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Tese Rosana Helena Miranda

2002, Mooca: lugar de fazer casa

Urban renewal project for Mooca neighbourhood

Rosana Helena Miranda “Mooca : lugar de fazer casa” São Paulo, 2002 Rosana Helena Miranda “Mooca : lugar de fazer casa” Tese de Doutorado apresentada à FAU-USP Orientador: Professor Doutor Siegbert Zanetini São Paulo, 2002 “4h15 ou 10p/3” (Chico César - disco Mama Mundi ) “se ainda fosse madrugada 4h15 ou 10 para 3 e ela viesse na calçada oh! minha amada yeah! Hei! se ela viesse cintilante feito uma bola em contraluz e me enxergasse nesse instante negava o antes que eu fui por ela eu daria meus patins por ela meu blusão de flanela por ela atravessava os jardins por ela acendia uma vela se ainda fosse bem menino com sua crina de néon como um espelho cristalino adrenalina neston e se já fosse uma senhora àquela hora, fome gris e me beijasse sem demora morria agora feliz por ela amamentava os querubins por ela meu cinto de fivela por ela esquecia as horas ruins por ela eu cantava à capela” Para São Paulo, Marcelo, Rita e Luiz Roque Índice Introdução Capítulo I: A opção pelas áreas históricas pg.02 pg.12 1. A escolha do objeto de estudo pg.13 2. Morar em áreas históricas pg.16 3. Possibilidades de redesenhar o espaço de morar e preservar a memória pg.18 Capítulo II: O lugar da Moóca na história da ocupação da cidade de São Paulo 1. Aspectos da história da formação da cidade de São Paulo 2. O bairro da Mooca na cartografia de São Paulo 3. O processo de ocupação da cidade e a definição do desenho do bairro da Mooca. 4. A imigração italiana, a greve de 1917, parte da cultura da Mooca. Capítulo III: A paisagem e o contexto urbano atual da Mooca 1. Localização e limites 2. A horizontalidade da paisagem edificada 3. Morar na Mooca, a vizinhança e a rua 4. Gregori Warchavchik 5. O rio Tamanduateí e a Mooca 6. Acessibilidade Capítulo IV: “Revitalização do bairro da Mooca” 1. Diretrizes para o projeto de revitalização da Mooca 2. Instrumentos urbanísticos 3. A ocupação da várzea, novos usos, espaços e significados 4. Morar e trabalhar na Mooca 5.Gestão para um programa de revitalização do bairro da Mooca9 pg.42 pg.43 pg.61 pg.86 pg.92 pg.101 pg.102 pg.103 pg.114 pg.132 pg.136 pg.144 pg.155 pg.156 pg.157 pg.158 pg.162 pg.165 Capítulo V: O Significado do lugar 1. O interesse pela memória e a escala do projeto urbano: do bairro à cidade 2. A ocupação da várzea, moradia e trabalho da classe operária. 3. O sentimento de ser da Mooca pg.189 pg.190 pg.202 pg.204 Conclusão pg.215 Referências Bibliográficas pg.216 Obras Consultadas pg.219 Referências das figuras pg.227 Créditos pg.241 Agradecimentos Em primeiro lugar, agradeço ao meu orientador arquiteto Siegbert Zanettini, que pude conhecer melhor durante o processo de luta de resistência contra o projeto da avenida Faria Lima, e, que conciliou sua vida profissional com a orientação desse trabalho durante oito anos, incluindo a fase de mestrado, com contribuições decisivas para o amadurecimento das idéias e compartilhando o carinho por nossa cidade. Ao professor José Cláudio Gomes, com quem tive um contato mais direto, que teve uma influência decisiva na minha formação como pessoa e urbanista, faço um agradecimento especial, pelos ensinamentos sobre as possibilidades e os limites da atuação do arquiteto. Agradeço também aos professores da pós-graduação Sílvio Sawaia, Marlene Yurgel e Maria Ruth Sampaio do Amaral, pela contribuição que deram nos exames de qualificação. E a professora Maria Lúcia Barroco da Puc-SP, amiga e companheira com quem pude vivenciar a experiência do trabalho interdiscisplinar. Foi de grande valia a orientação de parte do trabalho realizada pelo professor Raul Di Lullo do IHS, Institute For Housing e Development Studies de Rotterdam durante o curso Inner City Renewal. Ao Governo Holandês pela bolsa de estudos fornecida, e à Prefeitura do Município de São Paulo por facilitar minha permanência na Holanda durante o curso, um agradecimento especial. Inúmeros são os amigos que compartilharam os momentos de elaboração desse trabalho, e eu costumo dizer que os projetos desse tipo não são individuais, e sim coletivos. Acho que a convivência no setor público nos faz aprender a trabalhar em equipe e, agradeço a todos os colegas de todos os lugares que trabalhei, principalmente na Prefeitura do Município de São Paulo, que ajudaram a formar opiniões sobre os problemas e possíveis soluções para a cidade e o respeito pelo espaço público. Na primeira fase do trabalho não posso esquecer da minha irmã Virgínia Miranda, que me ajudou a dominar a linguagem dos computadores e tão pacientemente agüentou as tensões de finalização do trabalho. Agradeço aos sobrinhos que ajudaram nas tarefas de digitalização e separação das imagens durante as férias escolares: Domitila, Bia, Dario, Ion e Vicente, e ao Ivan no apoio nas traduções de inglês. À Norma Cardia que acolheu meus filhos nas férias para que eu pudesse manter a concentração no estudo. Aos amigos que se envolveram diretamente na produção final da tese um agradecimento e carinho especial pela solidariedade que me emprestaram. Tereza Herling que leu atentamente o trabalho nos períodos de qualificação e ajudou a por ordem na casa, além de colaborar nos levantamentos de campo. José Rollemberg que ajudou a elucidar alguns temas sobre os bairros mais antigos. Wanderley Ariza que não poupou esforços na discussão do projeto e elaboração das imagens que pudessem valorizar as idéias tão discutidas, com quem tenho aprendido a projetar o edifício público, nesses últimos dois anos de convivência em EDIF. Não poderia esquecer da preciosa colaboração do geógrafo José de Oliveira nos levantamentos de campo, conversa com moradoes e registros fotográficos. Katia Sano e Frederica que dispuseram sua equipe e habilidades para a produção gráfica desse trabalho. À Carol, em especial, que teve a maior paciência com os vai e vem de opiniões. À Cláudia Miranda, minha irmã, agradeço pelas discussões sobre as intervenções no campo das obras de infraestrutura urbana. E, finalmente, Denise Delfim, jornalista, amiga e vizinha, que fez a revisão do texto com muita presteza, em meio a atividades da luta por uma cidade mais humanizada. Agradeço também aos amigos e companheiros da luta comunitária pela preservação dos valores culturais da Vila Mariana, cuja participação nesse movimento alimentou as últimas reflexões sobre a cidade, aos amigos Paulo, Pedro, Bia, Elza e Penha, cuja convivência propiciou um crescimento profissional no campo da arquitetura e urbanismo, e a Mirela Geiger, companheira como irmã, de todas as horas nos últimos trinta anos. Tenho sempre como referência o arquiteto e amigo Claudio Manetti, companheiro de vários trabalhos, que me estimulou o gosto pelo desenho e pela atividade de projetar. Não poderia deixar de destacar a importância que teve para este estudo a convivência com a deputada estadual, e agora amiga, Ana Martins, que me ensinou a conhecer melhor esta cidade e que instigou a busca de alternativas para os problemas do povo que vive em condições precárias e junto com os deputados federais Jamil Murad e Aldo Rebelo, souberam estimular, apoiar e compreender a importância da pesquisa acadêmica para aprofundar o conhecimento e a reflexão sobre essa realidade. Agradeço também a antigos e atuais moradores da Mooca que não se furtaram a dar suas impressões em conversas informais sobre as mudanças na vida do bairro. Agradeço ao meu pai Roque e minha mãe Biga por me ensinarem o que é justiça e solidariedade. Em especial fica o meu agradecimento à minha família. Ao Marcelo, companheiro de todas as horas, quem primeiro incentivou que retornasse à Universidade, na pós-graduação, e, segurou a casa nos últimos anos, atendendo às necessidades imediatas dos nossos filhos e ainda prestando a solidariedade nas tarefas mais enfadonhas, mas necessárias para a realização do trabalho. À Rita e ao Luiz Roque, meus filhos que conviveram anos com a bagunça na rotina de casa, provocada por um estudo dessa natureza, com grande ausência na convivência familiar tão estimada, com todos os espaços invadidos pelos livros e materiais usados, agradeço pela paciência e pelo orgulho que eles tão carinhosamente demonstram pelas atividades de sua mãe. Resumo Esta tese é uma proposta de revitalização do bairro da Mooca no seu local de origem. Enfatiza assim a importância do bairro como moradia da classe operária na primeira fase de industrialização de São Paulo e destaca a necessidade de se introduzir o estudo da memória do ambiente cultural como elemento de planejamento urbano. Para tanto, analisa os elementos de permanência da estrutura do bairro nas diversas etapas de desenvolvimento da cidade - o traçado das ruas, as edificações originais das vilas, as casas em série, os edifícios das fábricas ainda existentes enfim, elementos que devem ser inseridos no projeto de renovação urbana, propondo que se valorize a memória e o significado histórico do espaço cotidiano da população. Propõe-se aqui a reformulação do projeto do canal do rio Tamanduateí como forma de resgatar a relação da cidade com este, sendo afinal de contas um fator essencial para a revalorização dos bairros que circundam a área central. A tese ressalta que a Mooca é um espaço de resistência na cidade: primeiro porque conserva, através do trabalho da população mais pobre, seu desenho e atividade econômica originais; segundo porque carrega uma carga simbólica das lutas de resistência do movimento operário desde a Greve de 1917 e do movimento dos tenentes de 1924. A memória desses acontecimentos deve ser inserida no cotidiano da população através de projetos de recuperação e produção de novos espaços de morar e de locais para preservação da memória associados a programas sociais como a “oficina do jovem historiador”. Abstract This thesis is a proposal of Mooca neighborhood renewal in this original place of appearence. It emphasizes the importance of that neighborhood as dwelling of the labor class in the first phase of São Paulo industrialization and it highlights the need to introduce the memory´s studies of the urban cultural atmosphere as element of urban planning. It analyzes the elements of permanence in the structure of the neighborhood in the several stages of development of the city, as the plan of the streets, the original constructions of the villas, the houses in series, the factories buildings still existent as elements that should be inserted in the urban renewal project. It proposes the memory appreciation in the daily space of the people as soon as the historical meaning appreciation of the place for the city. It still proposes to reformulate Tamanduateí channel river project as form of rescuing the relationship of the city with the river, essential for the revaluation of the neighborhoods that surround the central area. The thesis stands out that Mooca is a resistance space in the city. First, because it conserves its original drawing preserved by the poor inhabitant and because the existent economic activity in the area. Anyway it carries a symbolic load of the resistance fights in the labor movement from the Strike of 1917 and 1924 soldiers movement. The memory of those events should be inserted in the population day by day through renewal projects and production of new spaces of living and of memory places preservation linked with social programs like as the “young historian’s workshop” Introdução A habitação de interesse social e a cidade 2 O objeto e a área de estudos desse trabalho estão relacionados com o Programa de Cortiços, da Prefeitura Municipal de São Paulo, durante a gestão da prefeita Luiza Erundina, nos anos de 1990 a 1992. Embora esse programa fosse voltado aos moradores de cortiços, o conjunto de propostas apontava para a elaboração de uma política de habitação de interesse social para a área central da cidade. A descontinuidade administrativa, neste caso, interrompeu o programa a partir de 1993, limitando a experiência a construção das unidades habitacionais em apenas dois projetos e na compra de alguns imóveis para recuperação. Os instrumentos urbanísticos relacionados à recuperação de áreas degradadas foram esboçados pela equipe técnica da SEHAB1 e chegaram a fazer parte da proposta do Plano Diretor da cidade, apresentado na ocasião, mas não foram implementados e o plano não foi aprovado. A lição que ficou dessa experiência, em relação aos projetos para os bairros centrais, é que a política de habitação deve ser tratada em conjunto com uma visão da cidade, que valorize a história e o tema sobre a função do centro. Não se pode tratar a habitação circunscrita ao lote, mas sim ao conjunto urbano de seu entorno. A experiência das políticas públicas de habitação tem mostrado que esta visão deve ser adotada para toda a política habitacional que se queira desenvolver em São Paulo, pois os setores populares que demandam habitação de interesse social são carentes de todos os benefícios que a cidade pode oferecer. A política de habitação deve vir acompanhada do fortalecimento da cidadania dos setores mais fragilizados da população. Especificamente na área central, a política de habitação exige um enfoque urbanístico como condição necessária para a implementação de qualquer projeto, particularmente porque nessa região da cidade encontram-se boa parte dos bens culturais preservados ou que merecem preservação. Um dos objetivos desse trabalho é pesquisar as possibilidades de se redesenhar e produzir moradia popular nas áreas históricas consolidadas da cidade, baseada na metodologia apresentada pelo arquiteto José Cláudio Gomes 2 para o desenvolvimento do projeto urbano, que considera duas categorias de leituras do contexto em que se vai projetar: a primeira relativa à história do lugar e a segunda uma leitura estrutural de onde surgirão as hipóteses de projeto. Segundo ainda Cláudio Gomes, a história sintetiza a memória do lugar nos seus mais diversos aspectos e a estrutura urbana é o conjunto dos elementos urbanos que compõe um todo e configuram essa unidade do lugar, sua essência e interior. Dessa forma, a análise do espaço urbano envolve o conhecimento da história do lugar e a compreensão de sua estrutura que deve ser compreendida em três momentos: 1. O primeiro momento representado pelo desenho da situação existente, utilizando-se de todos as informações disponíveis: planta cadastral, fotos, mapas, e desenhos que representem a realidade local, plantas, cortes e fachadas do espaço construído, suas medidas, divisões internas, sua escala e usos existentes. 2. O segundo momento é o estudo através do desenho como instrumento que vai explicando, no processo de sua elaboração, a maneira de pensar a respeito das diversas partes existentes e que compõe essa forma urbana. 3. O terceiro momento é a síntese da estrutura existente que delineia uma tessitura do lugar, a 3 imbricação dos diversos edifícios e a composição de um tecido maior e da forma existente que significam um conjunto de qualidades existentes. Após esta análise deve se buscar uma visão crítica que combine aspectos sociais, espaciais, tecnológicos e funcionais para se construir as hipóteses que irão fundamentar o projeto. Segundo Cláudio Gomes, é preciso conhecer profundamente a linguagem arquitetônica a ser usada, pois se está projetando num contexto existente. É preciso buscar a relação das partes com o todo, encontrar os elementos de consenso e distinguir os níveis de abordagem em que o desenho é individual e a estrutura é coletiva. É preciso defrontar-se com o caráter simbólico da arquitetura e da paisagem sob o ponto de vista de quem convive com estes contextos, fazer o percurso do usuário e conferir personalidade ao lugar, cuja noção representa uma vinculação entre o espaço e seu uso. fig.03 A história do lugar e sua paisagem A escolha da Mooca como objeto de estudo explica-se porque a Mooca, o Brás, o Pari, a Liberdade, a Consolação, a Barra Funda, e outros, fazem parte de um conjunto de bairros que circundam o centro histórico da cidade, cujo estudo possibilita uma abordagem sobre o significado do “morar no centro”, do significado próprio do centro, e da região que o circunda. Essa abordagem seria possível a partir do estudo de qualquer um dos bairros próximos ao centro, mas, os projetos de renovação urbana devem destacar a particularidade de cada contexto, como elemento de referência para seu desenvolvimento. fig.04 fig.01 fig.02 4 No caso da Mooca destaca-se o aspecto da proximidade com a colina histórica e os fatos históricos e sociais que permeiam sua formação. O conteúdo histórico de luta e resistência do movimento social que marcou períodos importantes da classe operária e do desenvolvimento industrial da cidade que teve como palco também o bairro da Mooca. A área de estudo é vizinha às duas trilhas de acesso ao centro da vila no período colonial, as quais formavam os dois caminhos de ligação do Porto com o planalto, e à colina histórica. Localiza-se ainda, na bacia do rio Tamanduateí e no sopé de chegada da colina do Pátio do Colégio. A escolha do sítio urbano da sede da capitania de São Vicente no período colonial, sua relação com o porto de Santos e o desenvolvimento do núcleo de povoamento do planalto foi descrita por Caio Prado Júnior 3, quando este autor enfatizou a importância da geografia da cidade de São Paulo, na escolha desse sítio. Autores como Ernani Silva Bruno 4 e Pasquale Petrone 5 mostraram que a região da Mooca, contornada por um dos principais caminhos das tropas de burro, e pelo rio Tamanduateí, conheceu uma vida muito intensa, marcada pelos viajantes que por ali passavam, antes mesmo de ter consolidado sua ocupação e desenho urbano, ainda no período colonial. O textos desses autores permitiram a visualização dos espaços próximos à colina histórica, e a importância dessa área e do rio Tamanduateí para o desenvolvimento da cidade no período colonial. fig.07 fig.05 fig.06 5 Segundo o geógrafo Aziz Ab’ Saber 6, mais tarde, no final do século XIX, a burguesia industrial paulista percebeu que haviam terras secas, próximas da várzea do Tamanduateí, para a construção das indústrias e da ferrovia. As moradias dos operários, no entanto, localizaram-se em bairros situados nas várzeas dos rios Tamanduateí e Tietê. Segundo Caio Prado 7, os bairros operários permaneceram nas áreas baixas da cidade ao longo da ferrovia e, no processo de urbanização da cidade de São Paulo, verificou-se o deslocamento paulatino das classes dominantes para as áreas mais altas até atingirem o espigão da avenida Paulista, seguindo em direção à região da várzea do rio Pinheiros no vetor sudoeste da cidade. O estudo da história da cidade possibilitou identificar o momento histórico em que surge o desenho da configuração atual do bairro da Mooca e perceber elementos de permanência até os dias atuais, como o traçado das vias e o parcelamento do solo e outras estruturas, em diferentes momentos, como a localização das indústrias, o traçado de um antigo projeto de metrô 8, as sucessivas retificações do rio Tamanduateí e o parcelamento das chácaras que originaram os bairros da Mooca, do Cambuci e do Ipiranga. O surgimento da metrópole e os bairros antigos A metrópole paulistana apresentava-se consolidada no século XX, na década de 60. Nesse período, o bairro da Mooca já exibia o parcelamento e ocupação do solo definidos em relação ao Parque Dom Pedro e ao rio Tamanduateí. Esse processo de consolidação aconteceu num espaço curto de tempo, acompanhado de grandes obras viárias e de uma fragmentação dos bairros operários ao longo do rio Tamanduateí e da ferrovia. Esses bairros permaneceram como local de moradia, incrustados no centro da metrópole e mantiveram boa parte das suas características originais quanto à sua tipologia de ocupação 9, que pode ser encontrada no exame da cartografia antiga da cidade. Na década de 30, a Avenida do Estado já existia e havia continuidade entre os bairros da Mooca, Brás e Cambuci 10, mas, não existiam ainda as avenidas radiais, previstas no Plano de Avenidas de Prestes Maia 11. A paisagem da avenida do Estado era formada por densa arborização e fazia parte do projeto de retificação do rio Tamanduateí. Essa paisagem, que durou até a década de 70 se assemelhava à ambiência dos canais da cidade de Santos, projetados por Saturnino de Brito. A construção da avenida Radial Leste, na década de 50, é um marco na estrutura viária da cidade de São Paulo. A partir daí, consolidou-se um tipo de intervenção viária cujas conseqüências foram a interrupção da ligação entre bairros vizinhos e interferência na funcionalidade e acessibilidade da cidade, prevalecendo em seu uso, o tráfego de passagem, por caracterizar-se como barreira física de grande porte. 6 fig.08 O Plano de Avenidas de Prestes Maia consolidou a construção de avenidas de fundo de vale que resultaram numa abordagem urbanística, onde a cidade, definitivamente, voltou as costas para seus rios mais importantes. Até então nossas várzeas eram extensamente ocupadas pelas águas que exigiram medidas de saneamento, mas, se prevalecesse uma visão ambiental, paisagística, e não apenas rodoviarista, o projeto teria sido outro e os rios estariam integrados na vida urbana. Até a década de 40, havia continuidade entre os bairros do Brás, da Mooca e do Cambuci que formavam uma borda única no centro da cidade. Eram bairros distintos que tinham uma forte relação de vizinhança pela convivência solidária entre seus moradores que, na sua maioria, eram imigrantes. As grandes obras viárias quebraram essas relações e, talvez, ao lado do empobrecimento da população, tenham sido o principal fator da degradação física desses bairros com o aumento da poluição do ar e sonora. A expansão da cidade no século XIX e primeira metade do século XX criou a necessidade de ligação do centro com as indústrias e com os bairros operários e, conseqüentemente, a expansão dos meios de transportes. Primeiro surge o carro de praça, depois o bonde, que na década de 50, já possuía 140 quilômetros 12 de linha. A implementação da infra-estrutura urbana, no entanto, não acompanhou a velocidade do processo de urbanização de São Paulo e a opção pelo uso do automóvel, criada pela instalação da indústria automobilística no Brasil, reforçou o urbanismo rodoviarista em detrimento do transporte de massa. A consolidação do desenho urbano da Mooca, a fragmentação e processo de degradação urbanos Em 1910, conclui-se o parcelamento do bairro da Mooca que surgiu da divisão das antigas chácaras. Observa-se ainda hoje, algumas das principais características da formação do desenho urbano original do bairro. A cartografia da cidade, da década de 309 já mostrava o adensamento e o parcelamento já configurados e uma série de construções que existem até hoje. As casas do arquiteto Gregori Warchavchik na rua Barão de Jaguara foram construídas em 1929 e foi o primeiro conjunto de casas em série do arquiteto na cidade. Na década de 50 13, completa-se a subdivisão dos lotes do bairro e a construção da avenida Radial Leste até a rua Piratininga. Os conjuntos de casas em série e a maioria das 20 vilas ainda existentes no local, permanecem com uso residencial, sendo que, algumas encontram-se encortiçadas, e outras ainda se mantém com uso unifamiliar e a qualidade construtiva do projeto original. O bairro possui poucos equipamentos públicos: uma escola estadual de primeiro e segundo grau, construída em 1946 pelo antigo DOP; uma creche e um hospital municipais. A rua da Mooca surgiu como uma variante para a região leste, ainda no período colonial, a partir da 7 rua Tabatinguera, seguindo pela rua da Figueira e depois tornando-se o chamado “Caminho da Mooca”. O trajeto delimitaria definitivamente o bairro, que mantém até hoje, o seu traçado original como a via urbana mais antiga em direção ao sudeste da cidade. A avenida do Estado, um dos limites da área, caracteriza-se como uma via de tráfego intenso, que degrada o seu entorno. A partir de 1995, as desapropriações de imóveis para a implantação do VLP - “Fura Fila” - estão causando impacto no uso do solo da área, com a aceleração do processo de degradação. A acessibilidade ao bairro da Mooca é realizada pelo complexo viário Leste Oeste e pela avenida Radial Leste mas, é truncada em direção ao centro e no sentido norte sul, e o bairro fica enclausurado dentro dos limites da ferrovia, da Radial Leste, da avenida do Estado e dos viadutos que circundam o Parque Dom Pedro. O uso misto do solo, de habitação, serviços e indústrias, foi possivelmente o fator de manutenção da característica de parcelamento do bairro, provavelmente, pela proximidade da oferta de empregos, predominantemente industrial num primeiro momento e serviços posteriormente. Algumas indústrias, como a Antártica de bebidas, ainda funcionam na região. Uma metodologia possível para o projeto urbano de revitalização de bairros históricos Esta proposta de requalificação do bairro da Mooca baseia-se em três eixos prioritários: a memória do bairro; a recuperação do rio Tamanduateí; e a convivência do local de moradia com o local de trabalho. O momento atual de São Paulo é de recuperação da cidade, não mais de sua expansão. Nesse sentido, o resgate da memória da cidade poderá se constituir num forte elemento de integração e recuperação de sua qualidade de vida, o que significaria a humanização da metrópole. A urbanização atual da cidade atingiu, na década de 90, taxas de crescimento da ordem de 1,1%, o que indica uma consolidação desse processo, semelhante ao crescimento das metrópoles dos países desenvolvidos. A dinâmica atual de crescimento populacional mostra o aumento da população dos municípios vizinhos e um deslocamento maior para a periferia urbana, mas não o crescimento da capital. Esses índices nos fazem refletir sobre a forma em que se dará a recuperação da cidade, baseada numa visão urbanística de reutilização do estoque construído de edifícios já existente. A ênfase adotada pelo mercado imobiliário de expansão das novas construções e elitização das áreas já dotadas de infra-estrutura contraria o atual processo de urbanização e continuará a gerar áreas ociosas e “vazios urbanos construídos”. Daí a importância que assume a preservação da memória urbana com uma nova visão de aproveitamento dos espaços já construídos. 8 construídos. Dentre os aspectos históricos que envolvem o bairro da Mooca está a história do rio Tamanduateí que, além de circundar a colina histórica, teve uma grande importância através da história como meio de transporte e abastecimento da população no período colonial. A população em geral desconhece a importância histórica dos elementos geográficos da paisagem. O Pátio do Colégio pode ser conhecido como local de nascimento da cidade, mas não são popularizadas as razões históricas que levaram à escolha do sítio da colina para a sede da vila. O rio Tamanduateí está para a cidade de São Paulo como o rio Tietê está para o desenvolvimento do Estado de São Paulo e é chamado de “rio paulista”. Da mesma forma, o rio Tamanduateí é o “rio paulistano”, o rio que está ligado à origem da cidade. A recuperação de sua vida será o principal fator de revalorização dos bairros degradados no seu entorno. A recuperação do rio, no entanto, envolve o enfrentamento do tráfego e a desmontagem do tampão sobre seu leito. Algumas intervenções na estrutura de circulação da cidade, como a construção da avenida Jacu Pêssego, do Rodoanel e o possível uso da ferrovia para a carga da zona cerealista do Brás, podem viabilizar a desmontagem do tampão da avenida do Estado que funcionou até agora mais como obra viária, pois não conseguiu resolver a ocorrência de enchentes no local. A degradação do bairro da Mooca e sua localização na várzea do rio Tamanduateí, possibilitam a remodelação na orla fluvial tendo em visa a desvalorização do solo urbano na área, que poderá permitir a redução dos investimentos públicos para tal intervenção. A área escolhida para o projeto possui a escala de uma unidade de vizinhança, onde é possível o seu domínio através de percurso a pé, e onde a distância transversal mede cerca de 500 metros entre a Avenida do Estado e a Avenida Radial Leste e 1500 metros no eixo longitudinal entre o Parque Dom Pedro e a ferrovia. fig.09 9 As vilas operárias ou as casas em série aí localizadas são elementos permanentes da memória do surgimento dos bairros operários na primeira fase da industrialização da cidade e merecem um estudo detalhado, pois resistem há quase um século como modo de morar da classe operária. Essa tipologia de ocupação suscita uma especulação sobre que densidades de ocupação do solo deveriam ser adotadas nesse espaço da Mooca, próximo à colina histórica e com ocupação horizontal predominante. A verticalização excessiva da área não seria conveniente, pois esse espaço representa um grande “clarão” na área central com visuais para a Serra da Cantareira, no limite norte da cidade. As propostas para construções ou remodelação de moradias populares na área central deverão ter como objetivo fixar a população e não expulsá-la. Nesse sentido, o adensamento dos bairros é desejável, porém, não necessariamente a sua verticalização, com a abertura de novos espaços públicos que aumentem a vegetação e a permeabilidade do solo. O processo de encortiçamento favorece o remanejamento de parte das edificações criando alternativas de reconstrução das áreas de moradia no próprio bairro. A preservação do patrimônio histórico na cidade de São Paulo não tem conseguido livrar-se da pressão da especulação imobiliária, que induz os governantes a uma visão voltada predominantemente para a valorização dos monumentos, e encontra resistência para a preservação da história do espaço e do cotidiano da sua população. Uma abordagem que envolva questões sociais, relacionadas com as condições de moradia da população de baixa renda na área central, é um instrumento para realizar políticas públicas na área de preservação e recuperar os espaços de valor histórico degradados. Os projetos de revitalização dos bairros de origem operária devem destinar-se à população moradora, que saberá valorizar e receber essa herança como legado da memória da cidade. Esses bairros têm o significado de resistência no seu desenho na história da cidade e na história da luta dos trabalhadores de São Paulo, com eles está a perspectiva de mudança na reconstrução da cidade de forma emancipadora nos conceitos da vida urbana, de uma nova sociedade mais solidária e justa socialmente. 10 Notas 1. SEHAB Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano da PMSP. 2. GOMES, José Cláudio Notas da disciplina Atelier de Projetos Urbanos, ministrada no segundo semestre de 1996 na Pós Graduação da FAUUSP. 3. PRADO JúNIOR, Caio. Evolução Política do Brasil e Outros Estudos. A cidade de São Paulo. Geografia e História. O Fator Geográfico na Formação e no Desenvolvimento da Cidade de São Paulo. Contribuição para a Geografia Urbana da Cidade de São Paulo - Publicado e Geografia (órgão da AGB), n.º 3, set. 1935, 4ª ed., São Paulo, Brasiliense, 1963. pg. 95 a 146. 4. BRUNO, Ernani da Silva. História e tradições da cidade de São Paulo. Rio de Janeiro, José Olympio, 1954. 3 vol. 5. PETRONE, Pasquale. Aldeamentos Paulistas. São Paulo, Edusp, 1995. 6. AB´SABER, Aziz. Originalidade do sítio da cidade de São Paulo. Revista Acrópole n.º 295,ano XXV, pg. 205 São Paulo, Max Gruenwald & Cia, junho de 1963 7. AB´SABER, Aziz. Op. cit. 8. PRADO JÙNIOR, Caio. Op. cit. 9. SESSO JR., Geraldo. Retalhos da Velha São Paulo. 4ª ed. São Paulo, Maltese, 1985. 10. ACRÓPOLE, Revista. n.º 295, ano XXV, São Paulo, Max Gruenwald & Cia, junho de 1963 11. Mapa Topográfico do Município de São Paulo, SARA BRASIL S/A, 1930. 12. MAIA, Francisco Prestes. Estudo de um Plano de Avenidas para a cidade de São Paulo São Paulo, Melhoramentos, 1930. 13. Levantamento Aerofotogramétrico do Município de São Paulo, VASP S/A e CRUZEIRO DO SUL S/A, 1954. 14. idem, nota 9. 15. idem, nota 11. 11 Capítulo I A opção pelas áreas históricas 12 1. A escolha do objeto de estudo A cidade consolidou seu perfil industrial com a presença da mão de obra imigrante e, a partir daí, viria a ser a maior metrópole da América Latina. O fato do bairro da Mooca ter sua origem no final do século XIX, como bairro operário e com características diferentes dos bairros ocupados pela classe dominante, configurou-lhe aspectos urbanísticos peculiares que permanecem até hoje. Ao longo de sua história de ocupação, e apesar da infra-estrutura existente e da proximidade com o centro da cidade, não houve interesse dos agentes imobiliários em atuar no bairro, em função de sua característica original como bairro operário. O bairro manteve as funções do morar e trabalhar integradas na mesma localidade, o que preservou suas características. A sua localização, a presença de imóveis ociosos de grandes dimensões e a existência de moradias precárias em cortiços colocam essa área em posição de interesse para projetos de recuperação e requalificação do espaço urbano. Nesse sentido, interessa perceber quais são os elementos de permanência, os usos historicamente vigentes na Mooca, o significado desse lugar para a cidade e para seus usuários e para resgatar valores que, através dos espaços construídos e seus usos, contribuam para a memória coletiva urbana. As alternativas possíveis de projetos de moradia popular devem atender os moradores de cortiços, no sentido de fixar essa população na área central e a tendência de mudança de perfil de São Paulo, de cidade industrial para cidade de serviços, deve ser considerada para a possibilidade de reciclagem das antigas construções fabris dos bairros centrais. A preservação dos espaços históricos, que seriam descaracterizados ou eliminados se deixados ao sabor do mercado imobiliário, poderá ocorrer com um programa de moradia de interesse social público que enfoque a preservação da memória do espaço cotidiano O trecho estudado apresenta elementos da estrutura urbana da área central com situações típicas que merecem investigação: ocupação urbana em várzea; existência de edifícios de valor histórico, sistema viário como barreiras físicas entre bairros, e a presença da ferrovia ladeada por extensas áreas industriais Algumas áreas e edifícios históricos de interesse cultural compõe um envoltório num raio de aproximadamente dois quilômetros da área de estudo: o Palácio das Indústrias e a Casa das Retortas no Parque Dom Pedro II; o Pátio do Colégio na Colina Histórica; a rua do Gasômetro; a “Estação do Norte”; o Museu do Ipiranga; as vilas operárias e os antigos galpões industriais ao longo da ferrovia; a antiga Hospedaria dos Imigrantes; as paróquias da região e suas festas tradicionais de San Gennaro, São Vito, Nossa Senhora de Luque, na Mooca, Pari e Brás respectivamente. Os aspectos históricos e territoriais da Mooca favorecem a reflexão e a elaboração de premissas para projetos de requalificação nos bairros centrais como por exemplo: 1. foi um dos primeiros bairros operários criados a partir da construção da ferrovia e do desenvolvimento industrial da cidade; e ainda possui perfil de bairro popular; 2. apresenta uso do solo misto, residencial associado à indústria e aos serviços; há interesse da 13 população de baixa renda em residir próximo à área central em função da oferta de empregos; 3. apresenta transformação de parte das residências unifamiliares em cortiços, com alta densidade de ocupação e baixa oferta de equipamentos públicos ou espaços livres de lazer; 4. verifica-se a decadência das edificações e dos espaços públicos (basicamente as ruas); 5. há dificuldade de acessibilidade apesar da proximidade com o Centro; 6. inúmeros exemplos de vilas operárias existem no bairro e também o primeiro conjunto arquitetônico de moradias em série de autoria do arquiteto Gregori Warchavchik; 7. influência da imigração italiana na formação do bairro; 8. possibilita a pesquisa da inserção de projetos novos em áreas históricas; 9. localização na várzea do Tamanduateí; bairro pouco verticalizado; e presença da ferrovia como alternativa de acessibilidade por transporte de massa. Referências Urbanas 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. 29. Praça da Sé Páteo do Colégio Palácio das Indústrias Casa das Retortas Teatro Municipal Biblioteca Mário de Andrade Praça das Bandeiras Ladeira da Memória Câmara Municipal Praça da República Estação da Luz Masp Estádio do Pacaembu Hospedaria dos Imigrantes Largo da Concórdia Jardim da Luz Pinacoteca Parque da Independência Museu Paulista Parque Trianon Pavilhão Anhembi Hospital das Clínicas Parque da Aclimação Parque Dom Pedro II Faculdade de Direito - Largo São Francisco Correio Central Mosteiro de São Bento Mercado Central Páteo Ferroviário do Pari Santa Casa de São Paulo Vila Penteado FAU Maranhão Parque do Ibirapuera Legenda Parques Áreas Históricas de Referência Centro “Coração da Cidade” Vias de Tráfego Intenso Linhas de Metrô Rios Ferrovias fig.01 14 fig.02 15 2. Morar em áreas históricas A cidade de São Paulo caracteriza-se por uma constante superposição de tecidos urbanos diferenciados que substituem construções antigas por novas, sem estabelecer vínculos com as diversas gerações que construíram a cidade. A cada nova etapa do desenvolvimento econômico e social, novas funções urbanas foram inseridas nos bairros mais antigos e centrais 1. Áreas que antes abrigavam moradias para as camadas sociais de maior poder aquisitivo assumem novos usos e modificam-se com planos urbanísticos de diferente natureza, obras viárias, de drenagem, canalizações de rios, construção de praças, de edifícios públicos e de infra-estrutura como as estações de energia ou de abastecimento de água. Assim, os antigos moradores deslocam-se para outras áreas e deixam o espaço “desvalorizado” para os que chegam. A área de moradia das classes dominantes, ao longo de nossa história, desloca-se para o vetor sudoeste da cidade junto com as suas atividades econômicas e as estruturas institucionais do poder público 2. Esta lógica está presente nas cidades do mundo capitalista, onde a burguesia vive em espaços segregados e mantém o controle sobre a cidade, prevalecendo os interesses conjunturais dos grupos que se encontram no poder. Os projetos de recuperação de bairros antigos nos remetem a abordar vários problemas: a dinâmica histórica que levou aquela área da cidade a se deteriorar; a identificação dos espaços deteriorados; pesquisa das características físicas e de uso da área anteriores ao processo de degradação; a forma atual do processo de degradação; o interesse na recuperação dessas áreas e, por último, a formulação das diretrizes para projetos de recuperação. As respostas a esses problemas nortearão a visão de projeto segundo o ponto de vista dos cidadãos interessados na transformação de uma determinada parte da cidade. Esse tipo de projeto envolve necessariamente o poder público local, pois a escala de intervenção inclui alterações da legislação urbanística e instrumentos de acesso à terra. O objeto de estudo é a cidade e não o espaço intrínseco à propriedade privada. fig.04 16 fig.03 fig.05 17 3. Possibilidades de redesenhar o espaço de morar e preservar a memória Os estudos desenvolvidos como possibilidades de projeto para se redesenhar o bairro da Mooca se basearam nas seguintes premissas: 1. O espaço de morar é mais amplo que a própria casa, a cidade é o principal. 2. Preservar os elementos de permanência na estrutura do bairro ao longo de sua história: vilas, ruas e fábricas. 3. Propor a criação de espaços para desenvolver programas relacionados à preservação da memória do bairro e da cidade: museus, bibliotecas, teatros, memorial, oficinas de restauro. 4. Identificar e aproveitar os espaços potencialmente aproveitáveis para novos usos: miolos de quadra, cortiços e antigos galpões industriais. 5. Projetar equipamentos públicos como espaços de articulação e de recuperação dos espaços existentes. 6. Melhorar a acessibilidade da área e requalificar as principais vias estruturadoras: Avenida do Estado, Radial Leste, Presidente Wilson e a ferrovia. 7. Reaproveitar edifícios existentes na área para novos usos: uso habitacional, de equipamentos e serviços. 8. Desenvolver projetos habitacionais para atender os atuais moradores de cortiços. Uso do solo em perspectiva 18 Relevo em perspectiva Área do Projeto Antártica 19 3.1. Preservar as vilas e as casas em série A estrutura existente do bairro da Mooca mantém-se desde a década de 30 do século XX com o mesmo traçado das ruas e do parcelamento do solo. Permanecem as vilas operárias ainda com uso habitacional, na sua maioria, e as casa em série projetadas como moradia operária. Destacam-se as casas projetadas e construídas por Gregori Warchavchik em 1929, situada s na rua Barão de Jaguara. Alguma estrutura fabril também se mantém no bairro, apesar da mudança gradativa de uso. Esses espaços representam a memória da atividade industrial da primeira metade do século XX, quando São Paulo iniciou seu papel de maior pólo industrial do país, portanto, devem ser preservados e reutilizados para abrigar usos dinâmicos da cidade. Promover o restauro das edificações. Destaque das vilas na Área 20 Vila Regina na Rua Oscar Horta Vila na Rua Ana Ney Casas em série na Rua Andrade Reis Vila Alvarenga 21 3.2. Criação do Memorial da Greve de 1917 O Memorial da Greve de 1917 foi proposto para abrigar atividades culturais relacionadas à memória da classe operária na cidade de São Paulo e de acontecimentos históricos correlatos. O local escolhido é o entroncamento da ferrovia com a rua Mooca, pois foi neste local, na porteira da Mooca, que morreu um operário nos confrontos com a polícia durante a greve de 1917, e que gerou um grande cortejo que saiu dos bairros operários pela cidade, para acompanhar seu enterro até o cemitério do Araçá. A proposta inclui um teatro, uma biblioteca pública, salas para exposições. Desse local sai um edifício ponte sobre a ferrovia para permitir o acesso do memorial à Hospedaria dos Imigrantes, do outro lado da ferrovia, na rua Visconde de Parnaíba. Nesse edifício estariam localizados bares, cafés, pequenas lojas, livrarias e um pavimento de escritórios. Ao lado do memorial na borda da avenida Radial Leste propõe-se a demolição de alguns imóveis para criar um afastamento da agitação da avenida e preservar o espaço do pedestre. Praça do Memorial Vista em planta do Memorial 22 Vista aérea Rua Patrimônio de Mônaco- vista aérea Rua Patrimônio de Mônaco - vista frontal 23 Lateral do Viaduto da Mooca 3.3. Criação da Oficina do Jovem Historiador A oficina do historiador foi idealizada para abrigar programas voltados para a juventude que cultivem o interesse pela cidade, sua memória e preservação. O espaço inclui um teatro, salas para cursos de história e de artes e uma oficina de restauro. Estes programas têm a finalidade de envolver os jovens do bairro em atividades culturais, dar formação especializada e afastá-los do tráfico de drogas. O local escolhido foram três edifícios degradados e encortiçados, na rua Dom Bosco, mas, que possuem um interessante desenho e que merecem ser recuperados, modificando-se o seu programa interno. A localização é o entroncamento com a rua onde se realiza a Festa de San Gennaro, espaço já de referência como área cultural. Croquis 1 do Teatro Estudo de reconstituição da fachada da Oficina do Jovem Historiador Vista Central Vista frontal esquerda 24 Vista frontal direita 3.4. Projeto de conjuntos habitacionais de pequeno porte e de equipamentos públicos Verifica-se que existem espaços ociosos no miolo das quadras, característicos dos bairros mais antigos da cidade. Esses espaços podem ser incorporados em um novo desenho urbano, que os transformem em espaços públicos, destinando-os para atividades mais sossegadas fora do agito das ruas, que se constituem no único espaço de lazer do bairro. Há vários imóveis encortiçados ao lado de edifícios de médio porte fechados, que poderiam ser reaproveitados como pequenos conjuntos habitacionais nas áreas mais altas do bairro. Os edifícios para abrigar equipamentos públicos deverão ser projetados como elementos articuladores dos espaços públicos e privados, e, desenhados dentro de um novo conceito em que possam ser inseridos dentro do espaço destinado para a habitação, em parte pela escassez de terrenos livres na área, mas principalmente porque há uma tendência cada vez maior para que a comunidade participe da gestão desses equipamentos. Projetos de centros educacionais infantis, escolas de ensino fundamental, teatro, biblioteca e museus. Criação do Memorial da Greve de 1917, criação da Oficina do Jovem Historiador. Conjunto Habitacional integrado com equipamento social Miolo de quadra livre na Rua Barão de Jaguara Destaque para o Uso Habitacional 25 “Fábrica 5”- depósito recuperado para lazer Principal escola do bairro na Rua da Mooca Cortiço na Rua da Mooca 26 Depósitos fechados na Rua da Mooca 3.5. Redesenhar a avenida do Estado, tirar o tampão do rio Tamanduateí. A acessibilidade da área está comprometida hoje com barreiras físicas constituídas pelas grandes avenidas que circundam a área e por isso sua requalificação é essencial para diminuir o processo de degradação e decadência do bairro. A avenida do estado deve ser redesenhada para recuperar o rio Tamanduateí e aproximar novamente os bairros vizinhos do Cambuci, Sé e Ipiranga. Imóveis degradados de pequeno porte ao longo da avenida seriam demolidos e transformados em áreas verdes para aumentar a permeabilidade do solo. A proximidade com o centro da cidade e a geografia da várzea permitem pensar na alternativa de criação de ciclovias ao longo do eixo do rio e ligando a estação da Mooca com o centro e estação do Brás. No caso da avenida Presidente Wilson, seria interessante a criação da ciclovia e aumento das calçadas para melhorar o acesso a pé às estações de trem e Metrô do Brás. A arborização deve ser intensificada em toda a área, não só como fator de conforto ambiental, mas, para contribuir na absorção das águas pluviais. A avenida Radial leste, pela sua extensa largura, permite que se enfatize o espaço do pedestre e de ciclovias segregadas. O projeto do “Fura-Fila” deverá ser reformulado para se inserir no novo desenho da avenida. Tampão da Avenida do Estado Avenida do Estado- Situação atual Avenida do Estado- Estudo de requalificação 27 Radial Leste-sentido centro Rua Patrimônio de Mônaco - acesso a Estação do Brás Radial Leste- sentido Leste 28 Estudo-Avenida do Estado 3.6. Projeto Antárctica A área hoje ocupada pela antiga fábrica da Antárctica encontra-se em processo de transição com a desativação das atividades anteriores. É uma extensa área com grandes espaços vazios, alguns edifícios demolidos e, sendo utilizada hoje, apenas como depósito. Situa-se na avenida Presidente Wilson e chega até a avenida do Estado. Foi escolhida como a principal área de projeto para redesenhar o bairro. Propõe-se um plano de ocupação com conjuntos habitacionais, cujo desenho resgate o desenho de páteos internos, semelhante às vilas existente na área e sem recuo frontal como é a principal característica do parcelamento do bairro. O estudo propõe resolver parcialmente a drenagem local com a criação de um mini “piscinão”, aproveitável como área de lazer e esporte no período de estiagem. O sistema viário foi alterado com a ligação da rua Ana Nery até a rua João Alfredo, com o intuito de aproximar o bairro da estação de trem. Cria-se um viário local para acessar os conjuntos habitacionais e separar do equipamento de drenagem. Na área do prédio principal da Antárctica deverão ser preservados os edifícios existentes, e, indica-se que a Subprefeitura da Mooca venha a ocupá-lo pela sua localização estratégica junto à ferrovia. Alguns edifícios seriam mantidos para escritórios e serviços, lojas e cinemas. Na frente para a rua da Mooca propõe-se o alargamento da calçada e a construção de grandes espaços para depósitos, lojas e edifícios comerciais ou de serviços. Vista aérea geral-Rua da Mooca Vista do Memorial da Radial Leste 29 Vista aérea Norte-Sul Vista Aérea Leste-Oeste 1 2 3 4 Edifícios residenciais 6 pavimentos “Piscinão” – equipamento de drenagem Praça da Estação/escola Edifícios de escritórios 5 6 7 8 Edifícios residenciais/equipamento social/edifícios comerciais Memorial da Greve de 1917 Estação da Mooca Oficina do Jovem Historiador 30 Rua da festa do rio 11 Subprefeitura 12 Escritórios, cinemas e lojas 13 Ligação bairro-estação 9 10 Abertura fig.54 Estudo final de ocupação 31 Croquis 1 32 Croquis 2 Croquis 3 33 Croquis 8 34 Croquis 4 Croquis 5 Croquis 6 35 Croiquis 7 3.7. Praça da Estação da Mooca Propõe-se a requalificação da área de entrada da Estação da Mooca com a demolição de pequenas construções que hoje abrigam lanchonetes, para permitir o aumento da visibilidade da estação e a construção de um “deck” de madeira para abrigar mesas de café. Propõe-se a preservação dos prédios existentes e renová-los com o uso de restaurantes, bares, cafés, salas de exposições e quadra coberta. A recuperação é urgente, pois, se encontram abandonados e sem o telhado. Este local seria a sala de espera da estação. Em frente à estação, na rua Presidente Wilson abrir-se-ia uma praça para feiras de artesanato e comércio ambulante, seria o local do ponto de ônibus e bicicletário. 36 Vista aérea da Praça da Estação 37 Croquis da Rua da Estação 38 3.8. A Rua - Praça da festa Na rua de San Gennaro, todos os anos, acontece a tradicional festa italiana de San Gennaro, mas em condições precárias. Propõe-se que a rua seja transformada num calçadão, arborizada e iluminada adequadamente para o uso como praça e, fora da época da festa, possa abrigar feiras de artesanato aos domingos. Rua da Festa e Oficina do Historiador- Croquis 39 3.9. Recuperação da ferrovia A recuperação da ferrovia é essencial para acessibilidade da área e como meio de transporte para longas distâncias. O novo projeto deverá incluir projeto de drenagem urbana em toda a sua extensão. Ferrovia Estação da Mooca 40 Notas 1. TOLEDO, Benedito Lima de. São Paulo: três cidades em um século. 2ª ed. São Paulo, Duas Cidades, 1983. 2. VILLAçA, Flávio. Espaço intra - urbano no brasil. São Paulo, Studio Nobel: FAPESP: Lincoln Institute,1998. 41 Capítulo II O lugar da Moóca na história da ocupação da cidade de São Paulo 42 1. Aspectos da história da formação da cidade de São Paulo A história das constantes mudanças da ocupação urbana do centro de São Paulo é a história dos deslocamentos de setores da população de áreas antigas para áreas mais novas. Segundo o arquiteto Luís Saia 1, entre todas as cidades do Estado de São Paulo, apenas vinte e nove não surgiram em função da economia do café. São Paulo foi uma delas, embora sua atual configuração metropolitana tenha sido resultado do quadro econômico - social criado em função da cultura do café. Os primeiros colonizadores assentados no litoral, preocupados com a exploração mercantilista da Colônia, buscaram outro sítio para a capital da província tendo em vista o intento frustrado de encontrar ouro e pau-brasil em São Vicente, Santos e Itanhaém. Defrontaram-se com duas alternativas: a vila de Santo André da Borda do Campo, o núcleo de João Ramalho; e os “Campos de Piratininga”; localizado num sítio mais satisfatório e mais adequado para a ocupação. A tese da opção por São Paulo, defendida pelos jesuítas, baseou-se na experiência indígena de ocupação de terras. Mas, durante o seu primeiro século de existência, São Paulo disputou com São Vicente a fixação da sede da capitania. A presença dos índios dificultava a ocupação do planalto. No litoral as dificuldades maiores eram as terras formadas por mangues, imprestáveis para agricultura, e o ataque de piratas 2. Os campos de Piratininga constituíam uma enorme clareira no planalto com pouca arborização, devido aos solos pobres para a agricultura. Os índios já ocupavam esses campos de forma muito densa, mostrando que o local teria vocação para ser um “condensador demográfico” 3. Os colonos paulistas foram pragmáticos e não adotaram a idéia dos jesuítas de sacralizar a sede e nem a tese oficial de criar uma fortaleza, para eles a sede tinha outro significado: São Paulo era apenas uma sede simbólica, um território de cerca de 50 quilômetros de raio, pelo qual os senhores se distribuíam estabelecidos em residências de tipo perfeitamente característico. A cidade não possuía um edifício próprio para a Câmara, a qual abicava ao sabor das conveniências, nas casas particulares. Igrejas havia muitas na vila, como também nos estabelecimentos colonos. As da cidade, alpendradas quase todas, estavam localizadas mais conformes à feição da topografia local do que obedientes à uma idéia de participar da composição urbana 4. O poder para os colonos era medido segundo a quantidade de homens que dispunham para a atividade militar e, a possibilidade de arregimentar muitos índios para essa tarefa, estimulou a escolha pelos “campos de Piratininga”. O fator geográfico teve um papel decisivo na escolha do sítio para instalação da sede da Capitania 5. Um dos elementos que contribuiu para essa escolha foi o fato de São Paulo situar-se no melhor ponto de transposição da Serra do Mar a partir do litoral, a apenas 30 quilômetros do alto da serra. A leste desse ponto, a Serra é uma muralha contínua com altitudes acima de 900 metros, chegando a 2000 metros no Vale do Paraíba. A Oeste, a Serra atinge quase 100 quilômetros de largura com uma vegetação 43 fig.01 fig.02 densa e uma rede hidrográfica paralela ao mar, que dificultava o acesso ao planalto. O primeiro lugar do planalto, ocupado pelos colonos portugueses, foi Santo André da Borda do Campo, a Vila de Santo André. Em 1560, a sede da capitania é escolhida por Mem de Sá, então Governador Geral, que transfere o título de “vila” de Santo André para São Paulo. Depois, foi necessário pensar-se na escolha do sítio para fixar o núcleo principal e a opção foi o alto de uma colina, escolhida pelos jesuítas para instalar o seu colégio, com uma posição estratégica de defesa para evitar o ataque indígena. Esse sítio é circundado por escarpas abruptas e acessível apenas por um lado, numa altitude de 25 a 30 metros acima da planície inferior. Hoje, esse sítio é o centro histórico da cidade, chamado “centro velho”, formado pela Praça da Sé, pelo Pátio do Colégio, o Largo São Bento e o Largo São Francisco. Os campos de Piratininga tinham, para os jesuítas, outro interesse. Eles, talvez mais cedo que quaisquer outros europeus, demonstrando serem possuidores de uma extraordinária visão, perceberam o sentido estratégico desse ângulo do planalto paulista e seu papel dentro dos quadros de povoamento pré-colombiano. Perceberam a função dessa área em relação com as comunicações com o interior, em particular com a mesopotâmia paraguaia. A concentração de esforços desenvolvidos nos Campos de Piratininga não foi, em conseqüência, fruto apenas dos motivos de atração existentes na própria área. Nela os jesuítas perceberam a existência de importante ponto de apoio para a expansão para o interior, cabeça-de-ponte para as relações com a área central do continente. 6 A colina forma um espigão divisor de águas entre o rio Tamanduateí e o seu afluente, o rio Anhangabaú, de onde podia se vislumbrar um vasto horizonte. A seu pé desdobra-se a planície úmida e sem obstáculo algum de vulto que pudesse furtar à vista do observador à aproximação ou os movimentos do inimigo 7. Os rios Tietê e Tamanduateí, vias naturais de comunicação e situados no centro do sistema hidrográfico da região, criaram uma situação privilegiada de acessibilidade para São Paulo. Tanto o Tietê, cuja várzea se aproximava muito da colina histórica antes de sua canalização, como o rio Tamanduateí, que corria no sopé do outeiro onde se erguia a Vila, eram navegáveis por pequenas embarcações. A via do Tamanduateí sempre foi utilizada e a atual ladeira Porto Geral lembra o tempo em que existia aí o porto onde se embarcava em São Paulo, via Tietê e as localidades de suas margens 8. Até fins do século XVI, a comunicação fluvial pelo rios Tamanduateí, calmo e cheio de meandros, e pelo rio Tietê era utilizada por todos os moradores, o padre, o negociante, o fazendeiro e as pessoas simples do povo. O rio Tietê foi responsável pelo acesso de expedições de reconhecimento e exploração do interior, as entradas e bandeiras, e pelo intercâmbio entre os populares que se estabeleceram no planalto. 44 fig.03 fig.06 fig.04 fig.07 fig.05 45 O povoamento nos primeiros tempos da capitania procurou as margens dos rios. No rio Tietê encontramos as povoações que surgiram pelo rio abaixo, como a de Nossa Senhora da Expectação do Ó, atual Freguesia do Ó, e a de Parnaíba, futura Vila de Santana de Parnaíba. Seguindo ainda rio abaixo, surgiram os povoados ao longo do rio Pinheiros e seu afluente Jeribatiba, e os povoados no vale do rio Cotia, como o aldeamento de Pinheiros, M’Boi, Itapecerica e o de Ibirapuera, hoje constituído pelo bairro de Santo Amaro. Na direção do rio acima, antes do fim do século XVI, já haviam surgido os povoados de Guarulhos, Itaquaquecetuba, São Miguel, Moji das Cruzes, São José dos Campos e o Vale do Paraíba, região fértil e principal caminho para as Minas Gerais, como também para as regiões Norte e Nordeste do país. A maior parte desses povoados originaram-se dos aldeamentos indígenas. Os campos de Piratininga conheceram desde logo o enquadramento de inúmeras aldeias indígenas no processo comandado pelo europeu, além da criação de novos aldeamentos. Consideradas as primeiras décadas dos seiscentos, os núcleos de povoamento do planalto multiplicaram-se pelos arredores do Campo, contribuindo, também, para a tessitura daquela que viria se tornar a rede urbana paulista 9. As definições de aldeia e de aldeamento possuem significados diferentes. Segundo Pasquale Petrone, as aldeias eram as tabas indígenas ocupadas espontaneamente e os aldeamentos eram aglomerados criados conscientemente com uma intenção objetiva10. Os jesuítas usavam os aldeamentos para aglutinar os indígenas num território sobre o qual tivessem controle. Outro aspecto importante que condicionou o povoamento da cidade de São Paulo foi o seu relevo. Através de toda a história colonial da capitania, São Paulo ocupa o centro do sistema de comunicações do planalto. Todos os caminhos, fluviais ou terrestres que cortam o território paulista vão dar nele e nele se articulam. O contato entre as diferentes regiões povoadas e colonizadas se faz necessariamente pela capital. O intercâmbio direto é impossível 11. São Paulo e Santos vão se tornar áreas interdependentes, a primeira seria o centro natural do planalto e a segunda teria a função de porto marítimo. Não fosse a fatalidade da Serra do Mar, estas duas funções caberiam a um só centro, que englobaria o que hoje constitui as duas cidades 12. Os cursos d’água tiveram um papel importante na formação dos aglomerados paulistas, pois os rios Tietê, Pinheiros e Tamanduateí forneciam uma parte dos alimentos da população ribeirinha 13 . Essa rede fluvial que abastecia as populações da Vila, era por outro lado, um obstáculo à ocupação do espaço devido às cheias dos rios. Por isso, as aglomerações procuravam as elevações sempre cortadas pelas várzeas e vales geralmente inundados. Desde os primeiros séculos, para se chegar ao centro da cidade era necessário a travessia de pontes sobre os rios 14. 46 Mapa geomorfológico esquemático do sítio urbano de São Paulo (Parte do mapa de Aziz Ab’Saber) 1. O Espigão Central (800 820 m) Plataforma interfluvial Tietê Pinheiros: principal remanescente da superfície de erosão de São Paulo, no interior da bacia sedimentar paulistana. Nas colinas de além - Tietê e além - Pinheiros, as plataformas interfluviais análogas estão muito mais dissecadas. 2. Altas colinas e espigões secundários esculpidos nas abas das primitivas plataformas interfluviais das colinas paulistanas (750 795 m). 3. Terraços fluviais do nível intermediário (745 750 m). Principal nível de “strath terrace” das colinas paulistanas . Plataformas interfluviais secundárias esculpidas nas abas do Espigão Central e dotados de uma tabularidade local marcante. 4. Baixos terraços fluviais dos vales do Pinheiros, Tietê e seus afluentes principais. Nível de terraços flúvio - aluviais, do tipo “fill terrace”, em geral mantidos por cascalheiros e aluviões antigos. A mapeação dos baixos terraços dos vales secundários tem um grau de precisão muito relativa. Altitude média dos baixos terraços: 725 730 m. fig.08 47 5. Planícies aluviais do Tietê Pinheiros e seus afluentes. Em geral dotadas de dois níveis aluviais: um, raso, baixo e submersível, outrora afetados por cheias anuais; outro, ligeiramente mais alto e menos encharcado, sujeito apenas às cheias periódicas. Nível médio das planícies: 720 722m. fig.09 48 O caráter da povoação foi inicialmente baseada no colégio dos padres da Companhia de Jesus e nos aldeamentos indígenas sendo que, para os colonos a vila servia de residência transitória, como também era um local para tratar de negócios, passar os fins de semana e para participar das procissões.15 Os índios não se fixavam por muito tempo e abandonavam suas casas quando estas deterioravam. As primeiras casas mais permanentes da vila foram as dos jesuítas feitas com paus e cobertas de palha. Aos poucos, fizeram-se as casas de taipa, cobertas de telhas, assobradadas em geral, que em sua maioria pertenciam aos fazendeiros que as habitavam apenas na ocasião das festas. As casas possuíam poucas janelas e tinham uma aparência branca devido ao uso da tabatinga, barro branco que existia nas encostas do vale do rio Tamanduateí, vindo daí o nome da rua Tabatinguera 16. No início do povoamento as ruas e caminhos não seguiam nenhum planejamento, apenas iam se desenvolvendo de acordo com o alinhamento das habitações construídas. Os primeiros arruamentos são a base da estrutura da povoação urbana do período colonial. A partir do Pátio do Colégio saía o Caminho Velho do Mar e os caminhos para o sertão, que articulavam os locais das igrejas e dos conventos, como as ruas Direita, em direção a Pinheiros, rua São Bento, rua XV de Novembro e rua do Carmo. O caráter pouco urbano desestimulava o planejamento dos traçados e a limpeza das ruas 17. O calçamento só começou a ser feito entre 1781 e 1784, demorando a se realizar, principalmente, pela dificuldade de trazer as pedras de outras localidades. A primeira tentativa de enxugar a várzea do Carmo resultou na retificação de uma curva do rio Tamanduateí onde, posteriormente, surgiu o largo do Hospício entre os anos de 1782 e 1786. Mais tarde, próximo a esse local, abriria-se a rua da Figueira que seria o acesso para o futuro bairro da Mooca18. fig.12 49 fig.10 fig.11 fig.13 50 Nesse momento, ampliaram-se os caminhos por terra. Nuto Santana relata que ia-se para o leste por um caminho em direção a uma ponte que teve vários nomes: Tamanduateí, Tabatinguera ou Ponte do Ipiranga, que mais tarde seria a rua do Carmo e desse local saiu uma variante da ponte que denominouse Caminho da Mooca 19, a futura rua da Mooca. No século dezessete e mesmo no começo do século dezoito, a cidade de São Paulo se limitava ao espaço contido entre os conventos, São Bento, Colégio do Carmo e São Francisco e o bairro da Tabatinguera, área conhecida como o “triângulo” e limitado a leste pelo rio Tamanduateí e a oeste pelo rio Anhangabaú 20. Em fins do século dezesseis em diante, a zona rural ou semi - rural de São Paulo de Piratininga foi se estendendo de forma considerável 21. Segundo Taunay, foi nesse tempo que se fez a discriminação mais antiga que se conhece dos bairros da cidade, o Hipiramgua, a Ponte Grande da Tabatinguera, a Birapuera, Santo Amaro e os Pinheiros. Essas chácaras, quintas, roças e sítios espalhados pelos campos, ao redor do núcleo urbano mas às vezes as distâncias consideráveis, é que constituíam os bairros a que faziam referências, uma vez ou outra, as atas quinhentistas ou seiscentistas da Câmara de São Paulo. Nessas roças viviam mesmo os moradores principais da Vila 22 . No século XVIII a descoberta do ouro em Minas Gerais e depois em Goiás e Mato Grosso fez com que São Paulo entrasse num período de certa estagnação, o que fez com que a região se despovoasse e sua agricultura entrasse em declínio. Outras regiões do país também sofreram com o deslocamento do interesse econômico da coroa portuguesa para a região das “minas gerais” e as feições agrícolas do Brasil só reapareceram no final do século XVIII com o esgotamento das minas.23 Até o ano de 1800, a ocupação urbana de São Paulo24 mantém a configuração do período anterior, apresentando apenas, como novidade, as obras do governo de Morgado Mateus. A vida urbana diminui significativamente e o movimento maior nas ruas, no século dezoito, era o das tropas de burros e das carroças que circulavam para vender água. O abastecimento da cidade de um modo geral ficou um pouco abalado nesta época de corrida do ouro para as “minas gerais”, pois muitos colonos deixaram de produzir alimentos para se dirigir para as áreas auríferas.25 O abastecimento de água era irregular. O primeiro sistema adução de água foi feito pelos frades franciscanos em 1744. A maior parte da população se abastecia nos rios Anhangabaú e no Tamanduateí que, apesar de serem águas correntes eram poluídas pela lavagem de roupas e águas servidas que escorriam para os rios a céu aberto. Em 1792 foi construído o grande chafariz no Largo da Misericórdia pelo mestiço Tebas, conhecido construtor responsável por várias torres de igrejas 26 . Esses aspectos da história de São Paulo permitem visualizar que o tempo necessário para construir as características da metrópole atual foi muito curto e, alguns desses aspectos, principalmente os de fatores geográficos, estavam embrionariamente na estrutura de ocupação do sítio escolhido para a sede 51 fig.14 52 da Província, e que fizeram da cidade um entroncamento de comunicações entre o litoral e o interior através do planalto. Nos primeiros séculos de nossa colonização, os limites geográficos entre os diversos aldeamentos e a sede da Vila estendiam-se por um raio de 50 quilômetros, e abrangiam um território que hoje eqüivale à maior parte da área ocupada pela metrópole. Outro exemplo, é a organização espacial de algumas atividades econômicas na cidade, que se mantiveram no mesmo local dos primeiros estabelecimentos comerciais. As “casinhas” do comércio de alimentos próximas ao Pátio do Colégio localizaram-se em ruas que, ao longo dos séculos, parecem não querer perder a vitalidade. A Ladeira Porto Geral lembra através do seu nome, que houve um porto fluvial importante nas suas imediações do rio Tamanduateí. Essa rua concentra ainda hoje um afluxo de pessoas que se dirigem do centro da cidade para o terminal de ônibus localizado no Parque Dom Pedro II, que mantém o caráter de terminal de transporte. No período da mineração, mesmo com a relativa estagnação da cidade, São Paulo vai aos poucos concentrando todas as funções de uma Capital, como centro político, administrativo, social e cultural.27 Essas funções não dependem do tamanho da povoação e de sua densidade demográfica, mas sim do papel que esse local exerce na articulação de diversos locais e de outras funções. São Paulo, nesse sentido, desenvolveu um papel de supremacia, como escreve Caio Prado, trazendo para si uma série de dependências e inter-relações, praticamente de todo o espaço nacional, como centro de uma rede de comunicações geográficas primeiramente, e depois centro produtor e consumidor, do qual dependia em boa parte a vida econômica do país. Nesse sentido, o início do século XIX marca um período novo na reorganização da economia paulista e o processo de colonização toma o rumo do oeste, mas a capital conserva sua posição central e continua a ser o ponto de onde se fazem as comunicações com o interior. Segundo o arquiteto Nestor Goulart Reis Filho: No início do século XIX todos os portos do litoral e todas as cidades do planalto junto à serra tinham papéis semelhantes. Esse quadro foi profundamente alterado a partir de 1867. A implantação da ferrovia alterou as relações de poder na Província de São Paulo, criando uma nova geografia. Havia então uma nova articulação dos caminhos, favorecendo decisivamente o papel do eixo Santos - São Paulo - Campinas. Essa configuração explica o crescimento de São Paulo. Essa polarização sofreu alguma competição no início da Primeira República, mas a manutenção do monopólio da São Paulo Railway favoreceu os grupos econômicos já definidos. A presença de investimentos importantes em obras no eixo Santos - São Paulo - Campinas não é uma simples coincidência28. A ferrovia teve um papel fundamental no crescimento da cidade de São Paulo, como também de quase todas as cidades do Estado. Até sua construção, a maior parte da população vivia no meio rural. 53 fig.15 fig.16 fig.17 fig.18 fig.19 fig.20 fig.21 fig.22 54 As ferrovias redefiniram as relações no espaço e permitiram o aparecimento de graus significativos de concentração em alguns pontos. Mas os primeiros passos não foram simples. Em São Paulo, no século XIX, a grande dificuldade para o desenvolvimento do interior era vencer a Serra do Mar. Os planos vagos e os projetos bem fundamentados para construção de estradas ligando o interior com Santos chocavam-se sempre contra a mesma barreira, a da Serra do Mar. As terras férteis, produtoras de riquezas como o açúcar e o café, ficavam no interior, no planalto, a pelo menos 700 metros de altitude e difíceis de serem transpostas 29. A partir da inauguração da ferrovia São Paulo Railway, em 1867, conhecida como a Inglesa ou futura Estrada de Ferro Santos Jundiaí, e do desenvolvimento da economia cafeeira, a cidade de São Paulo conheceu uma transformação surpreendente na sua configuração espacial. Primeiro porque a ferrovia permitiu o acesso a áreas distantes dos arredores paulistanos e com fluidez aos deslocamentos da população. Depois, porque os fazendeiros de café passarão a ter uma nova relação de uso com a cidade, não mais como local de festas ou de férias, mas para fixar suas residências em função da proximidade com o porto de Santos e como nova área de negócios para o rico comércio do café. A partir de 1870, através da ferrovia, verifica-se o crescimento do comércio de produtos importados consumidos pelas elites ligadas à economia do café. As mudanças nas feições de São Paulo são assim descritas por Maria Cecília Naclério Homem, Do aglomerado urbano, concentrado na colina histórica onde se dera a fundação da cidade, viam-se os caminhos, os campos, os casebres e as chácaras a ultrapassar as várzeas dos rios Tamanduateí e Anhangabaú, que circundavam o promontório, para se perderem no azul das montanhas e do horizonte. Sua arquitetura conservadora manteve até 1873 as rótulas, os postigos e as cancelas, característicos da arquitetura colonial, quando foram proibidas pelo Código de Posturas, que impôs a sua retirada. Com a passagem da economia de subsistência para a de grande exportação, baseada na monocultura do café, é que São Paulo se abriu pela primeira vez de modo direto para o mundo exterior, entrando na chamada divisão internacional do trabalho, liderada pela Grã - Bretanha. Em troca da colocação do café no mercado internacional, São Paulo deveria adquirir bens industrializados, matérias-primas, manufaturas, máquinas para a lavoura e a indústria nascentes, etc. 30. Nesse período surgem as primeiras fábricas e o antigo núcleo colonial se expande para atender o crescimento da população urbana, com a imigração subvencionada pelo Estado e a abolição da escravatura. Segundo Maria Ruth Sampaio do Amaral31, o governo em 1893, em seu relatório em que inspecionou as condições dos cortiços no distrito de Santa Efigênia, estimula que se produzam habitações fora do centro com a participação da iniciativa privada através de incentivos. No final do século XIX e até a década de 20, a habitação popular concentrava-se em alguns bairros vizinhos ao centro ao redor dos caminhos de saída da cidade, próximos às fábricas e das ferrovias e nas várzeas dos rios onde os terrenos eram mais baratos e assim as chácaras mais próximas do centro foram centro foram sendo loteadas. Predominaram as casas de aluguel. Parte dos recursos dos loteadores veio do excedente da produção do café, que também aplicavam em especulação de terrenos, negócios de 55 fig.23 fig.24 fig.25 material de construção por ser um negócio seguro, sem riscos. A paisagem dos bairros operários foi marcada pelas casas em série, sem jardim, geminadas, pela presença das fábricas e dos armazéns, e pela ferrovia com suas porteiras e passagens de nível. Enquanto isso, a classe dominante seguia a trajetória das terras altas, indo dos Campos Elíseos, Higienópolis em direção à avenida Paulista. E a classe média se fixou nas encostas do espigão da Paulista. A partir de 1930, a cidade já se configurava como grande centro administrativo e financeiro que dava suporte a outras atividades urbanas. A região da Mooca, segundo ainda Maria Ruth Sampaio do Amaral, teve logo sua expansão para além da ferrovia, com a criação da Companhia Imobiliária Parque da Mooca, já em 1912, pertencente à família Paes de Barros que promoveu o loteamento do Sítio das Pedrinhas, e posteriormente criou os bairros do Alto da Mooca, Parque da Mooca e parte da Vila Prudente. fig.26 56 fig.27 57 fig.28 fig.29 fig.30 fig.31 fig.32 fig.33 58 Em 1925 grandes companhias como a ESSO e a FORD compram glebas ao lado da avenida Presidente Wilson e outros grupos empresariais. A cidade tornou-se, a partir desse momento, grande centro comercial, financeiro e industrial. A ferrovia, as obras de infra-estrutura urbana e os novos imigrantes levaram ao surgimento de indústrias de bens de consumo para abastecer a população urbana. Junto às fábricas surgiram os bairros operários como a Mooca, nas áreas mais baixas, ao longo da ferrovia que se instalou nos terrenos mais altos da várzea do rio Tamanduateí. É importante destacar que as funções que São Paulo assume no conjunto das cidades do planalto são características, desde o início, de uma metrópole, quando os jesuítas implantam os aldeamentos. Isso se deve mais ao papel geopolítico que desempenha, do que pela escala que conhecemos da metrópole a partir da década de 60, já no século XX. Segundo Maria Ruth ainda, Consideramos a metropolização como um processo social característico do mundo contemporâneo, segundo o qual um conjunto de aglomerações urbanas desenvolve entre si relações tais que passam a constituir um sistema, para o conjunto do sistema social, maior do que a simples soma de suas partes 33. fig.34 fig.35 59 fig.36 fig.37 60 2. O bairro da Mooca na cartografia de São Paulo A história de um lugar contribui para pensar o seu futuro e identificar sua transformação através de um projeto que busque os elementos de permanência e os aspectos culturais que se queira preservar. Busca-se, também, como no caso do bairro da Mooca, a compreensão de sua estrutura relacionada à sua forma. Os bairros operários históricos da cidade, como a Mooca, o Brás, Pari, Belenzinho, estão em processo adiantado de degradação urbana, mas guardam um acervo significativo de sua arquitetura e traços do urbanismo original que refletem momentos importantes da história da cidade e por isso merecem um projeto de recuperação de seus espaços e usos vinculados à população moradora . A população que mora e trabalha nessas áreas e que optou em permanecer próximos à área central da cidade devem ser os herdeiros do resgate da memória coletiva depositada nos seus espaços construídos. Sua moradia sobrevive em condições precárias nesse bairros, sem valorização do espaço público, onde a rua é o espaço de tomar sol e de convivência, em parte, por herança cultural dos imigrantes italianos, em parte pela falta de área no seu espaço privativo da habitação. A história de um lugar não serve como modelo a ser copiado, mas como um código cultural do qual se deva extrair referências para construir os espaços do futuro. A leitura dos aspectos urbanísticos são referências e subsídios para projetar os espaços futuros de recuperação urbanística. Assim, o estudo da cartografia, da história e do processo de uso e ocupação urbana e dos traçados viários, bem como do parcelamento, servem para buscar o significado do lugar ao longo do tempo. A cartografia mais antiga da cidade restringe-se principalmente ao núcleo central mas, como o bairro da Mooca situa-se muito próximo ao núcleo urbano inicial, os mapas do século XIX, apresentam seu arruamento inicial. A descrição resumida dos mapas, apresentados a seguir em ordem cronológica, mostra os elementos da estrutura urbana, possíveis de serem identificados na cartografia levantada: 61 1810 - Planta da cidade de São Paulo de Rufino José Felizardo e Costa. Essa planta apresenta alguns elementos da topografia da cidade, como as escarpas da colina do núcleo colonial, o arruamento inicial com a rua São Bento e a rua Direita. Aparecem ainda o rio Anhangabaú em direção ao Tamanduateí e os córregos do Saracura e Bexiga, seus afluentes. O rio Tamanduateí aparece sem retificações, com duas pontes, a do aterrado do Brás, e, no canto superior direito do mapa, encontra-se a ponte que ligaria a rua Tabatinguera com o futuro “ Caminho da Mooca “. Entre o “Caminho da Mooca” e a margem direita do Tamanduateí se formará o bairro da Mooca. fig.38 62 1810 - Planta Imperial da cidade de São Paulo de Rufino José Felizardo e Costa. Essa planta apresenta mais definição nas quadras, o traçado da futura avenida Rangel Pestana e acima a ponte para o “Caminho da Mooca”. fig.39 63 1841 - Planta da cidade de São Paulo de C. A. Bresser. Esse mapa apresenta mais detalhamento e o parcelamento das quadras do núcleo mais antigo, sendo que o rio Tamanduateí aparece com um trecho retificado, o aterro da avenida Rangel Pestana encontra-se definido e a rua do Gasômetro mostra um traçado muito semelhante ao atual. O Caminho da Mooca é ladeado por grandes lotes ou chácaras que se desmembraram para formar o arruamento do bairro da Mooca e do Brás, muito próximos entre si. fig.40 64 1842 - Carta da Capital de São Paulo por José Jacques da Costa Ourique. Nessa planta o “Caminho da Mooca” já aparece denominado com a divisão de algumas quadras e um desenho indicando a existência de terreno em várzea. Observa-se também que o Caminho do Mar em direção ao litoral, localizava-se muito próximo ao rio Tamanduateí e do local do futuro bairro da Mooca, o que indica que apesar da ocupação ser ainda incipiente, provavelmente era local de grande circulação de viajantes. fig.41 65 1844 -1847 - Mapa da cidade e seus subúrbios atribuído a C. A. Bresser. Este mapa apresenta uma ocupação mais densa no núcleo mais antigo em direção ao bairro da Luz e um início de ocupação do bairro do Brás. Em direção ao bairro da Mooca encontra-se um parcelamento maior dos terrenos. A ponte que dá acesso ao “Caminho da Mooca” aparece denominada como Ponte da Tabatinguera e o rio Tamanduateí limita a área do futuro bairro da Mooca. fig.42 66 1855- Mapa da Imperial cidade de São Paulo por Carlos Rath. Esse mapa, menos detalhado quanto ao parcelamento, indica o arruamento já consolidado da época com alguns elementos geográficos como os rios e aspectos do relevo. A Mooca aparece sem o parcelamento mas com alguns limites em relação ao bairro do Brás, contudo, o rio Tamanduateí ainda é o limite principal. fig.43 67 1868 - Planta da Cidade de São Paulo atribuída a Carlos Rath. Nessa planta já aparece parcialmente o traçado da ferrovia, alguns meandros do rio Tamanduateí, o “Caminho da Mooca” e alguns lotes de chácaras. fig.44 68 1800 - 1874 - Plan’ História da Cidade de São Paulo por Affonso de Freitas. Esse plano apresenta um roteiro dos principais edifícios ou ruas históricas do núcleo mais central da cidade. O rio Tamanduateí aparece com seu leito de meandros e com um projeto de retificação no trecho mais próximo ao centro que seguirá delimitando o futuro bairro da Mooca. fig.45 69 1877 - Mapa da Capital da Província de São Paulo publicado por Francisco de Albuquerque e Jules Martin. Essa planta apresenta o arruamento principal do centro mais antigo e consolidado bem como a localização dos edifícios de referência histórica. No canto inferior direito da planta a indicação da ponte que fazia a ligação com o “Caminho da Mooca”. fig.46 70 1881 - Planta da Cidade de São Paulo levantada pela Companhia Cantareira e Esgotos por Henry B. Joyner. Apresenta um maior detalhamento do parcelamento e adensamento do núcleo central mais antigo, o antigo “Caminho da Mooca” aparece já com a denominação de rua da Mooca, e apesar da cartografia ser mais recente com o desenho da ferrovia Santos - Jundiaí, ainda não aparece o parcelamento do bairro. fig.47 71 1890 - Planta da Capital do Estado de São Paulo e seus arrebaldes desenhada e editada por JulesMartin Nessa planta a rua da Mooca aparece com seu traçado até a ferrovia, bem definido. O Rio Tamanduateí ainda não aparece retificado no trecho da Mooca, mas já aparecem a rua Piratininga e a rua Luis Gama com traçados bem definidos e com acessos à Mooca. fig.48 72 1891 - Nova Planta da Cidade de São Paulo editada por U. Bonvicini e V. Dubugras. Essa planta apresenta uma área de arruamento mais extensa e os limites do bairro da Mooca se configuram com maior definição. O arruamento do bairro se concentra na sua porção central entre a rua Luís Gama e a rua Piratininga, principal via de ligação com o bairro do Brás. O rio Tamanduateí ainda não se encontra canalizado no trecho do bairro da Mooca. fig.49 73 1893 - Planta do Novo Canal do Tamanduateí da Comissão de Saneamento do Estado de São Paulo. Essa planta apresenta o projeto de retificação e canalização do rio Tamanduateí em toda a extensão dos bairros do Pari, Brás, Cambucy e Mooca. O arruamento da Mooca aparece parcialmente, entre a rua Piratininga e Luís Gama. fig.50 74 1893 - Planta da Bacia do Tamanduateí da Comissão de Saneamento do Estado de São Paulo. Esse mapa mostra a bacia do rio Tamanduateí e o traçado da ferrovia indicando a mancha urbana contínua ocupada e alguns bairros mais distantes como a Penha e a Vila Mariana. fig.51 75 1894 - Planta da Cidade de São Paulo segundo E. Reclus referente à década de 1890 a 1900. Essa planta apresenta o arruamento do núcleo urbano ocupado e no local do bairro da Mooca observamos somente a porção central da área parcelada. Algumas vias como a rua do Gasômetro, a avenida Rangel Pestana, a rua Piratininga, a rua da Mooca, a rua do Lavapés e rua Luís Gama, apresentamse com seu traçado bem definido como são nos dias atuais. fig.52 76 1897 - Planta Geral da Capital de São Paulo organizada por Gomes Cardim. Nessa planta, a porção leste da cidade aparece com seu arruamento se desenvolvendo ao longo da Estrada de Ferro Central do Brasil, da avenida Celso Garcia e próximo à rua da Mooca, cujo bairro ainda não se encontra totalmente parcelado. Nesse momento a canalização do rio ainda não havia se efetivado. fig.53 77 Fim do século XIX - Projeto do primitivo Metrô de São Paulo executado por Dr. Philippe Gonçalves. Nessa planta esquemática do final do século passado destacam-se os traçados das ferrovias do Norte no sentido leste e a Santos - Jundiaí chamada de “Inglesa”. A localização da fábrica da cervejaria Bavária no bairro da Mooca é indicada na planta. A linha projetada do primitivo Metrô acompanha o traçado do rio Tamanduateí, onde hoje está projetada a linha do VLP, Veículo Leve sobre Pneus. fig.54 78 1930 - Plano de Avenidas da Cidade de São Paulo de Francisco Prestes Maia. O traçado das ruas do bairro da Mooca aparece consolidado e nota-se uma ligação com os outros bairros do Brás e do Cambuci. Aqui a avenida do Estado aparece projetada como foi construída e se manteve até a década de 60. fig.55 79 1930 - Mapa Topográfico do Município de São Paulo executado pela empresa Sara Brasil S/A. Nessa planta ainda não existia a avenida Alcântara Machado e a ligação com o bairro do Brás é direta e sem barreiras físicas. A ocupação e o parcelamento do bairro estão praticamente consolidados com apenas alguns vazios nas quadras mais próximas à avenida do Estado, é a planta cadastral mais completa em termos de levantamento do período. fig.56 80 1954 - Levantamento Aerofotogramétrico do Município de São Paulo executado pela Vasp Aerofotogrametria S. A. e Serviços Aerofotogramétricos Cruzeiro do Sul S /A. Essa planta já apresenta a avenida Alcântara Machado construída até a linha férrea, o que mudará consideravelmente a ligação do bairro da Mooca com o bairro do Brás, e derrubará parcialmente os dois bairros. Aparecem os traçados das linhas de bonde que circulavam entre o centro e a região. O conjunto do antigo IAPI Várzea do Carmo construído em 1943, já aparece nessa planta. fig.57 81 1962 - Mapa da ocupação da área edificada da cidade de São Paulo e arredores da Região Metropolitana de Jurgen Langenbuch. A mancha da ocupação urbana contínua dos limites de São Paulo encontra-se praticamente consolidada com o crescimento de vários núcleos da região metropolitana. O bairro da Mooca já é parte integrante do chamado anel central da cidade, totalmente ocupado e consolidado. fig.58 82 1971 - Mapa da área central do IGCSP - Instituto Geográfico e Cartográfico do Estado de São Paulo Nessa planta aparece a indicação dos edifícios de grande porte. No canto direito inferior destacamos a área de estudo do bairro da Moóca, vizinho a este aparece o conjunto residencial do antigo IAPI Várzea do Carmo e ainda algumas pontes sobre o Tamanduateí fig.59 83 Os bairros mais antigos como a Mooca encontram-se consolidados no desenho urbano da cidade, mas em processo avançado de decadência de sua qualidade de vida. A análise mais detalhada da evolução do desenho urbano do bairro da Mooca permite o conhecimento mais localizado daquele parcelamento, da estrutura fundiária que originou o bairro e sua evolução ao longo dos anos, dentro de uma perspectiva de recuperação do processo de degradação dos espaços de acordo com as necessidades de seus moradores e do conjunto da cidade, no entanto, valorizando a memória de sua história e os elementos permanentes. fig.60 84 fig.61 85 3. O processo de ocupação da cidade e a definição do desenho do bairro da Mooca. O desmembramento das chácaras, o caminho da Mooca e o rio Tamanduateí O caminho da Mooca já existia em 1841. Duas chácaras localizavam-se naquelas imediações: a Chácara de Dona Ana Machado e a Chácara do Osório, antiga Chácara Menezes.32 A configuração atual do sistema viário do bairro vai se consolidar com a lei n.º 4787 de 1955, que cria a avenida Radial Leste, e com a lei n.º 4881 de 1956, que define o novo traçado do canal do Tamanduateí. Essas avenidas foram construídas após o Plano de Avenidas de Prestes Maia que iria transformar o perfil urbanístico da cidade. Entre 1828 e 1872 ocorreu um certo ressurgimento econômico na cidade após o ciclo do ouro. No contexto da economia do café surgem a Academia de Direito e a ferrovia e inicia-se o processo de industrialização. fig.62 86 o núcleo urbano inicial que se restringia ao “triângulo” se ampliou em algumas direções e fez com isso recuar as chácaras cujo retalhamento formaram ruas, largos e construções de casas, necessárias devido ao crescimento da população 34. Os bairros adquiriram feições mais urbanas e, onde antes haviam sítios e casas de campo, abriramse várias ruas por imposição do poder municipal. Surgem nessa época a rua 25 de Março na várzea do Tamanduateí, a General Carneiro, ligando a várzea e a zona central, a rua Formosa, ligando o Acu com o Piques e inicia-se o parcelamento do bairro do Brás. Em 1829, a Câmara Municipal preocupa-se em definir os limites da cidade e determina a colocação de um portão separando a zona urbana da rural, construído na ponte do Acu. A zona rural, a partir daí, seriam as ricas freguesias de Santa Ifigênia, Santa Cecília e Consolação. Em 1840 o largo de São Bento, o largo do Carmo e sua ladeira, eram os limites da cidade. A margem esquerda do Tamanduateí era quase deserta com poucas casas na rua Tabatinguera. A rua do Hospício, que fará posteriormente a ligação com o “Caminho da Mooca”, ainda não existia. fig.63 87 Somente em meados do século passado é que se desenvolveu o bairro do Brás, cercado pelas águas do rio Tietê e do Tamanduateí. Por ele se fazia, durante muito tempo, o trajeto para a Penha, com a chácara da Figueira no início do percurso, e a do Tatuapé no final. Essa estrada foi refeita em 1864 por ser o trajeto mais importante para o Rio de Janeiro. Outros bairros surgiram do desmembramento das chácaras, como a chácara da Glória em 1852 além do córrego do Cambuci. Em 1900 Alfredo Moreira Pinto relembra que, o Brás, a Mooca e o Pari eram insignificantes, com algumas casas de sapé que medrosamente se erguiam no meio de matagais espessos. Outros bairros se mantinham desertos em meados do oitocentismo: a Estrada Vergueiro, os Campos Elísios e o próprio Chá. As chácaras foram se desmanchando, sobretudo a partir de meados do oitocentismo, com a expansão da cidade em várias direções e a urbanização de algumas zonas suburbanas. Em áreas onde antes só havia chácaras, com suas plantações de hortaliças, de frutas e de chá, foram se desenhando ruas. É verdade que ruas ainda com jeito mais de estradas: com casas muito isoladas umas das outras, habitadas por gente pobre ou servindo de sede para repúblicas de estudantes 35. Em 1854, o interesse pela atividade imobiliária urbana resultou na suspensão da distribuição de terras urbanas. Essa medida foi muito criticada na Câmara Municipal até 1856, com o argumento de que impedia que se incrementasse a atividade construtiva na cidade, em franca expansão devido à construção da ferrovia que atraía mais gente para São Paulo. É certo que os terrenos compreendidos nos limites marcados na doação feita por Martim Afonso não são suficientes para as necessidades dos habitantes da cidade, e por isso pede a Câmara que além desse se lhe concedam os que forem precisos para perfazerem uma légua em redor da cidade, considerando como ponto central o largo da Sé 36 . Segundo Canabrava 37, as chácaras paulistanas eram valorizadas pela atividade agrícola que elas pudessem oferecer e este aspecto era ressaltado nos anúncios de ofertas desses imóveis entre os anos de 1885 e 1890. Talvez o característico mais importante da chácara, na aurora do período republicano, é que ela serve habitualmente como residência da família, propriamente da família aristocrática paulista e, em geral, da família de recursos. Sob essa base, podemos indicar os seguintes tipos de chácaras, no passado, que nos parecem os fundamentais. 1. A chácara, simples residência da família, com o seu jardim e suas árvores frutíferas, descrita, por exemplo, como tendo “casa muito bem construída e primorosamente acabada, com gás, água de primeira ordem, banheiro, repuxos, quiosques, e todos os acessórios de uma habitação para família de tratamento, em terreno de 27 metros de frente sobre mais de 100 de fundo, fechado de muros e grades de ferro, com grande jardim inglês talvez o mais rico da capital, e extenso pomar de árvores frutíferas, todas já com fruto, entre as quais jaboticabeiras e laranjeiras de várias qualidades (rua Piratininga). Muitas vezes consta uma nascente de água potável, mais freqüentemente 88 a cocheira, o galinheiro, às vezes o chiqueiro, e em geral os quartos para empregados e o capinzal. Mas tudo o que se cultiva destina-se exclusivamente ao abastecimento da família. Muitas vezes, o seu caráter como residência de luxo é acentuado pela indicação da existência de “casa nobre com todos os melhoramentos”, e até de rico mobiliário. Na grande maioria dessas chácaras exclusivamente residenciais, a casa propriamente, é mais modesta, mas as árvores de fruta e o capinzal, são complementos indispensáveis. 2. A chácara onde a vinha aparece como cultura dominante, indicando objetivos de exploração comercial. Um exemplo desse tipo, temos na chácara do Marco da Meia Légua, “com bonde a porta, tendo grande jardim na frente com três repuxos, casa para numerosa família, tendo mais de quinhentas árvores frutíferas, grande parreiral para colher mais de dez pipas de vinho, casa de lagar com utensílios indispensáveis para sua fabricação, pasto nativo, extenso bambuzal, capinzal, estrebarias para quinze animais, quartos para criados, abundância de água, tendo cinco cisternas, um córrego, água da Cantareira e gás”. Outra, possuía “cômodos para negócio, toda arborizada, produzindo as parreiras 45 pipas de vinho anualmente. Tem capim para animais, etc.”. A “Quinta da Vinha”, no largo da Concórdia ( Brás ), possuía “ um parreiral para 20 pipas de vinho, muitas árvores frutíferas como jaboticabeiras, macieiras, pereiras, ameixeiras, pecegueiros, etc. e muitos pés de camélias das mais variadas formas e cores”. 3. A chácara onde o cultivo do solo está orientado sobretudo para a produção de flores, de mudas e de flores, de plantas ornamentais e de mudas de árvores de fruta, com objetivo comercial. A famosa Chácara das Flores, no Brás, possuía “dois magníficos jardins de flores, dois grandes pomares, plantação de videiras dando de 4 a 6 pipas de vinho, grandes viveiros de mudas das melhores qualidades de uvas para a mesa, mais de 30 mil exemplares de mudas viçosas de árvores ou arbustos de ornamento ou frutos de todas as qualidades”. Na mesma chácara havia “plantas e árvores de sombra, de ornamento e de frutas, sendo os exemplares crioulos, muito viçosos, de um, dois, três e mais metros de altura, árvores de lei, com linda coleção de magnólias, a grande tulipeira da Virgínia, carvalho da Europa, acácia, cedro, e grande plátano do Oriente e muitas outras de primeira qualidade”, e se aceitavam “encomendas de bouquets e de artefatos de flores naturais”. 4. Encontra-se também a atividade agrícola associada a uma produção industrial baseada no solo fabricação de telhas e tijolos. Nessas chácaras, a olaria encontra-se associada ao pomar de árvores frutíferas em geral e até da videira para a fabricação do vinho. Nas imediações do Monumento do Ipiranga existia em 1989 uma chácara com “cocheira para quatro animais, galinheiro e cômodo para carro ou carroça, poço com magnífica água, elevada a altura de cinco metros por bomba de alta pressão, olaria completamente montada com todos os seus acessórios e utensílios como sejam carroças, dez animais, ferramentas e casas de morada dos trabalhadores... magnífica água potável, nascente nos terrenos da mesma chácara...40 mil pés de uva de diversas qualidades 400 árvores frutíferas 38. Até 1872, muitas chácaras ainda estavam intactas nos bairros de Santa Ifigênia, do Bom Retiro, do Brás, da Consolação, da Liberdade, do Cambuci, da Mooca, do Pari, da Barra Funda, da Água Branca, de Higienópolis e da Vila Buarque. 89 A ferrovia A história da Mooca se confunde com a própria história da cidade nos aspectos que redefiniram o perfil da cidade neste século no rumo à industrialização. No século XIX, os caminhos que irradiavam da cidade ganharam movimento com o crescimento do comércio, principalmente de açúcar, e passaram a ter importância a localização dos ranchos, das hospedarias e as pastagens na beira deles. Cresceu o movimento no Caminho do Mar e surgiram empresas especializadas neste tipo de viagem. Nas ruas da cidade era grande o movimento das tropas de burro e também de carros de boi. As carruagens eram raras e só em 1865 apareceram os carros de aluguel no largo da Sé. O funcionamento da primeira ferrovia marcou o início da decadência das tropas, dos caminhos e até das povoações e dos bairros que funcionavam em função do tráfego de passagem. A planta de 1800 - 1870 de Afonso de Freitas mostra os pousos que serviam ao tráfego de passagem localizados em muitos pontos da área central, na ponte do Ferrão, no Lavapés, na antiga estrada de Santos, na morraria do Cambuci, onde se abriu a rua Tamandaré, no Bexiga, no Guaré, no Tatuapé, adiante do Belém, antes da Penha e o da Água Branca. As estradas não perderam importância, talvez o Caminho do Mar tenha sofrido alterações pois era impossível adaptá-lo para veículos e abriu-se uma nova picada. Alguns viajantes citam a existência dos dois caminhos entre o porto e o planalto. Os viajantes que chegavam de Santos eram avistados da igreja do Carmo, olhando-se em direção ao cruzamento do riacho do Lavapés, assim denominado, pois ali, os viajantes lavavam os pés antes de chegar à cidade, vindos da estrada de Santos. Apesar do Caminho do Mar situar-se em topografia bastante acidentada, subiam do litoral por ele, em 1858, cerca de 25.000 bestas e mais de duzentos carros por mês. Em 1867 com a construção da ferrovia desde Santos até Jundiaí, passando pela capital da província, o Caminho do Mar e o caminho para oeste ficaram quase abandonados. Observa-se, a partir daí, a decadência temporária de locais como o Ipiranga, São Bernardo e a Freguesia do Ó, antigos pontos de passagem para quem subia da Serra do Mar. Por outro lado, cresce a procura pelos pontos onde passava a estrada de ferro. Em 1865 surgiram os carros de praça, tílburis, pois havia melhorado a pavimentação das ruas e serviram para acessar a ferrovia e os limites da cidade. Os carros estacionavam na Praça da Sé e os limites dos percursos eram as chácaras do capitão Benjamin na estrada de Santo Amaro e do Conselheiro Falcão, na Mooca; as igrejas do Brás, da Luz, e da Consolação; o Campo Redondo, o largo do Arouche, o Morro Vermelho e o Lavapés. Em 1872, o bonde substituiu as diligências que faziam integração com a ferrovia no bairro da Luz. 90 fig.64 fig.66 fig.65 fig.67 91 4. A imigração italiana, a greve de 1917, parte da cultura da Mooca. O bairro da Mooca possui um significado histórico não só para a cidade de São Paulo, mas para a história da luta de classes no Brasil. Foi ali que aconteceram as manifestações mais significativas da greve geral de 1917, que teve um papel marcante no desenvolvimento e organização da luta dos trabalhadores brasileiros. Os italianos constituíram a maior parte da classe operária dos primeiros tempos da industrialização do país e com eles vieram as idéias dos anarquistas influenciados pelo movimento operário europeu e pela revolução soviética. Em São Paulo essas idéias vão culminar com a grande greve geral de 1917. Os acontecimentos da greve tiveram a participação e a força dos operários de toda a região. As principais movimentações políticas aconteceram nos bairros operários da Mooca, Brás e Belenzinho. O enterro do jovem operário, no dia 11, foi o marco de violentas manifestações contra a polícia, representando o momento em que a greve se generalizou por toda a cidade. O cortejo fúnebre saiu do Brás, verdadeiro reduto da classe operária, atravessou o aterro do Carmo e deslocou-se até o Cemitério do Araçá, passando pelo centro da cidade e enfrentando o forte aparato repressivo 38. A greve de 1917 foi um marco na história do movimento operário do país, pois paralisou completamente a capital paulista. O estopim da greve deu-se no Cotonifício Crespi, na rua dos Trilhos, na Mooca, uma das indústrias pioneiras da região, cujo edifício hoje é ocupado por várias pequenas indústrias. O motivo inicial da greve foram reivindicações isoladas por melhorias salariais e de condições de trabalho no Cotonifício Crespi, localizado na rua dos Trilhos, na Mooca. Posteriormente, a greve estendeu-se para a Cia. Antártica, localizada no mesmo bairro e a Tecelagem Mariângela no Brás. A adesão à greve ampliou-se para o interior do estado, e chegou a envolver 50.000 trabalhadores. Houve repressão por parte do governo estadual que pediu reforços para o governo federal e as lutas foram prolongadas, nas ruas e nos bairros operários que: tornam-se verdadeiras fortalezas de resistência dos grevistas: barricadas e esconderijos impenetráveis espalhamse pelos cortiços e becos tortuosos da Lapa, Brás, Mooca, Barra Funda, Ipiranga, Cambuci e Belenzinho. A burguesia industrial paulista, setor mais astuto das classes dominantes, percebeu logo que a pura repressão não daria conta do conflito. Formou-se, então, uma Comissão de Jornalistas ( todos da grande imprensa ) que serviria de mediadora entre operários e patrões. Os empresários aceitam uma série de reivindicações 39. Paula Beiguelman assim descreve o movimento de 1917 nos bairros operários da capital: O grande movimento de 1917 se inicia em meados de junho, no importante Cotonifício Crespi, na Mooca. Os grevistas, cerca de 2000 operários, entre os quais mulheres e crianças, “exigiam um aumento de 20% nos seus 92 salários, sob alegação de que a vida se tornava, dia a dia, mais difícil para o proletariado, sendo os lucros da fábrica avultados e certos”. A resposta da direção às reivindicações é o fechamento da fábrica por tempo indeterminado (ESP 20.6.1917 e 30.6.1917). Em julho, entra em greve a estamparia Ipiranga, da firma Nami Jafet e Companhia, reivindicando 20% de aumento para o trabalho normal e 25% para o executado no turno da noite. O industrial tenta uma contrapartida na base de 17%, mas ante a recusa dos operários termina por ceder (ESP 5.7.1917 e 7.7.1917). Durante a greve, os operários da Jafet, no Ipiranga, haviam recebido apoio da Liga da Mooca, que realizara uma manifestação de solidariedade. A greve na Crespi prosseguia, promovendo os operários uma distribuição de folhetos que recomendavam o boicote dos produtos, por suspeitarem que a fábrica , embora paralisada, não tivesse interrompido sua produção, apenas realizando-a de forma clandestina em outro estabelecimento (ESP 6.7.1917). Agora é a Liga Operária do Ipiranga que vem apoio aos operários da Mooca, divulgando o boicote e solicitando cooperação das Ligas Operárias de Minas, Rio Grande do Sul e do Interior de São Paulo (ESP 6.7.1917). Ainda na Mooca, entram em greve os operários da Cia Antárctica Paulista. No Brás, manifestantes investem contra um caminhão da Casa Gamba, sendo presos dois deles, que teriam destruído seis sacas de farinha de trigo (ESP 8.7.1917). A crise na Crespi prosseguia. A 8 de julho, ao anoitecer, grande números de operários, chegando à porteira da Mooca, na direção da fábrica, prorrompe em vaias e “morras” à polícia. Os soldados de cavalaria em serviço de ronda prendem dois menores, enquanto os demais trabalhadores continuam a vaiar, atirando pedras contra os cavalarianos, “ chegando a vir em defesa dos soldados de cavalaria os guardas cívicos que se achavam de serviço nas imediações”. Apesar da debandada, são presos vários operários (ESP 9.7.1917). Ato contínuo, o Dr. Thyrso Martins, delegado geral, depois de conferenciar com o comandante da Força Pública, manda fechar a Liga Operária da Mooca, fazendo ainda prender alguns diretores dessa entidade (ESP 10.7.1917). Por sua vez, os representantes das associações e grupos proletários da Capital e subúrbios, reúnem-se no salão Germinal, com o fim de “prestar apoio aos operários que presentemente, em conseqüência da carestia de vida, se acham em greve”. Nessa ocasião é decidida a constituição de um Comitê de Defesa Proletária, que, como primeira atividade, emite um protesto contra o fechamento da Liga Operária da Mooca. È aprovado ainda o encaminhamento de um apelo à Confederação Operária Brasileira, com sede no Rio de Janeiro, e às Associações e grupos proletários, tanto do Interior do Estado de São Paulo como os demais Estados (ESP 10.7.1917). Informado da extensão da greve a outras fábricas, o Dr. Thyrso Martins tomara já “todas as providências no sentido de garantir a liberdade de trabalho e de assegurar a ordem” nos estabelecimentos fabris que estivessem funcionando (ESP 10.7.1917). Entrementes, no dia 9, um grupo, portanto estandartes conclamando ao boicote dos produtos da Crespi, dirige-se à fábrica de tecidos Mariângela, das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, formando piquetes (ESP 10.7.1917). Nos tumultos com a polícia, diante da Mariangela, ficam gravemente feridos a tiros Adolpho Meyer e o sapateiro José Martinez, de 21 anos de idade, que vem a falecer no dia 10, na Santa Casa (ESP 11.7.1917). A essa altura já se podia presumir que o movimento assumiria “as proporções de uma parede geral” ( ESP 11.7.1917). Já haviam aderido a fiação e tecelagem S. Simão, no Belenzinho, a fábrica de tecidos Penteado, a Estamparia Matarazzo, a Cia de Fósforos Fiat Lux, a fábrica de parafusos Santa Rosa, etc. (ESP 11.7.1917). Na Mariangela, dado o segundo sinal, chegaram a entrar na fábrica uns 300 operários, enquanto os outros promoviam manifestações de rua. 93 .... A greve se generaliza não apenas no setor fabril, como também no de serviços. .....No dia 11 imenso cortejo acompanha o préstimo de Martinez até o Araçá, sob intenso policiamento. Terminada a cerimônia, os operários retornam à cidade, reunindo-se em grande comício no Páteo da Sé. Simultaneamente, grupos de operários percorriam as ruas do Brás, impondo indignados o fechamento das fábricas em funcionamento. .....À mediação da Comissão de Imprensa entre os industriais e o Comitê de Defesa Proletária segue-se uma audiência da Comissão com o Presidente do Estado, em Palácio, presente também o Secretário da Justiça. Entre outras providências, o governo se comprometia a fazer cumprir a legislação em vigor sobre o trabalho dos menores, e estudar medidas restritivas no concernente ao trabalho noturno de mulheres e menores; a procurar minorar a carestia, exercendo “sua autoridade, oficiosamente, junto ao grande comércio, para os gêneros de primeira necessidade” (ESP 16.7.1917). O Comitê de Defesa Proletária convocava o operariado para comemorar a vitória (ESP 16.7.1917). No dia 16, realizam-se comícios na Lapa, Ipiranga e no Brás. No comício do Brás , na praça da Concórdia, calculavam-se 5000 pessoas presentes, revezando-se na tribuna os representantes das diversas concorrentes proletárias; o Dr. Thyrso Martins se incumbia de dirigir pessoalmente o policiamento dessa manifestação. Nos três comícios é votada uma ordem do dia, deliberando a retomada do trabalho nas indústrias que houvessem aceito o acordo promovido pela Comissão de Imprensa 40. Esse relato demonstra a vida cheia de acontecimentos históricos que encontra-se submersa na poeira e poluição dos bairros operários de São Paulo, onde a solidariedade dos trabalhadores criou condições de enfrentar e resistir à exploração do capital nas fábricas, pela intensiva produção para substituição das importações na primeira metade do século XX, durante a primeira guerra mundial. A imigração italiana trouxe outras influências para São Paulo, como na arquitetura, que se incorporou no gosto paulistano. São Paulo foi considerada uma cidade italiana e ainda hoje abriga a terceira maior colônia italiana do mundo, sendo sobrepujada apenas por Buenos Aires e Nova Iorque. Segundo Rogatto 41, na Itália recém - unificada com sérios problemas econômicos, sociais e políticos, fez com que as autoridades italianas vissem na emigração uma saída para a “manutenção da paz social”. ...já pelos idos de 1840, com a iminente extinção do tráfico negreiro, os problemas da imigração européia e da colonização voltam a gravitar nos centros de preocupação da elite nacional.... A situação de São Paulo era particularmente preocupante, pois florescia no oeste paulista uma lavoura que declinava na região do vale do Paraíba: o café 42. Para São Paulo, onde a palavra colono não queria dizer pequeno proprietário, mas operário agrícola, dirigiramse 70% daqueles aproximadamente 1.500.000 de italianos que aqui chegaram até o final da década de vinte. Num primeiro período 80% vinha do norte da Itália, depois de 1901, predominam os do sul, para os índices se equilibrarem depois da 1ª Guerra. No início a maioria se destinava ao interior, mas alguns já se fixavam na capital, onde iam se dedicar ao comércio, ao artesanato, à prestação de serviços e mais adiante ao trabalho industrial 43. Os italianos tendencialmente se distribuíram pela cidade segundo suas regiões de proveniências, procurando reconstruir suas redes de amizades e relações pessoais, os napolitanos no Brás, os calabreses do Bexiga, os vênetos do Bom retiro. Esta espécie de vizinhança étnica permitia que se mantivessem unidos em colônias, 94 procurando reelaborar aqui os termos sócio culturais da aldeia de origem, como as festas católicas em louvor aos específicos santos de devoção: San Gennaro, San Vito Martire, Madonna Achiropita, Santo Emídio, etc. 44. Os italianos pobres continuaram como colonos nas fazendas do interior ou desapareceram na massa de assalariados urbanos, dentre estes últimos se encontrava grande parte da liderança do movimento operário, anarquistas, socialistas, anarco-sindicalistas que ganhava forças concomitantemente ao avançar da nossa industrialização 45. Hábitos culturais e festas se mantém à maneira italiana, como a tradicional festa de San Gennaro, que ocorre todos os anos na rua de mesmo nome e que já se tornou atração turística em São Paulo. As construções, com uso de varandas com detalhes floreados com o capricho dos mestres de obras italianos, são encontradas em imóveis da Mooca, localizados nas ruas Dom Bosco e Luís Gama. Edifícios de dois ou três pavimentos de uso residencial multifamiliar também apresentam esses detalhes. Segundo Carlos Lemos, a presença italiana contribuiu para a transformação das técnicas construtivas para que São Paulo deixasse a técnica da taipa de pilão e passasse a construir com tijolos. Como não poderia deixar de ser, a arquitetura paulista também se repetiu à exaustão. Já foi muito estudada essa arquitetura dos bandeirantes, que chegou incólume ao ciclo do açúcar, nos finais do século XVIII e que, ataviada tardiamente à maneira pombalina, alcançou o café no início da segunda metade da centúria seguinte. Na verdade, essa arquitetura baseada nas limitações da taipa de pilão, a única técnica possível em região sem pedras e sem indústria de cal, assim conservou-se porque também os programas de necessidades não se alteravam substancialmente. A vida cotidiana nas casas paulistanas logo anteriores à vinda dos imigrantes ainda apresentava o ranço colonial. Dentro das velhíssimas taipas, as famílias circulavam na semi-obscuridade dos cômodos mal - iluminados pelas pequenas janelas que a terra socada das paredes permitia, tendo como centro de confraternização geral da varanda. Essa varanda, quase sempre, era o cômodo mais arejado e iluminado da casa, era onde todos ficavam, principalmente depois das refeições e muitas delas , de modo especial no interior de clima quente, não passavam de um profundo alpendre todo aberto e contíguo à cozinha, olhando para o quintal, onde ficava a casinha, ou secreta, onde se obrava em cima de um barraco que chamavam de sumidouro 46. O modo de construir refletiu-se nas plantas das edificações e nas soluções de apropriação do solo urbano, com a ocupação dos lotes se organizando em função de economias nas construções e na disponibilidade das técnicas. A técnica construtiva local e a tradição gregária vinda da Europa com coloridos árabes, deram às casas urbanas uma peculiaridade que se não foi verdadeiramente só paulista, em São Paulo, devido à escassez de recursos técnicos, assumiu características de certo interesse. Estamos falando das casas necessariamente geminadas. Encostadas umas às outras porque havia interesse na continuidade dos telhados devido a quase que impossível independência, ou individualidade das coberturas, já que não havia materiais e modos permitindo panos de telhados vertendo água sobre as divisas ou panos convergentes em águas furtadas, ocorrência sempre evitada. Daí, quase todas as casas com plantas retangulares 47. 95 As técnicas disponíveis até o século XVIII refletiam as limitações do período colonial e uma certa estagnação da cidade, somente com a economia do café e com a construção da ferrovia é que esse cenário vai se modificar, Construções de pintura pobre na cidade sem tintas: casas caiadas, brancas, amareladas ou ocres e só três cores nas esquadrias e aros de envazaduras: azul anil, castanho avermelhado do óxido de ferro e o verde a partir de sais de cobre. Pelo que vimos, tudo muito modesto e, até mesmo, um pouco triste ao meio da neblina que permanentemente encobria a cidade, a cidade da garoa, como se dizia. O dinheiro do açúcar ituano não teve reflexos em São Paulo e só com o café é que a paisagem urbana passou a sofrer alterações porque, aos poucos, a população começou a crescer: da condição de capital somada à posição estratégica do sítio urbano intermediando as áreas de produção cafeeira a partir de Campinas com o porto de Santos, resultaram atividades antes desconhecidas, principalmente aquelas relacionadas com o alto comércio e novas indústrias de subsistência, consubstancialmente inéditos programas de necessidades e, portanto, novas construções. Por volta de 1860, começam a surgir as primeiras novidades, inclusive nas construções e nos critérios de planejamento das moradias. Imigrantes alemães são pioneiros no uso de tijolos nas construções em geral, iniciando, assim, a grande batalha para superar a tradicional taipa de pilão. No final da década, é inaugurada a estrada de ferro dos ingleses, que levava o café de Jundiaí até Santos e que trazia fundamentalmente material de construção, máquinas e ferramentas. Imigrantes também. Foi o começo do Ecletismo chegado com o novo saber fazer que os recém aportados europeus trouxeram em sua bagagem. Esse foi o ponto crucial do desenvolvimento de São Paulo, quando o seu patrimônio cultural viu-se repentinamente sujeito a inesperadas alterações, mercê da superposição de elementos alheios ao elenco vernacular. Principalmente no que diz respeito à arquitetura, às edificações e ao guarnecimento das casas. Logo, logo as tradicionais construções de taipa começaram a ser substituídas por elegantes obras de alvenaria, levantadas em estilos somente vistos em gravuras chegadas da Europa e erguidas por técnicos de fora a partir de materiais importados 48. A chegada dos imigrantes encontrou São Paulo despreparada para recebê-los, principalmente no que diz respeito à habitação e essa necessidade se tornará um grande negócio para o capital excedente da economia do café e investimentos na produção de novos loteamentos será uma característica de São Paulo, que influirá na sua conformação espacial até os dias atuais. Carlos Lemos ressalta esse problema da habitação no final do século XIX e início do século XX, A questão da moradia é que foi realmente muito séria e de difícil solução. A cidade estava literalmente despreparada para receber tanta gente e vamos encontrar o último quartel do século XIX mostrando em São Paulo uma variedade incrível de habitações, cujos programas jamais seriam imaginados no tempo da taipa no perímetro urbano podemos até dizer que a senzala foi o caminho da solução da moradia, sendo transportada para a cidade para dar abrigo ao italiano aqui arribado. A essa senzala urbana deu-se o nome de cortiço. Senzala na forma, agora abrigando trabalhadores assalariados. Como sabemos, cortiço originariamente significa a moradia coletiva das abelhas, a colméia cujos os alvéolos 96 repetem-se à exaustão. Naturalmente a primeira idéia que ocorreu aos capitalistas empreendedores foi a construção de centenas e centenas de cômodos enfileirados, todos iguais entre si, destinados cada um deles a uma família distinta, independentemente de cogitações a respeito do número de filhos ou agregados. A cada conjunto desses cômodos deu-se o nome de cortiço 49. 97 Notas 1 SAIA, Luís - Notas para a teorização de São Paulo, Revista Acrópole n.º 295, pg. 209. 2 PRADO JúNIOR, Caio. Evolução Política do Brasil e Outros estudos. A Cidade de São Paulo. - Geografia e História. - O Fator Geográfico na Formação e no Desenvolvimento da Cidade de São Paulo - Publicado em Geografia (órgão da AGB), n.º 3, set. 1935 - 4ª ed., São Paulo, Brasiliense, 1963. pg. 95 a 115. 3 PRADO JúNIOR, Caio op. cit. 4 SAIA, Luís. op. cit. 5 PRADO JúNIOR, Caio op. cit. 6 PETRONE, Pasquale. Aldeamentos Paulistas. São Paulo, Edusp, 1995. - pg. 44. 7 PRADO JúNIOR, Caio op. cit. pg. 103. 8 PRADO JúNIOR, Caio op. cit. pg. 105. 9 PETRONE, Pasquale - op. cit. pg. 46. 10 PETRONE, Pasquale - op. cit. 11 PRADO JúNIOR, Caio op. cit. pg. 109. 12 PRADO JúNIOR, Caio op. cit. pg. 111. 13 PRADO JúNIOR, Caio op. cit. 14 MARCÍLIO, Maria Luiza. A Cidade de São Paulo. Povoamento e População, 1750-1850. São Paulo, Pioneira, Edusp, 1974. 15 BRUNO, Ernani da Silva. História e Tradições da Cidade de São Paulo. Rio de Janeiro, José vol. 16 BRUNO, Ernani da Silva. op. cit. 17 BRUNO, Ernani da Silva. op. cit. 18 BRUNO, Ernani da Silva. op. cit. 98 Olympio, 1954. 3 19 BRUNO, Ernani da Silva. op. cit. pg. 213 20 BRUNO, Ernani da Silva. op. cit. 21 BRUNO, Ernani da Silva. op. cit. pg. 184 22 BRUNO, Ernani da Silva. op. cit. pg. 186 23 PRADO JúNIOR, Caio op. cit. 24 SAIA, Luís. op. cit. 25 BRUNO, Ernani da Silva. op. cit. 26 BRUNO, Ernani da Silva. op. cit. 27 PRADO JúNIOR, Caio. Evolução Política do Brasil e Outros Estudos. A Cidade de São Paulo. - Geografia e História - Contribuição para a Geografia Urbana da Cidade de São Paulo - 4ª ed., São Paulo, Brasiliense, 1963. pg. 117 a 146. 28 REIS FILHO, Nestor Goulart. São Paulo e Outras Cidades. Produção Social e Degradação dos Espaços Públicos. São Paulo, Hucitec, 1994. pg. 26. 29 REIS FILHO, Nestor Goulart. op. cit. pg. 27. 30 HOMEM, Maria Cecília Naclério. O Palacete Paulistano e Outras Formas Urbanas de Morar da Elite Cafeeira. São Paulo, Livraria Martins Fontes Editora, 1996. pg. 83. 31 AMARAL DE SAMPAIO, Maria Ruth. O Papel da Iniciativa Privada na Formação da Periferia Paulistana. In Espaço e Debates revista de Estudos Regionais e Urbanos NERU, Ano XIV 1994 n.º 37 32 HOMEM, Maria Cecília Naclério. op. .cit., pg. 83. 33 AMARAL DE SAMPAIO, Maria Ruth. O Papel da Iniciativa Privada na Formação da Periferia Paulistana. In Espaço e Debates revista de Estudos Regionais e Urbanos NERU, Ano XIV 1994 n.º 37 34 BRUNO, Ernani da Silva. História e tradições da cidade de São Paulo. Rio de Janeiro, José Olympio, 1954. 3 vol. Pg. 555. 35 idem, pg. 575. 99 36 idem, pg. 577. 37 MARANHÃO, Ricardo e Mendes Jr., Antônio. Brasil História. Texto e Consulta. República Velha. 4 ª ed. São Paulo, Hucitec, 1989, vol. 3. pg. 319.idem, pg. 320. 38 CANABRAVA, Alice Piffer. “As chácaras paulistanas”. In: Anais da Associação dos Geógrafos Brasileiros (1949-1950). São Paulo, IV, I, pp. 97-104, 1953. 39 Idem, pg. 40 Idem, pg. 41 BEIGUELMAN, Paula. Os Companheiros de São Paulo. TESES 3, Política. Global Editora, São Paulo, 1981. pg. 83 42 ROGATTO, Geraldo Matheus . Achiropita, Fettuccine e Vinho. Sobre a italianidade e a colônia italiana de São Paulo. In: De Boni, Luís Alberto (org.). A presença italiana no Brasil. Vol. II. Porto Alegre, escola Superior de Tecnologia; Turim, Fondazione G. Agnelli, 1990. 43 idem, pg. 412. 44 idem, pg. 413. 45 idem, pg. 414. 46 idem, pg. 414. 100 Capítulo III A paisagem e o contexto urbano atual da Mooca 101 1. Localização e limites A área escolhida está delimitada pela Estrada de Ferro Santos - Jundiaí e as seguintes vias: avenida Alcântara Machado; rua Patrimônio Mônaco (paralela à ferrovia); rua Serra do Paracaima; avenida do Estado e rua da Figueira, junto ao Parque Dom Pedro II. A Mooca localiza-se no vetor da cidade em direção à região leste e faz parte do conjunto de bairros, com fortes características residenciais, que circundam o centro. Atualmente, pode ser considerado como um bairro central e não como um bairro da região leste. A construção, na década de 50, da avenida Radial Leste e, recentemente, a construção do viaduto da rua da Mooca sobre a ferrovia, alteraram a acessibilidade da área, aproximando-a do centro. A identificação dos limites do bairro, assim como de outros bairros da cidade, exige alguns cuidados, pois, no Município de São Paulo, a noção de bairro não é uma unidade territorial oficial. A unidade jurídica é o distrito e a unidade administrativa é a administração regional. A forma como a população identifica os limites do “seu” bairro, varia conforme os valores, o uso e os costumes dos moradores. fig.01 102 Até a década de 90, a Mooca e o Alto da Mooca constituíam-se em dois distritos distintos. Hoje, a parte do antigo distrito da Mooca, onde está situada a área desse estudo, pertence ao distrito do Cambuci, e o restante ao atual distrito da Mooca. Essa nova divisão dificulta a discriminação e utilização das informações oficiais disponíveis referentes aos distritos. O mercado imobiliário identifica a Mooca como sendo a área entre a ferrovia e o entorno da avenida Paes de Barros, que fazem parte do atual distrito da Mooca, procurado, principalmente, segundo as notícias de lançamentos imobiliários na região, por descendentes de antigos moradores do bairro que desejam se fixar na região. A Mooca nessa pesquisa delimitou-se segundo o uso corrente da denominação por parte de antigos moradores do bairro, que identificam a parte oeste da ferrovia como Mooca e a parte leste como Alto da Mooca. Dessa maneira, no discorrer deste trabalho, a área de estudo será chamada Mooca. O centro é ainda uma das áreas mais bem servidas pela rede de transporte coletivo, fator decisivo para a localização das atividades numa metrópole como São Paulo e ainda concentra o grande pólo de comércio e serviços da cidade. Informações da Bolsa de Imóveis de São Paulo mostram que 37% dos escritórios concentram-se no centro, apesar da tendência do deslocamento para o vetor sudoeste da cidade. A oferta de infra-estrutura atrai, para as áreas centrais degradadas, setores populares que procuram aluguéis mais barato e a redução das despesas com transporte entre trabalho e moradia. Essa população instala-se nos cortiços das áreas mais antigas da cidade, em antigos casarões abandonados, cujo entorno encontram-se degradados pela mudança de uso decorrente do deslocamento dos setores das classes dominantes para áreas mais valorizadas. Mais recentemente, também as grandes empresas que funcionavam no centro deslocam-se para outras regiões, dentro ou fora do município, deixando ociosos edifícios de escritórios que acabam se destinando a outros usos. Esse processo, no entanto, não diminuiu o papel que o centro ainda exerce na oferta de empregos, abrigando usos tradicionais do campo institucional, como a localização dos fóruns mais importantes da área jurídica e a sede do governo municipal. fig.02 2. A horizontalidade da paisagem edificada O levantamento de campo realizado no ano 2000 permitiu a identificação de 4 setores de tipologia quanto à ocupação predominante dos imóveis, segundo critério de tamanho e atividades desenvolvidas. Os setores foram denominados conforme mapa a seguir: fig.03 103 fig.04 104 Tipologia 1 setor “orla das grandes áreas” (AZUL) onde predomina a tipologia de imóveis de grande porte de uso industrial ou de serviços. Localiza-se na orla da avenida do Estado e da ferrovia. Tipologia 2 setor “interior misto” (AMARELO)- onde predomina a mistura de tipologia de imóveis de médio porte e o parcelamento de pequenos lotes residenciais em renque ou vilas. Localiza-se no miolo do bairro entre a rua da Mooca e a rua Odorico Mendes com dois pequenos bolsões próximos à rua da Figueira. Tipologia 3 - setor “corredores” (VERMELHO) caracteriza-se como corredor de intensa atividade econômica, comercial, industrial e de serviços. Apresenta-se subdividido em 4 áreas ao longo das principais vias do interior do bairro: rua da Mooca, rua Ana Nery, rua Barão de Jaguara e rua Luiz Gama. Tipologia 4 setor “orla de médio porte” (ROXO) - apresenta imóveis de médio porte com mudança freqüente de uso comercial e de serviços. Localiza-se na avenida Alcântara Machado. fig.05 fig.06 105 A horizontalidade predomina na área com edifícios de até dois pavimentos. Os edifícios de três a seis pavimentos significam uma parcela pequena e geralmente são de uso misto com predomínio de comércio ou serviço no térreo e residência nos andares superiores. fig.07 fig.08 fig.09 fig.10 106 Os edifícios com mais de seis pavimentos são pontuais e localizam-se próximos à rua da Mooca e avenida Alcântara Machado e não constituem uma massa compacta de verticalização semelhante ao centro da cidade, distante a menos de um quilômetro. Na direção norte, no eixo da ferrovia, avista-se a Serra da Cantareira, numa abertura da paisagem rara na área central. Próximo à ferrovia e à avenida Presidente Wilson, encontram-se vários edifícios fabris como o da cervejaria Antárctica, antiga Bavária, no local desde 1905 que merecem ser preservados. É o caso dos conjuntos arquitetônicos das ruas Almeida Lima e Sacramento Blake a leste da ferrovia No início da avenida Radial Leste, a tipologia predominante de edifícios é de uso misto, residencial, comercial ou de serviços, e os edifícios mais altos não possuem mais que seis pavimentos. As características dos imóveis indicam tratar-se de construções sólidas que mudaram de uso recentemente, como o sacolão localizado onde antes havia um supermercado de informática. As pichações nos edifícios mostram a falta de manutenção dos mesmos. O uso predominante é de serviços de manutenção de veículos. fig.11 fig.12 fig.13 fig.14 107 fig.15 108 Verificou-se no levantamento de uso do solo, um grande número de imóveis construídos disponíveis para alugar ou vender, o que demonstra a tendência de esvaziamento da área central. Foram contabilizados 79 imóveis nessa condição com a seguinte distribuição: 39 imóveis pequenos residenciais (lotes unifamiliares); 35 imóveis de médio porte (de 600 a 2500 m2) e apenas 5 imóveis de grande porte (com mais de 2500 m2). Identificou-se 9 terrenos vazios ou miolos de quadra de antigas vilas residenciais demolidas. Observa-se uma ociosidade da infra-estrutura existente como na rua Patrimônio de Mônaco onde os galpões não apresentam aberturas para a via, uma importante ligação do bairro com a estação intermodal Brás não oferece segurança para os transeuntes. As grandes áreas industriais criam espaços “vazios” e uma sub-utilização das vias, ao mesmo tempo em que se tornam locais desagradáveis para os pedestres, que devem percorrer longas distâncias para atingir qualquer ponto de interesse da área. A utilização de imóveis de médio porte para serviços é possível graças ao remembramento de lotes pequenos. Outra característica da ocupação da Mooca é a existência de vilas residenciais de vários tipos distribuídas em quase todos os setores do bairro. O parcelamento predominante não possui recuos frontais ou laterais dos lotes, uma característica essencialmente urbana de um bairro construído com a finalidade de ser local de moradia e trabalho da classe operária. As exceções são os conjuntos residenciais da rua Andrade Reis e rua Conselheiro João Alfredo. Os únicos edifícios públicos existentes na área são uma escola estadual de ensino fundamental e médio (Escola Estadual de 1º e 2º Graus Professor Antônio Firmino de Proença), construído em 1946, na rua da Mooca esquina com rua Itapira; uma creche municipal na rua Ana Nery e um hospital municipal na rua da Figueira. As principais características de uso e ocupação do solo urbanos na Mooca são: - indústrias ainda em funcionamento; - predomínio da paisagem horizontal e parcelamento original que manteve-se nos últimos 50 anos; - a área parcialmente encortiçada em função da proximidade com o centro e oferta de empregos; - degradação contínua das edificações observada nos últimos oito anos; - descaracterização dos edifícios; - predominância de uso misto residencial, serviços de manutenção de veículos e consertos domésticos; - a avenida do Estado é um corredor de tráfego intenso onde circulam várias linhas de ônibus ruidoso e degradado, o “tampão” do rio e a linha do “fura-fila” formam uma barreira intransponível entre bairros; - densidade alta de ocupação, sem arborização, circundada por tráfego pesado e desvalorização do solo urbano apesar da proximidade com a área central; 109 fig.16 fig.17 fig.18 fig.19 110 fig.20 111 - ocupação de várzea, com pequena declividade a partir da avenida Radial Leste em direção ao rio Tamanduateí; - a degradação do bairro e o encortiçamento dificultam a identificação e aproximação com os atuais moradores e seu cotidiano; - alto nível de poluição devido ao tráfego pesado; - acessibilidade obstruída pelas obras viárias, apesar da proximidade da área central; - espaços públicos exíguos e desqualificados como a estação de trem da Mooca; - os pontos de encontro e lazer são os bares de esquina, a calçada e a rua; - a descaracterização das edificações esconde a história da presença italiana no bairro. - o alagamento de parte da várzea do Tamanduateí. fig.21 fig.22 fig.23 112 fig.25 fig.24 fig.26 113 fig.27 fig.28 3. Morar na Mooca, a vizinhança e a rua A característica essencial do modo de morar na Mooca é a coexistência do uso residencial com outros usos como comércio, serviços e indústria. A moradia se apresenta de várias formas: as “vilas operárias”, as “casas em série”, os cortiços, as ocupações de imóveis abandonados e habitação multifamiliar em edifícios de uso misto. Os mapas antigos da década de 30 e 50 mostram um parcelamento típico de uso habitacional maior do que se encontra hoje na área. Parte dos lotes de uso residencial foram remembrados para o uso comercial ou de serviços. Algumas vilas foram demolidas para transformarem-se em estacionamentos ou oficinas mecânicas. A existência de inúmeros exemplos de antigas “vilas” de uso residencial e de “casas em série”, é uma característica do período da formação dos bairros operários que fazem parte do desenvolvimento industrial da cidade e representam a memória do cotidiano que deve ser valorizada como patrimônio histórico e cultural, da vida da população apesar de não se caracterizarem como monumentos. O conjunto arquitetônico das “casas econômicas em série”, projetadas pelo arquiteto Gregori Warchavchik, construído em 1929 na rua Barão de Jaguara esquina com Odorico Mendes, são um exemplo dessa memória que mantém praticamente suas principais características originais e merece ser preservado. Essa característica dos bairros centrais como moradia da classe operária vem apresentando uma tendência de esvaziamento notada em quase todos os distritos da área central e que se confirma também na Mooca. 114 fig.29 fig.30 115 fig.31 116 fig.32 fig.33 fig.34 fig.35 fig.36 fig.37 fig.38 fig.39 117 As vilas O levantamento de uso do solo aponta a existência de 20 vilas na área, sendo que 14 delas já apareciam no mapa de 1930. A vila é a principal característica habitacional do bairro. A sua maioria apresenta bom estado de conservação, mas sua arquitetura está descaracterizada por uma série de modificações nas edificações. A preservação do uso se explica pela inegável qualidade do desenho urbano dela resultante. A definição de vila, de acordo com relatório da EMURB de 1978, realizado em função do impacto da implantação da linha leste - oeste do Metrô, diz o seguinte: Agrupamentos de habitações originalmente semelhantes, com acesso através de um espaço comum de uso local. Caracterizam um tipo de ocupação de solo urbano, definido pela ocupação de áreas internas às quadras do tecido urbano através do conjunto de pequenos lotes com acesso a uma área de uso comum que pode apresentar diferentes tipos (travessa ou rua particular, viela, corredor, viela com pátio). Cada domicílio ocupa um imóvel com lote subdividido, sendo que os jardins, pátios ou corredores de acesso, são comuns a todos os domicílios 1. fig.40 fig.41 fig.43 fig.44 fig.45 fig.46 118 fig.42 fig.48 fig.47 fig.49 119 fig.50 120 Ainda segundo este relatório, as vilas foram classificadas em 4 tipos, todos exemplificados na Mooca segundo a descrição a seguir: Rua particular - via de ligação entre ruas locais do sistema viário - 2 na área de estudo. Viela via de acesso único ou que se ramifica findando em paredes cegas de fundo de lote ou pátios internos - 5 na área de estudo. Viela com pátio via de acesso que se abre em espaço maior gerando um pátio de uso comum - 12 na área de estudo. Corredor via com largura reduzida tendo um dos lados ocupado por habitações e o outro como limite do lote - 5 na área de estudo. Outra tipologia de habitação são as “casas em série”, representadas pelos três conjuntos localizados na rua Andrade Reis, na rua Conselheiro João Alfredo e Barão de Jaguara, os quais já aparecem nos mapas antigos da área, e não tiveram modificadas suas características de uso habitacional e tampouco sua tipologia arquitetônica. A alta densidade do espaço construído do bairro não permitiu a reserva de áreas de lazer para os moradores e por isso o pátio interno das vilas e as ruas são os espaços adotados para as brincadeiras infantis e os encontros da vizinhança. fig.51 121 fig.52 fig.53 fig.55 122 fig.54 fig.56 123 fig.57 fig.58 fig.59 fig.60 fig.61 fig.62 fig.63 fig.64 fig.65 124 Os cortiços existentes na área, num total de 56, estão localizados nas principais vias do bairro e encontram-se deteriorados em imóveis unifamiliares de pequeno porte. Parte deles, aproximadamente 10, constituem um conjunto encortiçado de médio porte, com mais de 600 m2, ou localizados próximos a imóveis fechados à venda ou para alugar, que apresentam potencial para futuros projetos habitacionais de interesse social. A Mooca não dispõe de áreas livres para novos projetos, mas encontram-se outros espaços potenciais, como miolos de quadras e galpões de fábricas desativadas, ociosos ou usados como depósitos. É importante destacar a coexistência de vários usos no mesmo setor urbano, como a antiga fábrica da Antárctica, que permaneceu na área por quase cem anos e que pode ser adotada como uma diretriz para a elaboração de novos projetos de renovação de bairros históricos. Em vários trechos da área, como na rua Mem de Sá, no trecho entre a avenida Alcântara Machado e rua da Mooca, o uso misto de serviços e moradia em cortiços acontece em algumas edificações mais antigas de dois pavimentos. Vários são os edifícios de interesse arquitetônico para preservação, como o localizado na rua Coronel Bento Pires esquina com a rua Wandenkolk. fig.66 fig.67 fig.69 fig.70 125 fig.68 Na rua Barão de Jaguara, esquina com Odorico Mendes, há um conjunto de casas populares em série, parcialmente encortiçado e com uso misto, de tipologia geminada, tijolo aparente, originalmente com dois pavimentos, atualmente modificado com o terceiro piso, e que merecem preservação. Na rua Odorico Mendes observa-se um processo de deterioração urbana acelerada, fruto da sua localização na cota mais baixa da várzea do Tamanduateí, tendo sofrido inúmeras inundações. A tipologia de ocupação permanece a mesma há trinta anos, com casas unifamiliares encortiçadas, vilas residenciais e pequenos edifícios de uso misto, com térreo ocupado por indústria e os pavimentos superiores de uso residencial, com influência da arquitetura italiana da época. fig.72 fig.71 fig.73 126 fig.74 127 Na rua da Mooca localiza-se o maior edifício residencial do bairro em bom estado de conservação, com recuos e áreas de lazer pouco comuns na região. Os edifícios residenciais verticais e as residências unifamiliares não possuem recuos e estão dispostos no alinhamento das calçadas, demonstrando ter sido construídos em período mais recente em relação à formação do bairro. A construção do viaduto na rua da Mooca, sobre a ferrovia no cruzamento com a avenida Presidente Wilson, provocou a desocupação de alguns imóveis de interesse arquitetônico que hoje encontram-se parcialmente abandonados e degradados. Casas da Barão de Jaguara Esse conjunto merece ser preservado, pelo seu caráter inovador pela época e representatividade do exemplo da arquitetura dos anos 20. O conjunto foi construído originalmente como casas de aluguel para classe média. Esse projeto de casas em série de Gregori Warchavchik, apresenta uma solução para a esquina, cuja edificação está perfeitamente integrada ao conjunto arquitetônico das residências, e foi projetada com a finalidade específica de uso para comércio local, mantendo, até hoje, o uso original. Os detalhes das aberturas das casas, portas e janelas, bem como aspectos do revestimento externo, permanecem conforme o projeto original. fig.75 fig.76 fig.77 128 fig.78 129 fig.79 130 fig.80 fig.82 fig.81 131 4. Gregori Warchavchik Gregori Warchavchik, que projetou e construiu as casas da rua Barão de Jaguara, nasceu em Odessa, na Rússia, em 1896, durante os conflitos da Revolução Bolchevique, não conseguiu terminar seu curso superior de arquitetura na sua terra natal, concluindo-o na Itália no início da década de 20. Veio para o Brasil em 1923 e sua arquitetura destacou-se pela liberdade e autonomia de conceitos estéticos, pela valorização da função em detrimento dos ornamentos comuns nos edifícios da época. Defendia que cada tempo deveria criar a sua arquitetura e não copiar o passado. São suas as palavras: “na arquitetura tudo depende da época e cada época tem suas exigências”. Em 1925, Warchavchik lança um manifesto mostrando as possibilidades dos novos materiais que surgiam para a arquitetura, como os metais e estruturas de alumínio. Ressaltava que a indústria automobilística fazia milhares de veículos por dia e, no entanto, para se fazer uma casa operária levavase de três a quatro meses. Afirmava que a necessidade do futuro impunha que se industrializasse a produção de casas operárias. O arquiteto moderno deve amar a sua época, com toda as suas grandes manifestações do espírito humano como a arte do pintor moderno, compositor moderno ou poeta moderno, deve conhecer a vida de todas as camadas da sociedade. Tomando por base o material da construção de que dispomos, estudando-o e conhecendo-o como os velhos mestres conheciam sua pedra, não receando exibi-lo no seu melhor aspecto do ponto de vista de estática, fazendo refletir em suas obras as idéias de nosso tempo, a nossa lógica, o arquiteto moderno saberá comunicar à arquitetura um cunho original, cunho nosso, o qual será talvez tão diferente do clássico como este o é do gótico. Abaixo as de corações absurdas e viva a construção lógica, eis a divisa que deve ser adotada pelo arquiteto moderno. ( Correio da Manhã, 1.º de Novembro de 1925 correção da ortografia original ) 2. Em 1927, casa-se com Mina Klabin e constrói a primeira casa modernista no Brasil, hoje conhecida como “Parque Modernista”, situada na rua Santa Cruz, bairro de Vila Mariana, tombada pelo CONDEPHAAT e pertencente ao Governo do Estado de São Paulo. No mesmo bairro, na rua Afonso Celso e rua Dona Berta, constrói o conjunto de casas econômicas para a classe média. É responsável por inúmeros projetos modernistas no Rio de Janeiro, onde trabalhou com Lúcio Costa e, em São Paulo, onde se destacou nas exposições da Bienal. Segundo Pietro Maria Bardi: O encontro entre Warchavchik com Lúcio Costa, em 1931, foi portanto um dos fatos que possibilitaram a tomada de posição da arquitetura contemporânea brasileira, com o convite aos professores de tendências modernas para a Escola de Belas Artes, entre os quais se encontrava Warchavchik, e com os acontecimentos que se seguiam...Não tenho dúvida de quais foram as repercussões, no Brasil, do Congresso de La Sarraz, do Manifesto de Sant’ Élia, da obra de um Frank Lloyd Wrigth e de outros acontecimentos internacionais; mas conforme consta, o Manifesto de Sant’ Élia passou completamente desapercebido, como o teria sido o de La Sarraz2, se 132 Warchavchik, que já pertencia ao CIAM, não o tivesse recebido, traduzido e distribuído aos profissionais. Isto quando já tinha construído a sua primeira casa modernista em Vila Mariana e mais algumas outras. No que se refere a Frank Lloyd Wrigth, poucos no Brasil, naquele tempo conheciam a sua obra 3. Warchavchik inspirou-se nas teorias de Le Corbusier, em sua arquitetura com composições baseadas em formas elementares, no uso exclusivo do ângulo reto, na regularidade do conjunto arquitetônico, dos detalhes tanto em planta quanto em elevação. No entanto, teve dificuldades de encontrar condições materiais para seguir todos os princípios de Le Corbusier, como o alto custo do concreto armado e, por isso, a casa da rua Santa Cruz foi construída com tijolos. Em sua obra considerou as tradições do Brasil e adotou, nos fundos da casa da Santa Cruz, a grande varanda coberta com telhas canal, adotada desde o período colonial. O projeto foi bem aceito e a imprensa garantiu-lhe espaço para divulgar suas idéias. Além disso, Warchavchik recebeu elogios dos expoentes da Semana de 22, como Tarsila do Amaral: Warchavchik foi o primeiro que implantou desassombradamente a arquitetura moderna no Brasil, numa luta corajosa contra um ambiente hostil: guerra por parte dos colegas, dificuldade para encontrar material apropriado à nova arquitetura, incompreensão por parte do público... Foi o primeiro que abriu caminho à arquitetura nova no Brasil e o seu nome passou a ser um símbolo. Muita gente , ao referir-se a qualquer construção moderna, fala no estilo Warchavchik, assim como na Europa Le Corbusier é o padrão. ( Diário de São Paulo, 11 de dezembro de 1938 ) 4. E sobre a casa modernista escreveu Mário de Andrade: A tendência da arquitetura moderna é para evitar toda superposição decorativa e fazer dos próprios elementos essenciais a uma habitação, os motivos de beleza arquitetônica .É a composição dos volumes ( aposentos ), a distribuição das superfícies ( paredes ), das aberturas ( janelas, portas ), e o caráter do material, que originando a forma e o jogo da luz, são os motivos legítimos de beleza arquitetônica. A residência Warchavchik representa muito bem este conceito da Arquitetura moderna. O seu conjunto é harmonioso e sereno como deve ser o de uma residência familiar. O cimento armado está expresso pela nitidez e arrojo das formas, permitindo, a presença constante do jardim exterior. Este representa aliás, uma criação interessantíssima. Os grandes lisos e planos, emoldurados por cactos e palmeiras, são de uma originalidade esplêndida e dão ao conjunto uma nota feliz de tropicalismo e disciplina 5. E em outro artigo do dia 5 de abril de 1930, Mário de Andrade examina a importância e o significado da “Exposição duma Casa Modernista”, destacando a amplitude que essa arquitetura conferia à própria noção de arquitetura: Uma das coisas que mais distinguem a Arquitetura das outras Belas-Artes é a sua libertação do individualismo. Nós falamos no Inferno de Dante, nas Niñas de Velasquez, no Discóbolo de Mirão. E mesmo quando a gente 133 fala nos Lusíadas, ou na Ronda da Noite, o autor dessas obras está funcionando em nossa complexidade estimativa das coisas, não só como parte integrante, mas como parte primeira e absolutamente fundamental, e até valorizadora delas. E quando a gente escuta u’a música ou olha num quadro bonito, logo pergunta sem querer: De quem é? Ora, com a arquitetura verdadeira, isso em geral não se dá. Ninguém lembra de perguntar quem fez a sublime abside de São Pedro e é quase uma dissonância de erudição, dizer-se em público os nomes dos arquitetos dos palácios florentinos. E se examinarmos bem a nossa complexidade estimativa, percebemos que, incontestavelmente, para a totalidade numa obra arquitetônica, o nome de seu autor não funciona mesmo quase nada. Funcionará apenas, e posteriormente, como uma curiosidade. Já o mesmo não se dá quando a Arquitetura falseia os seus princípios e vira totalmente uma Bela-Arte desinteressada. São chavões de conversa artística “a colunata de Bernini”, a “Ópera de Garnier”, “Torre Eiffel”. Muitos modernistas poderão refugar aqui me vendo atacar a Torre Eiffel, porém se essa tentativa arrojada de Exposição Universal pode ter conseqüências úteis à Engenharia, ela foi e será sempre uma falsificação arquitetural. Os destinos que lhe deram já não são dela e outros dispositivos arquitetônicos os preencheriam melhor. Nós atualmente ainda estamos falando nas “casas do engenheiro Warchavchik” como falamos na casa do engenheiro fulano de tal, apenas porque Gregori Warchavchik foi o primeiro e é o único a construir casas modernistas em São Paulo. Mas que mais três engenheiros principalmente construindo casas assim aqui e o nome de Warchavchik desaparecerá das dele. Ficará sempre honradíssimo em nossa história arquitetônica, está claro, mas isso é refinamento. Para o mundo e para nossa sensação, as casas Warchavchik serão apenas.... casas de ninguém: Arquitetura 6. O passo decisivo da arquitetura moderna brasileira, segundo Yves Bruand 7, será dado por Lúcio Costa inspirado em Le Corbusier, mas, sem dúvida, a ação pioneira de Warchavchik preparou o caminho, contribuindo para a formação dos jovens arquitetos do Rio de Janeiro. Lúcio Costa escreveu na década de 50 e, mais tarde na década de 60 sobre o significado da atuação de Warchavchik. Conquanto o movimento modernista de São Paulo já contasse desde cedo com a arquitetura de Warchavchik ( o romantismo simpático da casa de Vila Mariana data de 1928), aqui no Rio somente mais tarde, depois da tentativa frustrada de reforma de ensino de Belas Artes, de que participou o arquiteto e que culminou com a organização do salão de 1931, foi que o processo de renovação já esboçado aqui e ali individualmente, começou a tomar pé e organizar-se. (Lúcio Costa, “Arquitetura Brasileira, Série dos “Cadernos de Cultura”, publicados pelo Ministério de Educação, Rio de Janeiro, 1952) 8. O meu depoimento não será demasiado longo. Ninguém jamais contestou a meu bom amigo Gregori Warchavchik a prioridade de haver construído as primeiras casas modernas do Brasil, nem que tais casas foram edificadas primeiro em São Paulo e depois aqui no Rio de Janeiro. (“Tribuna de Imprensa”, Rio de Janeiro, 25-26 de junho de 1960 ) 9. Em 1929, Warchavchik projeta e constrói as casas econômicas em série na Mooca, na rua Barão de Jaguara 10. Warchavchik teve o mérito de ter concebido a arquitetura como um todo, pensando nos objetos que 134 deveriam compor o ambiente do interior das edificações. A harmonia entre as diversas artes plásticas sempre foi preconizada pela arquitetura, que Vitrúvio com justiça, apelidou de “a princesa das artes”. Esta compreensão do sentimento de unidade e de harmonia perdeu-se na época do Romantismo que acabou favorecendo uma atitude mais individualista e, por conseqüente, eclética: e foi somente no início do século que a atenção dos arquitetos se dirigiu para este assunto e começou a reconsiderar a importância da unidade entre todas as partes que integram uma obra de arquitetura. Em São Paulo tivemos exemplos de obras de arte de acordo com a idéia da unidade entre as diversas artes plásticas: muito se deve pela divulgação da idéia da unidade e da introdução da arte contemporânea em geral, a Lasar Segal, o pintor, escultor e gravador de alto gabarito, cuja consciência se recusou a “ priori” a qualquer compromisso; a Warchavchik, não menos obstinado e convencido de sua missão, a Mário de Andrade, o papa do modernismo no Brasil 11. O ambiente de efervescência cultural de São Paulo na década de 20 reflete-se no artigo publicado por Anísio Teixeira no jornal A Tarde, da Bahia, que insere a importância da arquitetura moderna no contexto de um Brasil novo que começava a surgir: A tenuidade insignificante do passado brasileiro, que punha em nossa imaginação aquele complexo de desalento pessimista , que procurávamos corrigir com trapos literários, se esvai como uma projeção para o futuro. Somos a terra mais nova do mundo. E essa é a impressão que nos dá São Paulo. A terra a se desatar em culturas cada dia mais amplas e mais variadas e a população a crescer e a receber constantemente contingentes de todo o mundo, - dão ao visitante essa impressão de formação e de pioneirismo. A quase exaltação com que se busca uma expressão brasileira particular e própria, por outro lado, convence-nos de que há um grande esforço para dar consciência à obra que se está fazendo. Em arte e literatura por exemplo, o que se vai dando em São Paulo é singularmente documentativo deste momento. Um espírito de liberdade e de adaptação estão permitindo o aparecimento de qualquer coisa nova e própria. A pintura de Tarsila do Amaral, a música de Villa Lobos, a arquitetura de Warchavchik, são esforços deliciosos para não se ser nada senão Brasil e esse Brasil novo que está surgindo. A obra é a da colaboração com a terra nova. Nessa terra nova todos somos estrangeiros, é simples questão de recuar no tempo. Por isso, tanto será “brasileira” a obra do filho do português, como o filho do polonês ou italiano ou japonês. Warchavchik é russo e nunca tive a impressão mais forte da casa brasileira que eu entendo com o meu espírito moderno e livre de filho da América, como quando visitei a sua residência de linhas fortes e claras, construída toda de cimento, ferro e vidro, dentro de uma moldura de gigantescos cactos nacionais. A obra era brasileira porque era um consórcio inteligente entre o espírito do homem e as características da terra. (Extraído de uma entrevista de Anísio Teixeira ao jornal A Tarde da Bahia, e reproduzido em São Paulo no Correio Paulistano em 30 de novembro de 1929) 12. Assim as casas de Warchavchik, mesmo tendo sido construídas com o interesse comercial de casas para aluguel, trouxeram elementos de uso e ocupação do solo urbano que estão sendo retomados conceitualmente no que diz respeito à relação do edifício com a rua, e a mistura de usos na mesma localidade. 135 Talvez essas premissas não tenham sido utilizadas intencionalmente mas guardam um desenho do espaço urbano que sintetizam a característica urbanística mais forte da cidade industrial que se construía em São Paulo e que se reproduzem como linguagem aqui e ali nos bairros operários ao redor do centro. 5. O rio Tamanduateí e a Mooca A Mooca localiza-se na várzea do rio Tamanduateí, ao longo da ferrovia Santos Jundiaí. Este rio faz parte da bacia do alto Tietê e é um dos principais cursos d’água do Município de São Paulo. Sua várzea encontra-se completamente ocupada pelo bairro. Desde 1848 são realizadas intervenções no rio Tamanduateí, como retificações e canalizações, mas essas obras não propiciaram a integração do rio com suas áreas adjacentes. O rio Tamanduateí possui um significado histórico relacionado aos primórdios da colonização portuguesa e à ocupação inicial do núcleo urbano de nossa cidade, e as intervenções sobre ele deveriam conter esta dimensão histórica e paisagística. Propor formas de convivência do rio com a cidade é fundamental não só pelo seu caráter histórico, mas porque a sua recuperação poderá significar a recuperação de grande parte dos bairros que se situam às suas margens, formando um colar ao redor do centro da cidade. A barreira física, de aproximadamente três metros de altura, formada pelo “tampão” sobre o rio Tamanduateí, impede a travessia, a visualização e a integração entre a Mooca e o bairro do Cambuci. fig.83 fig.84 fig.85 136 fig.86 137 fig.87 fig.88 138 Há quarenta anos a paisagem no entorno do rio era a de uma avenida arborizada, com pistas de tráfego de veículos de paralelepípedo, solução esta mais condizente com as necessidades de drenagem urbana do que o recobrimento asfáltico. A visão do canal do rio era semelhante aos canais da cidade de Santos, projetados por Saturnino de Brito, que até hoje oferecem um ambiente aprazível para quem por eles transita. As pontes existentes na avenida do Estado possibilitavam a transposição do rio e a ligação da Mooca com o Cambuci. O “tampão” sobre o rio acabou com esta paisagem e não solucionou os problemas das enchentes e da poluição das águas. Sobre o leito tamponado do rio encontra-se projetada e parcialmente executada pela Prefeitura do Município de São Paulo a linha do VLP, Veículo Leve sobre Pneus, transporte de média capacidade que percorrerá a avenida do Estado no trecho Parque Dom Pedro II - Sacomã, em via segregada. Segundo o projeto inicial do VLP, o gabarito vertical do veículo será de 6 metros incluindo a rede aérea e ocupando uma faixa de rolamento de 2,70 metros de largura. Esse projeto, se executado como previsto, comprometerá de forma definitiva a possibilidade de recuperação da várzea do Tamanduateí como área de lazer integrada ao centro próximo. Análise recente do sistema realizada pela EMURB, para revisão do projeto, concluiu que o mesmo, idealizado pela gestão Paulo Maluf, está superdimensionado para a demanda. Os recursos previstos para a conclusão das obras são insuficientes, e os dados do EIA-RIMA apontam que a demanda nos horários de pico são de 400 usuários/hora - pico/sentido, compatível com atendimento por sistema de ônibus 12. Portanto, verifica-se que esta é mais uma obra inadequada para o eixo do rio Tamanduateí. Os imóveis comerciais da avenida do Estado, na altura da rua Barão de Jaguara, estão em mau estado de conservação, com aparência decadente, talvez pela perspectiva de novos usos ou das possíveis desapropriações em função do projeto do VLP. Atualmente, a avenida do Estado funciona apenas como uma solução viária de tráfego intenso de veículos no sentido sudeste centro, contribuindo para aumentar a poluição e a degradação da região. A falta de calçadas largas, de arborização, e os muros dos grandes imóveis, originariamente industriais, afasta e traz insegurança aos pedestres que circulam pela área. Na década de 60, a avenida do Estado era densamente arborizada e servia de acesso a pé ao Parque da Independência e Museu do Ipiranga, áreas de lazer muito usadas pela população dos bairros vizinhos, cujo trajeto era circundado por vários campos de várzea para o lazer popular nos fins de semana. A Praça Álvaro Cardoso, de pequenas dimensões e em mau estado de conservação, localizada na rua Odorico Mendes, é a única área verde do bairro. Nessa Praça está prevista a construção de uma estação da linha do VLP. 139 fig.89 fig.90 fig.93 fig.91 fig.94 140 fig.92 fig.95 fig.96 fig.97 fig.98 141 fig.100 fig.99 fig.101 fig.102 fig.103 142 fig.104 143 6. Acessibilidade A distância entre a Mooca e a Praça da Sé, no centro histórico da cidade, não atinge mil metros e, no entanto, este acesso está obstruído pelas obras viárias elevadas que o circundam. A barreira criada pelo “tampão” do rio Tamanduateí acabou com a ligação anterior existente entre a Mooca e o bairro do Cambuci, cuja proximidade propiciava uma grande interação entre os dois bairros. O acesso para o pedestre é feito por uma passarela, provisória e inóspita, sobre a avenida do Estado, na altura da rua Serra do Paracaima, que dá acesso à estação ferroviária da Mooca. É um local ermo, inseguro e sem atrativos para a travessia. As ruas Barão de Jaguara, Ana Nery e Luiz Gama, que cortam o bairro da Mooca no sentido norte sul e têm continuação no Cambuci, estão interrompidas pelo “tampão”. Edifícios de referência da paisagem do bairro que mantém suas características externas originais, situados nestas ruas, como a mesquita e antigas fábricas, ficaram sem acesso a partir do bairro da Mooca. A rua Piratininga é uma das mais antigas ligações da Mooca, com o bairro do Brás. É a principal via de chegada à Mooca para quem vem do centro pela Radial Leste. É o acesso para a estação intermodal Brás do metrô e possui um tráfego intenso no trecho de ligação com a Radial Leste, em função dos ônibus que se dirigem para a zona leste em direção a Sapopemba. Outro fator de insegurança nessa rua para os pedestres é a travessia sob o viaduto Alcântara Machado. Na rua da Mooca, nas imediações do entroncamento com a rua Piratininga, há um comércio especializado de autopeças e mecânica que ocupam antigos edifícios. Próximo a esse local encontra-se a conhecida igreja de San Gennaro. Outra rua importante do bairro é a rua Ana Nery, que começa na rua da Mooca e termina na avenida Independência, no bairro do Cambuci. Por ela se chega ao centro técnico do Itaú. O local, que concentra um dos pólos de emprego da região, já foi ocupado pela indústria Johnson & Johnson, que se transferiu fig.105 fig.106 fig.107 144 para o município de São José dos Campos. Na rua Ana Nery, ainda entre a rua da Mooca e a avenida do Estado, localiza-se uma parte importante do comércio local, alguns restaurantes, cortiços e a única creche pública. O complexo de viadutos sobre a chegada da avenida do Estado no Parque Dom Pedro II impede a visualização do parque e da colina histórica. Atrás deles é possível ver apenas a ponta do antigo edifício sede do Banespa, localizado na Praça Antônio Prado com avenida São João. fig.108 145 fig.109 fig.110 fig.111 146 fig.112 fig.113 fig.114 147 148 fig.115 fig.116 fig.117 fig.118 A avenida Alcântara Machado (Radial Leste), que faz a divisa da Mooca com o bairro do Brás, constitui-se em uma barreira entre os dois bairros devido a seu tráfego intenso. A presença da ferrovia situada à margem da Mooca possibilita pensar-se na acessibilidade, pelo transporte de massa, em direção ao centro, a outras regiões da cidade e Região Metropolitana de São Paulo. As alternativas atuais de transporte coletivo são prioritariamente as linhas de ônibus que circulam pelas principais vias do bairro. No total são 41 linhas que transitam pela Mooca. Sendo 14 pela avenida Alcântara Machado, 19 pela avenida do Estado, 4 pela rua da Mooca e avenida Presidente Wilson, e 4 exclusivamente pela rua da Mooca. Todos os trajetos de ônibus, dentro do bairro da Mooca são apenas de passagem pois, o bairro não possui nenhum terminal de ônibus em função da sua proximidade com grandes terminais, como o do Parque Dom Pedro II e do Metrô Brás. O quadro abaixo mostra a origem e destino das linhas de ônibus e as vias por onde circulam. fig.119 fig.120 fig.121 149 O quadro acima mostra que a maioria das linhas de ônibus serve à zona leste e o vetor sudeste da cidade e a região do ABCD, na Grande São Paulo. As linhas intermunicipais dirigem-se, principalmente, aos grandes terminais de transportes na área central, como o do Parque Dom Pedro II e Terminal Rodoviário do Tietê. O redimensionamento e planejamento do fluxo dos transportes entre o ABCD, a zona leste e o centro poderá reduzir o número de veículos que trafegam pela avenida do Estado e rua da Mooca, diminuir a poluição do ar e requalificar o papel das ruas para um uso mais favorável ao pedestre, ciclistas e trânsito local. fig.122 fig.123 150 fig.124 fig.125 151 Notas 1. PMSP, EMURB. Vilas e Conjuntos Habitacionais Área Cura Brás Bresser Relatório III, outubro de 1978. 2. FERRAZ, Geraldo. Warchavchik e a Introdução da Nova Arquitetura no Brasil: 1925 a 1940. São Paulo, Museu de Arte de São Paulo, 1965.MASP (Museu de Arte de São Paulo ), Publicação da exposição “ Warchavchik e as origens da arquitetura moderna no Brasil “ de agosto de 1971. Fotos reproduzidas. pg. 39-D 3. FERRAZ, Geraldo. op. cit. - Manifesto de La Sarraz . pg.30 “Les Congrés Internationaux D’Architecture Moderne Os Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna.”- Manifesto de La Sarraz Os arquitetos abaixo assinados representando os grupos nacionais de arquitetos modernos, aqui deixam confirmada a sua solidariedade, a sua unidade de opinião sobre as concepções fundamentais da arquitetura, assim como sobre os seus deveres profissionais para com a sociedade. Insistem particularmente sobre o seguinte: construir é atividade elementar dos homens, intimamente ligada com a evolução e o desenvolvimento da vida humana. O dever dos arquitetos consiste em se porem de acordo com a orientação de sua época. As suas obras devem expressar o espírito do seu tempo. O abaixo assinados se recusam categoricamente a empregar, nos seus métodos de trabalho, os princípios que puderam movimentar sociedades passadas e confirmam, ao contrário a necessidade de uma concepção nova. Querem uma arquitetura satisfazendo as exigências espirituais, intelectuais e materiais da vida atual. Conscientes das transformações profundas, operadas na estrutura social pelos maquinismos reconhecem que a transformação da ordem e da vida social fatalmente acarreta uma transformação correspondente do fenômeno arquitetural. O fim exato desta reunião é o de conseguir a harmonia entre os elementos presentes, colocando para isto, a arquitetura no seu verdadeiro plano, que é o plano econômico e sociológico, livrando-a das influências estéreis das academias conservadoras das fórmulas do passado. Nesta convicção declaram-se associados para poderem realizar, moral e intelectualmente, as suas aspirações num campo de ação internacional. Arquitetos: Haering e May Alemanha, Frank Áustria, Victor Bourgeous e Hoste- Bélgica, Lundberg Holm e Henningsen Dinamarca, Mercadal e Zavala Espanha, Neutra EUA, Auguste Perret e Le Corbusier França, Oud e Mart Stam Países Baixos, Fred Jorbat e Molnar Jarkas Hungria, Alb. Sartoris e C.E. Rava Itália, Edvar Heiberg Noruega, Cirkus Polônia, Karl Moser e H. Schmidt Suíssa, El Lissitzky Rússia, Krejcar- Checoslováquia. São Membros do comitê os arquitetos: Peter Behrens, H. P. Berlage, Tony Garnier, Josef Hoffmann, E. Saaruen, Van de Velde e Frank Lloyd Wright, nomes sobejamente conhecidos no mundo da arquitetura Gregori Warchavchik delegado para a América do Sul 18, Rua barão de Itapetininga São Paulo ( Brasil ) 4. FERRAZ, Geraldo. Warchavchik e a Introdução da Nova Arquitetura no Brasil:1925 a 1940. São Paulo, Museu de Arte de São Paulo, 1965.MASP (Museu de Arte de São Paulo ), Publicação da exposição “ Warchavchik e as origens da arquitetura moderna no Brasil “ de agosto de 1971. Fotos reproduzidas. Prefácio de Pietro Maria Bardi. pg. 07 a 10 5. Idem, op. cit. pg. 61, extraído de um artigo de Mário de Andrade publicado pelo Diário Nacional de 17/06/1928, São Paulo. 6. Idem, pg. 32. 152 7. BRUAND, Yves. Arquitetura Contemporânea no Brasil. Trad. Ana M. Goldberger. São Paulo, Perspectiva, 1981. “A primeira casa moderna em São Paulo”. Pg. 65 a pg. 71. 8. FERRAZ, Geraldo. op. cit. pg. 50 9. FERRAZ, Geraldo. op. cit.pg.50 10. Idem op. cit. 11. Idem op. cit. 12. Idem op. cit. pg. 56 PMSP, EMURB. Relatório Fura Fila Ramal Parque Dom Pedro/Sacomã. Diretoria de Planejamento e Diretoria de Obras, maio de 2001. 153 154 Capítulo IV “Revitalização do bairro da Mooca” 155 1. Diretrizes para o projeto de revitalização da Mooca A degradação da Mooca apresenta-se de diversas formas: pela presença dos cortiços em antigas residências unifamiliares; pelo confinamento do bairro através das barreiras formadas pela avenida do Estado e pela ferrovia; pela poluição do ar e do rio; pela depreciação dos imóveis de um modo geral; pela violência urbana presente no bairro. Uma característica importante do bairro é a convivência do uso residencial popular, desde a sua origem até os dias atuais, e outros usos, como serviços, comércio e pequenas indústrias do setor mecânico e de autopeças. Os pólos de emprego mais importantes da área são o centro de serviços do Itaú, a cervejaria Antárctica e outras indústrias. A primeira diretriz de projeto para a área deve orientar-se para resolver alguns dos aspectos do conflito do uso habitacional com outros usos e melhorar a qualidade de vida dos atuais moradores, assim como, buscar uma solução paisagística para o rio Tamanduateí e para a ferrovia, no sentido de resolver a acessibilidade para a área. A segunda diretriz é buscar uma forma de preservação da tipologia habitacional das vilas, quando for significativa, e apresentar condições favoráveis à sua permanência, pois a história do bairro se reflete na existência de inúmeras vilas e casas em série que foram produzidas no período do início da industrialização da cidade e que também fazem parte da memória deste período. Existem duas escalas de abordagem para a elaboração do projeto que refletem a relação da parte com o todo, a sua compreensão como parte do mesmo processo de desenvolvimento da cidade. A primeira escala de abordagem é a da própria cidade, onde o objeto se constitui em elementos da estrutura urbana mais geral, como: as possíveis intervenções no rio Tamanduateí para recuperá-lo como elemento paisagístico ambiental e histórico. a abertura da ferrovia para o bairro. a acessibilidade para edifícios históricos que compõe o envoltório que circunda o bairro. a transposição da avenida Radial Leste na ligação com o bairro do Brás, com ênfase para o pedestre. a recuperação da chegada ao Parque Dom Pedro II como porta de entrada para a sede da antiga vila colonial e início do antigo “Caminho do Mar”. permanência das visuais para os limites da cidade, principalmente em relação à Serra da Cantareira, sem verticalização na faixa que circunda a ferrovia. A segunda escala de abordagem é a escala do bairro e os projetos que dizem respeito à vida cotidiana local. 156 fig.01 bairro. - projeto habitacional de recuperação de vilas e de produção de novas habitações. outros projetos complementares de equipamentos e serviços sociais. valorização dos espaços públicos e das ruas locais tradicionais, onde acontecem as festas do a permanência da atividade industrial e outras atividades. uso misto de habitação, serviços e indústria. 2. Instrumentos urbanísticos O desenvolvimento das diretrizes de projeto pressupõe a formulação de políticas públicas de uso e ocupação do solo voltadas para viabilizar as propostas. Nesse sentido, a elaboração de instrumentos urbanísticos e institucionais, projetos de lei, convênios, linhas de financiamento e parcerias entre proprietários de imóveis e o poder público deverão servir não só ao bairro da Mooca, mas a outras regiões da cidade com características semelhantes. Hoje, os instrumentos públicos do Município de São Paulo para intervenções urbanísticas de médio ou grande porte ainda são limitados em relação à função da propriedade privada do solo urbano. Outras limitações estão relacionadas às leis que tratam da aquisição de terrenos pelo poder público e as leis de licitação de serviços e obras públicas, pois, estas legislações não permitem que se façam parcerias com empresários interessados em permutar condições numa área de intervenção urbanística. A legislação atual de Operações Urbanas encontra-se num estágio ainda muito frágil com relação aos interesses públicos. Tem prevalecido a troca de potencial construtivo por recursos para financiar obras públicas mas, no geral, as obras propostas têm sido indicadas pelo setor privado interessado apenas em aumentar seus lucros no mercado imobiliário. Outro fator que dificulta as intervenções urbanísticas de renovação nos bairros da área central é a fig.02 fig.03 fig.04 157 falta de integração entre os diversos agentes públicos responsáveis pelos serviços de infra-estrutura urbana: energia, saneamento básico, limpeza urbana, meio ambiente, políticas habitacionais, de transportes públicos, de uso e ocupação do solo, lazer, cultura, de equipamentos de educação e saúde e segurança. No mesmo nível de governo muitas vezes essa integração também não acontece, devido a interesses corporativistas. Finalmente, o entrave maior para o desenvolvimento desse tipo de projeto urbano é a ausência de controle social durante todo o processo de elaboração e desenvolvimento das propostas, pois freqüentemente prevalecem os interesses privados dos empreendedores, que exercem maior poder de pressão sobre o poder público. A ausência de um plano diretor para a cidade de São Paulo reforça o caráter de improvisação e de superposição de projetos com curta durabilidade, no que diz respeito à superação das soluções adotadas, como foi o caso recente do prolongamento da avenida Faria Lima, a partir do cruzamento da avenida Cidade Jardim. O prolongamento da avenida foi determinado pelos interesses do capital imobiliário, que se sobrepôs aos interesses dos moradores do bairro da Vila Olímpia e Pinheiros e, a forma apressada como foi viabilizada sua construção, gerou outros problemas na própria avenida como os grandes congestionamentos que, no futuro, forçarão à execução de outras obras. 3. A ocupação da várzea, novos usos, espaços e significados O bairro da Mooca, como descrito anteriormente, é um bairro localizado na várzea do rio Tamanduateí. Essa localização traz inúmeras conseqüências para a vida da cidade e de seus moradores. O rio Tamanduateí é um dos principais rios da cidade, mas é tratado como um estorvo e não como um elemento da natureza, que já possibilitou o abastecimento e o transporte para seus habitantes no período colonial. São Paulo possui três grandes rios, o Tietê, o Pinheiros e o Tamanduateí, outros de segunda grandeza, como o Aricanduva e o Pirajussara, são freqüentemente notícia nos jornais em função dos prejuízos causados à cidade pelas enchentes. Nossa rede hidrográfica é muito rica e, talvez por isso, os “campos de Piratininga” era tão povoado pelos indígenas quando chegaram os portugueses. Na segunda metade do século XX, nos anos 50, a cidade cresceu e voltou definitivamente as costas para os rios. O geógrafo Aziz Ab’Saber1 explica que a várzea do rio Tietê apresenta uma dimensão atípica, de 40 vezes a largura do leito do rio, quando os estudos tradicionais dos geógrafos americanos indicavam que essa relação normalmente não ultrapassava 18 vezes. Talvez essa constatação nos leve a concluir que seria quase impossível que nossa ocupação urbana não tivesse avançado sobre uma várzea tão extensa. Isso não quer dizer que seja defensável a ocupação indiscriminada da várzea de nossos rios, mas esta 158 cidade seria outra e não São Paulo, essa grande metrópole com suas contradições. As metrópoles européias, como Londres e Paris, poluíram seus rios para depois despoluí-los. O desenvolvimento da sociedade industrial destruiu grande parte da natureza viva, em parte por falta de tecnologia, em parte pela ganância do desenvolvimento capitalista. O processo de urbanização das cidades industriais foi acompanhado de um modo geral pela degradação do meio ambiente. Hoje a consciência sobre a necessidade de preservação do meio ambiente é o grande tema das questões urbanas. Algumas visões encaram esse problema enfocando a perda da vida animal e vegetal e a morte dos cursos d’água e das florestas nas cidades, como o centro da questão. A realidade das grandes concentrações urbanas mostram que as populações mais pobres são as que mais sofrem com a degradação ambiental, pois, em geral, habitam áreas frágeis desse ponto de vista ambiental. Em primeiro lugar, porque a proteção do meio ambiente exige educação e informação adequadas para a população sobre os riscos que envolve a degradação da natureza. Segundo, porque essa proteção envolve meios e recursos materiais e ações de fiscalização por parte de toda a sociedade, mas, principalmente, pelo poder público. Terceiro, porque existe um mercado informal de loteamentos e moradias populares nas áreas “protegidas” de meio ambiente. Em São Paulo a legislação de proteção dos mananciais é de 1975 e restringia-se à região metropolitana de São Paulo. Recentemente, em 1996, essa legislação estendeu-se para o Estado inteiro, baseando as ações legais, no conceito de bacia hidrográfica, e criou um modelo de gestão fundamentado no Comitê de Bacia. Neste comitê participa a sociedade civil organizada e o poder público. Cada Comitê de Bacia deverá elaborar um plano emergencial para solucionar as situações críticas de proteção e uso do solo na fig.05 159 área sob sua jurisdição. A partir daí, criam-se legislações específicas a serem aprovadas em cada município que compõe aquela bacia hidrográfica de uso e parcelamento do solo. Essa legislação é um avanço na gestão pública das águas. Mas, o controle da ocupação do solo nas áreas de mananciais ou das várzeas está longe de ser alcançado, para evitar danos maiores. O empobrecimento da população do município de São Paulo, na década de 90, estimulou o aumento das ocupações de terra nas áreas frágeis do ponto de vista ambiental e a cidade vive hoje o drama do conflito social entre a moradia popular e o meio ambiente. As áreas mais antigas da cidade ocuparam as várzeas dos rios no limite máximo possível e, há décadas, a solução de drenagem urbana, através das avenidas de fundo de vale, agravou o problema das enchentes com a excessiva impermeabilização do solo urbano e o conseqüente aumento da velocidade das águas, criando novos pontos de inundação. É necessário modificar a orientação dos projetos de canalizações de córregos na cidade inserindo a idéia de parques lineares lindeiros aos canais como zonas de permeabilidade e recreação. Essa é uma solução de baixo custo que permitirá o incremento das áreas verdes e a recomposição dos bairros que margeiam os rios e córregos da cidade. Mas, não é possível transformar as margens dos rios sem a devida recomposição do desenho urbano dos bairros limítrofes a eles. Portanto, é necessário circunscrever a área que se pretende abranger com uma solução integrada de drenagem e renovação urbana e políticas de habitação para a população de baixa renda. No caso do bairro da Mooca, a várzea apresenta uma ocupação consolidada, e, por isso, não é possível julgar que se possa recuperar a várzea do rio Tamanduateí em toda sua extensão, mas, é essencial que se examine todas as possibilidades de remanejamento do uso do solo urbano e descobrir as áreas potenciais de reformulação de seu uso para abrigar o espraiamento do rio. fig.06 160 Nesse propósito, o levantamento do uso solo atualizado e o exame da dinâmica das funções urbanas, que este pedaço da cidade exerce no seu conjunto, são indispensáveis ao desenvolvimento do projeto paisagístico do entorno do rio. A postura que aqui se adota é a circunscrição de uma área de intervenção do bairro e suas relações com o rio, e enfrentar o desafio do projeto urbano com a inclusão de trechos da várzea no desenho, e a criação de usos como ciclovias que se adequam perfeitamente à geografia existente. Outra diretriz é procurar afastar o uso habitacional das cotas mais baixas, com o remanejamento desse uso, recompondo-o em cotas mais altas nos espaços potencialmente ociosos do bairro. As novas edificações, que deverão apoiar-se em solos instáveis e de lençol freático alto, dependerão de estudo geotécnico e de captação de água. A recuperação do rio deverá incorporar o modelo de gestão do comitê de bacia do Tamanduateí, mas, é preciso criar instâncias locais de gestão e controle, onde cada comunidade participe desse processo encarregando-se da porção que lhe pertence. O novo desenho urbano do bairro deverá incorporar a herança histórica e também novas funções de um bairro situado em várzea. O desenvolvimento dessa abordagem é projeto de fôlego e poderá servir como uma estratégia de revitalização dos bairros que circundam o centro nas margens do Tamanduateí e da ferrovia, sem expulsão da população moradora. A convivência de usos mistos no bairro compõe uma grande vitalidade na área, mas, é preciso conter o processo de degradação de seus espaços e das condições de vida da população. A Mooca poderá continuar sendo o local de moradia dos trabalhadores, mantendo suas características locais de vizinhança, mas, incorporando projetos da escala geral da cidade como a recuperação do rio Tamanduateí. Os poucos espaços públicos existentes na área deverão ser ampliados e revalorizados, como a estação da Mooca, cujo acesso ao Parque Dom Pedro e à Colina Histórica deverá ser objeto de projeto específico tendo em vista a sua proximidade. A vida estressante de uma grande metrópole como São Paulo precisa ser rebatida com hábitos fig.07 fig.08 fig.09 161 saudáveis de vida, como o caminhar ou pedalar a curtas distâncias de 2 a 5 quilômetros. Essas práticas devem se desenvolver em ambiente seguro e agradável ao organismo. A população que vive próxima ao centro já faz essa opção para economizar o uso do transporte de massa e não terá dificuldades em incorporar caminhadas se lhe for oferecido espaços públicos de qualidade. A preservação das vilas que se encontram em pleno uso habitacional, mesmo que as casas estejam descaracterizadas em relação à sua construção original, se justifica pelo fato de que são exemplos de adensamento urbano e racionalização do espaço coletivo no miolo das quadras que abrigam as atividades locais de lazer das crianças e de descanso do estresse da rua para os mais velhos. 4. Morar e trabalhar na Mooca fig.10 São Paulo possui uma população de 10.434.212 de habitantes segundo o Censo IBGE 2000, apresenta dados econômicos que indicam uma tendência de se transformar de uma cidade industrial em cidade de serviços. A amostragem de empregos por setor de atividade revela essa tendência. Segundo dados da SEMPLA 2, em 1997, de 2.474.444 empregos, 563.086 (22,76%) eram da indústria de transformação e 1.222.852 (49,42%) pertenciam ao setor de serviços. O restante estava distribuído no comércio, 447.766 (18,10%), atividade agropecuária, 5.029 (0,2%), extração mineral 2.089 (0,08%), construção civil, 186.330 (7,53%). O distrito do Cambuci, onde se situa a Mooca oficialmente, apresentava a seguinte distribuição de empregos no mesmo ano, de um total de 33.503 empregos, 12.691 (37,88%) eram da indústria, 8.863 (26,45%) do setor de serviços, 4.458 (13,31%) no comércio. As tabelas a seguir mostram como os distritos mais antigos da área central, no vetor sudoeste apresentam uma concentração maior de empregos no setor de serviços e comércio, diferentemente dos bairros que formam um colar ao longo da várzea do rio Tamanduateí e da ferrovia, com uma maior presença ainda do emprego industrial. Apenas o distrito da Barra Funda apresenta distribuição diferenciada dos demais, onde dos 50.127 empregos, em 1997, 25.507 são do setor de serviços (50,88%), 13.091 (26,12%) da indústria e 8.057 (16,07%) do comércio, com igual tendência dos dados gerais da cidade, talvez, decorrente do impacto sofrido pela área com a instalação do Metrô, de equipamentos, como o Memorial da América Latina e, recentemente, a implementação da Operação Urbana Água Branca.4 162 fig.11 Os distritos que compõe a área central têm uma participação significativa nos empregos do município representando aproximadamente 33,20% da oferta. Os bairros vizinhos à ferrovia participam com 12,38% desse total e os do centro mais antigo com 18,79%. A tendência de maior incidência do setor de serviços na cidade não significa que a indústria perdeu sua importância. Na verdade, a produção e a população estão se espraiando na periferia da capital e nos municípios vizinhos mas sem ultrapassar o raio de 150 quilômetros. Essa mancha que se define de concentração de investimentos industriais está sendo chamada de macrometrópole. 163 A cidade, no entanto, e a Grande São Paulo ganham importância, apesar de perderem investimentos para os municípios vizinhos como Campinas, São José dos Campos e Sorocaba. Mesmo assim, a participação da Grande São Paulo nos investimentos industriais era de 51,8% em 19956. Em 1980, era de 64%. A capital caiu sua participação de 36% em 1980 para 22% em 1995. Essa perda para a capital não significou diminuir sua importância, pois os grandes conglomerados permaneceram na cidade com suas sedes. Entre as 100 maiores empresas privadas do país, 37 têm sua sede em São Paulo e 15 nesse raio de 150 Km. Esse novo patamar da industrialização de São Paulo, se por um lado significa maiores investimentos e geração de arrecadação para a cidade, por outro, sofisticou os serviços que lhe dá suporte e com isso acentuou as desigualdades sociais dentro da capital. Numa ponta encontra-se uma estrutura ocupacional de alta tecnologia e sofisticação e na outra, a precarização cada vez maior das condições de trabalho e o aumento do mercado informal, assim como, uma baixa qualificação de mão de obra para os empregos nos serviços de apoio. A contradição nesse quadro de desenvolvimento econômico da cidade é o rápido empobrecimento de grandes parcelas da população e a perda de qualidade de vida. Alguns dados podem exemplificar como essas circunstâncias se refletiram na ocupação urbana de São Paulo, nas condições de moradia e no meio ambiente. Ao examinar as estimativas de população7 entre o ano de 1997 e 2000, a primeira conseqüência que se tira é que a população da área central diminuiu, apesar do total do município crescer a uma taxa de 1,2% no mesmo período. É certo que essa é uma taxa baixa de crescimento, típica de uma urbanização já consolidada, mas quando se observa a distribuição pelos diversos distritos da capital, verificamos que há um desequilíbrio decorrente das desigualdades sociais. Somando-se a população dos distritos da área central e de seu entorno mais imediato, como é o caso da área de estudo dessa pesquisa, chega-se a um total de 641.608 habitantes em 1997 e 606.611 habitantes na projeção para 2000, ou seja uma perda de 34.997 habitantes, equivalente a 5,45% da situação anterior. No outro extremo, verifica-se um crescimento equivalente a uma expansão de fronteiras territoriais, como é o caso do distrito de Cidade Tiradentes, na zona leste, que teve uma estimativa de crescimento da ordem de 60.472 habitantes, ou 33,7% de taxa de crescimento, em apenas três anos, absorvendo uma população maior do que perdeu a área central. No caso do distrito de Cidade Tiradentes houve uma expansão acelerada dos limites da zona rural do município, em parte promovida pelo próprio poder público municipal com a construção de grandes conjuntos habitacionais na área sem a correspondente infra-estrutura urbana. Outro exemplo também na periferia da cidade é o distrito do Grajaú com 291.214 habitantes em 1997 que e passa a 353.578 habitantes em 2000, com um crescimento da ordem de 21,42%. É importante ressaltar que parte desse distrito encontra-se em área de proteção dos mananciais na bacia da represa Billings. Outro exemplo em área de proteção ambiental, hoje pertencente à APA do Capivari Monos na zona sul, é o distrito de Parelheiros com um acréscimo de 19.218 habitantes a uma taxa de 21,73% 164 As maiores taxas de crescimentos se deram associadas às regiões da cidade que necessitam de preservação do meio ambiente e que sofrem com a falta de infra-estrutura pela ocupação desordenada e acelerada como, por exemplo, o distrito da Brasilândia em direção à Serra da Cantareira, com um crescimento de 8,99%. Os distritos com urbanização consolidada da cidade localizados na periferia ou no anel intermediário, de um modo geral, diminuíram sua população em função do alto custo para se morar em áreas bem estruturadas. O último censo do IBGE apontou que existem hoje em São Paulo cerca de 400.000 domicílios vagos em toda a cidade. É um dado que indica ser preciso rever a política urbana de São Paulo e coibir a especulação do solo e dos imóveis urbanos e reflete no dia-a-dia da cidade, aquilo que o geógrafo Aziz Ab’ Saber8 chamou de quebra da funcionalidade urbana, com os congestionamentos, enchentes e violência urbana. Essas são algumas das razões que nos levam a persistir no caminho de pensar as políticas de habitação nas áreas já dotadas de infra-estrutura urbana e no reaproveitamento do patrimônio construído urbano, com uma nova visão de legislação urbanística e articulação dos espaços privados com os espaços públicos. A idéia de revitalização do bairro da Mooca, como local de morar com qualidade de vida, deve estar fundamentada numa visão geral da cidade que articule a política de infra-estrutura, de transportes e meio ambiente. Nesse sentido o aproveitamento da ferrovia como transporte urbano de média capacidade como ligação entre zonas de morar e trabalhar, pode viabilizar o deslocamento da população moradora no centro para bolsões de emprego que estejam localizados nos limites da Grande São Paulo. Para isso é necessário promover sua qualidade, diminuição do custo e integração com outros meios de transportes. Certamente, a localização de ofertas de moradias de interesse social na área central permite um tempo maior disponível para as atividades familiares, de lazer, cultura e descanso. Além de garantir o acesso aos recursos dos equipamentos públicos de saúde e educação concentrados no centro da cidade. 5.Gestão para um programa de revitalização do bairro da Mooca9 A gestão de um programa de revitalização do bairro da Mooca requer a ação integrada e compartilhada de vários agentes do poder público e privado em conjunto com a população interessada. Nesse estudo foi adotado a metodologia de “plano de ação” proposta pelos holandeses no assessoramento às políticas de gestão urbana, com as devidas adaptações à realidade da cidade de São Paulo Os aspectos de descrição e história da área de estudo necessários para a compreensão dos participantes do curso na Holanda, foram aqui eliminados, por encontrarem-se exaustivamente descritos em capítulos anteriores. Outros aspectos se apresentam para fundamentar as análises efetivadas. A metodologia do “plano de ação” baseia-se em etapas que devem buscar a concentração de objetivos e ações para execução em curto espaço de tempo, dois ou três anos, para a solução de problemas urbanos emergentes. Suas etapas mais importantes são: 165 - identificação do problema principal que se deseja atacar; com elaboração da árvore do problema, com as respectivas relações de causa e efeito. (“Problem Tree”) - análise dos objetivos a serem atingidos; - análise das forças favoráveis e das forças contrárias para alcançar; quando possível desenhar um diagrama de forças para que se visualize o peso de cada força em relação à sua contrária; - análise da estrutura institucional existente para execução do programa pretendido; - escolha de estratégias prioritárias para neutralizar as forças desfavoráveis; - desenvolvimento da estratégia principal e as ações necessárias para sua concretização; - identificar os recursos necessários; - cronograma de execução das ações com a previsão de impactos correspondentes. Nesse caso, o resultado final não poderia ser exatamente um plano de ação específico, mas sim, a elaboração de uma proposta de gestão para um programa de revitalização onde se identificou várias estratégias, as quais deverão resultar em vários planos de ação específicos, mas integrados entre si. A tese aqui desenvolvida trata da revitalização do bairro da Mooca com foco na problemática da moradia popular nos bairros centrais da cidade de São Paulo. O bairro da Mooca foi escolhido, pois possui uma carga simbólica da luta de resistência do trabalho frente ao capital. Os bairros centrais se esvaziam mas, a população empobrecida permanece e preserva a arquitetura das casas originalmente construídas para a classe operária, com sua presença. Parte da memória da cidade permanece viva ainda pela presença da população pobre na área central. A revitalização desses bairros pode seguir dois caminhos, um da elitização e expulsão da população trabalhadora ou o caminho da renovação urbana baseada no tripé moradia popular, patrimônio cultural e histórico e políticas sociais de caráter emancipadoras. A maioria de projetos de moradia social no Brasil localizaram-se nas periferias das grandes cidades. Estes projetos e políticas seguiram e ainda seguem a lógica de um padrão de expansão periférica da cidade, que torna muito caro o provimento de infra-estrutura para novos assentamentos humanos. Localizados a quase trinta quilômetros do centro da cidade, em alguns casos, fazem com que os subsídios necessários para implementar a infra-estrutura dos projetos custem para o poder público, aproximadamente, 70% do preço de cada habitação. É necessário implementar uma visão nova sobre programas de moradia social e sua localização, pois a terra é escassa em São Paulo e há 595.000 habitantes morando em cortiços, um universo significativo para o desenvolvimento de uma política habitacional para os setores populares no centro. Em São Paulo, uma pequena experiência foi desenvolvida em 1991, como uma linha de programa público voltada para moradores de cortiços. No centro, há um estoque de edifícios para recuperar que podem se tornar bons lugares para desenvolver programas de moradia social. No bairro da Mooca, as características atuais do parcelamento e ocupação começaram a ser definidas 166 na metade do século dezenove quando os imigrantes italianos chegaram ao Brasil, na primeira fase da industrialização, e fixaram suas residências nesta parte da cidade próximas às fábricas e à estrada de ferro. Muitas moradias foram construídas por donos das fábricas para atrair a mão-de-obra imigrante. Até algumas décadas passadas, o bairro da Mooca era parte da zona leste. Hoje é considerado central, porque a distância para o centro é muito pequena e o acesso mais fácil. A Mooca possui muitos edifícios fabris históricos e o desenho urbano do traçado das ruas é o mesmo da época da formação do bairro. A preservação de testemunhos históricos do processo de produção em São Paulo representa a memória da característica mais importante da consolidação da metrópole nas fases da cidade industrial. Esta é uma herança que pertence também à mão de obra trabalhadora da cidade e não só aos proprietários dos imóveis que abrigaram esta atividade. São Paulo não tem uma tradição de programas de revitalização. A estrutura administrativa e legal do Governo Municipal é um obstáculo à implementação desse tipo de ação que integra projetos de moradia sociais e de revitalização. Nesse sentido devemos examinar alguns aspectos do processo de urbanização nacional e da cidade que explicam certas características do bairro da Mooca. Brasil, processo de urbanização, São Paulo e o “coração” da cidade O Brasil possui hoje 169 milhões de habitantes. Em 1960, 55,3% da população brasileira vivia em áreas rurais e só 44,7% nas cidades. Em 1970, a população urbana era de 55% e a rural era de 44,1%. A partir daí, a população urbana tem crescido rapidamente até os anos 90. Atualmente, só 21% das pessoas do Brasil vivem em área rural e 79,0% nas cidades. 167 O Estado de São Paulo na região Sudeste do Brasil apresenta a taxa mais alta de urbanização, com 89,3% da população morando em cidades, mas a taxa de crescimento anual estabilizou-se no patamar de 1,4% . A taxa de crescimento urbano do Brasil também encontra-se próximo a 1,4%. Em 1990, 29% da população do Brasil já vivia em regiões metropolitanas. Nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro a população metropolitana mais pobre representa 63% e 48% da população respectivamente. Na última década, a urbanização brasileira aconteceu de forma confusa e fisicamente concentrada , com falta de planejamento e padrões obsoletos de gestão; falta de resposta às demandas de serviços; com a decadência rápida infra-estrutura existente e excessiva degradação ambiental. Os investimentos públicos dirigiram-se às áreas metropolitanas com aumento das diferenças regionais, dos problemas sociais e ambientais dos grandes centros urbanos. O processo de ocupação territorial da cidade de São Paulo se explicou por fatores geográficos e também pelo modo como as elites ocuparam o seu espaço na cidade. A fundação da cidade de São Paulo em 1554 e a escolha do sítio geográfico tiveram grande influência dos Jesuítas, que seguiram a experiência da população indígena nativa que viveu nesse território e descobriram que o local tinha um grande potencial de adensamento em função de várias características geográficas. Um destes fatores é a proximidade e facilidade de acesso entre o planalto e o litoral de São Paulo, através da Serra do Mar com uma altura de aproximadamente 760 metros, ponto mais baixo de transposição da serra. O sítio urbano original da cidade no Pátio do Colégio foi escolhido em função da necessidade de defesa contra ataques indígenas. E a colina histórica ao lado do rio Tamanduatei é o começo do núcleo urbano. Até o século XIX, São Paulo era uma pequena vila que se desenvolveu a partir da economia do café, da ferrovia e depois com a industrialização. A cidade, no entanto, sempre foi o cruzamento de todos os caminhos para outras partes do país, que se tornariam os modos de comunicação futuros da rede de estradas A economia de café e a instalação da ferrovia foram determinantes para o crescimento da cidade. As chácaras dos fazendeiros do café viriam a se tornar os futuros loteamentos A partir da colina histórica, as classes dominantes ocuparam primeiro o bairro da Consolação, depois o de Higienópolis, subiram o espigão da Avenida Paulista e, recentemente, ocuparam as regiões de Jardins e da avenida Faria Lima. Hoje em dia, as grandes empresas que atuam na cidade, desenvolvem a região junto ao Rio Pinheiros e próximo da Avenida Luís Carlos Berrini, no vetor sudoeste. Esses são os bairros com melhor infraestrutura urbana e que receberam a maioria dos investimentos do setor privado e público na década de 90. Os bairros operários nasceram com o processo de industrialização da cidade e se localizaram nas várzeas do Rio Tamanduateí e do Rio Tietê, perto das fábricas e da ferrovia. Atualmente estes bairros permanecem como bairros residenciais e de trabalho, mas sofrem um alto processo de decadência com 168 o crescimento de cortiços e da pobreza. A expansão de metrópole industrial nos anos 50 precisou de novas áreas de moradia que resultaram no crescimento dos subúrbios periféricos, com a construção dos bairros populares. Nos anos 70, a lei federal sobre parcelamento do solo, desencorajou a construção de novos loteamentos populares e nesse período muitas favelas surgiram como uma alternativa de moradia para as classes trabalhadoras. Os cortiços são mais antigos na cidade de São Paulo, com um século de existência como moradia de imigrantes estrangeiros que vinham para trabalhar nas fábricas e, ainda hoje, são a alternativa de moradia para a população de baixa renda e o bairro da Mooca possui muitos deles. A legislação de proteção dos mananciais, criada em 1975, influenciou a oferta de loteamentos populares na cidade de São Paulo. A falta de fiscalização e controle do uso da terra induziu a criação de loteamentos informais sem a devida infra-estrutura de saneamento básico, que contribuem com a poluição das águas que abastecem a cidade. São Paulo é a maior metrópole brasileira com 10.338.932 habitantes e 1509 quilômetros quadrados. Sua cobertura de infra-estrutura é de 99,8% para provisão de água, 88% de coleta de dejetos sólidos e 4,6 m2 de áreas verdes por habitante. No entanto, a distribuição destes indicadores na cidade não é equilibrada. A tendência de mudança de perfil de uma cidade industrial para uma cidade de serviços, com grandes investimentos internacionais e desenvolvimento turístico empresarial, não esvaziou totalmente as três áreas industriais mais importantes situadas nas regiões da Barra Funda - Lapa, Mooca - Ipiranga e ao longo da várzea do rio Pinheiros. A transferência da indústria paulistana para a região do ABC, na década de 50, e a perda de importância da ferrovia como ligação entre o porto e o planalto, provocaram uma certa ociosidade dos edifícios industriais localizados na Mooca. A marca da urbanização de São Paulo atualmente é a convivência conflituosa entre uma “cidade legal” e uma “cidade ilegal”. Uma parte da cidade com infra-estrutura e controle do uso do solo, serviços sociais, população de alta renda etc.. Por outro lado, há uma cidade sem infra-estrutura adequada, sem coleta de lixo, com carência de áreas verdes, com poluição ambiental, com ausência de regulação do uso da terra urbana e, finalmente, com inúmeros bairros degradados ao redor do centro como a Mooca, o Belém, a Liberdade, a Barra Funda, o Pari, o Brás e a Luz. Esses bairros degradados formam um anel de ocupação tradicional na área central com características semelhantes, mas com singularidades de desenho urbano, da sua história e de suas dinâmicas econômicas e sociais. As similaridades são as péssimas condições de moradia, boa infra-estrutura devido a sua proximidade com o centro histórico, existência de um considerável patrimônio histórico construído e em parte abandonado, e a existência de áreas potenciais nos miolos das quadras, onde a construção de edifícios com alta densidade poderia substituir as estruturas existentes para maximizar o uso da terra. A Mooca, oficialmente hoje, é parte do distrito do Cambuci e da Administração Regional da Sé, que vêm perdendo população atualmente e, por isso, apresenta um grande potencial de adensamento. 169 A revitalização destes bairros é um modo para manter a simbologia do centro da cidade e renovar o seu valor histórico como local de nascimento e “coração” da metrópole, no sentido de criar vínculos afetivos de todos os moradores da cidade e explorar o seu potencial cultural. Mas, é necessário uma visão social sobre os problemas dos bairros centrais e um “uso vivo” do centro com a mistura de usos, de moradia, serviços, comércio e indústria sem poluição. Mooca, moradia de trabalhadores no “coração” da cidade O bairro da Mooca, inserido nos limites do anel central, foi um dos primeiros bairros operários da cidade. Possui um valor histórico para a cidade de São Paulo, mas, também, para os movimentos de trabalhadores brasileiros. Essas características e a proximidade com áreas importantes de preservação histórica e sua paisagem, predominantemente horizontal, são elementos essenciais para um programa de revitalização, assim como sua localização na várzea do rio Tamanduateí. A área de estudo da Mooca é delimitada pelo Rio Tamanduateí, pela antiga ferrovia São Paulo Railway, pela avenida Alcântara Machado ( Radial Leste ) e o Parque Dom Pedro II, onde se localiza a sede do governo municipal. O desenho urbano da Mooca foi o mesmo durante os últimos setenta anos, há alguns espaços vazios, armazéns e fábrica subutilizados, o que mostra um grande potencial de reciclagem para projetos de habitação popular e de serviços sociais. Os bairros históricos, moradia dos trabalhadores como a Mooca, o Brás, o Pari, o Belenzinho têm sofrido um processo de degradação urbana, mas têm uma importante coleção de sua arquitetura e urbanismo originais que refletem momentos importantes da história da cidade e, por isso, necessitam da revitalização de seus lugares e usos. As pessoas que vivem e usam estas áreas escolheram permanecer perto do coração da cidade e devem ser as herdeiras da preservação da herança cultural existente nos espaços construídos da cidade. Suas habitações sobrevivem em condições precárias onde os espaços públicos são as ruas, por motivos culturais, mas também, pela falta de praças e outros espaços públicos. Há muitos exemplos de habitações operárias dos anos 20 na Mooca, quando, foram construídos os primeiros grupos de casas com uma visão pré - moderna de arquitetura. As chamadas “vilas operárias” e o grupo de casas em série projetadas pelo arquiteto Gregori Warchavchik ( 1929 ) são exemplos importantes de arquitetura pré modernista de São Paulo destinadas aos trabalhadores. 170 fig.12 fig.13 fig.14 171 Estruturas do governo municipal para os programas de preservação da herança histórica e de moradia popular na cidade de São Paulo Departamento de Patrimônio Histórico - descrição e papel A atividade de elaborar políticas de preservação de edifícios históricos ou de áreas urbanas históricas é objeto da atividade da Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura do Município de São Paulo (órgão geral responsável pela cultura na municipalidade), onde encontra-se o departamento que é responsável pelos estudos de preservação da herança da cidade. Outros órgãos de governo, no nível estadual e federal, concorrem com esta atividade, são o CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Ambiental) e IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). O Departamento de Patrimônio Histórico faz parte da estrutura da Secretaria Municipal de Cultura. Internamente ao departamento há duas divisões: uma de preservação e outra de arquivo. A Divisão de Preservação que nos interessa no momento, pelo fato de estar relacionada com o programa que se pretende, está subdividida em quatro seções: 1) Conservação e Projeto de Restauração: é responsável pela lei de conservação de edifícios protegidos que são propriedade do Departamento de Patrimônio Histórico, como por exemplo : a Casa do Grito, a Casa Amarela, o Edifício Ramos de Azevedo, o Sitio Morrinhos, o Sitio Mirim, a Casa Bandeirista e também pelos novos projetos dos edifícios protegidos da municipalidade. 2) Crítica e Preservação de Patrimônio: é responsável pela análise de pedido privado de proteção de edifícios 3) Pesquisa e investigação: é uma seção composta por historiadores que fazem pesquisas sobre os edifícios da cidade e história dos bairros 4) Revitalização: é a seção que é responsável por projetos novos, mas que atualmente encontram-se ocupada com uma função secundária, como a notificação para análise da permissão de edifícios. O Departamento de Patrimônio Histórico tem um papel muito importante para a política de preservação e revitalização do uso do patrimônio histórico da cidade de São Paulo, mas no conjunto da estrutura do governo local não há uma política de investimentos voltadas para esse setor. Em primeiro lugar porque os recursos são insuficientes para atender o conjunto de demandas de infra-estrutura urbana e de equipamentos e serviços sociais que a cidade exige da administração municipal. O modelo de expansão periférica da ocupação urbana de São Paulo, que seguiu a lógica do mercado imobiliário, impõe a cada dia o atendimento de demandas oriundas de novas áreas da cidade. Segundo, porque há um equívoco quando se aborda a questão do patrimônio cultural histórico de nossa sociedade, que enfatiza apenas a restauração de monumentos e pouco se fala do patrimônio 172 cultural do espaço cotidiano da população. E quando se elaboram os orçamentos públicos, de uma forma desequilibrada, se compara o investimento em patrimônio histórico com as demandas sociais, o que nos parece uma equação mal formulada. Terceiro, a discussão sobre o investimento em revitalização da herança cultural da cidade valoriza em demasiado a requalificação do centro da cidade de São Paulo. A preocupação de fomentar o turismo com o embelezamento da recuperação da arquitetura existente se sobrepõe ao debate de uma nova política de recuperação da vida urbana para seus habitantes, como se a história só estivesse no centro e fosse apenas a história dos edifícios É necessário dar mais relevância para a atividade do Departamento de Patrimônio Histórico e promover mais a sua integração com outros programas da municipalidade, como os de moradia popular, plano diretor e desenvolvimento urbano, porque hoje há uma falta de consciência de seu potencial de estudos e fazer projetos. Esse departamento possui um corpo técnico especializado, mas há uma constante pressão junto aos poderes executivo e legislativo por parte do empresariado do setor imobiliário contra a idéia de se preservar a herança histórica da cidade , que na visão desse setor conservador é um obstáculo para a obtenção de lucro nos seus negócios. Os movimentos sociais que atuam na área central são muito recentes na luta urbana e seu poder de pressão concentra-se na demanda por unidades habitacionais e não absorveu ainda a discussão sobre a herança cultural que também lhe pertence. Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano - descrição e papel A Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano é um dos órgãos da administração municipal mais importantes da municipalidade de São Paulo porque trabalha com o controle e uso do solo. Todos os edifícios novos dos loteamentos formais na cidade são analisados nesta instituição. Possui sete departamentos com funções diferentes, uma Superintendência e uma Companhia de Habitação: 1) Companhia de Habitação - COHAB: responsável pela construção, financiamento e administração da construção de edifícios de moradia social. Funciona com recursos do Fundo Municipal de Habitação e do Sistema Financeiro da Habitação. 2) Departamento de Aprovação de Projetos - APROV: este departamento é responsável pela análise dos edifícios novos e grandes edifícios empresariais da cidade de São Paulo nos assentamentos formais e regulares. 3) Departamento de Parcelamento do Solo - PARSOLO: este departamento é responsável pela análise dos loteamentos formais novos da cidade, principalmente sobre as referências legais. 4) Departamento de Regularização do Solo - RESOLO: este departamento analisa todos os assentamentos irregulares e ilegais na cidade de São Paulo, quanto à possibilidade de uma futura 173 regularização ou no intuito de coibir práticas ilegais de parcelamento urbano. Existem cerca de 3000 assentamentos deste tipo que esperam por regularização e provavelmente 50% da terra urbana ocupada ainda é irregular. 5) Departamento de controle CONTRU: controla as condições de segurança das instalações dos edifícios urbanos. 6) Departamento de Cadastro CASE: é o departamento responsável pela documentação das informações setoriais relativas ao uso e ocupação dos solo na cidade. 7) Superintendência Habitação Subnormal - HABI: é o departamento que assiste à população sem capacidade financeira para obter moradia no mercado privado e no Sistema Financeiro da Habitação. Hoje em dia, este órgão não tem recursos financeiros para assistir à demanda por moradia em São Paulo. Os departamentos que se relacionam mais diretamente com programas de habitação de interesse social voltados para a população de baixa renda são a COHAB, RESOLO, e HABI. No município de São Paulo o Governo do Estado atua na produção de habitações para a população de baixa renda através da CDHU- Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo. Esta companhia possui diversas formas de financiamentos e subsídios para a política habitacional. Desenvolve seus programas com recursos principalmente do orçamento estadual que reserva anualmente 1% do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias ) arrecadado para a produção habitacional. Ao governo federal compete fornecer recursos aos estados e municípios para a política habitacional e urbana e aprovar a legislação maior que regulamenta estas políticas como a lei recentemente sancionada conhecida como “Estatuto da Cidade”. A política habitacional do município já possui todos os instrumentos para implementar uma linha pública de programa de produção de habitações na área central, como vem sendo proposto pela atual gestão da cidade. Legislação A cidade de São Paulo possui um razoável suporte legal para implementar um programa de revitalização do bairro da Mooca, em termos das legislações de preservação histórica e de sistema de parceria com a iniciativa privada. A legislação sobre preservação é baseada na lei de preservação de patrimônio nacional e é facultado a qualquer cidadão solicitar a preservação de qualquer edifício ou bem cultural. No entanto, a legislação que trata de parcerias com a iniciativa privada, como a lei das operações urbanas, necessita de alterações para atender primeiramente ao interesse público e não somente o interesse do setor privado. 174 Esta lei, nomeada “Lei das Operações Urbanas “ dá incentivo ao empresário privado para construir acima do limite legal nos lotes de sua propriedade, em troca de recursos financeiros para construir infra-estrutura numa área delimitada da cidade. É possível usar esta legislação no caso do bairro da Mooca, mas, somente após a elaboração de um projeto urbano que analise os padrões dos edifícios e seu valor histórico e a população moradora ser consultada. Também há três leis de incentivo à cultura nos três níveis de governo, Federal, Estadual e Municipal, que podem ser utilizadas pelos empresários que queiram aplicar recursos em projetos culturais, sendo que estes mecanismos poderiam ser usados em um programa de revitalização. Identificação do Problema O bairro da Mooca sofreu um processo de degradação quando a área perdeu seu significado como área industrial, com o deslocamento das indústrias da cidade de São Paulo para a vizinha região metropolitana do ABC nas décadas de 50 e 60. Desse momento em diante, São Paulo vem se tornando uma cidade predominantemente de serviços. Seus bairros industriais tradicionais mantêm parcialmente suas características originais, mas, gradualmente incorporam o setor de serviços. A construção das rodovias que unem a cidade de São Paulo e o porto de Santos, na década de 50, causou a perda de importância da estrada de ferro e, concomitante a essa substituição na infra-estrutura dos meios de transporte, não houve nenhum investimento público para revitalizar os distritos industriais originais da cidade como a Mooca. Outro fator que contribuiu para a deterioração do distrito, foi a construção, nos anos 70, da obra especial de drenagem urbana sobre rio Tamanduateí junto à avenida do Estado, a qual dificultou a ligação entre bairros vizinhos, principalmente para os moradores e pedestres que circulam pela região. A desvalorização de bens imóveis contribuiu com o crescimento de moradias encortiçadas e os antigos residentes deslocaram-se para outros bairros. O processo de decadência se expressa social e fisicamente nos edifícios, na baixa qualidade de áreas públicas, na presença do tráfico de drogas nas ruas, lixo e poluição do ar. Há também uma grande demanda para moradias com qualidade, mas o centro do problema é a decadência do bairro. Serão necessários esforços conjuntos de muitas instituições para resolver a decadência de bairros como a Mooca. É uma árdua tarefa para a sociedade como um todo, pois este tipo de processo é construído através de muitas gerações. 175 fig.15 176 Análise do objetivo principal - desenvolvimento de programa de habitação social em Áreas Centrais. O objetivo estratégico para enfrentar o processo de revitalização do bairro da Mooca é desenvolver programas de moradia social novas que se utilizarão de uma visão sobre a preservação do valor histórico de seus antigos edifícios e desenho urbano e a recuperação da paisagem do rio Tamanduateí. O programa de moradia social para Mooca deverá se preocupar em preservar as antigas tipologias do modo de morar dos trabalhadores nos antigos bairros operários e, ao mesmo tempo, promover projetos novos com mais densidade, tendo em vista a necessidade de racionalizar o uso da infra-estrutura já instalada na região, bem como, criar também serviços sociais nas áreas centrais. O problema de recuperação da paisagem do rio Tamanduateí envolve três questões. A primeira é como o rio será integrado novamente na estrutura urbana. A segunda é como eliminar a avenida sobre o rio que se constitui numa “ barreira “ entre os bairros adjacentes e, a terceira é resolver o problema de drenagem urbana que afeta a área. Estas questões são objeto do processo de desenvolvimento urbano na cidade e precisam ser tratadas segundo uma abordagem integrada. O coração histórico da cidade de São Paulo conhecido como “Colina Histórica” é parte do distrito da Sé e possui características particulares relacionadas com o uso do solo e tipologias de edifícios semelhantes a outros distritos do centro, como os da República, Luz e Consolação. Nesta área estão situados a maioria dos edifícios históricos da cidade dos tempos coloniais até a fase pré-industrial, junto com construções dos anos 30 e 40 que abrigaram atividades comerciais e de serviços, tais como bancos, escritórios e lojas, como suporte ao processo de industrialização da cidade. fig.16 fig.17 fig.18 177 O uso residencial regular é escasso mas há inúmeros domicílios em condições precárias, os chamados “cortiços”, moradias de aluguel voltadas para a população de baixa renda, quase sempre com uma relação complexa entre os donos e os inquilinos e uma presença forte de intermediários, que administram as relações de locação. Os edifícios residenciais de melhor qualidade se concentram em alguns pontos da área central da cidade. O bairro da Mooca, como outros que margeiam o centro, apresenta algumas características específicas de uso da terra em função de sua localização e história. O desenvolvimento de um plano de ação serviria como referência para um programa de renovação urbana para outros bairros ao redor do coração da cidade. Cada programa deverá se implementar com uma visão social diferente, pois nos processos de renovação predominam a relocação de antigos moradores com o aumento do valor dos imóveis. É possível que nesta parte do bairro da Mooca, as características sociais e físicas tenham sido a razão pela qual a estrutura do bairro foi preservada ao longo do tempo. Outra explicação talvez seja a estrutura fundiária fragmentada de bens imóveis em pequenos ou médios proprietários, que desencorajam os empresários do setor imobiliário a investir neste bairro. Análise de Forças favoráveis e contrárias à revitalização O desenvolvimento de um programa de moradia social em áreas centrais de São Paulo implica numa análise das forças favoráveis e contrárias a sua implementação Forças favoráveis 1. Proximidade com o centro histórico de São Paulo - representa economia de investimentos em infra-estrutura 2. Existência de infra-estrutura urbana - representa economia de recursos e reduz o tempo para implementação de projetos habitacionais 3. Boa acessibilidade através dos meios de transporte significa uma redução de tráfego porque se baseia em linhas de curto trajeto para acesso ao centro. 4. Existência de empregos na área - propicia uma redução de problemas sociais, reduz o uso de transporte e garante uma economia de tempo para as pessoas que vivem na área. 5. Existência de lojas e serviços como bancos, restaurantes, serviços de atendimento ao cidadão - a mistura de usos representa a possibilidade do uso completo de sua infra-estrutura, propicia segurança aos moradores e resulta em economia no uso do transporte coletivo. 178 fig.19 6. Edifícios com valor histórico dentro e ao redor da área representam a herança histórica desse bairro e possui grande potencial turístico 7. Possibilidades de recuperação do Rio Tamanduateí como área de lazer - o eixo do Rio Tamanduateí é uma zona importante no centro de cidade com grande potencial de lazer e alívio para a altura e densidade excessivas dos edifícios no centro da cidade. 8. Permanência da memória do processo de urbanização manutenção de estrutura de ocupação com tipologias de edifícios que representam a identidade de arquitetura da industrialização de São Paulo (vilas operárias, grupos de casas em série, etc.) 9. Primeiro grupo de casas em série construídas em São Paulo pelo arquiteto Gregori Warchavchik, - exemplo de arquitetura moderna a ser preservado também com potencial turístico 10. Permanência de identidade cultural através de eventos de festividades e formas típicas de convivência italiana - como por exemplo a festa de San Gennaro promovida pela Igreja católica local anualmente que representa parte do potencial turístico da área 11. Existência na área de grandes empreendimentos e instituições - como por exemplo, o centro de processamento do grupo Itaú, fábrica da cervejaria Antártica, Faculdade Anhembi - Morumbi de Arquitetura que poderiam se interessar em investir na área, o que significa uma oportunidade para adquirir capitais para desenvolver um programa de revitalização. 12. Presença de edifícios de antigas fábricas totalmente ou parcialmente desocupados ao longo da estrada de ferro que podem ser reciclados são espaços potenciais para produzir moradia social e novos espaços de uso público. 13. Interesse de outras municipalidades de região metropolitana de São Paulo para desenvolver o potencial de investimentos na direção do rio Tamanduateí - representa uma oportunidade para desenvolver um programa integrado na região metropolitana pois o rio pertence a muitas municipalidades. 14. Existência de legislação de parcerias na cidade de São Paulo - é um precedente para desenvolver a revitalização com uma visão social. 15. Existência de Movimentos de Moradia que demandam programas de moradia social na área central - é uma possibilidade da participação de comunidade no implementação do programa. 16. Horizontalidade da paisagem ao redor do rio e da estrada de ferro - aspectos geográficos importantes para recuperar a qualidade de vida no centro de cidade. 17. Grande quantidade de moradias em cortiço em condições precárias - é uma oportunidade para adquirir recursos do governo federal para desenvolver um programa de revitalização. 18. Existência de pessoal técnico na Prefeitura Municipal de São Paulo capaz para desenvolver o programa e projetos significa economia de tempo para começar o programa. 19. Existência de estudos preliminares sobre moradias de cortiço nos bairros centrais, em órgãos públicos municipais e estaduais na Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Governo do Estado - é ponto de partida para discutir o programa com os envolvidos na problemática. 179 Forças contrárias 1. Estrutura fundiária baseada em pequenas propriedades dificulta a negociação para aquisição dos imóveis e seu posterior possível reagrupamento. 2. Propriedade privada da terra urbana - aumenta o preço e dificulta a implementação do programa. 3. Grande presença de “cortiços” dificulta a negociação com proprietários. 4. Falta de organização da população em instituições comunitárias fortes dificulta a implementação do programa. 5. Falta de participação da população dificulta a concepção do programa. 6. Rotatividade das famílias nos “cortiços” dificulta a participação da comunidade. 7. Poluição do ar - desencoraja investimentos em programas de habitação na área central da cidade. 8. Avenida sobre o rio - é um obstáculo para recuperar a paisagem porque é uma estrutura viária importante no centro. 9. Implementação de nova linha de transporte, o “Fura Fila” sobre o tampão do rio - é um obstáculo para desmontar a avenida e recuperar o rio e sua paisagem. 10. Descontinuidade administrativa - é prejudicial para projetos de longo prazo e cria insegurança no setor privado e na comunidade 11. Excessiva cobiça do setor privado impede a revitalização com uma visão social e de preservação da memória 12. Falta de um plano diretor da cidade com definição sobre as diretrizes para esta região da cidade dificulta a obtenção de recursos para o programa. 13. Estrutura verticalizada da municipalidade sem articulação e integração entre vários programas - fragmentação da racionalidade do uso dos recursos públicos materiais e humanos. 14. Falta de capitais para um grande programa de revitalização dos bairros e do centro da cidade dificultam um programa de moradia social e aumentam a decadência da área. 15. Falta de banco de dados atualizado sobre o bairro da Mooca e da área central - é um obstáculo para se dimensionar os recursos necessários para implementar a revitalização. 16. Investimentos de setor privado dirigidos ao vetor sudoeste da cidade - desloca os recursos privados para uma área privilegiada 17. Falta de áreas verdes diminui a qualidade de vida da área e aumenta a possibilidade de inundações. 18. Inundações - é um obstáculo a curto prazo pois envolve um projeto macro drenagem de recuperação do rio. 19. Interesse na manutenção da paisagem horizontal - pode desencorajar investimentos para alcançar densidades maiores na área. 20. Acessibilidade truncada para o bairro da Mooca - é um fator de degradação 180 Programa de Habitação de Interesse Social no bairro da Mooca - uma estratégia de revitalização. A implementação do processo de revitalização no bairro da Mooca envolve muitas estratégias e ações sobre problemas que devem ser resolvidos a curto, médio e longo prazo. Algumas ações dependem de recursos dos governos Federal e Estadual porque se referem a serviços ou obras que precisam de longo tempo para se desenvolverem e uma soma muito alta de recursos. As estratégias principais identificadas neste caso são: 1. A recuperação do rio Tamanduateí e solução do sistema de drenagem. 2. A solução do tráfego e da acessibilidade do bairro. 3. A solução para o problema da segurança. 4. A preservação da herança histórica. 5. A formulação de uma abordagem e metodologia para a revitalização de bairros centrais. 6. A implementação do programa de habitação de interesse social. Todas elas estão relacionadas ao processo de decadência do bairro da Mooca, mas não é possível atacar todos os problemas ao mesmo tempo porque eles têm grande complexidade para sua solução. 1. A recuperação do rio Tamanduateí e o sistema de drenagem A recuperação do rio Tamanduateí e solução da drenagem urbana na área envolvem grande quantidade de recursos e níveis diferentes de decisão O rio é intermunicipal e, portanto, envolve decisões integradas entre várias municipalidades e, além disso, é um eixo importante unindo a região Sudeste e Norte da cidade. Sobre o rio há uma avenida que foi construída para resolver o tráfego na Avenida do Estado, mas esta solução de drenagem formou uma barreira que torna difícil a travessia para outros bairros vizinhos pois está localizada a três metros acima das outras ruas do bairro com um tráfego intenso de caminhões. Hoje já é possível alterar o fluxo dessa avenida, pois um novo anel viário une a região metropolitana pela periferia da cidade. As soluções técnicas atuais desenvolvidas para enfrentar o problema de drenagem inclui o aumento das áreas verdes junto ao rio, mas é necessário obter capitais do governo federal e do setor privado para reconstruir a avenida e relocar os bens imóveis para incrementar as áreas verdes. 181 182 2. A solução do tráfego e da acessibilidade A solução de tráfego do bairro da Mooca deve ser parte de um plano diretor da área e integrado dentro de uma visão de solução global de desenho urbano e de uso do solo. É necessário melhorar o transporte público que deve ser orientado por um desenho urbano e soluções voltados para melhorar a paisagem, e a qualidade de vida na área, com a inclusão de ciclovias entre curtas distâncias. O Governo Municipal recentemente começou a instalação de uma linha de transporte público de média capacidade, chamado de “VLP”, Veículo Leve sobre Pneus, que pode causar mais danos que benefícios para a qualidade de vida do bairro. O desenho dessa linha de transportes deve ser modificado no sentido de rever sua integração na solução do sistema de drenagem e no redesenho dos bairros limítrofes a ela. fig.21 3. A solução da segurança O problema de insegurança está ligado à falta de programas sociais para a população pobre que vive nas áreas centrais, porque o tráfico de drogas afeta principalmente as pessoas jovens. A falta de opções de lazer, o desemprego e a pobreza estimulam o consumo e tráfico de drogas. Esta situação envolve muitas ações, parte delas relacionadas à revitalização do bairro da Mooca. Por outro lado, é necessário aumentar a renda e a oferta de empregos e envolver os jovens em atividades educacionais, culturais e de lazer. 4. A preservação da herança histórica A preservação da herança histórica do bairro da Mooca é um objetivo a ser perseguido para expressar a identidade das pessoas que vivem na área, mas também expressa muitos aspectos da história da formação da cidade de São Paulo. Muitos dos lugares como as fábricas, a estrada de ferro, o grupo de casas construído pelo arquiteto Gregori Warchavichk, pertencem à memória da cidade como um todo, quando a cidade era a metrópole industrial do Brasil. Portanto, esta história pertence a toda a população de São Paulo e não só as pessoas do bairro da Mooca. Neste momento, há uma falta de consciência do setor privado e da comunidade sobre o significado destes aspectos da memória da cidade e o que representa na construção do futuro das novas gerações. 183 fig.22 Esta estratégia do programa de revitalização da Mooca necessita do comprometimento da comunidade, dos três níveis governamentais, do setor privado e outros parceiros como as ONGs e universidades. 5. Criação de uma metodologia para revitalização de bairros na área central. A criação de uma abordagem para revitalização de bairros centrais deve começar pelos estudos já realizados sobre o centro da cidade e sobre os bairros vizinhos ao centro. Há muitos estudos nos departamentos governamentais locais, no governo do Estado e principalmente na universidade, os quais são desconhecidos por todos os envolvidos neste processo Esta abordagem deve ser parte do Plano Diretor da cidade sob responsabilidade do Governo Municipal que deve envolver a comunidade da área central para discutir os passos a seguir e, também, envolver todos os prováveis parceiros no processo. fig.23 6. A implementação de programa de habitação de interesse social Finalmente, a implementação de um programa de habitação de interesse social é a estratégia escolhida para começar com a revitalização do bairro da Mooca, porque é a atividade que é possível alcançar no curto prazo. Primeiro, porque a demanda por moradias sociais dos moradores de cortiço é muito grande. Segundo, porque o processo de decadência do bairro da Mooca pode reduzir os preços de bens imóveis na negociação com os atuais proprietários. O Governo Municipal junto com o comprometimento da comunidade, ONGs, e setor privado podem iniciar o programa de moradia social como um arranque da revitalização. Após o início do programa é necessário envolver o Governo Federal e Estadual, porque os fundos municipais são insuficientes para implementar a totalidade do programa. A intervenção sobre o rio de Tamanduatei produziria um grande impacto para resolver a decadência de bairro da Mooca, mas esta ação seria uma ação de cima para baixo, por parte do governo o que produziria imediatamente o aumento no preço de bens imóveis e as pessoas pobres iriam ser forçadas a deixar a área. Então, o programa de habitação social é a forma para envolver a comunidade, no sentido de melhorar sua condição de moradia e contribuir para incrementar o processo de revitalização Ao mesmo tempo, é possível criar programas educacionais e sociais para as crianças e adolescentes, no sentido de prevenir contra o tráfico de drogas. Nesse caso, o envolvimento com o programa de recuperação do rio e de resgate da herança cultural do bairro seriam elementos motivadores do incentivo 184 fig.24 à cidadania junto à população mais jovem. Os projetos de habitação devem incluir serviços sociais para melhorar a qualidade de vida da população do bairro da Mooca e a luta contra as drogas é imperativo para alcançar este objetivo Outro aspecto é o fato de que através dos projetos de habitação se criarão novos desenhos de arquitetura, o que levará ao estudo dos padrões dos edifícios históricos e do antigo tecido urbano para preservá-los e integrá-los ao novo desenho do bairro. A falta de consciência sobre a necessidade de se preservar a herança cultural da cidade torna difícil captar recursos para o processo de revitalização do bairro da Mooca. Só uma questão social séria, como a demanda por habitação da população de baixa renda pode mobilizar as forças necessárias para ativar este programa. Com relação à infra-estrutura é mais econômico construir em áreas centrais que na periferia urbana porque a infra-estrutura básica já existe, como provisão de água, de energia, ruas pavimentadas, centros comerciais, bancos, e outros serviços. Além disso, a proximidade do bairro da Mooca com o “coração” da cidade oferece muitos recursos à população em termos de acesso ao emprego, ao comércio, serviços, ao transporte público, lazer e cultura . Proposta de estrutura e instrumentos para implementação do programa de revitalização do bairro da Mooca. As ações para implementar o programa de moradia social apresentam níveis diferentes de abordagem, complexidade e atores ligados ao objetivo central que é a implementação da revitalização da Mooca. Algumas destas ações são específicas do programa de moradia com seus respectivos atores e estruturas necessárias. Outras ações são de caráter geral e necessitam estabelecer relações com muitos atores e programas. Ações do programa de moradia social. 1. Elaborar uma pesquisa e banco de dados sobre as condições de moradia da população de baixa renda. Parceiros: PMSP- SEHAB e SEMPLA comunidade, movimentos de área centrais de habitações, ONGs e Universidades e setor privado 2. Elaborar estudo sobre o potencial de adensamento sem descaracterização dos bairros da área central: Parceiros: PMSP SEHAB, COHAB, SEMPLA, DPH, EDIF, setor privado, movimentos de moradia, ONGs. 185 fig.25 3. Promover um encontro com movimentos de moradia social na área central para estabelecer prioridades para a população que mora em cortiços. Parceiros: PMSP SEHAB, SEMPLA, DPH, SAS. 4. Escolher as áreas potenciais para projeto de habitação na Mooca onde seja possível alcançar densidades altas com o uso de edifícios desocupados ou o miolo das quadras. Parceiros: PMSP SEHAB, SEMPLA, DPH, EDIF 5. Realizar convênio com o governo federal e estadual para implementar um programa de revitalização e moradia social na área centra de São Paulo. Parceiros: PMSP, Governo federal e estadual. 6. Redefinição do suporte legal para incorporar os donos de bens imóveis como parceiros na implementação do programa e criar na COHAB uma agência para negociar bens imóveis com proprietários e criar o programa de aluguel social para baixa renda. Parceiros: PMSP SEHAB, COHAB, SEMPLA, DPH, SNJ, CMSP. 7. Elaborar a legislação específica sobre padrões de uso da terra, em áreas históricas de preservação seguindo a diretriz de “baixo gabarito - grande densidade”. Parceiros: PMSP SEHAB, SEMPLA, DPH, EDIF, CMSP. 8. Promover um encontro com os empresários de bens imóveis para discutir o seu interesse em investir em bairros centrais. Parceiros: PMSP SEHAB, SEMPLA, DPH, líderes de movimentos de habitações e ONGs. 9. Implementação de projetos de moradia popular. Parceiros PMSP SEHAB, COHAB, DPH, EDIF movimentos de moradia na área central, setor privado, ONGs. Ações das estratégias gerais para revitalização do bairro da Mooca 1. Criação da “Oficina de preservação e revitalização da Mooca” para implementar o programa de revitalização. Parceiros: PMSP, Setor Privado local, entidades de base dos movimentos de cortiços, proprietários de imóveis, ONGs, Governo Estadual. 2. Delimitação das áreas de projeto. Parceiros: PMSP SEHAB, DPH, SEMPLA, comunidade. 3. Criação da Oficina especial de projeto: Parceiros: PMSP - SEHAB, COHAB, SEMPLA, DPH, EDIF, ONG. 4. Desenvolvimento do projeto de preservação e revitalização do bairro da Mooca - para resolver os aspectos de acessibilidade, espaços públicos, drenagem, habitação, recuperação do rio e dos edifício históricos. Parceiros: PMSP SEHAB, DPH, setor privado, ONGs. 5. Definição dos limites da área incluída na lei específica com a criação do instrumento da ZPUZona de Projeto Urbano. Parceiros: PMSP DPH, SEMPLA, setor privado, ONG, representante de movimentos dos moradores. 6. Promover encontro com as entidades de preservação históricas para discutir um programa permanente de preservação e revitalização. Parceiros: PMSP - SEHAB, SEMPLA, DPH. 186 7. Elaborar um plano diretor para a área central. Parceiros: PMSP - SEHAB, SEMPLA, DPH. 8. Identificação dos bairros que tem potencial para alcançar altas densidades: Parceiros: PMSP SEHAB, SEMPLA, DPH. 9. Definição das ações que devem ser implementadas no curto, médio e longo prazo: Parceiros: Comitê para implementar a revitalização do bairro da Mooca. 10. Realizar convênio com o governo estadual para implementar uma reformulação do sistema de drenagem no rio Tamanduateí. Parceiros: PMSP, Governo estadual e Universidade de São Paulo. 11. Elaborar um plano diretor de micro drenagem para o bairro da Mooca Parceiros: Governo estadual, PMSP SEMPLA. 12. Criação da Oficina de pesquisa histórica do bairro da Mooca . Parceiros: PMSP-DPH, entidades dos moradores de cortiço, entidades dos moradores do bairro, departamento de informação do município. 13. Criação de Museu da Vida da Mooca. Parceiros: PMSP-DPH entidades dos moradores do bairro, setor privado, ONG, Comitê para revitalização de Mooca. 14. Criação do Conselho de cidadãos dos bairros centrais. Parceiros: entidades dos moradores do bairro, movimentos sociais de áreas centrais. 15. Criação do programa de formação “oficina dos jovens historiadores da Mooca”: Parceiros: PMSP-SAS, SEHAB, DPH e ONGs Recomendações O processo de urbanização da cidade de São Paulo já se estabilizou com uma taxa de crescimento populacional ao redor de 1,2%, mas está longe de expressar que há qualidade de vida para a maioria da população e, nesse contexto, dois caminhos se apresentam como prioritários a serem seguidos para se iniciar um processo de mudança na política urbana da cidade. O primeiro, é a regularização dos assentamentos informais na periferia da cidade com critérios bem delimitados da questão ambiental. O outro, é reabilitar o centro da cidade e os bairros ao seu redor, pois não há mais espaço físico para se ampliar os limites da urbanização, enquanto a maioria de sua população vive em más condições na chamada “cidade ilegal”. O programa de revitalização do bairro da Mooca pode ser um exemplo de uma abordagem para alcançar este objetivo. Este programa necessita de novas relações entre as muitas instituições envolvidas, lastreada numa gestão compartilhada das ações do programa. Por isso, é necessário desenvolver as ações que quebrem as barreiras legais e institucionais a partir da criação de um Comitê Especial, legalmente constituído, com participação popular e ligado diretamente ao chefe do executivo Municipal para implementar o programa na cidade. 187 Notas 1. AB´SABER, Aziz Nacib - São Paulo: (Re)visão de uma metrópole - Conferências Temáticas - IEA mimeo, abril, 1996. 2. SEMPLA - São Paulo em números. Julho,2001 3. SEMPLA, op. cit. 4. SEMPLA, op. cit. 5. SEMPLA, op. cit. 6. SEMPLA, op. cit. 7. SEMPLA, op. cit. 8. AB´SABER, Aziz Nacib, op. cit. 9. Essa proposta de metodologia de trabalho foi desenvolvida durante o curso de três meses realizado em Rotterdam, Holanda, no Institute For Housing and Urban Development Studies com bolsa de estudos do governo holandês e apoio da Prefeitura Municipal de São Paulo denominado “Inner City Renewal”. O IHS é um instituto especializado em políticas habitacionais e de desenvolvimento urbano financiado pelo governo holandês, pelo Banco Mundial e por recursos oriundos dos convênios de assessoria técnica a países em desenvolvimento da Ásia, África, América Latina e Leste Europeu e cidades da Holanda. Existe desde a década de 40 e colaborou nos programas de reconstrução das cidades holandesas atingidas por bombardeios na Segunda Guerra, como Rotterdam. O curso desenvolveu-se em vários módulos de especialização, com visitas a cidades da Holanda onde se desenvolveram experiências de renovação urbana, leituras, palestras, seminários e elaboração de trabalho escrito por todos os participantes. O primeiro módulo foi de introdução geral às estruturas institucionais da Holanda. O segundo, voltou-se para uma abordagem das vantagens e desvantagens da atuação dos governos locais e por último o módulo específico do Inner City Renewal que teve a participação de técnicos de vários países como Brasil, Cuba, México, Etiópia, Índia, Nepal, Peru, Estados Unidos, Vietnam que enfocou os conceitos e as experiências de preservação da herança histórica em centros urbanos. O trabalho elaborado naquela ocasião focalizou a metodologia de preparação e execução de um plano de ação (“Action Plan”). 188 Capítulo V O Significado do lugar 189 1. O interesse pela memória e a escala do projeto urbano: do bairro à cidade A memória coletiva se constrói através dos tempos na história de algum lugar e com a contribuição de todos os cidadãos que viveram ou ainda vivem nesse lugar. Na cidade de São Paulo é fato conhecido que a sua memória e o seu patrimônio histórico, têm sido destruídos a cada nova etapa de desenvolvimento econômico e as suas características espaciais são alteradas a cada momento, numa velocidade peculiar, que não é assimilada pelo conjunto dos seus cidadãos num mesmo grau de conhecimento e aceitação. Os interesses da produção imobiliária, desde os primeiros tempos da industrialização da cidade, buscaram as alternativas de uso e ocupação do solo mais convenientes para obtenção de lucro no mais curto espaço de tempo. O processo de ocupação da cidade e a extensão cada vez maior de seus limites se deram num espaço de tempo muito curto, praticamente no final do século XIX e primeira metade do século XX, e rapidamente as áreas mais antigas mudaram suas feições com o processo de verticalização da cidade. A metrópole industrial se modifica dando lugar a uma metrópole de serviços. No entanto, alguns bairros da cidade mantiveram suas características espaciais e arquitetônicas e sua tipologia de ocupação, apesar da mudança do perfil de seus habitantes e do processo de degradação. Este é o caso do bairro da Mooca. Alguns elementos construtivos do bairro marcam a época de seu surgimento como local de moradia da classe operária. Exemplos se verificam com a permanência das vilas operárias, os conjuntos de casas em série, especialmente as de Gregori Warchavick, situadas na rua Barão de Jaguara esquina com rua Odorico Mendes. fig.01 fig.02 fig.03 190 fig.04 191 fig.06 fig.07 fig.05 fig.08 fig.09 192 Outros elementos são algumas indústrias localizadas ao longo da ferrovia e o traçado viário do bairro, que se estruturou no processo de parcelamento e que mantém suas características originais, desde quando se consolidou como área urbana. O principal elemento urbanístico estruturador, sem dúvida, foi a ferrovia que ligou o porto de Santos ao planalto no período da economia do café. A Mooca como bairro, por si só, constitui-se como um elemento de grande importância histórica, pois sua localização coincide com o último trecho do caminho percorrido pelos viajantes que vinham do porto de Santos em direção ao planalto e seria o ponto de chegada ao local de fundação da sede da capitania. É o ponto de chegada à vila, próximo ao tanque do Lavapés e ao antigo Caminho do Mar. Esse local, cuja urbanização só aconteceu tardiamente no período da industrialização, no entanto, conheceu uma grande movimentação por parte dos viajantes que chegavam ou passavam pelo planalto no período colonial e no período do ciclo do ouro, pois ali se localizaram pousos, pequenos serviços e comércio de apoio às viagens, conforme indicam alguns mapas do período colonial. Alguns acontecimentos históricos que tiveram lugar no bairro da Mooca não são lembrados, a não ser nas publicações de história do Brasil. Nos espaços do bairro, as atuais gerações moradoras não percebem a presença de marcas de preservação dessa história. Mas, a Mooca representa um dos bairros de surgimento da classe operária brasileira, onde a cidade de São Paulo começou a construir seu perfil de cidade industrial e futuro polo de desenvolvimento econômico do país. Nesse pequeno território tiveram lugar as lutas operárias que se irradiaram pelos bairros fabris que culminaram com a greve geral de 1917 e que resultou na morte de um operário próximo à porteira do trem, no cruzamento com a rua da Mooca. O estopim da greve aconteceu na fábrica do Cotonifício Crespi, a leste da ferrovia, cujo edifício permanece até hoje no bairro ocupado por outras pequenas indústrias. fig.11 fig.12 193 fig.10 A Mooca foi palco, também, das lutas da revolução de 1924 entre as tropas governistas do presidente Artur Bernardes e os levantes militares contra as medidas privatizantes receitadas pelo capital internacional na época que atingiam o Banco do Brasil, a Central do Brasil e o Lloyd Brasileiro e, principalmente, as reformas institucionais pretendidas pelo governo que mexiam com direitos adquiridos. Domingos Meirelles nos remete ao clima de 1924 na cidade de São Paulo, por ocasião do levante militar que envolveu a Força Pública de São Paulo. Muitos desses acontecimentos tiveram como palco os bairros operários que circundam o centro da cidade. Os militares que dirigiram aquela ação, como o capitão Juarez Távora, o tenente Eduardo Gomes e Joaquim Távora, entre outros, foram colocados na clandestinidade e considerados desertores pela Justiça Militar após o fracassado levante que tentou impedir a posse do presidente Artur Bernardes em 1922. O episódio que aconteceu no Forte de Copacabana, ficou conhecido como “18 do Forte”. O governo de Artur Bernardes reprimiu energicamente o levante, pois o ambiente sócio econômico da cidade de São Paulo, já com 700.000 habitantes e um parque industrial bastante desenvolvido, era favorável para que esta revolta escapasse os limites dos quartéis e envolvesse a emergente classe operária paulista com péssimas condições de trabalho, apesar das conquistas da greve de 1917. O governo criara em 1923 o Conselho Nacional do Trabalho para regulamentar relações trabalhistas, mais com o intento de conter conflitos do que com uma preocupação de justiça social. A exploração brutal do braço operário é um traço dominante na maioria das fábricas em São Paulo. Além de uma remuneração indigna, os trabalhadores são ainda impiedosamente multados pelos patrões, sob acusação de indolência ou por erros cometidos durante o serviço. Não há também limite de idade para o trabalho nas indústrias. Algumas fábricas de tecidos, como as localizadas na Mooca, costumam empregar crianças com até oito anos de idade. Metade da força de trabalho industrial é representada por menores. Esses pequenos trabalhadores, que exercem as mesmas tarefas pesadas do operário adulto, ganham salário ínfimo; quando cometem qualquer falha são espancados pelo gerente 1. ...Não há praticamente lei de férias. A legislação de 1917, que concedeu férias de quinze dias aos trabalhadores nunca foi respeitada pelos patrões. As fábricas dispensam os operários sem pagar indenização. As mulheres que integram esse proletariado fabril, em sua maioria mocinhas, quando engravidam, são castigadas com demissão sumária 2 . ...A crise econômica que o país vive desde 1922 aguça ainda mais o quadro de miséria e sofrimento. A queda das exportações de café, algodão e açúcar, aliada à redução brutal da produção da borracha, provocara insuportável aumento do custo de vida, que sufoca a população. Em relação a 1914, a carestia tinha se elevado, em 1924, quase 140%, um patamar que contribuía para exacerbar ainda mais o clima de insatisfação dos habitantes dos grandes centros urbanos, já duramente castigados pela escassez de alimentos 3. Diante desse quadro, só restava aos trabalhadores se organizar e lutar, segundo Meirelles em 1923, já haviam 71 sindicatos em São Paulo. 194 fig.13 fig.14 O medo do governo Artur Bernardes era de que o levante militar aliado à insatisfação dos operários criasse condições para uma revolução bolchevique como a de 1917 na Rússia, daí a repressão violenta ao movimento. Esses fatos fazem parte da história nacional, mas grande parte dos locais onde eles ocorreram estão sendo descaracterizados. Seu significado só será valorizado se houver uma política de preservação dos bens culturais e históricos da cidade que resulte na elaboração de projetos que tragam ao universo público a consciência de sua história como parte da vida cotidiana de quem habita esses lugares, e com isso estimule o afeto e orgulho pela cidade. Alguns fatos permanecem preservados como espaço construído, outros são fatos históricos registrados em documentos ou livros mas, poucos cidadãos conhecem, principalmente, porque em geral a população empobrecida pouco acesso tem à cultura e não há uma política de estímulo à cidadania para que os moradores de certos pedaços da cidade conheçam a história de seu lugar . O desenho da estrutura urbana da Mooca e inúmeros imóveis resistem ao tempo preservados em sua maioria pelos moradores mais pobres dos cortiços. A Mooca é um espaço de resistência às transformações urbanísticas promovidas pelos interesses imobiliários na cidade, simbolicamente, como foi um espaço de resistência da luta operária na primeira fase da industrialização do Brasil, na primeira metade do século XX. A memória urbana ou a memória de uma cidade é a memória do seu desenho, de suas ruas, de suas construções mas sem dúvida a memória da história de seus moradores e dos acontecimentos que marcaram a sua vida. Os tempos atuais da globalização, que se caracterizam por uma intensa massificação de padrões de comportamento social, de consumo e de formas de viver, tem levado a uma angústia nas populações das grandes cidades, pela falta de identidade das pessoas com os seus espaços de viver. Esse processo inclui desde um aumento de sentimentos nacionalistas extremistas como os que vem ocorrendo na Europa, até a busca pela valorização do patrimônio cultural e histórico de diversas comunidades em diversas partes do mundo, como em Dordtrech na Holanda ou em Havana, em Cuba, em que os planos de preservação da memória dos centros históricos incluem uma política de fomento ao turismo e associação do poder público ao privado na recuperação dos espaços para valorizar o entorno das áreas de comércio e serviços. Há uma maior resistência frente à destruição de valores culturais e formas de organização social, e as renovações ou intervenções em assentamentos humanos tem exigido de seus promotores, sejam eles agentes governamentais ou privados, uma postura de negociação com as comunidades afetadas pelos projetos que se queiram implantar. As intervenções urbanísticas em vários países do mundo têm passado pelo crivo das comunidades envolvidas e o respeito às identidades culturais tem sido objeto do elenco de variáveis que devem ser analisadas sobre a viabilidade ou não de tais intervenções. Outro aspecto que deve ser considerado, é o fato que esse tipo de resistência às mudanças no espaço urbano ou em outro tipo de assentamento, carrega um significado positivo no sentido do apego e 195 fig.15 fig.16 valorização do território por seus habitantes. No caso de São Paulo, este é um aspecto que deve ser valorizado nas práticas de renovação urbana, pois o desamor pela cidade se expressa em todas as classes sociais e em todas as regiões da cidade. O nível de deterioração da qualidade de vida se visualiza em todas as partes da cidade. As raízes dessa condições estão calcadas no desenvolvimento econômico do país, mas são fruto também da ausência do papel do Estado na relação do controle sobre o espaço público com o espaço privado e na configuração territorial que estas relações construíram na cidade. São Paulo sempre apresentou uma segregação espacial relacionada à distribuição de renda bastante patente no seu feitio. As classes mais abastadas foram ocupando as terras melhor situadas e mais altas, compondo o vetor de crescimento na direção do espigão da avenida Paulista. Já as classes populares e o operariado ocuparam, inicialmente, as áreas mais baixas e inundáveis das várzeas dos principais rios da cidade, acompanhando a localização industrial. Mais recentemente, nas duas últimas décadas, os assentamentos populares e precários vem ocupando as áreas periféricas com necessidade de proteção ambiental, tendo em vista que a proximidade com a indústria não é mais primordial em face da redução no nível de emprego nesse setor e da flutuação dos empregos no comércio e serviços, que assumem freqüentemente o caráter de empregos temporários. Essa dinâmica, acompanhada do empobrecimento da população, coloca em desuso uma grande quantidade de espaços construídos para moradia e para as atividades econômicas e aos poucos vão se delineando imensos territórios de uma “cidade fantasma”, com edifícios residenciais, de escritórios e fabris vazios localizados no anel central e intermediário da cidade, sem uso, estocados à espera de uma nova cidade ou de uma reocupação. A vida, que aconteceu em diversos momentos da história urbana, fica abafada e esses pedaços da cidade revelam uma feição sombria, triste e parecem que formam uma barreira, ou mesmo um anteparo entre a cidade dos negócios do vetor sudoeste e a cidade da miséria dos bairros periféricos, onde impera o domínio da violência, da expansão das fronteiras urbanas e o fosso entre a necessidade de urbanização e a capacidade de investimento do poder público em atendê-la. A cidade de São Paulo encontra-se num estágio de urbanização em que as intervenções urbanísticas devem se orientar por uma abordagem mais ampla que coloque o contexto geral da cidade e suas relações com as intervenções localizadas. As soluções não precisam ser abrangentes mas o entendimento do problema sim 4. No caso da Mooca, há vários aspectos que se referem à escala da cidade, como o projeto para o rio Tamanduateí, para as vias de acesso ao centro, para resolver o problema da poluição e reorganizar o transporte coletivo da área. Outros aspectos são de caráter local, mas possuem um lastro numa visão futura de cidade, como nas questões do patrimônio construído e nas soluções de habitação no âmbito local. 196 fig.17 fig.18 197 Estas duas escalas de abordagem vão oferecer os elementos ou subsídios, ou ainda se quiser, os códigos a serem utilizados para o desenvolvimento do projeto urbano. É preciso uma visão dialética dos espaços na cidade. Quando se projeta na Mooca, também estamos falando da periferia e vice versa. Pois há que se economizar recursos gastos em infra-estrutura e aproveitar o patrimônio construído urbano. Como diz Flávio Motta: Totalidade não é soma, totalidade não é soma de vinte garrafas. Totalidade é uma noção onde se dirá que o particular só se explica pelo geral, e o geral só se explica pelo particular 5. Tanto o setor público como o setor imobiliário devem abandonar as velhas práticas e se modernizarem com uma visão mais humana e dentro de uma perspectiva de futuro: preservando o espaço construído no passado para seus negócios do futuro. Essa deve ser uma premissa a ser encarada pelos diversos setores que atuam na organização do espaço urbano. Em todos os espaços há relações de uso estabelecidas pela população. Às vezes, as relações são meramente utilitárias quando o espaço urbano serve para o desenvolvimento de atividades, outras são de caráter contemplativo, quando envolve elementos da paisagem natural e, por último, há que se considerar as relações de caráter afetivo elaborado a partir de lembranças, de referências ou a partir do envolvimento direto na construção ou organização daquele espaço. Segundo Carlos Lemos, O artefato cidade também se renova sobre si mesmo. Ruas alargadas, quartos rasgados, vales ultrapassados por viadutos. Casas demolidas e refeitas; seus móveis carunchados são substituídos, o resto do equipamento doméstico trocado por novidades importadas e a papelada da família queimada... Assim, o sistema articulado de bens culturais dentro da cidade é permanentemente alterado 6. Em geral guardaram-se os objetos e as construções ricas da classe poderosa. Guardaram se os artefatos de exceção e perderam-se para todo o sempre os bens culturais usuais e corriqueiros do povo. Esses bens diferenciados preservados sempre podem levar a uma visão distorcida da memória coletiva, pois justamente por serem excepcionais não tem representatividade. Somente agora, nos últimos dois séculos, é que a arqueologia se esforça por recolher, identificar e estudar os restos e vestígios de povos já desaparecidos para tentar conhecê-los melhor no seu cotidiano prosaico, para vislumbrar seu pensamento, suas crenças, seus tabús 7. fig.19 A busca por identificar que elementos da constituição de um determinado espaço devemos considerar para preservar, deve se embasar no conhecimento da estrutura daquele lugar ao longo de sua história. Agora, modernamente, a visão protetora de conjuntos de bens culturais urbanos tem uma abrangência maior, procurando, antes de tudo, interpretações de caráter social através de todas as indagações possíveis atinente à antropologia cultural, à história, à política, à economia, à geomorfologia, à arquitetura, etc. A cidade tem que ser encarada como um artefato, como um bem cultural qualquer de um povo. Mas um artefato que pulsa, que vive, fig.20 198 que permanentemente se transforma, se autodevora e expande em novos tecidos recriados para atender a outras demandas sucessivas de programas em permanente renovação. O núcleo urbano é um bem cultural composto de mil e um artefatos relacionados entre si, que vão desde aqueles de uso individual, passando por outros de utilidade familiar, a começar pelas moradias, até as demais de interesse coletivo. Assim, vemos que o conglomerado urbano se resume num local onde se desenrolam concomitantemente infinitas atividades exercidas através de infinitos artefatos dispostos no espaço segundo suas funções ou atribuições, e interessam à compreensão do que seja “Patrimônio Ambiental Urbano” somente os bens ou coisas, móveis ou imóveis, que caracterizam ou permitam o bom desempenho do gregarismo ali existente 8. fig.21 fig.22 fig.23 199 Na Mooca essa estrutura apresenta edifícios construídos e aspectos urbanísticos da época da formação do bairro como, por exemplo, o seu traçado viário que merecem ser preservados como escreve Carlos Lemos, Assim, o traçado urbano, independentemente das construções ali apostas, deve ser a preocupação primeira do preservador envolvido com a problemática do patrimônio ambiental urbano. A nosso ver, depois de identificados os agenciamentos urbanos originais, principalmente ruas e praças, dever-se-ia procurar ali as construções suas contemporâneas, e poderíamos, então, analisar as relações espaciais primitivas ali mantidas. Cremos sejam essas relações prioritárias na definição daquilo a ser preservado, em conjunto, pois aí já pode estar configurada uma identidade cultural. Pelo exposto, dentre nossas cidades, sejam de que idade for, muito poucas ainda podem nos mostrar tais relações originais entre espaços livres e construções da mesma época 9. Vários aspectos da configuração do bairro merecem ser valorizados e os elementos que são devastadores e desagregadores do espaço de vizinhança e de articulação com a cidade, como o tampão do rio Tamanduateí, devem ser reformulados. A idéia de preservação não se contradiz com a idéia de desenvolvimento. A qualidade de vida e o bem-estar dos moradores de uma determinada região da cidade pressupõem o respeito a suas referências culturais e históricas, respeito ao significado do lugar para seus moradores e usuários. A importância da memória social é o centro da idéia de preservação e sua relação com futuro é fator de desenvolvimento e de perspectiva para a sociedade. Segundo Ulpiano Bezerra, a memória social está intimamente ligada à idéia de patrimônio ambiental urbano. Falar de patrimônio ambiental urbano , como falar de patrimônio cultural geral, é, de maneira direta ou indireta, falar de memória social, de onde se projetam as significações que vão informar as representações da cidade. Normalmente, porém, a memória fica associada apenas ao passado. Ora, sem memória não há presente humano. A memória se refere precisamente a uma relação entre passado e presente. Em outras palavras: a memória gira em torno de um dado básico do fenômeno humano a mudança. Se não houver memória, a mudança será sempre fator de alienação e desagregação, pois ficaria faltando uma plataforma de referência e cada ato seria uma reação mecânica, um mergulho vazio para outro vazio. É a memória que funciona como instrumento biológico cultural de identidade, conservação, desenvolvimento. Esse passado, que a memória incorpora à minha experiência, só me interessa porque eu estou vivo. Estou vivo num presente e enfrento o futuro: sou um ser histórico. Ter consciência histórica não é informar-se sobre coisas acontecidas, mas perceber o universo social como algo submetido a um processo contínuo de formação 10. ...preservar é uma forma de resistência à expropriação generalizada que exercem as forças econômicas nas sociedades como as capitalistas, em que o espaço se reduz a mercadoria e o domínio público da cidade assume o valor de ficção. Nesses termos, ainda, preservar é uma forma de reapropriar-se da cidade. Ao invés de, portanto de preservação conflitar com desenvolvimento (que deveria supor uma ampliação da responsabilidade social) ela vem a ser, precisamente uma das exigências do desenvolvimento 11. 200 fig.25 fig.24 fig.26 201 fig.27 2. A ocupação da várzea, moradia e trabalho da classe operária. A Mooca é um dos bairros situados na várzea do Tamanduateí, parte dela fica na área alagadiça, como sempre foi a história dos bairros operários em São Paulo situados às margens dos dois rios mais utilizados como meio de transporte desde o período colonial, o Tietê e o Tamanduateí. A ocupação às margens do rio Pinheiros pela indústria data de um período mais recente. A história da ocupação territorial de São Paulo só poderia ter avançado pela várzea. Para muitos, a várzea é um elemento da natureza que deveria permanecer intocado, mas o sítio geográfico de São Paulo é marcado pelas suas colinas e vales de rios de maior ou menor porte, mas que cobrem a extensão territorial inteira do domínio delimitado pelos jesuítas e colonos portugueses já no período colonial. A arquiteta Anne Spirn em seu livro o Jardim de Granito nos oferece uma visão extremamente serena a respeito do conflito cidade versus natureza e demonstra que é possível uma abordagem mais realista e menos apaixonada sobre a questão ambiental, visando a solução dos problemas e não a negação de um contato entre urbanização e meio ambiente natural. A natureza permeia a cidade, forjando relações entre ela e o ar, o solo, a água e os organismos vivos em seu interior e a sua volta. Em si mesmas, as forças da natureza não são nem benignas nem hostis à humanidade. Reconhecidas e aproveitadas, representam um poderoso recurso para a conformação de um habitat urbano benéfico; ignoradas ou subvertidas, ampliam os problemas que há séculos castigam as cidades, como enchentes, deslizamentos e a poluição do ar e da água. Infelizmente, as cidades têm geralmente negligenciado e raramente explorado as forças naturais que existem dentro delas 12. 202 A natureza na cidade é...a conseqüência de uma complexa interação entre os múltiplos propósitos e atividades dos seres humanos e de outras criaturas vivas e dos processos naturais que governam a transferência de energia, o movimento do ar, a erosão da terra e o ciclo hidrológico. A cidade é parte da natureza. A natureza é um continuum, com a floresta num dos pólos e a cidade no outro. Os mesmo processos naturais operam na floresta e na cidade. A cidade não é nem totalmente natural nem totalmente artificial. Ela não é “inatural”, mas, antes, uma transformação da natureza “selvagem” pelos seres humanos para servir às suas necessidades , do mesmo modo que as áreas agrícolas são administradas para a produção de alimentos, e as florestas, para a da madeira. Dificilmente sobre a terra, por mais remoto que seja, está livre do impacto da atividade humana. As necessidades humanas e as questões ambientais que delas surgem têm milhares de anos, são tão antigas quanto a mais antiga das cidades, repetidas a cada geração, nas cidades de todos os continentes 13. Os problemas urbanos atuais não são diferentes, em essência, daqueles que afetavam as cidades antigas, a não ser quanto ao grau, à toxicidade e à persistência de novos contaminantes, e à extensão da terra que agora está urbanizada. Com o crescimento das cidades, essas questões se tornaram mais agudas. Todavia, continuam a ser tratadas como fenômenos isolados, e não como fenômenos interligados resultantes de intervenções humanas corriqueiras, e a ser exacerbadas por uma desconsideração pelos processos naturais 14. O geógrafo AZIZ AB’SABER explica a forma como a metrópole paulistana se espraiou sobre seu sítio geográfico, composto de extensas planícies e inúmeras colinas Essa metrópole paulistana se estendeu, se projetou sobre um sistema de colinas, que por sua vez eram atravessadas por planícies muito largas, uma relação bastante grande entre a largura do rio e a largura da planície - em geral, a planície era vinte vezes mais larga do que a largura do rio; em alguns lugares na várzea do Tietê, na planície do Tietê, diques marginais, antigos e recentes, e várzeas formavam 4.000m em relação ao rio, de 80 m para 100 m no seu leito menor. Então isso significa 1:40. Os livros de textos americanos, que tratam naturalmente de planícies aluviais em climas temperados, dizem que a maior relação entre a largura de um rio e a largura da sua planície é 1:18. Aqui em São Paulo nós tínhamos 1:40. E a cidade desceu para essa planície em certo momento, depois do enxugamento dessas várzeas, com a reversão das águas para o Pinheiros, para as represas e para Cubatão. Isso é um dos maiores problemas que São Paulo enfrenta até hoje, foi a rapidez com que ela se apoderou e produziu espaços dentro da suas larguíssimas planícies. Então temos problemas em função da movimentação do relevo de certas encostas de colinas, e temos problemas porque a cidade desceu para planície que é alagável, e que tinha um leito maior agigantado. ....Isto cria um problema, o problema de uma travessia dentro do sistema de colinas, uma travessia difícil, longa. E, além disso, tem o segundo problema, que no momento em que se enxugou um pouquinho essa planície de inundação, a cidade desceu por especulação para planície. E assim ficou quebrada a possibilidade de existir um maior para o deslanche das águas no momento das grandes cheias. Talvez esse seja o problema mais sério que a cidade enfrenta. Ela, ao invés de uma Paris, ou de uma Londres, que têm um rio só, São Paulo tem dois rios, no interflúvio entre os dois rios tem um sistema de colinas bastante complexo, com elevações da ordem de mais de 110 metros, desde o fundo das planícies até o topo das colinas mais altas, e a largura do rio é 203 excepcionalmente pequena para uma planície tão larga. Seria fácil transpor uma planície de 80m, mas transpor uma planície de 2km a 4km complica. E, além disso, muito antes que se pudesse fazer obra de transposição, já a cidade desceu para as planícies, conquistou as planícies um pouco rapidamente demais, e com isso as complicações de trânsito, de travessia do rio e da planície ficaram muito complexos 15. ....costuma-se dizer que a cidade tem uma estrutura radial. Mas que eu achava que era uma estrutura radial complexa, porque as radiais um pouco irregulares que saem da cidade se estendem tanto para todos os quadrantes, que os desvãos entre as radiais, a partir de uma certa época, foram ocupados de modo caótico, por adaptações a uma topografia acidentada, com dois tipos de traçado - um oitavado muito irregular nas colinas mais altas e um reticulado nos setores interfluviais, nos espigões secundários, e que também se une com o oitavado irregular de modo mais irregular ainda. Então, desde que a cidade perdeu o caráter de uma cidade grande com subúrbio, e passou a ser uma área gigantesca de urbanização, os desvãos entre as radiais se tornaram extremamente caóticos em termos de ocupação de solos, por causa de uma especulação que não atende à lógica da cidade, mas atende à lógica do dinheiro e à lógica dos interesses dos especuladores 16. A perspectiva de recuperar e resgatar para o seu povo a cidade de São Paulo exige, hoje, uma reflexão sobre a abordagem da questão ambiental que regule as atividades humanas com a apropriação da natureza e do bens culturais nos futuros projetos urbanos. A primeira preocupação deverá ser com os milhões de habitantes que não possuem qualidade de vida e vivem em condições precárias em assentamentos irregulares no centro ou na periferia. Há que se desenvolver projetos e tecnologias adequadas para o convívio dos elementos naturais e culturais na cidade e para a cidade e, para isso, é necessário uma inversão de prioridades na lógica de apropriação do solo urbano pelos setores públicos e privados e um envolvimento da população num processo educacional sobre a questão ambiental e da preservação do seu patrimônio ambiental urbano. 3. O sentimento de ser da Mooca Há quem diga que em São Paulo todo mundo tem uma ligação com a Mooca, não é difícil se pensarmos que este é um dos primeiros bairros da cidade. E ainda se fala do orgulho de ser da Mooca, mesmo sabendo dos aspectos de decadência que permeiam o bairro. Mino Carta escreve de maneira deliciosa histórias da gente da Mooca, passando por várias gerações que viveram no bairro, gente famosa e gente menos conhecida e o sentimento de ser da Mooca como algo que traduz um espírito que se remete a uma São Paulo mais humana onde prevaleciam as relações de vizinhança e amizade tão valorizadas ainda no bairro. Mino Carta descreve a passagem da cidade de São Paulo do café, da aristocracia e do tempo dos cavalos puro sangue de Rafael Aguiar Paes de Barros, do primeiro jóquei de São Paulo, no antigo 204 Hipódromo da Mooca, para a cidade da ferrovia. Nessa época os cavalos tinham importância no transporte urbano e, com a ferrovia, a cidade se estende para além do Tamanduateí. Os índios, que habitavam às margens do rio Tamanduateí, rio, de pele transparente em proveito de fáceis pescarias assim como, nos primeiros quarenta anos deste século se prestaria aos mergulhos das molecadas Mooca e do Cambuci, se chegavam tangidos pela curiosidade e repetiam, com estupefação, a palavra “mooca”, que significa “faz casa”. Muito depois, esta palavra seria pronunciada com a inflexão de outros sentimentos por parte de quem, sendo mooquense, não apreciaria ser confundido com morador do Brás. Mas é no mínimo difícil provar que a Mooca e Brás não formassem o mesmo bairro, assemelhando-se tão nitidamente às fisionomias dos seus habitantes, sendo iguais crenças e superstições, preocupações e anseios, regida por idênticos princípios a vida familiar, comum a origem e a condição social da larga maioria, e isso tudo ancorado ao longo de ruas que iam de um cabo a outro daquela região citadina sem solução de continuidade, amalgamando o conjunto, antes que as obras da Radial Leste e do metrô, nos anos setenta, cometessem a prepotência de separar tudo quanto se unira por cima de patéticos bairrismos. Antes ainda, porém, a Mooca já começara a definhar, não menos do que o Brás, ao transferir-se dali, para novas áreas urbanas, o ímpeto desenvolvimentista gerado pela indústria. Eram periferia, e se tornaram centro. Levas de migrantes nordestinos invadiram Mooca e Brás, vítimas eles próprios da violência imposta a todos pelas opções dos donos do poder, enquanto muitos entre seus moradores se mudavam para outros bairros, mais condizentes com sua condição social superior à dos pais e avós, ou banidos pelas enchentes do Tamanduateí, obstruído pelos detritos do progresso desvairado e imprevidente. fig.28 205 Mesmo assim, o orgulho de ser da Mooca permanece até hoje, nos mais velhos ao menos, e até uma quase afirmação de independência por parte de quem nasceu na zona mais baixa, alastrada entre o rio e as porteiras da estrada de ferro ( agora substituídas por um muro que corta a Mooca, batizado como “o muro da vergonha” ) em relação aos nascidos além dos trilhos. E vice e versa 17. Sobre a festa de San Gennaro: A festa nasceu com a igreja que se plantou entre a rua da Mooca e a Nichteroy no começo do século, consagrada ao mártir Gennaro, para atender a fé dos napolitanos que no bairro eram maioria. Fazia-se com procissão e quermesse. E fogos, que jamais podem faltar, e exigem arte de quem os fabrica e de quem os solta 18. E sobre a origem dos italianos da Mooca: Na Mooca baixa, que se espraia até pouco acima do número mil da rua da Mooca, principal artéria do bairro e também sua espinha dorsal, napolitanos são todos aqueles que se originam da Campana, região da Itália meridional cuja cidade mais importante é Nápoles, e distinta, por tradições, hábitos e dialeto, da Calábria, da Basilicata, das Apúlias, da Sicília, regiões da península que forneceram grandes levas de imigrantes, e distinta mais ainda da Toscana, do Vêneto, da Emília, de onde outros saíram para reconstruir a vida a dez mil quilômetros da terra natal 19. E descreve ainda como se dava o uso da rua para atividades de lazer e culturais: fig.29 206 Na rua Odorico Mendes, travessa da Ana Neri e paralela da Dom Bosco, Walter Silva, mocinho animava, do alto de um tablado erguido sobre a calçada nas manhãs de Domingo, uma “hora do calouro” e, da tarde, uma vesperal de lutas de boxe, sempre contando com a excitação de uma platéia fluvial. O povo apinhava-se no mesmo ponto do qual hoje se encara o prédio do Banco Itaú, poderoso edifício alcunhado de Hulk pelos moquenses atuais 20. Ou sobre a segregação espacial urbana mesmo entre os imigrantes italianos de acordo com sua classe social: Os senhores do café não moravam na Mooca, tampouco os empresários italianos que se tinham estabelecido no bairro com suas industrias. Mooca e Brás foram o ABC pioneiro dos começos do século, e poucos entre seus moradores ficaram ricos, e nenhum rico a ponto de ganhar entrada no clube fechado dos donos do poder. Geremia Lunardelli, Dante Ramenzoni, e Nicola Scarpa são exemplos raros de imigrantes pobres que fizeram a América, mas não se tem notícia de que tenham morado na Mooca, assim como Francisco Matarazzo e Rodolfo Crespi, que chegaram, equipados para subir na vida rapidamente, emblemáticos de uma pequena leva de italianos que desembarcaram com algum dinheiro no bolso, ou com estoques de mercadorias, ou com a tarefa de instalar a filial de uma firma estrangeira 21. Mas, ainda durante a guerra, Fiorello La Guardia, prefeito da maior cidade italiana do mundo, Nova York, em visita à Segunda maior, São Paulo, cuidara de jogara água na fervura e de colocar pingo nos is. Conduzido ao topo do prédio Martinelli, deitara um olhar circular sobre a cidade, para concluir: “ Da quella parte si lavora, da quest’altra si mangia”. Comia-se do lado da Paulista, trabalhava-se do lado da Mooca e Brás. E, nesta disparidade, talvez houvesse motivos mais fortes para choques, não mais entre nativos e forasteiros, mas entre brasileiros 22. A Mooca como palco dos acontecimentos históricos das lutas políticas dos trabalhadores: Os eventos de julho de 24, gerados pela revolta militar promovida por Eduardo Gomes, Siqueira Campos e Juarez Távora, reapareceram na lembrança dos velhos mooquenses que então eram meninos e viram o seu bairro transformado em trincheira pelos revoltosos, enquanto choviam as balas dos morteiros governistas do alto do Cambuci. Muitos abandonaram a Mooca para refugiar-se em outros cantos. Os Raiola, pais e filhos, 23 pessoas ao todo, caminharam madrugada a dentro até a Estação da Luz, remoendo temores e melancolia no rumo de um trem que os levaria , a salvo, à Itália. A família Cataldi, juntamente com outras, abrigou-se no porão da casa de uma chácara da rua Oscar Horta, onde os homens dormiam de dia e as mulheres de noite, e uns e outras, quando despertos jogavam tômbola para enganar o tempo 23. Também são diferentes os turvos sentimentos de medo e desespero que açulavam a massa no assalto ao trem dos bois daqueles estimulados pelos oradores dos palanques da praça vermelha, como foi chamado, depois da Segunda guerra mundial, o largo que se forma na confluência da Paes de Barros, Taquari, Oratório e rua da Mooca. Aquela foi a época dos grandes comícios, e certa vez o pessoal tomou ousadamente o caminho do largo São José do Belém, para desligar as luzes de um meeting da UDN. Pois o pessoal era vermelho mesmo, e na raça falavam os comunas veteranos, Luís Carlos Prestes, Pedro Pomar, João Amazonas, Marighella 24. 207 fig.30 Sobre a resistência e permanência da Mooca: Em todo caso, os moquenses, no bem e no mal, conservaram a consciência da importância do seu bairro e, por isso, a Mooca cumpriu o seu papel. Hoje muitos mooquenses voltam a se reunir atrás da igreja de San Genaro, em uma festa aberta para os paulistanos em geral...No mais não há como deixar de prever o êxito da festa e, ainda, não se duvide de que, ao viverem um belo momento de nostalgia e afeto, haja pessoas dispostas a identificá-lo com o espírito da velha Mooca 25. E o depoimento de uma antiga moradora que de maneira intencional é a autora desta tese. Lembro-me da avenida do Estado arborizada e larga, com paralelepípedos e suas pontes que atravessavam o rio permitindo um fácil acesso para se chegar ao outro lado no Cambuci. Lembro-me que era na avenida do Estado que pegávamos um ônibus para chegar mais rápido na Praça Clóvis e aí tomar o ônibus para ir a Pinheiros, na casa da minha tia Marina, na rua Oscar Freire, perto do Hospital das Clínicas. Do bairro, lembro que ia a pé para a escola na rua da Mooca, da Odorico Mendes onde morávamos, seguia à direita pela rua Oscar Horta e depois pela rua Dom Bosco e, por último, entrava na vila Alvarenga, porque era mais calma e as crianças podiam caminhar sem perigo até a rua da Mooca. É interessante lembrar a generosidade dos que moravam nas vilas para com o uso dos espaços comuns pelos outros moradores do bairro. Passávamos em frente a farmácia do Zezinho e da venda do seu Osvaldo na rua Dom Bosco, que conheciam a mamãe, e por isso, ela ficava tranqüila do nosso trajeto, pois as pessoas conheciam as crianças. Minha mãe gostava de contar a história da dívida que tinha na farmácia e sempre prometia ao Zezinho que ia estourar um negócio de meu pai e logo teria dinheiro para pagar as contas e o Zezinho de bom humor sempre perguntava quando minha mãe passava em frente à farmácia: “E aí Dona Biga já estourou o negócio de seu marido?” Eu gostava de ouvir ela contar essa história e acho que herdei o bom humor de minha mãe, sempre com uma boa tirada e bem-humorada com a vizinhança e os feirantes. Adoro ir à feira porque sempre lembro dela brincando com os feirantes amigos. Aliás, ela sempre foi amiga de todos os comerciantes. A Cláudia, minha irmã, também tem esse bom humor. Acho até que todos os filhos têm esse espírito de porco. O rio Tamanduateí transbordava na época das chuvas e nós ficávamos de olho pela janela da área de serviço, que dava para um corredor do prédio onde havia um elemento vazado que nos permitia ver nitidamente o rio. A avenida do Estado já possuía um tráfego intenso e era fascinante olhar os carros passando. Brincávamos de contar quantos carros de cada tipo víamos pela janela. Olhávamos o rio a pedido da vizinhança da rua, pois as donas de casa tinham que providenciar as madeiras para por na porta e levantar os móveis ou levá-los para o andar superior, depois fizeram as barricadas de concreto com escadas dentro e fora da casa. Não adiantava muito, pois a água subia pelo ralo do quintal das casas. Mas eu me divertia de ver Dona Ivone, melhor amiga da minha mãe gritar lá de baixo “ Begair olha o rio!” e corríamos para a área de serviço para ver se o rio não estava subindo. Ninguém reparava nessa gritaria no meio da rua: era comum na Mooca as pessoas gritarem entre os vizinhos. Meu pai não gostava muito. Sempre foi um homem culto e gostava que tivéssemos discrição. Dona Ivone vinha sempre à nossa casa assistir televisão, acho até que ela também tinha uma, mas era mais pela companhia de minha mãe e ríamos muito, pois ela era uma mulher muito alegre. Ela uma vez disse lá em casa, brincando a respeito de uma senhora índia que ficava sempre encostada na parede olhando a rua, à entrada da vila ao lado da casa da dona Ivone, que aquela mulher ficava segurando a casa dela. Foi a maior confusão quando minha irmã Eliza foi dizer para a tal mulher .” A dona Ivone disse que a senhora fica segurando a casa dela.” 208 fig.31 Quando já era tarde, e meu pai ou minha mãe mandavam que fossemos dormir, íamos e depois de algum tempo, ficávamos escondidos no corredor do apartamento que dava para os quartos olhando a televisão, se eles percebiam, corríamos para a cama. Algumas noites meus pais iam ao cine Itapura perto do Parque Xangai. Nunca soube direito onde era o cinema, mas sabia que era na direção do conjunto do IAPI, na avenida do Estado. O parque Xangai era perto também do Parque Dom Pedro, mas eu não tenho lembrança de tê-lo visto, só sei que íamos lá. Uma vez num domingo à tarde, meu pai me levou para ver um balé de crianças e um teatrinho em um auditório de alguma fábrica do lado de lá do rio, no Cambuci. Havia um ar de mistério nessas andanças do meu pai. Não sei porquê, eu era muito pequena, talvez tivesse uns quatro anos de idade. Lembro-me bem do meu aniversário de cinco anos. Eu estava na casa da minha avó Maria, mãe da minha mãe, na Freguesia do Ó, e ela e sua vizinha fizeram um vestido novo para eu chegar na casa da minha mãe. Eu sofri muito com o sapato novo apertado, pois tínhamos que andar até a avenida Itaberaba para pegar o ônibus de volta até a Praça da República e de lá outro ônibus até a Mooca. Cheguei feliz de voltar para casa,pois havia passado muito tempo de férias na minha avó. Meu pai ficava muito bravo quando meu irmão mais velho Eduardo sumia nos campos de várzea, pois ele adorava jogar futebol, tentou até os 18 anos, até no Flamengo, no Rio, mas nunca conseguiu ser jogador. Já era “são paulino” apesar de meu pai ser corintiano roxo. Eu gostava de ouvir o jogo no rádio, com meu pai aos domingos. Não sei de onde vinha, mas havia um som de ópera que se ouvia de algum vizinho, italiano, provavelmente. Meu pai mandava que fossemos ao bar do seu Manoel, na esquina da rua Barão de Jaguara, junto às casas do Warchavchik, buscar uma garrafa de pinga Tatuzinho e um maço de Continental sem filtro. A embalagem do Continental era o mapa da América Latina, lindo em tons de verde meio chumbo. A garrafa, ele exigia a verde pois a marrom estragava a pinga. A Dona Ivone, a Dona Santina, o seu Bandieri eram alguns dos descendentes de italianos da rua Odorico Mendes. A Dona Santina era a mais autêntica, com sua irmã Anita e a Mafalda, que trabalhava de operária na Johnson & Johnson, onde hoje é o centro do Itaú. A Mafalda vinha, às vezes, trazer produtos femininos mais baratos, que tirava na fábrica, para minha mãe e irmãs, pois somos em quatro filhas. Eu era pequena, mas ficava atrás dos assuntos das mulheres, era tudo escondido e isso aguçava a minha curiosidade. Ao lado do fábrica da Johnson havia uma vila encortiçada, muito chacoteada no bairro, que hoje desapareceu e foi incorporada no terreno do Itaú, que, aliás, já comprou muitos imóveis no bairro, cujo apelido era “Martinelli Deitado”, em menção ao edifício Martinelli, na rua São Bento, que na época, ainda não havia sido renovado e era conhecido como um grande cortiço vertical. Mas, voltando à história do rio, eu achava fascinante como as águas invadiam a avenida do Estado. Já eram águas turvas, mas muito caudalosas. O rio corria forte. Outro dia o vi perto da Ponte Pequena e me lembrei da sua força no trecho da Mooca, ainda é um rio forte, apesar do lodo. Uma vez, era véspera de ano novo e fomos para a casa da minha tia Marina em Pinheiros para a festa, choveu muito e ficamos sabendo da enchente na Mooca e não pudemos voltar. Tivemos que ficar, uma parte na casa do tio Celso, na Aclimação e outra, acho, que ficou em Pinheiros mesmo. Para o meu pai isso era um transtorno, pois ele era gerente de vendas na fábrica da Duráveis situada embaixo do nosso prédio e, além de se preocupar com a família, preocupava-se com a fábrica, que deveria estar toda inundada. Essa fábrica fazia capacetes e luvas de segurança para outras fábricas. Mas, o legal mesmo, era olhar na avenida do Estado e esperar passar a DKV rosa e verde claro do tio Zaca, o tio preferido, pois vinha do Brooklin buscar as crianças para passear de carro. Nem lembro de passear com ele, mas lembro da 209 alegria que era essa espera, pois o papai e mamãe gostavam muito dele, pelo menos era assim que eu via. Esse tio, mais tarde, vi convencer o meu pai a mudar-se da Mooca, para tirar os filhos de um ambiente em processo de degradação. Uma vez vimos seringas de drogas jogadas na entrada de nosso prédio. Um pequeno hall que abrigava apenas o hidrômetro e a entrada de luz, e logo já vinha a escadaria longa de granilite branca, que dava aceso a dois pavimentos com dois apartamentos em cada andar. Quando mudamos da Mooca, lembro que chorei ao ver o caminhão de mudança lotado logo pela manhã. Tinha orgulho também da minha escola na Mooca, um prédio imponente. Foi uma decepção quando meu pai me mostrou a escola na qual eu ia estudar no Campo Belo. Era uma escola de madeira de 4 salas e uma área externa de secretaria, cozinha e banheiros, e um pátio de terra. No pátio dessa pequena escola, depois, fui muito feliz no meu último ano do primário. Era uma emoção cantar o Hino Nacional toda segunda feira. Voltando à Mooca, lembro que a enchente nunca passou da rua Odorico Mendes, talvez essa seja a cota de inundação. Foram várias enchentes e cada vez foram mais fortes, mas nunca chegaram na rua Dom Bosco. Nós achávamos uma farra e jogávamos objetos para ver boiar como barquinhos e meu pai tinha que sair correndo atrás de um “tamanquinho” de madeira da minha mãe, que minha irmã Eliza jogou pela janela, talvez uma lembrança do IV Centenário da cidade, que eu não vi, mas se não me engano, ele ainda existe. Meu pai ia me buscar na escola quando a nossa rua enchia de água, pois tinha medo que caíssemos no bueiro da esquina. Outra lembrança que tenho é a do mercadinho da esquina da rua Dom Bosco, ainda não havia supermercados na cidade e se comprava arroz e feijão a granel. Eu gostava de mexer no feijão e no arroz naqueles sacos enormes, era pequena e tinha vergonha de ir de shorts na venda. Acho que talvez porque a Mooca era muito urbana demais. Ouvi dizer que o dono do mercadinho virou o dono da fábrica de tomates etti. Um tal de senhor Pauletti. O Bandieri tinha uma loja importante de bebidas na rua Barão de Jaguara. Era a melhor casa da rua a dos Bandieri. Tinha um espelho d’água que eu imaginava que era uma piscina e sonhava com uma também. Recentemente, passei por lá e a casa virou escritório de uma firma, que se localiza na rua Oscar Horta e se emenda pelo miolo de quadra, e não há mais o espelho d’água, e a casa não é tão grande assim e nem tão suntuosa. Minha mãe quando queria se livrar da gente nos mandava à igreja, na rua Dom Bosco. Nunca me esqueço que o Álvaro, meu irmão mais novo, pediu o troco quando colocou uma moeda no saco de esmolas da igreja. Nós ríamos muito dessa história também, pois lá em casa meu pai não cultivava a religião. Eu fiz a primeira comunhão na Igreja de San Genaro, na rua da Mooca e fui a última da família a seguir este rito, apesar do desacordo de frei Timóteo, meu tio frade irmão do meu pai. Fui às aulas de catecismo e quase morri de medo de não decorar os tais mandamentos. Minha roupa era um vestido comprido branco e me senti emocionada naquele dia e meu avô veio assistir. Participávamos de procissão da Igreja Dom Bosco pelas ruas do bairro, era uma festa e as crianças disputavam quem ia ajudar a segurar o andor do santo. Ríamos muito não sei do quê. Aos domingos íamos ao cinema no salão atrás da igreja, a entrada era pela rua onde hoje há a festa de San Genaro. A primeira vez que fui ao cinema foi no cine Roma na avenida Alcântara Machado, era muito grande e vi um filme com o Toni Curtis. Depois vi outros com Totó. No terceiro ano primário ou no segundo, recebi uma medalha de honra ao mérito por ter sido a primeira aluna da classe, a festa era promovida pelas lojas Pirani e acontecia no cine Universo, na Celso Garcia. Dizem que passou na televisão, nós não vimos. Mas eu vi o teto do cinema abrir, era uma honra aquele momento de subir ao palco. Em 1964, minha mãe nos levava para a fila no Pastifício da União, na rua Borges de Figueiredo, porque só era permitido comprar um saco de açúcar de cada vez, tínhamos que atravessar a porteira do trem. Ali na estação da Mooca, eu peguei o trem uma vez com meu pai e fomos a Mauá e eu fiquei brincando numa praça atrás de uma igreja, num gramado lindo e não 210 sei porque fomos, e não sei o que meu pai foi fazer lá. Parecia de novo alguma coisa clandestina. O bom era irmos ao Monumento do Ipiranga aos domingos enquanto minha mãe fazia a massa do macarrão em casa, tarefa que muitas vezes ajudávamos a cortar na maquininha. Minha mãe não é descendente de italianos nem meu pai, mas a macarronada aos domingos é um hábito que cultivamos até hoje. Íamos a pé pela avenida do Estado e pela avenida Dom Pedro e parávamos para ver os jogos de várzea. Eram mais de um campo no trajeto e havia vários jogos. Meu pai parava para descansarmos e porque gostava de assistir. Até hoje não consegui fazer uma receita de beringela para sanduíche que minha mãe fez no aniversário de quinze anos da minha irmã mais velha Virgínia. Lembro quando um rapaz do prédio vizinho, um que tem uma varanda italiana, e hoje está todo encortiçado, chegou na rua vestido de mulher e com a cabeça raspada e pintada porque tinha entrado na faculdade de medicina. Eu morri de medo e pensei que nunca queria entrar na faculdade, pois nunca queria passar aquela humilhação. Fui uma vez ver a parada de 7 de setembro com meu pai no vale do Anhangabaú, ficamos nos jardins da encosta e eu não conseguia enxergar quase nada mas ouvia a música das bandas que meu pai adorava. Conhecendo o projeto do arquiteto Vilanova Artigas para o vale, entendi porque ele manteve o vale aberto ao contrário do que hoje lá está. Da janela da sala do apartamento na Mooca na rua Odorico Mendes, nos arcávamos para enxergar o relógio da Ford Willis, na Paulista esquina com rua Augusta, hoje do Itaú, víamos também o “prédio de pontas” e o “prédio gordo”, atualmente prédio do Banespa na Praça Antônio Prado e prédio da Fazenda na Rangel Pestana, respectivamente. São imagens da cidade além da Mooca e vistas da Mooca. Em frente via-se com nitidez a Serra da Cantareira no horizonte e a fábrica da Alpargatas, no Brás, que hoje virou faculdade. Hoje os prédios da Cohab, perto do metrô, não permitem mais esta visão. Em um aniversário meu, acho que o último antes de entrar na escola, talvez o de seis anos de idade, minha mãe me levou para encontrar minha madrinha, tia Bebê, para eu ficar uns dias na casa dela, no bairro do Campo Belo, onde hoje residem meus pais por influência dessa tia e de meu tio. O encontro foi no restaurante Fazano, na avenida Paulista. Minha tia era muito chique e tomamos um lanche, sorvete com compota de fruta, foi uma delícia. Ganhei de presente de aniversário um caixa de lápis de cor de 48 cores. Foi o melhor presente que já ganhei na vida. Até hoje me encantam os lápis de cores. Fiquei uma semana na casa dela no Brooklin, hoje Campo Belo, e li gibis, fui apresentada a Monteiro Lobato. Tinha um prazer imenso de ficar naquela casa, aprendi como se enxugam os pratos da louça ,e até hoje, repito os seus gestos nesta tarefa. Quando voltei para casa, brincava de casinha com meus lápis de cores e fazia deles alunos de uma sala de aula no chão de casa. Aprendi a escrever e ler algumas coisas antes de entrar na escola e nunca me esqueço que minhas irmãs queriam que eu entendesse o que era sujeito e predicado antes de entrar no primeiro ano escolar. Nossos vizinhos de andar, na Mooca, eram a família Herzog, pais de Wladimir Herzog morto pela ditadura militar. Conheci seu filho André, na Holanda dois anos atrás. Nos divertíamos ao ver o velho com bermudas, sapato e meia e sempre com guarda chuva, achávamos muito cafona, se é que o termo se usava na época. Embaixo moravam o casal de italianos, seu Serafim e dona Josefina, ela era delicadíssima e para conseguir que parássemos com o barulho, oferecia-nos torradas doces feitas em casa e nos chamava para lhe fazer companhia, eu o Mauro e o Álvaro, os mais novos de casa. Seu filho chamava-se Giani e nós cuspíamos na sua careca na janela do apartamento. Uma vez uma vizinha assustada foi avisar minha mãe que uma criança tinha caído da janela, mas era o Mauro que havia jogado um travesseiro lá para baixo. Na copa de 62, fomos a pé até a Aclimação assistir o jogo na casa do tio Celso, na rua Machado de Assis, lembro da decepção ao ver só uma bolinha no esquema do jogo e em branco e preto. A melhor de todas as lembranças é, sem dúvida, a brincadeira de roda, em que as moças mais velhas brincavam com as 211 crianças na vila, pois era mais seguro e aquelas músicas, até hoje, emocionam-me. Após uma briga que minhas irmãs tiveram com alguns meninos que eram nossos amigos, porque eu atrapalhei o jogo de bolinha de gude deles, ficamos proibidos de pisar na vila e esta foi a maior dor que senti. Depois aos poucos voltamos, pois, afinal, éramos em sete e fazíamos falta nas brincadeiras. Lembro da brincadeira de pega - ferro, barra manteiga, esconde esconde, cor flor - fruta fantasia ou música, todas elas aconteciam na vila e na rua. Lembro com carinho da Mooca, apesar de lembrar com certa tristeza, pois já percebíamos os sinais de decadência do bairro quando saímos de lá em março de 1965. Hoje imagino que a cidade pode recuperar sua beleza e que esta beleza pode estar em coisas simples, limpeza, iluminação, calçadas bem executadas, ciclovias, pontos de ônibus bem iluminados e desenhados, arborização, estímulo às pinturas das edificações e construções de qualidade e respeitando a escala da paisagem local. Locais de reunião comunitários para festas e soluções dos problemas locais. Locais para passear na beira do rio. Imaginem o rio Tamanduateí limpo e cheio de embarcações e pontes sobre ele, com ruas mais tranqüilas a sua volta. O fura fila poderia ser um bonde sobre trilhos como na Holanda, sem poluição e barulho. O centro seria, então, maravilhoso! 212 Notas 1. . MEIRELLES, Domingos. As Noites das Grandes Fogueiras. Uma História da Coluna Prestes. Editora Record Rio de Janeiro São Paulo, 2ª Edição, 1995. Pg.74 e 75. 2. MEIRELLES, Domingos. Op. cit. Pg.75. 3. MEIRELLES, Domingos. Op. cit. 75. 4. SPIRN, Anne Whiston. O Jardim de Granito. A natureza do desenho da cidade. Tradução de Paulo Renato Mesquita Pellegrino. EDUSP, São Paulo, 1995.pg.27 5. ZANETTINI, SIEGBERT. Habitação Implicações do Processo de Industrialização. Depoimentos Flávio Motta. FAUUSP vol. 2 Tese de Doutoramento - 1972 6. LEMOS, Carlos A.C. O que é patrimônio histórico? Brasiliense, São Paulo, 1982. Coleção Primeiros Passos, pg. 19 7. LEMOS, Carlos A.C., op. cit. pg.22 8. LEMOS, Carlos A.C. op. cit. pg. 47 9. LEMOS, Carlos A.C. op. cit. pg. 56 10. BEZERRA DE MENESES, Ulpiano T.. Patrimônio Ambiental Urbano: do lugar comum ao lugar de Todos . In C. J. Arquitetura n.º 19, 1978 11. BEZERRA DE MENESES, Ulpiano T. idem. 12. SPIRN, Anne Whiston. O Jardim de Granito. A natureza do desenho da cidade. Tradução de Paulo Renato Mesquita Pellegrino. EDUSP, São Paulo, 1995. pg. 15 13. SPIRN, Anne Whiston. Op. cit. pg.20 e 21. 14. SPIRN, Anne Whiston. Op. cit. pg. 21. 15. AB’ SABER, Aziz, Curso São Paulo ( Re) Visão de Uma Metrópole ministrado no IEA, em abril de 1996, transcrição de fita gravada das aulas. 16. AB’ SABER, Aziz, Curso São Paulo (Re) Visão de Uma Metrópole ministrado no IEA, em abril de 1996, transcrição de fita gravada das aulas. 213 17. CARTA, Mino. Histórias da Mooca ( com a bênção de San Genaro ). Rio de Janeiro, Berlendis & Vertecchia Editores Ltda. 1962. Pg. 12 18. CARTA, Mino. Idem. Op. cit. Pg. 31 19. CARTA, Mino. Idem. Op. cit. Pg. 32 20. CARTA, Mino. Idem. Op. cit. Pg. 60 21. CARTA, Mino. Idem. Op. cit. Pg. 68 22. CARTA, Mino. Idem. Op. cit. Pg. 78 23. CARTA, Mino. Idem. Op. cit. Pg. 84 24. CARTA, Mino. Idem. Op. cit. Pg. 86 e 89 25. CARTA, Mino. Idem. Op. cit. Pg. 89 214 Conclusão Esta tese buscou identificar uma metodologia de projeto na escala urbana relacionado à inserção de novos projetos em contextos já existentes de bairros históricos na cidade de São Paulo. A memória do ambiente cultural urbano foi aqui valorizada como o espaço do cotidiano dos moradores como forma de preservar os elementos históricos arquitetônicos e da história do bairro. O bairro da Mooca é um espaço de resistência na cidade. Simbolicamente pelas lutas que o tiveram como palco, e, por uma concretude de seu espaço construído, preservado pela pobreza existente na área, e, que não sucumbiu às investidas de renovação urbana do mercado imobiliário que busca outras regiões da cidade, cujas razões explicamos no discorrer deste trabalho. Neste aspecto, a Mooca apresenta muitas vantagens para a propositura de projeto de renovação urbana e investimentos de habitação na área central. Além disso, o fator histórico nos remete a um investimento na recuperação e humanização da cidade através da inserção de seus moradores no tema da valorização da memória como elemento de conquistar a cidadania. O bairro da Mooca foi escolhido pois se constitui em um bom exemplo de permanência de uma estrutura urbana consolidada por quase um século, mas, em processo de degradação da sua qualidade de vida há quarenta anos. Sua localização, próxima ao centro da cidade, proporciona uma reflexão sobre uma nova abordagem de planejamento urbano e de ocupação, sintonizada com o atual estágio de crescimento da cidade, de uma urbanização consolidada com taxas de crescimento populacional da ordem de 1,2%. A localização na várzea do rio Tamanduateí nos fez concluir que a recuperação do rio é essencial para a recuperação da qualidade de vida dos bairros vizinhos ao centro, não só pela questão ambiental, mas, também pelos valores históricos da relação do rio com a fundação da cidade de São Paulo e, ainda pelo potencial de inserir na sua borda projetos voltados para novas áreas de investimentos do setor privado e de lazer para a população. O tema da habitação é um elemento estratégico para a abordagem da preservação do patrimônio ambiental urbano na área central, pois representa inclusive economia de recursos utilizados na expansão periférica da cidade. Mas, é preciso que o setor público e o setor imobiliário vejam na utilização do espaço construído potenciais de projeto para suas atividades, sem uma visão predatória dos valores culturais existentes de seus moradores. 215 Referências Bibliográficas ACRÓPOLE, Revista. n.º 295, ano XXV, São Paulo, Max Gruenwald & Cia, junho de 1963 AB´SABER, Aziz. Originalidade do sítio da cidade de São Paulo. Revista Acrópole n.º 295,ano XXV, pg. 205 São Paulo, Max Gruenwald & Cia, junho de 1963 AB´SABER, Aziz Nacib São Paulo: (Re)visão de uma metrópole Conferências Temáticas - IEA mimeo, abril, 1996. AMARAL DE SAMPAIO, Maria Ruth. O Papel da Iniciativa Privada na Formação da Periferia Paulistana. 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Habitação Implicações do Processo de Industrialização Depoimentos FAUUSP, Tese de Doutoramento 1972. 225 226 Referências das figuras Introdução Capa - desenho dos rios Tietê e Pinheiros com seus afluentes e localização do colégio dos jesuítas no período colonial, sem referência do autor, fonte: ACRÓPOLE, n.º 295, ano XXV, São Paulo, Max Gruenwald & Cia., jun. de 1963. Fig.01, fig. 02, fig. 03, fig.04 . fig.05, fig.06, fig.07, fig.08, fig.09 fonte: desenhos esquemáticos da autora, baseados na interpretação do texto de Caio Prado Júnior, que mostra como foi decisivo o conhecimento da geografia da capitania para a escolha do sítio para a sede, baseado no conhecimento dos jesuítas que se referenciaram na experiência indígena. Fonte: PRADO JúNIOR, Caio. Evolução política do Brasil e outros estudos A cidade de São Paulo. - Geografia e História. - O fator geográfico na formação e no desenvolvimento da cidade de São Paulo ; 80Contribuição para a geografia urbana da cidade de São Paulo - Publicado e Geografia (órgão da AGB), n.º 3, set. 1935 - 4ª ed., São Paulo, Brasiliense, 1963. Capítulo I Capa - Representação da tradição de serenatas nas ruas da cidade de São Paulo. Fonte: ACRÓPOLE, n.º 295, ano XXV, São Paulo, Max Gruenwald & Cia., jun. de 1963. Fig. 01 Mapa das referências urbanas da cidade de São Paulo e a localização do bairro da Mooca. Elaboração da autora de 2000 Fig. 02 planta do relevo do bairro da Mooca situado na várzea do rio Tamanduateí. Elaborado por Wanderley Ariza Fig. 03 e fig. 04 - imóvel do início do século XX com tipologia sobrado com balcão, uso misto residencial e de serviço. Foto da autora de 2000 Fig. 05 imóvel de uso misto a ser preservado na rua Bento Pires. Foto de Tereza Herling do ano 2000 Fotos do item 3.1. Foto de José de Oliveira do ano 2000 Fotos item 3.2. Foto de José de Oliveira do ano 2000 Foto item 3.2, rua Patrimônio de Mônaco vista frontal. Foto da autora de 1998 Fotos item 3.3, vista frontal esquerda imóveis rua Dom Bosco. Foto de José de Oliveira do ano 2000 Fotos item 3.3 vista central e vista frontal direita, imóveis rua Dom Bosco. Foto da autora, ano 2000 Foto item 3.4 miolo de quadra livre na rua Barão de Jaguara. Foto da autora ano 2000 Foto item 3.4 principal escola do bairro na rua da Mooca. Foto de José de Oliveira ano 2000 Foto item 3.4 “Fábrica 5” depósito recuperado para lazer. Foto de José de Oliveira ano 2000 Foto item 3.4 cortiço na rua da Mooca. Foto da autora ano 2000 Foto item 3.4 depósitos fechados na rua da Mooca. Foto de Tereza Herling ano 2000 Fotos item 3.5. Fotos de José de Oliveira ano 2000 Fotos item 3.9. Fotos de José de Oliveira ano 2000 Croquis da autora ano 2002 Desenhos em mídia eletrônica: Elaboração de Wanderley Ariza, ano 2002 227 Capítulo II Capa - foto Aérea da cidade de São Paulo da década de 60, sem escala. Em destaque a área de estudo, o bairro da Moóca e os rios Tamanduateí, Tietê e Pinheiros. Fonte: ACRÓPOLE, n.º 295, ano XXV, São Paulo, Max Gruenwald & Cia., jun. de 1963. Fig.01, fig.02, fig.06, fg.07, fig.10, fig.11, fig.12, fig.15 e fig.16 - fonte: desenhos esquemáticos da autora, baseados na interpretação do texto de Caio Prado Júnior, que mostra como foi decisivo o conhecimento da geografia da capitania para a escolha do sítio para a sede, baseado no conhecimento dos jesuítas que se referenciaram na experiência indígena. Fonte: PRADO JúNIOR, Caio. Evolução política do Brasil e outros estudos A cidade de São Paulo. - Geografia e História. - O fator geográfico na formação e no desenvolvimento da cidade de São Paulo ; Contribuição para a geografia urbana da cidade de São Paulo - Publicado e Geografia (órgão da AGB), n.º 3, set. 1935 - 4ª ed., São Paulo, Brasiliense, 1963. Fig.03 - topografia da área central da cidade onde se situa a colina histórica contornada pelo rio Tamanduateí e seu afluente córrego Anhangabaú. A cota mais alta da colina é de 760 m e a da várzea do Tamanduateí fica em torno de 725 m. Essa situação permitiu aos jesuítas, quando instalaram aí o colégio, visualizar a várzea dos rios e controlar possíveis ataques indígenas. Mapa elaborado pelo prof. Aziz Ab’ Saber. Fonte: AB’SÁBER, Aziz , “ Originalidade do sítio da cidade de São Paulo “. Revista Acrópole n.º 295, ano XXV, São Paulo, Max Gruenwald & Cia., jun. de 1963. pg. 205. Fig.04 - mosteiro de São Bento visto a partir do rio Tamanduateí que ainda fazia parte da paisagem da cidade. Fonte: AZEVEDO, Militão Augusto de. Álbum comparativo da cidade de São Paulo, 1862-1887. São Paulo, Secretaria Municipal de Cultura / DPH, 1981. Fig.05 - viaduto de retorno para a zona sul sobre o rio Tamanduateí na altura do Parque Dom Pedro II, onde se visualiza os edifício na subida da colina histórica, se destacam o prédio do Banespa, O edifício Guarani, e o edifício do Ministério da Fazenda. No nível do parque vê-se o prolongamento da avenida do Estado, a linha do Metrô cortando o parque e tapumes de obras provavelmente da linha do Fura - Fila. Foto da autora de 1995. Fig.08 - mapa geomorfológico esquemático do sítio urbano de São Paulo elaborado pelo prof. Aziz Ab’ Saber. O bairro da Moóca vai se formar na margem direita do Tamanduateí, sobre os terreno de “ baixos terraços fluviais, mantidos por cascalheiros e aluviões antigos, com altitude média variando entre 725-750 m “. Fonte: AB’SÁBER, Aziz , “ Originalidade do sítio da cidade de São Paulo “. Revista Acrópole n.º 295, ano XXV, São Paulo, Max Gruenwald & Cia., jun. de 1963. pg. 205. Fig.09 - o sítio urbano de São Paulo. Topografia e Drenagem, mapa elaborado pelo prof. Aziz Ab’ Saber. O bairro da Moóca situa - se quase que por inteiro na cota 725m, com pequena elevação em direção ao bairro do Brás. Fonte: AB’SÁBER, Aziz, “ Originalidade do sítio da cidade de São Paulo”. Revista Acrópole n.º 295, ano XXV, São Paulo, Max Gruenwald & Cia., jun. de 1963. pg. 205. Fig.13 - evolução do povoamento no século XVI. Fonte: PETRONE, Pasquale. Aldeamentos Paulistas. São Paulo, Edusp, 1995. Fig.14 - distribuição dos aldeamentos e povoamentos até fins do século XVII, os caminhos que vinham de Santos para São Paulo desembocavam às margens do Tamanduateí para chegar ao núcleo da sede. As regiões dos bairros da Moóca, Cambuci, Ipiranga, devem ter conhecido um movimento intenso de viajantes. Fonte: PETRONE, Pasquale. Aldeamentos Paulistas. São Paulo, Edusp, 1995. Fig. 17, fig.18, fig.19, fig.20, fig.21, fig.22, fig.23, fig.24 - evolução Territorial da Paróquia da Sé: 1750 a 1850, elaborado por Maria Luiza Marcílio. Observa - se pelos mapas esquemáticos que o desmembramento da Paróquia da Sé se dá a medida que cresce o povoamento da cidade e se consolida a ocupação dos antigos aldeamentos. os elementos estruturados da 228 futura metrópole de São Paulo, os rios e os caminhos para as minas e para o porto já tinham grande importância estratégica para a formação da cidade. Fonte: MARCÍLIO, Maria Luiza. A cidade de São Paulo. Povoamento e População, 1750-1850. São Paulo, Pioneira, Edusp, 1974. Fig. 25 - primeira fábrica da Cia Antárctica, na Água Branca, que depois comprou a fábrica da Bavária na Moóca. Fonte: REIS FILHO, Nestor Goulart. São Paulo e outras cidades. Produção social e degradação dos espaços públicos. São Paulo, Hucitec, 1994. Fig.26 - evolução da expansão da cidade de São Paulo, em quatro momentos até que se consolida sua ocupação como metrópole da década de 50. Fonte: SAIA, Luís. Morada paulista. São Paulo, Perspectiva, 1972. Col. Debates. Fig.27 - planta da divisão de chácaras, sítios e fazendas ao redor do centro, ampliação sem escala (escala original 1:20.000). Fonte: TOLEDO, Benedito Lima de. Prestes Maia e as origens do urbanismo moderno em São Paulo. São Paulo, Empresa das Artes, 1996. Fig.28, fig.29, fig.30, fig.31, fig32, fig33 - evolução da mancha urbana de São Paulo, seus principais caminhos ferrovias, e consolidação da metrópole nas décadas de 50 e 60. O bairro da Moóca tem sua formação a partir da segunda metade do século XIX com a imigração italiana e a industrialização de São Paulo. Fonte: SAIA, Luís. “Notas para a teorização de São Paulo” . Revista Acrópole n.º 295, ano XXV, São Paulo, Max Gruenwald & Cia., jun. de 1963. Fig. 34 - eixo da ferrovia visto da passarela metálica sobre a ferrovia na direção da rua da Moóca, hoje demolida em função do viaduto. Foto da autora de 1995. Fig.35 vista do eixo da ferrovia na mesma posição da fig. 34, Fonte: publicada em CARTA, Mino. Histórias da Mooca ( com a bênção de San Genaro ). Rio de Janeiro, Berlendis & Vertecchia Editores Ltda. 1962. Fig.36 - evolução dos núcleos coloniais na cidade de São Paulo e arredores com o traçado das ferrovias no final do século XIX, onde se observa a importância da capital como centro articulador das comunicações, entre o litoral e o interior. Fonte: LANGENBUCH, Jurgen Richard. Estruturação da grande São Paulo; estudo de geografia urbana. Rio de J a n e i r o, IBGE, 1971. Fig.37 - vista panorâmica da cidade de São Paulo, década de 60. Em destaque a localização aproximada da área de estudo, no contexto da metrópole já consolidada. Fonte: ACRÓPOLE, n.º 295, ano XXV, São Paulo, Max Gruenwald & Cia., jun. de 1963. Fig. 38 - planta da cidade de São Paulo, de Rufino José Felizardo e Costa, 1810 - Indicação aproximada futuro do bairro da Moóca. Fonte: KLIASS, Rosa Grena. Parques Urbanos de São Paulo. São Paulo, Pini, 1993. Fig.39 - planta da Imperial cidade de São Paulo, de Rufino José Felizardo e Costa, 1810 - Indicação aproximada do futuro bairro da Moóca. Fonte: KLIASS, Rosa Grena. Parques Urbanos de São Paulo. São Paulo, Pini, 1993. Fig.40 - planta da cidade de São Paulo, por C.A. Bresser, 1841. Indicação aproximada da localização do bairro da Moóca. Fonte: KLIASS, Rosa Grena. Parques Urbanos de São Paulo. São Paulo, Pini, 1993. Fig.41 - carta da capital de São Paulo por José Jacques da Costa Ourique, 1842. Indicação aproximada do futuro bairro da Moóca. Fonte: KLIASS, Rosa Grena. Parques Urbanos de São Paulo. São Paulo, Pini, 1993. Fig. 42 - mapa da cidade e seus subúrbios, atribuído a por C.A. Bresser, 1844 - 1847, destaque para a localização aproximada do bairro da Moóca. Fonte: KLIASS, Rosa Grena. Parques Urbanos de São Paulo. São Paulo, Pini, 1993. Fig. 43 - mapa da Imperial cidade de São Paulo, por Carlos Roth, 1855, destaque para a localização aproximada do bairro da Moóca. Fonte: KLIASS, Rosa Grena. Parques Urbanos de São Paulo. São Paulo, Pini, 1993. Fig.44 - planta da cidade de São Paulo, atribuída a Carlos Roth, 1868, destaque para a localização aproximada do bairro da Moóca. Fonte: KLIASS, Rosa Grena. Parques Urbanos de São Paulo. São Paulo, Pini, 1993. Fig.45 - plain’ História da cidade de São Paulo, 1800 - 1874, por Affonso A. de Freitas. Indicação das principais referências históricas da cidade no período. Indefinição ainda dos limites do bairro da Moóca. Fonte: TOLEDO, Benedito Lima de. 229 Prestes Maia e as origens do urbanismo moderno em São Paulo. São Paulo, Empresa das Artes, 1996. Fig.46 - mapa da Capital da Província de São Paulo, desenhado por Francisco de Albuquerque e Jules Martin, 1877. A ponte sobre o Rio Tamanduateí indicada no final da rua Tabatinguera, no canto direito inferior da figura, é a passagem para o Caminho da Moóca, futura rua da Moóca. Fonte: KLIASS, Rosa Grena. Parques Urbanos de São Paulo. São Paulo, Pini, 1993. Fig.47 - planta da cidade de São Paulo da Companhia Cantareira e Esgotos , 1881. A rua da Moóca e a ferrovia já estão demarcadas, nas não aparece ainda o arruamento do bairro da Moóca. Fonte: KLIASS, Rosa Grena. Parques Urbanos de São Paulo. São Paulo, Pini, 1993. Fig. 48 — planta da Capital do estado de São Paulo e seus arrabaldes, desenhada por Jules Martin, 1890. A rua da Moóca aparece com seu traçado até a ferrovia , bem definido. O rio Tamanduateí ainda se apresenta retificado no trecho da Moóca, mas já aparecem a rua Piratininga e a rua Luiz Gama com traçados bem definidos e como ruas de acesso à Moóca. Fonte: KLIASS, Rosa Grena. Parques Urbanos de São Paulo. São Paulo, Pini, 1993. Fig.49 - nova Planta da cidade de São Paulo, de U. Bonvicini e V. Dubugras, 1891. Aparecem várias ruas do bairro da Moóca, do Cambuci e do Brás ligados entre si. Fonte: TOLEDO, Benedito Lima de. Prestes Maia e as origens do urbanismo moderno em São Paulo. São Paulo, Empresa das Artes, 1996. Fig.50 - planta do novo canal do rio Tamanduateí de 1893 feita pela Comissão de Saneamento do estado de São Paulo. O traçado desse projeto de retificação assemelha - se ao traçado da atual avenida do Estado no trecho próximo ao bairro da Moóca. Fonte: TOLEDO, Benedito Lima de. Prestes Maia e as origens do urbanismo moderno em São Paulo. São Paulo, Empresa das Artes, 1996. Fig.51 - planta da bacia do rio Tamanduateí de 1893 da Comissão de Saneamento do estado de São Paulo. Ampliação sem escala. Fonte: TOLEDO, Benedito Lima de. Prestes Maia e as origens do urbanismo moderno em São Paulo. São Paulo, Empresa das Artes, 1996. Fig.52 - planta da Cidade de São Paulo segundo E. Reclus de 1894 referente à ocupação urbana na década de 1890 - 1900, ampliação sem escala (idem original). O bairro da Moóca aparece parcialmente formado na sua porção central, sendo que as áreas próximas ao Parque Dom Pedro II numa extremidade e na outra da ferrovia não apresentam ainda parcelamento. Fonte: TOLEDO, Benedito Lima de. Prestes Maia e as origens do urbanismo moderno em São Paulo. São Paulo, Empresa das Artes, 1996. Fig.53 - planta geral da capital de São Paulo, de Gomes Cardim, 1897. O rio Tamanduateí ainda não se encontra retificado conforme o projeto de 1893 e o bairro da Moóca já aparece parcialmente formado. Fonte: KLIASS, Rosa Grena. Parques Urbanos de São Paulo. São Paulo, Pini, 1993. Fig. 54 - projeto do primitivo Metrô de São Paulo elaborado em fins do século passado, executado pelo Dr. Phelippe Gonçalvez baseado em estudos anteriores dos engenheiros Vitor de Lima e Paulo Alfredo Polto. Fonte: SESSO JR., Geraldo. Retalhos da Velha São Paulo. 4ª ed. São Paulo, Maltese, 1985. Publicado originalmente na Revista do “Centro de Ciências, Letras e Artes” de Campinas, e por José de Campos Novaes no “Metropolitana Paulista”, pela Tipografia a Vapor “Livro Azul”, em 1905. Fig.55 - planta parcial reduzida, sem escala ( escala original 1:5000 ), do Plano de Avenidas da Cidade de São Paulo. O bairro da Moóca aparece com o traçado das ruas já quase que completo, 1930. Fonte: MAIA, Prestes. Estudo de um plano de Avenidas da Cidade de São Paulo. Prefeitura de São Paulo - Comissão do Tietê São Paulo, 1930, Cia Melhoramentos de São Paulo. Legenda: rosa - principais radiais, amarelo perimetrais, preto - alinhamentos mantidos, vermelho - alinhamentos novos ou modificados. Fig.56 - mapa topográfico do município de São Paulo, executado pela empresa Sara Brasil S/A pelo método Nistri de 230 aerofotogrametria. Publicado pela Prefeitura Municipal de São Paulo, redução sem escala ( escala original 1:5.000 ). O bairro da Moóca aparece consolidado no arruamento com poucas várzeas nas quadras mais próximas à avenida do Estado. Nesse momento ainda não havia sido construída a avenida Alcântara Machado que transformou o acesso do bairro da Moóca com o Brás. Fonte: Mapoteca da SEMPLA. Fig.57 - levantamento Aerofotogramétrico executado por VASP Aerofotogrametria S.A. e Serviços Aerofotogramétricos Cruzeiro do Sul S.A. Vôo de 1954, redução sem escala ( escala original 1:2.000 ). Levantamento cadastral onde se identifica o traçado das linhas de bonde que circulam pela região e a ocupação das quadras encontra - se praticamente concluída. Aparece ao lado da avenida do Estado a implantação do conjunto residencial do antigo IAPI, construído na década de 40, várzea do Carmo. Nessa planta já aparece concluído o primeiro trecho da avenida Alcântara Machado, entre o Parque Dom Pedro II e a rua Piratininga. Fonte: Mapoteca da SEMPLA. Fig.58 - mapa da mancha de ocupação da área edificada da cidade de São Paulo e arredores da Região Metropolitana na década de 60, com a localização aproximada do bairro da Moóca. Fonte: LANGENBUCH, Jurgen Richard. Estruturação da grande São Paulo; estudo de geografia urbana. Rio de Janeiro, IBGE, 1971. Fig.59 - mapa da área central do IGCSP - Instituto Geográfico e Cartográfico do Estado de São Paulo de 1971, com indicação dos edifícios de grande porte. No canto direito inferior destacamos a área de estudo do bairro da Moóca, vizinho a este aparece o conjunto residencial do antigo IAPI Várzea do Carmo e ainda algumas pontes sobre o Tamanduateí, sem o atual c. Fonte: TOLEDO, Benedito Lima de. Prestes Maia e as origens do urbanismo moderno em São Paulo. São Paulo, Empresa das Artes, 1996. Fig.60 - panorama da cidade de São Paulo da década de 60. A cidade apresenta já o seu perfil de uma grande metrópole. Fonte: ACRÓPOLE, n.º 295, ano XXV, São Paulo, Max Gruenwald & Cia., jun. de 1963. Panorama da cidade de São Paulo , em vista aérea oblíqua tomada de aproximadamente ENE para WSW. Nos primeiros planos, os bairros industriais da margem esquerda do rio Tietê ( zona alagadiça, da cidade ( Belenzinho, Parí, Canindé, Ponte Pequena ). Em segundo plano ao centro, ao longo do vale do Tamanduateí , um segundo eixo industrial, de idade mais antiga, o qual segue muito de perto o eixo das ferrovias que entram na cidade ( Parí, Oriente, Brás ). Ao centro da foto, a área de concentração máxima das edificações elevadas, as quais extravasaram das colinas centrais originais da cidade. Da outra banda, no último plano, estendem - se os bairros residenciais do vale do rio Pinheiros ( Jardim Europa, Jardim América, Jardim Paulista, Ibirapuera ), os quais são contínuos na margem direita ( baixa) e descontínuos na margem do além - Pinheiros ( Cidade Jardim, Morumbi, Cidade Universitária ). Foto: E.N.F.A. Fig.61 - mapa da mancha de ocupação da área edificada da cidade de São Paulo e arredores da Região Metropolitana na década de 60, com a localização aproximada do bairro da Moóca. Fonte: LANGENBUCH, Jurgen Richard. Estruturação da grande São Paulo; estudo de geografia urbana. Rio de Janeiro, IBGE, 1971. Fig.62 rua da Mooca, antigo “Caminho da Mooca”, sentido centro. Foto da autora de 1998. Fig.63 - projeto de parque, edifícios públicos e arruamento da Várzea do Carmo. Parte do projeto de Bouvard para o Parque Dom Pedro II de 1911, onde aparece o traçado do “aterro da Moóca” e a “rua da Moóca” no local onde se situou a ponte sobre o rio Tamanduateí que ligava a rua Tabatinguera ao “Caminho da Moóca”, futura rua da Moóca. Fonte: EDIçõES MELHORAMENTOS. São Paulo antigo, São Paulo moderno; álbum comparativo. São Paulo, 1953. Fig.64 - Vista da Colina Histórica com aproximação de viajantes, publicação sem referência de autor. Fonte: ACRÓPOLE, n.º 295, ano XXV, São Paulo, Max Gruenwald & Cia., jun. de 1963. Fig.65 - passarela metálica linha férrea com a rua da Moóca, detalhe do pilar de sustentação. Fotos da autora de 1995. Fig.66 - vista a partir do viaduto em direção à região sudeste no eixo da ferrovia. A edificação mais próxima na foto pertence ao DER, sendo que à direita avista-se a fábrica da Antártica e ao fundo no primeiro plano encontra-se a estação da Moóca. Foto da autora de 1998. 231 Fig.67 - linha férrea vista da passarela sentido Moóca - Brás, à direita prédio da Alpargatas, à esquerda galpões esquia com a rua da Moóca, centro - viaduto da Radial Leste. Foto da autora de 1995. Capítulo III Capa - foto aérea, vôo de 1994 da Eletropaulo, escala original 1: 25.000, com ampliação sem escala, onde se destacamse, antiga área industrial hoje ocupada por templo religioso, o conjunto residencial do antigo IAP Várzea do Carmo, a Baixada do Glicério, a avenida do Estado, a ferrovia e a avenida Radial Leste e linha do Metrô Leste - Oeste. Fonte: Biblioteca da Secretaria do Verde e Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de São Paulo. Fig.01 - foto aérea, vôo de 1994 da Eletropaulo, escala original 1: 25.000, vista parcial da área central com as manchas de predominância de ocupação horizontal do bairro da Moóca e os principais eixos viários e de transporte de massa. Fonte: Biblioteca da Secretaria do Verde e Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de São Paulo. Fig.02 - início da avenida Radial Leste com rua da Figueira, um dos limites da área, visto do viaduto do Glicério. Foto da autora de 1998. Fig.03 Distribuição da concentração de escritórios em São Paulo. Fonte: Boletim da Bolsa de Imóveis, 1999. Fig.04. Tipologia de ocupação, setores. Desenho da autora de 1999. Fig.05, fig.06 Tipologia de ocupação na rua da Mooca, poucos edifícios verticais. Fotos da autora de 2000. Fig.07 - rua da Moóca entre a rua Piratininga e a rua Dona Ana Nery, uso predominante de serviços e comércio de peças. Foto da autora de 1998. Fig.08 rua da Mooca sentido centro, aparece um dos poucos edifícios residenciais verticalizados da área. Foto da autora de 1998. Fig.09 edifício residencial na rua João Alfredo. Foto da autora ano 2000. Fig.10 esquina da rua Dom Bosco com rua Barão de Jaguara, imóvel preservado com uso comercial. Foto da autora de 2000. Fig.11e fig.12 - uma visão mais próxima a partir do viaduto Glicério, mostra um trecho da avenida do Estado entre a rua Luís Gama e os viadutos que se encontram nos limites do Parque Dom Pedro II, onde é possível visualizar-se a horizontalidade da área entre os limites escolhidos. Foto da autora de 1998. Fig.13 - vista da Moóca a partir do viaduto do Glicério, onde observa - se que o bairro manteve a característica de horizontalidade desde o início de sua formação até os dias atuais. No canto esquerdo da foto um dos poucos conjuntos de edifícios verticalizados. Foto da autora de 1995. Fig.14 - sobre o viaduto Glicério olha-se o início da rua Coronel Bento Pires, quase esquina da rua da Figueira. Por este ângulo, confirma-se a horizontalidade do bairro com poucos edifícios altos. Aparece o hospital municipal, e ao longe à direita o edifício Itaú no limite da avenida do Estado. Foto da autora de 1998. Fig.15 Gabaritos predominantes nas edificações da área. Elaboração da autora em 2000. Fig.16 avenida presidente Wilson, topografia permite a proposição de ciclovias. Foto da autora de 2000. Fig.17 imóveis de uso comercial na avenida Radial Leste. Foto da autora de 2000. Fig.18, fig. 19 - sobre o viaduto da rua da Moóca olhando-se para o centro da cidade percebe-se que o bairro ainda é pouco verticalizado e o conjunto de edifícios que se vê no horizonte formam uma massa compacta desde os limites do bairro do Brás, passando pelo prédio do Banespa na avenida São João até a Catedral da Sé e início da Liberdade. ( fazendo 232 a linha da base da colina central ). À esquerda do viaduto da Moóca observa-se o início da avenida Presidente Wilson, a continuidade das instalações da Cia Antárctica, a horizontalidade é uma constante na paisagem, vendo - se ao fundo os edifícios do centro em direção à Liberdade e avenida Brigadeiro Luís Antônio, à esquerda destaca-se o prédio do Itaú na avenida do Estado. Ao longe observa-se a encosta em direção ao bairro do Cambuci e da Aclimação, já bastante verticalizados. No primeiro plano vê-se o pátio da fábrica da Antárctica. Foto da autora de 1998. Fig.20 levantamento de uso do solo do bairro da Mooca. Elaboração da autora em 1999. Fig.21 antiga fábrica da Johnson & Johnson na rua Odorico Mendes, hoje ocupada pelo centro do Itaú. Foto da autora de 1998. Fig.22 imóvel de escritórios para alugar na rua João Alfredo esquina da avenida do Estado. Foto da autora de 2000. Fig.23 - esquina da rua Patrimônio de Mônaco paralela à ferrovia, com a rua da Moóca, onde hoje se encontra o viaduto sobre a ferrovia que faz a ligação da rua da Moóca. Esta rua dá acesso à estação Brás da ferrovia. Foto da autora de 1995. Fig.24 Desenho da planta original do colégio Firmino de Proença na rua da Mooca. Fonte revista Acrópole de 1946. Fig.25 Colégio Firmino de Proença na época de sua construção. Fonte revista Acrópole de 1946. Fig.26 foto atual do colégio Firmino de Proença. Foto da autora de 2000. Fig.27 Centro de Juventude localizado na rua João Alfredo, um dos poucos equipamentos sociais da área. Foto da autora de 2000. Fig. 28 Hospital professor Zeferino Vaz localizado na rua da Figueira, em frente aos viadutos de acesso à Radial Leste. Foto da autora de 2000. Fig.29 Creche municipal na rua Ana Nery. Foto da autora de 2000. Fig.30 Planta de uso do solo, destacando o uso habitacional, cortiços e imóveis fechados, indica áreas potenciais de projeto. Elaboração Wanderley Ariza em 2002. Fig.31 Uso de habitação predominante na área. Elaboração Wanderley Ariza em 2002. Fig.32 - conjunto residencial da Moóca IAPI, arquiteto Paulo Antunes Ribeiro da década de 40, foto extraída da Revista Industriárias. Fonte: REIS FILHO, Nestor Goulart. Habitação Popular no Brasil: 1880 - 1920. Cadernos de Pesquisa do LAP - Laboratórios de estudos sobre urbanização, Arquitetura e Preservação. São Paulo, Universidade de São Paulo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, set-out/94. Fig.33 - rua Odorico Mendes com casas unifamiliares encortiçadas, tipologia de lotes sem recuos, apenas com quintal nos fundos e edificações geminadas dos dois lados. Foto da autora de 1998. Fig.34 rua Odorico Mendes, sobrados. Foto da autora de 2000. Fig.35 - “ casas econômicas “ de 1929 do arquiteto Gregori Warchavchik situadas na rua Barão de Jaguara esquina com rua Odorico Mendes. Foto da autora de 1995. Fig.36 e fig. 39 rua Odorico Mendes, cortiços. Foto da autora de 2000. Fig.37 conjunto residencial na rua da Mooca esquina rua Luiz Gama, um dos poucos edifícios com área livre. Foto da autora de 2000. Fig.38 edifício de interesse arquitetônico na esquina da rua Wandenkolk, uso comercial. Foto de Tereza Herling de 2000. Fig. 40, fig.41, fig.42, fig.47, fig.48, fig.49, fig.52, fig.53, fig.54 e fig.55 Exemplos de vilas existentes na área de estudo. Fotos da autora de 2000. Fig.43, fig.44, fig.45 e fig.46 Tipologias de vilas segundo concito de relatório da EMURB. Croquis da autora de 2002. Fig.50 Planta de ocupação do bairro com destaque para as vilas com uso habitacional ainda. Elaboração Wanderley Ariza em 2002. Fig.56. - garotos jogam futebol em rua do Brás, atividade comum nos bairros operários pela ausência de áreas de lazer. 233 Fonte: Wilheim, Jorge. São Paulo: seus pontos de encontro. In: Revista Acrópole n.º 295, ano XXV, jun. de 1963.Foto do Arquivo do Dep. de Cultura. Fig. 57 - nos bairros operários, como a Moóca, o Brás, os italianos criaram na rua o seu espaço de convivência e de lazer. Fonte: Wilheim, Jorge. São Paulo: seus pontos de encontro. In: Revista Acrópole n.º 295, ano XXV, jun. de 1963. pg. 223. Foto do Arquivo do Dep. de Cultura. Fig. 58 - casas em série com dois pavimentos, com o terraço que se torna o terceiro pavimento situadas na rua Barão de Jaguara entre a rua Odorico Mendes e avenida do Estado. Ao fundo observa-se edifício religioso e outros, no lado do Cambuci, sem acesso por esta rua devido ao “ canal tamponado “ do Tamanduateí. Foto da autora de 1995. Fig.59 - casas em série situadas na rua Dom Bosco esquina com a rua Oscar Horta, tipologia típica da área mais recente do bairro e mais próxima ao rio Tamanduateí. Foto da autora de 1995. Fig.60 - rua Odorico Mendes no trecho entre a rua Barão de Jaguara e a rua da Figueira no limite da área. Essa rua é paralela à avenida do Estado e encontra-se no trecho mais baixo da várzea do Tamanduateí, tendo sofrido inúmeras enchentes na época das chuvas. O tipo de ocupação permanece o mesmo de 30 anos atrás quanto à tipologia das edificações com casas unifamiliares que se tornaram cortiços, vilas residenciais, e pequenos edifícios com térreo mais dois pavimentos com arquitetura de traços italianos. A rua abriga ainda uma série de serviços, oficina mecânica, depósitos, comércio local, etc. Apresentando grande potencial de renovação. Seguindo essa via, se chega rapidamente ao Parque Dom Pedro II a pé. Foto da autora de 1998. Fig.61 casas em série situadas na rua Andrade Reis com rua Oscar Horta. Essas casas foram construídas como residências unifamiliares, encontrando-se hoje na sua maioria encortiçadas. Foto da autora de 1995. casa em série na rua João Alfredo, conjunto que já aparece na planta do bairro de 1930. Foto da autora de 2000. Fig.62 e fig.65 casas m série na rua Andrade Reis. Foto da autora de 1998. Fig.63 casas em série na rua Ana Nery em frente ao complexo do Itaú. Foto da autora de 2000. Fig.64 - casas em série situadas na rua Odorico Mendes com rua Oscar Horta, em direção à rua Ana Nery. Essas casas foram construídas como residências unifamiliares, encontrando-se hoje na sua maioria encortiçadas. Foto da autora de 1995. Fig.66 - esquina da rua Coronel Bento Pires com rua Wandenkolk, edifício de interesse arquitetônico assobradado (sobrado com serviço embaixo) um pouco degradado pelo uso de oficina mecânica e cortiço. Foto da autora de 1998. Fig.67 - rua da Moóca com rua Mem de Sá, edificação de interesse arquitetônico onde funciona uma alfaiataria. Alguns trechos dessa rua são arborizados e após a rua da Moóca, a rua passa a chamar-se rua Coronel Cintra. Como a maior parte das ruas não possui edifícios altos com mais de três pavimentos. No lado direito de quem se dirige para a avenida do Estado, encontra-se um conjunto de três vilas ( Suzana, Hilda e Regina ). Atrás delas situa-se a antiga Vila Alvarenga. Foto da autora de 1998. Fig.68 - rua da Moóca esquina com a Rua Barão de Jaguara, observa-se que apesar desse cruzamento ser um dos mais movimentado da área e localizar - se muito próximo ao centro, a tipologia de ocupação predominante é de edifícios térreos ou de poucos pavimentos. Fonte: Foto da autora de 1995. Fig.69 - cortiço na Moóca, final do século passado, foto extraída da FSP. Fonte: REIS FILHO, Nestor Goulart. Habitação Popular no Brasil: 1880 - 1920. Cadernos de Pesquisa do LAP - Laboratórios de estudos sobre urbanização, Arquitetura e Preservação. São Paulo, Universidade de São Paulo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, set-out/94. Fig.70 cortiços na rua da Mooca esquina da rua Barão de Jaguara, em edifícios de interesse arquitetônico. Foto da autora de 2000 Fig.71 e fig.73 rua Odorico Mendes, edifícios de três pavimentos sobre uso de serviços, antigamente funcionava a fábrica 234 Duráveis de equipamentos de segurança no térreo. Foto da autora de 2000. Fig.72 eixo da rua Barão de Jaguara, do lado esquerdo está o conjunto de casas populares de tipologia geminada, de tijolo aparente, originalmente com dois pavimentos e atualmente lá modificadas com o terceiro piso, no entanto é possível identificar-se traços da tipologia original. No quarteirão seguinte encontram-se as casas de Gregori Warchavchik. Ao fundo observa-se edifício de vários pavimento que se encontra, já do lado do Brás, após a avenida Alcântara Machado. Essa via liga avenida do Estado com a rua da Moóca e a Radial Leste, cortando o bairro no sentido transversal. Anteriormente à construção do canal tamponado do rio, era uma via importante de ligação com o bairro do Cambuci e da Aclimação. Foto da autora de 1998. Fig.74 rua Odorico Mendes, sobrados de interesse arquitetônico. Foto da autora de 2002. Fig.75 - conjunto residencial na rua da Mooca esquina rua Luiz Gama, um dos poucos edifícios com área livre. Foto da autora de 2000. Fig.76 rua Odorico Mendes com rua Barão de Jaguara, esquina do projeto de Warchavchik. Foto da autora de 2002. Fig.77 - detalhe da esquina do conjunto de Gregori Warchavchik, cuja edificação está perfeitamente integrada no conjunto arquitetônico das residenciais, e projetada com a finalidade específica de uso para comércio local, funcionando como tal. À direita na foto observa-se a rua Dom Bosco com a igreja do mesmo nome e o colégio dos padres. Foto da autora de 1998. Fig.78 - casas econômicas em série na rua Barão de Jaguara construídas em 1929, foto da época e planta do conjunto arquitetônico do projeto de Gregori Warchavchik. Fonte: Warchavchik, e as origens da arquitetura moderna no Brasil. Publicação do Museu de Arte de São Paulo, “ Assis Chateaubriand “, 1971. Fig.79 idem, desenho do projeto. Fonte: Warchavchik, e as origens da arquitetura moderna no Brasil. Publicação do Museu de Arte de São Paulo, “ Assis Chateaubriand “, 1971 Fig.80, fig.81 e fig. 82 - rua Barão de Jaguara com vista do conjunto projetado por Gregori Warchavchik., que se encontra conservado com suas características originais com poucas alterações somente em portas e janelas de pouquíssimas unidades. Esse conjunto merece a indicação para tombamento, caso ainda não tenha essa proteção, pelo seu caráter inovador para a época, pela representatividade do exemplo da arquitetura dos anos 20. Foi construído originalmente como casas de aluguel para classe média. Foto da autora de 1998. Fig.83 - mosteiro de São Bento visto a partir do rio Tamanduateí que ainda fazia parte da paisagem da cidade. Fonte: AZEVEDO, Militão Augusto de. Álbum comparativo da cidade de São Paulo, 1862-1887. São Paulo, Secretaria Municipal de Cultura / DPH, 1981. Fig.84 - ponte sobre o rio Tamanduateí em direção à rua da Moóca. O revestimento das pontes e da avenida do Estado era de paralelepípedo. As pontes eram ofereciam uma travessia mais agradável ao pedestre na ligação com o bairro do Cambuci com a Moóca. Fonte: Publicação da Associação Comercial de São Paulo, Distrital Moóca por ocasião do 114º aniversário do bairro, 1981. Fig.85 - ponte sobre o rio Tamanduateí em 1905, vista da várzea do Glicério. Fonte: MARTIN, Jules e PESTANA, Nestor R. São Paulo antigo e São Paulo moderno. São Paulo, Vanhorden, 1905. Fig.86 - vista da cidade de São Paulo a partir do centro na direção sudeste. No primeiro plano encontra - se o edifício da Secretaria da Fazenda do Governo do Estado de São Paulo. Em destaque no canto esquerdo, a área de estudo limitada pela Radial Leste à esquerda e pela avenida do Estado à direita. Observa-se a vegetação exuberante do Parque Dom Pedro II e da avenida do Estado. O edifício da Mesbla já aparece na foto e a ocupação da Moóca já está praticamente consolidada na década de 40. Fonte: TOLEDO, Benedito Lima de. Prestes Maia e as origens do urbanismo moderno em São Paulo. São Paulo, Empresa das Artes, 1996. 235 Fig.87 e fig.89 vistas da avenida do Estado a partir da passarela, sentido centro, com a Serra da Cantareira ao fundo e a área da Antárctica do lado direito, com as obras do “Fura-Fila” em andamento. Foto da autora de 2000. Fig.88 - foto tirada na escada da passarela de pedestres sobre a avenida do Estado, onde pode se observar a via sob o canal tamponado do rio, a via lateral e o pátio de uma indústria no limite da área de estudo, e o prédio do Itaú ao fundo e os prédios da área central no limite do horizonte. Pode-se notar o tráfego pesado de caminhões na via principal. Fotos da autora de 1998. Fig.90 imóveis na avenida do Estado em frente à Praça Álvaro Cardoso, observa-se a tipologia horizontal da área. Foto da autora em 2000. Fig.91 esquina da avenida do Estado com a rua Barão de Jaguara, o tampão do rio constitui uma barreira entre a Mooca e o Cambuci. Foto da autora de 2000. Fig.92 - imóveis na avenida do Estado em mau Estado de conservação que podem ser demolidos para aumentar a permeabilidade do solo na borda da avenida do Estado. Foto da autora do ano 1998. Foto da autora de 1998. Fig.93 imóveis na avenida do Estado entre a rua João Alfredo e rua Barão de Jaguara, Observa-se o Centro técnico do Itaú e o recuo maior que permite a mudança no desenho da avenida. O tampão forma barreira de quase três metros de altura. Foto da autora de 2000. Fig.94 avenida do Estado, onde o “canal tamponado” do rio dificulta a ligação com o bairro do Cambuci. Ao fundo, vemos o conjunto residencial da Várzea do Carmo, do antigo IAPI. Foto da arquiteta Teresa Herling. Fig.95 - avenida do Estado, onde o canal tamponado do rio é barreira física entre os bairros da Mooca e do Cambuci, e não é possível a visualização do outro lado da avenida, o que a torna completamente inóspita para o pedestre e sendo apenas uma solução viária de tráfego muito intenso no sentido sudeste - centro, com alto nível de poluição e degradação da região. O problema das enchentes e da poluição do rio Tamanduateí ainda hoje permanece apesar do tampão. Foto da autora de 1998. Fig.96 avenida do Estado sentido Ipiranga próximo à praça de Lion, onde está prevista uma estação do “Fura Fila” e onde começa o tampão do rio. Foto da autora de 2000. Fig.97 avenida do Estado sentido centro, pode se observar a proximidade com o edifício do Banespa na Praça Antônio Prado, mas a acessibilidade é comprometida com o “tampão” do rio. Foto da autora de 2000. Fig.98 avenida do Estado sem a obra do “Fura- Fila”. Foto da autora em 1995. Fig.99 vista da avenida do Estado em direção ao centro onde vemos o edifício do Itaú e o pouco fluxo de pedestres na avenida em função do “canal tamponado” do rio Tamanduateí e do tráfego pesado. Foto da arquiteta Teresa Herling de 1995. Fig.100 eixo da avenida do Estado no sentido centro - bairro, à direita aparece a avenida Independência e áreas industriais do lado esquerdo sem a obra do “Fura Fila” e onde começa o “tampão” do rio. Foto da autora de 1998. Fig.101 avenida do Estado sentido centro, inadequado para os pedestres e ciclistas. Foto da autora de 1998. Fig.102 vista do “canal tamponado” do rio Tamanduateí na avenida do Estado em direção ao Ipiranga. Não se consegue visualizar o outro lado da avenida. Foto da arquiteta Teresa Herling de 1995. Fig.103 - detalhe da abertura do “tampão” do rio. Foto da autora de 1998. Fig.104 - foto tirada na escada da passarela de pedestres sobre a avenida do Estado, onde pode se observar a via sob o canal tamponado do rio, a via lateral e o pátio de uma indústria no limite da área de estudo, e o prédio do Itaú ao fundo, os prédios da área central no limite do horizonte, visão maior da pista centro - bairro, observa - se ao fundo poucos edifícios verticalizados. Foto da autora de 1998. Fig.105 - avenida do Estado esquina com a Praça Álvaro Cardoso de Moura e rua Coronel Cintra.. Praça de pequenas 236 dimensões e única área verde do bairro em mal estado de conservação com lixo acumulado nos gramados. Foto da autora de 1998. Fig.106 novo viaduto de acesso ao Cambuci no início da rua da Mooca. Foto da autora de 2000. Fig.107 - tomada da passarela metálica, hoje desmontada em função do novo viaduto da rua da Moóca construído sobre a ferrovia. Foto da autora de 1995. Fig.108 - imagem confusa da passarela provisória de pedestres que liga o bairro da Moóca com o Cambuci, ao fundo aparece prédio industrial e a rua Serra do Paracaima que liga a avenida Presidente Wilson e a avenida do Estado. O local é ermo e sem atrativos para a travessia. Foto da autora de 1998. Fig.109 viaduto sobre a avenida do Estado na rua da Figueira, obstrui a visibilidade na chegada ao Parque Dom Pedro. Foto da autora de 2000. Fig.110 - outra vista da avenida do Estado onde se tem dificuldade de enxergar o bairro do Cambuci na altura do prédio da Mesbla com sua fachada peculiar, marco de referência da paisagem há mais de quarenta anos. Foto da arquiteta Teresa Herling de 1995. Fig.111 - via lateral ao viaduto Alcântara Machado em direção à ferrovia. Nesta via funcionam vários estabelecimentos de serviços de médio porte, com predominância para serviços ligados à manutenção de automóveis e comércio de peças e móveis de escritórios. Sob o viaduto já localizou-se uma pequena favela, feira livre e mantém-se como uma área de insegurança para os moradores do bairro. Foto da autora de 1998. Fig.112 - rua Piratininga em direção à rua da Moóca. Essa rua é uma das ligações com o Brás pois há uma travessia sob o viaduto Alcântara Machado. À direita encontra-se um antigo edifício de 5 pavimentos mais o térreo comercial, à esquerda um posto de gasolina, e ao fundo tem-se as fachadas da rua da Moóca com imóveis comerciais degradados e muitos vazios sendo ofertados para venda ou aluguel. Esse trecho da rua da Moóca é conhecido pelo comércio de peças em decadência. A rua Piratininga é o acesso principal para quem deseja acessar o bairro vindo do centro da cidade pela rua da Moóca ou pela rua Ana Nery. À esquerda na rua da Moóca encontra-se a igreja de San Genaro, paróquia responsável pela realização junto com a comunidade da festa anual de mesmo nome. Foto da autora de 1998. Fig.113 - esquina da rua Barão de Jaguara com a avenida do Estado. Essa rua se prolonga no bairro do Cambuci mas foi interrompida pelo canal tamponado do rio. No segundo plano vê-se ao lado direito, templo religioso (sinagoga) e do lado esquerdo o edifício da antiga fábrica da Chicletes Adams, hoje ocupado pela empresa Warner Lambert, mantendo as mesmas características externas do prédio. O canal tamponado do rio cria uma barreira entre os dois lados, acabando com uma ligação natural anterior de proximidade entre as atividades de trabalho e moradia entre os dois bairros. Foto da autora de 1998. Fig.114 - avenida Alcântara Machado na esquina da rua Carneiro Leão, avista-se do lado do bairro do Brás, os edifícios da Cohab-SP construídos nas áreas remanescentes do Metrô. Os imóveis com frente para a avenida encontram-se degradados e encortiçados. Foto da autora de 1998. Fig.115 - entroncamento da rua Piratininga com Radial Leste, principal acesso para o bairro. Foto da autora de 2000. Fig.116 - acesso lateral da avenida Alcântara Machado entre as ruas André de Leão e Lúcio Cardim observa-se alguns prédios e antigo galpão industrial, paisagem que predomina em certo trecho da área próximo à ferrovia. Foto da autora de 1998. Fig.117 tráfego pesado na avenida do Estado na altura da área da Antárctica. Foto da autora de 2000. Fig.118 viaduto da Radial Leste esquina da rua Piratininga. Foto da autora de 2000. Fig.119 rua Ana Nery, um dos corredores internos do bairro de ligação da rua da Mooca com avenida do Estado. Foto da autora de 2000. 237 Fig.120 - cruzamento da avenida do Estado com a rua Wandenkolk já próximo à área central em frente à igreja Universal do Reino de Deus. nesse ponto o canal tamponado da avenida do Estado já se encontra no mesmo nível das vias laterais e apresenta tráfego intenso junto ao Parque Dom Pedro II. Foto da autora de 1998. Fig.121 avenida Radial Leste do lado do Brás, difícil acesso para os pedestres. Foto da autora de 1998. Fig.122 Estação da Mooca da ferrovia. Foto da autora de 2000. Fig,.123 - chegada da avenida do Estado no Parque Dom Pedro II. O complexo de viadutos impede a visualização do parque. A placa no semáforo indica o início do bairro da Moóca para quem passa no local e placa da Emurb (Empresa Municipal de Urbanização) indica a realização do projeto da linha do Fura - Fila, atrás da placa é possível ver a ponta do edifício do Banespa localizado na Praça Antônio Prado com avenida São João. Foto da autora de 1998. Fig.124 rua Luiz Gama chegada na avenida do Estado, próximo ao Parque Dom Pedro. Foto da autora de 2000. Fig.125 - vista do viaduto da Moóca em direção ao norte, no primeiro plano tem-se a rua Patrimônio Mônaco paralela à ferrovia, que continua sob o viaduto Alcântara Machado, neste trecho predomina ainda a existência de grandes galpões industriais e o sistema viário encontra-se de certa forma ocioso, tendo em vista que poucos imóveis possuem aberturas para essa rua. No entanto esta via se constitui num importante acesso ao Brás, à estação do Brás, e à rua Visconde de Parnaíba. No lado direito da foto nota-se o edifício da antiga fábrica da Alpargatas que está se transformando num estabelecimento de educação de ensino superior. Após o viaduto Alcântara Machado, do lado direito da via férrea encontra-se o Museu da Imigração, que funciona na antiga Hospedaria dos Imigrantes. À esquerda nota-se os conjuntos residenciais da Cohab - SP construídos nas áreas remanescentes do Metrô Leste - Oeste, que continuam após a ferrovia no sentido leste. Foto da autora de 1998. Capítulo IV Capa - casa da rua da Mooca esquina com rua Barão de Jaguara, imóvel de interesse arquitetônico. Foto da autora de 2002. Fig.01 imóvel desocupado na rua da Mooca, há inúmeros nessa situação no bairro. Foto da autora de 2000. Fig.02 e fig.25 rua Odorico Mendes, a topografia plana em função da localização na várzea permite a criação de ciclovias. Foto da autora de 2000. Fig.03 e fig.04 imóveis de uso misto, habitação e serviços predominantes no bairro. Fotos da autora de 2000. Fig.05 várzea do rio Tamanduateí comprometida com as obras viárias da avenida do Estado. Foto da autora de 1998. Fig.06 - imóvel da Antárctica na rua João Alfredo. Foto da autora de 2000. Fig. 07, fig.08 e fig10 imóveis na rua Ana Nery, predomina o uso misto comercial e residencial. Fotos da autora em 2000. Fig.09 indústria localizada na rua da Mooca em pleno funcionamento. Foto da autora de 2000. Fig.11 rua Dom Bosco, predomina a tipologia horizontal de ocupação. Foto da autora de 2000. Fig.12 indústria na rua Barão de Jaguara esquina com avenida do Estado. Foto da autora de 2000. Fig.13 rua Oscar Horta entre rua Odorico Mendes e avenida do Estado. Área possível de ser renovada. Foto de Tereza Herling de 2000. Fig.14 mapa da localização da Mooca e o “coração da cidade”. Elaborado pela autora. Fig.15 - esquema de identificação do problema. Elaborado pela autora em 2000. Fig.16, fig.17, fig.18 e fig.19 vistas do “tampão” do rio Tamanduateí. Fotos da autora de 2000. Fig.20 esquema das estratégias. Elaborado pela autora em 2000. Fig.21 e fig.22 tráfego na avenida do Estado. Fotos da autora de 2000. 238 Fig.23 - “casas econômicas” de 1929 do arquiteto Gregori Warchavchik situadas na rua Barão de Jaguara esquina com rua Odorico Mendes, elementos de permanência na paisagem do bairro. Foto da autora de 1995 fig.24 tomada da passarela metálica, com a função reduzida devido ao novo viaduto da rua da Moóca construído sobre a ferrovia, elementos de permanência na paisagem do bairro Foto da autora de 1995. Capítulo V Capa - imóvel de interesse arquitetônico na rua Odorico Mendes. Foto da autora de 2000. Fig.01 Parque Dom Pedro, vizinho á área de estudo. Foto da autora de 2000. Fig.02 e fig.11 - imóveis de interesse arquitetônico ao lado do viaduto da Mooca. Foto da autora de 1998. Fig.03 Palácio das Indústrias, sede do Governo Municipal. Foto da autora de 1998. Fig.04 - mapeamento das manchas e dos bens tombados isolados da área central próximos ao bairro da Mooca, sem escala. Fonte: EMPLASA, SNM, SEMPLA. Bens Culturais Arquitetônicos no Município de São Paulo e na Região Metropolitana de São Paulo. São Paulo, EMPLASA, SNM, SEMPLA, 1984. Fig.05, fig06, fig.07, fig.08 e fig.09 detalhes construtivos típicos dos mestres de obra italianos. Fotos da autora de 2000. Fig.10 edifício industrial na rua Borges de Figueiredo, no limite da área de estudo. Foto da autora de 1995. Fig.12 edifício da gravadora Continental, permanente na paisagem desde a década de 40. Foto da autora de 2000. Fig.13 - famílias abandonando a cidade de São Paulo na revolução de 1924. Fonte: SESSO JR., Geraldo. Retalhos da Velha São Paulo. 4ª ed. São Paulo, Maltese, 1985. Fig.14 - fachada de edifício, localizado na rua dos Trilhos, perfurada de balas durante a revolução de 1924. Fonte: SESSO JR., Geraldo. Retalhos da Velha São Paulo. 4ª ed. São Paulo, Maltese, 1985. Fig.15 - antiga Hospedaria dos Imigrantes, onde hoje funciona o Museu da Imigração. Foto da autora de 1996. Fig.16 imóvel de interesse arquitetônico na rua Luiz Gama. Foto da autora de 2000. Fig.17 - edifício comercial de interesse arquitetônico, com fachada trabalhada segundo os padrões da arquitetura italiana no bairro na rua Luís Gama. Foto da autora de 1998. Fig.18 - imóvel de interesse arquitetônico na rua Barão de Jaguara. Foto da autora de 2000. Fig.19 - rua da Moóca esquina com a rua Barão de Jaguara, sentido bairro - centro - casarão conservado na esquina sendo que edifício industrial hoje funciona como depósito para aluguel. Foto da autora de 1998. Fig.20 - antiga Hospedaria dos Imigrantes, onde hoje funciona o Museu da Imigração. Foto da autora de 1996. Fig.21 e fig.22 - imóvel de interesse arquitetônico na rua da Mooca. Fotos de Tereza Herling de 2000. Fig.23 - imóvel de interesse arquitetônico na rua Odorico Mendes. Foto da autora de 2000. Fig.24 - imóvel de interesse arquitetônico na rua Dom Bosco. Foto da autora de 2000. Fig.25 edifício de interesse arquitetônico onde funciona um orfanato na rua Wandenkolk. Foto da autora de 2000. Fig.26 - edifícios de interesse arquitetônico na rua Ana Nery. Foto da autora de 2000. Fig.27 - edifício de interesse arquitetônico na rua Dom Bosco esquina com rua Ana Nery. Foto da autora de 2000. Fig.28 - Parque Xangai, antigo parque de diversões do Parque Dom Pedro II, muito freqüentado pelos moradores da Moóca até a década de 60. Fonte: WILHEIM, Jorge. São Paulo: seus pontos de encontro. Revista Acrópole n.º 295, ano XXV, São Paulo, Max Gruenwald & Cia. Fig.29 - Parque da Independência muito utilizado como área de lazer pelos moradores da Moóca, até a década de 60, 239 quando era possível chegar à pé pela avenida do Estado e a avenida Dom Pedro. Fonte: WILHEIM, Jorge. São Paulo: seus pontos de encontro. Revista Acrópole n.º 295, ano XXV, São Paulo, Max Gruenwald & Cia. Fig.30 Igreja de San Gennaro na rua da Mooca. Foto da autora de 2000. Fig.31 rua de San Gennaro esquina com rua Ana Nery, onde se realiza a festa de San Gennaro todos os anos no mês de setembro. Foto da autora de 2000. 240 Créditos de elaboração da edição da tese. Editoração eletrônica : Diretório Arquitetura e Computação Gráfica S/C Ltda. Elaboração das imagens em mídia eletrônica: Wanderley Ariza Diagramação: Caroline Barone, Katia Sano. Supervisão: Frederica Fernandes , Katia Sano Revisão: Caroline Barone e Rosana Helena Miranda Capa: Wanderley Ariza 241