REVISTA CIÊNCIAS EXATAS – UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ (UNITAU) – BRASIL – VOL. 17, N. 1, 2011
ANÁLISE DE RISCOS ERGONÔMICOS EM
POSTOS DE TORNEARIA
Deivis H. D. Santos1 (
[email protected])
Antonio Faria Neto1 (
[email protected])
Jorge Muniz Junior2 (
[email protected])
1
UNITAU - Engenharia Mecânica, R. Daniel Danelli, s/n, Jardim Morumbi, 12060-440, Taubaté/SP
2
UNESP, Av. Dr. Ariberto Pereira da Cunha, 333, Pedregulho, 12516-410, Guaratinguetá/SP
Resumo. Este artigo apresenta uma a avaliação dos riscos ergonômicos, em membros superiores, para postos de
tornearia leve e pesada do setor de usinagem de uma indústria de médio porte, do setor metalúrgico, dedicada à
fabricação de conexões em aço para o setor petrolífero, localizada no município de Guarulhos, SP. Existem vários
instrumentos para análise ergonômica. Cada um deles possui características e peculiaridades que tornam uns mais
apropriados do que outros para determinadas aplicações. Este trabalho aplicará dois protocolos de análise de
riscos: Protocolo de Couto, que é um procedimento para avaliação de riscos ergonômicos em membros superiores e
o Protocolo Strain index que avalia riscos ergonômicos em extremidades distais dos membros superiores. Os
resultados desta pesquisa contribuem para orientar os profissionais envolvidos com ergonomia sobre adequação
desses dois Protocolos a determinadas análises sujeitas a riscos ergonômicos.
Palavras-Chave: método Couto, análise ergonômica, Strain index, diagnóstico de risco.
1. INTRODUÇÃO
Segundo Guérin et al (2001), com o crescimento da atividade industrial e o consequente
aparecimento das patologias associadas ao trabalho, as empresas estão procurando utilizar os princípios
ergonômicos para adaptar seus sistemas produtivos ao homem. A ergonomia está associada à busca da
qualidade do produto e da qualidade do trabalho desenpenhado por seus colaboradores, como por
exemplo, a preocupação com os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho e às lesões por
esforço repetitivo (DORT-LER).
De acordo com Falzon (2007), a ergonomia é a disciplina científica que trata das interações entre
os seres humanos e os outros componentes de um sistema homen-máquina, visando melhorar o bem estar
das pessoas e o desempenho global do sistema. A ergonomia contribui para solucionar um grande número
de problemas relacionados à saúde, à segurança, ao conforto e à eficiência. Dentre as ferramentas
empregadas para avaliar a qualidade do trabalho humano há uma variedade de métodos que identificam
os riscos ergonômicos associados a diversas atividades, tais como transporte de peso, frequência de
movimento, etc.
Existem vários instrumentos para análise ergonômica. Cada um deles possui características e
peculiaridades que tornam uns mais apropriados do que outros para determinadas aplicações. Uns são
mais indicados para avaliações de membros superiores, outros para membros inferiores, outros para
extremidades distais dos membros, etc. Segundo Guérin et al (2001), a escolha do teste, além da
aplicação, também é fortemente influenciada pela formação acadêmica do avaliador. Dentre os diversos
testes de avaliação de riscos, em aplicação no Brasil, destacam-se o protocolo de Couto, que é um
procedimento para avaliação de riscos de lesões nos membros superiores e o protocolo strain index, que
avalia riscos lesões nas extremidades distais dos membros superiores.
O objetivo deste trabalho é apresentar a aplicação dos protocolos de Couto e strain index para
determinar os riscos ergonômicos a que estão sujeitos os operadores de tornearia de uma determinada
indústria metalúrgica.
Este trabalho está delimitado a dois postos de tornearia, sendo um destinado a peças leves e o
outro a peças pesadas, do setor de usinagem de uma indústria de médio porte (150 funcionários), do setor
metalúrgico dedicada à fabricação de conexões em aço para o setor petrolífero, localizada no município
de Guarulhos, SP.
Os resultados dessa pesquisa são importantes para que se possam implementar medidas
preventivas e corretivas na rotina de trabalho de indústrias do mesmo ramo de atividade, visando
minimizar a ocorrência de lesões em membros superiores, decorrentes dessa rotina.
REVISTA CIÊNCIAS EXATAS, UNITAU. VOL 17, N. 1, P. 54-61, 2011.
Disponível em http://periodicos.unitau.br/
54
REVISTA CIÊNCIAS EXATAS – UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ (UNITAU) – BRASIL – VOL. 17, N. 1, 2011
2. AVALIAÇÃO ERGONÔMICA
De acordo com Guérin et al (2001), a análise ergonômica é implementada em fases. Seu ponto de
partida é uma demanda inicial que reflete um problema. A partir deste esclarecimento procura-se
aprofundar em alguns aspectos para uma melhor compreensão do contexto no qual se insere o
trabalhador, ou seja, a tecnologia e a organização do trabalho, isto é, o cenário onde se desenvolvem as
atividades. Com esses dados, chega-se então, à fase operacional: a avaliação ergonômica da atividade
propriamente dita, que tem como objetivo a análise das exigências e condições reais da atividade e das
funções desempenhadas pelos trabalhadores, permitindo a interrogação do funcionário com uso de
ferramentas de avaliação.
2.1. A Análise Ergonômica do Trabalho
A Análise Ergonômica do Trabalho (AET), pode ser abordada de várias maneiras. Este artigo
aborda a ergonomia preventiva. Guérin el all ( 2001), afirma que a ergonomia preventiva se aplica a
postos de trabalho já existentes, promovendo ações para a busca da solução de problemas relacionados a
doenças do trabalhador, ou à quantidade e à qualidade da produção. Podem ser adotadas melhorias como
mudanças nas condições de postura corporal do trabalhador, por meio de dispositivos de vantagem
mecânica, ou mudança na atividade de trabalho por vícios posturais.
Segundo Wisner (2004), o estudo da ergonomia possui dois princípios: o Taylorismo e o
Fordismo. Taylorismo é um termo derivado de Frederick Winslow Taylor (1856-1915), um engenheiro
americano que defendia que o trabalho deveria ser cientificamente observado, de modo que para cada
tarefa fosse estabelecida a maneira correta de executá-la, com um tempo determinado e com uma
ferramenta adequada. Este princípio foi adotado pela ergonomia francesa.
O Fordismo segue os princípios estabelecidos por Henri Ford, ou seja, concentra-se na linha de
produção, onde o funcionário mantém a mesma atividade ao longo do tempo. Este princípio norteia a
ergonomia americana
2.2. Protocolo de Avaliação de Couto
O protocolo desenvolvido por Couto (2002) efetua uma avaliação simplificada do risco de se
desenvolver uma lesão musculoesquelética nos membros superiores de um indivíduo em função da
atividade fisica desempenhada. Este método utiliza um questionário fechado padrão, onde é atribuída uma
pontuação, zero ou um, para cada questão, sendo que o zero corresponde a alto risco e o um a baixo risco
de lesão.
O questionário elaborado por Couto (2002) aborda seis caracteristicas distintas da relação homemtrabalho, que são: (1) sobrecarga física do trabalhador, (2) força realizada com as mãos, (3) condições do
posto de trabalho, (4) repetitividade, (5) organização do trabalho e (6) ferramenta de trabalho.
O resultado da avaliação é obtido somando-se a pontuação de todas as respostas. Esse total é
interpretado segundo a Tab. (1).
Tabela 1. Classificação dos riscos ergonômicos segundo Couto.
2.3. Protocolo de Avaliação Strain Index
Este protocolo foi desenvolvido por Moore e Garg (1995), com o objetivo principal de avaliar o
risco de lesões nas extremidades distais de membros superiores. Este teste também se baseia em um
questionário fechado.
O método Moore e Garg (1995), deve ser aplicado, separadamente, para as mãos direita e
erquerda. A análise é apropriada apenas para este segmento corporal específico. Segundo Signori (2004),
REVISTA CIÊNCIAS EXATAS, UNITAU. VOL 17, N. 1, P. 54-61, 2011.
Disponível em http://periodicos.unitau.br/
55
REVISTA CIÊNCIAS EXATAS – UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ (UNITAU) – BRASIL – VOL. 17, N. 1, 2011
tanto para esse protocolo, como para o anterior, não são possíveis generalizações, como por exemplo,
aquelas feitas para contemplar condições ambientais diferentes.
O questionário quantifica tanto o esforço físico desenvolvido pelo trabalhador, quanto a
repetitividade da tarefa. É formado por seis questões que quantificam a intensidade do esforço físico, o
ritmo do trabalho e a duração do trabalho. A cada resposta é atribuída uma pontuação préestabelecida. O
produto de todas as respostas fornece um índice que integra todas estas grandezas. De posse desse índice
pode-se classificar o risco de lesão das extremidades distais dos membros superiores de acordo com a
Tab. (2).
Tabela 2. Classificação dos riscos ergonômicos Strain index.
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Do ponto de vista da natureza, segundo Silva e Menezes (2005), esta pesquisa é classificada como
pesquisa aplicada, pois tem o objetivo de gerar conhecimentos direcionados para a solução de um
problema específico, ou seja, tem uma aplicação prática.
Considerando a forma de abordagem do problema, esta pesquisa tem o objetivo de coletar dados
sofre a intensidade e repetitividade dos esforços físicos desenvolvidos por trabalhadores e quantificar
estas informações para que estes dados sejam analisados posteriormente. Desta forma, esta pesquisa é
classificada como quantitativa, pois, segundo Silva e Menezes (2005), a pesquisa quantitativa significa
traduzir em números opiniões e informações para classificá-las e analisá-las.
Considerando que o objetivo geral desta pesquisa é analisar os mecanismos de lesão a que estão
sujeitos os operadores de tornos, esta pesquisa é classificada como descritiva, pois, segundo Gil (1991),
este tipo de pesquisa tem como objetivo principal a descrição das características de determinada
população ou fenômeno.
Para Gil (1991), “a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado,
constituído principalmente de livros e artigos científicos”, e também de material disponibilizado na
internet. Esta pesquisa, também classificada como pesquisa bibliográfica, do ponto de vista dos
procedimentos técnicos, fez uso deste tipo de pesquisa principalmente em duas oportunidades: para o
levantamento dos fatores que afetam o processo de auditoria de SGQ e para o delineamento dos
procedimentos metodológicos utilizados neste trabalho.
Ainda sob o ponto de vista dos procedimentos técnicos, esta pesquisa é classificada como
levantamento, pois este tipo de pesquisa é caracterizado “pela interrogação direta das pessoas cujo
comportamento se deseja “conhecer” Gil (1991), onde solicita-se informações à uma quantidade
significativa de pessoas sobre o problema em estudo, para mediante pesquisas quantitativas, obterse as
conclusões pertinentes.
3.1. Caracterização da Empresa Estudada
Trata-se de uma empresa de fabricação de conexões hidráulicas feitas em aço e ligas especiais para
aplicação no setor petroquímico. Esta empresa possui dois postos de tornearia, sendo um para peças
maiores, que necessitam do uso de dispositivos de içamento (tornearia pesada); e o outro posto dedicado a
peças menores, capazes de serem manuseadas pelo operador (tornearia leve). Este último posto com alta
demanda de produção.
Na época da coleta de dados essa empresa contava com cento e cinqüenta funcionários. O setor de
usinagem contava com um efetivo de setenta pessoas. Deste efetivo a tornearia possuía vinte
funcionários, sendo dez destinados ao trabalho de peças pesadas, ou seja, acima de 100 kg, e dez
dedicados a peças leves, isto é, peças abaixo de 3 kg.
REVISTA CIÊNCIAS EXATAS, UNITAU. VOL 17, N. 1, P. 54-61, 2011.
Disponível em http://periodicos.unitau.br/
56
REVISTA CIÊNCIAS EXATAS – UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ (UNITAU) – BRASIL – VOL. 17, N. 1, 2011
3.2. Inspeção Visual dos Postos de Tornearia
Logo após a seleção da empresa, foi feita uma visita aos postos de trabalho selecionados, para
observar, estudar e registrar o gestual dos indivíduos, de modo a identificar os grupos musculares
empregados no desenvolvimento das tarefas.
3.2.1. Avaliação das condições antropométricas do posto de tornearia leve.
A rotina deste posto consiste nas seguintes etapas:
a) Transporte manual da peça da bancada para o torno;
b) Ajuste da peça ao torno;
c) Fixação da peça ao torno com uso de ferramenta;
d) Usinagem;
e) Desprendimento da peça do torno com uso de ferramenta;
f) Transporte manual da peça do torno para bancada.
Nas etapas (a) e (f), verifica-se a existência de rotação e flexão de tronco; extensão e flexão dos
antebraços; flexão de punho e movimento de pinça dos dedos.
Nas etapas (b), (c), (d) e (e), ocorre flexão de tronco; flexão de antebraço; movimento de pinça dos
dedos, conforme ilustrado na Fig. (1).
(a)
(b)
(c)
Figura 1. (a) Ajuste da peça ao torno; (b) Fixação da peça ao torno; (c) Processo de usinagem.
A avaliação do gestual deste posto revela intensa utilização dos membros superiores e de suas
extremidades distais. Verifica-se a aplicação de maior força dos membros superiores nas etapas (d) e (e).
Observa-se também que o ciclo de trabalho está em torno de vinte minutos.
Embora tenha sido observada a existência de flexões e rotações de tronco, nenhum dos dois
protocolos avalia os riscos ergonômicos associados a esses movimentos.
REVISTA CIÊNCIAS EXATAS, UNITAU. VOL 17, N. 1, P. 54-61, 2011.
Disponível em http://periodicos.unitau.br/
57
REVISTA CIÊNCIAS EXATAS – UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ (UNITAU) – BRASIL – VOL. 17, N. 1, 2011
3.2.2. Avaliação das condições antropométricas do posto de tornearia pesado
A rotina deste posto consiste nas seguintes etapas:
a) Transporte da peça do solo para o torno com uso da ponte rolante
b) Ajuste da peça ao torno;
c) Fixação da peça ao torno com uso de ferramenta;
d) Usinagem;
e) Desprendimento da peça do torno com uso de ferramenta;
f) Transporte da peça do torno para o solo com uso da ponte rolante.
Nas etapas (a) e (f), verifica-se a existência de flexão de tronco; extensão e flexão dos antebraços;
flexão de punho e movimento de pinça dos dedos, conforme ilustrado na Fig. (2). Nas etapas (b) e (d),
ocorre flexão de tronco e de antebraço; movimento de pinça dos dedos. Na etapa (c) e (e), ocorre extensão
e flexão do braço e antebraço, conforme ilustrado na Fig. (2).
(a)
(b)
(c)
(d)
Figura 2. (a) Remoção da peça do solo; (b) Aproximação da peça ao torno; (c) Remoção da peça pronta
para o solo; (d) Fixação da peça no torno com uso de uma alavanca.
De forma análoga ao posto anterior, a avaliação do gestual também revela intensa utilização dos membros
superiores e de suas extremidades distais. Verifica-se a aplicação de maior força dos membros superiores
nas etapas (d) e (e). O ciclo de trabalho é de aproximadamente quatro horas. Também, nesta atividade
identificou-se a existência de flexões e rotações de tronco.
3.3. Seleção da Amostra
Na empresa selecionada os dois postos de tornearia contavam, na época do levantamento de dados,
com dez funcionários, cada um. Contudo, no dia do levantamento havia atividade produtiva para apenas
sete funcionários em cada posto. Portanto, realizou-se um censo.
REVISTA CIÊNCIAS EXATAS, UNITAU. VOL 17, N. 1, P. 54-61, 2011.
Disponível em http://periodicos.unitau.br/
58
REVISTA CIÊNCIAS EXATAS – UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ (UNITAU) – BRASIL – VOL. 17, N. 1, 2011
3.4. Procedimento de Coleta de Dados.
Os postos de tornearia leve foram observados e fotografados durante dez ciclos, o que equivaleu a
vinte e três horas distribuídas ao longo de três dias, sendo que em cinco ciclos a atenção se voltou para a
mão direita e nos outros cinco ciclos para a mão esquerda. Foram feitas observações laterais esquerda e
direita; anterior e posterior.
Já os postos de tornearia pesada foram monitorados durante dois ciclos o que equivaleu cinqüenta
e seis horas distribuídas ao longo de sete dias. Durante um ciclo observou-se a mão direita e durante o
outro ciclo a mão esquerda.
Concomitantemente ao desenrolar dos ciclos de trabalho foram preenchidos, por um especialista,
os questionários de ambos os protocolos, havendo nesta etapa uma forte interação entre o especialista e os
operários, a fim de dirimir eventuais dúvidas de interpretações.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
As Tab. (3) e (4) resumem os resultados da avaliação ergonômica do posto de usinagem de peças
pesadas segundo os testes strain index (para mão direita) e Couto respectivamente.
Tabela 3. Resultado da aplicação do teste strain index para a (mão direita) para o posto de peças pesadas.
Observando a Tab. (3), verifica-se que a avaliação deste posto de trabalho para os sete indivíduos
variou de 0,375 a 0,75, que de acordo com a Tab. (2), indica que o risco de lesão das extremidades distais
do membro superior direto é inexistente. O que já era esperado, uma vez que o nível de esforço exercido
pelo operário é pequeno e a freqüência das atividades é baixa.
O resultado para a mão esquerda é bastante semelhante, não tendo sido apresentado apenas por
economia de espaço.
Tabela 4. Resultado da aplicação do teste Couto para o posto de peças pesadas.
Na Tab. (4), observa-se que a avaliação deste posto de trabalho feita para os sete indivíduos variou
de 20 a 21, que de acordo com a Tab.(1), indica baixo risco de lesão dos membros superiores. O que
reforça as expectativas anteriores, uma vez que a despeito do peso das peças, sua manipulação é feita por
intermédio de dispositivos de vantagem mecânica e com baixa freqüência.
As Tab. (5) e (6), resumem os resultados da avaliação ergonômica do posto de usinagem de peças
leves segundo os testes strain índex (mão direita) e Couto respectivamente.
REVISTA CIÊNCIAS EXATAS, UNITAU. VOL 17, N. 1, P. 54-61, 2011.
Disponível em http://periodicos.unitau.br/
59
REVISTA CIÊNCIAS EXATAS – UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ (UNITAU) – BRASIL – VOL. 17, N. 1, 2011
Tabela 5. Resultado do teste strain index (mão direita), para o posto de peças leves.
Observando a Tab. (5), verifica-se que a avaliação deste posto de trabalho feita para os sete
indivíduos variou de 0,56 a 4,50. O resultado de 4,50 é um valor discrepante dos demais, merecendo uma
análise mais detalhada, para verificar se não houve erros grosseiros no preenchimento do questionário que
conduzissem a ele. É importante notar que 85,7% dos indivíduos pesquisados apontaram, segundo a Tab.
(2), a inexistência de risco de lesões nas extremidades distais do membro superior direito. As conclusões
são a mesma para a mão esquerda.
Tabela 6. Resultado da aplicação do teste Couto para o posto de peças leves.
Na Tab. (6), observa-se que a avaliação deste posto de trabalho feita para os sete indivíduos variou
de 9 a 16, que comparando com a Tab. (1), indicam uma situação de alto para altíssimo risco ergonômico
dos membros superiores. Tal situação se caracteriza pelo fato do trabalhador exercer tarefas repetitivas
sujeitas a um esforço físico maior do que no caso anterior.
5. CONCLUSÕES
Este trabalho apresentou uma análise dos riscos de lesões a que estão sujeitos os membros
superiores dos empregados do setor de usinagem de uma indústria metalúrgica de médio porte, fabricante
de peças para o setor petrolífero. Para essa análise utilizou-se dois protocolos: o protocolo de Couto e
protocolo strain índex. O primeiro deles analisa os riscos de lesões nos membros superiores de uma forma
geral, ou seja, não faz distinção quanto ao risco de lesões em braços, antebraços, punhos e mãos. Já o
segundo procedimento é específico para as extremidades distais dos membros superiores, e deve ser
aplicado tanto para a mão esquerda, quanto para a mão direita, separadamente.
Para todas as análises feitas aplicando o protocolo strain index os resultados para ambas as mão
foram muito próximos, razão pela qual se apresentou os resultados somente para a mão direita.
A análise do posto de tornearia pesada, feita por ambos os métodos, mostrou ser essa uma
atividade de baixo risco de lesões em membros superiores e em suas extremidades distais, conforme os
resultados apresentados nas Tab. (3) e (4). Esse resultado já era esperado uma vez que a despeito do peso
das peças, sua manipulação é feita por intermédio de dispositivos de vantagem mecânica e a freqüência
com que tais peças são manipuladas é baixa.
A análise do posto de tornearia leve, quando feita pelo protocolo strain index, mostrou que 85,7%
dos indivíduos pesquisados não apontaram a existência de risco de lesões nas extremidades distais dos
membros superiores.
Já a análise do mesmo posto de tornearia pelo protocolo de Couto, identificou uma situação de alto
para altíssimo risco de lesões dos membros superiores. Tal situação se caracteriza pelo fato do trabalhador
REVISTA CIÊNCIAS EXATAS, UNITAU. VOL 17, N. 1, P. 54-61, 2011.
Disponível em http://periodicos.unitau.br/
60
REVISTA CIÊNCIAS EXATAS – UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ (UNITAU) – BRASIL – VOL. 17, N. 1, 2011
exercer tarefas repetitivas sujeitas a um esforço físico maior do que aquele requerido nos postos de
tornearia pesada.
Pelo exposto acima, constata-se que o posto de tornearia leve oferece maior risco de lesões em
membros superiores do que o posto de tornearia pesada. Portanto, recomenda-se que sejam tomadas
medidas preventivas e corretivas para mitigar tal risco.
Observa-se no exercício das auditorias da segurança do trabalho que ambos os métodos utilizados
nessa pesquisa têm sido empregados de forma concorrente. Trata-se de um erro conceitual, dado que cada
método possui um enfoque particular. O correto é que ambos sejam utilizados de forma complementar,
para que possam mapear, de forma mais precisa, as estruturas com maiores riscos de lesão.
É importante ressaltar que a análise do gestual dos trabalhadores em ambos os postos identificou a
utilização de outros grupamentos musculares, tais como aqueles responsáveis pela flexão e rotação de
tronco. Sendo assim, para uma análise mais realista dos riscos de lesão envolvidos, torna-se interessante a
utilização de outros protocolos que estendam a análise a outras estruturas musculoesqueléticas.
6. REFERÊNCIAS
Guérin F., Laville A., Danellou F., Duraffourg J., Kerguelen A. (2001). Compreender o trabalho para
transformá-lo: a prática da ergonomia. São Paulo: Ed. Edgard Blücher.
Falzon P. (2002). Natureza, objetivos e conhecimentos da ergonomia. São Paulo: Ed. Edgard Blücher.
Wisner A. (2004). Questões epistemológicas em ergonomia e em análise do trabalho. In: Danillou F. A
ergonomia em busca de seus princípios: debates epistemológicos. São Paulo: Ed. Edgard Blücher.
Couto H. A. (2002). A ergonomia aplicada ao trabalho em 18 lições. Belo Horizonte. Ed. Ergo
Moore J. S., Garg A. (1995). The strain index: method to analyze jobs for risk of distal upper extremity
disorders. American Industrial Hygiene Association Journal, 56, 443-454.
Signori L. U. et al. (2004). Análise dos instrumentos utilizados para avaliação do risco de ocorrência de
DORT/LER. Revista Produto e Produção 7(3), 51-62.
Silva E. L. da, Menezes E. M. (2005) Metodologia da pesquisa e elaboração de dissertação. Florianópolis:
Laboratório de Ensino a Distância da UFSC.
Gil A. C. (1991) Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Ed. Atlas.
DIREITOS AUTORAIS
Os autores são os únicos responsáveis pelo conteúdo do material impresso incluído neste trabalho.
REVISTA CIÊNCIAS EXATAS, UNITAU. VOL 17, N. 1, P. 54-61, 2011.
Disponível em http://periodicos.unitau.br/
61