Rosana Helena Miranda
“Mooca : lugar de fazer casa”
São Paulo, 2002
Rosana Helena Miranda
“Mooca : lugar de fazer casa”
Tese de Doutorado apresentada à FAU-USP
Orientador: Professor Doutor Siegbert Zanetini
São Paulo, 2002
“4h15 ou 10p/3”
(Chico César - disco Mama Mundi )
“se ainda fosse madrugada
4h15 ou 10 para 3
e ela viesse na calçada
oh! minha amada yeah! Hei!
se ela viesse cintilante
feito uma bola em contraluz
e me enxergasse nesse instante
negava o antes que eu fui
por ela eu daria meus patins
por ela meu blusão de flanela
por ela atravessava os jardins
por ela acendia uma vela
se ainda fosse bem menino
com sua crina de néon
como um espelho cristalino
adrenalina neston
e se já fosse uma senhora
àquela hora, fome gris
e me beijasse sem demora
morria agora feliz
por ela amamentava os querubins
por ela meu cinto de fivela
por ela esquecia as horas ruins
por ela eu cantava à capela”
Para São Paulo,
Marcelo, Rita e Luiz Roque
Índice
Introdução
Capítulo I: A opção pelas áreas históricas
pg.02
pg.12
1. A escolha do objeto de estudo
pg.13
2. Morar em áreas históricas
pg.16
3. Possibilidades de redesenhar o espaço de morar e preservar a memória pg.18
Capítulo II: O lugar da Moóca na história da ocupação da cidade de São
Paulo
1. Aspectos da história da formação da cidade de São Paulo
2. O bairro da Mooca na cartografia de São Paulo
3. O processo de ocupação da cidade e a definição do desenho do
bairro da Mooca.
4. A imigração italiana, a greve de 1917, parte da cultura da Mooca.
Capítulo III: A paisagem e o contexto urbano atual da Mooca
1. Localização e limites
2. A horizontalidade da paisagem edificada
3. Morar na Mooca, a vizinhança e a rua
4. Gregori Warchavchik
5. O rio Tamanduateí e a Mooca
6. Acessibilidade
Capítulo IV: “Revitalização do bairro da Mooca”
1. Diretrizes para o projeto de revitalização da Mooca
2. Instrumentos urbanísticos
3. A ocupação da várzea, novos usos, espaços e significados
4. Morar e trabalhar na Mooca
5.Gestão para um programa de revitalização do bairro da Mooca9
pg.42
pg.43
pg.61
pg.86
pg.92
pg.101
pg.102
pg.103
pg.114
pg.132
pg.136
pg.144
pg.155
pg.156
pg.157
pg.158
pg.162
pg.165
Capítulo V: O Significado do lugar
1. O interesse pela memória e a escala do projeto urbano: do bairro à
cidade
2. A ocupação da várzea, moradia e trabalho da classe operária.
3. O sentimento de ser da Mooca
pg.189
pg.190
pg.202
pg.204
Conclusão
pg.215
Referências Bibliográficas
pg.216
Obras Consultadas
pg.219
Referências das figuras
pg.227
Créditos
pg.241
Agradecimentos
Em primeiro lugar, agradeço ao meu orientador arquiteto Siegbert Zanettini, que pude conhecer melhor durante o processo
de luta de resistência contra o projeto da avenida Faria Lima, e, que conciliou sua vida profissional com a orientação desse
trabalho durante oito anos, incluindo a fase de mestrado, com contribuições decisivas para o amadurecimento das idéias e
compartilhando o carinho por nossa cidade.
Ao professor José Cláudio Gomes, com quem tive um contato mais direto, que teve uma influência decisiva na minha
formação como pessoa e urbanista, faço um agradecimento especial, pelos ensinamentos sobre as possibilidades e os limites
da atuação do arquiteto.
Agradeço também aos professores da pós-graduação Sílvio Sawaia, Marlene Yurgel e Maria Ruth Sampaio do
Amaral, pela contribuição que deram nos exames de qualificação. E a professora Maria Lúcia Barroco da Puc-SP,
amiga e companheira com quem pude vivenciar a experiência do trabalho interdiscisplinar. Foi de grande valia a orientação
de parte do trabalho realizada pelo professor Raul Di Lullo do IHS, Institute For Housing e Development Studies de
Rotterdam durante o curso Inner City Renewal. Ao Governo Holandês pela bolsa de estudos fornecida, e à Prefeitura do
Município de São Paulo por facilitar minha permanência na Holanda durante o curso, um agradecimento especial.
Inúmeros são os amigos que compartilharam os momentos de elaboração desse trabalho, e eu costumo dizer que os
projetos desse tipo não são individuais, e sim coletivos. Acho que a convivência no setor público nos faz aprender a trabalhar
em equipe e, agradeço a todos os colegas de todos os lugares que trabalhei, principalmente na Prefeitura do Município de
São Paulo, que ajudaram a formar opiniões sobre os problemas e possíveis soluções para a cidade e o respeito pelo espaço
público.
Na primeira fase do trabalho não posso esquecer da minha irmã Virgínia Miranda, que me ajudou a dominar a
linguagem dos computadores e tão pacientemente agüentou as tensões de finalização do trabalho. Agradeço aos sobrinhos
que ajudaram nas tarefas de digitalização e separação das imagens durante as férias escolares: Domitila, Bia, Dario, Ion
e Vicente, e ao Ivan no apoio nas traduções de inglês. À Norma Cardia que acolheu meus filhos nas férias para que eu
pudesse manter a concentração no estudo.
Aos amigos que se envolveram diretamente na produção final da tese um agradecimento e carinho especial pela
solidariedade que me emprestaram. Tereza Herling que leu atentamente o trabalho nos períodos de qualificação e ajudou
a por ordem na casa, além de colaborar nos levantamentos de campo. José Rollemberg que ajudou a elucidar alguns temas
sobre os bairros mais antigos. Wanderley Ariza que não poupou esforços na discussão do projeto e elaboração das imagens
que pudessem valorizar as idéias tão discutidas, com quem tenho aprendido a projetar o edifício público, nesses últimos
dois anos de convivência em EDIF.
Não poderia esquecer da preciosa colaboração do geógrafo José de Oliveira nos levantamentos de campo, conversa com
moradoes e registros fotográficos.
Katia Sano e Frederica que dispuseram sua equipe e habilidades para a produção gráfica desse trabalho.
À Carol, em especial, que teve a maior paciência com os vai e vem de opiniões.
À Cláudia Miranda, minha irmã, agradeço pelas discussões sobre as intervenções no campo das obras de infraestrutura urbana.
E, finalmente, Denise Delfim, jornalista, amiga e vizinha, que fez a revisão do texto com muita presteza, em meio
a atividades da luta por uma cidade mais humanizada.
Agradeço também aos amigos e companheiros da luta comunitária pela preservação dos valores culturais da Vila
Mariana, cuja participação nesse movimento alimentou as últimas reflexões sobre a cidade, aos amigos Paulo, Pedro, Bia,
Elza e Penha, cuja convivência propiciou um crescimento profissional no campo da arquitetura e urbanismo, e a Mirela
Geiger, companheira como irmã, de todas as horas nos últimos trinta anos.
Tenho sempre como referência o arquiteto e amigo Claudio Manetti, companheiro de vários trabalhos, que me estimulou
o gosto pelo desenho e pela atividade de projetar.
Não poderia deixar de destacar a importância que teve para este estudo a convivência com a deputada estadual, e
agora amiga, Ana Martins, que me ensinou a conhecer melhor esta cidade e que instigou a busca de alternativas para
os problemas do povo que vive em condições precárias e junto com os deputados federais Jamil Murad e Aldo Rebelo,
souberam estimular, apoiar e compreender a importância da pesquisa acadêmica para aprofundar o conhecimento e a
reflexão sobre essa realidade.
Agradeço também a antigos e atuais moradores da Mooca que não se furtaram a dar suas impressões em conversas
informais sobre as mudanças na vida do bairro.
Agradeço ao meu pai Roque e minha mãe Biga por me ensinarem o que é justiça e solidariedade.
Em especial fica o meu agradecimento à minha família. Ao Marcelo, companheiro de todas as horas, quem primeiro
incentivou que retornasse à Universidade, na pós-graduação, e, segurou a casa nos últimos anos, atendendo às necessidades
imediatas dos nossos filhos e ainda prestando a solidariedade nas tarefas mais enfadonhas, mas necessárias para a
realização do trabalho.
À Rita e ao Luiz Roque, meus filhos que conviveram anos com a bagunça na rotina de casa, provocada por um
estudo dessa natureza, com grande ausência na convivência familiar tão estimada, com todos os espaços invadidos pelos
livros e materiais usados, agradeço pela paciência e pelo orgulho que eles tão carinhosamente demonstram pelas atividades
de sua mãe.
Resumo
Esta tese é uma proposta de revitalização do bairro da Mooca no seu local de origem. Enfatiza assim a
importância do bairro como moradia da classe operária na primeira fase de industrialização de São Paulo e destaca
a necessidade de se introduzir o estudo da memória do ambiente cultural como elemento de planejamento urbano.
Para tanto, analisa os elementos de permanência da estrutura do bairro nas diversas etapas de desenvolvimento
da cidade - o traçado das ruas, as edificações originais das vilas, as casas em série, os edifícios das fábricas ainda
existentes enfim, elementos que devem ser inseridos no projeto de renovação urbana, propondo que se valorize
a memória e o significado histórico do espaço cotidiano da população. Propõe-se aqui a reformulação do projeto
do canal do rio Tamanduateí como forma de resgatar a relação da cidade com este, sendo afinal de contas um
fator essencial para a revalorização dos bairros que circundam a área central. A tese ressalta que a Mooca é um
espaço de resistência na cidade: primeiro porque conserva, através do trabalho da população mais pobre, seu
desenho e atividade econômica originais; segundo porque carrega uma carga simbólica das lutas de resistência
do movimento operário desde a Greve de 1917 e do movimento dos tenentes de 1924. A memória desses
acontecimentos deve ser inserida no cotidiano da população através de projetos de recuperação e produção de
novos espaços de morar e de locais para preservação da memória associados a programas sociais como a “oficina
do jovem historiador”.
Abstract
This thesis is a proposal of Mooca neighborhood renewal in this original place of appearence. It emphasizes
the importance of that neighborhood as dwelling of the labor class in the first phase of São Paulo industrialization
and it highlights the need to introduce the memory´s studies of the urban cultural atmosphere as element of
urban planning. It analyzes the elements of permanence in the structure of the neighborhood in the several
stages of development of the city, as the plan of the streets, the original constructions of the villas, the houses
in series, the factories buildings still existent as elements that should be inserted in the urban renewal project. It
proposes the memory appreciation in the daily space of the people as soon as the historical meaning appreciation
of the place for the city. It still proposes to reformulate Tamanduateí channel river project as form of rescuing
the relationship of the city with the river, essential for the revaluation of the neighborhoods that surround
the central area. The thesis stands out that Mooca is a resistance space in the city. First, because it conserves
its original drawing preserved by the poor inhabitant and because the existent economic activity in the area.
Anyway it carries a symbolic load of the resistance fights in the labor movement from the Strike of 1917 and
1924 soldiers movement. The memory of those events should be inserted in the population day by day through
renewal projects and production of new spaces of living and of memory places preservation linked with social
programs like as the “young historian’s workshop”
Introdução
A habitação de interesse social
e a cidade
2
O objeto e a área de estudos desse trabalho estão relacionados com o Programa de Cortiços, da
Prefeitura Municipal de São Paulo, durante a gestão da prefeita Luiza Erundina, nos anos de 1990 a
1992. Embora esse programa fosse voltado aos moradores de cortiços, o conjunto de propostas apontava
para a elaboração de uma política de habitação de interesse social para a área central da cidade.
A descontinuidade administrativa, neste caso, interrompeu o programa a partir de 1993, limitando
a experiência a construção das unidades habitacionais em apenas dois projetos e na compra de alguns
imóveis para recuperação. Os instrumentos urbanísticos relacionados à recuperação de áreas degradadas
foram esboçados pela equipe técnica da SEHAB1 e chegaram a fazer parte da proposta do Plano Diretor
da cidade, apresentado na ocasião, mas não foram implementados e o plano não foi aprovado.
A lição que ficou dessa experiência, em relação aos projetos para os bairros centrais, é que a política
de habitação deve ser tratada em conjunto com uma visão da cidade, que valorize a história e o tema
sobre a função do centro. Não se pode tratar a habitação circunscrita ao lote, mas sim ao conjunto
urbano de seu entorno.
A experiência das políticas públicas de habitação tem mostrado que esta visão deve ser adotada
para toda a política habitacional que se queira desenvolver em São Paulo, pois os setores populares
que demandam habitação de interesse social são carentes de todos os benefícios que a cidade pode
oferecer. A política de habitação deve vir acompanhada do fortalecimento da cidadania dos setores
mais fragilizados da população.
Especificamente na área central, a política de habitação exige um enfoque urbanístico como condição
necessária para a implementação de qualquer projeto, particularmente porque nessa região da cidade
encontram-se boa parte dos bens culturais preservados ou que merecem preservação.
Um dos objetivos desse trabalho é pesquisar as possibilidades de se redesenhar e produzir moradia
popular nas áreas históricas consolidadas da cidade, baseada na metodologia apresentada pelo arquiteto
José Cláudio Gomes 2 para o desenvolvimento do projeto urbano, que considera duas categorias de
leituras do contexto em que se vai projetar: a primeira relativa à história do lugar e a segunda uma leitura
estrutural de onde surgirão as hipóteses de projeto.
Segundo ainda Cláudio Gomes, a história sintetiza a memória do lugar nos seus mais diversos aspectos
e a estrutura urbana é o conjunto dos elementos urbanos que compõe um todo e configuram essa unidade
do lugar, sua essência e interior. Dessa forma, a análise do espaço urbano envolve o conhecimento da
história do lugar e a compreensão de sua estrutura que deve ser compreendida em três momentos:
1. O primeiro momento representado pelo desenho da situação existente, utilizando-se de todos
as informações disponíveis: planta cadastral, fotos, mapas, e desenhos que representem a realidade
local, plantas, cortes e fachadas do espaço construído, suas medidas, divisões internas, sua escala e usos
existentes.
2. O segundo momento é o estudo através do desenho como instrumento que vai explicando, no
processo de sua elaboração, a maneira de pensar a respeito das diversas partes existentes e que compõe
essa forma urbana.
3. O terceiro momento é a síntese da estrutura existente que delineia uma tessitura do lugar, a
3
imbricação dos diversos edifícios e a composição de um tecido maior e da forma existente que significam
um conjunto de qualidades existentes.
Após esta análise deve se buscar uma visão crítica que combine aspectos sociais, espaciais, tecnológicos
e funcionais para se construir as hipóteses que irão fundamentar o projeto. Segundo Cláudio Gomes,
é preciso conhecer profundamente a linguagem arquitetônica a ser usada, pois se está projetando num
contexto existente.
É preciso buscar a relação das partes com o todo, encontrar os elementos de consenso e distinguir
os níveis de abordagem em que o desenho é individual e a estrutura é coletiva.
É preciso defrontar-se com o caráter simbólico da arquitetura e da paisagem sob o ponto de vista
de quem convive com estes contextos, fazer o percurso do usuário e conferir personalidade ao lugar,
cuja noção representa uma vinculação entre o espaço e seu uso.
fig.03
A história do lugar e sua paisagem
A escolha da Mooca como objeto de estudo explica-se porque a Mooca, o Brás, o Pari, a Liberdade,
a Consolação, a Barra Funda, e outros, fazem parte de um conjunto de bairros que circundam o centro
histórico da cidade, cujo estudo possibilita uma abordagem sobre o significado do “morar no centro”,
do significado próprio do centro, e da região que o circunda.
Essa abordagem seria possível a partir do estudo de qualquer um dos bairros próximos ao centro,
mas, os projetos de renovação urbana devem destacar a particularidade de cada contexto, como elemento
de referência para seu desenvolvimento.
fig.04
fig.01
fig.02
4
No caso da Mooca destaca-se o aspecto da proximidade com a colina histórica e os fatos históricos
e sociais que permeiam sua formação. O conteúdo histórico de luta e resistência do movimento social
que marcou períodos importantes da classe operária e do desenvolvimento industrial da cidade que
teve como palco também o bairro da Mooca.
A área de estudo é vizinha às duas trilhas de acesso ao centro da vila no período colonial, as quais
formavam os dois caminhos de ligação do Porto com o planalto, e à colina histórica. Localiza-se ainda,
na bacia do rio Tamanduateí e no sopé de chegada da colina do Pátio do Colégio.
A escolha do sítio urbano da sede da capitania de São Vicente no período colonial, sua relação com
o porto de Santos e o desenvolvimento do núcleo de povoamento do planalto foi descrita por Caio
Prado Júnior 3, quando este autor enfatizou a importância da geografia da cidade de São Paulo, na
escolha desse sítio.
Autores como Ernani Silva Bruno 4 e Pasquale Petrone 5 mostraram que a região da Mooca, contornada
por um dos principais caminhos das tropas de burro, e pelo rio Tamanduateí, conheceu uma vida muito
intensa, marcada pelos viajantes que por ali passavam, antes mesmo de ter consolidado sua ocupação
e desenho urbano, ainda no período colonial.
O textos desses autores permitiram a visualização dos espaços próximos à colina histórica, e a
importância dessa área e do rio Tamanduateí para o desenvolvimento da cidade no período colonial.
fig.07
fig.05
fig.06
5
Segundo o geógrafo Aziz Ab’ Saber 6, mais tarde, no final do século XIX, a burguesia industrial
paulista percebeu que haviam terras secas, próximas da várzea do Tamanduateí, para a construção das
indústrias e da ferrovia. As moradias dos operários, no entanto, localizaram-se em bairros situados nas
várzeas dos rios Tamanduateí e Tietê.
Segundo Caio Prado 7, os bairros operários permaneceram nas áreas baixas da cidade ao longo da
ferrovia e, no processo de urbanização da cidade de São Paulo, verificou-se o deslocamento paulatino
das classes dominantes para as áreas mais altas até atingirem o espigão da avenida Paulista, seguindo
em direção à região da várzea do rio Pinheiros no vetor sudoeste da cidade.
O estudo da história da cidade possibilitou identificar o momento histórico em que surge o desenho
da configuração atual do bairro da Mooca e perceber elementos de permanência até os dias atuais,
como o traçado das vias e o parcelamento do solo e outras estruturas, em diferentes momentos, como
a localização das indústrias, o traçado de um antigo projeto de metrô 8, as sucessivas retificações do
rio Tamanduateí e o parcelamento das chácaras que originaram os bairros da Mooca, do Cambuci e
do Ipiranga.
O surgimento da metrópole e os bairros antigos
A metrópole paulistana apresentava-se consolidada no século XX, na década de 60. Nesse período,
o bairro da Mooca já exibia o parcelamento e ocupação do solo definidos em relação ao Parque Dom
Pedro e ao rio Tamanduateí.
Esse processo de consolidação aconteceu num espaço curto de tempo, acompanhado de grandes obras
viárias e de uma fragmentação dos bairros operários ao longo do rio Tamanduateí e da ferrovia.
Esses bairros permaneceram como local de moradia, incrustados no centro da metrópole e
mantiveram boa parte das suas características originais quanto à sua tipologia de ocupação 9, que pode
ser encontrada no exame da cartografia antiga da cidade.
Na década de 30, a Avenida do Estado já existia e havia continuidade entre os bairros da Mooca,
Brás e Cambuci 10, mas, não existiam ainda as avenidas radiais, previstas no Plano de Avenidas de Prestes
Maia 11.
A paisagem da avenida do Estado era formada por densa arborização e fazia parte do projeto de
retificação do rio Tamanduateí. Essa paisagem, que durou até a década de 70 se assemelhava à ambiência
dos canais da cidade de Santos, projetados por Saturnino de Brito.
A construção da avenida Radial Leste, na década de 50, é um marco na estrutura viária da cidade
de São Paulo.
A partir daí, consolidou-se um tipo de intervenção viária cujas conseqüências foram a interrupção da
ligação entre bairros vizinhos e interferência na funcionalidade e acessibilidade da cidade, prevalecendo
em seu uso, o tráfego de passagem, por caracterizar-se como barreira física de grande porte.
6
fig.08
O Plano de Avenidas de Prestes Maia consolidou a construção de avenidas de fundo de vale que
resultaram numa abordagem urbanística, onde a cidade, definitivamente, voltou as costas para seus
rios mais importantes. Até então nossas várzeas eram extensamente ocupadas pelas águas que exigiram
medidas de saneamento, mas, se prevalecesse uma visão ambiental, paisagística, e não apenas rodoviarista,
o projeto teria sido outro e os rios estariam integrados na vida urbana.
Até a década de 40, havia continuidade entre os bairros do Brás, da Mooca e do Cambuci que
formavam uma borda única no centro da cidade. Eram bairros distintos que tinham uma forte relação
de vizinhança pela convivência solidária entre seus moradores que, na sua maioria, eram imigrantes.
As grandes obras viárias quebraram essas relações e, talvez, ao lado do empobrecimento da população,
tenham sido o principal fator da degradação física desses bairros com o aumento da poluição do ar e
sonora.
A expansão da cidade no século XIX e primeira metade do século XX criou a necessidade de ligação
do centro com as indústrias e com os bairros operários e, conseqüentemente, a expansão dos meios
de transportes. Primeiro surge o carro de praça, depois o bonde, que na década de 50, já possuía 140
quilômetros 12 de linha.
A implementação da infra-estrutura urbana, no entanto, não acompanhou a velocidade do processo
de urbanização de São Paulo e a opção pelo uso do automóvel, criada pela instalação da indústria
automobilística no Brasil, reforçou o urbanismo rodoviarista em detrimento do transporte de massa.
A consolidação do desenho urbano da Mooca, a fragmentação e processo de
degradação urbanos
Em 1910, conclui-se o parcelamento do bairro da Mooca que surgiu da divisão das antigas chácaras.
Observa-se ainda hoje, algumas das principais características da formação do desenho urbano original
do bairro. A cartografia da cidade, da década de 309 já mostrava o adensamento e o parcelamento já
configurados e uma série de construções que existem até hoje.
As casas do arquiteto Gregori Warchavchik na rua Barão de Jaguara foram construídas em 1929 e
foi o primeiro conjunto de casas em série do arquiteto na cidade.
Na década de 50 13, completa-se a subdivisão dos lotes do bairro e a construção da avenida Radial
Leste até a rua Piratininga.
Os conjuntos de casas em série e a maioria das 20 vilas ainda existentes no local, permanecem com
uso residencial, sendo que, algumas encontram-se encortiçadas, e outras ainda se mantém com uso
unifamiliar e a qualidade construtiva do projeto original.
O bairro possui poucos equipamentos públicos: uma escola estadual de primeiro e segundo grau,
construída em 1946 pelo antigo DOP; uma creche e um hospital municipais.
A rua da Mooca surgiu como uma variante para a região leste, ainda no período colonial, a partir da
7
rua Tabatinguera, seguindo pela rua da Figueira e depois tornando-se o chamado “Caminho da Mooca”.
O trajeto delimitaria definitivamente o bairro, que mantém até hoje, o seu traçado original como a via
urbana mais antiga em direção ao sudeste da cidade.
A avenida do Estado, um dos limites da área, caracteriza-se como uma via de tráfego intenso,
que degrada o seu entorno. A partir de 1995, as desapropriações de imóveis para a implantação do
VLP
- “Fura Fila” - estão causando impacto no uso do solo da área, com a aceleração do processo
de degradação.
A acessibilidade ao bairro da Mooca é realizada pelo complexo viário Leste Oeste e pela avenida
Radial Leste mas, é truncada em direção ao centro e no sentido norte sul, e o bairro fica enclausurado
dentro dos limites da ferrovia, da Radial Leste, da avenida do Estado e dos viadutos que circundam o
Parque Dom Pedro.
O uso misto do solo, de habitação, serviços e indústrias, foi possivelmente o fator de manutenção
da característica de parcelamento do bairro, provavelmente, pela proximidade da oferta de empregos,
predominantemente industrial num primeiro momento e serviços posteriormente. Algumas indústrias,
como a Antártica de bebidas, ainda funcionam na região.
Uma metodologia possível para o projeto urbano de revitalização de bairros
históricos
Esta proposta de requalificação do bairro da Mooca baseia-se em três eixos prioritários: a memória
do bairro; a recuperação do rio Tamanduateí; e a convivência do local de moradia com o local de
trabalho.
O momento atual de São Paulo é de recuperação da cidade, não mais de sua expansão. Nesse sentido,
o resgate da memória da cidade poderá se constituir num forte elemento de integração e recuperação
de sua qualidade de vida, o que significaria a humanização da metrópole.
A urbanização atual da cidade atingiu, na década de 90, taxas de crescimento da ordem de 1,1%,
o que indica uma consolidação desse processo, semelhante ao crescimento das metrópoles dos países
desenvolvidos. A dinâmica atual de crescimento populacional mostra o aumento da população dos
municípios vizinhos e um deslocamento maior para a periferia urbana, mas não o crescimento da
capital.
Esses índices nos fazem refletir sobre a forma em que se dará a recuperação da cidade, baseada numa
visão urbanística de reutilização do estoque construído de edifícios já existente.
A ênfase adotada pelo mercado imobiliário de expansão das novas construções e elitização das áreas
já dotadas de infra-estrutura contraria o atual processo de urbanização e continuará a gerar áreas ociosas
e “vazios urbanos construídos”. Daí a importância que assume a preservação da memória urbana com
uma nova visão de aproveitamento dos espaços já construídos.
8
construídos.
Dentre os aspectos históricos que envolvem o bairro da Mooca está a história do rio Tamanduateí
que, além de circundar a colina histórica, teve uma grande importância através da história como meio
de transporte e abastecimento da população no período colonial.
A população em geral desconhece a importância histórica dos elementos geográficos da paisagem. O
Pátio do Colégio pode ser conhecido como local de nascimento da cidade, mas não são popularizadas
as razões históricas que levaram à escolha do sítio da colina para a sede da vila.
O rio Tamanduateí está para a cidade de São Paulo como o rio Tietê está para o desenvolvimento
do Estado de São Paulo e é chamado de “rio paulista”. Da mesma forma, o rio Tamanduateí é o “rio
paulistano”, o rio que está ligado à origem da cidade. A recuperação de sua vida será o principal fator
de revalorização dos bairros degradados no seu entorno.
A recuperação do rio, no entanto, envolve o enfrentamento do tráfego e a desmontagem do tampão
sobre seu leito. Algumas intervenções na estrutura de circulação da cidade, como a construção da avenida
Jacu Pêssego, do Rodoanel e o possível uso da ferrovia para a carga da zona cerealista do Brás, podem
viabilizar a desmontagem do tampão da avenida do Estado que funcionou até agora mais como obra
viária, pois não conseguiu resolver a ocorrência de enchentes no local.
A degradação do bairro da Mooca e sua localização na várzea do rio Tamanduateí, possibilitam a
remodelação na orla fluvial tendo em visa a desvalorização do solo urbano na área, que poderá permitir
a redução dos investimentos públicos para tal intervenção.
A área escolhida para o projeto possui a escala de uma unidade de vizinhança, onde é possível o
seu domínio através de percurso a pé, e onde a distância transversal mede cerca de 500 metros entre a
Avenida do Estado e a Avenida Radial Leste e 1500 metros no eixo longitudinal entre o Parque Dom
Pedro e a ferrovia.
fig.09
9
As vilas operárias ou as casas em série aí localizadas são elementos permanentes da memória do
surgimento dos bairros operários na primeira fase da industrialização da cidade e merecem um estudo
detalhado, pois resistem há quase um século como modo de morar da classe operária.
Essa tipologia de ocupação suscita uma especulação sobre que densidades de ocupação do solo
deveriam ser adotadas nesse espaço da Mooca, próximo à colina histórica e com ocupação horizontal
predominante.
A verticalização excessiva da área não seria conveniente, pois esse espaço representa um grande
“clarão” na área central com visuais para a Serra da Cantareira, no limite norte da cidade.
As propostas para construções ou remodelação de moradias populares na área central deverão ter
como objetivo fixar a população e não expulsá-la.
Nesse sentido, o adensamento dos bairros é desejável, porém, não necessariamente a sua verticalização,
com a abertura de novos espaços públicos que aumentem a vegetação e a permeabilidade do solo. O
processo de encortiçamento favorece o remanejamento de parte das edificações criando alternativas de
reconstrução das áreas de moradia no próprio bairro.
A preservação do patrimônio histórico na cidade de São Paulo não tem conseguido livrar-se da
pressão da especulação imobiliária, que induz os governantes a uma visão voltada predominantemente
para a valorização dos monumentos, e encontra resistência para a preservação da história do espaço e
do cotidiano da sua população.
Uma abordagem que envolva questões sociais, relacionadas com as condições de moradia da população
de baixa renda na área central, é um instrumento para realizar políticas públicas na área de preservação
e recuperar os espaços de valor histórico degradados.
Os projetos de revitalização dos bairros de origem operária devem destinar-se à população moradora,
que saberá valorizar e receber essa herança como legado da memória da cidade.
Esses bairros têm o significado de resistência no seu desenho na história da cidade e na história da
luta dos trabalhadores de São Paulo, com eles está a perspectiva de mudança na reconstrução da cidade
de forma emancipadora nos conceitos da vida urbana, de uma nova sociedade mais solidária e justa
socialmente.
10
Notas
1.
SEHAB Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano da PMSP.
2.
GOMES, José Cláudio Notas da disciplina Atelier de Projetos Urbanos, ministrada no segundo semestre de
1996 na Pós Graduação da FAUUSP.
3.
PRADO JúNIOR, Caio. Evolução Política do Brasil e Outros Estudos. A cidade de São Paulo. Geografia e
História. O Fator Geográfico na Formação e no Desenvolvimento da Cidade de São Paulo. Contribuição para a
Geografia Urbana da Cidade de São Paulo - Publicado e Geografia (órgão da AGB), n.º 3, set. 1935, 4ª ed., São
Paulo, Brasiliense, 1963. pg. 95 a 146.
4.
BRUNO, Ernani da Silva. História e tradições da cidade de São Paulo. Rio de Janeiro, José Olympio, 1954. 3 vol.
5.
PETRONE, Pasquale. Aldeamentos Paulistas. São Paulo, Edusp, 1995.
6.
AB´SABER, Aziz. Originalidade do sítio da cidade de São Paulo. Revista Acrópole n.º 295,ano XXV, pg. 205 São
Paulo, Max Gruenwald & Cia, junho de 1963
7.
AB´SABER, Aziz. Op. cit.
8.
PRADO JÙNIOR, Caio. Op. cit.
9.
SESSO JR., Geraldo. Retalhos da Velha São Paulo. 4ª ed. São Paulo, Maltese, 1985.
10.
ACRÓPOLE, Revista. n.º 295, ano XXV, São Paulo, Max Gruenwald & Cia, junho de 1963
11.
Mapa Topográfico do Município de São Paulo, SARA BRASIL S/A, 1930.
12.
MAIA, Francisco Prestes. Estudo de um Plano de Avenidas para a cidade de São Paulo São Paulo, Melhoramentos,
1930.
13.
Levantamento Aerofotogramétrico do Município de São Paulo, VASP S/A e CRUZEIRO DO SUL S/A, 1954.
14.
idem, nota 9.
15.
idem, nota 11.
11
Capítulo I
A opção pelas áreas históricas
12
1. A escolha do objeto de estudo
A cidade consolidou seu perfil industrial com a presença da mão de obra imigrante e, a partir daí,
viria a ser a maior metrópole da América Latina.
O fato do bairro da Mooca ter sua origem no final do século XIX, como bairro operário e com
características diferentes dos bairros ocupados pela classe dominante, configurou-lhe aspectos
urbanísticos peculiares que permanecem até hoje.
Ao longo de sua história de ocupação, e apesar da infra-estrutura existente e da proximidade com
o centro da cidade, não houve interesse dos agentes imobiliários em atuar no bairro, em função de sua
característica original como bairro operário.
O bairro manteve as funções do morar e trabalhar integradas na mesma localidade, o que preservou
suas características. A sua localização, a presença de imóveis ociosos de grandes dimensões e a existência
de moradias precárias em cortiços colocam essa área em posição de interesse para projetos de recuperação
e requalificação do espaço urbano.
Nesse sentido, interessa perceber quais são os elementos de permanência, os usos historicamente
vigentes na Mooca, o significado desse lugar para a cidade e para seus usuários e para resgatar valores
que, através dos espaços construídos e seus usos, contribuam para a memória coletiva urbana.
As alternativas possíveis de projetos de moradia popular devem atender os moradores de cortiços,
no sentido de fixar essa população na área central e a tendência de mudança de perfil de São Paulo, de
cidade industrial para cidade de serviços, deve ser considerada para a possibilidade de reciclagem das
antigas construções fabris dos bairros centrais.
A preservação dos espaços históricos, que seriam descaracterizados ou eliminados se deixados ao
sabor do mercado imobiliário, poderá ocorrer com um programa de moradia de interesse social público
que enfoque a preservação da memória do espaço cotidiano
O trecho estudado apresenta elementos da estrutura urbana da área central com situações típicas que
merecem investigação: ocupação urbana em várzea; existência de edifícios de valor histórico, sistema
viário como barreiras físicas entre bairros, e a presença da ferrovia ladeada por extensas áreas industriais
Algumas áreas e edifícios históricos de interesse cultural compõe um envoltório num raio de
aproximadamente dois quilômetros da área de estudo: o Palácio das Indústrias e a Casa das Retortas
no Parque Dom Pedro II; o Pátio do Colégio na Colina Histórica; a rua do Gasômetro; a “Estação do
Norte”; o Museu do Ipiranga; as vilas operárias e os antigos galpões industriais ao longo da ferrovia;
a antiga Hospedaria dos Imigrantes; as paróquias da região e suas festas tradicionais de San Gennaro,
São Vito, Nossa Senhora de Luque, na Mooca, Pari e Brás respectivamente.
Os aspectos históricos e territoriais da Mooca favorecem a reflexão e a elaboração de premissas
para projetos de requalificação nos bairros centrais como por exemplo:
1. foi um dos primeiros bairros operários criados a partir da construção da ferrovia e do
desenvolvimento industrial da cidade; e ainda possui perfil de bairro popular;
2. apresenta uso do solo misto, residencial associado à indústria e aos serviços; há interesse da
13
população de baixa renda em residir próximo à área central em função da oferta de empregos;
3. apresenta transformação de parte das residências unifamiliares em cortiços, com alta densidade
de ocupação e baixa oferta de equipamentos públicos ou espaços livres de lazer;
4. verifica-se a decadência das edificações e dos espaços públicos (basicamente as ruas);
5. há dificuldade de acessibilidade apesar da proximidade com o Centro;
6. inúmeros exemplos de vilas operárias existem no bairro e também o primeiro conjunto
arquitetônico de moradias em série de autoria do arquiteto Gregori Warchavchik;
7. influência da imigração italiana na formação do bairro;
8. possibilita a pesquisa da inserção de projetos novos em áreas históricas;
9. localização na várzea do Tamanduateí; bairro pouco verticalizado; e presença da ferrovia como
alternativa de acessibilidade por transporte de massa.
Referências Urbanas
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23.
24.
25.
26.
27.
28.
29.
Praça da Sé
Páteo do Colégio
Palácio das Indústrias
Casa das Retortas
Teatro Municipal
Biblioteca Mário de Andrade
Praça das Bandeiras Ladeira da Memória
Câmara Municipal
Praça da República
Estação da Luz
Masp
Estádio do Pacaembu
Hospedaria dos Imigrantes
Largo da Concórdia
Jardim da Luz Pinacoteca
Parque da Independência Museu Paulista
Parque Trianon
Pavilhão Anhembi
Hospital das Clínicas
Parque da Aclimação
Parque Dom Pedro II
Faculdade de Direito - Largo São Francisco
Correio Central
Mosteiro de São Bento
Mercado Central
Páteo Ferroviário do Pari
Santa Casa de São Paulo
Vila Penteado FAU Maranhão
Parque do Ibirapuera
Legenda
Parques
Áreas Históricas de Referência
Centro “Coração da Cidade”
Vias de Tráfego Intenso
Linhas de Metrô
Rios
Ferrovias
fig.01
14
fig.02
15
2. Morar em áreas históricas
A cidade de São Paulo caracteriza-se por uma constante superposição de tecidos urbanos diferenciados
que substituem construções antigas por novas, sem estabelecer vínculos com as diversas gerações que
construíram a cidade. A cada nova etapa do desenvolvimento econômico e social, novas funções urbanas
foram inseridas nos bairros mais antigos e centrais 1.
Áreas que antes abrigavam moradias para as camadas sociais de maior poder aquisitivo assumem
novos usos e modificam-se com planos urbanísticos de diferente natureza, obras viárias, de drenagem,
canalizações de rios, construção de praças, de edifícios públicos e de infra-estrutura como as estações
de energia ou de abastecimento de água. Assim, os antigos moradores deslocam-se para outras áreas e
deixam o espaço “desvalorizado” para os que chegam.
A área de moradia das classes dominantes, ao longo de nossa história, desloca-se para o vetor
sudoeste da cidade junto com as suas atividades econômicas e as estruturas institucionais do poder
público 2. Esta lógica está presente nas cidades do mundo capitalista, onde a burguesia vive em espaços
segregados e mantém o controle sobre a cidade, prevalecendo os interesses conjunturais dos grupos
que se encontram no poder.
Os projetos de recuperação de bairros antigos nos remetem a abordar vários problemas: a dinâmica
histórica que levou aquela área da cidade a se deteriorar; a identificação dos espaços deteriorados;
pesquisa das características físicas e de uso da área anteriores ao processo de degradação; a forma atual
do processo de degradação; o interesse na recuperação dessas áreas e, por último, a formulação das
diretrizes para projetos de recuperação.
As respostas a esses problemas nortearão a visão de projeto segundo o ponto de vista dos cidadãos
interessados na transformação de uma determinada parte da cidade. Esse tipo de projeto envolve
necessariamente o poder público local, pois a escala de intervenção inclui alterações da legislação
urbanística e instrumentos de acesso à terra. O objeto de estudo é a cidade e não o espaço intrínseco
à propriedade privada.
fig.04
16
fig.03
fig.05
17
3. Possibilidades de redesenhar o espaço de morar e preservar a memória
Os estudos desenvolvidos como possibilidades de projeto para se redesenhar o bairro da Mooca se
basearam nas seguintes premissas:
1. O espaço de morar é mais amplo que a própria casa, a cidade é o principal.
2. Preservar os elementos de permanência na estrutura do bairro ao longo de sua história: vilas,
ruas e fábricas.
3. Propor a criação de espaços para desenvolver programas relacionados à preservação da memória
do bairro e da cidade: museus, bibliotecas, teatros, memorial, oficinas de restauro.
4. Identificar e aproveitar os espaços potencialmente aproveitáveis para novos usos: miolos de
quadra, cortiços e antigos galpões industriais.
5. Projetar equipamentos públicos como espaços de articulação e de recuperação dos espaços
existentes.
6. Melhorar a acessibilidade da área e requalificar as principais vias estruturadoras: Avenida do
Estado, Radial Leste, Presidente Wilson e a ferrovia.
7. Reaproveitar edifícios existentes na área para novos usos: uso habitacional, de equipamentos e
serviços.
8. Desenvolver projetos habitacionais para atender os atuais moradores de cortiços.
Uso do solo em perspectiva
18
Relevo em perspectiva
Área do Projeto Antártica
19
3.1. Preservar as vilas e as casas em série
A estrutura existente do bairro da Mooca mantém-se desde a década de 30 do século XX com o
mesmo traçado das ruas e do parcelamento do solo. Permanecem as vilas operárias ainda com uso
habitacional, na sua maioria, e as casa em série projetadas como moradia operária. Destacam-se as
casas projetadas e construídas por Gregori Warchavchik em 1929, situada s na rua Barão de Jaguara.
Alguma estrutura fabril também se mantém no bairro, apesar da mudança gradativa de uso. Esses
espaços representam a memória da atividade industrial da primeira metade do século XX, quando São
Paulo iniciou seu papel de maior pólo industrial do país, portanto, devem ser preservados e reutilizados
para abrigar usos dinâmicos da cidade. Promover o restauro das edificações.
Destaque das vilas na Área
20
Vila Regina na Rua Oscar Horta
Vila na Rua Ana Ney
Casas em série na Rua Andrade Reis
Vila Alvarenga
21
3.2. Criação do Memorial da Greve de 1917
O Memorial da Greve de 1917 foi proposto para abrigar atividades culturais relacionadas à memória
da classe operária na cidade de São Paulo e de acontecimentos históricos correlatos. O local escolhido é
o entroncamento da ferrovia com a rua Mooca, pois foi neste local, na porteira da Mooca, que morreu
um operário nos confrontos com a polícia durante a greve de 1917, e que gerou um grande cortejo
que saiu dos bairros operários pela cidade, para acompanhar seu enterro até o cemitério do Araçá. A
proposta inclui um teatro, uma biblioteca pública, salas para exposições. Desse local sai um edifício
ponte sobre a ferrovia para permitir o acesso do memorial à Hospedaria dos Imigrantes, do outro lado
da ferrovia, na rua Visconde de Parnaíba. Nesse edifício estariam localizados bares, cafés, pequenas
lojas, livrarias e um pavimento de escritórios. Ao lado do memorial na borda da avenida Radial Leste
propõe-se a demolição de alguns imóveis para criar um afastamento da agitação da avenida e preservar
o espaço do pedestre.
Praça do Memorial
Vista em planta do Memorial
22
Vista aérea
Rua Patrimônio de Mônaco- vista aérea
Rua Patrimônio de Mônaco - vista frontal
23
Lateral do Viaduto da Mooca
3.3. Criação da Oficina do Jovem Historiador
A oficina do historiador foi idealizada para abrigar programas voltados para a juventude que cultivem
o interesse pela cidade, sua memória e preservação. O espaço inclui um teatro, salas para cursos de
história e de artes e uma oficina de restauro. Estes programas têm a finalidade de envolver os jovens
do bairro em atividades culturais, dar formação especializada e afastá-los do tráfico de drogas. O local
escolhido foram três edifícios degradados e encortiçados, na rua Dom Bosco, mas, que possuem um
interessante desenho e que merecem ser recuperados, modificando-se o seu programa interno. A
localização é o entroncamento com a rua onde se realiza a Festa de San Gennaro, espaço já de referência
como área cultural.
Croquis 1 do Teatro
Estudo de reconstituição da fachada da Oficina do Jovem Historiador
Vista Central
Vista frontal esquerda
24
Vista frontal direita
3.4. Projeto de conjuntos habitacionais de pequeno porte e de equipamentos públicos
Verifica-se que existem espaços ociosos no miolo das quadras, característicos dos bairros mais antigos
da cidade. Esses espaços podem ser incorporados em um novo desenho urbano, que os transformem
em espaços públicos, destinando-os para atividades mais sossegadas fora do agito das ruas, que se
constituem no único espaço de lazer do bairro. Há vários imóveis encortiçados ao lado de edifícios de
médio porte fechados, que poderiam ser reaproveitados como pequenos conjuntos habitacionais nas
áreas mais altas do bairro.
Os edifícios para abrigar equipamentos públicos deverão ser projetados como elementos articuladores
dos espaços públicos e privados, e, desenhados dentro de um novo conceito em que possam ser inseridos
dentro do espaço destinado para a habitação, em parte pela escassez de terrenos livres na área, mas
principalmente porque há uma tendência cada vez maior para que a comunidade participe da gestão desses
equipamentos. Projetos de centros educacionais infantis, escolas de ensino fundamental, teatro, biblioteca
e museus. Criação do Memorial da Greve de 1917, criação da Oficina do Jovem Historiador.
Conjunto Habitacional integrado com equipamento social
Miolo de quadra livre na Rua Barão de Jaguara
Destaque para o Uso Habitacional
25
“Fábrica 5”- depósito recuperado para lazer
Principal escola do bairro na Rua da Mooca
Cortiço na Rua da Mooca
26
Depósitos fechados na Rua da Mooca
3.5. Redesenhar a avenida do Estado, tirar o tampão do rio Tamanduateí.
A acessibilidade da área está comprometida hoje com barreiras físicas constituídas pelas grandes
avenidas que circundam a área e por isso sua requalificação é essencial para diminuir o processo de
degradação e decadência do bairro. A avenida do estado deve ser redesenhada para recuperar o rio
Tamanduateí e aproximar novamente os bairros vizinhos do Cambuci, Sé e Ipiranga. Imóveis degradados
de pequeno porte ao longo da avenida seriam demolidos e transformados em áreas verdes para aumentar
a permeabilidade do solo. A proximidade com o centro da cidade e a geografia da várzea permitem
pensar na alternativa de criação de ciclovias ao longo do eixo do rio e ligando a estação da Mooca
com o centro e estação do Brás. No caso da avenida Presidente Wilson, seria interessante a criação
da ciclovia e aumento das calçadas para melhorar o acesso a pé às estações de trem e Metrô do Brás.
A arborização deve ser intensificada em toda a área, não só como fator de conforto ambiental, mas,
para contribuir na absorção das águas pluviais. A avenida Radial leste, pela sua extensa largura, permite
que se enfatize o espaço do pedestre e de ciclovias segregadas. O projeto do “Fura-Fila” deverá ser
reformulado para se inserir no novo desenho da avenida.
Tampão da Avenida do Estado
Avenida do Estado- Situação atual
Avenida do Estado- Estudo de requalificação
27
Radial Leste-sentido centro
Rua Patrimônio de Mônaco - acesso a Estação do Brás
Radial Leste- sentido Leste
28
Estudo-Avenida do Estado
3.6. Projeto Antárctica
A área hoje ocupada pela antiga fábrica da Antárctica encontra-se em processo de transição com a
desativação das atividades anteriores. É uma extensa área com grandes espaços vazios, alguns edifícios
demolidos e, sendo utilizada hoje, apenas como depósito. Situa-se na avenida Presidente Wilson e
chega até a avenida do Estado. Foi escolhida como a principal área de projeto para redesenhar o bairro.
Propõe-se um plano de ocupação com conjuntos habitacionais, cujo desenho resgate o desenho de
páteos internos, semelhante às vilas existente na área e sem recuo frontal como é a principal característica
do parcelamento do bairro. O estudo propõe resolver parcialmente a drenagem local com a criação
de um mini “piscinão”, aproveitável como área de lazer e esporte no período de estiagem. O sistema
viário foi alterado com a ligação da rua Ana Nery até a rua João Alfredo, com o intuito de aproximar
o bairro da estação de trem. Cria-se um viário local para acessar os conjuntos habitacionais e separar
do equipamento de drenagem. Na área do prédio principal da Antárctica deverão ser preservados os
edifícios existentes, e, indica-se que a Subprefeitura da Mooca venha a ocupá-lo pela sua localização
estratégica junto à ferrovia. Alguns edifícios seriam mantidos para escritórios e serviços, lojas e cinemas.
Na frente para a rua da Mooca propõe-se o alargamento da calçada e a construção de grandes espaços
para depósitos, lojas e edifícios comerciais ou de serviços.
Vista aérea geral-Rua da Mooca
Vista do Memorial da Radial Leste
29
Vista aérea Norte-Sul
Vista Aérea Leste-Oeste
1
2
3
4
Edifícios residenciais 6 pavimentos
“Piscinão” – equipamento de drenagem
Praça da Estação/escola
Edifícios de escritórios
5
6
7
8
Edifícios residenciais/equipamento social/edifícios comerciais
Memorial da Greve de 1917
Estação da Mooca
Oficina do Jovem Historiador
30
Rua da festa
do rio
11 Subprefeitura
12 Escritórios, cinemas e lojas
13 Ligação bairro-estação
9
10 Abertura
fig.54
Estudo final de ocupação
31
Croquis 1
32
Croquis 2
Croquis 3
33
Croquis 8
34
Croquis 4
Croquis 5
Croquis 6
35
Croiquis 7
3.7. Praça da Estação da Mooca
Propõe-se a requalificação da área de entrada da Estação da Mooca com a demolição de pequenas
construções que hoje abrigam lanchonetes, para permitir o aumento da visibilidade da estação e a
construção de um “deck” de madeira para abrigar mesas de café. Propõe-se a preservação dos prédios
existentes e renová-los com o uso de restaurantes, bares, cafés, salas de exposições e quadra coberta.
A recuperação é urgente, pois, se encontram abandonados e sem o telhado. Este local seria a sala de
espera da estação. Em frente à estação, na rua Presidente Wilson abrir-se-ia uma praça para feiras de
artesanato e comércio ambulante, seria o local do ponto de ônibus e bicicletário.
36
Vista aérea da Praça da Estação
37
Croquis da Rua da Estação
38
3.8. A Rua - Praça da festa
Na rua de San Gennaro, todos os anos, acontece a tradicional festa italiana de San Gennaro, mas
em condições precárias. Propõe-se que a rua seja transformada num calçadão, arborizada e iluminada
adequadamente para o uso como praça e, fora da época da festa, possa abrigar feiras de artesanato
aos domingos.
Rua da Festa e Oficina do Historiador- Croquis
39
3.9. Recuperação da ferrovia
A recuperação da ferrovia é essencial para acessibilidade da área e como meio de transporte para longas
distâncias. O novo projeto deverá incluir projeto de drenagem urbana em toda a sua extensão.
Ferrovia
Estação da Mooca
40
Notas
1.
TOLEDO, Benedito Lima de. São Paulo: três cidades em um século. 2ª ed. São Paulo, Duas Cidades, 1983.
2.
VILLAçA, Flávio. Espaço intra - urbano no brasil. São Paulo, Studio Nobel: FAPESP: Lincoln Institute,1998.
41
Capítulo II
O lugar da Moóca na história da
ocupação da cidade de São Paulo
42
1. Aspectos da história da formação da cidade de São Paulo
A história das constantes mudanças da ocupação urbana do centro de São Paulo é a história dos
deslocamentos de setores da população de áreas antigas para áreas mais novas.
Segundo o arquiteto Luís Saia 1, entre todas as cidades do Estado de São Paulo, apenas vinte e nove
não surgiram em função da economia do café. São Paulo foi uma delas, embora sua atual configuração
metropolitana tenha sido resultado do quadro econômico - social criado em função da cultura do café.
Os primeiros colonizadores assentados no litoral, preocupados com a exploração mercantilista da
Colônia, buscaram outro sítio para a capital da província tendo em vista o intento frustrado de encontrar
ouro e pau-brasil em São Vicente, Santos e Itanhaém. Defrontaram-se com duas alternativas: a vila de
Santo André da Borda do Campo, o núcleo de João Ramalho; e os “Campos de Piratininga”; localizado
num sítio mais satisfatório e mais adequado para a ocupação.
A tese da opção por São Paulo, defendida pelos jesuítas, baseou-se na experiência indígena de
ocupação de terras. Mas, durante o seu primeiro século de existência, São Paulo disputou com São
Vicente a fixação da sede da capitania. A presença dos índios dificultava a ocupação do planalto. No
litoral as dificuldades maiores eram as terras formadas por mangues, imprestáveis para agricultura, e
o ataque de piratas 2.
Os campos de Piratininga constituíam uma enorme clareira no planalto com pouca arborização,
devido aos solos pobres para a agricultura. Os índios já ocupavam esses campos de forma muito densa,
mostrando que o local teria vocação para ser um “condensador demográfico” 3.
Os colonos paulistas foram pragmáticos e não adotaram a idéia dos jesuítas de sacralizar a sede e
nem a tese oficial de criar uma fortaleza, para eles a sede tinha outro significado:
São Paulo era apenas uma sede simbólica, um território de cerca de 50 quilômetros de raio, pelo qual os
senhores se distribuíam estabelecidos em residências de tipo perfeitamente característico. A cidade não possuía
um edifício próprio para a Câmara, a qual abicava ao sabor das conveniências, nas casas particulares. Igrejas
havia muitas na vila, como também nos estabelecimentos colonos. As da cidade, alpendradas quase todas,
estavam localizadas mais conformes à feição da topografia local do que obedientes à uma idéia de participar da
composição urbana 4.
O poder para os colonos era medido segundo a quantidade de homens que dispunham para a
atividade militar e, a possibilidade de arregimentar muitos índios para essa tarefa, estimulou a escolha
pelos “campos de Piratininga”.
O fator geográfico teve um papel decisivo na escolha do sítio para instalação da sede da Capitania 5.
Um dos elementos que contribuiu para essa escolha foi o fato de São Paulo situar-se no melhor ponto
de transposição da Serra do Mar a partir do litoral, a apenas 30 quilômetros do alto da serra. A leste
desse ponto, a Serra é uma muralha contínua com altitudes acima de 900 metros, chegando a 2000
metros no Vale do Paraíba. A Oeste, a Serra atinge quase 100 quilômetros de largura com uma vegetação
43
fig.01
fig.02
densa e uma rede hidrográfica paralela ao mar, que dificultava o acesso ao planalto.
O primeiro lugar do planalto, ocupado pelos colonos portugueses, foi Santo André da Borda
do Campo, a Vila de Santo André. Em 1560, a sede da capitania é escolhida por Mem de Sá, então
Governador Geral, que transfere o título de “vila” de Santo André para São Paulo.
Depois, foi necessário pensar-se na escolha do sítio para fixar o núcleo principal e a opção foi o
alto de uma colina, escolhida pelos jesuítas para instalar o seu colégio, com uma posição estratégica de
defesa para evitar o ataque indígena. Esse sítio é circundado por escarpas abruptas e acessível apenas
por um lado, numa altitude de 25 a 30 metros acima da planície inferior. Hoje, esse sítio é o centro
histórico da cidade, chamado “centro velho”, formado pela Praça da Sé, pelo Pátio do Colégio, o Largo
São Bento e o Largo São Francisco.
Os campos de Piratininga tinham, para os jesuítas, outro interesse. Eles, talvez mais cedo que quaisquer
outros europeus, demonstrando serem possuidores de uma extraordinária visão, perceberam o sentido estratégico
desse ângulo do planalto paulista e seu papel dentro dos quadros de povoamento pré-colombiano. Perceberam a
função dessa área em relação com as comunicações com o interior, em particular com a mesopotâmia paraguaia.
A concentração de esforços desenvolvidos nos Campos de Piratininga não foi, em conseqüência, fruto apenas dos
motivos de atração existentes na própria área. Nela os jesuítas perceberam a existência de importante ponto de
apoio para a expansão para o interior, cabeça-de-ponte para as relações com a área central do continente. 6
A colina forma um espigão divisor de águas entre o rio Tamanduateí e o seu afluente, o rio
Anhangabaú, de onde podia se vislumbrar um vasto horizonte.
A seu pé desdobra-se a planície úmida e sem obstáculo algum de vulto que pudesse furtar à vista do observador
à aproximação ou os movimentos do inimigo 7.
Os rios Tietê e Tamanduateí, vias naturais de comunicação e situados no centro do sistema hidrográfico
da região, criaram uma situação privilegiada de acessibilidade para São Paulo. Tanto o Tietê, cuja várzea
se aproximava muito da colina histórica antes de sua canalização, como o rio Tamanduateí, que corria
no sopé do outeiro onde se erguia a Vila, eram navegáveis por pequenas embarcações.
A via do Tamanduateí sempre foi utilizada e a atual ladeira Porto Geral lembra o tempo em que existia aí o
porto onde se embarcava em São Paulo, via Tietê e as localidades de suas margens 8.
Até fins do século XVI, a comunicação fluvial pelo rios Tamanduateí, calmo e cheio de meandros,
e pelo rio Tietê era utilizada por todos os moradores, o padre, o negociante, o fazendeiro e as pessoas
simples do povo.
O rio Tietê foi responsável pelo acesso de expedições de reconhecimento e exploração do interior,
as entradas e bandeiras, e pelo intercâmbio entre os populares que se estabeleceram no planalto.
44
fig.03
fig.06
fig.04
fig.07
fig.05
45
O povoamento nos primeiros tempos da capitania procurou as margens dos rios. No rio Tietê
encontramos as povoações que surgiram pelo rio abaixo, como a de Nossa Senhora da Expectação do
Ó, atual Freguesia do Ó, e a de Parnaíba, futura Vila de Santana de Parnaíba.
Seguindo ainda rio abaixo, surgiram os povoados ao longo do rio Pinheiros e seu afluente Jeribatiba, e
os povoados no vale do rio Cotia, como o aldeamento de Pinheiros, M’Boi, Itapecerica e o de Ibirapuera,
hoje constituído pelo bairro de Santo Amaro.
Na direção do rio acima, antes do fim do século XVI, já haviam surgido os povoados de Guarulhos,
Itaquaquecetuba, São Miguel, Moji das Cruzes, São José dos Campos e o Vale do Paraíba, região fértil
e principal caminho para as Minas Gerais, como também para as regiões Norte e Nordeste do país.
A maior parte desses povoados originaram-se dos aldeamentos indígenas.
Os campos de Piratininga conheceram desde logo o enquadramento de inúmeras aldeias indígenas no
processo comandado pelo europeu, além da criação de novos aldeamentos. Consideradas as primeiras décadas
dos seiscentos, os núcleos de povoamento do planalto multiplicaram-se pelos arredores do Campo, contribuindo,
também, para a tessitura daquela que viria se tornar a rede urbana paulista 9.
As definições de aldeia e de aldeamento possuem significados diferentes. Segundo Pasquale Petrone,
as aldeias eram as tabas indígenas ocupadas espontaneamente e os aldeamentos eram aglomerados
criados conscientemente com uma intenção objetiva10. Os jesuítas usavam os aldeamentos para aglutinar
os indígenas num território sobre o qual tivessem controle.
Outro aspecto importante que condicionou o povoamento da cidade de São Paulo foi o seu relevo.
Através de toda a história colonial da capitania, São Paulo ocupa o centro do sistema de comunicações do
planalto. Todos os caminhos, fluviais ou terrestres que cortam o território paulista vão dar nele e nele se articulam.
O contato entre as diferentes regiões povoadas e colonizadas se faz necessariamente pela capital. O intercâmbio
direto é impossível 11.
São Paulo e Santos vão se tornar áreas interdependentes, a primeira seria o centro natural do planalto
e a segunda teria a função de porto marítimo.
Não fosse a fatalidade da Serra do Mar, estas duas funções caberiam a um só centro, que englobaria o que
hoje constitui as duas cidades 12.
Os cursos d’água tiveram um papel importante na formação dos aglomerados paulistas, pois os rios
Tietê, Pinheiros e Tamanduateí forneciam uma parte dos alimentos da população ribeirinha 13 . Essa
rede fluvial que abastecia as populações da Vila, era por outro lado, um obstáculo à ocupação do espaço
devido às cheias dos rios. Por isso, as aglomerações procuravam as elevações sempre cortadas pelas
várzeas e vales geralmente inundados. Desde os primeiros séculos, para se chegar ao centro da cidade
era necessário a travessia de pontes sobre os rios 14.
46
Mapa geomorfológico esquemático do sítio urbano
de São Paulo (Parte do mapa de Aziz Ab’Saber)
1.
O Espigão Central (800 820 m) Plataforma
interfluvial Tietê Pinheiros: principal remanescente da
superfície de erosão de São Paulo, no interior da bacia
sedimentar paulistana. Nas colinas de além - Tietê e além
- Pinheiros, as plataformas interfluviais análogas estão
muito mais dissecadas.
2.
Altas colinas e espigões secundários esculpidos
nas abas das primitivas plataformas interfluviais das colinas
paulistanas (750 795 m).
3.
Terraços fluviais do nível intermediário
(745 750 m). Principal nível de “strath terrace” das
colinas paulistanas . Plataformas interfluviais secundárias
esculpidas nas abas do Espigão Central e dotados de uma
tabularidade local marcante.
4.
Baixos terraços fluviais dos vales do Pinheiros,
Tietê e seus afluentes principais. Nível de terraços flúvio
- aluviais, do tipo “fill terrace”, em geral mantidos por
cascalheiros e aluviões antigos. A mapeação dos baixos
terraços dos vales secundários tem um grau de precisão
muito relativa. Altitude média dos baixos terraços: 725 730
m.
fig.08
47
5.
Planícies aluviais do Tietê Pinheiros e seus
afluentes. Em geral dotadas de dois níveis aluviais: um, raso,
baixo e submersível, outrora afetados por cheias anuais;
outro, ligeiramente mais alto e menos encharcado, sujeito
apenas às cheias periódicas. Nível médio das planícies: 720
722m.
fig.09
48
O caráter da povoação foi inicialmente baseada no colégio dos padres da Companhia de Jesus e nos
aldeamentos indígenas sendo que, para os colonos a vila servia de residência transitória, como também
era um local para tratar de negócios, passar os fins de semana e para participar das procissões.15
Os índios não se fixavam por muito tempo e abandonavam suas casas quando estas deterioravam.
As primeiras casas mais permanentes da vila foram as dos jesuítas feitas com paus e cobertas de palha.
Aos poucos, fizeram-se as casas de taipa, cobertas de telhas, assobradadas em geral, que em sua maioria
pertenciam aos fazendeiros que as habitavam apenas na ocasião das festas. As casas possuíam poucas
janelas e tinham uma aparência branca devido ao uso da tabatinga, barro branco que existia nas
encostas do vale do rio Tamanduateí, vindo daí o nome da rua Tabatinguera 16.
No início do povoamento as ruas e caminhos não seguiam nenhum planejamento, apenas iam se
desenvolvendo de acordo com o alinhamento das habitações construídas. Os primeiros arruamentos
são a base da estrutura da povoação urbana do período colonial.
A partir do Pátio do Colégio saía o Caminho Velho do Mar e os caminhos para o sertão, que
articulavam os locais das igrejas e dos conventos, como as ruas Direita, em direção a Pinheiros, rua São
Bento, rua XV de Novembro e rua do Carmo.
O caráter pouco urbano desestimulava o planejamento dos traçados e a limpeza das ruas 17. O
calçamento só começou a ser feito entre 1781 e 1784, demorando a se realizar, principalmente, pela
dificuldade de trazer as pedras de outras localidades.
A primeira tentativa de enxugar a várzea do Carmo resultou na retificação de uma curva do rio
Tamanduateí onde, posteriormente, surgiu o largo do Hospício entre os anos de 1782 e 1786. Mais tarde,
próximo a esse local, abriria-se a rua da Figueira que seria o acesso para o futuro bairro da Mooca18.
fig.12
49
fig.10
fig.11
fig.13
50
Nesse momento, ampliaram-se os caminhos por terra. Nuto Santana relata que ia-se para o leste por
um caminho em direção a uma ponte que teve vários nomes: Tamanduateí, Tabatinguera ou Ponte do
Ipiranga, que mais tarde seria a rua do Carmo e desse local saiu uma variante da ponte que denominouse Caminho da Mooca 19, a futura rua da Mooca.
No século dezessete e mesmo no começo do século dezoito, a cidade de São Paulo se limitava
ao espaço contido entre os conventos, São Bento, Colégio do Carmo e São Francisco e o bairro da
Tabatinguera, área conhecida como o “triângulo” e limitado a leste pelo rio Tamanduateí e a oeste pelo
rio Anhangabaú 20.
Em fins do século dezesseis em diante, a zona rural ou semi - rural de São Paulo de Piratininga foi se estendendo
de forma considerável 21.
Segundo Taunay, foi nesse tempo que se fez a discriminação mais antiga que se conhece dos bairros
da cidade, o Hipiramgua, a Ponte Grande da Tabatinguera, a Birapuera, Santo Amaro e os Pinheiros.
Essas chácaras, quintas, roças e sítios espalhados pelos campos, ao redor do núcleo urbano mas às vezes
as distâncias consideráveis, é que constituíam os bairros a que faziam referências, uma vez ou outra, as atas
quinhentistas ou seiscentistas da Câmara de São Paulo. Nessas roças viviam mesmo os moradores principais da
Vila 22 .
No século XVIII a descoberta do ouro em Minas Gerais e depois em Goiás e Mato Grosso fez com
que São Paulo entrasse num período de certa estagnação, o que fez com que a região se despovoasse
e sua agricultura entrasse em declínio. Outras regiões do país também sofreram com o deslocamento
do interesse econômico da coroa portuguesa para a região das “minas gerais” e as feições agrícolas do
Brasil só reapareceram no final do século XVIII com o esgotamento das minas.23
Até o ano de 1800, a ocupação urbana de São Paulo24 mantém a configuração do período anterior,
apresentando apenas, como novidade, as obras do governo de Morgado Mateus.
A vida urbana diminui significativamente e o movimento maior nas ruas, no século dezoito, era o
das tropas de burros e das carroças que circulavam para vender água. O abastecimento da cidade de
um modo geral ficou um pouco abalado nesta época de corrida do ouro para as “minas gerais”, pois
muitos colonos deixaram de produzir alimentos para se dirigir para as áreas auríferas.25 O abastecimento
de água era irregular. O primeiro sistema adução de água foi feito pelos frades franciscanos em 1744.
A maior parte da população se abastecia nos rios Anhangabaú e no Tamanduateí que, apesar de serem
águas correntes eram poluídas pela lavagem de roupas e águas servidas que escorriam para os rios a
céu aberto. Em 1792 foi construído o grande chafariz no Largo da Misericórdia pelo mestiço Tebas,
conhecido construtor responsável por várias torres de igrejas 26 .
Esses aspectos da história de São Paulo permitem visualizar que o tempo necessário para construir
as características da metrópole atual foi muito curto e, alguns desses aspectos, principalmente os de
fatores geográficos, estavam embrionariamente na estrutura de ocupação do sítio escolhido para a sede
51
fig.14
52
da Província, e que fizeram da cidade um entroncamento de comunicações entre o litoral e o interior
através do planalto.
Nos primeiros séculos de nossa colonização, os limites geográficos entre os diversos aldeamentos e
a sede da Vila estendiam-se por um raio de 50 quilômetros, e abrangiam um território que hoje eqüivale
à maior parte da área ocupada pela metrópole.
Outro exemplo, é a organização espacial de algumas atividades econômicas na cidade, que se
mantiveram no mesmo local dos primeiros estabelecimentos comerciais. As “casinhas” do comércio
de alimentos próximas ao Pátio do Colégio localizaram-se em ruas que, ao longo dos séculos, parecem
não querer perder a vitalidade.
A Ladeira Porto Geral lembra através do seu nome, que houve um porto fluvial importante nas suas
imediações do rio Tamanduateí. Essa rua concentra ainda hoje um afluxo de pessoas que se dirigem do
centro da cidade para o terminal de ônibus localizado no Parque Dom Pedro II, que mantém o caráter
de terminal de transporte.
No período da mineração, mesmo com a relativa estagnação da cidade, São Paulo vai aos poucos
concentrando todas as funções de uma Capital, como centro político, administrativo, social e cultural.27
Essas funções não dependem do tamanho da povoação e de sua densidade demográfica, mas sim
do papel que esse local exerce na articulação de diversos locais e de outras funções. São Paulo, nesse
sentido, desenvolveu um papel de supremacia, como escreve Caio Prado, trazendo para si uma série de
dependências e inter-relações, praticamente de todo o espaço nacional, como centro de uma rede de
comunicações geográficas primeiramente, e depois centro produtor e consumidor, do qual dependia
em boa parte a vida econômica do país.
Nesse sentido, o início do século XIX marca um período novo na reorganização da economia
paulista e o processo de colonização toma o rumo do oeste, mas a capital conserva sua posição central
e continua a ser o ponto de onde se fazem as comunicações com o interior. Segundo o arquiteto Nestor
Goulart Reis Filho:
No início do século XIX todos os portos do litoral e todas as cidades do planalto junto à serra tinham papéis
semelhantes. Esse quadro foi profundamente alterado a partir de 1867. A implantação da ferrovia alterou as
relações de poder na Província de São Paulo, criando uma nova geografia. Havia então uma nova articulação dos
caminhos, favorecendo decisivamente o papel do eixo Santos - São Paulo - Campinas. Essa configuração explica
o crescimento de São Paulo. Essa polarização sofreu alguma competição no início da Primeira República, mas
a manutenção do monopólio da São Paulo Railway favoreceu os grupos econômicos já definidos. A presença de
investimentos importantes em obras no eixo Santos - São Paulo - Campinas não é uma simples coincidência28.
A ferrovia teve um papel fundamental no crescimento da cidade de São Paulo, como também de quase
todas as cidades do Estado. Até sua construção, a maior parte da população vivia no meio rural.
53
fig.15
fig.16
fig.17
fig.18
fig.19
fig.20
fig.21
fig.22
54
As ferrovias redefiniram as relações no espaço e permitiram o aparecimento de graus significativos de
concentração em alguns pontos. Mas os primeiros passos não foram simples. Em São Paulo, no século XIX, a
grande dificuldade para o desenvolvimento do interior era vencer a Serra do Mar. Os planos vagos e os projetos
bem fundamentados para construção de estradas ligando o interior com Santos chocavam-se sempre contra a
mesma barreira, a da Serra do Mar. As terras férteis, produtoras de riquezas como o açúcar e o café, ficavam no
interior, no planalto, a pelo menos 700 metros de altitude e difíceis de serem transpostas 29.
A partir da inauguração da ferrovia São Paulo Railway, em 1867, conhecida como a Inglesa ou futura
Estrada de Ferro Santos Jundiaí, e do desenvolvimento da economia cafeeira, a cidade de São Paulo
conheceu uma transformação surpreendente na sua configuração espacial.
Primeiro porque a ferrovia permitiu o acesso a áreas distantes dos arredores paulistanos e com fluidez
aos deslocamentos da população. Depois, porque os fazendeiros de café passarão a ter uma nova relação
de uso com a cidade, não mais como local de festas ou de férias, mas para fixar suas residências em
função da proximidade com o porto de Santos e como nova área de negócios para o rico comércio do
café. A partir de 1870, através da ferrovia, verifica-se o crescimento do comércio de produtos importados
consumidos pelas elites ligadas à economia do café.
As mudanças nas feições de São Paulo são assim descritas por Maria Cecília Naclério Homem,
Do aglomerado urbano, concentrado na colina histórica onde se dera a fundação da cidade, viam-se os caminhos,
os campos, os casebres e as chácaras a ultrapassar as várzeas dos rios Tamanduateí e Anhangabaú, que circundavam
o promontório, para se perderem no azul das montanhas e do horizonte. Sua arquitetura conservadora manteve
até 1873 as rótulas, os postigos e as cancelas, característicos da arquitetura colonial, quando foram proibidas pelo
Código de Posturas, que impôs a sua retirada. Com a passagem da economia de subsistência para a de grande
exportação, baseada na monocultura do café, é que São Paulo se abriu pela primeira vez de modo direto para o
mundo exterior, entrando na chamada divisão internacional do trabalho, liderada pela Grã - Bretanha. Em troca
da colocação do café no mercado internacional, São Paulo deveria adquirir bens industrializados, matérias-primas,
manufaturas, máquinas para a lavoura e a indústria nascentes, etc. 30.
Nesse período surgem as primeiras fábricas e o antigo núcleo colonial se expande para atender
o crescimento da população urbana, com a imigração subvencionada pelo Estado e a abolição da
escravatura.
Segundo Maria Ruth Sampaio do Amaral31, o governo em 1893, em seu relatório em que inspecionou
as condições dos cortiços no distrito de Santa Efigênia, estimula que se produzam habitações fora do
centro com a participação da iniciativa privada através de incentivos.
No final do século XIX e até a década de 20, a habitação popular concentrava-se em alguns bairros
vizinhos ao centro ao redor dos caminhos de saída da cidade, próximos às fábricas e das ferrovias e nas
várzeas dos rios onde os terrenos eram mais baratos e assim as chácaras mais próximas do centro foram
centro foram sendo loteadas. Predominaram as casas de aluguel. Parte dos recursos dos loteadores veio
do excedente da produção do café, que também aplicavam em especulação de terrenos, negócios de
55
fig.23
fig.24
fig.25
material de construção por ser um negócio seguro, sem riscos.
A paisagem dos bairros operários foi marcada pelas casas em série, sem jardim, geminadas, pela
presença das fábricas e dos armazéns, e pela ferrovia com suas porteiras e passagens de nível. Enquanto
isso, a classe dominante seguia a trajetória das terras altas, indo dos Campos Elíseos, Higienópolis em
direção à avenida Paulista. E a classe média se fixou nas encostas do espigão da Paulista.
A partir de 1930, a cidade já se configurava como grande centro administrativo e financeiro que dava
suporte a outras atividades urbanas.
A região da Mooca, segundo ainda Maria Ruth Sampaio do Amaral, teve logo sua expansão para
além da ferrovia, com a criação da Companhia Imobiliária Parque da Mooca, já em 1912, pertencente
à família Paes de Barros que promoveu o loteamento do Sítio das Pedrinhas, e posteriormente criou os
bairros do Alto da Mooca, Parque da Mooca e parte da Vila Prudente.
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58
Em 1925 grandes companhias como a ESSO e a FORD compram glebas ao lado da avenida Presidente
Wilson e outros grupos empresariais.
A cidade tornou-se, a partir desse momento, grande centro comercial, financeiro e industrial. A
ferrovia, as obras de infra-estrutura urbana e os novos imigrantes levaram ao surgimento de indústrias
de bens de consumo para abastecer a população urbana. Junto às fábricas surgiram os bairros operários
como a Mooca, nas áreas mais baixas, ao longo da ferrovia que se instalou nos terrenos mais altos da
várzea do rio Tamanduateí.
É importante destacar que as funções que São Paulo assume no conjunto das cidades do planalto são
características, desde o início, de uma metrópole, quando os jesuítas implantam os aldeamentos. Isso
se deve mais ao papel geopolítico que desempenha, do que pela escala que conhecemos da metrópole
a partir da década de 60, já no século XX.
Segundo Maria Ruth ainda,
Consideramos a metropolização como um processo social característico do mundo contemporâneo, segundo o
qual um conjunto de aglomerações urbanas desenvolve entre si relações tais que passam a constituir um sistema,
para o conjunto do sistema social, maior do que a simples soma de suas partes 33.
fig.34
fig.35
59
fig.36
fig.37
60
2. O bairro da Mooca na cartografia de São Paulo
A história de um lugar contribui para pensar o seu futuro e identificar sua transformação através de
um projeto que busque os elementos de permanência e os aspectos culturais que se queira preservar.
Busca-se, também, como no caso do bairro da Mooca, a compreensão de sua estrutura relacionada à
sua forma.
Os bairros operários históricos da cidade, como a Mooca, o Brás, Pari, Belenzinho, estão em processo
adiantado de degradação urbana, mas guardam um acervo significativo de sua arquitetura e traços do
urbanismo original que refletem momentos importantes da história da cidade e por isso merecem um
projeto de recuperação de seus espaços e usos vinculados à população moradora .
A população que mora e trabalha nessas áreas e que optou em permanecer próximos à área central da
cidade devem ser os herdeiros do resgate da memória coletiva depositada nos seus espaços construídos.
Sua moradia sobrevive em condições precárias nesse bairros, sem valorização do espaço público, onde
a rua é o espaço de tomar sol e de convivência, em parte, por herança cultural dos imigrantes italianos,
em parte pela falta de área no seu espaço privativo da habitação.
A história de um lugar não serve como modelo a ser copiado, mas como um código cultural do qual
se deva extrair referências para construir os espaços do futuro.
A leitura dos aspectos urbanísticos são referências e subsídios para projetar os espaços futuros de
recuperação urbanística. Assim, o estudo da cartografia, da história e do processo de uso e ocupação
urbana e dos traçados viários, bem como do parcelamento, servem para buscar o significado do lugar
ao longo do tempo.
A cartografia mais antiga da cidade restringe-se principalmente ao núcleo central mas, como o bairro
da Mooca situa-se muito próximo ao núcleo urbano inicial, os mapas do século XIX, apresentam seu
arruamento inicial.
A descrição resumida dos mapas, apresentados a seguir em ordem cronológica, mostra os elementos
da estrutura urbana, possíveis de serem identificados na cartografia levantada:
61
1810 - Planta da cidade de São Paulo de Rufino José Felizardo e Costa.
Essa planta apresenta alguns elementos da topografia da cidade, como as escarpas da colina do núcleo
colonial, o arruamento inicial com a rua São Bento e a rua Direita. Aparecem ainda o rio Anhangabaú
em direção ao Tamanduateí e os córregos do Saracura e Bexiga, seus afluentes. O rio Tamanduateí
aparece sem retificações, com duas pontes, a do aterrado do Brás, e, no canto superior direito do mapa,
encontra-se a ponte que ligaria a rua Tabatinguera com o futuro “ Caminho da Mooca “. Entre o
“Caminho da Mooca” e a margem direita do Tamanduateí se formará o bairro da Mooca.
fig.38
62
1810 - Planta Imperial da cidade de São Paulo de Rufino José Felizardo e Costa.
Essa planta apresenta mais definição nas quadras, o traçado da futura avenida Rangel Pestana e acima
a ponte para o “Caminho da Mooca”.
fig.39
63
1841 - Planta da cidade de São Paulo de C. A. Bresser.
Esse mapa apresenta mais detalhamento e o parcelamento das quadras do núcleo mais antigo, sendo
que o rio Tamanduateí aparece com um trecho retificado, o aterro da avenida Rangel Pestana encontra-se
definido e a rua do Gasômetro mostra um traçado muito semelhante ao atual. O Caminho da Mooca
é ladeado por grandes lotes ou chácaras que se desmembraram para formar o arruamento do bairro da
Mooca e do Brás, muito próximos entre si.
fig.40
64
1842 - Carta da Capital de São Paulo por José Jacques da Costa Ourique.
Nessa planta o “Caminho da Mooca” já aparece denominado com a divisão de algumas quadras e
um desenho indicando a existência de terreno em várzea. Observa-se também que o Caminho do Mar
em direção ao litoral, localizava-se muito próximo ao rio Tamanduateí e do local do futuro bairro da
Mooca, o que indica que apesar da ocupação ser ainda incipiente, provavelmente era local de grande
circulação de viajantes.
fig.41
65
1844 -1847 - Mapa da cidade e seus subúrbios atribuído a C. A. Bresser.
Este mapa apresenta uma ocupação mais densa no núcleo mais antigo em direção ao bairro da Luz e
um início de ocupação do bairro do Brás. Em direção ao bairro da Mooca encontra-se um parcelamento
maior dos terrenos. A ponte que dá acesso ao “Caminho da Mooca” aparece denominada como Ponte
da Tabatinguera e o rio Tamanduateí limita a área do futuro bairro da Mooca.
fig.42
66
1855- Mapa da Imperial cidade de São Paulo por Carlos Rath.
Esse mapa, menos detalhado quanto ao parcelamento, indica o arruamento já consolidado da
época com alguns elementos geográficos como os rios e aspectos do relevo. A Mooca aparece sem o
parcelamento mas com alguns limites em relação ao bairro do Brás, contudo, o rio Tamanduateí ainda
é o limite principal.
fig.43
67
1868 - Planta da Cidade de São Paulo atribuída a Carlos Rath.
Nessa planta já aparece parcialmente o traçado da ferrovia, alguns meandros do rio Tamanduateí, o
“Caminho da Mooca” e alguns lotes de chácaras.
fig.44
68
1800 - 1874 - Plan’ História da Cidade de São Paulo por Affonso de Freitas.
Esse plano apresenta um roteiro dos principais edifícios ou ruas históricas do núcleo mais central
da cidade. O rio Tamanduateí aparece com seu leito de meandros e com um projeto de retificação no
trecho mais próximo ao centro que seguirá delimitando o futuro bairro da Mooca.
fig.45
69
1877 - Mapa da Capital da Província de São Paulo publicado por Francisco de Albuquerque
e Jules Martin.
Essa planta apresenta o arruamento principal do centro mais antigo e consolidado bem como a
localização dos edifícios de referência histórica. No canto inferior direito da planta a indicação da ponte
que fazia a ligação com o “Caminho da Mooca”.
fig.46
70
1881 - Planta da Cidade de São Paulo levantada pela Companhia Cantareira e Esgotos por
Henry B. Joyner.
Apresenta um maior detalhamento do parcelamento e adensamento do núcleo central mais antigo, o
antigo “Caminho da Mooca” aparece já com a denominação de rua da Mooca, e apesar da cartografia
ser mais recente com o desenho da ferrovia Santos - Jundiaí, ainda não aparece o parcelamento do
bairro.
fig.47
71
1890 - Planta da Capital do Estado de São Paulo e seus arrebaldes desenhada e editada por
JulesMartin
Nessa planta a rua da Mooca aparece com seu traçado até a ferrovia, bem definido. O Rio Tamanduateí
ainda não aparece retificado no trecho da Mooca, mas já aparecem a rua Piratininga e a rua Luis Gama
com traçados bem definidos e com acessos à Mooca.
fig.48
72
1891 - Nova Planta da Cidade de São Paulo editada por U. Bonvicini e V. Dubugras.
Essa planta apresenta uma área de arruamento mais extensa e os limites do bairro da Mooca se
configuram com maior definição. O arruamento do bairro se concentra na sua porção central entre a
rua Luís Gama e a rua Piratininga, principal via de ligação com o bairro do Brás. O rio Tamanduateí
ainda não se encontra canalizado no trecho do bairro da Mooca.
fig.49
73
1893 - Planta do Novo Canal do Tamanduateí da Comissão de Saneamento do Estado de
São Paulo.
Essa planta apresenta o projeto de retificação e canalização do rio Tamanduateí em toda a extensão
dos bairros do Pari, Brás, Cambucy e Mooca. O arruamento da Mooca aparece parcialmente, entre a
rua Piratininga e Luís Gama.
fig.50
74
1893 - Planta da Bacia do Tamanduateí da Comissão de Saneamento do Estado de São
Paulo.
Esse mapa mostra a bacia do rio Tamanduateí e o traçado da ferrovia indicando a mancha urbana
contínua ocupada e alguns bairros mais distantes como a Penha e a Vila Mariana.
fig.51
75
1894 - Planta da Cidade de São Paulo segundo E. Reclus referente à década de 1890 a 1900.
Essa planta apresenta o arruamento do núcleo urbano ocupado e no local do bairro da Mooca
observamos somente a porção central da área parcelada. Algumas vias como a rua do Gasômetro, a
avenida Rangel Pestana, a rua Piratininga, a rua da Mooca, a rua do Lavapés e rua Luís Gama, apresentamse com seu traçado bem definido como são nos dias atuais.
fig.52
76
1897 - Planta Geral da Capital de São Paulo organizada por Gomes Cardim.
Nessa planta, a porção leste da cidade aparece com seu arruamento se desenvolvendo ao longo da
Estrada de Ferro Central do Brasil, da avenida Celso Garcia e próximo à rua da Mooca, cujo bairro
ainda não se encontra totalmente parcelado. Nesse momento a canalização do rio ainda não havia se
efetivado.
fig.53
77
Fim do século XIX - Projeto do primitivo Metrô de São Paulo executado por Dr. Philippe
Gonçalves.
Nessa planta esquemática do final do século passado destacam-se os traçados das ferrovias do Norte
no sentido leste e a Santos - Jundiaí chamada de “Inglesa”. A localização da fábrica da cervejaria Bavária
no bairro da Mooca é indicada na planta. A linha projetada do primitivo Metrô acompanha o traçado
do rio Tamanduateí, onde hoje está projetada a linha do VLP, Veículo Leve sobre Pneus.
fig.54
78
1930 - Plano de Avenidas da Cidade de São Paulo de Francisco Prestes Maia.
O traçado das ruas do bairro da Mooca aparece consolidado e nota-se uma ligação com os outros
bairros do Brás e do Cambuci. Aqui a avenida do Estado aparece projetada como foi construída e se
manteve até a década de 60.
fig.55
79
1930 - Mapa Topográfico do Município de São Paulo executado pela empresa Sara Brasil S/A.
Nessa planta ainda não existia a avenida Alcântara Machado e a ligação com o bairro do Brás é direta
e sem barreiras físicas. A ocupação e o parcelamento do bairro estão praticamente consolidados com
apenas alguns vazios nas quadras mais próximas à avenida do Estado, é a planta cadastral mais completa
em termos de levantamento do período.
fig.56
80
1954 - Levantamento Aerofotogramétrico do Município de São Paulo executado pela Vasp
Aerofotogrametria S. A. e Serviços Aerofotogramétricos Cruzeiro do Sul S /A.
Essa planta já apresenta a avenida Alcântara Machado construída até a linha férrea, o que mudará
consideravelmente a ligação do bairro da Mooca com o bairro do Brás, e derrubará parcialmente os
dois bairros. Aparecem os traçados das linhas de bonde que circulavam entre o centro e a região. O
conjunto do antigo IAPI Várzea do Carmo construído em 1943, já aparece nessa planta.
fig.57
81
1962 - Mapa da ocupação da área edificada da cidade de São Paulo e arredores da Região
Metropolitana de Jurgen Langenbuch.
A mancha da ocupação urbana contínua dos limites de São Paulo encontra-se praticamente consolidada
com o crescimento de vários núcleos da região metropolitana. O bairro da Mooca já é parte integrante
do chamado anel central da cidade, totalmente ocupado e consolidado.
fig.58
82
1971 - Mapa da área central do IGCSP - Instituto Geográfico e Cartográfico do Estado de
São Paulo
Nessa planta aparece a indicação dos edifícios de grande porte. No canto direito inferior destacamos
a área de estudo do bairro da Moóca, vizinho a este aparece o conjunto residencial do antigo IAPI
Várzea do Carmo e ainda algumas pontes sobre o Tamanduateí
fig.59
83
Os bairros mais antigos como a Mooca encontram-se consolidados no desenho urbano da cidade, mas
em processo avançado de decadência de sua qualidade de vida. A análise mais detalhada da evolução do
desenho urbano do bairro da Mooca permite o conhecimento mais localizado daquele parcelamento, da
estrutura fundiária que originou o bairro e sua evolução ao longo dos anos, dentro de uma perspectiva de
recuperação do processo de degradação dos espaços de acordo com as necessidades de seus moradores e
do conjunto da cidade, no entanto, valorizando a memória de sua história e os elementos permanentes.
fig.60
84
fig.61
85
3. O processo de ocupação da cidade e a definição do desenho do bairro
da Mooca.
O desmembramento das chácaras, o caminho da Mooca e o rio Tamanduateí
O caminho da Mooca já existia em 1841. Duas chácaras localizavam-se naquelas imediações: a
Chácara de Dona Ana Machado e a Chácara do Osório, antiga Chácara Menezes.32 A configuração
atual do sistema viário do bairro vai se consolidar com a lei n.º 4787 de 1955, que cria a avenida Radial
Leste, e com a lei n.º 4881 de 1956, que define o novo traçado do canal do Tamanduateí. Essas avenidas
foram construídas após o Plano de Avenidas de Prestes Maia que iria transformar o perfil urbanístico
da cidade.
Entre 1828 e 1872 ocorreu um certo ressurgimento econômico na cidade após o ciclo do ouro. No
contexto da economia do café surgem a Academia de Direito e a ferrovia e inicia-se o processo de
industrialização.
fig.62
86
o núcleo urbano inicial que se restringia ao “triângulo” se ampliou em algumas direções e fez com isso recuar
as chácaras cujo retalhamento formaram ruas, largos e construções de casas, necessárias devido ao crescimento
da população 34.
Os bairros adquiriram feições mais urbanas e, onde antes haviam sítios e casas de campo, abriramse várias ruas por imposição do poder municipal. Surgem nessa época a rua 25 de Março na várzea do
Tamanduateí, a General Carneiro, ligando a várzea e a zona central, a rua Formosa, ligando o Acu com
o Piques e inicia-se o parcelamento do bairro do Brás.
Em 1829, a Câmara Municipal preocupa-se em definir os limites da cidade e determina a colocação
de um portão separando a zona urbana da rural, construído na ponte do Acu. A zona rural, a partir
daí, seriam as ricas freguesias de Santa Ifigênia, Santa Cecília e Consolação.
Em 1840 o largo de São Bento, o largo do Carmo e sua ladeira, eram os limites da cidade. A margem
esquerda do Tamanduateí era quase deserta com poucas casas na rua Tabatinguera. A rua do Hospício,
que fará posteriormente a ligação com o “Caminho da Mooca”, ainda não existia.
fig.63
87
Somente em meados do século passado é que se desenvolveu o bairro do Brás, cercado pelas águas
do rio Tietê e do Tamanduateí. Por ele se fazia, durante muito tempo, o trajeto para a Penha, com a
chácara da Figueira no início do percurso, e a do Tatuapé no final. Essa estrada foi refeita em 1864 por
ser o trajeto mais importante para o Rio de Janeiro.
Outros bairros surgiram do desmembramento das chácaras, como a chácara da Glória em 1852 além
do córrego do Cambuci.
Em 1900 Alfredo Moreira Pinto relembra que, o Brás, a Mooca e o Pari eram insignificantes, com algumas
casas de sapé que medrosamente se erguiam no meio de matagais espessos. Outros bairros se mantinham
desertos em meados do oitocentismo: a Estrada Vergueiro, os Campos Elísios e o próprio Chá. As chácaras foram
se desmanchando, sobretudo a partir de meados do oitocentismo, com a expansão da cidade em várias direções
e a urbanização de algumas zonas suburbanas. Em áreas onde antes só havia chácaras, com suas plantações de
hortaliças, de frutas e de chá, foram se desenhando ruas. É verdade que ruas ainda com jeito mais de estradas:
com casas muito isoladas umas das outras, habitadas por gente pobre ou servindo de sede para repúblicas de
estudantes 35.
Em 1854, o interesse pela atividade imobiliária urbana resultou na suspensão da distribuição de
terras urbanas. Essa medida foi muito criticada na Câmara Municipal até 1856, com o argumento de que
impedia que se incrementasse a atividade construtiva na cidade, em franca expansão devido à construção
da ferrovia que atraía mais gente para São Paulo.
É certo que os terrenos compreendidos nos limites marcados na doação feita por Martim Afonso não são
suficientes para as necessidades dos habitantes da cidade, e por isso pede a Câmara que além desse se lhe
concedam os que forem precisos para perfazerem uma légua em redor da cidade, considerando como ponto
central o largo da Sé 36 .
Segundo Canabrava 37, as chácaras paulistanas eram valorizadas pela atividade agrícola que elas
pudessem oferecer e este aspecto era ressaltado nos anúncios de ofertas desses imóveis entre os anos
de 1885 e 1890.
Talvez o característico mais importante da chácara, na aurora do período republicano, é que ela serve
habitualmente como residência da família, propriamente da família aristocrática paulista e, em geral, da família
de recursos.
Sob essa base, podemos indicar os seguintes tipos de chácaras, no passado, que nos parecem os fundamentais.
1. A chácara, simples residência da família, com o seu jardim e suas árvores frutíferas, descrita, por exemplo,
como tendo “casa muito bem construída e primorosamente acabada, com gás, água de primeira ordem, banheiro,
repuxos, quiosques, e todos os acessórios de uma habitação para família de tratamento, em terreno de 27 metros
de frente sobre mais de 100 de fundo, fechado de muros e grades de ferro, com grande jardim inglês talvez o mais
rico da capital, e extenso pomar de árvores frutíferas, todas já com fruto, entre as quais jaboticabeiras e laranjeiras
de várias qualidades (rua Piratininga). Muitas vezes consta uma nascente de água potável, mais freqüentemente
88
a cocheira, o galinheiro, às vezes o chiqueiro, e em geral os quartos para empregados e o capinzal. Mas tudo o
que se cultiva destina-se exclusivamente ao abastecimento da família. Muitas vezes, o seu caráter como residência
de luxo é acentuado pela indicação da existência de “casa nobre com todos os melhoramentos”, e até de rico
mobiliário. Na grande maioria dessas chácaras exclusivamente residenciais, a casa propriamente, é mais modesta,
mas as árvores de fruta e o capinzal, são complementos indispensáveis.
2. A chácara onde a vinha aparece como cultura dominante, indicando objetivos de exploração comercial.
Um exemplo desse tipo, temos na chácara do Marco da Meia Légua, “com bonde a porta, tendo grande jardim
na frente com três repuxos, casa para numerosa família, tendo mais de quinhentas árvores frutíferas, grande
parreiral para colher mais de dez pipas de vinho, casa de lagar com utensílios indispensáveis para sua fabricação,
pasto nativo, extenso bambuzal, capinzal, estrebarias para quinze animais, quartos para criados, abundância de
água, tendo cinco cisternas, um córrego, água da Cantareira e gás”. Outra, possuía “cômodos para negócio, toda
arborizada, produzindo as parreiras 45 pipas de vinho anualmente. Tem capim para animais, etc.”. A “Quinta da
Vinha”, no largo da Concórdia ( Brás ), possuía “ um parreiral para 20 pipas de vinho, muitas árvores frutíferas
como jaboticabeiras, macieiras, pereiras, ameixeiras, pecegueiros, etc. e muitos pés de camélias das mais variadas
formas e cores”.
3. A chácara onde o cultivo do solo está orientado sobretudo para a produção de flores, de mudas e de flores,
de plantas ornamentais e de mudas de árvores de fruta, com objetivo comercial. A famosa Chácara das Flores, no
Brás, possuía “dois magníficos jardins de flores, dois grandes pomares, plantação de videiras dando de 4 a 6 pipas
de vinho, grandes viveiros de mudas das melhores qualidades de uvas para a mesa, mais de 30 mil exemplares de
mudas viçosas de árvores ou arbustos de ornamento ou frutos de todas as qualidades”. Na mesma chácara havia
“plantas e árvores de sombra, de ornamento e de frutas, sendo os exemplares crioulos, muito viçosos, de um,
dois, três e mais metros de altura, árvores de lei, com linda coleção de magnólias, a grande tulipeira da Virgínia,
carvalho da Europa, acácia, cedro, e grande plátano do Oriente e muitas outras de primeira qualidade”, e se
aceitavam “encomendas de bouquets e de artefatos de flores naturais”.
4. Encontra-se também a atividade agrícola associada a uma produção industrial baseada no solo fabricação
de telhas e tijolos. Nessas chácaras, a olaria encontra-se associada ao pomar de árvores frutíferas em geral e até
da videira para a fabricação do vinho. Nas imediações do Monumento do Ipiranga existia em 1989 uma chácara
com “cocheira para quatro animais, galinheiro e cômodo para carro ou carroça, poço com magnífica água,
elevada a altura de cinco metros por bomba de alta pressão, olaria completamente montada com todos os seus
acessórios e utensílios como sejam carroças, dez animais, ferramentas e casas de morada dos trabalhadores...
magnífica água potável, nascente nos terrenos da mesma chácara...40 mil pés de uva de diversas qualidades 400
árvores frutíferas 38.
Até 1872, muitas chácaras ainda estavam intactas nos bairros de Santa Ifigênia, do Bom Retiro, do
Brás, da Consolação, da Liberdade, do Cambuci, da Mooca, do Pari, da Barra Funda, da Água Branca,
de Higienópolis e da Vila Buarque.
89
A ferrovia
A história da Mooca se confunde com a própria história da cidade nos aspectos que redefiniram o
perfil da cidade neste século no rumo à industrialização.
No século XIX, os caminhos que irradiavam da cidade ganharam movimento com o crescimento
do comércio, principalmente de açúcar, e passaram a ter importância a localização dos ranchos, das
hospedarias e as pastagens na beira deles. Cresceu o movimento no Caminho do Mar e surgiram empresas
especializadas neste tipo de viagem.
Nas ruas da cidade era grande o movimento das tropas de burro e também de carros de boi. As
carruagens eram raras e só em 1865 apareceram os carros de aluguel no largo da Sé.
O funcionamento da primeira ferrovia marcou o início da decadência das tropas, dos caminhos e
até das povoações e dos bairros que funcionavam em função do tráfego de passagem.
A planta de 1800 - 1870 de Afonso de Freitas mostra os pousos que serviam ao tráfego de passagem
localizados em muitos pontos da área central, na ponte do Ferrão, no Lavapés, na antiga estrada de
Santos, na morraria do Cambuci, onde se abriu a rua Tamandaré, no Bexiga, no Guaré, no Tatuapé,
adiante do Belém, antes da Penha e o da Água Branca.
As estradas não perderam importância, talvez o Caminho do Mar tenha sofrido alterações pois era
impossível adaptá-lo para veículos e abriu-se uma nova picada. Alguns viajantes citam a existência dos
dois caminhos entre o porto e o planalto.
Os viajantes que chegavam de Santos eram avistados da igreja do Carmo, olhando-se em direção
ao cruzamento do riacho do Lavapés, assim denominado, pois ali, os viajantes lavavam os pés antes de
chegar à cidade, vindos da estrada de Santos.
Apesar do Caminho do Mar situar-se em topografia bastante acidentada, subiam do litoral por ele,
em 1858, cerca de 25.000 bestas e mais de duzentos carros por mês.
Em 1867 com a construção da ferrovia desde Santos até Jundiaí, passando pela capital da província,
o Caminho do Mar e o caminho para oeste ficaram quase abandonados. Observa-se, a partir daí, a
decadência temporária de locais como o Ipiranga, São Bernardo e a Freguesia do Ó, antigos pontos
de passagem para quem subia da Serra do Mar. Por outro lado, cresce a procura pelos pontos onde
passava a estrada de ferro.
Em 1865 surgiram os carros de praça, tílburis, pois havia melhorado a pavimentação das ruas e
serviram para acessar a ferrovia e os limites da cidade. Os carros estacionavam na Praça da Sé e os
limites dos percursos eram as chácaras do capitão Benjamin na estrada de Santo Amaro e do Conselheiro
Falcão, na Mooca; as igrejas do Brás, da Luz, e da Consolação; o Campo Redondo, o largo do Arouche,
o Morro Vermelho e o Lavapés. Em 1872, o bonde substituiu as diligências que faziam integração com
a ferrovia no bairro da Luz.
90
fig.64
fig.66
fig.65
fig.67
91
4. A imigração italiana, a greve de 1917, parte da cultura da Mooca.
O bairro da Mooca possui um significado histórico não só para a cidade de São Paulo, mas para a
história da luta de classes no Brasil. Foi ali que aconteceram as manifestações mais significativas da greve
geral de 1917, que teve um papel marcante no desenvolvimento e organização da luta dos trabalhadores
brasileiros.
Os italianos constituíram a maior parte da classe operária dos primeiros tempos da industrialização
do país e com eles vieram as idéias dos anarquistas influenciados pelo movimento operário europeu e
pela revolução soviética. Em São Paulo essas idéias vão culminar com a grande greve geral de 1917. Os
acontecimentos da greve tiveram a participação e a força dos operários de toda a região. As principais
movimentações políticas aconteceram nos bairros operários da Mooca, Brás e Belenzinho.
O enterro do jovem operário, no dia 11, foi o marco de violentas manifestações contra a polícia, representando
o momento em que a greve se generalizou por toda a cidade. O cortejo fúnebre saiu do Brás, verdadeiro reduto
da classe operária, atravessou o aterro do Carmo e deslocou-se até o Cemitério do Araçá, passando pelo centro
da cidade e enfrentando o forte aparato repressivo 38.
A greve de 1917 foi um marco na história do movimento operário do país, pois paralisou
completamente a capital paulista.
O estopim da greve deu-se no Cotonifício Crespi, na rua dos Trilhos, na Mooca, uma das indústrias
pioneiras da região, cujo edifício hoje é ocupado por várias pequenas indústrias.
O motivo inicial da greve foram reivindicações isoladas por melhorias salariais e de condições de
trabalho no Cotonifício Crespi, localizado na rua dos Trilhos, na Mooca. Posteriormente, a greve
estendeu-se para a Cia. Antártica, localizada no mesmo bairro e a Tecelagem Mariângela no Brás.
A adesão à greve ampliou-se para o interior do estado, e chegou a envolver 50.000 trabalhadores.
Houve repressão por parte do governo estadual que pediu reforços para o governo federal e as lutas
foram prolongadas, nas ruas e nos bairros operários que:
tornam-se verdadeiras fortalezas de resistência dos grevistas: barricadas e esconderijos impenetráveis espalhamse pelos cortiços e becos tortuosos da Lapa, Brás, Mooca, Barra Funda, Ipiranga, Cambuci e Belenzinho. A
burguesia industrial paulista, setor mais astuto das classes dominantes, percebeu logo que a pura repressão não
daria conta do conflito. Formou-se, então, uma Comissão de Jornalistas ( todos da grande imprensa ) que serviria
de mediadora entre operários e patrões. Os empresários aceitam uma série de reivindicações 39.
Paula Beiguelman assim descreve o movimento de 1917 nos bairros operários da capital:
O grande movimento de 1917 se inicia em meados de junho, no importante Cotonifício Crespi, na Mooca. Os
grevistas, cerca de 2000 operários, entre os quais mulheres e crianças, “exigiam um aumento de 20% nos seus
92
salários, sob alegação de que a vida se tornava, dia a dia, mais difícil para o proletariado, sendo os lucros da fábrica
avultados e certos”. A resposta da direção às reivindicações é o fechamento da fábrica por tempo indeterminado
(ESP 20.6.1917 e 30.6.1917).
Em julho, entra em greve a estamparia Ipiranga, da firma Nami Jafet e Companhia, reivindicando 20% de
aumento para o trabalho normal e 25% para o executado no turno da noite. O industrial tenta uma contrapartida
na base de 17%, mas ante a recusa dos operários termina por ceder (ESP 5.7.1917 e 7.7.1917). Durante a greve,
os operários da Jafet, no Ipiranga, haviam recebido apoio da Liga da Mooca, que realizara uma manifestação de
solidariedade.
A greve na Crespi prosseguia, promovendo os operários uma distribuição de folhetos que recomendavam o
boicote dos produtos, por suspeitarem que a fábrica , embora paralisada, não tivesse interrompido sua produção,
apenas realizando-a de forma clandestina em outro estabelecimento (ESP 6.7.1917). Agora é a Liga Operária
do Ipiranga que vem apoio aos operários da Mooca, divulgando o boicote e solicitando cooperação das Ligas
Operárias de Minas, Rio Grande do Sul e do Interior de São Paulo (ESP 6.7.1917).
Ainda na Mooca, entram em greve os operários da Cia Antárctica Paulista. No Brás, manifestantes investem
contra um caminhão da Casa Gamba, sendo presos dois deles, que teriam destruído seis sacas de farinha de trigo
(ESP 8.7.1917).
A crise na Crespi prosseguia. A 8 de julho, ao anoitecer, grande números de operários, chegando à porteira
da Mooca, na direção da fábrica, prorrompe em vaias e “morras” à polícia. Os soldados de cavalaria em serviço
de ronda prendem dois menores, enquanto os demais trabalhadores continuam a vaiar, atirando pedras contra
os cavalarianos, “ chegando a vir em defesa dos soldados de cavalaria os guardas cívicos que se achavam de
serviço nas imediações”. Apesar da debandada, são presos vários operários (ESP 9.7.1917). Ato contínuo, o Dr.
Thyrso Martins, delegado geral, depois de conferenciar com o comandante da Força Pública, manda fechar a
Liga Operária da Mooca, fazendo ainda prender alguns diretores dessa entidade (ESP 10.7.1917).
Por sua vez, os representantes das associações e grupos proletários da Capital e subúrbios, reúnem-se no
salão Germinal, com o fim de “prestar apoio aos operários que presentemente, em conseqüência da carestia
de vida, se acham em greve”. Nessa ocasião é decidida a constituição de um Comitê de Defesa Proletária, que,
como primeira atividade, emite um protesto contra o fechamento da Liga Operária da Mooca. È aprovado ainda o
encaminhamento de um apelo à Confederação Operária Brasileira, com sede no Rio de Janeiro, e às Associações
e grupos proletários, tanto do Interior do Estado de São Paulo como os demais Estados (ESP 10.7.1917).
Informado da extensão da greve a outras fábricas, o Dr. Thyrso Martins tomara já “todas as providências no
sentido de garantir a liberdade de trabalho e de assegurar a ordem” nos estabelecimentos fabris que estivessem
funcionando (ESP 10.7.1917). Entrementes, no dia 9, um grupo, portanto estandartes conclamando ao boicote
dos produtos da Crespi, dirige-se à fábrica de tecidos Mariângela, das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo,
formando piquetes (ESP 10.7.1917). Nos tumultos com a polícia, diante da Mariangela, ficam gravemente feridos
a tiros Adolpho Meyer e o sapateiro José Martinez, de 21 anos de idade, que vem a falecer no dia 10, na Santa
Casa (ESP 11.7.1917).
A essa altura já se podia presumir que o movimento assumiria “as proporções de uma parede geral” ( ESP
11.7.1917). Já haviam aderido a fiação e tecelagem S. Simão, no Belenzinho, a fábrica de tecidos Penteado, a
Estamparia Matarazzo, a Cia de Fósforos Fiat Lux, a fábrica de parafusos Santa Rosa, etc. (ESP 11.7.1917). Na
Mariangela, dado o segundo sinal, chegaram a entrar na fábrica uns 300 operários, enquanto os outros promoviam
manifestações de rua.
93
.... A greve se generaliza não apenas no setor fabril, como também no de serviços.
.....No dia 11 imenso cortejo acompanha o préstimo de Martinez até o Araçá, sob intenso policiamento.
Terminada a cerimônia, os operários retornam à cidade, reunindo-se em grande comício no Páteo da Sé.
Simultaneamente, grupos de operários percorriam as ruas do Brás, impondo indignados o fechamento das
fábricas em funcionamento.
.....À mediação da Comissão de Imprensa entre os industriais e o Comitê de Defesa Proletária segue-se
uma audiência da Comissão com o Presidente do Estado, em Palácio, presente também o Secretário da Justiça.
Entre outras providências, o governo se comprometia a fazer cumprir a legislação em vigor sobre o trabalho dos
menores, e estudar medidas restritivas no concernente ao trabalho noturno de mulheres e menores; a procurar
minorar a carestia, exercendo “sua autoridade, oficiosamente, junto ao grande comércio, para os gêneros de
primeira necessidade” (ESP 16.7.1917). O Comitê de Defesa Proletária convocava o operariado para comemorar
a vitória (ESP 16.7.1917). No dia 16, realizam-se comícios na Lapa, Ipiranga e no Brás. No comício do Brás ,
na praça da Concórdia, calculavam-se 5000 pessoas presentes, revezando-se na tribuna os representantes das
diversas concorrentes proletárias; o Dr. Thyrso Martins se incumbia de dirigir pessoalmente o policiamento dessa
manifestação. Nos três comícios é votada uma ordem do dia, deliberando a retomada do trabalho nas indústrias
que houvessem aceito o acordo promovido pela Comissão de Imprensa 40.
Esse relato demonstra a vida cheia de acontecimentos históricos que encontra-se submersa na poeira
e poluição dos bairros operários de São Paulo, onde a solidariedade dos trabalhadores criou condições
de enfrentar e resistir à exploração do capital nas fábricas, pela intensiva produção para substituição das
importações na primeira metade do século XX, durante a primeira guerra mundial.
A imigração italiana trouxe outras influências para São Paulo, como na arquitetura, que se incorporou
no gosto paulistano. São Paulo foi considerada uma cidade italiana e ainda hoje abriga a terceira maior
colônia italiana do mundo, sendo sobrepujada apenas por Buenos Aires e Nova Iorque.
Segundo Rogatto 41, na Itália recém - unificada com sérios problemas econômicos, sociais e políticos,
fez com que as autoridades italianas vissem na emigração uma saída para a “manutenção da paz social”.
...já pelos idos de 1840, com a iminente extinção do tráfico negreiro, os problemas da imigração européia e
da colonização voltam a gravitar nos centros de preocupação da elite nacional.... A situação de São Paulo era
particularmente preocupante, pois florescia no oeste paulista uma lavoura que declinava na região do vale do
Paraíba: o café 42.
Para São Paulo, onde a palavra colono não queria dizer pequeno proprietário, mas operário agrícola, dirigiramse 70% daqueles aproximadamente 1.500.000 de italianos que aqui chegaram até o final da década de vinte. Num
primeiro período 80% vinha do norte da Itália, depois de 1901, predominam os do sul, para os índices se equilibrarem
depois da 1ª Guerra. No início a maioria se destinava ao interior, mas alguns já se fixavam na capital, onde iam
se dedicar ao comércio, ao artesanato, à prestação de serviços e mais adiante ao trabalho industrial 43.
Os italianos tendencialmente se distribuíram pela cidade segundo suas regiões de proveniências, procurando
reconstruir suas redes de amizades e relações pessoais, os napolitanos no Brás, os calabreses do Bexiga, os vênetos
do Bom retiro. Esta espécie de vizinhança étnica permitia que se mantivessem unidos em colônias,
94
procurando reelaborar aqui os termos sócio culturais da aldeia de origem, como as festas católicas em louvor aos
específicos santos de devoção: San Gennaro, San Vito Martire, Madonna Achiropita, Santo Emídio, etc. 44.
Os italianos pobres continuaram como colonos nas fazendas do interior ou desapareceram na massa de
assalariados urbanos, dentre estes últimos se encontrava grande parte da liderança do movimento operário,
anarquistas, socialistas, anarco-sindicalistas que ganhava forças concomitantemente ao avançar da nossa
industrialização 45.
Hábitos culturais e festas se mantém à maneira italiana, como a tradicional festa de San Gennaro,
que ocorre todos os anos na rua de mesmo nome e que já se tornou atração turística em São Paulo.
As construções, com uso de varandas com detalhes floreados com o capricho dos mestres de obras
italianos, são encontradas em imóveis da Mooca, localizados nas ruas Dom Bosco e Luís Gama. Edifícios
de dois ou três pavimentos de uso residencial multifamiliar também apresentam esses detalhes.
Segundo Carlos Lemos, a presença italiana contribuiu para a transformação das técnicas construtivas
para que São Paulo deixasse a técnica da taipa de pilão e passasse a construir com tijolos.
Como não poderia deixar de ser, a arquitetura paulista também se repetiu à exaustão. Já foi muito estudada
essa arquitetura dos bandeirantes, que chegou incólume ao ciclo do açúcar, nos finais do século XVIII e que,
ataviada tardiamente à maneira pombalina, alcançou o café no início da segunda metade da centúria seguinte.
Na verdade, essa arquitetura baseada nas limitações da taipa de pilão, a única técnica possível em região sem
pedras e sem indústria de cal, assim conservou-se porque também os programas de necessidades não se alteravam
substancialmente.
A vida cotidiana nas casas paulistanas logo anteriores à vinda dos imigrantes ainda apresentava o ranço
colonial. Dentro das velhíssimas taipas, as famílias circulavam na semi-obscuridade dos cômodos mal - iluminados
pelas pequenas janelas que a terra socada das paredes permitia, tendo como centro de confraternização geral da
varanda. Essa varanda, quase sempre, era o cômodo mais arejado e iluminado da casa, era onde todos ficavam,
principalmente depois das refeições e muitas delas , de modo especial no interior de clima quente, não passavam
de um profundo alpendre todo aberto e contíguo à cozinha, olhando para o quintal, onde ficava a casinha, ou
secreta, onde se obrava em cima de um barraco que chamavam de sumidouro 46.
O modo de construir refletiu-se nas plantas das edificações e nas soluções de apropriação do solo
urbano, com a ocupação dos lotes se organizando em função de economias nas construções e na
disponibilidade das técnicas.
A técnica construtiva local e a tradição gregária vinda da Europa com coloridos árabes, deram às casas urbanas
uma peculiaridade que se não foi verdadeiramente só paulista, em São Paulo, devido à escassez de recursos
técnicos, assumiu características de certo interesse. Estamos falando das casas necessariamente geminadas.
Encostadas umas às outras porque havia interesse na continuidade dos telhados devido a quase que impossível
independência, ou individualidade das coberturas, já que não havia materiais e modos permitindo panos de
telhados vertendo água sobre as divisas ou panos convergentes em águas furtadas, ocorrência sempre evitada.
Daí, quase todas as casas com plantas retangulares 47.
95
As técnicas disponíveis até o século XVIII refletiam as limitações do período colonial e uma certa
estagnação da cidade, somente com a economia do café e com a construção da ferrovia é que esse
cenário vai se modificar,
Construções de pintura pobre na cidade sem tintas: casas caiadas, brancas, amareladas ou ocres e só três
cores nas esquadrias e aros de envazaduras: azul anil, castanho avermelhado do óxido de ferro e o verde a partir
de sais de cobre. Pelo que vimos, tudo muito modesto e, até mesmo, um pouco triste ao meio da neblina que
permanentemente encobria a cidade, a cidade da garoa, como se dizia.
O dinheiro do açúcar ituano não teve reflexos em São Paulo e só com o café é que a paisagem urbana passou
a sofrer alterações porque, aos poucos, a população começou a crescer: da condição de capital somada à posição
estratégica do sítio urbano intermediando as áreas de produção cafeeira a partir de Campinas com o porto de
Santos, resultaram atividades antes desconhecidas, principalmente aquelas relacionadas com o alto comércio e
novas indústrias de subsistência, consubstancialmente inéditos programas de necessidades e, portanto, novas
construções.
Por volta de 1860, começam a surgir as primeiras novidades, inclusive nas construções e nos critérios de
planejamento das moradias. Imigrantes alemães são pioneiros no uso de tijolos nas construções em geral,
iniciando, assim, a grande batalha para superar a tradicional taipa de pilão.
No final da década, é inaugurada a estrada de ferro dos ingleses, que levava o café de Jundiaí até Santos e que
trazia fundamentalmente material de construção, máquinas e ferramentas. Imigrantes também.
Foi o começo do Ecletismo chegado com o novo saber fazer que os recém aportados europeus trouxeram
em sua bagagem. Esse foi o ponto crucial do desenvolvimento de São Paulo, quando o seu patrimônio cultural
viu-se repentinamente sujeito a inesperadas alterações, mercê da superposição de elementos alheios ao elenco
vernacular. Principalmente no que diz respeito à arquitetura, às edificações e ao guarnecimento das casas.
Logo, logo as tradicionais construções de taipa começaram a ser substituídas por elegantes obras de alvenaria,
levantadas em estilos somente vistos em gravuras chegadas da Europa e erguidas por técnicos de fora a partir
de materiais importados 48.
A chegada dos imigrantes encontrou São Paulo despreparada para recebê-los, principalmente no
que diz respeito à habitação e essa necessidade se tornará um grande negócio para o capital excedente
da economia do café e investimentos na produção de novos loteamentos será uma característica de São
Paulo, que influirá na sua conformação espacial até os dias atuais.
Carlos Lemos ressalta esse problema da habitação no final do século XIX e início do século XX,
A questão da moradia é que foi realmente muito séria e de difícil solução. A cidade estava literalmente
despreparada para receber tanta gente e vamos encontrar o último quartel do século XIX mostrando em São Paulo
uma variedade incrível de habitações, cujos programas jamais seriam imaginados no tempo da taipa no perímetro
urbano podemos até dizer que a senzala foi o caminho da solução da moradia, sendo transportada para a cidade
para dar abrigo ao italiano aqui arribado.
A essa senzala urbana deu-se o nome de cortiço. Senzala na forma, agora abrigando trabalhadores assalariados.
Como sabemos, cortiço originariamente significa a moradia coletiva das abelhas, a colméia cujos os alvéolos
96
repetem-se à exaustão.
Naturalmente a primeira idéia que ocorreu aos capitalistas empreendedores foi a construção de centenas
e centenas de cômodos enfileirados, todos iguais entre si, destinados cada um deles a uma família distinta,
independentemente de cogitações a respeito do número de filhos ou agregados. A cada conjunto desses cômodos
deu-se o nome de cortiço 49.
97
Notas
1
SAIA, Luís - Notas para a teorização de São Paulo, Revista Acrópole n.º 295, pg. 209.
2
PRADO JúNIOR, Caio. Evolução Política do Brasil e Outros estudos. A Cidade de São Paulo. - Geografia e
História. - O Fator Geográfico na Formação e no Desenvolvimento da Cidade de São Paulo - Publicado em
Geografia (órgão da AGB), n.º 3, set. 1935 - 4ª ed., São Paulo, Brasiliense, 1963. pg. 95 a 115.
3
PRADO JúNIOR, Caio op. cit.
4
SAIA, Luís. op. cit.
5
PRADO JúNIOR, Caio op. cit.
6
PETRONE, Pasquale. Aldeamentos Paulistas. São Paulo, Edusp, 1995. - pg. 44.
7
PRADO JúNIOR, Caio op. cit. pg. 103.
8
PRADO JúNIOR, Caio op. cit. pg. 105.
9
PETRONE, Pasquale - op. cit. pg. 46.
10
PETRONE, Pasquale - op. cit.
11
PRADO JúNIOR, Caio op. cit. pg. 109.
12
PRADO JúNIOR, Caio op. cit. pg. 111.
13
PRADO JúNIOR, Caio op. cit.
14
MARCÍLIO, Maria Luiza. A Cidade de São Paulo. Povoamento e População, 1750-1850. São Paulo, Pioneira,
Edusp, 1974.
15
BRUNO, Ernani da Silva. História e Tradições da Cidade de São Paulo. Rio de Janeiro, José
vol.
16
BRUNO, Ernani da Silva. op. cit.
17
BRUNO, Ernani da Silva. op. cit.
18
BRUNO, Ernani da Silva. op. cit.
98
Olympio, 1954. 3
19
BRUNO, Ernani da Silva. op. cit. pg. 213
20
BRUNO, Ernani da Silva. op. cit.
21
BRUNO, Ernani da Silva. op. cit. pg. 184
22
BRUNO, Ernani da Silva. op. cit. pg. 186
23
PRADO JúNIOR, Caio op. cit.
24
SAIA, Luís. op. cit.
25
BRUNO, Ernani da Silva. op. cit.
26
BRUNO, Ernani da Silva. op. cit.
27
PRADO JúNIOR, Caio. Evolução Política do Brasil e Outros Estudos. A Cidade de São Paulo. - Geografia e
História - Contribuição para a Geografia Urbana da Cidade de São Paulo - 4ª ed., São Paulo, Brasiliense, 1963.
pg. 117 a 146.
28
REIS FILHO, Nestor Goulart. São Paulo e Outras Cidades. Produção Social e Degradação dos Espaços Públicos.
São Paulo, Hucitec, 1994. pg. 26.
29
REIS FILHO, Nestor Goulart. op. cit. pg. 27.
30
HOMEM, Maria Cecília Naclério. O Palacete Paulistano e Outras Formas Urbanas de Morar da Elite Cafeeira.
São Paulo, Livraria Martins Fontes Editora, 1996. pg. 83.
31
AMARAL DE SAMPAIO, Maria Ruth. O Papel da Iniciativa Privada na Formação da Periferia Paulistana. In
Espaço e Debates revista de Estudos Regionais e Urbanos NERU, Ano XIV 1994 n.º 37
32
HOMEM, Maria Cecília Naclério. op. .cit., pg. 83.
33
AMARAL DE SAMPAIO, Maria Ruth. O Papel da Iniciativa Privada na Formação da Periferia Paulistana. In
Espaço e Debates revista de Estudos Regionais e Urbanos NERU, Ano XIV 1994 n.º 37
34
BRUNO, Ernani da Silva. História e tradições da cidade de São Paulo. Rio de Janeiro, José Olympio, 1954. 3 vol.
Pg. 555.
35
idem, pg. 575.
99
36
idem, pg. 577.
37
MARANHÃO, Ricardo e Mendes Jr., Antônio. Brasil História. Texto e Consulta. República Velha. 4 ª ed. São
Paulo, Hucitec, 1989, vol. 3. pg. 319.idem, pg. 320.
38
CANABRAVA, Alice Piffer. “As chácaras paulistanas”. In: Anais da Associação dos Geógrafos
Brasileiros (1949-1950). São Paulo, IV, I, pp. 97-104, 1953.
39
Idem, pg.
40
Idem, pg.
41
BEIGUELMAN, Paula. Os Companheiros de São Paulo. TESES 3, Política. Global Editora, São Paulo, 1981.
pg. 83
42
ROGATTO, Geraldo Matheus . Achiropita, Fettuccine e Vinho. Sobre a italianidade e a colônia italiana de São
Paulo. In: De Boni, Luís Alberto (org.). A presença italiana no Brasil. Vol. II. Porto Alegre, escola Superior de
Tecnologia; Turim, Fondazione G. Agnelli, 1990.
43
idem, pg. 412.
44
idem, pg. 413.
45
idem, pg. 414.
46
idem, pg. 414.
100
Capítulo III
A paisagem e o contexto
urbano atual da Mooca
101
1. Localização e limites
A área escolhida está delimitada pela Estrada de Ferro Santos - Jundiaí e as seguintes vias: avenida
Alcântara Machado; rua Patrimônio Mônaco (paralela à ferrovia); rua Serra do Paracaima; avenida do
Estado e rua da Figueira, junto ao Parque Dom Pedro II.
A Mooca localiza-se no vetor da cidade em direção à região leste e faz parte do conjunto de bairros,
com fortes características residenciais, que circundam o centro.
Atualmente, pode ser considerado como um bairro central e não como um bairro da região leste. A
construção, na década de 50, da avenida Radial Leste e, recentemente, a construção do viaduto da rua
da Mooca sobre a ferrovia, alteraram a acessibilidade da área, aproximando-a do centro.
A identificação dos limites do bairro, assim como de outros bairros da cidade, exige alguns cuidados,
pois, no Município de São Paulo, a noção de bairro não é uma unidade territorial oficial. A unidade
jurídica é o distrito e a unidade administrativa é a administração regional.
A forma como a população identifica os limites do “seu” bairro, varia conforme os valores, o uso
e os costumes dos moradores.
fig.01
102
Até a década de 90, a Mooca e o Alto da Mooca constituíam-se em dois distritos distintos. Hoje,
a parte do antigo distrito da Mooca, onde está situada a área desse estudo, pertence ao distrito do
Cambuci, e o restante ao atual distrito da Mooca. Essa nova divisão dificulta a discriminação e utilização
das informações oficiais disponíveis referentes aos distritos.
O mercado imobiliário identifica a Mooca como sendo a área entre a ferrovia e o entorno da avenida
Paes de Barros, que fazem parte do atual distrito da Mooca, procurado, principalmente, segundo as
notícias de lançamentos imobiliários na região, por descendentes de antigos moradores do bairro que
desejam se fixar na região.
A Mooca nessa pesquisa delimitou-se segundo o uso corrente da denominação por parte de antigos
moradores do bairro, que identificam a parte oeste da ferrovia como Mooca e a parte leste como Alto
da Mooca. Dessa maneira, no discorrer deste trabalho, a área de estudo será chamada Mooca.
O centro é ainda uma das áreas mais bem servidas pela rede de transporte coletivo, fator decisivo
para a localização das atividades numa metrópole como São Paulo e ainda concentra o grande pólo
de comércio e serviços da cidade. Informações da Bolsa de Imóveis de São Paulo mostram que 37%
dos escritórios concentram-se no centro, apesar da tendência do deslocamento para o vetor sudoeste
da cidade.
A oferta de infra-estrutura atrai, para as áreas centrais degradadas, setores populares que procuram
aluguéis mais barato e a redução das despesas com transporte entre trabalho e moradia. Essa população
instala-se nos cortiços das áreas mais antigas da cidade, em antigos casarões abandonados, cujo entorno
encontram-se degradados pela mudança de uso decorrente do deslocamento dos setores das classes
dominantes para áreas mais valorizadas.
Mais recentemente, também as grandes empresas que funcionavam no centro deslocam-se para
outras regiões, dentro ou fora do município, deixando ociosos edifícios de escritórios que acabam se
destinando a outros usos. Esse processo, no entanto, não diminuiu o papel que o centro ainda exerce
na oferta de empregos, abrigando usos tradicionais do campo institucional, como a localização dos
fóruns mais importantes da área jurídica e a sede do governo municipal.
fig.02
2. A horizontalidade da paisagem edificada
O levantamento de campo realizado no ano 2000 permitiu a identificação de 4 setores de tipologia
quanto à ocupação predominante dos imóveis, segundo critério de tamanho e atividades desenvolvidas.
Os setores foram denominados conforme mapa a seguir:
fig.03
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fig.04
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Tipologia 1 setor “orla das grandes áreas” (AZUL) onde predomina a tipologia de imóveis de
grande porte de uso industrial ou de serviços. Localiza-se na orla da avenida do Estado e da ferrovia.
Tipologia 2 setor “interior misto” (AMARELO)- onde predomina a mistura de tipologia de imóveis
de médio porte e o parcelamento de pequenos lotes residenciais em renque ou vilas. Localiza-se no
miolo do bairro entre a rua da Mooca e a rua Odorico Mendes com dois pequenos bolsões próximos
à rua da Figueira.
Tipologia 3 - setor “corredores” (VERMELHO) caracteriza-se como corredor de intensa
atividade econômica, comercial, industrial e de serviços. Apresenta-se subdividido em 4 áreas ao longo
das principais vias do interior do bairro: rua da Mooca, rua Ana Nery, rua Barão de Jaguara e rua Luiz
Gama.
Tipologia 4 setor “orla de médio porte” (ROXO) - apresenta imóveis de médio porte com mudança
freqüente de uso comercial e de serviços. Localiza-se na avenida Alcântara Machado.
fig.05
fig.06
105
A horizontalidade predomina na área com edifícios de até dois pavimentos. Os edifícios de três a
seis pavimentos significam uma parcela pequena e geralmente são de uso misto com predomínio de
comércio ou serviço no térreo e residência nos andares superiores.
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Os edifícios com mais de seis pavimentos são pontuais e localizam-se próximos à rua da Mooca e
avenida Alcântara Machado e não constituem uma massa compacta de verticalização semelhante ao
centro da cidade, distante a menos de um quilômetro.
Na direção norte, no eixo da ferrovia, avista-se a Serra da Cantareira, numa abertura da paisagem
rara na área central.
Próximo à ferrovia e à avenida Presidente Wilson, encontram-se vários edifícios fabris como o da
cervejaria Antárctica, antiga Bavária, no local desde 1905 que merecem ser preservados. É o caso dos
conjuntos arquitetônicos das ruas Almeida Lima e Sacramento Blake a leste da ferrovia
No início da avenida Radial Leste, a tipologia predominante de edifícios é de uso misto, residencial,
comercial ou de serviços, e os edifícios mais altos não possuem mais que seis pavimentos.
As características dos imóveis indicam tratar-se de construções sólidas que mudaram de uso
recentemente, como o sacolão localizado onde antes havia um supermercado de informática. As
pichações nos edifícios mostram a falta de manutenção dos mesmos. O uso predominante é de serviços
de manutenção de veículos.
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Verificou-se no levantamento de uso do solo, um grande número de imóveis construídos disponíveis
para alugar ou vender, o que demonstra a tendência de esvaziamento da área central. Foram contabilizados
79 imóveis nessa condição com a seguinte distribuição: 39 imóveis pequenos residenciais (lotes
unifamiliares); 35 imóveis de médio porte (de 600 a 2500 m2) e apenas 5 imóveis de grande porte (com
mais de 2500 m2). Identificou-se 9 terrenos vazios ou miolos de quadra de antigas vilas residenciais
demolidas.
Observa-se uma ociosidade da infra-estrutura existente como na rua Patrimônio de Mônaco onde os
galpões não apresentam aberturas para a via, uma importante ligação do bairro com a estação intermodal
Brás não oferece segurança para os transeuntes.
As grandes áreas industriais criam espaços “vazios” e uma sub-utilização das vias, ao mesmo tempo
em que se tornam locais desagradáveis para os pedestres, que devem percorrer longas distâncias para
atingir qualquer ponto de interesse da área.
A utilização de imóveis de médio porte para serviços é possível graças ao remembramento de lotes
pequenos.
Outra característica da ocupação da Mooca é a existência de vilas residenciais de vários tipos
distribuídas em quase todos os setores do bairro.
O parcelamento predominante não possui recuos frontais ou laterais dos lotes, uma característica
essencialmente urbana de um bairro construído com a finalidade de ser local de moradia e trabalho da
classe operária. As exceções são os conjuntos residenciais da rua Andrade Reis e rua Conselheiro João
Alfredo.
Os únicos edifícios públicos existentes na área são uma escola estadual de ensino fundamental e
médio (Escola Estadual de 1º e 2º Graus Professor Antônio Firmino de Proença), construído em
1946, na rua da Mooca esquina com rua Itapira; uma creche municipal na rua Ana Nery e um hospital
municipal na rua da Figueira.
As principais características de uso e ocupação do solo urbanos na Mooca são:
- indústrias ainda em funcionamento;
- predomínio da paisagem horizontal e parcelamento original que manteve-se nos últimos 50 anos;
- a área parcialmente encortiçada em função da proximidade com o centro e oferta de
empregos;
- degradação contínua das edificações observada nos últimos oito anos;
- descaracterização dos edifícios;
- predominância de uso misto residencial, serviços de manutenção de veículos e consertos
domésticos;
- a avenida do Estado é um corredor de tráfego intenso onde circulam várias linhas de ônibus
ruidoso e degradado, o “tampão” do rio e a linha do “fura-fila” formam uma barreira intransponível
entre bairros;
- densidade alta de ocupação, sem arborização, circundada por tráfego pesado e desvalorização
do solo urbano apesar da proximidade com a área central;
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- ocupação de várzea, com pequena declividade a partir da avenida Radial Leste em direção ao
rio Tamanduateí;
- a degradação do bairro e o encortiçamento dificultam a identificação e aproximação com os
atuais moradores e seu cotidiano;
- alto nível de poluição devido ao tráfego pesado;
- acessibilidade obstruída pelas obras viárias, apesar da proximidade da área central;
- espaços públicos exíguos e desqualificados como a estação de trem da Mooca;
- os pontos de encontro e lazer são os bares de esquina, a calçada e a rua;
- a descaracterização das edificações esconde a história da presença italiana no bairro.
- o alagamento de parte da várzea do Tamanduateí.
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3. Morar na Mooca, a vizinhança e a rua
A característica essencial do modo de morar na Mooca é a coexistência do uso residencial com outros
usos como comércio, serviços e indústria.
A moradia se apresenta de várias formas: as “vilas operárias”, as “casas em série”, os cortiços, as
ocupações de imóveis abandonados e habitação multifamiliar em edifícios de uso misto.
Os mapas antigos da década de 30 e 50 mostram um parcelamento típico de uso habitacional maior
do que se encontra hoje na área. Parte dos lotes de uso residencial foram remembrados para o uso
comercial ou de serviços. Algumas vilas foram demolidas para transformarem-se em estacionamentos
ou oficinas mecânicas.
A existência de inúmeros exemplos de antigas “vilas” de uso residencial e de “casas em série”, é
uma característica do período da formação dos bairros operários que fazem parte do desenvolvimento
industrial da cidade e representam a memória do cotidiano que deve ser valorizada como patrimônio
histórico e cultural, da vida da população apesar de não se caracterizarem como monumentos.
O conjunto arquitetônico das “casas econômicas em série”, projetadas pelo arquiteto Gregori
Warchavchik, construído em 1929 na rua Barão de Jaguara esquina com Odorico Mendes, são um
exemplo dessa memória que mantém praticamente suas principais características originais e merece
ser preservado.
Essa característica dos bairros centrais como moradia da classe operária vem apresentando uma
tendência de esvaziamento notada em quase todos os distritos da área central e que se confirma também
na Mooca.
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As vilas
O levantamento de uso do solo aponta a existência de 20 vilas na área, sendo que 14 delas já apareciam
no mapa de 1930.
A vila é a principal característica habitacional do bairro. A sua maioria apresenta bom estado de
conservação, mas sua arquitetura está descaracterizada por uma série de modificações nas edificações.
A preservação do uso se explica pela inegável qualidade do desenho urbano dela resultante.
A definição de vila, de acordo com relatório da EMURB de 1978, realizado em função do impacto
da implantação da linha leste - oeste do Metrô, diz o seguinte:
Agrupamentos de habitações originalmente semelhantes, com acesso através de um espaço comum de uso
local. Caracterizam um tipo de ocupação de solo urbano, definido pela ocupação de áreas internas às quadras do
tecido urbano através do conjunto de pequenos lotes com acesso a uma área de uso comum que pode apresentar
diferentes tipos (travessa ou rua particular, viela, corredor, viela com pátio). Cada domicílio ocupa um imóvel com
lote subdividido, sendo que os jardins, pátios ou corredores de acesso, são comuns a todos os domicílios 1.
fig.40
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Ainda segundo este relatório, as vilas foram classificadas em 4 tipos, todos exemplificados na Mooca
segundo a descrição a seguir:
Rua particular - via de ligação entre ruas locais do sistema viário - 2 na área de estudo.
Viela via de acesso único ou que se ramifica findando em paredes cegas de fundo de lote ou pátios
internos - 5 na área de estudo.
Viela com pátio via de acesso que se abre em espaço maior gerando um pátio de uso comum - 12
na área de estudo.
Corredor via com largura reduzida tendo um dos lados ocupado por habitações e o outro como
limite do lote - 5 na área de estudo.
Outra tipologia de habitação são as “casas em série”, representadas pelos três conjuntos localizados
na rua Andrade Reis, na rua Conselheiro João Alfredo e Barão de Jaguara, os quais já aparecem nos
mapas antigos da área, e não tiveram modificadas suas características de uso habitacional e tampouco
sua tipologia arquitetônica.
A alta densidade do espaço construído do bairro não permitiu a reserva de áreas de lazer para os
moradores e por isso o pátio interno das vilas e as ruas são os espaços adotados para as brincadeiras
infantis e os encontros da vizinhança.
fig.51
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Os cortiços existentes na área, num total de 56, estão localizados nas principais vias do bairro e
encontram-se deteriorados em imóveis unifamiliares de pequeno porte.
Parte deles, aproximadamente 10, constituem um conjunto encortiçado de médio porte, com mais de
600 m2, ou localizados próximos a imóveis fechados à venda ou para alugar, que apresentam potencial
para futuros projetos habitacionais de interesse social.
A Mooca não dispõe de áreas livres para novos projetos, mas encontram-se outros espaços potenciais,
como miolos de quadras e galpões de fábricas desativadas, ociosos ou usados como depósitos.
É importante destacar a coexistência de vários usos no mesmo setor urbano, como a antiga fábrica
da Antárctica, que permaneceu na área por quase cem anos e que pode ser adotada como uma diretriz
para a elaboração de novos projetos de renovação de bairros históricos.
Em vários trechos da área, como na rua Mem de Sá, no trecho entre a avenida Alcântara Machado
e rua da Mooca, o uso misto de serviços e moradia em cortiços acontece em algumas edificações mais
antigas de dois pavimentos. Vários são os edifícios de interesse arquitetônico para preservação, como
o localizado na rua Coronel Bento Pires esquina com a rua Wandenkolk.
fig.66
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Na rua Barão de Jaguara, esquina com Odorico Mendes, há um conjunto de casas populares em série,
parcialmente encortiçado e com uso misto, de tipologia geminada, tijolo aparente, originalmente com
dois pavimentos, atualmente modificado com o terceiro piso, e que merecem preservação.
Na rua Odorico Mendes observa-se um processo de deterioração urbana acelerada, fruto da sua
localização na cota mais baixa da várzea do Tamanduateí, tendo sofrido inúmeras inundações. A tipologia
de ocupação permanece a mesma há trinta anos, com casas unifamiliares encortiçadas, vilas residenciais
e pequenos edifícios de uso misto, com térreo ocupado por indústria e os pavimentos superiores de
uso residencial, com influência da arquitetura italiana da época.
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Na rua da Mooca localiza-se o maior edifício residencial do bairro em bom estado de conservação,
com recuos e áreas de lazer pouco comuns na região. Os edifícios residenciais verticais e as residências
unifamiliares não possuem recuos e estão dispostos no alinhamento das calçadas, demonstrando ter
sido construídos em período mais recente em relação à formação do bairro.
A construção do viaduto na rua da Mooca, sobre a ferrovia no cruzamento com a avenida Presidente
Wilson, provocou a desocupação de alguns imóveis de interesse arquitetônico que hoje encontram-se
parcialmente abandonados e degradados.
Casas da Barão de Jaguara
Esse conjunto merece ser preservado, pelo seu caráter inovador pela época e representatividade do
exemplo da arquitetura dos anos 20. O conjunto foi construído originalmente como casas de aluguel
para classe média.
Esse projeto de casas em série de Gregori Warchavchik, apresenta uma solução para a esquina, cuja
edificação está perfeitamente integrada ao conjunto arquitetônico das residências, e foi projetada com
a finalidade específica de uso para comércio local, mantendo, até hoje, o uso original.
Os detalhes das aberturas das casas, portas e janelas, bem como aspectos do revestimento externo,
permanecem conforme o projeto original.
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4. Gregori Warchavchik
Gregori Warchavchik, que projetou e construiu as casas da rua Barão de Jaguara, nasceu em Odessa,
na Rússia, em 1896, durante os conflitos da Revolução Bolchevique, não conseguiu terminar seu curso
superior de arquitetura na sua terra natal, concluindo-o na Itália no início da década de 20.
Veio para o Brasil em 1923 e sua arquitetura destacou-se pela liberdade e autonomia de conceitos
estéticos, pela valorização da função em detrimento dos ornamentos comuns nos edifícios da época.
Defendia que cada tempo deveria criar a sua arquitetura e não copiar o passado. São suas as palavras:
“na arquitetura tudo depende da época e cada época tem suas exigências”.
Em 1925, Warchavchik lança um manifesto mostrando as possibilidades dos novos materiais
que surgiam para a arquitetura, como os metais e estruturas de alumínio. Ressaltava que a indústria
automobilística fazia milhares de veículos por dia e, no entanto, para se fazer uma casa operária levavase de três a quatro meses. Afirmava que a necessidade do futuro impunha que se industrializasse a
produção de casas operárias.
O arquiteto moderno deve amar a sua época, com toda as suas grandes manifestações do espírito humano
como a arte do pintor moderno, compositor moderno ou poeta moderno, deve conhecer a vida de todas as
camadas da sociedade. Tomando por base o material da construção de que dispomos, estudando-o e conhecendo-o
como os velhos mestres conheciam sua pedra, não receando exibi-lo no seu melhor aspecto do ponto de vista
de estática, fazendo refletir em suas obras as idéias de nosso tempo, a nossa lógica, o arquiteto moderno saberá
comunicar à arquitetura um cunho original, cunho nosso, o qual será talvez tão diferente do clássico como este
o é do gótico. Abaixo as de corações absurdas e viva a construção lógica, eis a divisa que deve ser adotada pelo
arquiteto moderno. ( Correio da Manhã, 1.º de Novembro de 1925 correção da ortografia original ) 2.
Em 1927, casa-se com Mina Klabin e constrói a primeira casa modernista no Brasil, hoje conhecida
como “Parque Modernista”, situada na rua Santa Cruz, bairro de Vila Mariana, tombada pelo
CONDEPHAAT e pertencente ao Governo do Estado de São Paulo. No mesmo bairro, na rua Afonso
Celso e rua Dona Berta, constrói o conjunto de casas econômicas para a classe média.
É responsável por inúmeros projetos modernistas no Rio de Janeiro, onde trabalhou com Lúcio
Costa e, em São Paulo, onde se destacou nas exposições da Bienal.
Segundo Pietro Maria Bardi:
O encontro entre Warchavchik com Lúcio Costa, em 1931, foi portanto um dos fatos que possibilitaram
a tomada de posição da arquitetura contemporânea brasileira, com o convite aos professores de tendências
modernas para a Escola de Belas Artes, entre os quais se encontrava Warchavchik, e com os acontecimentos que se
seguiam...Não tenho dúvida de quais foram as repercussões, no Brasil, do Congresso de La Sarraz, do Manifesto
de Sant’ Élia, da obra de um Frank Lloyd Wrigth e de outros acontecimentos internacionais; mas conforme
consta, o Manifesto de Sant’ Élia passou completamente desapercebido, como o teria sido o de La Sarraz2, se
132
Warchavchik, que já pertencia ao CIAM, não o tivesse recebido, traduzido e distribuído aos profissionais. Isto
quando já tinha construído a sua primeira casa modernista em Vila Mariana e mais algumas outras. No que se
refere a Frank Lloyd Wrigth, poucos no Brasil, naquele tempo conheciam a sua obra 3.
Warchavchik inspirou-se nas teorias de Le Corbusier, em sua arquitetura com composições baseadas
em formas elementares, no uso exclusivo do ângulo reto, na regularidade do conjunto arquitetônico, dos
detalhes tanto em planta quanto em elevação. No entanto, teve dificuldades de encontrar condições
materiais para seguir todos os princípios de Le Corbusier, como o alto custo do concreto armado e,
por isso, a casa da rua Santa Cruz foi construída com tijolos.
Em sua obra considerou as tradições do Brasil e adotou, nos fundos da casa da Santa Cruz, a grande
varanda coberta com telhas canal, adotada desde o período colonial. O projeto foi bem aceito e a
imprensa garantiu-lhe espaço para divulgar suas idéias.
Além disso, Warchavchik recebeu elogios dos expoentes da Semana de 22, como Tarsila do Amaral:
Warchavchik foi o primeiro que implantou desassombradamente a arquitetura moderna no Brasil, numa luta
corajosa contra um ambiente hostil: guerra por parte dos colegas, dificuldade para encontrar material apropriado
à nova arquitetura, incompreensão por parte do público... Foi o primeiro que abriu caminho à arquitetura nova
no Brasil e o seu nome passou a ser um símbolo. Muita gente , ao referir-se a qualquer construção moderna, fala
no estilo Warchavchik, assim como na Europa Le Corbusier é o padrão. ( Diário de São Paulo, 11 de dezembro
de 1938 ) 4.
E sobre a casa modernista escreveu Mário de Andrade:
A tendência da arquitetura moderna é para evitar toda superposição decorativa e fazer dos próprios elementos
essenciais a uma habitação, os motivos de beleza arquitetônica .É a composição dos volumes ( aposentos ), a
distribuição das superfícies ( paredes ), das aberturas ( janelas, portas ), e o caráter do material, que originando
a forma e o jogo da luz, são os motivos legítimos de beleza arquitetônica. A residência Warchavchik representa
muito bem este conceito da Arquitetura moderna. O seu conjunto é harmonioso e sereno como deve ser o de uma
residência familiar. O cimento armado está expresso pela nitidez e arrojo das formas, permitindo, a presença
constante do jardim exterior. Este representa aliás, uma criação interessantíssima. Os grandes lisos e planos,
emoldurados por cactos e palmeiras, são de uma originalidade esplêndida e dão ao conjunto uma nota feliz de
tropicalismo e disciplina 5.
E em outro artigo do dia 5 de abril de 1930, Mário de Andrade examina a importância e o significado
da “Exposição duma Casa Modernista”, destacando a amplitude que essa arquitetura conferia à própria
noção de arquitetura:
Uma das coisas que mais distinguem a Arquitetura das outras Belas-Artes é a sua libertação do individualismo.
Nós falamos no Inferno de Dante, nas Niñas de Velasquez, no Discóbolo de Mirão. E mesmo quando a gente
133
fala nos Lusíadas, ou na Ronda da Noite, o autor dessas obras está funcionando em nossa complexidade estimativa
das coisas, não só como parte integrante, mas como parte primeira e absolutamente fundamental, e até valorizadora
delas. E quando a gente escuta u’a música ou olha num quadro bonito, logo pergunta sem querer: De quem é?
Ora, com a arquitetura verdadeira, isso em geral não se dá. Ninguém lembra de perguntar quem fez a sublime
abside de São Pedro e é quase uma dissonância de erudição, dizer-se em público os nomes dos arquitetos dos
palácios florentinos. E se examinarmos bem a nossa complexidade estimativa, percebemos que, incontestavelmente,
para a totalidade numa obra arquitetônica, o nome de seu autor não funciona mesmo quase nada. Funcionará
apenas, e posteriormente, como uma curiosidade. Já o mesmo não se dá quando a Arquitetura falseia os seus
princípios e vira totalmente uma Bela-Arte desinteressada. São chavões de conversa artística “a colunata de
Bernini”, a “Ópera de Garnier”, “Torre Eiffel”. Muitos modernistas poderão refugar aqui me vendo atacar a Torre
Eiffel, porém se essa tentativa arrojada de Exposição Universal pode ter conseqüências úteis à Engenharia, ela
foi e será sempre uma falsificação arquitetural. Os destinos que lhe deram já não são dela e outros dispositivos
arquitetônicos os preencheriam melhor.
Nós atualmente ainda estamos falando nas “casas do engenheiro Warchavchik” como falamos na casa
do engenheiro fulano de tal, apenas porque Gregori Warchavchik foi o primeiro e é o único a construir casas
modernistas em São Paulo. Mas que mais três engenheiros principalmente construindo casas assim aqui e o
nome de Warchavchik desaparecerá das dele. Ficará sempre honradíssimo em nossa história arquitetônica, está
claro, mas isso é refinamento. Para o mundo e para nossa sensação, as casas Warchavchik serão apenas.... casas
de ninguém: Arquitetura 6.
O passo decisivo da arquitetura moderna brasileira, segundo Yves Bruand 7, será dado por Lúcio
Costa inspirado em Le Corbusier, mas, sem dúvida, a ação pioneira de Warchavchik preparou o caminho,
contribuindo para a formação dos jovens arquitetos do Rio de Janeiro.
Lúcio Costa escreveu na década de 50 e, mais tarde na década de 60 sobre o significado da atuação
de Warchavchik.
Conquanto o movimento modernista de São Paulo já contasse desde cedo com a arquitetura de Warchavchik (
o romantismo simpático da casa de Vila Mariana data de 1928), aqui no Rio somente mais tarde, depois da tentativa
frustrada de reforma de ensino de Belas Artes, de que participou o arquiteto e que culminou com a organização
do salão de 1931, foi que o processo de renovação já esboçado aqui e ali individualmente, começou a tomar pé e
organizar-se. (Lúcio Costa, “Arquitetura Brasileira, Série dos “Cadernos de Cultura”, publicados pelo Ministério
de Educação, Rio de Janeiro, 1952) 8.
O meu depoimento não será demasiado longo. Ninguém jamais contestou a meu bom amigo Gregori
Warchavchik a prioridade de haver construído as primeiras casas modernas do Brasil, nem que tais casas foram
edificadas primeiro em São Paulo e depois aqui no Rio de Janeiro. (“Tribuna de Imprensa”, Rio de Janeiro, 25-26
de junho de 1960 ) 9.
Em 1929, Warchavchik projeta e constrói as casas econômicas em série na Mooca, na rua Barão de
Jaguara 10.
Warchavchik teve o mérito de ter concebido a arquitetura como um todo, pensando nos objetos que
134
deveriam compor o ambiente do interior das edificações.
A harmonia entre as diversas artes plásticas sempre foi preconizada pela arquitetura, que Vitrúvio com justiça,
apelidou de “a princesa das artes”. Esta compreensão do sentimento de unidade e de harmonia perdeu-se na
época do Romantismo que acabou favorecendo uma atitude mais individualista e, por conseqüente, eclética: e foi
somente no início do século que a atenção dos arquitetos se dirigiu para este assunto e começou a reconsiderar
a importância da unidade entre todas as partes que integram uma obra de arquitetura. Em São Paulo tivemos
exemplos de obras de arte de acordo com a idéia da unidade entre as diversas artes plásticas: muito se deve pela
divulgação da idéia da unidade e da introdução da arte contemporânea em geral, a Lasar Segal, o pintor, escultor
e gravador de alto gabarito, cuja consciência se recusou a “ priori” a qualquer compromisso; a Warchavchik, não
menos obstinado e convencido de sua missão, a Mário de Andrade, o papa do modernismo no Brasil 11.
O ambiente de efervescência cultural de São Paulo na década de 20 reflete-se no artigo publicado
por Anísio Teixeira no jornal A Tarde, da Bahia, que insere a importância da arquitetura moderna no
contexto de um Brasil novo que começava a surgir:
A tenuidade insignificante do passado brasileiro, que punha em nossa imaginação aquele complexo de desalento
pessimista , que procurávamos corrigir com trapos literários, se esvai como uma projeção para o futuro. Somos a
terra mais nova do mundo. E essa é a impressão que nos dá São Paulo. A terra a se desatar em culturas cada dia
mais amplas e mais variadas e a população a crescer e a receber constantemente contingentes de todo o mundo,
- dão ao visitante essa impressão de formação e de pioneirismo.
A quase exaltação com que se busca uma expressão brasileira particular e própria, por outro lado, convence-nos
de que há um grande esforço para dar consciência à obra que se está fazendo. Em arte e literatura por exemplo,
o que se vai dando em São Paulo é singularmente documentativo deste momento. Um espírito de liberdade e de
adaptação estão permitindo o aparecimento de qualquer coisa nova e própria. A pintura de Tarsila do Amaral, a
música de Villa Lobos, a arquitetura de Warchavchik, são esforços deliciosos para não se ser nada senão Brasil
e esse Brasil novo que está surgindo.
A obra é a da colaboração com a terra nova. Nessa terra nova todos somos estrangeiros, é simples questão
de recuar no tempo. Por isso, tanto será “brasileira” a obra do filho do português, como o filho do polonês ou
italiano ou japonês. Warchavchik é russo e nunca tive a impressão mais forte da casa brasileira que eu entendo
com o meu espírito moderno e livre de filho da América, como quando visitei a sua residência de linhas fortes
e claras, construída toda de cimento, ferro e vidro, dentro de uma moldura de gigantescos cactos nacionais. A
obra era brasileira porque era um consórcio inteligente entre o espírito do homem e as características da terra.
(Extraído de uma entrevista de Anísio Teixeira ao jornal A Tarde da Bahia, e reproduzido em São Paulo no Correio
Paulistano em 30 de novembro de 1929) 12.
Assim as casas de Warchavchik, mesmo tendo sido construídas com o interesse comercial de casas
para aluguel, trouxeram elementos de uso e ocupação do solo urbano que estão sendo retomados
conceitualmente no que diz respeito à relação do edifício com a rua, e a mistura de usos na mesma
localidade.
135
Talvez essas premissas não tenham sido utilizadas intencionalmente mas guardam um desenho do
espaço urbano que sintetizam a característica urbanística mais forte da cidade industrial que se construía
em São Paulo e que se reproduzem como linguagem aqui e ali nos bairros operários ao redor do centro.
5. O rio Tamanduateí e a Mooca
A Mooca localiza-se na várzea do rio Tamanduateí, ao longo da ferrovia Santos Jundiaí. Este rio
faz parte da bacia do alto Tietê e é um dos principais cursos d’água do Município de São Paulo. Sua
várzea encontra-se completamente ocupada pelo bairro.
Desde 1848 são realizadas intervenções no rio Tamanduateí, como retificações e canalizações, mas
essas obras não propiciaram a integração do rio com suas áreas adjacentes.
O rio Tamanduateí possui um significado histórico relacionado aos primórdios da colonização
portuguesa e à ocupação inicial do núcleo urbano de nossa cidade, e as intervenções sobre ele deveriam
conter esta dimensão histórica e paisagística.
Propor formas de convivência do rio com a cidade é fundamental não só pelo seu caráter histórico,
mas porque a sua recuperação poderá significar a recuperação de grande parte dos bairros que se situam
às suas margens, formando um colar ao redor do centro da cidade.
A barreira física, de aproximadamente três metros de altura, formada pelo “tampão” sobre o rio
Tamanduateí, impede a travessia, a visualização e a integração entre a Mooca e o bairro do Cambuci.
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Há quarenta anos a paisagem no entorno do rio era a de uma avenida arborizada, com pistas de
tráfego de veículos de paralelepípedo, solução esta mais condizente com as necessidades de drenagem
urbana do que o recobrimento asfáltico. A visão do canal do rio era semelhante aos canais da cidade
de Santos, projetados por Saturnino de Brito, que até hoje oferecem um ambiente aprazível para quem
por eles transita.
As pontes existentes na avenida do Estado possibilitavam a transposição do rio e a ligação da Mooca
com o Cambuci. O “tampão” sobre o rio acabou com esta paisagem e não solucionou os problemas
das enchentes e da poluição das águas.
Sobre o leito tamponado do rio encontra-se projetada e parcialmente executada pela Prefeitura do
Município de São Paulo a linha do VLP, Veículo Leve sobre Pneus, transporte de média capacidade que
percorrerá a avenida do Estado no trecho Parque Dom Pedro II - Sacomã, em via segregada.
Segundo o projeto inicial do VLP, o gabarito vertical do veículo será de 6 metros incluindo a rede
aérea e ocupando uma faixa de rolamento de 2,70 metros de largura.
Esse projeto, se executado como previsto, comprometerá de forma definitiva a possibilidade de
recuperação da várzea do Tamanduateí como área de lazer integrada ao centro próximo.
Análise recente do sistema realizada pela EMURB, para revisão do projeto, concluiu que o mesmo,
idealizado pela gestão Paulo Maluf, está superdimensionado para a demanda. Os recursos previstos
para a conclusão das obras são insuficientes, e os dados do EIA-RIMA apontam que a demanda nos
horários de pico são de 400 usuários/hora - pico/sentido, compatível com atendimento por sistema
de ônibus 12.
Portanto, verifica-se que esta é mais uma obra inadequada para o eixo do rio Tamanduateí.
Os imóveis comerciais da avenida do Estado, na altura da rua Barão de Jaguara, estão em mau
estado de conservação, com aparência decadente, talvez pela perspectiva de novos usos ou das possíveis
desapropriações em função do projeto do VLP.
Atualmente, a avenida do Estado funciona apenas como uma solução viária de tráfego intenso de
veículos no sentido sudeste centro, contribuindo para aumentar a poluição e a degradação da região.
A falta de calçadas largas, de arborização, e os muros dos grandes imóveis, originariamente industriais,
afasta e traz insegurança aos pedestres que circulam pela área.
Na década de 60, a avenida do Estado era densamente arborizada e servia de acesso a pé ao Parque
da Independência e Museu do Ipiranga, áreas de lazer muito usadas pela população dos bairros vizinhos,
cujo trajeto era circundado por vários campos de várzea para o lazer popular nos fins de semana.
A Praça Álvaro Cardoso, de pequenas dimensões e em mau estado de conservação, localizada na
rua Odorico Mendes, é a única área verde do bairro. Nessa Praça está prevista a construção de uma
estação da linha do VLP.
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6. Acessibilidade
A distância entre a Mooca e a Praça da Sé, no centro histórico da cidade, não atinge mil metros e,
no entanto, este acesso está obstruído pelas obras viárias elevadas que o circundam.
A barreira criada pelo “tampão” do rio Tamanduateí acabou com a ligação anterior existente entre a
Mooca e o bairro do Cambuci, cuja proximidade propiciava uma grande interação entre os dois bairros.
O acesso para o pedestre é feito por uma passarela, provisória e inóspita, sobre a avenida do Estado,
na altura da rua Serra do Paracaima, que dá acesso à estação ferroviária da Mooca. É um local ermo,
inseguro e sem atrativos para a travessia.
As ruas Barão de Jaguara, Ana Nery e Luiz Gama, que cortam o bairro da Mooca no sentido norte
sul e têm continuação no Cambuci, estão interrompidas pelo “tampão”.
Edifícios de referência da paisagem do bairro que mantém suas características externas originais,
situados nestas ruas, como a mesquita e antigas fábricas, ficaram sem acesso a partir do bairro da
Mooca.
A rua Piratininga é uma das mais antigas ligações da Mooca, com o bairro do Brás. É a principal via
de chegada à Mooca para quem vem do centro pela Radial Leste. É o acesso para a estação intermodal
Brás do metrô e possui um tráfego intenso no trecho de ligação com a Radial Leste, em função dos
ônibus que se dirigem para a zona leste em direção a Sapopemba. Outro fator de insegurança nessa rua
para os pedestres é a travessia sob o viaduto Alcântara Machado.
Na rua da Mooca, nas imediações do entroncamento com a rua Piratininga, há um comércio
especializado de autopeças e mecânica que ocupam antigos edifícios. Próximo a esse local encontra-se
a conhecida igreja de San Gennaro.
Outra rua importante do bairro é a rua Ana Nery, que começa na rua da Mooca e termina na avenida
Independência, no bairro do Cambuci. Por ela se chega ao centro técnico do Itaú. O local, que concentra
um dos pólos de emprego da região, já foi ocupado pela indústria Johnson & Johnson, que se transferiu
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para o município de São José dos Campos.
Na rua Ana Nery, ainda entre a rua da Mooca e a avenida do Estado, localiza-se uma parte importante
do comércio local, alguns restaurantes, cortiços e a única creche pública.
O complexo de viadutos sobre a chegada da avenida do Estado no Parque Dom Pedro II impede a
visualização do parque e da colina histórica. Atrás deles é possível ver apenas a ponta do antigo edifício
sede do Banespa, localizado na Praça Antônio Prado com avenida São João.
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A avenida Alcântara Machado (Radial Leste), que faz a divisa da Mooca com o bairro do Brás,
constitui-se em uma barreira entre os dois bairros devido a seu tráfego intenso.
A presença da ferrovia situada à margem da Mooca possibilita pensar-se na acessibilidade, pelo
transporte de massa, em direção ao centro, a outras regiões da cidade e Região Metropolitana de São
Paulo.
As alternativas atuais de transporte coletivo são prioritariamente as linhas de ônibus que circulam
pelas principais vias do bairro.
No total são 41 linhas que transitam pela Mooca. Sendo 14 pela avenida Alcântara Machado, 19
pela avenida do Estado, 4 pela rua da Mooca e avenida Presidente Wilson, e 4 exclusivamente pela rua
da Mooca.
Todos os trajetos de ônibus, dentro do bairro da Mooca são apenas de passagem pois, o bairro não
possui nenhum terminal de ônibus em função da sua proximidade com grandes terminais, como o do
Parque Dom Pedro II e do Metrô Brás.
O quadro abaixo mostra a origem e destino das linhas de ônibus e as vias por onde circulam.
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O quadro acima mostra que a maioria das linhas de ônibus serve à zona leste e o vetor sudeste da
cidade e a região do ABCD, na Grande São Paulo. As linhas intermunicipais dirigem-se, principalmente,
aos grandes terminais de transportes na área central, como o do Parque Dom Pedro II e Terminal
Rodoviário do Tietê.
O redimensionamento e planejamento do fluxo dos transportes entre o ABCD, a zona leste e o
centro poderá reduzir o número de veículos que trafegam pela avenida do Estado e rua da Mooca,
diminuir a poluição do ar e requalificar o papel das ruas para um uso mais favorável ao pedestre, ciclistas
e trânsito local.
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Notas
1.
PMSP, EMURB. Vilas e Conjuntos Habitacionais Área Cura Brás Bresser Relatório III, outubro de 1978.
2.
FERRAZ, Geraldo. Warchavchik e a Introdução da Nova Arquitetura no Brasil: 1925 a 1940. São Paulo, Museu
de Arte de São Paulo, 1965.MASP (Museu de Arte de São Paulo ), Publicação da exposição “ Warchavchik e as
origens da arquitetura moderna no Brasil “ de agosto de 1971. Fotos reproduzidas. pg. 39-D
3.
FERRAZ, Geraldo. op. cit. - Manifesto de La Sarraz . pg.30
“Les Congrés Internationaux D’Architecture Moderne Os Congressos Internacionais de Arquitetura
Moderna.”- Manifesto de La Sarraz Os arquitetos abaixo assinados representando os grupos nacionais de arquitetos
modernos, aqui deixam confirmada a sua solidariedade, a sua unidade de opinião sobre as concepções fundamentais da
arquitetura, assim como sobre os seus deveres profissionais para com a sociedade. Insistem particularmente sobre o seguinte:
construir é atividade elementar dos homens, intimamente ligada com a evolução e o desenvolvimento da vida humana.
O dever dos arquitetos consiste em se porem de acordo com a orientação de sua época. As suas obras devem expressar
o espírito do seu tempo. O abaixo assinados se recusam categoricamente a empregar, nos seus métodos de trabalho, os
princípios que puderam movimentar sociedades passadas e confirmam, ao contrário a necessidade de uma concepção
nova. Querem uma arquitetura satisfazendo as exigências espirituais, intelectuais e materiais da vida atual. Conscientes das
transformações profundas, operadas na estrutura social pelos maquinismos reconhecem que a transformação da ordem e
da vida social fatalmente acarreta uma transformação correspondente do fenômeno arquitetural. O fim exato desta reunião
é o de conseguir a harmonia entre os elementos presentes, colocando para isto, a arquitetura no seu verdadeiro plano, que é
o plano econômico e sociológico, livrando-a das influências estéreis das academias conservadoras das fórmulas do passado.
Nesta convicção declaram-se associados para poderem realizar, moral e intelectualmente, as suas aspirações num campo de
ação internacional. Arquitetos: Haering e May Alemanha, Frank Áustria, Victor Bourgeous e Hoste- Bélgica, Lundberg
Holm e Henningsen Dinamarca, Mercadal e Zavala Espanha, Neutra EUA, Auguste Perret e Le Corbusier França, Oud e
Mart Stam Países Baixos, Fred Jorbat e Molnar Jarkas Hungria, Alb. Sartoris e C.E. Rava Itália, Edvar Heiberg Noruega,
Cirkus Polônia, Karl Moser e H. Schmidt Suíssa, El Lissitzky Rússia, Krejcar- Checoslováquia. São Membros do comitê
os arquitetos: Peter Behrens, H. P. Berlage, Tony Garnier, Josef Hoffmann, E. Saaruen, Van de Velde e Frank Lloyd Wright,
nomes sobejamente conhecidos no mundo da arquitetura Gregori Warchavchik delegado para a América do Sul 18, Rua
barão de Itapetininga São Paulo ( Brasil )
4.
FERRAZ, Geraldo. Warchavchik e a Introdução da Nova Arquitetura no Brasil:1925 a 1940. São Paulo, Museu
de Arte de São Paulo, 1965.MASP (Museu de Arte de São Paulo ), Publicação da exposição “ Warchavchik e as
origens da arquitetura moderna no Brasil “ de agosto de 1971. Fotos reproduzidas. Prefácio de Pietro Maria
Bardi. pg. 07 a 10
5.
Idem, op. cit. pg. 61, extraído de um artigo de Mário de Andrade publicado pelo Diário Nacional de 17/06/1928,
São Paulo.
6.
Idem, pg. 32.
152
7.
BRUAND, Yves. Arquitetura Contemporânea no Brasil. Trad. Ana M. Goldberger. São Paulo, Perspectiva, 1981.
“A primeira casa moderna em São Paulo”. Pg. 65 a pg. 71.
8.
FERRAZ, Geraldo. op. cit. pg. 50
9.
FERRAZ, Geraldo. op. cit.pg.50
10.
Idem op. cit.
11.
Idem op. cit.
12.
Idem op. cit. pg. 56
PMSP, EMURB. Relatório Fura Fila Ramal Parque Dom Pedro/Sacomã. Diretoria de Planejamento e Diretoria
de Obras, maio de 2001.
153
154
Capítulo IV
“Revitalização do bairro da Mooca”
155
1. Diretrizes para o projeto de revitalização da Mooca
A degradação da Mooca apresenta-se de diversas formas: pela presença dos cortiços em antigas
residências unifamiliares; pelo confinamento do bairro através das barreiras formadas pela avenida do
Estado e pela ferrovia; pela poluição do ar e do rio; pela depreciação dos imóveis de um modo geral;
pela violência urbana presente no bairro.
Uma característica importante do bairro é a convivência do uso residencial popular, desde a sua origem
até os dias atuais, e outros usos, como serviços, comércio e pequenas indústrias do setor mecânico e de
autopeças. Os pólos de emprego mais importantes da área são o centro de serviços do Itaú, a cervejaria
Antárctica e outras indústrias.
A primeira diretriz de projeto para a área deve orientar-se para resolver alguns dos aspectos do
conflito do uso habitacional com outros usos e melhorar a qualidade de vida dos atuais moradores,
assim como, buscar uma solução paisagística para o rio Tamanduateí e para a ferrovia, no sentido de
resolver a acessibilidade para a área.
A segunda diretriz é buscar uma forma de preservação da tipologia habitacional das vilas, quando
for significativa, e apresentar condições favoráveis à sua permanência, pois a história do bairro se
reflete na existência de inúmeras vilas e casas em série que foram produzidas no período do início da
industrialização da cidade e que também fazem parte da memória deste período.
Existem duas escalas de abordagem para a elaboração do projeto que refletem a relação da parte com
o todo, a sua compreensão como parte do mesmo processo de desenvolvimento da cidade.
A primeira escala de abordagem é a da própria cidade, onde o objeto se constitui em elementos da
estrutura urbana mais geral, como:
as possíveis intervenções no rio Tamanduateí para recuperá-lo como elemento paisagístico
ambiental e histórico.
a abertura da ferrovia para o bairro.
a acessibilidade para edifícios históricos que compõe o envoltório que circunda o bairro.
a transposição da avenida Radial Leste na ligação com o bairro do Brás, com ênfase para o
pedestre.
a recuperação da chegada ao Parque Dom Pedro II como porta de entrada para a sede da antiga
vila colonial e início do antigo “Caminho do Mar”.
permanência das visuais para os limites da cidade, principalmente em relação à Serra da Cantareira,
sem verticalização na faixa que circunda a ferrovia.
A segunda escala de abordagem é a escala do bairro e os projetos que dizem respeito à vida cotidiana
local.
156
fig.01
bairro.
-
projeto habitacional de recuperação de vilas e de produção de novas habitações.
outros projetos complementares de equipamentos e serviços sociais.
valorização dos espaços públicos e das ruas locais tradicionais, onde acontecem as festas do
a permanência da atividade industrial e outras atividades.
uso misto de habitação, serviços e indústria.
2. Instrumentos urbanísticos
O desenvolvimento das diretrizes de projeto pressupõe a formulação de políticas públicas de uso
e ocupação do solo voltadas para viabilizar as propostas. Nesse sentido, a elaboração de instrumentos
urbanísticos e institucionais, projetos de lei, convênios, linhas de financiamento e parcerias entre
proprietários de imóveis e o poder público deverão servir não só ao bairro da Mooca, mas a outras
regiões da cidade com características semelhantes.
Hoje, os instrumentos públicos do Município de São Paulo para intervenções urbanísticas de médio
ou grande porte ainda são limitados em relação à função da propriedade privada do solo urbano.
Outras limitações estão relacionadas às leis que tratam da aquisição de terrenos pelo poder público e as
leis de licitação de serviços e obras públicas, pois, estas legislações não permitem que se façam parcerias
com empresários interessados em permutar condições numa área de intervenção urbanística.
A legislação atual de Operações Urbanas encontra-se num estágio ainda muito frágil com relação aos
interesses públicos. Tem prevalecido a troca de potencial construtivo por recursos para financiar obras
públicas mas, no geral, as obras propostas têm sido indicadas pelo setor privado interessado apenas em
aumentar seus lucros no mercado imobiliário.
Outro fator que dificulta as intervenções urbanísticas de renovação nos bairros da área central é a
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157
falta de integração entre os diversos agentes públicos responsáveis pelos serviços de infra-estrutura
urbana: energia, saneamento básico, limpeza urbana, meio ambiente, políticas habitacionais, de transportes
públicos, de uso e ocupação do solo, lazer, cultura, de equipamentos de educação e saúde e segurança.
No mesmo nível de governo muitas vezes essa integração também não acontece, devido a interesses
corporativistas.
Finalmente, o entrave maior para o desenvolvimento desse tipo de projeto urbano é a ausência
de controle social durante todo o processo de elaboração e desenvolvimento das propostas, pois
freqüentemente prevalecem os interesses privados dos empreendedores, que exercem maior poder de
pressão sobre o poder público.
A ausência de um plano diretor para a cidade de São Paulo reforça o caráter de improvisação e de
superposição de projetos com curta durabilidade, no que diz respeito à superação das soluções adotadas,
como foi o caso recente do prolongamento da avenida Faria Lima, a partir do cruzamento da avenida
Cidade Jardim. O prolongamento da avenida foi determinado pelos interesses do capital imobiliário, que
se sobrepôs aos interesses dos moradores do bairro da Vila Olímpia e Pinheiros e, a forma apressada
como foi viabilizada sua construção, gerou outros problemas na própria avenida como os grandes
congestionamentos que, no futuro, forçarão à execução de outras obras.
3. A ocupação da várzea, novos usos, espaços e significados
O bairro da Mooca, como descrito anteriormente, é um bairro localizado na várzea do rio Tamanduateí.
Essa localização traz inúmeras conseqüências para a vida da cidade e de seus moradores.
O rio Tamanduateí é um dos principais rios da cidade, mas é tratado como um estorvo e não como
um elemento da natureza, que já possibilitou o abastecimento e o transporte para seus habitantes no
período colonial.
São Paulo possui três grandes rios, o Tietê, o Pinheiros e o Tamanduateí, outros de segunda grandeza,
como o Aricanduva e o Pirajussara, são freqüentemente notícia nos jornais em função dos prejuízos
causados à cidade pelas enchentes.
Nossa rede hidrográfica é muito rica e, talvez por isso, os “campos de Piratininga” era tão povoado
pelos indígenas quando chegaram os portugueses. Na segunda metade do século XX, nos anos 50, a
cidade cresceu e voltou definitivamente as costas para os rios.
O geógrafo Aziz Ab’Saber1 explica que a várzea do rio Tietê apresenta uma dimensão atípica, de
40 vezes a largura do leito do rio, quando os estudos tradicionais dos geógrafos americanos indicavam
que essa relação normalmente não ultrapassava 18 vezes.
Talvez essa constatação nos leve a concluir que seria quase impossível que nossa ocupação urbana
não tivesse avançado sobre uma várzea tão extensa.
Isso não quer dizer que seja defensável a ocupação indiscriminada da várzea de nossos rios, mas esta
158
cidade seria outra e não São Paulo, essa grande metrópole com suas contradições.
As metrópoles européias, como Londres e Paris, poluíram seus rios para depois despoluí-los. O
desenvolvimento da sociedade industrial destruiu grande parte da natureza viva, em parte por falta de
tecnologia, em parte pela ganância do desenvolvimento capitalista.
O processo de urbanização das cidades industriais foi acompanhado de um modo geral pela
degradação do meio ambiente.
Hoje a consciência sobre a necessidade de preservação do meio ambiente é o grande tema das
questões urbanas. Algumas visões encaram esse problema enfocando a perda da vida animal e vegetal
e a morte dos cursos d’água e das florestas nas cidades, como o centro da questão.
A realidade das grandes concentrações urbanas mostram que as populações mais pobres são as que
mais sofrem com a degradação ambiental, pois, em geral, habitam áreas frágeis desse ponto de vista
ambiental.
Em primeiro lugar, porque a proteção do meio ambiente exige educação e informação adequadas para
a população sobre os riscos que envolve a degradação da natureza. Segundo, porque essa proteção envolve
meios e recursos materiais e ações de fiscalização por parte de toda a sociedade, mas, principalmente,
pelo poder público. Terceiro, porque existe um mercado informal de loteamentos e moradias populares
nas áreas “protegidas” de meio ambiente.
Em São Paulo a legislação de proteção dos mananciais é de 1975 e restringia-se à região metropolitana
de São Paulo. Recentemente, em 1996, essa legislação estendeu-se para o Estado inteiro, baseando as
ações legais, no conceito de bacia hidrográfica, e criou um modelo de gestão fundamentado no Comitê
de Bacia. Neste comitê participa a sociedade civil organizada e o poder público. Cada Comitê de Bacia
deverá elaborar um plano emergencial para solucionar as situações críticas de proteção e uso do solo na
fig.05
159
área sob sua jurisdição. A partir daí, criam-se legislações específicas a serem aprovadas em cada município
que compõe aquela bacia hidrográfica de uso e parcelamento do solo.
Essa legislação é um avanço na gestão pública das águas. Mas, o controle da ocupação do solo nas
áreas de mananciais ou das várzeas está longe de ser alcançado, para evitar danos maiores.
O empobrecimento da população do município de São Paulo, na década de 90, estimulou o aumento
das ocupações de terra nas áreas frágeis do ponto de vista ambiental e a cidade vive hoje o drama do
conflito social entre a moradia popular e o meio ambiente.
As áreas mais antigas da cidade ocuparam as várzeas dos rios no limite máximo possível e, há décadas,
a solução de drenagem urbana, através das avenidas de fundo de vale, agravou o problema das enchentes
com a excessiva impermeabilização do solo urbano e o conseqüente aumento da velocidade das águas,
criando novos pontos de inundação.
É necessário modificar a orientação dos projetos de canalizações de córregos na cidade inserindo
a idéia de parques lineares lindeiros aos canais como zonas de permeabilidade e recreação. Essa é uma
solução de baixo custo que permitirá o incremento das áreas verdes e a recomposição dos bairros que
margeiam os rios e córregos da cidade.
Mas, não é possível transformar as margens dos rios sem a devida recomposição do desenho urbano
dos bairros limítrofes a eles. Portanto, é necessário circunscrever a área que se pretende abranger com
uma solução integrada de drenagem e renovação urbana e políticas de habitação para a população de
baixa renda.
No caso do bairro da Mooca, a várzea apresenta uma ocupação consolidada, e, por isso, não é possível
julgar que se possa recuperar a várzea do rio Tamanduateí em toda sua extensão, mas, é essencial que se
examine todas as possibilidades de remanejamento do uso do solo urbano e descobrir as áreas potenciais
de reformulação de seu uso para abrigar o espraiamento do rio.
fig.06
160
Nesse propósito, o levantamento do uso solo atualizado e o exame da dinâmica das funções urbanas,
que este pedaço da cidade exerce no seu conjunto, são indispensáveis ao desenvolvimento do projeto
paisagístico do entorno do rio.
A postura que aqui se adota é a circunscrição de uma área de intervenção do bairro e suas relações
com o rio, e enfrentar o desafio do projeto urbano com a inclusão de trechos da várzea no desenho, e
a criação de usos como ciclovias que se adequam perfeitamente à geografia existente.
Outra diretriz é procurar afastar o uso habitacional das cotas mais baixas, com o remanejamento
desse uso, recompondo-o em cotas mais altas nos espaços potencialmente ociosos do bairro. As novas
edificações, que deverão apoiar-se em solos instáveis e de lençol freático alto, dependerão de estudo
geotécnico e de captação de água.
A recuperação do rio deverá incorporar o modelo de gestão do comitê de bacia do Tamanduateí,
mas, é preciso criar instâncias locais de gestão e controle, onde cada comunidade participe desse processo
encarregando-se da porção que lhe pertence. O novo desenho urbano do bairro deverá incorporar a
herança histórica e também novas funções de um bairro situado em várzea.
O desenvolvimento dessa abordagem é projeto de fôlego e poderá servir como uma estratégia
de revitalização dos bairros que circundam o centro nas margens do Tamanduateí e da ferrovia, sem
expulsão da população moradora.
A convivência de usos mistos no bairro compõe uma grande vitalidade na área, mas, é preciso conter
o processo de degradação de seus espaços e das condições de vida da população.
A Mooca poderá continuar sendo o local de moradia dos trabalhadores, mantendo suas características
locais de vizinhança, mas, incorporando projetos da escala geral da cidade como a recuperação do rio
Tamanduateí.
Os poucos espaços públicos existentes na área deverão ser ampliados e revalorizados, como a estação
da Mooca, cujo acesso ao Parque Dom Pedro e à Colina Histórica deverá ser objeto de projeto específico
tendo em vista a sua proximidade.
A vida estressante de uma grande metrópole como São Paulo precisa ser rebatida com hábitos
fig.07
fig.08
fig.09
161
saudáveis de vida, como o caminhar ou pedalar a curtas distâncias de 2 a 5 quilômetros. Essas práticas
devem se desenvolver em ambiente seguro e agradável ao organismo. A população que vive próxima
ao centro já faz essa opção para economizar o uso do transporte de massa e não terá dificuldades em
incorporar caminhadas se lhe for oferecido espaços públicos de qualidade.
A preservação das vilas que se encontram em pleno uso habitacional, mesmo que as casas estejam
descaracterizadas em relação à sua construção original, se justifica pelo fato de que são exemplos de
adensamento urbano e racionalização do espaço coletivo no miolo das quadras que abrigam as atividades
locais de lazer das crianças e de descanso do estresse da rua para os mais velhos.
4. Morar e trabalhar na Mooca
fig.10
São Paulo possui uma população de 10.434.212 de habitantes segundo o Censo IBGE 2000, apresenta
dados econômicos que indicam uma tendência de se transformar de uma cidade industrial em cidade
de serviços. A amostragem de empregos por setor de atividade revela essa tendência.
Segundo dados da SEMPLA 2, em 1997, de 2.474.444 empregos, 563.086 (22,76%) eram da indústria
de transformação e 1.222.852 (49,42%) pertenciam ao setor de serviços. O restante estava distribuído
no comércio, 447.766 (18,10%), atividade agropecuária, 5.029 (0,2%), extração mineral 2.089 (0,08%),
construção civil, 186.330 (7,53%).
O distrito do Cambuci, onde se situa a Mooca oficialmente, apresentava a seguinte distribuição de
empregos no mesmo ano, de um total de 33.503 empregos, 12.691 (37,88%) eram da indústria, 8.863
(26,45%) do setor de serviços, 4.458 (13,31%) no comércio.
As tabelas a seguir mostram como os distritos mais antigos da área central, no vetor sudoeste
apresentam uma concentração maior de empregos no setor de serviços e comércio, diferentemente dos
bairros que formam um colar ao longo da várzea do rio Tamanduateí e da ferrovia, com uma maior
presença ainda do emprego industrial.
Apenas o distrito da Barra Funda apresenta distribuição diferenciada dos demais, onde dos 50.127
empregos, em 1997, 25.507 são do setor de serviços (50,88%), 13.091 (26,12%) da indústria e 8.057
(16,07%) do comércio, com igual tendência dos dados gerais da cidade, talvez, decorrente do impacto
sofrido pela área com a instalação do Metrô, de equipamentos, como o Memorial da América Latina e,
recentemente, a implementação da Operação Urbana Água Branca.4
162
fig.11
Os distritos que compõe a área central têm uma participação significativa nos empregos do
município representando aproximadamente 33,20% da oferta. Os bairros vizinhos à ferrovia
participam com 12,38% desse total e os do centro mais antigo com 18,79%.
A tendência de maior incidência do setor de serviços na cidade não significa que a indústria perdeu
sua importância. Na verdade, a produção e a população estão se espraiando na periferia da capital e
nos municípios vizinhos mas sem ultrapassar o raio de 150 quilômetros. Essa mancha que se define
de concentração de investimentos industriais está sendo chamada de macrometrópole.
163
A cidade, no entanto, e a Grande São Paulo ganham importância, apesar de perderem investimentos
para os municípios vizinhos como Campinas, São José dos Campos e Sorocaba. Mesmo assim, a
participação da Grande São Paulo nos investimentos industriais era de 51,8% em 19956. Em 1980, era
de 64%. A capital caiu sua participação de 36% em 1980 para 22% em 1995.
Essa perda para a capital não significou diminuir sua importância, pois os grandes conglomerados
permaneceram na cidade com suas sedes. Entre as 100 maiores empresas privadas do país, 37 têm sua
sede em São Paulo e 15 nesse raio de 150 Km.
Esse novo patamar da industrialização de São Paulo, se por um lado significa maiores investimentos
e geração de arrecadação para a cidade, por outro, sofisticou os serviços que lhe dá suporte e com isso
acentuou as desigualdades sociais dentro da capital.
Numa ponta encontra-se uma estrutura ocupacional de alta tecnologia e sofisticação e na outra, a
precarização cada vez maior das condições de trabalho e o aumento do mercado informal, assim como,
uma baixa qualificação de mão de obra para os empregos nos serviços de apoio.
A contradição nesse quadro de desenvolvimento econômico da cidade é o rápido empobrecimento
de grandes parcelas da população e a perda de qualidade de vida.
Alguns dados podem exemplificar como essas circunstâncias se refletiram na ocupação urbana de
São Paulo, nas condições de moradia e no meio ambiente.
Ao examinar as estimativas de população7 entre o ano de 1997 e 2000, a primeira conseqüência que
se tira é que a população da área central diminuiu, apesar do total do município crescer a uma taxa de
1,2% no mesmo período.
É certo que essa é uma taxa baixa de crescimento, típica de uma urbanização já consolidada, mas
quando se observa a distribuição pelos diversos distritos da capital, verificamos que há um desequilíbrio
decorrente das desigualdades sociais.
Somando-se a população dos distritos da área central e de seu entorno mais imediato, como é o caso da
área de estudo dessa pesquisa, chega-se a um total de 641.608 habitantes em 1997 e 606.611 habitantes na
projeção para 2000, ou seja uma perda de 34.997 habitantes, equivalente a 5,45% da situação anterior.
No outro extremo, verifica-se um crescimento equivalente a uma expansão de fronteiras territoriais,
como é o caso do distrito de Cidade Tiradentes, na zona leste, que teve uma estimativa de crescimento
da ordem de 60.472 habitantes, ou 33,7% de taxa de crescimento, em apenas três anos, absorvendo
uma população maior do que perdeu a área central.
No caso do distrito de Cidade Tiradentes houve uma expansão acelerada dos limites da zona rural
do município, em parte promovida pelo próprio poder público municipal com a construção de grandes
conjuntos habitacionais na área sem a correspondente infra-estrutura urbana.
Outro exemplo também na periferia da cidade é o distrito do Grajaú com 291.214 habitantes em 1997
que e passa a 353.578 habitantes em 2000, com um crescimento da ordem de 21,42%. É importante
ressaltar que parte desse distrito encontra-se em área de proteção dos mananciais na bacia da represa
Billings. Outro exemplo em área de proteção ambiental, hoje pertencente à APA do Capivari Monos
na zona sul, é o distrito de Parelheiros com um acréscimo de 19.218 habitantes a uma taxa de 21,73%
164
As maiores taxas de crescimentos se deram associadas às regiões da cidade que necessitam de
preservação do meio ambiente e que sofrem com a falta de infra-estrutura pela ocupação desordenada
e acelerada como, por exemplo, o distrito da Brasilândia em direção à Serra da Cantareira, com um
crescimento de 8,99%.
Os distritos com urbanização consolidada da cidade localizados na periferia ou no anel intermediário,
de um modo geral, diminuíram sua população em função do alto custo para se morar em áreas bem
estruturadas. O último censo do IBGE apontou que existem hoje em São Paulo cerca de 400.000
domicílios vagos em toda a cidade.
É um dado que indica ser preciso rever a política urbana de São Paulo e coibir a especulação do solo
e dos imóveis urbanos e reflete no dia-a-dia da cidade, aquilo que o geógrafo Aziz Ab’ Saber8 chamou
de quebra da funcionalidade urbana, com os congestionamentos, enchentes e violência urbana.
Essas são algumas das razões que nos levam a persistir no caminho de pensar as políticas de habitação
nas áreas já dotadas de infra-estrutura urbana e no reaproveitamento do patrimônio construído urbano, com
uma nova visão de legislação urbanística e articulação dos espaços privados com os espaços públicos.
A idéia de revitalização do bairro da Mooca, como local de morar com qualidade de vida, deve estar
fundamentada numa visão geral da cidade que articule a política de infra-estrutura, de transportes e meio
ambiente. Nesse sentido o aproveitamento da ferrovia como transporte urbano de média capacidade
como ligação entre zonas de morar e trabalhar, pode viabilizar o deslocamento da população moradora
no centro para bolsões de emprego que estejam localizados nos limites da Grande São Paulo. Para isso é
necessário promover sua qualidade, diminuição do custo e integração com outros meios de transportes.
Certamente, a localização de ofertas de moradias de interesse social na área central permite um tempo
maior disponível para as atividades familiares, de lazer, cultura e descanso. Além de garantir o acesso
aos recursos dos equipamentos públicos de saúde e educação concentrados no centro da cidade.
5.Gestão para um programa de revitalização do bairro da Mooca9
A gestão de um programa de revitalização do bairro da Mooca requer a ação integrada e compartilhada
de vários agentes do poder público e privado em conjunto com a população interessada. Nesse estudo
foi adotado a metodologia de “plano de ação” proposta pelos holandeses no assessoramento às políticas
de gestão urbana, com as devidas adaptações à realidade da cidade de São Paulo
Os aspectos de descrição e história da área de estudo necessários para a compreensão dos
participantes do curso na Holanda, foram aqui eliminados, por encontrarem-se exaustivamente descritos
em capítulos anteriores. Outros aspectos se apresentam para fundamentar as análises efetivadas.
A metodologia do “plano de ação” baseia-se em etapas que devem buscar a concentração de objetivos
e ações para execução em curto espaço de tempo, dois ou três anos, para a solução de problemas urbanos
emergentes. Suas etapas mais importantes são:
165
- identificação do problema principal que se deseja atacar; com elaboração da árvore do problema,
com as respectivas relações de causa e efeito. (“Problem Tree”)
- análise dos objetivos a serem atingidos;
- análise das forças favoráveis e das forças contrárias para alcançar; quando possível desenhar um
diagrama de forças para que se visualize o peso de cada força em relação à sua contrária;
- análise da estrutura institucional existente para execução do programa pretendido;
- escolha de estratégias prioritárias para neutralizar as forças desfavoráveis;
- desenvolvimento da estratégia principal e as ações necessárias para sua concretização;
- identificar os recursos necessários;
- cronograma de execução das ações com a previsão de impactos correspondentes.
Nesse caso, o resultado final não poderia ser exatamente um plano de ação específico, mas sim, a
elaboração de uma proposta de gestão para um programa de revitalização onde se identificou várias
estratégias, as quais deverão resultar em vários planos de ação específicos, mas integrados entre si.
A tese aqui desenvolvida trata da revitalização do bairro da Mooca com foco na problemática da
moradia popular nos bairros centrais da cidade de São Paulo.
O bairro da Mooca foi escolhido, pois possui uma carga simbólica da luta de resistência do trabalho
frente ao capital.
Os bairros centrais se esvaziam mas, a população empobrecida permanece e preserva a arquitetura
das casas originalmente construídas para a classe operária, com sua presença. Parte da memória da
cidade permanece viva ainda pela presença da população pobre na área central.
A revitalização desses bairros pode seguir dois caminhos, um da elitização e expulsão da população
trabalhadora ou o caminho da renovação urbana baseada no tripé moradia popular, patrimônio cultural
e histórico e políticas sociais de caráter emancipadoras.
A maioria de projetos de moradia social no Brasil localizaram-se nas periferias das grandes cidades.
Estes projetos e políticas seguiram e ainda seguem a lógica de um padrão de expansão periférica da cidade,
que torna muito caro o provimento de infra-estrutura para novos assentamentos humanos. Localizados
a quase trinta quilômetros do centro da cidade, em alguns casos, fazem com que os subsídios necessários
para implementar a infra-estrutura dos projetos custem para o poder público, aproximadamente, 70%
do preço de cada habitação.
É necessário implementar uma visão nova sobre programas de moradia social e sua localização, pois
a terra é escassa em São Paulo e há 595.000 habitantes morando em cortiços, um universo significativo
para o desenvolvimento de uma política habitacional para os setores populares no centro.
Em São Paulo, uma pequena experiência foi desenvolvida em 1991, como uma linha de programa
público voltada para moradores de cortiços.
No centro, há um estoque de edifícios para recuperar que podem se tornar bons lugares para
desenvolver programas de moradia social.
No bairro da Mooca, as características atuais do parcelamento e ocupação começaram a ser definidas
166
na metade do século dezenove quando os imigrantes italianos chegaram ao Brasil, na primeira fase da
industrialização, e fixaram suas residências nesta parte da cidade próximas às fábricas e à estrada de ferro.
Muitas moradias foram construídas por donos das fábricas para atrair a mão-de-obra imigrante.
Até algumas décadas passadas, o bairro da Mooca era parte da zona leste. Hoje é considerado central,
porque a distância para o centro é muito pequena e o acesso mais fácil. A Mooca possui muitos edifícios
fabris históricos e o desenho urbano do traçado das ruas é o mesmo da época da formação do bairro.
A preservação de testemunhos históricos do processo de produção em São Paulo representa a memória
da característica mais importante da consolidação da metrópole nas fases da cidade industrial. Esta é
uma herança que pertence também à mão de obra trabalhadora da cidade e não só aos proprietários
dos imóveis que abrigaram esta atividade.
São Paulo não tem uma tradição de programas de revitalização.
A estrutura administrativa e legal do Governo Municipal é um obstáculo à implementação desse tipo
de ação que integra projetos de moradia sociais e de revitalização. Nesse sentido devemos examinar
alguns aspectos do processo de urbanização nacional e da cidade que explicam certas características
do bairro da Mooca.
Brasil, processo de urbanização, São Paulo e o “coração” da cidade
O Brasil possui hoje 169 milhões de habitantes. Em 1960, 55,3% da população brasileira vivia em
áreas rurais e só 44,7% nas cidades. Em 1970, a população urbana era de 55% e a rural era de 44,1%.
A partir daí, a população urbana tem crescido rapidamente até os anos 90. Atualmente, só 21% das
pessoas do Brasil vivem em área rural e 79,0% nas cidades.
167
O Estado de São Paulo na região Sudeste do Brasil apresenta a taxa mais alta de urbanização, com
89,3% da população morando em cidades, mas a taxa de crescimento anual estabilizou-se no patamar
de 1,4% . A taxa de crescimento urbano do Brasil também encontra-se próximo a 1,4%.
Em 1990, 29% da população do Brasil já vivia em regiões metropolitanas. Nos estados de São
Paulo e Rio de Janeiro a população metropolitana mais pobre representa 63% e 48% da população
respectivamente. Na última década, a urbanização brasileira aconteceu de forma confusa e fisicamente
concentrada , com falta de planejamento e padrões obsoletos de gestão; falta de resposta às demandas
de serviços; com a decadência rápida infra-estrutura existente e excessiva degradação ambiental.
Os investimentos públicos dirigiram-se às áreas metropolitanas com aumento das diferenças regionais,
dos problemas sociais e ambientais dos grandes centros urbanos.
O processo de ocupação territorial da cidade de São Paulo se explicou por fatores geográficos e
também pelo modo como as elites ocuparam o seu espaço na cidade.
A fundação da cidade de São Paulo em 1554 e a escolha do sítio geográfico tiveram grande influência
dos Jesuítas, que seguiram a experiência da população indígena nativa que viveu nesse território e
descobriram que o local tinha um grande potencial de adensamento em função de várias características
geográficas.
Um destes fatores é a proximidade e facilidade de acesso entre o planalto e o litoral de São Paulo,
através da Serra do Mar com uma altura de aproximadamente 760 metros, ponto mais baixo de
transposição da serra.
O sítio urbano original da cidade no Pátio do Colégio foi escolhido em função da necessidade de
defesa contra ataques indígenas. E a colina histórica ao lado do rio Tamanduatei é o começo do núcleo
urbano.
Até o século XIX, São Paulo era uma pequena vila que se desenvolveu a partir da economia do café,
da ferrovia e depois com a industrialização. A cidade, no entanto, sempre foi o cruzamento de todos
os caminhos para outras partes do país, que se tornariam os modos de comunicação futuros da rede
de estradas
A economia de café e a instalação da ferrovia foram determinantes para o crescimento da cidade.
As chácaras dos fazendeiros do café viriam a se tornar os futuros loteamentos
A partir da colina histórica, as classes dominantes ocuparam primeiro o bairro da Consolação, depois
o de Higienópolis, subiram o espigão da Avenida Paulista e, recentemente, ocuparam as regiões de
Jardins e da avenida Faria Lima.
Hoje em dia, as grandes empresas que atuam na cidade, desenvolvem a região junto ao Rio Pinheiros
e próximo da Avenida Luís Carlos Berrini, no vetor sudoeste. Esses são os bairros com melhor infraestrutura urbana e que receberam a maioria dos investimentos do setor privado e público na década
de 90.
Os bairros operários nasceram com o processo de industrialização da cidade e se localizaram nas
várzeas do Rio Tamanduateí e do Rio Tietê, perto das fábricas e da ferrovia. Atualmente estes bairros
permanecem como bairros residenciais e de trabalho, mas sofrem um alto processo de decadência com
168
o crescimento de cortiços e da pobreza.
A expansão de metrópole industrial nos anos 50 precisou de novas áreas de moradia que resultaram
no crescimento dos subúrbios periféricos, com a construção dos bairros populares. Nos anos 70, a lei
federal sobre parcelamento do solo, desencorajou a construção de novos loteamentos populares e nesse
período muitas favelas surgiram como uma alternativa de moradia para as classes trabalhadoras.
Os cortiços são mais antigos na cidade de São Paulo, com um século de existência como moradia
de imigrantes estrangeiros que vinham para trabalhar nas fábricas e, ainda hoje, são a alternativa de
moradia para a população de baixa renda e o bairro da Mooca possui muitos deles.
A legislação de proteção dos mananciais, criada em 1975, influenciou a oferta de loteamentos
populares na cidade de São Paulo. A falta de fiscalização e controle do uso da terra induziu a criação
de loteamentos informais sem a devida infra-estrutura de saneamento básico, que contribuem com a
poluição das águas que abastecem a cidade.
São Paulo é a maior metrópole brasileira com 10.338.932 habitantes e 1509 quilômetros quadrados.
Sua cobertura de infra-estrutura é de 99,8% para provisão de água, 88% de coleta de dejetos sólidos
e 4,6 m2 de áreas verdes por habitante. No entanto, a distribuição destes indicadores na cidade não é
equilibrada.
A tendência de mudança de perfil de uma cidade industrial para uma cidade de serviços, com grandes
investimentos internacionais e desenvolvimento turístico empresarial, não esvaziou totalmente as três
áreas industriais mais importantes situadas nas regiões da Barra Funda - Lapa, Mooca - Ipiranga e ao
longo da várzea do rio Pinheiros.
A transferência da indústria paulistana para a região do ABC, na década de 50, e a perda de importância
da ferrovia como ligação entre o porto e o planalto, provocaram uma certa ociosidade dos edifícios
industriais localizados na Mooca.
A marca da urbanização de São Paulo atualmente é a convivência conflituosa entre uma “cidade
legal” e uma “cidade ilegal”. Uma parte da cidade com infra-estrutura e controle do uso do solo, serviços
sociais, população de alta renda etc.. Por outro lado, há uma cidade sem infra-estrutura adequada, sem
coleta de lixo, com carência de áreas verdes, com poluição ambiental, com ausência de regulação do uso
da terra urbana e, finalmente, com inúmeros bairros degradados ao redor do centro como a Mooca, o
Belém, a Liberdade, a Barra Funda, o Pari, o Brás e a Luz.
Esses bairros degradados formam um anel de ocupação tradicional na área central com características
semelhantes, mas com singularidades de desenho urbano, da sua história e de suas dinâmicas econômicas
e sociais.
As similaridades são as péssimas condições de moradia, boa infra-estrutura devido a sua proximidade
com o centro histórico, existência de um considerável patrimônio histórico construído e em parte
abandonado, e a existência de áreas potenciais nos miolos das quadras, onde a construção de edifícios
com alta densidade poderia substituir as estruturas existentes para maximizar o uso da terra.
A Mooca, oficialmente hoje, é parte do distrito do Cambuci e da Administração Regional da Sé, que
vêm perdendo população atualmente e, por isso, apresenta um grande potencial de adensamento.
169
A revitalização destes bairros é um modo para manter a simbologia do centro da cidade e renovar
o seu valor histórico como local de nascimento e “coração” da metrópole, no sentido de criar vínculos
afetivos de todos os moradores da cidade e explorar o seu potencial cultural. Mas, é necessário uma
visão social sobre os problemas dos bairros centrais e um “uso vivo” do centro com a mistura de usos,
de moradia, serviços, comércio e indústria sem poluição.
Mooca, moradia de trabalhadores no “coração” da cidade
O bairro da Mooca, inserido nos limites do anel central, foi um dos primeiros bairros operários da
cidade. Possui um valor histórico para a cidade de São Paulo, mas, também, para os movimentos de
trabalhadores brasileiros.
Essas características e a proximidade com áreas importantes de preservação histórica e sua paisagem,
predominantemente horizontal, são elementos essenciais para um programa de revitalização, assim
como sua localização na várzea do rio Tamanduateí.
A área de estudo da Mooca é delimitada pelo Rio Tamanduateí, pela antiga ferrovia São Paulo
Railway, pela avenida Alcântara Machado ( Radial Leste ) e o Parque Dom Pedro II, onde se localiza a
sede do governo municipal.
O desenho urbano da Mooca foi o mesmo durante os últimos setenta anos, há alguns espaços vazios,
armazéns e fábrica subutilizados, o que mostra um grande potencial de reciclagem para projetos de
habitação popular e de serviços sociais.
Os bairros históricos, moradia dos trabalhadores como a Mooca, o Brás, o Pari, o Belenzinho têm
sofrido um processo de degradação urbana, mas têm uma importante coleção de sua arquitetura e
urbanismo originais que refletem momentos importantes da história da cidade e, por isso, necessitam
da revitalização de seus lugares e usos.
As pessoas que vivem e usam estas áreas escolheram permanecer perto do coração da cidade e
devem ser as herdeiras da preservação da herança cultural existente nos espaços construídos da cidade.
Suas habitações sobrevivem em condições precárias onde os espaços públicos são as ruas, por motivos
culturais, mas também, pela falta de praças e outros espaços públicos.
Há muitos exemplos de habitações operárias dos anos 20 na Mooca, quando, foram construídos os
primeiros grupos de casas com uma visão pré - moderna de arquitetura. As chamadas “vilas operárias”
e o grupo de casas em série projetadas pelo arquiteto Gregori Warchavchik ( 1929 ) são exemplos
importantes de arquitetura pré modernista de São Paulo destinadas aos trabalhadores.
170
fig.12
fig.13
fig.14
171
Estruturas do governo municipal para os programas de preservação da
herança histórica e de moradia popular na cidade de São Paulo
Departamento de Patrimônio Histórico - descrição e papel
A atividade de elaborar políticas de preservação de edifícios históricos ou de áreas urbanas históricas
é objeto da atividade da Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura do Município de São Paulo (órgão
geral responsável pela cultura na municipalidade), onde encontra-se o departamento que é responsável
pelos estudos de preservação da herança da cidade.
Outros órgãos de governo, no nível estadual e federal, concorrem com esta atividade, são o
CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Ambiental) e IPHAN
(Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
O Departamento de Patrimônio Histórico faz parte da estrutura da Secretaria Municipal de Cultura.
Internamente ao departamento há duas divisões: uma de preservação e outra de arquivo. A Divisão
de Preservação que nos interessa no momento, pelo fato de estar relacionada com o programa que se
pretende, está subdividida em quatro seções:
1) Conservação e Projeto de Restauração: é responsável pela lei de conservação de edifícios protegidos
que são propriedade do Departamento de Patrimônio Histórico, como por exemplo : a Casa do Grito,
a Casa Amarela, o Edifício Ramos de Azevedo, o Sitio Morrinhos, o Sitio Mirim, a Casa Bandeirista e
também pelos novos projetos dos edifícios protegidos da municipalidade.
2) Crítica e Preservação de Patrimônio: é responsável pela análise de pedido privado de proteção
de edifícios
3) Pesquisa e investigação: é uma seção composta por historiadores que fazem pesquisas sobre os
edifícios da cidade e história dos bairros
4) Revitalização: é a seção que é responsável por projetos novos, mas que atualmente encontram-se
ocupada com uma função secundária, como a notificação para análise da permissão de edifícios.
O Departamento de Patrimônio Histórico tem um papel muito importante para a política de
preservação e revitalização do uso do patrimônio histórico da cidade de São Paulo, mas no conjunto da
estrutura do governo local não há uma política de investimentos voltadas para esse setor. Em primeiro
lugar porque os recursos são insuficientes para atender o conjunto de demandas de infra-estrutura
urbana e de equipamentos e serviços sociais que a cidade exige da administração municipal.
O modelo de expansão periférica da ocupação urbana de São Paulo, que seguiu a lógica do mercado
imobiliário, impõe a cada dia o atendimento de demandas oriundas de novas áreas da cidade.
Segundo, porque há um equívoco quando se aborda a questão do patrimônio cultural histórico de
nossa sociedade, que enfatiza apenas a restauração de monumentos e pouco se fala do patrimônio
172
cultural do espaço cotidiano da população. E quando se elaboram os orçamentos públicos, de uma
forma desequilibrada, se compara o investimento em patrimônio histórico com as demandas sociais, o
que nos parece uma equação mal formulada.
Terceiro, a discussão sobre o investimento em revitalização da herança cultural da cidade valoriza em
demasiado a requalificação do centro da cidade de São Paulo. A preocupação de fomentar o turismo
com o embelezamento da recuperação da arquitetura existente se sobrepõe ao debate de uma nova
política de recuperação da vida urbana para seus habitantes, como se a história só estivesse no centro
e fosse apenas a história dos edifícios
É necessário dar mais relevância para a atividade do Departamento de Patrimônio Histórico e
promover mais a sua integração com outros programas da municipalidade, como os de moradia popular,
plano diretor e desenvolvimento urbano, porque hoje há uma falta de consciência de seu potencial de
estudos e fazer projetos.
Esse departamento possui um corpo técnico especializado, mas há uma constante pressão junto
aos poderes executivo e legislativo por parte do empresariado do setor imobiliário contra a idéia de
se preservar a herança histórica da cidade , que na visão desse setor conservador é um obstáculo para
a obtenção de lucro nos seus negócios. Os movimentos sociais que atuam na área central são muito
recentes na luta urbana e seu poder de pressão concentra-se na demanda por unidades habitacionais e
não absorveu ainda a discussão sobre a herança cultural que também lhe pertence.
Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano - descrição e papel
A Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano é um dos órgãos da administração municipal
mais importantes da municipalidade de São Paulo porque trabalha com o controle e uso do solo. Todos
os edifícios novos dos loteamentos formais na cidade são analisados nesta instituição. Possui sete
departamentos com funções diferentes, uma Superintendência e uma Companhia de Habitação:
1) Companhia de Habitação - COHAB: responsável pela construção, financiamento e administração
da construção de edifícios de moradia social. Funciona com recursos do Fundo Municipal de Habitação
e do Sistema Financeiro da Habitação.
2) Departamento de Aprovação de Projetos - APROV: este departamento é responsável pela análise
dos edifícios novos e grandes edifícios empresariais da cidade de São Paulo nos assentamentos formais
e regulares.
3) Departamento de Parcelamento do Solo - PARSOLO: este departamento é responsável pela
análise dos loteamentos formais novos da cidade, principalmente sobre as referências legais.
4) Departamento de Regularização do Solo - RESOLO: este departamento analisa todos os
assentamentos irregulares e ilegais na cidade de São Paulo, quanto à possibilidade de uma futura
173
regularização ou no intuito de coibir práticas ilegais de parcelamento urbano. Existem cerca de 3000
assentamentos deste tipo que esperam por regularização e provavelmente 50% da terra urbana ocupada
ainda é irregular.
5) Departamento de controle CONTRU: controla as condições de segurança das instalações dos
edifícios urbanos.
6) Departamento de Cadastro CASE: é o departamento responsável pela documentação das
informações setoriais relativas ao uso e ocupação dos solo na cidade.
7) Superintendência Habitação Subnormal - HABI: é o departamento que assiste à população sem
capacidade financeira para obter moradia no mercado privado e no Sistema Financeiro da Habitação.
Hoje em dia, este órgão não tem recursos financeiros para assistir à demanda por moradia em São Paulo.
Os departamentos que se relacionam mais diretamente com programas de habitação de interesse social
voltados para a população de baixa renda são a COHAB, RESOLO, e HABI.
No município de São Paulo o Governo do Estado atua na produção de habitações para a população
de baixa renda através da CDHU- Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado
de São Paulo. Esta companhia possui diversas formas de financiamentos e subsídios para a política
habitacional. Desenvolve seus programas com recursos principalmente do orçamento estadual que
reserva anualmente 1% do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias ) arrecadado para a
produção habitacional.
Ao governo federal compete fornecer recursos aos estados e municípios para a política habitacional e
urbana e aprovar a legislação maior que regulamenta estas políticas como a lei recentemente sancionada
conhecida como “Estatuto da Cidade”.
A política habitacional do município já possui todos os instrumentos para implementar uma linha
pública de programa de produção de habitações na área central, como vem sendo proposto pela atual
gestão da cidade.
Legislação
A cidade de São Paulo possui um razoável suporte legal para implementar um programa de
revitalização do bairro da Mooca, em termos das legislações de preservação histórica e de sistema de
parceria com a iniciativa privada.
A legislação sobre preservação é baseada na lei de preservação de patrimônio nacional e é facultado
a qualquer cidadão solicitar a preservação de qualquer edifício ou bem cultural.
No entanto, a legislação que trata de parcerias com a iniciativa privada, como a lei das operações
urbanas, necessita de alterações para atender primeiramente ao interesse público e não somente o
interesse do setor privado.
174
Esta lei, nomeada “Lei das Operações Urbanas “ dá incentivo ao empresário privado para construir
acima do limite legal nos lotes de sua propriedade, em troca de recursos financeiros para construir
infra-estrutura numa área delimitada da cidade.
É possível usar esta legislação no caso do bairro da Mooca, mas, somente após a elaboração de um
projeto urbano que analise os padrões dos edifícios e seu valor histórico e a população moradora ser
consultada.
Também há três leis de incentivo à cultura nos três níveis de governo, Federal, Estadual e Municipal,
que podem ser utilizadas pelos empresários que queiram aplicar recursos em projetos culturais, sendo
que estes mecanismos poderiam ser usados em um programa de revitalização.
Identificação do Problema
O bairro da Mooca sofreu um processo de degradação quando a área perdeu seu significado como
área industrial, com o deslocamento das indústrias da cidade de São Paulo para a vizinha região
metropolitana do ABC nas décadas de 50 e 60.
Desse momento em diante, São Paulo vem se tornando uma cidade predominantemente de serviços.
Seus bairros industriais tradicionais mantêm parcialmente suas características originais, mas, gradualmente
incorporam o setor de serviços.
A construção das rodovias que unem a cidade de São Paulo e o porto de Santos, na década de 50,
causou a perda de importância da estrada de ferro e, concomitante a essa substituição na infra-estrutura
dos meios de transporte, não houve nenhum investimento público para revitalizar os distritos industriais
originais da cidade como a Mooca.
Outro fator que contribuiu para a deterioração do distrito, foi a construção, nos anos 70, da obra
especial de drenagem urbana sobre rio Tamanduateí junto à avenida do Estado, a qual dificultou a ligação
entre bairros vizinhos, principalmente para os moradores e pedestres que circulam pela região.
A desvalorização de bens imóveis contribuiu com o crescimento de moradias encortiçadas e os
antigos residentes deslocaram-se para outros bairros.
O processo de decadência se expressa social e fisicamente nos edifícios, na baixa qualidade de áreas
públicas, na presença do tráfico de drogas nas ruas, lixo e poluição do ar. Há também uma grande
demanda para moradias com qualidade, mas o centro do problema é a decadência do bairro.
Serão necessários esforços conjuntos de muitas instituições para resolver a decadência de bairros
como a Mooca. É uma árdua tarefa para a sociedade como um todo, pois este tipo de processo é
construído através de muitas gerações.
175
fig.15
176
Análise do objetivo principal - desenvolvimento de programa de habitação social em
Áreas Centrais.
O objetivo estratégico para enfrentar o processo de revitalização do bairro da Mooca é desenvolver
programas de moradia social novas que se utilizarão de uma visão sobre a preservação do valor histórico
de seus antigos edifícios e desenho urbano e a recuperação da paisagem do rio Tamanduateí.
O programa de moradia social para Mooca deverá se preocupar em preservar as antigas tipologias
do modo de morar dos trabalhadores nos antigos bairros operários e, ao mesmo tempo, promover
projetos novos com mais densidade, tendo em vista a necessidade de racionalizar o uso da infra-estrutura
já instalada na região, bem como, criar também serviços sociais nas áreas centrais.
O problema de recuperação da paisagem do rio Tamanduateí envolve três questões. A primeira é
como o rio será integrado novamente na estrutura urbana. A segunda é como eliminar a avenida sobre
o rio que se constitui numa “ barreira “ entre os bairros adjacentes e, a terceira é resolver o problema
de drenagem urbana que afeta a área.
Estas questões são objeto do processo de desenvolvimento urbano na cidade e precisam ser tratadas
segundo uma abordagem integrada.
O coração histórico da cidade de São Paulo conhecido como “Colina Histórica” é parte do distrito
da Sé e possui características particulares relacionadas com o uso do solo e tipologias de edifícios
semelhantes a outros distritos do centro, como os da República, Luz e Consolação.
Nesta área estão situados a maioria dos edifícios históricos da cidade dos tempos coloniais até a fase
pré-industrial, junto com construções dos anos 30 e 40 que abrigaram atividades comerciais e de serviços,
tais como bancos, escritórios e lojas, como suporte ao processo de industrialização da cidade.
fig.16
fig.17
fig.18
177
O uso residencial regular é escasso mas há inúmeros domicílios em condições precárias, os chamados
“cortiços”, moradias de aluguel voltadas para a população de baixa renda, quase sempre com uma relação
complexa entre os donos e os inquilinos e uma presença forte de intermediários, que administram as
relações de locação.
Os edifícios residenciais de melhor qualidade se concentram em alguns pontos da área central da
cidade. O bairro da Mooca, como outros que margeiam o centro, apresenta algumas características
específicas de uso da terra em função de sua localização e história.
O desenvolvimento de um plano de ação serviria como referência para um programa de renovação
urbana para outros bairros ao redor do coração da cidade. Cada programa deverá se implementar
com uma visão social diferente, pois nos processos de renovação predominam a relocação de antigos
moradores com o aumento do valor dos imóveis.
É possível que nesta parte do bairro da Mooca, as características sociais e físicas tenham sido a razão
pela qual a estrutura do bairro foi preservada ao longo do tempo. Outra explicação talvez seja a estrutura
fundiária fragmentada de bens imóveis em pequenos ou médios proprietários, que desencorajam os
empresários do setor imobiliário a investir neste bairro.
Análise de Forças favoráveis e contrárias à revitalização
O desenvolvimento de um programa de moradia social em áreas centrais de São Paulo implica numa
análise das forças favoráveis e contrárias a sua implementação
Forças favoráveis
1. Proximidade com o centro histórico de São Paulo - representa economia de investimentos em
infra-estrutura
2. Existência de infra-estrutura urbana - representa economia de recursos e reduz o tempo para
implementação de projetos habitacionais
3. Boa acessibilidade através dos meios de transporte significa uma redução de tráfego porque se
baseia em linhas de curto trajeto para acesso ao centro.
4. Existência de empregos na área - propicia uma redução de problemas sociais, reduz o uso de
transporte e garante uma economia de tempo para as pessoas que vivem na área.
5. Existência de lojas e serviços como bancos, restaurantes, serviços de atendimento ao cidadão - a
mistura de usos representa a possibilidade do uso completo de sua infra-estrutura, propicia segurança
aos moradores e resulta em economia no uso do transporte coletivo.
178
fig.19
6. Edifícios com valor histórico dentro e ao redor da área representam a herança histórica desse
bairro e possui grande potencial turístico
7. Possibilidades de recuperação do Rio Tamanduateí como área de lazer - o eixo do Rio
Tamanduateí é uma zona importante no centro de cidade com grande potencial de lazer e alívio para
a altura e densidade excessivas dos edifícios no centro da cidade.
8. Permanência da memória do processo de urbanização manutenção de estrutura de ocupação
com tipologias de edifícios que representam a identidade de arquitetura da industrialização de São Paulo
(vilas operárias, grupos de casas em série, etc.)
9. Primeiro grupo de casas em série construídas em São Paulo pelo arquiteto Gregori Warchavchik,
- exemplo de arquitetura moderna a ser preservado também com potencial turístico
10. Permanência de identidade cultural através de eventos de festividades e formas típicas de
convivência italiana - como por exemplo a festa de San Gennaro promovida pela Igreja católica local
anualmente que representa parte do potencial turístico da área
11. Existência na área de grandes empreendimentos e instituições - como por exemplo, o centro
de processamento do grupo Itaú, fábrica da cervejaria Antártica, Faculdade Anhembi - Morumbi de
Arquitetura que poderiam se interessar em investir na área, o que significa uma oportunidade para
adquirir capitais para desenvolver um programa de revitalização.
12. Presença de edifícios de antigas fábricas totalmente ou parcialmente desocupados ao longo da
estrada de ferro que podem ser reciclados são espaços potenciais para produzir moradia social e novos
espaços de uso público.
13. Interesse de outras municipalidades de região metropolitana de São Paulo para desenvolver o
potencial de investimentos na direção do rio Tamanduateí - representa uma oportunidade para desenvolver
um programa integrado na região metropolitana pois o rio pertence a muitas municipalidades.
14. Existência de legislação de parcerias na cidade de São Paulo - é um precedente para desenvolver
a revitalização com uma visão social.
15. Existência de Movimentos de Moradia que demandam programas de moradia social na área
central - é uma possibilidade da participação de comunidade no implementação do programa.
16. Horizontalidade da paisagem ao redor do rio e da estrada de ferro - aspectos geográficos
importantes para recuperar a qualidade de vida no centro de cidade.
17. Grande quantidade de moradias em cortiço em condições precárias - é uma oportunidade para
adquirir recursos do governo federal para desenvolver um programa de revitalização.
18. Existência de pessoal técnico na Prefeitura Municipal de São Paulo capaz para desenvolver o
programa e projetos significa economia de tempo para começar o programa.
19. Existência de estudos preliminares sobre moradias de cortiço nos bairros centrais, em órgãos
públicos municipais e estaduais na Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Governo
do Estado - é ponto de partida para discutir o programa com os envolvidos na problemática.
179
Forças contrárias
1. Estrutura fundiária baseada em pequenas propriedades dificulta a negociação para aquisição
dos imóveis e seu posterior possível reagrupamento.
2. Propriedade privada da terra urbana - aumenta o preço e dificulta a implementação do programa.
3. Grande presença de “cortiços” dificulta a negociação com proprietários.
4. Falta de organização da população em instituições comunitárias fortes dificulta a implementação
do programa.
5. Falta de participação da população dificulta a concepção do programa.
6. Rotatividade das famílias nos “cortiços” dificulta a participação da comunidade.
7. Poluição do ar - desencoraja investimentos em programas de habitação na área central da cidade.
8. Avenida sobre o rio - é um obstáculo para recuperar a paisagem porque é uma estrutura viária
importante no centro.
9. Implementação de nova linha de transporte, o “Fura Fila” sobre o tampão do rio - é um obstáculo
para desmontar a avenida e recuperar o rio e sua paisagem.
10. Descontinuidade administrativa - é prejudicial para projetos de longo prazo e cria insegurança
no setor privado e na comunidade
11. Excessiva cobiça do setor privado impede a revitalização com uma visão social e de preservação
da memória
12. Falta de um plano diretor da cidade com definição sobre as diretrizes para esta região da cidade
dificulta a obtenção de recursos para o programa.
13. Estrutura verticalizada da municipalidade sem articulação e integração entre vários programas
- fragmentação da racionalidade do uso dos recursos públicos materiais e humanos.
14. Falta de capitais para um grande programa de revitalização dos bairros e do centro da cidade
dificultam um programa de moradia social e aumentam a decadência da área.
15. Falta de banco de dados atualizado sobre o bairro da Mooca e da área central - é um obstáculo
para se dimensionar os recursos necessários para implementar a revitalização.
16. Investimentos de setor privado dirigidos ao vetor sudoeste da cidade - desloca os recursos
privados para uma área privilegiada
17. Falta de áreas verdes diminui a qualidade de vida da área e aumenta a possibilidade de
inundações.
18. Inundações - é um obstáculo a curto prazo pois envolve um projeto macro drenagem de
recuperação do rio.
19. Interesse na manutenção da paisagem horizontal - pode desencorajar investimentos para alcançar
densidades maiores na área.
20. Acessibilidade truncada para o bairro da Mooca - é um fator de degradação
180
Programa de Habitação de Interesse Social no bairro da Mooca - uma estratégia de
revitalização.
A implementação do processo de revitalização no bairro da Mooca envolve muitas estratégias e ações
sobre problemas que devem ser resolvidos a curto, médio e longo prazo.
Algumas ações dependem de recursos dos governos Federal e Estadual porque se referem a serviços
ou obras que precisam de longo tempo para se desenvolverem e uma soma muito alta de recursos.
As estratégias principais identificadas neste caso são:
1. A recuperação do rio Tamanduateí e solução do sistema de drenagem.
2. A solução do tráfego e da acessibilidade do bairro.
3. A solução para o problema da segurança.
4. A preservação da herança histórica.
5. A formulação de uma abordagem e metodologia para a revitalização de bairros centrais.
6. A implementação do programa de habitação de interesse social.
Todas elas estão relacionadas ao processo de decadência do bairro da Mooca, mas não é possível
atacar todos os problemas ao mesmo tempo porque eles têm grande complexidade para sua solução.
1. A recuperação do rio Tamanduateí e o sistema de drenagem
A recuperação do rio Tamanduateí e solução da drenagem urbana na área envolvem grande quantidade
de recursos e níveis diferentes de decisão
O rio é intermunicipal e, portanto, envolve decisões integradas entre várias municipalidades e, além
disso, é um eixo importante unindo a região Sudeste e Norte da cidade. Sobre o rio há uma avenida que
foi construída para resolver o tráfego na Avenida do Estado, mas esta solução de drenagem formou
uma barreira que torna difícil a travessia para outros bairros vizinhos pois está localizada a três metros
acima das outras ruas do bairro com um tráfego intenso de caminhões.
Hoje já é possível alterar o fluxo dessa avenida, pois um novo anel viário une a região metropolitana
pela periferia da cidade.
As soluções técnicas atuais desenvolvidas para enfrentar o problema de drenagem inclui o aumento
das áreas verdes junto ao rio, mas é necessário obter capitais do governo federal e do setor privado para
reconstruir a avenida e relocar os bens imóveis para incrementar as áreas verdes.
181
182
2. A solução do tráfego e da acessibilidade
A solução de tráfego do bairro da Mooca deve ser parte de um plano diretor da área e integrado
dentro de uma visão de solução global de desenho urbano e de uso do solo. É necessário melhorar o
transporte público que deve ser orientado por um desenho urbano e soluções voltados para melhorar
a paisagem, e a qualidade de vida na área, com a inclusão de ciclovias entre curtas distâncias.
O Governo Municipal recentemente começou a instalação de uma linha de transporte público de
média capacidade, chamado de “VLP”, Veículo Leve sobre Pneus, que pode causar mais danos que
benefícios para a qualidade de vida do bairro. O desenho dessa linha de transportes deve ser modificado
no sentido de rever sua integração na solução do sistema de drenagem e no redesenho dos bairros
limítrofes a ela.
fig.21
3. A solução da segurança
O problema de insegurança está ligado à falta de programas sociais para a população pobre que vive
nas áreas centrais, porque o tráfico de drogas afeta principalmente as pessoas jovens. A falta de opções
de lazer, o desemprego e a pobreza estimulam o consumo e tráfico de drogas.
Esta situação envolve muitas ações, parte delas relacionadas à revitalização do bairro da Mooca. Por
outro lado, é necessário aumentar a renda e a oferta de empregos e envolver os jovens em atividades
educacionais, culturais e de lazer.
4. A preservação da herança histórica
A preservação da herança histórica do bairro da Mooca é um objetivo a ser perseguido para expressar
a identidade das pessoas que vivem na área, mas também expressa muitos aspectos da história da
formação da cidade de São Paulo.
Muitos dos lugares como as fábricas, a estrada de ferro, o grupo de casas construído pelo arquiteto
Gregori Warchavichk, pertencem à memória da cidade como um todo, quando a cidade era a metrópole
industrial do Brasil. Portanto, esta história pertence a toda a população de São Paulo e não só as pessoas
do bairro da Mooca.
Neste momento, há uma falta de consciência do setor privado e da comunidade sobre o significado
destes aspectos da memória da cidade e o que representa na construção do futuro das novas gerações.
183
fig.22
Esta estratégia do programa de revitalização da Mooca necessita do comprometimento da comunidade,
dos três níveis governamentais, do setor privado e outros parceiros como as ONGs e universidades.
5. Criação de uma metodologia para revitalização de bairros na área central.
A criação de uma abordagem para revitalização de bairros centrais deve começar pelos estudos já
realizados sobre o centro da cidade e sobre os bairros vizinhos ao centro.
Há muitos estudos nos departamentos governamentais locais, no governo do Estado e principalmente
na universidade, os quais são desconhecidos por todos os envolvidos neste processo
Esta abordagem deve ser parte do Plano Diretor da cidade sob responsabilidade do Governo
Municipal que deve envolver a comunidade da área central para discutir os passos a seguir e, também,
envolver todos os prováveis parceiros no processo.
fig.23
6. A implementação de programa de habitação de interesse social
Finalmente, a implementação de um programa de habitação de interesse social é a estratégia escolhida
para começar com a revitalização do bairro da Mooca, porque é a atividade que é possível alcançar no
curto prazo.
Primeiro, porque a demanda por moradias sociais dos moradores de cortiço é muito grande. Segundo,
porque o processo de decadência do bairro da Mooca pode reduzir os preços de bens imóveis na
negociação com os atuais proprietários.
O Governo Municipal junto com o comprometimento da comunidade, ONGs, e setor privado
podem iniciar o programa de moradia social como um arranque da revitalização.
Após o início do programa é necessário envolver o Governo Federal e Estadual, porque os fundos
municipais são insuficientes para implementar a totalidade do programa.
A intervenção sobre o rio de Tamanduatei produziria um grande impacto para resolver a decadência
de bairro da Mooca, mas esta ação seria uma ação de cima para baixo, por parte do governo o que
produziria imediatamente o aumento no preço de bens imóveis e as pessoas pobres iriam ser forçadas
a deixar a área.
Então, o programa de habitação social é a forma para envolver a comunidade, no sentido de melhorar
sua condição de moradia e contribuir para incrementar o processo de revitalização
Ao mesmo tempo, é possível criar programas educacionais e sociais para as crianças e adolescentes,
no sentido de prevenir contra o tráfico de drogas. Nesse caso, o envolvimento com o programa de
recuperação do rio e de resgate da herança cultural do bairro seriam elementos motivadores do incentivo
184
fig.24
à cidadania junto à população mais jovem.
Os projetos de habitação devem incluir serviços sociais para melhorar a qualidade de vida da população
do bairro da Mooca e a luta contra as drogas é imperativo para alcançar este objetivo
Outro aspecto é o fato de que através dos projetos de habitação se criarão novos desenhos de
arquitetura, o que levará ao estudo dos padrões dos edifícios históricos e do antigo tecido urbano para
preservá-los e integrá-los ao novo desenho do bairro.
A falta de consciência sobre a necessidade de se preservar a herança cultural da cidade torna difícil
captar recursos para o processo de revitalização do bairro da Mooca. Só uma questão social séria, como
a demanda por habitação da população de baixa renda pode mobilizar as forças necessárias para ativar
este programa.
Com relação à infra-estrutura é mais econômico construir em áreas centrais que na periferia urbana
porque a infra-estrutura básica já existe, como provisão de água, de energia, ruas pavimentadas, centros
comerciais, bancos, e outros serviços.
Além disso, a proximidade do bairro da Mooca com o “coração” da cidade oferece muitos recursos
à população em termos de acesso ao emprego, ao comércio, serviços, ao transporte público, lazer e
cultura .
Proposta de estrutura e instrumentos para implementação do programa de revitalização do
bairro da Mooca.
As ações para implementar o programa de moradia social apresentam níveis diferentes de abordagem,
complexidade e atores ligados ao objetivo central que é a implementação da revitalização da Mooca.
Algumas destas ações são específicas do programa de moradia com seus respectivos atores e estruturas
necessárias. Outras ações são de caráter geral e necessitam estabelecer relações com muitos atores e
programas.
Ações do programa de moradia social.
1. Elaborar uma pesquisa e banco de dados sobre as condições de moradia da população de baixa
renda. Parceiros: PMSP- SEHAB e SEMPLA comunidade, movimentos de área centrais de habitações,
ONGs e Universidades e setor privado
2. Elaborar estudo sobre o potencial de adensamento sem descaracterização dos bairros da área
central: Parceiros: PMSP SEHAB, COHAB, SEMPLA, DPH, EDIF, setor privado, movimentos de
moradia, ONGs.
185
fig.25
3. Promover um encontro com movimentos de moradia social na área central para estabelecer prioridades
para a população que mora em cortiços. Parceiros: PMSP SEHAB, SEMPLA, DPH, SAS.
4. Escolher as áreas potenciais para projeto de habitação na Mooca onde seja possível alcançar
densidades altas com o uso de edifícios desocupados ou o miolo das quadras. Parceiros: PMSP SEHAB,
SEMPLA, DPH, EDIF
5. Realizar convênio com o governo federal e estadual para implementar um programa de revitalização
e moradia social na área centra de São Paulo. Parceiros: PMSP, Governo federal e estadual.
6. Redefinição do suporte legal para incorporar os donos de bens imóveis como parceiros na
implementação do programa e criar na COHAB uma agência para negociar bens imóveis com
proprietários e criar o programa de aluguel social para baixa renda. Parceiros: PMSP SEHAB, COHAB,
SEMPLA, DPH, SNJ, CMSP.
7. Elaborar a legislação específica sobre padrões de uso da terra, em áreas históricas de preservação
seguindo a diretriz de “baixo gabarito - grande densidade”. Parceiros: PMSP SEHAB, SEMPLA, DPH,
EDIF, CMSP.
8. Promover um encontro com os empresários de bens imóveis para discutir o seu interesse em
investir em bairros centrais. Parceiros: PMSP SEHAB, SEMPLA, DPH, líderes de movimentos de
habitações e ONGs.
9. Implementação de projetos de moradia popular. Parceiros PMSP SEHAB, COHAB, DPH, EDIF
movimentos de moradia na área central, setor privado, ONGs.
Ações das estratégias gerais para revitalização do bairro da Mooca
1. Criação da “Oficina de preservação e revitalização da Mooca” para implementar o programa
de revitalização. Parceiros: PMSP, Setor Privado local, entidades de base dos movimentos de cortiços,
proprietários de imóveis, ONGs, Governo Estadual.
2. Delimitação das áreas de projeto. Parceiros: PMSP SEHAB, DPH, SEMPLA, comunidade.
3. Criação da Oficina especial de projeto: Parceiros: PMSP - SEHAB, COHAB, SEMPLA, DPH,
EDIF, ONG.
4. Desenvolvimento do projeto de preservação e revitalização do bairro da Mooca - para resolver
os aspectos de acessibilidade, espaços públicos, drenagem, habitação, recuperação do rio e dos edifício
históricos. Parceiros: PMSP SEHAB, DPH, setor privado, ONGs.
5. Definição dos limites da área incluída na lei específica com a criação do instrumento da ZPUZona de Projeto Urbano. Parceiros: PMSP DPH, SEMPLA, setor privado, ONG, representante de
movimentos dos moradores.
6. Promover encontro com as entidades de preservação históricas para discutir um programa
permanente de preservação e revitalização. Parceiros: PMSP - SEHAB, SEMPLA, DPH.
186
7. Elaborar um plano diretor para a área central. Parceiros: PMSP - SEHAB, SEMPLA, DPH.
8. Identificação dos bairros que tem potencial para alcançar altas densidades: Parceiros: PMSP SEHAB, SEMPLA, DPH.
9. Definição das ações que devem ser implementadas no curto, médio e longo prazo: Parceiros:
Comitê para implementar a revitalização do bairro da Mooca.
10. Realizar convênio com o governo estadual para implementar uma reformulação do sistema de
drenagem no rio Tamanduateí. Parceiros: PMSP, Governo estadual e Universidade de São Paulo.
11. Elaborar um plano diretor de micro drenagem para o bairro da Mooca Parceiros: Governo
estadual, PMSP SEMPLA.
12. Criação da Oficina de pesquisa histórica do bairro da Mooca . Parceiros: PMSP-DPH,
entidades dos moradores de cortiço, entidades dos moradores do bairro, departamento de informação
do município.
13. Criação de Museu da Vida da Mooca. Parceiros: PMSP-DPH entidades dos moradores do bairro,
setor privado, ONG, Comitê para revitalização de Mooca.
14. Criação do Conselho de cidadãos dos bairros centrais. Parceiros: entidades dos moradores do
bairro, movimentos sociais de áreas centrais.
15. Criação do programa de formação “oficina dos jovens historiadores da Mooca”: Parceiros:
PMSP-SAS, SEHAB, DPH e ONGs
Recomendações
O processo de urbanização da cidade de São Paulo já se estabilizou com uma taxa de crescimento
populacional ao redor de 1,2%, mas está longe de expressar que há qualidade de vida para a maioria
da população e, nesse contexto, dois caminhos se apresentam como prioritários a serem seguidos para
se iniciar um processo de mudança na política urbana da cidade. O primeiro, é a regularização dos
assentamentos informais na periferia da cidade com critérios bem delimitados da questão ambiental.
O outro, é reabilitar o centro da cidade e os bairros ao seu redor, pois não há mais espaço físico para
se ampliar os limites da urbanização, enquanto a maioria de sua população vive em más condições na
chamada “cidade ilegal”.
O programa de revitalização do bairro da Mooca pode ser um exemplo de uma abordagem para
alcançar este objetivo.
Este programa necessita de novas relações entre as muitas instituições envolvidas, lastreada numa
gestão compartilhada das ações do programa. Por isso, é necessário desenvolver as ações que quebrem
as barreiras legais e institucionais a partir da criação de um Comitê Especial, legalmente constituído,
com participação popular e ligado diretamente ao chefe do executivo Municipal para implementar o
programa na cidade.
187
Notas
1. AB´SABER, Aziz Nacib - São Paulo: (Re)visão de uma metrópole - Conferências
Temáticas - IEA mimeo, abril, 1996.
2. SEMPLA - São Paulo em números. Julho,2001
3. SEMPLA, op. cit.
4. SEMPLA, op. cit.
5. SEMPLA, op. cit.
6. SEMPLA, op. cit.
7. SEMPLA, op. cit.
8. AB´SABER, Aziz Nacib, op. cit.
9. Essa proposta de metodologia de trabalho foi desenvolvida durante o curso de três meses realizado em Rotterdam,
Holanda, no Institute For Housing and Urban Development Studies com bolsa de estudos do governo holandês e apoio
da Prefeitura Municipal de São Paulo denominado “Inner City Renewal”. O IHS é um instituto especializado em políticas
habitacionais e de desenvolvimento urbano financiado pelo governo holandês, pelo Banco Mundial e por recursos oriundos
dos convênios de assessoria técnica a países em desenvolvimento da Ásia, África, América Latina e Leste Europeu e cidades
da Holanda. Existe desde a década de 40 e colaborou nos programas de reconstrução das cidades holandesas atingidas por
bombardeios na Segunda Guerra, como Rotterdam. O curso desenvolveu-se em vários módulos de especialização, com visitas
a cidades da Holanda onde se desenvolveram experiências de renovação urbana, leituras, palestras, seminários e elaboração
de trabalho escrito por todos os participantes. O primeiro módulo foi de introdução geral às estruturas institucionais da
Holanda. O segundo, voltou-se para uma abordagem das vantagens e desvantagens da atuação dos governos locais e por
último o módulo específico do Inner City Renewal que teve a participação de técnicos de vários países como Brasil, Cuba,
México, Etiópia, Índia, Nepal, Peru, Estados Unidos, Vietnam que enfocou os conceitos e as experiências de preservação
da herança histórica em centros urbanos. O trabalho elaborado naquela ocasião focalizou a metodologia de preparação e
execução de um plano de ação (“Action Plan”).
188
Capítulo V
O Significado do lugar
189
1. O interesse pela memória e a escala do projeto urbano: do bairro à cidade
A memória coletiva se constrói através dos tempos na história de algum lugar e com a contribuição
de todos os cidadãos que viveram ou ainda vivem nesse lugar.
Na cidade de São Paulo é fato conhecido que a sua memória e o seu patrimônio histórico, têm
sido destruídos a cada nova etapa de desenvolvimento econômico e as suas características espaciais
são alteradas a cada momento, numa velocidade peculiar, que não é assimilada pelo conjunto dos seus
cidadãos num mesmo grau de conhecimento e aceitação.
Os interesses da produção imobiliária, desde os primeiros tempos da industrialização da cidade,
buscaram as alternativas de uso e ocupação do solo mais convenientes para obtenção de lucro no mais
curto espaço de tempo.
O processo de ocupação da cidade e a extensão cada vez maior de seus limites se deram num espaço de
tempo muito curto, praticamente no final do século XIX e primeira metade do século XX, e rapidamente
as áreas mais antigas mudaram suas feições com o processo de verticalização da cidade.
A metrópole industrial se modifica dando lugar a uma metrópole de serviços.
No entanto, alguns bairros da cidade mantiveram suas características espaciais e arquitetônicas e sua
tipologia de ocupação, apesar da mudança do perfil de seus habitantes e do processo de degradação.
Este é o caso do bairro da Mooca.
Alguns elementos construtivos do bairro marcam a época de seu surgimento como local de moradia
da classe operária. Exemplos se verificam com a permanência das vilas operárias, os conjuntos de casas
em série, especialmente as de Gregori Warchavick, situadas na rua Barão de Jaguara esquina com rua
Odorico Mendes.
fig.01
fig.02
fig.03
190
fig.04
191
fig.06
fig.07
fig.05
fig.08
fig.09
192
Outros elementos são algumas indústrias localizadas ao longo da ferrovia e o traçado viário do
bairro, que se estruturou no processo de parcelamento e que mantém suas características originais,
desde quando se consolidou como área urbana.
O principal elemento urbanístico estruturador, sem dúvida, foi a ferrovia que ligou o porto de Santos
ao planalto no período da economia do café.
A Mooca como bairro, por si só, constitui-se como um elemento de grande importância histórica,
pois sua localização coincide com o último trecho do caminho percorrido pelos viajantes que vinham
do porto de Santos em direção ao planalto e seria o ponto de chegada ao local de fundação da sede da
capitania.
É o ponto de chegada à vila, próximo ao tanque do Lavapés e ao antigo Caminho do Mar.
Esse local, cuja urbanização só aconteceu tardiamente no período da industrialização, no entanto,
conheceu uma grande movimentação por parte dos viajantes que chegavam ou passavam pelo planalto
no período colonial e no período do ciclo do ouro, pois ali se localizaram pousos, pequenos serviços
e comércio de apoio às viagens, conforme indicam alguns mapas do período colonial.
Alguns acontecimentos históricos que tiveram lugar no bairro da Mooca não são lembrados, a não
ser nas publicações de história do Brasil. Nos espaços do bairro, as atuais gerações moradoras não
percebem a presença de marcas de preservação dessa história.
Mas, a Mooca representa um dos bairros de surgimento da classe operária brasileira, onde a cidade
de São Paulo começou a construir seu perfil de cidade industrial e futuro polo de desenvolvimento
econômico do país.
Nesse pequeno território tiveram lugar as lutas operárias que se irradiaram pelos bairros fabris que
culminaram com a greve geral de 1917 e que resultou na morte de um operário próximo à porteira do
trem, no cruzamento com a rua da Mooca. O estopim da greve aconteceu na fábrica do Cotonifício
Crespi, a leste da ferrovia, cujo edifício permanece até hoje no bairro ocupado por outras pequenas
indústrias.
fig.11
fig.12
193
fig.10
A Mooca foi palco, também, das lutas da revolução de 1924 entre as tropas governistas do presidente
Artur Bernardes e os levantes militares contra as medidas privatizantes receitadas pelo capital internacional
na época que atingiam o Banco do Brasil, a Central do Brasil e o Lloyd Brasileiro e, principalmente, as
reformas institucionais pretendidas pelo governo que mexiam com direitos adquiridos.
Domingos Meirelles nos remete ao clima de 1924 na cidade de São Paulo, por ocasião do levante
militar que envolveu a Força Pública de São Paulo. Muitos desses acontecimentos tiveram como palco
os bairros operários que circundam o centro da cidade.
Os militares que dirigiram aquela ação, como o capitão Juarez Távora, o tenente Eduardo Gomes e
Joaquim Távora, entre outros, foram colocados na clandestinidade e considerados desertores pela Justiça
Militar após o fracassado levante que tentou impedir a posse do presidente Artur Bernardes em 1922.
O episódio que aconteceu no Forte de Copacabana, ficou conhecido como “18 do Forte”.
O governo de Artur Bernardes reprimiu energicamente o levante, pois o ambiente sócio econômico
da cidade de São Paulo, já com 700.000 habitantes e um parque industrial bastante desenvolvido, era
favorável para que esta revolta escapasse os limites dos quartéis e envolvesse a emergente classe operária
paulista com péssimas condições de trabalho, apesar das conquistas da greve de 1917.
O governo criara em 1923 o Conselho Nacional do Trabalho para regulamentar relações trabalhistas,
mais com o intento de conter conflitos do que com uma preocupação de justiça social.
A exploração brutal do braço operário é um traço dominante na maioria das fábricas em São Paulo. Além de
uma remuneração indigna, os trabalhadores são ainda impiedosamente multados pelos patrões, sob acusação de
indolência ou por erros cometidos durante o serviço. Não há também limite de idade para o trabalho nas indústrias.
Algumas fábricas de tecidos, como as localizadas na Mooca, costumam empregar crianças com até oito anos de
idade. Metade da força de trabalho industrial é representada por menores. Esses pequenos trabalhadores, que
exercem as mesmas tarefas pesadas do operário adulto, ganham salário ínfimo; quando cometem qualquer falha
são espancados pelo gerente 1.
...Não há praticamente lei de férias. A legislação de 1917, que concedeu férias de quinze dias aos trabalhadores
nunca foi respeitada pelos patrões. As fábricas dispensam os operários sem pagar indenização. As mulheres que
integram esse proletariado fabril, em sua maioria mocinhas, quando engravidam, são castigadas com demissão
sumária 2 .
...A crise econômica que o país vive desde 1922 aguça ainda mais o quadro de miséria e sofrimento. A queda das
exportações de café, algodão e açúcar, aliada à redução brutal da produção da borracha, provocara insuportável
aumento do custo de vida, que sufoca a população. Em relação a 1914, a carestia tinha se elevado, em 1924, quase
140%, um patamar que contribuía para exacerbar ainda mais o clima de insatisfação dos habitantes dos grandes
centros urbanos, já duramente castigados pela escassez de alimentos 3.
Diante desse quadro, só restava aos trabalhadores se organizar e lutar, segundo Meirelles em 1923,
já haviam 71 sindicatos em São Paulo.
194
fig.13
fig.14
O medo do governo Artur Bernardes era de que o levante militar aliado à insatisfação dos operários
criasse condições para uma revolução bolchevique como a de 1917 na Rússia, daí a repressão violenta
ao movimento.
Esses fatos fazem parte da história nacional, mas grande parte dos locais onde eles ocorreram estão
sendo descaracterizados. Seu significado só será valorizado se houver uma política de preservação dos
bens culturais e históricos da cidade que resulte na elaboração de projetos que tragam ao universo
público a consciência de sua história como parte da vida cotidiana de quem habita esses lugares, e com
isso estimule o afeto e orgulho pela cidade.
Alguns fatos permanecem preservados como espaço construído, outros são fatos históricos registrados
em documentos ou livros mas, poucos cidadãos conhecem, principalmente, porque em geral a população
empobrecida pouco acesso tem à cultura e não há uma política de estímulo à cidadania para que os
moradores de certos pedaços da cidade conheçam a história de seu lugar .
O desenho da estrutura urbana da Mooca e inúmeros imóveis resistem ao tempo preservados
em sua maioria pelos moradores mais pobres dos cortiços. A Mooca é um espaço de resistência às
transformações urbanísticas promovidas pelos interesses imobiliários na cidade, simbolicamente, como
foi um espaço de resistência da luta operária na primeira fase da industrialização do Brasil, na primeira
metade do século XX.
A memória urbana ou a memória de uma cidade é a memória do seu desenho, de suas ruas, de
suas construções mas sem dúvida a memória da história de seus moradores e dos acontecimentos que
marcaram a sua vida.
Os tempos atuais da globalização, que se caracterizam por uma intensa massificação de padrões de
comportamento social, de consumo e de formas de viver, tem levado a uma angústia nas populações
das grandes cidades, pela falta de identidade das pessoas com os seus espaços de viver.
Esse processo inclui desde um aumento de sentimentos nacionalistas extremistas como os que
vem ocorrendo na Europa, até a busca pela valorização do patrimônio cultural e histórico de diversas
comunidades em diversas partes do mundo, como em Dordtrech na Holanda ou em Havana, em Cuba,
em que os planos de preservação da memória dos centros históricos incluem uma política de fomento ao
turismo e associação do poder público ao privado na recuperação dos espaços para valorizar o entorno
das áreas de comércio e serviços.
Há uma maior resistência frente à destruição de valores culturais e formas de organização social, e
as renovações ou intervenções em assentamentos humanos tem exigido de seus promotores, sejam eles
agentes governamentais ou privados, uma postura de negociação com as comunidades afetadas pelos
projetos que se queiram implantar.
As intervenções urbanísticas em vários países do mundo têm passado pelo crivo das comunidades
envolvidas e o respeito às identidades culturais tem sido objeto do elenco de variáveis que devem ser
analisadas sobre a viabilidade ou não de tais intervenções.
Outro aspecto que deve ser considerado, é o fato que esse tipo de resistência às mudanças no espaço
urbano ou em outro tipo de assentamento, carrega um significado positivo no sentido do apego e
195
fig.15
fig.16
valorização do território por seus habitantes.
No caso de São Paulo, este é um aspecto que deve ser valorizado nas práticas de renovação urbana,
pois o desamor pela cidade se expressa em todas as classes sociais e em todas as regiões da cidade.
O nível de deterioração da qualidade de vida se visualiza em todas as partes da cidade. As raízes dessa
condições estão calcadas no desenvolvimento econômico do país, mas são fruto também da ausência do
papel do Estado na relação do controle sobre o espaço público com o espaço privado e na configuração
territorial que estas relações construíram na cidade.
São Paulo sempre apresentou uma segregação espacial relacionada à distribuição de renda bastante
patente no seu feitio.
As classes mais abastadas foram ocupando as terras melhor situadas e mais altas, compondo o
vetor de crescimento na direção do espigão da avenida Paulista. Já as classes populares e o operariado
ocuparam, inicialmente, as áreas mais baixas e inundáveis das várzeas dos principais rios da cidade,
acompanhando a localização industrial.
Mais recentemente, nas duas últimas décadas, os assentamentos populares e precários vem ocupando
as áreas periféricas com necessidade de proteção ambiental, tendo em vista que a proximidade com a
indústria não é mais primordial em face da redução no nível de emprego nesse setor e da flutuação dos
empregos no comércio e serviços, que assumem freqüentemente o caráter de empregos temporários.
Essa dinâmica, acompanhada do empobrecimento da população, coloca em desuso uma grande
quantidade de espaços construídos para moradia e para as atividades econômicas e aos poucos vão se
delineando imensos territórios de uma “cidade fantasma”, com edifícios residenciais, de escritórios e
fabris vazios localizados no anel central e intermediário da cidade, sem uso, estocados à espera de uma
nova cidade ou de uma reocupação.
A vida, que aconteceu em diversos momentos da história urbana, fica abafada e esses pedaços da
cidade revelam uma feição sombria, triste e parecem que formam uma barreira, ou mesmo um anteparo
entre a cidade dos negócios do vetor sudoeste e a cidade da miséria dos bairros periféricos, onde impera
o domínio da violência, da expansão das fronteiras urbanas e o fosso entre a necessidade de urbanização
e a capacidade de investimento do poder público em atendê-la.
A cidade de São Paulo encontra-se num estágio de urbanização em que as intervenções urbanísticas
devem se orientar por uma abordagem mais ampla que coloque o contexto geral da cidade e suas relações
com as intervenções localizadas.
As soluções não precisam ser abrangentes mas o entendimento do problema sim 4.
No caso da Mooca, há vários aspectos que se referem à escala da cidade, como o projeto para o rio
Tamanduateí, para as vias de acesso ao centro, para resolver o problema da poluição e reorganizar o
transporte coletivo da área. Outros aspectos são de caráter local, mas possuem um lastro numa visão
futura de cidade, como nas questões do patrimônio construído e nas soluções de habitação no âmbito
local.
196
fig.17
fig.18
197
Estas duas escalas de abordagem vão oferecer os elementos ou subsídios, ou ainda se quiser, os códigos
a serem utilizados para o desenvolvimento do projeto urbano. É preciso uma visão dialética dos espaços
na cidade. Quando se projeta na Mooca, também estamos falando da periferia e vice versa. Pois há que
se economizar recursos gastos em infra-estrutura e aproveitar o patrimônio construído urbano.
Como diz Flávio Motta:
Totalidade não é soma, totalidade não é soma de vinte garrafas. Totalidade é uma noção onde se dirá que o
particular só se explica pelo geral, e o geral só se explica pelo particular 5.
Tanto o setor público como o setor imobiliário devem abandonar as velhas práticas e se modernizarem
com uma visão mais humana e dentro de uma perspectiva de futuro: preservando o espaço construído
no passado para seus negócios do futuro. Essa deve ser uma premissa a ser encarada pelos diversos
setores que atuam na organização do espaço urbano.
Em todos os espaços há relações de uso estabelecidas pela população. Às vezes, as relações são
meramente utilitárias quando o espaço urbano serve para o desenvolvimento de atividades, outras
são de caráter contemplativo, quando envolve elementos da paisagem natural e, por último, há que se
considerar as relações de caráter afetivo elaborado a partir de lembranças, de referências ou a partir do
envolvimento direto na construção ou organização daquele espaço. Segundo Carlos Lemos,
O artefato cidade também se renova sobre si mesmo. Ruas alargadas, quartos rasgados, vales ultrapassados
por viadutos. Casas demolidas e refeitas; seus móveis carunchados são substituídos, o resto do equipamento
doméstico trocado por novidades importadas e a papelada da família queimada...
Assim, o sistema articulado de bens culturais dentro da cidade é permanentemente alterado 6.
Em geral guardaram-se os objetos e as construções ricas da classe poderosa. Guardaram se os artefatos
de exceção e perderam-se para todo o sempre os bens culturais usuais e corriqueiros do povo. Esses bens
diferenciados preservados sempre podem levar a uma visão distorcida da memória coletiva, pois justamente por
serem excepcionais não tem representatividade. Somente agora, nos últimos dois séculos, é que a arqueologia se
esforça por recolher, identificar e estudar os restos e vestígios de povos já desaparecidos para tentar conhecê-los
melhor no seu cotidiano prosaico, para vislumbrar seu pensamento, suas crenças, seus tabús 7.
fig.19
A busca por identificar que elementos da constituição de um determinado espaço devemos considerar
para preservar, deve se embasar no conhecimento da estrutura daquele lugar ao longo de sua história.
Agora, modernamente, a visão protetora de conjuntos de bens culturais urbanos tem uma abrangência maior,
procurando, antes de tudo, interpretações de caráter social através de todas as indagações possíveis atinente à
antropologia cultural, à história, à política, à economia, à geomorfologia, à arquitetura, etc. A cidade tem que ser
encarada como um artefato, como um bem cultural qualquer de um povo. Mas um artefato que pulsa, que vive,
fig.20
198
que permanentemente se transforma, se autodevora e expande em novos tecidos recriados para atender a outras
demandas sucessivas de programas em permanente renovação.
O núcleo urbano é um bem cultural composto de mil e um artefatos relacionados entre si, que vão desde aqueles
de uso individual, passando por outros de utilidade familiar, a começar pelas moradias, até as demais de interesse
coletivo. Assim, vemos que o conglomerado urbano se resume num local onde se desenrolam concomitantemente
infinitas atividades exercidas através de infinitos artefatos dispostos no espaço segundo suas funções ou atribuições,
e interessam à compreensão do que seja “Patrimônio Ambiental Urbano” somente os bens ou coisas, móveis ou
imóveis, que caracterizam ou permitam o bom desempenho do gregarismo ali existente 8.
fig.21
fig.22
fig.23
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Na Mooca essa estrutura apresenta edifícios construídos e aspectos urbanísticos da época da formação
do bairro como, por exemplo, o seu traçado viário que merecem ser preservados como escreve Carlos
Lemos,
Assim, o traçado urbano, independentemente das construções ali apostas, deve ser a preocupação primeira do
preservador envolvido com a problemática do patrimônio ambiental urbano. A nosso ver, depois de identificados
os agenciamentos urbanos originais, principalmente ruas e praças, dever-se-ia procurar ali as construções suas
contemporâneas, e poderíamos, então, analisar as relações espaciais primitivas ali mantidas. Cremos sejam essas
relações prioritárias na definição daquilo a ser preservado, em conjunto, pois aí já pode estar configurada uma
identidade cultural. Pelo exposto, dentre nossas cidades, sejam de que idade for, muito poucas ainda podem nos
mostrar tais relações originais entre espaços livres e construções da mesma época 9.
Vários aspectos da configuração do bairro merecem ser valorizados e os elementos que são
devastadores e desagregadores do espaço de vizinhança e de articulação com a cidade, como o tampão
do rio Tamanduateí, devem ser reformulados.
A idéia de preservação não se contradiz com a idéia de desenvolvimento. A qualidade de vida e o
bem-estar dos moradores de uma determinada região da cidade pressupõem o respeito a suas referências
culturais e históricas, respeito ao significado do lugar para seus moradores e usuários.
A importância da memória social é o centro da idéia de preservação e sua relação com futuro é fator
de desenvolvimento e de perspectiva para a sociedade.
Segundo Ulpiano Bezerra, a memória social está intimamente ligada à idéia de patrimônio ambiental
urbano.
Falar de patrimônio ambiental urbano , como falar de patrimônio cultural geral, é, de maneira direta ou indireta,
falar de memória social, de onde se projetam as significações que vão informar as representações da cidade.
Normalmente, porém, a memória fica associada apenas ao passado. Ora, sem memória não há presente humano.
A memória se refere precisamente a uma relação entre passado e presente. Em outras palavras: a memória gira
em torno de um dado básico do fenômeno humano a mudança. Se não houver memória, a mudança será sempre
fator de alienação e desagregação, pois ficaria faltando uma plataforma de referência e cada ato seria uma reação
mecânica, um mergulho vazio para outro vazio. É a memória que funciona como instrumento biológico cultural
de identidade, conservação, desenvolvimento. Esse passado, que a memória incorpora à minha experiência, só me
interessa porque eu estou vivo. Estou vivo num presente e enfrento o futuro: sou um ser histórico. Ter consciência
histórica não é informar-se sobre coisas acontecidas, mas perceber o universo social como algo submetido a um
processo contínuo de formação 10.
...preservar é uma forma de resistência à expropriação generalizada que exercem as forças econômicas nas
sociedades como as capitalistas, em que o espaço se reduz a mercadoria e o domínio público da cidade assume
o valor de ficção. Nesses termos, ainda, preservar é uma forma de reapropriar-se da cidade. Ao invés de, portanto
de preservação conflitar com desenvolvimento (que deveria supor uma ampliação da responsabilidade social) ela
vem a ser, precisamente uma das exigências do desenvolvimento 11.
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fig.25
fig.24
fig.26
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fig.27
2. A ocupação da várzea, moradia e trabalho da classe operária.
A Mooca é um dos bairros situados na várzea do Tamanduateí, parte dela fica na área alagadiça,
como sempre foi a história dos bairros operários em São Paulo situados às margens dos dois rios mais
utilizados como meio de transporte desde o período colonial, o Tietê e o Tamanduateí. A ocupação às
margens do rio Pinheiros pela indústria data de um período mais recente.
A história da ocupação territorial de São Paulo só poderia ter avançado pela várzea. Para muitos,
a várzea é um elemento da natureza que deveria permanecer intocado, mas o sítio geográfico de São
Paulo é marcado pelas suas colinas e vales de rios de maior ou menor porte, mas que cobrem a extensão
territorial inteira do domínio delimitado pelos jesuítas e colonos portugueses já no período colonial.
A arquiteta Anne Spirn em seu livro o Jardim de Granito nos oferece uma visão extremamente serena
a respeito do conflito cidade versus natureza e demonstra que é possível uma abordagem mais realista
e menos apaixonada sobre a questão ambiental, visando a solução dos problemas e não a negação de
um contato entre urbanização e meio ambiente natural.
A natureza permeia a cidade, forjando relações entre ela e o ar, o solo, a água e os organismos vivos em seu
interior e a sua volta. Em si mesmas, as forças da natureza não são nem benignas nem hostis à humanidade.
Reconhecidas e aproveitadas, representam um poderoso recurso para a conformação de um habitat urbano
benéfico; ignoradas ou subvertidas, ampliam os problemas que há séculos castigam as cidades, como enchentes,
deslizamentos e a poluição do ar e da água. Infelizmente, as cidades têm geralmente negligenciado e raramente
explorado as forças naturais que existem dentro delas 12.
202
A natureza na cidade é...a conseqüência de uma complexa interação entre os múltiplos propósitos e atividades
dos seres humanos e de outras criaturas vivas e dos processos naturais que governam a transferência de energia,
o movimento do ar, a erosão da terra e o ciclo hidrológico. A cidade é parte da natureza.
A natureza é um continuum, com a floresta num dos pólos e a cidade no outro. Os mesmo processos naturais
operam na floresta e na cidade.
A cidade não é nem totalmente natural nem totalmente artificial. Ela não é “inatural”, mas, antes, uma
transformação da natureza “selvagem” pelos seres humanos para servir às suas necessidades , do mesmo modo que
as áreas agrícolas são administradas para a produção de alimentos, e as florestas, para a da madeira. Dificilmente
sobre a terra, por mais remoto que seja, está livre do impacto da atividade humana. As necessidades humanas e
as questões ambientais que delas surgem têm milhares de anos, são tão antigas quanto a mais antiga das cidades,
repetidas a cada geração, nas cidades de todos os continentes 13.
Os problemas urbanos atuais não são diferentes, em essência, daqueles que afetavam as cidades antigas, a
não ser quanto ao grau, à toxicidade e à persistência de novos contaminantes, e à extensão da terra que agora
está urbanizada. Com o crescimento das cidades, essas questões se tornaram mais agudas. Todavia, continuam a
ser tratadas como fenômenos isolados, e não como fenômenos interligados resultantes de intervenções humanas
corriqueiras, e a ser exacerbadas por uma desconsideração pelos processos naturais 14.
O geógrafo AZIZ AB’SABER explica a forma como a metrópole paulistana se espraiou sobre seu
sítio geográfico, composto de extensas planícies e inúmeras colinas
Essa metrópole paulistana se estendeu, se projetou sobre um sistema de colinas, que por sua vez eram
atravessadas por planícies muito largas, uma relação bastante grande entre a largura do rio e a largura da planície
- em geral, a planície era vinte vezes mais larga do que a largura do rio; em alguns lugares na várzea do Tietê, na
planície do Tietê, diques marginais, antigos e recentes, e várzeas formavam 4.000m em relação ao rio, de 80 m
para 100 m no seu leito menor. Então isso significa 1:40. Os livros de textos americanos, que tratam naturalmente
de planícies aluviais em climas temperados, dizem que a maior relação entre a largura de um rio e a largura da
sua planície é 1:18. Aqui em São Paulo nós tínhamos 1:40. E a cidade desceu para essa planície em certo momento,
depois do enxugamento dessas várzeas, com a reversão das águas para o Pinheiros, para as represas e para
Cubatão. Isso é um dos maiores problemas que São Paulo enfrenta até hoje, foi a rapidez com que ela se apoderou
e produziu espaços dentro da suas larguíssimas planícies. Então temos problemas em função da movimentação
do relevo de certas encostas de colinas, e temos problemas porque a cidade desceu para planície que é alagável,
e que tinha um leito maior agigantado.
....Isto cria um problema, o problema de uma travessia dentro do sistema de colinas, uma travessia difícil, longa.
E, além disso, tem o segundo problema, que no momento em que se enxugou um pouquinho essa planície de
inundação, a cidade desceu por especulação para planície. E assim ficou quebrada a possibilidade de existir um
maior para o deslanche das águas no momento das grandes cheias. Talvez esse seja o problema mais sério que a
cidade enfrenta. Ela, ao invés de uma Paris, ou de uma Londres, que têm um rio só, São Paulo tem dois rios, no
interflúvio entre os dois rios tem um sistema de colinas bastante complexo, com elevações da ordem de mais de
110 metros, desde o fundo das planícies até o topo das colinas mais altas, e a largura do rio é
203
excepcionalmente pequena para uma planície tão larga. Seria fácil transpor uma planície de 80m, mas transpor
uma planície de 2km a 4km complica. E, além disso, muito antes que se pudesse fazer obra de transposição, já a
cidade desceu para as planícies, conquistou as planícies um pouco rapidamente demais, e com isso as complicações
de trânsito, de travessia do rio e da planície ficaram muito complexos 15.
....costuma-se dizer que a cidade tem uma estrutura radial. Mas que eu achava que era uma estrutura radial
complexa, porque as radiais um pouco irregulares que saem da cidade se estendem tanto para todos os quadrantes,
que os desvãos entre as radiais, a partir de uma certa época, foram ocupados de modo caótico, por adaptações a
uma topografia acidentada, com dois tipos de traçado - um oitavado muito irregular nas colinas mais altas e um
reticulado nos setores interfluviais, nos espigões secundários, e que também se une com o oitavado irregular de
modo mais irregular ainda. Então, desde que a cidade perdeu o caráter de uma cidade grande com subúrbio, e
passou a ser uma área gigantesca de urbanização, os desvãos entre as radiais se tornaram extremamente caóticos
em termos de ocupação de solos, por causa de uma especulação que não atende à lógica da cidade, mas atende
à lógica do dinheiro e à lógica dos interesses dos especuladores 16.
A perspectiva de recuperar e resgatar para o seu povo a cidade de São Paulo exige, hoje, uma reflexão
sobre a abordagem da questão ambiental que regule as atividades humanas com a apropriação da natureza
e do bens culturais nos futuros projetos urbanos.
A primeira preocupação deverá ser com os milhões de habitantes que não possuem qualidade de
vida e vivem em condições precárias em assentamentos irregulares no centro ou na periferia.
Há que se desenvolver projetos e tecnologias adequadas para o convívio dos elementos naturais e
culturais na cidade e para a cidade e, para isso, é necessário uma inversão de prioridades na lógica de
apropriação do solo urbano pelos setores públicos e privados e um envolvimento da população num
processo educacional sobre a questão ambiental e da preservação do seu patrimônio ambiental urbano.
3. O sentimento de ser da Mooca
Há quem diga que em São Paulo todo mundo tem uma ligação com a Mooca, não é difícil se
pensarmos que este é um dos primeiros bairros da cidade. E ainda se fala do orgulho de ser da Mooca,
mesmo sabendo dos aspectos de decadência que permeiam o bairro.
Mino Carta escreve de maneira deliciosa histórias da gente da Mooca, passando por várias gerações
que viveram no bairro, gente famosa e gente menos conhecida e o sentimento de ser da Mooca como
algo que traduz um espírito que se remete a uma São Paulo mais humana onde prevaleciam as relações
de vizinhança e amizade tão valorizadas ainda no bairro.
Mino Carta descreve a passagem da cidade de São Paulo do café, da aristocracia e do tempo dos
cavalos puro sangue de Rafael Aguiar Paes de Barros, do primeiro jóquei de São Paulo, no antigo
204
Hipódromo da Mooca, para a cidade da ferrovia. Nessa época os cavalos tinham importância no
transporte urbano e, com a ferrovia, a cidade se estende para além do Tamanduateí.
Os índios, que habitavam às margens do rio Tamanduateí, rio, de pele transparente em proveito de fáceis
pescarias assim como, nos primeiros quarenta anos deste século se prestaria aos mergulhos das molecadas
Mooca e do Cambuci, se chegavam tangidos pela curiosidade e repetiam, com estupefação, a palavra “mooca”,
que significa “faz casa”. Muito depois, esta palavra seria pronunciada com a inflexão de outros sentimentos por
parte de quem, sendo mooquense, não apreciaria ser confundido com morador do Brás. Mas é no mínimo difícil
provar que a Mooca e Brás não formassem o mesmo bairro, assemelhando-se tão nitidamente às fisionomias dos
seus habitantes, sendo iguais crenças e superstições, preocupações e anseios, regida por idênticos princípios a
vida familiar, comum a origem e a condição social da larga maioria, e isso tudo ancorado ao longo de ruas que
iam de um cabo a outro daquela região citadina sem solução de continuidade, amalgamando o conjunto, antes
que as obras da Radial Leste e do metrô, nos anos setenta, cometessem a prepotência de separar tudo quanto se
unira por cima de patéticos bairrismos. Antes ainda, porém, a Mooca já começara a definhar, não menos do que
o Brás, ao transferir-se dali, para novas áreas urbanas, o ímpeto desenvolvimentista gerado pela indústria.
Eram periferia, e se tornaram centro. Levas de migrantes nordestinos invadiram Mooca e Brás, vítimas eles
próprios da violência imposta a todos pelas opções dos donos do poder, enquanto muitos entre seus moradores se
mudavam para outros bairros, mais condizentes com sua condição social superior à dos pais e avós, ou banidos
pelas enchentes do Tamanduateí, obstruído pelos detritos do progresso desvairado e imprevidente.
fig.28
205
Mesmo assim, o orgulho de ser da Mooca permanece até hoje, nos mais velhos ao menos, e até uma quase
afirmação de independência por parte de quem nasceu na zona mais baixa, alastrada entre o rio e as porteiras
da estrada de ferro ( agora substituídas por um muro que corta a Mooca, batizado como “o muro da vergonha” )
em relação aos nascidos além dos trilhos. E vice e versa 17.
Sobre a festa de San Gennaro:
A festa nasceu com a igreja que se plantou entre a rua da Mooca e a Nichteroy no começo do século, consagrada
ao mártir Gennaro, para atender a fé dos napolitanos que no bairro eram maioria. Fazia-se com procissão e
quermesse. E fogos, que jamais podem faltar, e exigem arte de quem os fabrica e de quem os solta 18.
E sobre a origem dos italianos da Mooca:
Na Mooca baixa, que se espraia até pouco acima do número mil da rua da Mooca, principal artéria do bairro
e também sua espinha dorsal, napolitanos são todos aqueles que se originam da Campana, região da Itália
meridional cuja cidade mais importante é Nápoles, e distinta, por tradições, hábitos e dialeto, da Calábria, da
Basilicata, das Apúlias, da Sicília, regiões da península que forneceram grandes levas de imigrantes, e distinta
mais ainda da Toscana, do Vêneto, da Emília, de onde outros saíram para reconstruir a vida a dez mil quilômetros
da terra natal 19.
E descreve ainda como se dava o uso da rua para atividades de lazer e culturais:
fig.29
206
Na rua Odorico Mendes, travessa da Ana Neri e paralela da Dom Bosco, Walter Silva, mocinho animava, do alto
de um tablado erguido sobre a calçada nas manhãs de Domingo, uma “hora do calouro” e, da tarde, uma vesperal
de lutas de boxe, sempre contando com a excitação de uma platéia fluvial. O povo apinhava-se no mesmo ponto
do qual hoje se encara o prédio do Banco Itaú, poderoso edifício alcunhado de Hulk pelos moquenses atuais 20.
Ou sobre a segregação espacial urbana mesmo entre os imigrantes italianos de acordo com sua
classe social:
Os senhores do café não moravam na Mooca, tampouco os empresários italianos que se tinham estabelecido
no bairro com suas industrias. Mooca e Brás foram o ABC pioneiro dos começos do século, e poucos entre seus
moradores ficaram ricos, e nenhum rico a ponto de ganhar entrada no clube fechado dos donos do poder. Geremia
Lunardelli, Dante Ramenzoni, e Nicola Scarpa são exemplos raros de imigrantes pobres que fizeram a América,
mas não se tem notícia de que tenham morado na Mooca, assim como Francisco Matarazzo e Rodolfo Crespi,
que chegaram, equipados para subir na vida rapidamente, emblemáticos de uma pequena leva de italianos que
desembarcaram com algum dinheiro no bolso, ou com estoques de mercadorias, ou com a tarefa de instalar a
filial de uma firma estrangeira 21.
Mas, ainda durante a guerra, Fiorello La Guardia, prefeito da maior cidade italiana do mundo, Nova York,
em visita à Segunda maior, São Paulo, cuidara de jogara água na fervura e de colocar pingo nos is. Conduzido ao
topo do prédio Martinelli, deitara um olhar circular sobre a cidade, para concluir: “ Da quella parte si lavora, da
quest’altra si mangia”. Comia-se do lado da Paulista, trabalhava-se do lado da Mooca e Brás. E, nesta disparidade,
talvez houvesse motivos mais fortes para choques, não mais entre nativos e forasteiros, mas entre brasileiros 22.
A Mooca como palco dos acontecimentos históricos das lutas políticas dos trabalhadores:
Os eventos de julho de 24, gerados pela revolta militar promovida por Eduardo Gomes, Siqueira Campos e
Juarez Távora, reapareceram na lembrança dos velhos mooquenses que então eram meninos e viram o seu bairro
transformado em trincheira pelos revoltosos, enquanto choviam as balas dos morteiros governistas do alto do
Cambuci. Muitos abandonaram a Mooca para refugiar-se em outros cantos. Os Raiola, pais e filhos, 23 pessoas
ao todo, caminharam madrugada a dentro até a Estação da Luz, remoendo temores e melancolia no rumo de um
trem que os levaria , a salvo, à Itália. A família Cataldi, juntamente com outras, abrigou-se no porão da casa de
uma chácara da rua Oscar Horta, onde os homens dormiam de dia e as mulheres de noite, e uns e outras, quando
despertos jogavam tômbola para enganar o tempo 23.
Também são diferentes os turvos sentimentos de medo e desespero que açulavam a massa no assalto ao trem
dos bois daqueles estimulados pelos oradores dos palanques da praça vermelha, como foi chamado, depois da
Segunda guerra mundial, o largo que se forma na confluência da Paes de Barros, Taquari, Oratório e rua da
Mooca. Aquela foi a época dos grandes comícios, e certa vez o pessoal tomou ousadamente o caminho do largo
São José do Belém, para desligar as luzes de um meeting da UDN. Pois o pessoal era vermelho mesmo, e na raça
falavam os comunas veteranos, Luís Carlos Prestes, Pedro Pomar, João Amazonas, Marighella 24.
207
fig.30
Sobre a resistência e permanência da Mooca:
Em todo caso, os moquenses, no bem e no mal, conservaram a consciência da importância do seu bairro e, por
isso, a Mooca cumpriu o seu papel. Hoje muitos mooquenses voltam a se reunir atrás da igreja de San Genaro, em
uma festa aberta para os paulistanos em geral...No mais não há como deixar de prever o êxito da festa e, ainda,
não se duvide de que, ao viverem um belo momento de nostalgia e afeto, haja pessoas dispostas a identificá-lo
com o espírito da velha Mooca 25.
E o depoimento de uma antiga moradora que de maneira intencional é a autora desta tese.
Lembro-me da avenida do Estado arborizada e larga, com paralelepípedos e suas pontes que atravessavam o rio permitindo
um fácil acesso para se chegar ao outro lado no Cambuci. Lembro-me que era na avenida do Estado que pegávamos um
ônibus para chegar mais rápido na Praça Clóvis e aí tomar o ônibus para ir a Pinheiros, na casa da minha tia Marina, na rua
Oscar Freire, perto do Hospital das Clínicas.
Do bairro, lembro que ia a pé para a escola na rua da Mooca, da Odorico Mendes onde morávamos, seguia à direita pela
rua Oscar Horta e depois pela rua Dom Bosco e, por último, entrava na vila Alvarenga, porque era mais calma e as crianças
podiam caminhar sem perigo até a rua da Mooca.
É interessante lembrar a generosidade dos que moravam nas vilas para com o uso dos espaços comuns pelos outros
moradores do bairro. Passávamos em frente a farmácia do Zezinho e da venda do seu Osvaldo na rua Dom Bosco, que
conheciam a mamãe, e por isso, ela ficava tranqüila do nosso trajeto, pois as pessoas conheciam as crianças. Minha mãe
gostava de contar a história da dívida que tinha na farmácia e sempre prometia ao Zezinho que ia estourar um negócio
de meu pai e logo teria dinheiro para pagar as contas e o Zezinho de bom humor sempre perguntava quando minha mãe
passava em frente à farmácia: “E aí Dona Biga já estourou o negócio de seu marido?” Eu gostava de ouvir ela contar essa
história e acho que herdei o bom humor de minha mãe, sempre com uma boa tirada e bem-humorada com a vizinhança
e os feirantes. Adoro ir à feira porque sempre lembro dela brincando com os feirantes amigos. Aliás, ela sempre foi amiga
de todos os comerciantes. A Cláudia, minha irmã, também tem esse bom humor. Acho até que todos os filhos têm esse
espírito de porco.
O rio Tamanduateí transbordava na época das chuvas e nós ficávamos de olho pela janela da área de serviço, que dava
para um corredor do prédio onde havia um elemento vazado que nos permitia ver nitidamente o rio. A avenida do Estado
já possuía um tráfego intenso e era fascinante olhar os carros passando. Brincávamos de contar quantos carros de cada
tipo víamos pela janela. Olhávamos o rio a pedido da vizinhança da rua, pois as donas de casa tinham que providenciar as
madeiras para por na porta e levantar os móveis ou levá-los para o andar superior, depois fizeram as barricadas de concreto
com escadas dentro e fora da casa. Não adiantava muito, pois a água subia pelo ralo do quintal das casas.
Mas eu me divertia de ver Dona Ivone, melhor amiga da minha mãe gritar lá de baixo “ Begair olha o rio!” e corríamos
para a área de serviço para ver se o rio não estava subindo. Ninguém reparava nessa gritaria no meio da rua: era comum
na Mooca as pessoas gritarem entre os vizinhos. Meu pai não gostava muito. Sempre foi um homem culto e gostava que
tivéssemos discrição. Dona Ivone vinha sempre à nossa casa assistir televisão, acho até que ela também tinha uma, mas era
mais pela companhia de minha mãe e ríamos muito, pois ela era uma mulher muito alegre. Ela uma vez disse lá em casa,
brincando a respeito de uma senhora índia que ficava sempre encostada na parede olhando a rua, à entrada da vila ao lado
da casa da dona Ivone, que aquela mulher ficava segurando a casa dela. Foi a maior confusão quando minha irmã Eliza foi
dizer para a tal mulher .” A dona Ivone disse que a senhora fica segurando a casa dela.”
208
fig.31
Quando já era tarde, e meu pai ou minha mãe mandavam que fossemos dormir, íamos e depois de algum tempo, ficávamos
escondidos no corredor do apartamento que dava para os quartos olhando a televisão, se eles percebiam, corríamos para
a cama.
Algumas noites meus pais iam ao cine Itapura perto do Parque Xangai. Nunca soube direito onde era o cinema, mas
sabia que era na direção do conjunto do IAPI, na avenida do Estado. O parque Xangai era perto também do Parque Dom
Pedro, mas eu não tenho lembrança de tê-lo visto, só sei que íamos lá.
Uma vez num domingo à tarde, meu pai me levou para ver um balé de crianças e um teatrinho em um auditório de
alguma fábrica do lado de lá do rio, no Cambuci. Havia um ar de mistério nessas andanças do meu pai. Não sei porquê, eu
era muito pequena, talvez tivesse uns quatro anos de idade.
Lembro-me bem do meu aniversário de cinco anos. Eu estava na casa da minha avó Maria, mãe da minha mãe, na
Freguesia do Ó, e ela e sua vizinha fizeram um vestido novo para eu chegar na casa da minha mãe. Eu sofri muito com o
sapato novo apertado, pois tínhamos que andar até a avenida Itaberaba para pegar o ônibus de volta até a Praça da República e
de lá outro ônibus até a Mooca. Cheguei feliz de voltar para casa,pois havia passado muito tempo de férias na minha avó.
Meu pai ficava muito bravo quando meu irmão mais velho Eduardo sumia nos campos de várzea, pois ele adorava jogar
futebol, tentou até os 18 anos, até no Flamengo, no Rio, mas nunca conseguiu ser jogador. Já era “são paulino” apesar de
meu pai ser corintiano roxo. Eu gostava de ouvir o jogo no rádio, com meu pai aos domingos. Não sei de onde vinha, mas
havia um som de ópera que se ouvia de algum vizinho, italiano, provavelmente. Meu pai mandava que fossemos ao bar do
seu Manoel, na esquina da rua Barão de Jaguara, junto às casas do Warchavchik, buscar uma garrafa de pinga Tatuzinho e
um maço de Continental sem filtro. A embalagem do Continental era o mapa da América Latina, lindo em tons de verde
meio chumbo. A garrafa, ele exigia a verde pois a marrom estragava a pinga.
A Dona Ivone, a Dona Santina, o seu Bandieri eram alguns dos descendentes de italianos da rua Odorico Mendes. A
Dona Santina era a mais autêntica, com sua irmã Anita e a Mafalda, que trabalhava de operária na Johnson & Johnson, onde
hoje é o centro do Itaú. A Mafalda vinha, às vezes, trazer produtos femininos mais baratos, que tirava na fábrica, para minha
mãe e irmãs, pois somos em quatro filhas. Eu era pequena, mas ficava atrás dos assuntos das mulheres, era tudo escondido
e isso aguçava a minha curiosidade.
Ao lado do fábrica da Johnson havia uma vila encortiçada, muito chacoteada no bairro, que hoje desapareceu e foi
incorporada no terreno do Itaú, que, aliás, já comprou muitos imóveis no bairro, cujo apelido era “Martinelli Deitado”, em
menção ao edifício Martinelli, na rua São Bento, que na época, ainda não havia sido renovado e era conhecido como um
grande cortiço vertical.
Mas, voltando à história do rio, eu achava fascinante como as águas invadiam a avenida do Estado. Já eram águas turvas,
mas muito caudalosas. O rio corria forte. Outro dia o vi perto da Ponte Pequena e me lembrei da sua força no trecho da
Mooca, ainda é um rio forte, apesar do lodo.
Uma vez, era véspera de ano novo e fomos para a casa da minha tia Marina em Pinheiros para a festa, choveu muito
e ficamos sabendo da enchente na Mooca e não pudemos voltar. Tivemos que ficar, uma parte na casa do tio Celso, na
Aclimação e outra, acho, que ficou em Pinheiros mesmo.
Para o meu pai isso era um transtorno, pois ele era gerente de vendas na fábrica da Duráveis situada embaixo do nosso
prédio e, além de se preocupar com a família, preocupava-se com a fábrica, que deveria estar toda inundada. Essa fábrica
fazia capacetes e luvas de segurança para outras fábricas.
Mas, o legal mesmo, era olhar na avenida do Estado e esperar passar a DKV rosa e verde claro do tio Zaca, o tio
preferido, pois vinha do Brooklin buscar as crianças para passear de carro. Nem lembro de passear com ele, mas lembro da
209
alegria que era essa espera, pois o papai e mamãe gostavam muito dele, pelo menos era assim que eu via.
Esse tio, mais tarde, vi convencer o meu pai a mudar-se da Mooca, para tirar os filhos de um ambiente em processo de
degradação. Uma vez vimos seringas de drogas jogadas na entrada de nosso prédio. Um pequeno hall que abrigava apenas
o hidrômetro e a entrada de luz, e logo já vinha a escadaria longa de granilite branca, que dava aceso a dois pavimentos
com dois apartamentos em cada andar.
Quando mudamos da Mooca, lembro que chorei ao ver o caminhão de mudança lotado logo pela manhã.
Tinha orgulho também da minha escola na Mooca, um prédio imponente. Foi uma decepção quando meu pai me mostrou
a escola na qual eu ia estudar no Campo Belo. Era uma escola de madeira de 4 salas e uma área externa de secretaria, cozinha
e banheiros, e um pátio de terra. No pátio dessa pequena escola, depois, fui muito feliz no meu último ano do primário. Era
uma emoção cantar o Hino Nacional toda segunda feira.
Voltando à Mooca, lembro que a enchente nunca passou da rua Odorico Mendes, talvez essa seja a cota de inundação.
Foram várias enchentes e cada vez foram mais fortes, mas nunca chegaram na rua Dom Bosco. Nós achávamos uma farra
e jogávamos objetos para ver boiar como barquinhos e meu pai tinha que sair correndo atrás de um “tamanquinho” de
madeira da minha mãe, que minha irmã Eliza jogou pela janela, talvez uma lembrança do IV Centenário da cidade, que eu
não vi, mas se não me engano, ele ainda existe.
Meu pai ia me buscar na escola quando a nossa rua enchia de água, pois tinha medo que caíssemos no bueiro da esquina.
Outra lembrança que tenho é a do mercadinho da esquina da rua Dom Bosco, ainda não havia supermercados na cidade e
se comprava arroz e feijão a granel. Eu gostava de mexer no feijão e no arroz naqueles sacos enormes, era pequena e tinha
vergonha de ir de shorts na venda. Acho que talvez porque a Mooca era muito urbana demais. Ouvi dizer que o dono do
mercadinho virou o dono da fábrica de tomates etti. Um tal de senhor Pauletti.
O Bandieri tinha uma loja importante de bebidas na rua Barão de Jaguara. Era a melhor casa da rua a dos Bandieri.
Tinha um espelho d’água que eu imaginava que era uma piscina e sonhava com uma também. Recentemente, passei por lá
e a casa virou escritório de uma firma, que se localiza na rua Oscar Horta e se emenda pelo miolo de quadra, e não há mais
o espelho d’água, e a casa não é tão grande assim e nem tão suntuosa.
Minha mãe quando queria se livrar da gente nos mandava à igreja, na rua Dom Bosco. Nunca me esqueço que o Álvaro,
meu irmão mais novo, pediu o troco quando colocou uma moeda no saco de esmolas da igreja. Nós ríamos muito dessa
história também, pois lá em casa meu pai não cultivava a religião. Eu fiz a primeira comunhão na Igreja de San Genaro, na
rua da Mooca e fui a última da família a seguir este rito, apesar do desacordo de frei Timóteo, meu tio frade irmão do meu
pai. Fui às aulas de catecismo e quase morri de medo de não decorar os tais mandamentos. Minha roupa era um vestido
comprido branco e me senti emocionada naquele dia e meu avô veio assistir.
Participávamos de procissão da Igreja Dom Bosco pelas ruas do bairro, era uma festa e as crianças disputavam quem ia
ajudar a segurar o andor do santo. Ríamos muito não sei do quê.
Aos domingos íamos ao cinema no salão atrás da igreja, a entrada era pela rua onde hoje há a festa de San Genaro. A
primeira vez que fui ao cinema foi no cine Roma na avenida Alcântara Machado, era muito grande e vi um filme com o Toni
Curtis. Depois vi outros com Totó. No terceiro ano primário ou no segundo, recebi uma medalha de honra ao mérito por
ter sido a primeira aluna da classe, a festa era promovida pelas lojas Pirani e acontecia no cine Universo, na Celso Garcia.
Dizem que passou na televisão, nós não vimos. Mas eu vi o teto do cinema abrir, era uma honra aquele momento de subir
ao palco.
Em 1964, minha mãe nos levava para a fila no Pastifício da União, na rua Borges de Figueiredo, porque só era permitido
comprar um saco de açúcar de cada vez, tínhamos que atravessar a porteira do trem. Ali na estação da Mooca, eu peguei o
trem uma vez com meu pai e fomos a Mauá e eu fiquei brincando numa praça atrás de uma igreja, num gramado lindo e não
210
sei porque fomos, e não sei o que meu pai foi fazer lá. Parecia de novo alguma coisa clandestina.
O bom era irmos ao Monumento do Ipiranga aos domingos enquanto minha mãe fazia a massa do macarrão em casa,
tarefa que muitas vezes ajudávamos a cortar na maquininha. Minha mãe não é descendente de italianos nem meu pai, mas
a macarronada aos domingos é um hábito que cultivamos até hoje. Íamos a pé pela avenida do Estado e pela avenida Dom
Pedro e parávamos para ver os jogos de várzea. Eram mais de um campo no trajeto e havia vários jogos. Meu pai parava
para descansarmos e porque gostava de assistir.
Até hoje não consegui fazer uma receita de beringela para sanduíche que minha mãe fez no aniversário de quinze anos
da minha irmã mais velha Virgínia.
Lembro quando um rapaz do prédio vizinho, um que tem uma varanda italiana, e hoje está todo encortiçado, chegou na
rua vestido de mulher e com a cabeça raspada e pintada porque tinha entrado na faculdade de medicina. Eu morri de medo
e pensei que nunca queria entrar na faculdade, pois nunca queria passar aquela humilhação.
Fui uma vez ver a parada de 7 de setembro com meu pai no vale do Anhangabaú, ficamos nos jardins da encosta e eu
não conseguia enxergar quase nada mas ouvia a música das bandas que meu pai adorava. Conhecendo o projeto do arquiteto
Vilanova Artigas para o vale, entendi porque ele manteve o vale aberto ao contrário do que hoje lá está.
Da janela da sala do apartamento na Mooca na rua Odorico Mendes, nos arcávamos para enxergar o relógio da Ford Willis,
na Paulista esquina com rua Augusta, hoje do Itaú, víamos também o “prédio de pontas” e o “prédio gordo”, atualmente
prédio do Banespa na Praça Antônio Prado e prédio da Fazenda na Rangel Pestana, respectivamente.
São imagens da cidade além da Mooca e vistas da Mooca.
Em frente via-se com nitidez a Serra da Cantareira no horizonte e a fábrica da Alpargatas, no Brás, que hoje virou
faculdade. Hoje os prédios da Cohab, perto do metrô, não permitem mais esta visão.
Em um aniversário meu, acho que o último antes de entrar na escola, talvez o de seis anos de idade, minha mãe me levou
para encontrar minha madrinha, tia Bebê, para eu ficar uns dias na casa dela, no bairro do Campo Belo, onde hoje residem
meus pais por influência dessa tia e de meu tio. O encontro foi no restaurante Fazano, na avenida Paulista. Minha tia era muito
chique e tomamos um lanche, sorvete com compota de fruta, foi uma delícia. Ganhei de presente de aniversário um caixa de
lápis de cor de 48 cores. Foi o melhor presente que já ganhei na vida. Até hoje me encantam os lápis de cores. Fiquei uma
semana na casa dela no Brooklin, hoje Campo Belo, e li gibis, fui apresentada a Monteiro Lobato. Tinha um prazer imenso
de ficar naquela casa, aprendi como se enxugam os pratos da louça ,e até hoje, repito os seus gestos nesta tarefa.
Quando voltei para casa, brincava de casinha com meus lápis de cores e fazia deles alunos de uma sala de aula no chão
de casa. Aprendi a escrever e ler algumas coisas antes de entrar na escola e nunca me esqueço que minhas irmãs queriam
que eu entendesse o que era sujeito e predicado antes de entrar no primeiro ano escolar.
Nossos vizinhos de andar, na Mooca, eram a família Herzog, pais de Wladimir Herzog morto pela ditadura militar.
Conheci seu filho André, na Holanda dois anos atrás. Nos divertíamos ao ver o velho com bermudas, sapato e meia e sempre
com guarda chuva, achávamos muito cafona, se é que o termo se usava na época.
Embaixo moravam o casal de italianos, seu Serafim e dona Josefina, ela era delicadíssima e para conseguir que parássemos
com o barulho, oferecia-nos torradas doces feitas em casa e nos chamava para lhe fazer companhia, eu o Mauro e o Álvaro,
os mais novos de casa. Seu filho chamava-se Giani e nós cuspíamos na sua careca na janela do apartamento.
Uma vez uma vizinha assustada foi avisar minha mãe que uma criança tinha caído da janela, mas era o Mauro que havia
jogado um travesseiro lá para baixo.
Na copa de 62, fomos a pé até a Aclimação assistir o jogo na casa do tio Celso, na rua Machado de Assis, lembro da
decepção ao ver só uma bolinha no esquema do jogo e em branco e preto.
A melhor de todas as lembranças é, sem dúvida, a brincadeira de roda, em que as moças mais velhas brincavam com as
211
crianças na vila, pois era mais seguro e aquelas músicas, até hoje, emocionam-me. Após uma briga que minhas irmãs tiveram
com alguns meninos que eram nossos amigos, porque eu atrapalhei o jogo de bolinha de gude deles, ficamos proibidos de
pisar na vila e esta foi a maior dor que senti. Depois aos poucos voltamos, pois, afinal, éramos em sete e fazíamos falta nas
brincadeiras. Lembro da brincadeira de pega - ferro, barra manteiga, esconde esconde, cor flor - fruta fantasia ou música,
todas elas aconteciam na vila e na rua.
Lembro com carinho da Mooca, apesar de lembrar com certa tristeza, pois já percebíamos os sinais de decadência do
bairro quando saímos de lá em março de 1965.
Hoje imagino que a cidade pode recuperar sua beleza e que esta beleza pode estar em coisas simples, limpeza, iluminação,
calçadas bem executadas, ciclovias, pontos de ônibus bem iluminados e desenhados, arborização, estímulo às pinturas
das edificações e construções de qualidade e respeitando a escala da paisagem local. Locais de reunião comunitários para
festas e soluções dos problemas locais. Locais para passear na beira do rio. Imaginem o rio Tamanduateí limpo e cheio de
embarcações e pontes sobre ele, com ruas mais tranqüilas a sua volta. O fura fila poderia ser um bonde sobre trilhos como
na Holanda, sem poluição e barulho. O centro seria, então, maravilhoso!
212
Notas
1.
.
MEIRELLES, Domingos. As Noites das Grandes Fogueiras. Uma História da Coluna Prestes. Editora Record
Rio de Janeiro São Paulo, 2ª Edição, 1995. Pg.74 e 75.
2.
MEIRELLES, Domingos. Op. cit. Pg.75.
3.
MEIRELLES, Domingos. Op. cit. 75.
4.
SPIRN, Anne Whiston. O Jardim de Granito. A natureza do desenho da cidade. Tradução de
Paulo Renato Mesquita Pellegrino. EDUSP, São Paulo, 1995.pg.27
5.
ZANETTINI, SIEGBERT. Habitação Implicações do Processo de Industrialização. Depoimentos Flávio
Motta. FAUUSP vol. 2 Tese de Doutoramento - 1972
6.
LEMOS, Carlos A.C. O que é patrimônio histórico? Brasiliense, São Paulo, 1982. Coleção
Primeiros Passos, pg. 19
7.
LEMOS, Carlos A.C., op. cit. pg.22
8.
LEMOS, Carlos A.C. op. cit. pg. 47
9.
LEMOS, Carlos A.C. op. cit. pg. 56
10.
BEZERRA DE MENESES, Ulpiano T.. Patrimônio Ambiental Urbano: do lugar comum ao lugar de
Todos . In C. J. Arquitetura n.º 19, 1978
11.
BEZERRA DE MENESES, Ulpiano T. idem.
12.
SPIRN, Anne Whiston. O Jardim de Granito. A natureza do desenho da cidade. Tradução de
Paulo Renato Mesquita Pellegrino. EDUSP, São Paulo, 1995. pg. 15
13.
SPIRN, Anne Whiston. Op. cit. pg.20 e 21.
14.
SPIRN, Anne Whiston. Op. cit. pg. 21.
15.
AB’ SABER, Aziz, Curso São Paulo ( Re) Visão de Uma Metrópole ministrado no IEA, em abril de
1996, transcrição de fita gravada das aulas.
16.
AB’ SABER, Aziz, Curso São Paulo (Re) Visão de Uma Metrópole ministrado no IEA, em abril de
1996, transcrição de fita gravada das aulas.
213
17.
CARTA, Mino. Histórias da Mooca ( com a bênção de San Genaro ). Rio de Janeiro, Berlendis
& Vertecchia Editores Ltda. 1962. Pg. 12
18.
CARTA, Mino. Idem. Op. cit. Pg. 31
19.
CARTA, Mino. Idem. Op. cit. Pg. 32
20.
CARTA, Mino. Idem. Op. cit. Pg. 60
21.
CARTA, Mino. Idem. Op. cit. Pg. 68
22.
CARTA, Mino. Idem. Op. cit. Pg. 78
23.
CARTA, Mino. Idem. Op. cit. Pg. 84
24.
CARTA, Mino. Idem. Op. cit. Pg. 86 e 89
25.
CARTA, Mino. Idem. Op. cit. Pg. 89
214
Conclusão
Esta tese buscou identificar uma metodologia de projeto na escala urbana relacionado à inserção de
novos projetos em contextos já existentes de bairros históricos na cidade de São Paulo.
A memória do ambiente cultural urbano foi aqui valorizada como o espaço do cotidiano dos
moradores como forma de preservar os elementos históricos arquitetônicos e da história do bairro.
O bairro da Mooca é um espaço de resistência na cidade. Simbolicamente pelas lutas que o tiveram
como palco, e, por uma concretude de seu espaço construído, preservado pela pobreza existente na
área, e, que não sucumbiu às investidas de renovação urbana do mercado imobiliário que busca outras
regiões da cidade, cujas razões explicamos no discorrer deste trabalho.
Neste aspecto, a Mooca apresenta muitas vantagens para a propositura de projeto de renovação
urbana e investimentos de habitação na área central. Além disso, o fator histórico nos remete a um
investimento na recuperação e humanização da cidade através da inserção de seus moradores no tema
da valorização da memória como elemento de conquistar a cidadania.
O bairro da Mooca foi escolhido pois se constitui em um bom exemplo de permanência de uma
estrutura urbana consolidada por quase um século, mas, em processo de degradação da sua qualidade
de vida há quarenta anos. Sua localização, próxima ao centro da cidade, proporciona uma reflexão
sobre uma nova abordagem de planejamento urbano e de ocupação, sintonizada com o atual estágio
de crescimento da cidade, de uma urbanização consolidada com taxas de crescimento populacional da
ordem de 1,2%.
A localização na várzea do rio Tamanduateí nos fez concluir que a recuperação do rio é essencial
para a recuperação da qualidade de vida dos bairros vizinhos ao centro, não só pela questão ambiental,
mas, também pelos valores históricos da relação do rio com a fundação da cidade de São Paulo e, ainda
pelo potencial de inserir na sua borda projetos voltados para novas áreas de investimentos do setor
privado e de lazer para a população.
O tema da habitação é um elemento estratégico para a abordagem da preservação do patrimônio
ambiental urbano na área central, pois representa inclusive economia de recursos utilizados na expansão
periférica da cidade. Mas, é preciso que o setor público e o setor imobiliário vejam na utilização do
espaço construído potenciais de projeto para suas atividades, sem uma visão predatória dos valores
culturais existentes de seus moradores.
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Referências das figuras
Introdução
Capa - desenho dos rios Tietê e Pinheiros com seus afluentes e localização do colégio dos jesuítas no período colonial,
sem referência do autor, fonte: ACRÓPOLE, n.º 295, ano XXV, São Paulo, Max Gruenwald & Cia., jun. de 1963.
Fig.01, fig. 02, fig. 03, fig.04 . fig.05, fig.06, fig.07, fig.08, fig.09 fonte: desenhos esquemáticos da autora, baseados na
interpretação do texto de Caio Prado Júnior, que mostra como foi decisivo o conhecimento da geografia da capitania para
a escolha do sítio para a sede, baseado no conhecimento dos jesuítas que se referenciaram na experiência indígena. Fonte:
PRADO JúNIOR, Caio. Evolução política do Brasil e outros estudos A cidade de São Paulo. - Geografia e História. - O
fator geográfico na formação e no desenvolvimento da cidade de São Paulo ; 80Contribuição para a geografia urbana da
cidade de São Paulo - Publicado e Geografia (órgão da AGB), n.º 3, set. 1935 - 4ª ed., São Paulo, Brasiliense, 1963.
Capítulo I
Capa - Representação da tradição de serenatas nas ruas da cidade de São Paulo. Fonte: ACRÓPOLE, n.º 295, ano XXV,
São Paulo, Max Gruenwald & Cia., jun. de 1963.
Fig. 01 Mapa das referências urbanas da cidade de São Paulo e a localização do bairro da Mooca. Elaboração da autora
de 2000
Fig. 02 planta do relevo do bairro da Mooca situado na várzea do rio Tamanduateí. Elaborado por Wanderley Ariza
Fig. 03 e fig. 04 - imóvel do início do século XX com tipologia sobrado com balcão, uso misto residencial e de serviço.
Foto da autora de 2000
Fig. 05 imóvel de uso misto a ser preservado na rua Bento Pires. Foto de Tereza Herling do ano 2000
Fotos do item 3.1. Foto de José de Oliveira do ano 2000
Fotos item 3.2. Foto de José de Oliveira do ano 2000
Foto item 3.2, rua Patrimônio de Mônaco vista frontal. Foto da autora de 1998
Fotos item 3.3, vista frontal esquerda imóveis rua Dom Bosco. Foto de José de Oliveira do ano 2000
Fotos item 3.3 vista central e vista frontal direita, imóveis rua Dom Bosco. Foto da autora, ano 2000
Foto item 3.4 miolo de quadra livre na rua Barão de Jaguara. Foto da autora ano 2000
Foto item 3.4 principal escola do bairro na rua da Mooca. Foto de José de Oliveira ano 2000
Foto item 3.4 “Fábrica 5” depósito recuperado para lazer. Foto de José de Oliveira ano 2000
Foto item 3.4 cortiço na rua da Mooca. Foto da autora ano 2000
Foto item 3.4 depósitos fechados na rua da Mooca. Foto de Tereza Herling ano 2000
Fotos item 3.5. Fotos de José de Oliveira ano 2000
Fotos item 3.9. Fotos de José de Oliveira ano 2000
Croquis da autora ano 2002
Desenhos em mídia eletrônica: Elaboração de Wanderley Ariza, ano 2002
227
Capítulo II
Capa - foto Aérea da cidade de São Paulo da década de 60, sem escala. Em destaque a área de estudo, o bairro da Moóca
e os rios Tamanduateí, Tietê e Pinheiros. Fonte: ACRÓPOLE, n.º 295, ano XXV, São Paulo, Max Gruenwald & Cia., jun.
de 1963.
Fig.01, fig.02, fig.06, fg.07, fig.10, fig.11, fig.12, fig.15 e fig.16 - fonte: desenhos esquemáticos da autora, baseados na
interpretação do texto de Caio Prado Júnior, que mostra como foi decisivo o conhecimento da geografia da capitania para
a escolha do sítio para a sede, baseado no conhecimento dos jesuítas que se referenciaram na experiência indígena. Fonte:
PRADO JúNIOR, Caio. Evolução política do Brasil e outros estudos A cidade de São Paulo. - Geografia e História. - O
fator geográfico na formação e no desenvolvimento da cidade de São Paulo ; Contribuição para a geografia urbana da cidade
de São Paulo - Publicado e Geografia (órgão da AGB), n.º 3, set. 1935 - 4ª ed., São Paulo, Brasiliense, 1963.
Fig.03 - topografia da área central da cidade onde se situa a colina histórica contornada pelo rio Tamanduateí e seu afluente
córrego Anhangabaú. A cota mais alta da colina é de 760 m e a da várzea do Tamanduateí fica em torno de 725 m. Essa
situação permitiu aos jesuítas, quando instalaram aí o colégio, visualizar a várzea dos rios e controlar possíveis ataques
indígenas. Mapa elaborado pelo prof. Aziz Ab’ Saber. Fonte: AB’SÁBER, Aziz , “ Originalidade do sítio da cidade de São
Paulo “. Revista Acrópole n.º 295, ano XXV, São Paulo, Max Gruenwald & Cia., jun. de 1963. pg. 205.
Fig.04 - mosteiro de São Bento visto a partir do rio Tamanduateí que ainda fazia parte da paisagem da cidade. Fonte:
AZEVEDO, Militão Augusto de. Álbum comparativo da cidade de São Paulo, 1862-1887. São Paulo, Secretaria Municipal
de Cultura / DPH, 1981.
Fig.05 - viaduto de retorno para a zona sul sobre o rio Tamanduateí na altura do Parque Dom Pedro II, onde se visualiza
os edifício na subida da colina histórica, se destacam o prédio do Banespa, O edifício Guarani, e o edifício do Ministério da
Fazenda. No nível do parque vê-se o prolongamento da avenida do Estado, a linha do Metrô cortando o parque e tapumes
de obras provavelmente da linha do Fura - Fila. Foto da autora de 1995.
Fig.08 - mapa geomorfológico esquemático do sítio urbano de São Paulo elaborado pelo prof. Aziz Ab’ Saber. O bairro da
Moóca vai se formar na margem direita do Tamanduateí, sobre os terreno de “ baixos terraços fluviais, mantidos por
cascalheiros e aluviões antigos, com altitude média variando entre 725-750 m “. Fonte: AB’SÁBER, Aziz , “ Originalidade
do sítio da cidade de São Paulo “. Revista Acrópole n.º 295, ano XXV, São Paulo, Max Gruenwald & Cia., jun. de 1963.
pg. 205.
Fig.09 - o sítio urbano de São Paulo. Topografia e Drenagem, mapa elaborado pelo prof. Aziz Ab’ Saber. O bairro da Moóca
situa - se quase que por inteiro na cota 725m, com pequena elevação em direção ao bairro do Brás. Fonte: AB’SÁBER,
Aziz, “ Originalidade do sítio da cidade de São Paulo”. Revista Acrópole n.º 295, ano XXV, São Paulo, Max Gruenwald &
Cia., jun. de 1963. pg. 205.
Fig.13 - evolução do povoamento no século XVI. Fonte: PETRONE, Pasquale. Aldeamentos Paulistas. São Paulo, Edusp,
1995.
Fig.14 - distribuição dos aldeamentos e povoamentos até fins do século XVII, os caminhos que vinham de Santos para
São Paulo desembocavam às margens do Tamanduateí para chegar ao núcleo da sede. As regiões dos bairros da Moóca,
Cambuci, Ipiranga, devem ter conhecido um movimento intenso de viajantes. Fonte: PETRONE, Pasquale. Aldeamentos
Paulistas. São Paulo, Edusp, 1995.
Fig. 17, fig.18, fig.19, fig.20, fig.21, fig.22, fig.23, fig.24 - evolução Territorial da Paróquia da Sé: 1750 a 1850, elaborado por
Maria Luiza Marcílio. Observa - se pelos mapas esquemáticos que o desmembramento da Paróquia da Sé se dá a medida
que cresce o povoamento da cidade e se consolida a ocupação dos antigos aldeamentos. os elementos estruturados da
228
futura metrópole de São Paulo, os rios e os caminhos para as minas e para o porto já tinham grande importância estratégica
para a formação da cidade. Fonte: MARCÍLIO, Maria Luiza. A cidade de São Paulo. Povoamento e População, 1750-1850.
São Paulo, Pioneira, Edusp, 1974.
Fig. 25 - primeira fábrica da Cia Antárctica, na Água Branca, que depois comprou a fábrica da Bavária na Moóca. Fonte:
REIS FILHO, Nestor Goulart. São Paulo e outras cidades. Produção social e degradação dos espaços públicos. São Paulo,
Hucitec, 1994.
Fig.26 - evolução da expansão da cidade de São Paulo, em quatro momentos até que se consolida sua ocupação como
metrópole da década de 50. Fonte: SAIA, Luís. Morada paulista. São Paulo, Perspectiva, 1972. Col. Debates.
Fig.27 - planta da divisão de chácaras, sítios e fazendas ao redor do centro, ampliação sem escala (escala original 1:20.000).
Fonte: TOLEDO, Benedito Lima de. Prestes Maia e as origens do urbanismo moderno em São Paulo. São Paulo, Empresa
das Artes, 1996.
Fig.28, fig.29, fig.30, fig.31, fig32, fig33 - evolução da mancha urbana de São Paulo, seus principais caminhos ferrovias, e
consolidação da metrópole nas décadas de 50 e 60. O bairro da Moóca tem sua formação a partir da segunda metade do
século XIX com a imigração italiana e a industrialização de São Paulo. Fonte: SAIA, Luís. “Notas para a teorização de São
Paulo” . Revista Acrópole n.º 295, ano XXV, São Paulo, Max Gruenwald & Cia., jun. de 1963.
Fig. 34 - eixo da ferrovia visto da passarela metálica sobre a ferrovia na direção da rua da Moóca, hoje demolida em função
do viaduto. Foto da autora de 1995.
Fig.35 vista do eixo da ferrovia na mesma posição da fig. 34, Fonte: publicada em CARTA, Mino. Histórias da Mooca (
com a bênção de San Genaro ). Rio de Janeiro, Berlendis & Vertecchia Editores Ltda. 1962.
Fig.36 - evolução dos núcleos coloniais na cidade de São Paulo e arredores com o traçado das ferrovias no final do século
XIX, onde se observa a importância da capital como centro articulador das comunicações, entre o litoral e o interior. Fonte:
LANGENBUCH, Jurgen Richard. Estruturação da grande São Paulo; estudo de geografia urbana. Rio de
J a n e i r o,
IBGE, 1971.
Fig.37 - vista panorâmica da cidade de São Paulo, década de 60. Em destaque a localização aproximada da área de estudo,
no contexto da metrópole já consolidada. Fonte: ACRÓPOLE, n.º 295, ano XXV, São Paulo, Max Gruenwald & Cia., jun.
de 1963.
Fig. 38 - planta da cidade de São Paulo, de Rufino José Felizardo e Costa, 1810 - Indicação aproximada futuro do bairro da
Moóca. Fonte: KLIASS, Rosa Grena. Parques Urbanos de São Paulo. São Paulo, Pini, 1993.
Fig.39 - planta da Imperial cidade de São Paulo, de Rufino José Felizardo e Costa, 1810 - Indicação aproximada do futuro
bairro da Moóca. Fonte: KLIASS, Rosa Grena. Parques Urbanos de São Paulo. São Paulo, Pini, 1993.
Fig.40 - planta da cidade de São Paulo, por C.A. Bresser, 1841. Indicação aproximada da localização do bairro da Moóca.
Fonte: KLIASS, Rosa Grena. Parques Urbanos de São Paulo. São Paulo, Pini, 1993.
Fig.41 - carta da capital de São Paulo por José Jacques da Costa Ourique, 1842. Indicação aproximada do futuro bairro da
Moóca. Fonte: KLIASS, Rosa Grena. Parques Urbanos de São Paulo. São Paulo, Pini, 1993.
Fig. 42 - mapa da cidade e seus subúrbios, atribuído a por C.A. Bresser, 1844 - 1847, destaque para a localização aproximada
do bairro da Moóca. Fonte: KLIASS, Rosa Grena. Parques Urbanos de São Paulo. São Paulo, Pini, 1993.
Fig. 43 - mapa da Imperial cidade de São Paulo, por Carlos Roth, 1855, destaque para a localização aproximada do bairro
da Moóca. Fonte: KLIASS, Rosa Grena. Parques Urbanos de São Paulo. São Paulo, Pini, 1993.
Fig.44 - planta da cidade de São Paulo, atribuída a Carlos Roth, 1868, destaque para a localização aproximada do bairro da
Moóca. Fonte: KLIASS, Rosa Grena. Parques Urbanos de São Paulo. São Paulo, Pini, 1993.
Fig.45 - plain’ História da cidade de São Paulo, 1800 - 1874, por Affonso A. de Freitas. Indicação das principais referências
históricas da cidade no período. Indefinição ainda dos limites do bairro da Moóca. Fonte: TOLEDO, Benedito Lima de.
229
Prestes Maia e as origens do urbanismo moderno em São Paulo. São Paulo, Empresa das Artes, 1996.
Fig.46 - mapa da Capital da Província de São Paulo, desenhado por Francisco de Albuquerque e Jules Martin, 1877. A
ponte sobre o Rio Tamanduateí indicada no final da rua Tabatinguera, no canto direito inferior da figura, é a passagem
para o Caminho da Moóca, futura rua da Moóca. Fonte: KLIASS, Rosa Grena. Parques Urbanos de São Paulo. São Paulo,
Pini, 1993.
Fig.47 - planta da cidade de São Paulo da Companhia Cantareira e Esgotos , 1881. A rua da Moóca e a ferrovia já estão
demarcadas, nas não aparece ainda o arruamento do bairro da Moóca. Fonte: KLIASS, Rosa Grena. Parques Urbanos de
São Paulo. São Paulo, Pini, 1993.
Fig. 48 — planta da Capital do estado de São Paulo e seus arrabaldes, desenhada por Jules Martin, 1890. A rua da Moóca
aparece com seu traçado até a ferrovia , bem definido. O rio Tamanduateí ainda se apresenta retificado no trecho da Moóca,
mas já aparecem a rua Piratininga e a rua Luiz Gama com traçados bem definidos e como ruas de acesso à Moóca. Fonte:
KLIASS, Rosa Grena. Parques Urbanos de São Paulo. São Paulo, Pini, 1993.
Fig.49 - nova Planta da cidade de São Paulo, de U. Bonvicini e V. Dubugras, 1891. Aparecem várias ruas do bairro da Moóca,
do Cambuci e do Brás ligados entre si. Fonte: TOLEDO, Benedito Lima de. Prestes Maia e as origens do urbanismo
moderno em São Paulo. São Paulo, Empresa das Artes, 1996.
Fig.50 - planta do novo canal do rio Tamanduateí de 1893 feita pela Comissão de Saneamento do estado de São Paulo. O
traçado desse projeto de retificação assemelha - se ao traçado da atual avenida do Estado no trecho próximo ao bairro da
Moóca. Fonte: TOLEDO, Benedito Lima de. Prestes Maia e as origens do urbanismo moderno em São Paulo. São Paulo,
Empresa das Artes, 1996.
Fig.51 - planta da bacia do rio Tamanduateí de 1893 da Comissão de Saneamento do estado de São Paulo. Ampliação sem
escala. Fonte: TOLEDO, Benedito Lima de. Prestes Maia e as origens do urbanismo moderno em São Paulo. São Paulo,
Empresa das Artes, 1996.
Fig.52 - planta da Cidade de São Paulo segundo E. Reclus de 1894 referente à ocupação urbana na década de 1890 - 1900,
ampliação sem escala (idem original). O bairro da Moóca aparece parcialmente formado na sua porção central, sendo que
as áreas próximas ao Parque Dom Pedro II numa extremidade e na outra da ferrovia não apresentam ainda parcelamento.
Fonte: TOLEDO, Benedito Lima de. Prestes Maia e as origens do urbanismo moderno em São Paulo. São Paulo, Empresa
das Artes, 1996.
Fig.53 - planta geral da capital de São Paulo, de Gomes Cardim, 1897. O rio Tamanduateí ainda não se encontra retificado
conforme o projeto de 1893 e o bairro da Moóca já aparece parcialmente formado. Fonte: KLIASS, Rosa Grena. Parques
Urbanos de São Paulo. São Paulo, Pini, 1993.
Fig. 54 - projeto do primitivo Metrô de São Paulo elaborado em fins do século passado, executado pelo Dr. Phelippe
Gonçalvez baseado em estudos anteriores dos engenheiros Vitor de Lima e Paulo Alfredo Polto. Fonte: SESSO JR., Geraldo.
Retalhos da Velha São Paulo. 4ª ed. São Paulo, Maltese, 1985. Publicado originalmente na Revista do “Centro de Ciências,
Letras e Artes” de Campinas, e por José de Campos Novaes no “Metropolitana Paulista”, pela Tipografia a Vapor “Livro
Azul”, em 1905.
Fig.55 - planta parcial reduzida, sem escala ( escala original 1:5000 ), do Plano de Avenidas da Cidade de São Paulo. O
bairro da Moóca aparece com o traçado das ruas já quase que completo, 1930. Fonte: MAIA, Prestes. Estudo de um plano
de Avenidas da Cidade de São Paulo. Prefeitura de São Paulo - Comissão do Tietê São Paulo, 1930, Cia Melhoramentos de
São Paulo. Legenda: rosa - principais radiais, amarelo perimetrais, preto - alinhamentos mantidos, vermelho - alinhamentos
novos ou modificados.
Fig.56 - mapa topográfico do município de São Paulo, executado pela empresa Sara Brasil S/A pelo método Nistri de
230
aerofotogrametria. Publicado pela Prefeitura Municipal de São Paulo, redução sem escala ( escala original 1:5.000 ). O bairro
da Moóca aparece consolidado no arruamento com poucas várzeas nas quadras mais próximas à avenida do Estado. Nesse
momento ainda não havia sido construída a avenida Alcântara Machado que transformou o acesso do bairro da Moóca com
o Brás. Fonte: Mapoteca da SEMPLA.
Fig.57 - levantamento Aerofotogramétrico executado por VASP Aerofotogrametria S.A. e Serviços Aerofotogramétricos
Cruzeiro do Sul S.A. Vôo de 1954, redução sem escala ( escala original 1:2.000 ). Levantamento cadastral onde se
identifica o traçado das linhas de bonde que circulam pela região e a ocupação das quadras encontra - se praticamente
concluída. Aparece ao lado da avenida do Estado a implantação do conjunto residencial do antigo IAPI, construído na
década de 40, várzea do Carmo. Nessa planta já aparece concluído o primeiro trecho da avenida Alcântara Machado,
entre o Parque Dom Pedro II e a rua Piratininga. Fonte: Mapoteca da SEMPLA.
Fig.58 - mapa da mancha de ocupação da área edificada da cidade de São Paulo e arredores da Região Metropolitana na
década de 60, com a localização aproximada do bairro da Moóca. Fonte: LANGENBUCH, Jurgen Richard. Estruturação
da grande São Paulo; estudo de geografia urbana. Rio de Janeiro, IBGE, 1971.
Fig.59 - mapa da área central do IGCSP - Instituto Geográfico e Cartográfico do Estado de São Paulo de 1971, com
indicação dos edifícios de grande porte. No canto direito inferior destacamos a área de estudo do bairro da Moóca, vizinho
a este aparece o conjunto residencial do antigo IAPI Várzea do Carmo e ainda algumas pontes sobre o Tamanduateí, sem
o atual c. Fonte: TOLEDO, Benedito Lima de. Prestes Maia e as origens do urbanismo moderno em São Paulo. São Paulo,
Empresa das Artes, 1996.
Fig.60 - panorama da cidade de São Paulo da década de 60. A cidade apresenta já o seu perfil de uma grande metrópole.
Fonte: ACRÓPOLE, n.º 295, ano XXV, São Paulo, Max Gruenwald & Cia., jun. de 1963. Panorama da cidade de São
Paulo , em vista aérea oblíqua tomada de aproximadamente ENE para WSW. Nos primeiros planos, os bairros industriais
da margem esquerda do rio Tietê ( zona alagadiça, da cidade ( Belenzinho, Parí, Canindé, Ponte Pequena ). Em segundo
plano ao centro, ao longo do vale do Tamanduateí , um segundo eixo industrial, de idade mais antiga, o qual segue muito de
perto o eixo das ferrovias que entram na cidade ( Parí, Oriente, Brás ). Ao centro da foto, a área de concentração máxima
das edificações elevadas, as quais extravasaram das colinas centrais originais da cidade. Da outra banda, no último plano,
estendem - se os bairros residenciais do vale do rio Pinheiros ( Jardim Europa, Jardim América, Jardim Paulista, Ibirapuera ),
os quais são contínuos na margem direita ( baixa) e descontínuos na margem do além - Pinheiros ( Cidade Jardim, Morumbi,
Cidade Universitária ). Foto: E.N.F.A.
Fig.61 - mapa da mancha de ocupação da área edificada da cidade de São Paulo e arredores da Região Metropolitana na
década de 60, com a localização aproximada do bairro da Moóca. Fonte: LANGENBUCH, Jurgen Richard. Estruturação
da grande São Paulo; estudo de geografia urbana. Rio de Janeiro, IBGE, 1971.
Fig.62 rua da Mooca, antigo “Caminho da Mooca”, sentido centro. Foto da autora de 1998.
Fig.63 - projeto de parque, edifícios públicos e arruamento da Várzea do Carmo. Parte do projeto de Bouvard para o Parque
Dom Pedro II de 1911, onde aparece o traçado do “aterro da Moóca” e a “rua da Moóca” no local onde se situou a ponte
sobre o rio Tamanduateí que ligava a rua Tabatinguera ao “Caminho da Moóca”, futura rua da Moóca. Fonte: EDIçõES
MELHORAMENTOS. São Paulo antigo, São Paulo moderno; álbum comparativo. São Paulo, 1953.
Fig.64 - Vista da Colina Histórica com aproximação de viajantes, publicação sem referência de autor. Fonte: ACRÓPOLE,
n.º 295, ano XXV, São Paulo, Max Gruenwald & Cia., jun. de 1963.
Fig.65 - passarela metálica linha férrea com a rua da Moóca, detalhe do pilar de sustentação. Fotos da autora de 1995.
Fig.66 - vista a partir do viaduto em direção à região sudeste no eixo da ferrovia. A edificação mais próxima na foto
pertence ao DER, sendo que à direita avista-se a fábrica da Antártica e ao fundo no primeiro plano encontra-se a estação
da Moóca. Foto da autora de 1998.
231
Fig.67 - linha férrea vista da passarela sentido Moóca - Brás, à direita prédio da Alpargatas, à esquerda galpões esquia com
a rua da Moóca, centro - viaduto da Radial Leste. Foto da autora de 1995.
Capítulo III
Capa - foto aérea, vôo de 1994 da Eletropaulo, escala original 1: 25.000, com ampliação sem escala, onde se destacamse, antiga área industrial hoje ocupada por templo religioso, o conjunto residencial do antigo IAP Várzea do Carmo,
a Baixada do Glicério, a avenida do Estado, a ferrovia e a avenida Radial Leste e linha do Metrô Leste - Oeste. Fonte:
Biblioteca da Secretaria do Verde e Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de São Paulo.
Fig.01 - foto aérea, vôo de 1994 da Eletropaulo, escala original 1: 25.000, vista parcial da área central com as manchas de
predominância de ocupação horizontal do bairro da Moóca e os principais eixos viários e de transporte de massa. Fonte:
Biblioteca da Secretaria do Verde e Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de São Paulo.
Fig.02 - início da avenida Radial Leste com rua da Figueira, um dos limites da área, visto do viaduto do Glicério. Foto da
autora de 1998.
Fig.03 Distribuição da concentração de escritórios em São Paulo. Fonte: Boletim da Bolsa de Imóveis, 1999.
Fig.04. Tipologia de ocupação, setores. Desenho da autora de 1999.
Fig.05, fig.06 Tipologia de ocupação na rua da Mooca, poucos edifícios verticais. Fotos da autora de 2000.
Fig.07 - rua da Moóca entre a rua Piratininga e a rua Dona Ana Nery, uso predominante de serviços e comércio de peças.
Foto da autora de 1998.
Fig.08 rua da Mooca sentido centro, aparece um dos poucos edifícios residenciais verticalizados da área. Foto da autora
de 1998.
Fig.09 edifício residencial na rua João Alfredo. Foto da autora ano 2000.
Fig.10 esquina da rua Dom Bosco com rua Barão de Jaguara, imóvel preservado com uso comercial. Foto da autora de
2000.
Fig.11e fig.12 - uma visão mais próxima a partir do viaduto Glicério, mostra um trecho da avenida do Estado entre a rua Luís
Gama e os viadutos que se encontram nos limites do Parque Dom Pedro II, onde é possível visualizar-se a horizontalidade
da área entre os limites escolhidos. Foto da autora de 1998.
Fig.13 - vista da Moóca a partir do viaduto do Glicério, onde observa - se que o bairro manteve a característica de
horizontalidade desde o início de sua formação até os dias atuais. No canto esquerdo da foto um dos poucos conjuntos de
edifícios verticalizados. Foto da autora de 1995.
Fig.14 - sobre o viaduto Glicério olha-se o início da rua Coronel Bento Pires, quase esquina da rua da Figueira. Por este
ângulo, confirma-se a horizontalidade do bairro com poucos edifícios altos. Aparece o hospital municipal, e ao longe à
direita o edifício Itaú no limite da avenida do Estado. Foto da autora de 1998.
Fig.15 Gabaritos predominantes nas edificações da área. Elaboração da autora em 2000.
Fig.16 avenida presidente Wilson, topografia permite a proposição de ciclovias. Foto da autora de 2000.
Fig.17 imóveis de uso comercial na avenida Radial Leste. Foto da autora de 2000.
Fig.18, fig. 19 - sobre o viaduto da rua da Moóca olhando-se para o centro da cidade percebe-se que o bairro ainda é pouco
verticalizado e o conjunto de edifícios que se vê no horizonte formam uma massa compacta desde os limites do bairro do
Brás, passando pelo prédio do Banespa na avenida São João até a Catedral da Sé e início da Liberdade. ( fazendo
232
a linha da base da colina central ). À esquerda do viaduto da Moóca observa-se o início da avenida Presidente Wilson, a
continuidade das instalações da Cia Antárctica, a horizontalidade é uma constante na paisagem, vendo - se ao fundo os
edifícios do centro em direção à Liberdade e avenida Brigadeiro Luís Antônio, à esquerda destaca-se o prédio do Itaú na
avenida do Estado. Ao longe observa-se a encosta em direção ao bairro do Cambuci e da Aclimação, já bastante verticalizados.
No primeiro plano vê-se o pátio da fábrica da Antárctica. Foto da autora de 1998.
Fig.20 levantamento de uso do solo do bairro da Mooca. Elaboração da autora em 1999.
Fig.21 antiga fábrica da Johnson & Johnson na rua Odorico Mendes, hoje ocupada pelo centro do Itaú. Foto da autora de
1998.
Fig.22 imóvel de escritórios para alugar na rua João Alfredo esquina da avenida do Estado. Foto da autora de 2000.
Fig.23 - esquina da rua Patrimônio de Mônaco paralela à ferrovia, com a rua da Moóca, onde hoje se encontra o viaduto
sobre a ferrovia que faz a ligação da rua da Moóca. Esta rua dá acesso à estação Brás da ferrovia. Foto da autora de 1995.
Fig.24 Desenho da planta original do colégio Firmino de Proença na rua da Mooca. Fonte revista Acrópole de 1946.
Fig.25 Colégio Firmino de Proença na época de sua construção. Fonte revista Acrópole de 1946.
Fig.26 foto atual do colégio Firmino de Proença. Foto da autora de 2000.
Fig.27 Centro de Juventude localizado na rua João Alfredo, um dos poucos equipamentos sociais da área. Foto da autora
de 2000.
Fig. 28 Hospital professor Zeferino Vaz localizado na rua da Figueira, em frente aos viadutos de acesso à Radial Leste.
Foto da autora de 2000.
Fig.29 Creche municipal na rua Ana Nery. Foto da autora de 2000.
Fig.30 Planta de uso do solo, destacando o uso habitacional, cortiços e imóveis fechados, indica áreas potenciais de projeto.
Elaboração Wanderley Ariza em 2002.
Fig.31 Uso de habitação predominante na área. Elaboração Wanderley Ariza em 2002.
Fig.32 - conjunto residencial da Moóca IAPI, arquiteto Paulo Antunes Ribeiro da década de 40, foto extraída da Revista
Industriárias. Fonte: REIS FILHO, Nestor Goulart. Habitação Popular no Brasil: 1880 - 1920. Cadernos de Pesquisa do LAP
- Laboratórios de estudos sobre urbanização, Arquitetura e Preservação. São Paulo, Universidade de São Paulo, Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo, set-out/94.
Fig.33 - rua Odorico Mendes com casas unifamiliares encortiçadas, tipologia de lotes sem recuos, apenas com quintal nos
fundos e edificações geminadas dos dois lados. Foto da autora de 1998.
Fig.34 rua Odorico Mendes, sobrados. Foto da autora de 2000.
Fig.35 - “ casas econômicas “ de 1929 do arquiteto Gregori Warchavchik situadas na rua Barão de Jaguara esquina com rua
Odorico Mendes. Foto da autora de 1995.
Fig.36 e fig. 39 rua Odorico Mendes, cortiços. Foto da autora de 2000.
Fig.37 conjunto residencial na rua da Mooca esquina rua Luiz Gama, um dos poucos edifícios com área livre. Foto da
autora de 2000.
Fig.38 edifício de interesse arquitetônico na esquina da rua Wandenkolk, uso comercial. Foto de Tereza Herling de 2000.
Fig. 40, fig.41, fig.42, fig.47, fig.48, fig.49, fig.52, fig.53, fig.54 e fig.55 Exemplos de vilas existentes na área de estudo. Fotos
da autora de 2000.
Fig.43, fig.44, fig.45 e fig.46 Tipologias de vilas segundo concito de relatório da EMURB. Croquis da autora de 2002.
Fig.50 Planta de ocupação do bairro com destaque para as vilas com uso habitacional ainda. Elaboração Wanderley Ariza
em 2002.
Fig.56. - garotos jogam futebol em rua do Brás, atividade comum nos bairros operários pela ausência de áreas de lazer.
233
Fonte: Wilheim, Jorge. São Paulo: seus pontos de encontro. In: Revista Acrópole n.º 295, ano XXV, jun. de 1963.Foto do
Arquivo do Dep. de Cultura.
Fig. 57 - nos bairros operários, como a Moóca, o Brás, os italianos criaram na rua o seu espaço de convivência e de lazer.
Fonte: Wilheim, Jorge. São Paulo: seus pontos de encontro. In: Revista Acrópole n.º 295, ano XXV, jun. de 1963. pg. 223.
Foto do Arquivo do Dep. de Cultura.
Fig. 58 - casas em série com dois pavimentos, com o terraço que se torna o terceiro pavimento situadas na rua Barão de
Jaguara entre a rua Odorico Mendes e avenida do Estado. Ao fundo observa-se edifício religioso e outros, no lado do
Cambuci, sem acesso por esta rua devido ao “ canal tamponado “ do Tamanduateí. Foto da autora de 1995.
Fig.59 - casas em série situadas na rua Dom Bosco esquina com a rua Oscar Horta, tipologia típica da área mais recente do
bairro e mais próxima ao rio Tamanduateí. Foto da autora de 1995.
Fig.60 - rua Odorico Mendes no trecho entre a rua Barão de Jaguara e a rua da Figueira no limite da área. Essa rua é
paralela à avenida do Estado e encontra-se no trecho mais baixo da várzea do Tamanduateí, tendo sofrido inúmeras
enchentes na época das chuvas. O tipo de ocupação permanece o mesmo de 30 anos atrás quanto à tipologia das
edificações com casas unifamiliares que se tornaram cortiços, vilas residenciais, e pequenos edifícios com térreo mais dois
pavimentos com arquitetura de traços italianos. A rua abriga ainda uma série de serviços, oficina mecânica, depósitos,
comércio local, etc. Apresentando grande potencial de renovação. Seguindo essa via, se chega rapidamente ao Parque
Dom Pedro II a pé. Foto da autora de 1998.
Fig.61 casas em série situadas na rua Andrade Reis com rua Oscar Horta. Essas casas foram construídas como residências
unifamiliares, encontrando-se hoje na sua maioria encortiçadas. Foto da autora de 1995.
casa em série na rua João Alfredo, conjunto que já aparece na planta do bairro de 1930. Foto da autora de 2000.
Fig.62 e fig.65 casas m série na rua Andrade Reis. Foto da autora de 1998.
Fig.63 casas em série na rua Ana Nery em frente ao complexo do Itaú. Foto da autora de 2000.
Fig.64 - casas em série situadas na rua Odorico Mendes com rua Oscar Horta, em direção à rua Ana Nery. Essas casas
foram construídas como residências unifamiliares, encontrando-se hoje na sua maioria encortiçadas. Foto da autora de
1995.
Fig.66 - esquina da rua Coronel Bento Pires com rua Wandenkolk, edifício de interesse arquitetônico assobradado
(sobrado com serviço embaixo) um pouco degradado pelo uso de oficina mecânica e cortiço. Foto da autora de 1998.
Fig.67 - rua da Moóca com rua Mem de Sá, edificação de interesse arquitetônico onde funciona uma alfaiataria. Alguns
trechos dessa rua são arborizados e após a rua da Moóca, a rua passa a chamar-se rua Coronel Cintra. Como a maior
parte das ruas não possui edifícios altos com mais de três pavimentos. No lado direito de quem se dirige para a avenida
do Estado, encontra-se um conjunto de três vilas ( Suzana, Hilda e Regina ). Atrás delas situa-se a antiga Vila Alvarenga.
Foto da autora de 1998.
Fig.68 - rua da Moóca esquina com a Rua Barão de Jaguara, observa-se que apesar desse cruzamento ser um dos mais
movimentado da área e localizar - se muito próximo ao centro, a tipologia de ocupação predominante é de edifícios térreos
ou de poucos pavimentos. Fonte: Foto da autora de 1995.
Fig.69 - cortiço na Moóca, final do século passado, foto extraída da FSP. Fonte: REIS FILHO, Nestor Goulart. Habitação
Popular no Brasil: 1880 - 1920. Cadernos de Pesquisa do LAP - Laboratórios de estudos sobre urbanização, Arquitetura e
Preservação. São Paulo, Universidade de São Paulo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, set-out/94.
Fig.70 cortiços na rua da Mooca esquina da rua Barão de Jaguara, em edifícios de interesse arquitetônico. Foto da autora
de 2000
Fig.71 e fig.73 rua Odorico Mendes, edifícios de três pavimentos sobre uso de serviços, antigamente funcionava a fábrica
234
Duráveis de equipamentos de segurança no térreo. Foto da autora de 2000.
Fig.72 eixo da rua Barão de Jaguara, do lado esquerdo está o conjunto de casas populares de tipologia geminada, de tijolo
aparente, originalmente com dois pavimentos e atualmente lá modificadas com o terceiro piso, no entanto é possível
identificar-se traços da tipologia original. No quarteirão seguinte encontram-se as casas de Gregori Warchavchik. Ao
fundo observa-se edifício de vários pavimento que se encontra, já do lado do Brás, após a avenida Alcântara Machado.
Essa via liga avenida do Estado com a rua da Moóca e a Radial Leste, cortando o bairro no sentido transversal.
Anteriormente à construção do canal tamponado do rio, era uma via importante de ligação com o bairro do Cambuci e
da Aclimação. Foto da autora de 1998.
Fig.74 rua Odorico Mendes, sobrados de interesse arquitetônico. Foto da autora de 2002.
Fig.75 - conjunto residencial na rua da Mooca esquina rua Luiz Gama, um dos poucos edifícios com área livre. Foto da
autora de 2000.
Fig.76 rua Odorico Mendes com rua Barão de Jaguara, esquina do projeto de Warchavchik. Foto da autora de 2002.
Fig.77 - detalhe da esquina do conjunto de Gregori Warchavchik, cuja edificação está perfeitamente integrada no
conjunto arquitetônico das residenciais, e projetada com a finalidade específica de uso para comércio local, funcionando
como tal. À direita na foto observa-se a rua Dom Bosco com a igreja do mesmo nome e o colégio dos padres. Foto da
autora de 1998.
Fig.78 - casas econômicas em série na rua Barão de Jaguara construídas em 1929, foto da época e planta do conjunto
arquitetônico do projeto de Gregori Warchavchik. Fonte: Warchavchik, e as origens da arquitetura moderna no Brasil.
Publicação do Museu de Arte de São Paulo, “ Assis Chateaubriand “, 1971.
Fig.79 idem, desenho do projeto. Fonte: Warchavchik, e as origens da arquitetura moderna no Brasil. Publicação do
Museu de Arte de São Paulo, “ Assis Chateaubriand “, 1971
Fig.80, fig.81 e fig. 82 - rua Barão de Jaguara com vista do conjunto projetado por Gregori Warchavchik., que se encontra
conservado com suas características originais com poucas alterações somente em portas e janelas de pouquíssimas unidades.
Esse conjunto merece a indicação para tombamento, caso ainda não tenha essa proteção, pelo seu caráter inovador para a
época, pela representatividade do exemplo da arquitetura dos anos 20. Foi construído originalmente como casas de aluguel
para classe média. Foto da autora de 1998.
Fig.83 - mosteiro de São Bento visto a partir do rio Tamanduateí que ainda fazia parte da paisagem da cidade. Fonte:
AZEVEDO, Militão Augusto de. Álbum comparativo da cidade de São Paulo, 1862-1887. São Paulo, Secretaria Municipal
de Cultura / DPH, 1981.
Fig.84 - ponte sobre o rio Tamanduateí em direção à rua da Moóca. O revestimento das pontes e da avenida do Estado
era de paralelepípedo. As pontes eram ofereciam uma travessia mais agradável ao pedestre na ligação com o bairro do
Cambuci com a Moóca. Fonte: Publicação da Associação Comercial de São Paulo, Distrital Moóca por ocasião do 114º
aniversário do bairro, 1981.
Fig.85 - ponte sobre o rio Tamanduateí em 1905, vista da várzea do Glicério. Fonte: MARTIN, Jules e PESTANA, Nestor
R. São Paulo antigo e São Paulo moderno. São Paulo, Vanhorden, 1905.
Fig.86 - vista da cidade de São Paulo a partir do centro na direção sudeste. No primeiro plano encontra - se o edifício da
Secretaria da Fazenda do Governo do Estado de São Paulo. Em destaque no canto esquerdo, a área de estudo limitada pela
Radial Leste à esquerda e pela avenida do Estado à direita. Observa-se a vegetação exuberante do Parque Dom Pedro II e
da avenida do Estado. O edifício da Mesbla já aparece na foto e a ocupação da Moóca já está praticamente consolidada na
década de 40. Fonte: TOLEDO, Benedito Lima de. Prestes Maia e as origens do urbanismo moderno em São Paulo. São
Paulo, Empresa das Artes, 1996.
235
Fig.87 e fig.89 vistas da avenida do Estado a partir da passarela, sentido centro, com a Serra da Cantareira ao fundo e a área
da Antárctica do lado direito, com as obras do “Fura-Fila” em andamento. Foto da autora de 2000.
Fig.88 - foto tirada na escada da passarela de pedestres sobre a avenida do Estado, onde pode se observar a via sob o
canal tamponado do rio, a via lateral e o pátio de uma indústria no limite da área de estudo, e o prédio do Itaú ao fundo e
os prédios da área central no limite do horizonte. Pode-se notar o tráfego pesado de caminhões na via principal. Fotos da
autora de 1998.
Fig.90 imóveis na avenida do Estado em frente à Praça Álvaro Cardoso, observa-se a tipologia horizontal da área. Foto da
autora em 2000.
Fig.91 esquina da avenida do Estado com a rua Barão de Jaguara, o tampão do rio constitui uma barreira entre a Mooca
e o Cambuci. Foto da autora de 2000.
Fig.92 - imóveis na avenida do Estado em mau Estado de conservação que podem ser demolidos para aumentar a
permeabilidade do solo na borda da avenida do Estado. Foto da autora do ano 1998. Foto da autora de 1998.
Fig.93 imóveis na avenida do Estado entre a rua João Alfredo e rua Barão de Jaguara, Observa-se o Centro técnico do
Itaú e o recuo maior que permite a mudança no desenho da avenida. O tampão forma barreira de quase três metros de
altura. Foto da autora de 2000.
Fig.94 avenida do Estado, onde o “canal tamponado” do rio dificulta a ligação com o bairro do Cambuci. Ao fundo, vemos
o conjunto residencial da Várzea do Carmo, do antigo IAPI. Foto da arquiteta Teresa Herling.
Fig.95 - avenida do Estado, onde o canal tamponado do rio é barreira física entre os bairros da Mooca e do Cambuci,
e não é possível a visualização do outro lado da avenida, o que a torna completamente inóspita para o pedestre e sendo
apenas uma solução viária de tráfego muito intenso no sentido sudeste - centro, com alto nível de poluição e degradação
da região. O problema das enchentes e da poluição do rio Tamanduateí ainda hoje permanece apesar do tampão. Foto da
autora de 1998.
Fig.96 avenida do Estado sentido Ipiranga próximo à praça de Lion, onde está prevista uma estação do “Fura Fila” e
onde começa o tampão do rio. Foto da autora de 2000.
Fig.97 avenida do Estado sentido centro, pode se observar a proximidade com o edifício do Banespa na Praça Antônio
Prado, mas a acessibilidade é comprometida com o “tampão” do rio. Foto da autora de 2000.
Fig.98 avenida do Estado sem a obra do “Fura- Fila”. Foto da autora em 1995.
Fig.99 vista da avenida do Estado em direção ao centro onde vemos o edifício do Itaú e o pouco fluxo de pedestres na
avenida em função do “canal tamponado” do rio Tamanduateí e do tráfego pesado. Foto da arquiteta Teresa Herling de
1995.
Fig.100 eixo da avenida do Estado no sentido centro - bairro, à direita aparece a avenida Independência e áreas
industriais do lado esquerdo sem a obra do “Fura Fila” e onde começa o “tampão” do rio. Foto da autora de 1998.
Fig.101 avenida do Estado sentido centro, inadequado para os pedestres e ciclistas. Foto da autora de 1998.
Fig.102 vista do “canal tamponado” do rio Tamanduateí na avenida do Estado em direção ao Ipiranga. Não se consegue
visualizar o outro lado da avenida. Foto da arquiteta Teresa Herling de 1995.
Fig.103 - detalhe da abertura do “tampão” do rio. Foto da autora de 1998.
Fig.104 - foto tirada na escada da passarela de pedestres sobre a avenida do Estado, onde pode se observar a via sob o
canal tamponado do rio, a via lateral e o pátio de uma indústria no limite da área de estudo, e o prédio do Itaú ao fundo,
os prédios da área central no limite do horizonte, visão maior da pista centro - bairro, observa - se ao fundo poucos
edifícios verticalizados. Foto da autora de 1998.
Fig.105 - avenida do Estado esquina com a Praça Álvaro Cardoso de Moura e rua Coronel Cintra.. Praça de pequenas
236
dimensões e única área verde do bairro em mal estado de conservação com lixo acumulado nos gramados. Foto da autora
de 1998.
Fig.106 novo viaduto de acesso ao Cambuci no início da rua da Mooca. Foto da autora de 2000.
Fig.107 - tomada da passarela metálica, hoje desmontada em função do novo viaduto da rua da Moóca construído sobre
a ferrovia. Foto da autora de 1995.
Fig.108 - imagem confusa da passarela provisória de pedestres que liga o bairro da Moóca com o Cambuci, ao fundo
aparece prédio industrial e a rua Serra do Paracaima que liga a avenida Presidente Wilson e a avenida do Estado. O local é
ermo e sem atrativos para a travessia. Foto da autora de 1998.
Fig.109 viaduto sobre a avenida do Estado na rua da Figueira, obstrui a visibilidade na chegada ao Parque Dom Pedro.
Foto da autora de 2000.
Fig.110 - outra vista da avenida do Estado onde se tem dificuldade de enxergar o bairro do Cambuci na altura do prédio
da Mesbla com sua fachada peculiar, marco de referência da paisagem há mais de quarenta anos. Foto da arquiteta Teresa
Herling de 1995.
Fig.111 - via lateral ao viaduto Alcântara Machado em direção à ferrovia. Nesta via funcionam vários estabelecimentos
de serviços de médio porte, com predominância para serviços ligados à manutenção de automóveis e comércio de peças
e móveis de escritórios. Sob o viaduto já localizou-se uma pequena favela, feira livre e mantém-se como uma área de
insegurança para os moradores do bairro. Foto da autora de 1998.
Fig.112 - rua Piratininga em direção à rua da Moóca. Essa rua é uma das ligações com o Brás pois há uma travessia sob o
viaduto Alcântara Machado. À direita encontra-se um antigo edifício de 5 pavimentos mais o térreo comercial, à esquerda
um posto de gasolina, e ao fundo tem-se as fachadas da rua da Moóca com imóveis comerciais degradados e muitos
vazios sendo ofertados para venda ou aluguel. Esse trecho da rua da Moóca é conhecido pelo comércio de peças em
decadência. A rua Piratininga é o acesso principal para quem deseja acessar o bairro vindo do centro da cidade pela rua
da Moóca ou pela rua Ana Nery. À esquerda na rua da Moóca encontra-se a igreja de San Genaro, paróquia responsável
pela realização junto com a comunidade da festa anual de mesmo nome. Foto da autora de 1998.
Fig.113 - esquina da rua Barão de Jaguara com a avenida do Estado. Essa rua se prolonga no bairro do Cambuci mas
foi interrompida pelo canal tamponado do rio. No segundo plano vê-se ao lado direito, templo religioso (sinagoga) e do
lado esquerdo o edifício da antiga fábrica da Chicletes Adams, hoje ocupado pela empresa Warner Lambert, mantendo
as mesmas características externas do prédio. O canal tamponado do rio cria uma barreira entre os dois lados, acabando
com uma ligação natural anterior de proximidade entre as atividades de trabalho e moradia entre os dois bairros. Foto da
autora de 1998.
Fig.114 - avenida Alcântara Machado na esquina da rua Carneiro Leão, avista-se do lado do bairro do Brás, os edifícios
da Cohab-SP construídos nas áreas remanescentes do Metrô. Os imóveis com frente para a avenida encontram-se
degradados e encortiçados. Foto da autora de 1998.
Fig.115 - entroncamento da rua Piratininga com Radial Leste, principal acesso para o bairro. Foto da autora de 2000.
Fig.116 - acesso lateral da avenida Alcântara Machado entre as ruas André de Leão e Lúcio Cardim observa-se alguns
prédios e antigo galpão industrial, paisagem que predomina em certo trecho da área próximo à ferrovia. Foto da autora
de 1998.
Fig.117 tráfego pesado na avenida do Estado na altura da área da Antárctica. Foto da autora de 2000.
Fig.118 viaduto da Radial Leste esquina da rua Piratininga. Foto da autora de 2000.
Fig.119 rua Ana Nery, um dos corredores internos do bairro de ligação da rua da Mooca com avenida do Estado. Foto
da autora de 2000.
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Fig.120 - cruzamento da avenida do Estado com a rua Wandenkolk já próximo à área central em frente à igreja Universal
do Reino de Deus. nesse ponto o canal tamponado da avenida do Estado já se encontra no mesmo nível das vias laterais
e apresenta tráfego intenso junto ao Parque Dom Pedro II. Foto da autora de 1998.
Fig.121 avenida Radial Leste do lado do Brás, difícil acesso para os pedestres. Foto da autora de 1998.
Fig.122 Estação da Mooca da ferrovia. Foto da autora de 2000.
Fig,.123 - chegada da avenida do Estado no Parque Dom Pedro II. O complexo de viadutos impede a visualização do
parque. A placa no semáforo indica o início do bairro da Moóca para quem passa no local e placa da Emurb (Empresa
Municipal de Urbanização) indica a realização do projeto da linha do Fura - Fila, atrás da placa é possível ver a ponta do
edifício do Banespa localizado na Praça Antônio Prado com avenida São João. Foto da autora de 1998.
Fig.124 rua Luiz Gama chegada na avenida do Estado, próximo ao Parque Dom Pedro. Foto da autora de 2000.
Fig.125 - vista do viaduto da Moóca em direção ao norte, no primeiro plano tem-se a rua Patrimônio Mônaco paralela à
ferrovia, que continua sob o viaduto Alcântara Machado, neste trecho predomina ainda a existência de grandes galpões
industriais e o sistema viário encontra-se de certa forma ocioso, tendo em vista que poucos imóveis possuem aberturas
para essa rua. No entanto esta via se constitui num importante acesso ao Brás, à estação do Brás, e à rua Visconde de
Parnaíba. No lado direito da foto nota-se o edifício da antiga fábrica da Alpargatas que está se transformando num
estabelecimento de educação de ensino superior. Após o viaduto Alcântara Machado, do lado direito da via férrea
encontra-se o Museu da Imigração, que funciona na antiga Hospedaria dos Imigrantes. À esquerda nota-se os conjuntos
residenciais da Cohab - SP construídos nas áreas remanescentes do Metrô Leste - Oeste, que continuam após a ferrovia
no sentido leste. Foto da autora de 1998.
Capítulo IV
Capa - casa da rua da Mooca esquina com rua Barão de Jaguara, imóvel de interesse arquitetônico. Foto da autora de 2002.
Fig.01 imóvel desocupado na rua da Mooca, há inúmeros nessa situação no bairro. Foto da autora de 2000.
Fig.02 e fig.25 rua Odorico Mendes, a topografia plana em função da localização na várzea permite a criação de ciclovias.
Foto da autora de 2000.
Fig.03 e fig.04 imóveis de uso misto, habitação e serviços predominantes no bairro. Fotos da autora de 2000.
Fig.05 várzea do rio Tamanduateí comprometida com as obras viárias da avenida do Estado. Foto da autora de 1998.
Fig.06 - imóvel da Antárctica na rua João Alfredo. Foto da autora de 2000.
Fig. 07, fig.08 e fig10 imóveis na rua Ana Nery, predomina o uso misto comercial e residencial. Fotos da autora em 2000.
Fig.09 indústria localizada na rua da Mooca em pleno funcionamento. Foto da autora de 2000.
Fig.11 rua Dom Bosco, predomina a tipologia horizontal de ocupação. Foto da autora de 2000.
Fig.12 indústria na rua Barão de Jaguara esquina com avenida do Estado. Foto da autora de 2000.
Fig.13 rua Oscar Horta entre rua Odorico Mendes e avenida do Estado. Área possível de ser renovada. Foto de Tereza
Herling de 2000.
Fig.14 mapa da localização da Mooca e o “coração da cidade”. Elaborado pela autora.
Fig.15 - esquema de identificação do problema. Elaborado pela autora em 2000.
Fig.16, fig.17, fig.18 e fig.19 vistas do “tampão” do rio Tamanduateí. Fotos da autora de 2000.
Fig.20 esquema das estratégias. Elaborado pela autora em 2000.
Fig.21 e fig.22 tráfego na avenida do Estado. Fotos da autora de 2000.
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Fig.23 - “casas econômicas” de 1929 do arquiteto Gregori Warchavchik situadas na rua Barão de Jaguara esquina com rua
Odorico Mendes, elementos de permanência na paisagem do bairro. Foto da autora de 1995
fig.24 tomada da passarela metálica, com a função reduzida devido ao novo viaduto da rua da Moóca construído sobre a
ferrovia, elementos de permanência na paisagem do bairro Foto da autora de 1995.
Capítulo V
Capa - imóvel de interesse arquitetônico na rua Odorico Mendes. Foto da autora de 2000.
Fig.01 Parque Dom Pedro, vizinho á área de estudo. Foto da autora de 2000.
Fig.02 e fig.11 - imóveis de interesse arquitetônico ao lado do viaduto da Mooca. Foto da autora de 1998.
Fig.03 Palácio das Indústrias, sede do Governo Municipal. Foto da autora de 1998.
Fig.04 - mapeamento das manchas e dos bens tombados isolados da área central próximos ao bairro da Mooca, sem
escala. Fonte: EMPLASA, SNM, SEMPLA. Bens Culturais Arquitetônicos no Município de São Paulo e na Região
Metropolitana de São Paulo. São Paulo, EMPLASA, SNM, SEMPLA, 1984.
Fig.05, fig06, fig.07, fig.08 e fig.09 detalhes construtivos típicos dos mestres de obra italianos. Fotos da autora de 2000.
Fig.10 edifício industrial na rua Borges de Figueiredo, no limite da área de estudo. Foto da autora de 1995.
Fig.12 edifício da gravadora Continental, permanente na paisagem desde a década de 40. Foto da autora de 2000.
Fig.13 - famílias abandonando a cidade de São Paulo na revolução de 1924. Fonte: SESSO JR., Geraldo. Retalhos da Velha
São Paulo. 4ª ed. São Paulo, Maltese, 1985.
Fig.14 - fachada de edifício, localizado na rua dos Trilhos, perfurada de balas durante a revolução de 1924. Fonte: SESSO
JR., Geraldo. Retalhos da Velha São Paulo. 4ª ed. São Paulo, Maltese, 1985.
Fig.15 - antiga Hospedaria dos Imigrantes, onde hoje funciona o Museu da Imigração. Foto da autora de 1996.
Fig.16 imóvel de interesse arquitetônico na rua Luiz Gama. Foto da autora de 2000.
Fig.17 - edifício comercial de interesse arquitetônico, com fachada trabalhada segundo os padrões da arquitetura italiana
no bairro na rua Luís Gama. Foto da autora de 1998.
Fig.18 - imóvel de interesse arquitetônico na rua Barão de Jaguara. Foto da autora de 2000.
Fig.19 - rua da Moóca esquina com a rua Barão de Jaguara, sentido bairro - centro - casarão conservado na esquina sendo
que edifício industrial hoje funciona como depósito para aluguel. Foto da autora de 1998.
Fig.20 - antiga Hospedaria dos Imigrantes, onde hoje funciona o Museu da Imigração. Foto da autora de 1996.
Fig.21 e fig.22 - imóvel de interesse arquitetônico na rua da Mooca. Fotos de Tereza Herling de 2000.
Fig.23 - imóvel de interesse arquitetônico na rua Odorico Mendes. Foto da autora de 2000.
Fig.24 - imóvel de interesse arquitetônico na rua Dom Bosco. Foto da autora de 2000.
Fig.25 edifício de interesse arquitetônico onde funciona um orfanato na rua Wandenkolk. Foto da autora de 2000.
Fig.26 - edifícios de interesse arquitetônico na rua Ana Nery. Foto da autora de 2000.
Fig.27 - edifício de interesse arquitetônico na rua Dom Bosco esquina com rua Ana Nery. Foto da autora de 2000.
Fig.28 - Parque Xangai, antigo parque de diversões do Parque Dom Pedro II, muito freqüentado pelos moradores da Moóca
até a década de 60. Fonte: WILHEIM, Jorge. São Paulo: seus pontos de encontro. Revista Acrópole n.º 295, ano XXV, São
Paulo, Max Gruenwald & Cia.
Fig.29 - Parque da Independência muito utilizado como área de lazer pelos moradores da Moóca, até a década de 60,
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quando era possível chegar à pé pela avenida do Estado e a avenida Dom Pedro. Fonte: WILHEIM, Jorge. São Paulo: seus
pontos de encontro. Revista Acrópole n.º 295, ano XXV, São Paulo, Max Gruenwald & Cia.
Fig.30 Igreja de San Gennaro na rua da Mooca. Foto da autora de 2000.
Fig.31 rua de San Gennaro esquina com rua Ana Nery, onde se realiza a festa de San Gennaro todos os anos no mês de
setembro. Foto da autora de 2000.
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Créditos de elaboração da edição da tese.
Editoração eletrônica : Diretório Arquitetura e Computação Gráfica S/C Ltda.
Elaboração das imagens em mídia eletrônica: Wanderley Ariza
Diagramação: Caroline Barone, Katia Sano.
Supervisão: Frederica Fernandes , Katia Sano
Revisão: Caroline Barone e Rosana Helena Miranda
Capa: Wanderley Ariza
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