PROTOCOLO DE OBSERVAÇÃO:
A RACIONALIZAÇÃO DA CASA CITY BOAÇAVA
PROTOCOLO DE OBSERVACIÓN: LA RACIONALIZACIÓN DE LA CASA CITY BOAÇAVA
PROTOCOL OF OBSERVATION: THE RATIONALIZATION OF THE CITY BOAÇAVA HOUSE
ANDRADE, MANUELLA MARIANNA C. R. DE
Arquiteta e urbanista (PUC-GO), mestre e doutora em Arquitetura e Urbanismo (UPM). Professora da UFAL, e-mail:
[email protected]
RESUMO
No campo do projeto de arquitetura, a distinção entre os protocolos de replicação e observação está no tipo de objeto analisado e no entendimento da racionalização
post hoc. A racionalização consiste no modo como o pensamento analítico mimetiza a reflexão da ação projetual. Isso permite que a imaginação especule sobre o
projeto a partir do que não é, pois o argumento imaginativo pode manipular os componentes do projeto, alterando sua disposição, mas não realizando uma nova
proposta. O presente artigo tem como objetivo apresentar um protocolo de observação fruto da adequação do protocolo de replicação de Galle e Kovács. A
exposição na íntegra do texto do protocolo de observação intuiu demonstrar uma maneira não recorrente de analisar o projeto. A reflexão exposta é entendida como
intrínseca à particularidade do ato projetual na Arquitetura. A verificação do protocolo de observação buscou a análise lógica dedutiva e demonstrou o teor dos
conteúdos das frases com proximidade ao raciocínio em projeto. A proposta do protocolo de observação assinalou a potencialidade imaginativa e a limitação
relacionada à execução do protocolo por pessoas da área. Apontou, também, a possibilidade de ajustamento ao ensino, colocando como desafio a mudança de
pensamento necessária à prática didática.
PALAVRAS-CHAVE: protocolo de observação; projeto de arquitetura; ensino de arquitetura.
RESUMEN
En el campo del diseño arquitectónico, la distinción entre los protocolos de réplica y de observación radica en el tipo de objeto analizado y en el entendimiento de la
racionalización post hoc. La racionalización consiste en el modo en cómo el pensamiento mimetiza la reflexión de la acción proyectual. Eso permite que la
imaginación especule sobre el proyecto a partir de lo que no es, porque el argumento imaginativo puede manipular los componentes del proyecto, alterando su
disposición, pero no realizando una nueva propuesta. El presente artículo tiene como objetivo presentar el protocolo de observación derivado de la adecuación del
protocolo de réplica de Galle y Kovács. La exposición integral del texto del protocolo de observación intuyó demostrar una manera poco frecuente de analizar el
proyecto. La reflexión expuesta es entendida como intrínseca a la particularidad del acto proyectual en la Arquitectura. La verificación del protocolo de observación
buscó un análisis lógico deductivo y demostró el contenido de las frases cerca al razocinio en proyectos. La propuesta del protocolo de observación señaló la
potencialidad imaginativa y la limitación relacionada a la ejecución del protocolo por profesionales del área. Apuntó también la posibilidad de ajustar la enseñanza,
poniendo como reto el cambio de pensamiento necesario en la práctica didáctica.
PALABRAS-CLAVE: protocolo de observación, proyecto arquitectónico, enseñanza de la arquitectura.
ABSTRACT
In the field of architecture design, the distinction between the replication and the observation protocols lies on the kind of object under analysis and the understanding
of post hoc reasoning. Such reasoning consists in the way the analytical thought mimetizes the considerations within a projectual action. This allows the imagination
to speculate about the project from what it is not, because the imaginative argument can manipulate project components changing its arrangement but not offering a
new proposal. The present article aims to present the protocol of observation derived from the replication protocol of Gale and Kovács The presentation of the
observation protocol full text tried to demonstrate a non-frequent way to analyze architectural projects. The demonstrated reasoning is understood as intrinsic to the
particularities of the projectual act in Architecture. The observation protocol verification sought deductive logical analyzes and demonstrated the content of the
sentences are close to project reasoning. The observation protocol proposal revealed the imaginative potentiality and limitations on carrying on the protocol by
architecture related professionals. It also pointed out to the possibility of teaching adjustments, bringing a change of mind as a challenge for required educational
practice.
KEY WORDS: observation protocol; architectural project; architecture teaching.
Recebido em: 26/06/2019
Aceito em: 28/12/2019
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v.5, n.1, Janeiro de 2020
Andrade, M.M.
1 INTRODUÇÃO
A investigação histórica e a reflexão crítica com auxílio da análise gráfica são, recorrentemente, os modos
mais comuns de verificação da arquitetura no Brasil. Celani (2003, p.06) expôs que as pesquisas nacionais
se concentram “no saber 'sobre', e não no saber 'como' em arquitetura”. O saber ‘como’ advém do
movimento dos métodos atado à solução do problema que, mesmo superado pelo reconhecimento do
pensamento reflexivo e holístico, conduziu a formulação de procedimentos investigativos como Thinking
aloud e Retrospective (ANDRADE, 2015). Em contraponto aos dois procedimentos citados, o presente
artigo contempla parte da tese de doutorado (ANDRADE, 2018) que desenvolveu um procedimento
investigativo caracterizado pela variação do protocolo de replicação1 ao adequá-lo ao estudo do objeto
edificado. O protocolo de replicação se aproxima do “saber ‘como’” pela racionalização post hoc do projeto,
se conjuga com o pensamento reflexivo e emerge como uma possibilidade de construção do conhecimento
a partir da própria Arquitetura.
O primeiro autor que idealizou a técnica da replicação foi William Porter (1988). Quase dez anos depois Per
Galle e Lásló Kovács (1996) aprimoraram o procedimento e o denominaram de Replication Protocol
Analysis (RPA) que consiste em "um método deliberadamente estruturado para não produzir relatórios
precisos acerca do método do projetista, mas sim um documento que garanta um pensamento acerca da
'racionalização post-hoc' do projeto" (1996, p.183). No RPA, a racionalização fornece uma plausível noção
da evolução do projeto, do brief à solução proposta, construindo uma linha de raciocínio que justifique as
decisões adotadas e permitam visualizar as razões envolvidas na preferência por aquela opção encontrada
no projeto (GALLE; KÓVÁCS, 1996)
A adequação do RPA à conjuntura investigativa da obra edificada conduziu a uma variação no modo como
a racionalização post hoc deve ser ativada. Essa variação, dentre outras expressas no corpo do artigo,
configura a diferenciação entre os protocolos. Dito isso, o presente artigo objetiva apresentar a adequação
proposta ao protocolo, que passa a ser denominado de protocolo de observação, apontando as
proximidades e diferenciações entre os procedimentos. Sucintamente, o protocolo proposto circunscreve o
procedimento na observação atenta do projeto conjunto as imagens da obra edificada, a partir de uma
postura reflexiva e imaginativa, intrinsecamente projetual, buscando entender por quê a obra é como é? A
racionalização propiciada pela elaboração do protocolo será expressa no texto pela análise da casa City
Boaçava do escritório MMBB. O artigo expõe a avaliação do texto do protocolo e finaliza apontando as
potencialidades e problemas do protocolo proposto.
2 PROTOCOLO DE REPLICAÇÃO
O primeiro autor no âmbito da investigação em arquitetura que desenvolveu a técnica de replicação foi
William Porter (1988). Porter afirma que há uma lógica interna à habilidade prática da arquitetura que pode
ser compreendida como um tipo próprio de raciocínio, mas que depende da apreciação judiciosa do
arquiteto. "A lógica interna do projeto consiste em um diálogo estruturado entre a apreciação do arquiteto
sobre o sítio, por um lado, e sua imagem, protótipo e princípios, pelo outro" (1988, p.169).
O autor destaca que a replicação não informa sobre o processo do projeto que realmente ocorreu quando
da elaboração do projeto, mas pode idealizar algumas partes importantes do processo de projeto, partindo
do pressuposto que "se sabe onde inicia (terreno e o programa) e para onde está indo (projeto arquitetônico
ou urbano) no movimento em direção a uma proposta eficiente" (PORTER, 1988, p. 170).
Porter (1988) explica a técnica da replicação da seguinte maneira: (1) Inicia-se com as evidências que o
próprio projeto apresenta; (2) sugerindo as ideias (fatores ou questões) que possam estar relacionadas ao
projeto, expostas em uma cadeia de raciocínio ou argumento; (3) é preciso ser criativo, podendo ser
imaginativo por não corresponder à real experiência do projetista; (4) a narrativa precisa ser boa e
convincente, ou seja, precisa ser plausível a outros projetistas e deve, significativamente, coincidir com
percepções do edifício por observadores qualificados.
Quase dez anos depois, Per Galle e Lásló Kovács (1996) retomaram a proposta de Porter melhor
condizendo sua estruturação procedimental, denominando-o agora como Replication Protocol Analysis
(RPA). Galle e Kovács, em consonância com Porter, afirmam que o protocolo de replicação não pode nunca
ser lido como uma descrição do processo de projeto real. O RPA parte do fato que "a capacidade de
racionalizar o que outros projetistas fizeram não é um obstáculo para a pesquisa, mas uma fonte
introspectiva de alto valor de exploração" (GALLE; KOVÁCS, 1996, p.182-183).
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O método RPA é composto por cinco estágios: (1) estudar cuidadosamente o brief e a solução proposta
para o problema colocado pelo brief; (2) sem comunicação com os autores do projeto, replicar uma linha de
raciocínio que você acredita poder ter conduzido do brief à solução dada; (3) (opcional) repetir os passos 1
e 2 com o mesmo brief e uma ou mais solução proposta para esse; (4) (opcional) repetir os passos 1 e 2 e,
eventualmente o 3, com o mesmo brief e solução proposta, mas com um ou mais replicadores; (5) analisar e
comparar os protocolos de replicação resultantes usando os conceitos e métodos adequados à finalidade
inquirida (GALLE; KOVÁCS, 1996). Os passos 1 e 2 podem ocorrer em paralelo e são uma variante do
protocolo exposto por Porter. Os passos 3 e 4 podem ser omitidos quando não se enquadrar à pesquisa
proposta. A pessoa que realiza a racionalização do projeto é denominada pelos autores de replicador.
Galle e Kovács (1996) destacaram que no processo de projeto a imaginação e o raciocínio são duas
atividades interdependentes. Eles consideram que a imaginação é utilizada na evolução das decisões
provisórias e a racionalização é utilizada na justificativa dessas decisões. Para os autores, o RPA pode
tanto ser um estudo da evolução do projeto, assumindo a crítica ao projeto existente, sugerindo ideias e
soluções alternativas, quanto uma racionalização do projeto. A racionalização fornece uma plausível noção
da evolução do projeto a partir da identificação de supostas tomadas de decisões feita pela racionalização
do projeto, ou seja, uma tentativa de justificar de maneira racional as decisões encontradas no projeto. No
entanto, a racionalização não impede que o replicador visualize outras possibilidades para as decisões
encontradas. Ao contrário, isso permite uma melhor racionalização das razões envolvidas na preferência
por aquela opção encontrada no projeto (ANDRADE, 2018).
Isso posto, a adequação realizada do protocolo de replicação, sendo melhor compreendido enquanto
protocolo de observação, tem como princípio não realizar, a priori, nenhum tipo de questionamento direto ao
arquiteto em relação a obra a ser analisada e não realizar nenhuma leitura ou sequer pesquisa acerca do
que já foi escrito sobre as obras ou sobre o arquiteto. Essa postura é oriunda, não apenas da sugestão de
Galle e Kovács, mas da própria prática acadêmica da presente pesquisadora que tem esse pressuposto ao
realizar a atividade de análise nas disciplinas lecionadas.
O protocolo inicia com o estudo da solução proposta em conjunto com as imagens fotográficas da obra
edificada. É exatamente o caráter de existência da obra edificada um dos pontos que diferenciam os
protocolos. Porter quanto Galle e Kovács não partem do edifício existente, mas sim do projeto que em
ambos os casos foram fruto de concursos. Os autores não negam, mas também não destacam a
possibilidade de uso do protocolo para obras existentes, porém Galle e Kovács condicionam o RPA a
existência do brief, o que nem sempre é possível ter acesso quando a obra edificada tem uma preexistência
antiga.
O protocolo proposto é, em parte, um hibrido entre as propostas de Porter e Galle e Kovács,
respectivamente, no que incide em iniciar com as evidencias da solução e não se comunicar com o autor da
obra. Ambos autores admitem a ação "imaginativa" para a condução do argumento no processo de
racionalização post hoc e isso também é aceito no protocolo em descrição. O entendimento da imaginação
e da racionalização é que os diferem, principalmente em relação ao RPA.
Galle e Kovács consideram a racionalização post hoc do brief à solução proposta, permitindo o uso da
imaginação para a proposição de novas soluções, seja pela evolução ou pela crítica. Eles redigem o
protocolo na primeira pessoa do plural, como se fossem os próprios autores do projeto por acreditarem não
haver distinção na natureza da justificativa post hoc feita pelos arquitetos do projeto ou pelos autores do
protocolo. Já o protocolo proposto, não é escrito na primeira pessoa e é conduzido pela curiosidade em
descobrir porque a casa é assim? visando identificar e argumentar acerca dos fatores que supostamente
inter-relacionados configuraram as decisões que conduziram o processo e levaram a casa a ser como é.
Essa distinção não afasta os protocolos da crença de que a natureza dos argumentos e justificativas post
hoc se assemelham aos possivelmente ocorridos no processo de projeto, mas os distinguem por não
apresentar uma plausível noção da evolução do projeto.
Para o presente artigo, a racionalização post hoc consiste em uma tentativa de justificar de maneira racional
as decisões encontradas no projeto, não impedindo a visualização de outras possibilidades para as
decisões encontradas desde que essas possibilidades partam do manuseio dos componentes e elementos
que compõem a própria obra, acionada pela imaginação. O protocolo proposto está circunscrito no ato de
"rever a obra em sua concepção essencialmente arquitetônica, como resultado de um processo de projeto,
consciente de que a ação analítica não é inocente e sim atenta para compreender a obra" (ZEIN, 2011, p.
211). A racionalização deve ativar a reflexão projetual de modo que o raciocínio seja guiado pela busca de
argumentos para justificar as ações de projeto, as escolhas, expostas no projeto e obra edificada.
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Nesse sentido, a realização do protocolo de observação age de maneira pragmática e o mais objetivo
possível, tentando, ao racionalizar sobre a obra, contrapor possibilidades formais pelo uso da imaginação
que propicie um processo reflexivo e argumentativo e permita compreender as escolhas do projeto.
Sumarizando, o protocolo de observação consiste em: 1) Estudar cuidadosamente o projeto final,
juntamente as imagens fotográficas da própria obra edificada, visualizando os elementos e os fatores
compositivos; 2) Sem comunicação com o arquiteto da obra, replicar uma linha de raciocínio que visualize
de maneira consistente e plausível as decisões do projeto.
Por fim, destaca-se que a escolha pela não visita presencial a obra edificada decorre da intenção em
aumentar a capacidade aplicativa do protocolo ao ensino, de modo que nem sempre é possível estar diante
de bons exemplos arquitetônicos, o que não impede de conhece-los. Esse é um dos intuitos do protocolo de
observação proposto, mas o principal é subsidiar uma postura diferente de análise da arquitetura, utilizando
os desenhos para auxílio à análise e essencialmente raciocinar enquanto projetista.
3 PROTOCOLO DE OBSERVAÇÃO2 DA CASA BOAÇAVA, ESCRITÓRIO MMBB
A residência possui um terraço na cobertura, duas suítes, um banheiro, escritório/biblioteca, salas de estar e
jantar, lavabo, cozinha, área livre de convivência, área de serviço, dependência de empregada, garagem,
depósito e canil. Ladeada por residências unifamiliares e inserida em um terreno de aproximadamente 15,0
x 30,0 metros, a proposta não parte de relações formais com o entorno imediato, mas permite uma relação
visual entre o espaço interno e o espaço público da rua pela transparência do vidro na fachada frontal.
A obra é composta pela soma de dois prismas sobrepostos: o menor, nível 0, na transversal do terreno e
abaixo e o maior, nível 1, na longitudinal do terreno e acima, esse último apresentando um vazio que
configura um pátio (Figura 1). A configuração formal da obra insinua uma interiorização das atividades em
função do pátio proposto. Certamente, a proposta poderia se configurar de maneira invertida, com o prisma
retangular menor posicionado ao fundo, projetando o prisma superior para frente, o que permitiria a
localização da garagem abaixo do prisma superior sem precisar escavar o terreno, como no projeto
executado. Porém, essa configuração fracionaria espacialmente o piso térreo. Nesse sentido, a decisão de
posicionar a garagem abaixo do nível da rua é significativa para a configuração da obra. Ao descê-la,
amplia-se a área livre no piso térreo (Figura 2).
Figura 1: Sobreposição dos dois prismas.
NÍVEL 1
NÍVEL 0
Fonte: ANDRADE, 2018.
Figura 2: Garagem abaixo do nível da rua
GARAGEM
Fonte: MMBB arquitetos, 2005, (adaptado).
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Outra configuração possível seria o prisma superior sem o pátio. Se o pátio fosse suprimido, certamente o
programa seria atendido, mas haveria uma perda na qualidade espacial da proposta, com a diminuição da
incidência de luz nos ambientes, e uma perda da integração visual entre os espaços internos que conduziria
a uma proposta com espaços enclausurados e fragmentados. Assim, acredita-se que a configuração
edificada surja não necessariamente da intenção em interiorizar as atividades, mas sim de otimizar as
relações espaciais entre os ambientes internos. A decisão do vazio no prisma superior, configurando o
pátio, objetiva uma interligação visual dos ambientes e dita o agenciamento das atividades nesse nível.
Estruturalmente, a obra em concreto armado se conforma por duas empenas laterais, três lajes maciças
com três desenhos diferentes em cada piso e quatro pilares de sustentação que suportam junto à fundação
dois balanços de extensão distintas. Certamente, a obra poderia ser estruturada por pilares e vigas
convencionais, os quais alterariam a espacialidade da obra pela provável barreira visual e ocasional
aumento do pé-direito para vigas convencionais nos níveis 0 e 1. A configuração sobreposta dos prismas
leva à decisão pelas empenas laterais em parte pelo entorno imediato, ao privilegiar a privacidade em
relação aos vizinhos e direcionar as relações espaciais no sentido longitudinal do terreno, mas
principalmente em função da primazia da forma (Figura 3).
Figura 3: Empenas laterais.
Fonte: MMBB arquitetos, 2005, (adaptado).
O desenho das empenas estruturais acompanha a sobreposição dos volumes e direciona o posicionamento
dos pilares no seu alinhamento para a sustentação das mesmas. A localização dos pilares segue o desnível
da proposta, ou seja, os dois pilares frontais estão localizados no nível -1 da garagem e área de serviço, e
os outros dois estão no nível 0 na área livre de convivência (Figura 4). Essa decisão conjunta, empenas e
pilares no mesmo alinhamento, permite o vão e o pé direito livres em todos os níveis.
Imagem 4: Empenas e pilares no mesmo alinhamento.
Fonte: MMBB arquitetos, 2005, (adaptado).
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Visando compreender a estrutura executada, se questionou a posição dos pilares frontais. Se os pilares
frontais fossem centralizados na largura do prisma inferior, acompanhando o alinhamento das empenas,
provavelmente seria necessária uma viga transversal no limite do vazio na laje do nível 1, que prejudicaria o
pé direito livre, sendo essa uma prioridade espacial. Ao posicionar os pilares na extremidade do prisma
inferior, produz-se um balanço que é estabilizado pelo papel estrutural das duas empenas laterais (Figura
5). O balanço frontal acompanha o limite do prisma menor na extensão das três lajes.
Figura 5: Posição dos pilares na extremidade do prisma inferior.
Fonte: MMBB arquitetos, 2005, (adaptado).
Para entender a localização dos pilares do fundo foi necessário apreender a relação entre o cheio e o vazio
das lajes dos níveis 1 e 2. Pode-se dizer que a dimensão do vazio nas lajes parte de uma relação de
compensação, ou seja, a extensão de 6,40 metros do vazio acompanha por proximidade a extensão do
balanço frontal 6,30 metros. Já a largura de 7,50 metros na laje do nível 1 está diretamente ligada à escada
da circulação vertical entre os níveis 0 e 1. Consequentemente, a largura de 6,30 metros na laje do nível 2,
decorre da necessidade de proteção dessa escada. Dito isso, a posição dos pilares do fundo considera a
extensão da laje entre os pilares frontais e a extremidade do fundo para se posicionar aproximadamente no
meio (Figura 6). Essa racionalização dá indício que a decisão pelo pátio não só propicia a qualificação dos
espaços, como também viabiliza os dois balanços estruturais.
Figura 6: Posição dos pilares no meio da extensão da laje.
Fonte: MMBB arquitetos, 2005, (adaptado).
As decisões que completam o sistema estrutural da obra apresentam vigas convencionais nos níveis 0 e 1 e
de vigas invertidas no nível 2. As vigas convencionais acompanham a linearidade das empenas e o
alinhamento dos pilares e condicionam o pé direito livre no nível 1. Na laje de cobertura do terraço existem
quatro vigas invertidas duas na longitudinal e duas na transversal, onde o cruzamento das vigas invertidas
acompanham o limite do vazio que configura o pátio. O fechamento do perímetro da laje de cobertura se dá
na longitudinal pela própria empena de concreto e na transversal por duas vigas invertidas que
acompanham a altura da empena (Figura 7).
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Figura 7: Diagrama das vigas e empenas laterais.
NÍVEL 2
NÍVEL 1
NÍVEL 0
Fonte: ANDRADE, 2018.
No que incide a implantação, observou-se que o afastamento lateral inferior e o frontal definiram a
localização da residência. A distância de 5,80 metros na frente decorreu da inclinação, consequentemente,
do tamanho da rampa de acesso da garagem e da altura necessária entre a rampa e o piso da laje do nível
1 para a passagem do veículo. Esses fatores conduziram ao pé direito de 2,30 metros do nível -1. Se o pé
direito fosse maior, elevando a altura da casa, ou a garagem fosse mais extensa, aumentando o número de
vagas, a área livre de convivência do nível 0 seria prejudicada, por conseguinte a relação espacial entre os
ambientes internos também. Esses elementos apontam uma justeza estrutural e espacial.
A decisão de recorte no terreno para a proposição do nível -1, gerou dois muros de contenção em concreto
nas laterais e um muro de contenção transversal para o plano horizontal no nível 0. Outros muros também
de concreto delimitam a rampa da garagem e configuram o platô de acesso social, o canil, o jardim frontal e
o acesso de serviço. A rampa e garagem à esquerda estão condicionadas à decisão de posicionar a área
de serviço e a dependência de empregada na mesma projeção da cozinha no nível 0, aproximando as
atividades correlatas. Nesse sentido, o acesso de serviço está do lado oposto do acesso social (Figura 8).
Figura 8: Decisão de posicionar a área de serviço e a dependência de empregada na mesma projeção da cozinha no nível 0.
1
3
6
4
2
5
1. acesso social
2. acesso de serviço
3. garagem
4. dependência
5. área de serviço
6. escada de acesso a área
de convivência
Fonte: MMBB arquitetos, 2005 (adaptado).
A definição dos acessos, consequentemente, da circulação vertical, ao interligar os níveis da residência,
propiciam percursos que transitam entre o estar dentro e fora em função do espaço livre de convivência e
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do pátio. Partindo do acesso de serviço, se desce uma escada de concreto que lhe direciona à área de
serviço para depois acessar outra escada em concreto que lhe direciona a área livre de convivência de
onde se pode adentrar a residência (Figuras 8 e 9). O acesso social conduz a uma escada vermelha em
estrutura metálica que lhe direciona a área livre de convivência para depois adentrar a residência (Figura
10).
Figura 9: Escadas.
ÁREA DE
CONVIVÊNCIA
ÁREA DE
SERVIÇO
Fonte: MMBB arquitetos, 2005, (adaptado)
Figura 10: Definição da circulação vertical.
ÁREA DE
CONVIVÊNCIA
ACESSO SOCIAL
Fonte: MMBB arquitetos, 2005 (adaptado).
Estando dentro da residência, outra escada com pisos vermelhos em estrutura metálica é a única circulação
vertical que interliga dois espaços internos sem acessar uma área livre. Sendo sua extensão vertical
fechada por placas metálicas, ao subir os degraus o pátio propicia uma relação visual com a área livre do
projeto. Seguindo para o terraço, é necessário passar por dentro da casa para depois acessar uma escada
cinza em estrutura metálica ao ar livre que dá acesso ao terraço. Esse percurso interno à casa entre a
escada vermelha e a escada cinza é aberto visualmente pela translucidez do vidro que faz a vedação do
pátio no nível 1, mas ao adentrar a circulação, o percurso passa a ser externo, porém protegido.
Percebe-se que as decisões pelos materiais que configuram as escadas estão interligadas à localização
das escadas e a otimização da solução estrutural da obra. As escadas que se configuram pelo recorte no
solo são em concreto e as escadas que interligam dois planos desconexos são em estrutura metálica pela
capacidade do material em vencer o vão sem interceder na forma e composição estrutural da obra. As
escadas metálicas apontam uma decisão plástica que incide em todas terem o mesmo desenho,
proporcionando uma unidade, e na percepção sensorial da cor vermelha. A intenção em conduzir uma
unidade plástica entre os elementos metálicos levou a decisão de desenhar e configurar os corrimões e
guarda corpo também em estrutura metálica da cor cinza, proporcionando uma harmonia visual.
A configuração da forma/estrutura e consequente definição dos espaços internos consideram a orientação
solar. A empena lateral da cozinha recebe a incidência solar na manhã e a empena dos banheiros o sol da
tarde. Ambos os quartos foram protegidos por brises soleils e o prolongamento do prisma longitudinal,
juntamente ao pátio, colaboram com a proteção à incidência solar.
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As decisões de configuração do espaço interno seguem os limites impostos pela forma e as relações de
funcionalidade entre os espaços. O nível -1 configura-se espacialmente em duas partes, de um lado, área
de serviço com lavanderia, dormitório, sanitário e dois depósitos, e do outro a garagem de veículos, o canil
e o reservatório de água inferior. A divisão e localização dos espaços da área de serviço acompanham a
projeção do prisma menor, e o canil apresenta uma forma triangular a fim de melhorar a circulação entre
este e um dos pilares de sustentação. A altura das paredes que delimitam o dormitório, banheiro e depósito
seguem a altura dos muros de contenção, tendo na parte superior um fechamento em vidro fosco que
permite a incidência de luz natural e ventilação. Existe um detalhe entre a laje de piso do nível -1 e a
projeção da laje do nível 0 que consiste no deslocamento de 0,80 metros do piso do nível -1 para dentro do
lote, o qual permite a incidência de luz da área livre de convivência do nível 0 no nível -1, ajudando na
luminosidade do nível -1, além de atender a distância necessária para estacionar um veículo (Figura 11).
Figura 11: Configuração do espaço interno no nível -1.
2
1
3
1. reservatório inferior
2. canil
3. garagem
4. área de serviço
5. depósito
6. sanitário
7. dormitório
5
6
4
7
Fonte: MMBB arquitetos, 2005, (adaptado).
No nível 0 do prisma menor estão as salas de estar e jantar e a cozinha, copa e lavabo. O lavabo está,
aproximadamente, na mesma projeção da lavanderia, o que permite uma otimização da instalação
hidráulica. Existe uma porta de correr que separa a copa/cozinha da sala de estar/jantar quando necessário.
E na sala de estar, a lareira está embutida na parede. As vedações frente e fundo são de vidro translucido,
ampliando a extensão visual dos ambientes, mas também física pela área livre de convivência. A escada
metálica vermelha, que interliga os níveis 0 e 1, está próxima ao lavabo (Figura 12).
Figura 12: Configuração do espaço interno no nível 0.
1
7
2
4
3
6
5
1. lareira
2. sala de estar e jantar
3. lavabo
4. copa
5. cozinha
6.escada de acesso ao nível 1
7. área de convivência
Fonte: MMBB arquitetos, 2005 (adaptado).
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Para a compreensão dos espaços no nível 1, divide-se o plano em três parte: na laje de frente estão uma
suíte, uma pequena sala que antecede o quarto e um corredor externo que dá acesso à escada para o
terraço e a um banheiro. Na laje do meio, onde está o pátio, tem-se a circulação/biblioteca, a escada de
acesso ao nível 1 e dois banheiros, sendo um banheiro externo e o outro banheiro da suíte existente na laje
de fundo. Nessa laje existe também um escritório que antecede a suíte (Figura 13). Por fim, no nível 2
encontra-se o terraço com o volume da caixa d'água e um espelho d'água em fita acompanhando a projeção
dos banheiros no piso inferior.
Imagem 13: Configuração do espaço interno no nível 1
2
2
2
8
1
7
1
6
5
4
3
1. suíte
2. banheiro
3. escritório
4. corredor/biblioteca
5. escada
6. sala
7.corredor externo
8. acesso ao terraço
Fonte: MMBB arquitetos, 2005 (adaptado).
3 VERIFICAÇÃO DO PROTOCOLO
A estratégia de verificação do resultado do protocolo foi conduzida pela análise lógica dedutiva, buscando
compreender o teor do conteúdo das frases. O texto do protocolo apresentou em sua maioria um mescla de
descrição e análise ou analise e avaliação. A categorização do conteúdo foi suscitada pelo/no ato de
avaliação, realizada por segmento de frase, e direcionada pela revisão teórica que compõe a tese3. Nesse
sentido, a descrição dos ambientes foi entendida como requisito: aquilo que supostamente foi solicitado pelo
cliente; a informação inicial compreende a localização e a descrição do terreno e por informação captada
estão a descrição e a análise do entorno, ambos componentes do que diz respeito as restrições externas.
A interpretação da racionalização post-hoc transformou as frases em sentenças diretas, não perdendo os
critérios empíricos utilizados na sua elaboração. Ao contrário, a interpretação sobressaltou os critérios
empíricos implícitos às frases, os quais configuraram mais três categorias: conhecimento tácito,
conhecimento explícito e o pensamento imaginativo. A condição de sentença exata apontou também as
categorias necessário, desejável e restrição. Essa definição seguiu a premissa da restrição própria ao
projetista, que pensa o projeto pela reflexão e ação mediante a articulação das várias restrições, conhecidas
a priori ou surgidas no decurso do desenvolvimento do projeto. Assim, a categoria desejável emerge
quando, na análise lógica dedutiva, algo foi supostamente ansiado; a categoria necessidade descende do
entendimento que algo foi necessário para qualificar o espaço à funcionalidade ou para viabilidade técnica e
estrutural da obra; e a categoria restrição surge das restrições legais ou condicionais, quando uma coisa é
condição para outra (ANDRADE, 2018).
Com a realização do quadro avaliativo, ilustrado pela figura 14, foi possível apreender com mais clareza as
decisões e questões implícitas. Considerando as categorias expostas, percebeu-se a proximidade entre a
racionalização elaborada e o próprio pensamento projetual, tendo-se em vista o processo reflexivo e
imaginativo exposto.
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Figura 14: Imagem parcial do quadro avaliativo da análise lógica dedutiva com as categorias expostas
Fonte: ANDRADE, 2018.
Tabela 15: Síntese das decisões e questões implícitas
DECISÕES
QUESTÕES IMPLÍCITAS ÀS DECISÕES
Garagem abaixo do nível da rua
Inclinação, tamanho da rampa e altura necessária entre
a rampa e o piso da laje do nível 1 para a passagem do
veículo
Área de serviço no nível da garagem
Recorte no terreno
Afastamento define a implantação
----------------Não parte de relações formais com o entorno
Interiorização das atividades em função do pátio
Otimização das relações espaciais e visuais entre os
ambientes
Orientação solar
Dois prismas sobrepostos
Pátio no prisma superior
Empenas laterais acompanham a forma
Quatro pilares posicionados em função das
lajes para viabilizar os balanços
Alinhamento dos elementos estruturais
Possibilidade de vigas convencionais
Propicia o vão e pé-direito livre
A estrutura é decorrente da forma
Orientação solar
Acessos social e serviço distintos
(setorização funcional)
-----------------
Aproximação das atividades correlatas
(setorização funcional)
-----------------
Definição dos acessos, circulação e terraço
proporciona percursos
Unidade plástica e harmonia na
materialidade
----------------Fonte: ANDRADE, 2018.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A proposta de adequação do RPA que conduziu à distinção do protocolo de observação exposto
demonstrou eficiência quanto ao objeto de estudo (obra edificada), quanto ao objetivo (entender porque a
obra é como é) e quanto aos dados construídos (racionalização post hoc). Vale salientar que o texto do
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protocolo é particular, introspectivo e expressa a capacidade analítica e reflexiva de quem o elaborou.
Admite-se que a execução do protocolo deve ser realizada por profissionais da arquitetura, visto que a
racionalização se aproxima do próprio raciocínio no processo de projeto enquanto, análise e avaliação, e
algumas vezes imaginativo. Na execução do protocolo, a experiência ordinária foi ativada pela percepção
dos componentes explícitos no projeto e nas imagens da obra edificada, compreendidos pela capacidade de
entendimento e leitura dos desenhos, pelo conhecimento tácito e explícito e pela experiência da
pesquisadora.
Entende-se que há total exequibilidade do procedimento descrito nesse artigo no âmbito do ensino,
independentemente da didática de construção gradativa do conhecimento ou do entendimento complexo
das variáveis contingenciais do projeto. Ao não averiguar os possíveis fatores históricos e não expressar
uma reflexão pela crítica, o protocolo de observação se aproxima da reflexão projetual e da racionalização
argumentativa sobre o projeto a partir do projeto. No entanto, não seria prejudicial identificar os
condicionantes legais reais do projeto, mas aconselha-se obter essa informação após o protocolo
executado, utilizando-a para a verificação do mesmo. Reconhece-se, ainda, que a ativação da imaginação é
proporcional à forma inusitada, logo, quanto mais facilmente apreensível é a obra, menos a imaginação é
acionada em contraponto ao conhecimento tácito e explícito.
Mesmo assim, a “manipulação imaginativa” da obra analisada, ou qualquer outra, aciona em potência o
raciocínio projetual, sendo essa uma potencialidade do protocolo que advém dos outros expostos, mas se
diferencia por restringir o ato imaginativo ao que é expresso pela obra. Essa postura é condicionada pelo
objetivo do protocolo, entender a obra, e não propor outra ou idealizar um possível processo de projeto.
Nesse sentido, a racionalização no protocolo de observação é essencialmente reflexiva, analítica e
imaginativa.
No entanto, dois são os maiores problemas do protocolo: (i) a sua qualidade está associada à capacidade
de raciocínio projetual da pessoa que o executa e, curiosamente, (ii) a não familiaridade com a possibilidade
imaginativa no modo de observar a obra, restringe a análise à descrição. Se aplicada como mecanismo de
ensino para o reconhecimento do processo reflexivo do projeto, a manipulação imaginativa pode
transformar a prática descritiva dos projetos, como mecanismo para construção do repertório e visualização
estanque dos componentes, mesmo sem observar as inter-relações existentes. O desconhecimento do uso
da imaginação no processo de análise e reflexão faz do protocolo de observação um procedimento que se
aproxima do ato projetual. Por fim, destaca-se que, ao permitir identificar as decisões tomadas no e pelo
projeto, o protocolo de observação expressa uma possibilidade de construção do conhecimento intrínseco à
Arquitetura e propicia outra maneira de “saber como”.
5 REFERÊNCIAS
ANDRADE, M. M. C. R. Dois procedimentos e um objeto: observação direta e experimento artificial na investigação em
projeto. In: VII PROJETAR. Anais do VII Projetar - originalidade, criatividade e inovação no projeto contemporaneo:
ensino, pesquisa e pratica. Natal, RN: PPGAU/UFRN, 2015.
_________. Decisões e movimentos no processo de projeto : uma proposta de procedimento de investigação a partir
dos registros gráficos do processo de projeto da prática profissional. Tese (Doutorado). Programa de Pós-graduação em
Arquitetura e Urbanismo, Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2018.
CELANI, G. Recuperando o tempo perdido: por que recusamos o método e como ele ainda poderia nos ajudar. In:
PROJETAR 2003. Anais do PROJETAR 2003 - Seminário nacional sobre ensino e pesquisa em projeto de arquitetura,
Natal, RN: PPGAU/UFRN, 2003.
GALLE, P.; KOVÁCS, L. B. Replication protocol analysis: a method for the study of real-world design thinking. Design
Studies.Vol.17, N. 2, p.181-200, 1996.
PORTER, W. Notes on the inner logic of designing: two thought-experiments. Design Studies. Vol. 9, N. 3, p.169-180,
1988.
ZEIN, R. V. Há que se ir às coisas: revendo as obras. In: G. ROCHA-PEIXOTO; L. BRONSTEIN; B. S. OLIVEIRA; G.
LASSANCE (Orgs.). Leituras em teoria da arquitetura 3: objetos. Rio de Janeiro: Rio Book’s, 2011, p. 198-218.
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NOTAS
1
O procedimento de investigação da tese utilizou do protocolo de observação composto por duas partes. A primeira parte incide na
identificação das possíveis decisões e a segunda na descrição dos movimentos. As decisões foram alcançadas pela racionalização
post-hoc do projeto final, visando os motivos pelo qual os projetos em análise ‘são como são’. Os movimentos consistiram nas
mudanças identificadas nos desenhos, percebidas de um desenho para o outro, demonstrando a modificação ou continuidade dos
elementos e fatores que compõem os projetos e que foram descritos na primeira parte do protocolo. Em função dos tipos registros
encontrados foram executados três protocolos, visando aferir o próprio protocolo executado e, principalmente, ampliar o entendimento
dos movimentos de transformação e das decisões no decurso dos projetos elaborados. A tese apontou que, enquanto procedimento, o
protocolo demonstrou ser eficiente ao objetivo de investigação das transformações, e que, com base nele, também foram ampliados o
entendimento dos movimentos em relação a teoria existente e das decisões em relação ao desenvolvimento do projeto.
2
Em função dos direitos autorias, foram suprimidas as fotografias que ilustram e auxiliam o texto do protocolo. As imagens do projeto
foram adaptadas e cordialmente disponibilizadas no site do escritório. No entanto, destaca-se que houve acesso ao projeto em arquivo
DWG para a realização do protocolo completo que compõem a tese já mencionada na introdução.
3
A tese (ANDRADE, 2018) enfoca o processo de projeto pela transformação de informações capaz de ser identificado e observado por
meio dos registros gráficos do processo de projeto real. A discussão teórica abrange a natureza da atividade de projeto a partir de dois
fatores: o modelo teórico, que defende que o projetista trabalha com problemas mal estruturados visando uma solução mesmo em
situação indeterminada a partir de uma maneira de fazer, ou seja, das estratégias de projeto; e dos desenhos como modo de
linguagem que foram explorados pelas suas propriedades e movimentos.
NOTA DO EDITOR (*): O conteúdo do artigo e as imagens nele publicadas são de responsabilidade do(s) autor(es).
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