEI, F. H. A. Insuficiência venosa crônica: conceito, prevalência, etiopatogenia e fisiopatologia. In: MAFFEI, F. H. A. et al, (org). Doenças vasculares periféricas. 3ª ed. Rio de
Janeiro: Medsi; 2002. p.1581-1590.
15.
MAFFEI, F. H. Diagnóstico clínico das doenças arteriais periféricas doenças vasculares
periféricas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016.
16.
MAIA, Luciana Colares et al. Idosos robustos na atenção primária: fatores associados ao envelhecimento bem-sucedido. Rev Saude Publica. v.54, n.35, p.1-11, Abr 2020 . https://doi.
org/10.11606/s1518-8787.2020054001735
17.
18.
19.
20.
21.
22.
23.
24.
218
FOLEY, T. R.; ARMSTRONG, E. J., WALDO, S. W. Contemporary evaluation and management
of lower extremity peripheral artery disease. Heart. v. 102, n.18, p.1437, Jun 2016. https://
doi:10.1136/heartjnl-2015-309076
MARSTON, W. A.; et al. American Venous Forum Outcomes Working Group. Multicenter assessment of the repeatability and reproducibility of the revised Venous Clinical Severity Score
(rVCSS). J Vasc Surg Venous Lymphat Disord. v. 1, n. 3, p. 219-24, Jul. 2013. https://doi.
org/10.1016/j.jvsv.2012.10.059
MEDEIROS J., MANSILHA A. Estratégia terapêutica na doença venosa crónica. Angiol e
Cirurg Vasc. v. 8, n. 3, p. 110-126, Set. 2012.
MEISSNER, M. H.; NATIELLO, C.; NICHOLLS, S. C. Performance characteristics of the Venous Clinical Severity Score. J Vasc Surg. v. 36, p. 889-95, 2002. https://doi.org/10.1067/
mva.2002.128637
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Disponível em: https://www.saude.gov.br/acoes-e-programas. Acesso
em: 25/03/2020.
MORAES E. N. The frail elderly and integral health management centered on the individual and
the family. Rev Bras Geriatr Gerontol. v. 20, n. 3, p. 307-8, 2017. https://doi.org/10.1590/198122562017020.170061
OMS. Organização Mundial da Saúde. Doenças cardiovasculares. 2017. Disponível em: <https://
www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5253:doencas-cardiovasculares&Itemid=1096> Acesso em: 25/03/2020.
PASSMAN, M. A.; et al. Validação do Venous Clinical Severity Score (VCSS) do American
Venous Forum, National Venous Screening Program. J Vasc Surg. v. 54, supl.6, p. 2S-9S,
Dez. 2011. https://doi:10.1016/j.jvs.2011.05.117
PORTER, J. M.; MONETA, G. L. Reporting standards in venous disease: an update. International Consensus Committee on Chronic Venous Disease. Journal Vasc Surg. v. 21, p. 635-45,
1995. https://doi.org/10.1016/s0741-5214(95)70195-8
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
25.
ROBERT, W. Venous Insufficiency. 2017. Disponível em: <https://emedicine.medscape.com/
article/1085412-overview>. Acesso em: 25/03/2020.
26.
ROOKE, T. W.; et al. American College of Cardiology Foundation; American Heart Association
Task Force; Society for Cardiovascular Angiography and Interventions; Society of Interventional Radiology; Society for Vascular Medicine; Society for Vascular Surgery, 2011 ACCF/AHA
focused update of the guideline for the management of patients with peripheral artery disease
(updating the 2005 guideline). Vasc Med. v.16, n.6, p. 452-76, 2011. https://doi.org/10.1016/j.
jvs.2011.09.001
27.
28.
29.
30.
31.
32.
33.
ROOKE, T. W.; et al. Management of patients with peripheral artery disease (compilation of
2005 and 2011 ACCF/AHA Guideline Recommendations): a report of the American College of
Cardiology Foundation/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines. J Am
Coll Cardiol. v. 61, n. 14, p.1555-70, 2013. https://doi.org/10.1016/j.jacc.2013.01.004
RUTHERFORD, R. B.; et al. Escore de gravidade venosa: um complemento para avaliação de resultados venosos. J Vasc Surg. v.31, p.1307–1312, 2000. https://doi.org/10.1067/
mva.2000.107094
SBACV. Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular. Doença arterial periférica
obstrutiva de membros inferiores: Diagnóstico e tratamento. 2015a. Disponível em <https://
www.sbacv.org.br/lib/media/pdf/diretrizes/daopmmii.pdf> Acesso em: 25/03/2020.
SBACV. Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular. Insuficiência Venosa Crônica: Diagnóstico e Tratamento. 2015b. Disponível em <https://www.sbacv.org.br/lib/media/pdf/
diretrizes/insuficiencia-venosa-cronica.pdf> Acesso em: 25/03/2020.
VASQUEZ, M. A.; MUNSCHAUER, C. E. Venous Clinical Severity Score and quality-of-life
assessment tools: application to vein practice. Phlebology. v. 23, n. 6, p. 259-75, 2008. https://
doi.org/10.1258/phleb.2008.008018
VASQUEZ, M. A.; et al. Revision of the venous clinical severity score: venous outcomes consensus statement: special communication of the American Venous Forum Ad Hoc Outcomes
Working Group. J Vasc Surg. v. 52, p.1387-96, 2010. https://doi.org/10.1016/j.jvs.2010.06.161
ZANDER, E. et al. Doença arterial periférica no diabetes mellitus tipo 1 e tipo 2: existem diferentes fatores de risco? Vasa, v. 31, n. 4, p. 249-254, 2002. http://dx.doi.org/10.1590/S000427302007000200014
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
219
18
“
Internacões de idosos por
condições sensíveis à atenção
primária à saúde
Iasmim Cunha Maranguape Araújo
UFPB
Andréa Carvalho Araújo Moreira
UFPB
Cibelly Aliny Siqueira Lima Freitas
UFPB
Maria Socorro Carneiro Linhares
UFPB
Jamylle Lucas Diniz
UFPB
10.37885/201202399
RESUMO
Introdução: O envelhecimento acentuado mudará o padrão das demandas dos serviços
de saúde, as doenças crônicas não transmissíveis representam um dos maiores desafios
frente ao envelhecimento da população. Objetivo: Analisar a tendência das internações
por doenças crônicas não transmissíveis, verificar os principais grupos responsáveis
pelas internações de idosos e calcular as taxas dessas internações. Métodos: Trata-se
de um estudo transversal, epidemiológico e descritivo, com base em análise secundária
de dados. Os dados foram colhidos através do Departamento de Informática do Sistema
Único de Saúde. Resultados: Foram realizados 11.050 internações de idosos entre 2012
a 2016 no município de Sobral-Ceará, sendo 2.232 por doenças crônicas não transmissíveis. A tendência na evolução temporal mostrou instabilidade sendo a maior taxa de
3,12/100.000 em 2013. Os três grupos responsáveis pelas maiores taxas de internações
foram respectivamente insuficiência cardíaca, doenças pulmonares e doenças cerebrovasculares. Conclusão: A análise de tendência realizada nesse estudo pode favorecer
profissionais e gestores a estabelecer prioridades e diretrizes políticas que levem em
consideração o idoso com doença crônica, bem como reconhecer a necessidade urgente
de fortalecer a atenção primária.
Palavras-chave: Atenção Primária à Saúde, Doença Crônica, Hospitalização, Idoso.
INTRODUÇÃO
O crescimento mundial da população idosa é um desafio para os sistemas de saúde
mundiais, não sendo diferente para o Brasil. A transição demográfica e epidemiológica pela
qual passou o país modificou a pirâmide etária da população, elevou a expectativa de vida,
o que contribuiu para projeções, em 2030, de 41,6 milhões de idosos, 18,7% da população (ALVES, 2014).
Dessa forma, o Brasil será caracterizado como um país envelhecido, posto que um
país é considerado jovem quando menos de 7% de sua população tem 65 anos; quando
a população de 65 anos alcança 14% o país é dito envelhecido. Países desenvolvidos, a
exemplo da França levou 115 anos, entre 1865 e 1980, para tornar-se um país envelhecido, o Brasil por sua vez, levará apenas 25 anos, entre 2011 a 2036 para tornar-se um país
envelhecido (CHAIMOWICZ, 2013).
À medida que o envelhecimento da população avança e o número de óbitos precoces
diminui, aumenta a prevalência das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT). No Brasil,
as DCNT atingem cerca de 72% das mortes, acometendo principalmente indivíduos com
menor poder aquisitivo, baixa escolaridade e idosos (Schmidt et al., 2011). A cada ano,
650 mil novos idosos são incorporados à população brasileira, a maior parte com doenças
crônicas e alguns com limitações funcionais (VERAS, 2009).
O envelhecimento acentuado mudará o padrão de demanda por serviços de saúde,
pois essa população necessita significativamente de mais serviços médico e hospitalar, além
de profissionais bem preparados para atenderem esse demanda (MORAES, 2012).
Frente ao exposto, há uma expectativa de que modelos de saúde orientados e coordenados pela atenção primária à saúde sejam capazes de provocar melhoria nos indicadores
de saúde e influenciar na utilização racional da tecnologia biomédica, com repercussão direta
na eficiência dos sistemas de saúde. É necessário uma reestruturação da rede de atenção
à saúde, na qual a atenção primária seja protagonista da coordenação dos cuidados em
saúde, de modo a atender as demandas de forma efetiva e eficiente com vistas à qualidade
da oferta das ações de saúde (MENDES, 2011).
O Ministério da Saúde orienta que às equipes de saúde da família se esforce para
enfrentar as DCNT promovendo o envelhecimento ativo. Para tanto o Plano de ações estratégicas para o enfrentamento das DCNT propõe medidas quanto à implementação de um
modelo de atenção integral ao envelhecimento; incentivo aos idosos à prática de atividade
física; capacitação das equipes e profissionais de saúde para melhor atender aos idosos;
incentivo ao autocuidado e criação de programa para formação de cuidadores de idosos e
de pessoas com condição crônica (BRASIL, 2011).
222
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Destarte, um dos instrumentos utilizados para avaliar o desempenho da APS é a análise
do indicador de Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária (ICSAP), conhecido internacionalmente como Ambulatory Care-Sensitive Conditions (ACSC), utilizado, por
exemplo, nos Estados Unidos da América desde a década de 1990.
No Brasil, a publicação da portaria do Ministério da Saúde MS/GM nº 221, de 17
de abril de 2008, apresentou a Lista Brasileira de Internações por Condições Sensíveis à
Atenção Primária, estruturada em grupos de causas de internação e diagnósticos. De forma
geral, as condições decorrentes de diagnósticos classificados como sensíveis às ações de
atenção primária, poderiam ser resolvidas neste nível de atenção, sem necessitar de internações hospitalares.
Nesse contexto, o papel da atenção primária à saúde é de fundamental importância
na prevenção de doenças e promoção da saúde da população idosa. Em se tratando de
uma população vulnerável os cuidados à saúde devem ser redobrados a fim de reduzir as
internações evitáveis.
No entanto, a experiência vivenciada na atenção primária à saúde em um município
da região norte do Estado do Ceará, prestando assistência de enfermagem aos idosos,
revelou muitos desafios, dentre eles o modelo de saúde que ainda têm como característica
a priorização das condições agudas, o que traz implicações tanto para o idoso – que não
obtém a atenção oportuna e necessária, de modo a receber assistência pela equipe de saúde com acompanhamento multiprofissional e co-responsável somente após a agudização
de uma doença crônica, repercutindo negativamente na sua condição de saúde – quanto
para o sistema de saúde, dado o comprometimento do uso racional dos recursos nesse
nível de atenção.
Essa constatação justifica o interesse pela investigação do tema, além de perceber
que a literatura carece de estudos com enfoque dado pela presente pesquisa. A análise
das internações por condições sensíveis vem sendo empregada para avaliar o desempenho
do sistema de saúde nos âmbitos internacional e nacional, tornando-se um instrumento de
gestão do cuidado com vistas a melhorar a assistência na atenção primária, na medida que
possibilita o levantamento de subsídios para diferentes realidades.
A pesquisa tem a finalidade de analisar as tendências das internações de idosos por
doenças crônicas não transmissíveis sensíveis à atenção primária (DCNTSAP), além de
Verificar os principais grupos causas e diagnósticos de internamentos de idosos por doenças
crônicas não transmissíveis sensíveis a atenção básica, de acordo com a CID 10ª e calcular
as taxas desse internamento.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
223
OBJETIVO
Analisar as tendências das internações de idosos por doenças crônicas não transmissíveis sensíveis à atenção primária (DCNTSAP), além de Verificar os principais grupos
causas e diagnósticos de internamentos de idosos por doenças crônicas não transmissíveis
sensíveis a atenção básica, de acordo com a CID 10ª e calcular as taxas desse internamento.
MÉTODOS
Trata-se de um estudo epidemiológico descritivo e transversal, com base em análise
secundária de dados.
A pesquisa foi realizada no município de Sobral, Ceará. Em 2016 a população estimada para esse município era de 203.682 habitantes (BRASIL, 2011), ocupando uma área de
2.122,897 quilômetros quadrados. O município esta situado na região Noroeste do Ceará,
a uma distancia de 224 km da capital Fortaleza.
A população investigada abrangeu 17.592 idosos, conforme estimativa do IBGE
(2010). A amostra foi composta por 11.050 idosos, internados no período entre 2012 a 2016,
que residiam no município de Sobral-CE. O período selecionado para análise de tendência
se justifica pela implementação do Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das
Doenças Crônicas Não Transmissíveis no Brasil, que foi publicado em 2011 e tem como
meta preparar o Brasil durante os próximos dez anos para enfrentar e deter os fatores
de risco das DCNT.
Os dados foram colhidos do Sistema de Internação Hospitalar (SIH/SUS), através do
departamento de informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Os dados obtidos foram transferidos do programa de tabulação do DATASUS (TabNet) para planilha no programa
da Microsoft Excel versão 2010 e apresentados em forma de tabela. Foram selecionados
internações por DCNTSAB na população com 60 anos ou mais, que foram internados no
período de 2012 a 2016, sendo a causa de internação os 7 grupos classificados como DCNT
sensível a atenção básica de acordo com o CID-10a, são elas Asma, Doenças Pulmonares,
Hipertensão, Angina, Insuficiência Cardíaca, Doenças Cerebrovasculares e Diabetes Mellitus.
Os coeficientes de internação para análise das tendências das DCNTSAP foram calculados através da fórmula (n° de internações por DCNTAB no ano dividido total da população
idosa no ano multiplicado por cem mil habitantes). E as taxas das internações por grupos
de causas e diagnósticos foram calculada através da fórmula (n° de internação por causa
de DCNTSAB no ano dividido pela total de idosos no ano multiplicado por cem mil habitantes). Para o cálculo da evolução temporal dos coeficientes de internações foi utilizada sua
variação no período analisado e equações matemáticas para a obtenção de tendências
224
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
prospectivas de padrão linear e de padrão polinomial. Foram verificados ainda em relação
a estas internações os principais grupos, causas e diagnósticos de acordo com o CID-10a.
Os dados da pesquisa foram retirados do Departamento de Informática do SUS
(DATASUS) que é de livre acesso ao público, portanto não foi necessária a avaliação da
pesquisa diante do Comitê de Ética e Pesquisa. Entretanto foram respeitadas as normas
vigentes no Brasil, relacionadas à ética na pesquisa com seres humanos. Os dados foram
analisados especificamente para esta pesquisa, de forma global, sem qualquer identificação individual.
Ressalta-se ainda a veracidade das informações que constam nessa pesquisa, que
será de grande importância para avaliar a causa dessas internações e a assistência prestada
aos idosos nas unidades de atenção primária aos idosos no município de Sobral.
RESULTADOS
Os dados secundários obtidos através do DATASUS e SIH acerca das internações do
município de Sobral no Ceará construíram os indicadores que mostra esse estudo e possibilitaram analisar as causas de internações por DCNTSAP.
No período de 2012 a 2016 ocorreram 11.050 internações de pessoas com 60 anos ou
mais. Dessas internações 2.232 foram por doenças crônicas não transmissíveis e representaram 20,20% das internações. (Tabela 1). As internações por CSAP nos idosos no mesmo
período foram de 3.361 e correspondem a 30,41% de todas as internações e 66,40% das
internações por DCNT.
Tabela 1. Número total de internações e número de internações por DCNTSAP e sua proporcionalidade ocorridas com
os idosos de Sobral, no período de 2012 a 2016, Sobral, Ceará, 2017.
Ano
N° de internações geral
Nº de Internações por
DCNTSAP
Proporção de internações por DCNTSAP
2012
2468
476
19,28
2013
2406
536
22,28
2014
1969
425
21,58
2015
2231
487
21,83
2016
1976
308
15,59
Total
11050
2232
20,20
Fonte: Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde /Sistema de Internação Hospitalar.
De acordo com os dados analisados, no ano de 2012 a proporção de internações de
idosos por DCNTSAP foi de 19,28%, em 2013 apresentou um aumento, 22,28%, em 2014
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
225
e 2015 a proporção ficou de 21,58% e 21,83% respectivamente, e em 2016 houve uma
diminuição, que resultou no menor percentual desses últimos cinco anos, 15,58%. Sendo
a proporção de internações por DCNT durante os anos da pesquisa de 20,20% em relação
a todas as internações.
A figura 1 demonstra a evolução temporal dos coeficientes de internação por
DCNTSAP. Em 2012 a taxa foi de 2,81/100.000, em 2013 houve um aumento que resultou
na maior taxa de internações dos anos pesquisados, sendo o valor de 3,12/100.000. Em 2014
houve uma queda que ficou 2,25/100.000, já em 2015 houve um acréscimo resultando na
terceira maior taxa dos anos da pesquisa 2,77/100.000 e em 2016 a taxa foi a menor apresentada, resultando no valor 1,75/100.000.
Para estimar o comportamento das taxas no futuro foram utilizadas deduções matemáticas (Figura 1). O padrão linear representa o aumento ou a diminuição das taxas de forma
constante. A tendencia decrescente quando utilizado o padrão polinomial é uma linha curva
utilizada quando há flutuações de dados. A tendencia foi intercalada por um ano de diminuição e outro de aumento da taxa durante os cinco anos da pesquisa expressando assim sua
instabilidade. Em relação as tendências por grupos causas e diagnósticos todas as causas
também expressaram aumento e diminuição de forma inconstante durante os anos.
Figura 1. Internações por Doenças Crônicas Não Transmissíveis Sensíveis à Atenção Primária (ICSAP) em Sobral Ceará:
tendência prospectiva dos internamentos por DCNTSAP e a distribuição temporal da taxa de internamentos (por 100.000
hab), no período de 2012 a 2016. Sobra, Ceará, 2017.
.
Fonte: Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde /Sistema de Internação Hospitalar.
226
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Com relação ao grupo de causas das internações por DCNTSAP verificou-se que
a IC detém de maior percentual de causa de internação do idoso, 36,4% (tabela 2). As doenças pulmonares representaram 16,46%, doenças cerebrovasculares 13,18%, asma 11,02%,
angina 9,38%, diabetes mellitus 9,32% e hipertensão 0,36%.
Tabela 2. Proporção das grupos de causas e diagnósticos ocorridas com os idosos de Sobral, no período de 2012 a 2016,
Sobral, Ceará, 2017.
2012
2013
2014
2015
2016
TOTAL
Doenças crônicas não transmissíveis
Sensíveis à atenção primária
%
%
%
%
%
%
1. Asma
1,66
4,07
2,49
2,29
0,51
11,02
2. Doenças Pulmonares
0,39
6,73
3,91
3,45
1,97
16,46
3. Hipertensão
0,04
0,12
0,05
0,09
0,05
0,36
4. Angina
2,15
0,17
0,86
3,72
2,48
9,38
5. Insuficiência Cardíaca
6,89
8,81
8,99
6,14
5,57
36,40
6. Doenças Cerebrovasculares
1,66
1,04
2,95
3,99
3,54
13,18
7. Diabetes Mellitus
2,04
1,33
2,34
2,15
1,47
9,32
Fonte: Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde /Sistema de Internação Hospitalar.
DISCUSSÃO
O número de internações de idosos na realidade estudada foi expressivo e tais achados assemelham-se a outros estudos brasileiros quanto à proporcionalidade das doenças
crônicas (Ducan et al., 2012). Um estudo realizado no estado do Paraná, incluindo as 22
Regionais de Saúde entre os anos de 2008 a 2011, revelou que houve um total de 773.483
de internações de idosos, sendo que 43% dessas internações encontravam-se na faixa
etária de 60 a 69 anos, os resultados do estudo revelou ainda que as maiores causas de
internações entre essa população são as condições crônicas (CASTRO, 2013).
O número de internações por condições sensíveis revela a fragilidade da atenção primária, na medida em que ações de monitoramento mais eficazes poderiam ocasionar outros
desfechos, evitando danos, muitas vezes, irreparáveis no idoso, por consequência da internação. A hospitalização do idoso desencadeia uma cascata de eventos que frequentemente
culmina na diminuição da capacidade funcional e da qualidade de vida, complicações não
relacionadas ao problema que levou à admissão hospitalar do idoso (COUTO, 2015). Assim,
para muitos idosos, a hospitalização não resulta em melhora de saúde; pelo contrário, há
correlação com aumento da taxa de mortalidade e morbidade, piora do seu prognóstico e
predisposição ao processo de fragilização (Dutra et al., 2011).
As internações de idosos embora necessárias representam riscos para a saúde dessa população. As internações recorrentes em idosos podem causar comorbidades, como
por exemplo, dependência funcional, risco aumentado de quedas e aumento da mortalidade. Um estudo realizado no Rio de Janeiro com 9.769 idosos a partir de 65 anos, mostrou
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
227
que 6,7% dessa população apresentam alto risco de internações recorrentes, esse risco foi
associado à presença de doenças crônicas, como doença pulmonar e obstrutiva crônica e
ao uso de medicamentos. Esses pacientes apresentaram dificuldades de realização das
atividades de vida diária (AVD) e os riscos de internações ainda são mais recorrentes em
idosos que moram sozinhos por conta da necessidade da realização das atividades instrumentais da vida diária (AIVD) (PEREZ; LOURENÇO, 2013).
Um estudo realizado na Espanha revelou que o comprometimento funcional dos idosos
esta associado ao risco de hospitalização, com uma prevalência de 35-70% e essas hospitalizações causam graves consequências, tendo em vista que a hospitalização interfere na
autonomia e independência desses pacientes (Córcoles-Jiménez et al., 2016).
Nesse contexto, acrescenta-se que as internações evitáveis causam impacto negativo
para Saúde Pública, pois elevam-se os gastos públicos. Para tratar melhor a questão dos
gastos com as internações de idosos foi realizada uma pesquisa com a finalidade de descrever o perfil de morbidades e os gastos relacionados às internações de idosos no Brasil, o
resultado obtido foi que em dez anos 27,85% dos internados eram idosos, e o recurso gasto
com essas internações foram de 36,47% (Silveira et al., 2013).
A maioria das internações as quais os idosos são submetidos são consequências da
descompensação de doenças crônicas ou agudizações que podem complicar, tanto por
comorbidades como por circunstância da própria internação (HALTER et al, 2009).
A IC representou a principal causa de internações dessa pesquisa. É uma patologia
comum entre os idosos e sua prevalência aumenta com a idade18. Representa um das principais causas de internações, além de ser uma das principais causas de morbimortalidade
entre idosos ( (Herrero-Puente et al, 2012).
O segundo grupo de causas de internações em idosos foram as Doenças pulmonares
(DP). Em um estudo realizado com a “Metade Sul” do Rio Grande do Sul as DP foram as
principais causas de internações e as IC ficaram em segundo lugar (SANTOS et al., 2013).
Enquanto as causas que resultam em óbitos são as doenças cerebrovasculares seguido
pela insuficiência cardíaca.
A hipertensão foi à causa com menor proporção durante os anos da pesquisa representando 0,35% das internações. No total foram 8 internações, e o número de óbitos é de
35 óbitos por hipertensão no mesmo período (BRASIL, 2017). A doença considerada um
fator de risco para doenças cardiovasculares e responsáveis por cerca de 7,1 milhões de
óbitos ao ano no mundo (Chobanian et al., 2003). Estudos apontam que 54% dos casos de
acidente vascular cerebral e 47% dos infartos agudos do miocárdio estão relacionados à
elevação da pressão arterial (LAWES et al., 2001).
228
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Diabetes mellitus e hipertensão representam importante problema de saúde pública no
Brasil, além das elevadas taxas, é comum complicações agudas e crônicas (Gerhardt et al.,
2016). Durante a pesquisa essas doenças não foram as responsáveis por a maior parte das
internações, no entanto é necessário uma assistência de qualidade aos idosos portadores
dessas doenças, uma vez que suas complicações resultam em quadro clínicos mais severos.
Diante da complexidade no manejo das doenças crônicas, acredita-se que a assistência prestada em redes seria mais eficaz, uma vez que as redes organizam os serviços de
saúde e buscam garantir a integralidade do cuidado. A promoção da saúde é desenvolvida
através de mudanças prática e saudáveis e os profissionais de saúde devem incorporar
essas mudanças na assistência prestada, evitando agravos (Heflin et al, 2011).
A assistência integral e multiprofissional ao idoso portador de doenças crônicas se faz
necessário. As doenças crônicas exigem uma atenção contínua e utilização de serviços de
saúde, esse grupo de doenças contribuem para uma maior vulnerabilidade do idoso, implicando em internações (Pinheiro et al., 2016).
É necessário que os profissionais adotem práticas diferentes do modelo biomédico e
hegemônico e que fundamentem suas ações nas diretrizes da atenção primária a saúde.
Sendo à atenção primária quem deve estabelecer a comunicação entre as redes, esta requer
que os profissionais organizem seus processos de trabalho promovendo a resolutividade
dos problemas e integralidade da assistência.
Ressalta-se que estudiosos e técnicos em saúde tem inovado na implementação de
práticas multiprofissionais de abordagem à pessoa com doença crônica no contexto brasileiro, a partir do Modelo de Atenção às Condições Crônicas (MACC). Entre as características
desse novo modelo, pode-se citar: a oferta da atenção à saúde no lugar certo, no tempo
certo, com a qualidade certa e com custo certo; a garantia de que os serviços sejam disponibilizados de forma integrada e orientados às necessidade da população pertencente às
áreas de abrangência das Unidades de Saúde, ampliando a satisfação da população com
o sistema de saúde; ampliação e diversificação dos pontos de atenção à saúde; melhoria
da comunicação entre os vários pontos de atenção; promoção do autocuidado; integração
intersetorial dos serviços de saúde com outras políticas públicas; valorização dos recursos
humanos do SUS; e integração do município com a região metropolitana, buscando aproximação com o principio da universalidade do SUS (MENDES, 2011).
Pesquisa avaliativa realizado em Curitiba- PR sobre a atenção a Condições Crônicas
buscou identificar a percepção de usuários e equipes de saúde sobre inovações, com a
implantação do MACC (Schwab et al, 2014). Os resultados demonstram associação entre
a implantação do modelo e as mudanças ocorridas, tais como o cuidado compartilhado e o
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
229
autocuidado. A forma como é dispensado o cuidado mostrou relação direta com o nível de
satisfação das equipes de saúde e pessoas usuárias.
Diante do exposto, percebe-se que não se pode adiar o debate e mais precisamente
o posicionamento político de implementação e monitoramento de ações que envolvem os
desafios trazidos pelo envelhecimento populacional, a exemplo das doenças crônicas não
transmissíveis. Nesse sentido, devem-se estabelecer espaços de educação permanente
voltado aos profissionais de saúde da atenção primária, afim de que os mesmos reflitam
sobre sua práxis e priorizem ações estratégicas de abordagem ao idoso com doença crônica.
CONCLUSÃO
Em relação à evolução temporal a tendência mostrou uma instabilidade uma vez que
sua diminuição ou aumento não foram constantes. O estudo evidenciou que a maior causa
de internações durante os anos de pesquisa em Sobral, Ceará foram por insuficiência cardíaca seguido das doenças pulmonares e a terceira causa foram doenças cerebrovasculares.
A atenção básica à saúde é responsável pela promoção de saúde e pela prevenção
de doenças, o atendimento a esse público e a identificação do problema assim como a resolução é indispensável ainda nesse nível de atenção. Tendo em vista os desafios frente ao
crescimento da população idosa e a prevalência dessas doenças, faz-se necessário repensar
e reestruturar a assistência, de uma forma a atender as necessidades desse público.
As DCNT representam um problema de saúde pública por acarretar danos a vida do
idoso, é um indicador que pode ser utilizado na análise da atenção básica á saúde, e deve
trazer reflexões mais profundas sobre a atenção á saúde do idoso, e as formas de enfrentamento e controle dessas doenças.
A Estratégia Saúde da Família deve apropriar-se da atenção ao idoso e prestar um cuidado voltado para as especificidades que essa clientela demanda, criando meios de alcançar
melhores resultados em relação ao controle dessas doenças. Orientar o idoso e família sobre
os cuidados necessários em relação aos medicamentos a serem utilizados é uma maneira
de intervir, além disso, incentivar o autocuidado do idoso é importante nesse processo.
A análise de tendência realizada nesse estudo pode favorecer profissionais e gestores a
estabelecer prioridades e diretrizes políticas que levem em consideração o idoso com doença crônica, bem como reconhecer a necessidade urgente de fortalecer a atenção primária.
REFERÊNCIAS
1.
230
Alves J E D. Transição demográfica, transição da estrutura etária e envelhecimento. Revista
Portal de Divulgação 2014; 40.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
2.
3.
Azad N, Lemay G. Management of chronic heart failure in the older population. J Geriatr Cardiol. 2014;11(4):329-37
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise de
Situação de Saúde. Plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas
não transmissíveis (DCNT) no Brasil2011-2022 / Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância
em Saúde. Departamento de Análise de Situação de Saúde. – Brasília, 2011.
4.
Brasília, 2011. Disponível em:<http://cidades,ibge.gov.br/stras/perfil.php?codmun=231290>.
Acessado em 17 out. 2016.INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA IBGE.
5.
Brasil. Ministério da Saúde. DATASUS. Acessado em: 04/06/2017. Disponível em: < http://
www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php>.
6.
Chaimowicz F. Saúde do idoso. Belo Horizonte. Núcleo de educação em saúde coletiva; 2013.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
Schmidt MI, Duncan BB, Azevedo e Silva G, Menezes AM, Monteiro CA, Barreto SM, et al.
Doenças crônicas não transmissíveis no Brasil: carga e desafios atuais. Série Saúde no Brasil
4. [on- line]. Lancet. 2011;61-74. [acesso em 2016 DEZ 23]. Disponível em: <http:// download.
thelancet.com/flatcontentassets/pdfs/ brazil/brazilpor4.pdf>.
CASTRO VC, Borghi AC, Mariano PP, Fernandes CAM, Mathias TAF, Carreira L. Perfil de
Internações Hospitalares de Idosos no âmbito do Sistema Único de Saúde, Revista da Rede
de Enfermagem do Nordeste 2013; 14; (4);791-800.
Couto, FBD’E. Cuidando do idoso no hospital e em internação domiciliar: o que há de diferente?
Revista Kairós Gerontologia, São Paulo 2015; v 18; n 19; p 57-76.
Capilheira M, Santos IS. Doenças crônicas não transmissíveisdesempenho no cuidado médico
em atenção primária à saúde no sul do Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro 2011; v 27;
n 6; p 1143-1153.
Chobanian A, Bakris G, Black H, Cushman W, Green L, Izzo JJ. The Seventh Report of the
Joint National Committee on Prevention, Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood
Pressure: the JNC 7 report. JAMA 2003; 289:2560-72.
Córcoles-Jiménez MP, Ruiz-Garcia MV, Saiz-Vinuesa MD, Muñoz-Mansilha E, Herrerros- Sáez
L, fernándes-Palláres P, Calero-Yáñez F, Muñoz-Serrano MT. Deterioro funcional associado
a la hospitalización en pacientes mayores de 65 años. Enfermería Clínica 2016; 26; 121-128.
Ducan BB, Chor D, Aquino EML, Bensenor IM, Schimdt MI, Lotufo PA, Vigo A, Barreto SM.
Doenças Crônicas Não Transmissíveis no Brasil: prioridade para enfrentamentoe investigação.
Rev Saúde Pública 2012; v 46; p 126-34.
14.
Dutra MM, Moriguchi EH, Lampert M.A. & Poli-de-Figueiredo, Validade preditiva de instrumento
para identificação do idoso em risco de hospitalização. Revista de Saúde Pública, Ceará 2011;
v 45; n 1; p 106-112.
15.
Gerhardt PC; Borghi AC; Fernandes CAM; Mathias TAF; Carreira L. Tendência das internações
por diabetes mellitus e hipertensão arterial sistêmica em idosos. Cogitare enfermagem 2016;
21; (4): 01-10.
16.
Halter JB, Ouslander JG, Tinetti ME, Studenski S, High KP, Asthana S, editors. Hazzard´s
Geriatric Medicine & Gerontology. 6th ed. New York, McGraw Hill; 2009.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
231
17.
18.
19.
20.
21.
22.
23.
Herrero-Puente P, Martín-Sánchez FJ, Fernández-Fernandez M, Jacob J, Llorens P, Miró Ò,
et al. Características clínicas diferenciais e preditores de desfecho de insuficiência cardíaca
aguda em pacientes idosos. Internacional Journal of Cardiology 2012;155; (1):81-6.
Lawes CM, Vander Hoorn S, Rodgers A; International Society of Hypertension. Global burden
of blood-pressure-related disease, 2001. Lancet 2008; 371:1513-8.
Mendes, EV. As redes de atenção à saúde. 2. ed. Brasília: Organização Pan-Americana da
Saúde, 2011.
MENDES, E. V. As redes de atenção à saúde. Brasília: OPAS: CONASS, 2011. Moraes EN.
ATENÇÃO A SAÚDE DO IDOSO: Aspectos Conceituais. Brasilia. Organização Pan-Americana
da Saúde; 2012.
Pinheiro FM; Santo FHE; Chibante CLP; et al. Profile of hospitalized elderly according to Viginia
Henderson: contributions for nursing care. Care Online. 2016 jul/set; 8(3):4789-4795. [acesso em
2017 maio 18]. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.9789/2175- 5361.2016.v8i3.4789- 4795>.
Perez M, Lourenço RA. Rede FIBRA-RJ: fragilidade e risco de hospitalização em idosos da
cidade do Rio de Janeiro, Caderno de Saúde Pública 2013; 29: 1381-1391.]
24.
Santos VCF, Kalsing A, Ruiz ENF, Roese A, Gerhardt TE. Perfil das internaçõespor doenças
crônicas não-transmissíveis sensíveis à atenção primária em idosos da Metade Sul do RS.
Rev Gaúcha Enferm. 2013;34(3):124-131.
25.
SCHWAB GL, Moysés ST, Kusma SZ, Ignácio SA, Moysés SJ. Percepção de inovações na atenção às Doenças/Condições Crônicas: uma pesquisa avaliativa em Curitiba. Saúde debate, Rio
de Janeiro 2014 , 38: 307-318. Acessado em: 05 de mao de 2017. Disponivel em: <http://www.
scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103- 11042014000600307&lng=en&nrm=iso>.
26.
Silveira RE, Santos AS, Sousa MC, Monteiro TSA. Gastos relacionados a hospitalizações de
idosos no Brasil: perspectivas de uma década. Einstein. 2013;11(4):514-20
27.
232
Heflin MT, Schmader KE, Sokol HN. Geriatriche health maintenance. UpToDate [Internet].
2011 [acesso em 2017 maio 20]. Disponível em: <www.uptodate.com/contents/geriatric-health- maintenance>.
Veras R. Envelhecimento populacional contemporâneo: demandas, desafios e inovações.
Revista de Saúde Pública 2009; 43(3):548-54.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
19
“
Invisibilidade e solidão: a figura
do homossexual idoso no Brasil
Marcos Rodrigo Oliveira
UFCG
Maria Helena Pereira de Oliveira Araújo
UFCG
Mônica Iser Silva
UFCG
Betânia Maria Oliveira de Amorim
UFCG
10.37885/201202362
RESUMO
No Brasil, o idoso está associado a estigmas, sendo considerado inútil para o ideário
produtivista impondo limitações, em especial na sexualidade, representando-o como
despido de desejo e estética. Para os que destoam do padrão heterossexual, o envelhecimento tende a ser agravado pelo preconceito, como para homossexuais idosos, que
sofrem “dupla estigmatização”. Assim, objetivou-se apresentar as particularidades dessa
população, a partir de uma pesquisa nas bases de dados nacionais pelos Palavras-chave:
velhice/envelhecimento/idoso e homossexualidade. Os dados apontam para invisibilidade
desse grupo, visto que o idoso homossexual ocupa um não-lugar que implica numa vida
solitária, com desamparo social e político. Os índices de depressão e outros transtornos
tendem a ser mais elevados. Portanto, julga-se necessária a construção de espaços
de acolhimento não-discriminatórios com apoio da psicologia para promover escuta e
ressignificar questões envolvendo o envelhecer dos homossexuais.
Palavras-chaves: Envelhecimento, Homossexualidade, Invisibilidade.
INTRODUÇÃO
O Brasil é um dos países com o maior número de idosos, tendo atualmente, segundo
dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados em 2019, cerca
de 28 milhões de pessoas idosas no país e estima-se que esse número duplique nas próximas décadas. Tal fato denota para a necessidade de construir novos olhares acerca de
sua disposição na sociedade.
A velhice é atravessada por diversos símbolos construídos a partir dos saberes dispostos em cada tempo. Historicamente, circulava na reflexão dos filósofos ora uma serena
aceitação das condições do sujeito envelhecido, ora um discurso permeado de tons melancólicos pelas restrições as quais acompanham o ser na velhice, sempre sendo submetidos
e encarcerados no porão do sistema social vigente.
Dessa maneira, nota-se que a velhice está envolta em diversas nuances que intensificam-se conforme o contexto social e psíquico em que o sujeito está inserido. No cenário
brasileiro, a figura da pessoa idosa está associada a estigmas, pois é considerada inútil para
os mecanismos produtivistas. Este discurso, perpassado pelo poder do tempo sob o modo
de ser e viver do sujeito, tende a impor limitações em sua vida, em especial no que tange a
sexualidade, colocando o idoso como despido de desejo e estética (SALGADO et al., 2017).
Tal fato ocorre, sobretudo, porque a velhice é compreendida a partir da ideia de finitude. Para
o caso dos sujeitos que questionam e destoam da narrativa heterossexual, colocada como
padrão a ser seguido, o envelhecimento tende a ser ainda mais limitado pelas barreiras do
preconceito, como é o caso dos homossexuais.
A homossexualidade, existente desde o Egito Antigo, sofre variações, do ponto de
vista de aceitação e respeito social, de acordo com a época e com o poder vigente, assim
como a velhice, também está envolta em questões complexas que se materializaram em
problemáticas sociais como julgamento, preconceito e exclusão. Embora existam diversos
avanços e conquistas de direitos, como a adoção por parte de casais homossexuais, ainda
há diversos estereótipos negativos disseminados através de discursos socialmente construídos, que colocam o homossexual em posição inferior e marginal. O preconceito ainda é
uma realidade, que de modo explícito ou implícito impulsiona e obriga o sujeito homossexual a lidar com questões difíceis como a violência verbal, moral e física. Sendo assim, o
homossexual idoso é submetido a um processo de “dupla estigmatização”: por um lado está
a velhice e sua percepção de vulnerabilidade e, por outro, a homossexualidade, interditada
pela homofobia (LEAL; MENDES, 2017; SALGADO et al., 2017).
A estigmatização sofrida pelo idoso homossexual é potencializada pela questão religiosa. Podemos observar que o Brasil, traçado e edificado a partir de conceitos e noções
religiosas, figura-se atualmente como um dos países que mais possuem casos de homofobia,
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
235
registrando-se a morte de, pelo menos, um homossexual por dia, de acordo com levantamento feito por entidades LGBTQ’s, no ano de 2019. O homossexual, de acordo com Araújo
e Carlos (2017), é o sujeito que sente atração e pode vir a desenvolver parceria afetiva e/ou
sexual com pessoas do mesmo sexo. Tal desejo ou posição provoca, muitas vezes, reações
negativas no Outro. É justamente no estranhamento, que a ideia deste artigo une o idoso
e o homossexual. Usa-se a nomenclatura homossexual para designar homens gays e mulheres lésbicas, propondo-se a pensar quais os lugares e singularidades de tal população
e quais as influências que a sociedade exerce nas diversas realidades experenciadas pelo
idoso homossexual.
OBJETIVO
Investigar na literatura as consequências provocadas pela intersecção velhice e homossexualidade na vida de homens gays e mulheres lésbicas, refletindo sobre suas realidades,
que, apesar de singulares, são atravessadas igualmente pelos preconceitos quanto a idade
e a orientação sexual.
MÉTODOS
Trata-se de uma pesquisa realizada através de um levantamento bibliográfico nas
bases de dados nacionais. Este tipo de pesquisa busca promover uma familiarização com
a temática trabalhada, nesse caso a experiência do idoso sexual na sociedade, oferecendo
informações para a realização de pesquisas subsequentes e pretendendo acrescentar conhecimento a partir de uma análise crítica do material encontrado.
Para alcançar o objetivo, foram utilizadas as bases de dados SciELO, Biblioteca Virtual
da Saúde (BVS), na qual utilizou-se um filtro para bases de dados nacionais presentes no
MEDLINE e no LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde),
entre outras bases de dados nacionais. Utilizou-se como palavras-chaves nas buscas os
descritores “velhice”, “envelhecimento”, “idoso” e “homossexualidade”. Não houveram critérios
de inclusão definidos pela intenção de realizar uma busca abrangente.
RESULTADOS
A partir do objetivo proposto, encontramos a maioria dos artigos com o escopo editorial
voltado para o preconceito sofrido pelos homossexuais idosos em decorrência da junção
idade e sexualidade. A noção de velhice é atravessada por normas que limitam, evidenciando
236
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
a privação de liberdade do idoso, que é deslocado para uma esfera obscura onde a ideia de
proximidade do fim dita o viver. A sexualidade segue uma lógica parecida.
Todavia, o preconceito neste caso adquire um viés proibitivo, de modo que pouco fala-se
sobre vida sexual de idosos homossexuais, além da parca representatividade nos meios de
comunicação e na mídia, que levam a crença da não existência de tais pessoas na sociedade.
Ao tratar sobre a homossexualidade da mulher idosa, percebemos maior dificuldade
para encontrar literatura voltada para o assunto, indicando negligência e desconsideração
para as necessidades específicas do gênero feminino. Ao se debruçar sobre o contexto de
silenciamento das vivências, encontra-se o descaso com a saúde e com políticas específicas
que viabilizem e valorizem os homossexuais idosos.
Tais registros provocam inconvenientes, empecilhos e afetam diretamente a saúde de
tais pessoas, gerando dificuldades ordem física, emocional e psicológica. A discriminação e
a estigmatização frente a existência do idoso homossexual também os insere em um lugar
de apagamento dos afetos, transformando a identidade e a singularidade de tais sujeitos
em mera condição estatística, impossibilitando o existir para ser.
DISCUSSÃO
O ser idoso
Inicialmente, entende-se o envelhecimento humano como sendo um processo biológico, natural e universal, uma etapa que compõe o contínuo processo de desenvolvimento
humano. Contudo, o marcador “velho” ou “velhice” não é um termo referente apenas a
dimensão da biologia, considerando que o ser humano é produtor e produto da sociedade
(SANTOS, 1994), é necessário pensar o envelhecimento como um processo histórico, social
e cultural, que abrange também a dimensão psicológica, uma vez que há uma consciência
e uma significação do que é ser idoso e do percurso inexorável até a morte (FREITAS;
QUEIROZ; SOUZA, 2010).
Encontram-se descrições da variabilidade cultural pelo qual perpassa o entendimento
sobre a velhice. Na cultura indígena brasileira, por exemplo, os idosos são considerados
grandes sábios, guardadores da tradição e dos ensinamentos passados de geração em
geração. Por outro lado, nas zonas urbanas e rurais brasileiras há uma valorização dos
corpos jovens, por sua força física e saúde, o que coloca os idosos em decadência, marcados pela “inutilidade” (SANTOS, 1994), representação coerente com o sistema capitalista
vigente, que considera a produção lucrativa como motor social e valoriza apenas os corpos
úteis para o capital (LEAL; MENDES, 2017; DANIEL; ANTUNES; AMARAL, 2015). Dessa
forma, os idosos parecem ocupar um não-lugar na sociedade, sendo retirados da posição
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
237
de sujeitos para serem submetidos a um assujeitamento aos quereres da população mais
jovem, processo evidente nos casos de institucionalização da pessoa idosa por familiares
(LEAL; MENDES, 2017).
Segundo o Estatuto do Idoso, instituído pelo Governo Federal brasileiro na tentativa
de proteger e respeitar a pessoa idosa, considera-se idoso as pessoas com idade igual ou
superior a 60 anos (BRASIL 2003), contudo é necessário ressaltar que esta é uma temporalidade subjetiva, pela qual nem todas as pessoas se consideram idosas nessa mesma
marcação cronológica (FREITAS; QUEIROZ; SOUZA, 2010). Na pesquisa de Santos (1994),
foi mostrado que os próprios idosos tem uma representação negativa de sua própria condição, percebendo a velhice como lugar de perda de respeito, perda de autonomia, desprezo
e solidão, fazendo-os negar seu tempo de vida com a marcação de “espírito jovem”, isto é,
utilizando uma dimensão imaterial para afirmar uma juventude biológica que já findou.
Além de que as representações sociais da velhice (DANIEL; ANTUNES; AMARAL,
2015) se contrapõem a essa visão respeitosa assegurada pela legislação, concretizando
uma realidade de marginalização e violência, como exposto em uma pesquisa da FIOCRUZ,
na qual foi evidenciado que 60% dos casos de violência contra pessoa idosa ocorrem nos
lares, sendo a maioria de natureza psicológica que pode levar ao suicídio (FIOCRUZ, 2019).
Destaca-se ainda o aumento nos casos de depressão devido ao isolamento, com agravamento para o período atípico atual da pandemia da COVID-19 (BROOKS et al., 2020).
Dessa maneira, entende-se o “ser idoso” como um sujeito perpassado pelo poder do
tempo, que transforma suas dimensões corporais, acompanhado das mudanças de ordem
histórica, social e cultural que, ao mesmo tempo, o acolhe como detentor de sabedoria e
merecedor de respeito, sobressalente na esfera teórica e jurídica, e o rejeita às margens sociais e à institucionalização pelo entendimento de desvalorização que o acompanha. Assim,
se trata de um sujeito estigmatizado e propenso a sofrer com a solidão, a negligência, a
violência e a rejeição.
Por fim, expõe-se que essa realidade se altera conforme idosos se situam fora do
modelo hegemônico social, sofrendo outros tipos de preconceitos e estigmatizações que
corroboram com sua situação preocupante dentro do cenário brasileiro, como é o caso das
pessoas negras, marcadas pelo racismo, pessoas com deficiência e, na esfera da sexualidade, idosos que destoam da narrativa heterossexual, como é o caso da homossexualidade
que apresentamos a seguir.
A construção histórica da homossexualidade
A noção de homossexualidade, assim como a maneira que a sociedade enxerga a velhice, modificou-se conforme o passar dos anos e as transformações dos saberes. A Grécia
238
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Antiga e o Egito possuem os primeiros registros históricos a respeito da homossexualidade.
Apesar da escassez de documentos sobre a época, é possível encontrar obras que inserem
as relações entre pessoas do mesmo sexo como tão comuns quanto relacionamentos e ou
práticas sexuais entre os sexos opostos.
No entanto, a entrada da Igreja Católica como instrumento determinante para os julgamentos morais e sociais representa, conforme demonstram Cabral e Romeiro (2011),
um plano de repressão sexual que tem a intenção de inibir e controlar as vivências sexuais,
reverberando nos sujeitos sentimentos como vergonha e medo. Assim, a sexualidade é mascarada e silenciada, tornando-se um tabu, colocando quem ousar fugir à norma em situação
de marginalidade. Os homossexuais são chamados, então, de invertidos. A criminalização da
homossexualidade pelo Cristianismo, deve-se também a necessidade de controlar as ações
resultantes na formação familiar. Tal lógica estava norteada enquanto coerente a partir da
defesa biológica de que pessoas do mesmo sexo não conseguem procriar, sendo esta uma
das bases para o relacionamento segundo os preceitos da religião cristã. O pensamento que
institui a homossexualidade como crime e pecado ganha novos desdobramentos conforme
os saberes vão sendo ampliados.
A partir de 1948, a Organização Mundial da Saúde (OMS) insere as práticas e vivências
homossexuais no CID (Classificação Internacional de Doenças), o que as levam a ser consideradas uma fuga ao padrão normal, um desvio sexual. Em 1965, como aponta Carneiro
(2015), o termo “homossexualismo” ganha força, haja vista a criação da subcategoria 302.0,
que determina a homossexualidade também como transtorno sexual. Apenas em 1991, a
OMS retirou a homossexualidade da categoria doença, deixando marcas de estigmatização
que perduram até os dias atuais.
Inegavelmente, há conquistas no reconhecimento de vários aspectos inerentes a causa
dos homossexuais. No Brasil, por exemplo, atualmente, existe a permissão para o casamento
entre pessoas do mesmo sexo. Apesar disso, a identidade homossexual é atravessada por
padrões e normas que colocam o referido grupo social em posição de marginalidade.
A homossexualidade na velhice
A construção histórica acerca da homossexualidade influencia sobremaneira os modos
de viver do homossexual atualmente. Embora algumas crenças não sejam mais aceitas, as
marcas do passado indicam os lugares ocupados por tais sujeitos na sociedade. O Brasil,
que possui, segundo pesquisa realizada pelo Datafolha em 2019, 50% da população católica,
apresenta traços de preconceito oriundos das ideias outrora disseminadas pelo cristianismo.
Hoje, apesar dos avanços, a Igreja Católica ainda considera a homossexualidade inadequada
e condena a união entre pessoas do mesmo sexo.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
239
Os estereótipos e preconceitos relativos aos homossexuais, tendem a se intensificar
quando se trata do idoso homossexual. As ausências normalmente comuns à velhice, como
solidão e abandono, ganham novos tons. As dificuldades impostas refletem, inclusive, na
literatura. Leal e Mendes (2017) apontam que pouco é sabido acerca da realidade do homossexual idoso, haja vista a escassa quantidade de produções que se debruçam sobre
esta temática. Este silenciamento, revela uma despreocupação da academia quanto aos
espaços ocupados, além de denotar um problema de saúde pública, visto que o não saber
sobre as especificidades representa a ignorância em relação a necessidades e desejos
intrínsecos a tal população.
A mentalidade preconceituosa e o descaso, de acordo com o Portal do Idoso, gera a
ineficácia dos serviços de saúde no tratamento de homossexuais idosos. Isto ocorre devido
a necessidade de conhecimentos específicos direcionados a este público, caracterizando
assim uma questão de irresponsabilidade das esferas políticas e públicas, que não se preocuparam em elaborar regras e leis contemplativas relacionadas as carências e demandas
dos idosos homossexuais. O silenciamento evoca também a dificuldade que o país tem
para respeitar a própria história, considerando que a velhice diz da passagem de tempo e
da historicidade da sociedade
Nas sociedades tradicionais, a figura do velho representava a sabedoria, a
paciência, e transmitia os valores da ancestralidade [...] quem, através da
evocação e da transmissão oral, construía uma narrativa com a qual se incorporava (fazia-se corpo) [...] o velho, então era um elemento na vida do jovem
que colaborava para sua ancoragem no registro do simbólico.... (GOLDFARB,
1998, p. 11).
Nota-se, aqui, a mudança quanto a compreensão que a sociedade possui em relação
a vida do idoso. Atualmente, o que se percebe é um novo tipo de pensamento centrado
no desejo de permanecer jovem, o que acarreta, como consequência, um desrespeito em
relação à velhice e as necessidades e desejos do idoso.
A negação do olhar para a velhice do homossexual aponta, também, para o medo que
costuma existir quando se trata de envelhecer. A recusa de se enxergar velho está ancorada no processo de formação do Eu. Goldfarb (1998) afirma que existe um ponto de fixação
narcísica que possibilita ao sujeito a crença no próprio ser, de modo que este irá trabalhar
para se manter sempre da mesma forma. A velhice, no entanto, provoca uma quebra em
tal estrutura, porque o corpo e a imagem que o sujeito tem sofrem transformações, que
modificam o olhar para si.
Deste modo, nota-se que o sujeito tende a fugir da velhice, devido a crença que perpetua quanto a ideia de que “não há mais o que viver”. No entanto, como afirmam Santos,
Araújo e Negreiros (2018), é necessário entender que o desenvolvimento humano vai além
240
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
da infância, adolescência e vida adulta, existindo a possibilidade de evolução, nos mais diversos sentidos, na velhice, a depender dos caminhos trilhados e dos desejos de cada idoso.
O desejo sexual se configura como uma realidade na vida do idoso. Contudo, a ideia
majoritária na sociedade acredita que devido a possíveis limitações fisiológicas, o idoso
perde a libido. Todavia, conforme Lemos (2015) pontua, o que ocorre, é uma readequação
do corpo, baseada numa alteração comum e estrutural do ser humano, que se modifica de
acordo com a passagem do tempo. A estigmatização em torno do idoso ocorre, como coloca
Mucida (2009), a partir das nomeações ofertadas pelo Outro. Conforme a linguagem se torna
excludente, o velho é inserido em um patamar de negação social, onde, segundo Goldfarb
(1998), este passa a viver as vontades e desejos impostos por aqueles que o cercam.
Evidencia-se, desta forma, que a sexualidade do idoso é reprimida por conta dos tabus
e preconceitos construídos pela sociedade, que colocam a velhice num patamar de finitude e
desilusão para com a vida, tornando a vivência do sujeito idoso, solitária e conflituosa. O entendimento preconceituoso que o país tem acerca da sexualidade do idoso e, principalmente,
quando este é homossexual, se faz presente, por exemplo, na mídia.
A telenovela Babilônia (Rede Globo, 2016), demonstra com precisão o modo que a sociedade enxerga o idoso homossexual. Isto porque a inserção de duas personagens lésbicas
e idosas na história, gerou revolta e reprovação por parte da maioria do público. Efraim (2016)
defende que a rejeição às personagens se deve à proximidade que a população brasileira
tem em relação à teledramaturgia. Isto é, a presença de idosos homossexuais aproximam as
pessoas de uma realidade que precisa, necessariamente, ser distante. O público se deparou,
no caso da novela, com duas situações “de fora”, ou seja, irreais: a homossexualidade e a
vida sexual de idosos.
Nos termos de Souza (2003), a velhice do outro, de alguma forma, se torna uma espécie de lembrança antecipada da própria velhice. Além disso, o contato com o ser idoso,
abala as estruturas fantasiosas defensivas que são construídas como uma muralha, sendo
contra a ideia de sua própria velhice, numa espécie de rejeição de sua condição. Dessa
forma, por trás da obsessiva necessidade de crer na juventude eterna e rejeitar a ideia de
velhice, vê-se um desejo inconsciente de à inexorável lei da natureza do tempo. Assim, a
rejeição as personagens idosas e homossexuais, classificam-se numa linha de pensamento
centrada no conservadorismo social brasileiro, que prega a ideia de beleza jovial eterna (e
inalcançável) e a noção de família centrada numa relação heteronormativa, que tenha o
homem como figura central.
Tais estereótipos reverberam em uma política de silenciamento das identidades do homossexual idoso. A novela Babilônia apresenta também a distinção existente no tratamento
para com a mulher lésbica. A figura da idosa homossexual defronta o público com um novo
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
241
lugar ocupado pela mulher, neste caso, independente do homem. Tondato (2017) afirma que
a exposição de duas mulheres idosas e lésbicas num programa de TV, levam a retirada do
papel considerado natural à mulher, demonstrando que a disparidade de gênero é comum
ao brasileiro, que se sente atacado ao presenciar tais figuras adentrando sua casa, ainda
que por meio de um produto televisivo. O espanto para com a sexualidade da mulher lésbica
idosa aponta para a crença permanente de que a mulher deve permanecer como subjugada
e dependente do homem. Assim, nota-se a dificuldade da sociedade para lidar, assimilar e
respeitar as novas posições ocupadas por homossexuais e mulheres na sociedade.
A invisibilidade dos sujeitos homossexuais perante a sociedade, acarreta uma dificuldade maior destes acessarem os serviços de saúde. Segundo Crenitte, Miguel e Filho (2018),
o medo de ser maltratado nos serviços de saúde, provoca a não busca pelo profissional de
saúde. A falta de confiança no Outro, portanto, coloca os (as) homossexuais idosos (as) em
uma esfera de solidão e abandono, que pode vir a provocar problemas de saúde físicos e
emocionais. A idosa homossexual, mais uma vez, é afetada pelo medo de sofrer retaliações
nos serviços de saúde. Deste modo, a realização de exames preventivos como a mamografia ou a coleta cérvico-vaginal, são significativamente menos realizadas por idosas lésbicas
quando comparadas a mulheres heterossexuais. (CRENITTE; MIGUEL; FILHO, 2018).
As atitudes dos idosos homossexuais frente a questões de preconceito, dizem muito
da maneira que tais experienciaram na juventude. Santos, Araújo e Negreiros (2018), afirmam que, por terem vivido a época da Ditadura Militar (1964) e o surgimento da AIDS, nos
anos 1980 (inicialmente ligada unicamente a homossexuais), por exemplo, os colocam em
situação de exclusão muitas vezes inconsciente. Isto numa tentativa de manter a própria
sexualidade em segredo ou o máximo possível distante dos olhos da sociedade. Tal fato
reverbera em um grande número de casais de homossexuais idosos que vivem a relação
em segredo em decorrência do medo de enfrentar, principalmente, as famílias que, como
já pontuado anteriormente, normalmente possuem crenças voltadas para pensamentos
conservadores, calcadas na religião.
Ressalta-se, ainda, que essa conjuntura evoca como possibilidade a supressão da
orientação sexual numa tentativa de obter uma melhor qualidade de vida, em outras palavras, muitos idosos se vêem impelidos a “voltar ao armário”, mesmo que isso signifique um
retrocesso e desrespeito consigo mesmo. A repressão e o ódio direcionados a homossexuais
idosos afetam a qualidade de vida e as relações destes em sociedade. A falta de suporte e
apoio configura-se como um dos maiores problemas no processo de envelhecimento. A negação do Outro, implica na não aceitação de si mesmo e gera a impossibilidade de ir e vir
sem amarras e/ou culpas.
242
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Desse modo, o homossexual idoso tende a viver a partir de limitações impostas por
discursos que inserem a velhice num patamar excludente e a homossexualidade em uma
esfera de rejeição, estranhamento e desprezo. Santos, Araújo e Negreiros (2018), defendem
que o acolhimento da família pode ser um fator positivo para o enfrentamento da velhice
do homossexual, visto que a rede de apoio, podendo esta vir a ser de pessoas que não
possuam o mesmo laço sanguíneo, possibilita ao sujeito a crença positiva de afeto que o
coloca numa seara de manifestações de cuidado e respeito, criando neste, inclusive, uma
autoimagem de aceitação e amor próprio.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A homossexualidade é um construto que perpassa diversas noções sócio-históricas
que implicam na imagem que o sujeito tem de si mesmo. A patologização e a ideia de pecado disseminada pela igreja, contribuem para a estereotipização das formas de vida que o
homossexual vivencia. A negligência por parte dos poderes públicos acarretam problemas
de saúde, que reverberam em péssimas condições de vida. O não-lugar do idoso homossexual no meio social provoca a visão negativa, isto é, a internalização da homofobia, que
motiva a vergonha e a repressão do homossexual para consigo mesmo. Culturalmente e
socialmente, o idoso homossexual é duplamente apagado, o que implica em um modo de
vida extremamente solitário, agravado pela invisibilidade destes sujeitos. Além disso, os
índices de depressão e outros transtornos mentais tendem a ser significativamente maiores
quando comparadas aos idosos heterossexuais.
As enunciações reproduzidas pelos discursos moldam o lugar do homossexual idoso, transformando-o num sujeito limitado com lacunas engendradas e postas por terceiros. Os discursos são representados por meio de signos preconceituosos e falas que diminuem a relevância do homossexual idoso. É comum ouvir expressões como “maricona” ou
frases que atrelam a posição homossexual da mulher a falta de homem. Tais evocações
são realizadas dentro do próprio meio gay, o que aponta o estranhamento que a figura do
idoso homossexual provoca.
A fuga à velhice e o desprezo em relação a homossexualidade tangenciam os espaços propostos ao idoso homossexual. O Brasil atual figura como um lugar propagador de
preconceitos e, especialmente, neutralizador das vivências de tais sujeitos. Espera-se que
os avanços em termos de respeito e dignidade prevaleçam e se sobressaiam as mesquinharias de um conservadorismo datado e vil. Portanto, julga-se necessária a construção de
espaços de acolhimento não-discriminatórios com apoio da psicologia para promover escuta
e ressignificação, que permitam a vivência livre da sexualidade e que possam (re)afirmar
a existência desse grupo, para que o amanhã seja um lugar mais doce e agradável com
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
243
possibilidades ao idoso homossexual, e a todos aqueles que estão em posição marginal,
de uma vida visível e de boas parcerias para essas velhices singulares que resistem aos
estigmas e preconceitos sociais e ocupam lugares na sociedade brasileira.
REFERÊNCIAS
1.
2.
3.
BRASIL. Lei n° 10.741, de 1º de outubro de 2003. Estatuto do Idoso. Brasília- DF, 2003. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm. Acesso em: 29 nov. 2020.
BROOKS, S. K., WEBSTER, R. K., SMITH, L. E., WOODLAND, L., WESSELEY, S., GREENBERG, N. & RUBIN, G. J. The psychological impact of quarantine and how to reduce it:
Rapid review of the evidence. Elsevier Public Health Emergency Collection, v. 395, n. 10227,
p. 912–920, 2020. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)30460-8.
4.
CABRAL, R. V.; ROMEIRO, A. E. Sobre sexualidade controlada: poder e repressão em
Michel Foucault. São Paulo: Educação Batatais, v. 13, n. 20. 2011.
5.
CARNEIRO, A. J. S. A morte da clínica: movimentação homossexual e luta pela despatologização da homossexualidade no Brasil (1978-1990). Florianópolis: XXVIII Simpósio Nacional de História, 2015. Disponível em: http://www.snh2015.anpuh.org/resources/
anais/39/1439866235_ARQUIVO_Artigo-Amortedaclinica.pdf. Acesso em: 29 nov. 2020.
6.
CRENITTE, M. R. F.; MIGUEL, D. F.; FILHO, W. J. Abordagem das particularidades da
velhice de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros. Geriatr Gerontol Aging. 2018. DOI:
10.5327/Z2447-21152019180005.
7.
8.
9.
10.
11.
244
ARAÚJO, L. F.; CARLOS, K. P. T. Sexualidade na velhice: um estudo sobre o envelhecimento LGBT. Psicologia, Conocimiento y Sociedad. 2018. Disponível em: http://www.scielo.
edu.uy/pdf/pcs/v8n1/1688-7026-pcs-8-01-188.pdf. Acesso em: 29 nov. 2020.
COUTO, E. S.; MEYER, D. E. Viver para ser velho: Cuidado de si, envelhecimento e juvenilização. Salvador, R. Faced, n. 19. 2011. DOI: 10.9771/2317-1219rf.v0i19.5518.
DANIEL, F.; ANTUNES, A.; AMARAL, I. Representações sociais da velhice. Lisboa: Aná.
Psicológica. v. 33 n. 3, 2015. http://dx.doi.org/10.14417/ap.972.
EFRAIM, A. Por que o brasileiro diferencia personagens gays em obras norte-americanas
e em novelas brasileiras. Estado de S. Paulo. 2016. Disponível em: https://emais.estadao.
com.br/noticias/comportamento,por-que-o-brasileiro-diferencia-personagens-gays-em-obras-norte-americanas-e-em-novelas-brasileiras,10000051607. Acesso em: 29 nov. 2020.
FIOCRUZ. Mais de 60% dos casos de violência contra a pessoa idosa ocorrem nos lares.
Brasília-DF, 2019. Disponível em: https://www.fiocruzbrasilia.fiocruz.br/mais-de-60-dos-casos-de-violencia-contra-a-pessoa-idosa-ocorrem-nos-lares/. Acesso em: 05 out. 2020.
FREITAS, M. C.; QUEIROZ, T. A.; SOUSA, J. A. V. O significado da velhice e da experiência
de envelhecer para os idosos. Rev. Esc. Enferm. USP, v. 44, n. 2, p. 407-12, 2010. Disponível
em: https://www.scielo.br/pdf/reeusp/v44n2/24.pdf. Acesso em: 29 nov. 2011.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
12.
13.
GOLDFARB, D. C. Corpo, Tempo e Envelhecimento. São Paulo: Editora do Psicólogo, 1998.
Disponível em: http://www.redpsicogerontologia.net/xxfiles/Livro%20em%20PDF.pdf. Acesso
em: 29 nov. 2020.
G1. 50% dos brasileiros são católicos, 31% evangélicos e 10% não têm religião, diz Datafolha. 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/01/13/50percent-dos-brasileiros-sao-catolicos-31percent-evangelicos-e-10percent-nao-tem-religiao-diz-datafolha.
ghtml. Acesso em: 29 nov. 2020.
14.
JORNAL DA USP. Em 2030, Brasil terá a quinta população mais idosa do mundo. 2019.
Disponível em: https://jornal.usp.br/atualidades/em-2030-brasil-tera-a-quinta-populacao-mais-idosa-do-mundo/#:~:text=Segundo%20dados%20do%20Minist%C3%A9rio%20da,entre%20
zero%20e%2014%20anos. Acesso em: 29 nov. 2020.
15.
LEAL, M. G. S.; MENDES, M. R. O. A geração duplamente silenciosa: velhice e homossexualidade. Revista Portal de Divulgação, n. 51, 2017. Disponível em: https://revistalongeviver.
com.br/index.php/revistaportal/article/viewFile/642/710. Acesso em: 29 nov. 2020.
16.
LEMOS, A. E. Homossexualidade e velhice: os processos de subjetividade da sexualidade
em homossexuais idosos. Araraquara – São Paulo, 2018. Disponível em: https://repositorio.
unesp.br/handle/11449/136072. Acesso em: 29 nov. 2020.
17.
18.
19.
20.
21.
22.
23.
MUCIDA, A. Escrita de uma memória que não se apaga: envelhecimento e velhice. Autêntica Editora, 2009.
MUCIDA, A.; PINTO, J. M. Sintomas de velhos? Rio de Janeiro: Cadernos de Psicanálise,
2014. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/cadpsi/v36n30/v36n30a03.pdf. Acesso em:
29 nov. 2020.
SALGADO, A. G. A. T.; ARAÚJO, L. F. SANTOS, J. V. O.; JESUS, L. A.; FONSECA, L. K. S.;
SAMPAIO, D. S. Velhice LGBT: uma análise das representações sociais entre idosos
brasileiros. Ciências Psicológicas, v. 11, n. 2, 2017. Disponível em: http://www.scielo.edu.
uy/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1688-42212017000200155&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt.
Acesso em: 29 nov. 2020.
SANTOS, J. V. O.; ARAÚJO, L. F.; NEGREIROS, F. Atitudes e estereótipos em relação a
velhice LGBT. Interdisciplinar, São Cristóvão, v. 29, 2018. Disponível em: https://seer.ufs.br/
index.php/interdisciplinar/article/view/9624/7457. Acesso em: 29 nov. 2020.
SANTOS, M. F. S. Velhice: uma questão psico-social. Temas psicol. v. 2, n. 2, 1994. Disponível
em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X1994000200013.
Acesso em: 29 nov. 2020.
SOUZA, J. L. C. Asilo para idosos: o lugar da face rejeitada. Belém: Trilhas. v. 04, n. 01,
2003.
TONDATO, M. P. “Eles querem acabar com a família”: o conservadorismo protagonizando
a atribuição de sentidos. Comunicação Midiática, v. 7, n. 3, 2017.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
245
20
“
O desafio da sarcopenia e
obesidade sarcopênica no
processo de envelhecimento
Izadora Silveira Fernandes
Laís de Lima Bride
UFES
UFES
Valdemir Pereira de Sousa
Flavia de Paula
UFES
UFES
Karoliny Gomes Quirino
Flávia Imbroisi Valle Errera
UFES
UFES
10.37885/201101951
RESUMO
O envelhecimento é um processo do desenvolvimento humano associado à diversas
alterações, incluindo a mudança da composição corporal, a qual leva à perda de massa
magra e da função do músculo esquelético de forma progressiva. Esta atrofia foi denominada sarcopenia e consiste em um distúrbio do equilíbrio entre a síntese e a destruição
de proteínas musculares que pode causar incapacidade e dificuldades funcionais. O tema
foi explorado por meio de uma revisão narrativa. Serão abordados os subtemas: mecanismos de desenvolvimento, bases genéticas e fatores associados, obesidade sarcopênica,
diagnóstico, prevenção e tratamento. Uma vez que muitos idosos relatam dependência e
perda de autonomia, a criação e melhoria das políticas voltadas para o acompanhamento
médico e atenção à nutrição e prática de atividades físicas regulares para promover o
bem-estar físico e psicossocial são indispensáveis. Considerando a relevância do tema,
a falta de consenso em relação ao diagnóstico e a escassez de tratamentos, essas condições tornam-se desafios emergentes para um envelhecimento com qualidade de vida.
Palavras-chave: Envelhecimento, Sarcopenia, Obesidade Sarcopênica, Saúde.
INTRODUÇÃO
O número de pessoas com 60 anos ou mais aumentou substancialmente nos últimos
anos em diversos países. Isto decorre do avanço tecnológico que propicia melhor qualidade de vida e aumento da longevidade. Em 2018, pela primeira vez, o número de pessoas
com 65 anos ou mais superou o de crianças com menos de cinco anos de idade em todo
o mundo (UNITED NATIONS, 2019). De acordo com relatório World Population Prospects
2019, entre 2019 e 2050, o número de pessoas com idade igual ou superior a 65 anos
deve mais do que dobrar globalmente com previsão de alcançar 1,5 bilhões de pessoas
(UNITED NATIONS, 2019).
No Brasil, a população de idosos teve um aumento de 7,3 milhões entre 1980 e 2000,
resultando em mais de 14,5 milhões de idosos em 2000 (WORLD HEALTH ORGANIZATION
- WHO, 2005). A população brasileira manteve seu crescimento em número de idosos ultrapassando 30,2 milhões em 2017, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2018).
Estima-se que em 2025 haverá um aumento de mais de 33 milhões de idosos, dado
que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), posiciona o Brasil como o sexto país
no ranking de idosos. Essa expectativa resulta também da redução nas taxas de fertilidade
e do aumento da expectativa de vida nas últimas décadas. Em 2005, 70 países já demonstravam um índice de fertilidade menor que o de reposição, o que colabora ainda mais para
uma pirâmide etária com um maior número de idosos (PARAHYBA; SIMÕES, 2006; WHO,
2005). Para que a população de idosos aumente sem prejuízos socioeconômicos e à saúde
são necessárias medidas para a manutenção da saúde.
Segundo a OMS (2005), o envelhecimento saudável é um processo de desenvolvimento
e manutenção da capacidade funcional, que envolve aspectos físicos e mentais. Além disso,
o bem-estar é composto de vertentes que incluem relações sociais, sentimentos e desejos
(NERI; VIEIRA, 2013; WHO, 2005). Ainda nesse contexto, Neri e Vieira (2013) ressaltam
que para a melhor qualidade de vida e diminuição do índice de mortalidade é necessário
pensar nas condições socioeconômicas, principalmente no que se refere aos países emergentes como o Brasil, hábitos saudáveis como dieta adequada e prática de atividade física.
Dessa forma, a Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) do Brasil tem foco nos
desafios acerca dos hábitos destes indivíduos utilizando orientações em grupos e consultas
médicas como canal para conscientização (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018). Esta política
colabora para que os idosos adotem medidas de autocuidado e auto responsabilidade no
que tange a saúde, incluindo consultas médicas de rotina, exames e vacinação (KARLINSKI;
FRASSETTO, 2013; VALER et al., 2015).
248
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Karlinski e Frassetto (2013) observam que muitos idosos relatam comprometimento
funcional, dependência e solidão. Por essa razão, pensar em alternativas para melhor convivência durante o processo de envelhecimento proporciona a independência destes indivíduos.
Desta forma, compreender este processo social, vital e multifacetado é imprescindível aos
profissionais da saúde, governo e os indivíduos em questão.
O envelhecimento é um processo multifatorial, definido como uma alteração do desenvolvimento e está associado a alterações da composição corporal. Esse processo é
caracterizado principalmente pela perda da massa magra e da função do músculo esquelético que impacta na incapacidade ou mortalidade. Esta atrofia interfere nos resultados de
força muscular, sendo denominada sarcopenia por Irwin Rosenberg em 1997. Esse termo
descreve, em síntese, um declínio prevalente na massa muscular, força e função associado
à idade (LEXELL; TAYLOR; SJOSTROM, 1988; ROSENBERG, 1997).
De forma geral, a sarcopenia consiste de um distúrbio do equilíbrio entre a síntese e
destruição de proteínas musculares. Sua prevalência varia de 3% a 24% dependendo dos
critérios diagnósticos utilizados e aumenta com o decorrer da idade (BAKER; VON FELDT;
MOSTOUFI-MOAB, 2014), com valores médios em torno de 10% em homens e mulheres
(SHAFIEE et al., 2017). Além disso, estudos epidemiológicos indicaram que o envelhecimento muscular está associado a várias doenças degenerativas, como osteoporose, diabetes
tipo II e câncer (PRADO et al., 2016; SAYER et al. 2005).
A sarcopenia pode acarretar diversas consequências, pois atua na diminuição da força,
potência e resistência muscular. Dessa forma, atua na redução da velocidade de movimento e
reflexos. Como principal impacto encontra-se o aumento da ocorrência de quedas e a menor
produtividade nas tarefas diárias em razão da diminuição da força. Verifica-se que 5% das
quedas resultam em fraturas e 5 a 10% causam ferimentos que exigem auxílio médico. Para
evitar este quadro é necessário um acompanhamento e avaliação da capacidade funcional
(RUIZ et al., 2008; WOLFE, 2006).
A falta de vitamina D e proteínas, o tabagismo e alcoolismo tornam este quadro mais
presente (MARTINEZ; CAMELIER; CAMELIER, 2014; SANTOS; ANDRADE;
BUENO, 2009; TEIXEIRA; FILIPPIN; XAVIER, 2012). Também existem modificações estruturais que se relacionam ao processo de envelhecimento, dentre elas a degeneração dos processos homeostáticos, perda de equilíbrio e audição (GOLL et al., 2003;
PAULA et al., 2016).
A sarcopenia apresenta-se como um desafio, uma vez que não há consenso em relação
aos métodos de diagnóstico. Além disso, os mecanismos moleculares de desenvolvimento
e as bases genéticas ainda estão sendo elucidados, bem como as inovações no tratamento
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
249
envolvem fatores éticos ou limitação de produção. Neste sentido, o objetivo deste capítulo
é apresentar uma atualização acerca da sarcopenia e obesidade sarcopênica.
METODOLOGIA
Uma revisão narrativa foi realizada com ampla análise de publicações para caracterizar
o tema e apresentar seu desenvolvimento (BERNARDO; NOBRE; JATENA, 2004). Foram utilizados artigos sobre sarcopenia e obesidade sarcopênica, assim como aspectos associados
a esta condição dentre eles etnia, sexo, faixa etária, bases genéticas, tratamento e impactos sociais. Os artigos foram obtidos das bases de dados PubMed, Scielo e ScienceDirect
através dos seguintes descritores de busca: “sarcopenia AND obesity”, “sarcopenia AND
diagnosis OR management”, “sarcopenia AND age”, “sarcopenia AND ethnicity”, “sarcopenia AND mortality”, “sarcopenia AND genes”, “sarcopenia AND quality of life OR health” e
“sarcopenia AND treatment”.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
MECANISMOS DE DESENVOLVIMENTO, BASES GENÉTICAS E FATORES ASSOCIADOS
Estudos epidemiológicos apontam que a perda de neurônios motores, dieta inadequada e baixo índice de atividade física regular atuam no desenvolvimento da sarcopenia.
Entretanto, estas características também podem ser encontradas em indivíduos saudáveis,
resultando em um aumento da perda de massa muscular ao longo dos anos (ALWAY;
MOHAMED; MYERS, 2017; LEXELL; TAYLOR; SJOSTROM, 1988).
O músculo é o maior órgão do corpo, sendo composto por miócitos contráteis que
funcionam por meio de neurotransmissores como acetilcolina e dopamina. Conforme o
envelhecimento progride, ocorre uma disfunção mitocondrial devido a diminuição da enzima antioxidante aumentando a ativação de vias de apoptose e reduzindo a regeneração
muscular. Ainda, este processo leva a perda de neurônios motores, que atuam na atrofia
muscular e na perda de força (ALWAY; MOHAMED; MYERS, 2017; LEXELL; TAYLOR;
SJOSTROM, 1988).
O músculo esquelético é responsável por alta porcentagem da massa corporal e é
afetado conforme ocorre a perda de massa muscular. Ele é importante pois capta a glicose circulante e libera aminoácidos. A massa muscular esquelética, o número e o tamanho
das fibras são variáveis. A diminuição da quantidade e atrofia de fibras é a principal causa
desta desordem de desenvolvimento e, no decorrer dos anos, as fibras de contração rápida
250
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
e lenta diminuem em quantidade e tamanho, gerando menor velocidade de movimento do
idoso (BRUNNER et al., 2007).
É importante ressaltar que esta condição pode decorrer de uma contração muscular
inadequada e isto pode acontecer por alterações nas proteínas que atuam na contração
muscular, actina e miosina, ou por estresse oxidativo nas células. Já o início da progressão da
sarcopenia, pode estar ligado a perda de miócitos via apoptose, o que ocorre mais facilmente
em fibras tipo II. A perda de massa muscular envolve processos bioquímicos como cascatas
de sinalização intracelular para apoptose, o aumento da degradação proteica e a redução da
ativação das células-satélite que colaboram para a regeneração muscular. A relação deste
processo e da sarcopenia, pode ser observada a partir de um modelo de inervação muscular em camundongos, pois, após evidências de apoptose, observou-se sintomas iniciais da
atrofia muscular (BRUUSGAARD; GUNDERSEN, 2008).
Estudos mostram que marcadores inflamatórios influenciam na quantidade, qualidade e
funcionalidade muscular. A inflamação ocorre devido a diminuição das concentrações séricas
de hormônios como a testosterona, hormônio do crescimento (GH), insulina e nome fator de
crescimento semelhante à insulina 1 (IGF-1). Estes fatores atuam no catabolismo muscular
e ocorrem naturalmente conforme o envelhecimento. A queda do GH e IGF-1 culmina em
um déficit de células satélites e da síntese proteica (KIM et al., 2014). Embora a sinalização
inflamatória tenha sido implicada na patogênese da sarcopenia em animais, poucos estudos
investigaram a associação entre fatores circulantes e massa muscular, especialmente em
pacientes antes e depois de intervenções no estilo de vida (LI, 2019). Ademais, o sono é
um fator importante para um metabolismo eficaz de proteínas musculares, pois a redução
da qualidade do ritmo circadiano desencadeia a redução neuromuscular, a modificação da
composição corporal e a resistência à insulina (MARGUTTI; SCHUCH; SCHWANKE, 2017).
Outro mecanismo que desencadeia a sarcopenia está relacionado à irisina, peptídeo
produzido pelos miócitos durante o exercício físico. É possível, portanto, controlar o ganho
de gordura ao induzir uma resposta de escurecimento na gordura branca, determinando um
aumento da termogenina (UCP1) e do gasto de energia. Assim, estimula-se a diferenciação
e o crescimento de miócitos, determinando a expressão de níveis elevados de IGF-1, e diminui-se os níveis de miostatina, por meio de uma via extracelular regulada por proteínas
quinases dependentes (COLAIANNI et al., 2017). Assim, a redução da atividade física com
o envelhecimento pode determinar um declínio na produção de irisina pelo músculo, o que
leva ao aumento da massa gorda e, consequentemente, à obesidade sarcopênica (ZAMBONI;
RUBELE; ROSSI, 2019a).
A diminuição da massa muscular está relacionada a perda de força, por isso foram
propostos estudos para constatar a possível herdabilidade da força, ou seja, o quanto da
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
251
força observada se deve aos genes. Assim, ao avaliar a força do cotovelo, preensão palmar
e extensão de joelho, a herdabilidade foi estimada em 56, 66 e 61%, respectivamente, o
que demonstra um valor expressivo da contribuição genética. (SILVENTOINEN et al., 2008).
Para avaliar a expressão de genes na sarcopenia, são utilizados modelos animais. Desta
forma nota-se que modelos de atrofia demonstram uma maior expressão gênica de Fbxo32
e Trim63, genes que fazem parte da via do proteassomo/ubiquitina, a qual é responsável
por degradar proteínas. Entretanto, não foi possível confirmar estes achados em humanos,
possivelmente devido à dificuldade de replicar os mecanismos complexos e fatores específicos da doença que envolvem o músculo esquelético humano. Desta forma, são necessárias
pesquisas que utilizem amostras de tecido humano para esclarecer as vias de sinalização
que culminam na diminuição percentual de músculo esquelético e assim encontrar possível
alvos terapêuticos (EHMSEN; HÖKE, 2020).
A técnica mais utilizada para o estudo de genes e massa muscular é denominada microarranjo de DNA, por contribui para a identificação de mudanças moleculares [*] e pode
ser utilizada para estudar o impacto do envelhecimento da massa muscular e identificar os
mecanismos moleculares da sarcopenia. Entretanto, os diferentes métodos de análise podem
impedir a comparação entre diferentes estudos.
A relação entre células musculares e adaptações provenientes do exercício está sendo
estudada atualmente e isso permite que os mecanismos relacionados a condições clínicas
que afetam o metabolismo muscular ou sua funcionalidade sejam compreendidos. Por isso
o transcriptoma, ou seja, o conjunto de transcritos de RNA expressos do genoma, de Vissing
e Schjerling (2014) elucida sobre a indução e repressão de genes ligados à hipertrofia muscular IGF1, PPARGC1A, BMPR1A, ASB15, CAST, KLF10 e AGTR1. Nesse estudo foram
coletadas amostras pré e pós treinamento e após a coleta foram iniciados os treinos três
vezes na semana, incluindo ciclismo e exercícios para as pernas. A ideia era promover o
ganho de massa muscular e analisar a expressão dos genes conforme sua modificação
pós-treino. A partir desta análise, foi observado que a expressão é alterada em cerca de
10% após exercícios de resistência.
A síntese de proteínas musculares, que se relaciona intensamente com o desenvolvimento da sarcopenia, está ligada a vias de sinalização como a IGF1-PI3K-AKt, que colabora
para a hipertrofia do músculo esquelético ao mTOR, que por sua vez, depende da alimentação. Isto é relevante pois pode ser utilizado enquanto alvo terapêutico em estudos futuros
(EGERMAN; GLASS, 2014).
Com relação ao acúmulo de gordura, o grande fluxo de lipídeos regula os receptores
ativados por proliferadores de peroxissoma (PPAR), ocasionando disfunção mitocondrial e a
ativação de P53, uma proteína supressora de tumor codificada pelo gene TP53, cujo aumento
252
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
de sua concentração a longo prazo desenvolve a atrofia do músculo esquelético em pessoas
idosas. Por este motivo, também são considerados genes relacionados ao armazenamento
de lipídeos: NTRK1, CUL3 e TP53. Estes genes são altamente expressos em mulheres
mais velhas e por isso podem estar relacionados a massa muscular envelhecida. Desses, o
TP53 foi o que apresentou maior relação com o desenvolvimento da sarcopenia, visto que
é um regulador do ciclo celular e apoptose e, por isso, está envolvido no envelhecimento
muscular (CONTE et al., 2013; SHAFIEE et al., 2018; WANG et al., 2009).
Polimorfismos de único nucleotídeo (SNP) em diferentes genes podem modular a
longevidade e a saúde muscular, inclusive a sarcopenia. Um estudo que envolve o SNP
rs7903146 do gene TCF7L2 observou que as frequências genotípicas variam de acordo
com a diminuição da saúde/longevidade e o aumento gravidade da diabetes tipo 2, de modo
que o genótipo TT foi menos frequente em idosos centenários e mais frequente em sujeitos
com diabetes e com complicações vasculares. No que se refere à composição corporal, o
alelo T tem sido associado a maior risco para diabetes tipo 2 em menor IMC, enquanto que o
alelo C é relacionado com status de obesidade e traços associados (GIULIANI et al., 2017).
O Estudo Longitudinal do Envelhecimento testou os efeitos da adiponectina (AdipoQ)
na massa muscular e o seu risco para sarcopenia. A AdipoQ sérica foi significativamente
maior na sarcopenia em comparação com indivíduos normais e diferiu para alguns genótipos
do SNP rs3865188 (SHIMOKATA, 2017). Apesar desses exemplos, estudos adicionais são
indispensáveis para a compreensão das bases genéticas da sarcopenia.
Fatores como etnia, sexo e idade também influenciam na ocorrência da doença, o que é
demonstrado por Obisesan, Aliyu e Rotimi (2005) ao ressaltar a queda exponencial do índice
de massa livre de gordura (IMLG) e IMC conforme o avanço da idade, o que foi evidenciado em ambos os sexos. Homens brancos e negros atingiram o pico de IMLG por volta dos
51-54 anos, enquanto as mulheres entre 55 e 59 anos. Goodpaster e colaboradores (2006)
também demonstraram que a perda de massa muscular magra em homens é maior do que
em mulheres da mesma etnia e que os idosos negros perderam proporcionalmente mais
força que os brancos, apesar de sua menor perda muscular. Silva e colaboradores (2010)
corroboram ao ressaltar que a etnia, idade e sexo estão relacionados à qualidade muscular
e composição corporal. Os negros de ambos os sexos apresentam uma melhor qualidade
muscular até os 80 anos quando comparada às demais etnias. Todavia, homens negros
e brancos apresentam um declínio significativo de massa muscular a partir dos 60 anos,
representado o dobro da perda de mulheres da mesma faixa etária e etnia e em hispânicos
essa taxa atingiu até 4 vezes mais.
Janssen e colaboradores (2000) afirmam que em mulheres e homens de 18 a 29 anos,
a massa muscular compõe 6% e 4%, respectivamente, da massa corporal e que as mulheres,
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
253
em geral, possuem um menor (IME) em relação aos homens. Segundo Sinha – Hikim e colaboradores (2002) isso pode ser atribuído aos baixos níveis de testosterona, a qual promove
a hipertrofia muscular.
Pesquisas apontam que a força muscular está em seu auge aos 30 anos de idade e a
perda varia de 1 a 2% por ano a partir desta faixa etária, em homens e mulheres, sendo que
grande parte é mantida até os 50 anos (LIMA et al., 2016; STENHOLM; ALLEY; FERRUCCI,
2009). Após os 50 anos de idade, a perda de força pode ser afetada em 20 e 40% de seu
total inicial e a taxa de diminuição de massa muscular atinge entre 8% a 15% por década.
Esta diminuição é maior após os 60 anos, e idosos com mais de 90 anos têm esta taxa em
torno de 50% (STENHOLM; ALLEY; FERRUCCI, 2009).
Recentemente, Du e colaboradores analisaram um grupo de 4367 voluntários americanos entre 18 e 65 anos, sendo 2458 pessoas maiores de 65 anos, com o objetivo de calcular
a prevalência da sarcopenia e obesidade sarcopênica em diferentes grupos étnicos com o
avanço da idade. A pesquisa observou uma associação entre o tecido muscular esquelético
e a idade de forma semelhante até os 27 anos em diversas etnias e sexo. Após este período,
os homens apresentam maior queda de qualidade muscular, embora o sexo masculino possua maior massa muscular absoluta. Observou-se ainda que após os 27 anos os indivíduos
brancos sofrem uma maior perda de massa muscular, demonstrando uma relação entre a
etnia, idade e a sarcopenia. Além disso, a prevalência foi maior em indivíduos brancos do
que em negros, atingindo quase o dobro da probabilidade (DU et al., 2018).
Em síntese, a sarcopenia é mais frequente em indivíduos brancos, já que a perda
muscular e de força é mais presente e a perda muscular progride mais rapidamente em
homens após os 60 anos se comparados a mulheres. No entanto, nesta faixa etária a perda
é significativa em ambos os sexos.
OBESIDADE SARCOPÊNICA
A sarcopenia também contribui para a perda de massa óssea e, em conjunto com a
obesidade, diminui ainda mais a mobilidade (MUELLER et al., 2016). Vários estudos indicam
que, quando a obesidade e o comprometimento muscular coexistem, eles atuam sinergicamente sobre o risco de mortalidade, agravamento da incapacidade, doenças cardiovasculares, DPOC e outras condições desfavoráveis à saúde (ZAMBONI; RUBELE; ROSSI,
2019b). Para determinar se existe relação entre a força muscular e mortalidade em função
da idade, foram analisados homens com idades maiores e menores a 60 anos em categorias que os classificavam por massa corporal e aptidão física. Além disso, foi examinada a
aptidão cardiorrespiratória e comparada cada combinação de fatores por indivíduo. Desta
254
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
forma, constatou-se que estes aspectos têm forte relação com riscos no dia-a-dia e, portanto,
mortalidade em geral (RUIZ et al., 2008).
No estudo Health and Nutrition Examination Survey - NHANES (1999–2004), Van Aller
(2019) demonstrou que a obesidade sarcopênica aumenta o risco de mortalidade em pessoas com idade entre 50-70 anos, mas não em pessoas com 70 anos ou mais. Resultados
semelhantes foram observados em outro estudo longitudinal do envelhecimento (HAMER;
O’DONOVAN, 2017). Cabe ressaltar que, mais recentemente, estudos que consideram
medidas de qualidade muscular, como força de preensão palmar (FPP), em vez de massa muscular, observaram uma relação forte entre obesidade sarcopênica e mortalidade
(ÖZTÜRK, 2018; ROSSI, 2017; SANADA et al., 2018).
A obesidade sarcopênica é muito comum em idosos, pois estes indivíduos possuem
maior desequilíbrio hormonal e desenvolvem resistência ao hormônio leptina, o que contribui para depositar gordura, principalmente na região abdominal (CHOI, 2016; ZAMBONI;
RUBELE; ROSSI, 2019b). Essa doença consiste na perda de massa magra com índice de
gordura preservado ou aumentado e ainda, pode estar dentro da normalidade do IMC dependendo do fenótipo (KALINKOVICH; LIVSHITS, 2017). A patogênese inclui envelhecimento,
inatividade física, desnutrição, inflamação de baixo grau, resistência à insulina e alterações
hormonais (WANG et al., 2020).
O acúmulo de gordura está relacionado a um processo inflamatório, onde há o acúmulo de macrófagos pró-inflamatórios, citocinas e quimiocinas inflamatórias, o que induz
uma disfunção mitocondrial e o aumento de espécies reativas de oxigênio culminando em
um ambiente lipotóxico, que desencadeia um quadro de resistência e catabolismo muscular
(CHOI, 2016; ZAMBONI; RUBELE; ROSSI, 2019b). A infiltração de gordura no músculo pode
representar uma sobrecarga na locomoção, reduzindo a qualidade muscular e o desempenho
físico (CRUZ-JENTOFT et al., 2010), ocasionando a infiltração de macrófagos e a liberação
de TNF-α, IL-6, IL-1 e adipocinas (NARICI; MAFFULLI, 2010).
Dados do NHANES revelam taxas de obesidade sarcopênica iguais a 12,6% em homens e 33,5% em mulheres (BATSIS et al., 2017). Com o rápido crescimento da população
idosa em todo o mundo, estimou-se que essa condição afetará de 100 a 200 milhões de
pessoas de 2016 a 2051 (LEE; SHOOK; BLAIR, 2016). Embora a obesidade sarcopênica
seja mais comum em pessoas mais velhas devido às mudanças naturais na composição
corporal, estima-se que pessoas mais jovens com obesidade classe II ou III também sejam
vulneráveis (WANG et al., 2020).
A definição de obesidade sarcopênica ainda está em discussão e cria dificuldades na
prática clínica (ZAMBONI; RUBELE; ROSSI, 2019a). A primeira definição foi proposta no início
de 2000 e enfatizou a incompatibilidade quantitativa entre músculo e massa gorda, ou seja, a
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
255
presença de baixa massa muscular absoluta ou relativa associada a IMC superior a 30 ou com
alta massa total ou percentual de gordura, conforme avaliação por absorciometria de raio-X
de dupla energia (DXA) ou análise de bioimpedância elétrica (BIA) (ZAMBONI et al., 2008).
Um estudo recente demonstrou que a obesidade sarcopênica pode estar associada ao
maior risco de deficiência mental e menor desempenho na cognição global, em comparação
com indivíduos com apenas obesidade ou sarcopenia (TOLEA; CHRISPHONTE; GALVIN,
2018). Embora o impacto da sarcopenia tenha sido bem demonstrado, o efeito da obesidade
sobre ela surge como um novo problema de saúde pública (KOLIAKI et al., 2019). Em comparação com a simples sarcopenia ou obesidade sozinha, as sequelas médicas relacionadas
à obesidade sarcopênica são muito maiores e, de certa forma, ainda não conhecidas na
totalidade, causando custos de saúde significativamente mais elevados (XIE et al., 2019) e
caracterizando um grande desafio contemporâneo.
Devido à relação entre a obesidade sarcopênica e as comorbidades já citadas, as células que atuam no armazenamento de gordura, os adipócitos, também possuem um papel
fundamental. Estas células regulam a temperatura corporal e a produção de diversas moléculas, além de estarem positivamente ligadas a incidência de inflamação, ou seja, quanto
maior o tamanho da célula, maior a secreção de adipocinas pró-inflamatórias. Portanto,
o ganho de peso pode determinar um aumento no tamanho da célula adiposa e, consequentemente, um desequilíbrio entre adipocinas pró e anti-inflamatórias. Além disso, com o
envelhecimento, as células adiposas também apresentam um perfil pró- inflamatório mais
elevado (CINTI; GIORDANO, 2020).
A AdipoQ é a única adipocina com ação anti-inflamatória e sensibilizadora de insulina.
Kalinkovich e Livshits (2017) destacam que a sarcopenia está ligada a menores concentrações de AdipoQ e maiores de proteína C reativa ultrassensível (PCR-us), outro importante
indicador de inflamação. Já o baixo desempenho físico está ligado a menores concentrações
citocinas inflamatórias como IL-10 e maiores de IL-6 e TNF-α. Segundo os autores, mulheres
e idosos com obesidade sarcopênica apresentam menores concentrações de AdipoQ, pois
esta adipocina é negativamente associada à massa muscular, devido à falta de controle do
fator nuclear kappa B (NF-Kb) (FANG; JUDD, 2018). Ainda, a AdipoQ teve uma correlação
negativa com a espessura do músculo anterior médio da coxa e o IME. Dessa forma, essa
molécula pode ser um bom marcador de sinalização ligado à inflamação, má nutrição e perda
muscular (SAWAGUCHI; NAKAJIMA; INOUE, 2019).
O metabolismo, a capacidade funcional, a concentração de cálcio e a capacidade regenerativa são fortemente induzidos pelo aumento da expressão da AdipoQ. Por outro lado,
indivíduos com obesidade e pré-diabetes possuem uma menor expressão. Estas variáveis
estão diretamente associadas à prática de atividade física, a qual melhora a sensibilidade
256
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
à insulina, a manutenção do músculo esquelético e a memória positiva na força muscular
contra a sarcopenia precoce (KRAUSE, 2019). Já os receptores da AdipoQ (ADIPOR1 e
2) auxiliam na regulação de processos metabólicos, incluindo o fluxo de glicose, resposta
à insulina e degradação de lipídios. Recentemente, a diminuição da ativação do o adipoR1
está associada à perda de massa óssea em camundongos e deficiência de estrogênio, sendo
um fator indutor de sarcopenia e resistência à insulina (CHINA, 2017).
Segundo Li e colaboradores (2019), algumas citocinas pró-inflamatórias estão associadas ao aparecimento de sarcopenia e suas graves mudanças nos idosos, as quais
são mais propensas ao sexo feminino. Os fatores de crescimento semelhantes a insulina
e AdipoQ foram significativamente mais baixos em pacientes com sarcopenia o TNF-α foi
correlacionado a um maior risco para o desenvolvimento da doença, sendo estimado entre
7 e 14 vezes maior.
Outro fator que atua na perda de massa muscular, principalmente com relação à caquexia é a interleucina-6 (IL -6), que é secretada por macrófagos e linfócitos e está associada
ao controle de respostas imunes. No músculo esquelético, três vias de sinalização intracelular
estão ligadas a esta citocina: JAK/STAT3, ERK e PI3K/Akt (CARSON; BALTGALVIS, 2010).
Entretanto, a ativação da via JAK/STAT3 já é suficiente para induzir a perda muscular, isto
porque a elevação de sua expressão está associada a lesões no tecido muscular, porém este
aumento pode ocorrer independentemente deste fator (BONETTO; AYDOGDU; ZIMMERS,
2012). Isto foi demonstrado no estudo de Wallenius e colaboradores (2002), onde ratos
deficientes em IL-6 desenvolveram obesidade e quando tratados por 18 dias com a IL-6
demonstraram rápida perda muscular.
DIAGNÓSTICO, PREVENÇÃO E TRATAMENTO
O diagnóstico geralmente é realizado por um clínico geral ou um geriatra e tem como objetivo estimar o volume muscular. Os métodos mais empregados para tal fim são: Tomografia
computadorizada, absorciometria radiológica de dupla energia, BIA, antropometria e ressonância magnética, sendo esta última menos usual devido ao alto custo.. Desta forma, é
possível avaliar a composição corporal e estimar a quantidade de gordura, massa magra e
taxas metabólicas com indivíduo. A sarcopenia possui uma frequência entre 3 a 30%, dependendo do instrumento utilizado. Com relação a medidas de prevenção, são estudados
métodos para evitar a progressão da perda de massa muscular (MARTINEZ; CAMELIER;
CAMELIER, 2014).
Embora a sarcopenia relacionada à idade seja considerada sarcopenia primária, vários
estados de doença, por exemplo, diabetes mellitus (LICCINI; MALMSTROM, 2016; MORLEY;
MALMSTROM, RODRIGUEZ-MAÑAS, 2014), hipogonadismo masculino (SHIN; YEON; KIM,
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
257
2018) e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) (MORLEY, 2011; VAN DE BOOL et al.,
2017) podem produzir sarcopenia secundária. O Escore Prognóstico de Glasgow (albumina
sérica baixa e proteína C reativa elevada) pode ser usado para distinguir sarcopenia secundária da caquexia, uma condição metabólica multifatorial que se caracteriza pela diminuição
da massa muscular com ou sem perda de massa gorda. A caquexia é comum em indivíduos
com doenças como câncer, DPOC e doença renal crônica (DRC) e pode estar associada
a fadiga, anorexia e ao aumento dos marcadores inflamatórios (DOUGLAS, MCMILLAN,
2014; PRADO et al., 2016; SAYER et al. 2005). No que se refere a doenças respiratórias, o
tabagismo está relacionado a este desenvolvimento, ocasionando o aumento da mortalidade
em indivíduos com baixa massa muscular (DENT et al., 2018).
O prejuízo decorrente desta condição fomentou o desenvolvimento de um método para
calcular o índice de sarcopenia relativa. Este cálculo engloba a massa muscular esquelética,
estimada por meio da análise de BIA, dividida pela massa corporal × 100, representando
assim a porcentagem de massa muscular sobre a massa corporal do indivíduo. Com base
neste cálculo, desenvolveu-se um modo de classificar a sarcopenia.
Sendo a sarcopenia classe I presente em indivíduos com resultado entre uma e dois
desvios-padrões dos valores de adultos jovens e a classe II em indivíduos com índice de músculo esquelético (IME) abaixo deste padrão. A identificação de sarcopenia utilizando somente
o índice de IME classifica a doença em três estágios: ausência de sarcopenia (IME≥6,76kg/
m²), sarcopenia moderada (IME 5,76 – 6,75kg/m²) e sarcopenia grave (IME≤5,75kg/m²).
Entretanto, esta classificação é pouco utilizada na prática clínica, sendo mais utilizada em
pesquisas (CRUZ-JENTOFT; SAYER, 2019; PAULA et al., 2016).
A correlação entre os resultados de exames e testes funcionais é mais eficaz para
realização da análise. Além disso, existem diferentes critérios que podem ser utilizados:
European Society of Clinical Nutrition and Metabolism (ESPEN) e Global Leadership
Initiative of Malnutrition (GLIM) (CEDERHOLM et al., 2015; LEONE et al., 2014; NETA et al.,
2018). O critério ESPEN propõe duas maneiras de diagnóstico da desnutrição: o índice de
massa corporal (IMC) abaixo de 18,5 kg/m² ou a avaliação da perda de peso não intencional
combinada a um baixo IMC considerando a idade, sendo considerado relevante um índice
menor que 20 kg/m² em menores de setenta anos e menor que 22 kg/m² em maiores que
esta faixa etária (CEDERHOLM et al., 2015). Já o critério GLIM, engloba um aspecto fenotípico e um etiológico. Dentre os fenotípicos são considerados: perda de peso involuntária,
quando acima de 4,5 kg, IMC, e diminuição da massa muscular. Quanto aos etiológicos,
são considerados: a menor assimilação de nutrientes ou perda de apetite, comorbidades
associadas e inflamação (CRUZ-JENTOFT; SAYER, 2019).
258
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Beaudart e colaboradores (2019) realizaram um estudo 534 participantes da Bélgica,
de moradia comunitária e com 65 anos ou mais. Estes foram recrutados a partir de anúncios
da imprensa com o objetivo foi avaliar uma possível relação entre desnutrição e a incidência
da sarcopenia. A doença foi confirmada a partir de baixa resistência e baixo índice de massa muscular. A desnutrição segundo o critério ESPEN estava presente em 19 indivíduos e
segundo critérios GLIM em 59. Os participantes com desnutrição apresentaram um risco
4 vezes maior para sarcopenia. No decorrer dos 4 anos novos casos de sarcopenia e de
sarcopenia grave foram relatados, destacando importância da análise muscular e funcional
para prevenir a doença.
É importante destacar que existem outros aspectos envolvidos, como comprometimentos adicionais na função muscular que têm relação com doenças crônicas, hospitalizações e
inatividade em geral. Dessa forma, os serviços de saúde precisam atuar no diagnóstico e na
diminuição dos fatores de risco, além de contribuir para o tratamento daqueles já acometidos por esse déficit (SANTOS; ANDRADE; BUENO, 2009; TAVARES et al., 2015; ZHONG;
CHEN; THOMPSON, 2007).
Apesar de ser um importante parâmetro, o índice de massa corporal (IMC)1não é a
melhor abordagem para o diagnóstico da sarcopenia, pois não diferencia massa magra e
massa gorda e a progressão da idade influi em doenças crônicas e, consequentemente,
perda de peso. Por isso, muitos autores afirmam que existe menor associação do IMC e
mortalidade em idosos do que em jovens. Entretanto, foi apontado um aumento linear no risco
de mortalidade em adultos e idosos com maior circunferência da cintura e relação cintura/
quadril, mesmo que estes estejam dentro da faixa exigida pelo IMC. Contudo, este cálculo
vem sendo utilizado enquanto indicador do estado nutricional e como análise de risco para
diversas doenças (LEONE et al., 2014; NETA et al., 2018).
O IMC está relacionado à massa corporal e altura, no entanto é necessário o resultado
deste cálculo e medidas ligadas à gordura corporal e massa muscular como densitometria,
BIA, pregas cutâneas e relação cintura/quadril (LEONE et al., 2014; NETA et al., 2018). Nas
mulheres, a correlação entre IMC e obesidade sarcopênica é mais forte do que nos homens,
em todas as faixas etárias, mas conforme a progressão do envelhecimento, esta diferença
diminui. No decorrer da vida, a porcentagem de gordura corporal é redistribuída ou sofre um
aumento de massa gorda, o que ocorre principalmente na região intra-abdominal e intramuscular. Esta mudança de conformação decorre conforme a diminuição da massa óssea,
muscular e da água, sendo acompanhada de outras mudanças (NAGAYA et al., 1999).
Outro desafio para a utilização deste cálculo em idosos é a medição da estatura, pois
é comum os indivíduos utilizarem cadeiras de rodas ou estarem acamados o que os impede
1
Esta classificação tem como objetivo estimar o estado nutricional. Desta forma, são adotados intervalos para determinar o estado
nutricional corporal. São eles: grau I - magreza leve (IMC 17,0-18,49kg/m2 ); grau II - magreza moderada (IMC 16,0-16,99kg/m2 ); grau
III - magreza intensa (IMC<16,0) (WHO, 1995).
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
259
de ficar de pé e muitas vezes resulta em medidas errôneas. Demais aspectos importantes
são: o maior índice de adiposidade presente em mulheres e doenças como escoliose e
osteoporose, que atuam na diminuição da estatura e do peso corpóreo (JACKSON et al.,
2002). Assim, Lipschitz (2015) propõe um modelo que considera estas questões usando os
seguintes pontos de corte para a classificação: desnutrição (IMC<22 kg/m²), eutrofia (IMC≥22
kg/m² e <27 kg/m²) e obesidade (IMC≥27 kg/m²), sendo considerados com sarcopenia os
indivíduos desnutridos ou com baixo índice de massa muscular, ainda que dentro dos critérios.
Para pacientes acamados são utilizadas medidas alternativas como altura do joelho,
comprimento do braço, circunferência da panturrilha, do braço e abdominal, pois grande parte
das instituições não detém potencial econômico para utilização de balanças para pesar o
paciente no leito, BIA e adipômetros (RABITO et al., 2006).
Além dos exames, podem ser utilizados testes funcionais para avaliar o nível de perda
muscular em consideração a idade, massa corporal, estatura, IMC, comorbidades, polimedicação, IME e testes específicos para uma análise com maior confiabilidade. Dentre os
testes avalia-se a FPP obtida na dinamometria manual e existe o Timed Up and Go (TUG),
que consiste no idoso sentando-se em uma cadeira de aproximadamente 46 centímetros e
levantando sem a ajuda dos braços, em seguida o paciente deve caminhar em uma linha reta
de 3 metros distância, girar, e retornar à cadeira. O tempo gasto é cronometrado e é utilizado
como parâmetro. Até 10 segundos o tempo é considerado normal, entre 11 e 20 segundos
é comum em idosos frágeis, mas é um valor médio. Entre 21 e 29 segundos, a avaliação
funcional é obrigatória para atuar na prevenção de quedas e 30 segundos ou mais demonstra
alta perda de funcionalidade e risco para quedas (NETA et al., 2018; PAULA et al., 2016).
Existe também o teste de Velocidade de Marcha (VM), em que o participante caminha
aproximadamente 10 metros em linha reta. O tempo dividido pela distância calcula a velocidade da marcha (m/s), se abaixo de 0,8 m/s é considerada sarcopenia grave. Estes testes
funcionais colaboram para a estimativa do fator de risco e diagnóstico (NETA et al., 2018;
PAULA et al., 2016). Além disso, muitos pesquisadores correlacionam estes dados à circunferência da cintura (CC) e relação cintura/quadril e estatura (LEONE et al., 2014). Os pontos
de corte da OMS classificam enquanto risco moderado mulheres com CC entre 80 cm e 88
cm e como alto taxa de risco ≥88 cm, já em homens, o risco moderado ocorre a partir dos
94 cm e a alta taxa de risco a partir de 102 cm (WHO, 1995). Ademais, a circunferência da
panturrilha também é comumente utilizada enquanto teste funcional e um valor inferior a 31
centímetros é utilizado para indicar diminuição de massa muscular. Por isso, medidas podem ser importantes para a avaliação de risco (GADELHA et al., 2014; PAULA et al., 2016).
Definições alternativas foram posteriormente propostas, usando área de gordura visceral ou circunferência da cintura em vez de IMC ou massa de gordura, juntamente com a
260
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
massa muscular total ou apendicular (ZAMBONI; RUBELE; ROSSI, 2019a). Recentemente,
foram propostas definições de obesidade sarcopênica que consideram o comprometimento
muscular, expresso pela força muscular, ao invés da massa muscular, associado à CC o que
levou à introdução do conceito de obesidade abdominal dinapênica (DAO), que é avaliada
em conjunto com o IMC ou exames específicos (ROSSI et al., 2017). O conceito de obesidade dinapênica é importante pois esta variável desencadeia limitação funcional e dificuldade
na mobilidade, bem como maior risco de óbito e quedas (BOUCHARD; JANSSEN, 2010;
SÉNÉCHAL; DIONNE; BROCHU, 2012)
Com base nas possíveis causas subjacentes da sarcopenia, ou seja, a desnutrição,
inflamação e falta de exercícios, foram realizados ensaios clínicos para avaliar o potencial
do uso de exercícios e suplementos para o ganho de massa e força muscular, manutenção
do cálcio e da vitamina D. Os resultados mostraram grande eficácia de exercícios aeróbicos
ou de resistência na diminuição dos sintomas e comorbidades associadas a sarcopenia,
o que decorre da mudança de perfil secretório e diminuição da expressão ou ativação de
citocinas inflamatórias e genes que atuam no desenvolvimento da doença. Além disso, o
tratamento também contribui para a melhora da sintomatologia de doenças cardiovasculares,
neurodegenerativas, pulmonares crônicas, câncer, diabetes e obesidade (LO et al., 2020).
Os exercícios atuam na diminuição das concentrações sistêmicas de citocinas inflamatórias que promovem o ganho de massa gorda, atrofia muscular ou resistência à insulina,
além de aumentar o débito cardíaco e o volume sanguíneo. Dessa forma, este hábito evita
a regulação positiva da apoptose e consequentemente o envelhecimento ou diminuição
da quantidade miócitos. Já a alimentação recomendada por especialistas, auxilia na hipertrofia muscular ou para evitar a perda de massa magra. Todos os fatores citados em
conjunto colaboram para a prevenção e tratamento da doença (PEDERSEN; SALTIN, 2015;
EGAN; ZIERATH, 2013).
Considerando os estudos recentes que destacam a importância da AdipoQ na sarcopenia, Krause (2019) prevê esta citocina como potencial terapêutico, uma vez que ela é
observada no desenvolvimento muscular, renovação protéica e regulação da sinalização
inflamatória, o que colabora para a o desenvolvimento de possíveis fármacos (KRAUSE,
2019). No entanto, ainda são necessários estudos com relação aos fatores associados à
sarcopenia, pois ela impacta diretamente o indivíduo de forma que estratégias de prevenção e tratamento colaboram para o bem-estar e independência do paciente (MARTINEZ;
CAMELIER; CAMELIER, 2014).
Além das abordagens tradicionais, estão em estudo protocolos utilizando células- tronco
adultas e embrionárias para regeneração muscular, bem como o secretoma, ou seja, o conjunto de moléculas secretadas por células, tecidos ou órgãos que contribuem para renovação
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
261
muscular, pois possuem componentes anti-inflamatórios, portanto, potencial de promover a
regeneração muscular continuada. Para diminuir a taxa de rejeição do tratamento os pacientes recebem aplicação de esteroides. Atualmente, a introdução dos fatores secretores tem
sido mais aceita do que a terapia celular, visto que pode permitir a regeneração do tecido
com menor rejeição e custo. Entretanto, este tipo de tratamento ainda é limitado pela ética
ou capacidade de produção (LO, et al., 2020).
CONCLUSÃO
Foi realizada uma atualização com relação à sarcopenia e obesidade sarcopênica,
doenças com alta prevalência na população idosa e que resultam da diminuição da massa
muscular. Esta doença está relacionada à perda de neurônios motores, dieta ineficiente,
baixo índice de atividade física e fatores genéticos. Com relação aos impactos, o principal
deles é a queda, que tem sua frequência aumentada e risco em função da perda de força
muscular e funcionalidade em geral.
A sarcopenia e a obesidade sarcopênica são desafios para a saúde pública, uma vez
que não há consenso em relação aos métodos de diagnóstico e envolve diversos parâmetros
como exames clínicos, sendo BIA e DXA os principais, IMC, além da CC, FPP, TUG e VM.
São mais comuns em brancos e progride mais rapidamente em homens após os 60 anos se
comparados a mulheres. No entanto, nesta faixa etária a perda é significativa em ambos os
sexos. Com o aumento da população idosa, a prevalência será cada vez maior. Portanto, o
conhecimento da gênese, prevenção e tratamento é necessário para a maior longevidade
e bem-estar da população.
A diminuição da massa muscular está relacionada a comorbidades como diabetes,
osteoporose, DPOC e doenças cardiovasculares, além de atuar como agravante no índice
de mortalidade. A obesidade sarcopênica mostra que esta condição não está restrita apenas aos indivíduos com baixo IMC, o que dificulta o diagnóstico, e o acúmulo de gordura
está relacionado a um processo inflamatório, resultando na resistência a hormônios como
a insulina. Dentre as principais citocinas que atuam no desenvolvimento da sarcopenia encontram-se a IL-10, IL-6 e TNF-α. Sendo que o baixo desempenho físico está relacionado
a menores concentrações de IL-10 e maiores de IL-6 e TNF-α.
Para prevenção e tratamento da doença, são recomendados exercícios, aeróbicos
ou de resistência, para o ganho de massa e força muscular, pois possibilitam a alteração
da expressão de genes relacionados à sarcopenia. É realizada a manutenção do cálcio e
da vitamina D e implementada uma dieta para a melhor absorção de nutrientes. Protocolos
de tratamento com células-tronco e com moléculas importantes para a função e renovação
muscular também se encontram em estudo. Nesse contexto, a proteína AdipoQ possui
262
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
um papel importante no metabolismo da glicose e ação anti-inflamatória, e sua utilização
enquanto fármaco está em estudo. Além disso, a abordagem terapêutica adequada deverá
seguir a tendência do cuidado centrado no paciente e da medicina personalizada. Por fim,
as Políticas públicas, conscientização da população idosa acerca do autocuidado e da autorresponsabilidade, consultas médicas de rotina e exames colaboram para uma vida com
maior autonomia e saúde.
REFERÊNCIAS
1.
2.
3.
ALWAY, S. E.; MOHAMED, J. S.; MYERS, M. J. Mitochondria Initiate and Regulate Sarcopenia.
Exercise and Sport Sciences Reviews, v. 45, n. 2, p. 58–69, abr. 2017.
BAKER, J. F.; VON FELDT, J.; MOSTOUFI-MOAB, S. Deficits in muscle mass, muscle density
and modified associations with fat in rheumatoid arthritis. Arthritis Care & Research, v. 66,
p. 1612–8, 2014.
BATSIS, J. A. et al. Low lean mass with and without obesity, and mortality: results from the
1999–2004 National Health and Nutrition Examination Survey. Journals of Gerontology Series
A: Biomedical Sciences and Medical Sciences, v. 72, n. 10, p. 1445–1451, 2017.
4.
BEAUDART, C. et al. Malnutrition as a strong predictor of the onset of sarcopenia. Nutrients,
v. 11, p. 1–13, 2019.
5.
BERNARDO, W. M.; NOBRE, M. R. C.; JATENA, F. B. A prática clínica baseada em evidências.
Parte II: buscando as evidências em fontes de informação. Revista da Associação Médica
Brasileira, v. 50, n. 1, p. 1–9, 2004.
6.
BONETTO, A.; AYDOGDU, T.; ZIMMERS, T. A. JAK / STAT3 pathway inhibition blocks skeletal
muscle wasting downstream of IL-6 and in experimental cancer cachexia. American Journal
of Physiology-Endocrinology and Metabolism, v. 3, n. 19, p. 1–10, 2012.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
BOUCHARD, D. R.; JANSSEN, I. Dynapenic-obesity and physical function in older adults. The
Journals of Gerontology Series A: Biological Sciences and Medical Sciences, v. 65, n.
1, p. 71–77, 2010.
BRUNNER, F. et al. Effects of aging on type II muscle fibers: A systematic review of the literature. Journal of Aging and Physical Activity, v. 15, n. 3, p. 336–348, 2007.
BRUUSGAARD, J. C.; GUNDERSEN, K. In vivo time-lapse microscopy reveals no loss of
murine myonuclei during weeks of muscle atrophy. Journal of Clinical Investigation, v. 118,
n. 4, p. 1450–1457, 2008.
CARSON, J. A.; BALTGALVIS, K. A. Interleukin 6 as a key regulator of muscle mass during
cachexia. Exercise and Sport Sciences Reviews, v. 38, n. 4, p. 168–176, 2010.
CEDERHOLM, T. et al. Diagnostic criteria for malnutrition - An ESPEN Consensus Statement.
Clinical Nutrition, v. 34, p. 335–340, 2015.
CINTI, S.; GIORDANO, A. The adipose organ. In: Longhi, S. et al. (Ed.). The First Outstanding 50 Years of “Università Politecnica delle Marche”. Cham: Springer, 2020. p. 167-183.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
263
13.
14.
CHOI, K. M. Review Article Sarcopenia and Sarcopenic Obesity. Korean Journal of Internal
Medicine, v. 31, n. 6, p. 86–89, 2016.
15.
COLAIANNI, G. et al. Irisin and musculoskeletal health. Annals of the New York Academy
of Sciences, v. 1402, n. 1, p. 5–9, 2017.
16.
CONTE, M. et al. Increased Plin2 Expression in Human Skeletal Muscle Is Associated with
Sarcopenia and Muscle Weakness. PLoS ONE, v. 8, n. 8, p. 1–10, 2013.
17.
18.
19.
20.
21.
22.
23.
CRUZ-JENTOFT, A. J. et al. Sarcopenia: European consensus on definition and diagnosis:
Report of the European Working Group on Sarcopenia in Older People. Age and Ageing, v.
39, n. 4, p. 412–423, 13 abr. 2010.
CRUZ-JENTOFT, A. J.; SAYER, A. A. Sarcopenia. Lancet, v. 393, p. 2636–2646, 2019.
DENT, E. et al. International Clinical Practice Guidelines for Sarcopenia (ICFSR): Screening,
Diagnosis and Management. The Journal of Nutrition, Health & Aging, v. 22, n. 10, p.
1148–1161, 22 nov. 2018.
DOUGLAS, E; MCMILLAN, D. C. Towards a simple objective framework for the investigation
and treatment of cancer cachexia: the Glasgow Prognostic Score. Cancer Treatment Reviews,
v. 40, n. 685, 2014.
DU, K. et al. Prevalence of Sarcopenia and Sarcopenic Obesity Vary with Race/Ethnicity and
Advancing Age. Diversity & Equality in Health and Care, v. 15, n. 4, p. 175–183, 2018.
EGAN, B.; ZIERATH, J. R. Exercise Metabolism and the Molecular Regulation of Skeletal
Muscle Adaptation. Cell Metabolism, v. 17, n. 2, p. 162–184, 2013.
EGERMAN, M. A.; GLASS, D. J. Signaling pathways controlling skeletal muscle mass. Critical
Reviews in Biochemistry and Molecular Biology, v. 49, n. 1, p. 59–68, 2014.
24.
EHMSEN, J. T.; HÖKE, A. Cellular and molecular features of neurogenic skeletal muscle atrophy. Experimental Neurology, v. 331, p. 113379, 2020.
25.
FANG, H.; JUDD, R. L. Adiponectin regulation and function. Comprehensive Physiology, v.
8, p. 1031–1063, 2018.
26.
GADELHA, A. B. et al. Associação entre força, sarcopenia e obesidade sarcopênica com o
desempenho funcional de idosas. Motricidade, v. 10, n. 3, p. 31–39, 2014.
27.
28.
29.
264
CHINA, S. P. et al. Globular adiponectin reverses osteo-sarcopenia and altered body composition in ovariectomized rats. Bone, v. 105, p. 75-86, 2017.
GIULIANI, C. et al. Centenarians as extreme phenotypes: An ecological perspective to get
insight into the relationship between the genetics of longevity and age-associated diseases.
Mechanisms of Ageing and Development, v. 165, p. 195–201, 2017.
GOLL, D. E. et al. The calpain system. Physiological Reviews, v. 83, n. 3, p. 731–801, 2003.
HAMER, M.; O’DONOVAN, G. Sarcopenic obesity, weight loss, and mortality: the English
Longitudinal Study of Ageing. The American Journal of Clinical Nutrition, v. 106, n. 1, p.
125–129, 2017.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
30.
31.
32.
33.
GOODPASTER, B. et al. The loss of skeletal muscle strength, mass, and quality in older adults:
the health, aging and body composition study. Journals of Gerontology Series A: Biological
and Medical Sciences, v. 61, n. 10, p. 919–23, 2006.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE - AGÊNCIA DE NOTÍCIAS.
Número de idosos cresce 18% em 5 anos e ultrapassa 30 milhões em 2017. 2018. Disponível em: <https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia- noticias/2012-agencia-de-noticias/
noticias/20980-numero-de-idosos-cresce-18-em-5- anos-e-ultrapassa-30-milhoes-em-2017>.
JACKSON, A. S. et al.The effect of sex, age and race on estimating percentage body fat from
body mass index: The Heritage Family Study. International Journal of Obesity, v. 26, n. 6,
p. 789–796, 2002.
JANSSEN, I. et al. Skeletal muscle mass and distribution in 468 men and women aged 18-88
yr. Journal of Applied Physiology, v. 89, n. 1, p. 81–88, 2000.
34.
KALINKOVICH, A.; LIVSHITS, G. Sarcopenic obesity or obese sarcopenia: A cross talk between
age-associated adipose tissue and skeletal muscle inflammation as a main mechanism of the
pathogenesis. Ageing Research Reviews, v. 35, p. 200–221, 2017.
35.
KARLINSKI, L. P. B; FRASSETTO, S. S. A percepção de idosas acerca das crenças de autoeficácia e envelhecimento saudável. Aletheia, n. 42, p. 51–61, 2013.
36.
KIM, J. K et al. Prevalence of and factors associated with sarcopenia in elderly patients with
end-stage renal disease. Clin Nutr, v. 33, n. 1, p. 64-68, 2014.
37.
38.
39.
KOLIAKI, C. et al. Sarcopenic Obesity: Epidemiologic Evidence, Pathophysiology, and Therapeutic Perspectives. Current Obesity Reports, v. 8, n. 4, p. 458–471, 2019.
KRAUSE, M. P; MILNE, K. J; HAWKE, T. J. Adiponectin—Consideration for its role in skeletal
muscle health. International Journal of Molecular Sciences, v. 20, n. 7, p. 1528, 2019.
LEE, D; SHOOK; R. P; BLAIR, S. N. Physical activity and sarcopenic obesity: definition, assessment, prevalence and mechanism. Future Science, v. 2, n. 3, 2016.
40.
LEONE, C. et al. Razão Cintura / Estatura: Marcador De Alteração Nutricional Em Pré- Escolares. Journal of Human Growth and Development, v. 24, n. 3, p. 289–294, 2014.
41.
LEXELL J, TAYLOR CC, SJOSTROM M. What is the cause of the ageing atrophy? Total number,
size and proportion of different fiber types studied in whole vastus lateralis muscle from 15- to
83-year-old men. Journal of the Neurological Sciences, v. 84, p. 275–94, 1988.
42.
LI, C; et al. Circulating factors associated with sarcopenia during ageing and after intensive lifestyle intervention. Journal of Cachexia, Sarcopenia and Muscle, v. 10, n. 3, p. 586-600, 2019.
43.
LICCINI, A; MALMSTROM, T. K. Frailty and sarcopenia as predictors of adverse health outcomes in persons with diabetes mellitus. Journal of the American Medical Directors Association, v. 17, p. 846–851, 2016.
44.
LIMA, A. R. S et al. Limiar de tolerância de dor à pressão, estilo de vida, força muscular e
capacidade funcional em idosas com sarcopenia. Acta Fisiátrica, v. 23, p. 73–77, 2016.
45.
LIPSCHITZ, D. A. Screening for nutritional status in the elderly. Primary Care, v. 21, n. 1, p.
55–67, 2015.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
265
266
46.
LO, J. H et al.. Sarcopenia: Current treatments and new regenerative therapeutic approaches.
Journal of Orthopaedic Translation, v. 23, p. 38–52, jul. 2020.
47.
MARGUTTI, K. M. M.; SCHUCH, N. J.; SCHWANKE, C. H. A. Inflammatory markers, sarcopenia and its diagnostic criteria among the elderly: a systematic review. Revista Brasileira de
Geriatria e Gerontologia, v. 20, n. 3, p. 444–456, 2017.
48.
MARTINEZ, B. P.; CAMELIER, R. F. W.; CAMELIER, A. A. Sarcopenia Em Idosos: Um Estudo
De Revisão. Revista Pesquisa em Fisioterapia, v. 4, n. 1, p. 5, 2014.
49.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Brasília -DF. 2018 Política Nacional de Promoção da Saúde
(PNPS). Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_promocao_saude.pdf>
50.
MORLEY, J. E. Should frailty be treated with testosterone? Aging Male, v. 14, p. 1–3, 2011
51.
MORLEY, J. E; MALMSTROM, T. K; RODRIGUEZ‐MAÑAS, S. A. J. Frailty, sarcopenia and
diabetes. Journal of the American Medical Directors, v. 15, p. 853– 859, 2014.
52.
MUELLER, T. C et al. Molecular pathways leading to loss of skeletal muscle mass in cancer
cachexia - can findings from animal models be translated to humans? BMC Cancer, v. 16, n.
1, p. 1–14, 2016.
53.
NAGAYA, T et al. Body mass index (weight/height2) or percentage body fat by bioelectrical
impedance analysis: Which variable better reflects serum lipid profile? International Journal
of Obesity, v. 23, n. 7, p. 771–774, 1999.
54.
NARICI, M. V.; MAFFULLI, N. Sarcopenia: Characteristics, mechanisms and functional significance. British Medical Bulletin, v. 95, n. 1, p. 139–159, 2010.
55.
NERI, A. L.; VIEIRA, L. A. M. Envolvimento social e suporte social percebido na velhice. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, v. 16, n. 3, p. 419–432, 2013.
56.
NETA, R. S et al. Sarcopenia, funcionalidade e estado nutricional em idosos residentes na
comunidade. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, v. 21, n. 3, p. 342– 351, 2018.
57.
OBISESAN, T. O; ALIYU, M. H; ROTIMI, C. N. Ethnic and age-related fat free mass loss in
older Americans: the Third National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES III).
BMC Public Health, v. 5, n. 41, 2005.
58.
ÖZTÜRK, Z. A. Health‐related quality of life and fall risk associated with age‐related body
composition changes; sarcopenia, obesity and sarcopenic obesity. Internal medicine journal,
v. 48, n. 8, p. 973–981, 2018.
59.
PARAHYBA, M. I.; SIMÕES, C. C. S. A prevalência de incapacidade funcional em idosos no
Brasil. Ciência e Saúde Coletiva, v. 11, n. 4, p. 967–974, 2006.
60.
PAULA, J. A et al. Análise de métodos para detectar sarcopenia em idosas independentes da
comunidade. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, v. 19, n. 2, p. 235–246, 2016.
61.
PEDERSEN, B. K.; SALTIN, B. Exercise as medicine - evidence for prescribing exercise as
therapy in 26 different chronic diseases. Scandinavian Journal of Medicine & Science in
Sports, v. 25, p. 1–72, 25 nov. 2015.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
62.
PRADO, C. M et al. M. Sarcopenia and cachexia in the era of obesity: clinical and nutritional
impact. Proc Nutr Soc. v. 75, n. 2, p. 188–98, 2016.
63.
RABITO, E. I et al. Weight and height prediction of immobilized patients. Revista de Nutricao,
v. 19, n. 6, p. 655–661, 2006.
64.
ROSENBERG, I. Symposium: sarcopenia: diagnosis and mechanisms. J Nutr. v. 127, n. 990S–
1S, 1997.
65.
ROSSI, A. P et al. Dynapenic abdominal obesity as a predictor of worsening disability, hospitalization, and mortality in older adults: results from the InCHIANTI study. Journals of Gerontology Series A: Biomedical Sciences and Medical Sciences, v. 72, n. 8, p. 1098–1104, 2017.
66.
RUIZ, J. R et al. Association between muscular strength and mortality in men: Prospective
cohort study. BMJ, v. 337, n. 7661, p. 92–95, 2008.
67.
SANADA, K et al. Association of sarcopenic obesity predicted by anthropometric measurements
and 24-y all-cause mortality in elderly men: The Kuakini Honolulu Heart Program. Nutrition,
v. 46, p. 97–102, 2018.
68.
SANTOS, F. H.; ANDRADE, V. M.; BUENO, O. F. A. Envelhecimento: Um processo multifatorial. Psicologia em Estudo, v. 14, n. 1, p. 3–10, 2009.
69.
SHIN, M. J; JEON, Y. K; KIM, I. J. Testosterone and sarcopenia. The World Journal of Men’s
Health, v. 36, p. 192–198, 2018.
70.
71.
72.
73.
SAWAGUCHI, T; NAKAJIMA, T; INOUE, T. Association of serum leptin and adiponectin concentrations with echocardiographic parameters and pathophysiological states in patients with
cardiovascular disease receiving cardiovascular surgery. PloS One, v. 14, n. 11, p. e0225008,
2019.
SAYER, A. A et al. Type 2 diabetes, muscle strength, and impaired physical function: the tip
of the iceberg? Diabetes Care. v. 28, n. 10, p. 2541–2, 2005.
SÉNÉCHAL, M; DIONNE, I. J; BROCHU, M. Dynapenic abdominal obesity and metabolic
risk factors in adults 50 years of age and older. Journal of Aging and Health, v. 24, n. 5, p.
812–826, 2012.
SHAFIEE, G et al. Prevalence of sarcopenia in the world: a systematic review and meta- analysis
of general population studies. PeerJ, v. 16, n. 21, 2018.
74.
SHIMOKATA, H; ANDO, F; OTSUKA, R. Longitudinal association between serum adiponectin
and sarcopenia in community-living population. Innovation in Aging, v. 1, n. Suppl 1, p. 1125,
2017.
75.
SILVA, A. M. et al. Ethnicity-related skeletal muscle differences across the lifespan. American
Journal of Human Biology, v. 22, n. 1, p. 76–82, 2010.
76.
SILVENTOINEN, K. et al. Heritability of body size and muscle strength in young adulthood:
A study of one million Swedish men. Genetic Epidemiology, v. 32, n. 4, p. 341–349, 2008.
77.
SINHA-HIKIM, I et al. Testosterone-induced increase in muscle size in healthy young men is
associated with muscle fiber hypertrophy. American Journal of Physiology - Endocrinology
and Metabolism, v. 283, n. 1 46-1, p. 154–164, 2002.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
267
78.
79.
TAVARES, E. L. et al. Avaliação nutricional de idosos: desafios da atualidade. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, v. 18, n. 3, p. 643–650, 2015.
80.
TEIXEIRA, V. DE O. N.; FILIPPIN, L. I.; XAVIER, R. M. Mecanismos de perda muscular da
sarcopenia. Revista Brasileira de Reumatologia, v. 52, n. 2, p. 252–259, 2012.
81.
TOLEA, M. I.; CHRISPHONTE, S.; GALVIN, J. E. Sarcopenic obesity and cogniive performance.
Clinical Interventions In Aging, v. 13, 2018.
82.
UNITED NATIONS (ST/ESA/SER.A/390) World Population Ageing, New York, 2019. Disponível em: <https://population.un.org/wpp/Publications/Files/WPP2019_Highlights.pdf>.
83.
VALER, D. B et al. The significance of healthy aging for older persons who participated in health
education groups. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, v. 18, n. 4, p. 809–819,
2015.
84.
VAN ALLER, C. Sarcopenic obesity and overall mortality: results from the application of novel
models of body composition phenotypes to the National Health and Nutrition Examination
Survey 1999–2004. Clinical Nutrition, v. 38, n. 1, p. 264–270, 2019.
85.
VAN DE BOOL, C et al. A randomized clinical trial investigating the efficacy of targeted nutrition
as adjunct to exercise training in COPD. J Cachexia Sarcopenia Muscle, v. 8, p. 748–758,
2017.
86.
VISSING, K.; SCHJERLING, P. Simplified data access on human skeletal muscle transcriptome
responses to differentiated exercise. Scientific Data, v. 1, p. 1–9, 2014.
87.
WALLENIUS, V et al.. Interleukin-6-deficient mice develop mature-onset obesity. Nat Med, v.
8, p. 75–79, 2002.
88.
WANG, M et al. Diabetes and Sarcopenic Obesity: Pathogenesis. Frontiers in Endocrinology,
v. 11, 2020.
89.
WANG, X et al. Over-expression of C/EBP-α induces apoptosis in cultured rat hepatic stellate
cells depending on p53 and peroxisome proliferator-activated receptor-γ. Biochemical and
Biophysical Research Communications, v. 380, n. 2, p. 286–291, 2009.
90.
91.
92.
93.
94.
268
STENHOLM, S; ALLEY, D; FERRUCCI, L. The effect of obesity combined with low muscle
strength on decline in mobility in older persons: results from the InCHIANTI Study. International
Journal of Obesity, v. 33, n. 6, p. 635–644, 2009.
WOLFE, R. R. The underappreciated role of muscle in health and disease. American Journal
of Clinical Nutrition, v. 84, n. 3, p. 475–482, 2006.
WORLD HEALTH ORGANIZATION - WHO. El estado físico: uso e interpretación de la
antropometría, 1995.. Envelhecimento ativo: uma política de saúde. Brasília, 2005.
XIE, W et al. Sarcopenic obesity: research advances in pathogenesis and diagnostic criteria.
Aging Clinical and Experimental Research, p. 1–6, 2019.
ZAMBONI, M et al. Sarcopenic obesity: a new category of obesity in the elderly. Nutrition,
Metabolism and Cardiovascular Diseases, v. 18, n. 5, p. 388–395, 2008.
ZAMBONI, M.; RUBELE, S.; ROSSI, A. P. Sarcopenia and obesity. Current Opinion in Clinical
Nutrition & Metabolic Care, v. 22, n. 1, p. 13–19, 2019.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
95.
ZHONG, S.; CHEN, C.; THOMPSON, L. Sarcopenia of ageing: functional, structural and biochemical alterations. Revista Brasileira de Fisioterapia, v. 11, n. 2, 2007.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
269
21
“
Principais fatores
desencadeadores dos distúrbios
do sono no envelhecimento
Luana Meireles Pecoraro
Hélio Tavares de Oliveira Neto
UNIFIP
UNIFIP
Andreza Maria Lima Maia
Polliana Peres Cruz Carvalho
UNIFIP
UNIFIP
Maria Alice Ferreira Farias
Milena Nunes Alves de Sousa
UNIFIP
UNIFIP
10.37885/201202388
RESUMO
O envelhecimento traz inúmeras mudanças fisiológicas e ambientais que interferem
diretamente nas queixas sobre insônia noturna e sonolência diurna, diante disso o estudo objetiva identificar os principais motivos causadores desse transtorno no sono dos
idosos. Portanto, foi utilizado uma revisão integrativa da literatura, com busca de dados
no Medical Publisher (PubMed) e na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), utilizando-se
dos seguintes Palavras-chave em inglês: “Aging” and “Sleep Disorders” and “Quality of
Life”. Os critérios de inclusão foram os textos completos entre o período de 2015 a 2020,
com o tema relacionado, e de exclusão, os estudos repetidos e não condizentes com a
questão norteadora da pesquisa, possibilitando uma amostra de 23 artigos. Diante dos
estudos revisados, foi possível observar que as doenças crônicas representam 53,6%
(n=30) o principal fator desencadeador dos distúrbios do sono, seguidas pela depressão
e ansiedade (14,3%; n=8), figurando-se entre o principal fator psicossocial. Dessa forma,
os distúrbios do sono estão intrinsecamente relacionados a grandes grupos de alterações
no envelhecimento: mudança hormonal, fatores psicossociais, presença de doenças
crônicas e estilo de vida adquirido nessa fase da vida. Todas essas circunstâncias promovem variações na qualidade do sono junto ao passar dos anos, e tem repercussão
na qualidade de vida por trazer consigo o adoecimento físico e mental.
Palavras- chave: Saúde do Idoso, Distúrbios do Início e da Manutenção do Sono,
Fatores de Risco.
INTRODUÇÃO
O sono tem um papel fundamental nos processos de restauração necessários à vida,
de modo a influenciar funções biológicas dos indivíduos, variando desde consolidação da
memória e termorregulação, até restauração do metabolismo energético cerebral (CARONE
et al., 2020). Os distúrbios associados a essa questão representam um conjunto de diversas manifestações clínicas, as quais podem afetar todos os órgãos e sistemas do indivíduo
(DRAGER et al., 2018).
Em relação ao processo de envelhecimento, a qualidade do sono pode ser afetada,
seja por alterações no ciclo circadiano, seja por mudanças no ciclo homeostático, trazendo
impactos na qualidade de vida dos idosos (BARBOSA et al., 2016). Dentre os fatores relacionados à insônia, é pertinente destacar depressão, uso de medicamentos, obesidade,
alterações ambientais, incontinência urinária, noctúria, má higiene do sono, mudanças no
relógio circadiano endógeno e alterações metabólicas (MORENO-VECINO et al., 2015).
A avaliação das variáveis relacionadas à qualidade do sono é imprescindível clinicamente para encontrar problemas de saúde, principalmente quando se observa alterações de humor, redução da tolerância à dor e fadiga (SALOMÉ; ESPÍRITO SANTO; FERREIRA, 2017).
Quando se trata do ambiente em que a pessoa idosa se encontra, muitos podem ser
os fatores externos que afetam a qualidade do descanso, como: barulho, luzes intensas,
dormitórios compartilhados e tempo ocioso. Tudo isso pode agravar o processo de distúrbios
do sono comuns no período da senescência (EIDELWEIN, 2015). Tais transtornos envolvem
insônia, hipersonia, hipopneia, apneia central do sono, síndrome das pernas inquietas e
narcolepsia (GLEASON; MCCALL, 2015).
Ao compararem-se os indivíduos mais velhos com os mais jovens, observa-se algumas
diferenças em relação ao repouso, pois, nos primeiros, o horário habitual de dormir e acordar é mais cedo, o ritmo de temperatura circadiana mínima ocorre no início da noite e eles
possuem um sono mais perturbado. Tudo isso possui relação com as alterações nos ciclos
responsáveis pela regulação do sono-vigília (MORENO-VECINO et al., 2015; GLEASON;
MCCALL, 2015). Tais mudanças levam a consequências adversas para pessoas de maior
idade, como uma qualidade de vida pior, distúrbios cognitivos, depressão, declínio físico,
quedas, podendo levar até à morte (RAWTAER et al., 2018).
Em relação à atividade física diária, os idosos menos ativos possuem uma composição corporal menos rica do que aqueles que têm maior aptidão física, o que influencia na
questão de distúrbios do sono (BARBOSA et al., 2016). Nesse sentido, observa-se que a
prática de exercícios aeróbicos e de resistência contribui significativamente para a melhora
do descanso em adultos mais velhos, com ênfase na atividade física regular (HERRICK;
PURI; RICHARDS, 2018).
272
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
É pertinente ainda relatar a importância de terapias cognitivo-comportamentais para otimizar a qualidade do sono em pessoas idosas, já que o uso de algumas medicações como hipnóticos podem causar reações adversas como insônia de rebote, sedação diurna, alterações
cognitivas, dependência ou tolerância e inclusive, causar quedas (RAWTAER et al., 2018).
O conhecimento sobre a epidemiologia desses distúrbios contribui para o planejamento
de ações que auxiliem na melhora do sono das pessoas durante o período de senescência
(CARONE et al., 2020). Ademais, tal situação está associada à maior ocorrência de complicações e de gastos com saúde, além disso, há pouca informação nacional em relação a
esse assunto e a questões associadas na população brasileira (ZANUTO et al., 2015).
Desse modo, o presente estudo tem como objetivo identificar os principais motivos
causadores de transtornos do sono nos idosos.
MATERIAL E MÉTODO
O método utilizado foi a revisão integrativa da literatura (RIL) com a seguinte questão
norteadora: “Quais os principais fatores desencadeadores dos distúrbios do sono no envelhecimento ?”. A RIL é um método de pesquisa que fornece informações amplas sobre
uma determinada questão, e para isso, utiliza como ferramenta uma questão central como
embasamento para pesquisas e posterior condensação dos resultados (RIBEIRO, MARTINS
e TRONCHIN, 2016).
Para a pesquisa e seleção dos artigos, foram utilizadas as bases de dados: Medical
Publisher (PUBMED) e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). A busca de dados foi realizada de
acordo com os seguintes descritores em inglês combinados <<”Aging” and “Sleep Disorders”
and “Quality of Life”>>. Como critérios de inclusão foram contidos artigos entre os períodos
de 2015 a 2020 na língua portuguesa, inglesa e espanhola, com o tema relacionado, e de
exclusão os artigos que não condizem com a questão norteadora da pesquisa, publicados
anteriores ao ano de 2015 e os estudos repetidos a partir dos descritores supracitados, foram
encontrados 23 artigos, configurando-se na amostragem desta RIL.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
273
Fluxograma 1. Processo de seleção dos artigos sobre o objeto de estudo
Fonte: Autoria Própria, 2020
RESULTADOS
Dos 23 artigos selecionados, 82,6% (n=19) estava disponível na BVS. Além disso,
41,67% (n=5) são do ano de 2017 (Quadro 1).
Quadro 1. Caracterização dos artigos selecionados quanto aos autores, ano, título e base de dados.
274
Autores/Ano
Título do Artigo
Base de dados
Baker et al. (2018)
Sleep and sleep disorders in the menopausal transition
BVS e PUBMED
Barbosa et al. (2016)
Sleep disorder or simple sleep ontogeny? Tendency for morningness is associated with
worse sleep quality in the elderly
BVS
Belencastello-Domenech, et al.
(2016)
Sleep alterations in non-demented older individuals: the role of cortisol.
BVS e PUBMED
Canham (2015)
What’s loneliness got to do with it? Older women who use benzodiazepines.
BVS
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Autores/Ano
Título do Artigo
Base de dados
Cybulski et al. (2019)
Sleep disorders among educationally active elderly people in Bialystok, Poland: a cross-sectional study.
PUBMED
Deses (2018)
Alteraciones del sueño en personas adultas mayores
BVS
Eslami et al. (2016)
Pain grade and sleep disturbance in older adults: evaluation the role of pain, and stress for
depressed and non-depressed individuals
BVS
Gleason. et al. (2015)
Current concepts in the diagnosis and treatment of sleep disorders in the elderly
BVS
Herrick et al. (2015)
Resistance training does not alter same-day sleep architecture in institutionalized older
adults.
BVS
Wams et al. (2017)
Sleep-Wake Patterns and Cognition of Older Adults with Amnestic Mild Cognitive Impairment (aMCI): A Comparison with Cognitively Healthy Adults and Moderate Alzheimer’s
Disease Patients
PUBMED
Karimi et al. (2016)
Surveying the effects of an exercise program on the sleep quality of elderly males
BVS e PUBMED
Leland. et al. (2016)
Napping and Nighttime Sleep: Findings From an Occupation-Based Intervention
BVS
Lima et al. (2015)
Correlates of excessive daytime sleepiness in community-dwelling older adults: an exploratory study
BVS
Ma et al. (2017)
Sleep disturbances and risk of falls in an old Chinese population-Rugao Longevity and
Ageing Study
BVS
Matsushita et al. (2017)
Linkage of lower urinary tract symptoms to sleep quality in elderly men with nocturia: a
community based study using home measured electroencephalogram data.
BVS
Moreno-Vecino et al. (2017)
Sleep disturbance, obesity, physical fitness and quality of life in older women: EXERNET
study group.
BVS
Porter, Buxton e Avidan (2015)
Sleep, cognition and dementia.
BVS E PUBMED
Rawtaer et al. (2018)
A nonpharmacological approach to improve sleep quality in older adults.
BVS
Wulff e Foster (2017)
Insight into the Role of Photoreception and Light Intervention for Sleep and Neuropsychiatric Behaviour in the Elderly
BVS
Rodríguez, Alarcón e Escobar
(2016)
Salud mental en el adulto mayor: trastornos Neurocognitivos mayores afectivos y del sueño
BVS
Spinedi e Cardinali (2018)
Neuroendocrine-Metabolic Dysfunction and Sleep Disturbances in Neurodegenerative
Disorders: Focus on Alzheimer’s Disease and Melatonin
BVS e PUBMED
Uchmanowicz et al. (2019)
The relationship between sleep disturbances and quality of life in elderly patients with
hypertension
PUBMED
Yaremchuk (2018)
Sleep Disorders in the Elderly
PUBMED
Das publicações desta RIL, 91,67% (n=11) estavam no idioma inglês; 58,33% (n=7)
publicados nos Estados Unidos. Em relação ao periódico de publicação, 16,67% (n=2) foram encontrados na revista APJH Climate Change e 83,4% (n=10) foram feitos seguindo a
metodologia de revisão narrativa.
Quadro 1.Caracterização dos artigos selecionados quanto ao periódico, idioma, país e método.
Periódico
Idioma
País
Método
Baker et al. (2018)
Sleep medicine clinics
Inglês
EUA
Revisão narrativa
Barbosa et al. (2016)
Brazilian Journal of Medical and
Biological Research
Inglês
Brasil
Quantitativa (entrevista estruturada)
Belencastello-Domenech, et
al. (2016)
Endocrine, Metabolic & Immune
Disorders-Drug Targets
Inglês
Espanha
Transversal descritivo
Canham (2015)
Australasian journal on ageing
Inglês
EUA
Qualitativo descritivo (entrevista semi-estruturada em profundidade)
Cybulski et al. (2019)
BMC geriatrics
Inglês
Polônia
Estudo transversal descritivo
Deses (2018)
Revista de la Facultad de Medicina
de la UNAM
Espanhol
México
Revisão
Eslami et al. (2016)
International Jounal of Geriatric
Psychiatry
Inglês
EUA
Estudo quantitativo
Gleason. et al. (2015)
Current psychiatry reports
Inglês
EUA
Revisão narrativa
Autores/Ano
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
275
Autores/Ano
Periódico
Idioma
País
Método
Herrick et al. (2015)
Journal of sleep research
Inglês
EUA
Revisão Narrativa
Wams et al. (2017)
Current Alzheimer Research
Inglês
Reino Unido
Revisão narrativa
Karimi et al. (2016)
Clin Interv Aging
Inglês
Irã
Quantitativo (estudo semi-experimental)
Leland. et al. (2016)
The American Journal of Occupational Therapy
Inglês
EUA
Quantitativo (ensaio clínico randomizado)
Lima et al. (2015)
Revista Brasileira de Epidemiologia
Inglês
Brasil
Quantitativo (estudo transversal exploratório
de base populacional )
Ma et al. (2017)
Archives of Gerontology and Geriatrics
Inglês
China
Quantitativo (estudo de coorte observacional
de base populacional)
Matsushita et al. (2017)
The Journal of urology
Inglês
EUA
Estudo longitudinal
Moreno-Vecino et al. (2017)
Climateric
Inglês
EUA
Estudo transversal.
Porter, Buxton e Avidan
(2015)
Current psychiatry reports
Inglês
EUA
Revisão narrativa
Rawtaer et al. (2018)
Asia-Pacific Psychiatry
Inglês
Singapura
Pesquisa qualitativa (estudo de Coorte)
Wulff e Foster (2017)
Current Alzheimer Research
Inglês
EUA
Revisão narrativa
Rodríguez, Alarcón e Escobar
(2016)
Rev Peru Med Exp Salud Publica
Espanhol
Peru
Revisão narrativa
Spinedi e Cardinali (2018)
Neuroendocrinology
Inglês
Argentina
Revisão narrativa
Uchmanowicz et al. (2019)
Clinical Interventions in Aging
Inglês
Polônia
Estudo transversal
Yaremchuk (2018)
Clinics in Geriatric Medicine
Inglês
EUA
Revisão narrativa
Diante dos artigos revisados, foi possível observar que as doenças crônicas representam
53,6% (n=30) da amostra de estudos sobre os fatores desencadeadores dos distúrbios do
sono, entretanto, a depressão e ansiedade, como um fator psicossocial, destacou-se como
causa prevalente da insônia, representando 14,3% (n=8) da amostra.
Quadro 2.Divisão dos artigos por fatores desencadeadores dos distúrbios do sono no envelhecimento
Categorias
Subcategorias
Autores/anos
N
%
Menopausa
Moreno-Vecino et al. (2017)
Baker et al. (2018)
2
3,6%
Cortisol
Belencastello-Domenech et al. (2016)
1
1,8%
Melatonina
Porter, Buxton e Avidan (2015)
Rodríguez, Alarcón, Escobar (2016)
Wulff e Foster (2017)
Barbosa et al. (2016)
Gleason et al. (2015)
Karimi et al. (2016)
6
10,7%
Estresse
Baker et al. (2018)
Eslami et al. (2016)
2
3,6%
Depressão e ansiedade
Moreno-Vecino, et al. (2017)
Rawtaer et al. (2018)
Lima et al. (2015)
Rodríguez, Alarcón e Escobar (2016)
Wulff e Foster (2017)
Canham (2015)
Deses (2018)
Eslami et al. (2016)
8
14,3%
Hormonal
Fatores psicossociais
276
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Categorias
Subcategorias
Autores/anos
N
%
Do Sistema Somático
Moreno-Vecino et al. (2017)
Cybulski et al. (2019)
Gleason et al. (2015)
Porter, Buxton e Avidan (2015)
Yaremchuk (2018)
5
8,9%
Doença de Alzheimer
Wams et al. (2017)
Deses (2018)
Gleason et al. (2015)
Spinedi e Cardinali (2018)
4
7,1%
Demências
Porter, Buxton e Avidan (2015)
Rodríguez, Alarcón e Escobar (2016)
Wams, et al. (2017)
Wulff e Foster (2017)
Gleason et al. (2015)
5
8,9%
Síndrome metabólica
Moreno-Vecino et al. (2017)
Lima et al. (2015)
Spinedi e Cardinali (2018)
Deses (2018)
Eslami et al. (2016)
Ma et al. (2017)
Uchmanowicz et al. (2019)
7
12,5%
Distúrbios urinários
Matsushita et al. (2017)
Moreno-Vecino et al. (2017)
Lima et al. (2015)
Deses (2018)
Gleason et al. (2015)
5
8,9%
Distúrbios respiratórios
Yaremchuk (2018)
Deses (2018)
Gleason et al. (2015)
Porter, Buxton e Avidan (2015)
4
7,1%
Fatores culturais
Cybulski et al. (2019)
Herrick et al. (2015)
2
3,6%
Ausência de atividade
física
KarimI et al. (2016)
Moreno-Vecino et al. (2017)
2
3,6%
Cochilos diurnos
Leland et al. (2016)
Rodríguez, Alarcón e Escobar (2016)
Gleason et al. (2015)
3
5,3%
56
100
Doenças crônicas
Estilo de vida
TOTAL
DISCUSSÃO
A velhice é um fenômeno biológico e é inevitável passar por diversas mudanças,
sejam elas físicas, fisiológicas ou mentais (KARIMI et al., 2016). Uma dessas mudanças
que podem ser percebidas é a alteração na qualidade do sono. Dessa forma, a análise dos
presentes resultados revela que os principais determinantes que podem desencadear os
distúrbios do sono em idosos, destacaram-se os fatores hormonais, psicossociais, estilo de
vida e doenças crônicas, sendo o último o mais relevante por representar sozinho mais da
metade da amostra.
Nesse contexto, alguns hormônios estão fortemente ligados a um sono de qualidade,
são eles o cortisol, a melatonina, que possuiu achados mais expressivos, além do desbalanço
hormonal que ocorre após a menopausa. Em estudos feitos com uma população idosa do
sexo masculino, que tinha um bom sono quando faziam uso de medicamentos “para dormir”, percebeu-se que quando foi introduzida a prática de exercícios físicos em sua rotina
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
277
ocorreu um aumento na qualidade do sono, em que houve redução no tempo necessário
para adormecer e aumento no período de sono, uma diminuição na necessidade de drogas para dormir e uma diminuição dos problemas nas tarefas diárias (KARIMI et al., 2016).
Essa prática de exercícios físicos promove a liberação de hormônios que promovem um
bem-estar, além de diminuir o cortisol, que é o hormônio do estresse (BELEN CASTELLODOMENECH et al., 2016).
Somado a isso, constatou-se também que existe uma forte relação entre o amanhecer
e a piora da qualidade do sono com o aumento da idade. Em pessoas mais velhas, percebe-se que existem alterações no ciclo de sono-vigília e que a periodicidade intrínseca da
secreção de melatonina costuma ser reduzida (BARBOSA et al., 2016). No que se refere a
transição da menopausa, ela está associada ao aumento dos sintomas de insônia, principalmente dificuldade em manter o sono, o que interfere qualidade de vida de muitas mulheres. Os sintomas vasomotores, referidos pelas pacientes como ondas de calor, calores ou
fogachos, são um componente importantes da perturbação do sono. Nesse aspecto, a terapia
hormonal pode aliviar os distúrbios do sono, especialmente se houver sintomas vasomotores. Entretanto, existem fortes contraindicações, então outras opções devem ser consideradas (BAKER et al., 2018; GLEASON et al., 2015; WULFF; FOSTER, 2017; RODRÍGUEZ;
ALARCÓN; ESCOBAR, 2016).
Outro aspecto também considerado como determinante para uma boa qualidade do
sono em idosos foram os fatores psicossociais. Assim, destaca-se nesse contexto o estresse,
e depressão e ansiedade, que foram achados bem mais frequentes na amostra.
Nesse cenário, observou-se que o desenvolvimento de insônia é mais frequente em
idosos psicologicamente mais vulneráveis, os quais já desenvolveram insônia no passado
ou com antecedentes familiares relacionados à insônia ou a algum tipo de problema causador de dor. Importante salientar que a avaliação da insônia precisa de uma abordagem
ampla, englobando características médicas e aspectos psicossociais do paciente, pois ela
pode ser de natureza biológica, ambiental, comportamental ou psicossocial. Assim, os fatores causadores da insônia podem estar relacionados com fatores sociais, profissionais
e familiares (DESES, 2018; RAWTAER et al., 2018; LIMA et al., 2015; CANHAM, 2015;
D’HYVER DE LAS DESES, 2018).
O que se corrobora em resultados encontrados nos testes utilizando AIS (Escala de
Insônia de Atenas), uma das mais confiáveis, associado a análises de sonolência excessiva
pela ESS (Escala de Sonolência de Epworth), além de ponderar sobre a gravidade da insônia pelo questionário ISI (Índice de Gravidade da Insônia), os quais mostram a prevalência
de insônia entre mais da metade das pessoas acima de 55 anos de idade, trazendo à tona
preocupações com o futuro da qualidade de vida desse grupo (CYBULSKI et al., 2019).
278
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Encontram-se associados à insônia, muitos outros fatores, como a demência, porém
tendo cuidados para não haver diagnóstico errôneo, pois junto à condição podem vir vários
outros fatores como hipersonolência, síndrome das pernas inquietas, desalinhamento do
ritmo circadiano, distúrbios respiratórios do sono, distúrbios motores do sono, parassonias,
principalmente na forma de distúrbio comportamental do sono (RBD) de movimento rápido dos olhos (REM). O que prejudica tanto as pessoas que sofrem do mal, quanto os que
convivem, fazendo-se importante o diagnóstico mais prévio possível, pois com o passar do
tempo às condições podem piorar (PORTER; BUXTON; AVIDAN, 2015).
Doenças neurodegenerativas como a Doença de Alzheimer (DA), encontram-se presentes nos estudos relacionados aos distúrbios do sono por terem seus processos bidirecionais de agravamento, porque ao haver a privação de sono ou ainda a má continuação dele,
resulta num maior espectro para desenvolver doenças como DA, ao passo que a mesma
doença gera alterações cognitivas e fisiológicas alterando ciclos circadianos (por alterações
metabólicas anteriores e posteriores) e, assim, prejudicando a funcionalidade normal do
sono. (SPINEDI; CARDINALI, 2018).
Além disso, quadro depressão, dores e estresse foram relatados como fatores associados, ou até desencadeadores de piora nos distúrbios do sono, pois investigação com
562 participantes elegíveis com idade média de 78,22 mostrou associação da dor com o
transtorno de sono. Em comparação, o mesmo estudo não apresentou relação significativa
entre a depressão e as alterações do sono (ESLAMI et al., 2016).
Adicionado ao fato de que as condições físicas e a forma de distribuição de gordura no
corpo relacionam-se às alterações no sono, estudo indicou em um grupo de mulheres idosas, aquelas que tinham maiores de IMC, apresentaram mais distúrbios do sono. Ademais,
foram correlações baixas, mas significativas entre escore de sono desordenado e parâmetros de composição corporal, como peso corporal e circunferência da cintura (MORENOVECINO et al., 2017).
Outros fatores associados à baixa qualidade do sono foram a noctúria e a frequência urinária noturna, como observado em pesquisa com homens idosos, em que a piora na qualidade do sono estava relacionada ao fator miccional durante a noite. (MATSUSHITA et al., 2017).
CONCLUSÃO
Este trabalho infere a relevância da qualidade do sono e da sua relação com sintomas
psicopatológicos em idosos. Portanto, o envelhecimento traz alterações no padrão regular
do sono e, por este ser um fator fisiológico e essencial à vida, tal privação pode corroborar
com o aparecimento concomitante com as doenças psicossociais.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
279
Paralelamente, as doenças crônicas são consideradas como principal fator influenciador
da baixa qualidade do sono desse grupo populacional, seguido de depressão e ansiedade.
Logo, a promoção da qualidade do sono é necessária para melhorar o estado geral e emocional dos idosos.
Os profissionais de saúde devem estar atentos a esses sintomas a fim de garantir um
diagnóstico mais preciso e um tratamento mais assertivo para esse tipo de distúrbio, em
que é notória a redução da qualidade de vida dessa população em específico e que se não
tratado, pode propor desfechos negativos. Ademais, novos estudos precisam ser realizados
para confirmar os resultados obtidos.
REFERÊNCIAS
1.
2.
3.
BARBOSA, A. A. et al. Sleep disorder or simple sleep ontogeny? Tendency for morningness is
associated with worse sleep quality in the elderly. Brazilian Journal of Medical and Biological
Research, v. 49, n. 10, 2016.
BELEN CASTELLO-DOMENECH, A. et al. Sleep alterations in non-demented older individuals:
the role of cortisol. Endocrine, Metabolic & Immune Disorders-Drug Targets (Formerly Current Drug Targets-Immune, Endocrine & Metabolic Disorders), v. 16, n. 3, p. 174-180, 2016.
4.
CANHAM, S. L. What’s loneliness got to do with it? Older women who use benzodiazepines.
Australasian journal on ageing, v. 34, n. 1, p. E7-E12, 2015.
5.
CARONE, C. M. M. et al. Fatores associados a distúrbios do sono em estudantes universitários.
Cadernos de Saúde Pública [online]. v. 36, n. 3, 2020.
6.
CYBULSKI, M. et al. Sleep disorders among educationally active elderly people in Bialystok,
Poland: a cross-sectional study. BMC geriatrics, v. 19, n. 1, p. 225, 2019.
7.
8.
9.
10.
280
BAKER, F. C. et al. Sleep and sleep disorders in the menopausal transition. Sleep medicine
clinics, v. 13, n. 3, p. 443-456, 2018.
DESES, C. D. Alteraciones del sueño en personas adultas mayores. Revista de la Facultad
de Medicina UNAM, v. 61, n. 1, p. 33-45, 2018.
DRAGER, L. F. et al. 1º Posicionamento Brasileiro sobre o Impacto dos Distúrbios de Sono
nas Doenças Cardiovasculares da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arq. Bras. Cardiol.
v. 111, n. 2, p. 290-340, 2018.
EIDELWEIN, L. D. Sleep quality of institutionalized elderly: a massage practice as an
alternative therapy. Dissertação (Mestrado em Ciências da Saúde e Ciências Biológicas) Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, 2015.
ESLAMI, V. et al. Pain grade and sleep disturbance in older adults: evaluation the role of pain,
and stress for depressed and non‐depressed individuals. International Journal of Geriatric
Psychiatry, v. 31, n. 5, p. 450-457, 2016.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
11.
12.
13.
GLEASON, K.; MCCALL, W. V. Current concepts in the diagnosis and treatment of sleep disorders in the elderly. Current psychiatry reports, v. 17, n. 6, p. 45, 2015.
HERRICK, J. E.; PURI, S.; RICHARDS, K. C. Resistance training does not alter same‐day
sleep architecture in institutionalized older adults. Journal of sleep research, v. 27, n. 4, p.
e12590, 2018.
KARIMI, S. et al. Surveying the effects of an exercise program on the sleep quality of elderly
males. Clinical interventions in aging, v. 11, p. 997, 2016.
14.
LELAND, N. E. et al. Napping and nighttime sleep: Findings from an occupation-based intervention. American Journal of Occupational Therapy, v. 70, n. 4, p. 7004270010p17004270010p7, 2016.
15.
LIMA, C. A. et al. Correlates of excessive daytime sleepiness in community-dwelling older
adults: an exploratory study. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 18, p. 607-617, 2015.
16.
MA, T. et al. Sleep disturbances and risk of falls in an old Chinese population-Rugao Longevity
and Ageing Study. Archives of gerontology and geriatrics, v. 73, p. 8-14, 2017.
17.
18.
19.
20.
21.
22.
23.
MATSUSHITA, C. et al. Linkage of lower urinary tract symptoms to sleep quality in elderly men
with nocturia: a community based study using home measured electroencephalogram data.
The Journal of urology, v. 197, n. 1, p. 204-209, 2017.
MORENO-VECINO, B. et al. Sleep disturbance, obesity, physical fitness and quality of life in
older women: EXERNET study group. Climacteric, v. 20, n. 1, p. 72-79, 2017.
PORTER, V. R.; BUXTON, W. G.; AVIDAN, A. Y. Sleep, cognition and dementia. Current
psychiatry reports, v. 17, n. 12, p. 97, 2015.
RAWTAER, I. et al. A nonpharmacological approach to improve sleep quality in older adults.
Asia‐Pacific Psychiatry, v. 10, n. 2, p. e12301, 2018.
RIBEIRO, O. M. P. L.; MARTINS, M. M. F. P. S.; TRONCHIN, D. M. R. Modelos de prática
profissional de enfermagem: revisão integrativa da literatura. Revista de Enfermagem Referência, n. 10, p. 125-133, 2016.
SALOMÉ, G. M.; ESPÍRITO SANTO, P. F do; FERREIRA, L. M. Distúrbio do sono em indivíduos
diabéticos sem ulceração e indivíduos diabéticos com ulceração no pé. Rev enferm UFPE on
line., v. 11, n. 9, p.3429-38, 2017.
SPINEDI, E.; CARDINALI, D. P. Neuroendocrine-metabolic dysfunction and sleep disturbances
in neurodegenerative disorders: Focus on Alzheimer’s Disease and melatonin. Neuroendocrinology, v. 108, n. 4, p. 354-364, 2019.
24.
TELLO-RODRÍGUEZ, T.; ALARCÓN, R. D.; VIZCARRA-ESCOBAR, D. Salud mental en el
adulto mayor: trastornos neurocognitivos mayores, afectivos y del sueño. Revista Peruana
de medicina experimental y salud pública, v. 33, p. 342-350, 2016.
25.
UCHMANOWICZ, I. et al. The relationship between sleep disturbances and quality of life in
elderly patients with hypertension. Clinical interventions in aging, v. 14, p. 155, 2019.
26.
WAMS, E. et al. Sleep-wake patterns and cognition of older adults with amnestic mild cognitive
impairment (aMCI): a comparison with cognitively healthy adults and moderate Alzheimer’s
disease patients. Current Alzheimer Research, v. 14, n. 10, p. 1030-1041, 2017.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
281
27.
28.
29.
282
WULFF, K.; G FOSTER, R. Insight into the role of photoreception and light intervention for
sleep and neuropsychiatric behaviour in the elderly. Current Alzheimer Research, v. 14, n.
10, p. 1022-1029, 2017.
YAREMCHUK, K. Sleep disorders in the elderly. Clinics in geriatric medicine, v. 34, n. 2, p.
205-216, 2018.
ZANUTO, E. A. C. et al. Distúrbios do sono em adultos de uma cidade do Estado de São Paulo.
Revista Brasileira de Epidemiologia [online]. v. 18, n. 1, p. 42-53, 2015.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
22
“
Rastreio de distúrbio psicológico
pela escala de depressão
geriátrica e seus fatores de risco
Ériks Oliveira Silva
Alexandre Azenha Alves de Rezende
UFSJ/PPGSC
UFU/ICENP
Ana Karen Costa Silva
Luciana Karen Calábria
UFU/PPGEP
UFU/ICENP
Morun Bernardino Neto
USP/EEL
10.37885/201102028
RESUMO
Objetivo: A depressão é frequente em idosos, podendo reduzir a qualidade de vida, além
de aumentar o risco de morbimortalidade e suicídio. O delineamento buscou apresentar
as características sociodemográficas e o perfil psicológico de 101 idosos atendidos no
sistema público de saúde do município de Ituiutaba-MG, além de identificar os fatores de
risco associados à depressão nesta população. Métodos: A versão validada da Escala
de Depressão Geriátrica-15 (EDG-15) foi aplicada juntamente com um questionário socioeconômico semiestruturado, sendo os dados avaliados por estatísticas descritiva e
inferencial por meio do teste de correlação de Spearman. Resultados: Os resultados
revelaram que 29,7% dos entrevistados apresentaram depressão, com prevalência entre as mulheres (70%), sendo em sua maioria aposentados (56,7%). Houve também a
relação entre escolaridade e diagnóstico médico, na qual os indivíduos com baixa escolaridade (85,2%) apresentaram maiores níveis de depressão, além da menor idade dos
idosos e a ausência de companheiro(a). Os psicotrópicos mais citados no estudo foram
os ansiolíticos, antidepressivos e antiepiléticos. Conclusão: O instrumento de rastreio
identificou o perfil socioeconômico dos idosos atendidos no munícipio, bem como uma
subnotificação da depressão e o uso inapropriado de psicotrópicos.
Palavras-chave: Envelhecimento, Atenção Primária à Saúde, Psicotrópicos.
INTRODUÇÃO
O aumento da população idosa está associado com a incidência de doenças crônico-degenerativas, como aquelas que comprometem o funcionamento do sistema nervoso
central, sendo a depressão a enfermidade neuropsiquiátrica mais prevalente (STELLA et al.,
2002). A depressão é uma morbidade relativamente comum, de curso crônico e recorrente,
associada à incapacitação funcional e comprometimento da integridade física, bem como
à limitação do bem-estar e maior utilização dos serviços de saúde (ORMEL et al., 1993;
LLOYD, JENKINS, MANN, 1996), podendo interferir nos aspectos mais simples da vida
diária (FRADE et al., 2015).
Envelhecer é um processo natural, que provoca mudanças graduais relacionadas à
idade e acomete o indivíduo independentemente da condição de saúde ou estilo de vida.
Apesar de vários aspectos comuns, não se deve associar a senescência como condição
natural da depressão, mesmo o envelhecimento sendo inevitável e podendo apresentar,
durante o seu processo, crise identitária, tristeza profunda, sentimentos de inutilidade, ausência de apetite e isolamento social, os quais também são fatores que contribuem para o
desenvolvimento da depressão (BARROSO et al., 2018). Concomitante ao aumento significativo dos transtornos mentais durante a velhice, está a utilização de fármacos, como os
psicotrópicos, indicados na redução dos sintomas ou remissão do paciente (FLECK et al.,
2009; LOYOLA FILHO et al., 2014).
Diante do seu protagonismo na saúde populacional, o impacto socioeconômico e a
dificuldade no diagnóstico da depressão, políticas em saúde têm criado condições para a
elaboração de ferramentas de rastreamento e avaliação do estado clínico do idoso, a fim de
prevenir o agravamento da doença, fazendo com que os instrumentos de rastreio e avaliação
dos sintomas depressivos sejam essenciais para superar as dificuldades de subnotificação.
Em 1983, quando foi desenvolvida a Escala de Depressão Geriátrica (EDG; Geriatric
Depression Scale – GDS) verificou-se sua grande capacidade de eliminar fatores de confusão como aspectos comportamentais e físicos normais na senescência e rastreamento de
quadros de depressão. Com várias versões validadas, a EDG apresenta-se em formatos de
30 itens na sua versão original com propriedades psicométricas de sensibilidade de 84% e
especificidade variando de 91 a 95% (YESAVAGE et al., 1983; MCGIVNEY; MULVIHILL;
TAYLOR, 1997). Diante da sua extensão algumas abreviações foram validadas posteriormente, como GDS-15, GDS-10, GDS-5 e GDS-4, com o intuito de facilitar o rastreio da
morbidade (ALMEIDA; ALMEIDA, 1999; SANTOS et al., 2019).
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
285
OBJETIVO
Apresentar as características sociodemográficas e o perfil psicológico dos idosos atendidos no sistema público de saúde do município de Ituiutaba-MG, buscando identificar os
fatores de risco associados à depressão nesta população.
MÉTODOS
Estudo descritivo e transversal realizado no município de Ituiutaba, Minas Gerais, Brasil,
entre os meses de abril e junho de 2018, composto por 101 idosos, de ambos os sexos
(feminino, n=53; masculino, n=48), com idade igual ou superior a 60 anos, não institucionalizados e atendidos na Unidade Mista de Saúde, localizada no bairro Elândia.
A coleta dos dados foi realizada a partir da aplicação da versão validada da Escala de
Depressão Geriátrica-15 (EDG-15), adaptada com um questionário socioeconômico semiestruturado (idade, sexo, situação conjugal, ocupação e escolaridade). Além disso, os idosos
também foram questionados se possuíam diagnóstico médico para depressão e se usavam
algum medicamento prescrito de uso contínuo. A entrevista foi conduzida pelos membros do
Grupo de pesquisa “Atenção preventiva e educativa em saúde do idoso” da Universidade
Federal de Uberlândia, campus Pontal.
Após serem autorizados pelo Secretário Municipal de Saúde e pelo responsável da
Unidade de Saúde, os pesquisadores se dividiram por ala em direção aos que apresentavam
60 anos ou mais. Os idosos eram convidados a participar da pesquisa enquanto aguardavam
atendimento. Ocorrendo a saturação do grupo populacional no dia, a aplicação dos questionários era finalizada. Os critérios de inclusão dos idosos foram ter idade igual ou acima de
60 anos, ser morador do município de Ituiutaba-MG, ter interesse em participar da entrevista
e concordar em assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram excluídos do
estudo os idosos com incapacidade de responder ao questionário.
Os dados foram tabulados utilizando o programa computacional Microsoft Office Excel
2010® e analisados por estatística descritiva considerando as frequências absoluta (n) e
relativa (%), mediana, desvio interquartílico e primeiro e terceiro quartis. A normalidade
dos dados de idade foi avaliada pelo teste de D’Agostino-Pearson. A correlação da depressão identificada pela EDG-15 com as outras variáveis foi analisada pela correlação de
Spearman. As análises foram realizadas utilizando o programa Bioestat 5.3 e foi considerado
nível de significância de 5%.
A pesquisa obteve aprovação do Comitê de Ética da Universidade Federal de Uberlândia
(UFU), parecer n.º 3.070.463.
286
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
RESULTADOS
Dos 101 idosos entrevistados, sendo 48 homens e 53 mulheres, com idade mediana
de 70 anos, com o primeiro e o terceiro quartis iguais a 65 e 76 anos, e desvio interquartílico igual a 11 (mín: 60 anos e máx: 91 anos), observou-se que 30 (29,7%) apresentaram
algum grau de depressão, com prevalência entre as mulheres (70%), sendo em sua maioria
aposentados (56,7%) (Tabela 1).
Ao analisar o perfil sociodemográfico dos idosos identificados pela escala com psicológico normal (Tabela 1), verificou-se a maioria aposentada (88,7%), que declarou possuir
companheiro(a) (63,4%), sendo 31,1% mulheres e 68,9% homens, afirmando possuir menos
de quatro anos de estudo (57,7%). O perfil de saúde dos idosos com psicológico normal
(Tabela 2), segundo a EDG-15, revelou que há predominância de idosos que não possuem
diagnóstico médico de depressão (84,5%), mas que fazem uso de pelo menos um medicamento antidepressivo por dia (58,3%).
Já os idosos que foram classificados com depressão leve (Tabela 1), segundo o instrumento de coleta, são majoritariamente mulheres (70,4%), aposentados e/ou pensionistas
(59,2%), que declararam não possuir companheiro(a) (70,4%) e com menos de quatro anos
de estudo (51,9%). Em relação ao diagnóstico médico, 51,9% desses idosos declararam
não apresentar laudo do especialista, apesar de 92,3% deles afirmarem fazer uso diário de
algum psicofármaco (Tabela 2).
A aplicação da EDG identificou três idosos, sendo duas mulheres e um homem, com
depressão severa. Desses idosos, 67,7% afirmaram não possuir ocupação e companheiro(a),
além de serem analfabetos e/ou com baixa escolaridade (Tabela 1). Ainda, apenas um deles
afirmou apresentar diagnóstico médico para depressão (Tabela 2).
Verificou-se uma correlação significativa positiva fraca entre a presença de depressão nos diferentes graus com o sexo (ρ=+0,228) e o diagnóstico médico para depressão
(ρ=+0,311), enquanto foi negativa fraca correlacionando com a idade (ρ=-0,199) e situação
conjugal (ρ=-0,306) com p < 0,05 para todas as análises. Esses resultados indicam que a
presença de depressão está correlacionada com o sexo feminino, a menor idade dos idosos
e a ausência de companheiro(a).
Os idosos que declararam possuir diagnóstico médico para depressão também relataram usar pelo menos um tipo de psicotrópico, sendo os mais citados: alprazolam, amitriptilina,
clonazepam, diazepam, duloxetina, escitalopram, fenobarbital, fluoxetina, imipramina, paroxetina e pregabalina (Tabela 3). A classificação farmacoterapêutica destes medicamentos
seguiu as orientações da Anatomical Therapeutic Chemical, sendo cinco antidepressivos,
três antiepiléticos, dois ansiolíticos e um psicoléptico (Tabela 3).
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
287
Tabela 1. Características sociodemográficas dos idosos atendidos nas unidades de saúde estratificadas pelo perfil
psicológico de acordo com a Escala de Depressão Geriátrica Reduzida e sexo, expressas em n (%), Ituiutaba, Minas
Gerais, 2018.
Mulher
n=32
Psicológico normal
Homem
n=39
Total
n=71
Mulher
n=19
Depressão leve
Homem
n=8
Total
n=27
Mulher
n=2
Depressão severa
Homem
Total
n=1
n=3
60 a 69
18 (62,1)
11 (37,9)
29 (40,8)
13 (72,2)
5 (27,8)
18 (66,7)
1 (100,0)
0 (0,0)
1 (33,3)
48 (47,5)
70 a 79
13 (44,8)
16 (55,2)
29 (40,8)
5 (71,4)
2 (28,6)
7 (25,9)
1 (50,00)
1 (0,0)
2 (66,7)
38 (37,6)
≥ 80
1 (7,7)
12 (92,3)
13 (18,4)
1 (50,0)
1 (50,0)
2 (7,4)
0 (0,0)
0 (0,0)
0 (0,0)
15 (14,9)
Aposentado e/ou pensionista
26 (41,3)
37 (58,7)
63 (88,7)
12 (75,0)
4 (25,0)
16 (59,2)
0 (0,0)
1 (100,00)
1 (33,3)
80 (79,2)
Sem ocupação
1 (100,0)
0 (0,0)
1 (1,4)
4 (66,7)
2 (33,3)
6 (22,2)
2 (100,0)
0 (0,0)
2 (67,7)
9 (8,9)
Outra ocupação
4 (66,7)
2 (33,3)
6 (8,5)
3 (60,00)
2 (40,0)
5 (18,6)
0 (0,0)
0 (0,0)
0 (0,0)
11 (10,9)
Não responderam
1 (100,0)
0 (0,0)
1 (1,4)
0 (0,0)
0 (0,0)
0 (0,0)
0 (0,0)
0 (0,0)
0 (0,0)
1 (1,0)
Com companheiro
14 (31,1)
31(68,9)
45 (63,4)
7 (87,5)
1(12,5)
8 (29,6)
1 (100,0)
0 (0,0)
1 (33,3)
54 (53,5)
Sem companheiro
18 (69,2)
8(30,8)
26 (36,6)
12 (63,2)
7(36,8)
19 (70,4)
1 (100,0)
1 (100,0)
2 (67,7)
47 (46,5)
Analfabeto
2 (50,0)
2 (50,0)
4 (5,6)
2 (40,0)
3 (60,0)
5 (18,5)
0 (0,0)
1 (100,0)
1 (33,3)
10 (9,9)
Analfabeto funcional
2 (28,6)
5 (71,4)
7 (9,9)
1 (100,0)
0 (0,0)
1 (3,7)
0 (0,0)
0 (0,0)
0 (0,0)
8 (7,9)
< 4 anos
18 (43,9)
23 (56,1)
41 (57,7)
11 (78,6)
3 (21,4)
14 (51,9)
1 (100,0)
0 (0,0)
1 (33,3)
56 (55,5)
≥ 4 anos
10 (52,6)
9 (47,4)
19 (26,8)
5 (71,4)
2 (28,6)
7 (25,9)
1 (100,0)
0 (0,0)
1 (33,3)
27 (26,8)
Total
n=101
Idade
Ocupação
Situação conjugal
Escolaridade
Os medicamentos citados também foram analisados quanto à condição do idoso pela
EDG-15 e o sexo. Os idosos identificados com psicológico normal declararam o uso de oito
psicotrópicos, enquanto os rastreados com depressão citaram quatro psicotrópicos. Ainda,
os homens mencionaram principalmente antidepressivos e antiepiléticos, enquanto as mulheres citaram majoritariamente os antiepiléticos (Tabela 3).
DISCUSSÃO
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2015 a depressão acometeu
4,4% da população global, totalizando 322 milhões de casos e com crescimento exponencial
com o passar dos anos (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2017).
Com base na Política Nacional de Saúde do Idoso (BRASIL, 1994) e considerando o
aumento proporcional de indivíduos idosos, adicionado ao declínio das taxas de fecundidade
e ao desenvolvimento tecnológico e terapêutico no tratamento de doenças, há esforços em
manter o idoso na sociedade da forma mais digna e confortável possível. Neste contexto, a
depressão tem sido associada à incapacidade funcional e ao comprometimento da saúde
física, podendo contribuir para o aumento da vulnerabilidade do idoso em relação à outras
morbidades, dentre outros aspectos (MELLO; ENGSTROM; ALVES, 2014).
Neste estudo, 30 casos de depressão foram identificados numa população alvo de 101
idosos, portanto 30,3%. Esta prevalência está dentro da faixa nacional de depressão em
idosos que varia de 2 a 50% dependendo das delimitações do estudo como idade, local do
288
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
estudo e método utilizado (RAMOS et al., 2019), e é maior que a mundial chegando a 12% nos
Estados Unidos, Inglaterra, Holanda e Alemanha (PINHO; CUSTÓDIO; MAKDISSE, 2009).
A variedade de escalas e instrumentos de análise utilizados no diagnóstico da depressão, bem como as diferenças sociodemográficas., podem justificar essa particularidade regional (LIMA, 1999; MATIAS et al., 2016; ARGIMON et al., 2016). Alguns aspectos singulares
devem ser levantados, como o sexo feminino, a não ocupação laboral e a ausência de um
companheiro associados à depressão nos idosos investigados em Ituiutaba-MG. Os resultados sugerem que as mulheres sejam mais suscetíveis aos sintomas depressivos na
velhice e, por ser o sexo que possui maior longevidade, com o passar do tempo e o avançar
da idade apresenta maior prevalência de doenças crônicas, incluindo a depressão, apesar
de não haver diferença significativa entre gênero quanto a mortalidade por doenças crônicas não transmissíveis no Brasil ((HEISE, 1994; UNITED NATIONS, 2010; STEVENS;
SCHMIDT; DUCAN, 2012).
Ainda, observa-se que a maioria dos casos analisados é de indivíduos classificados
com depressão leve, corroborando com o estudo de Magalhães et al. (2016), que identificou
esta mesma prevalência na população envelhecida.
A transição de uma vida dedicada a execução de atividades laborais para um período
de pós-trabalho demanda preparação para a nova fase e é considerada necessária durante
o avançar da senescência cheio de riscos para a saúde do idoso. A sua saída como força
de trabalho predispõe a um episódio estressante e de solidão, visto que, a partir daquele
instante muitos enxergam essa nova fase como a perda do seu papel profissional e social,
acrescida da diminuição da renda e essa ideologia é reforçada pelas relações de produção e
da lógica capitalista. Além disso, a possível ausência do parceiro e a rotina com mais tempo
livre corroboram para a instalação desse cenário (BITTENCOURT et al., 2011).
Ao identificar a aposentadoria como ferramenta de proteção social, o benefício passa
a ser fundamental para a manutenção da vida dos idosos de classe social vulnerável na
redução da pobreza. O benefício previdenciário confere ao idoso rural, principalmente às
mulheres, mudança de hábitos, aquisição de bens materiais e segurança em ter mensalmente uma renda fixa que muitas vezes não foi realidade (BARROS; FIUZA; PINTO, 2017).
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
289
Tabela 2. Variáveis relacionadas ao diagnóstico médico e ao uso de medicamentos citados pelos idosos atendidos nas
unidades de saúde, estratificadas por perfil psicológico e sexo, expressas em n (%), Ituiutaba, Minas Gerais, 2018.
Psicológico normal
Mulher
n=32
Depressão leve
Homem
n=39
Total
n=71
Mulher
n=19
Depressão severa
Homem
n=8
Total
n=27
Mulher
n=2
Homem
n=1
Total
n=3
Total
n=101
Diagnóstico médico
Sim
6 (54,5)
5 (45,5)
11 (15,5)
10 (76,9)
3 (23,7)
13 (48,1)
1 (100,0)
0 (0,0)
1 (33,3)
25 (24,8)
Não
26 (43,3)
34 (56,7)
60 (84,5)
9 (64,3)
5 (35,7)
14 (51,9)
1 (100,0)
1 (100,0)
2 (67,6)
76 (75,2)
Um medicamento
4 (57,1)
3 (42,9)
7 (58,3)
0 (0,0)
0 (0,0)
0 (0,0)
0 (0,0)
0 (0,0)
0 (0,0)
7 (26,9)
Mais de um medicamento
1 (100,0)
0 (0,0)
1 (8,3)
3(100,0)
0 (0,0)
3 (23,1)
0 (0,0)
0 (0,0)
0 (0,0)
4 (15,5)
Não lembra o nome
0 (0,0)
1 (100,0)
1 (8,3)
0 (0,0)
1 (100,0)
1 (7,7)
1 (100,0)
0 (0,0)
1 (100,0)
3 (11,5)
Não usa
0 (0,0)
2 (100,0)
2 (16,8)
1 (100,0)
0 (0,0)
1 (7,7)
0 (0,0)
0 (0,0)
0 (0,0)
3 (11,5)
Não respondeu
1 (100,0)
0 (0,0)
1 (8,3)
6 (75,0)
2 (25,0)
8 (61,5)
0 (0,0)
0 (0,0)
0 (0,0)
9 (34,6)
Medicamento antidepressivos
Quando se trata de companhia, os idosos casados apresentaram menor suscetibilidade
à depressão. Prince et al. (1998), revelaram que as mulheres casadas têm maior risco de
ficarem deprimidas do que os homens. Por outro lado, na ausência de companheiro(a), os
homens apresentam maior chance em relação às mulheres.
A baixa escolaridade é outra condição social vista como determinante para a manutenção da qualidade de vida como apresentado por Castan e Brentano (2017). Neste sentido, é
possível que o maior grau de instrução permita melhor estado de proteção ao adoecimento
mental, devido ao acesso à informação e aos serviços antes que haja agravamento da condição em saúde do idoso, bem como cria possibilidades para hábitos saudáveis, influencia
a autoestima, gera menor frustração durante a senescência e reduz o surgimento de incapacidades (GIATTI; BARRETO, 2003).
Observa-se ainda o baixo índice de diagnóstico médico para a depressão. Em serviços de atendimentos gerais e de cuidados primários, sendo estes feitos por médicos não
psiquiatras, 30% a 50% dos casos de depressão não são diagnosticados. Além dos pacientes terem preconceito em relação ao processo de diagnóstico e tratamento, ainda há falta
de especialistas que conheçam os sintomas físicos da depressão (TYLEE et al., 1995).
Somado a isso, observa-se a utilização de psicofármacos de forma inadequada, e muitas
vezes por pacientes não diagnosticados, fazendo com que recebam tratamento sintomático
(SHIRAMA; MIASSO, 2013).
290
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Tabela 3. Idosos com diagnóstico médico de depressão estratificados quanto ao estado psicológico de acordo com a
EDG-15 e sexo, bem como o medicamento utilizado, seu código ATC e classificação farmacoterapêutica, Ituiutaba, Minas
Gerais, 2018.
Medicamentos
Classificação
farmacoterapêutica
Estado psicológico
Sexo
ATC*
Psicológico
normal
n
Depressão leve
n
Homem
n
Mulher
n
Alprazolam
Ansiolítico
N05BA12
0
1
1
0
Amitriptilina
Antidepressivo
N06AA09
1
0
1
0
Clonazepam
Antiepilético
N03AE01
3
1
3
1
Diazepam
Ansiolítico
N05BA01
2
0
1
1
Duloxetina
Antidepressivo
N06AX21
1
0
1
0
Escitalopram
Antidepressivo
N06AB10
1
0
1
0
Fenobarbital
Antiepilético
N03AA02
0
1
0
1
Fluoxetina
Psicoléptico
N06CA03
2
0
2
0
Imipramina
Antidepressivo
N06AA02
1
0
1
0
Paroxetina
Antidepressivo
N06AB05
0
1
0
1
Pregabalina
Antiepilético
N03AX16
1
0
1
0
* Nível 3 (Anatomical Therapeutic Chemical (https://www.whocc.no/atc_ddd_index/)
Além disso, é importante ressaltar que além dos sintomas comuns da depressão, como
humor depressivo e insatisfação, pode ocorrer ainda a intensificação de sintomas como cefaleia e fadiga persistente, mesmo sem esforço físico (DEL PORTO, 1999). Estes sintomas
podem estar associados à presença de doenças físicas ou à utilização de medicamentos
(STELLA et al., 2002). Por isso, é necessário identificar e tratar a depressão a fim de diminuir
o agravamento de outras doenças, diminuindo o risco de morte.
O uso de psicofármacos está comumente associado ao surgimento e agravamento
de incapacidades no idoso, como mostra um estudo longitudinal realizado no município de
Bambuí-MG, no qual foi evidenciado que os sintomas depressivos estão presentes em cerca
de 60% dos idosos com incapacidade ao realizar as Atividades Instrumentais de Vida Diária
– AIVD e as Atividades Básicas de Vida Diária – ABVD (FALCI et al., 2019). Mesmo diante da
sua efetividade no tratamento de transtorno depressivo grave, o uso prolongado de algumas
classes de psicotrópicos, incluindo amitriptilina e paroxetina, prejudica a funcionalidade do
idoso e reduz sua função cognitiva, prejudicando sua capacidade motora (KIKUCHI et al.,
2013; FOX et al., 2014). Ainda, o risco pode ser potencializado quando o uso de psicotrópicos
por idosos é associado a polifarmácia (NOIA et al., 2012; GUIMARÃES; MOURA, 2012).
A avaliação do fármaco apropriado nessa faixa etária apresenta complexidade e requer
muita atenção do profissional em consideração às condições clínicas e as interações fisiológicas que interferem na farmacodinâmica e farmacocinética do medicamento. Para que
haja a diminuição dos riscos na saúde do idoso, o atendimento multiprofissional associado à
educação em saúde e uma rede de apoio integrado podem contribuir positivamente durante
a farmacoterapia (ANACLETO, 2017).
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
291
Portanto, cabe às equipes de assistência identificar os fatores que podem agravar precocemente a qualidade de vida dos idosos, detectando sinais de depressão e os aspectos
associados, além de promover atividades que visam minimizar este quadro, preservando a
autonomia do idoso (ALVARENGA; OLIVEIRA; FACCENDA, 2012).
Um outro aspecto importante é a validação da EDG-15, a qual teve suas propriedades psicométricas verificada em vários estudos, sendo atestada sua alta sensibilidade e
especificidade, boa acurácia e melhor desempenho quanto aos valores preditivos positivos
e resultados negativos para o rastreio da depressão em idosos quando comparada com
outros instrumentos validados e utilizados mundialmente (COUTINHO; HAMDAN, 2016;
DIAS et al., 2017; MAXIMIANO-BARRETO et al., 2019). Além disso, delineamentos com
características sociodemográficas que adotaram a EDG como instrumento de rastreio da
depressão obtiveram frequências similares às encontradas em Ituiutaba-MG (OLIVEIRA;
GOMES; OLIVEIRA, 2006; SANTOS et al., 2012; SILVA et al., 2016).
As limitações deste estudo também devem ser apontadas, uma vez que há a possibilidade de viés de omissão de renda e/ou ocupação por parte dos entrevistados. Ainda, por
ser um estudo transversal, não é possível inferir aspectos sociodemográficos e a causalidade
da depressão. Em contraponto, os dados foram levantados utilizando uma ferramenta de
diagnóstico de boa acurácia, revelando a situação de vida dos idosos atendidos, sendo um
ponto alto do delineamento.
CONCLUSÃO
O estudo demonstra prevalência de distúrbio mental, de acordo com a EDG-15, entre
as mulheres idosas aposentadas e/ou pensionistas, com menor grau de instrução e que declararam não possuir companheiro. Além disso, a ferramenta de rastreio aplicada identificou
subnotificação da depressão no município, comparando o resultado da aplicação da EDG-15
e a declaração de diagnóstico médico feita por cada participante da pesquisa.
Ainda, os dados levantados no estudo evidenciam a utilização de fármacos de maneira inadequada, sendo que indivíduos não diagnosticados com depressão fazem uso de
psicotrópicos na terapêutica de transtornos. Além disso, foi possível notar que idosos que
utilizam psicofármacos apresentam maior grau de incapacidades.
Portanto, o acompanhamento dos idosos pela atenção primária é de extrema importância, seja com atividades de educação preventiva em saúde ou pelo rastreio dos possíveis
riscos de agravo à condição clínica, e poderá garantir melhor condição de vida na senescência e evitar uma potencial vulnerabilidade e fragilidade do idoso.
292
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
AGRADECIMENTOS
Aos estudantes Andressa Cristina Stuchi e Victor Antonio Ferreira Freire por auxiliarem na coleta de dados. À Prefeitura Municipal de Ituiutaba/Secretaria Municipal de
Saúde. Ao apoio da Universidade Federal de Uberlândia concedido a execução do projeto
“Atenção preventiva e educativa em saúde do idoso: o saber e o fazer compartilhados em
Ituiutaba-MG” (SIEX 12440 e 15574).
REFERÊNCIAS
1.
2.
3.
ALMEIDA, O. P.; ALMEIDA, S.A. Confiabilidade da versão brasileira da Escala de Depressão
em Geriatria (GDS) versão reduzida. Arquivos de Neuro-psiquiatria, v. 57, n. 2B, p. 421-426,
1999. DOI: 10.1590/S0004-282X1999000300013.
ALVARENGA, M. R. M.; OLIVEIRA, M. A. C.; FACCENDA, O. Sintomas depressivos em idosos:
análise dos itens da Escala de Depressão Geriátrica. Acta Paulista de Enfermagem, v. 25, n.
4, p. 497-503, 2012. DOI: 10.1590/S0103-21002012000400003.
ANACLETO, T. A. (Coord.) Medicamentos potencialmente inadequados para idosos. Boletim
ISMP, v. 7, n. 3, p. 1-8, 2017. Disponível em: https://www.ismp-brasil.org/site/wp-content/uploads/2017/09/is_0006_17a_boletim_agosto_ismp_210x276mm_v2.pdf. Acesso em: 09 set 2020.
4.
ARGIMON, I. I. L. et al. Aplicabilidade do Inventário de Depressão de Beck-II em idosos: uma
revisão sistemática. Avaliação Psicológica, v. 15, n. esp., p. 11-17, 2016. Número especial.
Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/avp/v15nspe/v15nspea03.pdf. Acesso em: 31
ago 2020.
5.
BARROS, V. A. M.; FIUZA, A. L.C.; PINTO, N. M.A. Habitus of social security in the lifestyles
of rural families: the case of the São Miguel do Anta and Piranga municipalities in Zona da
Mata Mineira, Brazil. Ciência Rural, v. 47, n. 6, e20151191, p. 1-6, 2017. DOI: 10.1590/01038478cr20151191.
6.
BARROSO, M. L. et al. A depressão como causa do desenvolvimento da ideação suicida na
pessoa idosa e as consequências no âmbito familiar. Revista Multidisciplinar e de Psicologia, v.
12, n. 41, p. 66-76, 2018. Disponível em: https://idonline.emnuvens.com.br/id/article/view/1201.
Acesso em: 20 mar 2020.
7.
8.
BITTENCOURT, B. M. et al. Para além do tempo de emprego: o sentido do trabalho no processo de aposentadoria. Revista de Ciências da Administração, v. 13. n. 31, p. 30-57, 2011.
DOI: 10.5007/2175-8077.2011v13n31p30.
BRASIL. Lei n. 8.842, de 04 de janeiro de 1994. Dispõe sobre a Política Nacional do Idoso,
cria o Conselho Nacional do Idoso e dá outras providências. Casa Civil, Brasília, DF, 04 de jan.
1994. Disponível em: https://sbgg.org.br/wp-content/uploads/2014/10/politica-nacional-do-idoso.
pdf. Acesso em: 31 ago 2020.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
293
9.
10.
11.
12.
13.
COUTINHO, F. L.; HAMDAN, A. C. Escala Baptista de Depressão para Idosos – EBADEP-ID:
evidências de validade. Perspectiva en Psicología – Revista de Psicología y Ciencias afines,
v. 13, n. 2, p. 1-9, 2016. Disponível em: http://200.0.183.216/revista/index.php/pep/article/
view/1/114. Acesso em: 22 ago 2020.
DEL PORTO, J. A. Conceito e diagnóstico. Brazilian Journal of Psychiatry, v. 21, s. 1, p. 6-11,
1999. DOI: 10.1590/S1516-44461999000500003.
DIAS, F. L. C. et al. Accuracy of the 15-item Geriatric Depression Scale (GDS-15) in a community-dwelling oldest-old sample: the Pietà Study. Trends in Psychiatry and Psychotherapy, v.
39, n. 4, p. 276-279, 2017. DOI: 10.1590/2237-6089-2017-0046.
FALCI, D. M. et al. O uso de drogas psicoativas prediz incapacidade funcional entre idosos. Revista de Saúde Pública, v. 53, e21, p. 1-12, 2019. DOI: 10.11606/s1518-8787.2019053000675.
14.
FLECK, M. P. et al. Revisão das diretrizes da Associação Médica Brasileira para o tratamento
da depressão (Versão integral). Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 31, supl. 1, S7-S17, 2009.
DOI: 10.1590/S1516-44462009000500003.
15.
FOX C. et al. Effect of medications with anti-cholinergic properties on cognitive function, delirium, physical function and mortality: a systematic review. Age Ageing, v. 43, n. 5, p. 604-615,
2014. DOI: 10.1093/ageing/afu096.
16.
FRADE, J. et al. Depressão no idoso: sintomas em indivíduos institucionalizados e não-institucionalizados. Revista de Enfermagem Referência, v. 4, n. 4, p. 41-49, 2015. DOI: 10.12707/
RIV14030.
17.
18.
19.
20.
21.
22.
294
CASTAN, J. U.; BRENTANO, V. Psicodiagnóstico na Unidade de Internação Psiquiátrica de
um Hospital Universitário: descrição da demanda de 2015. Revista da Sociedade Brasileira
de Psicologia Hospitalar, v. 20, n. 1, p. 195-208, 2017. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.
org/pdf/rsbph/v20n1/v20n1a12.pdf. Acesso em: 15 abr 2020.
GIATTI, L.; BARRETO, S. M. Saúde, trabalho e envelhecimento no Brasil. Cadernos de Saúde
Pública, v. 19, n. 3, p. 759-771, 2003. DOI: 10.1590/S0102-311X2003000300008.
GUIMARÃES, P. L.; MOURA, C. S. Fatores associados ao uso de medicamentos impróprios
de alto risco em pacientes idosos hospitalizados. Revista Brasileira de Farmácia Hospitalar e
Serviços de Saúde, v. 3, n. 4, p. 15-19, 2012. Disponível em: https://www.rbfhss.org.br/sbrafh/
article/view/142/144. Acesso em: 09 set 2020.
HEISE, L. Gender-based abuse: the global epidemic. Cadernos de Saúde Pública, v. 10, suppl.
1, p. S135-S145, 1994. DOI: 10.1590/S0102-311X1994000500009.
KIKUCHI, T. et al. Association between antidepressant side effects and functional impairment in
patients with major depressive disorders. Psychiatry Research, v. 210, n. 1, p. 127-133, 2013.
DOI: 10.1016/j.psychres.2013.05.007.
LIMA, M. S. Epidemiologia e impacto social. Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 21, s. 1, p.
1-5, 1999. DOI: 10.1590/S1516-44461999000500002.
LLOYD, K. R.; JENKINS, R.; MANN, A. Long-term outcome of patients with neurotic illness
in general practice. British Medical Journal, v. 313, n. 7048, p. 26-28, 1996. DOI: 10.1136/
bmj.313.7048.26.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
23.
LOYOLA FILHO, A. I. et al. Tendências no uso de antidepressivos entre idosos mais velhos:
Projeto Bambuí. Revista de Saúde Pública, v. 48, n. 6, p. 857-865, 2014. DOI: 10.1590/s00348910.2014048005406.
24.
MAGALHÃES, J. M. et al. Depressão em idosos na estratégia saúde da família: uma contribuição para a atenção primária. Revista Mineira de Enfermagem, v. 20, n. e947, p. 1-6, 2016.
DOI: 10.5935/1415-2762.20160016.
25.
MATIAS, A. G. C. et al. Indicadores de depressão em idosos e os diferentes métodos de rastreamento. Einstein v. 14, n. 1, p. 6-11, 2016. DOI: 10.1590/S1679-45082016AO3447.
26.
MAXIMIANO-BARRETO, M. A. et al. Ansiedade e depressão e a relação com a desigualdade social entre idosos. Psicologia, Saúde & Doenças, v. 20, n. 1, p. 209-219, 2019. DOI:
10.15309/19psd200117.
27.
28.
29.
30.
31.
32.
33.
MCGIVNEY, S. A.; MULVIHILL, M.; TAYLOR, B. Validating the GDS depression screen in the
nursing home. Journal of the American Geriatrics Society, v. 42, n. 5, p. 490-492, 1994. DOI:
10.1111/j.1532-5415.1994.tb04969.x.
MELLO, A. C. ENGSTROM, E. M. ALVES, L. C. Fatores sociodemográficos e de saúde associados à fragilidade em idosos: uma revisão sistemática de literatura. Cadernos de Saúde
Pública, v. 30, n. 6, p. 1143-1168, 2014. DOI: 10.1590/0102-311X00148213.
NOIA, A. S. et al. Fatores associados ao uso de psicotrópicos por idosos residentes no município de São Paulo. Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 46, n. spe., p. 38-43, 2012.
DOI: 10.1590/S0080-62342012000700006.
OLIVEIRA, D. A. A. P.; GOMES, L.; OLIVEIRA, R. F. Prevalência de depressão em idosos que
frequentam centros de convivência. Revista de Saúde Pública, v. 40, n. 4, p.734-736, 2006.
DOI: 10.1590/S0034-89102006000500026.
ORMEL, J. et al. Depression, anxiety, and social disability show synchrony of change in primary care patients. American Public Health Association, v. 83, n. 3, p. 385-390, 1993. DOI:
10.2105/ajph.83.3.385.
PINHO, M. X.; CUSTÓDIO, O.; MAKDISSE, M. Incidência de depressão e fatores associados
em idosos residentes na comunidade: revisão de literatura. Revista Brasileira de Geriatria e
Gerontologia, v. 12, n. 1, p. 123-140, 2009. DOI: 10.1590/1809-9823.2009120111.
PRINCE, M. J. et al. A prospective population-based cohort study of the effects of disablement
and social milieu on the onset and maintenance of late-life depression. Psychological Medicine,
v. 28, n. 2, p. 337-350, 1998. DOI: 10.1017/s0033291797006478.
34.
RAMOS, F. P. et al. Fatores associados à depressão em idoso. Revista Eletrônica Acervo
Saúde, vspl. 19, e239, p. 1-8, 2019. DOI: 10.25248/reas.e239.2019.
35.
SANTOS, A. J. et al. Estudo de validação em Portugal de uma versão reduzida da Escala de
Depressão Geriátrica. Análise Psicológica, v. 37, n. 3, p. 405-415, 2019. DOI: 10.14417/ap.1505.
36.
SANTOS, J. G. et al. Sintomas depressivos e prejuízo funcional de idosos de um Centro-Dia
Geriátrico. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, v. 61, n. 2, p. 102-106, 2012. DOI: 10.1590/S004720852012000200008.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
295
37.
38.
39.
296
SHIRAMA, F. H.; MIASSO, A. I. Consumo de psicofármacos por pacientes de clínicas médica
e cirúrgica de um hospital geral. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v. 21, n. 4, p. 1-8,
2013. DOI: 10.1590/S0104-11692013000400017.
SILVA, J. C. A. et al. Associação entre o risco de queda e o índice de depressão em idosos.
Revista de Políticas Públicas, v. 15, n. 2, p. 8-14, 2016. Disponível em: https://sanare.emnuvens.com.br/sanare/article/view/1032/578. Acesso em: 20 jul 2020.
STELLA, F. et al. Depressão no idoso: diagnóstico, tratamento e benefícios da atividade física.
Motriz – Revista de Educação Física, v. 8, n. 3, p. 91-98, 2002. DOI: https://doi.org/10.5016/6473.
40.
STEVENS, A.; SCHMIDT, M. I.; DUCAN, B. B. Desigualdades de gênero na mortalidade por
doenças crônicas não transmissíveis no Brasil. Ciência e Saúde Coletiva, v. 17, n. 10, p. 26272634, 2012. DOI: 10.1590/S1413-81232012001000012.
41.
TYLEE, A. et al. How does the content of consultations affect the recognition by general practitioners of major depression in women? British Journal of General Practice, v. 45, n. 400, p.
575-578, 1995. Disponível em: https://bjgp.org/content/bjgp/45/400/575.full.pdf. Acesso em:
15 abr 2020.
42.
UNITED NATIONS. The World’s Women 2010: Trends and Statistics. New York: United Nations,
2010. 255 p. Disponível em: https://unstats.un.org/unsd/demographic/products/Worldswomen/
WW_full%20report_BW.pdf. Acesso em: 31 ago 2020.
43.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Depression and other common mental disorders: global
health estimates. Geneva: WHO, 2017. 22p. Disponível em: https://apps.who.int/iris/bitstream/
handle/10665/254610/WHO-MSD-MER-2017.2-eng.pdf;jsessionid=E1E793CE2F61FCDFD42C8882159F5494?sequence=1. Acesso em: 31 ago 2020.
44.
YESAVAGE, J. A. et al. Development and validation of a geriatric depression screening scale: A preliminary report. Journal of Psychiatric Research, v. 17. n. 1, p. 37-49, 1983. DOI:
10.1016/0022-3956(82)90033-4.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
23
“
Reações adversas aos
antimicrobianos em pessoas
idosas: o que deve ser observado?
Lidiane Riva Pagnussat
UPF
Siomara Regina Hahn
(UPF
Adriano Pasqualotti
UPF
10.37885/201202417
RESUMO
Os antimicrobianos são medicamentos que provocam a morte ou inibição do crescimento
de microrganismos e são utilizados para o tratamento de infecções. As alterações fisiológicas (farmacocinéticas e farmacodinâmicas) que ocorrem com o envelhecimento podem
dificultar o uso adequado dos antimicrobianos em pessoas idosas. Nesta perspectiva, a
dose inapropriada e/ou o uso concomitante com outros fármacos podem potencializar o
aparecimento de interações e reações adversas. O objetivo desta revisão é identificar as
principais reações adversas encontradas na literatura para cada classe antimicrobiana em
pacientes idosos. Realizou-se uma revisão bibliográfica de artigos em inglês e português,
através do PubMed e BIREME publicados no período de 2010 até 2018. Os antimicrobianos estão entre as classes de medicamentos mais associadas a reações adversas, e
entre estes, principalmente as penicilinas, fluorquinolonas, cefalosporinas, macrolídeos
e sulfonamidas. As reações adversas podem ser de efeitos neurotóxicos, distúrbios dos
tecidos cutâneos e subcutâneos, lesões renais, hipocalemia, reações hematológicas,
entre outras. Os fatores de risco relacionados a estas reações a população idosa, podem
ser insuficiência renal crônica, maior tempo de internação hospitalar, maior número de
comorbidades e de medicamentos em uso. Por isso, os profissionais da saúde devem
estar atentos a necessidades de adequação na terapia para garantir a segurança do
tratamento nesta população.
Palavras- chave: Idoso, Efeitos Colaterais e Reaç ões Adversas Relacionados a
Medicamentos, Antimicrobianos
INTRODUÇÃO
Qualquer ocorrência médica desfavorável ocorrida durante o tratamento com um medicamento, mas que não possui, necessariamente, relação causal com esse tratamento é
considerado um evento adverso. Este pode ser uma reação adversa a medicamento (RAM),
que ocorre quando a resposta for nociva e não-intencional a um medicamento nas doses
normalmente usadas em seres humanos. Essa resposta sofre interferência de fatores individuais de cada paciente (OMS, 2005). O envelhecimento da população é uma das mais
significativas tendências do século XXI, no Brasil estima-se que a população de pessoas
com 65 anos ou mais chegará a 25,2% em 2058 (IBGE, 2018). Essa população tem maior
risco de sofrer reações adversas a medicamentos devido a alterações nas propriedades farmacocinéticas e farmacodinâmicas, uso de polifarmácia e inúmeras comorbidades (DAVIES;
O’MAHONY, 2015; HILMER; MCLACHLAN; LE COUTEUR, 2007; WELKER; MYCYK, 2016).
A alta incidência de eventos adversos foi descrita em um estudo de coorte americano
com 30.397 adultos maiores de 65 ano que identificou 1523 eventos adversos a medicamentos. Destes, 27,6% (421) foram considerados evitáveis. O estudo encontrou uma taxa global
de eventos adversos a medicamentos de 50,1 por 1000 pessoas-ano, com uma taxa de 13,8
eventos adversos evitáveis por 1000 pessoas-ano, sendo que 578 (38,0%) foram categorizados como graves, com risco de vida ou fatais (GURWITZ et al., 2003). As alterações fisiológicas como: aumento do pH gástrico, a redução da motilidade e da superfície de absorção no
trato gastrointestinal, a diminuição do fluxo sanguíneo, diminuição do metabolismo hepático
e do clearence de creatinina, assim como o aumento da gordura corporal e diminuição da
massa muscular que ocorrem como envelhecimento, alteram a farmacocinética dos medicamentos causando modificações na absorção, distribuição, metabolismo, eliminação e ligação
às proteínas (DAVIES; O’MAHONY, 2015; HILMER; MCLACHLAN; LE COUTEUR, 2007).
Podem ocorrer também alterações fisiológicas que influenciam na farmacodinâmica
dos medicamentos, e assim na resposta órgão-alvo. Essas podem estar relacionadas a
modificações do sistema nervoso autônomo, alterações no número de receptores (números
de canais de cálcio e nos receptores beta-adrenérgicos) e na afinidade de ligação receptor-medicamento (HILMER; MCLACHLAN; LE COUTEUR, 2007). Além disso, as pessoas
idosas possuem um maior risco de infecções, a incidência de pneumonias adquiridas da
comunidade pode ser até três vezes maior, e a de infecções urinárias em até duas vezes,
quando comparada à população mais jovem. Esse risco pode estar relacionado a uma deficiência orgânica do sistema imunológico devido à redução na produção de anticorpos e
células T que ocorre com o envelhecimento e a desnutrição (deficiência calórico-protéica,
e/ou deficiência de micro-nutrientes) comum em pessoas idosas (MOREIRA et al., 2007).
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
299
Para o tratamento destas infecções é necessário o uso de antimicrobianos, que são medicamentos que provocam a morte ou inibição do crescimento de microrganismos (BARROS
et al., 2013). As alterações fisiológicas (farmacocinéticas e farmacodinâmicas) que ocorrem
com o envelhecimento podem dificultar o uso adequado dos antimicrobianos em pessoas
idosas, por exemplo a dose apropriada para pessoas idosas pode não ser a mesma utilizada
para adultos jovens. E o uso concomitante de outros fármacos pelas pessoas idosas, requer
atenção especial em razão de potenciais interações e reações adversas (MOREIRA et al.,
2007). Por estas razões é necessário monitorar o uso destes medicamentos nesta população, o que requer dos profissionais de saúde compreensão da eficácia dos medicamentos,
da avaliação do risco de eventos adversos, discussão da relação dano/ benefício com o
paciente, regime de dose e monitoramento cuidadoso do paciente e das possíveis intervenções na terapia medicamentosa dos mesmos (HILMER; MCLACHLAN; LE COUTEUR,
2007; MOREIRA et al., 2007).
OBJETIVO
Identificar as principais reações adversas encontradas na literatura para cada classe
antimicrobiana em pacientes idosos.
MÉTODOS
Foi realizado uma revisão bibliográfica de artigos em inglês e português, através do
PubMed e BIREME publicados no período de 2010 até 2018. Estudos adicionais foram
identificados através de pesquisa bibliografias de artigos primários e resumos de conferências. As palavras de busca utilizadas foram Drug-Related Side Effects and Adverse Reactions,
Antimicrobial e Aged. Todas as pesquisas foram limitadas a seres humanos. Os artigos foram
excluídos quando, após leitura, não se referiam ao objetivo principal da presente pesquisa.
Análise descritiva dos artigos foi realizada.
RESULTADOS
O Quadro 1 apresenta um resumo das principais reações adversas encontradas para
cada classe antimicrobiana em paciente pessoas idosas.
300
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Quadro 1. Resumo das principais reações adversas encontradas para cada classe antimicrobiana.
Classe de
antimicrobianos
Reações
adversas
Referências
Fluorquinolonas
Efeitos neurológicos (psicose aguda, confusão, delirium, alucinações,
ansiedade, inquietação, euforia, tontura, insônia, mania, comportamentos
suicidas) e neuropatia periférica;
Descolamento de retina;
Lesões hepáticas;
Distúrbios:
▪ Renais (Lesões renais agudas);
▪ Hematológicos (trombocitopenia);
▪ Dos tecidos cutâneos e subcutâneos;
▪ Gastrointestinais;
▪ Associados ao colágeno (ruptura de tendão e aneurisma aórtico);
Cardiopatias;
Reações no local da administração endovenosa;
CHOPRA et al., 2015; JUNG et al., 2017; LIN
et al., 2014; MATTAPPALIL; MERGENHAGEN,
2014; MEREL; PAAUW, 2017; SAMYDE et
al., 2016; TAMMA et al., 2017; VALOUR et
al., 2014.
Cefalosporisnas
Efeitos neurológicos (confusão, delirium, convulsões, NCSE), mais comum
com cefepime, ceftazidima e cefazolina;
Distúrbios:
▪ Dos tecidos cutâneos e subcutâneos (mais comum com cefalosporinas
de 3ª geração);
▪ Gastrointestinais (mais comum com cefalosporinas de 3ª geração);
Hematológicos e sistema linfático (mais comum com cefalosporinas de 3ª
geração);
▪ Respiratórios, torácicos e do mediastino (mais comum com cefalosporinas de 3ª geração);
Hepáticos;
Cardiopatas (mais comum com cefalosporinas de 2ª e 3ª geração) e Síndrome de Kounis (Mais comum ceftazidima);
Nefrotoxicidade;
CHOPRA et al., 2015; HONORE; SPAPEN,
2015; JUNG et al., 2017; KITULWATTE et
al., 2017; LIN et al., 2014; MAC et al., 2015;
MARCONDES-FONSECA et al., 2018; MATTAPPALIL; MERGENHAGEN, 2014; NAKAHARAI
et al., 2016; TAMMA et al., 2017; VALOUR
et al., 2014.
Beta lactâmicos
Efeitos neurológicos (comportamento bizzaro, confusão, delirium, desorientação, alucinações NCSE, convulsões) mais comum com a piperacilina/
tazobactam
-Insuficiência renal aguda (potencializada no uso concomitante de outros
agentes nefrotóxicos);
Distúrbios:
▪ Hematológicos e sistema linfático;
▪ Hepatobiliares;
▪ Tecidos cutâneos e subcutâneos;
▪ Gastrointestinais;
Afecções musculosqueléticas e dos tecidos conjuntivos;
CHOPRA et al., 2015; JUNG et al., 2017; LIN
et al., 2014; MARCONDES-FONSECA et al.,
2018; MATTAPPALIL; MERGENHAGEN, 2014;
TAMMA et al., 2017; VALOUR et al., 2014.
Carbapenêmicos
Efeitos neurológicos (Declínio cognitivo, delirium, alucinações, síndrome
psicótica, convulsões) mais comum com a imipenem e ertapenem;
Distúrbios:
▪ Gastrointestinais;
▪ Dos tecidos cutâneos e subcutâneos;
JUNG et al., 2017; MATTAPPALIL; MERGENHAGEN, 2014.
Macrolídeos
Efeitos neurológicos (psicose aguda, delirium, mania) mais comum claritromicina e eritromicina;
Hipotensão (principalmente associados bloqueadores dos canais de
cálcio);
Distúrbios renais (Lesões renais agudas);
MATTAPPALIL; MERGENHAGEN, 2014; VALOUR et al., 2014; WRIGHT et al., 2011.
Sulfonamidas
Efeitos neurológicos (psicose aguda, meningite asséptica, alucinações)
mais comum com SMX/TMP;
Hipercalemia (interação com diurético);
Hipoglicemia;
Distúrbios dos tecidos cutâneos e subcutâneos;
ANTONIOU et al., 2011a, 2011b; JUNG et
al., 2017; LIN et al., 2014; MATTAPPALIL;
MERGENHAGEN, 2014; MEREL; PAAUW,
2017; ROSSIO et al., 2018; WEIR et al.,
2010.
Nitroimidazólicos
Efeitos neurológicos (agitação, alteração do estado mental, disfunção
cerebelar, encefalopatia, ototoxicidade, neuropatia periférica, psicose,
convulsões) principal metronidazol.
JUNG et al., 2017; MATTAPPALIL; MERGENHAGEN, 2014; TAMMA et al., 2017.
Oxazolidinonas
Efeitos neurológicos (Delirium, encefalopatia, neuropatia periférica, Síndrome serotoninérgica) mais comum linezolida;
MATTAPPALIL; MERGENHAGEN, 2014.
Outros antibióticos
Hipercalemia (nitrofurantoína);
Vómitos, aumento da bilirrubina no sangue (Rifampicina);
MEREL; PAAUW, 2017; VALOUR et al., 2014.
Glicopéptidos
Reações alérgicas (erupção cutânea difusa e síndrome do homem vermelho);
Distúrbios
▪ Renais (Lesões renais agudas);
▪ Hematológicos e sistema linfático;
VALOUR et al., 2014.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
301
Classe de
antimicrobianos
Reações
adversas
Referências
Aminoglicosídeo
Distúrbios renais (Lesões renais agudas);
Nefrotoxicidade, neurotoxicidade (ototoxicidade, neuropatia periférica,
encefalopatia, delirium e bloqueio neuromuscular), sintomas vestibulotóxicos (tontura, ataxia ou nistagmo) principalmente gentamicina e a
tobramicina. E neuropatia periférica e encefalopatia;
MATTAPPALIL; MERGENHAGEN, 2014;
VALOUR et al., 2014.
NCSE = Status epilepticus não convulsivos SMX/TMP = sulfametoxizol/trimetoprima
DISCUSSÃO
Eventos adversos a medicamentos são importantes causas evitáveis de hospitalização
em pessoas idosas, principalmente entre adultos com 80 anos ou mais (BUDNITZ et al.,
2011). Um estudo americano avaliou 1488 pacientes, com idade mediana de 59 anos, internados em um hospital de ensino, que utilizaram antibióticos. Foi registrado pelo menos
um evento adverso em 298 (20%) pacientes. A prescrição sem necessidade de regimes
antimicrobianos foi associada a um evento adverso em 56 pacientes, incluindo 7 casos de
infecção por C. difficile. O risco de evento adverso aumenta 3% a cada 10 dias adicionais
de antibioticoterapia e os eventos mais comuns foram distúrbios gastrointestinais (42%),
renais (24%) e hematológicos (15%) (TAMMA et al., 2017).
Em Portugal, um estudo mostrou que os antibióticos foram a classe de medicamentos
mais associadas a RAMs (22%), seguido das vacinas (16%) e fármacos que atuam no sistema nervoso (15%), e foram mais comuns entre adultos de 19 e 65 anos (56,9%) e com mais
de 65 anos (23,2%). Dentre os antimicrobianos o relato de RAM foi principalmente para as
penicilinas associadas a inibidores de beta-lactamases (20,7%), quinolonas (16,7%), cefalosporinas (12,6%), penicilinas (9,7%), macrolídeos (7,6%) e sulfonamidas (6,5%) (MARQUES
et al., 2013). Um estudo brasileiro encontrou uma incidência de RAM de 16,2% em pacientes
hospitalizados sendo que os antibióticos foram os medicamentos mais comumente envolvidos (21,2%), seguidos por opioides (13,8%). Os fatores de risco relacionados a RAM foram:
insuficiência renal crônica, maior tempo de internação hospitalar, uso de polifarmácia, pois
para cada medicamento introduzido durante a internação aumentou em 10% a taxa de reação adversa a medicamentos (MARCONDES-FONSECA et al., 2018). Um estudo francês
de coorte retrospectivo (de 2001 a 2011) avaliou 200 pacientes, com idade mediana de 60,8
anos, em terapia com antimicrobiano anti-estafilocócico, e identificou 38 reações adversas em
30 pacientes (15%). As principais reações foram hematológicas, cutâneo-mucosas, lesões
renais agudas, hipocalemia e hepatite colestática(VALOUR et al., 2014).
Como a população idosa está mais predisposta as reações adversas ao antimicrobianos,
torna-se fundamental o conhecimento dos profissionais sobre as possíveis RAM associadas a terapia antimicrobiana. As reações adversas podem acometer diferentes sistemas do
corpo humano e ter diferentes classificações de gravidade (OMS, 2005). Entre elas destacam-se as alterações do sistema nervoso central, que podem ter sérias consequências na
302
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
população idosa devido aos riscos (quedas, interações com outros medicamentos, toxicidade,
entre outros). A exposição recorrente a antibióticos está associada ao aumento do risco de
depressão e ansiedade (LURIE et al., 2015), e o desenvolvimento de vários sintomas de
neurotoxicidade em pessoas idosas pode ser comum com o uso de piperacilina/tazobactam,
cefalosporinas, carbapenêmicos, aminoglicosídeos, trimetoprim/sulfametoxazol, nitrofurantoína, linezolida e fluoroquinolonas. Os mecanismos potenciais de neurotoxicidade diferem
entre os agentes ou não estão totalmente elucidadas. A incidência pode aumentar com os
fatores de risco relatados, disfunção renal ou interações medicamentosas (MATTAPPALIL;
MERGENHAGEN, 2014).
As reações adversas cutâneas graves também são importantes e incluem a síndrome
de Stevens-Johnson (SSJ), necrólise epidérmica tóxica (NET), erupção medicamentosa
com eosinofilia e sintomas sistêmicos (DRESS) e pustulose exantemática generalizada
aguda (PEGA), relacionados ao uso de antibióticos sistêmicos como penicilinas, cefalosporina e glicopeptídeos. Nesses casos pode ser necessário uso de terapia alternativa, uso
de corticosteróides e imunoglobulina intravenosa {Formatting Citation}. Importante reação
adversa que ocorre principalmente com o uso prolongado a antimicrobianos é a colite pseudomembranosa, provocada por toxinas produzidas por cepas de Clostridium difficile no trato
gastrintestinal. Os principais sintomas são diarreia, algumas vezes sanguinolenta, e para o
tratamento é preciso adicionar à terapia outros antimicrobianos como o metronidazol e/ou
vancomicina (MCDONALD et al., 2018). Existem diversos tipos de RAM, estudos recentes
descrevem mecanismos associando possíveis causas e intervenções necessárias para os
principais grupos de antimicrobianos, como:
Cefalosporinas
a) Síndrome de Kounis, também conhecida como infarto do miocárdio alérgico ou
síndrome da angina alérgica, coincide com a dor no peito e reações alérgicas, reação incomum grave que pode ocorrer com a ativação de células inflamatórias (relato após uso de
ceftazidima) (KITULWATTE et al., 2017).
b) Nefrotoxicidade: pode ser um evento comum com o uso de cefalosporinas, a nefrite
intersticial aguda e um evento raro que pode ocorrer com o uso de cefepime, mesmo sendo
considerada seguro no aspecto de nefrotoxicidade. Desta forma a monitorização cuidadosa
dos parâmetros renais deve ser realizada em pacientes em terapia prolongada com cefepime
(MAC et al., 2015).
c) Hepatotoxidade: a Ceftriaxona foi reconhecida como um medicamento bem tolerado;
no entanto, em alguns casos, a disfunção hepática ocorre após o uso de altas doses de
ceftriaxona (NAKAHARAI et al., 2016)
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
303
d) Distorções no sistema nervoso central como: encefalopatia, confusão, mioclonia,
coma, convulsões, delirium e status epilepticus, ocorrem pelo antagonismo do GABA pelas cefalosporinas. O risco maior ocorre no uso da cefepime devido à boa penetração no
SNC, e uso de altas doses. Os fatores de risco associados incluem insuficiência renal,
doença neurológica pré-existente e idade avançada. A resolução dos efeitos ocorreu após
a descontinuação da cefalosporina, mas recomenda-se ajuste de dose nas cefalosporinas
eliminadas renalmente para prevenir a neurotoxicidade em pessoas com insuficiência renal
(MATTAPPALIL; MERGENHAGEN, 2014).
Fluoroquinolonas
a) Neuropatia periférica é uma RAM que pode ocorrer em até 24 horas após o início
do agente e algumas vezes durar meses ou anos ou ser permanente {Formatting Citation}.
b) Distúrbios no sistema nervoso central com sintomas de ansiedade, inquietação,
euforia, tontura, dor de cabeça e insônia. Não são efeitos colaterais comuns, mas ocorrem
em 1% -2% dos pacientes que utilizam essa classe de medicamentos A etiologia da toxicidade induzida pela fluoroquinolona no SNC é provavelmente multifatorial, mas a interação
entre quinolonas e neurotransmissores é responsável pela maioria dos efeitos adversos
neurológicos, como as quinolonas possuem capacidade de deslocar o GABA do seu local de
ligação ao receptor, pela influência da cadeia lateral localizada na posição 7 das quinolonas.
(MATTAPPALIL; MERGENHAGEN, 2014).
c) Distúrbios associados ao colágeno, como a ruptura de tendão e aneurisma aórtico. A ruptura do tendão de Aquiles é provavelmente a mais comum e o risco é maior em pessoas
idosas e no uso concomitante de corticosteróides (LIN et al., 2014; MEREL; PAAUW, 2017).
Sulfonamidas
a) Hipercalemia (aumento dos níveis de potássio): O trimetoprim, age como o diurético poupador de potássio e reduz a excreção urinária de potássio em 40%, a hipercalemia
ocorre com mais frequência quando associado a um inibidor da enzima conversora de angiotensina (IECA) ou bloqueador do receptor de angiotensina ou pacientes com insuficiência
renal (MEREL; PAAUW, 2017). Essa reação foi associada a interação com espironolactona
(diurético poupador de potássio). Um estudo de 18 anos realizado com pacientes de 66 anos
ou mais, tratados com espironolactona que internaram por hipercalemia, identificou 6903
internações por hipercalemia, das quais 306 ocorreram dentro de 14 dias após o uso de
antibióticos e 10,8% destes utilizaram trimetoprim-sulfametoxazol (TMP-SMX). O estudo sugere que aproximadamente 60% de todos os casos de hipercalemia em pessoas idosas com
infecção do trato urinário poderiam ser evitados se TMP-SMX não fosse prescrito (ANTONIOU
304
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
et al., 2011a). O cuidado na prescrição concomitante destes fármacos se deve ao fato do
aumento dos níveis de potássio poder causar distúrbios fatais no coração (ROCHA, 2009).
b) Hipoglicemia: pode ocorrer com o uso de TMP-SMX, por isso a necessidade de monitorar pacientes diabéticos em uso de múltiplos medicamentos, a suspensão do antibiótico pode
ser necessária para que os níveis de glicose no plasma estabilizem (ROSSIO et al., 2018).
c) Toxicidade: Um estudo realizado com pessoas idosas internados por intoxicação pela
fenitoína, mostrou que a associação com o antibiótico TMP-SMX, está associado a um aumento de mais de duas vezes no risco de toxicidade por fenitoína. Essa interação ocorre porque o
trimetoprim (TMP) pode inibir o metabolismo hepático da fenitoína (ANTONIOU et al., 2011b).
d) Neurotoxicidade (psicose aguda): O mecanismo ainda não está claro e variam com a
idade (maior em pessoas idosas), comorbidades (fator de risco HIV), uso de medicamentos
concomitantes, dosagem, indicações de uso, via de administração, início da apresentação
e resolução dos sintomas. Pode existir uma correlação entre a deficiência de glutationa e o
aumento da frequência da toxicidade de TMP-SMX, porque as propriedades antioxidantes
da glutationa normalmente impedem o metabolismo de metabólitos instáveis de sulfonamida relatados como responsáveis pelas reações adversas ao TMP-SMX. Um mecanismo
secundário, é a interferência do TMP-SMX na síntese de tetra-hidrobiopterina, que é um
co-fator utilizado na formação de dopamina e serotonina. Deficiências nesses neurotransmissores podem contribuir potencialmente para os efeitos colaterais do SNC. (MATTAPPALIL;
MERGENHAGEN, 2014).
Macrolideos
a) Hipotensão: principalmente durante o uso de bloqueador dos canais de cálcio. Um estudo com 7100 pacientes de 66 anos ou mais admitidos no hospital por causa de hipotensão
durante o uso de um bloqueador dos canais de cálcio, mostrou que 176 pacientes receberam antibiótico macrolídeo durante os intervalos de risco ou controle. A eritromicina (o mais
forte inibidor do citocromo P450 3A4) foi mais fortemente associada à hipotensão, seguida
por claritromicina, já a azitromicina, que não inibe o citocromo P450 3A4, não foi associada
a um risco de hipotensão. Essa reação ocorre devido a inibição das enzimas do citocromo
P450 envolvidas no metabolismo do fármaco, particularmente a isoenzima 3A4 do citocromo P450. A interação desses medicamentos tem alto risco de toxicidade cardiovascular,
por isso quando necessária associação de um antibiótico macrolídeos, em pacientes que
estejam recebendo um bloqueador dos canais de cálcio, deve-se preferir a azitromicina
(WRIGHT et al., 2011).
b) Neurotoxicidade: os mecanismos de toxicidade do SNC não são claros. Várias hipóteses incluem interações medicamentosas (metabolismo através do citocromo P450 3A4),
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
305
efeitos adversos do metabolito lipossolúvel ativo da claritromicina (14-hidroxicaritromicina)
no SNC, alterações do cortisol e do metabolismo das prostaglandinas, bem como interações
com as vias glutaminérgicas e GABA. Os sinais de neurotoxicidade podem ser: delirium,
psicose aguda, mania, alucinações, depressivo maior. O envelhecimento foi considerado
um fator de risco e a resolução ocorreu com a descontinuação do tratamento, mas alguns
pacientes podem necessitar uso de agentes antipsicóticos ou ansiolíticos durante a apresentação sintomática inicial. (MATTAPPALIL; MERGENHAGEN, 2014).
Outros antimicrobianos
a) Nitrofurantoína: O tratamento com nitrofurantoína foi associado a um risco aumentado
de hipercaliemia durante o tratamento com espironolactona, em uma pesquisa que incluiu
6903 internações, por hipercalemia, de pacientes de 66 anos ou mais, tratados com espironolactona. Essa reação pode ocorrer pois nitrofurantoína inibe a biossíntese de esteróides,
resultando em uma redução de 50% na liberação de aldosterona pelas células adrenocorticais (ANTONIOU et al., 2011a). O uso deste antimicrobiano pode provocar sintomas de
neurotoxicidade, que incluem neuropatia periférica, tontura, vertigem, diplopia, disfunção
cerebelar e hipertensão intracraniana benigna. A patogênese da neuropatia associada ao
uso da nitrofurantoína pode ocorrer devido a perda de axônios, embora o mecanismo de
preferência pelas fibras nervosas seja desconhecido. Após a descontinuação a recuperação
neurológica parcial ocorreu 21 meses após a cessação. Os sintomas persistentes incluíram
dor neuropática leve, dormência e diminuição das sensações de temperatura das extremidades digitais.(MATTAPPALIL; MERGENHAGEN, 2014).
b) Daptomicina pode provocar neuropatia periférica, reação incomum, que pode estar
associada a uma possível alteração em uma via metabólica (polimorfismos do gene ABCB1)
(PIÑEIRO et al., 2018).
c) Nitroimidazol podem provocar sintomas de neurotoxicidade incluem parestesias,
neuropatias periféricas, convulsões, marcha atáxica, disartria e encefalopatia. A patogênese
da neurotoxicidade induzida pelo metronidazol não está totalmente elucidada, podendo está
relacionada a degeneração axonal por metabolitos do metronidazol inibindo a síntese proteica e a modulação do receptor GABA nos sistemas cerebelar e vestibular (MATTAPPALIL;
MERGENHAGEN, 2014).
d) Clindamicina pode produzir bloqueio neuromuscular, mecanismos hipotéticos de
efeitos de bloqueio incluem ação direta na contratilidade muscular e diminuição da sensibilidade à liberação de acetilcolina. É um efeito adverso raro, mas grave (MATTAPPALIL;
MERGENHAGEN, 2014).
306
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
O Quadro 1 apresenta um resumo das principais reações adversas encontradas para
cada classe antimicrobiana em paciente pessoas idosas.
Além das RAMs descritas, é importante atentar as alergias aos antimicrobianos, que
são reações de hipersensibilidade que podem ocorrer para qualquer fármaco. São tipicamente imprevisíveis e implicam alteração da terapêutica, podendo ser fatais (DEMOLY et al.,
2014). As alergias a antimicrobianos foram investigadas em um estudo australiano que
identificou em 24% (107) dos pacientes internados, uma alergia a antimicrobianos, sendo
que a média de idade destes foi de 82 anos (TRUBIANO et al., 2016). Um estudo americano
investigou a causa de anafilaxia perioperatória e identificou que a causa mais frequente foi
o uso de antimicrobianos 59% (10) (β-lactâmicos e metronidazo) (GONZALEZ-ESTRADA
et al., 2015). Estudo de Valour et al., 2014 mostrou que 23,7% (9) das reações adversas
a antimicrobianos foram reações alérgicas como erupção macropapular (5), síndrome de
Stevens-Johnson (3) e choque anafilático (1) e ocorreram com antimicrobianos Glicopeptídeos
(5), fluoroquinolonas (6), rifampicina (4), β-lactâmicos (3) e macrolídeos (1) (VALOUR et al.,
2014) resultados semelhantes ao encontrado num estudo da Coréia do Sul que relatou
reações imunológicas de hipersensibilidade, anafilaxia, síndrome de Stevens-Johnson e
angioedema com o uso de antimicrobianos (JUNG et al., 2017).
CONCLUSÃO / CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os pacientes geriátricos possuem múltiplas comorbidades que geralmente têm implicações funcionais significativas e ampla variabilidade interindividual. A prescrição para pessoas
idosas requer a individualização da terapia, considerando a compreensão da eficácia dos
medicamentos, avaliação das interações medicamentosas, do risco de eventos adversos e da
relação dano/benefício nessa população. Embora os antibióticos tenham papel imprescindível
na terapia medicamentosa para o manejo das infecções, quando usados adequadamente,
as RAM relatadas na literatura, apontam a importância da prescrição criteriosa destes para
reduzir os danos aos pacientes. Os profissionais da saúde devem estar atentos a necessidade
de ajuste de dose, principalmente em pacientes com características fisiológicas alteradas,
como ocorre na população idosa. Assim, o monitoramento criterioso da resposta do paciente
ao tratamento, o uso concomitante de outros medicamentos e o manejo das potencias reações adversas, devem ser sistematicamente implantados na terapia com antimicrobianos.
REFERÊNCIAS
1.
ANTONIOU, T. et al. Trimethoprim-sulfamethoxazole induced hyperkalaemia in elderly patients
receiving spironolactone : nested case-control study. British Medical Journal, p. 1-6, 2011a.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
307
2.
3.
BARROS, E. et al. Antimicrobianos. Consulta Rápida. 5o ed. [s.l.] Artmed, 2013.
4.
BUDNITZ, D. S. et al. Emergency Hospitalizations for Adverse Drug Events in Older Americans.
New England Journal of Medicine, v. 365, n. 21, p. 2002-2012, 24 nov. 2011.
5.
CHOPRA, D. et al. An observational study of cutaneous adverse drug reactions in a teaching
hospital. International Journal of Clinical Pharmacy, 2015.
6.
DAVIES, E. A.; O’MAHONY, M. S. Adverse drug reactions in special populations - the elderly.
British journal of clinical pharmacology, v. 80, n. 4, p. 796-807, out. 2015.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
DEMOLY, P. et al. Consenso Internacional (ICON) em Alergia Medicamentosa. Allergy, 2014.
GONZALEZ-ESTRADA, A. et al. Antibiotics Are an Important Identifiable Cause of Perioperative
Anaphylaxis in the United States. The Journal of Allergy and Clinical Immunology: In Practice,
v. 3, n. 1, p. 101-105.e1, jan. 2015.
GURWITZ, J. H. et al. Incidence and preventability of adverse drug events among older persons
in the ambulatory setting. JAMA, v. 289, n. 9, p. 1107-16, 5 mar. 2003.
HILMER, S. N.; MCLACHLAN, A. J.; LE COUTEUR, D. G. Clinical pharmacology in the geriatric
patient. Fundamental & Clinical Pharmacology, v. 21, n. 3, p. 217-230, 1 jun. 2007.
HONORE, P. M.; SPAPEN, H. D. Cefepime-induced neurotoxicity in critically ill patients undergoing continuous renal replacement therapy : beware of dose reduction ! Critical Care, p.
13054, 2015.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Projeções e estimativas da população
do Brasil. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/. Acesso em: 10
set. 2018.
JUNG, I. Y. et al. Antibiotic-Related Adverse Drug Reactions at a Tertiary Care Hospital in
South Korea. BioMed Research International, v. 2017, 2017.
14.
KITULWATTE, I. et al. Death following ceftazidime-induced Kounis syndrome. Medico-Legal
Journal, v. 85, n. 4, p. 215-218, 27 dez. 2017.
15.
LIN, Y.-F. et al. Severe Cutaneous Adverse Reactions Related to Systemic Antibiotics. Clinical
Infectious Diseases, v. 58, n. 10, p. 1377-1385, 15 maio 2014
16.
MAC, K. et al. Cefepime induced acute interstitial nephritis - a case report. BMC Nephrology,
v. 16, n. 1, p. 15, 11 dez. 2015.
17.
18.
19.
308
ANTONIOU, T. et al. Trimethoprim/sulfamethoxazole-induced phenytoin toxicity in the elderly: A
population-based study. British Journal of Clinical Pharmacology, v. 71, n. 4, p. 544-549, 2011b.
MARCONDES-FONSECA, I. L. A. et al. Increase of 10 % in the Rate of Adverse Drug Reactions
for Each Drug Administered in Hospitalized Patients. Clinics, n. 8, p. 1-6, 2018.
MARQUES, J. et al. A survey of spontaneous reporting of adverse drug reactions in 10 years
of activity in a pharmacovigilance centre in Portugal. International Journal of Pharmacy Practice, 2013.
MATTAPPALIL, A.; MERGENHAGEN, K. A. Neurotoxicity with Antimicrobials in the Elderly : A
Review. Clinical Therapeutics, v. 36, n. 11, 2014.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
20.
21.
22.
23.
MCDONALD, L. C. et al. Clinical Practice Guidelines for Clostridium difficile Infection in Adults
and Children: 2017 Update by the Infectious Diseases Society of America (IDSA) and Society
for Healthcare Epidemiology of America (SHEA). Clinical Infectious Diseases, v. 66, n. 7, p.
e1-e48, 19 mar. 2018.
MEREL, S. E.; PAAUW, D. S. Common Drug Side Effects and Drug-Drug Interactions in Elderly
Adults in Primary Care. The American Geriatrics Society 0002-8614/17/$15.00, 2017.
MOREIRA, I. P. B. et al. PRINCIPAIS ASPECTOS DO TRATAMENTO DAS INFECÇÕES NO
PESSOAS IDOSAS. Ciência, Cuidado e Saúde, v. 6, n. 0, p. 488-495, 6 out. 2007.
NAKAHARAI, K. et al. Drug-induced liver injury associated with high-dose ceftriaxone : a retrospective cohort study adjusted for the propensity score. European Journal of Clinical Pharmacology, 2016.
24.
OMS, O. M. DA S. Segurança dos medicamentos: um guia para detectar e notifi car reações
adversas a medicamentos. Organização Mundial da Saúde. Brasília: OPAS/OMS, p. 18, 2005.
25.
PIÑEIRO, L. V. et al. Paralysis of the external popliteal sciatic nerve associated with daptomycin
administration. Clinical Pharmacy and therapeutics, n. January, p. 578-580, 2018.
26.
ROCHA, P. N. Hyperkalemia. Jornal Brasileiro de Nefrologia, v. 31, n. 71, p. 40110, 2009.
27.
28.
29.
30.
31.
32.
33.
34.
ROSSIO, R. et al. Persistent and severe hypoglycemia associated with trimethoprim-sulfamethoxazole in a frail diabetic man on polypharmacy: A case report and literature review. Journal
of Clinical Pharmacology and Therapeutics, v. 56, p. 86-89, 2018.
SAMYDE, J. et al. Quinolone antibiotics and suicidal behavior : analysis of the World Health
Organization ’ s adverse drug reactions database and discussion of potential mechanisms.
Psychopharmacology, n. Ea 2415, 2016.
TAMMA, P. D. et al. Association of Adverse Events With Antibiotic Use in Hospitalized Patients.
JAMA Internal Medicine, n. 1, 2017.
TRUBIANO, J. A. et al. Old but not forgotten: Antibiotic allergies in General Medicine ( the AGM
Study ). The Medical journal of Australia, v. 204, n. April, p. 1-7, 2016.
VALOUR, F. et al. Antimicrobial-Related Severe Adverse Events during Treatment of Bone and
Joint Infection Due to Methicillin-Susceptible Staphylococcus aureus. Antimicrobial Agents and
Chemotherapy, v. 58, n. 2, p. 746-755, 2014.
WEIR, M. A. et al. Beta-blockers, trimethoprim-sulfamethoxazole, and the risk of hyperkalemia requiring hospitalization in the elderly: A nested case-control study. Clinical Journal of the
American Society of Nephrology, v. 5, n. 9, p. 1544-1551, 2010.
WELKER, K. L.; MYCYK, M. B. Pharmacology in the Geriatric Patient. Emergency Medicine
Clinics, v. 34, n. 3, p. 469-481, 2016.
WRIGHT, A. J. et al. The risk of hypotension following co-prescription of macrolide antibiotics
and calcium-channel blockers. Canadian Medical Association, v. 183, n. 3, p. 303-307, 2011.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
309
24
“
Representações sociais de
idosos/as sobre o método pilates
e seus reflexos no processo de
envelhecimento
Joseana Maria Saraiva
UFRPE
Rosana Barbara da Silva
UPE
Iêda Litwak de Andrade Cezar
UMESP
10.37885/201202420
RESUMO
Estudos mostram que os/as idosos/as têm procurado o Método Pilates em busca de
manutenção das capacidades físicas, prevenção de doenças e promoção da saúde,
assim como tratamento indicados por especialistas da área. Contudo, não se encontrou
na literatura estudos que evidencie os efeitos desse método na população idosa, sobretudo, a partir do ponto de vista dos/as próprios/as idosos/as. Nessa direção, esse artigo
tem como objetivo analisar e compreender as representações sociais dos/as idosos/as
que praticam Pilates em estúdios da cidade de Recife-PE e os impactos desse método
em sua saúde e qualidade de vida. A abordagem é qualitativa e o estudo se caracteriza
como de caso, de natureza explicativa. Para coleta de dados utilizou-se a entrevista
estruturada acompanhada de questionário com perguntas abertas e fechadas e como
método de análise se privilegiou as Representações Sociais. A totalidade dos/as idosos/
as gosta de praticar o Pilates e avaliam o método como excelente, por ser muito eficiente,
propiciar efeitos significativamente positivos em vários aspectos, principalmente no que
se refere a melhoria da força, da mobilidade, sobretudo, das articulações, do equilíbrio,
da flexibilidade, dá segurança, funcionando como um instrumento positivo para melhoria
de doenças que os/as acometem no processo de envelhecimento, inclusive as doenças
psicossociais, o alivio da depressão, o aumento da autoconfiança e a melhora da autoestima. Considera-se que os impactos do Método Pilates sob o ponto de vista dos/as
entrevistados/as são efetivos para melhoria da saúde e qualidade de vida.
Palavras-chave: Método Pilates, Efeitos ou Impactos, Processo de Envelhecimento, Saúde
e Qualidade de Vida.
INTRODUÇÃO
Considera-se a importância e atualidade do fenômeno investigado, sobremaneira, por se
preocupar em estudar os impactos do Método Pilates na vida dos/as idosos/as que praticam
essa atividade de condicionamento físico em estúdios da cidade de Recife-PE e sua relação
com a melhoria da saúde e qualidade de vida. A preocupação passa, especialmente, pelos
indicadores demográficos que apresentam o Brasil como um país que está envelhecendo.
Os estudos mostram que o Brasil vive uma transição demográfica acelerada, cuja tendência é o crescimento da população acima de 60 anos de idade e a diminuição das taxa de
fecundidade. Segundo o IBGE (2010), estima-se que a expectativa de vida aumentará de 75
para 81 anos, induzida pelas melhorias nos aspectos médico-sanitários e pelo planejamento
familiar. Nesse contexto, mais do que a média internacional, em 2050 o Brasil triplicará em
quantidade de idosos/as, enquanto duplicará no mundo, isso é extremamente preocupante.
Segundo Lima (2014) o envelhecimento desta população traz consigo a necessidade
de um cuidado equânime, integral e efetivo que associa múltiplos eixos que interferem na
saúde, como os hábitos de vida, a capacidade física e funcional, interação social, a percepção
das condições de saúde e socioeconômicas para um envelhecimento saudável.
Para Borges et al., (2014) o/a idoso/a pode interpretar o seu declínio físico, funcional,
de saúde de diversas maneiras, sendo a autopercepção um importante e confiável preditor
de morbidade física, emocional e de déficit físico e funcional. Importante se faz os estudos
que utilizam métodos de autoavaliação, que utilizam ao questionar o/a idoso/a “como ele
classifica a sua saúde”.
A partir desses pressupostos, a preocupação desse estudo, é, particularmente, o desafio
de contribuir com o processo de envelhecimento, para que seja mais bem vivido pelas pessoas que compõem esse segmento populacional, a partir da valorização das suas potencialidades físicas e intelectuais e que a atividade física seja reconhecida como um meio através
do qual como sujeito, o/a idoso/a possa conscientemente reconhecê-la como uma prática
valiosa, como elemento de contribuição para a melhoria de sua saúde e qualidade vida.
Nesse contexto, são inúmeros os estudos que reforçam o método Pilates como um instrumento preventivo, uma vez que promove o fortalecimento muscular, equilíbrio, flexibilidade,
melhora da postura, controle motor e consciência corporal, propiciando a redução do estresse, por conseguinte, aprimora o foco mental e gera um equilíbrio entre o corpo e a mente.
Segundo Lima e Mejia (2016, p.1), Gallagher e Kryzanowska (2000), Latey (2001),
Segal et al. (2004), Pires e Sá (2005), Aparício e Perez (2005), Bertolla et al. (2007), com a
prática regular de exercício físico, os/as idosos/as podem reverter as suas limitações físicas
e funcionais decorrentes do processo de envelhecimento, melhorar sua autonomia, sua
capacidade física, seus relacionamentos sociais e o aspecto psicológico, uma vez que a
312
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
reintegração social minimiza problemas de solidão e depressão, proporcionando bem-estar
geral e qualidade de vida.
Estudos de Pilates e Miller (2006) são enfáticos em afirmar os benefícios do Método
Pilates para esse segmento da população, no entanto, não se encontrou na literatura pesquisas que comprove esses efeitos a partir do ponto de vista dos/as próprios/as idosos/as.
Nessa direção, este estudo tem como objetivo analisar e compreender as representações
sociais dos/as idosos/as submetidos/as à intervenção com o Método Pilates em estúdios da
cidade de Recife-PE. Mais especificamente, a proposta é entender quais são os impactos
ou efeitos desse método na vida dos/as idosos/as e sua relação com a melhoria da saúde
e qualidade de vida.
Trata-se de um estudo de caso, de abordagem qualiquanti, que utilizou como método
de análise as representações sociais, tendo em vista encontrar elementos do discurso social
trazidos pelos/as idosos/as, sujeitos da pesquisa, para melhor compreensão do fenômeno
social estudado (MOSCOVICI, 1981).
Destaca-se que esta pesquisa vem consolidar outros estudos desenvolvidos pelo Curso
de Pós-Graduação - Especialização em Treinamento de Força para Saúde da Universidade
Estadual de Pernambuco e pelo Programa de Pós-Graduação em Consumo, Cotidiano e
Desenvolvimento Social/UFRPE. Ademais visa subsidiar o planejamento de políticas sociais
voltadas para os/as idosos/as no processo de envelhecimento, na perspectiva de indicar
condições para promover a sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade
com bem-estar, saúde e qualidade de vida.
OBJETIVO
Analisar e compreender as representações sociais dos/as idosos/as submetidos/as à
intervenção com o Método Pilates em estúdios da cidade de Recife-PE. Mais especificamente, a proposta é entender quais são os impactos ou efeitos desse método na vida dos/
as idosos/as e sua relação com a melhoria da saúde e qualidade de vida.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Abordagem e Tipologia de Estudo
A abordagem é qualiquanti e o estudo que se caracteriza como de caso, de natureza
explicativa. A opção pelo estudo de caso justifica-se por este método de investigação ser adequado ao estudo dos fenômenos que não estão claramente esclarecidos, conforme salienta
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
313
Yin (2005, p. 94). Nesses termos, o estudo de caso vai possibilitar apreender o fenômeno a
ser pesquisado dentro do seu contexto real e como se encontra situado.
O interesse da pesquisadora é compreender os processos sociais que ocorrem num
determinado contexto na perspectiva de abranger a situação investigada de forma ampla e
em profundidade, entendendo o seu significado para os envolvidos com a situação, conforme
Chizzotti (1995) e Yin, (2005). Para esses autores, o estudo de caso constitui uma descrição
(holística e intensiva) de um fenômeno social bem delimitado (um programa, uma instituição,
uma pessoa, um grupo de pessoas, um processo social ou unidade social).
Segundo Viana (2017, p. 105), o estudo de caso além de permitir a utilização de métodos e técnicas diversificadas de modos para explorar o fenômeno - entrevistas, observações, relatos, avaliações – propicia um retrato abrangente e detalhado do fenômeno estudado, favorecendo a organização de um estudo ordenado e crítico do fenômeno estudado
(CHIZZOTTI, p.102).
Nessa direção, o estudo de caso propiciou a compreensão dos significados acerca do
Método Pilatos e sua relação com a melhoria da saúde e qualidade de vida no processo
de envelhecimento, a partir das representações sociais que os/as idosos/as têm sobre o
fenômeno estudado.
Através da pesquisa qualitativa e do estudo de caso foi possível trabalhar com o método
de análise das representações sociais. Esse método tem o privilégio de possibilitar trabalhar
pouco as generalizações e mais o aprofundamento e a abrangência das representações
subjetivas dos sujeitos, fundamentadas no o senso comum, construtor da realidade social
UNIVERSO E AMOSTRA
A amostra da pesquisa se constituiu de 10 idosos/as na faixa etária de 60 a 80 anos
de idade, aposentados/as e na ativa, bem como pensionistas, a maioria (70%) classificada
segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2015) na Classe Média
(Classe C) e Classe Média Baixa (Classe D) cuja renda auferida se encontra na faixa entre
2 a 6 salários-mínimos. Os demais, em menor percentual (30%) se encontram na Classe
Média Alta (Classe B).
Para escolha da amostra se considerou a ênfase dada pela literatura acerca da pesquisa qualitativa. Para Hodges e Richardson (1997, p. 218), o quantitativo de entrevistas deve
permitir transcrever os dados e tirar conclusões possíveis sem probabilidade de saturação.
Desse modo, para este estudo considerou-se a quantidade de 10 entrevistados/as como
satisfatória e mais apropriada para trabalhar com as representações subjetivas dos sujeitos
da pesquisa, construtores da realidade social.
314
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Os/as idosos/as de 4 Estúdios de Pilates da cidade de Recife foram previamente cadastrados/as numa ficha (contendo nome completo, endereço e telefone) e, posteriormente,
contatados/as para a subsequente entrevista. De 20 idosos/as cadastrados (nomes fictícios),
10 ligaram dizendo que gostariam de participar da pesquisa, estes/as constituíram a amostra.
INSTRUMENTOS E TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS
Utilizou-se a Entrevista Estruturada acompanhada de um roteiro integrando perguntas
abertas e fechadas que dirigiu o processo de investigação. A Entrevista Estruturada, segundo
Hodges e Richardson (p.207), é uma técnica que facilita a interação face a face, elemento
fundamental na pesquisa qualitativa e que permite o desenvolvimento de uma estreita relação entre o entrevistador e o sujeito entrevistado.
Nessa direção, o instrumento de coleta de dados se constituiu de um formulário de
entrevista integrando perguntas abertas e fechadas compondo cinco 3 blocos, a saber:
BLOCO I – Dados de identificação da entrevista; BLOCO II – Caracterização socioeconômica
e demográfica dos entrevistados/as BLOCO III – Representações sociais dos/as idosos/as
acerca dos impactos ou efeitos do Método Pilates e sua relação com a melhoria da saúde
e qualidade de vida no processo de envelhecimento.
A primeira versão do formulário de entrevista foi pretextada com cinco (5) idosos/as,
de um Estúdio de Pilates da cidade do Recife-PE, entre aqueles não selecionados para integrar a amostra. Após aplicação do questionário se verificou a sua adequação no que diz
respeito à compreensão e ordenamento das perguntas e à pertinência das questões aos
propósitos do estudo.
As entrevistas foram realizadas pela própria autora, gravadas e registradas. No final,
cada idoso/a ciente da entrevista assinou o Termo de Consentimento Livre Esclarecido. A pesquisa de campo foi realizada entre os meses novembro e dezembro de 2017, com duração
média de 1 hora, nos Estúdios de Pilatos selecionados para pesquisa.
Depois de realizadas as entrevistas, as respostas foram tabuladas e, em seguida,
categorizadas e distribuídas segundo o conteúdo das respostas, sobressaindo-se os depoimentos mais significativos dos/as entrevistados/as. As categorias foram apresentadas
em forma de tabela, considerando às frequências estatísticas, analisadas, posteriormente,
tendo como referência a teoria das representações sociais.
MÉTODO DE ANÁLISE DE DADOS
A teoria do método de análise das representações sociais, utilizado em várias áreas
do conhecimento, tem como figura central Serge Moscovici (1981). Para este teórico, a
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
315
noção de representação social parte de um conjunto de conceitos, afirmações e explicações
originadas no cotidiano, no curso de comunicações interindividuais (MOSCOVICI, p. 181).
As representações sociais, segundo Moscovici (1981, p.123), se constituem em uma das
formas de compreensão da realidade, do mundo concreto, que permite encontrar elementos
do discurso social trazido pelos sujeitos sociais para melhor compreensão dos fenômenos
sociais. Nessa direção, como base nesse método, objetivando compreender as ideais, visões, interpretações e concepções que os/as idosos/as submetidos/as à intervenção com o
Método Pilates, possuem a respeito dos impactos ou efeitos do método e sua relação com a
melhoria da saúde e qualidade de vida, insere-se neste estudo o conceito das representações
sociais, tendo em vista compreender a realidade, do mundo concreto, permitindo encontrar
elementos do discurso social trazido pelos sujeitos sociais para melhor compreensão dos
fenômenos sociais (MOSCOVICI, p. 123).
De acordo com as representações sociais que regem as relações entre as pessoas,
orientam as condutas e definem as identidades pessoais e sociais, segundo Viana (2017), as
representações sociais são um método eficiente para análise das concepções de idosos/as,
uma vez que evidenciam os fatores que afetam e traduzem, na sociedade contemporânea,
o processo de envelhecimento e o estigma sofrido pelos idosos.
Todo estudo tem uma base de cunho bibliográfico. Nessa direção, utilizou-se para
análise e fundamentação teórica do fenômeno diversos estudos publicados em periódicos
nacionais e internacionais, bancos de dissertações e teses da CAPES, livros, entre outros.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados das análises desenvolvidas neste estudo, a partir das representações
sociais dos/as idosos/as submetidos/as à intervenção com o Método Pilates em Estúdios da
cidade de Recife-PE, evidenciam os efeitos ou impactos desse método na melhoria da saúde
e a sua relação com qualidade de vida. Mais, especificamente, apresentam as respostas
em relação aos efeitos dos exercícios físicos baseados no Método Pilates e a melhora da
capacidade funcional e na qualidade de movimento e vida dos/as idosos/as.
Esse problema se faz presente mediante o contínuo crescimento da população idosa
em nosso país e em todo mundo. Em consequência, esse crescimento tem colocado em
evidência à incidência de inúmeras doenças e males que tem acometido essa população,
por conseguinte, muitos idosos/as têm procurado o Método Pilates em busca de saúde e
manutenção das capacidades físicas, funcionais e prevenção de doenças. A Tabela 1 apresenta as categorias analisadas, tendo como referência a teoria das representações sociais
e às frequências estatísticas.
316
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
TABELA 1. Representações sociais dos/as idosos/as participantes da pesquisa sobre o Método Pilates e seus impactos
no processo de envelhecimento - Recife, 2017.
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
Frequência das respostas
Nº
%
Sim
08
80,00
Caminhada
05
50,00
Dança
01
10,00
Musculação
01
10,00
Alongamento/ Yoga
01
10,00
Não
02
20,00
Sim
06
60,00
Desenvolvimento Físico (muscular, do equilíbrio, da força)
01
10,00
Quem foi o fundador do método
01
10,00
Saúde geral (físico, mental, espiritual)
04
40,00
Não
04
40,00
I. Faz alguma atividade física Além do Pilates?
II. Você sabe o que significa o termo Pilates?
III. Porque resolveu procurar o Método Pilates?
Dores (na coluna e articulações)
04
40,00
Melhorar a postura, a coordenação motora, a mobilidade, fortalecer os músculos
04
40,00
Flexibilidade dos membros
01
10,00
Portadora de osteoporose
01
10,00
2 a 4 meses
02
20,00
Faz mais 2 anos
03
30,00
Faz 4 anos
04
40,00
Há quase 8 anos
01
10,00
IV. Quanto tempo prática Pilates?
V. Que objetivos pretende atingir com a prática do Pilates?
Melhorar a qualidade de vida (equilíbrio emocional, tensão, estresse)
02
20,00
Melhorar a condição física (fortalecimento muscular, flexibilidade, força, resistência física)
06
60,00
Melhorar as dores (muscular, tensão)
02
20,00
Total
10
100,00
Fonte: autora
I. Faz alguma atividade física Além do Pilates?
Dos/as idosos/as entrevistados, a quase totalidade (80%) prática outra atividade física
além do Pilates. Entre as atividades 50% praticam caminhada, 10% dança, 10% faz musculação e 10% alongamento com yoga. Quando se perguntou por que praticavam mais de uma
atividade, a maioria (68%) respondeu enfatizando que “é muito bom”, “é saudável”, seguidos
de 22% daqueles/as que ressaltaram ser bom”, “previne doenças” e 10% que disseram que
é saudável, traz mais “qualidade de vida.”
As representações sociais dos/as idosos/as revelam que os/as mesmos/as tem uma
compreensão da importância da adoção de hábitos saudáveis de vida, sendo a prática de
atividade física um desses hábitos. As concepções dos/as idosos/as contrariam aquela ideia,
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
317
visão de que na faixa etária em que se encontram é tarde ou não adianta mais cuidar da
saúde. Ao contrário para as idosas sujeito desse estudo, a prática da atividade física:
[...] é muito bom, além do Pilates faço caminhada duas vezes por semana e
me faz muito bem, durmo bem, fico relaxada, me sinto mais jovem (Francisca,
74 anos);
[...] tinha pressão alta, depois que passei a caminhar, a pressão melhorou bastante, por isso faço Pilates e caminho quantas vezes for possível na semana
(Maria de Lourdes, 80 anos);
[...] caminhar melhora a saúde, evita doenças, é muito saudável, é importante
para qualidade de vida (Maria José, 77).
Os depoimentos revelam que a adoção de hábitos saudáveis de vida é importante em
todas as etapas da vida, independente de faixa etária e que a prática de atividades físicas
adequadas pode prevenir doenças, retardar o declínio funcional, aumentar a longevidade e
promover a qualidade de vida.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (2005) até 2025 o Brasil será o
sexto país do mundo em número de idosos, nessa direção o incentivo a prática regular de
atividades físicas desse segmento da população é essencial considerando que a prática da
atividade física contribui para melhorar a saúde mental, promove o contato social, reduz o
risco de quedas e traz mais independência e autonomia para o/a idoso/a.
Para Maciel (2010, p. 1025) a adoção de um estilo de vida ativo proporciona diversos
benefícios à saúde, uma vez que é considerado como um importante componente para a
melhoria da qualidade de vida e da independência funcional do/a idoso/a. Porém, tão importante quanto investigar os benefícios biopsicossociais adquiridos pela prática da atividade
física, é compreender os fatores associados que influenciam a sua adesão e manutenção.
Sendo assim, compreender as ideias, visões que os idosos têm sobre a prática da atividade
física é essencial para compreender a funcionalidade dessa atividade para esse segmento.
Estudos realizados em Belo Horizonte no GETI/UDESC com idosos/as, sobre a importância da caminhada para a conquista de melhorias na saúde física, emocional e mental,
obtiveram em seus depoimentos, respostas que enfatizam os ganhos expressivos na saúde
e na qualidade de vida (MARCHESAN, et al., 1997-1998, p.29).
II. Você sabe o que significa o termo Pilates?
Apesar de 30% dos/as idosos/as entrevistados/as afirmarem categoricamente não
conhecer o que significa o termo Pilates, a maioria 70% demonstrou compreender o seu
significado, apenas 10% relacionou com menor precisão o termo Pilates ao nome do seu
criador – Hubertus Pilates. De forma mais aprofundada, 60% relacionou o termo ao Método
318
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Pilates, enfatizando seus objetivos, principalmente, que tem como base exercícios que ajudam
a melhorar a coordenação, a flexibilidade, a musculatura, o controle do corpo e da mente.
III. Por que resolveu procurar o Método Pilates?
Os resultados mostram que os/as idosos/as resolveram fazer Pilates por vários motivos,
a maioria, relaciona a prevenção de doenças e tratamentos coadjuvantes. Para 40%, o motivo principal foram as “dores (na coluna e articulações), seguidos do mesmo percentual que
enfatiza “melhorar a postura, a coordenação motora, a mobilidade e fortalecer os músculos.
Apenas 1 entrevistado se refere à flexibilidade dos membros e outro também por motivo de
doença refere-se ser portador de osteoporose.
Os/as idosos/as sentem-se motivados/as pela prática de atividades físicas porque
sabem os benefícios fisiológicos e psicológicos que a mesma pode proporcionar para a
saúde. Lima e Mejia (2006, p.253), realizaram pesquisa sobre a prática do Método Pilates
com uma população específica de idosos/as de um bairro da zona norte do Rio de JaneiroRJ e evidenciaram que os principais motivos que os/as levaram a praticar o Pilates foram:
controle de estresse, saúde, sociabilidade, competitividade, estética. Esses resultados corroboram aqueles relacionados à saúde, sociabilidade e prazer encontrados neste estudo,
entre os/as idosos/as avaliados praticantes do Método Pilates frequentadores de Estúdios
de Pilates de Recife-Pe.
Pesquisa feita na capital pernambucana (Recife) com 120 idosos/as de programas
de saúde ligados à rede pública avaliou através de um questionário as motivações para a
prática esportiva. Os fatores relacionados à saúde e ao desempenho físico são respostas
motivacionais mais relatados entre os/as idosos/as, tanto para adesão como para a permanência na atividade física (FREITAS, et al., 2007, p.253).
IV. Quanto tempo prática Pilates?
Os dados evidenciados na tabela 2 mostram que 70% dos/as idosos/as praticam o
Pilates de 2 a 4 anos e a totalidade frequenta o Studio duas vezes por semana. As constatações anteriores sobre importância dada pelos/as idosos/as a atividade física justifica a
permanência por anos subsequentes na atividade do Pilates. De acordo com as representações sociais dos/as sujeitos, isso vai acontecer em função dos benefícios que os/as idosos/
as garantem quando praticam essa atividade, tanto em relação aos aspectos corporais,
quanto mentais, auxiliando na prevenção de diversas doenças e propiciando aos mesmos
ter uma vida mais saudável.
Para Toscano e Oliveira (2009, p.3), o sedentarismo no processo de envelhecimento
para idoso/a é um grande fator de risco para as doenças crônicas degenerativas. Tendo
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
319
em vista evitar os efeitos negativos do sedentarismo, a prática sistemática de atividades
e exercícios físicos torna-se positiva, principalmente no processo de envelhecimento, na
prevenção e minimização dos efeitos deletérios desse processo.
A atividade física regular para os/as idosos/as, especialmente os exercícios que se
usa o peso do próprio corpo, os exercícios de força, promove maior fixação de cálcio nos
ossos, auxiliando na prevenção e tratamento da osteoporose (NÓBREGA, et al., 1999,
p.23). O Método Pilates pode ser colaborador nesse processo, uma vez que contém inúmeros
exercícios em que o peso do próprio corpo é utilizado, em diferentes situações, baseados
em seus princípios. Nesse sentido, o método pode ser adaptado aos cuidados necessários
em cada população e disfunção, permitindo a progressão de acordo com o indivíduo acompanhado (SILVA e MANNRICH, 2009, p.13). Estes mesmos autores ainda encontraram
recomendações de que o Pilates para idosos/as deva ser realizado três vezes por semana.
V. Que objetivos pretende atingir com a prática do Pilates?
As representações sociais dos/as idosos/as em relação aos seus objetivos com a
prática do Pilates revelam que a maioria (60%) dos entrevistados tem procurado o método
em busca de melhorar a flexibilidade, o equilíbrio, a resistência, seguidos daqueles (40%)
que buscam reduzir as tensões, estresse, obter equilíbrio emocional e melhorar as dores.
Esses resultados corroboram uma diversidade de estudos que evidenciam esses mesmos resultados. Para Costa, et al., (2016, p.695) o Método Pilates tem sido considerado um
sistema de exercício que visa melhora da flexibilidade, resistência física, força, equilíbrio e
coordenação motora. É um método que tem sido indicado também para atuar como prevenção e/ou em pós-tratamento médico e fisioterápico de dores articulares.
Desta forma, observa-se que os/as entrevistados/as desse estudo estão bem informados e conscientes quanto aos objetivos do Método Pilates, fundamentando suas escolhas
e procura, em busca da melhora, manutenção da saúde e qualidade de vida. O Método
Pilates vem ganhando cada vez mais adeptos a sua prática. Os exercícios são dinâmicos,
isso permite que a atividade não seja exaustiva, permitindo que o/a idoso/a tenha tempo
para recomeçar o próximo exercício com o cuidado necessário na execução para que venha desenvolver a força, flexibilidade, equilíbrio, coordenação motora. A execução de cada
exercício de ser feito de forma consciente e realizados com poucas repetições. A técnica
apresenta muitas variações de exercícios e benefícios, prevenindo e proporcionando uma
melhor qualidade de vida (SACCO, et al., 2005, p.9).
320
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
CONCLUSÃO / CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considera-se que neste este estudo os/as entrevistados/as buscam o Método Pilates,
principalmente, como caráter preventivo, tendo em vista reverter o quadro de doenças que
acometem os idosos/as no processo de envelhecimento e nesse processo viverem com
qualidade de vida.
Consta-se que os/as entrevistados/as são conscientes da necessidade da prática de
atividades físicas e da importância do Método Pilates. É categórica a relação que estabelecem entre atividade física, qualidade de vida e envelhecimento saudável, há um consenso
entre os/as idosos/as acerca da compreensão, estilo de vida ativo como fator determinante
para um envelhecimento com qualidade de vida.
Dessa forma, pode-se afirmar que, apesar do reduzido número de estudos com foco
nos efeitos do Método Pilates em idosos/as, a partir de suas próprias concepções, o estudo
mostra que conforme representações sociais dos/as idosos/as, essa atividade constitui-se
como um precioso meio de contribuição para a melhoria da qualidade de vida dos/as idosos/
as em processo de envelhecimento.
Considera-se que o Método Pilates efetivamente se constitui como instrumento preventivo na visão dos/as idosos/as e muito mais do que isto, promove o fortalecimento muscular,
equilíbrio, melhora da postura, controle motor e consciência mental e corporal. Dessa forma,
responde ao que os estudos perguntam, ou seja, para os/as idosos/as o Método Pilates
auxilia e na prevenção de quedas e, consequentemente, de fraturas, com menor risco de
lesão musculo-articular, constituindo-se em um instrumento precioso para a prevenção e
promoção da saúde e qualidade de vida do/a idoso/a.
Um aspecto que se sobressai na pesquisa, a partir da análise das representações sociais dos/as idosos/as diz respeito aos benefícios psicossociais, entre esses se encontram
o alívio da depressão, o aumento da autoconfiança, a melhora da autoestima. Para os/as
idosos/as o Método Pilates vai além do desenvolvimento físico e muscular, integra a mente,
o corpo e o espírito, resultando no controle completo do próprio corpo.
REFERÊNCIAS
1.
2.
APARICIO, Esperanza; PÉRES, Javier. O autêntico método Pilates: A Arte do Controle [tradução Magda Lopes] – São Paulo. Editora Planeta do Brasil, 2005.
BERTOLLA F, BARONI BM, LEAL ECPJ, OLTRAMARI JD. Efeito de um programa de treinamento utilizando o método Pilates na flexibilidade de atletas juvenis de futsal. Rev Bras Med
Esporte. 2007; 13(4).
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
321
3.
4.
CARVALHO, Rosane Beltrão da Cunha; MADRUGA, Vera Aparecida. Envelhecimento e prática
de atividade física: a influência do gênero. Motriz: Revista de Educação Física, Rio Claro, v.17
n.2, p.328-337, abr./jun. 2011.
5.
CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa em Ciências Humanas e Sociais. 2. Ed. São Paulo: Cortez,
1995. FREITAS CMSM, SANTIAGO MDS, VIANA AT, LEÃO AC, FREYRE C. Aspectos Motivacionais que Influenciam a Adesão e Manutenção de Idosos a Programas se Exercícios
Físicos. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum. 2007; 9(1):92-100.
6.
GALLAGHER, S.P.; KRYZANOWSKA, R. Editors. The Pilates® Method of Body Conditioning.
Fhiladelphia Barin Bridge Books, 2000. HODGES PW, RICHARDSON CA. Contraction of
The Abdominal Muscles Associated with Movement of the Lower Limb. Phys Ther. 1997;
77(2):986-995.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Síntese De Indicadores
Sociais 2015. Disponível em: http://www.Ibge.Gov.Br/Home/Estatistica/ Populacao/Condicaodevida/Indicadoresminim Os/Sinteseindicsociais2008/Default.Shtm. Acesso em: 20 /05/2018.
LATEY P. The Pilates Method: History and Philosophy, Journal of Bodywork and Movement
Therapies, 2001, 5(4), 275-82.
LIMA, A; MEJIA, D. Os benefícios do Pilates no método de envelhecimento. ENEGEP, 2006
Disponível em< http://portalbiocursos.com.br/ohs/data/docs/34/249_- Os_beneficios_do_Pilates_no_processo_de_ envelhecimento.pdf>. Acesso em 17/09/2016.
Lima, Thaís Jaqueline Vieira de et al. Humanização na atenção básica de saúde na percepção de idosos. Saúde e Sociedade, v. 23, p. 265-276, 2014. Disponível em: <http://dx.doi.
org/10.1590/S0104-12902014000100021>Acesso em: 2 de abril de 2017.
MACIEL, Marcos Gonçalves. Atividade física e funcionalidade do idoso. Motriz, Rio Claro,
v.16 n.4, p.1024-1032, out./dez. 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/motriz/v16n4/
a23v16n4.pdf. Acesso em: 23/05/2019.
MARCHESAN, IQ, ZORZI JL, GOMES ICD. Tópicos em Fonoaudiologia. São Paulo: Lovise,
1997- 1998. cap. 20, pp. 339-51.
MOSCOVICI, S. The phenomenon of social representations. Em R. M. Farr e S. Moscovici
(Orgs). Social representations. Cambridge: Cambridge University Press, 1981.
14.
NOBREGA, Antonio Cláudio Lucas. Posicionamento Oficial da Sociedade Brasileira de Medicina
do Esporte e da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia: Atividade Física e Saúde no
Idoso. Revista Brasileira de Medicina do Esporte. V.5. N.6. Niterói, 1999.
15.
PILATES JH; MILLER JW. A Obra Completa de Joseph Pilates, Phorte, 2009.
16.
PIRES D; SÁ CKC. Pilates: Notas Sobre Aspectos Históricos, Princípios, Técnicas e Aplicações. Revista Digital. 2005;10(90).
17.
322
COSTA, Letícia Miranda Resende da; SCHULZ, Anelise; HAAS, Aline Nogueira; LOS, Jefferson. Os Efeitos do Método Pilates Aplicado a População Idosa: uma revisão integrada. Ver.
Bras. Geriatr. Gerontol. Rio de Janeiro, 2016; 19(4):695-702.
SEGAL, N.A.; HEIN J, BASFORD Jr. The Effects of Pilates Training on Flexibility and Body
Composition: An Observational Study. ArchPhysMedRehabil. 2004;(12):1977-1981.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
18.
19.
20.
21.
22.
23.
SACCO, I.C.N; ANDRADE M.S.; SOUZA P.S; NISIYAMA M.; CANTUÁRIA A.L.; MAEDAF,
Y.I., SEGAL, N.A.; HEIN, J.; BASFORD, J.R. The Effects of Pilates Training On Flexibility and
Body Composition: An Observational Study. Archives of Physical Medicine and Rehabilitation.
85:1977-81, 2004.
SACCO ICN, ANDRADE MS, SOUZA PS, NISIYAMA M, CANTUÁRIA AL, MAEDA FYI, SEGAL,
N.A.; HEIN, J. E BASFORD, J.R. The Effects of Pilates Training On Flexibility and Body Composition: An Observational Study. Archives of Physical Medicine and Rehabilitation. 85:1977-81,
2004.SMITH, K., & SMITH, E. (2005). Integrating Pilates- based Core Strengthing into Older
Adult Fitness Programs: Implications for Pratice. Topics in Geriatric Rehabilitation, 21(1), 57-67.
Recuperado em 12/11/2016, de: http//doi.org/10.1097/00013614-200501000- 00007.
TOSCANO, J. J. de O.; OLIVEIRA, A. C. C. de. Qualidade de Vida em Idosos com Distintos
Níveis de Atividade Física. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, São Paulo, 15(3), P.
169-173, Mai./Jun. 2009.
VIANA, André Paes. Fatores que se interpõem à qualidade dos serviços de saúde prestados
pelas unidades de pronto atendimento como meios de consumo coletivo. Dissertação de Mestrado. RecifePe. UFRPE, 2017, 190 p.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Envelhecimento ativo: uma política de saúde/World Health Organization; tradução Suzana Gontijo. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde,
2005. 60p.: il.
YIN, Robert K. Estudo de Caso: Planejamento e Métodos. Tradução de Daniel Grassi. 3. Ed.
Porto Alegre: Bookman, 2005.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
323
25
“
Sexualidade e disfunção erétil
na terceira idade: uma revisão
bibliográfica
Yasmim Vilarim Barbosa
Alessandra de Souza Silva
UEPB
UEPB
Maria Crislândia Freire de Almeida
Vanda Lúcia dos Santos
UEPB
UEPB
10.37885/201102178
RESUMO
Nos últimos anos houve uma inversão da pirâmide demográfica do país e a chegada da
senilidade traz inúmeras mudanças no cotidiano dos indivíduos, no que diz respeito a
sexualidade e as alterações corporais, como a disfunção erétil (DE), distúrbio que acomete
a maioria da população idosa masculina. Foi realizada uma revisão bibliográfica baseada
nas publicações indexados nas bases Scielo, Science Direct e Google Acadêmico, com
base na análise de produções científicas que comprovassem o impacto da sexualidade
e da disfunção erétil na terceira idade. Foram analisadas 25 publicações. De acordo com
análise dos artigos, a sexualidade na velhice ainda é tratada como um tabu e aspectos
culturais e alterações corporais, como a disfunção erétil influenciam no preconceito contra
os idosos. Segundo dados obtidos na nova Zelândia, aproximadamente um em cada três
homens de 40 a 70 anos pode ter DE, com a prevalência aumentando com o aumento da
idade. A velhice, diabetes, hipertensão, fatores psicológicos e o uso da polifarmácia são
potenciais causadores dessa disfunção. É notório que o envelhecimento abrange diversas
mudanças na vida dos indivíduos, tornando-se necessário uma visão da sexualidade e
da DE de modo multidisciplinar, identificando as individualidades e potencialidades de
cada um. Assim, se faz necessário identificar o que afeta a expressão da sexualidade
dos idosos e as causas endógenos e exógenos que levam a DE e com isso, identificar
seus possíveis tratamentos, para que se possa permitir a população idosa expressar
seus sentimentos e desejos sexuais de modo tranquilo e satisfatório.
Palavras-chave: Sexualidade, Disfunção Erétil, Terceira Idade.
INTRODUÇÃO
O mundo enfrenta uma severa transição demográfica, na qual a população está envelhecendo em passos rápidos, exibindo extremas alterações no cenário econômico, social
e nos padrões de saúde-doença. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
em 2016 mostrou que entre 2005 e 2015, a proporção de idosos com 60 anos ou mais na
população brasileira, passou de 9,8% para 14,3% (MIRANDA, et al 2016).
O envelhecimento compreende uma fase da vida que se relaciona como um período de
diversas mudanças psicológicas, biológicas e sociais, e torna necessário incorporar ações e
métodos que permitam a compreensão do indivíduo idoso em toda sua totalidade, inclusive
no que se refere à sexualidade (ALENCAR, et al 2014).
Para a Organização Mundial de Saúde (OMS) (1992) a sexualidade é uma energia
que nos motiva para encontrar amor, contato, ternura e intimidade; ela integra-se no modo
como sentimos, movemos, tocamos e somos tocados, é ser-se sensual e ao mesmo tempo
ser-se sexual. A sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações e,
por isso, influencia também a nossa saúde física e mental.
Por conta de vários fatores sociais como o preconceito, a sexualidade na terceira idade, que deveria ser tratada de forma natural, ainda é vista como um tabu, pois, para muitos,
os idosos exprimirem sua sexualidade é algo de se causar espanto, tratando os mesmos
como seres assexuados (ALENCAR, et al 2014). E o envelhecimento traz consigo diversas
questões, a exemplo da disfunção erétil, que geram sérios impactos nos idosos, sendo preciso que se entenda as transformações que fazem parte do processo de envelhecimento,
para que com isso se busque alternativas para reverter ou diminuir os impactos que esses
fatores causam na vida dos idosos. Nessa perspectiva é importante explorar a sexualidade
e a disfunção erétil na terceira idade, que até então são temas pouco discutidos por essa
parcela de indivíduos.
OBJETIVO
Examinar os inúmeros tabus formados frente ao processo de envelhecimento, de modo
que se permita destacar que a sexualidade em si, engloba processos de auto aceitação e
trocas entre os indivíduos na terceira idade, além de avaliar os diversos fatores que influenciam a decorrência da disfunção erétil em idosos.
326
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
MÉTODOS
Foi realizada uma revisão integrativa da literatura e teve como questão norteadora a
análise de produções científicas que comprovassem o impacto da sexualidade e da disfunção
erétil na terceira idade. Para isso, foram consultadas informações encontradas em artigos,
teses e dissertações, indexadas nas bases de dados eletrônicas SciELO, Science Direct
e Google Acadêmico, utilizando como descritores as palavras-chaves “sexualidade” AND
“disfunção erétil” AND “terceira idade” em português e inglês. Foi adotado como critério de
inclusão publicações que abordassem a relação entre a sexualidade e a disfunção erétil
e seus efeitos na terceira idade publicados nos últimos 10 anos, em língua portuguesa,
inglesa e espanhola, realizando a leitura dos artigos na integra, excluindo-se os trabalhos
em duplicata e os que não envolviam idosos. Dessa forma, foram analisados um total de 25
publicações, sendo 14 artigos de produção nacional e 11 artigos de produção internacional.
RESULTADOS
Estudo realizado por meio de entrevistas com idosos frequentadores da Universidade
Aberta à Terceira Idade (NEATI) da Universidade Federal de Mato Grosso em 2015, mostrou
que das 32 pessoas entrevistadas (maioria tinha companheiros e idade entre 60 e 75 anos),
66% deles afirmaram que sentiam à vontade para falar sobre sexualidade, e 69% afirmaram
sentir desejos sexuais. As principais queixas desses idosos em relação a sexualidade, se
referiam a timidez, falta de conhecimentos sobre sexo na terceira idade e os tabus sociais
(ROZENDO, et al 2015).
Um estudo realizado por Uchôa et al. (2016), mostrou que em um grupo de idosos com
idade média de 72 anos, 84% deles não sabiam diferenciar sexo de sexualidade, porém,
cerca de 69,5%, julgava que estimulava a sua sexualidade, reconhecendo a religião (15,5%)
e a família (16,5%) como fatores inibitórios para a expressão da mesma. E ainda, afirmaram
que os profissionais da saúde são preparados para tratar do tema, porém, eles não são a
primeira opção de fonte de informação consultada quando o assunto é sexualidade.
Queiroz et al. (2015) mostram através de um estudo baseado na teoria da representatividade social que o núcleo central de representação da sexualidade para os idosos, é
composto com as seguintes palavras: amor, carinho e respeito.
Diversos fatores interferem na sexualidade dos idosos, incluindo o aspecto sociocultural
que está relacionado ao fato de que a maior parte da sociedade, ainda decorre nos moldes
de que a chegada da terceira idade traz consigo a assexualidade. Diante disso, este julgamento acaba fazendo com que a pessoa idosa se sinta envergonhada em expressar sua
sexualidade, se privando e adotando comportamentos que condizem com os anseios sociais.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
327
Além disso, para maioria dos idosos, a falta de um companheiro fixo, é um dos principais
fatores que levam a diminuição das práticas sexuais (ALENCAR, et al 2014).
Outro fator importante é a insatisfação com a própria imagem corporal relacionado
pelo aumento do peso, principalmente nas mulheres pela não aceitação de si e com isso a
recusa para o sexo (MENEZES et al, 2014).
No estudo realizado por Lochlainn et al. (2013) com homens e mulheres com mais de
70 anos, 52% das mulheres e 38% dos homens eram sexualmente “inativos” e afirmavam
que a falta de um parceiro era a principal razão para a vida sexual inativa. Porém, um dos
principais fatores que afetam de forma intensa a sexualidade dos idosos, são as mudanças
fisiológicas presentes no corpo, causadas pela senilidade, principalmente nos homens. Com
o avanço da idade ocorrem alterações significativas na estrutura peniana, isso ocorre devido
a diminuição da concentração de fibras elásticas e colágenas do pênis, além da deficiência
do conteúdo do músculo liso, o que acarreta mudanças na sensibilidade mecânica dessa região. Esses e outros fatores são os principais mecanismos que levam a disfunção erétil (DE).
A disfunção erétil é caracterizada pela incapacidade de modo contínuo em obter e manter uma ereção peniana que possibilite uma atividade sexual satisfatória e é causada pelos
mais diversos fatores, que incluem causas psicogênicas e orgânicas (SARRIS, et al 2016).
Afeta principalmente homens idosos e este problema tornou-se um problema de saúde
muito importante com o aumento da expectativa de vida (GÖKÇE; YAMAN 2017).
Para a ereção ocorrer é necessário que se tenha inicialmente uma excitação, que irá
estimular a atividade parassimpática, iniciando uma cascata de eventos para liberar óxido
nítrico (NO) e aumentar o cGMP intracelular. Esses fatores levam ao relaxamento do musculo liso vascular e o aumento no fluxo sanguíneo nos corpos cavernosos. Essa rapidez
no fluxo causa compressão da rede venular para diminuir o fluxo venoso, aumentando a
pressão intracavernosa e resultando na ereção (Figura 1). Diante disso, a disfunção erétil
é causada por qualquer fator que prejudique as vias vasculares ou neurais que geram a
ereção (IRWIN, 2019).
328
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Figura 1. Promoção da ereção peniana a partir da difusão do óxido nítrico ao citoplasma das células da musculatura
lisa vascular e do pênis (em preto) e flacidez peniana (em vermelho). NO-óxido nítrico; GTP (guanosina trifosfato); GMP
(guanosina monofosfato); cGMP (guanosina monofosfato cíclico); PDE V (fosfodiesterase V).
Estudo realizado por Geerkens et al, 2019, mostra que a prevalência de disfunção
sexual na população masculina saudável, refletida pela perda de desejo sexual e atividade
sexual, aumenta apenas ligeiramente com a idade, e é relativamente baixo o número de
homens que se incomoda com DE. Ainda assim, um grande número de homens nos grupos
de meia-idade e idosos considera a sexualidade um aspecto importante da vida.
Em um grande estudo nos EUA, mostrou que a proporção de homens sexualmente
ativos declina de 83,7% na faixa etária de 57 a 64 anos para 38,5% na faixa etária de 75 a 85
anos. Todos os estudos epidemiológicos mostram claramente uma prevalência e gravidade
de DE (GARERI, et al. 2014).
Na Nova Zelândia, aproximadamente um em cada três homens de 40 a 70 anos pode
ter DE. Com a prevalência bruta de DE foi de 42% (22% leve, 10% leve a moderada, 6%
moderada e 4% grave), com 24% dos homens em seus 40 anos, 38% em seus 50 anos e
60% em seus 60 anos. Com isso foi concluído que a idade está associada a um aumento
significativo na disfunção erétil (QUILTER, et al, 2017).
Várias doenças que potencialmente agravam a função sexual podem ocorrer em pessoas idosas, juntamente com a polifarmácia (GARERI, et al. 2014). Um dos fatores que levam
a disfunção erétil são as causas psicogênicas, como a depressão e ansiedade, principalmente. Neste seguimento, a depressão é vastamente citada na literatura como influenciadora
do surgimento da DE (LIMA, et al 2016; SPOSITO, et al 2013). Para Jackson et al. (2019)
homens e mulheres que relataram declínio no desejo sexual ou frequência de atividades
sexuais, apresentaram maior número de sintomas depressivos e menor qualidade de vida.
Para os homens, o declínio no desejo sexual está associado com menor satisfação com a
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
329
vida, enquanto para as mulheres é o declínio na frequência de atividades sexuais que está
associado com menor satisfação com a vida.
A ansiedade, principalmente a ansiedade de desempenho é o principal fator que leva
DE, pois ela inibe as funções do sistema nervoso autônomo em níveis que dificultam a excitação fisiológica (LIMA, et al 2016). E a idade está intimamente relacionada com o aumente
da ansiedade (QUILTER, et al. 2017).
Doenças neurológicas, como Parkinson, Alzheimer e acidentes vasculares cerebrais
também podem levar a DE (LIMA, et al 2016). O uso de medicamentos como anti- hipertensivos, antidepressivos e os antipsicóticos também pode levar a DE (IRWIN, 2019).
Outros fatores orgânicos associados ao envelhecimento também podem estimular
o surgimento da disfunção erétil. As alterações vasculares, hipertensão arterial sistêmica
(HAS), aterosclerose, arritmias cardíacas, muito comum nos idosos, leva ao estreitamento
das artérias que permitem o fluxo sanguíneo ao pênis (MLYNARSKI; MLYNARSKA; GOLBA,
2019; LIMA, et al 2016; SARRIS, et al 2016). E, além disso, diabetes, aumento de colesterol, stress e uso de cigarro são capazes de desencadear a DE, pois esses fatores também
podem levar a oclusão ou obstrução da circulação (LIMA, et al 2016; SPOSITO, et al 2013).
Ruiz et al.(2006) verificaram a relação entre a presença de incontinência urinária e a recusa
para a prática sexual e os pacientes relataram que a perda da urina durante o ato sexual
influencia a diminuição ou ausência da prática sexual.
Tabela 1. Principais fatores desencadeadores da DE
Causas
Referências
Doenças
- Depressão
JACKSON et al. 2019; LIMA, et al 2016; POSITO, et al 2013
- Ansiedade
- Hipertensão arterial
- Alterações vasculares
- Diabetes
- Hipercolesterolemia
LIMA, et al 2016; SPOSITO, et al 2013
- Doença de Parkinson
LIMA, et al 2016
- Doença de Alzheimer
LIMA, et al 2016
-Incontinência urinária
LIMA, et al 2016
- Câncer
RUIZ et al 2006
Medicamentos
- Anti-hipertensivo
IRWIN, 2019; SPOSITO, et al 2013
- Antipsicótico
IRWIN, 2019
- Antidepressivo
IRWIN, 2019
- Anticâncer
CARTER et al, 2011
- Polifarmácia
GARERI, et al. 2014
- Uso de cigarro
LIMA, et al 2016; SPOSITO, et al 2013
Outros
330
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
No entanto, existem variados métodos para tratar a disfunção erétil, dentre eles terapia
com medicação oral com os inibidores de fosfodiesterase 5 (IPDE-5) a exemplo do sildenafil
(viagra® ), vardenafil (levitra® ) e tadalafil (Cialis® ), que infelizmente não são eficazes em
todos os tipos de pacientes, como por exemplo em diabéticos, e sua prescrição e utilização
deve ser feito com cautela, pois estes apresentam muitas interações com outros fármacos,
inclusive com anti-hipertensivos (IRWIN, 2019; ALVES, et al 2012). Outras opções incluem
o uso de terapias intracavernosas, que corresponde a injeções de drogas vasoativas. E por
fim, têm-se a opção do implante de prótese peniana (LIMA, et al 2016).
A alta prevalência da DE e os baixos níveis de diagnóstico e tratamento indicam uma
oportunidade perdida de intervenção oportuna para retardar ou impedir a sua progressão
(QUILTER, et al, 2017), sendo de extrema importância a participação efetiva dos profissionais de saúde.
DISCUSSÃO
A sexualidade, apesar de ser um fator inerente ao desenvolvimento humano, nem
sempre é tratada com aceitação, pois ela reporta para muitos, a vivências pessoais muito
íntimas principalmente quando é associada à velhice (SANTANA, et al 2014). É interessante
pontuar que, seja na terceira idade ou não, a sexualidade, não se refere apenas ao ato sexual,
mas também o toque, a fantasia, a carícia e a proximidade física (LOCHLAINN, et al 2013).
A sexualidade é um fenômeno ao longo da vida e sua expressão é um direito humano
básico em todas as idades (DHINGRA, et al, 2016). No entanto, os mais velhos enfrentam
muito estigma ao expressar desejos ou preocupações sexuais, tanto de suas próprias famílias quanto do sistema de saúde, e ainda existe o pensamento de que pessoas mais velhas
não têm, ou não sentem desejos sexuais. Pois para muitos, é algo de se achar estranheza,
e chegam até a se negar a aceitar o fato que o idoso possa ter o anseio em querer namorar
e não percebem que a sexualidade não se resume apenas a genitalidade, existe também
a questão da afetividade, que é imprescindível aos seres humanos (DHINGRA, et al, 2016;
SANTANA, et al 2014).
As construções sociais configuram-se como empecilhos na expressão da sexualidade
dos idosos, visto que os dados demonstram que para muitos, a família e a religião são os
principais fatores inibitórios, além da falta de informação sobre o sexo na terceira idade, já
que muitos idosos citam que os profissionais da saúde não são a primeira escolha deles para
tratar desse assunto, tudo atrelado a timidez e os tabus sociais impostos pela sociedade,
que dificultam ainda mais esse processo de autoconhecimento e libertação por parte dos
idosos para desenvolver suas aspirações (UCHÔA, et al 2016; MOURA, et al 2019).
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
331
Além dos estigmas sociais, as alterações orgânicas que ocorrem com a senilidade
caracterizam-se como uma das principais etiologias que dificultam o processo de desenvolvimento da sexualidade nos idosos, principalmente nos homens, no que se refere ao surgimento da disfunção erétil (DE), um distúrbio que de acordo com os dados encontrados tem
alta prevalência na população idosa masculina, e que por ocasionar a incapacidade de modo
contínuo em obter e manter uma ereção peniana que possibilite uma atividade sexual satisfatória, oprime ainda mais a exteriorização da sexualidade dos mesmos (MENDES, et al 2020).
A atuação dos profissionais de saúde no entendimento dos fatores de risco que levam
ao surgimento dessa disfunção, que são os mais variados, incluindo causas fisiológicas e
psicogênicas, é extremamente essencial, pois, muitos desses fatores, como por exemplo
as doenças prevalentes na terceira idade, incluindo hipertensão, aterosclerose, além do
uso de certos medicamentos que podem levar ao surgimento da DE, se controladas com
acompanhamento profissional correto, podem reduzir os malefícios causados pela disfunção
(LIMA, et al 2016; SARRIS, et al 2016; IRWIN, 2019). Além de que, uma melhor relação
profissional de saúde e paciente é crucial, pois permite a compreensão dos anseios dos
idosos, garantindo melhoria na qualidade de vida deles.
É visível que mesmo a sexualidade sendo um meio relevante de troca de amor e carinho
entre pessoas idosas, ainda recebe pouca atenção na educação e também no treinamento
de profissionais de saúde, pois para muitos ainda é vista como um tabu, relacionando a
chegada da terceira idade com a assexualidade, fazendo com que os idosos reprimam seus
anseios para adequar-se as regras impostas pela sociedade (FRUGOLI, et al 2011).
Por fim, pode se dizer que a construção da normalidade para o sexo no envelhecimento
é algo ainda turvo, mas com a disponibilização de educação em saúde para os idosos, maior
empenho dos profissionais de saúde no entendimento das alterações presentes nessa fase da
vida, como a disfunção erétil, além da desconstrução da visão errada acerca da sexualidade
na terceira idade por parte da população, são os pilares essenciais para garantir aos idosos
a manifestação de sua sexualidade e anseios de forma adequada (DHINGRA, et al, 2016).
CONCLUSÃO / CONSIDERAÇÕES FINAIS
À medida que a população envelhece tratar de sexualidade na terceira idade pode
causar estranheza e negação. Fatores socioculturais, incluindo preconceitos e até mesmo
as próprias alterações corporais advindas da senilidade acabam reprimindo e impedindo
que os idosos exprimam sua sexualidade. A terceira idade traz consigo alterações psicológicas e fisiológicas, ocasionando um efeito inevitável como a disfunção erétil que acomete
uma grande parcela da população masculina que se encontra na idade média de 60 anos,
porém, é de responsabilidade da sociedade entender a população idosa em sua totalidade,
332
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
respeitando suas vontades e desejos, para que possam viver essa etapa da vida de modo
satisfatório e saudável. A disfunção erétil é uma condição multifatorial e, como tal, a prevenção e o tratamento exigem uma abordagem multidisciplinar.
REFERÊNCIAS
1.
2.
3.
ALENCAR, D.L.; MARQUES, A.P; LEAL, M.C. et al. Fatores que interferem na sexualidade
de idosos: uma revisão integrativa. Ciência & Saúde Coletiva. 2014; 19(8):3533-3542. DOI:
10.1590/1413-81232014198.12092013.
ALVES, M.A.S.G.; QUEIROZ, T.M.; MEDEIROS, I.A. Fisiologia peniana e disfunção erétil:
uma revisão da literatura. Revista Brasileira de Ciências da Saúde. 2012; 16:439- 444. DOI:
10.4034/RBCS.2012.16.03.23.
CARTER, N.; BRYANT-LUKOSIUS, D.; DICENSO, A.; BLYTHE, J.; NEVILLE, A.J. The supportive care needs of men with advanced prostate cancer. Oncol Nurs Forum 2011;
38(2):189-198. DOI: 10.1188/11.ONF.189-198.
4.
DHINGRA, I.; DE SOUSA, A.; SONAVANE, S. Sexuality in older adults: Clinical and psychosocial dilemmas. J Geriatr Ment Health 2016; 3:131-9. DOI: 10.4103/2348- 9995.195629.
5.
FRUGOLI, A.; MAGALHÃES-JUNIOR, C. A. O. A sexualidade na terceira idade na percepção de um grupo de idosas e indicações para a educação sexual. Arq. Ciênc. Saúde UNIPAR, Umuarama, v. 15, n. 1, p. 85-93, jan./abr. 2011. DOI: https://doi.org/10.25110/arqsaude.
v15i1.2011.3696.
6.
GARERI, P.; CASTAGNA, A.; FRANCOMANO, D. et al. Erectile Dysfunction in the Elderly:
An Old Widespread Issue with Novel Treatment Perspectives. Int J Endocrinol. 2014; 2014:
878670. DOI: 10.1155/2014/878670.
7.
8.
9.
10.
11.
GEERKENS M.J.M. et al, 2019. Sexual Dysfunction and Bother Due to Erectile Dysfunction
in the Healthy Elderly Male Population: Prevalence from a Systematic Review. Eur Urol
Focus. 2019. DOI: 10.1016/j.euf.2019.03.004.
GÖKÇE Mİ, YAMAN Ö. Erectile dysfunction in the elderly male. Turk J Urol 2017; 43: 24751. DOI: 10.5152/tud.2017.70482.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. SIS 2016: 67,7% dos idosos ocupados começaram a trabalhar com até 14 anos [Internet]. 2016 [acesso em 20 abril 2019]. Disponível
em: https://censo2010.ibge.gov.br/noticiascenso.html?busca=1&id=1&idnoticia=3326&t=sis2016-67-7-idosos-ocupadoscomecaram-trabalhar-14-anos&view=noticia.
IRWIN, G.M. Erectile Dysfunction. Primary Care: Clinics in Office Practice. 2019; 46:249- 255.
DOI: 10.1016/j.pop.2019.02.006.
JACKSON, S.E..; FIRTH, J.; VERONESE, N. et al. Decline in sexuality and wellbeing in
older adults: A population-based study. J Affect Disord. 2019, 15, 912-917. DOI: 10.1016/j.
jad.2018.11.091.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
333
12.
13.
LOCHLAINN, M.N; KENNY, R.A. Sexual Activity and aging. Journal of the American Medical
Directors Association. 2013; 14:565-572. DOI: 10.1016/j.jamda.2013.01.022.
14.
MENDES, M. R. S. S. B.; GOUVÊA, L. A. V. N.; MACHINESKI, G. G.; et al. Relação da disfunção erétil com o processo do envelhecimento. Universidade Cidade de São Paulo, São
Paulo, 2020. DOI: 10.22533/at.ed.94120160924.
15.
MENEZES, T.N.; BRITO, K.Q.D.; OLIVEIRA, E.C.T.; PEDRAZA, D.F. Percepção da imagem
corporal e fatores associados em idosos residentes em município do nordeste brasileiro: um estudo populacional. Cien Saude Colet 2014; 19(8):3451-3460. DOI: https://doi.
org/10.1590/1413-81232014198.15072013.
16.
MIRANDA, G.M.D.; MENDES, A. da C.G.; SILVA, A.L.A. O envelhecimento populacional
brasileiro: desafios e consequências sociais atuais e futuras. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol. 2016; 19(3):507-519. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1809-98232016019.150140.
17.
18.
19.
20.
21.
22.
23.
334
LIMA, P.M.; BETTESTIN, B.; FERREIRA, S.H. et al. Disfunção Erétil no Homem Idoso. Rev
Med. Saúde Brasília. 2016; 5(1). Link de acesso: https://portalrevistas.ucb.br/index.php/rmsbr/
article/view/6698.
MLYNARSKI, R.; MLYNARSKA, A.; GOLBA, K.S. Attitude towards sexuality and sexual
behaviors among men with heart rhythm disorders. Aging Male. 2019, 29:1-6. DOI: https://
doi.org/10.1080/13685538.2019.1592152.
MOURA, M. N.; SILVA, C. F. T.; SANTOS, F. F. A sexualidade na terceira idade: o tabu
que envolve os idosos. Universidade Católica do Salvador | Anais da 22ª Semana de Mobilização Científica- SEMOC | 2019. Link de acesso: http://ri.ucsal.br:8080/jspui/bitstream/
prefix/1270/3/A%20sexualidade%20na%20terceira%20 idade%3A%20o%20tabu%20que%20
envolve%20os%20idosos.pdf.
QUEIROZ, M.A.C.; LOURENÇO, R.M.E.; COELHO, M.M.F. Social representations of sexuality for the elderly. Rev Bras Enferm. 2015;68(4):577-81. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/
0034-7167.2015680413i.
QUILTER, M.; HODGES, L.; VON HURST, P. et al. Male Sexual Function in New Zealand:
A Population-Based Cross-Sectional Survey of the Prevalence of Erectile Dysfunction
in Men Aged40-70 Years. J. Sex. Med. 2017; 14:928-936. DOI: https://doi.org/10.1016/j.
jsxm.2017.05.011.
ROZENDO, A. da S.; ALVES, J.M. Sexualidade na terceira idade: realidades e tabu. Revista Kairós Gerontologia. 2015; 18(3), pp. 95-107. DOI: https://doi.org/10.23925/2176- 901X.
2015v18i3p95-107.
RUIZ, L.G.G.; SÁNCHEZ, L.G.; ARANDA, I.C.; GONZÁLEZ, J.V.A.; PÉREZ, G.S.; EGEA, L.G.
Trabajando la incontinência urinaria em atencion primaria: satisfacción, sexualidade y
cumplimiento terapéutico. Arch. Esp. Orol. 2006; 60(6):625-632. Link de acesso: http://scielo.
isciii.es/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0004-06142007000600002.
SANTANA, M.A.S.; LUCENA, E.C.L.; LIMA, K.M.M. et al. Sexualidade na terceira idade:
compreensão e percepção do idoso família e sociedade. Revista da Universidade Vale do
Rio Verde, Três Corações. 2014; v. 12, n. 1, p. 317-326. Link de acesso: https://pdfs.semanticscholar.org/87dc/d0dc6a1ec4bf03076b0fe8a931c945cd6777.pdf.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
24.
SARRIS, A.B.; NAKAMURA, M.C.; FERNANDES, G.R. et al. Fisiopatologia, avaliação e
tratamento da disfunção erétil: artigo de revisão. Rev Med. 2016; 95(1):18-29. DOI: https://
doi.org/10.11606/issn.1679-9836.v95i1p18-29.
25.
SPOSITO, G.; D’ELBOUX, M.J.; NERI, A.L.; GUARIENTO, M.E. A satisfação com a vida e
a funcionalidade em idosos atendidos em um ambulatório de geriatria. Cien Saude Colet
2013; 18(12):3475-3482. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232013001200004.
26.
UCHÔA, Y. da S.; COSTA, D.C.A.; JÚNIOR, I.A.P. da S.; et al. A sexualidade sob o olhar
da pessoa idosa. 2016. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol; 19(6): 939-949. DOI: https://doi.
org/10.1590/1981-22562016019.150189.
27.
World Health Organization. Sexual health [Internet]. Genebra: WHO; 2017 [acesso em 10
maio 2019]. Disponível em: http://www.who.int/topics/sexual_health/en/
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
335
26
“
Uso de tecnologías de la
información y comunicación en
servicios y cuidados de atención
primaria de salud para adultos
mayores en latino américa
Exequiel Plaza
Universidad de Talca
Hernando Durán
Universidad de Talca
10.37885/201102339
RESUMO
Los cambios demográficos relacionados al envejecimiento poblacional y la necesidad de
generar estrategias de cuidado a nivel de atención primaria de salud, nos lleva a tratar de
identificar cual es la evidencia científica que existe sobre el uso de tecnologías digitales
de comunicación e información a distancia que puedan auxiliar el cuidado de la salud de
adultos mayores. Este estudio realizado en Chile, utilizó metodología de revisión sistemática basada en recomendaciones PRISMA para la búsqueda de investigaciones basadas
en evidencia científica que orienten sobre el estado actual de desarrollo de este ámbito
en Latino América. El estudio identifica el uso de telemedicina y aplicaciones móviles
que contribuyan a la prevención, diagnóstico, monitoreo y manejo de las enfermedades
prevalentes en la población adulto mayor. La investigación originalmente realizada se actualizó para incorporar artículos sobre esta temática post inicio de pandemia COVID-19 en
2020. Se identificaron 1.174 resúmenes en tres bases de datos (PubMed= 777; Scopus=
72; Web of Science= 325) quedando finalmente un total de 13 estudios incluidos en la
revisión. Se evidenció un bajo nivel de evidencia científica y complejidad metodológica
de los estudios revisados, lo cual fue analizado mediante una evaluación con instrumento
CONSORT. Se estableció que el uso documentado de telemedicina y otras formas de
plataformas digitales son aun de temprano desarrollo en América Latina y su empleo en
cuidados de adultos mayores en atención primaria resulta aún más desconocida. Se requiere generar evidencia científica de las experiencias en telemedicina que ya existen y
aquellas que se han empezado a desarrollar en varios países del continente. Respecto
a los reportes sobre telesalud en tiempos de pandemia COVID-19, Brasil es el país que
ha aumentado sus publicaciones, aunque estos estudios incluyen a la población general
y no solamente se centran en la atención de adultos mayores.
Palavras-chave: Adulto Mayor, Telemedicina Tics.
INTRODUCCIÓN
El advenimiento de los cambios demográficos concerniente al envejecimiento poblacional y la necesidad de generar estrategias de cuidado a nivel de atención primaria para este
los adultos mayores, nos lleva a tratar de identificar cual es la evidencia que existe sobre el
uso de tecnologías digitales de comunicación e información a distancia que puedan auxiliar
el cuidado de la salud de esta población de pacientes.
En la actualidad, casi 700 millones de personas son mayores de 60 años. Para 2050,
las personas de 60 años o más serán 2.000 millones, esto es, más del 20% de la población
mundial. El mundo está envejeciendo. En los próximos 50 años se va casi a cuadriplicar el
número de personas de edad, pasando de unos 600 millones a casi 2.000 millones Este aumento será más notable y más rápido en los países en desarrollo. En Asia y América Latina,
la proporción del grupo clasificado como personas de edad aumentará del 8% al 15% entre
1998 y 2025. (ONU, 2002).
En Latinoamérica el envejecimiento demográfico está más avanzado en Uruguay,
Argentina, Cuba y Chile y en países del Caribe (Trinidad, Tobago y Barbados), donde más
de un 10% de la población es mayor de 60 años. En el otro extremo se ubican países que se
encuentran menos adelantados en su transición demográfica (Guatemala, Bolivia, Paraguay,
Honduras, Haití, entre otros), donde un porcentaje inferior al 6.5% de la población sobrepasa
los 60 años (BEARD, J ET AL., 2016).
Existe un grupo de países en situación intermedia con una transición demográfica
bastante avanzada que experimentarán los mayores aumentos de sus mayores de 60 años
en las próximas décadas. Entre estos se encuentran Brasil, México, Colombia, Costa Rica
y Panamá. (GUZMÁN, 2002).
Este estudio realizado en Chile, utiliza la metodología de revisión sistemática para identificar investigaciones basadas en evidencia científica que oriente sobre el estado actual de
desarrollo de este ámbito en Latino América. Las actuales políticas de los países y el marco
regulatorio normativo genera un escenario propicio para el uso de telemedicina y aplicaciones
móviles que contribuyan a la prevención, diagnóstico, monitoreo y manejo de las enfermedades prevalentes en la población adulto mayor atención primaria y el uso de tecnologías
digitales existentes (BASHSHUR, R et al. 2016). Esto último, debido al acceso tecnológico
del que se dispone en países del continente, en donde si bien es cierto existen indicadores
propios de países en desarrollo como pobreza, envejecimiento, ruralidad y discapacidad,
coexisten indicadores de países desarrollados como el nivel de cobertura de internet, calidad
de la transmisión de datos digitales y existencia de teléfonos inteligentes con capacidades
que hasta hace poco eran propias sólo de computadores estacionarios. La democratización
338
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
de la información y el acceso a ella es una necesidad conocida y más aún saber si está
científicamente documentada (SCOTT K., et al. 2018).
Este estudio tuvo el propósito de conocer cuáles son las metodologías de telemedicina
y aplicaciones digitales en atención de salud primaria para la atención de adultos mayores
en el continente.
La Red Internacional de Agencias de Evaluación de Tecnologías Sanitarias (INAHTA)
generó el año 2000 un informe que incluyó 19 análisis económicos de aplicaciones de telemedicina; Además se identificaron 11 estudios sobre el tema. Tres de los estudios se habían
realizado en Noruega, mientras que la mayoría procedía de América del Norte. Se identificó
la necesidad de incrementar el número de experiencias que analizaran el desarrollo del uso
de la telemedicina en el uso de los sistemas de salud en diferentes regiones del mundo
(KUHN-BARRIENTOS, 2014).
Las tecnologías de telemedicina pueden ahorrar costos, pero su impacto en los resultados de salud es en gran parte desconocido. El hecho de que una tecnología específica
ahorre costos dependerá de su tipo, la estructura de costos del sistema de atención médica,
el volumen de pacientes y los factores geográficos. Teniendo en cuenta las limitaciones de los
estudios, se concluye que la rentabilidad de los métodos de telemedicina no está claramente
establecida. La afirmación de que la telemedicina puede ahorrar “miles de millones” no está
respaldada por la investigación (INESS, 2010). La telemedicina es parte de la revolución más
reciente en salud. El rápido avance de la tecnología ha hecho que la entrada en el campo
de la telemedicina sea mucho más rápida y económica. El equipo “listo para usar” necesario
para conectar a las personas con los profesionales de la salud permite que incluso los países
más pobres ingresen rápidamente a sus ciudadanos para salvar vidas. En Estados Unidos,
aproximadamente 100.000 consultas de telemedicina se realizan anualmente (BOXER, 2015).
La Organización Mundial de la Salud ha adoptado la siguiente descripción de telemedicina: “La entrega de servicios de atención médica, donde la distancia es un factor crítico,
por todos los profesionales de la salud que utilizan Tecnologías de la información y la comunicación para el intercambio de información válida para el diagnóstico, tratamiento y prevención de enfermedades y lesiones, investigación y evaluación, así como para la continua
educación de los proveedores de atención médica, todo en aras de mejorar la salud de las
personas y sus comunidades (SOOD, 2007). Un elemento que no siempre es considerado
es la educación de los proveedores de atención médica, por la diversidad de escenarios
geográficos y nivel de desarrollo donde se han implementado estas tecnologías. Los principios de ingeniería de usabilidad, evaluación y telemedicina están bien establecidos, lo que
puede contribuir a la adopción y eventualmente el despliegue de sistemas y servicios de
telemedicina. Un análisis en profundidad de usabilidad, que incluya medidas de desempeño
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
339
y actitud, requiere conocimiento sobre técnicas de uso disponibles (por ejemplo, conocimiento sobre la caja de herramientas de métodos que se pueden utilizar), y es dependiendo de
la cantidad de recursos (por ejemplo, tiempo y dinero). Por ejemplo, los cuestionarios son
un herramienta de usabilidad popular, ya que proporcionan una “solución rápida” (barata y
fácil de implementar) para la investigación metodología, donde los métodos de observación
requieren una mayor cantidad de recursos (RYU, 2012).
Uso de la telemedicina en servicios de salud
El monitoreo de los pacientes en sus hogares puede llevar a una mejor atención médica
a costos más bajos, lo que implica una mayor demanda de nuevas estrategias de atención
médica como la telemedicina (COMBI, 2016). En un Sistema de monitorización remota,
el paciente es monitoreado en la ubicación remota. Sus señales y signos de salud se adquieren continuamente y se envían al hospital principal con la posibilidad de ser analizados
localmente por un Sistema de apoyo para la toma de decisiones.
Experiencias de telemedicina y uso de plataformas digitales en países en desarrollo.
Actualmente existe muy poca literatura que aporte información validada sobre el uso
de tecnología a distancia o TIC´s en salud en países en desarrollo. Los países desarrollados
presentan un producto interno bruto (PIB) mucho mayor con respecto al PIB de los países
en desarrollo. El gasto público en salud, medido como porcentaje del PIB dedicado a la
atención de salud, difiere aún más entre los países desarrollados y en desarrollo, que van
desde una proporción entre 5,5 y 7,0 para los países más ricos a una relación entre 0,6 y
1,7 para los países más pobres (WOOTTON, 2001)
Respecto a las zonas geográficas donde pueden implantarse soluciones basadas
en telemedicina, dos tipos principales de ubicación pueden clasificarse en: zonas rurales,
donde las necesidades se destinan principalmente a la atención primaria de salud, incluidas
las situaciones de emergencia a menudo sin equipo específico para tratar a las personas
heridas; y lugares urbanos, donde las necesidades están principalmente orientadas a patologías crónicas. Mientras que los ciudadanos en países desarrollados viven principalmente
en lugares urbanos, un porcentaje mucho mayor de personas en los países en desarrollo
todavía viven en lugares rurales (ODUTOLA, 2003).
Los países donde en desarrollo donde se han documentado experiencias con telemedicina pertenecen a Norte América y algunas zonas de Asia (China, India, Micronesia). Hasta
el año 2010, sólo dos experiencias en América Latina habían logrado un nivel de desarrollo
susceptible de ser documentadas en la literatura científica. Estas se desarrollaron en Perú
y Brasil (COMBI, 2016).
340
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Mediciones de usabilidad de la telemedicina en adultos mayores
Se han realizado estudios con la intención de identificar el nivel de despliegue de
tecnología a distancia en Estados Unidos para acciones de salud relacionadas con adultos
mayores. A partir de una revisión general de 297 artículos se seleccionaron 16 de los cuales
el 60% se centraron en la usabilidad general de los sistemas de telemedicina; 6.25% en la
usabilidad de un robot de telepresencia; El 12,5% comparó una consulta médica cara a cara
con el uso de sistemas de telemedicina, y el 25% se centró en el estudio de otros aspectos
de la telemedicina además de su utilidad. Hubo una alta satisfacción del paciente con la telemedicina en 31.25%, mientras que otro 31.25% indicó una alta aceptación de este método
de consulta médica. Estos datos establecen que a pesar del despliegue tecnológico que se
proclama, no existen estudios en número suficiente para documentar, al menos en Estados
Unidos, una evaluación de usabilidad científicamente válida y reproducible en varias etapas
del desarrollo del sistema de telemedicina (Narasimha, 2017). A partir de la pandemia global
por COVID-19 se ha intensificado el interés por reportes científicos sobre la telemedicina,
sin embargo la información aun no es específica para la población de adultos mayores que
utiliza servicios de atención primaria (WOSIK ET AL., 2020). Previamente se había establecido que los diseñadores de sistemas de telemedicina debieran considerar los problemas
relacionados con la edad en la cognición, la percepción y el comportamiento de los pacientes
geriátricos al diseñar aplicaciones de telemedicina (EKELAND, 2012).
OBJETIVO
Este estudio pretende contribuir a la identificación de información basada en la evidencia
científica sobre el uso de tecnología como la telemedicina, en servicios de atención primaria
de salud a usuarios adultos mayores.
METODOLOGÍA
Revisión sistemática para la cual se utilizaron los criterios de establecidos por el modelo
PRISMA Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (SHAMSEER,
2015), a continuación, se presenta los procedimientos realizados en las 3 fases consideradas para la búsqueda y selección de los artículos, a saber, una fase de identificación,
screening y elegibilidad.
El propósito de esta primera fase consistió en identificar la evidencia de investigaciones acorde a los objetivos de este estudio. Para ello, y con el fin de mantener un grado de
confiabilidad, dos investigadores de forma independiente realizaron una búsqueda en las
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
341
bases de datos de PubMed, Scopus y Web of Science durante los meses de febrero a abril
de 2019 y actualizado en 2020.
Para realizar la búsqueda en cada una de las bases de datos se elaboraron tres constructos principales: (1) “Comunicación digital a distancia”; (2) “adultos mayores”; (3) “Nivel de
Atención Primaria”. Cada constructo incluyó una serie de asociaciones entre palabras claves
usando el operador booleano OR. De esta manera, el primer constructo estuvo compuesto
por la combinación de las siguientes palabras claves: “Telemedicine” OR “e-health OR “Digital
healthcare”. El segundo por las palabras claves: “older adult” OR “elderly”. Finalmente,
el tercer constructo incluyó las palabras claves: “Basic medical care” OR “Primary health
care” En cada uno de los motores de búsqueda se incorporó la asociación entre los tres
constructos, esta vez, utilizando el operador booleano AND. Se limitó el idioma de los artículos (inglés, español y portugués) y, en el caso de la base de datos de PubMed, el rango
etario de la población en estudio (> 60 años). No obstante, fueron incorporados al análisis
preliminar los abstracts de artículos sin considerar restricción en el tiempo ni en la disponibilidad de acceso a estos.
En la Fase de Elegibilidad se utilizaron criterios de inclusión y exclusión. Los criterios
de inclusión fueron que los estudios: (1) fueran escritos en inglés, español o portugués, (2)
consideraran la intervención en sujetos adultos mayores o envejecidos; (3) proporcionaran
alguna descripción detallada de algún instrumento o estrategia técnica digital de comunicación remota para la atención de salud, fuese en forma de aplicaciones digitales telefónicas
o vía internet; 4) fueran realizados en América Latina, considerando el área geográfica de
América Central y Sudamérica completa, es decir incluyendo Brasil; 5) informaran alguna
forma de medición de los resultados de las intervenciones clínicas realizadas incluyendo las
de tipo preventivas, curativas y de rehabilitación; y 6) estuvieran disponibles de modo online.
Los criterios de exclusión fueron: 1) Estudios que incluían participantes infantiles 2)
Estudios con adultos jóvenes, con o sin patologías, 3) Estudios que no usaran tecnología
a distancia en la prestación del servicio de salud y 4) Estudios fuera del nivel de atención
primaria de salud.
RESULTADOS
La búsqueda inicial realizada por los dos investigadores a cargo arrojó un total de
1.174 resúmenes (PubMed= 777; Scopus= 72; Web of Science= 325). Hubo un 100% de
concordancia entre los investigadores en la búsqueda realizada.
De los 1.174 resúmenes que arrojó la búsqueda inicial, se eliminaron los artículos
duplicados (n= 397), quedando un total de 777 artículos. De estos, 777 se excluyeron artículos de acuerdo con los criterios definidos en la fase de screening. Hubo un 92,6% de
342
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
concordancia entre los investigadores en la selección de esos artículos. Hubo dudas sólo
en un 7,4%. En este punto intervino el tercer evaluador.
Se evaluó la elegibilidad de 2 artículos adicionales luego de realizar una búsqueda secundaria.
En la fase de elegibilidad, se seleccionaron y evaluaron 264 artículos que cumplieron
con los criterios de inclusión. De estos se descartaron 251 estudios, quedando un total de 13
estudios incluidos en la revisión. La Figura 1 muestra el flujograma de selección de acuerdo
con lo establecido por el modelo PRISMA (SHAMSEER, 2015)).
Figura 1. Diagrama de flujo para la selección de los estudios.
El perfil y características de los estudios seleccionados son presentados en el Cuadro 1.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
343
Cuadro 1. CARACTERÍSTICAS DE LOS ESTUDIOS INCLUIDOS EN LA REVISIÓN
Autor Año País
Diseño del Estudio
Duración
Muestras en los Estudios
(Tamaño, Edad, sexo)
Tipo de programa y Tecnología utilizada
Área Clínica o área de
Salud de realización del
estudio
Resultados
108 Sujetos. Edad promedio de los participantes
63,5 años. Muestra integrada por 62% de mujeres
y 38% de hombres.
Unidad de diagnóstico
móvil implementada
con equipamiento de
diagnóstico clínico y
equipo computacional
de videoconferencia con
conexión satelital operada
por un médico de atención
primaria.
Los participantes eran
pacientes con condiciones patológicas del área
cardio-circulatorio, como
hipertensión arterial,
disfunción cardiaca y
fibrilación atrial.
36 pacientes atendidos
anualmente.. El 100%
recibió una evaluación vía
telemedicina. Los pacientes mostraron un nivel
de satisfacción de 98%.
Beneficios económicos
y amplitud de cobertura
clínica.
Pacientes con perfil cardiometabólico y estado
de prehipertensión
El estudio basado en llamadas telefónicas y mensaje
de texto tuvo un bajo nivel
de modificación en la salud
de los pacientes
Pacientes con perfil cardiometabólico y estado
de prehipertensión
El estudio implementado
fue exitoso estableciéndose que la implementación
exitosa se debió en parte
al uso de la tecnología
digital y a la difusión de
resultados similares a gran
escala.
1
Cifuentes L 2017
Colombia
Estudio piloto longitudinal
3 días de duración.
2
Rubinstein et al.
2016
Perú, Argentina,
Guatemala
Estudio Clínico Randomizado con dos grupos
de estudio.
Duración de la intervención: Exposición= 12
meses
Muestra N=637 (553 analizados); 43.4 años/30–60
year. Adultos conh
prehipertension 46 % (M),
54 % (F)
Uso de Aplicación digital
en teléfono celular. Llamadas de asesoría mensual
y mensajes de textos
semanales.
Rubinstein et al.
2015
Argentina
Ensayo Clínico Estudio
Clínico aleatorizado de
clusters. Diseñado para
probar una estrategia
de intervención de prevención y control de la
hipertensión. Manejo de
hipertensión y mHealth
de 18 centros de atención primaria de salud.
212 participantes divididos
en dos grupos de 106
sujetos. Los participantes
fueron incluidos en dos
grupos estratificados por
edad (30–45 años y 46–60
años) Pacientes hipertensos de que asistían a 18
centros de salud familiar.
Estrategia basada en una
plataforma WEB de intervención vía mHealth con
llamadas de asesoría mensual y mensajes de textos.
Además, una aplicación
para teléfonos inteligentes
para mejorar el manejo del
paciente.
No especifica
Intervenciones de cesación
tabáquica basadas en
telefonía móvil. Intervenciones de cesación tabáquica basadas en internet.
Intervenciones de cesación
tabáquica basadas en
correo electrónico.
Tratamiento de apoyo a
la cesación tabáquica en
pacientes fumadores.
Se necesita contar con
estudios donde la intervención sea entregada por
vías de amplio uso actual,
como Whatsapp u otras
aplicaciones móviles que
han venido a desplazar
la clásica mensajería de
texto.
Entrevistas a personeros
de instituciones público y
privadas (n=20) y pacientes
beneficiarios de los proyectos de telemedicina (n=5)
Proyecto de telemedicina
mediante la identificación
de actores y factores y
hechos que determinan
este tipo de innovaciones.
Se extraen las relaciones
de estructura y causas en
innovación de productos
inclusivos.
Interacción entre
múltiples actores en los
procesos de innovación,
factores y actores en
contextos de inclusión
social y acceso a servicios
de salud de comunidades
indígenas y rurales en
México.
Se identifican los actores
y los determinantes de la
innovación en productos
inclusivos, y se establece
el orden causal que siguen
las relaciones entre estos
determinantes, así como
su estilización gráfica.
3
4
5
344
Alcantara y Bambs
2017 Chile
Martínez et als.
2017
México
Reporte general de
tecnologías digitales y
TIC´s
Estudio de caso con análisis estructural-causal
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Autor Año País
6
7
8
9
10
Tovar-Cuevas et
als. 2018
Colombia
Guedes et als. 2018
Brasil
Nieto et al. 2019
Chile
Moretti y Barsottini
2017 Brasil
Ríos y Botero. 2018
Colombia
Diseño del Estudio
Duración
Muestras en los Estudios
(Tamaño, Edad, sexo)
Tipo de programa y Tecnología utilizada
Área Clínica o área de
Salud de realización del
estudio
Resultados
Servicio de atención
tele-operado de rehabilitación física, vía Internet
para pacientes con
lesiones leves de rodilla
que viven en zonas de
vulnerabilidad geográfica
El diseño correcto de SI
es relevante al facilitar un
mejor control y ejecución
del proceso de atención
clínica. El SI evalúa la implementación de atención
teleoperada por usuarios
de rehabilitación física de
zonas donde acceder a los
servicios de salud es difícil.
Usuarios de servicios de
telemedicina del ámbito
de la comunicación
humana
Las acciones se restringieron al campo del lenguaje
y se concentraron en el
tema de la educación, así
como en el área estratégica
de la salud. La categoría
ocupacional más frecuente
entre los tele consultores
fue la enfermería.
Equipo creador del prototipo
2 Kinesiólogos, 1 diseñador
industrial, 1 ingeniero
electrónico, un ingeniero
de sistemas, 1 ingeniero
industrial y 1 estadístico.
Estudio para probar un
prototipo de sistema
informático (SI) desarrollado para evaluar el proceso
teleoperado de cuidados
de rehabilitación.
Estudio transversal
Encuestas de datos
provenientes de fuentes
secundarias
Se consideraron las acciones educativas producidas
por tele consultores relacionadas con la salud de
la comunicación humana.
Todo esto en un centro
universitario de tele-salud.
Estudio retrospectivo de
pacientes que usan terapias antitrombóticas
6.280 Pacientes con
tratamiento anticoagulante
tratados en el Servicio de
Salud
H = 48.7%
M =51.3%
Edad promedio de 67.3 +
14.5 años.
Se utiliza una plataforma
de telemedicina aportada
por el Servicio de Salud
Metropolitano Oriente. La
telemedicina, realizada por
equipos comprometidos,
mejoró el uso de anticoagulantes orales.
Se identificaron tres
diagnósticos: Trastorno
por desorden cardíaco
(43.7%), trombosis
venosa (22%) y prótesis
valvular (10.7%).
En los pacientes la recepción de tratamiento fue con
una frecuencia terapéutica
mayor al 50%. Sin embargo, se observaron mejores
resultados, 66.7%, cuando
se utilizó una estrategia
de telemedicina solo en la
provincia de Santiago.
15 entrevistas semiestruturadas con especialistas
Dos estrategias de comunicación:
1. Entrevistas semiestructuradas con especialistas
que trabajan con guía
telefónica. 2. Método
etnográfico en el que se
realizó un seguimiento de
un grupo Facebook sobre
fibromialgia durante tres
meses
Seguimiento telefónico en el manejo de
pacientes crónicos, que
registran las llamadas,
monitorean el ausentismo, auditan la interacción, trabajan con centros
y software disponibles las
24 horas.
Las iniciativas estudiadas tienen resultados
positivos.. Las entrevistas
han demostrado que
las prácticas de apoyo a
distancia para pacientes
crónicos podrían ampliarse
para un mayor número de
enfermedades.
Destinatarios médicos y
pacientes con interfase
dedicada para cada uno de
estos usuarios.
Aplicativo prototipo para
Smartphone con sistema
de vigilancia y seguimiento a los pacientes que
permitan su monitorización permanente
por fuera del ambiente
hospitalario.
Se obtuvo información
remota que se comunica
con una red de sensores,
realizando peticiones de
señales ECG y signos vitales
para ser almacenados y
posteriormente procesados.
Estudio Piloto de caso
Estudio cualitativo de
casos. Tres meses de
duración
Estudio piloto exploratorio.
Pacientes con enfermedades cardiovasculares.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
345
Autor Año País
11
12
Do Nascimento.
2017 Brasil
Chamorro, Caicedo, García. 2017
Colombia
Tipo de programa y Tecnología utilizada
Área Clínica o área de
Salud de realización del
estudio
Resultados
38 profesionales y
funcionarios de atención
primaria. Capacitación en
el área de pacientes adultos mayores con énfasis
en terapia de lenguaje en
patologías neurológicas
adquiridas.
Describir la implementación y el nivel de satisfacción
de los usuarios en acciones
de teleducación relacionadas con la salud de la
comunicación humana.
Plataforma de Red
Núcleo de Telesalud NUTES, en atención primaria
de salud. Área de la
salud de la comunicación
humana en diferentes
ciclos de vida. Los temas
que involucran la salud
de los niños y Los adultos
mayores.
La implementación de la
terapia de teledistancia
se inició mediante la
capacitación del equipo, la
planificación, la oferta y la
evaluación de las acciones
de teleducación.
15 sujetos incluidos en el
proceso de pilotaje
Dispositivo de tecnología
asistencia remota operada
en forma local o tele-operada vía internet para la
rehabilitación activa y pasiva del hombro.
Alteraciones de la
movilidad funcional del
hombro con protocolos
de movimientos activos y
pasivos.
Dispositivo tecnológico de
asistencia para la rehabilitación activa y pasiva del
hombro lo que permitió
que los pacientes que temporalmente discapacitados
sean rehabilitados en
forma descentralizada
Diseño del Estudio
Duración
Muestras en los Estudios
(Tamaño, Edad, sexo)
Estudio descriptivo
exploratorio
Estudio descriptivo
exploratorio piloto
Los doce estudios revisados presentan una heterogeneidad del diseño y tipo de estudios. Algunos presentan de manera clara los sujetos participantes en términos de número,
sexo y patología. Otros sólo genéricamente presentan datos sobre los beneficiarios dando
gran énfasis a la arquitectura de las plataformas de telemedicina empleada o especialmente
diseñadas, como es el caso de los estudios que reportan estudios pilotos basados en la descripción de prototipos de plataformas digitales de telecomunicación a distancia. Importante
es el reporte que cada estudio hace del área clínica de interés en el cual sitúan la situación
problema que a su vez constituye el desafío de abordar en términos de acortar brechas
de acceso, particularmente a sujetos en zonas rurales y/o remotas a los centros urbanos.
Existe coincidencia en todos ellos de realizar un despliegue desde la perspectiva propia de
la atención primaria.
En el cuadro 2 se presenta el área de interés clínico que aborda cada estudio.
CUADRO 2. AMBITO CLÍNICO DE LOS ESTUDIOS DE TELEMEDICINA Y APLICIONES DIGITALES
346
Estudio
Diseño
Ámbito Clínico
Cifuentes L 2017
Estudio piloto longitudinal
Patológicas del área cardio-circulatorio
Rubinstein et al. 2016
Estudio clínico randomizado
Patologías de perfil cardiometabólico y estado
de prehipertensión
Rubinstein et al. 2015
Estudio Clínico aleatorizado de
clusters .
Patologías de perfil cardiometabólico y estado
de prehipertensión
Alcantara y Bambs 2017
Reporte de Casos
Tabaquismo en pacientes fumadores
Martínez et als. 2017
Estudio de caso con análisis
estructural-causal
Inclusión y acceso a la salud
Tovar-Cuevas et als. 2018
Estudio Piloto de caso
Patologías de rodilla
Guedes et als. 2018
Estudio Descriptivo transversal
Patologías de la comunicación humana
Nieto et al. 2019
Estudio retrospectivo
Terapias Antitrombóticas
Moretti y Barsottini 2017
Estudio cualitativo de casos
Patologías crónicas y fibromialgia
Ríos y Botero. 2018
Estudio piloto exploratorio.
Patologías cardiovasculares
Do Nascimento. 2017
Estudio descriptivo exploratorio
Patologías de la comunicación humana
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Estudio
Diseño
Ámbito Clínico
Chamorro, Caicedo, García.
2017
Estudio descriptivo exploratorio piloto
Patologías de movilidad funcional del hombro
Resultados de la evaluación hecha con la escala de Fundación CONSORT para estudios clínicos (ALTMAN, 2001). Esta escala de 25 items permite evaluar el estudio publicado
en términos de aspectos formales, de consistencia interna e interna. Cada ítem logrado
aporta un punto. Así mismo se establece si la investigación reporta la efectividad de la propuesta presentada.
En el Cuadro 3 se presentan los puntajes y porcentajes obtenidos, donde sólo cuatro
estudios obtienen una puntuación sobre el 50%.
CUADRO 3. Evaluación de estudios revisados en base a CONSORT 2010. Lista de comprobación de la información
Estudio
Diseño
Puntaje CONSORT
(porcentaje de criterios cumplidos)
Efectividad reportada
Cifuentes L 2017
Estudio piloto longitudinal
8 (32%)
+
Rubinstein et al. 2016
Estudio clínico randomizado
20(80%)
+
Rubinstein et al. 2015
Estudio Clínico aleatorizado de
clusters .
22(88%)
+
Alcantara y Bambs 2017
Reporte de Casos
7 (25%)
+
Martínez et als. 2017
Estudio de caso con análisis
estructural-causal
12 (48)
+
Tovar-Cuevas et als. 2018
Estudio Piloto de caso
8 (32%)
+
Guedes et als. 2018
Estudio Descriptivo transversal
7 (25%)
+
Nieto et al. 2019
Estudio retrospectivo
18 (72%)
+
Moretti y Barsottini 2017
Estudio cualitativo de casos
9 (36%)
+
Ríos y Botero. 2018
Estudio piloto exploratorio.
8 (32%)
+
Do Nascimento. 2017
Estudio descriptivo exploratorio
13 (52%)
+
Chamorro, Caicedo, García.
2017
Estudio descriptivo exploratorio piloto
7 (28%)
+
DISCUSIÓN
La información publicada en los últimos cinco años en estudios basados en evidencia
científica permiten establecer que la telemedicina y el uso de aplicaciones digitales a distancia son modalidades que usados en la atención de salud puede ser de gran beneficio por la
ampliación del servicio a los usuarios y beneficiarios remotos (OMS, 2017). El advenimiento
de la tecnología digital que auxilia los suministros de servicios de atención sanitaria donde
la distancia es un factor crítico, ha tenido una importante evolución en países desarrollados,
sin embargo, en Latinoamérica a pesar de haberse desarrollado diversas iniciativas, estas
no están del todo documentadas ni su publicación asume una metodología que avale científicamente su evidencia y su replicación (TOTTEN, 2016).
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
347
Del análisis genérico de la bibliografía existente se constata que la mayor publicación
de experiencias basadas en evidencia proviene de países como Estados Unidos, Japón,
Reino Unido y Sudáfrica (MARS, 2013). Ahora en tiempos de pandemia COVID-19, China
ha incrementado las publicaciones en este ámbito (HONG, 2020), (SONG, 2020).
En Estados Unidos, los mecanismos de asociación público-privada para la construcción
de un ecosistema digital de salud más fuerte y más conectado es una visión que el Estado pretende alcanzar antes del año 2025 (MASSACHUSETTS E-HEALTH INSTITUTE MEHI), 2016).
En Japón la Telemedicina experimental se realizó utilizando un modelo de jerarquía
entre centros regionales con centros intermedios y clínicas en zonas remotas, respaldada en
su conjunto por la Universidad de Osaka (DURRANI ET AL 2009). El repertorio de servicios
está dado por electrocardiograma digital (ECG) enviado por fax era legible y también la trasmisión ECG usando modem, la telepatología, telemonitoreo con sensores vitales, telemedicina
para mujeres embarazadas, teleenfermería, teleoftalmología, monitoreo-vigilancia-soporte
de vida a pacientes, promoción de salud en residentes locales, red de colaboración para
terapias de cáncer, coordinación de salud comunitaria y sistema de Telemedicina móvil
(TAKASHI ET AL, 2013).
Estado de desarrollo en Latino América
Al análisis de la información obtenida en el presente estudio, es posible constatar que el
mayor reporte de iniciativas de telemedicina y servicios digitales basados en evidencia científica está dado por Colombia con un 33%, Brasil 25%, Argentina 17%, Chile 17% y México
8%. Los estudios establecen desarrollo en cuatro áreas principales de la salud tales como
enfermedades del sistema cardio-circulatorio, músculo esquelético y motor, comunicación
y funcionamiento humano social y finalmente malos hábitos como el tabaquismo. El mayor
porcentaje de estudios (42%) están referidos a iniciativas relacionadas al cuidado de pacientes que presentan alteraciones cardiacas y del sistema circulatorio en general. Luego, los
sistemas que pretenden abordar la problemática de alteraciones motoras y músculos esqueletales constituyen un 25% de los estudios reportados. En igual dimensión se encuentran la
telemedicina para usuarios con alteraciones de la comunicación y funcionamiento humano
social. Estudios para el cuidado de pacientes con hábitos de tabaquismo constituyen el 8%
del total de las investigaciones disponibles.
En cuanto aparato al número de sujetos usuarios y beneficiarios, los estudios reportan
un número de 7.246 casos. Cabe destacar que la gran mayoría está destinada a la población
general de sujetos con patologías a lo largo de todo el ciclo vital.
348
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Telemedicina, atención primaria y adulto mayor
La atención primaria está relegada a un 18%. Esto cobra mayor relevancia cuando al
analizar los estudios revisados, solamente un 10% tiene como destinatario a la población
adulta mayor reportándose sólo un número de 724 casos a nivel latinoamericano.
El estudio reportado en Chile es el que presenta una mayor casuística con 6.280 casos en el ámbito de pacientes con tratamiento anticoagulante a quienes se les administró
terapias antitrombóticas (NIETO ET AL. 2019). Estos datos son producto de una investigación retrospectiva que hace énfasis en la cobertura mediante servicios a teledistancia en
todo el país, con base a la red de apoyo del Ministerio de salud. Los estudios generados
en Colombia han utilizado tecnología equipamiento de diagnóstico clínico y equipo computacional de videoconferencia con conexión satelital operada por un médico de atención
primaria (CIFUENTES, 2017), Servicio de atención tele-operado de rehabilitación física, vía
Internet para pacientes con lesiones leves de rodilla (TOVAR-CUEVAS, 2018), prototipos
de aplicaciones para Smartphone con sistema de vigilancia y seguimiento a los pacientes
con enfermedades cardiovasculares (RÍOS Y BOTERO, 2018) y asistencia remota operada
en forma local o tele-operada vía internet para la rehabilitación activa y pasiva del hombro
(CHAMORRO et al., 2017).
Destaca del análisis los estudios realizados en Brasil, principalmente por la implicancia
que tiene el uso de tecnología digital a distancia en un país cuyo territorio es tan vasto, al considerar que este país tiene una superficie de 8.516 millones km² y con una amplia dispersión
de los asentamientos humanos. La población de Brasil es de 207,7 millones de habitantes,
por lo que la utilización de tecnología que posibilite una mejora en los servicios y cuidados
sanitarios de la población es un objetivo relevante de alcanzar, tal es el caso de las acciones
de teleducación relacionadas con la salud (DO NASCIMENTO, 2017). Interesante resulta
el uso de tecnologías de comunicación que podrían considerarse básicas en la actual era
digital, pero que demuestran su vigencia y utilidad. Tal es el caso del uso de seguimiento y
monitoreo telefónico asociado al uso de redes sociales (MORETTI Y BARSOTTINI, 2017).
Aquí al igual al modelo de países desarrollados de otras latitudes, la incorporación de centros
de educación superior como las universidades resulta ser una buena alianza, ejemplificado
en un estudio cuyo centro operativo de la información residía en un centro universitario de
tele-salud (GUEDES ET ALS. 2018). Desde el inicio de pandemia por COVID-19 se han
generado más publicaciones de experiencias (AVELINO ET AL. 2020).
El acercamiento más evidente hacia la salud primaria requiere un trabajo de red eficiente
y con base comunitaria (RUBINSTEIN ET AL. 2015).
La experiencia en Argentina mediante la utilización combinada de plataformas de sitios WEB para proveer intervención vía mHealth y el uso de aplicación digital en teléfono
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
349
celular logra ser efectivo para una población de pacientes con perfil cardiometabólico y
estado de prehipertensión. La replicabilidad del modelo extendido a otros países como
Perú y Guatemala reafirma la viabilidad de la intervención a distancia en base a tecnología
digital. Este estudio es el que se ubica en el más alto nivel de evidencia del grupo de estudios seleccionados en la presente revisión sistemática. Posee un diseño metodológica que
incluye grupo control, que constituye una alta deseabilidad de futuros reportes científicos
(RUBINSTEIN ET AL. 2016).
El caso de México permite identificar una mirada menos biomédica y más biopsicosocial de la intervención basada en tecnología a distancia, pues reporta información relevante
y novedosa sobre interacción entre múltiples actores de la comunidad en los procesos de
innovación, factores y agentes en contextos de inclusión social que contribuye a la calidad de
vida de los beneficiarios finales de los sistemas implementados (MARTÍNEZ ET ALS. 2017).
La diversidad de los estudios revisados y la variabilidad de sus estructuras metodológicas, así como su nivel de evidencia permite inferir que a pesar de existir numerosas
iniciativas en el ámbito de la provisión de servicios y cuidados de salud mediante el uso de
telemedicina y tecnología digital, la necesidad de publicar resultados robustos y replicables
es evidente. Del mismo modo la consideración de dimensiones que se instalan a la base
de estos procesos como la infraestructura, los equipamientos, los costos de mantención y
la dispersión geográfica, debieran ser comunicadas como elementos constitutivos de los
estudios, para así lograr una mejor comprensión de sus alcances y limitaciones, particularmente en los casos de experiencias pilotos o pruebas de prototipos. Esto cobra relevancia
en un escenario continental de envejecimiento respecto a la población total (CEPAL,2018).
Finalmente, en Chile aparecen dos estudios de diferente arquitectura metodológica,
el primero que utiliza tecnología para Intervenciones de cesación tabáquica basadas en
telefonía móvil que incluye comunicación vía internet. Esto se utiliza adicional a correos
electrónicos de monitoreo y llamadas a celulares más mensajería vía internet a través de la
aplicación whatsapp como apoyo al cese del hábito de fumar de los pacientes fumadores en
control (ALCANTARA Y BAMBS, 2017). Adicionalmente, destaca un estudio retrospectivo
con una importante casuística donde el 48.7% eran hombres y un 51.3% correspondía a
participantes de sexo. Femenino. El diseño metodológico es valorado por la alta casuística
presentada. Los participantes fueron 6.280 pacientes quienes presentaban trastorno por
desorden cardíaco (43.7%), trombosis venosa (22%) y prótesis valvular (10.7%). El impacto
en la población de adultos mayores es aún muy limitada considerando el número de sujetos
en este rengo etario actual y sus proyecciones a 2025 (ALBALA, 2015). En Chile se están
desarrollando proyectos en el área de la Telemedicina, tanto en el sector público como
privado. (DUARTE, 2014). El proceso de instalación y los sistemas de atención médica
350
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
utilizan crecientemente combinaciones de video, imagen y consultas telefónicas para llevar
el cuidado de la salud a las áreas rurales y también a lugares apartados en las grandes ciudades (MENDOZA, 2006). El crecimiento se basa en la mayor disponibilidad y menor costo
de la conexión de banda ancha y, también, en la decisión de las compañías de seguro de
empezar a pagar algunas atenciones de salud remotas. La mayor barrera al crecimiento se
observa en aquellas áreas geográficas donde no hay cobertura financiera para las prestaciones remotas (GUERRA, 2018).
A pesar de ello, la telecirugía y la teleconsulta son áreas de investigación en aumento. En el área académica, las Universidades cumplen un rol estratégico en el área salud,
realizando investigaciones e incorporando a la tecnología como un elemento prioritario para
su desarrollo (TORRES, 2015). Cómo estas iniciativas progresarán en la disposición de servicios y ciudades para adultos mayores que se atienden en los establecimientos de Atención
Primaria, parece aún no estar claro.
La especialización de gestores clínicos y administrativos. Especialización de Actores
y la identificación de buenas prácticas, pudiera ser un primer nivel de avance para una real
provisión de servicios y cuidados a distancia para la población de adultos mayores que se
atienden regularmente en establecimientos de Atención Primaria, tanto rurales como urbanos,
considerando la morbilidad asociada a ese grupo etario. En Chile, las principales estrategias
de telemedicina que se han implementado no han presentado aún manuscritos publicados
en revistas de corriente principal que validen su desarrollo.
CONCLUSIÓN
Se estableció que el uso documentado de telemedicina y otras formas de plataformas
digitales son todavía de temprano desarrollo en América Latina y su empleo en cuidados de
adultos mayores en atención primaria resulta aún más desconocida. Se requiere generar
evidencia científica de las experiencias que se han empezado a desarrollar en el continente,
especialmente en los así llamados países en desarrollo. Si bien es cierto la robustez de la
literatura científica no es alto, es posible establecer que del perfil de morbilidad asociado al
adulto mayor en atención primaria atendido vía telemedicina, es el área de enfermedades no
transmisibles como la salud cardio-circulatoria. Cuadros como la la sarcopenia, diabetes tipo
2 u obesidad, son aspectos donde los investigadores aun no reportan estudios que involucren
a la telemedicina y uso de plataformas digitales en prácticas basadas en la evidencia. Brasil
es el país en Latino América que ha incrementado sus reportes científicos sobre telemedicina
desde el inicio de la pandemia por COVID-19, aunque esta no es específica para adultos
mayores e incluyen diferentes niveles de atención de salud, no sólo atención primaria.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
351
REFERÊNCIAS
1.
2.
3.
Altman, D. G., Schulz, K. F., Moher, D., Egger, M., Davidoff, F., Elbourne, D. CONSORT Group.
(2001). The revised CONSORT statement for reporting randomized trials: Explanation and
elaboration. Annals of Internal Medicine, 134(8), 663-694.
Atalah, E. (2012) Epidemiología de la obesidad en chile. Revista Médica Clínica Las Condes,
Volume 23, Issue 2,2012, Pages 117-123
4.
Avelino, P et al. “Validation of the Telephone-Based Application of the ABILHAND for Assessment of Manual Ability After Stroke.” Journal of neurologic physical therapy : JNPT vol. 44,4
(2020): 256-260
5.
Bashshur, R et al. “The Empirical Foundations of Telemedicine Interventions in Primary
Care.” Telemedicine journal and e-health: the official journal of the American Telemedicine
Association vol. 22,5 (2016): 342-75.
6.
Barodka, V. M., Joshi, B. L., Berkowitz, D. E., Hogue, C. W., Jr, & Nyhan, D. (2011). Review
article: implications of vascular aging. Anesthesia and analgesia, 112(5), 1048–1060.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
352
Alcántara, J.; Bambs, C. (2017) Nuevas tecnologías en el tratamiento del tabaquismo. Rev
Chil Enferm Respir ; 33: 201-203.
Beard, John R et al. “The World report on ageing and health: a policy framework for healthy
ageing.” Lancet (London, England) vol. 387,10033 (2016
Boxer, R. (2015) Telemedicine in a global contex. Journal mHealth 2015;1:12
Cifuentes, L. (2017). Telemedicine and e-Health. The International Journal of Qualitative Methods. Volume: 23:11.
Combi C, Pozzani G, Pozzi G. Telemedicine for developing countries: a survey and some design issues. Appl Clin Inform 2016; 7: 1025–1050
Craig John, Patterson Victor (2005). Introduction to the Practice of Telemedicine. Journal of
Telemedicine and Telecare, Vol 11 (1), 3-9.
Chamorro-R, Cristian D., Caicedo-D, Gladys, & García-M, José I.. (2018). Design, development, and implementation of an assistive technology device for shoulder telerehabilitation via
the Internet. DYNA, 85(206), 95-104.
Chatterji, S., Byles, J., Cutler, D., Seeman, T., & Verdes, E. (2015). Health, functioning,
and disability in older adults--present status and future implications. Lancet (London, England), 385(9967), 563–575.
14.
Durrani, Hammad, Khoja, Shariq (2009). A systematic review of the use telehealth in Asía
countries. Journal of Telemedicine and Telecare, Vol 15, 175-181.
15.
De Toledo Heras Paula (2003) Propuesta de un Modelo de Sistemas de Telemedicina para la
Atención Sanitaria. España. Universidad Politécnica de Madrid. 229p.
16.
Ekeland Anne G., Bowes Alison, Flottorp Signe (2012). Methodologies for assessing telemedicine: A systematic review of reviews. International Journal of Medical Informatics, 81, 1-11.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
17.
18.
19.
20.
21.
22.
23.
Fernández, M. & Castro, J. (2008). Marcadores genéticos en la enfermedad de Alzheimer:
genes patógenos y de susceptibilidad. Alzheirmer. Realidades e Investigación.
Ferrer Roca Olga (2001). Telemedicina. Editorial Médica Panamericana.
Guzmán, J. (2002). Envejecimiento y desarrollo en América Latina y el Caribe. Instituto Nacional
de Estadísticas INE, CELADE.
Guiñez-Molino S. et al. 2016. Informe de Trabajo de Telemedicina Programa Estratégico Nacional “Salud + Desarrollo”. Santiago, Chile. CORFO.
Gulube SM; Wynchank S (2001) Telemedicine in South Africa: success or failure? Journal of
Telemedicine and Telecare. Vol 7, 47-49.
Herrera Andrés (2006). Telemedicina: Una herramienta poco explorada. Revista Obstetricia
Ginecológica. Vol. 1 (3) 233-236
Hong, Zhen et al. “Telemedicine During the COVID-19 Pandemic: Experiences From Western
China.” Journal of medical Internet research vol. 22,5 e19577. 8 May. 2020.
24.
Hu, N., Yu, J.T., Tan, T., Wang, Y.L., Sun, L., & TAN, L. (2013). Review Article: Nutrition and
the Risk of Alzheimer’s Disease. BioMed research Corporatiom, 5, 112.
25.
INE (2013) Censo 2002. Recuperado desde el sitio http://www.ine.cl/canales/chile_estadistico/
estadisticas_sociales_culturales/adultos mayores/pdf/cifrasmayores.pdf extraído el día 13 de
marzo del 2019
26.
INESS 2010. Proceeding 14th IEEE International Conference on Intelligent Engineering Systems. 5-7, 2010. Las Palmas of Gran Canaria, Spain
27.
28.
29.
30.
31.
32.
33.
Jack C; Mars M (2008) Telemedicine a need for ethical and legal guidelines in South Africa.
SA Fam Pract, Vol 50 (2), 1-5
Kamsu-Foguem Bernard, Tiako Pierre F., Fotso Laure y Foguem Clovis (2015). Modeling for
effective collaboration in telemedicine. Telematics and Informatics, Vol 32, 776-786.
Kim Yoon Sang (2004) Telemedicine in the U.S.A with Focus on Clinical Applications and
Issues. Yonsei Medical Journal, 45, 761-775.
Kuhn-Barrientos, Lucy. (2014). Evaluación de Tecnologías Sanitarias: marco conceptual y
perspectiva global. Revista médica de Chile, 142(Supl. 1), 11-15
Labbe Opazo Francisco (2012) Resultados Preliminares Censo de Población y Vivienda 2012.
Santiago, Chile. Instituto Nacional de Estadística (INE). 60 p.
Labarca Vial Andrés (2015). Modelo de Medición de Desempeño en Unidades de Urgencias.
Tesis para Optar al grado de Magister en Control de Gestión. Universidad de Chile. Santiago,
Chile. 153 p.
Lakhan, S. E., & Kirchgessner, A. (2013). The emerging role of dietary fructose in obesity and
cognitive decline. Nutrition journal, 12, 114.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
353
34.
Leitão, Gabriela Guedes de Sá, Silva, Tatiana de Paula Santana da, Lima, Maria Luiza Lopes
Timothy, Rodigues, Mirella, & Nascimento, Cynthia Barboza Maria. (2018). Educational actions
in human communication health: telehealth contributions in primary care. Revista CEFAC,
20(2), 182-190.
35.
Lera L; Albala, C ; Sánchez H ; Ange, B ; Hormazabal M.J ; Márquez, M ; Arroyo P. (2016):
Prevalence of sarcopenia in community-dwelling Chilean elders according to an adapted version of the European Working Group on Sarcopenia in Older People (EWGSOP) criteria. The
Journal of Frailty and Aging (JFA).
36.
Lopera, F. (2012). Enfermedad de Alzheimer Familiar. Revista neuropsicología, Neuropsiquiatría
y Neurociencias, 12(1), 163-188.
37.
38.
39.
354
Luchsinger, J.A. (2012). Type 2 diabetes and cognitive impairment: linking mechanisms. International Journal of Alzheimer’s Disease, 30 (0), 185-198
Mansouri-Rad Parand (2013). Culture Matters: Factors Affecting the Adoption of Telemedicine.
46th Hawaii International Conference on System Sciences.
Mars Maurice (2013). Telemedicine Advances in Urban and Rural Healthcare Delivery in Africa.
Progressing Cardiovascular Diseases, Vol 56, 326-335
40.
Martínez, N., Dutrénit, G., Gras, N., & Tecuanhuey, E. (2018). Actores, relaciones estructurales
y causalidad en la innovación inclusiva: un caso de telemedicina en México. Innovar, 28(70),
23-38.
41.
Martínez, Villarroel V, Seoane J, Del Pozo F. (2005). Analysis of information and communication
needs in rural primary healthcare in developing countries. IEEE Transactions on Information
Technology in Biomedicine;9 (1):66-72.
42.
Ministerio Desarrollo Social (2013). Encuesta de Caracterización Socioeconómica Nacional.
CASEN. Gobierno de Chile.
43.
Ministerio de Salud (2013). Encuesta nacional de salud. Gobierno de Chile. Recuperado en:
https://www.minsal.cl/estudios_encuestas_salud/el 16 de marzo del 2019.
44.
Ministerio de Salud (2014). Programa nacional de salud de las personas adultas mayores.
Gobierno de Chile. Recuperado en: https://www.minsal.cl/sites/default/files/Programa%20
Nacional%/Adultas%20Mayores-%2004-03_14.pdf
45.
Mendoza Marcelo (2006). El Libro Azul: Agenda Digital del Ministerio de Salud Chile. Santiago,
Chile. MINSAL. 116 p.
46.
Monaghesh E, Hajizadeh A. The role of telehealth during COVID-19 outbreak: a systematic
review based on current evidence. BMC Public Health. 2020 Aug 1;20(1):1193
47.
Moore Mary (1999) The evolution of Telemedicine. Future General Computer System, Vol 15,
245-254.
48.
Moreno. Eva, Miles. J. (2003). Adultos mayores por regiones, comunas y porcentajes. Informe
Servicio Nacional del Adulto Mayor. Ministerio Secretaria General Presidencia de la República.
49.
Moretti, Felipe Azevedo, & Barsottini, Claudia Galindo Novoa. (2017). Support, attention and
distant guidance for chronic pain patients. Case report. Revista Dor, 18(1), 85-87.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
50.
Morley, J. E., Vellas, B., van Kan, G. A., Anker, S. D., Bauer, J. M., Bernabei, R. Walston, J.
(2013). Frailty consensus: a call to action. Journal of the American Medical Directors Association, 14(6), 392–397.
51.
Narasimha, S. et als. (2017). Designing Home-Based Telemedicine Systems for the Geriatric
Population: An Empirical Study. Telemedicine and e-Health Vol.24 No.2
52.
Narváez Patricia (2017) Programa Nacional de Telesalud: En el contexto de Redes Integradas
de Servicios de Salud. Santiago. Ministerio de Salud. 76 p.
53.
Nascimento, Cynthia Maria Barboza do, Lima, Maria Luiza Lopes Timóteo de, Sousa, Fabiana
de Oliveira Silva, Novaes, Magdala de Araújo, Galdino, Doralice Rodrigues, Silva, Érika Cristina Honorato, Leitão, Gabriela Guedes de Sá, & Silva, Tatiana de Paula Santana da. (2017).
Telespeech therapy as a continued education strategy in primary health care in the state of
Pernambuco, Brazil. Revista CEFAC, 19(3), 371-380.
54.
Nieto, E., Suarez, M., Roco, Á., Rubilar, J. C., Tamayo, F., Rojo, M., … Quiñones, L. A. (2019).
Anticoagulation Management With Coumarinic Drugs in Chilean Patients. Clinical and Applied
Thrombosis/Hemostasis.
55.
Odutola, AB. (2003). Developing Countries Must Invest in Access to Information for Health
Improvements. J Med Internet Res;5(1):e5
56.
ONU (2002). Declaración Política y Plan de Acción Internacional de Madrid sobre el Envejecimiento. Departamento de Información Pública Oficina S-1040, Naciones Unidas. Nueva York,
NY 10017, USAOMS. Informe de Telemedicina de Australia. Organización Mundial de la Salud.
57.
Organización Mundial de la Salud. Active Ageing: A policy Framework 2002. Geneva: WHO;
2002
58.
OPS. (2002). Perfil de Sistemas y Servicio de Salud de Estados Unidos de América. Organización Panamericana de la Salud. 41 p.
59.
Plassman, B. L., Williams, J. W., Burke, J. R., Holsinger, T., & Benjamin, S. (2010). Systematic
review: factors associated with risk for and possible prevention of cognitive decline in later life.
Annals of Internal Medicine, 153(3), 182-193
60.
Perednia DA, Allen A. (1995). Telemedicine Technology and Clinical Applications. Journal of
the American Medical Association. 273(6):483–487
61.
Pérez-Manchón David (2014). Telemedicina, una red social médica de ayuda humanitaria entre
España y Camerún. Gac Sanit. Vol. 29 (1), 59-61
62.
Postema T.R.F, Peeters J.M, Friele R.D (2012). Key Factors influencing the implementation
success of a home telecare application. International Journal of Medical Informatics. Vol. 81,
415-423.
63.
Prados, J. A. (2013). Telemedicina, una herramienta también para el médico de familia. j.aprim.
Vol. 45. Núm. 3.P. 129-132.
64.
Rechel Berned et al. (2016). Hospital in rural or remote áreas: An exploratoty review of policies
in 8 high – income countries. Health Policy, Vol. 120, 758-769.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
355
65.
Ríos, J.; Palacio, J. (2018). Desarrollo de aplicativo prototipo en QT para apoyo a la hospitalización domiciliaria en dispositivos móviles Android. Revista Ingeniería Biomédica. Universidad
EIA. Volumen 12/ Número 24. pp. 13-22.
66.
Rubinstein, A. L., Irazola, V. E., Poggio, R., Gulayin, P., Nejamis, A., & Beratarrechea, A.
(2015). Challenges and opportunities for implementation of interventions to prevent and control
CVD in low-resource settings: a report from CESCAS in Argentina. Global heart, 10(1), 21–29.
67.
Rubinstein, A. et al. (2016) Effectiveness of an mHealth intervention to improve the cardiometabolic profile of people with prehypertension in low-resource urban settings in Latin America:
a randomised controlled trial. Lancet Diabetes Endocrinol.Jan;4(1):52-63.
68.
Ryu S. (2012). Telemedicine: Opportunities and Developments in Member States: Report on
the Second Global Survey on eHealth 2009 (Global Observatory for eHealth Series, Volume
2). Healthcare Informatics Research, 18(2), 153–155. doi:10.4258/hir.2012.18.2.153
69.
Sachdev, P.S., Lipnicki, D.M., Crawford, j., Reppermund, S., Jochan, N.A., Trollor, J.N., Wen,
W., Draper, B., Slavin, M.J., Kang, K., Lux, O., Mather, K.A. & Brodaty, H (2013). Sydney Memory, Ageing Study Team. PLoS One, 8 (3), 1-9.
70.
71.
72.
73.
Saliba Vanessa, et al. (2012) Telemedicine Across border: A systematic review of factors that
hinder or support implementation. International Journal of Medical Informatics, Vol 81, 793-809.
Scott Kruse, Clemens et al. “Evaluating barriers to adopting telemedicine worldwide: A systematic review.” Journal of telemedicine and telecare vol. 24
SENAMA (2013). Estudio de recopilación, sistematización y descripción de información estadística disponible sobre vejez y envejecimiento en chile. Boreal-Investigación. Consultoría Ltda.
74.
Solis, CL., Aguirre, ML., Godorecci, S., Mois, P., Rojas, H. & Jiménez, R. (2006). Prevalencia
de Diabetes Mellitus en Chile. Revista de la Asociación Latinoamericana de Diabetes. Vol 17
(3) 89-96.
75.
Song X et al. The role of telemedicine during the COVID-19 epidemic in China-experience from
Shandong province. Crit Care. 2020 Apr 28;24(1):178.
76.
Sood, S. (2007) What Is Telemedicine? A Collection of 104 Peer-Reviewed Perspectives and
Theoretical Underpinnings. Telemedicine and e-Health 13(5):573-90
77.
78.
79.
80.
356
Saigí-Rubió Francesc (2016). Marco de Implementación de un Servicio de Telemedicina Organización Panamerica de la Salud - Organización Mundial de la Salud. 83 p.
Standing Mike, Hampson Elizabeth (2015). Digital Health in the UK An Industry for the Office
of Life Sciences. United Kindom Monitor Deloitte. 64 p.
Steinman M, Lee S, John Boscardin W, Miao Y, Fung K, Moore K. ET AL. (2012). Patterns of
multimorbidity in elderly veterans. J Am Geriatr Soc, 12:1872–1880.
Steffener, J. & Stern, Y. (2012). Exploring the neural basis of cognitive reserve in aging. Biochimica et Biophysica Acta, 1822(3), 467-473.
Shamseer L, Moher D, Clarke M, Ghersi D, Liberati A, Petticrew M et al. (2015). Preferred reporting items for systematic review and meta-analysis protocols (PRISMA-P) 2015: elaboration
and explanation. BMJ.5;349.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
81.
Stern, Y. (2012). Cognitive reserve in ageing and Alzheimer’s disease. The Lancet Neurology,
11(11),1006-1012
82.
Takahashi Takashi (2013) The present and future of Telemedicine in Japan. International
Journal of Medical Informatics Vol 61, 131-137.
83.
Telemedicine, Opportunities and developments in Member States. (2010). World Health Organization. Global Observatory for e Health series. Geneva, Switzerland. Vol. 2. 92p
84.
The Ethics of Telemedicine (2010). Healthcare Executive. Vol. 25, 50-53
85.
Toledo, J. (2011). Epidemiología descriptiva y analítica de la Enfermedad de Alzheimer. Real
Invest Demenc. 2011; 47:16-23.
86.
Torres, Camilo. (2015). Análisis de la Industria de Tecnología de Información en el área de la
Salud en Chile. Santiago, Chile: CORFO. 39 p.
87.
Totten, A. et al. (2016). Telehealth: Mapping the Evidence for Patient Outcomes From Systematic
Reviews. Agency for Healthcare Research and Quality (US); Jun. Report No.: 16-EHC034-EF
88.
Tovar-Cuevas, José Rafael, Díaz Mutis, Juan David, Quiñones Mora, Getssy Elizabeth, Pabón
Romero, Anabella, & García-Melo, José Isidro. (2018). Development of an information system
for teleoperated physical rehab care service via Internet. Pilot case: patients with mild knee
injury who live in geographically vulnerable zones. DYNA, 85(205), 284-293.
89.
Vanguildera, H., Bixlera, G.,Sonntagb, W., & Freeman, W. (2012). Hippocampal expression of
myelin-associated inhibitors is induced with age-related cognitive decline and correlates with
deficits of spatial learning and memory. Journal of Neurochemistry, 121(1): 77–98.
90.
91.
Wosik J, Fudim M, Cameron B, Gellad ZF, Cho A, Phinney D, et al. Telehealth transformation:
COVID-19 and the rise of virtual care. J Am Med Inform Assoc. 2020;ocaa067
Wootton, R., & Hebert, M. A. (2001). What constitutes success in telehealth? Journal of Telemedicine and Telecare, 7(2 suppl), 3–7.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
357
27
“
Uso potencial do chá verde
no tratamento complementar
de morbidades e uso de
medicamentos, associado ao
envelhecimento: uma revisão
Renata Breda Martins
AMPAL - PUCRS
Raquel Seibel
PPGERONBIO - PUCRS
Jamile Ceolin
PPMCS - PUCRS
Vilma Maria Junges
CINTRO POA
Maria Gabriela Valle Gottlieb
IGG - PUCRS
10.37885/201202390
RESUMO
Objetivo: Revisar a literatura sobre o uso potencial do chá verde (Camellia sinensis) no
tratamento complementar de morbidades e uso de medicamentos, associado ao envelhecimento. Método: Revisão narrativa da literatura sobre o tema e agrupado em quatro
tópicos principais: descrição da Camellia sinensis (C.sinensis), composição química e
propriedades funcionais da C.sinensis, chá verde e doenças associadas ao envelhecimento e as interações medicamentosas com a planta C.sinensis. Resultados: O chá
da C.sinensis é bastante consumido devido ao seu aroma, sabor e, principalmente por
ser uma bebida medicinal capaz de diminuir o risco de várias doenças, pois são ricos
em compostos biologicamente ativos como flavonóides, catequinas, polifenóis, alcalóides, vitaminas e sais minerais. Dependendo das condições de cultivo, coleta, preparo
e acondicionamento das folhas, podem ser diferenciados em cinco diferentes tipos de
chás: branco, preto, verde, amarelo e vermelho. Um dos benefícios do chá verde está no
combate ao envelhecimento celular devido a sua propriedade antioxidante, que protege
as células e os tecidos do dano oxidativo. Além disso, possui atividade anti-inflamatória,
antimicrobiana, antimutagência, antiapopitótica e anti-angiogênica. Essas propriedades
têm potencial uso no tratamento complementar de doenças crônicas não comunicáveis
em idosos. Adicionalmente, os estudos mostram que a C.sinensis interfere na biodisponi-
bilidade de medicamentos. Considerações finais: Consumo do chá verde da C. sinensis
pode trazer inúmeros benefícios para a saúde, devido a seus compostos químicos bioativos. Entretanto, o consumo do chá verde por idosos polimedicados deve ser avaliado
com cautela, devido as possíveis interações que podem ocorrer entre a planta ou os seus
componentes bioativos com os princípios ativos dos medicamentos, e nutrientes da dieta
habitual, reduzindo, exacerbando ou até mesmo podendo anular os efeitos da medicação.
P a l a v r a s - c h a v e : C a m e l l i a S i n e n s i s , C h á Ve r d e , C o m p o s t o s F i t o q u í m i c o s ,
Medicamentos, Idoso.
INTRODUÇÃO
O envelhecimento é um processo biológico natural, gradual e progressivo que resulta no
declínio das funções orgânicas, aumentando as chances de surgimento de doenças crônicas
não comunicáveis (DCNCs) e de morte dos idosos. Nesse sentido, o uso da polifarmácia
para o tratamento das DCNCs é muito frequente, e representa uma ameaça real à saúde
dos idosos (ROTH; TIMMERMANN; HAGENBUCH, 2011).
O número de medicamentos, a complexidade dos regimes terapêuticos, especialmente
na vigência de comorbidades, e as alterações farmacocinéticas e farmacodinâmicas inerentes
ao processo de envelhecimento são elementos que aumentam a vulnerabilidade dessa população aos eventos adversos a medicamentos, seja por reações adversas a medicamentos,
seja por interações medicamentosas. As interações entre medicamento-medicamento, ou
medicamento-nutriente podem comprometer a homeostasia orgânica dos idosos expostos à
polifarmácia, desencadeando eventos iatrogênicos (UNGUREANU, ALEXA, STOICA, 2007),
piorando o estado clínico geral do idoso.
Diversos estudos mostram alterações nos parâmetros farmacocinéticos em decorrência do envelhecimento (HUNTER, CYR, 2006; DELAFUENTE, 2008; RIBEIRO, ACURCIO,
WICK, 2009; HOWLAND, 2009). A capacidade de absorção de fármacos diminui devido às
alterações do pH gástrico e às reduções do fluxo sanguíneo no trato gastrintestinal e no
baço. A distribuição dos fármacos é alterada devido à redução da massa magra, da água
corporal, da concentração sérica de albumina e das proteínas totais do soro, além do aumento
da gordura corporal e da permeabilidade da barreira hematoencefálica. O metabolismo e a
eliminação dos fármacos também sofrem alterações com o avanço da idade (HUNTER, CYR,
2006; DELAFUENTE, 2008). O idoso apresenta, respectivamente, alteração na atividade das
enzimas do complexo P450 oxidase e diminuição da função renal, culminando em acentuada
queda da taxa de filtração glomerular. Por todos esses fatores, a biodisponibilidade, o volume
de distribuição, o clearance e o tempo de meia-vida dos fármacos são modificados com o
envelhecimento. As drogas hidrossolúveis se tornam mais concentradas, ao passo que as
lipossolúveis podem ter aumento da meia-vida devido à lenta liberação do tecido adiposo
(HUNTER, CYR, 2006; HOWLAND, 2009).
Todas as substâncias que não são encontradas naturalmente no nosso corpo, são
chamadas de xenobióticos, medicamentos, o fumo, drogas ilícitas, poluentes, agrotóxicos
etc. se enquadram nesse grupo. Portanto, nossas células, DNA e tecidos são diariamente
expostos a essas substâncias (TANIGUCHI, GUENGERICH, 2010). O organismo depende
de reações que são catalisadas por enzimas e que ativam os processos de detoxicação para
reduzir e remover intermediários reativos ou radicais livres produzidos pelo metabolismo ou
pela ingestão ou exposição à xenobióticos (CHEN et al. 2011). O complexo P450 (CYP) e
360
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
as flavinoproteinas (FMO1) promovem a eliminação dos compostos indesejáveis antes que
sejam depositados nos tecidos extra hepáticos (LISKA, LYON, JONES, 2006). Em idosos
esse mecanismo enzimático de reparo também sofre prejuízos, por isso é fundamental que
o esquema terapêutico oferecido para o tratamento de DCNCs não apresente muitas interações medicamentosas, nutriente-medicamento e gene-medicamento. Caso contrário, os
idosos estarão muito expostos a iatrogenia medicamentosa. Além disso, é fundamental que o
profissional prescritor tenha um profundo conhecimento sobre a biologia do envelhecimento
para que o idoso tenha mais benefícios do que riscos à sua saúde. Assim, os estudos, in
vitro, de células senescentes têm proporcionado modelos para melhor compreensão do processo de envelhecimento. Nesse sentido, as evidências experimentais sustentam hipóteses
interligas de que o envelhecimento decorre de:
• uma cascata de eventos programados e que eles caracterizam o processo final de
diferenciação de um organismo;
• bem como, decorrente da ação aleatória de mutações ao acaso (MOTA, FIGUEIREDO, DUARTE, 2004; MALUF, POMPÉIA, 2005; LOU, CHEN, 2006).
Além disso, algumas teorias que tentam explicar quais os mecanismos causadores do
envelhecimento. A teoria da mutação somática que se baseada na alteração do genoma
provocando assim o envelhecimento, a do erros catastróficos, que relaciona o envelhecimento aos erros de duplicação do DNA e de proteínas, que nem sempre são completamente
reparados, a da resposta autoimune que refere-se ao ataque aos tecidos normais pelos
linfócitos e a teoria do acúmulo de metabólitos tóxicos que atribui ao envelhecimento a eliminação incompleta de excreções tóxicas (SCOTTI, VELASCO, 2003). Dessa forma, todos
esses eventos e mecanismos envolvidos no processo de envelhecimento contribuem para
a ineficiência do aparato enzimático, principalmente do citocromo P450 na detoxicação e
metabolização de xenobióticos. Dentro deste contexto, muito tem se investido em descobrir
moléculas naturais que possam atuar no tratamento complementar de DCNCs em idosos
e, a planta C. sinensis tem despontado como uma segura e eficaz candidata. Uns dos chás
de grande interesse pelo homem são os produzidos a partir da planta C. sinensis, pois são
ricos em compostos biologicamente ativos (flavonóides, catequinas, polifenóis, alcalóides,
vitaminas, sais minerais), que contribuem de forma eficiente para a prevenção e o tratamento
de várias doenças (TREVISANATO, KIM, 2000).
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
361
OBJETIVO
Revisar a literatura sobre o uso potencial do chá verde (Camellia sinensis) no tratamento
complementar de morbidades e uso de medicamentos, associado ao envelhecimento.
MÉTODOS
Foi realizada uma revisão narrativa da literatura que investigou a produção do conhecimento sobre Camellia sinensis (C.sinensis) em relação ao tratamento complementar de
morbidades e uso de medicamentos, associadas ao envelhecimento, e sobre os compostos
bioativos do chá verde. O processo de coleta do material foi realizado de forma não sistemática no período de agosto a dezembro de 2019. Foram pesquisadas nas seguintes bases
de dados: LILACS, SciELO, MEDLINE - Bireme e PubMed.
Foram adotados alguns critérios de inclusão na busca como: artigos disponíveis integralmente, publicação em português, inglês ou espanhol em periódicos nacionais e internacionais e indexação nas bases de dados referidas sem período estabelecido. Foram
excluídos os artigos que se repetiam entre as bases. Bem como, utilizou-se de livros para
compor a literatura.
A partir dos materiais selecionados foi realizada uma leitura crítica e interpretativa com
a necessária imparcialidade e objetividade, na qual foram relacionadas às informações e
ideias dos autores com o objetivo do estudo. A partir da leitura, agrupou-se em quatro tópicos
principais que foram escritos nesse trabalho: descrição da C.sinensis, composição química
e propriedades funcionais da C.sinensis, prevenção e tratamento de morbidades em idosos
e as interações medicamentosas com a planta C.sinensis.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Breve descrição da Camellia sinensis
O chá da C.sinensis é originário da China, e bastante consumido, principalmente por
as suas características de aroma, sabor e propriedades medicinais (SAITO; MIYATA, 2000;
KUMUDAVALLY et al., 2008). É designado genericamente como chá-da-índia ou como
chá-verde, oolong e chá-preto, em referência ao produto resultante do preparo diferencial
das folhas. Isto é, folhas frescas e recém coletadas caracterizam o chá verde, e quando
submetidas a fermentação são chamadas de oolong (fermentação rápida) e chá preto (fermentação prolongada) (KUHN, WINSTON, 2000).
362
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
A planta da C.sinensis pertencente à família Theaceae, possui pequeno porte, do tipo
arbustivo, apresenta folhas simples, alternas, inteiras, com margem serreada e textura coriácea, ápice acuminado, base aguda, serrada, pecíola a 5 mm. “Folhas axilares, solitárias
a 3 cm de diâmetro, brancas “com pedicelo” a 1,5 cm, brácteas 2 ou 3 pequenas, sépalas
5,5 mm de diâmetro, orbicular, pétalas 5,2 x 1,5 cm”. “Possui estames numerosos; ovário
com 3-5 carpelos, cada um com 4-6 óvulos, cápsulas deprimidas, globosas, acastanhadas,
lobadas com 2 cm de largura, com 1-3 sementes em cada lóbulo subglobosas.” Cápsula a
2 cm de diâmetro, as flores são pequenas, brancas, geralmente com quatro a cinco pétalas
e aparecem nas axilas das folhas em grupos de dois, três ou quatro. O fruto é uma cápsula
com dois ou três centímetros de diâmetro (LORENZI, MATOS, 2002; HAZARIKA, BHUYAN,
HAZARIKA, 2009).
Os países de maior produção de C.sinensis são a China e a Índia e os chás provenientes desses países já foram objeto de diversos estudos (ASTILL et al., 2001; LIN et al.,
2003; PERVA-UZUNALIC et al., 2006). Existem cinco diferentes tipos de chás provenientes
da planta C.sinensis: o branco, o preto, o verde, o amarelo e o vermelho (MANFREDINI,
MARTINS, BENFATO, 2004; WU et al., 2007).
O chá dessa planta tem sido muito utilizado desde os tempos antigos por ser considerada uma bebida saudável e medicinal capaz de diminuir o risco de várias doenças, provavelmente devido à presença de catequinas. As catequinas têm mostrado ter efeitos antioxidantes, anti-inflamatório, imuno-moduladores, antilipidêmicos, antibióticos, antiangiogênicos
e anti-carcinogênico (CABRERA, GIMENEZ, 2006; GOTTLIEB et al., 2017). O chá verde
também apresenta efeitos protetores em diferentes fases do processo da carcinogênese,
inibindo-o pela modulação da transdução de sinais que conduzem à inibição da proliferação, transformação das células e aumento do apoptose (YANG, PRABHU, LANDAU, 2000).
Devido aos benefícios que o chá dessa planta oferece, seus efeitos vêm sendo estudados
no combate ao envelhecimento celular, e na prevenção e tratamento do câncer, devido aos
seus componentes fenólicos (COOPER, MORRÉ, MORRÉ, 2005; GOTTLIEB et al., 2017).
Composição química e propriedade funcionais do chá verde (Camellia sinensis)
A composição química do chá sofre variação de acordo com o clima, a estação, as
práticas hortícolas e a preparação diferencial das suas folhas após a colheita (PASTORE;
FRATELLONE, 2006). O chá das folhas da planta C.sinensis contém cerca de 4.000 compostos químicos bioativos, sendo que um terço é polifenóis (SUMPIO et al., 2006).
Os principais constituintes do chá incluem proteínas, polissacarídeos, polifenóis, minerais e carboidratos, incluindo celulose, fibras, quase insolúveis em água. Além disso contém
amidas, ácidos proteicos nucleicos, e aminoácidos, como a teanina e o ácido glutâmico,
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
363
bem como arginina e ácido aspártico. As folhas de chá apresentam vitamina A, tiamina (B1),
riboflavina (B2), niacina (B3), vitamina K e ácido ascórbico, embora o processo de fermentação resulte em uma redução da quantidade de alguns componentes. Contém também
elementos minerais como zinco, ferro, cobre, manganês, sódio, potássio, bem como níquel,
fósforo e cálcio. Outro grupo de constituintes importante do chá é o alcaloide, que inclui
cafeína, teofilina e teobromina (GRAMZA-MICHALOWSKA, BAJERSKA-JARZEBOWSKA,
2007; DIAS et al., 2013).
Dentre os quatro tipos de chá, o chá verde, ou o chá não fermentado, contém a maior
quantidade de flavonoides, sendo que as catequinas compreendem 80% a 90% dos flavonóides totais, com galato de epigalocatequina (EGCG), sendo a catequina mais abundante
(48-55%) e o componente ativo mais significativo, seguida das outras catequinas, epigalocatequina (EGC), com cerca de 9-12%, Galato de epicatequina (ECG) com 9-12% e epicatequina (CE) com cerca de 5-7% (Pastore; Fratellone, 2006).
Além das catequinas, a composição química do chá verde também inclui 15% de proteínas, 4% de aminoácidos, 26% de fibras, 7% de outros carboidratos, 7% de lipídios, 2% de
pigmentos e 5% de minerais (BASU; LUCAS, 2007). A concentração usual de polifenóis totais
em folhas de chá verde seco é de cerca de 8% a 12% (PASTORE; FRATELLONE, 2006).
As catequinas presentes no chá, são compostos incolores e solúveis em água que
conferem amargura e adstringência à infusão de chá verde. A maioria das características
do chá fabricado, como o aroma, cor e sabor, estão associados, direta ou indiretamente, a
modificações nas catequinas (WANG, PROVAN, HELLIWELL, 2000).
As catequinas são potentes eliminadoras de radicais livres, devido ao seu potencial de
redução de elétrons. A taxa de reação com os radicais livres e a estabilidade dos radicais
antioxidantes resultantes contribuem para a reatividade do antioxidante (ANANINGSIH,
SHARMA, SHOU, 2013). O chá verde é uma fonte potente de antioxidantes benéficos, pois
é rico em polifenóis, incluindo catequinas, teaflavinas e as arubiginas. A folha possui a presença de um conhecido antioxidante, entre os quais EGCG (epigalocatequina-galato), bem
como flúor e taninos (SHARANGI, 2009). Os flavonoides encontrados no chá verde e preto
são potentes agentes de eliminação de radicais e podem ser ativos como antioxidantes no
trato digestivo ou em outros tecidos após a absorção (RIETVELD, WISEMAN, 2003).
As propriedades antiinflamatórias da C.sinensis também estão bem estabelecidas na
literatura. Diferentes flavonoides da C.sinensis apresentam ação antiinflamatória, inibindo
as enzimas ciclooxigenase 2 (COX-2) e lipoxigenase do metabolismo do ácido araquidônico
e a formação de thromboxane e 12-ácido-hidroxiheptadecatrienoico (ADCOCKS, COLLIN,
BUTTLE, 2002; CHUNG et al., 2015). A inflamação crônica está envolvida numa gama de
diferentes tipos de câncer, doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes e hipertensão e
364
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
os inibidores da COX-2 vem sendo estudados como potenciais agentes quimioprotetores
em câncer colorretal (LE MARCHAND, 2002; ADCOCKS, COLLIN, BUTTLE, 2002; CHUNG
et al., 2009; CHUNG et al., 2015).
Outra propriedade funcional muito importando da C.sinensis é a capacidade antimicrobiana contra várias bactérias. O mecanismo proposto para essas atividades antimicrobianas
é que as catequinas bactericidas atuam prejudicando as membranas bacterianas. Os receptores ou sensores sensíveis ao nutriente são detectados por nutrientes orais ou intravenosos incluindo nutracêuticos imunomoduladores, que, através de fibras vagais aferentes,
se projetam no núcleo dorso motor e interagem com o hipotálamo (SATO, MIYATA, 2000).
Aumenta a atividade eferente do tímico vagal e linfonodo vagal, estimulando a liberação de
células T. Simultaneamente, ocorre diminuição dos eferentes esplênicos, inibindo a absorção
de linfócitos. O efeito líquido é um aumento na imunidade celular e humoral circulante (SATO,
MIYATA, 2000). Adicionalmente, os estudos têm sugerido propriedades antimutagênicas,
anti-apopitóticas e anti-angiogênicas da C.sinensis (LE MARCHAND, 2002; ADCOCKS,
COLLIN, BUTTLE, 2002; CHUNG et al., 2009; CHUNG et al., 2015).
Assim, a planta C.sinensis, nas suas diferentes formas (chá, extrato) tem ganhado
bastante atenção pelos diversos benefícios que impactam na saúde. Por conta disso, incluiu-se os extratos de chá em suplementos dietéticos e alimentos funcionais (BHARDWAJ,
KHANNA, 2013; GOTTLIEB et al., 2017).
Chá verde e doenças associadas ao envelhecimento
Câncer
Vários estudos in vitro, in vivo e epidemiológicos relataram que o consumo de chá verde
pode diminuir o risco de câncer. A EGCG, principal componente do chá verde, tem demonstrado que inibe a invasão tumoral e a angiogênese, que são essenciais para o crescimento
e metástase do tumor (KHAN; MUKHTAR, 2010).
Conforme Kim et al. (2016), os metabólitos da catequina do chá verde induzem a ativação imune mediada pela atividade das células TCD4+, bem como, a citotoxicidade das
células Natural Killer (NK). A ausência de um 4’-hidroxilo no grupo fenilo (anel B) é importante
para o efeito sobre a atividade imune. No estudo, a 5-(3 ‘, 5’-di-hidroxifenil) -e-valerolactona (EGC-M5), um dos principais metabólitos do EGCG, aumentou a atividade das células
TCD4+ e a atividade citotóxica das células NK in vivo. Os autores sugerem que EGC-M5
pode apresentar atividade imuno estimuladora.
Nakachi et al. (2003), em um estudo prospectivo de coorte de uma população japonesa
com dados de seguimento de 13 anos, encontraram uma diminuição no número de mortes
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
365
por câncer quando associadas ao aumento do consumo de chá verde, indicando uma desaceleração significativa do aumento da morte por câncer e todas as causas da morte com
o envelhecimento.
Os efeitos quimiopreventivos do chá dependem de sua ação como antioxidante, da
indução específica de enzimas desintoxicantes, das funções reguladoras moleculares no
crescimento celular, desenvolvimento e apoptose e melhoria seletiva na função da flora
bacteriana intestinal (WEISBURGER, CHUNG, 2002).
Doenças cardiovasculares
Entre os benefícios propostos da C. sinensis estão a manutenção da função endotelial
e da homeostase vascular e uma redução associada na aterogênese e no risco de doenças
cardiovasculares (MOORE, JACKSON, MINIHANE, 2009).
O estudo intitulado Ohsaki, prospectivo de base populacional, realizado com 40.530
indivíduos japoneses, entre 40 a 79 anos, sem história de acidente vascular cerebral, doença
cardíaca coronária ou câncer na linha de base, revelaram que os japoneses consumindo
cinco ou mais xícaras de chá verde por dia apresentaram redução de 12% no total de mortalidade e redução de 26% no quadro de mortalidade cardiovascular quando comparada
àqueles que estavam consumindo menos que 1 xícara por dia. Os autores concluíram que
o consumo de chá verde está associado à redução da mortalidade por todas as causas e
por doença cardiovascular, exceto câncer (KURIYAMA et al., 2006).
Diabetes Mellitus
No estudo realizado por Funke & Melzig (2006), foi realizado um rastreio da inibição
da α-amilase de plantas tradicionalmente utilizadas no tratamento antidiabético e produtos
naturais puros. Conforme resultados, o extrato seco das folhas de C. sinensis inibiu em
45-75% a enzima α-amilase, a qual é responsável pela quebra dos oligossacarídeos em
monossacarídeos, os quais são absorvidos.
Chen et al. (2005) verificaram que o conjunto de polissacarídeos do chá verde diminui
a glicemia e melhora a atividade da superóxido dismutase (SOD), sugerindo que o conjunto
de polissacarídeos são um potente antioxidante e parece haver uma conexão direta entre
a atividade antioxidante e a atividade hipoglicêmica.
Conforme Waltner-Law et al. (2002), o galato de epigalocatequina (EGCG) regula genes que codificam enzimas gluconeogênicas e fosforilação proteína-tirosina modulando o
estado redox da célula. Os resultados do estudo demonstram que as mudanças no estado
redox podem ter efeitos benéficos para o tratamento da diabetes. Assim, sugere-se que o
EGCG seja um potente agente antidiabético.
366
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
No estudo in vitro realizado por Wu et al. (2004) foi utilizado um extrato de polifenol
de chá verde para determinar seu efeito na atividade da insulina. Os resultados apontam
um aumento significativo na absorção de adipócitos basal e estimulada por insulina. O chá
verde aumentou a sensibilidade à insulina em ratos e o polifenol de chá verde é um dos
componentes ativos.
Dislipidemias
O efeito de redução do colesterol no consumo de chá verde e preto foi encontrado em
muitos estudos observacionais e estudos de intervenção. A ação pode ser principalmente
devido à redução da absorção de colesterol e outros lipídios por catequinas de chá e polifenóis de chá preto. Foram propostas ações específicas sobre a inibição da síntese de
colesterol por EGCG. Os polifenóis do chá preto têm uma biodisponibilidade muito baixa ou
não, e, portanto, a ligação de lipídios pode ser o mecanismo mais importante de seus efeitos
hipolipemiantes (YANG; HONG, 2013).
Foi realizado um estudo prospectivo, duplo cego e cruzado para investigar os efeitos do
chá verde em pacientes portadores de dislipidemias. O estudo envolveu 33 pacientes, com
idade entre 21 e 71 anos, que consumiam uma dieta com baixo teor de gorduras. As variações lipídicas médias, provocadas pelo uso do chá verde, mostraram uma redução de 3,9
% (p = 0,006) nas concentrações do colesterol total e uma redução de 4,5 % (p=0,026) do
LDL-colesterol. A ingestão de chá verde não influenciou significativamente os níveis de HDLcolesterol, dos triglicerídeos e do Apo-B. Resultados não significativos foram observados na
avaliação dos lipídeos sanguíneos (colesterol total e LDL-colesterol) com o uso do placebo
(BATISTA et al., 2009).
Hipertensão
Estudos de intervenção sobre os efeitos do consumo de chá na pressão arterial relataram resultados inconsistentes (PENG et al., 2014; GREYLING et al., 2014).
Alkerwi et al. (2014) avaliaram a associação entre os componentes da pressão arterial
(PA) e o consumo de chá ou café, levando em consideração o consumo simultâneo. A amostra foi constituída por 1352 indivíduos com idades entre os 18 a 69 anos. Não foi observada
associação entre os componentes da PA e o consumo de café. O consumo diário de 1 dL de
chá foi associado a uma redução significativa da pressão arterial sistólica em 0,6 mm Hg e
pressão de pulso em 0,5 mm Hg.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
367
Obesidade
O extrato do chá verde contém uma grande proporção de EGCG, e têm como atrativo, o
aumento da termogênese e oxidação de gordura e tem demonstrado ser capaz de aumentar
a energia gasta em 24h e a oxidação lipídica promovendo a perda de peso em humanos, esta
comprovação tem sido evidenciada em estudos que nivelam a mesma quantidade de cafeína
e outro grupo pelo aumento de catequinas. Os resultados revelam que os indivíduos tratados
com as catequinas alcançam melhores resultados quanto à termogênese (ALTERIO, FAVA,
NAVARRO, 2007). Em um estudo realizado por Senger et al. 2012 demonstrou a eficácia
do chá verde na redução da circunferência abdominal de idosos com síndrome metabólica.
Apesar dos estudos do uso de C.sinensis no tratamentos de DCNCs em idosos serem
escassos e ainda inconclusivos, a medicina tradicional chinesa utiliza-o há milênios, tanto
na prevenção como no tratamento de doenças.
Interações medicamentosas com a planta C. sinensis
Devido ao uso generalizado e regular do chá verde como uma bebida ou suplemento
dietético, o uso concomitante do extrato de planta com um ou mais medicamentos convencionais é essencialmente inevitável (ALBASSAM, MARKOWITZ, 2017). Idosos apresentam o
costume de combinar chá de ervas medicinais com medicamentos, o que pode acarretar mais
riscos que benefícios. Além disso, como são portadores de múltiplas morbidades acabam
fazendo uso exagerado de medicamentos, princípios ativos, automedicação, gerando interações medicamentosas, dosagens erradas e muitos efeitos adversos e complicações. O chá
verde por apresentar diversas propriedades funcionais deve ser administrado com cautela
pelo idoso polimedicado, pois pode aumentar, reduzir ou anular a biodisponibilidade dos
princípios ativos dos medicamentos (ALBASSAM, MARKOWITZ, 2017). Além disso, estudos
em animais sugerem que o extrato de chá verde e/ou epigalocatequina-3-galato aumenta significativamente a biodisponibilidade de diltazem, verapamil, tamoxifeno, sinvastatina, 5-fluorouracil e nicardipina. Por outro lado, o extrato de chá verde e/ou epigalocatequina-3-galato
reduzem a biodisponibilidade de quetiapina, sunitinibe, clozapina e nadolol (LI, CHOI, 2008;
SCANDLYN et al., 2008; CHUNG et al., 2009; CHUNG; CHOI; CHOI, 2009; SENGER et al.,
2012; ESSAM, YOUSIF, MUZAFFAR, 2015; WERBA et al., 2015; ALBASSAM, MARKOWITZ,
2017). Contudo, os estudos clínicos em humanos são poucos e inconclusivos nesse tema,
por isso o cuidado para evitar interações adversas e iatrogenia deve ser intensificado.
Esimone (2011) verificou que a interação de ervas-drogas entre extratos de chá (C.
sinensis) e Penicilina G mostrou-se aditiva, sugerindo que a administração do chá e a
Penicilina G pelo consorciador podem não prejudicar as propriedades antimicrobianas deste
368
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
último. No entanto, a interação entre o chá e algumas fluoroquinolonas, como ciprofloxacina,
ofloxacina e norfloxacina, mostrou-se antagonista (ESIMONE, 2011).
A biodisponibilidade e a atividade antibacteriana, in vivo, da levofloxacina foram melhoradas após administração concomitante com de chá, de C. sinensis. Embora não tenha
sido realizada uma avaliação mecanicista da interação erva-drogas, é possível que o efeito
inibitório do chá na P-glicoproteína possa ter resultado na biodisponibilidade melhorada
que foi observada. A levofloxacina é um substrato para a glicoproteína-P, que também é
expressa em intestinos de coelho. Portanto, a inibição de P-glicoproteína por chá poderia
potencialmente aumentar a biodisponibilidade de medicamentos que são substratos para
P-glicoproteína (ESIMONE, 2011).
Dentro deste contexto, os estudos sugerem que a C. sinensis tem potencial para interferir na biodisponibilidade de medicamentos usados por idosos para o tratamento das suas
DCNCs e morbidades.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os estudos científicos atuais consideram a C.sinensis uma planta estratégica para a
saúde humana no século XXI, pois faz parte de um estilo de vida mais saudável. As plantas, em modo geral, são economicamente importantes, porque a base dos seus produtos,
transformados ou não, são muito utilizados pelo homem desde a pré-história (LINDON;
GOMES; CAMPOS, 2001).
As pesquisas com chá verde (C.sinensis) revelam de forma crescente seu potencial
efeito restaurador de estados patológicos por ter presente compostos bioativos. Por se tratar
de uma bebida amplamente disponível, baixo custo, fácil consumo, e muito apreciada pela
população de idosos, torna-se viável o seu uso como um importante coadjuvante no manejo
terapêutico e nutricional em diversas DCNCs. Entretanto, é importante levar em consideração
a ação da C.sinensis (chá verde) na biodisponibilidade de medicamentos em idosos, uma
vez que são frequentemente polimedicados e apresentam diversas alterações fisiológicas,
devido ao processo de envelhecimento inerente. Apesar da C.sinensis ser uma planta com
diversas propriedades benéficas a saúde humana, existe a real possibilidade de interação,
tanto com os genes, com os nutrientes da dieta habitual e com os medicamentos, o que pode
acarretar em aumento, redução, anulação ou mesmo um efeito adverso ou iatrogenia. E, o
segmento idoso está muito mais exposto a eventos e desfechos adversos em comparação
a qualquer outro grupo etário.
Além disso, é importante ressaltar que nenhum alimento isolado tem a capacidade de
proporcionar um impacto de grande magnitude sobre a saúde. Nesse sentido é necessário
investigações a respeito das interações nutricionais, a dosagem adequada, a melhor forma e
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
369
horário de consumo para que idosos se beneficiem das propriedades bioativas terapêuticas
da C.sinensis com menor risco de interações adversas.
REFERÊNCIAS
1.
2.
3.
Albassam, A. A.; Markowitz, J. S. An Appraisal of Drug-Drug Interactions with Green Tea
(Camellia sinensis). Planta Med., v. 83, n. 6, p. 496-508, 2017. doi: 10.1055/s-0043-100934
Alkerwi, A.; Sauvageot, N.; Crichton, G. E.; Elias, M. F. Tea, but not coffee consumption, is
associated with components of arterial pressure. Nutr Res., v. 35, n. 7, p. 557-65, 2015. doi:
10.1016/j.nutres.2015.05.004
4.
Ananingsih, V. K.; Sharma, A.; Zhou, W. Green tea catechins during food processing and storage: A review on stability and detection. Food Research International, v. 50, n. 2, p. 469-79,
2013. doi: 10.1016/j.foodres.2011.03.004
5.
Alterio, A. A.; Fava, D. A. F.; Navarro, F. Interação da ingestão diária de chá verde (Camellia
sinensis) no metabolismo celular e na célula adiposa promovendo emagrecimento. Revista
Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, v. 1, n. 3, p. 27-37, 2007.
6.
Astill, C. et al. Factors affecting the caffeine and polyphenol contents of black and green tea
infusions. Journal of Agricultural and Food Chemistry, v. 49, n. 11, p. 5340-5347, 2001.
doi: 10.1021/jf010759+
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
370
Adcocks, C.; Collin, P.; Buttle, D. Catechins from green tea (Camellia sinensis) inhibit bovine
and human cartilage proteoglycan and type II collagen degradation in vitro. The Journal of
nutrition. v. 132, n. 1, p. 341-6, 2002. doi: 10.1093/jn/132.3.341
Basu, A.; Lucas, E. A. Mechanisms and Effects of Green Tea on Cardiovascular Health. Nutr
Rev., v. 65, n. 8, 361-75, 2007. doi: 10.1111/j.1753-4887.2007.tb00314.x
Batista, G. A. P. et al. Estudo Prospectivo, Duplo Cego e Cruzado da Camellia Sinensis (Chá
Verde) nas Dislipidemias. Arq Bras Cardiol, v. 93, n. 2, p.128-34, 2009.
Bhardwaj, P.; Khanna, D. Green tea catechins: defensive role in cardiovascular disorders. Chin
J Nat Med., v. 11, n. 4, p. 345-53, 2013. doi: 10.1016/S1875-5364(13)60051-5
Cabrera, C.; Gimenez, R. Efeitos benéficos do chá verde - uma revisão. Am J Nutr fresco, v.
25, n. 2, p.79-99, 2006.
Chen, H.; Zhang, M.; Xia, B. Components and antioxidant activity of polysaccharides conjugate
from green tea. Food Chem, v. 90, n. 1-2, p. 17-21, 2005. doi: 10.1016/j.foodchem.2004.03.001
Chen, C.; Zhou, Q.; Liu, S.; Xiu, Z. Acute toxicity, biochemical and gene expression responses
of the earthworm Eisenia fetida exposed to polycyclic musks. Chemosphere, v. 83, p. 1147154, 2011. doi: 10.1016/j.chemosphere.2011.01.006
Chung, H.Y. et al. Molecular inflammation: underpinnings of aging and age-related diseases.
Ageing Res Rev., v. 8, n. 1, v. 18-30, 2009. doi: 10.1016/j.arr.2008.07.002
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
14.
Chung, H.Y.; Choi, D.H.; Choi, J.S. Effects of oral epigallocatechin gallate on the oral pharmacokinetics of verapamil in rats. Biopharm. Drug Dispos, v. 30, n. 1, p. 90-3, 2009. doi:
10.1002/bdd.644
15.
Chung, M.Y. et al. Green Tea Lowers Hepatic COX-2 and Prostaglandin E2 in Rats with Dietary
Fat-Induced Nonalcoholic Steatohepatitis. Journal of medicinal food, v. 18, n. 6, p. 648-55,
2015. doi: 10.1089/jmf.2014.0048
16.
Cooper, R.; Morré, J.; Morré, D.M. Medicinal benefits of green tea: part I. review of noncancer
health benefits. The Journal of Alternative and Complementary Medicine, v. 11, p. 521-28,
2005. doi: 10.1089/acm.2005.11.521
17.
18.
19.
20.
21.
22.
23.
Delafuente, J.C. Pharmacokinetic and pharmacodynamic alterations in the geriatric patient.
Consult Pharm. v. 23, n. 4, p. 324-34, 2008. doi: 10.4140/tcp.n.2008.324
Dias, T. R. et al. White Tea (Camellia Sinensis (L.)): Antioxidant Properties nd Beneficial Health
Effects. Int J Food Sci Nutr Diet, v. 2, n. 2, p. 19-26, 2013.
Essam, E.; Yousif, A.A.; Muzaffar, I.. Effects of Green Tea Extracts on the Pharmacokinetics
of Quetiapine in Rats. Evid Based Complement Alternat Med., v. 2015, p. 615285, 2015.
doi: 10.1155/2015/615285
Esimone, C. O. Drug-drug and herb-drug interactions-a comment. Journal of Research in
National Development, v. 9, n. 1, p. 47-59, 2011.
Funke, I.; Melzig, M. F. Traditionally used plants in diabetes therapy-phytotherapeutics as
inhibitors of α-amylase activity. Rev Bras Farmacogn., v. 16, n. 1, p. 1-5, 2006.
Gramza-Michalowska, A.; Bajerska-Jarzebowska, J. Leaves of Camellia sinensis: Ordinary
Brewing Plant or Super Antioxidant Source?. Food, v. 1, n. 1, p. 56-64, 2007.
Greyling, A. The Effect of Black Tea on Blood Pressure: A Systematic Review with Meta-Analysis of Randomized Controlled Trials. PLoS One, v. 9, n. 7, p. e103247, 2014. doi: 10.1371/
journal.pone.0103247
24.
Gottlieb, Maria G. V.; closs, Vera E. ; junges, Vilma M. ; BORGES, Cristiane A. Anticancer
Effects of Green Tea (Camellia sinensis). In: Danik M. Martirosyan and Jin-Rong Zhou,. (Org.).
Functional Foods and Cancer: Cancer Biology and Dietary Factors. 1ed. San Diego: Food
Science Publisher, 2017.
25.
Khan, N.; Mukhtar, H. Cancer and metastasis: prevention and treatment by green tea. Cancer
Metastasis Rev., v. 29, n. 3, p. 435-45, 2010. doi: 10.1007/s10555-010-9236-1
26.
Kim, Y. H. et al. Green Tea Catechin Metabolites Exert Immunoregulatory Effects on CD4+
T Cell and Natural Killer Cell Activities. J. Agric Food Chem., v. 68, n. 18, p. 3591-97, 2016.
doi: 10.1021/acs.jafc.6b01115
27.
28.
Kuhn, Merrily A.; Winston, David. Winston & Kuhn’s Herbal Therapy and Supplements: A
Scientific and Traditional Approach. 2 ed. Philadelphia: LWW, 2000. 592 p.
Kumudavally, K. V. et al. Green tea - a potential preservative for extending the shelf life of fresh
mutton at ambient temperature (25 ± 2ºC). Food Chemistry, v. 107, n. 1, p. 426-33, 2008. doi:
10.1016/j.foodchem.2007.08.045
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
371
29.
30.
31.
32.
33.
Le Marchand, L. Cancer preventive effetcs of flavonoides – a review. Biomed Pharmacother,
v. 56, n. 1, p. 296-301, 2002. doi: 10.1016/s0753-3322(02)00186-5
Li, C.; Choi, J.S. Effects of epigallocatechin gallate on the bioavailability and pharmacokinetics
of diltiazem in rats. Pharmazie, v. 63, n. 11, p. 815-8, 2008.
Lin, Y. et al. Factors affecting the levels of tea polyphenols and caffeine in tea leaves. Journal
of Agricultural and Food Chemistry, v. 51, n. 7, p. 1864-1873, 2003. doi: 10.1021/jf021066b
Liska, D.; Lyon, M.; Jones, D.S. Detoxification and biotransformational imbalances. Explore
(NY); v. 2, n. 2, p. 122-40. 2006.
34.
Lindon, F.; Gomes, H. & Campos, A. Anatomia e Morfologia Externa das Plantas Superiores. Lidel: Lisboa, 2001.
35.
Lorenzi, H; Matos, F.J.A. Plantas medicinais do Brasil: nativas e exóticas. Nova Odessa:
Plantarum. 2002.
36.
Lou, Z.; Chen, J. Cellular senescence and DNA repair. Experimental Cell Research, n. 14,
v. 312, p. 2641-646, 2006.
37.
38.
39.
372
Kuriyama, S. et al. Green tea consumption and mortality due to cardiovascular disease, cancer, and all causes in Japan: the Ohsaki study. JAMA, v. 296, n. 10, p. 1255-65, 2006. doi:
10.1001/jama.296.10.1255
Hazarika, L.K.; Bhuyan. M.; Hazarika, B.N. Plagas de insetos do chá e sua gestão. Revisão
Anual da Entomologia, v. 54, p. 267-84, 2009.
Howland, R.H. Effects of aging on pharmacokinetic and pharmacodynamic drug processes. J
Psychosoc Nurs Ment Health Serv., v. 47, n. 10, p. 15-8, 2009.
Hunter, K.F.; Cyr, D. Pharmacotherapeutics in older adults. J Wound Ostomy Continence
Nurs., v. 33, n. 6, p. 630-6, 2006.
40.
Maluf, L. M. P.; Pompéia, C. Morte celular: apoptose e necrose. In: Peres, C. M.; Curi, R. Como
cultivar células. Guanabara Koogan: Rio de Janeiro, 2005.
41.
Manfredini, V.; Martins, V. D.; Benfato, M. S. Chá verde: benefícios para a saúde humana.
Infarma, v. 16, n. .9-10, p.68-70, 2004.
42.
Moore, Rosalind J.; Jackson, Kim G.; Minihane, Anne M. Green tea (Camellia sinensis) catechins and vascular function. Br J Nutr, v. 102, n. 12, p. 1790-1802, 2009.
43.
Mota, M. P.; Figueiredo, P.A.; Duarte, J. A. Teorias biológicas do envelhecimento. Revista
Portuguesa de Ciências do Desporto, n. 1, v. 4, p. 81-110, 2004.
44.
Nakachi, K.; Eguchi, H.; Imai, K. Can teatime increase one’s lifetime?. Ageing Res Rev. v. 2,
n. 1, p. 1-10, 2003. doi: 10.1016/s1568-1637(02)00047-8
45.
Pastore, R. L.; Fratellone, P. Potential Health Benefits of Green Tea (Camellia sinensis): A
Narrative Review. Explore, v. 2, n. 6, p. 531-39, 2006. doi: 10.1016/j.explore.2006.08.008
46.
Peng, X. et al. Effect of green tea consumption on blood pressure: A meta-analysis of 13 randomized controlled trials. Sci Rep. v. 4, n. 1, p. 6251, 2014. doi: 10.1038/srep06251
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
47.
Perva-Uzunalic, A. et al. Extraction of active ingredients from green tea (Camellia sinensis):
extraction efficiency of major catechins and caffeine. Food Chemistry, v. 96, n. 4, p. 597-605,
2006. doi: 10.1016/j.foodchem.2005.03.015
48.
Ribeiro, A.Q.; Acurcio, F.A.; Wick, J.Y. Pharmacoepidemiology of the elderly in Brazil: state of
the art. Consult Pharm. v. 24, n. 1, p. 30-44, 2009.
49.
Rietveld, A.; Wiseman, S. Antioxidant Effects of Tea: Evidence from Human Clinical Trials.
American Society for Nutritional Sciences, v. 133, n. 10, p. 3285S-92S, 2003.
50.
Roth, M.; Timmermann, B.N.; Hagenbuch, B. Interactions of Green Tea Catechins with Organic Anion-Transporting Polypeptides. Drug Metab Dispos, n. 39, v. 5, p. 920-6, 2011. doi:
10.1124/dmd.110.036640
51.
Scandlyn, M.J. et al. A new role for tamoxifen in oestrogen receptor-negative breast cancer
when it is combined with epigallocatechin gallate. Br. J. Cancer., v. 99, n. 1, 1056-63, 2008.
doi: 10.1038/sj.bjc.6604634.
52.
Scotti, L.; Velasco, M.V.R. Envelhecimento cutâneo à luz da cosmetologia. São Paulo:
Tecnopress, 2003. 114 p.
53.
Sato, T.; Miyata, I. The nutraceutical benefit, part I: green tea. Nutrition, v. 16, n. 4, p. 315-17,
2000.
54.
Sharangi, A. B. Medicinal and therapeutic potentialities of tea (Camellia sinensis L.) – A review.
Food Research International, v. 42, n.5-6, p. 529-35, 2009. doi: 10.1016/j.foodres.2009.01.007
55.
Sumpio, B. E. et al. Green Tea, the “Asian Paradox,” and Cardiovascular Disease. Journal
of the American College of Surgeons, v. 202, n. 5, 813-25, 2006. doi: 10.1016/j.jamcollsurg.2006.01.018
56.
Senger, A.E.V.; Schwanke, C.H.A.; Gomes, I; Gottlieb, M.G.V. Effect of green tea (Camellia
sinensis) consumption on the components of metabolic syndrome in elderly. J Nutr Health
Aging., v 16, n. 9, p. 738-42, 2012. doi: 10.1007/s12603-012-0081-5.
57.
Ungureanu, G.; Alexa, I.D.; Stioca, O.. Iatrogeny and the elderly. Rev Med Chir Soc Med Nat
Iasi, v. 111, n. 4, p. 803-10, 2007.
58.
Taniguchi, Cullen; Guengerich, F. Peter. Metabolismo dos Fármacos. In: Princípios de Farmacologia: a base fisiopatológica da farmacoterapia. Ehrin, J. et al. (Org.). 2 ed. São Paulo:
Guanabara Koogan, 2010.
59.
Trevisanato, S. I.; Kim, Y. I. Tea and Health. Nutrition Reviews, v. 58, p.1-10, 2000.
60.
Waltner-Law, M.E. et al. Epigallocatechin gallate, a constituent of green tea, repress hepatic
glucose production. J. Biol. Chem., v. 277, n. 38, p. 34933-940, 2002.
61.
Wang, H.; Provan, G. J.; Helliwell, K. Tea flavonoids: their functions, utilization and analysis.
Trends in Food Science & Technology, v. 11, n. 4-5, p. 152-60, 2000. doi: 10.1016/S09242244(00)00061-3
62.
Werba, J.P. et al. Overview of Green Tea Interaction with Cardiovascular Drug. Current Pharmaceutical Design, v. 21, n. 9, p. 1213-9, 2015. doi: 10.2174/1381612820666141013135045.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
373
374
63.
Weisburger, J.H.; Chung, F. L. Mechanisms of chronic disease causation by nutritional factors
and tobacco products and their prevention by tea polyphenols. Food Chem Toxicol., v. 40, n.
8, p. 1145-154, 2002. doi: 10.1016/s0278-6915(02)00044-3
64.
Wu, L. Y. et al. Effect of green tea supplementation on insulin sensitivity in Sprague-Dawley
rats. J Agric Food Chem, v. 52, n. 3, p. 643-48, 2004. doi: 10.1021/jf030365d
65.
Wu, S.C. et al. Antimutagenic and antimicrobial activities of pu-erh tea. Food Science and
Technology, v.40, n.3, p.506-12, 2007. doi: 10.1016/j.lwt.2005.11.008
66.
Yang, C.S.; Prabhu, S.; Landau, J. Prevention of carcinogenesis by tea polyphenols. Drug
Metabolism Reviews, v.33, p. 237-53, 2000. doi: 10.1081/DMR-120000651
67.
Yang, C. S.; Hong, J. Prevention of Chronic Diseases by Tea: Possible Mechanisms and
Human Relevance. Annu Rev Nutr, v. 33, n. 1, p. 161-81, 2013. doi: 10.1146/annurev-nutr-071811-150717
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
28
“
Viver a velhice com HIV/AIDS
Rosane Paula Nierotka
Unochapecó
Ricardo José Nicaretta
Unochapecó
Fátima Ferretti
Unochapecó
10.37885/201202397
RESUMO
Introdução: O mundo passa por um período de mudança na estrutura demográfica e
etária, o que tem refletido em um crescente aumento da população idosa. Assim, aumenta o índice de pessoas convivendo com doenças crônicas, como é o caso do HIV/
Aids. Objetivo: Refletir sobre o viver a velhice com HIV/Aids. Metodologia: Este texto é
derivado de reflexões e estudos realizados na organização do referencial teórico da dissertação e do projeto de estudo da tese no curso de Mestrado e Doutorado do Programa
de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Unochapecó. Resultado: O HIV é uma
doença crônica rodeada por preconceitos e a discriminação de alguns segmentos da sociedade, que podem ser ainda mais evidentes na população idosa, percebidos por muitos,
como seres assexuados o que, dificulta as medidas protetivas e retarda o diagnóstico
e tratamento da doença, indispensável para uma vivência com maior qualidade. Assim,
uma assistência qualificada de acordo com as especificidades da idade, pode garantir e
gerar uma experiê ncia positiva do convívio com o HIV/Aids. Conclusão: As reflexões
e estudos relacionados a vivências dos idosos com HIV é imprescindível para a criação
de estratégias de prevenção da transmissão do vírus nesta faixa etária, bem como para
qualificar as estratégias de assistência em saúde para este público.
Palavras-chave: Velhice, Sorodiagnóstico da AIDS, Sorodiagnóstico do HIV, Idosos.
INTRODUÇÃO
Aspectos gerais sobre o envelhecimento no Brasil
Uma das grandes conquistas da humanidade foi a ampliação do tempo de vida, com
o alcançar da velhice; o que antes era um privilégio de poucos hoje é comum mesmo em
países mais pobres (VERAS; OLIVEIRA, 2018). Nenhum homem que vive por mais tempo
consegue fugir da velhice, ela é inelutável e irreversível (BEAUVOIR, 2018). No Brasil, a
velhice é um fenômeno recente e crescente, que apresenta algumas particularidades no que
tange ao número de idosos e à assistência prestada (DEBERT, 2004).
Uma realidade mais positiva visualizada nas últimas décadas em relação à pessoa
idosa, no Brasil, também é creditada às transformações profundas na composição de sua
estrutura etária e a um significativo aumento do contingente de idosos, resultado da redução
da taxa de crescimento populacional, da melhoria nas condições de saúde, do acesso aos
serviços de saúde, da queda da taxa de natalidade e de fecundidade (BURIGO et al., 2015).
Segundo dados do IBGE (2018 a,b), no Brasil, a população de idosos, desde o ano de
2012, teve um aumento de 4,8 milhões, superando a marca de 30,2 milhões em 2017, um
crescimento de 18%. Desta população, as mulheres representam 16,09 milhões (56% dos
idosos), enquanto os homens são 13,3 milhões (44% do grupo). A expectativa para 2060 é
de que um quarto da população total, 25,5% (58,2 milhões), terá mais de 65 anos, enquanto
em 2018 esse percentual é de 9,2% (19,2 milhões).
Essa realidade do aumento do número de idosos no Brasil nos faz pensar: como essa
população está chegando nessa fase da vida? Chegar à velhice com qualidade não é uma
tarefa fácil, visto que em algumas regiões ainda existem precárias condições socioeconômicas e grandes desigualdades sociais (PAPALÉO NETTO, 2016).
Os modelos assistenciais para o idoso ainda estão estruturados como nos tempos em
que o Brasil era um país de jovens, com doenças agudas, porém o País está envelhecendo
e, com esse envelhecimento, há o aumento de doenças crônicas e, consequentemente, dos
gastos para atender essa demanda (VERAS, 2016). Dentre as doenças que estão em crescimento neste público, é evidente o aumento do número de casos das Infecções Sexualmente
Transmissíveis – IST’s, como o HIV/Aids.
Um panorama geral sobre o sexo, sexualidade e as IST’s na velhice.
A sexualidade e o sexo são questões diferentes e precisam ser abordadas de maneira distinta para o entendimento deste aspecto na vida do idoso. A sexualidade faz parte
da vida de todas as pessoas e é algo singular, individual que envolve aspectos psíquicos,
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
377
culturais, históricos, práticas e simbolizações, podendo ou não estar atrelado à relação com
outra pessoa (MOIZES; BUENO et al., 2010). No idoso a sexualidade pode expressar-se
na interação com o outro, na corporeidade e na maneira de ser, distinguindo-se do sexo
que está relacionado ao ato sexual que é apenas uma das formas de expressão do amor
humano (UCHOA et al., 2016).
A sexualidade é algo de caráter subjetivo, permeando as relações interpessoais que
permitam o afeto, a paixão, o namoro, o amor, o sexo, a cumplicidade, e o companheirismo,
bem como, a identidade, gênero, orientação sexual, erotismo, prazer, intimidade e diversos
outros aspectos. O idoso que possui uma vida sexual ativa pode se beneficiar de fatores
biológicos, emocionais e sociais, assim como os idosos que suprimem esta questão podem
envelhecer de maneira menos equilibrada e satisfatória (VIEIRA et al., 2014).
Um dos problemas relacionado à sexualidade na vida do idoso é a falta de autonomia
que esta população muitas vezes é exposta, devido aos familiares tomarem as maiores
decisões sobre a vida destes, inclusive sobre os lugares que frequentam e as relações
interpessoais que constroem. Outra dificuldade está relacionada às questões físicas, nos
homens é possível observar dificuldade de ereção, maior tempo para ejaculação e em muitos casos a impotência sexual. Nas mulheres a partir da menopausa é possível observar
pele mais seca e fina e a redução da lubrificação podendo ocasionar dor e sangramento na
relação sexual. Estes fatores podem diminuir de maneira acentuada a prática sexual neste
público (SILVA; PINTO, 2019).
Porém, mesmo com essas alterações fisiológicas importantes, os idosos não alteram
significativamente a rotina sexual até os 74 anos. É com 75 anos que se começa a notar
queda importante nas relações nesta faixa etária. Outas questões, além das biológicas que
podem interferir no decréscimo da prática com o avançar da idade, está a aceitação da aparência física, o sedentarismo, o estado civil e o relacionamento social (CAMBÃO et al., 2019).
A sexualidade no idoso é rodeada de mitos e tabus. A sociedade tem uma visão limitada
quanto a este tema e para muitos os sujeitos nessa faixa etária são considerados assexuados. É necessário repensar estes estigmas, considerando a sexualidade dentro do processo
de envelhecimento, compreendida com naturalidade, como qualquer outro elemento da vida
humana (ALENCAR et al., 2014).
Porém este panorama tende a mudar, o aumento da expectativa de vida e o quadro
de envelhecimento da população mundial vêm transformando também as práticas sexuais
desses idosos, dentre elas alterando o perfil sexual, tornando-os ativos por maior tempo
e possibilitando a inserção de maior número de parceiros nas suas rotinas, muitas vezes
sem os cuidados necessários, colocando os mesmos em situações de risco para as IST’s
como HIV/Aids. Esta mudança está atrelada as tecnologias em saúde que proporcionaram
378
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
medicações mais eficazes contra a impotência sexual e novas terapias de reposição hormonal (LAROQUE et al., 2011).
O panorama crescente de idosos diagnosticados com HIV/Aids reflete o aumento da
prática sexual desprotegida entre idosos, demonstrando que o desejo e a sexualidade estão
presentes em todas as etapas da vida do ser humano (BRITO, 2016). A falta de compreensão sobre a sexualidade no idoso que está enraizada na sociedade, também está presente
nos profissionais de saúde. Estes raramente questionam seus pacientes/usuários sobre
questões ligadas a prática sexual, uma assistência fragmentada, limitada principalmente às
queixas e doenças características da idade (SANTOS et al., 2019).
Diante do contexto exposto é de extrema importância que os profissionais de saúde
ampliem sua percepção e compreensão sobre tema e possam pensar em estratégias e
ações capazes de auxiliar os idosos, para que eles possam vivenciar a prática sexual da
melhor maneira possível, entendendo seus comportamentos de riscos e abordando as IST’s
durante as consultas de saúde (CASTRO, 2013).
Assim, é importante ressaltar que a sexualidade é normal e está presente em todas as
faixas etárias, porém, a falta do diálogo sobre esse tema no processo de envelhecimento e
os tabus que o envolvem tem contribuído para o avanço das IST’s, dentre elas o HIV/Aids,
que apresentou um aumento significativo nesta faixa etária (GOMES et al., 2018).
A partir dessas reflexões, é que nos despertou o interesse em estudar e compreender
como é viver a velhice com HIV? Assim, este estudo teve por objetivo refletir sobre o viver
a velhice com HIV/Aids.
METODOLOGIA
Este texto é derivado de reflexões e estudos realizados na organização do referencial
teórico da dissertação “Itinerário terapêutico de idosos vivendo com HIV/Aids: perspectivas
da história oral” e do projeto de estudo da tese “Vivências de idosos com HIV/Aids: dando
voz e visibilidade as velhas árvores”, no curso de Mestrado e Doutorado do Programa de
Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Unochapecó.
Desenvolvimento
Ao iniciar nosso diálogo sobre viver a velhice com HIV, apresentamos alguns dados
conceituais sobre o HIV/Aids. O HIV é a sigla dada ao Vírus da Imunodeficiência Humana a
partir da contaminação, este vírus ataca as células do sistema imunológico e posteriormente
pode levar à Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), o estágio mais avançado da
doença, por meio da queda da contagem dos linfócitos TCD4+. A infecção com o HIV não tem
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
379
cura, mas tem tratamento, o que pode evitar que a pessoa chegue ao estágio mais avançado
da doença, desenvolvendo assim a AIDS. Ou seja, todos os sujeitos que possuem a AIDS
passaram pelo estágio do HIV, porém nem todos os sujeitos que possuem HIV desenvolvem
a doença, já que ela é uma manifestação mais tardia da doença (BRASIL, 2020).
Atualmente, com os avanços da medicina e a possibilidade de monitorar a progressão
da doença com CD4 e carga viral, bem como os avanços no tratamento antirretroviral, a Aids
passa a ser uma doença tratável, deixando de ser uma doença aguda (BRASIL, 2017). A partir
do desenvolvimento do tratamento antirretroviral, surgem discussões da possibilidade de viver
com a Aids sob uma perspectiva de cronicidade e ela passa a ser incluída pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) na categoria das doenças crônicas transmissíveis (SCHAURICH;
COELHO; MOTTA, 2006; BRASIL, 2017).
A incidência de casos de Aids em idosos aumentou no decorrer dos anos, do ano da
primeira notificação de Aids no Brasil, em 1980, até junho 2019, foram notificados 35.128
casos de Aids em idosos. No ano de 2000, o Brasil contabilizou 735 novos casos na população idosa. Uma década depois esse quantitativo mais do que dobrou, passando para 1.618
casos e em 2016, foram contabilizadas 2.199 novas infecções na população idosa. No ano
de 2019, até o mês de junho, foram diagnosticados 704 novos casos de HIV em idosos;
destes, 429 eram do sexo masculino, e 275, do sexo feminino. Nesse mesmo ano, os casos
de Aids em idosos foram de 879 – 553 do sexo masculino e 326 do sexo feminino (BRASIL,
2017; BRASIL, 2019).
Dados da literatura mostram que o perfil de maior ocorrência de HIV/Aids em idosos no Brasil se configura na faixa etária entre 60 e 69 anos, no sexo masculino, com
recente processo de feminização da epidemia, sendo a categoria com maior exposição ao
HIV a heterossexual (RIBEIRO; JESUS, 2006; ARAÚJO et al., 2007; SILVA et al., 2011;
ULTRAMARI et al., 2011; VIEIRA; ALVES; SOUSA, 2012; OLIVEIRA; PAZ; MELO, 2013;
SOUSA; SUASSUNA; COSTA, 2009; LIMA; MAIA; SOUSA, 2013; AFFELDT; SILVEIRA;
BARCELOS, 2015; QUADROS et al., 2016; GODOY et al., 2008; ARAÚJO; BERTOLINI;
BERTOLINI, 2015).
O maior número de idosos vivenciando essa realidade, em parte, é creditado ao acesso a novas terapêuticas e medicamentos que tornaram possível o prolongamento da vida
sexual ativa, porém o baixo conhecimento sobre o vírus e as formas de transmissão, que
muitas vezes credita o risco apenas aos mais jovens, reduz a adoção de medidas preventivas para os mais velhos, o que aumenta a susceptibilidade ao HIV nessa faixa etária
(SOUSA et al., 2019).
A baixa escolaridade e a falta de informação sobre o uso do preservativo, a resistência
em usá-lo como uma demonstração de confiança e fidelidade ao parceiro e a não realização
380
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
de testes diagnósticos levam a maior exposição e aumento dos casos de HIV em idosos.
Além destes fatores sociais e culturais, os idosos apresentam outras condições específicas
que podem predispô-los à contaminação, como redução das defesas mucosas e imunológicas (CERQUEIRA; RODRIGUES, 2016; BRASIL, 2015a).
Essas condições fazem com que o diagnóstico do HIV em idosos seja tardio e ocorra
nos serviços secundários ou terciários à saúde. Os profissionais da saúde não têm adotado como rotina a investigação do vírus do HIV em idosos, geralmente tratam as doenças
oportunistas da patologia, que se assemelham a doenças características da pessoa idosa
(CERQUEIRA; RODRIGUES, 2016; ALENCAR; CIOSAK, 2016).
Alguns sintomas do HIV como perda de peso, fadiga, anorexia, dores crônicas são
parecidos com sintomas de outras enfermidades crônicas, comum a essa fase da vida, dificultando ainda mais o diagnóstico, que é geralmente realizado quando já se encontra com
alguma infecção oportunista relacionada ao HIV/AIDS (ARAÚJO et al., 2017). Além disto,
infecções oportunistas são facilmente confundidas com a pneumocistose que podem ser
confundidas com insuficiência cardíaca congestiva; a demência pelo HIV com Alzheimer ou
Parkinson, status mental alterado, dificuldade de memória recente, ou intelecto diminuído
que podem ser confundidos com Alzheimer (BRASIL, 2017b).
Uma das consequências da demora em diagnosticar a infecção produz o acesso tardio
à Terapia Antirretroviral (TARV), fundamental para o tratamento, que, quanto mais cedo
iniciado, diminui as taxas de comorbidades e morbimortalidades relacionadas ao HIV, o que
interfere de modo importante na forma como o idoso vivencia o HIV e qualidade dos anos
vividos com a síndrome (ALVES; LOPES; BARBOSA, 2017).
O diagnóstico soropositivo para o HIV, pode ocasionar, em primeira instância um grande
impacto, despertando sentimentos desestruturantes, que exigem do idoso uma nova forma
de olhar para o adoecimento a fim de fazer frente aos medos e angústias geradas pela
doença. O preconceito após o diagnóstico e a falta de informações sobre a patologia é um
dos grandes limitadores para a ressignificação deste indivíduo frente a capacidade de lidar
com a patologia (SALES et al., 2013). Ao ser diagnosticado com o HIV, os idosos enfrentam
aspectos negativos na sua vida, com desorganização do seu modo de viver, experiências
de sofrimento e medo sobre as repercussões dessa nova condição, as possibilidades de
tratamento e o julgamento das pessoas (CASSÉTTE et al., 2016).
O HIV ainda está rodeado de muitos sentimentos controversos, como o medo, os sofrimentos emocionais e as inseguranças quanto a essa nova etapa de vida; ainda há que
se preocupar com os preconceitos e a discriminação de alguns segmentos da sociedade
(PIMENTA, 2014). Pode ser ainda mais complicado quando se refere à população idosa,
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
381
pois, aos olhos de muitos familiares, amigos, profissionais da saúde e de porção significativa
da sociedade, essas pessoas são seres assexuados (NASCIMENTO et al., 2017).
Novos desafios são postos cotidianamente, principalmente quanto ao estereótipo relacionado ao comportamento sexual de idosos. A visão do velho como assexuado tem ligação
com as limitações físicas, as mudanças estéticas e alterações hormonais, por exemplo, a
menopausa feminina (gerando ressecamento vaginal, diminuição da libido) e a progressiva
manifestação das disfunções da ereção masculina, alterações que são associadas ao fim
de uma vida sexual ativa (ALENCAR et al., 2016).
Os idosos com HIV/Aids convivem com preconceitos e discriminação da sociedade,
com o silenciamento e a invisibilidade impostos pelo medo de que as pessoas tomem ciência
do seu diagnóstico e se afastem, produzindo, assim, o isolamento social, bem como surgem sentimentos negativos como a vergonha, a culpa e a repressão sexual (SALDANHA;
ARAÚJO; SOUSA, 2009; SILVA et al., 2015; NASCIMENTO et al., 2017).
O estudo de Andrade, Silva e Santos (2010) que buscou compreender a vivência dos
idosos com HIV na cidade de Belém com 13 colaboradores, demonstrou que estas alterações emocionais estão também atreladas ao medo da doença, vergonha dos familiares e
também relacionadas às alterações físicas. A pesquisa apresentou como resultado que as
mudanças na imagem corporal, atreladas ao processo de emagrecimento acentuado e debilidade ocasionados pela doença nos idosos, são fatores de sofrimento. O tratamento também
pode causar sintomas físicos como o aparecimento de risco de doenças cardiovasculares,
dislipidemia e hiperglicemia, causando assim um processo de preocupação nestes sujeitos.
O processo de diagnóstico e viver com o HIV/Aids exige dos idosos a reelaboração
de uma série de processos, em especial para manter uma boa saúde mental e qualidade
de vida. Para isto o idoso precisa de suporte psicológico, social e muitas vezes, espiritual,
desde o diagnóstico, como também o apoio familiar e dos profissionais da saúde (HIPOLITO,
2014). Tais características nem sempre recebem atenção especial e uma assistência de
acordo com suas especificidades.
Nesta perspectiva, quando se pensa a assistência à população idosa convivendo com
o HIV/Aids, as ações e olhares têm se remetido às implicações biológicas e físicas que a
patologia produz na velhice, uma vez que o tempo de desenvolvimento do HIV para a AIDS
nesta faixa etária é mais rápido (em média cinco anos, enquanto em adultos e jovens este
tempo é de oito a dez anos). Essas implicações interferem diretamente nos caminhos percorridos pelos idosos nos serviços de saúde, já que grupos com menor comprometimento
podem realizar sua assistência na atenção básica, enquanto idosos com maior comprometimento são atendidos na média complexidade, isto é, serviços de atendimento específicos,
ou mesmo na alta complexidade (BRASIL, 2015a), produzindo diferentes demandas.
382
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Realizando uma busca documental no dia 4 de abril de 2019, com o objetivo de identificar nas políticas, protocolos e diretrizes de saúde, ações e serviços que atendem a população
de idosos com HIV, no site oficial do Ministério da Saúde voltado para o HIV/Aids (Aids.gov),
no site da QualiAids e na BVS (utilizando os descritores “políticas públicas” or “idosos¨ or
“sorodiagnóstico de HIV e Aids”), nos últimos cinco anos, foram encontrados apenas nove
documentos que organizam a assistência das pessoas vivendo com HIV em todos os níveis,
porém apenas um (“Diretriz para Implementação da Rede de Cuidados em IST/HIV/Aids de
2017”) cita os idosos, no seu item “3.24. Infecção HIV e Aids em pessoas idosas”.
Essa diretriz aponta que o risco de contrair o HIV em idades mais velhas está relacionado aos idosos não se perceberem como população de risco, pelas mudanças biológicas
da idade que levam à redução das defesas das mucosas e imunológicas, o estabelecimento
de novas e múltiplas parcerias sexuais, a redução no uso de preservativos e a melhora do
desempenho sexual. Discorre, também, sobre o diagnóstico ser tardio nessa população
devido ao estigma, à marginalização e à falta de informação dos idosos e ao subdiagnóstico
marcado por estereótipos, preconceito de profissionais de saúde que não oferecem a testagem do HIV em momento inicial, somente após esgotarem todas as outras possibilidades
de diagnóstico das condições relacionadas à idade. Por último, apresenta o tratamento com
o TARV em idosos com HIV, não trazendo elementos para uma assistência direcionada às
necessidades dessa população (BRASIL, 2017).
Para uma assistência mais qualificada que envolva a população idosa, é fundamental
que, primeiramente, os profissionais de saúde possam se despir de preconceitos e estereótipos sobre a contaminação do HIV em idosos, visto que, por diversos motivos (o despreparo
na sua formação profissional, a visão do idoso como um ser assexuado e a diferença de
idade do profissional da saúde e do idoso), produzem a invisibilidade do “idoso com HIV/
Aids” por dentro do sistema de saúde, o que pode levar ao diagnóstico tardio, consequentemente ao retardamento do tratamento com a terapia antirretroviral e à morte prematura
(ALENCAR; CIOSAK, 2016).
Nessa direção, a assistência ao idoso deve ser pensada em sua integralidade, com
cuidados precoces, com ações de promoção e educação em saúde, prevenção de doenças
e reabilitação de agravos, em uma lógica de rede, englobando todos os níveis de atenção
à saúde, desde o acolhimento até os cuidados no fim da vida (VERAS, 2016).
Para além do tratamento medicamentoso, incorporar nas práticas clínicas o entendimento do HIV/Aids como uma enfermidade crônica pode potencializar uma assistência
mais humanizada e aflorar a possibilidade de uma escuta qualificada sobre a realidade e as
necessidades desse idoso.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
383
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Viver com HIV é algo desafiador e que pode ser acentuado na pessoa idosa, que ainda
é marcada por preconceitos e uma visão do idoso como o “velho”, sem funcionalidade, que
cuida dos netos, assexuado, dentre outros tabus existentes. Assim, precisamos refletir mais
sobre o assunto, na tentativa de dar maior visibilidade a patologia e minimizar os estereótipos existentes, vislumbrando a superação de preconceitos e discriminações na direção de
uma lógica de cuidado que considera o indivíduo em sua totalidade e individualidade, que
respeita sua condição de vida e saúde.
É necessário rever as políticas públicas já existentes em nosso país no combate ao
HIV/Aids, desenvolvendo novas estratégias que atingem a população de idosos, deixando
esses menos vulneráveis a contaminação, auxiliando no diagnóstico precoce e no início
precoce do tratamento, possibilitando ao idoso vivenciar essa experiência da forma mais
positiva. Evidencia-se também, a necessidade de uma assistência ampla e com um olhar
abrangente e despido de preconceitos por parte dos profissionais e serviços de saúde
para essa população.
Por fim, torna-se essencial ampliar as pesquisas em torno desse tema buscando aprofundar o conhecimento sobre essa nova característica da epidemia, a presença maior na
população idosa. Conhecer as demandas, as características do HIV/Aids nos idosos, as
implicações da infecção nessa fase da vida, trazem informações para refletirmos sobre os
serviços de saúde e as estratégias de prevenção do HIV nessa faixa etária, buscando a
humanização do cuidado.
REFERÊNCIAS
1.
2.
3.
384
AFFELDT, Ângela Beatriz; SILVEIRA, Mariângela Freitas da; BARCELOS, Raquel Siqueira.
Perfil de pessoas idosas vivendo com HIV/aids em Pelotas, sul do Brasil, 1998 a 2013. Epidemiologia e Serviços de Saúde, Brasília, v. 24, n. 1, p. 78-86, 2015.
ALENCAR, Danielle Lopes et al. Exercício da sexualidade em pessoas idosas e os fatores
relacionados. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Rio de Janeiro, v. 19, n. 5, p.
861-869, 2016.
ALENCAR, Danielle Lopes et al. Fatores que interferem na sexualidade de idosos: uma
revisão integrativa. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 19, n. 8, p. 3533-3542, 2014.
4.
ALENCAR, Rúbia de Aguiar; CIOSAK, Suely Itsuko. Aids em idosos: motivos que levam ao
diagnóstico tardio. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 69, n. 6, p. 1140-1146, 2016.
5.
ALVES, Márcia Aparecida; LOPES, Rosineia Mendes dos Reis; BARBOSA, Aliny. As dificuldades enfrentadas pelo paciente idoso diagnosticado com o HIV: olhar do enfermeiro diante
da problemática. Revista Saúde em Foco, Rio de Janeiro, 9. ed., p. 691-700, 2017.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
6.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
ANDRADE, Helana Augusta dos Santos; SILVA, Susan Kelly da; SANTOS, Maria Izabel Penha
de Oliveira. Aids em idosos: vivências dos doentes. Escola Anna Nery, Rio de Janeiro, v. 14,
n. 4, p. 712-719, 2010.
ARAÚJO, Vera Lúcia Borges et al. Características da Aids na terceira idade em um hospital
de referência do Estado do Ceará, Brasil. Revista Brasileira de Epidemiologia, São Paulo,
v. 10, n. 4, p. 544-54, 2007.
ARAÚJO, Ana Paula Serra de; BERTOLINI, Sonia Maria Marques Gomes; BERTOLINI, Dennis
Armando. Perfil epidemiológico e imunológico de idosos infectados pelo vírus da imunodeficiência humana. Estudos Interdisciplinares Sobre o Envelhecimento, Porto Alegre, v. 20,
n. 1, p. 121-138, 2015.
BEAUVOIR, Simone de. A velhice. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2018. 599 p.
BRASIL. Sintomas e fases da aids. Departamento doenças de condições crônicas e infecções sexualmente transmissíveis - 2020. >http://www.aids.gov.br/pt-br/publico-geral/o-que-e-hiv/sintomas-e-fases-da-aids> acessado em: 26 abr. 2020.
BRASIL. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Manejo da Infecção pelo HIV em
Adultos. Departamento doenças de condições crônicas e infecções sexualmente transmissíveis
- 2017. < http://www.aids.gov.br/pt-br/pub/2013/protocolo-clinico-e-diretrizes-terapeuticas-para-manejo-da-infeccao-pelo-hiv-em-adultos> acessado em: 19 fev. 2020
BRASIL. Diretrizes para organização do CTA no âmbito da prevenção combinada e nas Redes
de Atenção à Saúde. Departamento doenças de condições crônicas e infecções sexualmente
transmissíveis, 2017.
BRITO, Nívea Maria Izidro, et al. Idosos, infecções sexualmente transmissíveis e AIDS:
conhecimentos e percepção de risco. ABCS health sci, Santo André, v.41, n.3, p. 140-145. 2016.
14.
BURIGO, Giovanna da Fonseca et al. Sexualidade e comportamento de idosos vulneráveis
a doenças sexualmente transmissíveis. CuidArte. Enfermagem, São Paulo, v. 9, n. 2, p.
148-153, 2015.
15.
CAMBAO, Mariana et al. QualiSex: estudo da associação entre a qualidade de vida e a sexualidade nos idosos numa população do Porto. Rev Port Med Geral Fam, Lisboa, v. 35, n.
1, p. 12-20. 2019.
16.
CASSETTE, Júnia Brunelli et al. HIV/aids em idosos: estigmas, trabalho e formação em saúde.
Rev. bras. geriatr. gerontol., Rio de Janeiro, v. 19, n. 5, p. 733-744, 2016.
17.
18.
19.
CASTRO, Susane de Fátima Ferreira et al. Sexualidade na terceira idade - a percepção do
enfermeiro da estratégia saúde da família. Revista enferm UFPE, Recife, n.7, v.10, p.59075914, 2013.
CERQUEIRA, Marília Borborema Rodrigues; RODRIGUES, Roberto Nascimento. Fatores
associados à vulnerabilidade de idosos vivendo com HIV/AIDS em Belo Horizonte (MG),
Brasil. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 21, n. 11, p. 3331-3338, 2016.
DEBERT, Guita Grin. A reinvenção da velhice: socialização e processos de reprivatização
do envelhecimento. São Paulo: Universidade de São Paulo/Fapesp, 2004. 266 p.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
385
20.
21.
22.
23.
GOMES, Renara Meira et al. Sexualidade na Terceira Idade: as Representações sobre Sexo.
Rev. Mult. Psic, São Paulo, v.12, n. 40, p. 662-667, 2018.
HIPOLITO, Rodrigo Leite et al. Representações sociais da qualidade de vida no HIV/AIDS:
o papel do tempo de diagnóstico. Rev. enferm. UERJ; Rio de Janeiro. v.22, n.6, p. 803-809,
2014.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Conheça cidades e estados do Brasil. 2018a. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/. Acesso em: 18 jun. 2019.
24.
LAROQUE, Mariana Fonseca et al. Sexualidade do idoso: comportamento para a prevenção
de DST/ AIDS. Rev Gaúcha Enferm, Porto Alegre, v. 32, n.4, pp. 774-780, 2011.
25.
LIMA, Adonis de Melo; MAIA, Jean Charles Vilhena; SOUSA, Alan Bosque de. Perfil epidemiológico da AIDS em idosos no estado do Pará utilizando dados dos sistemas de informações
da saúde do DATASUS. Revista Paraense de Medicina, Pará, v. 27, n. 4, p. 53-58, 2013.
26.
MOIZES, Julieta Seixas; BUENO, Sonia Maria Villela. Compreensão sobre sexualidade e sexo
nas escolas segundo professores do ensino fundamental. Rev. esc. enferm. USP, São Paulo,
v. 44, n. 1, p. 205-212, Mar. 2010.
27.
28.
29.
30.
31.
32.
33.
34.
386
GODOY, Vivian S. et al. O perfil epidemiológico da aids em idosos utilizando sistemas
de informações em saúde do DATASUS: realidades e desafios. DST: Jornal Brasileiro de
Doenças Sexualmente Transmissíveis, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 7-11, 2008.
NASCIMENTO, E.K. et al. História de vida de idosos com hiv/aids life story of elderly people
with hiv/aids historia de vida de ancianos con vih/sida. Rev enferm UFPE. Recife, v.11, n.4,
pp. 1717-1724, 2017.
OLIVEIRA, Maria Liz Cunha de; PAZ, Leidijany Costa; MELO, Gislane Ferreira de. Dez anos de
epidemia do HIV-AIDS em maiores de 60 anos no Distrito Federal – Brasil. Revista Brasileira
de Epidemiologia, São Paulo, v. 16, n. 1, p. 30-39, 2013.
PAPALÉO NETTO, M. Estudo da Velhice: Histórico, Definição do Campo e Termos Básicos.
In: FREITAS, Elizabete Viana de; PY, Ligia (Eds.). Tratado de geriatria e gerontologia. 4. ed.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. 1637 p.
PIMENTA, Joana Filipa Macedo Liz. Sexualidade no idoso – considerações ao profissional
de saúde. 2014. Dissertação (Mestrado em Medicina) – Instituto de Ciências Biomédicas de
Abel Salazar da Universidade do Porto, Porto, 2014.
QUADROS, Karla Nogueira et al. Perfil epidemiológico de idosos portadores de HIV/Aids atendidos no serviço de assistência especializada. Revista de Enfermagem do Centro Oeste,
Minas Gerais, v. 6, n. 2, p. 2140-2142, 2016.
RIBEIRO, Liliane da Consolação Campos; JESUS, Mariane Véo Nery de. Avaliando a incidência dos casos notificados de AIDS em idosos no Estado de Minas Gerais no período
de 1999 a 2004. Cogitare Enfermagem, Curitiba, v. 11, n. 2, p. 1130126, 2006.
SALDANHA, Ana Alayde Werba; ARAÚJO, Ludgleydson Fernandes de; SOUSA, Valdiléia Carvalho de. Envelhecer com Aids: Representações, Crenças e Atitudes de Idosos Soropositivos
para o HIV. Interamerican Journal of Psychology, Porto Alegre, v. 43, n. 2, p. 323-332, 2009.
SALES, Jaqueline Carvalho e Silva et al. A percepção do idoso de um centro de convivência
de Teresina-PI sobre a AIDS. Rev Min Enferm, Belo Horizonte, v. 17, n.3, p. 620-627. 2013.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
35.
SANTOS, Crislaynne Alves et al. Sexualidade na Terceira Idade: a Percepção dos Idosos Usuários de um Serviço de Apoio a Melhor Idade. Revista investigação qualitativa em saúde,
Coruña, v.2, n.6, p. 1-9, 2019.
36.
SCHAURICH, Diego; COELHO, Débora Fernandes; MOTTA, Maria da Graça Corso da. A cronicidade do processo saúde-doença: repensando a epidemia da AIDS após os antirretrovirais.
Revista Enfermagem UERJ, Rio de Janeiro, v. 14, n. 3, p. 455-462, 2006.
37.
38.
39.
SILVA, Helony Rodriges da et al. Características clínico-epidemiológicas de pacientes
idosos com aids em hospital de referência, Teresina-PI, 1996 a 2009. Epidemiologia e
Serviços de Saúde, Brasília, v. 20, n. 4, p. 499-507, 2011.
SILVA, Leandro César et al. Impacto psicossocial do diagnóstico de HIV/aids em idosos atendidos em um serviço público de saúde. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol., Rio de Janeiro, v.18,
n.4, pp. 821-833, 2015.
SILVA, José Adriano Góes et al. Fatores associados à não adesão aos antirretrovirais
em adultos com AIDS nos seis primeiros meses da terapia em Salvador, Bahia, Brasil.
Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 31, n. 6, p. 1188-1198, 2015.
40.
SILVA, Luiz Fernando de Andrade; PINTO, Adriane Avanze Marques. Sexualidade na terceira
idade: a visão dos idosos em um município do interior do estado de São Paulo. REAS/
EJCH, Campinas, v. 11, n. 10, p. 1-5, 2019.
41.
SOUSA, Laelson Rochelle Milanês et al. Representações sociais do HIV/Aids por idosos e a
interface com a prevenção. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 72, n. 5, p. 11291136, 2019.
42.
SOUSA, Ana Carla Alves; SUASSUNA, Daniella S. B.; COSTA, Stênio. M. L. Perfil clínico-epidemiológico de idosos com aids. DST – Jornal Brasileiro de Doenças Sexualmente
Transmissíveis, Rio de Janeiro, v. 21, n. 1, p. 22-26, 2009.
43.
UCHOA, Yasmin da Silva. A sexualidade sobre o olhar da pessoa idosa. Rev. Bras. Geriatr.
Gerontol, Rio de Janeiro, v. 19, n.6, 939-949, 2016.
44.
ULTRAMARI, Liliane et al. Perfil clínico e epidemiológico da infecção pelo HIV/Aids em idosos.
Revista Eletrônica de Enfermagem, Goiás, v. 13, n. 3, p. 405-412, 2011.
45.
VERAS, Renato. Linha de cuidado para o idoso: detalhando o modelo. Revista Brasileira de
Geriatria e Gerontologia, Rio de Janeiro, v. 19, n. 6, p. 887-905, 2016.
46.
VERAS, Renato Peixoto; OLIVEIRA, Martha. Envelhecer no Brasil: a construção de um modelo de cuidado. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 23, n. 6, p. 1929-1936, 2018.
47.
VIEIRA, Gabriel D.; ALVES, Thaianne C.; SOUSA, Camila M. Análise dos dados epidemiológicos da Aids em idosos no estado de Rondônia, Amazônia ocidental. DST – Jornal
Brasileiro de Doenças Sexualmente Transmissíveis, Rio de Janeiro, v. 24, n. 1, p. 49-52, 2012.
48.
VIEIRA, Sara et al. A vivência da sexualidade saudável nos idosos: O contributo do enfermeiro.
Revista de Ciência da Saúde da ESSCVP, Lisboa, v.1, n.6, p. 36-45, 2014.
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
387
SOBRE O ORGANIZADOR
Prof. Dr. Edilson Coelho Sampaio
Graduado em Terapia Ocupacional pela Universidade do Estado do Pará (2005-2010), com
especialização em Saúde do Idoso pelo Programa de Residência Multiprofissional em Saúde do
Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB) da Universidade Federal do Pará (UFPA)
(2011-2013). Mestre (2013-2015) e Doutor (2015-2020) em Biologia de Agentes Infecciosos e
Parasitários pela UFPA com ênfase em Virologia e Epidemiologia. Professor nos cursos de graduação
do Núcleo Saúde e Pedagogia da Faculdade Ideal e do curso de Terapia Ocupacional na Universidade
da Amazônia. É membro do Conselho Editorial da Editora Cientifica Digital. Áreas e temáticas de
interesse: desenvolvimento infantil (ênfase nos transtornos do neurodesenvolvimento), atenção
a saúde da pessoa idosa, epidemiologia, saúde coletiva e fundamentos de Terapia Ocupacional.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/7154091678027221
388
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
ÍNDICE REMISSIVO
Envelhecimento Humano: 188
A
Acidente Vascular Encefálico: 26
Epidemiologia: 22, 59, 107, 115, 125, 171, 274,
276, 281, 294, 384, 385, 386, 387
Antimicrobianos: 298, 308
H
Aposentadoria: 96
Hanseníase: 107, 109, 113, 114
Atenção Primária à Saúde: 221
Hemodiálise: 118, 125
Auditoria de Enfermagem: 153, 169, 171
Homossexualidade: 234, 245
Auxiliares de Audição: 136
Hospitalização: 221
C
I
Cinesioterapia (em Língua Portuguesa e em
Língua Inglesa): 38, 49
Covid: 185
Idosos: 15, 17, 19, 23, 35, 51, 54, 59, 70, 72, 76,
111, 112, 134, 186, 199, 202, 218, 231, 266, 291,
294, 322, 323, 368, 376, 385, 386, 387
Cuidado ao Idoso: 13
Cuidado Domiciliar: 26, 36
Incontinência Urinária: 45, 49, 330
Cuidado Integral: 16, 19
Insuficiência Renal Crônica: 118, 125
D
Desastres: 72, 73, 77, 79
Internet: 104, 191, 195, 199, 202, 203, 206, 232,
333, 335, 345, 349, 352, 353, 355, 357
Disfunção Erétil: 325
Invisibilidade: 233, 234
Doença Crônica: 221
M
Doenças Vasculares Periféricas: 218
Mídias Sociais: 199
E
Mulheres: 62, 64
Emergências: 72
P
Enfermagem: 12, 22, 23, 24, 35, 48, 49, 59, 64,
67, 70, 80, 118, 124, 125, 129, 130, 134, 148,
157, 162, 166, 167, 168, 169, 170, 171, 172,
173, 217, 231, 281, 293, 294, 295, 296, 384,
385, 386, 387
Perda Auditiva: 136
Envelhecimento: 12, 15, 20, 24, 35, 49, 51, 67,
69, 74, 79, 80, 104, 107, 136, 149, 151, 172,
173, 186, 188, 205, 232, 234, 245, 247, 253,
267, 268, 311, 322, 323, 373, 385
389
Idoso: 13, 20, 21, 22, 26, 40, 62, 64, 76, 77, 79,
80, 127, 129, 153, 168, 188, 208, 221, 238, 240,
244, 288, 293, 298, 322, 334, 359
Políticas Públicas: 16, 22, 23, 263
R
Reabilitação: 136
Relacionamentos: 199, 202
S
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
Saúde do Idoso: 231, 271
Segurança do Paciente: 153, 159, 169, 172
Sexualidade: 62, 64, 69, 70, 127, 129, 130, 134,
244, 324, 325, 334, 385, 386, 387
Solidão: 51, 54, 58, 196, 199
T
Terceira Idade: 325
V
Velhice: 70, 80, 134, 245, 376, 386
390
Envelhecimento Humano: Desafios Contemporâneos - Volume 2
editora científica